EIV - Estudo de Impacto de Vizinhança 07
EIV - Estudo de Impacto de Vizinhança 07
EIV - Estudo de Impacto de Vizinhança 07
IMPACTO DE VIZINHANÇA.
Resumo
O Estudo de Impacto de Vizinhança surgiu como instrumento para identificação, avaliação e
análise de impactos ocorridos no meio urbano devidos a novas propostas de ocupação urbana.
Seu desenvolvimento deveria proporcionar ao poder público a possibilidade de analisar o
empreendimento em questão, discutir seu licenciamento e as medidas mitigadoras e
compensatórias a serem aplicadas. No entanto, a experiência tem mostrado que os resultados,
na forma de estudos de impacto de vizinhança, têm apresentado deficiências tanto no campo
da identificação dos impactos, como na sua avaliação, o que reduz a eficácia dos mesmos.
Nesse artigo tais deficiências são discutidas, à luz da história, dos fundamentos, dos aspectos
legais que regem os EIV, buscando-se apontar as razões para tais deficiências e propor
alternativas que tornem mais eficazes os estudos de impacto de vizinhança.
Palavras-chave: impacto de vizinhança, impactos urbanos, legislação ambiental.
Abstract
Neighborhood Impact Study was created and has been used in Brazil to establishment,
evaluation and analysis of urban impacts due to new urban occupations. Its propositions and
development could permit city governments to analyze the proposed occupation and discuss
its construction or installation permission and corrective actions to minimize its impacts.
However, practical results, commonly expressed in Neighborhood Impact Reports, have
showed some deficiencies in impacts identification and evaluation, reducing the efficacy of
these reports. Based on Neighborhood Impact Study history, technical fundamentals and
lawful aspects, this article intends to identify reasons of those deficiencies and propose
alternatives for increase neighborhood impact studies efficacy.
Key-words: neighborhood impact, urban impacts, environmental laws.
INTRODUÇÃO
O termo Impacto de Vizinhança foi criado para descrever um grupo específico de
impactos ambientais que podem ocorrer em áreas urbanas em conseqüência da implantação e
operação de um determinado empreendimento e que se manifestam na área de influência de
tal empreendimento.
A necessidade de definir uma nova classe de impactos surgiu porque a legislação
ambiental brasileira que trata dos impactos ambientais limitou a obrigatoriedade de realização
de Estudos de Impacto Ambiental e elaboração de Relatórios de Impacto Ambiental a
1
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – UNESP, Alameda Bahia, 550, 15385-000, Ilha Solteira – SP,
[email protected].
2
Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia – UFSCar, Rodovia Washington Luís, km 235, 13565-905, São
Carlos – SP, [email protected].
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empreendimentos urbanos de dimensões significativas (grandes conjuntos habitacionais e
aeroportos, por exemplo), ou típicos de áreas rurais ou suburbanas (rodovias, ferrovias,
barragens, exploração de bens minerais, entre outros).
Os impactos decorrentes de ocupações urbanas de menor expressão espacial, mas que
representam alterações significativas nas condições do meio ambiente urbano (tais como
supermercados, shopping centers, grandes edifícios comerciais ou residenciais), necessitavam
de alternativas apropriadas de caracterização e análise.
Como conseqüência da adoção desse novo enfoque, surgiu a necessidade de
proposição de um mecanismo de análise dos impactos de vizinhança. Tal mecanismo se
configurou na forma dos Estudos de Impacto de Vizinhança.
O Estudo de Impacto de Vizinhança compreende a identificação, valoração (se
possível), e análise dos impactos de vizinhança previstos para uma determinada proposta de
ocupação urbana.
Para tanto, devem conter a caracterização do empreendimento, de sua área de
influência, os impactos esperados, e as medidas mitigadoras e compensatórias previstas. Os
resultados são apresentados em Relatórios de Impacto de Vizinhança.
A análise de relatórios de impacto de vizinhança elaborados no passado e da legislação
que disciplina sua realização indicam que tais estudos consideram preferencialmente os
impactos urbanísticos e os impactos na infra-estrutura urbana previstos como decorrência da
implantação do empreendimento.
Por outro lado, os impactos no meio físico geralmente não são considerados ou,
quando o são, se resumem às intervenções no meio biológico ou na paisagem natural.
No presente artigo se apresenta um resumo histórico, as técnicas de avaliação de
impacto de vizinhança, e se discute os tipos de impactos comumente negligenciados em
estudos de impacto de vizinhança, contemplando as possíveis causas de tal fenômeno e as
decorrências dessa atitude nos relatórios de impacto de vizinhança e na proteção do meio
ambiente.
São ainda propostas alternativas para que o tipo de negligência deixe de existir ou, ao
menos, seja reduzida, de forma a tornar os estudos de impacto de vizinhança um instrumento
de gestão ambiental útil também para a conservação do meio físico.
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introduzido na legislação brasileira com a Lei 6.803/80 (BRASIL, 1980, p. 1) que trata de
diretrizes para o zoneamento industrial em áreas críticas de poluição, especialmente no que
diz respeito a pólos petroquímicos, cloroquímicos, carboquímicos, e instalações nucleares.
Com a Lei 6.938/81 (BRASIL, 1981, p. 2), que dispões sobre a Política Nacional de
Meio Ambiente, o Estudo de Impacto Ambiental tem sua funções ampliadas, ao ser elevado à
categoria de instrumento da política nacional do meio ambiente.
O avanço fundamental na instituição do Estudo de Impacto Ambiental como
mecanismo de gestão ambiental se deu com a Resolução CONAMA 01/86 (CONAMA, 1986,
p. 1) que estabeleceu “definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes
gerais para o uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como um dos
instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente”, a qual não só define impacto
ambiental, como descreve os empreendimentos para os quais tais estudos são obrigatórios, e
os mecanismos de realização de tais estudos. A Resolução cria ainda os Relatórios de Impacto
Ambiental como expressão dos resultados dos Estudos de Impacto Ambiental.
A Resolução CONAMA 06/87 (CONAMA, 1987, p. 1) estabeleceu regras especiais
para o licenciamento ambiental de obras de grande porte relacionadas à geração de energia
elétrica, subordinando o licenciamento prévio de tais atividades à elaboração de estudos de
impacto ambiental.
Data também de 1987 a Resolução CONAMA 09/87 (CONAMA, 1990, p. 1) que
estabelece as diretrizes para a realização das audiências públicas previstas na Resolução
01/86, audiências estas que possibilitaram o acesso das comunidades interessadas aos estudos
de impacto ambiental. No entanto tal resolução só foi publicada no DOU em 1990.
Em 1988 é promulgada (em 5 de outubro) a nova constituição brasileira (BRASIL,
1988, p. 19-23) a qual define o meio ambiente como bem de uso comum do povo e estabelece
o poder público como responsável por “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou
atividade potencialmente causadora de degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade” dando nova força aos estudos de impacto
ambiental.
Na seqüência, praticamente todos as novas constituições dos estados brasileiros
fizeram constar em seus textos, condições específicas para a realização de estudos de impacto
ambiental para propostas de ocupação do meio e de uso de recursos naturais.
Com o intuito de disciplinar as Leis 6902/81 e 6938/81, que tratam, respectivamente,
da criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental, e da Política Nacional do
Meio Ambiente, o Decreto 99274/90 (BRASIL, 1990, p. 1-2) propõe o uso dos estudos de
impacto ambiental como fonte de informação para avaliações de alternativas técnicas em
projetos e planos públicos e privados, cuja atividade possa gerar degradação ambiental.
A partir do início da década de 90 houve grande desenvolvimento da legislação que
trata do tema, possibilitando o surgimento de instrumentos legais (especialmente resoluções
do CONAMA) responsáveis pelo detalhamento das informações relacionadas a estudos de
impacto ambiental para os mais diversos ramos da atividade humana.
Tal legislação, no entanto, trata essencialmente de propostas de ocupação que
contemplam parcelas do terreno de dimensões significativas ou cujas atividades (industrial,
geração de energia, e exploração de bens minerais) signifiquem evidente potencial de
degradação ambiental, pouco se aplicando às ocupações urbanas relativamente comuns (como
hospitais e estações rodoviárias, por exemplo), mas que representam alto potencial de geração
de impactos no meio urbano.
Pelas razões expostas, já há mais de uma década os meios técnico e jurídico, tanto do
poder público como da iniciativa privada, têm se esforçado para desenvolver mecanismos de
identificação e análise de impactos em ambiente urbano Tal esforço resultou na proposição do
Impacto de Vizinhança como instrumento para sanar ou reduzir esta dificuldade.
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LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NA ÁREA MUNICIPAL
Não é exagero afirmar que a legislação ambiental relativa a áreas urbanas teve seu
desenvolvimento no Brasil quase todo baseado na adaptação de leis propostas anteriormente
para finalidades mais amplas.
Assim, a legislação já existente relativa à proteção dos recursos naturais tem sido
aplicada a áreas urbanas, sem as devidas considerações ou adaptações, trazendo muitas vezes
mais problemas que vantagens.
Apesar de haver legislação bastante antiga que ainda hoje é aplicada a áreas urbanas
(leis de proteção a mananciais, por exemplo) a primeira referência importante de legislação
relacionada à gestão urbana é a Lei 6766/79 (BRASIL, 1979, p. 1-4) que trata do
parcelamento urbano.
Do ponto de vista das ações do município em defesa do meio ambiente, é importante a
Lei 7347/85 (SENADO FEDERAL, 2004, p. 1-2) que trata da ação civil pública de
responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, posteriormente complementada pelo
Decreto 92302/86 (DIREITO AMBIENTAL, 2004a, p. 1-2) que regulamentou o “Fundo para
Restituição de Bens Lesados”.
A constituição de 1988 (BRASIL, 1988, p. 9) proporcionou aos municípios a
autonomia para legislar acerca de questões urbanísticas e ambientais em sua esfera de
influência, ao reconhecer (art. 30) suas competências administrativa e legislativa.
No que diz respeito especificamente à competência do município quanto à legislação
ambiental a Constituição de 1988 confere ao poder municipal poderes para atuar na defesa do
meio ambiente urbano (art. 30, 144 e 182).
Tal princípio é consagrado no Decreto 99274/90 (DIREITO AMBIENTAL, 2004b, p.
1) ao definir como “atribuição do poder público, nos seus diferentes níveis de governo” as
atividades de fiscalização, proteção, controle, pesquisa, monitoramento e educação
relacionados à execução da política nacional do meio ambiente.
Ao remeter a matéria aos municípios, a constituição federal estabelece a possibilidade
de ampliar a rede de influência do poder público no cuidado com o meio ambiente o que é
muito positivo para a gestão dos recursos naturais, no entanto, a responsabilidade por legislar
matérias ambientais não significou, na maioria dos municípios brasileiros, maior alcance das
atividades de proteção ambiental.
Assim, nos municípios de menor porte (esmagadora maioria no Brasil) a falta de
competência do poder público (tanto na esfera legislativa como técnica) inviabiliza a
elaboração de leis eficazes na proteção do meio ambiente.
Realidade oposta se dá nas cidades de porte médio e, especialmente, nas metrópoles
brasileiras, nas quais a legislação ambiental tem sido tratada, apesar de nem sempre resultar,
por fatores diversos, em qualidade de vida. Um exemplo marcante disso é a legislação
ambiental de São Paulo (CIDADE DE SÃO PAULO, 2004).
A Lei 10257/2001 (BRASIL, 2001, p. 13), denominada Estatuto da Cidade, preserva a
competência do município quanto à legislação ambiental, porém dota os municípios de um
instrumento muito poderoso para a gestão do território ao instituir o Estudo de Impacto de
Vizinhança como mecanismo de gestão ambiental, e descrever os princípios básicos para sua
elaboração.
Para Schvarsberg (2004, p. 5-7) os avanços obtidos com o Estatuto da Cidade só foram
possíveis graças aos princípios de descentralização das responsabilidades, função social da
cidade e da propriedade e democratização da gestão urbana contemplados na constituição de
1988.
Nesse sentido, o Estatuto da Cidade facilita a atuação do poder público municipal
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como fiscalizador da legislação vigente, mas não o exime da necessidade de definir, segundo
as condições naturais e as alternativas de ocupação do espaço urbano, quais as condições nas
quais tais estudos devem ser elaborados e quais os critérios de análise em Estudos de Impacto
de Vizinhança.
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5o do Decreto 34.712/94, que definia como passíveis de realização de estudos de impacto de
vizinhança, além dos anteriormente definidos, os empreendimentos classificados como “Pólo
Gerador de Tráfego”, nos termos da Seção 4.4, do Código de Obras e Edificações de Obras e
Edificações do Município de São Paulo e na Seção 4.D do Decreto 32.329/92, tais como:
empreendimentos de educação ou prática de exercício físico ou esporte com mais de 2.500m2
computáveis, empreendimentos de saúde pública com mais de 7.500m2 computáveis e demais
empreendimentos não residenciais com mais de 10.000m2 computáveis (200 veículos x 50m2
computáveis / veículo) situados em qualquer região do município ou com mais de 4.000m2
computáveis (80 veículos x 50m2 computáveis / veículo) em áreas Especiais de Tráfego
definidas pela Lei 10.334 de 13 de julho de 1987 (MOREIRA, 1997, p. 13-20).
Santoro & Nunes (2003, p. 1) relatam o exemplo da Prefeitura Municipal de Porto
Alegre que em 1998 adotou um procedimento para a o controle da implantação de
empreendimentos que tenham área de venda igual ou superior a 2.000m2 (Decreto Municipal
11.987/98), exigindo a elaboração de EIA/RIMA para tais empreendimentos e dando
condições ao município para exigir medidas mitigadoras nos casos em que se fizesse
necessário.
A Secretaria do Planejamento de Campo Grande, com base no “Guia de Diretrizes
Urbanísticas” faz avaliações e verifica a necessidade de investimentos no sistema viário e de
infraestrutura urbana custeadas pelos proprietários do empreendimento em análise
(CYMBALISTA, 2001, p. 3).
Dentre os vários exemplos de legislação que adotaram o Estudo de Impacto de
Vizinhança ou o Relatório de Impacto de Vizinhança como instrumento de avaliação pode-se
destacar: a Lei 1869/98 do Distrito Federal, a Lei do Parcelamento do Solo de Criciúma, os
Decretos 37.713/94 e 36.613/96 da Prefeitura de São Paulo, os planos diretores de Fortaleza,
João Pessoa e Natal, a Lei 2.050/2003 de Niterói, e a Lei de Proteção ao Patrimônio Histórico
e Cultural de Anápolis (LOLLO, 2004, p. 21-22).
As informações apresentadas dão conta da preocupação existente no meio técnico (há
cerca de uma década) com relação à forma e instrumentos de avaliação de impactos em áreas
urbanas. Tal preocupação se concretizou na proposição da Lei 10.257/2001.
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como mecanismo de análise de impactos no meio urbano.
Migliorini (2004, p. 2-6) sugere o uso de padrões de desempenho como ferramenta
para avaliação e controle da ocupação do solo urbano.
Para Santoro & Nunes (2003, p. 2) avaliar tais impactos representa considerar, além
dos benefícios que a implantação de um determinado empreendimento proporciona
(empregos, aumento de arrecadação, atração de outros empreendimentos), os problemas
futuros que tal empreendimento pode trazer, de forma a intervir positivamente no processo.
Apesar dessa diversidade de formas de análise e instrumentos propostos, se percebe
um interesse comum em simplificar o processo de representação e avaliação de impactos em
áreas urbanas, de forma a destituir de subjetividade tal processo e, dessa forma, agilizar os
processos de tomada de decisão.
Tal tendência não é exclusiva da avaliação de impactos de vizinhança, e se insere num
contexto mundial de estabelecimento de parâmetros para avaliação e classificação de
impactos ambientais como alternativa para uniformização de linguagem no tema.
Nesse sentido, a utilização de Sistemas de Informações Geográficas surge como
excelente alternativa tecnológica para desenvolvimento de tais atividades, porque seu uso
permite, além da codificação da informação que facilita seu tratamento, grande redução de
custos no processo de armazenamento, atualização e análise dos dados.
EXIGÊNCIAS DA LEGISLAÇÃO
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Do ponto de vista legal, a Lei 10.257 (Brasil, 2001, p. 13) instituiu o Estudo de
Impacto de Vizinhança na sua Seção XII, a qual contém os artigos 36 a 38. Dado o interesse
da matéria para o presente trabalho, o texto de tal seção é transcrito a seguir.
Seção XII
Do estudo de impacto de vizinhança
Art. 36. Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou
públicos em área urbana que dependerão de elaboração de estudo prévio de impacto
de vizinhança (EIV) para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação
ou funcionamento a cargo do Poder Público municipal.
Art. 37. O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e
negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população
residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no mínimo, das seguintes
questões:
I - adensamento populacional;
II - equipamentos urbanos e comu nitários;
III - uso e ocupação do solo;
IV - valorização imobiliária;
V - geração de tráfego e demanda por transporte público;
VI - ventilação e iluminação;
VII - paisagem urbana e patrimônio natural e cultural.
Parágrafo único. Dar-se-á publicidade aos documentos integrantes do EIV, que
ficarão disponíveis para consulta, no órgão competente do Poder Público municipal,
por qualquer interessado.
Art. 38. A elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação de estudo
prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação ambiental.
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Na visão de Moreira (1999a, p. 255) “a imposição de medidas corretivas e / ou
compensatórias, por conta do empreendedor, dos impactos sobre sistema viário, sobre infra-
estrutura urbana, sobre paisagem urbana, e sobre as atividades humanas instaladas” é um dos
instrumentos mais importantes de regulação na disputa pela localização no espaço urbano.
Moreira (1997, p.25-30) destaca que o produto final de um Relatório de Impacto de
Vizinhança deve conter: (1) a demonstração da compatibilidade do sistema viário e de
transportes com o empreendimento; (2) a demonstração da compatibilidade do sistema de
drenagem com o aumento do volume e da velocidade de escoamento de águas pluviais,
gerado pela impermeabilização da área de intervenção do empreendimento; (3) a
demonstração da viabilidade de abastecimento de água, de coleta de esgotos, de
abastecimento de energia elétrica; (4) a indicação das transformações urbanísticas induzidas
pelo empreendimento; e (5) a inserção da obra na paisagem, e que os relatórios por ele
analisados foram deficientes em atender tais necessidades.
ASPECTOS NEGLICENCIADOS
As deficiências encontradas nos estudos de impacto de vizinhança geralmente
desenvolvidos no Brasil podem ser divididas em duas categorias: deficiências provenientes da
legislação e deficiências decorrentes da forma de condução dos trabalhos.
DEFICIÊNCIAS DA LEGISLAÇÃO
Nessa categoria podem ser incluídas as imprecisões da Lei 10.257/2001, as quais são
geralmente incorporadas às leis elaboradas pelos municípios quando da definição dos
empreendimentos passíveis de exigência de EIV, nos termos do artigo 36 da Lei 10.257/2001.
Um aspecto fundamental a se destacar em tal lei é que seu objetivo é norma tivo e
genérico, devendo servir como orientação para a elaboração das leis municipais que tratem da
avaliação de impactos de vizinhança. No entanto, o que se observa na prática é que a maioria
dos municípios que criam legislação para tratar do assunto, simplesmente repete os princípios
existentes na Lei 10.257/2001.
O artigo 37 da Lei 10.257/2001 estabelece que “o EIV será executado de forma a
contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à
qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no
mínimo, das seguintes questões:...”.
Quando da proposição de leis municipais a expressão “no mínimo” costuma ser
desconsiderada (por incapacidade ou conveniência), ficando as legislações municipais
restritas aos tópicos propostos na lei federal.
Com relação às “questões” a que se refere tal artigo o texto é superficial e vago com
relação a alguns fatores ambientais, tais como “equipamentos urbanos e comunitários” e,
especialmente, “paisagem urbana e patrimônio natural e cultural”.
Com relação aos “equipamentos urbanos e comunitários” deve ser dada especial
atenção à diversidade de dispositivos de infraestrutura que podem sofrer impactos, tais como:
vias públicas; serviços públicos de coleta, tratamento e disposição de resíduos sólidos e
líquidos; redes públicas de abastecimento água e drenagem urbana; redes de serviços como
energia elétrica, telefonia e iluminação pública; disponibilidade de serviços particulares;
questões relacionadas à segurança; e demanda por estacionamento.
Isso nem sempre acontece. O que se observa geralmente é que apenas parte de tais
fatores é considerada, especialmente no que diz respeito a vias públicas, redes de água e
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drenagem urbana e estacionamento.
No que diz respeito à “paisagem urbana e patrimônio natural e cultural”, é comum que
as leis municipais e, por conseqüência, os estudos delas decorrentes considerem apenas o
patrimônio histórico e artístico e aspectos paisagísticos, não valorizando devidamente a
proteção de componentes do meio físico.
Sendo assim, a proteção de recursos naturais tais como mananciais subterrâneos e de
superfície, solos, rochas e vegetação, não costuma ser considerada, nem do ponto de vista de
sua degradação física, como de sua contaminação e poluição. Ora, tais bens são de suma
importância para qualidade ambiental, e não poderiam ser desprezados em estudos de impacto
de vizinhança.
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disponibilidade de redes de água, esgotos, energia elétrica, drenagem de águas pluviais e
telefonia, não demonstrando que essas redes tem capacidade para atender à demanda do
empreendimento considerado.
No que diz respeito às vias e transportes públicos, os relatórios contêm demanda de
viagens por veículos autônomos e por transportes coletivos nas horas de "pico", sem
demonstrar a capacidade das vias e dos transportes públicos para atender tal demanda.
Quanto à paisagem urbana os estudos avaliados consideraram não gerador de impacto
os empreendimentos cuja volumetria ou cuja atividade fosse similar à dos edifícios vizinhos
faltando avaliar o significado urbanístico do empreendimento para sua vizinhança.
Impactos sobre os recursos naturais raramente são levados em conta, tanto do ponto de
vista de seu uso ou aproveitamento, como de sua degradação.
Muitos estudos tratam a questão da emissão de ruídos simplesmente considerando a
ausência de ruídos na operação das atividades do empreendimento, sem levar em conta os
ruídos que venham a ocorrer fruto do tráfego gerado pelo empreendimento, ou os ruídos
decorrentes das atividades de construção e implantação do empreendimento.
A maioria dos estudos analisados deixou de considerar os impactos relativos à
emanação de gases e vapor, e aqueles relacionados resíduos.
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Para o poder público, além da degradação e desvalorização de parcelas do município,
e da necessidade de investimentos para corrigir os efeitos negativos que ocorram, a não
identificação prévia de impactos de vizinhança significa a perda de uma grande oportunidade
de exigir investimentos em medidas compensatórias do empreendedor responsável pela
ocupação.
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AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico - CNPq pelo apoio ao desenvolvimento do projeto, por meio do
processo 150181/2004-3 .
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