A Dinamica Horaria Da Chuva No - Nubia Beray Armond
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Núbia Armond
Federal University of Rio de Janeiro
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Dinâmica climática, tipologia das chuvas e excepcionalidades no estado do Rio de Janeiro: contribuições para uma análise geográfica dos sistemas atmosféricos View
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Resumo: Este artigo analisa a relação entre a precipitação pluviométrica, em escala horária, e a
potencial deflagração de episódios extremos ocorridos no município do Rio de Janeiro. Foram
coletados dados de sete postos pluviométricos, agrupados em escala horária. Os valores de chuva
foram submetidos à estatística descritiva para obtenção das médias anuais, bem como as médias
horárias por posto na série histórica de 2011 a 2014. Os resultados da análise espacial apresentaram
uma complexa relação entre a altitude, a maritimidade e a continentalidade. Na análise temporal,
constatou-se o funcionamento do balanço de energia terrestre para o clima tropical, bem como a
influência da maritimidade em nível local, como fatores relevantes para compreender a marcha diária
das chuvas e os impactos deflagrados pelas suas dinâmicas.
Palavras-chave: Chuva horária; episódios extremos; Rio de Janeiro
Abstract: This article analyzes the relationship between hourly pluviometric precipitation and the
extreme episodes’ potential of triggering in Rio de Janeiro city. Data from seven rain gauges were
collected and clustered in hourly scale. Descriptive statistics were applied to obtain the annual and
hourly precipitation mean from 2011 to 2014. A complex relationship between height, maritimity and
continentality were shown in the spatial analysis. Primary energy balance for tropical climates and
local influence of maritimity were found as relevant factors to the understanding the daily march of
rainfall and the impacts triggered by its dynamics.
Key-words: Hourly precipitation; extreme episodes; Rio de Janeiro
1 – Introdução
Dotados de uma urbanização que se deu sem a promoção democrática de
espaços adequados para a ocupação, em geral os mais pobres da cidade de países
tropicais em desenvolvimento vivem em locais precários em infraestrutura urbana,
de serviços e de grande susceptibilidade à impactos deflagrados pelas chuvas.
Neste contexto, o trabalho pretende analisar a relação entre a precipitação
pluviométrica, em escala horária, e a potencial deflagração de episódios extremos
no município do Rio de Janeiro. O intuito é discuti-los sob abordagem da
climotologia dinâmica e geográfica, incorporando questões teóricas sobre suas
repercussões sociais e ambientais.
1
- Estudante de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – FCT/UNESP – Presidente Prudente. E-
mail de contato: [email protected]
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Kincer (1916) definiu que as áreas adequadas para o plantio de trigo seriam
aquelas cujas chuvas se concentram a noite com insolação no dia, o que ofereceria
condições adequadas para o plantio de trigo.
Pezzopane et al (1995) buscaram caracterizar a chuva horária de três cidades
do estado de São Paulo: Campinas, Ubatuba e Pindorama. Nos meses de verão
houve maior intensidade e frequência das chuvas no período da tarde, enquanto no
inverno a diferença horária das chuvas foi pouco pronunciada.
O mesmo padrão sazonal foi encontrado em Alves e Galvani (2012) para São
Paulo - SP, em Santos e Galvani (2014) para Caraguatatuba - SP e em Santos Neto
et al (2014) para Rondônia. Nestes trabalhos, a distribuição horária homogênea das
chuvas foi observada nos meses de inverno e primavera, enquanto o verão e outono
concentravam as chuvas nos finais de tarde e noite.
Nas regiões costeiras, as chuvas noturnas tendem a ser habituais por
influência de brisas, ainda que chuvas não-convectivas também ocorram com
predomínio à noite. A distribuição das chuvas no Triângulo das Bermudas é variável
no verão, com maior frequência nas horas mais tardias da noite (KRAUS, 1963).
Os mesmos resultados foram encontrados por Andersson (1969) para a
Suécia. O autor definiu dois padrões de variação horária da precipitação segundo
dois fatores geográficos do clima: continentalidade (com máximo de precipitação
durante a tarde) e maritimidade (máximo durante a noite).
Esse debate foi relativizado por Wallace (1975) e Gray e Jacobson Jr. (1977),
que realizaram estudos de caso e trouxeram a importância das escalas no que
chamaram de processos dinâmicos (gênese, ou o que se considera como escala
regional) e termodinâmicos (escala local, como as brisas).
Ferreira et al (2013) encontraram um resultado diferente para o leste da
Amazônia. A ilha de São Luís (MA) possui uma variabilidade horária das chuvas
pouco acentuada, dinamizada por conta da brisa.
.Para Andersson (1969), os horários de maior frequência são no final da
tarde, à noite e atravessam a primeira parte da madrugada. Porém, os extremos de
chuva não apresentam padrão; não é necessariamente nesses horários que se dão
as chuvas de maior magnitude.
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2 – Procedimentos Metodológicos
Os dados de precipitação pluviométrica foram obtidos no site Alerta Rio 2. O
banco de dados dispõe de uma série temporal a cada 15 minutos, que foi agrupada
em escala horária e por períodos do dia (de 1h às 6h – madrugada; das 7h às 12h –
manhã; das 13h às 18h – tarde; das 19h às 24h – noite) (figura 1).
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3 – Resultados
3.1 – Das variações temporais
A maior parte das chuvas está concentrada a partir das 17h, com maior
intensidade a noite (Conjunto de gráficos 1). A análise dos dendrogramas atesta a
importância da noite como período da maior ocorrência de precipitação.
Em escala temporal, três grupos foram encontrados: o primeiro, com um
menor grau de similaridade, compreende os horários da madrugada e do início da
manhã; o segundo compreendeu os horários da manhã e da tarde, e o terceiro
apresentou maior grau de similaridade e abarcou os horários de fim de tarde e noite.
Constatou-se que o balanço de energia terrestre para o clima tropical e a
maritimidade em nível local são relevantes para compreender a marcha das chuvas.
A radiação solar incidente durante o dia aquece a superfície. O ar, aquecido
pelo calor irradiado da superfície, intensifica movimentos convectivos, podendo
desencadear chuvas no fim de tarde e início da noite (inversão do balanço de
energia). Por isso, as horas do dia em que ocorreu maior precipitação foram a noite.
Dendrograma
Ligação de Ward; Distância Euclideana
-193,69
Similaridade
-95,79
2,10
100,00
1 4 3 2 19 5 7 8 6 17 9 10 14 15 11 13 12 16 18 20 24 21 22 23
Observações
Conjunto de gráficos 1: Média horária das chuvas (por posto pluviométrico) na série histórica 2011-
2014 e dendrograma – agrupamento das horas do dia segundo a ligação de Ward, distância
Euclidiana.
Fonte dos dados: Fundação GeoRio, 2014.
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Conjunto de gráficos 2: Média das chuvas (por posto pluviométrico) em períodos do dia na série
histórica 2011-2014.
Fonte dos dados: Fundação GeoRio, 2014.
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4 – Considerações Finais
As chuvas horárias no Rio de Janeiro apresentam um padrão temporal
característico da tropicalidade, com chuvas concentradas nos horários da noite e
madrugada e insolação nos períodos da manhã e tarde.
A distribuição espacial da chuva horária não apresenta padrão definido,
apesar dos postos Santa Cruz, Grota Funda e Tijuca apresentarem maiores totais
durante a noite.
Pode-se considerar que a ocorrência das chuvas a partir do fim da tarde afeta
de forma central a dinâmica urbana, sobretudo em cidades como o Rio de Janeiro.
Atrelada às profundas alterações morfológicas/no terreno, a impermeabilização do
solo urbano, a retificação dos canais, principalmente nas áreas centrais e vias de
acesso, o tráfego intenso se dá a partir desse período. Assim, a formação de
bolsões d’água, e mesmo o transbordamento de cursos d’água outrora retificados e
sobre os quais foram construídas ruas e avenidas, causa grandes transtornos na
vida dos citadinos, principalmente na mobilidade urbana, ainda que ocorra uma
precipitação relativamente baixa em relação aos valores médios diários, mas intenso
em relação aos valores horários.
São necessárias maiores informações relacionadas à dinâmica dos ventos,
temperaturas e umidade do ar no Rio de Janeiro, bem como a análise detalhada da
participação do efeito orográfico na produção das chuvas locais.
5 – Agradecimentos
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP,
através da concessão de bolsa de pesquisa.
6 – Referências bibliográficas
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