Ocorrência Do Pulgão-Do-Milho Rhopalosiphum Maidis (Fitch, 1856) : Identificação, Biologia e Danos
Ocorrência Do Pulgão-Do-Milho Rhopalosiphum Maidis (Fitch, 1856) : Identificação, Biologia e Danos
Ocorrência Do Pulgão-Do-Milho Rhopalosiphum Maidis (Fitch, 1856) : Identificação, Biologia e Danos
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Ocorrência do pulgão-do-milho
Rhopalosiphum maidis (Fitch, 1856):
identificação, biologia e danos
1
Embrapa Trigo – Rodovia BR 285, km 294, Passo Fundo - RS - Brasil , 99001-970. E-mail: [email protected].
2
Monsanto; Desenvolvimento de produto. E-mail: [email protected].
3
Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG – Professor D.Sc. E-mail: [email protected].
a fonte de alimento está se esgotando ou apresenta alta capacidade de proliferação,
as condições ambientais são desfavoráveis sendo a duração média do período
(Figura 2). reprodutivo de 12 dias, quando cada fêmea
Figura: Paulo Roberto V. da S. Pereira pode parir até seis ninfas por dia. A
duração média do ciclo biológico de R.
maidis a 20o C é de 28 dias (Maia et al.,
2004). Fatores climáticos como vento e
chuvas freqüentes são desfavoráveis ao
crescimento populacional deste inseto
(Gassen, 1996).
As altas infestações do pulgão-do-milho
observadas na safra 2005/2006 foram
desencadeadas principalmente pela
estiagem que predominou até o final de
janeiro, quando foram observadas
precipitações médias inferiores à média
Fig. 1. Rhopalosiphum maidis: A) fêmea dos últimos 10 anos. Esta condição,
áptera adulta em vista dorsal, B) antena e combinada com altas temperaturas,
C) porção final do abdômen. beneficia o rápido desenvolvimento e a
Fotos: Paulo Roberto V. da S. Pereira dispersão deste inseto, que ao colonizar
lavouras novas não é percebido pelos
agricultores. Além disto, a carência de
água é benéfica para os afídeos, pelo
aumento na concentração de nutrientes
nos tecidos vegetais, principalmente
aminoácidos, até o ponto no qual a
redução da pressão osmótica seja o fator
A B limitante para a ingestão de seiva pelo
Fig. 2. Adultos de Ropalosiphum maidis: A) inseto (Van Enden et al., 1968). Outro
forma áptera e B) forma alada. aspecto que contribui para a ocorrência de
populações elevadas está relacionado com
o uso de inseticidas de amplo espectro de
A reprodução deste inseto é assexuada ação para o controle da lagarta-do-
(anhocíclicos), sendo realizada cartucho que, ao reduzirem ou eliminarem
exclusivamente por partenogênese telítoca, as populações de inimigos naturais,
isto é, os embriões desenvolvem-se no favorecem o crescimento da população
interior do corpo das fêmeas, a partir de deste pulgão (Gassen, 1996; Waquil et al.,
óvulos não fecundados, originando sempre 2003).
fêmeas (Gassen, 1996). Segundo Os indivíduos alados, responsáveis pela
Blackman & Eastop (1984) machos podem dispersão, se alojam no cartucho do milho
aparecer esporadicamente, mas fêmeas formando novas colônias que se
ovíparas e ovos de inverno ainda não desenvolvem no pendão em formação e
foram observados. A temperatura ideal nas gemas florais, que só serão
para o desenvolvimento de R. maidis fica visualizadas no estádio de pendoamento,
entre 18 e 24o C quando, aproximadamente quando a população já está bem alta e,
sete dias após o nascimento das ninfas muitas vezes, a produção prejudicada
este inseto atinge a fase adulta (Gassen, (Gassen, 1996; Waquil et al., 2003; Al-
1996). Nestas condições de temperatura e Eryan & El-Tabbakh, 2004).
com clima seco, o pulgão-do-milho
Uma vez que este inseto é considerado sementes, utilizando inseticidas sistêmicos
praga secundária na cultura do milho, com o objetivo de evitar a infestação
pouca importância foi dada até o momento precoce nas lavouras de milho, quando as
para a quantificação e qualificação dos plantas estão na fase mais suscetível; e o
danos por ele causados. Entretanto, em monitoramento do inseto, observando em
outros países, trabalhos científicos detalhadamente plantas na região do
mostram que as infestações que ocorrem cartucho (Waquil et al., 2003).
nos estádios vegetativos ou até o Fotos: Paulo Roberto V. da S. Pereira
pendoamento são as que resultam em
maiores prejuízos. Quanto mais cedo a
infestação ocorrer maior será o dano e,
dependendo do tamanho da colônia de
pulgões no pendoamento, a redução na
produção pode chegar a até 65% (Al-Eryan
& El-Tabbakh, 2004).
A redução na produção, com base no que
foi observado a campo, é uma resposta
fisiológica da planta e está associada com
a interação dos efeitos dos pulgões e dos A B
seguintes fatores: a) estresse hídrico; b)
altas populações de pulgões; c) viroses
transmitidas pelo pulgão; d) possível ação
tóxica da saliva do pulgão; e) compactação
dos grãos de pólen e cobertura dos estilo-
estigmas pela excreção do excesso da
seiva ingerida (solução açucarada),
causando falhas na polinização e
conseqüentemente deficiências na C D
granação das espigas; e f) o genótipo Fig. 3. Sintomas de danos ocasionados
utilizado para cultivo. Os sintomas pelo ataque de Ropalosiphum maidis: A)
observados com mais freqüência são morte morte de plantas, B) perfilhamento de
de plantas, perfilhamento de espigas, espigas, C) espigas atrofiadas e D) espigas
espigas atrofiadas e espigas com granação com granação deficiente.
deficiente (Figura 3). O pulgão-do-milho é O monitoramento da população de pulgões
vetor de viroses, principalmente deve ser realizado dos 30 aos 70 dias após
transmitindo o vírus do mosaico comum do a germinação, durante a fase vegetativa e
milho, doença que tem se destacado nos início da fase reprodutiva da cultura,
últimos anos devido ao aumento na examinando-se aleatoriamente 100
incidência e às perdas que pode causar na plantas, em grupos de 20, para cada 10 ha.
produção (Almeida et al., 2001). O nível de infestação para cada planta é
Dentre os procedimentos para se evitar o classificado da seguinte forma:
ataque deste inseto pode-se citar a escolha
Nota Número de pulgões
de cultivares menos susceptíveis; a não
realização da semeadura em diferentes 0 sem pulgões
épocas, para que não existam plantas de 1 de 1 a 100 pulgões por planta
milho de diferentes estádios em áreas
2 mais de 100 pulgões por planta
próximas; o tratamento de
O tratamento é justificado quando 50% das Referências bibliográficas
plantas amostradas estiverem na classe 2
(Figura 4), as plantas estiverem sob AL-ERYAN, M. A. S.; EL-TABBAKH, S. S.
estresse hídrico (períodos prolongados de Forecasting yield of corn, Zea mays
seca) e a população de pulgões estiver infested with corn leaf aphid,
crescendo. Rhopalosiphum maidis. Journal of Applied
Fotos: Paulo Roberto V. da S. Pereira
Entomology, v. 128, n. 4, p. 312-315,
2004.
ALMEIDA, A. C. L.; OLIVEIRA, E.;
RESENDE, R. O. Fatores relacionados à
disseminação do vírus do mosaico comum
do milho. Fitopatologia Brasileira, v. 26,
n. 4, p. 766-769, 2001.
BERTELS, A. Revisão de afídeos no Rio
Grande do Sul. Pelotas: Instituto de
Fig. 4. Exemplos de densidades Pesquisas Agropecuárias do Sul, 1973. 64
populacionais que podem ser consideradas p. (Boletim Técnico, 84).
como classe 2. BLACKMAN, R. L.; EASTOP, V. F. Aphids
on the world’s crops: an identification and
A ocorrência de inimigos naturais dos information guide. Chichester: John Wiley &
pulgões, como larvas e adultos de Sons, 1984. 466 p.
coccinelídeos (joaninhas), crisopídeos e
GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA
microimenópteros (múmias), deve ser
NETO, S.; ZUCCHI, R. A. Entomologia
observada, pois a presença de um grande
agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 750 p.
número de predadores e parasitóides
sugere que o controle natural está GASSEN, D. Manejo de pragas
reduzindo o número de pulgões. associadas à cultura do milho. Passo
Fundo: Aldeia Norte, 1996. 134 p.
A diferenciação entre perdas causadas por
estiagem, perdas causadas pela ação KING, A. B. S.; SAUNDERS, J. L. The
direta do pulgão-do-milho ou viroses invertebrate pest of annual food crops in
associadas, é uma tarefa difícil, uma vez Central America. London: Orverseas
que a ocorrência de infestações do inseto é Development Administration, 1984. 166 p.
estimulada pelo clima seco e os danos MAIA, W. J. M.; CARVALHO, C. F.; CRUZ,
finais podem se confundir. Entretanto, o I.; SOUZA, B.; MAIA, T. J. A. F.
produtor precisa estar consciente que,
quando houver previsão de clima seco, um Influência da temperatura no
monitoramento constante das lavouras desenvolvimento de Rhopalosiphum maidis
deve ser realizado para acompanhar o (Fitch,1856) (Hemíptera: Aphididae) em
aumento e a disseminação das populações condições de laboratório. Ciência e
do pulgão-do-milho e, quando necessário, Agrotecnologia, p. 1470-1478, 2003.
adotar medidas para evitar seus danos, Edição especial.
tendo como exemplo o que aconteceu na NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.;
safra 2005/2006. ZUCCHI, R. A. Entomologia econômica.
São Paulo: USP-ESALQ, 1981. 314 p.
SALVADORI, J. R.; TONET, G. E. L. WAQUIL, J. M.; E. OLIVEIRA; P.A. VIANA;
Manejo integrado dos pulgões do trigo . CRUZ, I.; SANTOS, J. P.; F.H.
Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2001. 52 p. VALICENTE, F. H.; F.T. FERNANDES, F.
(Embrapa Trigo. Documentos, 34). T.; PINTO, N. F. J. A.; CASELA, C. R.;
STOETZEL, M. A.; MILLER, G. L. Aerial FERREIRA, A. S.; OLIVEIRA, A. C.
feeding aphids of corn in the United States Bioecologia e controle de insetos
with reference of the root-feeding Aphis vetores de patógenos na cultura do
maidiradicis (Homoptera: Aphididae). milho. Sete lagoas: Embrapa Milho e
Florida Entomologist, v. 84, n. 1, p. 83-98, Sorgo, 2003. 38 p. (Embrapa Milho e
2001. Sorgo. Documentos, 28).