Fabio Goulart Completo

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II Encontro “Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional”

ENTRE A RESISTENCIA E A COERÇÃO:


A VIVENCIA DOS ESCRAVOS NA CIDADE DE RIO GRANDE

Fabio Odair Gomes Goulart


Fundação Universidade Federal do Rio Grande.

RESUMO AMPLIADO:

A escravidão disseminou-se pela cidade do Rio Grande, ao longo do século XIX.


Em suas ruas e becos era comum a presença de escravos que em busca da sobrevivência
exerciam as mais variadas atividades, que exigiam o mercado de trabalho.

A cidade do Rio Grande, no século XIX, é marcada por um processo de


desenvolvimento e urbanização, o qual modificou sensivelmente a vida de seus
cidadões, criando uma nova sociedade, e com ela novas necessidades, como as
prestações de serviços á população, característica do aprimoramento da organização
urbana.
Essas atividades serão exercidas em sua maior parte por escravos, que
circulavam pelas ruas e becos da cidade oferecendo seus serviços e misturando-se a
comunidade, ora na beira do cais, carregando mercadorias que chegavam dos navios, ou
trabalhando como pedreiros, carpinteiros nas obras públicas e nos estaleiros que
surgiam em torno do porto, assim como em outros serviços inerentes ao meio urbano.
Esse contexto proporcionou uma nova dimensão ao sistema escravista, o qual
abriu brechas para os escravos que estreitavam laços com á sociedade, aproveitando a
mobilidade que suas atividades urbanas permitiam. Assim no seio da própria cidade,
valendo-se de sua vivência neste ambiente, o escravo criava alternativas de resistência.
No ambiente urbano predominava o sistema de ganho, o qual baseava-se na
exploração da mão-de-obra escrava, embora representa-se uma modalidade mais
flexível nas relações de trabalho escravista.
Parcela considerável destes escravos (de ganho) não trabalhava junto ao seu
senhor, ganhavam á rua, e lá construíam paulatinamente suas resistências ao sistema
escravista.
Essas resistências aconteciam através das fugas que ocorriam cotidianamente na
sociedade escravista e representava uma forma de luta contra o cativeiro, e assegura o
papel de protagonista ao escravo na construção de sua liberdade.
A fuga individual poderia inflamar os ânimos dos demais escravos, que vendo
um escravo bem sucedido em sua fuga, se arriscariam também na evasão.
Assim, as fugas individuais poderiam acabar se desdobrando em fugas
coletivas, o que ocasionava uma relevante tensão na elite, que se via assustada com a
ousadia dos escravos, e considerava esses atos como a premissa de uma possível
formação de quilombos.
As fontes utilizadas na construção da pesquisa, forão essencialmente os
periódicos do século XIX (O Rio Grandense, e o Diário de Rio Grande), no qual nos
atemos a folha de anúncios, onde estavam expostos um considerável número de
anúncios de fugas de escravos.
Consideramos os anúncios de jornais fontes riquíssimas para o estudo do
escapulido, pois esses anúncios nos oferecem detalhes e sinais identificadores do
escravo fugido, alem de informarem questões intrínsecas a ele, e que nos conduzem a
descobrir características peculiares do ser humano escravizado.
Pesquisamos os periódicos dos anos de 1848 a 1853. Coletados os documentos,
sistematizamos e classificamos, analisando suas características e peculiaridades. As
fugas foram classificadas em individuais e coletivas.
Concluímos que as resistências individuais e coletivas contaminaram o regime
escravista, lhe enfraquecendo as bases de sustentação e favorecendo a construção de
uma mentalidade de resistência, que foi esculpida pela vivência do escravo no meio
urbano e forjada pelas duras penas impostas a estes pelo domínio opressor e violento a
que estavam submetidos, levando o escravo a criar estratégias de lutas na busca de
espaços alternativos ao cativeiro.

2
ARTIGO:

A vivência do escravo, adquirida no seu ir e vir pelas ruas e becos da cidade


proporcionou-lhes novas alternativas de resistência ao cativeiro. O cativo urbano gozava
de certa autonomia por estar inserido nos regimes de ganho e aluguel, uma vez que
essas duas modalidades permitiam-lhes uma maior mobilidade no meio citadino e, com
isso, a possibilidade de formarem alianças, que resultariam nas redes de acolhedores.
Junto ao crescimento da cidade surgem novas necessidades e com elas, a
exigência de prestações de serviços específicas do ambiente citadino, os quais eram
desempenhados por escravos. Dessa maneira paulatinamente, os escravos poderiam
inserir-se no mercado de trabalho, através das modalidades de ganho e aluguel, na busca
de sua subsistência e de espaços de resistência. Até porque, com o desenvolvimento
urbano, tornava-se cada vez mais difícil distinguir o escravo do liberto. Muitos fugidos
se aproveitavam disso, e procuravam passar desapercebidos em meio à população,
forjando uma condição de livre, possivelmente, sobrevivendo por meio de seu próprio
trabalho.
O caso do escravo Jerônimo nos exemplifica essa situação. O anunciante relata
que o escapulido andava esfrangalhado para não ser reconhecido, assim como o criolo
Antônio Rodriguez, que tentou burlar sua condição de cativo, andando calçado e
dizendo-se forro, fatos que só eram possíveis na vida citadina.
Uma vez que, os ofícios desempenhados pelos escravos foram relevantes na hora
de escapulir, bem para sua sobrevivência longe de seus senhores. Temos muitos
exemplos dos escravos marinheiros, envolvidos em fugas que se utilizavam de
embarcações como meio de transporte para escapulirem, algumas vezes, buscando o
Estado Oriental, outras viajando entre Províncias distantes.
O acoitamento, tão presente nos casos de fugas estudados, foi de extrema
importância para o sucesso do escravo no momento da evasão, pois servia como ponto
de abrigo segura a quem fugisse, e de encorajamento a quem planejava fugir. Para
conseguir o acoitamento, o escravo, valia-se de todos os seus atributos, como ter um

3
oficio que servi-se ao acoitador, ou a possibilidade de comunicar-se bem para
conquistar possíveis colaboradores.
Podemos confirmar as especificidades do escravo urbano, definindo suas
peculiaridades e vivências citadinas, que auxiliavam na construção de alternativas ao
cativeiro. Os regimes de ganho e aluguel impuseram novas características ao regime
escravista na cidade, oferecendo mais liberdade de circulação e ampliando o circulo de
amizades, base para a constituição das redes acolhedoras.
Quando buscamos responder as questões levantadas sobre os motivos que
levavam o escravo a fugir. As evidências nos mostraram que os castigos foram a
principal razão para o ato da fuga. Também com a análise minuciosa dos detalhes,
consideramos que essas, só foram possíveis pela formação de uma rede de acolhedores,
conquistada as duras penas pela astúcia e vivência do cativo escapulido.
Verificamos que as motivações das fugas coletivas eram as mesmas das
individuais, mudando somente seu grau de organização, pois este tipo de fuga exigia
uma ampliação da rede de acolhedores. Isto pode ser averiguado, quando nos deparamos
com grupos de escravos que fugiam de uma província a outra, ou quando um grupo de
cinco escravos (incluindo crianças e velhos) escapam de sua senhora. Para que essas
fugas fossem viáveis, deveria se ter uma rede de acolhedores bem estruturada.
São essas resistências individuais e coletivas que contaminaram o regime
escravista, lhe enfraquecendo as bases de sua sustentação, daí a importância de
pesquisarmos essas “pequenas” ações de resistência, que, na maioria das vezes, nos
passam desapercebidas pelo nosso olhar “viciado” em quilombos e grandes insurreições
escravas, não vendo nessa ação sistemática, embora individuais, como uma autentica
oposição ao escravismo.
A fuga, como um ato de resistência, torna-se um importante meio de oposição ao
regime escravista porque questiona a sociedade escravocrata cotidianamente. Isso pode
ser verificado pelo vasto número de anúncios publicados nos jornais da época. Essas
fontes permitem ao pesquisador resgatar uma parcela desses escravos que não aceitaram
a sua condição de cativo e se rebelaram.
O jornal é uma fonte riquíssima para o estudo da resistência escrava, pois os
anúncios de fugas são encontrados em considerável número, além de proporcionar uma
descrição minuciosa do cativo envolvido.
José Alípio Goulart nos esclarece da qualidade de tais fontes:

4
“Os anúncios de jornais, por seu turno, constituem riquíssimo filão de dado de
informativas acerca de escravos em geral. Neles e que o pesquisador vai encontrar com
minúcias os sinais identificadores das peças escapulidas. São anúncios que pelo
estardalhaço que fazem, mais parecem gritar os detalhes que informam, ou como que
dão uma idéia de fotografias dos indivíduos que indicam”.1

Podemos ilustrar essa passagem pelo anúncio da fuga do escravo Domingos,


onde o anunciante nos apresenta descrições pormenorizadas do escapulido.O jornal O
Rio-Grandense descreve-nos da seguinte maneira a fuga de Domingos:

“Fugiu um preto de nome Domingos, oficial de calafate2, idade de 30 e tantos a


40 anos, tem os sinais seguintes: sinal de sua nação, o dedo mínimo da mão pela parte
de cima bastante calejado, é quebrado de uma verilha , camisa de algodão azul, e calça
de chita, não se afinça o vestuário por ter roubado do seu senhor um baú sortido de
roupas, 20 onças em ouro, 80 patacões e 40 e tantos mil réis em pratas miúdas, quem o
apreender e levar a seu senhor Zeferino José Soeira, com estaleiro em frente a nova casa
da câmara, será bem recompensado.”3

O anúncio acima nos relata que no longínquo verão de 1848, o preto Domingos,
oficial de calafate resolveu burlar o destino de trabalho forçado e humilhação, a que
estava submetido, e nem mesmo sua debilidade física (era quebrado de uma virilha) o
impediria “de ganhar o mundo”, e sentir, mesmo que por um pequeno lapso de tempo, a
sensação de liberdade, ou melhor, de um arremedo de liberdade.
A limitação física era um obstáculo considerável para quem possivelmente, se
obrigaria a embrenhar-se em matos, pular aramados, correr, enfim, usar de suas
agilidades para escapulir; em compensação tinha o escravo Domingos astúcia de sobra,
pois quando em fuga, não pensou duas vezes antes de “passar a mão” em baú sortido de
roupas e pegar “emprestado” de seu senhor 20 onças em ouro e outras quantias
significativas, o que deve ter deixado o seu senhor Zeferino atônico.

1
José Alípio Goulart . Da Fuga ao Suicídio: Aspectos Da Rebeldia Dos Escravos no Brasil.Rio De
Janeiro, Conquista,1972, pg. 114.
2
Pessoa que calafeta navios, calafetador, tapar com estopa alcatroada pendas ou juntas, vedar com pano,
papel buracos.Dicionário da língua portuguesa. Alpheut Tersariol. Ed. Edelbra.
3
Jornal O Rio-Grandense . Rio Grande, 4 de Janeiro de 1848.

5
Com a ajuda dos minuciosos detalhes que nos são oferecidos pelo anunciante da
fuga de Domingos, podemos especular sobre as motivações que o levaram a fugir. Uma
razão possível era o mau trato do qual ele era vítima, o que podemos avaliar por certos
indícios, como a quebradura de sua virilha, que possivelmente foi resultado de maus
tratos, e que pode ser reforçado pela seguinte noticia “Hontem foi chamado a
subdelegacia de policia Zeferino Calafate para responder pelos maus tratamentos físicos
que efetivamente da a uma sua escrava de nome Felippa”4. È possível que o Zeferino
calafate ao qual a noticia se refere, seja o mesmo senhor do escravo Domingos, não só
pela coincidência dos nomes, mas por terem o mesmo ofício (calafate), o que indicaria,
o costume de Zeferino em tratar mal os seus escravos.
Sobre os castigos Sidney Chalhoub comenta que “... a referência a castigos
excessivos era provavelmente a forma de um escravo traduzir para a linguagem dos
senhores a sua percepção mais geral de que direitos seus não estavam sendo
considerados ou respeitados”5.
Domingos estava imerso em um cotidiano duríssimo e sem perspectiva de
mudança. A única alternativa encontrada por Domingos para romper com sua vida de
sofrimento e opressão foi à fuga. A fuga então era um ato extremo, um ataque direto à
instituição da escravidão. Segundo o relato de José Reis, as fugas eram impulsionadas
pela violência física e moral das quais sofriam os escravos. Este autor comenta que as
fugas “individuais ocorrem em reação a maus tratos morais, concretizados ou
prometidos, por senhores a prepostos mais violentos”.6
A fuga de Domingos se torna atípica e com um caráter mais rebelde pelo fato de
ter sido seguida de furto, o que caracteriza um duplo ataque ao direito de propriedade,
base do sistema escravista, sendo um crime direto contra a propriedade dos senhores, e,
portanto uma reação contra a elite dominante, que buscava legitimar a sua dominação e
exploração pelo direito de propriedade.
Para Marco Lírio: “Também os roubos podem ser lidos enquanto apropriação
dos símbolos de dominação branca” 7, além de serem um meio de facilitar a evasão e
amenizar seus sofrimentos. Essas fugas tinham conseqüências econômicas e sociais.
Pois um escravo, na concepção da sociedade escravista, era uma propriedade sobre a

4
Jornal O Rio Grandense. 10 de Fevereiro de 1849.
5
Sidney Chalhoub. Visões da Liberdade. Companhia das Letras, 1990. pg.65
6
João José Reis e Eduardo Silva. Negociação e Conflito: A Resistência Negra No Brasil Escravista. São
Paulo: Cia das Letras, 1989, pg.?

6
qual seu senhor empregou determinado capital, além de estarem na condição de “moeda
circulante”, no meio urbano, uma vez que estavam sujeitos a várias modalidades de
negociações como: vendas, aluguéis, trocas, ou seja, estavam ao dispor das necessidades
do mercado escravista.
O escravo urbano especializado, como o preto Domingos, era mais valorizado
por ser uma mão de obra mais qualificada. Neste ponto o sociólogo Fernando Henrique,
nos esclarece em seu comentário sobre os escravos urbanos que: A valorização é certo
decorria de forma imediata da função desse tipo de escravo no processo produtivo e,
fundamentalmente, era o reconhecimento da capacidade de uma ferramenta mais
aperfeiçoada render mais trabalho.”8
Desta forma podemos observar que a fuga de Domingos acarretou em um golpe
ao orçamento de seu Zeferino, que perdeu sua mão de obra produtiva e seu objeto de
comercialização no mercado, sem contar as despesas que Zeferino teve que despender
para ter o “fujão” de novo sob o seu domínio.È o que se pode apreender pela quantia
que Zeferino promete: “quem o prender será bem recompensado”.
Outro caso interessante para nos ajudar a entender o propósito dos escravos que
empreendem a fuga é o do crioulo Gerônimo, que aconteceu em fevereiro de 1851.
Assim descreve o anúncio:
“Fugio um preto escravo de nome Gerônimo, criolo, idade pouco mais ou menos
30 anos estatura regular franzino de corpo é um tanto gago, tem no peito um apostema a
pouco cicatrizado, anda trajado segundo consta muito esfrangalhado para não ser
reconhecido e usa de bonet”.9

A fuga do escravo Gerônimo nos leva a pensar na sua condição singular de ser
um escravo urbano, que poderia se valer da própria cidade como um esconderijo,
aproveitando o momento de crescimento urbano, da intensa circulação de pessoas, para
se passar desapercebido, facilitando sua ocultação, Poderia ainda andar disfarçado-
assim como um tanto gago e artista, o escravo simulou uma condição de homem livre-,

7
Marco Antonio Lírio Mello. Reviras, Batuques e Carnavais : A Cultura de Resistência de Escravos em
Pelotas: Editora Universitária UFPEL, 1994. pg. 120.
8
Fernando Henrique, Capitalismo e escravidão no Brasil Meridional.RJ: Paz e Terra, 1977, pg. 150.
9
Jornal O Rio Grandense, 24 de fevereiro de 1851.

7
conforme relata o anùncio:”anda trajado segundo consta muito esfrangalhado para não
ser reconhecido”.
Não se sabe, porém, até onde ele pode sustentar tal condição, até porque quem o
apreendesse poderia colocar as “mãos” na gratificação, que estava sendo oferecida, para
quem o capturasse, o que torna sua condição mais complicada. Somado a isso, ainda
tem a minuciosa descrição do jornal que põe a imagem do escravo com tal exatidão
diante do leitor, que seria possível a qualquer voluntário para o captura-lo.
O meio citadino propícia aos escravos mais possibilidades de evasão, atentando
o escravo cotidianamente no seu ir e vir, pelas ruas e becos da cidade, a se atirar na
aventura da fuga em prol de uma vida mais amena e da conquista efetiva da liberdade,
apostando na sustentação de sua imagem de homem liberto.
As fugas, empreendidas pelos escravos Gerônimo e Antônio Rodrigues, são
marcadas essencialmente pela burla de sua situação de cativos e pela singular
importância do meio urbano para o mascaramento da condição real desses homens.
Essas fugas, que acabam por ter a cidade como ponto “acolhedor” do cativo são
denominadas fugas para dentro, ou seja, aquelas que levam o escravo para o seio da
cidade, onde encontra amparo e meio de sobrevivência. E claro que sempre conquistada
a duras penas, quase sempre viabilizadas pela construção de laços sociais. Para que
estas relações de solidariedade fossem estabelecidas, os indivíduos deveriam lutar
diariamente para formarem as redes de cooperação. Entendendo que só assim a
liberdade poderia ser mais facilmente conquistada, ou seja, através do auxílio de outros
grupos sociais é que a liberdade seria efetivamente alcançada, mostrando a necessidade
da ajuda mútua entre os cativos e demais grupos sociais.
A articulação das relações de solidariedade eram tecidas de acordo com a
capacidade que os cativos tinham em se relacionar com os demais membros da
sociedade, ou seja, pela habilidade daqueles de “seduzir” o outro nos seus objetivos e
intentos, e colocar vários membros como colaboradores de seus projetos.
No ato de “seduzir” o outro, a capacidade de expressar-se torna-se fundamental.
Essa faculdade foi adquirida pelos escravos no trato cotidiano, que lhes possibilitavam a
sua profissão: como marinheiros, pedreiros, carpinteiros e outras atividades que pedem
o ambiente urbano.
As profissões urbanas exigem que desenvolvam a capacidade de, comunicarem-
se com facilidade,e torna-se fator essencial para o escravo em fuga ou, que estava em
fase de projeta-la

8
Aqueles que usavam da capacidade de se expressar a seu favor conseguiam com
mais facilidade construir laços de solidariedade, que lhes serviam como meio de
alcançar a liberdade ou, ao menos, de atenuar a sua castigada vida. Podemos verificar
esses fatos pelos contínuos alertas, a respeito dos escravos “expansivos”, que
conseguem comunicar-se com facilidade, conforme mostra o exemplo a seguir:
“No dia 15 de outubro p.p, fugio da cidade de São Paulo um escravo pertencente
a João Antonio Pacheco ali residente, de nome Isidoro, natural desta província, idade 20
anos pouco mais ou menos, estatura baixa, reforçado, pardo claro, boa dentadura,
cabelos corredios, fala bem, tem duas unhas no dedo polegar de uma das mãos; quem o
agarrar e levar á casa do Dr. Sertório na rua direita, será gratificado.Protesta-se
perseguir judicialmente a qualquer pessoa que o tenha acoitado.”

O anúncio datado do verão de 1849 relata a fuga do escravo Isidoro, escapulido


desde 15 de outubro, da cidade de São Paulo, A suspeita de que pudesse estar andando
as escondidas pela cidade de Rio Grande ou em suas redondezas, seria o motivo de
expor o anúncio em um jornal local, como o Rio Grandense. Até porque a finalidade do
anúncio é descrever o escravo, detalhadamente afim dele ser mais facilmente
visualizado e, por conseqüência, capturado.Isidoro e assim retratado no anúncio: “(...)
estatura baixa, reforçado, pardo claro, boa dentadura, cabelos corredios, fala bem ...”10
e excelente a importância dada ao fato do escravo falar bem não é gratuita, esta imbuída
de questões relevantes que são permeadas pelas tensões entre os que praticam a coerção
(os senhores) e os que reagem a ela.
Esse dado nos leva a crer que Isidoro teria maior facilidade em conseguir abrigo
ou auxílio em sua fuga devido a sua “boa conversa”, pois nos parece pouco provável
que, sem auxílio Isidoro ou qualquer outro escravo pudessem obter êxito em suas fugas.
Segundo o jornal, Isidoro já completara três meses longe de seu senhor, pois
consta que fugiu no dia 15 de outubro p.p, da cidade de São Paulo.Como o anúncio é de
6 de janeiro de 1849,e até esse momento, o jovem Isidoro permanecia longe de seu
senhor, Antonio Pacheco,é surpreendente imaginar todas as aventuras enfrentadas desde
a evasão da cidade de São Paulo,sofrendo todos os reveses e perigos que o percurso até
o RG lhe causariam.

10
Jornal O Rio Grandense:6 de Janeiro de 1849

9
Era necessário que Isidoro, no decorrer do percurso conquistasse abrigo e
alimentação e para isto provavelmente ofereceu seus serviços, usando a sua aptidão de
comunicar-se, construindo desta forma, laços de solidariedade que sustentariam a
conquistar tais espaços que lhe garantiriam a sobrevivência longe de seu senhor.
Esses detalhes que encontramos nos anúncios nos fazem conhecer a
individualidade do escravo fugido, e por isso mostram a importância de observarmos
tais indícios na documentação, pois nos revela outras facetas da vida escrava. Em torno
deste tema José Reis observa que: “O pouco que temos de fonte que deve ser
adequadamente explorada, qualquer indício que revele a capacidade dos escravos, de
conquistar espaços ou de amplia-los segundo seus interesses, deve ser valorizado,
mesmo os aspectos mais ocultos (pela ausência de discursos) podem ser aprendidos
através das ações11“.
Seguindo tais orientações é que nos apegamos nos detalhes do discurso,
sabendo que a fonte estudada, o jornal, é um meio de comunicação da elite escravista e,
portanto divulgadora de sua ideologias. O que nos leva a insistir na relevância do cativo
expressar-se bem, como forma de ganhar espaços e de diminuir distâncias entre o cativo
e a sociedade em que estava inserido, considerando que o ato de se comunicar com mais
eficiência permiti uma participação nesta comunidade, pois no momento que ele
transmiti via linguagem suas idéias, faz-se entender, e estabelece com a mesma uma
correspondência, uma troca de experiências antes limitada pela falta de comunicação. E
é essa experiência adquirida que lhes permitirá um melhor relacionamento á sociedade
em que vivem, apreendendo a galgar espaços.
Outro anúncio, que alerta para a comunicabilidade do escravo, é o que relata a
fuga da preta Catarina, natural de Pernambuco, fugida da praça do mercado, em 1848:

“Fugio da praça do Mercdo n: 27, uma preta de nome Catharina, no dia 1 de


janeiro, com os sinais seguintes; estatura baixa, magra de corpo, cara descarnada, com
um papo de baixo do queixo, dentes limados, tem fala grossa, vinda de Pernambuco a
dois anos, é muito desembaraçada, levou vestido de baeta azul, com mais roupa de
sobressalente; quem a apreender e a levar á casa acima, será pago de seu serviço.”12

11
José Reis e Eduardo Silva. Negociação e Conflito: A Resistência Negra no Brasil Escravista. São
Paulo. Cia. Das Letras, 1989, pg. ?
12
Jornal O Rio Grandense, 8 de Janeiro de 1848.

10
A negra é descrita como “muito desembaraçada”, ou seja, comunicativa, fator
que seria fundamental para a conquista de espaços e formação de alianças de
acolhedores.Nota-se que Catharina já levou roupa “sobressalente”, possivelmente para
que logo que escapulisse da casa de seu proprietário, pudesse trocar de roupa para não
ser reconhecida.
Mas o caso que nos chamou mais a atenção sobre esta questão é a do escravo
Marcos, natural da Bahia, que se escapuliu da cidade de Pelotas, em janeiro de 1853,
conforme descrito no jornal Rio Grandense, da seguinte maneira:

“Fugiu da cidade de Pelotas no dia 11 do corrente um pardo de nome Marcos,


natural da Bahia, com os seguintes sinais: estatura regular, magro, cara cumprida e
enrugada, olhos grandes, e o olhar de louco quando esta com medo, (...), é feio o
bastante, muito conversador, diz que já andou por Lisboa e que esta no Porto da signas
em que já esteve lá tem trinta a quarenta anos, quem do mesmo der noticias e o levar a
olaria do tenente Carneiro em Pelotas recebera boa gratificação.”13

O texto relata que, o escravo Marcos, cansado de sua vida de trabalhos forçados,
provavelmente gasta junto ao forno da olaria do tenente Carneiro, resolveu acabar com
esta situação desumana, no verão de 1853. Não é por acaso que a fuga aconteceu no
verão, pois trabalhar dia e noite frente a um forno, em uma estação quente, é colocar o
ser humano em uma condição insuportável de trabalho. A fuga foi, um meio de escapar
dessa realidade massacrante a que fora submetido.
Como nos casos já discutidos, o anúncio acima salienta o caráter comunicativo
do escravo, afirmando que o cativo Marcos é “muito conversador”, ou seja, nos
deparamos com mais um alerta sobre a individualidade do escravo. Esse alerta visa
“abrir os olhos” a quem o encontrar, para que não se deixe ludibriar pela sua boa
conversa.Para sustentar tal afirmativa, o anúncio ainda chama a atenção do leitor
acrescentando que “diz que já andou por Lisboa e que estava no Porto dá signaes que já
esteve lá”.
Esses indícios manifestam a preocupação dos senhores com relação aos
escravos, que se comunicavam bem, e que se valiam deste atributo para tecer laços de

13
Jornal O Rio Grandense, 17 de Janeiro de 1853.

11
solidariedade na sociedade, conquistando possíveis colaboradores para suas
empreitadas.
Esses escravos residiam em um meio urbano e portuário, no qual circulavam
diariamente: comerciantes, livres pobres e libertos anônimos, que desempenhavam as
mais variadas tarefas, situação que acabava por propiciar uma maior aproximação entre
esses grupos sociais diferem devido às exigências de suas profissões. Na medida em que
esses grupos sociais compartilhavam de um mesmo cotidiano, pelo contato direto, suas
relações se estreitavam, viabilizavam o alargamento da rede de colaboradores.
De acordo com a possibilidade de sucesso há uma insistência nas tentativas das
fugas, pois o apadrinhamento, o bem falar, garantiriam o sucesso da empreitada.
Valendo-se desses artifícios, os fugitivos conseguiriam permanecer em liberdade,
vivendo de seus trabalhos nas redondezas das cidades. O que torna a fuga viável,
levando mais escravos a se aventurarem.
Portanto, esses anúncios nos demonstram que os escravos mantinham uma
resistência constante ao sistema escravista. Com isso podemos entender que a fuga
individual não pode ser sempre considerada como um ato ocasional, resultado imediato
de maus tratos físicos e morais, mas como uma forma de opor-se quotidianamente á sua
situação de cativo e pela sua tomada de consciência enquanto ser humano que prima por
sua liberdade.
Daí a fuga se tornara algo sistemático na vida de alguns cativos e não algo
imediato, embora reconhecemos que as fugas também eram impulsionadas pelos maus
tratos a que o escravo estava exposto. As evidências mostram que, na maioria dos casos
a premeditação da fuga era real.
Por ser uma cidade portuária, era corriqueiro os aparecimentos de escravos com
ofício de marinheiro, como é o caso de Caetano. Assim também verificamos, através do
material coletado, que as fugas de escravos de navios, brigues e outros meios de
transporte marítimos, bem como o desembarque no porto de escravos fugido de outras
províncias, como nos exemplifica o caso do preto Desidério no qual o anúncio destaca
que “fugiu do porto de RJ, de bordo do brigue Adamastor, no mês de novembro (...),
repõe-se ter vindo para esta província”. Ou seja, Desidério partiu de uma cidade
portuária para outra e com isso verificamos caráter transgressor de que são marcadas as
cidades portuárias, pois é bem provável que Desidério, assim como outros escravos que
viviam em torno de barcos e navios, se aproveitavam destes para fugirem até mesmo de
uma província a outra, como é a situação do caso analisado.

12
Quando as fugas acontecem de forma coletiva, podemos reconhecer que houve
um aprimoramento na sua elaboração, bem como um estreitamento de vínculos com a
sociedade e a conquista de novos espaços.
As fugas coletivas causavam temor na sociedade escravista, pois possivelmente
levariam á formação de quilombos.
O anúncio exposto no jornal, O Rio Grandense, em janeiro de 1848, relata a fuga
surpreendente de quatro escravos que fogem em uma canoa, na madrugada do dia 25 do
mesmo mês. A empreitada desses escravos nos revela a solidariedade existente entre
eles e de suas articulações para alcançarem a liberdade. Assim a retrata o anúncio:

“Fugiram os seguintes escravos: Manoel, criolo, de 26 anos de idade, pouco


mais ou menos, cor fula, e camba dos péz, levou vestido camisa riscada azul, e calça de
brim branco, veio de Pernambuco no patacho nacional Oliveira, e é escravo do D. Abad
do mosteiro de sr. Bento d,Olinda, fugido na manhã de 24 do corrente. Manuel Luiz,
pardo, oficial de sapateiro, levou vestido de calça e camisa branca, carapuça encarnada,
assim como mais conduzido alguma roupa, veio da Bahia no brigue Principe Ame Icano
e é escravo do sr. Francisco José Godinho. Foi em compania destes mais uma criola de
nome Juliana, ainda doente de ataque de sezões, e um criolo de nome Fortunato, já
velho, aquela escrava do sr. Antonio José Soares Viana, e este do Sr. José Mendes
Ribeiro, fugidos na madrugada de 25 do corrente, e consta q. se evadirão em uma canôa
denominada N.Sra Navegante, quem os apreender e a levar a rua da praia nº 171 será
recompensada de seu trabalho14

Portanto, em uma manhã de verão do longínquo ano de 1848, os escravos


Manoel e Manoel Luiz resolvem em uma ação conjunta, por fim a seu cativeiro, fugindo
de seus senhores. Manoel, crioulo, não se intimidou e mesmo sendo “camba dos pés”,
que é uma dificuldade para quem necessitava fugir, levou apenas a roupa do corpo e sua
vontade de ser livre. Já seu companheiro de fuga, Manoel Luiz, foi mais previdente e
consegui levar mais algumas roupas.
O anúncio salienta que eles fugiram em companhia de mais dois escravos,
Fortunato e Juliana. Esse termo (em companhia) nos indica que seriam Manoel e
Manoel Luiz, os organizadores da fuga, o que parece se confirmar por serem eles os

14
Jornal O Rio Grandense, 4 de Janeiro de 1848

13
primeiros a fugirem, vindo, logo atrás, mais precisamente na madrugada do dia 25, os
outros dois cativos. Sendo que todos os quatros escravos fugiram na mesma canoa,
denominada Nossa Senhora dos Navegantes.
O que é interessante notarmos também, como enfatizamos anteriormente, é que
nem o defeito físico de Manuel (camba dos pez), ou seja tinha o andar torto, e a velhice
de Fortunato, foram obstáculo para que fugissem enfrentando corajosamente os
obstáculos.
Tudo indica que havia uma relação de solidariedade entre os escravos rebelados.
Como observamos, no documento acima, os fugitivos pertenciam a diferentes senhores,
o que não os impediu de tecerem laços de amizade, e dessa relação ter resultado a
elaboração da fuga, pois são esses laços que aproximam os cativos e torna viável a
evasão.
Possivelmente, Manoel e Luiz teriam preparado o meio de transporte que foi
utilizado na evasão, pois sabemos que os quatros partiram na mesma canoa, embora
tenham fugido em dias diferentes, o que nos leva a crer que foram eles os organizadores
da fuga. Até porque os outros dois não teriam condições de se colocar à ‘frente’ de uma
fuga, devido ás suas debilidades, pois vimos que Juliana estava “ainda doente de ataque
de sezões15”, e Fortunato “já velho” teriam dificuldade em articular a fuga, bem como
de escaparem.
Isso indica que eles mantinham uma continua comunicação. Como frisamos no
capitulo anterior, seria este o ponto fundamental para o sucesso das fugas, o que
verificamos também nas fugas coletivas, que exigem uma melhor organização.
Podemos depreender da analise desta fuga, que existia uma sólida relação de
solidariedade entre os fugitivos, que foi inteligentemente organizada pelos fugitivos e
que essa solidariedade possibilitou a concretização da fuga.
O aumento populacional e o desenvolvimento urbano possibilitou aos escravos
fugitivos viverem no anonimato, passando às vezes por trabalhadores livres, disfarçando
a sua verdadeira condição.
Eles passavam desapercebidos pelas aglomerações do meio urbano,
sobrevivendo dos préstimos de seus serviços, trabalhando sim, mas não escravizados, e
esse poderia ser o verdadeiro sentido de sua liberdade, não o de furtar-se ao trabalho,

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Sezões: febre intermitente ou periódica; maleita. Maleita: malária: infecção causada por protozoários do
gênero Plasmodium,organismos unicelulares que invadem as células vermelhas do sangue ou hemácias.
Dicionário da língua portuguesa. Alpheu Tersariol.

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mas o de poder escolher para quem oferecer seus serviços e não ter de colocar o
dinheiro ganho com seus serviços, ou uma parte dele, nas “mãos” de seus senhores.
Procuravam a cidade vizinha, onde teriam mais oportunidade de permanecerem
no anonimato, trabalhando ou ajuntavam-se a outros escravos fugidos para formarem
quilombos.
Com a finalidade de alertar os moradores da cidade vizinha (Rio Grande), o
senhor Carlos Ruel, morador de Pelotas anunciou na folha de jornal a fuga de seus dois
escravos, à qual os descreve da seguinte forma:
“Manuel de nação, idade de 26 a 28 anos, bem retinto, pouca barba, nariz, muito
chato”, e ainda cita um detalhe que poderia ser decisivo na sua identificação e
conseqüente captura que ele “ajunta muito as pernas...”, e o outro evadido “Paulo criolo,
de 26 à 28 anos de idade, bonito de cara,pouca barba, alto e bastante grosso de corpo” e
o anunciante prossegue: “quem o apreender, dirija-se aqui a Pedro Francês, padeiro”16.
O padeiro Pedro Francês é a referencia para quem os apreendesse em Rio
Grande, ou seja, em caso da captura dos ditos escravos, seria a ele a quem deveriam ser
entregue os escapulidos. Logo concluímos que havia a suspeita de que os “fujões”
andassem às escondidas pela cidade de Rio Grande, ou se fossem pegos em sua cidade
deveriam ser entregues “... ao seu senhor Carlos Ruel, segeiro em Pelotas”.
Percebe-se dessa forma, que havia uma desconfiança de que os fugitivos
tivessem partido para a cidade vizinha, bem como visualizamos a cumplicidade dos
senhores, que se valiam de seu principal meio de comunicação (o jornal), para alertar
das fugas ocorridas e solicitarem auxílio aos senhores da cidade vizinha, ou com a
finalidade de impedirem o acoitamento17 por parte desses mesmos senhores que
poderiam ver no acolhimento uma maneira fácil de obter um escravo, como já falamos
anteriormente.
Portanto, consideramos que a mentalidade de resistência do escravo, foi
esculpida pela sua vivência no meio urbana, e forjada pelas duras penas impostas a estes
pelo domínio opressor e violento a que estavam submetidos, impondo dessa forma a
necessidade de se criar estratégias de lutas na busca de espaços alternativos ao cativeiro,

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Jornal O Diário de Rio Grande, 12 de fevereiro de 1848.
17
José Alípio falando sob o acoitamento diz que” Ficou suficientemente esclarecido que o Couto de
escravos era encarado, obviamente, como ação criminosa, sujeitos os que ofereciam ao rigor de
penalidades incursas em dispositivos legais. A aplicação de tais dispositivos é que , de regra, ressentia-se
da eficiência necessária ao desestímulo de prática tão condenável. Da Fuga ao Suicídio: Aspectos de
Rebeldia dos Escravos no Brasil.Conquista. 1972. pg. 56.

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que teciam cotidianamente, o caminho para a liberdade, criando formas de resistência,
que, paulatinamente viria a questionar e inviabilizar o regime escravista no Brasil.

BIBLIOGRAFIA:

ALIPIO, Jose Goulart . Da Fuga ao Suicídio: Aspectos Da Rebeldia Dos Escravos no


Brasil.Rio De Janeiro, Conquista,1972,

CHAULOUB, Sidney Visões da Liberdade. Companhia das Letras, 1990.

CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil Meridional.RJ:


Paz e Terra, 1977.

MELLO, Marco Antonio Lírio. Reviras, Batuques e Carnavais : A Cultura de


Resistência de Escravos em Pelotas: Editora Universitária UFPEL, 1994.

REIS, João José e Silva, EDUARDO. Negociação e Conflito: A Resistência Negra No


Brasil Escravista. São Paulo: Cia das Letras, 1989

FONTES:
Jornal O Rio Grandense
Diario de Rio Grande

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