Linguagem - Aula 2 MARCOS BAGNO - Preconceito Linguístico

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Linguagem Sociedade e Educação

Aula 2
PRECONCEITO LINGUÍSITCO – O QUE É, COMO SE FAZ, MARCOS BAGNO

Capítulo I A MITOLOGIA DO PRECONCEITO LINGUISTICO

Professora Cristina Prates

Biografia
É professor do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da Universidade de
Brasília, doutor em filologia e língua portuguesa pela Universidade de São Paulo,
tradutor, escritor com diversos prêmios e mais de 30 títulos publicados, entre literatura
e obras técnico-didáticas. Atua mais especificamente na área de sociolinguística e
literatura infanto-juvenil, bem como questões pedagógicas sobre o ensino de português
no Brasil. Em 2012 sua obra As memórias de Eugênia recebeu o Prêmio Jabuti.1

Primeiras palavras
Tratar da língua é tratar de um tema político”, já que também é tratar de seres
humanos

Gramáticos tradicionalistas: a língua como uma coisa morta, sem levar em


consideração as pessoas vivas que a falam.

Língua e gramática normativa.


Gramática normativa : norma culta . descrição parcial da língua; um quinto do seu
volume total; aplicação autoritária: ideologia geradora do preconceito linguístico

Igapó/gramática normativa ≠ água do rio/língua

Capa do livro: homenagear com um livro pessoas que jamais poderão lê-lo.

1Disponível em: https://marcosbagno.wordpress.com/sobre/


https://www.parabolablog.com.br/index.php/blogs/blogger/mbagno
I A mitologia do preconceito linguístico

MITO n° 1 “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade


surpreendente”
Uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas
escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários.

Alto grau de diversidade e de variabilidade do português falado no Brasil diferenças


regionais

Diferenças de status social: milhões de brasileiros sem língua; os sem-língua:


desprestígio; inferiorização

Constituição e Discriminação social


“Problemas de comunicação interdialetal”, Stella Maris Bortoni-Ricardo
O português é um grande “balaio de gatos”

Mito n° 2 “Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português


Língua viva, de Sérgio Nogueira Duarte
Relação colonizador/colonizado; eurocentrismo; etnocentrismo;
Arnaldo Niskier: o purismo linguístico/ Brasil/França
Galicismo; anglicismos
Português brasileiro
Diferenças entre o português de Portugal e do Brasil: no vocabulário, nas construções
sintáticas, no uso de certas expressões, pronúncia; pronomes oblíquos: o, a os, as >
“Eu conheço ele”,
Semelhança: língua escrita formal
Cinema português: colocar legenda?

Regras gramaticais: português de Portugal: mais pequeno/ menor: Não erre mais!, de
Luiz Antonio Sacconi,

Dê--me um beijo e não Me dá um beijo, Assisti o filme e Aluga-se casas,

Monteiro Lobato: “O colocador de pronomes”. In: Negrinha, livro de contos

Mito n° 3 “Português é muito difícil”


Decorar conceitos e fixar regras que não significam nada para nós
Uso real, vivo e verdadeiro da língua portuguesa do Brasil
Todo falante nativo de uma língua sabe essa língua
Uso brasileiro do português: verbo assistir: transitivo direto
Livro: Por que (nao) ensinar gramática na escola, Sirio Possenti: regência “assistir
a” como um arcaísmo
Alunos que se sentem incompetentes para redigir!
Gramáticos tradicionalistas: os iluminados

Mito n° 4“As pessoas sem instrução falam tudo errado”


Mito n° 1: uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada
nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários
Triângulo escola-gramática-dicionário
Rotacismo > transformação de I em R nos encontros consonantais: Craudia, chicrete,
praca, broco, pranta > estigma, “atraso mental”: fenômeno fonético: prata > plata
Preconceito: classe social desprestigiada
Preconceito linguístico é decorrência de um preconceito social : problema não está
naquilo que se fala, mas em quem fala o que.
Livro A língua de Eulália, Marcos Bagno

Vá passear, seu Jeca. Muita coisa que hoje


esta senhora condena vai ser lei um dia. Foi
você quem inventou o VOCÊ em vez de TU,
e só isso quanto não vale? Estamos livres da
complicação antiga do Tuturututu.

Emília, No país da gramática, Monteiro


Lobato

Preconceito contra a fala de determinadas classes sociais,


Preconceito contra a fala característica de certas regiões: nordestino > forma de
marginalização e exclusão.

Palatalização: T é pronunciada [tš] (como em tcheco) toda vez que é seguida de um


[i].: titia
Preconceito: Nordeste: palatalização > OITO como [oytšu] : Ridicularização > pessoa
que fala essa língua e a região geográfica
Mito n°5 “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”
A velha posição de subserviência em relação ao português de Portugal.
Emprego do pronome tu : está em vias de extinção na fala do brasileiro; > falares
característicos de certas camadas sociais do Rio de Janeiro, o verbo assume a forma
da terceira pessoa:: tu deixa disso
Coincidência falada em Portugal
Toda variedade linguística atende às necessidades da comunidade de seres
humanos que a empregam
Toda variedade linguística é também o resultado de um processo histórico
próprio, com suas vicissitudes e peripécias particulares.
Maranhão: açorianos:
Português esquisito dos paulistanos: “dois pastel”
As pesquisas sociolinguísticas — que se baseiam em coleta de dados por meio
de gravações da fala espontânea, viva, dos usuários nativos da língua
Norma urbana culta geral brasileira
Gramática do português falado, Editora da UNICAMP,
norma culta: não de forma absoluta, fonte do preconceito. Temos de levar em
consideração a presença de regras variáveis em todas as variedades, a culta inclusive.

Mito n° 6 “O certo é falar assim porque se escreve assim”


Variação: CÒlégio: pernambucano; CUlegio: carioca; CÔlegio, paulistano
Ensina-se o aluno a pronunciar “do jeito que se escreve”,
Preconceito: supervalorização da língua escrita combinada com o desprezo da língua
falada
Ceci n’est pas une pipe: Magritte > escrita alfabética: tentativa [de representação
gráfica, pictórica e convencional da língua falada
Língua falada: estudos só no século XX
Fogo: inflexões de vários significados na língua falda> impossível transcrevê-las todas
ao na língua escrita.

Gramática, em grego, significa exatamente “a arte de escrever”.


Gramática tradicional despreza totalmente os fenômenos da língua oral, e quer impor
a ferro e fogo a língua literária como a única forma legítima de falar e escrever, com
como a única manifestação linguística que merece ser estudada. a norma literária como
a única digna de ser estudada, ensinada e praticada
Sítio do Pica-pau Amarelo, de Monteiro Lobato
Gramática da língua portuguesa escrita, literária, formal, antiga”.

Mito n° 7 “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”

Os escritores são os primeiros a dizer que gramática não é com eles


Rubem Braga: “Nascer no Cairo, ser fêmea de cupim”.
Drummond: “Aula de Português”
AULA DE PORTUGUÊS, Drummond

A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.

Celso Pedro Luft: Língua e liberdade

Um ensino gramaticalista abafa justamente os talentos naturais, incute insegurança


na linguagem, gera aversão ao estudo do idioma, medo à expressão livre e
autêntica de si mesmo.

Luft discorre e defende um ensino que elimine o excesso de regras, deixando somente
as essenciais para o aprendizado da língua. Importante para ele é que o aluno aprenda
e, acima de tudo, produza e pratique a leitura, a escrita, a oralidade. Que ele seja capaz
de dominar a língua para se comunicar efetivamente por meio de todas as modalidades
comunicativas.

“O gigolô das palavras”, Luis Fernando Veríssimo


A língua passou a ser subordinada e dependente da gramática. O que não está na
gramática normativa “não é português”.

Se não é o ensino/estudo da gramática que vai garantir a formação de bons


usuários da língua, o que vai garanti-la?
Indicações de leitura
Sofrendo a gramática, de Mário Perini
Por que (nao) ensinar gramática na escola, de Sírio Possenti
Língua e liberdade, de Celso Pedro Luft
Linguagem, língua e fala, de Ernani Terra
Contradições no ensino de português, de Rosa Virgínia Mattos e Silva,
Gramática na escola, de Maria Helena de Moura Neves

Mito n°8 “O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social”


Se o domínio da norma culta fosse realmente um instrumento de ascensão na
sociedade, os professores de português ocupariam o topo da pirâmide social,
econômica e política do país, não é mesmo?
Achar que basta ensinar a norma culta a uma criança pobre para que ela “suba na
vida” é o mesmo que achar que é preciso aumentar o número de policiais na rua
e de vagas nas penitenciárias para resolver o problema da violência urbana.
Será que “doando” a língua padrão a um indivíduo das classes subalternas ele
vai, automaticamente, tornar-se um patrão?
Círculo vicioso do preconceito linguístico e do irmão gêmeo dele, o circulo vicioso
da injustiça social.

Vídeos:
Preconceito Linguístico - 20 anos depois. Bagno
Parábola Editorial
https://www.youtube.com/watch?v=UN_-nPdQfm8

Marcos Bagno - PNAIC UFSCAR Entrevistas 2016


https://www.youtube.com/watch?v=UbdSNWv9XDQ

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