Ho - A Teoria Da Terapia Centrada No Cliente

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A Terapia Centrada no Cliente: Carl Rogers

Verena Augustin Hoch

A prática terapêutica proposta por Carl Rogers está baseada na hipótese central de
sua teoria: “Os indivíduos possuem dentro de si vastos recursos para a autocompreensão e
para a modificação de seus autoconceitos, de suas atitudes e de seu comportamento
autônomo”. (Rogers, 1983, p.38). Estes recursos podem sem ativados se houver um clima
de atitudes psicológicas facilitadoras.

É neste contexto que Rogers formula a teoria da terapia, destacando três atitudes
necessárias para que os recursos do cliente possam ser liberados, num clima livre de
ameaças de modo que o cliente possa vivenciar sua experiência de forma realística:
consideração positiva incondicional, compreensão empática e congruência.

Para Rogers, aceitação é a essência do processo terapêutico, pois percebeu que


para uma relação terapêutica ser eficaz deve ser radicalmente distinta de outras relações que
a pessoa tem na sociedade. Num clima de aceitação o cliente tem a oportunidade de ser e de
se expressar livremente, como também tudo o que expressa é reconhecido e aceito pelo
terapeuta, independente dos valores morais do terapeuta, ele deve reconhecer e aceitar
todos os sentimentos e atitudes expressas pelo cliente, sem julgamento ou críticas e sem
elogios ou aprovação.

Aceitar incondicionalmente, é aceitar os sentimentos positivos e negativos como


parte da personalidade. É esta aceitação que dá à pessoa a oportunidade de pela primeira
vez na vida de se compreender a si própria tal como é. Não há necessidade de uma atitude
de defesa em face dos sentimentos negativos.

A consideração positiva incondicional, portanto, ocorre quando não existem


condições para que ocorra a aceitação. É um tipo de atitude do terapeuta em relação ao
cliente na qual tudo que é expresso é igualmente aceito com calor, estima e respeito, sem
condições, julgamento ou crítica.

Outra atitude, igualmente essencial ao processo terapêutico é a compreensão


empática - atitude de centrar-se no cliente ou de assumir o referencial interno do cliente.
Compreender empaticamente, para Rogers significa penetrar no mundo perceptual do
cliente e sentir-se à vontade dentro dele. Requer sensibilidade constante para com as
mudanças que se verificam no cliente em relação aos significados que ele percebe, ao
medo, à raiva, à ternura, à confusão ou ao que quer que o cliente esteja vivenciando no
momento.

A atitude empática, dessa forma, se opõe radicalmente à atitude diagnóstica e


avaliativa. Para perceber o mundo do cliente e de forma empática, o terapeuta não pode
assumir uma postura crítica, pelo contrário, a atitude empática se relaciona a uma postura
de aceitação e não julgamento salientam.

Uma terceira atitude presente no clima facilitador do processo terapêutico centrado


no cliente é a congruência, tem a ver com a pessoa do terapeuta - quer dizer que o terapeuta
é ele mesmo na relação. Existe congruência entre o que o terapeuta está sentindo, o que está
na consciência e o que está sendo expresso ao cliente.

A congruência é um estado de acordo entre o autoconceito de uma pessoa e as suas


experiências organísmicas. Uma pessoa está congruente quando as suas experiências
podem ser simbolizadas na consciência sem distorções ou negações. Uma pessoa
congruente está aberta à totalidade de sua experiência. Para o processo terapêutico ser bem
sucedido é necessário não apenas que o terapeuta seja genuíno e autêntico, mais do que isto
é necessário que ele esteja congruente na relação com o cliente. Se o terapeuta não estiver
aberto à experiência e apenas tentar ser autêntico, a relação não será terapêutica.

Para que a relação seja terapêutica e para que ocorra mudanças construtivas na
personalidade do cliente Rogers (1995) sintetiza as seis condições necessárias e suficientes
para que isto ocorra:

1. Que duas pessoas estejam em contato psicológico;

2. Que a primeira, a quem chamaremos cliente, esteja num estado de incongruência,


estando vulnerável ou ansiosa;

3. Que a segunda pessoa, a quem chamaremos de terapeuta, esteja congruente ou


integrada na relação;

4. Que o terapeuta experiencie consideração positiva incondicional pelo cliente;


5. Que o terapeuta experiencie uma compreensão empática do esquema de referência
interno do cliente e se esforce por comunicar esta experiência ao cliente;

6. Que a comunicação ao cliente da compreensão empática do terapeuta e da


consideração positiva incondicional seja efetiva, pelo menos num grau mínimo.

Para Rogers, nenhuma outra condição é necessária. “Se estas seis condições
existirem e persistirem por um período de tempo, isto é o suficiente. O processo de
mudança construtiva da personalidade ocorrerá”.

(Rogers, 1995 p. 160).

Rogers considera a psicoterapia como um processo contínuo de mudança na


personalidade do cliente, um processo que vai da rigidez para a fluidez. Este continuum é
formado por momentos cruciais e essenciais na psicoterapia, são momentos de movimento:
“Nesses momentos,... um sentimento é experimentado organicamente pelo cliente...e que
até aqui havia sido negado à consciência como algo ameaçador à organização do eu, é
agora aberta e completamente compreendido e sentido através da pessoa como um todo.
Este é um momento de integração.” (Rogers, 1987, p.19).

Referências Bibliográficas

Rogers, C.R. & Kinget, M. (1977). Psicoterapia e Relações Humanas: teoria e prática
da terapia não-diretiva. Belo Horizonte: Interlivros.

Rogers, C.R. (1983). Um jeito de ser. São Paulo: E.P.U.

Rogers, C.R. (1987). A essência da psicoterapia: momentos de movimento. Em Santos,


A.M., et al. Quando fala o coração: a essência da psicoterapia centrada na pessoa. Porto
alegre: Artes Médicas, pp.13-19.

Rogers, C.R. (1991). Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes.

Rogers, C.R. (1992). Terapia Centrada no Cliente. São Paulo: Martins Fontes.
Rogers, C.R. (1995). As Condições Necessárias e Suficientes para a Mudança
Terapêutica da Personalidade. Em J.K. Wood (org). Abordagem Centrada na Pessoa.
Vitória: FCAA, pp. 125-156.

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