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de textos acadêmicos
Leitura e produção
de textos acadêmicos
Copyright © UVA 2021
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia
autorização desta instituição.
AUTORIA DO CONTEÚDO
Camila do Nascimento Carmo
REVISÃO
Janaina Vieira
Lydianna Lima
4
AU TO R
5
Estratégias de leitura, análise e interpretação de textos
CAPÍTULOS
2
Coesão e coerência: a estruturação do parágrafo e
estratégias argumentativas
3
A vida acadêmica, o discurso científico e as formas de
leitura e produção de textos: resumo e resenha
Noção de texto
A noção de texto é ampla e, diferentemente do que poderíamos supor a princípio, não
consiste apenas em um elemento linguístico formado por uma combinação de letras
e/ou sons que formam palavras, mas antes é um lugar de interação entre os sujeitos e
suas múltiplas propostas de sentido. Sendo assim, podemos dizer que o texto se cons-
titui histórica e socialmente de forma complexa e variada. Portanto, para a produção
textual não é necessário dominar unicamente o código.
No entanto, a pergunta persiste: como produzir e ler textos? Segundo Mônica Caval-
cante (2012), no livro Os sentidos do texto, a textualidade é o elemento responsável
por nos permitir conceber algo como texto, sendo a coerência sua principal caracterís-
tica. Entendemos que um texto é coerente quando há possibilidade de reconstrução
de sua unidade de sentido, bem como de sua intenção comunicativa.
7
Para compreender e produzir qualquer texto, é necessário
mobilizar conhecimentos, não apenas linguísticos, mas
também todos os outros conhecimentos adquiridos com a
convivência social, que nos informam e nos tornam aptos
a agir nas diversas situações e eventos da vida cotidiana.
(CAVALCANTE, 2012, p.18)
Ao passar por essas duas concepções de estudo do texto, em que sua organização
estava associada à estrutura e ao material linguístico, chegamos ao entendimento de
que o texto consiste em uma interação. Desse modo, os contextos sociocomunicati-
vos, históricos e culturais são fundamentais para a construção de sentidos nas produ-
ções textuais.
8
Sistemas de conhecimento na atividade textual
Tais sistemas nos permitem entender o que devemos fazer para ler determinado tex-
to, bem como nos proporciona efetiva compreensão das leituras realizadas no decor-
rer do nosso processo de ensino-aprendizagem. Sendo assim, temos em uso e em fun-
cionamento elementos linguísticos, fatores cognitivos e sociais responsáveis por esse
evento comunicativo, que é o texto.
O texto acadêmico
A compreensão do que é o texto e seu funcionamento nos permite desenvolver es-
tratégias de leitura, análise e interpretação, de modo que os conhecimentos teóricos
adquiridos durante os cursos ofertados pelas universidades possam ser elaborados,
não apenas a partir do domínio do código de linguagem, mas também na construção
de uma leitura crítica.
9
A construção do texto acadêmico envolve a busca por temas relevantes para
a área de conhecimento escolhida, o que demanda levantamento e formula-
ção de dados, questões, objetivos, entre outros elementos, para a produção
de argumentos adequados.
Nesta seção concebemos a noção de texto não como um produto, mas sim como uni-
dade que consiste no resultado de nossas atividades comunicativas, as quais estão im-
plicadas por processos de planejamento, operações, códigos e estratégias a partir das
condições sob as quais a produção textual é realizada em interações estabelecidas
entre autor, texto e leitor.
Desse modo, é importante dizer que o trabalho que a escrita exerce sobre a lingua-
gem possibilita a expressão de nossos pensamentos, ideias, opiniões, sentimentos,
saberes, entre outros, que atuam não apenas em palavras, mas também em sonori-
dades e imagens.
Podemos dizer que o texto estabelece variadas conexões para a produção de sentidos,
seja a partir de valores e crenças ou de conceitos elaborados no campo científico. A
compreensão de como chegamos aos efeitos de sentido no texto parte do entendi-
mento do quanto é importante traçar planos e elaborar problemas para produzir/ler
conceitos e/ou ideias, sendo esses elementos fundamentais para o exercício de leitura
e escrita, os quais consistem na construção de sentidos.
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Para que tenhamos sentido na produção e leitura de textos, precisamos da interação
entre texto, leitor e autor. Sendo assim, é importante evidenciar que na prática de
leitura desenvolvemos a percepção de interpretação enquanto gesto de atribuição de
sentido, que não consiste apenas em uma simples decodificação e/ou identificação,
mas refere-se também aos conhecimentos linguísticos, textuais, sociais e políticos que
nos possibilitam elaborar de forma crítica textos de diferentes naturezas.
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Sendo assim, quais estratégias de leitura são necessárias para que o leitor exerça
seu papel de construtor de sentidos? Enquanto leitores, utilizamos seleção, hipóte-
ses, verificação, inferência, experiências, valores, crenças, entre outros elementos para
que seja possível avaliar, criticar e/ou contradizer as informações expostas no decorrer
dos textos. Ao realizar tais ações, fica evidente a interação estabelecida e a interação
entre os conhecimentos produzidos por leitores e autores.
Estudos apontam que, enquanto leitores, acabamos por estabelecer relações entre
nossos conhecimentos prévios e aqueles que são adquiridos no acesso ao texto. Nes-
se processo, produzimos comparações e questionamentos relacionados ao conteúdo,
que são submetidos a críticas, avaliações e contrastes, ou seja, produzimos sentidos
para o que estamos lendo.
Seguindo essa perspectiva, podemos perceber que lemos alguns textos com o obje-
tivo de nos manter informados, como revistas ou jornais, bem como há outros que
lemos por prazer ou deleite, como os textos literários. Há ainda aqueles que são lidos
para entretenimento, como os muitos textos publicados em redes sociais, bem como
há aqueles relacionados para obter conhecimento científico, como teses, monogra-
fias, artigos e outros. Existe uma lista de gêneros e tipos textuais, sendo que cada um
deles apresenta-se de um modo frente ao leitor, sendo responsáveis por construir os
caminhos de leitura com maior ou menor interação.
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das marcas gráficas, mas antes está relacionada ao que elas têm a dizer ao leitor. Logo,
possui interações com as pretensões do autor.
Segundo Ingedore Koch (2011, p.12-13) toda atividade humana consiste em três fun-
damentais aspectos, a saber:
13
RE SUMO
Este capítulo apresentou noção ampla do que é o texto, tomando-o como fato do dis-
curso, seja ele falado ou escrito, entendendo-o como uma unidade sociocomunicativa.
Desse modo, entendemos que o texto possui inúmeras características, sendo elas ela-
boradas por palavras organizadas, sons ou por imagens em traços, cores e movimen-
tos. Entender a noção mais ampla de texto possibilita o exercício da leitura, escrita e
melhor elaboração do processo interpretativo para a formação de leitores e autores
críticos dentro e fora do espaço acadêmico.
A compreensão mais ampla da noção de texto, exposta neste capítulo, nos leva a to-
mar o elemento linguístico — formado por uma combinação de letras e/ou sons que
formam palavras — como não exclusivo na produção textual. Assim, podemos tomar a
interação entre os sujeitos e as múltiplas propostas de sentido como elementos cons-
titutivo do texto. Portanto, podemos dizer que leitura e escrita consistem em aspectos
históricos e sociais complexos e variados.
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RE FE RÊ NCIA S
KOCH, I. G. V. O texto e a construção dos sentidos. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3 ed. São Paulo:
Editora Contexto, 2010.
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2
Coesão e coerência: a estruturação do parágrafo e
estratégias argumentativas
16
Não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam faíscas e las-
cas como aços espalhados. Ah, que medo de começar e ainda nem sequer
sei o nome da moça. Sem falar que a história me desespera por ser simples
demais. O que me proponho contar parece fácil à mão de todos. Mas a sua
elaboração é muito difícil. Pois tenho que tornar nítido o que está quase apa-
gado e que mal vejo. Com mãos de dedos duros enlameados apalpar o invisí-
vel na própria lama.
Clarice Lispector
(A Hora da Estrela, p. 25)
O trecho do livro A hora da estrela, escrito por Clarice Lispector, evidencia, dentre
tantas outras interpretações possíveis, as limitações da escrita e a dificuldade de se
iniciar um texto, ainda que aquilo que precisa ser dito, a partir do código de linguagem,
esteja posto no pensamento.
Diante desse contexto podemos dizer que a escrita exige organização e planejamento
e, para que tenhamos um bom texto, é necessário acompanhar a estrutura de produ-
ção textual, que está dividida em três etapas...
O planejamento textual implica uma boa pesquisa para definição do tema a ser abor-
dado e do público que se deseja atingir. Além disso, é nesta etapa que realizamos o le-
vantamento de dados sobre a temática escolhida, definimos o gênero textual que será
utilizado, elaboramos nossas estratégias argumentativas e iniciamos nosso rascunho.
A terceira etapa, na qual realizamos a revisão textual, envolve o ato de reler tudo o
que foi escrito para detectar possíveis falhas. Desse modo, garantimos a qualidade do
texto e o efetivo processo comunicativo.
Neste capítulo iremos nos debruçar sobre os elementos que constituem a etapa dois
da estrutura de produção textual, que consiste na escrita do texto. Para isso, devemos
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garantir que nossa produção seja formada por um conjunto estruturado e fluido, bem
como devemos assegurar que nosso conteúdo acompanhe uma estrutura lógica e ade-
quada. Por fim, devemos entregar um texto construído com base em conhecimentos
sólidos. Tais elementos são constitutivos do texto e eles designam coesão, coerência
e consistência na produção textual.
Coesão
Koch define coesão como “o fenômeno que diz respeito ao modo como os elemen-
tos linguísticos presentes na superfície textual se encontram interligados entre si, por
meio de recursos também linguísticos, formando sequências veiculadoras de senti-
dos” (KOCH, 2011, p.45). Assim, a coesão pode ser classificada em duas modalidades:
remissão e sequenciação.
1. Remissão
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Exemplo de remissão:
2. Sequenciação
Exemplo de sequenciação:
Coerência
Além da coesão temos a coerência, definida por Koch como aquela que diz respeito
ao modo como “os elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na
mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos” (KOCH, 2011,
p. 52), ou seja, consiste no resultado da construção realizada por aqueles que par-
ticipam do processo comunicativo a partir de uma série de fatores de ordem social,
cultural e de interação.
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Estratégias argumentativas
Sabemos que o texto é uma unidade sociocomunicativa que usa os códigos de lingua-
gem para a produção e efeitos de sentido. Para que possamos atingir tal finalidade,
existem os fatores coesão e coerência como mecanismos indispensáveis.
Argumentos
Os argumentos constroem, de forma ordenada, os sentidos no texto, sendo eles um
conjunto de afirmações. No entanto, é importante compreender que nem todas as
afirmações constituem argumentos.
Diferentemente do que poderíamos supor a princípio, bons argumentos não são aque-
les que remetem exclusivamente a persuasão, ou seja, não consistem em apenas indu-
zir alguém a aceitar algo ou alguma coisa. Antes disso construímos bons argumentos
quando temos boas razões para que as proposições sejam verdadeiras e com isso pos-
sam conduzir, sustentar e estabelecer as conclusões.
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A busca por argumentos corretos, e em particular por bons argumentos, por
aqueles que hoje poderíamos chamar de argumentos sólidos, começou há
mais de 20 séculos na polêmica iniciada por Sócrates contra os sofistas, con-
tinuada por Platão e levada adiante por Aristóteles. Praticamente, todas as
questões que podemos levantar sobre a natureza dos argumentos foram já
levantadas no tratado que dá origem à lógica, os “Tópicos” de Aristóteles,
devotados ao treino intelectual, aos contatos com outras pessoas e ao co-
nhecimento científico e filosófico. Devemos ter claro, contudo, que a lingua-
gem, os métodos e certos pressupostos de Aristóteles irão forçosamente se
diferenciar da visão contemporânea. (EPSTEIN; CARNIELLI, 2019, p.35)
A ideia de que bons argumentos não são construídos com a finalidade única de per-
suadir ou influenciar é reiterada por Emediato (2001), quando ele problematiza as
atividades de comunicação, tal e qual é o texto. Segundo o autor, não são todas as
informações que possuem o objetivo de convencer todo um grupo. Para ele, “o ato de
responder a uma pessoa que nos pergunta as horas dificilmente (salvo má-fé) inclui um
fim de influência sobre sua crença no tempo”.
Ainda segundo Emediato, as ações comunicativas são finalizadas, o que significa dizer
que são dirigidas a um fim, sendo este:
Estratégias
No processo de construção de argumentos no texto adotamos algumas estratégias,
ou seja, artifícios que consistem nos modos como tais argumentos devem ser apresen-
tados e organizados. Ao explorá-los a partir dos diferentes tipos e gêneros textuais, te-
mos melhor compreensão sobre estrutura, produção e leitura textual de forma crítica.
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A escolha de como devemos apresentar e organizar nossos argumentos
no texto é muito importante para que possamos desenvolver as estraté-
gias argumentativas.
Os argumentos são ordenados por algumas articulações, como aquelas que situam o
leitor no contexto de tempo e espaço dentro da produção textual, elementos também
responsáveis por construir um texto coeso.
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Os textos são criações humanas, logo, são produtos culturais elaborados
por um sujeito (um escritor, um jornalista, um publicitário, um legislador,
um cineasta, um dramaturgo, um pintor, um músico, um professor, um gra-
fiteiro, um blogueiro, você etc.) e destinados a outros sujeitos; portanto,
além de serem um todo de sentido, são objetos de comunicação entre su-
jeitos. A definição de texto leva em conta duas características que se com-
plementam: um todo de sentido; um objeto de comunicação entre sujeitos.
(TERRA, 2019, p. 4)
Ao entender o texto como um todo de sentido podemos afirmar que ele apresenta
dois planos:
Todo texto está materializado em um gênero e cada um deles possui seus tipos e ca-
racterísticas, sendo assim classificados a fim de atender a uma organização da textua-
lidade. Alguns autores se debruçaram e produziram teorias sobre os gêneros desde a
Antiguidade, como o filósofo grego Aristóteles.
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O filósofo grego faz menção a três gêneros: o lírico, o épico e o trágico. No
primeiro, temos a manifestação da individualidade. O lírico está centrado na
subjetividade, mesmo quando trata da realidade objetiva […] O épico é um
gênero narrativo, isto é, há um narrador que conta um fato. A palavra “épico”
provém do grego épos, cujo significado é “palavra”. Épico é aquilo que é nar-
rado por meio de palavras. Como se trata de gênero narrativo, o épico apre-
senta personagens, ação, tempo, espaço e narrador […] O gênero dramático
está ligado à representação. Enquanto no épico há um narrador que conta
os fatos, no dramático as ações são representadas. Consiste não na narrativa
das ações por um narrador (como no gênero épico), mas na representação
das ações por personagens que as vivem, como é o caso das representações
teatrais.(TERRA, 2019, p. 96)
No entanto, as teorias de Aristóteles são restritas ao discurso literário e com isso dei-
xam um espaço em relação às outras realizações sociocomunicativas. Por outro lado,
há a perspectiva do filósofo Bakhtin (2018), que toma os gêneros como elementos
pertencentes às atividades humanas e acredita que por meio deles a nossa comunica-
ção é possível.
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• O texto descritivo constitui-se em um retrato de alguém ou algo e não está
marcado pelo tempo como no texto narrativo, pois a descrição é fixa.
• O texto expositivo consiste em expor e, assim, transmitir saberes — neste tipo
de texto elementos desconhecidos podem ser evidenciados.
• O texto argumentativo está presente em todos os textos e é constituído pela
construção de premissas verdadeiras.
O ato de ler e escrever são fundamentais para o desempenho acadêmico e, nesse sen-
tido, os indivíduos que praticam tais atividades conseguem melhor apreender e com-
preender as informações, de modo a impulsionar maiores possibilidades de conheci-
mento, seja no meio científico e tecnológico ou no espaço profissional cotidiano.
“Não se escreve por se querer dizer alguma coisa, escreve-se porque se tem
alguma coisa para dizer.”
Scott Fitzgerald
25
RE SUMO
Neste sentido, são apresentados os artifícios para que os argumentos possam ser or-
ganizados no texto e explorados a partir da evidência dos diferentes tipos e gêneros
textuais. Tais elementos nos levam a uma melhor compreensão sobre estrutura, pro-
dução e leitura textual de forma crítica no campo científico e profissional.
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RE FE RÊ NCIA S
KOCH, I. G. V. O texto e a construção de sentidos. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
PALADINO, V. C. et al. Coesão e coerência textuais: teoria e prática. 2. ed. Rio de Ja-
neiro: Freitas Bastos, 2011.
TERRA, E. Tipos textuais. In: TERRA, E. Práticas de leitura e escrita. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019.
27
3
A vida acadêmica, o discurso científico e as formas
de leitura e produção de textos: resumo e resenha
A vida acadêmica
Os movimentos da vida acadêmica também são atravessados pelos processos de glo-
balização e internacionalização. Com isso, temos apontamentos para as necessidades
de transformações na matriz curricular dos cursos disponibilizados pelas universida-
des, de maneira que possam atender às demandas das sociedades e, assim, ofertar
formação profissional de qualidade.
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Diante disso, a educação recebe papel de destaque.
Conhecimento científico
Nesse contexto, entendemos que as universidades constituem grandes centros pro-
dutores de conhecimento, responsáveis por qualificação e capacitação de sujeitos,
tanto para a vida como para o mercado de trabalho, tendo em vista a abertura para
múltiplos sentidos do mundo, sem deixar de ver que todo nosso conhecimento come-
ça com a experiência.
Não resta dúvida de que todo o nosso conhecimento começa pela experiên-
cia. Efetivamente, que outra coisa poderia despertar e pôr em ação a nossa
capacidade de conhecer senão os objetos que afetam os sentidos e que, por
um lado, originam por si mesmos as representações e, por outro, põem em
movimento a nossa faculdade intelectual e levam-na a compará-las, ligá-las
ou separá-las, transformando a matéria bruta das impressões sensíveis em
um conhecimento que se denomina experiência? Assim, na ordem do tempo,
nenhum conhecimento precede em nós a experiência e é com esta que todo
conhecimento tem seu início (KANT,2001,p.41).
A busca pela compreensão da realidade pretende estabelecer relação entre seres hu-
manos e o mundo desde os tempos primitivos, tendo passado por diferentes refle-
xões, ideias e teorias ao longo do tempo. Assim, podemos dizer que o conhecimento
científico teve um percurso histórico em sua construção até chegar ao que entende-
29
mos hoje, ou seja, à produção de pesquisas científicas, que consistem na aplicação de
métodos investigativos para o desenvolvimento de determinado estudo.
Desse modo, este capítulo aborda os caminhos para a produção científica tendo como
foco a apresentação da estrutura e organização dos tipos textuais resumo e resenha,
importantes para o domínio do discurso acadêmico-científico, da construção do co-
nhecimento, da produção e da divulgação de saberes.
O discurso científico
Antes de compreendermos melhor o gênero resumo e resenha, passaremos pela re-
flexão da construção do conhecimento no espaço acadêmico, que consiste em proces-
so de investigação fundamentado em aspectos culturais, filosóficos e científicos das
sociedades, apresentados de forma sistematizada. Portanto, é importante acompa-
nhar como o trabalho é operacionalizado — neste caso, a partir da produção de textos,
os quais carregam suas especificidades e funcionalidades de modo a contribuir para a
construção do pensamento crítico.
Nesse contexto, para que tenhamos uma produção acadêmica de qualidade precisa-
mos construir textos dentro dos padrões da língua a partir do uso das normas gramati-
cais, ou seja, textos elaborados em linguagem culta, sem a utilização de gírias e outras
expressões coloquiais, exceto quando necessário para atender a especificidades do
objeto de pesquisa e da metodologia adotada.
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Além disso, devemos apresentar ideias que busquem uma unidade a partir da organi-
zação lógica, tendo como objetivo o foco e o desenvolvimento do texto.
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O resumo possui classificações que variam conforme seu
conteúdo, estilo e extensão.
Segundo Salvador (1978), o resumo acadêmico está dividido em três categorias: indi-
cativo, informativo e crítico. Observe a definição de cada uma delas.
CATEGORIA DEFINIÇÃO
Apesar de a definição do gênero textual resumo ter relações com uma apresentação
concisa dos pontos mais relevantes de um texto, é importante ressaltar que o resumo
consiste em questões mais amplas, que se refere à compreensão de modo global do
texto principal.
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• Escolha de exemplos para que haja clareza e compreensão do texto.
• Evitar acréscimo de informações ao texto.
I. Análise textual
Compreende um estudo do vocabulário, verificação do referencial teórico, inves-
tigação dos fatos apresentados e esquema dos sentidos.
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II. Análise temática
Apreende o assunto do texto, as perspectivas pelas quais o autor tratou tal as-
sunto, o foco do problema apresentado e a posição assumida pelo autor no de-
correr do texto.
Além das análises necessárias durante a atividade de leitura para a produção de re-
senhas, temos a problematização como etapa relevante para esse processo, a qual
engloba as questões explícitas e implícitas suscitadas no texto. Ao passar por essas
etapas, chegamos à fase de síntese, ou seja, à elaboração do texto resenha de forma
amadurecida intelectualmente.
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• Informações sobre quem é o autor, sua formação acadêmica, livros e artigos
publicados, período em que foi realizado o estudo.
• Síntese da obra destacando o assunto do texto, suas principais ideias, quais co-
nhecimentos prévios são exigidos para a compreensão do texto, caso haja, e a des-
crição do conteúdo.
• Conclusão da obra em que evidenciamos as teses defendidas pelo autor e os
resultados alcançados.
Conclusão
As ideias aqui apresentadas evidenciam como os modelos de textos são utilizados na
universidade para a produção científica. Com isso, foi possível abordar como os gêne-
ros resumo e resenha constituem-se enquanto atividade social de grande importância
para a vida acadêmica, deixando em destaque que não são apenas responsáveis pelo
desenvolvimento dos aspectos formais da língua, mas que também contribuem para
a construção crítica e a capacidade de síntese em diferentes situações comunicativas.
Dessa forma, é possível dizer que ofertam ao processo de ensino/aprendizagem uma
prática diversificada para a produção do conhecimento.
35
RE SUMO
36
RE FE RÊ NCIA S
KANT, I. Crítica da Razão Pura. 5. ed. Trad.: Manuela Pinto e Alexandre Morujão. Lis-
boa, Portugal: Calouste Gulbenkian, 2001.
37
4
Construção de autoria na produção acadêmica:
o ensaio
O texto científico
No decorrer desta disciplina compreendemos que o texto acadêmico é escrito para
compartilhar determinada investigação científica, filosófica e artística. Portanto,
no processo de escrita deve-se manter o rigor, a crítica e uma estrutura textual
clara e objetiva.
38
apontadas no que diz respeito à qualidade dessas produções. Tais críticas caminham
no sentido de afirmar que o discurso científico produzido no Brasil não possui origina-
lidade, apresentando-se como cópia de algumas áreas de produção de conhecimento
do território internacional, como Estados Unidos e Europa.
A função de divulgar essas produções textuais é destinada ao autor, que assume po-
sição de enunciação e elabora efeitos de sentido no texto. Diante disso, é possível
afirmar que a autoria é construída a partir de um conjunto de critérios, dentre os quais
está incluída a responsabilidade sobre o que é compartilhado e, portanto, são eles os
autores que fundam o discurso científico.
Para produzir um texto autoral de qualidade não devemos seguir apenas as regras
e normas linguísticas, mas precisamos também apresentar densidade ao estabelecer
relações com os elementos do mundo, como cultura, artes, crenças, valores, aspectos
históricos, reflexões de diversos autores, entre outros.
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Diante disso, podemos tomar como modo de construção autoral na produção de tex-
tos científicos a escrita performativa presente no gênero ensaio, o qual é híbrido por
natureza ao transitar por diversas áreas do conhecimento. Assim, podemos caracteri-
zar o ensaio como um texto em que a liberdade do pensamento é possível, de modo a
expor objetividade intelectual a partir de uma abordagem crítica.
O ensaio como gênero textual surgiu no século XVI, com Montaigne e Ba-
con, mas isso não significa que ninguém tenha elaborado, antes deles, tex-
tos com características de ensaio. Assim, para mostrar um exemplo notável,
podemos mencionar os escritos de Aristóteles, alguns deles com evidente
estrutura de ensaio. Um outro exemplo são os escritos de Plutarco, embora
as características dos dois sejam diferentes e, às vezes, opostas. Por isso, a
história do gênero depende do conceito de ensaio, que pode ser definido
de diversos modos.
(PAVIANI, 2010, p. 25)
40
Diante disso, é importante dizer que ainda que o ensaio nos ofereça liberdade de esti-
lo, ritmo e expressões, há exigências quanto ao equilíbrio e sutilezas desse uso liberal,
sendo essas as características que o distinguem dos outros textos acadêmicos, como
resenha e resumo.
O gênero ensaio, portanto, fortalece a autoria dos textos acadêmicos, uma vez que
parte da significação das coisas para levá-las adiante reflexivamente. Assim, os con-
ceitos são trabalhados ensaisticamente, ou seja, em movimentos de experimentação,
questionamentos, reflexões e críticas ao objeto de estudo, que não são apenas descri-
tos e explicados, mas sim postos em exercício de análise crítica argumentativa, em que
um conjunto de proposições elabora diálogos e reflexões.
Desse modo, para que possamos construir uma argumentação voltada ao convenci-
mento do interlocutor, é necessário que sigamos alguns dos componentes a seguir:
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Argumentação, portanto, é o resultado textual de uma combinação entre
diferentes componentes, que exige do sujeito que argumenta construir, de
um ponto de vista racional, uma explicação, recorrendo a experiências in-
dividuais e sociais em um quadro espacial e temporal de uma situação com
finalidade persuasiva.
(KOCH, 2016, p. 24).
Nesse contexto, como reconhecer quem nos ajudou a construir nosso dis-
curso acadêmico?
42
Ao trazer ideias, teorias e conceitos de outros autores para o nosso texto, construí-
mos sustentação e credibilidade aos nossos argumentos. Desse modo, é importante
saber como conversar com outros autores no texto, organizar as ideias e manter
padrões de linguagem no contexto de produção sem que haja distanciamento entre
autor e objeto.
Assim, é importante ressaltar que a presença de outros autores no texto não consiste
em cópias, mas sim em um diálogo por meio do qual são explanadas reflexões próprias
a partir dos posicionamentos de outras autorias.
A redação não é uma transcrição mecânica de ideias prontas, mas uma fase
da construção do trabalho, totalmente imbricada com o próprio desenvol-
vimento do raciocínio.
(CASTRO, 2010, p. 4)
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Nesse contexto, ao seguir as normas-padrão para um trabalho acadêmico construímos
caminhos mais acessíveis para a apreciação do conteúdo registrado, de modo a evi-
denciar a organização das produções científicas, simplificando métodos e técnicas e
ofertando celeridade à busca de fontes.
Seguir as normas, portanto, consiste em viabilizar a informação dos autores que servi-
ram de embasamento para a produção textual, nos ajudando a desenvolver o assunto
em estudo. Assim, justifica-se a importância das citações no texto, realizadas com base
no levantamento de referências.
(Elementos obrigatórios)
Capa
Folha de rosto
Resumo
Sumário
Elementos
pré-textuais
(Elementos opcionais)
Dedicatória
Agradecimentos
Epígrafe
Lista (ilustrações, tabelas etc.)
Introdução
Elementos
Desenvolvimento
textuais
Conclusão
Referências
Elementos
Anexos
pós-textuais
Apêndices
44
Desse modo, o emprego de regras e normas na produção textual acadêmica é impres-
cindível para a construção do discurso autoral no campo científico, que só é possível
ao retomar referências e conhecimento de naturezas diversas, sejam elas artísticas,
históricas, políticas ou sociais.
Consideramos assim as marcas de uma escrita que acontece de forma fluída tal e qual
a proposta do gênero acadêmico ensaio para a construção do conhecimento qualifica-
do, observando a estrutura, a organização de ideias e os padrões de linguagem desse
gênero durante o processo de planejamento, produção e autoavaliação.
45
RE SUMO
46
RE FE RÊ NCIA S
FOUCAULT, M. O que é um autor? In: FOUCAULT, M. Ditos e escritos III: Estética – Litera-
tura e pintura, música e cinema. Tradução de Inês Barbosa. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
PAVIANI, J. O ensaio como gênero textual. In: AZEVEDO, T. M.; PAVIANI, N. M. S. (orgs.).
Universo acadêmico em gêneros discursivos. Caxias do Sul: Educs, 2010. p. 23-32.
47