Antropologia 2 Grupo

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Afonso Zacarias Malaica

Jorge Molide Muiria


Martinho Avelino Afate
Mussa Chabane Tualibo
Pedro Jerónimo M. Katembe
Voice Júnior Volice

A universalização da antropologia
Licenciatura em Ensino de Matematica com Habilitacoes em Fisica

Universidade Rovuma
Extenaso de Cabo Delgado
2021

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Afonso Zacarias Malaica
Jorge Molide Muiria
Martinho Avelino Afate
Mussa Chabane Tualibo
Pedro Jerónimo M. Katembe
Voice Júnior Volice

A universalização da antropologia

Trabalho de caracter avaliativo da cadeira de


Antropologia Cultural de Mocambique, a ser entregue no
Departamento de Ciencias, Tecnologias, Engenharia e
Matematica, no curso de Licenciatura em Ensino de
Matematica com Habilitacoes em Fisica, 2º semestre do
2º ano. Orientado pelo docente:
MEd. Samuel Antonio Sousa

Universidade Rovuma
Extenaso de Cabo Delgado
2021

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Índice
Introdução......................................................................................................................5

1. A universalização da antropologia.........................................................................6

1.1. A Antropologia na África colonial e pós-colonial..............................................6

1.2. A Antropologia em Moçambique: desenvolvimento histórico e principais áreas


de interesse contemporâneas..........................................................................................6

1.2.1. A Antropologia colonial (1850-1960).............................................................6

1.2.2. A Antropologia em Moçambique da pós-independência e principais áreas de


interesse contemporâneas............................................................................................10

1.2.3. Uma Antropologia Marxista (1975-1992)....................................................10

1.2.4. A Antropologia contemporânea (1992 ate hoje)...........................................11

1.2.5. Principais campos de interesse contemporâneos...........................................11

1.3. Evolucionismo..................................................................................................12

1.3.1. Evolucionismo cultural.................................................................................12

1.3.2. O Evolucionismo Social................................................................................13

1.3.3. Características principais do evolucionismo.................................................13

1.4. O Difusionismo.................................................................................................14

1.5. Culturalismo......................................................................................................14

1.6. Funcionalismo...................................................................................................15

1.6.1. Funcionalismo na sociologia.........................................................................16

1.6.2. Funcionalismo na antropologia.....................................................................16

1.7. O estruturalismo................................................................................................17

1.8. corrente marxista...............................................................................................18

1.8.1. Pontos de reacção..........................................................................................19

1.8.2. Principais figuras...........................................................................................20

1.8.3. Criticas..........................................................................................................21

1.9. Paradigmas emergentes na antropologia (Pós-modernismo e Interpretativismo)


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1.9.1. Antropologia Pós-Moderna...........................................................................22

A experiência  em John  Dewey...............................................................................23

1.9.2. Conexões entre a pós-modernidade e o paradigma emergente.....................24

Conclusão.....................................................................................................................26

Referência bibliográfica...............................................................................................27

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Introdução
O presente trabalho fala acerca de Universalização da antropologia. Depois do seu
nascimento como ciência autónoma no século XIX, em intrínseca relação com o
colonialismo, a Antropologia em África conheceu quatro períodos distintos no seu
desenvolvimento:
1º - Período de 1920-40, marcado pela profissionalização da antropologia e pelas
críticas aos paradigmas evolucionistas e difusionistas de seus primeiros anos;
2º - Período de 1940-60, marcado pelos trabalhos funcionalistas e estrutural-
funcionalistas;
3º - Período de 1960-90, que se inicia com os processos de independência dos países
africanos e marca também o início da chamada descolonização da antropologia
(libertação do servilismo colonial) e todos os subsequentes ataques aos seus paradigmas
instituídos;
4º - Período: de 1990 até os dias atuais - que, ainda em conexão com o anterior, tem
marcado o ressurgimento de uma escola africana de africanistas os quais sustentam
críticas interessantes ao conhecimento antropológico tal como concebido no ocidente –
entendendo-se este como as escolas britânica, americana e francesa.

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1. A universalização da antropologia
1.1. A Antropologia na África colonial e pós-colonial

Depois do seu nascimento como ciência autónoma no século XIX, em intrínseca relação
com o colonialismo, a Antropologia em África conheceu quatro períodos distintos no
seu desenvolvimento:

1º - Período de 1920-40, marcado pela profissionalização da antropologia e pelas


críticas aos paradigmas evolucionistas e difusionistas de seus primeiros anos;
2º - Período de 1940-60, marcado pelos trabalhos funcionalistas e estrutural-
funcionalistas;
3º - Período de 1960-90, que se inicia com os processos de independência dos países
africanos e marca também o início da chamada descolonização da antropologia
(libertação do servilismo colonial) e todos os subsequentes ataques aos seus paradigmas
instituídos;
4º - Período: de 1990 até os dias atuais - que, ainda em conexão com o anterior, tem
marcado o ressurgimento de uma escola africana de africanistas os quais sustentam
críticas interessantes ao conhecimento antropológico tal como concebido no ocidente –
entendendo-se este como as escolas britânica, americana e francesa.

1.2. A Antropologia em Moçambique: desenvolvimento histórico e


principais áreas de interesse contemporâneas
A Antropologia em Moçambique conheceu dois grandes períodos, sendo cada uma com
características típicas do seu contexto histórico. Trata-se do período colonial e do
período pós-colonial. Vejamos a seguir a descrição de cada um deles.

1.2.A. A Antropologia colonial (1850-1960)


A Antropologia surge no século XIX intrinsecamente ligada ao imperialismo europeu.
Segundo CERRA, “Se a sociologia nasceu nas cidades europeias para ajudar a
organizar e a domesticar a mudança social, a antropologia nasceu nas colónias para
ajudar os colonizados a pagar impostos e a trabalhar nas plantações”.

Operários, pobres e colonizados foram marcados com a diatribe cultural do atraso, da


selvageria, mas, também, do perigo e, até, da loucura. No caso dos colonizados, a
categoria de “negro” estabelece-se muito cedo e recebe a homologação filosófica de
Hegel e dos racialistas do século XIX. Povos sem história, povos sem espírito, povos

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frigorificados no hedonismo, no sexo, na bebida, na dança, na magia. Segundo Hegel:
“Os negros tal como hoje os vemos, assim foram sempre. Na imensa energia do arbítrio
natural que os habita, o momento moral carece de poder preciso África carece, pois,
propriamente falando, de história porque não faz parte do mundo histórico, não mostra
movimento nem desenvolvimento.”

No período colonial, os portugueses preocupados com a dominação das sociedades nas


suas colónias, levam a cabo trabalhos etnográficos que numa primeira fase era efectuada
por missionários, administradores e voluntários afins. Este período de recolha de dados
dividiu-se em duas fases: a fase da antropologia missionária e a fase da investigação
colonial.

a) Fase da antropologia missionária (séc. 1880 - 1930)


Como dissemos antes, os principais fazedores da antropologia nesta fase eram
missionários, militares e funcionários administrativos. Segundo eles, o africano habitava
biologicamente a tribo, base da sociedade africana. Por isso um dos primeiros esforços
empreendidos consistiu em catalogar os colonizados por tribos, ao mesmo tempo que
se inventariavam os seus costumes, as suas formas de parentesco, os seus hábitos
alimentares, as suas línguas, etc. Esse trabalho foi levado a cabo com a infinita
paciência dos entomólogos (biólogos especialistas no estudo de insectos).

“Para o século XIX, constituem referência incontornável os estudos de Henri-


Alexandre Junod, missionário de origem suíça que, além da leitura de textos de James
Georges Frazer (1890), Edward Burnett Tylor (1871) e estudos realizados por outros
missionários em África (as informações fornecidas por Dom Gonçalo da Silveira e pelo
Padre André Fernandes), possuía igualmente uma experiência científica fornecida
pela entomologia.”

Nesta época, apenas se escreveu uma monografia sobre as colónias. JUNOD, Henri
(1898): The Life of A South African Tribe; Sobre os Thonga de Moçambique, Usos e
Costumes dos Bantu, um dos clássicos do africanismo. São dele as seguintes palavras,
na sua obra clássica que destinou especialmente a administradores e missionários: “A
vida de uma tribo do sul de África é um conjunto de fenómenos biológicos que devem
ser descritos objectivamente, pois representam uma fase do desenvolvimento humano. À

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primeira vista, esses fenómenos biológicos inspiram por vezes uma certa repulsa. A
vida sexual dos Bantos, principalmente, fere o nosso senso moral” (Apud CERRA,)

Junod acreditava que sua tarefa etnográfica era a de documentar uma civilização
estagnada. “Era possível que estes indígenas, por causa de quem tínhamos vindo para
a África, aproveitassem com um estudo desse género e viessem mais tarde a ser-nos
gratos por saberem o que haviam sido na sua vida primitiva” (JUNOD, 1996:21).

A partir de 1935, o regime ditatorial instituiu o estudo das colónias, com o objectivo de
elaborar mapas etnológicos. Isto foi bem definido no Primeiro Congresso Nacional de
Antropologia Colonial (Porto, 1934). Um dos seus autores foi Mendes Correia que
utilizou um método antropométrico de campo. Foram enviadas missões para todas as
colónias portuguesas, nomeadamente para África. Entre os impulsores destas missões
destaca-se Joaquim do Santos Júnior (Pereira, 1988). Esta antropologia representava as
tendências mais conservadoras das ideologias coloniais do regime.

A partir de finais de 1950 produz-se uma nova antropologia colonial, protagonizada por
Jorge Dias, que se distancia, cada vez mais, do grupo de Mendes Correia.
Jorge Dias estudou os chopes do Sul de Moçambique, os Bóeres e Bosquímanes do Sul
de Angola, mas o seu trabalho central foi dedicado aos macondes do Norte de
Moçambique, escolha influenciada pelo facto do seu professor, o alemão Richard
Thurnwald, ter estudado, nos anos 30, os macondes de Tanganica (Tanzânia tornou-se
independente em 1964). A tensão política era intensa e, em 1964, começa o movimento
pela independência de Moçambique.

Marvin Harris também trabalhou em Moçambique com os thongas (1959), mas foi
expulso, nesse ano. Em 1960, inicia-se, no planalto maconde, o levantamento de Mueda.
Nestas circunstâncias, o trabalho etnográfico tornou-se inviável.

b) Fase da investigação colonial (1936 – 1960)


Esta fase divide-se em dois períodos: 1. a Missão Etnográfica e Antropológica de
Moçambique (1936 e1956/2). 2. Missão de Estudos das Minorias Étnicas do Ultramar
Português (1957/1960).

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No primeiro período intitulado Missão Etnográfica e Antropológica de Moçambique o
governo colonial em Moçambique desenvolveu pesquisas com objectivo de conhecer
os grupos étnicos habitantes em Moçambique, seus hábitos e costumes, com
objectivo de dominação. Segundo esta Missão, devia-se obter o “conhecimento dos
grupos étnicos de cada um dos nossos domínios ultramarinos, ou seja, a elaboração
das respectivas cartas etnológicas” (Decreto-Lei n.º 26 842, de 28 de Julho de 1936).

No segundo período, intitulada Missão de Estudos das Minorias Étnicas do Ultramar


Português, o governo colonial, especialmente os “admistradores”, já estavam embutidos
de novos discursos sobre a população da colónia, onde já eram concordantes no discurso
quanto aos povos das colónias, e criam-se decretos de integração dos indígenas no
Estado português.

As atenções ficam viradas aos estudos de culturas locais. Não se tratava mais de medir
índices cranianos ou avaliar provas de esforço físico (robustez para o trabalho); não se
tratava mais de conhecer apenas a disposição social e cultural dos povos de
Moçambique, tratava-se sobretudo de salvaguardar os interesses fundamentais do
colonialismo português com vista a facilitar a gestão social das populações dominadas”
(DIAS, 1998: xxvi).
Foi assim que se criou, em Fevereiro de 1957, a Missão de Estudos das Minorias
Étnicas do Ultramar Português, sob o impulso do Professor Adriano Moreira (1922-),
director do Centro dos Estudos Políticos e Sociais. Contudo, longe de constituir uma
realidade, o novo estatuto “impôs um sistema de exclusão e violência, baseado no sistema
do indigenato”.

Nas suas duas fases, a Missão Antropológica de Moçambique desenvolveu suas


actividades em território nacional durante um período de vinte e três anos (1936-1959)
tendo registado 44 trabalhos publicados, dos quais apenas 14 versam sobre a etnografia.
Prosperavam “estudos de antropometria, sobretudo aqueles que diziam respeito ao
aproveitamento da força de trabalho e cujos objectivos são facilmente descortináveis”
(http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=293029097009).

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1.2.B. A Antropologia em Moçambique da pós-independência e principais
áreas de interesse contemporâneas

A história de que dispomos da Antropologia em Moçambique é recente. A produção


do conhecimento não se reveste ainda de um carácter sistemático e está, mesmo no
âmbito institucional, fortemente marcada pela iniciativa individual ou pela imposição de
instituições que financiam os estudos neste domínio.

Tomando particularmente como exemplo os estudos no contexto da Antropologia, a


nossa análise situa-se no período pós-independência onde as referências ideológicas
ligadas numa primeira fase à «transição socialista» e mais tarde ao «liberalismo»
influenciaram o desenvolvimento das ciências sociais em geral e da Antropologia em
particular.

1.2.C. Uma Antropologia Marxista (1975-1992).


Como a maioria dos países africanos, Moçambique adoptou o marxismo, depois da
independência. Assiste-se, assim no nosso país, a criação de lojas do povo, cooperativas
do povo, machambas do povo, o salário era único para todos os funcionários, aldeias
comunais.
A antropologia marxista passou a ser maioritariamente do terceiro mundo e foi adoptada
pelo 3º congresso da Frelimo realizado em Maputo em 1977, pelo seu determinismo
económico e por ser promotora de igualdade de classes. Ela se centra sobre a
análise das formas de exploração (sexual – androcentrismo; laboral –
eurocentrismo, etc.); para outros, a diferenciação sexual é cultural e não biológica. Ela
será empregue como expressão da emancipação de uma classe social oprimida.

As independências dos países africanos fomentam a formação de um homem novo,


caracterizado pela criação de uma nova identidade cultural onde os valores da sociedade
tradicional (a etnia, a tribo e a região) são substituídos pelo nacionalismo.

As características da nova situação levam assim a investigar as raízes económicas da


exploração, as soluções políticas e revolucionárias da sua eliminação.
Emerge uma visão da luta armada idealizada que se vê como uma experiência que
enfrentou e ultrapassou, sem grandes problemas, todos os conflitos. O estudo das
diversas formas de opressão far-se-ia através do processo de libertação com o objectivo
10
da eliminação das formas de «opressão do homem pelo homem». Há um esforço
constante de estudar a luta armada porque só através dela se poderá constituir uma
tradição de pesquisa e de luta enraizada nas realidades moçambicanas.

1.2.D. A Antropologia contemporânea (1992 ate hoje)


A Reflexão Participativa - Um novo imperativo conduz-nos a tentar elaborar achegas
novas em que as nossas sociedades já não são vistas de um ponto de vista reducionista,
mas sim na significação que se dão a si próprias.
Assim, o grande contributo da pesquisa antropológica ao estudo do desenvolvimento
reside menos na informação recolhida do que no uso destes dados para entender e
explicar os problemas do desenvolvimento e analisar o impacto das políticas a nível
mais aprofundado.

O conceito de relações sociais de género tem estado a ganhar, na prática das reflexões
da Sociologia e da Antropologia, estatuto de paradigma, ao informar sobre as relações
sociais entre homens e mulheres. Neste sentido, esta postura teórica anuncia uma
profunda mudança na delimitação do objecto. Se, até há pouco, o objecto de estudo era
a construção social e subordinada do feminino, hoje, remodelado, é a construção das
relações sociais entre homens e mulheres, isto é, as relações de género.

1.2.E. Principais campos de interesse contemporâneos


A Antropologia hoje, livre do servilismo colonial, já não estuda apenas o exótico, o
primitivo, mas aspectos culturais de todos os povos, com destaque para:

A cultura popular,

O folclore,

A globalização,

A vida urbana,

Estudos psicológico,

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Estudos linguísticos, etc.

1.3. Evolucionismo
Evolucionismo é uma teoria que defende o processo de evolução das espécies de seres
vivos, através de modificações lentas e progressivas consoantes ao ambiente em que
habitam.
Um dos maiores nomes do Evolucionismo foi o naturalista britânico Charles Darwin
(1809 – 1882), que desenvolveu no século XIX um conjunto de estudos que deram
origem ao Darwinismo, teoria tida como sinónimo do Evolucionismo, consagrando-se
como o "pai da Teoria da Evolução".

1.3.A. Evolucionismo cultural


Como você pode depreender, o Evolucionismo deriva do termo “Evolução”. O
evolucionismo Cultural surgiu com a emergência da própria Antropologia Cultural no
século XIX. Contudo, a ideia da evolução surgiu já na antiguidade clássica, quando os
pensadores se preocuparam com o problema da origem do Homem e do Universo, como
épicos da Índia, entre outras narrações. Certamente que você pode confirmar isso a
partir, por exemplo, da leitura da Bíblia.
O Evolucionismo estabeleceu-se como corrente na segunda metade do século XIX,
apesar de ter as suas bases fundadas nos dois séculos precedentes, concretamente na
ideia do progresso das civilizações, expressa por Condorcet e no Iluminismo. Se se
recorda, o Século XIX conheceu largas transformações sociais, mas também o
progresso ficou demonstrado pela Revolução Industrial, pela explosão do modo de vida
urbano, que indicavam a capacidade evolutiva do homem.

Martinez (2004, p. 60), o gérmen das teorias evolucionistas alcançou o seu auge neste
século em virtude de haver manifestação de confiança dos estudiosos na capacidade do
homem de fazer uma história cada vez mais grandiosa, A teoria evolucionista apoiar-se-
ia no transformismo de Lamarck, identificado como fundador da teoria da evolução e
nas ideias de Charles.

DARWIN sistematizadas na ‘Origem das Espécies’. Edward TYLOR ao sistematizar o


estudo da cultura seria considerado o pai da Antropologia. Em 1871 publica o seu livro
Primitive Culture, (Cultura Primitiva), onde propôs outra sequência para o
desenvolvimento religioso no Homem: Animismo, que segundo ele teria sido o primeiro

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estágio; o Feiticismo, a Idolatria, o Politeísmo e o Monoteísmo, como a última fase e a
mais evoluída da manifestação religiosa. TYLOR define a cultura e segundo Bernardi
(1978, p. 177), com ela estão impregnados aspectos que constituiriam centrais nos
estudos antropológicos, como a integração etnémica, estrutura e função, relativismo
cultural, o indivíduo e a comunidade. Várias foram as contribuições para o
evolucionismo, de entre as quais as de Lewis MORGAN que, em 1878, publicou o livro
Ancient Society. Este estudioso ocupou-se do estudo da organização social.

Segundo Bernardi (Ibid., p. 179) MORGAN fez um “ estudo científico e sistemático do


parentesco como fundamento necessário da organização social e política”. James
FRAZER é outro clássico deste período.

Defendia que todas as sociedades passavam por três estádios: mágico, religioso e
científico. Ele usou largamente o método comparativo nos seus estudos, que se
declinavam sobre a magia, o totemismo e a exogamia.

1.3.B. O Evolucionismo Social


Nomeadamente o Darwinismo Social, ajudou a propagar ideias de racismo, como o
imperialismo, fascismo e nazismo, gerando uma lastimável guerra entre grupos sociais e
étnicos. Refere-se às teorias antropológicas e económicas de desenvolvimento social
segundo as quais acredita-se que as sociedades têm início em um estado primitivo e
gradualmente tornam-se mais civilizadas com o passar do tempo.

1.3.C. Características principais do evolucionismo


Um dos aspectos dominantes entre os evolucionistas, apesar de não explicarem os seus
motivos, foi conceber a sucessão dos estágios de desenvolvimento como característico
nos Humanos e verem a cultura como aspecto tipicamente de todos os grupos humanos.
Segundo eles, as mudanças culturais resultavam da dinâmica natural e não dependiam
nem do ambiente nem da história. De modo geral, os evolucionistas debruçaram-se
sobre temas religiosos, familiares, jurídicos e aspectos da cultura material, isto é, o
objecto de estudo era diversificado. Tais temas eram vistos segundo uma evolução
universal e unilinear. O “exótico”e os povos “primitivos” constituíam o centro dos
estudos, cuja razão era encontrada nesse processo evolutivo.

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1.4. O Difusionismo
O Difusionismo centra-se na difusão e nos contactos entre os povos como factores da
dinâmica cultural, que é reconhecida como um fenómeno universal e humano. “O
difusionismo fundamenta-se no pressuposto histórico para explicar as semelhanças
existentes entre as diferentes culturas particulares. É por causa disso que também se
chama historicismo” (Mello, 2005:222-223).
O Difusionismo congrega várias escolas ou tendências da Antropologia Cultural:
Difusionismo Inglês, Difusionismo Alemão, ou Escola de Viena e Escola ou
Difusionismo Americano. O Difusionismo, difundido entre 1900 e 1930 está dentro do
período da crítica.
Diferentemente do Evolucionismo, preocupa-se pelo rigor na pesquisa, tendo, por isso,
desenvolvido um trabalho de campo, com a recolha de dados e posterior elaboração
teórica. A observação participante foi privilegiada como uma das técnicas de pesquisa,
e, ao mesmo tempo, foi incrementada a Linguística. Por isso, a Etnografia conheceu
uma afirmação com o Difusionismo. Foram também privilegiados estudos das culturas
particulares, dando maior segurança nas informações e um maior conhecimento de
fenómenos antes relegados a um segundo plano (Ibid., p. 224).

Essas teorias ganharam corpo no final do século XIX entre antropólogos de língua
alemã, mas teve seu auge entre 1910 e 1925. Apesar da cronologia, seus temas, métodos
e pressupostos pertencem mais ao século XIX que ao século XX. Logo, abordagens
sincrónicas a substituiriam como paradigmas na antropologia.

1.5. Culturalismo
Na perspectiva do Martins (1995), ̋A escola Americana de antropologia ou
simplesmente Culturalismo, enquanto o evolucionismo florescia na antropologia
inglesa em meados do século XIX, não obstante tenha também tido expoentes
americanos como Morgan, na América surgia a formação da escola de antropologia
americana, sobejamente conhecida por culturalismo”.

O culturalismo tenta fazer uma descrição de sociedade sobre a perspectiva combinada


da antropologia e de psicanálise. O culturalismo constitui um dos ramos da sociologia
que dominou a sociologia americana de 1930 a 1950. Emprestando o conceito de cultura
dos antropólogos, ele, procura dar conta da integração social.

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Dois antropólogos escolhidos para atender essa perspectiva foram: Clifford James
Geertz (1926-2006), apresenta uma abordagem simbiótica da cultura e defende que a
antropologia é uma análise etnográfica densa e interpretativa, o trabalho da análise
etnográfica é similar ao de um decifrador de códigos ou ainda, semelhante a um crítico
literário, que determina a base social e importância da obra.

A outra figura proeminentes desse período foi o geógrafo e físico alemão Franz Boas
(1859-1942), ele radicou-se nos Estados Unidos América em 1886, após fazer pesquisa
com o povo esquimó da baia de baffin, no Canadá. Sua preocupação era com questões
relacionadas ou determinismo geográfico, mas foi nessa viagem do campo quer se
transformara na conversão em antropólogo, que reconhece a importância da cultura no
processo adaptação dos grupos sociais ao meu ambiente.

A antropologia que Boas defendia era antagónica aos grandes esquemas evolucionistas,
seu interesse não se dirigia para encontrar um grande esquema explicativo que
abrangesse todas culturas, porém se questionava pela diversidade e pela mudança
cultural. Isto é, é porque alguns povos aceitam um traço cultural e outros não.

No ponto de vista do grupo, Boas não se opunha há explicações históricas, mas, em


oposição aos evolucionistas. Ainda Boas salienta a utilidade dos estudos empíricos e
indutivos, sem descorar os históricos. Boa apontou no texto clássico
as limitações do método comparativo da antropologia de 1896, a importância
fundamental das diferenças e não semelhanças, para este objectivo da pesquisa
antropológica tende ser o estudo dos processos, pelos quais certos estágios culturais se
desenvolveram.

1.6. Funcionalismo
É um paradigma científico que busca entender uma sociedade a partir das suas regras de
funcionamento e das diferentes funções nelas desempenhadas.

De acordo com os teóricos funcionalistas, cada indivíduo em uma sociedade exerce uma
função, e o conjunto de todas as funções permite o funcionamento harmónico da
sociedade. Os estudos funcionalistas dos grupos sociais buscam analisar suas
instituições e suas regras, como por exemplo, família, religião, crenças, modos de
produção e educação.

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O funcionalismo teve sua origem na antropologia e na sociologia, mas também é
aplicado em outras áreas das ciências humanas, como na psicologia e na filosofia.

Os maiores expoentes dessa vertente são o sociólogo Émile Durkheim (1858 - 1917) e o
antropólogo Bronislaw Malinowski (1884 - 1942).

1.6.A. Funcionalismo na sociologia


O funcionalismo na sociologia é discutido primeiramente por Émile Durkheim, que foi
o fundador da sociologia como uma disciplina científica.
Segundo Durkheim se baseou em princípios da biologia para explicar o funcionamento
das sociedades. Ele as comparava com um organismo vivo, em que cada órgão tem uma
função específica. Para o funcionalismo, cada indivíduo de uma sociedade tem seu
papel e, no desempenho de suas funções, a colectividade garantiria a sobrevivência de
toda a estrutura.

Para o autor, a interpretação das sociedades está relacionada aos fatos sociais, que são
valores e normas culturais, como por exemplo a língua, a arquitectura, o dinheiro, os
costumes e os papéis sociais. Para cada fato social, existem regras em uma sociedade e é
a partir dos fatos sociais que Durkheim acredita que a consciência colectiva é
construída.

Os fatos sociais, segundo Durkheim, possuem três características:

 Social: se aplicam a todos ou à maioria da sociedade;


 Exterior: o fato social existe independente da vontade dos indivíduos;
 Coercitivo: os fatos sociais são impositivos e se os indivíduos não o seguem, sofrem
punições.
1.6.B. Funcionalismo na antropologia
Na antropologia, o funcionalismo foi iniciado por Bronislaw Malinowiski, antropólogo
que teve grande contribuição para a criação do método etnográfico.

Malinowiski estudou os povos trobriandeses da Nova Guiné a partir de uma pesquisa de


campo - até então, os antropólogos estudavam os diferentes povos a partir de uma visão
externa. Em um trabalho de campo, o pesquisador deve estar junto ao grupo estudado
por um período de tempo prolongado e deve participar da vida colectiva daquela
sociedade.

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O objectivo de Malinowiski era entender a visão de mundo e o modo de pensar dos
indivíduos daquele grupo, com base na forma como se organizavam em sociedade, seu
quotidiano e suas crenças.

Segundo Malinowiski, as sociedades possuem 4 necessidades culturais: economia,


controle social, educação e organização política. Para cada uma dessas instituições,
são criadas normas e estatutos.

1.7. O estruturalismo
O estruturalismo é uma construção teórica iniciada pelo etnólogo Claude Lévi-
Strauss. A partir das suas postulações, o entendimento estruturalista ganhou corpo
e se desdobrou em dois planos.
O primeiro fundamentou uma das correntes filosóficas que animaram a segunda metade
do século XX. O segundo irradiou sua epistemologia para os mais diversos campos das
ciências humanas e sociais. Dentre esses campos figura o das ciências da gestão,
entendida como compreendendo os estudos organizacionais e os estudos
administrativos. Como movimento filosófico, o estruturalismo tem um papel decisivo
na trajectória que envolve o embate entre o positivismo lógico, a fenomenologia, a
fenomenologia existencial e o historicismo. Embora o corpo teórico do primeiro
estruturalismo tenha perdido homogeneidade, os seus preceitos iniciais continuam a ser
uma das fontes da problematização sobre as quais se verte a ontologia e a gnosiologia
contemporâneas.

O estruturalismo se distingue de outras correntes de pensamento por tratar os objectos


enquanto “posições em sistemas estruturados” e não enquanto “objectos existentes
independentemente de uma estrutura”. Sistema, estrutura e modelo são termos que
muitas vezes se confundem. No estruturalismo a distinção entre eles é imprescindível.
Um sistema é um conjunto de entidades mutuamente interrelacionadas e
interdependentes, operando juntas em um nível determinado de organização
(Caws,1974, p. 3).

O estruturalismo não nega as condicionantes históricas. Ele só se opõe à história que


pretende estudar os elementos isolados, em lugar de tomar consciência dos seus nexos.
Tem da história uma noção operacional, não filosófica. Contra o historicismo, Lévi-
Strauss (1958, p. 6-8) argumentou que as sociedades não são

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etapas de um desenvolvimento que chega até hoje (a “lógica hegeliana do progresso”),
que o historicismo não considera as diversidades no espaço, as descontinuidades no
tempo e que utiliza uma única categoria de compreensão. Contra o pensamento
dialéctico e o historicismo em geral, o estruturalismo descrê que seja possível
reconstruir a história dos fenómenos sociais desde seu interior.
O estruturalismo aceita que existam causas, relações causais e mudanças, até mesmo de
carácter histórico (relações diacrónicas), mas não crê que tais relações sejam
determinantes na compreensão do mundo que nos cerca.

Embora também faça uso de técnicas lógico-formais de análise da linguagem, o


estruturalismo se afasta da ideia de que o conhecimento possa ser obtido somente pelo
esclarecimento conceitual, pelo esclarecimento dos significados dos enunciados. O
estruturalismo se diferencia do conceito de estrutura do empirismo lógico, ao afirmar
que a relação precede a seus termos e a forma precede o conteúdo. No estruturalismo
não existem elementos primeiros determinantes (elementos isolados). O que há são
sistemas de relações entre fenómenos.
O estruturalismo substitui a ênfase atomista dos fenómenos como entidades unívocas e
mutuamente independentes pela elaboração de modelos de ordem geral que enfatizam
as relações entre os fenómenos. Com isto tira o foco da investigação de qualquer
elemento particular. Até mesmo, e principalmente, tira o foco do sujeito e das questões
a ele relacionadas, como a subjectividade, o pathos, a liberdade individual, para
enfatizar a condição humana, seus limites e restrições inconscientes e os padrões que a
conformam. O estruturalismo é uma filosofia sem sujeito.

1.8. Corrente marxista


O marxismo é essencialmente uma interpretação econômica da história baseada
principalmente nas obras de Karl Marx e Frederich Engels.
. Marx foi um revolucionário que concentrou seus esforços na compreensão do
capitalismo para derrubá-lo. A justificativa para o desenvolvimento do capitalismo ea
necessidade de avançar para o comunismo é desenvolvido em plena Capital (1867), mas
introduziu em O Manifesto Comunista (1848). Marx, cuja orientação era em grande
parte materialista e historicista, estruturou sua análise em torno de quatro pontos
centrais:

18
A realidade física das pessoas,
A organização das relações sociais,
o valor do contexto histórico de desenvolvimento e a natureza humana da práxis
contínua.

No que diz respeito à antropologia, o trabalho fundamental é A origem da família, da


propriedade privada e do estado: à luz das investigações de Lewis H. Morgan (1884), de
Engels.
O enfoque materialista de Lewis Henry Morgan levou Marx a fazer extensas anotações
sobre a Sociedade Antiga (1877), que Engels posteriormente expandiria em A
Origem… Ambos os homens foram influenciados por Louis Henry Morgan e seu
modelo de evolução social baseado em questões materiais. Morgan propôs que as
sociedades mudassem de estágios de desenvolvimento mais primitivos para mais
civilizados.
A versão marxista disso resultou em transições de estágio do comunismo primitivo,
passando pelo feudalismo e capitalismo, ao comunismo; os estágios são julgados em
termos dos modos de produção que dominam cada estágio. Marx não via esses estágios
como etapas progressivas pelas quais toda cultura deve progredir, mas como o
desenvolvimento de comunidades historicamente contingentes e seus modos de
produção.

1.8.A. Pontos de reacção 


A antropologia marxista surgiu por meio das obras de Marx e Engels e seus seguidores.
Desenvolveu-se como crítica e alternativa ao domínio do capitalismo euro-americano e
perspectivas eurocêntricas nas ciências sociais. Marx foi fortemente influenciado por
extensas leituras de filósofos da era clássica e iluminista. O pensamento epicurista, que
se concentrava na acção do indivíduo, na ausência de um poder divino e na importância
da contingência sobre a teleologia, foi difundido nos escritos de Marx, incluindo sua
dissertação. A ênfase de Rousseau na história como sendo uma ferramenta de
autocorrecção para validar ou contradizer as declarações dos políticos claramente
influencia a compreensão de Marx da conexão entre a estrutura e o modo de produção.

19
1.8.B. Principais figuras
 Marx, Karl (1818-1883): Marx é freqüentemente chamado de o cientista social mais
bem-sucedido de todos os tempos . Marx foi um defensor da compreensão das
mudanças econômicas e políticas como uma dialética historicamente contingente. Seu
idealismo hegeliano diminuiria ao longo de seus escritos e ele começaria a abordar seu
trabalho com uma abordagem mais sistemática e científica.

Engels, Friedrich (1820-1895): Engels foi  colega e amigo de Marx que o ajudou a


estabelecer suas teorias sobre a sociedade e continuou a trabalhar nas ideias marxistas
após a morte de Marx. A orientação de Engels permitiu que ele se conectasse
fortemente com Karl Marx. Os dois filósofos colaboraram até a morte de Marx em
1883. Engels então passou a editar e reavaliar as notas de Marx para publicação futura.
Engels é frequentemente visto como o bode expiatório do fracasso da União Soviética e
outras manifestações do comunismo devido à sua ênfase na hierarquia. Esta não parece
ser uma avaliação justa. Engels e Marx escreveram em colaboração, portanto, dividir o
trabalho como pertencendo a apenas um ou outro é uma tarefa difícil e questionável.

Bloch, Maurice (1939-):  Bloch é um antropólogo britânico e um conhecido defensor


do marxismo francês e da antropologia marxista. Ele é frequentemente considerado uma
figura-chave na introdução do renascimento do marxismo francês na antropologia social
britânica. Ideologia, cognição e linguagem têm estado no centro do trabalho de Bloch.
Estes são vistos como indicadores da distribuição diferencial de poder dentro de um
sistema estruturado.

Wolf, Eric (1923-1999): Wolf foi um marxista que propôs três modos de produção em
sua proeminente obra Europe and the People Without History (1982): capitalista,
tributário e ordem por parentesco. Wolf foi uma figura significativa no campo da
antropologia americana.Wolf criticou a história ocidental por enfatizar demais o papel
das figuras aristocráticas e subestimar a história e a natureza dinâmica das culturas não-
ocidentais e subordinadas. As divisões acadêmicas dentro das ciências sociais foram
avaliadas como sendo uma divisão falsa, também, que negava a complexidade da
humanidade. Nesse sentido, Wolf viu em Marx um verdadeiro antropólogo ao avaliar o
capitalismo em um sentido histórico.

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Gramsci, António (1891-1937): Uma das principais figuras do marxismo antes da
Segunda Guerra Mundial e um comunista italiano que formulou a ideia de hegemonia.
Ele é considerado um dos maiores filósofos de Marixst do século XX. Gramsci via a
história humana como a chave para a agenda marxista de mudança social e que a
natureza só importava até o ponto em que interagia com a humanidade. Aqui, Gramsci
separou suas próprias teorias socialistas das preocupações materialistas do marxismo
ortodoxo. O conceito de hegemonia cultural foi articulado por Gramsci para explicar
por que a revolução não ocorreu. Gramsci foi preso por suas idéias durante o reinado de
Mussolini e morreu em um hospital da prisão.

Althusser, Louis (1918-1990): Althusser foi um neomarxista muito influente na década


de 1960, que introduziu uma abordagem estruturalista ao marxismo. Althusser era
conhecido por ter uma postura crítica em relação à Escola Marxista Francesa e à Escola
Marxista Estrutural, mas utilizando seletivamente pontos-chave da teoria de ambas as
escolas para abordar o marxismo na economia. A carreira de Althusser foi marcada pela
doença mental e o assassinato de sua esposa.

Godelier, Maurice (1934-): Um marxista francês e proponente da antropologia


econômica. Godelier é um forte defensor da antropologia que abraça uma teoria
marxista com uma inclinação estruturalista. Seu trabalho se concentra em compreender
como seriam os modos de produção, superestrutura e infra-estrutura para as culturas não
ocidentais. Os críticos dessa versão do marxismo francês alegaram que Godelier tentou
forçar uma estrutura de capital na história de povos não ocidentais que não haviam sido
sociedades capitalistas antes do contacto com o Ocidente.

1.8.C. Criticas
Uma das principais críticas ao marxismo é que ele não é particularmente antropológico
por natureza, não se interessando pela cultura e etnografia per se. Marx, no entanto,
completou muitos estudos de caso sobre os sucessos e fracassos de culturas e grupos
sociais específicos na criação de sua filosofia. Quando os antropólogos a aplicaram em
uma estrutura mais antropológica, parecia cada vez menos com o marxismo.

Uma crítica importante é que o marxismo não tem objetivo ou método unificado
particular; muitos marxistas discutem mais entre si do que com outros teóricos. O
marxismo também foi criticado por sua definição de ideologia, que o apresenta como

21
um complô criado pela classe dominante para mistificar a classe inferior. Além disso,
como a ideologia se espalha também não está claro.

Quando vista de forma independente, essa crítica faz sentido. Nenhum aspecto da
cultura opera isoladamente, entretanto. Todos os elementos dos sistemas sociais, como
parentesco, religião e etnia, podem refletir a classe social. Outros termos do marxismo
também têm sido criticados, como a teoria do valor-trabalho, que afirma que o valor do
trabalho é o custo dos materiais e da mão-de-obra envolvidos, definição que pressupõe a
cooperação voluntária dos trabalhadores e não inclui custos e responsabilidades de
gestão. Hoje, o marxismo é criticado por enfatizar demais o alcance do capitalismo.

1.9. Paradigmas emergentes na antropologia (Pós-modernismo e


Interpretativismo)

1.9.A. Antropologia Pós-Moderna


A Antropologia Pós-Moderna ou Crítica surge nos anos de 1980 e está preocupada com
a

A pós-modernidade, rompeu com os padrões da idade moderna, e é caracterizada pelas


abundantes transformações nos âmbitos artísticos, filosóficos, científicos, econômicos,
políticos, estéticos, éticos e culturais (SANTOS, 1986). Segundo numerosos filósofos e
sociólogos, a pós modernidade começou a manifestar-se mais intensamente na década
de 1950.

O desenvolvimento da computação, a crítica da cultura ocidental realizada pela


filosofia, a explosão da bomba em Hiroxima e Nagasaki, o final da 2ª Guerra Mundial, a
queda do Muro de Berlim, a falência da Guerra Fria, a queda do comunismo e do
socialismo, o aparecimento de grupos económicos expansionistas, a fragilização das
barreiras geográficas, a globalização, a crise do capitalismo e a crítica consistente aos
padrões éticos e estéticos são apenas alguns indícios de que o mundo que
moldou/formou as gerações anteriores não é mais o mesmo (GONÇALVES, 2015;
SANTOS, 1986)

A sociedade pós moderna baseia-se no individualismo, no niilismo, no vazio, no


consumismo e na ausência de valores e de sentido para a vida (SANTOS, 1986).

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De igual modo, outros elementos também se destacam: a valorização exacerbada do
momento presente, a liquidez nos relacionamentos pessoais e no trabalho, o
redimensionamento do desejo, da sexualidade, do hedonismo e a busca pelo prazer
imediato, a qualquer custo.

A par de todo o exposto, é possível inferir que pós-modernidade e Paradigma


Emergente são temas que dialogam, na medida que revelam e desencadeiam incontáveis
modificações, em diversos segmentos da vida, da atividade e do pensamento humano.
Entretanto, é preciso salientar que alguns setores não acompanharam as alterações no
pensamento, no modo de ser, de agir, de se relacionar, como por exemplo, a instituição
da educação, que, por vezes, tem repetido os padrões modernos, mantendo-se, alheia às
inovações pós-modernas e presentes no novo paradigma, justificando, deste modo, a
relevância desta pesquisa.

Segundo Dewey, “é preciso que os alunos aprendam além dos livros, através da
experiência. O conhecimento deve ser algo útil, capaz de transformar a vida dos
sujeitos” (TEIXEIRA & WESTBROOK, 2010).

A experiência  em John  Dewey


DEWEY, “É considerado um dos principais representantes do Pragmatismo, doutrina
segundo a qual as ideias são instrumentos de ação, e somente fazem sentido quando
produzem efeitos práticos e reais” (DEWEY apud TEIXEIRA & WESTBROOK,
2010).

Para o autor, o tipo de educação denominado de “escola clássica/tradicional”


demonstrava-se insuficiente frente às inúmeras transformações históricas, sociais e
econômicas ocorridas entre nos séculos XIX e XX (SOUZA & MARTINELI, 2009).

Dewey argumenta que “toda aprendizagem deve ser integrada à vida, isto é, adquirida
em uma experiência real de vida. O conhecimento só tem sentido se ele é capaz de dar
sentido à vida do sujeito. Por isso, a aprendizagem não pode ser desvinculada da vida e
das relações humanas. Neste sentido esclarecem” Dewey apud Teixeira & Westbrook
(2010, p. 57).

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1.9.B. Conexões entre a pós-modernidade e o paradigma emergente
“A pós-modernidade baseia-se no individualismo, niilismo, ausência de valores e
sentidos de vida, prazeres imediatos, bem como na descrença da razão, indagações
constantes acerca de tudo o que está posto, pluralismo ético e teórico, e proliferação de
novos projetos e paradigmas” (SANTOS, 1986; AZEVEDO, 1993).

Paradigma refere-se ao modelo ou a padrões compartilhados que permitem a explicação


de certos aspectos da realidade, sendo mais do que uma teoria e implicando em uma
estrutura que gera novas teorias (KUHN, 1994). No século XIX, o modelo utilizado
para explicar a realidade era o Paradigma Tradicional, cujos princípios são:
objetividade, estabilidade e simplicidade (SANTOS, 2008).

“O Paradigma Tradicional defende que os seres são estáveis, simples e determinados.


Há, inclusive a possibilidade de separar sujeito-objeto e pesquisadorpesquisado. Tal
modelo esclarece que é necessário buscar a neutralidade científica por meio da
precisão, da rigorosidade e da fidedignidade” (SANTOS, 2008).

No início do século XX, questionamentos a respeito do Paradigma Tradicional da


ciência começaram a surgir, no próprio domínio linguístico da ciência, com
contribuições dos físicos Max Plank, Einstein, Niels Bohr, Boltzman, Heisenberg. Mais
8 recentemente, acrescentaram-se as contribuições de outros cientistas, tais como o
químico russo Ilya Prigogine, o físico e ciberneticista austríaco Heinz von Foerster, o
bio-físico francês Henri Atlan, os biólogos chilenos Humberto Maturana, Francisco
Varela (VASCONCELLOS, 2002), entre outros.

“Em plena pós-modernidade, vem ganhando destaque um novo modelo com a


finalidade de abarcar as descobertas recentes e que se dispõe a explicar outros aspectos
da realidade: o Paradigma Emergente. Este novo modelo, basicamente, altera a primazia
da objetividade, estabilidade e simplicidade para a complexidade, intersubjetividade e
imprevisibilidade” (VASCONCELLOS, 2002).

Especificamente em relação à totalidade e à integralidade, para o Paradigma Emergente


torna-se fundamental considerar o homem e os conhecimentos enquanto possibilidade e
universalidade. Isso significa que: “o conhecimento pós-moderno, sendo total, não é
determinístico” (CAPRA, 1996, p. 77)

24
Ora vejamos, Além de tais pilares (intersubjetividade, complexidade e
imprevisibilidade), Santos (2008) defende que “todo o conhecimento científico visa
constituir-se em senso comum” (p. 88). Tal pensamento opõe-se à ideia predominante
na sociedade moderna, na qual o conhecimento estava concentrado nas mãos da elite,
sendo marcado por restrições.

Em linhas gerais, o Paradigma Emergente é um modelo ou forma de interpretar o


mundo com novos olhares, a partir de uma reconstrução de tudo o que está posto. O
homem passa a ser visto como um ser complexo, subjetivo e imprevisível, ao contrário
do que pregava o Paradigma Tradicional, que valorizava a objetividade, estabilidade e
simplicidade. Desta forma, nota-se uma relação de sintonia entre pós-modernidade e
Paradigma Emergente, uma vez que ambos acenam para novas formas de explicar,
interpretar o mundo e tudo o que está posto.

Isto e,  tanto na pós-modernidade quanto no Paradigma Emergente há uma fluidez e


uma identificação nos conceitos, nos modos de ser, pensar e explicar a realidade.

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Conclusão
O presente trabalho concluímos que, O estruturalismo substitui a ênfase atomista dos
fenómenos como entidades unívocas e mutuamente independentes pela elaboração de
modelos de ordem geral que enfatizam as relações entre os fenómenos. Com isto tira o
foco da investigação de qualquer elemento particular. Até mesmo, e principalmente, tira
o foco do sujeito e das questões a ele relacionadas, como a subjectividade, o pathos, a
liberdade individual, para enfatizar a condição humana, seus limites e restrições
inconscientes e os padrões que a conformam. O estruturalismo é uma filosofia sem
sujeito.

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Referência bibliográfica
DURKHEIM, E. Pragmatismo e sociologia. Florianópolis, SC: UFSC, 2004.
GONÇALVES, J. E. A pós-modernidade e os desafios da educação na atualidade
John Dewey no pensamento pedagógico brasileiro. Revista HISTEDBR On-line,
Campinas, n. 35, p. 160-162, set. 2009.
MARTINEZ, Francisco Lerma, Antropologia Cultural: guia para o estudo, 7ª ed.,
Maputo, Filhas de São Paulo, 2014.
SANTOS, J. F. O que é pós-moderno. Ed. Brasiliense: São Paulo, 1986
SOUZA, R. A; MARTINELI, T. A. P. Considerações históricas sobre a influência de

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