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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

A Problemática de uma definição referencial do conceito de literatura


Conceito de Literatura

Jenifa Simão Filipe

Código: 708215573

Curso: Licenciatura em ensino de Português

Disciplina: Introdução aos Estudos Literários

Ano de Frequência: 1ᵒ Ano

Turma: F
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Docente: MSC:  Palvina Manuel Nhambi

1 . A cotação pode ser distribuída de acordo com o peso da actividade.

2. O número das actividades pode variar em função ao docente .


Índice
Introdução........................................................................................................................................1
Objective geral.................................................................................................................................2
Objectivos Específicos.....................................................................................................................2
1. A Problemática de uma definição referencial do conceito de literatura...................................2
Conceito de Literatura.....................................................................................................................2
1.1. A literatura pode ser considerada ficção, arte e estética.......................................................3
1.2. As funções adquiridas pela literatura ao longo dos tempos..................................................6
1.2.1. Função da literatura segundo Platão e Aristóteles............................................................9
1.2.2. Função da literatura no Romantismo..............................................................................10
1.2.3. Função da literatura na época contemporânea................................................................11
Conclusão......................................................................................................................................13
Referências bibliográficas.............................................................................................................14
Introdução
O presente trabalho aborda sobre A Problemática de uma definição referencial do conceito de
literatura. durante o desenvolvimento espelharemos argumento ilustrativo de três termos (ficção,
arte e estética), e que influenciam grandemente na problemática de uma definição referencial da
literatura, definição do conceito de literatura, um conceito fortemente polissémico, nesta vamos
reflectir sobre a problemática e objecções que estão por de trás desse fenómeno.

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Objective geral
Analisar as diferentes vertentes que dificultam o estabelecimento de um conceito
consensual da literatura;

Objectivos Específicos

Descrever a problemática de uma definição referencial do conceito de literatura


Explicar a literatura como pode ser considerada ficção.
Debruçar sobre as funções adquiridas pela literatura ao longo dos tempos.

1. A Problemática de uma definição referencial do conceito de literatura


Conceito de Literatura
A busca de uma definição para a literatura faz parte das preocupações de vários teóricos e
críticos. Adentra-se os seguintes autores que se dedicaram ao assunto: Tolstoi, com O que é
arte? (Paris : Perrin, 1898); Jakobson, com “O que é poesia?” (Questions de poétique. Paris :
Seuil, 1973), Charles Du Bois, com O que é literatura ? (Paris : Plon, 1945) e também Jean-
Paul Sartre, com O que é literatura? (Paris : Gallimard, 1948). Em virtude da impossibilidade
de se solucionar o enigma, Barthes teria concluído: “Literatura é aquilo que se ensina, e ponto
final”. Isto porque diferentes épocas e culturas vêem diferentemente a literatura, e objecções são
levantadas em relação às definições até então elaboradas.
Em geral, as respostas às perguntas não diferenciam adequadamente duas ordens de objectos
que, embora sociocultural e funcionalmente indissociáveis, devem todavia ser consideradas
como distintas, tanto sob ponto de vista ontológico como os ponto de vista epistemológico e
lógico. Por um lado, é necessário considerar a literatura como sistema semiótico de significação
de comunicação; por outro a literatura como conjunto ou soma de todas as obras ou textos
literários.
É sintomático, aliás, verificar que às perguntas, anteriormente indicadas, muitos autores
acabam por responder com tentativas de definição ou de caracterização da obra literária.

Torna-se extremamente difícil, senão impossível estabelecer um conceito de literatura


rigorosamente delimitado intencional e excepcionalmente que apresente validade
pancromática e universal, dado que:

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a) Inexistem traços peculiares a certos textos de modo a distingui- los dos textos não-
literários, isto é, não há uma “essência” da literatura;
b) Não se observa um denominador comum entre todas as obras literárias, a não ser o
emprego da linguagem;
c) O critério de valor que qualifica um texto como literário não é literário nem teórico,
mas ético, social e ideológico;
d) A definição de literatura não depende da natureza do que é lido, mas da maneira pela
qual as pessoas lêem um texto;

1.1. A literatura pode ser considerada ficção, arte e estética


A literatura é chamada de ficção, isto é, imaginação de algo que não existe particularizado na
realidade, mas no espírito de seu criador. O objecto da criação poética não pode, portanto, ser
submetido à verificação extra textual.
A literatura cria o seu próprio universo, semanticamente autónomo em relação ao mundo em que
vive o autor, com seus seres ficcionais, seu ambiente imaginário, seu código ideológico, sua
própria verdade: pessoas metamorfoseadas em animais, animais que falam a linguagem humana,
tapetes voadores, cidades fantásticas, amores incríveis, situações paradoxais, sentimentos
contraditórios, etc.
Mesmo a literatura mais realista é fruto de imaginação, pois o carácter ficcional é uma
prerrogativa indeclinável da obra literária. Se o facto narrado pudesse ser documentado, se
houvesse perfeita
correspondência entre os elementos do texto e do extra texto, teríamos então não arte,
mas história, crónica, biografia.

A obra literária, devido à potência especial da linguagem poética, cria uma objectividade
própria, um heterocosmo contextualmente fechado. Essa realidade nova, criada pela
ficção poética, não deixa de ter, porém, uma relação significativa com o real objectivo.
Ninguém pode criar a partir do nada: as estruturas linguísticas, sociais e ideológicas
fornecem ao artista o material sobre o qual ele constrói o seu mundo de imaginação.

A teoria clássica da arte como mímese da vida é sempre válida, quer se conceba a arte

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como imitação do mundo real, quer como imitação de um mundo ideal ou imaginário.

A ficcionalidade não caracteriza de modo suficiente o texto literário – há ficções não


literária, desde as ficções mitológicas até às lendárias mas constitui uma propriedade
necessária para a sua existência. A ficcionalidade 1 manifesta-se textualmente em dois
níveis. No nível da enunciação, pois o autor textual e o narrador são co-referenciais com
o autor empírico e produzem textos que não dependem, imediata e explicitamente, de
um contexto de situação actual; no nível dos referentes textuais.

A afirmação de que o texto literário carece de referentes não nos parece correcta 2,
excepto se se entender restritivamente por referentes os objectos do mundo real. Os
enunciados do texto literário também denotam e fazem referência, simplesmente “
constituem uma ficcionalizaçao d acto de denotar, manifestam uma pseudo-
referencialidade, porque as condições e os objectos da referência são produzidos pelo
próprio texto (por isso a pseudo - referencialidade se identifica, sob várias aspectos, com
auto- referencialidade).

Os referentes do texto literário constituem objectos de ficção, isto é, objectos que não
não existem no mundo empírico, que não são factualmente verdadeiros.

A arte literária está relacionada com a leitura de textos verbais. Por isso, ela é considerada como
sendo a arte construída pelas palavras.  A Literatura é uma das formas de expressão artística.

A literatura tem como matéria-prima a palavra. É a partir dela que o artista transforma a
linguagem, deixando-a mais expressiva e poética.
Literatura pode ser definida como a arte de criar e recriar textos, de compor ou estudar escritos
artísticos; o exercício da eloquência e da poesia; o conjunto de produções literárias de um país ou
de uma época; a carreira das letras. A palavra Literatura vem do latim "litteris" que significa
"Letras", e possivelmente uma tradução do grego "grammatikee". Em latim, literatura significa
uma instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e se relaciona
com as artes da gramática, da retórica e da poética. Por extensão, se refere especificamente à arte
ou ofício de escrever de forma artística. O termo Literatura também é usado como referência a
um corpo ou um conjunto escolhido de textos como, por exemplo, a literatura médica, a literatura

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inglesa, literatura portuguesa, etc. Debate Mais produtivo do que tentar definir Literatura talvez
seja encontrar um caminho para decidir o que torna um texto, em sentido lato, literário. A
definição de literatura está comummente associada à ideia de estética, ou melhor, da ocorrência
de algum procedimento estético. Um texto é literário, portanto, quando consegue produzir um
efeito estético e quando provoca catarse, o efeito de definição aristotélica, no receptor. A própria
natureza do carácter estético, contudo, reconduz à dificuldade de elaborar alguma definição
verdadeiramente estável para o texto literário. Para simplificar, pode se exemplificar através de
uma comparação por oposição. Vamos opor o texto científico ao texto artístico: o texto científico
emprega as palavras sem preocupação com a beleza, o efeito emocional. No texto artístico, ao
contrário, essa será a preocupação maior do artista. É óbvio que também o escritor busca instruir,
e perpassar ao leitor uma determinada ideia; mas, diferentemente do texto científico, o texto
literário une essa instrução à necessidade estética que toda obra de arte exige. O texto científico
emprega as palavras no seu sentido dicionarizado, denotativamente, enquanto o texto artístico
busca empregar as palavras com liberdade, preferindo o seu sentido conotativo, figurado. O texto
literário é, portanto, aquele que pretende emocionar e que, para isso, emprega a língua com
liberdade e beleza, utilizando-se, muitas vezes, do sentido metafórico das palavras. A
compreensão do fenómeno literário tende a ser marcada por alguns sentidos, alguns marcados de
forma mais enfática na história da cultura ocidental, outros diluídos entre os diversos usos que o
termo assume nos circuitos de cada sistema literário particular. Assim encontramos uma
concepção "clássica", surgida durante o Iluminismo (que podemos chamar de "definição
moderna clássica", que organiza e estabelece as bases de periodização usadas na estruturação do
cânone ocidental); uma definição "romântica" (na qual a presença de uma intenção estética do
próprio autor torna-se decisiva para essa caracterização); e, finalmente, uma "concepção crítica"
(na qual as definições estáveis tornam-se passíveis de confronto, e a partir da qual se buscam
modelos teóricos capazes de localizar o fenómeno literário e, apenas nesse movimento, "defini-
lo"). Deixar a cargo do leitor individual a definição implica uma boa dose de subjetivismo,
(postura identificada com a matriz romântica do conceito de "Literatura"); a menos que se queira
ir às raias do solipsismo, encontrar-se-á alguma necessidade para um diálogo quanto a esta
questão. Isto pode, entretanto, levar ao extremo oposto, de considerar como literatura apenas
aquilo que é entendido como tal por toda a sociedade ou por parte dela, tida como autorizada à
definição. Esta posição não só sufocaria a renovação na arte literária, como também limitaria

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excessivamente o corpus já reconhecido. De qualquer forma, destas três fontes (a "clássica", a
"romântica" e a "crítica") surgem conceitos de literatura, cuja pluralidade não impede de
prosseguir a classificações de género e exposição de autores e obras. Etimologia O termo provém
do latim literatura, "arte de escrever, literatura", a partir da palavra latina littera, "letra". Alguns
Conceitos "Arte Literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra." (Aristóteles,
Grécia Clássica); A Literatura obedece a leis inflexíveis: a da herança, a do meio, a do
momento." (Hipolite Taine, pensador determinista, metade do século XIX); "A Literatura é arte e
só pode ser encarada como arte." (Doutrina da arte pela arte, fins do século XIX); "O poeta sente
as palavras ou frases como coisas e não como sinais, e a sua obra como um fim e não como um
meio; como uma arma de combate." (Jean-Paul Sartre, filósofo francês, século XX; "É com bons
sentimentos que se faz Literatura ruim." (André Gide, escritor francês, século XX; "A distinção
entre Literatura e as demais artes vai operar-se nos seus elementos intrínsecos, a matéria e a
forma do verbo." (LIMA, Alceu Amoroso. A estética literária e o crítico. 2. ed. Rio de Janeiro,
AGIR, 1954. p 54-5.) "A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade
recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os
géneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida,
autónoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio." (COUTINHO,
Afrânio. Notas de teoria literária. 2. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978. p. 9-10).

1.2. As funções adquiridas pela literatura ao longo dos tempos


Os conhecidos versos de Horácio que assinalam com finalidade da poesia aut prodesse aut
delectare, não implicam um conceito de poesia autónoma, de uma poesia exclusivamente fiel a
valores poéticos, ao lado de uma poesia pedagógica. O prazer, o dulce referido por Horácio e
mencionado por uma longa tradição literária europeia de raiz horaciana, conduz antes a uma
concepção honesta da poesia, o que constitui ainda um meio de tornar dependente, e quantas
vezes de subalternizar lastimavelmente, a obra poética.
De feito, até meados do século XVIII, confere-se à literatura, quase sem excepção, ou uma
finalidade hedonista ou uma finalidade pedagógico-moralista. E dizemos quase sem excepção,
porque alguns casos se podem mencionar nos quais se patenteia com maior ou menor acuidade a
consciência da autonomia da literatura. Calímaco, por exemplo, característico representante da
cultura helenística, procura e cultiva uma poesia original, rica de belos efeitos sonoros, de ritmos

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novos e gráceis, alheia a motivações morais. Séculos mais tarde, alguns trovadores provençais
transformaram a sua actividade poética numa autêntica religião da arte, consagrando-se de modo
total à criação do poema e ao seu aperfeiçoamento formal, excluindo dos seus propósitos
qualquer intenção utilitária. Um fino conhecedor da literatura medieval, o Prof. Antonio Viscardi,
escreve a este respeito: "O que conta é a fé nova da arte, em que todos observam e praticam
com devoção sincera". Desta fé nasce o sentido trovadoresco da arte que é o fim de si mesma. A
arte pela arte é descoberta dos trovadores.

Já atrás nos referimos, acerca das doutrinas da arte pela arte, a uma importante finalidade
frequentemente assinalada à literatura: a evasão. Em termos genéricos, a evasão significa
sempre a fuga do eu a determinadas condições da vida e do mundo, de um mundo imaginário,
diverso daquele de que se foge, e que funciona como sedativo, como ideal compensação, como
objectivação de sonhos e de aspirações.
A evasão, como fenómeno literário, é verificável quer no escritor quer no leitor. Deixando para
ulterior e breve análise o caso deste último, examinemos primeiramente os principais aspectos
da evasão no plano do criador literário.
Na origem da necessidade que o escritor experimenta de se evadir, podem actuar diversos
motivos. Entre os mais relevantes, contam se os seguintes:

a) Conflito com a sociedade: o escritor sente a mediocridade, a vileza e a injustiça da sociedade


que o rodeia e, numa atitude de amargura e de desprezo, foge a essa sociedade e refugia-se na
literatura. Este problema da incompreensão e do conflito entre o escritor e a sociedade agravou-
se singularmente a partir do pré- romantismo, em virtude sobretudo das doutrinas de Rousseau
acerca da corrupção imposta ao homem pela sociedade, e atingiu com o romantismo uma tensão
exasperada. Nesta oposição em que se defrontam o escritor e a sociedade, desempenha primacial
papel o sentimento de unicidade que existe em todo o artista autêntico.

b) Problemas e sofrimentos íntimos que torturam a alma do escritor e aos quais este foge pelo
caminho da evasão. A inquietação e o desespero dos românticos – o mal du siècle – estão na
origem da fuga ao circunstante e do anélito por uma realidade desconhecida. O tédio, o
sentimento de abandono e de solidão, a angústia de um destino frustrado constituem outros

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tantos motivos que abrem a porta da evasão.

c) Recusa de um universo finito, absurdo e radicalmente imperfeito. Geralmente, esta recusa


envolve um sentido metafísico, pois implica uma tomada de posição perante os problemas da
existência de Deus, da finalidade do mundo, do significado do destino humano, etc. Lembremos
a revolta dos românticos ante o mundo finito, ou a fuga dos surrealistas de um mundo falsificado
pela razão.
A evasão do escritor pode realizar-se, no plano da criação literária, de diferentes modos:
Transformando a literatura numa autêntica religião, numa actividade tiranicamente absorvente no
seio da qual o artista, empolgado pelas torturas e pelos êxtases da sua criação, esquece o mundo
e a vida. Flaubert e Henry James são dois altíssimos exemplos desta evasão através do culto
fanático da arte.
(i) Evasão no tempo, buscando em épocas remotas a beleza, a grandiosidade e o encanto
que o presente é incapaz de oferecer. Assim os românticos cultivaram frequentemente,
pelo mero gosto da evasão, os temas medievais, tal como os poetas da arte pela arte,
como vimos, se deleitaram com a antiguidade greco-latina.
(ii) Evasão no espaço, manifestando-se pelo gosto de paisagens, de figuras e de
costumes exóticos. O Oriente constituiu em todos os tempos copiosa fonte de exotismo,
mas não devemos esquecer outras regiões igualmente importantes sob este aspecto,
como a Espanha e a Itália para os românticos (Gautier, Mérimée, Stendhal) e as vastas
regiões americanas para alguns autores pré- românticos e românticos (Prévost, Saint-
Pierre, Chateubriand, escritores indianistas do romantismo brasileiro, etc.).

(iii) A infância constitui um domínio privilegiado da evasão literária. Perante os


tormentos, as desilusões e as derrocadas da idade adulta, o escritor evoca
sonhadoramente o tempo perdido da infância, paraíso distante onde vivem a pureza, a
inocência, a promessa e os mitos fascinantes.

(iv) A criação de personagens constitui outro processo frequentemente utilizado pelo


escritor, particularmente pelo romancista, para se evadir. A personagem, plasmada
segundo os mais secretos desejos e desígnios do artista, apresenta as qualidades e vive

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as aventuras que o escritor para si baldadamente apetecera.

(v) O sonho, os paraísos artificiais provocados pelas drogas e pelas bebidas, a orgia,
etc., representam outros processos de evasão com larga projecção na literatura. A
literatura romântica e simbolista oferece muitos exemplos destas formas de evasão.

1.2.1. Função da literatura segundo Platão e Aristóteles

Na estética platónica aparece o problema da literatura como conhecimento, embora o


filósofo conclua pela impossibilidade de a obra poética poder ser um adequado veículo
de conhecimento.

Segundo Platão, a imitação poética não constitui um processo revelador da verdade,


assim se opondo à filosofia que, partindo das coisas e dos seres, ascende à
consideração das Ideias, realidade última e fundamental; a poesia, com efeito, limita-se
a fornecer uma cópia, uma imitação das coisas e dos seres que, por sua vez, são uma
mera imagem (phantasma) das Ideias. Quer dizer, por conseguinte, que a poesia é uma
imitação de imitações e criadoras de vãs aparências.
Este mesmo problema assume excepcional relevo em Aristóteles, pois na Poética
claramente se afirma que "a Poesia é mais filosófica e mais elevada do que a História,
pois a Poesia conta de preferência o geral e, a História, o particular". Por conseguinte,
enquanto Platão condena a mimese poética como meio inadequado de alcançar a
verdade, Aristóteles considera-a como instrumento válido sob o ponto de vista
gnosiológico: o poeta, diferentemente do historiador, não representa factos ou situações
particulares; o poeta cria um mundo coerente em que os acontecimentos são
representados na sua universalidade, segundo a lei da probabilidade ou da necessidade,
assim esclarecendo a natureza profana da acção humana e dos seus móbeis. O
conhecimento assim proposto pela obra literária actua depois no real, pois se a obra
poética é "uma construção formal baseada em elementos do mundo real", o
conhecimento proporcionado por essa obra tem de iluminar aspectos da realidade que a
permite.

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1.2.2. Função da literatura no Romantismo

Apenas com o romantismo e a época contemporânea voltou a ser debatido, com


profundidade e amplidão, o problema da literatura como conhecimento. Na estética
romântica, a poesia é concebida como a única via de conhecimento da realidade
profunda do ser, pois o universo aparece povoado de coisas e de formas que,
aparentemente inertes e desprovidas de significado, constituem a presença simbólica de
uma realidade misteriosa e invisível. O mundo é um gigantesco poema, uma vasta rede
de hieróglifos, e o poeta decifra este enigma, penetra na realidade invisível e, através da
palavra simbólica, revela a face oculta das coisas. Schelling afirma que a "natureza é um
poema de sinais secretos e misteriosos" e von Arnim refere-se à poesia como a forma de
conhecimento da realidade íntima do universo: o poeta é o vidente que alcança e
interpreta o desconhecido, reencontrando a unidade primordial que se reflecte
analogicamente nas coisas. "As obras que esperamos da história e que exigimos dos
nossos semelhantes, nas nossas relações humanas; elas não seriam o que procuramos, o
que nos procura, se pudessem pertencer inteiramente à terra. Porque toda a obra poética
reconduz ao seio da comunidade eterna o mundo que, ao tornar-se terrestre, daí se
exilou. Chamamos videntes os poetas sagrados; chamamos vidência de uma espécie
superior à criação poética...".
Nestes princípios da estética romântica encontra-se já explicitamente formulado o tema
do poeta vidente de Rimbaud, o poeta da aventura luciferiana rumo ao desconhecido:
"Digo que é necessário ser vidente, fazer-se vidente. – O Poeta torna-se vidente
através de um longo, imenso e racional desregramento de todos os sentidos.

Inefável tortura em que tem necessidade de toda a fé, de toda a força sobre-humana, em
que se torna, entre todos, o grande doente, o grande criminoso, o grande maldito, - e o
supremo Sábio! – Porque chega ao desconhecido!" Assim a poesia se identifica com a
experiência mágica e a linguagem poética se transforma em veículo do conhecimento
absoluto, ou se volve mesmo, por força encantatória, em criadora de realidade.

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Através sobretudo de Rimbaud e de Lautréamont, a herança romântica da poesia como
vidência é retomada pelo surrealismo, que concebe o poema como revelação das
profundezas vertiginosas do eu e dos segredos da supra-realidade, como instrumento de
perquisição psicológica e cósmica. A escrita automática representa a mensagem através
da qual o mistério cósmico – o "acaso objectivo" (le hasard objectif), na terminologia do
movimento surrealista – se desnuda ao homem; e a intuição poética, segundo Breton,
fornece o fio que ensina o caminho da gnose, isto é, o conhecimento da realidade supra-
sensível, "invisivelmente visível num eterno mistério".

1.2.3. Função da literatura na época contemporânea

Contemporaneamente, a questão da literatura como conhecimento tem preocupado


particularmente a chamada estética simbólica ou semântica – representada sobretudo por
Ernest Cassirer e Susanne Langer - , para a qual a literatura, longe de constituir uma
diversão ou actividade lúdica, representa a revelação, através das formas simbólicas da
linguagem, das infinitas potencialidades obscuramente pressentidas na alma do homem.
Cassirer afirma
que a poesia é "a revelação da nossa vida pessoal" e que toda a arte proporciona um
conhecimento da vida interior, contraposto ao conhecimento da vida exterior oferecido pela
ciência, e Susanne Langer igualmente considera a literatura como revelação "do carácter da
subjectividade", opondo o modo discursivo, próprio do conhecimento científico, ao modo
apresentativo, próprio do conhecimento proporcionado pela arte.

Para alguns estetas e críticos, porém, a literatura constitui um domínio perfeitamente alheio ao
conhecimento, pois enquanto este dependeria do raciocínio e da mente, aquela vincular-se-ia ao
sentimento e ao coração, limitando-se a comunicar emoções. A literatura, com efeito, não é uma
filosofia disfarçada, nem o conhecimento que transmite se identifica com conceitos abstractos ou
princípios científicos. Todavia, a ruptura total entre literatura e actividade cognoscitiva
representa uma inaceitável mutilação do fenómeno literário, pois toda a obra literária autêntica
traduz uma experiência humana e diz algo acerca do homem e do mundo. "Objectivação, de
carácter qualitativo, do espírito do homem", a literatura exprime sempre determinados valores, dá

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forma a uma cosmovisão, revela almas – em suma, constitui um conhecimento. Mesmo quando
se transforma em jogo e se degrada em factor de entretenimento, a literatura conserva ainda a sua
capacidade cognoscitiva, pois reflecte a estrutura do universo em que se situam os que assim a
cultivam. Longe de ser um divertimento de diletantes, a literatura afirma-se como meio
privilegiado de exploração e de conhecimento da realidade interior, do eu profundo que as
convenções sociais, os hábitos e as exigências pragmáticas mascaram continuamente: "A arte
digna deste nome – escreve Marcel Proust – deve exprimir a nossa essência subjetiva e
incomunicável. [...] O que não tivemos que decifrar, esclarecer através do nosso esforço pessoal,
o que era claro antes de nós, não nos pertence. Não vem de nós próprios senão o que arrancamos
da obscuridade que está em nós e que os outros não conhecem".

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Conclusão
Porque é difícil, senão impossível estabelecer um conceito de literatura rigorosamente
delimitado intencional e excepcionalmente que apresente validade pancrónica e
universal, tal como deixamos antever é, desaconselhável impor dogmaticamente à
heterogeneidade das obras literárias durante séculos. Mas, essas objecções e as dúvidas
sobre a impossibilidade de uma definição referencial de literatura são pertinentes sob
ponto vários aspectos, porque obrigam a reexaminar com novo rigor soluções teóricas
rotineiras, e revelam-se também, nalguns pontos muito importantes, mal fundamentadas,
teoricamente inconsistentes e empiricamente irrefutáveis. Desde os primeiros tempos em
que o homem começou a estudar a arte literária, o questionamento sobre natureza e
função da literatura tem sido assunto de muitas controvérsias. Nesta unidade, portanto,
vamos analisar a função da literatura ao longo dos tempos. Cada período histórico
produz sua literatura com uma marca particular, seja pelas técnicas de produção, ou seus
modos de recepção e, sobretudo sua definição enquanto prática social e

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Referências bibliográficas
1. Coutinho, A. (1978). Notas de teoria literária. 2. ed. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira.
2. Covane ,L. (s/d) Manual do Curso de Licenciatura em Ensino da Língua Portuguesa,
introdução aos estudos literários. Universidade Católica de Moçambique, Centro de
Ensino a Distância. Moçambique – Beira.
3. Lima, A.A. (1954). A estética literária e o crítico. 2. ed. Rio de Janeiro, AGIR.

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