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CENTRO UNIVERSITÁRIO TIRADENTES DE PERNAMBUCO

SÉRGIO DO CARMO MOREIRA DA SILVA

O DIREITO À PERMANÊNCIA DOS ESTUDANTES


TRABALHADORES NO ENSINO SUPERIOR

RECIFE

2021.2
SÉRGIO DO CARMO MOREIRA DA SILVA

O DIREITO À PERMANÊNCIA DOS ESTUDANTES


TRABALHADORES NO ENSINO SUPERIOR

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Centro Universitário
Tiradentes de Pernambuco, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Serviço Social.
Orientadora: Profª. MSc. Adiliane Valéria
Batista Francelino.

RECIFE

2021.2
SÉRGIO DO CARMO MOREIRA DA SILVA

O DIREITO À PERMANÊNCIA DOS ESTUDANTES


TRABALHADORES NO ENSINO SUPERIOR

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito parcial para obtenção


do título de Bacharel em Serviço Social, Centro Universitário Tiradentes de
Pernambuco – UNIT PE.

Recife, dezembro de 2021

BANCA EXAMINADORA

__________________________________
Orientadora
Profª. MSc. Adiliane Valéria Batista Francelino
Curso de Serviço Social UNIT PE

__________________________________
1ª Examinador(a)
AGRADECIMENTOS

Quero agradecer primeiramente ao meu Deus por ter me dado o fôlego


de vida, pois sem ELE não conseguiria chegar até aqui. Agradeço à ELE por ter
me dado inteligência, auxílio e inspiração nos momentos mais difíceis dessa
caminhada.
Agradeço à minha família, precisamente aos meus pais por ter me
passado uma boa educação ao longo da minha caminhada, agradeço a eles pelo
amor e pelo incentivo e também agradeço a minha irmã por sempre ter me dado
suporte durante a realização desse trabalho no lar.
Agradeço a Rizete Costa - professora e coordenadora do Curso de
Serviço Social, por ter sido um canal um canal, um suporte, desde o 1º período
até o 8° por ter nos proporcionado um ensinamento maravilhoso do curso de
Serviço Social, nos preparando para sermos bons profissionais posteriormente
para o mercado de trabalho.
Agradeço à minha orientadora, Adiliane Valéria - professora do curso de
Serviço Social, é um amor de pessoa, agradeço a mesma por ter me passado
um bom ensinamento, mesmo em tempos de pandemia da covid-19, tivemos
aulas remotas, mas tive oportunidade de conhecê-la pessoalmente para receber
as devidas orientações deste projeto.
Agradeço a minha grande amiga, Israyane Késsia, que sempre esteve
comigo, me dando maior apoio nos horários da tarde, principalmente nas
madrugadas de forma virtual, durante a realização deste projeto de pesquisa.
Enfim, não tenho palavras para expressar a tamanha alegria que sinto.
Agradeço a todos que direta ou indiretamente fizeram parte dessa caminhada
árdua, no entanto foi prazerosa para a aquisição e construção do meu
conhecimento. Obrigado!
RESUMO

Este trabalho apresenta uma análise sobre os desafios de permanência dos


estudantes-trabalhadores no ensino superior. Teve como objetivo central
analisar o direito à permanência dos estudantes oriundos da classe trabalhadora
no ensino superior. Para isso foi traçado como objetivos específicos identificar
as determinações sociais que desafiam à permanência dos estudantes
trabalhadores no ensino superior; descrever a trajetória mais recente da política
de permanência na educação superior; identificar a concepção de permanência
no âmbito da educação superior, mas especificamente no Programa Nacional de
Assistência Estudantil – PNAES; identificar as principais ações do PNAES para
a permanência dos estudantes no ensino superior, com um olhar mais específico
sobre a atuação do/a assistente social no Programa de Assistência Estudantil.
Utilizamos como recurso metodológico o levantamento bibliográfico e a análise
documental e o método de análise foi o materialismo histórico dialético, ao
investigarmos a realidade, a partir de suas contradições e numa perspectiva de
totalidade. Constatamos que o PNAES (Plano Nacional da Assistência
Estudantil) é uma plataforma fundamental no que tange a permanência do
estudante-trabalhador no ensino superior, que tem a finalidade de propor a
igualdade de oportunidades entre todos os estudantes e coopera para a melhoria
do desempenho acadêmico, com mecanismos que buscam combater a
repetência e a evasão, ou seja, cria estratégias para a permanência dos
estudantes no ensino superior.

Palavras-chave: Estudantes-trabalhadores, ensino superior, política de


permanência, PNAES.
ABSTRACT

This work presents an analysis of the challenges of permanence of student-


workers in higher education. Its main objective was to analyze the right to
permanence of students from the working class in higher education. For this
purpose, specific objectives were defined to identify the social determinations that
challenge the permanence of working students in higher education; describe the
most recent trajectory of the policy of permanence in higher education; identify
the concept of permanence in the scope of higher education, but specifically in
the National Student Assistance Program – PNAES; identify the main actions of
the PNAES for the permanence of students in higher education, with a more
specific look at the role of the social worker in the Student Assistance Program.
We used as a methodological resource the bibliographic survey and documental
analysis and the method of analysis was the dialectical historical materialism,
when investigating reality, from its contradictions and in a perspective of totality.
We found that the PNAES (National Student Assistance Plan) is a fundamental
platform regarding the permanence of the student-worker in higher education,
which aims to propose equal opportunities for all students and cooperates to
improve academic performance , with mechanisms that seek to combat repetition
and dropout, that is, it creates strategies for the permanence of students in higher
education.

Key words: Student-workers, higher education, permanence policy, PNAES.


LISTA DE SIGLAS

ANDIFES - Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de


Ensino.

CEP - Código de Ética Profissional.

FONAPRACE - Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e


Estudantis.

IFES – Instituições Federais de Ensino Superior.

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

MEC - Ministério da Educação.

PNAES - Plano Nacional de Assistência Estudantil.

PNE - Plano Nacional de Educação

PPA - Plano Plurianual

PROUNI - Programa de Universidade para Todos.

REUNI - Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das


Universidades Federais.

SENCE - Secretaria Nacional de Casas de Estudantes.

UNE - União Nacional dos Estudantes.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................9

CAPÍTULO I - POLÍTICA SOCIAL DE EDUCAÇÃO E AS RELAÇÕES


SOCIAIS CAPITALISTAS.................................................................................14
1.1 A educação enquanto dimensão da vida social e enquanto política
pública...............................................................................................................15
1.2 O Estado capitalista e sua relação com a política de educação.................18
1.3 A política de Educação no Brasil sob a perspectiva do Serviço Social.......21

CAPÍTULO II - A EDUCAÇÃO SUPERIOR: as políticas de expansão e


permanência no Brasil...............................................................................................23

CAPÍTULO III - ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO ENSINO SUPERIOR:


Implementação e perspectiva de direito.......................................................33
3.1. Assistência Estudantil e o Serviço Social……………………………….......39

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................43

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................................44

ANEXOS...........................................................................................................47
9

INTRODUÇÃO

Na atualidade os estudantes-trabalhadores têm vivenciado um processo


árduo, no que diz respeito à sua permanência no ensino superior, onde os
mesmos buscam uma forma para se manter no curso e quando não conseguem
um apoio institucional acabam por engrossar as fileiras da evasão.
Neste projeto de pesquisa pretendemos explicitar os principais desafios
que os estudantes oriundos da classe trabalhadora encontram para permanecer
no ensino superior diante do contexto atual, caracterizada pelo alto índice de
desemprego e trabalho precarizados.
Abordaremos a luta pelo direito às políticas de acesso e permanência no
ensino superior e enfocaremos as legislações que passaram a atentar para a
igualdade de oportunidades na permanência e conclusão com êxito dos jovens
que ingressam no ensino superior público no processo de alternância de
governos neoliberais e sociais democratas.
Outrossim, destacamos os principais atores e sujeitos na implementação
de uma política de permanência na educação brasileira e, nesse ínterim,
evidenciaremos a atuação do Serviço Social na Política de Assistência Estudantil
no Ensino Superior.
Para isto adotamos como metodologia a pesquisa bibliográfica e pesquisa
documental. O método de análise foi o materialismo histórico dialético, ao
investigarmos a realidade, a partir de suas contradições e numa perspectiva de
totalidade.
A política de educação é imprescindível para o enfrentamento das
contradições que estão impregnadas na sociedade capitalista pelas classes
sociais e pelo Estado, que são geradas ações em resposta às múltiplas
expressões da questão social.

A educação organizada sob a forma de política pública se constituiu


em uma das práticas sociais mais amplamente disseminadas de
internalização dos valores hegemônicos na sociedade capitalista. A
partir das lutas sociais, em especial da classe trabalhadora pelo
reconhecimento de seus direitos sociais, tornou-se também condição
importante nos processos de produção de uma consciência própria,
autônoma, por parte desta própria classe e de suas frações. Um
território disputado pelas classes sociais fundamentais, cujas lutas se
expressam em diferentes contornos e processos que a política
educacional assumiu ao longo da história. Deste modo, compreender
a trajetória da política educacional é um esforço que requer mais do
10

que o resgate de uma história marcada por legislações e mudanças


institucionais intestinas, mas de suas relações com a dinâmica e as
crises da sociedade do capital, a partir de sua singular inscrição nos
processos de estabelecimento de consensos e de reprodução da força
de trabalho na realidade brasileira (ALMEIDA, 2011, p. 12)

A educação é um dos meios principais para se alcançar um aumento


intelectual, social, financeiro e entre outros fatores para a melhora do futuro.
Existem muitos alunos que se esforçam para obter uma formação de qualidade
de qualidade, visando uma melhor condição não só para si mesmo, mas para
toda a sua família. Na atualidade a educação é vista como uma via que possibilita
uma mudança de vida para muitas pessoas. Boa parte destes estudantes são
trabalhadores que frequentam os cursos no período noturno, porque durante o
dia fazem determinadas atividades laborais, ou seja, trabalham para obter seu
sustento e muitas vezes de toda a família.
Conforme MELO:

A vida acadêmica exige do aluno muita dedicação e para quem estuda


e trabalha é mais complicado, pois o tempo para se dedicar as
atividades pedidas no curso nem sempre é o suficiente. Se dividir entre
trabalho e estudo é uma tarefa bastante difícil. Mesmo porque a vida
acadêmica vai exigir do aluno, muitas leituras além, claro, de vários
momentos em que terá que se deslocar para a universidade fora do
seu horário habitual. (MELO, 2019, p. 25)

No que concerne a relação educação, trabalho e juventude é importante


enfatizar que a maior parte dos jovens brasileiros têm os direitos à educação e
trabalho violados, sobretudo quando se trata de jovens da classe trabalhadora.
A juventude brasileira enfrenta grandes impactos na entrada no mercado de
trabalho e no seu desenvolvimento profissional. Neste sentido é possível
observar porcentagem de jovens que não conseguem ter acesso à educação e
que, consequentemente, não acessam trabalhos formais com direitos.
Restando-lhes a informalidade e/ou trabalho precário ou as filas de
desempregados e desalento.
A baixa qualidade de emprego dos jovens que se associa a um sistema
educacional em grande escala incapaz de atender às suas necessidades, ajuda
a entender a crescente extensão daqueles que não trabalham e não estudam.
11

A evasão escolar, que é um dos mais graves problemas da educação


brasileira, gera ainda mais consequências negativas para a trajetória de vida dos
jovens.

A evasão escolar é um problema crônico em todo o Brasil, sendo


muitas vezes passivamente assimilada e tolerada por escolas e
sistemas de ensino, que chegam ao exercício de expedientes
maquiadores ao admitirem a matrícula de um número mais elevado de
alunos por turma do que o adequado, já contando com a ‘desistência’
de muitos ao longo do período letivo. Que pese a propaganda oficial
sempre alardear um número expressivo de matrículas a cada início de
ano letivo, em alguns casos chegando próximo aos 100% (cem por
cento) do total de crianças e adolescentes em idade escolar, de
antemão já se sabe que destes, uma significativa parcela não irá
concluir seus estudos naquele período, em prejuízo direto à sua
formação e, é claro, à sua vida, na medida em que os coloca em
posição de desvantagem face os demais que não apresentam
defasagem idade-série (DIGIÁCOMO, 2016, p. 1)

O que chama a atenção é o número de alunos que abandona a escola


básica, mas isso também atinge todos os níveis de ensino. É um fenômeno que
causa prejuízos no campo educativo. Pelo insucesso escolar e pelos baixos
rendimentos, constitui uma preocupação constante, pois para o Ministério da
Educação - MEC “o maior desafio dessa escola é garantir condições para que o
aluno possa aprender” (DOURADOS, 2005, p. 20).
Precisamente falando do estudante-trabalhador no ensino superior, com
tantos desafios para a sua permanência nos cursos, é de grande valia analisar
para assistir ao público cuja família mostra dificuldades para mantê-los por conta
própria nas instituições de ensino, assim como necessitam que os mesmos
trabalhem, seja no mercado formal ou na informalidade.
Neste sentido, iremos investigar os mecanismos do Estado para subsidiar
estes estudantes e suas famílias. Assim, analisaremos o PNAES (Plano
Nacional de Assistência Estudantil) e as linhas de ação que o mesmo possui,
que trata especificamente da permanência dos estudantes no ensino superior. O
PNAES oferece possibilidades de atendimento das necessidades estudantis, tais
como: a moradia, o transporte, à alimentação, à saúde, o acesso à tecnologia,
cultura, esporte, creche, apoio pedagógico e entre outros fatores, como distribuir
o acesso à participação e aprendizagem para estudantes portadores de
deficiência. As ações são cumpridas pela própria instituição de ensino, que deve
12

acompanhar e avaliar o desenvolvimento do programa, visando a permanência


do estudante no curso superior.
É necessário ter políticas que possam promover a qualificação e o início
adequado da carreira dos jovens. Vale ressaltar alguns desafios que a juventude
atualmente enfrenta, principalmente os que cursam o ensino superior. Os gastos
financeiros com passagem, alimentação, material didático com são despesas de
quem precisa trabalhar e estudar ao mesmo tempo para os alunos da iniciativa
privada ainda há o agravante do pagamento de mensalidades, além de,
dificilmente contarem com assistência estudantil nas faculdades.
Na rede pública, o PNAES foi feito especialmente para atender essas
questões. De acordo do com Art. 1º do decreto de Nº 7.234/2010 diz que:

O Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES, executado


no âmbito do Ministério da Educação, tem como finalidade ampliar as
condições de permanência dos jovens na educação superior pública
federal.

Além das condições de manutenção, o processo ensino-aprendizagem é


desafiador para estes estudantes. Para muitos jovens é extremamente difícil ter
uma jornada dupla e extenuante e ter uma rotina organizada, conseguir ter um
período livre para fazer atividades do curso escolhido e evitar o cansaço físico e
mental. São, assim, os principais impactos para precisa trabalhar e estudar de
forma simultânea. Devido à intensidade dessa jornada dupla, muitas pessoas
acabam desistindo do sonho de ter uma formação superior em sua vida.

Estudar e trabalhar não é novidade em um país onde a renda per capta


não alcança três salários mínimos e o acesso ao ensino superior é
realidade para poucos. O nó da questão é justamente em que
condições reais este acesso, permanência e conclusão se efetivam
para aqueles que trabalham e estudam. O grande desafio é saber se
trabalhar e estudar é uma conquista, um benefício ou uma falácia
(MESQUITA, 2010, p. 17).

Segundo Mesquita (2010, p. 168) um dos maiores obstáculos na formação


dos estudantes trabalhadores é a falta de recursos materiais e,
consequentemente, a falta de tempo para se dedicarem aos estudos. Tal
escassez impede que façam seus cursos com qualidade. O que se reflete nos
baixos índices da educação superior brasileira nas avaliações internacionais.
13

É necessário em algumas situações a importância de determinados


programas a serem inseridos, visando a permanência desses estudantes no
ensino superior e atentando para as condições, para que sejam estabelecidas
ações cabíveis de uma vivência plena, ou seja, voltada para o bem coletivo dos
mesmos.
Sendo assim, no primeiro capítulo será explicitado sobre a política social
de educação frente ao prisma capitalista que é o objeto central na dinâmica da
reprodução social, ou seja, são orientadas pelas proposições capitalistas que
consideram o mercado o eixo das relações sociais. Portanto as políticas sociais
de educação no campo capitalista é um instrumento para a produção e
reprodução social e a valorização do capital, gerando contradições.
No segundo capítulo abordará sobre a educação superior no Brasil,
trazendo um resgaste histórico sobre a origem da educação superior no final do
século XX e o início do século XXI, voltado para a criação das primeiras
universidades brasileiras, visando precisamente as políticas de expansão e
permanência dos estudantes.
No terceiro capítulo será abordado sobre a implementação da assistência
estudantil no ensino superior, e que isto é uma perspectiva de direito do
estudante, no que tange o PNAES que é um mecanismo fundamental para a
permanência dos próprios estudantes na universidade. Sendo assim, se faz
necessário refletir sobre as políticas de educação superior voltados para a
garantia de permanência, e que possibilitem a todos os estudantes condições
favoráveis durante o seu desenvolvimento acadêmico.
14

CAPÍTULO I - POLÍTICA SOCIAL DE EDUCAÇÃO E AS RELAÇÕES SOCIAIS


CAPITALISTAS

Abordar a problemática do estudante-trabalhador e sua permanência no


ensino superior na atualidade é um assunto complexo, mas que deve ser
pautado no âmbito da sociedade, visto que é um assunto de interesse da
sociedade como um todo. Contudo, primeiramente é muito importante explicitar
a concepção de educação que perpassa nossa análise.
A educação é uma das dimensões da vida social, que tem uma função
importantíssima na dinâmica da reprodução social nas formas de transformação
da natureza e do homem a partir do trabalho, ou seja, faz parte da contradição
entre os que produzem a riqueza social e aqueles que exploram a força de
trabalho e se apropriam de toda a riqueza produzida.
A política social são políticas públicas focadas ao bem-estar geral da
população, mas com um caráter distributivo, voltadas às pessoas mais
vulneráveis, de camadas de menor renda na sociedade, numa situação de
pobreza ou de uma extrema pobreza, visando a economia, a eliminação da
pobreza, a redução da desigualdade econômica e a redistribuição de riqueza e
renda. Contudo, na sociedade do capital a política social está permeada de
contradições.

As políticas sociais situam-se no centro das contradições entre capital


e trabalho, onde a intervenção do Estado sobre as expressões da
“questão social” amplia-se a partir da luta da classe trabalhadora por
melhores condições de vida e de trabalho, quando esta luta passou a
ser considerada uma ameaça à ordem capitalista estabelecida.
Portanto, as políticas sociais desenvolvem-se sob a organização do
Estado capitalista, visando a manutenção das relações sociais
produzidas e reproduzidas nesta sociedade (BEHRING; BOSCHETTI,
2011, APUD BAVARESCO, MARTINS, p. 1)

As políticas sociais surgem durante o processo capitalista, a mesma


apareceu no intuito de responder a algumas demandas da população, onde a
sociedade e o Estado se uniram para dar respaldo a essas solicitações no
período pré-capitalista. As política sociais aparecem como uma forma de
enfrentamento sobre a questão social, e pode ser entendida como uma
15

ampliação dos direitos da classe trabalhadora, ao mesmo tempo é um


instrumento que atende as demandas do capitalismo.

1.1 - A educação enquanto dimensão da vida social e enquanto política


pública

“O trabalho do pobre é a mina do rico”, na sociedade do capital a classe


trabalhadora estará abaixo da classe burguesa. O processo de empobrecimento
da classe trabalhadora vem da ação do próprio processo de produção do capital.

O capital, enquanto relação social, subordina o metabolismo do ser


humano com a natureza aos interesses de uma classe, aquela que
exerce o domínio sobre a classe produtora da riqueza social,
convertendo o trabalho em meio de dominação e exploração. O
sistema de metabolismo social do capital se expande na exata medida
em que converte o trabalho em uma mercadoria, produzindo novas
formas de sociabilidade, fundadas na desigualdade entre as classes
sociais, na subsunção real do trabalho ao capital e na extensão da
lógica da produção da mercadoria para as demais dimensões da vida
social, ou seja, produzindo e reproduzindo as condições necessárias
ao processo de acumulação incessante do capital. (MÉSZÁROS, 2002,
APUD ALMEIDA, 2011, p. 17).

Existe uma grande necessidade de acumulação do capital elevada ao


crescimento da força de trabalho ou do número trabalhadores. Contudo, a
procura da força de trabalho será maior que a oferta, o que visaria o
rebaixamento dos salários.

A força de trabalho tem de incorporar-se continuamente ao capital


como meio de expandi-lo; não pode livrar-se dele. Sua escravidão ao
capital se dissimula apenas com a mudança dos capitalistas a que se
vende, e sua reprodução constitui, na realidade, um fator de
reprodução do próprio capital. Acumular capital é, portanto, aumentar
o proletariado. (MARX, 2014, p 724-725)

Subtende-se que na lógica capitalista, o trabalho do pobre deve ser


indispensável para a exploração de riqueza em um ou mais determinados
territórios. O sistema capitalista se sustenta a partir de um amplo processo de
alienação, a qual coloca as relações sociais antagônicas, ao se apresentarem
de forma extensa, como relações de troca, orientadas pelo mercado. Isto
funciona da seguinte forma:
16

Esta inversão alienante se estrutura a partir de um modo de produção


que converte o/a trabalhador/a e o seu trabalho em coisas que
contenham valor de troca. As bases de aceitação e manutenção deste
modo de organização da vida social só é possível a partir da
reprodução de mediações alienantes, nas quais as instituições formais
de educação cumprem uma função decisiva, mas que de forma alguma
lhe é exclusiva ou se efetiva isoladamente das demais dimensões da
vida social. (ALMEIDA, 2011, p. 17-18)

Nesta perspectiva, fica bastante claro que a educação formal não é a força
ideologicamente primária que consolida o sistema do capital; tampouco ela é
capaz de, por si só, fornecer uma alternativa emancipadora radical. Uma das
funções principais da educação formal nas nossas sociedades é produzir tanta
conformidade ou “consenso” quanto for capaz, a partir de dentro e por meio dos
seus próprios limites institucionalizados e legalmente sancionados. Esperar da
sociedade mercantilizada uma sanção ativa – ou mesmo mera tolerância – de
um mandato que estimule as instituições de educação formal a abraçar
plenamente a grande tarefa histórica de nosso tempo, ou seja, a tarefa de romper
a lógica do capital no interesse da sobrevivência humana, seria um milagre
monumental. É por isso que, também no âmbito educacional, as soluções “não
podem ser formais; elas devem ser essenciais”. Em outras palavras, elas devem
abarcar a totalidade das práticas educacionais da sociedade estabelecida.
(MÉSZÁROS, 2002, p. 45)
Portanto a educação, como a dimensão da vida social, encerra as
contradições que distinguem a vida social. A educação, sob a lógica do capital,
converte-se em um conjunto de práticas sociais que cooperam para impregnar a
reprodução ampliada desse sistema, sendo assim, a partir desse ponto de vista,
se instaura modalidades de construção histórica de uma educação
emancipadora que depende de um grande processo de generalização do
trabalho e da educação como atividade humana autorrealizadora. (ALMEIDA,
2011, p. 18-19)
Se faz necessário primeiramente ter uma determinada tarefa histórica
realizada por agentes políticos e construir formas cabais os processos de
consenso mediante a ação política que produzam uma influência que atravesse
todos os domínios na vida social para que seja estabelecido o modo de vida dos
indivíduos na sociedade, sem falar das instituições educacionais e entre outras.
17

A educação tem caráter emancipador e ao mesmo tempo não se dispensa da


educação escolarizada e não se limita a mesma.
Sobre a política de educação, segundo ALMEIDA (2011) ele explicita:

A Política de Educação resulta de formas historicamente determinadas


de enfrentamento das contradições que particularizam a sociedade
capitalista pelas classes sociais e pelo Estado, conformam ações
institucionalizadas em resposta ao acirramento da questão social. Ela
constitui uma estratégia de intervenção do Estado, a partir da qual o
capital procura assegurar as condições necessárias à sua reprodução,
mas também resulta da luta política da classe trabalhadora em dar
direção aos seus processos de formação, convertendo-se em um
campo de embates de projetos educacionais distintos, em processos
contraditórios de negação e reconhecimento de direitos sociais. A
trajetória da política educacional no Brasil evidencia como as
desigualdades sociais são reproduzidas a partir dos processos que
restringiram, expulsaram e hoje buscam “incluir” na educação
escolarizada largos contingentes da classe trabalhadora.

Dar-se a entender que a política de educação diante desse fenômeno é


uma plataforma para a linha de frente diante da ótica capitalista, a qual, se insere
as múltiplas expressões da questão social.

As manifestações concretas e imediatas da questão social tem como


contraface a lei geral da acumulação capitalista desenvolvida por Marx
em O capital. Ou seja, as principais manifestações da “questão social”
– a pauperização, a exclusão, as desigualdades sociais – são
decorrentes das contradições inerentes ao sistema capitalista, cujos
traços particulares vão depender das características históricas da
formação econômica e de cada país e/ou região. (PASTORINI, 2007,
p. 97).

É observado então, o caráter contraditório da educação e sua relação com


a questão social, ou seja, ao mesmo tempo tem junção de contenção e
reprodução do capital. Assim, a educação em algumas situações representa
também uma ameaça, o capital a usa, estabelece meios políticos para a sua
expropriação.
18

1.2 - O Estado capitalista e sua relação com a política de educação

Pensar sobre o Estado capitalista é compreendê-lo numa relação que se


expressa através das dimensões político-jurídica e econômica, o mesmo tem
uma concepção de produção e com o campo da luta de classes. O Estado
capitalista cria formas que geram contradições do modo de produção capitalista
e a dominação de classe, contudo emerge determinada característica, ou seja,
a autonomia do Estado em relação ao econômico.
As políticas sociais surgiram e se implementaram de forma diferente entre
os países, dependo dos movimentos de organização, do grau de
desenvolvimento das forças produtivas e da pressão da classe trabalhadora. As
políticas sociais eram vistas como uma forma padrão para o Estado capitalista
para manter a ordem vigente.
O Estado muitas das vezes visivelmente encontra-se ao lado da classe
trabalhadora, mas ao mesmo tempo está ao lado do prisma capitalista, ou seja,
existe um processo de contradição. O Estado é usado como instrumento de
dominação da sociedade, no entanto pode-se entender que nos países
capitalistas desenvolvidos, o Estado, historicamente, organizou-se baseado nas
concepções (Neo)liberal ou de Bem-Estar Social.
Com a crise econômica e social de 1929, houve uma onda de
desempregos em massa e a redução da produção e do consumo. Dentro do
pensamento de Keynes1, após a segunda guerra mundial, com propostas de
redistribuição de renda foi implantado o Estado de Bem-Estar Social. O Estado
entrou em cena dando uma nova face à ótica capitalista e passou a interferir
mais no mercado oferecendo políticas públicas e programas de assistência
social e distribuições de renda no intuito de aumentar o poder aquisitivo e
tornando mais eficaz a produção.
O Estado de Bem-Estar passou a defender a necessidade das ações do
Estado no funcionamento do negócio, visando melhorias no oferecimento da

1
John Maynard Keynes foi um economista inglês da primeira metade do século XX. Foi o
fundador da Escola Econômica Keynesiana e um respeitável especialista de Macroeconomia e
Probabilidade. É considerado um dos economistas mais influentes do século XX.
19

educação, saúde, habitação, transporte, trabalho, para que pudessem


compensar os impactos provindos do mercado.

[…] se o Estado se reserva o poder de regular tais políticas, orienta-se


também no sentido de favorecer a participação da iniciativa privada na
área da prestação de serviços sociais, como campo de investimento
do capital ou meio de obtenção de vantagens fiscais, fazendo com que
a qualidade dos serviços seja subordinada aos requisitos de
rentabilidade das empresas que atuam no campo. Soma-se a isso uma
outra particularidade: esses serviços devem ser financiados, total ou
parcialmente, pelos próprios beneficiários. Da lógica que preside a
estruturação dos serviços sociais, não faz parte qualquer componente
distributivista. Ao contrário, não se trata de distribuir, mas de construir,
de acrescentar o capital investido, ampliando consequentemente as
desigualdades sociais. (IAMAMOTO 1995, p. 83-84).

O neoliberalismo é formado por uma atualização das ideias do liberalismo


e interpreta que a maioria dos problemas econômicos, que atingiram os países
nas décadas de 1970 e 1980, foi resultado da intervenção do Estado na
economia. O crescimento econômico nesses anos que vinha ocorrendo desde a
II Guerra Mundial teve forte diminuição nos países mais desenvolvidos, e a
elevação dos preços do petróleo em 1973 e em 1981 fez com que viesse a crise.
No fim da década de 80, as propostas neoliberais ficaram mais fortes, houve a
queda dos regimes políticos dos países do leste da Europa onde se praticava
um planejamento estatal que se auto declarava socialista.
A política neoliberal declara que o mercado funciona melhor sem o
movimento do controle estatal, ou seja, automaticamente quando o
neoliberalismo tenta penetrar no acúmulo ou nas políticas sociais o Estado entra
em cena fazendo alterações na lei natural do mercado, a qual regula a si mesmo
com maior eficácia.
Através de tudo isso, as propostas neoliberais abarcam a privatização de
empresas e serviços estatais, a liberalização da economia com a eliminação das
taxas e cotas de importação; extinção da maioria das regulamentações e
subsídios; livre circulação do capital e serviços, a redução ou eliminação das
políticas sociais compensatórias, ou seja, os programas de previdência social
pública, seguro desemprego, habitação, assistência social, restrições ao direito
de atendimento básico à saúde e à educação. O Estado se limitaria em
perpassar o atendimento básico de saúde e o ensino fundamental obrigatório e
no Brasil visam o término do ensino gratuito nas universidades.
20

Com relação às políticas sociais, observamos que existe uma ideia de


focalização e mercadorização, onde tem gerado a negação da garantia de
direitos sociais, já que o Estado tem se mostrado em algumas situações de forma
mínima na intervenção das expressões da questão social.
As políticas sociais resultam das contradições entre Estado e Sociedade
Civil e das lutas de classe fomentada no processo de produção e reprodução do
capital.

Não se pode precisar com exatidão o surgimento das políticas sociais


no contexto da história das relações sociais e do capitalismo. Pode-se
ter uma ideia de sua maior visibilidade a partir da confluência da
aceleração da produção capitalista, das lutas da classe trabalhadora e
do desenvolvimento da intervenção do Estado nas expressões da
questão social. Veremos que sua configuração mais generalizada se
associa ao período que se situa na passagem do capitalismo
concorrencial para o monopolista, após o fim da 2ª Guerra Mundial.
(BEHRING E BOSCHETTI, 2008, APUD SOARES, 2013, p. 43).

Para entendermos melhor sobre as políticas sociais em sua totalidade é


necessário compreender as resoluções econômicas e históricas do
desenvolvimento capitalista, o seu acúmulo, a regulação do Estado e as lutas de
classe. A política social em alguns casos torna-se um agente específico do
capital, inserindo a educação como ponto estratégico para a sua acumulação.
21

1.3 - A política de Educação no Brasil sob a perspectiva do Serviço Social

Para explicitar sobre a política de educação na visão do Serviço Social é


imprescindível primeiro entendermos o posicionamento da categoria profissional.

O serviço social é reconhecido como um tipo de especialização do


trabalho coletivo, profissão inscrita na divisão social e técnica do
trabalho, intervindo no âmbito da produção e reprodução da vida social.
A produção e a reprodução das relações sociais relacionam-se à
construção da materialidade e da subjetividade das classes que vivem
do trabalho, portanto também “formas de pensar, isto é, formas de
consciência, por meio das quais se apreende a vida social” (Marx,
1974, p.27)

A educação na visão de Gramsci2, deveria ser conduzida muito além do


conhecimento das ciências e das técnicas produtivas, com intuito de abrir portas
para a reflexão crítica do indivíduo a respeito das forças sociais que os envolvem,
ou seja, a educação seria a peça chave para o indivíduo exercer a sua cidadania
participando de um corpo social provendo sua necessidade junto com toda a
sociedade.

O pensamento gramsciano é estruturado no princípio de que as


condições de existência do homem em sociedade são determinadas
por uma série de fatores históricos, políticos e econômicos que
estabelecem complexas relações sociais. Em meio a essas relações,
possivelmente a mais importante é a dinâmica sociedade civil e
sociedade política, por reverberar tão fortemente em todos os níveis da
vida em sociedade. Por isso, esclarecer o exercício de direitos e
deveres, polos basilares do conceito de cidadania, deve, de acordo
com o pensamento gramsciano, passar inevitavelmente pelo contexto
educacional. (MARTINS, 2012, p, 78)

A Constituição Federal de 1988 enfatiza no artigo 208, nos parágrafos 1


e 2, que a educação é um direito subjetivo, contudo a sociedade tem direito de
ir até o Estado e requerer a prestação desse dever.

Essa importante mudança de paradigma jurídico, isto é, a educação


reconhecida constitucionalmente como direito social, aponta para a
contribuição que o serviço social pode oferecer nessa política social,
considerando que a profissão tem a luta pelos direitos sociais e

2
Antonio Gramsci (1891-1937) foi um ativista político, jornalista e intelectual italiano, um dos
fundadores do Partido Comunista da Itália.
22

ampliação e consolidação da cidadania como um de seus princípios


estabelecidos em seu projeto ético-político profissional. (MARTINS,
2012, p. 89)

A política de educação brasileira, sintonizada com a política econômica,


sofre reflexos na concepção neoliberal, ou seja, a educação se torna valiosa
diante do sistema capitalista, nos processos de reestruturação produtiva, no
desenvolvimento da economia e para a inserção de grande parte da força de
trabalho.
Esta perspectiva de educação terá mais intensidade nas instituições
educacionais, ou seja, o Serviço Social como profissão será uma alternativa, a
qual, tem um posicionamento construtivo.

[...] perspectiva teórico-metodológica e ético-política, que colocando


referências concretas para a ação profissional, possibilite a
reconstrução permanente do movimento da realidade objeto da ação
profissional, como expressão da totalidade social, gerando condições
para um exercício profissional consciente, crítico, criativo e politizante,
que só pode ser empreendido na relação da unidade entre teoria e
prática. (VASCONCELOS, 2002, p.27)

A profissão em si se fundamenta sob um projeto ético-político que informa


a perspectiva da sua prática regulamentada em seu Código de Ética profissional
de 1993. Portanto, a direção social que o assistente social faculta ao seu trabalho
vai definir a perspectiva educativa que irá perpassar nas ações desenvolvidas
no âmbito da educação.
23

CAPÍTULO II - A EDUCAÇÃO SUPERIOR: as políticas de expansão e


permanência no Brasil

Falar sobre a educação superior no Brasil é uma tarefa muito complexa


devido à diversidade de sua estrutura e organização, contudo é muito importante
voltarmos um pouco no tempo para entendermos melhor sobre o surgimento da
educação superior no Brasil.

A educação superior no Brasil não pode ser discutida sem que se tenha
presente o cenário e o contexto em que ela surge, ou seja, deve-se ter
presente o tempo e o espaço em que ela está inserida, analisando
desde o momento de seu surgimento até a realidade atual da
educação, tanto no panorama local, regional como mundial.
(STALLIVIERI, 2006, p. 2).

As primeiras universidades do Brasil foram criadas após a transferência


da corte portuguesa para o Brasil no ano de 1808 com a chegada de D. João VI.
Ao iniciar seu reinado no Brasil, criou uma escola superior na área de medicina,
e outra de técnicas agrícolas. As universidades têm junção de várias escolas
superiores voltadas à especialização profissional e científica surgiram mais
tarde, apenas no século XX, enquanto na América espanhola elas já estavam
presentes desde o século XVI.
Em 1827, com o Brasil já na independência, foram fundadas as primeiras
faculdades da área de direito, as do Recife e de São Paulo, as quais foram pólos
da intelectualidade do império.
Apenas em 1920 foi criada a Universidade do Rio de Janeiro em 1920,
mas, antes disso acontecer já havia 78 universidades nos Estados Unidos e 20
na América Latina e algumas das universidades mais antigas do continente
americano datam do século XVI.

Diante de um período de autocrítica educacional, marcado pelo voto


livre, pela transformação econômica e pela industrialização, não se
discutia uma possível reconstrução educacional. A resistência em
relação à abertura de universidades no país começou a ser rompida,
nos anos de 1940, com a criação do Ministério de Educação e Saúde,
pelo governo Getúlio Vargas (1930-1945) e do Estatuto das
Universidades Brasileiras, vigente até 1961. A universidade, nesse
contexto, tornou-se interessante para ressaltar o discurso
desenvolvimentista, trazido pelo presidente. No mesmo ano, a Lei de
24

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) foi votada, trazendo


aspectos contraditórios, mas que permitiu a estudiosos tirarem dela um
possível reconstrução nacional (MOREIRA; BRISOLA, 2018, p. 51-52)

Nesta realidade, estão presentes as instituições de ensino superior, as


quais compõem um sistema complexo, diverso, que está sempre em mudanças
e expansão, a qual pode aprovar novos documentos que rege a sua própria
reforma universitária. FERNANDES (1989) declara que a hegemonia brasileira
instalada no Brasil fez com que o modelo conservador burguês tivesse ao longo
da história certas dificuldades em propagar reformas educacionais exigidas pelo
próprio sistema capitalista. Para indivíduos que não vivenciaram a revolução
burguesa clássica, a concepção de revolução educacional significou um conjunto
de avanços relativos.

Desde a gênese da educação superior, um elemento político é


constitutivo do dilema educacional brasileiro: a necessidade de
expansão da educação. Esta necessidade, entretanto, caracterizou-se
pela marca de um intocável privilégio social, cuja expansão começava
e terminava nas fronteiras das camadas dominantes. (LIMA, 2013, p.
15)

A burguesia brasileira teve a ideia de acelerar o crescimento econômico,


nos marcos da raiz conservadora, onde se teve a ideia do “milagre econômico”,
e de outra forma ampliava o acesso modernizando a educação, que de acordo
com a ideia de Florestan era o “milagre educacional”.

No momento atual, no qual a contra-revolução e a ditadura se


confrontam com uma resistência mais forte e mais decidida, pode-se
dizer que houve um “milagre educacional” e, indo mais longe que ele
seguiu de perto as ilusões e as confrontações do “milagre econômico”
(FERNANDES, 1989, p. 15)

No Brasil houve um determinado impacto da revolução burguesa:

A revolução burguesa no Brasil, além de ter ocorrido de forma tardia,


foi marcada por uma disputa entre frações da classe dominante, a
oligarquia agrária e a burguesia industrial. Diferentemente do modelo
clássico jacobino, aqui não houve uma ruptura radical entre as frações
de classe, mas uma conciliação de interesses. Consiste, para o autor,
em um fenômeno de caráter essencialmente político, “[...]
25

de criação, consolidação e preservação de estruturas de poder


predominantemente políticas, submetidas ao controle da burguesia ou
por ela controláveis em quaisquer circunstâncias” (FERNANDES,
2006, p. 343).

A reforma universitária da ditadura militar (às vezes chamada também de


reforma universitária de 1968) se trata de uma série de leis que modificaram o
ensino superior no Brasil nas décadas de 1960 e 1970, incluindo como medidas,
dentre outras, a substituição do sistema de cátedras pelo de departamentos,
institutos e centros, e a desintegração das Faculdades de Filosofia, Ciências e
Letras.
No final dos anos 60, o direito à educação havia se tornado um dos
constitucionais do cidadão brasileiro e o acesso à escola secundária foi possível
a partir da Lei 5.692/71, (Lei da Reforma de Ensino de 1º e 2º Graus) que fez a
junção, os antigos primário e secundário em uma escola fundamental de 8 anos.
A reforma universitária de 1968 aboliu o antigo sistema de cátedra, que
dificultava o funcionamento das universidades na maioria dos países latinos, foi
aberto espaços para a criação de programas de pós-graduação, pesquisa
científica e para a contratação de professores em regime de tempo integral. A
reforma educacional no ano de 1968, com parceria de certos setores
governamentais com relação ao desenvolvimento da ciência e tecnologia,
permitiu que a educação brasileira desenvolvesse o maior sistema de pós-
graduação e pesquisa científica entre os países em desenvolvimento.
Durante a ditadura foram implantadas as reformas de ensino através das
Leis Nº 5.540/68 (Lei da Reforma Universitária) e nº 5.692/71 (Lei da Reforma
de Ensino de 1º e 2º Graus) a qual foi mencionado anteriormente e os decretos
complementares. Dentro da visão funcionalista advindas pelos técnicos da
ditadura para a questão educacional, passaram a ser adotados os princípios
empresarias para o projeto de modernização do ensino. Buscavam aplicar a
ideologia das empresas privadas, embasadas nos preceitos de produtividade e
racionalização dos recursos, às instituições de ensino. Estas reformas foram
feitas de forma autoritária, sem a participação dos demais setores da sociedade,
e procuraram encaixar o sistema educacional brasileiro ao projeto de
desenvolvimento econômico da ditadura”.
26

No que consiste ao sistema de ensino superior, foi predominante até a


década de 70, após esse período seu perfil passou a ter mudanças, já que o
número de matrículas no âmbito privado começou a crescer. As antigas
universidades privadas de natureza confessional ou não lucrativa, foram
somadas em maior número, as instituições criadas pela iniciativa empresarial,
passaram a ter o controle de pequenas instituições isoladas dedicadas
especialmente ao ensino para atendimento da demanda, e cujos padrões de
qualidade eram bastante heterogêneos.
Nos anos 1980 e 1990 a democratização do acesso ao ensino superior foi
vista com muita admiração pelo governo. Houve crescimento entre jovens de 20
a 24 anos sendo matriculados em instituições de ensino superior e a causa da
expansão é o grande número de jovens que concluem o ensino secundário de
uma política de alta performance de melhoria do acesso e do fluxo da população
da escola.
Em meados dos anos 90 o ensino superior no Brasil é marcado pelas
ações neoliberais, essa agenda torna-se em evidência, ou seja, no qual o Estado
brasileiro adota medidas de contrarreforma no ensino superior.
O Estado por sua vez, na década de 90 seguiu a ideologia neoliberal, ou
seja, a proposta neoliberal para o Estado é marcada por uma ideia de
regulação, a da privatização, na eficiência da iniciativa privada e sendo superior
em relação às ações públicas, coletivas. Percebe-se logo de vista que a
educação não está restrita ao terreno pedagógico, ou seja, ela reflete
orientações políticas de governo mas ao mesmo tempo perde o seu caráter de
funções a serem aperfeiçoadas para dar respaldo, sendo instrumento de
controle do Estado.
No âmbito do Planejamento do Estado brasileiro, desde o primeiro Plano
Plurianual (PPA), com vigência no período de 1996 a 1999, consta como meta,
na área de Educação a “[...] extensão aos alunos carentes de oportunidade de
acesso e permanência no ensino superior, através da concessão de ‘crédito
educativo”. (BRASIL, 1996a, p. 13).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) foi de fundamental
importância neste campo de garantias aos mecanismos do ensino superior, ou
seja, a assistência estudantil. Esta plataforma é a legislação que regulamenta o
sistema educacional do Brasil, da educação básica ao ensino superior, onde as
27

duas plataformas de ensino são: (pública ou privada). A LDB é a lei mais


importante do Brasil quando se refere à educação.

A LDB 9394/96 é também chamada de Carta Magna da Educação.


Inspirada e defendida pelo antropólogo Darcy Ribeiro, que conseguiu
manter suas ideias em um texto legal e bem sintetizado, permitindo
uma generalização e flexibilidade e com repercussões políticas.
(FAGUNDES apud NOVO, 2020)

Esta lei foi aprovada em dezembro de 1996 com o número 9394/96, foi
criada para garantir o direito a toda população de ter acesso à educação gratuita
e de qualidade, para valorizar os profissionais da educação, estabelecer o dever
da União, do Estado e dos Municípios com a educação pública.
Essa ideia do Estado sendo regulador e elementos de mercado no
domínio público, explica o aumento abundante do controle sobre as escolas, pela
colocação de currículos e exames nacionais e promoveram a criação de
mecanismos de publicação dos resultados escolares, criando ideologias de
competitividade no sistema educativo.
No Brasil o novo desempenho da função do Estado foi a base no governo
de Fernando Henrique Cardoso implementando um conjunto de reformas
políticas e administrativas, ou seja, a reforma gerencial voltada para um controle
burocrático do poder estatal, visando na administração privada.
Dentro desse novo modelo de administração perante as políticas
educacionais no ramo da ideologia neoliberal existem alguns impactos:

1) Privatização desse nível de ensino, sobretudo em países como o


Brasil, que não conseguiram estabelecer políticas de expansão de
oportunidades educacionais pautadas pela garantia de acesso e
equidade ao ensino fundamental, bem como, pela garantia de um
padrão de qualidade a esse nível de ensino; 2) estímulo à
implementação de novas formas de regulação e gestão das instituições
estatais, que permitem alterações e arranjos jurídico-institucionais,
visando as novas formas de recursos junto à iniciativa privada sob o
argumento de necessária diversificação das fontes de recursos; 3)
aplicação de recursos públicos nas instituições privadas; 4) eliminação
de gastos com políticas compensatórias (moradia, alimentação); 5)
diversificação do ensino superior por meio de incremento à expansão
do número de instituições não universitárias; entre outras. (DOURADO,
2002, p. 241)

Ainda no contexto das políticas neoliberais, no que se refere às políticas


públicas, o Estado vai ceder à iniciativa privada os lugares que ocupava nos
28

setores produtivos e financeiros e nas empresas em que detinha o controle,


assumindo, portanto, funções mais relativas à justiça, aos serviços de segurança
pública e, secundariamente, mantendo os serviços de educação e saúde. Nessa
perspectiva a educação é tida como um conjunto de bens sociais e coletivos, o
qual compete ao Estado prover naturalmente, assumindo uma postura capaz de
agregar e integrar valores à sociedade. (ANDRADE, 2002; AFONSO 2005,
APUD LORDÊLO; DAZZANI, 2009, p. 34).
No ano de 2003 o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou
com as promessas e perspectivas de mais oportunidades para a educação, no
sentido de realizar a expansão das instituições de ensino superior públicas, com
maior acesso da população de baixa renda. Dois programas que se destacaram
nesse governo, relacionado à expansão do ensino superior foi o PROUNI
(Programa Universidade para Todos) e, posteriormente, o REUNI (Programa de
Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais).
Portanto, através destes programas o governo tinha como objetivo atender as
demandas de vagas e matrículas em Instituições de Ensino Superior, tanto
públicas como privadas.
É muito importante ressaltar que a sucessora de Lula, Dilma Rousseff,
participou do grupo que elaborou os assuntos relacionados à área de minas e
energia na plataforma do candidato Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Essa
inserção de Dilma, fez com que ela também agisse ao seu lado nas políticas
educacionais voltadas para o ensino superior.
Os governos Lula e Dilma representaram dentro do período democrático
brasileiro uma significativa mudança em alguns referenciais no que diz respeito
à educação superior e profissional. (MARQUES, 2018, p. 662).
Ainda no ano de 2003, através do governo Lula, a política delineada
envolvia a democratização do acesso e garantia de permanência, qualidade
social da educação e implantação do regime de colaboração e democratização
da gestão, inclusão social e redução das desigualdades regionais. De acordo
com as propostas desse governo, de democratização do acesso ao ensino
superior, o REUNI entrou em ação. Além da questão sobre as políticas de ação
afirmativa, a reserva de vagas, com o objetivo da sua transformação em lei. O
que se observou foi uma diferença no quantitativo oferecido e investido pelo
governo em relação ao patrimônio público e o âmbito privado.
29

Ao longo do governo Lula, se por um lado se retomou certo nível de


investimento nas universidades federais promovendo a expansão de
vagas, a criação de novas instituições e a abertura de novos campi no
âmbito do Programa “REUNI”, por outro lado deu-se continuidade ao
estímulo à iniciativa privada que acelerou o processo de expansão de
vagas e de instituições recebendo alento adicional com o Programa
“Universidade para todos”, o PROUNI, um programa destinado à
compra de vagas em instituições superiores privadas, o que veio a
calhar diante do problema de vagas ociosas enfrentado por várias
dessas instituições. (SAVIANI, 2010, p. 14).

De acordo Saviani (2010), apesar do REUNI ter incentivado a necessária


expansão das instituições de ensino superior públicas com a criação de novos
campi, vagas e reestruturação tanto física como de equipamentos e de pessoal,
devido anos de descaso e sucateamento nos governos anteriores, o governo
Lula manteve as políticas de incentivo ao setor privado com o PROUNI, que
investia dinheiro público em instituições de ensino superior privadas para ocupar
vagas ociosas, e ainda fornecia benefícios fiscais, o que rendeu uma relevante
maior quantidade de matrículas nessas instituições em relação às públicas.
(SAVIANI, 2010, APUD MARQUES, 2018, p. 666).
O PROUNI foi lançado no ano de 2005 no dia 13 de Janeiro com a Lei Nº
11.096, e tinha como finalidade oferecer bolsas de estudo parciais para
estudantes de graduação em instituições de ensino privada para os brasileiros
não portadores de diploma de curso superior, onde a renda a familiar mensal per
capita não excedesse o valor ate é 1 salário mínimo e 1/2.

Art. 1° Fica instituído, sob a gestão do Ministério da Educação, o


Programa Universidade para Todos - PROUNI, destinado à concessão
de bolsas de estudo integrais e bolsas de estudo parciais de 50%
(cinquenta por cento) ou de 25% (vinte e cinco por cento) para
estudantes de cursos de graduação e sequenciais de formação
específica, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem
fins lucrativos (BRASIL, 2005).

Após sua criação, o FIES passou por algumas edições no governo Lula e
Dilma, com as Leis nº 11.552, de 2007, que alterou a Lei de 2001, dando
condições de financiamento também para alunos de mestrado e doutorado
particulares entre outras providências e a Lei nº 12.202 de 2010 que facilitou o
abatimento de saldo devedor aos profissionais do magistério público e médicos
30

dos programas de saúde da família; utilização de débitos com o INSS como


crédito do FIES pelas instituições de ensino. (MARQUES, 2018, p 665).
Na primeira gestão do governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006), a
crítica ao aprofundamento das reformas neoliberais e ao processo de
sucateamento das IFES, e a crítica em torno da inexistência de uma rubrica
específica para a assistência ao estudante universitário (extinta por FHC) que
levou à precarização/extinção de programas assistenciais nas IFES, deram a
tônica aos debates e reivindicações da UNE, SENCE, e FONAPRACE, nos
encontros nacionais e regionais, pela democratização do acesso e permanência
dos jovens na educação superior pública.
O período 2007-2010, segunda gestão do governo Lula, é considerando
um “divisor de águas”, devido à institucionalização da assistência ao estudante
universitário nas IFES brasileiras, cujas ações assistenciais na educação
superior passaram a ser gradativamente incluídas na agenda governamental
com a aprovação do Plano Nacional de Assistência ao Estudante de Graduação
das IFES, pela ANDIFES, e a instituição do Programa Nacional de Assistência
Estudantil – PNAES através da Portaria Normativa nº 39, em 2007,
consolidando-se como programa de governo ao ser sancionado no Decreto
presidencial de nº 7.234 em 2010, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. (LEITE 2015, p. 28-29)
A educação superior no Brasil é marcada pelas relações econômicas,
políticas e ideo-culturais. Surgiram e desenvolveram-se as instituições de Ensino
Superior no Brasil, buscando atender os interesses do mercado que solicitava
profissionais qualificados, ao mesmo tempo que buscava criar a sua própria
identidade enquanto sistema de educação, considerado até hoje uma obra prima
do Brasil Republicano.
Portanto, a expansão da educação superior feita pelo regime capitalista
tendo uma ideia de “milagre educacional” evidenciou a democratização de
acesso, a qual, ao mesmo tempo, ocultava o aumento significativo do setor
privado na área educacional.
No sentido da democratização da educação superior, percebe-se que as
vagas observadas nas universidades federais crescem iniciativas para
incrementar o ingresso da população de baixa renda e de segmentos
31

discriminados. Nesse contexto, cresceu a preocupação com a permanência dos


estudantes, e, por consequência, com a assistência estudantil.
Na primeira década do século XXI a expansão da educação superior no
Brasil se insere no movimento do capital em busca de novos campos de atuação
para o lucro, ou seja, a crise da universidade é imposta pela crise constante do
capital na busca constante pelo lucro, a crise gerada pelas lutas de classes e da
dominação imperialista, onde havia privatizações de setores estratégicos do
país, entre esses o da educação.
A gestão dos recursos financeiros do setor privado de Ensino Superior
são bastante consideráveis, tendo referência como contratos do Fundo de
Financiamento ao Estudante de Ensino Superior (FIES), ou seja, o setor privado
tem o dobro do que o governo federal gasta com as Instituições Federais de
Ensino Superior.

O fenômeno da expansão do sistema privado de educação superior


deve ser analisado com cautela, uma vez que a universidade brasileira
passou por esse forte processo de privatização em decorrência da
ausência de recursos públicos que pudessem financiá-la, o que causou
a deterioração de salários, de equipamentos e de instalações. Como
consequência, ocorreu o aumento da oferta de vagas em universidades
particulares. (STALLIVIERI, 2006, p. 8-9)

A expansão do sistema de ensino superior precisa do setor privado da


educação, ao que corresponde um número muito expressivo de alunos de
graduação. O movimento de expansão foi suportado pelas instituições,
principalmente as privadas, onde o número de alunos cresceu.
O aumento de vagas e as políticas afirmativas na Educação superior, com
certeza aumentou expressivamente de estudantes de graduação, a qual foi
falado anteriormente, mas ao mesmo tempo esses mesmos alunos têm os seus
direitos violados no aspecto da permanência, onde a expressão maior é a evasão
no ensino superior.
A institucionalização da Assistência Estudantil foi um marco dos governos
de Luiz Inácio Lula da Silva. Esta política foi fruto das reivindicações da União
Nacional de Estudantes (UNE); da Secretaria Nacional de Casas de Estudantes
(SENCE) e do o Fórum Nacional de Pró-reitores de Assunto Comunitários e
Estudantis (FONAPRACE).
32

No que diz respeito à consolidação da Assistência Estudantil enquanto


política pública do Estado brasileiro, um estatuto muito importante foi o Programa
Nacional de Assistência Estudantil - PNAES que teve por objetivo aumentar as
condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal.
Segundo Estrada (2013), APUD SANTOS, (2018), o Plano Nacional de
Assistência Estudantil - PNAES foi aprovado em dezembro de 2007 e adotado
em 2008, a partir do repasse de verbas diretamente ao orçamento das
instituições, representando um marco histórico e de importância fundamental
para a assistência estudantil.
No ano de 2010 o PNAES foi institucionalizado pelo Decreto 7.234
assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo Ministro da Educação
Fenando Haddad.

A proposta de implantação do PNAES prevê a articulação das suas


ações com as ações de ensino, pesquisa e extensão das IES federais,
abrangendo as seguintes áreas no que toca à assistência ao
estudante: moradia estudantil; alimentação; transporte; atenção à
saúde; inclusão digital; cultura; esporte; creche; apoio pedagógico; e
acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e
superdotação. (BRASIL, 2010). Há indicação de prioridade aos
estudantes oriundos da rede pública de educação básica e aqueles de
baixa renda. (BRASIL, 2010).

O objetivo geral do PNAES é necessariamente aumentar as


possibilidades de permanência dos alunos no ensino superior público federal,
com intuito de minimizar as desigualdades sociais, dando acesso e condições
de permanência e conclusão no ensino superior, reduzindo as taxas de evasão.

A aprovação do PNAES pode ser considerada um marco na história da


assistência estudantil no Brasil. A sua importância reside em que o
governo federal compromete-se, por lei, com o repasse de recursos às
instituições federais de ensino superior, aliviando-as da
responsabilidade de criar fundos a partir de recursos próprios para
realizar a assistência estudantil, ou seja, esta se materializa como
política pública. (PAULA, 2015, p. 308)

Observa-se que uma boa parte dos estudantes de graduação, muitos


deles são de baixa renda, contudo, dentro das ações do PNAES, existem
mecanismos para esses determinados estudantes, para que sejam
33

observados em prol deles, formas cabíveis para combater o alto índice de


evasão devido aos recursos financeiros.

CAPÍTULO III - ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO ENSINO SUPERIOR:


Implementação e perspectiva de direito

O PNAES é uma plataforma fundamental no campo do ensino superior,


onde ganha forma e expressão, no âmbito do ensino superior público federal, a
assistência ao estudante de graduação, ou seja, não é apenas transversal, mas
orgânica à política de educação superior. De acordo com os art. 205 e o (art.
206, I) da Constituição Federal: a educação é dever do Estado e da família e tem
como princípio a igualdade de acesso e permanência na escola. Fica claro que
este princípio aponta, de forma objetiva, para a assistência ao estudante como
direito.
Segundo ESTRADA (2013), APUD SANTOS, (2018), destaca-se que o
PNAES desenvolve iniciativas nas seguintes áreas: moradia estudantil,
alimentação, transporte, assistência à saúde, inclusão digital, cultura, esporte,
creche, apoio pedagógico e acesso, participação e aprendizagem de estudantes
portadores de necessidades especiais.
Também de acordo com a Carta Magna, a LDB vai afirmar em seu art. 3º
que “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios; I – igualdade
de condições para o acesso e permanência na escola” (BRASIL, 1996).
A inclusão da assistência ao estudante no PNE – Plano Nacional de
Educação, aprovado no dia 10 de Janeiro de 2001, atendendo a demanda do
FONAPRACE, também se evidenciou como uma grande conquista, a partir da
adoção de programas de assistência estudantil. Sendo assim, o PNE tornou-se
um importante avanço no campo da assistência, onde a mesma deixa de ser um
vínculo ao processo de ensino e passa a se englobar na parte da política
educacional.
34

As prioridades de assistência ao estudante também foi contemplada no


REUNI3 (Decreto 6.096, de Abril de 2007), no seu artigo 1º. e no inciso do art. 2º
tem como finalidade:

Art. 1º Fica instituído o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação


e Expansão das Universidades Federais – REUNI, com objetivo de
criar condições para a ampliação do acesso e permanência na
educação superior, no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento
da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades
federais.
Art. 2º O programa terá as seguintes diretrizes, entre outras, V –
ampliação de políticas de inclusão e assistência estudantil. (BRASIL,
2007)

No ano de 2007 a ANDIFES4 aprovou o PNAES, o Plano foi marcado na


primeira versão em 1998, trazendo o seu ponto coercitivo para a definição de
projetos e programas na área da assistência ao estudante universitário. Contudo:

O PNAES se efetivaria por meio de ações de assistência estudantil


vinculados ao desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e
extensão destinadas aos estudantes matriculados em cursos de
graduação presencial das Universidades Federais [...] foi então
adotado e lançado pela ANDIFES em agosto de 2007, como busca de
solução dos problemas relativos à permanência e à conclusão de curso
por parte dos estudantes em vulnerabilidade socioeconômica das
universidades Federais, por meio da articulação de ações assistenciais
na perspectiva de inclusão social, de melhoria do desempenho
acadêmico e de qualidade de vida (FONAPRACE, 2011, p. 11).

No entanto, foi acrescentado ainda, recursos extraorçamentários da


matriz orçamentária anual do MEC, atribuída às IFES, especialmente para a
assistência estudantil. O Plano Nacional apresenta metas de implantação do
Plano Nacional de Assistência Estudantil em 2007 e houve a criação de um
Fundo para Assistência Estudantil, onde os recursos destinados seriam
adicionados aos já aplicados e que geralmente eram insuficientes. Os recursos,

3
REUNI (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) que tem como principal
objetivo ampliar o acesso e a permanência na educação superior. A meta é dobrar o número de
alunos nos cursos de graduação em dez anos, a partir de 2008, e permitir o ingresso de 680 mil
alunos a mais nos cursos de graduação.

41
ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior)
foi criado em 2003 a partir de um convênio entre as Instituições Federais de Ensino Superior
(IFES), visando regular a relação de reciprocidade quanto à mobilidade acadêmica de alunos de
graduação.
35

conforme o Plano Nacional, seriam redirecionados para os programas e projetos


nas seguintes áreas: permanência, desempenho acadêmico, cultura, esporte,
lazer, orientação profissional de como se reportar ao mercado de trabalho e entre
outros.
Um dos objetivos visados pelo FONAPRACE no ano de 2007, foi muito
claro no Plano Nacional, foi a criação de condições de permanência para os
estudantes de baixa renda nas universidades, objetivando a redução dos efeitos
das desigualdades dentro da IFES.
Ficou certo que de acordo com o Fórum, a igualdade de oportunidades
facilitaria a permanência e o êxito do estudante de graduação em situação de
vulnerabilidade social.

A busca pela redução das desigualdades socioeconômicas faz parte


do processo de democratização da universidade e da própria
sociedade. Esse não se pode efetivar apenas no acesso à educação
superior gratuita. Torna-se necessária a criação de mecanismos que
viabilizem a permanência e a conclusão do curso dos que nela
ingressam, reduzindo os efeitos das desigualdades apresentadas por
um conjunto de estudantes provenientes de segmentos sociais cada
vez mais pauperizados e que apresentam dificuldades concretas de
prosseguirem sua vida acadêmica com sucesso. (ANDIFES, 2007, p.
4).

Segundo o artigo 4º, parágrafo único, da Lei Nº 7.234, tais ações devem
“considerar:

A necessidade de viabilizar a igualdade de oportunidades, contribuir


para a melhoria do desempenho acadêmico e agir, preventivamente,
nas situações de retenção e evasão decorrentes da insuficiência de
condições financeiras.”

Quanto ao público-alvo, o art. 5° declara que:

“serão atendidos no âmbito do PNAES prioritariamente estudantes


oriundos da rede pública de educação básica ou com renda familiar per
capita de até um salário mínimo e meio, sem prejuízo de demais
requisitos fixados pelas instituições federais de ensino superior.”
(PNAES, 2010, APUD LEITE, 2015, p. 275)

A ANDIFES destaca no Plano Nacional a garantia da democratização e


da qualidade dos serviços prestados para os estudantes de graduação e a
defesa da justiça social e eliminação para com as formas de preconceito.
36

Indubitavelmente, o Programa Nacional de Assistência Estudantil


(PNAES 2010) alinha-se ao Plano Nacional de Assistência Estudantil
(PNAES 2007), ficando evidente a indissociabilidade entre os
princípios que fundamentam o Plano Nacional e os que fundamentam
o Programa Nacional, que podem assim ser resumidos: a
“democratização”, a “inclusão social”, a “igualdade de oportunidades”,
“equidade e justiça social” (LEITE, 2015, p. 277)

Compreende-se aqui que o PNAES fundamenta-se em princípios


democratizantes e inclusivos, num contexto de desenvolvimento capitalista e
ideopolítio neo-desenvolvimentista, que acredita ser esta uma fase inédita do
capitalismo contemporâneo, o que significa rompimento com o neoliberalismo ou
o subdesenvolvimento. Conforme Lima, tal programa é introduzido nas IFES, a
partir de uma nova concepção do Banco Mundial, que enfatiza o papel da
educação como imprescindível para a redução da pobreza.

Durante todo este percurso o PNAES teve uma determinada função


“ideológica”. Esta trajetória analítica possibilitou a identificação de
outra importante determinação do PNAES: a ideológica. Em tempos de
revisão ideológica do neoliberalismo, o social-liberalismo (internacional
e brasileiro) e o novo-desenvolvimentismo, apresentado como um
“terceiro discurso”, como uma medida social-liberal, na segunda gestão
do governo Luiz Inácio Lula da Silva. (LEITE, 2015, p. 278).

No governo Lula houve alguns avanços por intermédio do Estado com


ações de assistência ao estudante universitário, produzindo um PNAES com a
ideia de igualdade de oportunidades, o que foi recebido de forma comemorativa
pelo FONAPRACE e de outras entidades estudantis como a UNE e SENCE,
apoiando a Política de Assistência que passava a vigorar no país. De acordo
com o site do MEC, na ótica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, os recursos
de assistência ao estudante de graduação tiveram um grande aumento.

Nos encontros nacionais o FONAPRACE ainda pleiteava ao MEC a


viabilização de uma política de apoio à comunidade universitária que
atendesse prioritariamente aos seguintes programas: Programa de
manutenção e expansão de RUs, Programa de manutenção e
expansão da moradia estudantil, Programa de Bolsas, Programa de
Assistência à saúde, Programas de Creches, Programas de livro-
didático, expansão das bibliotecas, Programa de equipamentos e de
instrumental e Programa de Apoio cultural, esportivo e de lazer. Para o
fórum, era necessário associar a qualidade do ensino ministrado a uma
política efetiva de assistência em termos de moradia, alimentação,
saúde, esporte, lazer e cultura. O documento "Assistência: uma
questão de investimento "sintetiza as reivindicações do FONAPRACE
37

no limiar do século XXI: incluir verbas específicas destinadas à


assistência estudantil na matriz orçamentária anual do MEC, para cada
IFES; a elaboração de projetos especiais para recuperação e
ampliação da capacidade instalada nos ambientes destinados à
assistência; estabelecer a vinculação entre ações de acesso e
programas de permanência; consolidar um Plano Nacional de
Assistência. (LEITE, 2015, p. 306-307)

É preciso ressaltar que o direito à Assistência Estudantil foi uma


demanda histórica do Movimento Estudantil e dos estudantes brasileiros que
junto ao FONAPRACE, reuniram-se nos congressos nacionais 48° e 49°
CONUNE, onde a bandeira de luta nos anos de 2003 a 2006 era voltado para
uma maior assistência estudantil, um PNAES que tinha sua própria identidade,
não só restrita para a permanência mas também para a formação do estudante
universitário.
Além de ter havido a soma das reivindicações da UNE e do FONAPRACE,
também houve as reivindicações da SENCE nos encontros nacionais e
regionais, a qual, a bandeira de luta era o investimento de Bolsa moradia em
caráter emergencial e temporário, investimento de restaurantes universitários,
Bolsa permanência sem contrapartida e além do mais no período de 2007 a
2010, a SENCE teve a ideia da implementação de um Projeto de Assistência
Estudantil, a bolsa moradia.
O Decreto-Lei 7.234 que institucionaliza o PNAES, abarca as principais
reivindicações do Movimento Estudantil e do FONAPRACE, passando pelas 10
áreas estratégicas onde as IFES traçaram as políticas de permanência contidas
no próprio decreto.

A análise da relação entre os determinantes do Programa Nacional de


Assistência Estudantil – PNAES, e a reposta deste a tais
determinações ao materializar-se nas IFES, implicou uma discussão
sobre a assistência ao estudante universitário, considerando o
movimento real e concreto das forças sociais em presença, a
conjuntura econômica e os movimentos ideopolíticos em que se
colocaram alternativas a uma intervenção do Estado brasileiro, junto a
uma das múltiplas expressões da questão social que se manifesta a
partir de meados do anos 90, a saber: a existência de uma significativa
parcela de estudantes universitários pobres que, sem um apoio
institucional, através de ações/programas assistenciais, não teria
condições concretas para prosseguir sua vida acadêmica e concluir
seus cursos. (LEITE, 2015)
38

A materialização do PNAES se dá a partir das IFES brasileiras, no intuito


de oferecer os recursos indicados no decreto: moradia, alimentação, transporte,
atenção à saúde, Inclusão Digital, cultura, aprendizagem de estudantes com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e
superdotação.
Como objetivos o PNAES elenca:

I – democratizar as condições de permanência dos jovens na educação


superior pública federal;

II - minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na


permanência e conclusão da educação superior;

III - reduzir as taxas de retenção e evasão; e

IV - contribuir para a promoção da inclusão social pela educação.

Além disso, o decreto indica que o PNAES “deverá ser implementado de


forma articulada com as atividades de ensino, pesquisa e extensão, visando o
atendimento de estudantes regularmente matriculados em cursos de graduação
presencial das instituições federais de ensino superior”.
Ainda caberá à instituição federal de ensino superior definir os critérios e
a metodologia de seleção dos alunos de graduação a serem beneficiados.
Entende-se que o PNAES é uma plataforma de múltiplas determinações,
sendo determinado e determinante, a qual, é uma ponte de mão dupla por onde
circulam diferentes interesses, que sob a ótica capitalista atende as demandas
das entidades e do FONAPRACE de forma contraditória, mas também inédita
introduz nas IFES uma ideologia de igualdade de oportunidades.
39

3.1 - Assistência Estudantil e o Serviço Social

Além de falarmos do PNAES, uma política pública voltada para o acesso


e permanência dos/as estudantes na universidade, se faz necessário nos
aprofundarmos sobre o Serviço Social e o PNAES, especificamente sobre a
atuação da profissão no campo da atuação e, mais especialmente, na política de
Assistência Estudantil.

A atuação do/da assistente social neste espaço sócio-ocupacional tem


como objetivo contribuir para que “a Política de Educação se efetive
em consonância com os processos de fortalecimento do projeto ético-
político do Serviço Social e de luta por uma educação pública, laica,
gratuita, presencial e de qualidade [...]” (CFESS, 2013, p.08).

O direito social à educação sempre foi uma bandeira de luta dos


movimentos sociais nacionalmente, em evidência, do movimento estudantil que
lutou pela efetivação da Assistência Estudantil, enraizadas nas legislações como
a Constituição de 1988, Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Nº 9.394/96) e
na Lei do Plano Nacional de Educação (Nº 10.172).
Como já foi falado nos capítulos anteriores, no que consiste as
universidades sob a política neoliberal, tendo em vista que a mesma passa por
um processo de sucateamento e ao mesmo tempo passa a consolidar projetos
educacionais que atendem ao mercado.

A condução da Política de Assistência ao Estudante Universitário e as


mudanças por que passam na atualidade, imbricadas na reforma do
ensino superior, derivam desse processo sob a influência da tendência
neoliberal, em seus reflexos nas reformas do Brasil atual. (ARAÚJO e
BEZERRA, 2007, p.1)

Frente a esta barreira, a partir da implementação do PNAES, se faz


necessário refletir sobre a atuação profissional do/a atuação do assistente social
na política de educação, assim como dentro da política de assistência estudantil
nas IFES, criando possibilidades de ações dentro deste programa, buscando
identificar tais limites do Estado no processo das políticas públicas e
investimento no capital privado, precisamente fazendo uma auto análise se esta
40

atuação está em conformidade com uma perspectiva emancipatória e de


garantia de direitos ou não, haja vista a posição ético-político do Serviço Social.
O Estado visa garantir a permanência no ensino superior daqueles/as que
ele identifica como não tendo condições reais, diante dos/das outros/as
estudantes, de prosseguir na graduação. Com esta forma de restrição de acesso
ao programa o Estado identifica suas falhas na medida em que não investe de
maneira eficaz na educação pública nas etapas anteriores, e exprime, ainda, que
não possui políticas que propiciem aos trabalhadores a garantia do emprego e
renda. Por meio da distribuição de renda em forma de auxílios, este programa
atende, assim, às necessidades do capital que precisa que todas as camadas
da sociedade consumam seus produtos e movimentam a economia. (LIMA,
NASCIMENTO, 2019, s.p)

A inserção de assistentes sociais na Política de Educação, ao longo


das últimas duas décadas, responde sobretudo às requisições
socioinstitucionais de ampliação das condições de acesso e de
permanência da população nos diferentes níveis e modalidades de
educação, a partir da mediação de programas governamentais
instituídos mediante as pressões de sujeitos políticos que atuam no
âmbito da sociedade civil. Desse modo, se por um lado resulta da
histórica pauta dos movimentos sociais em defesa da universalização
da educação pública, por outro se subordina à agenda e aos
diagnósticos dos organismos multilaterais, fortemente sintonizados às
exigências do capital, quanto à formação e qualificação da força de
trabalho. Inscreve-se, portanto, na dinâmica contraditória das lutas
societárias em torno dos processos de democratização e qualidade da
educação, cujo resultado mais efetivo tem se traduzido na expansão
das condições de acesso e permanência, a partir do incremento de
programas assistenciais, o que caracterizou a intervenção do Estado
no campo das políticas sociais na primeira década deste século
(CFESS, 2014, p. 37).

O exercício profissional do/a assistente social perante a área da educação


precisa estar pautada nos princípios éticos e políticos contidos no Código de
Ética da profissional de 1993 (CEP), na Lei de Regulamentação da Profissão
(Lei 8.662/1993), também como no Projeto Ético-Político da profissão.
Estes instrumentos norteiam a atuação profissional dos/das assistentes
sociais e fornecem orientações éticas e técnicas para que este profissional
desenvolva suas atribuições com vistas a realizar uma análise crítica da
realidade na qual estão inseridos/as os/as usuários/as, que no caso da política
de educação são pessoas inseridas no sistema capitalista de produção para o
qual esta política tem uma função basilar a qual é se converter “em um conjunto
41

de práticas sociais que contribuem para a internalização dos consensos


necessários à reprodução ampliada deste sistema metabólico do capital”
(CFESS, 2013, p.19, APUD LIMA, NASCIMENTO, 2019, s.p)

O tempo presente desafia os assistentes sociais a se qualificarem para


acompanhar, atualizar e explicar as particularidades da questão social
nos níveis nacional, regional e municipal, diante das estratégias das
políticas públicas”. (IAMAMOTO, 2007, p. 41).

O Serviço Social como profissão tem como objetivo na assistência


estudantil a busca pela formação do universitário superando as barreiras e na
promoção de uma postura ético-política atendendo esses princípios, frente à
educação alienante advinda do capitalismo.
Diante do exposto cabe ao Assistente Social no âmbito da Educação e
que atuam na Assistência Estudantil mobilizar todas as dimensões da profissão
com vistas a ampliação e garantia de direitos dos estudantes. Como
competências e atribuições nesta área cabe a este profissional realizar:

● Atendimento Social e escuta qualificada para identificação das demandas.


● Contatos institucionais.
● Dar certas orientações e encaminhamentos para os serviços de Proteção
Social e Básica.
● Elaboração de relatórios de execução dos programas.
● Entrevista Social: Dar uma ideia para que o assistente social conheça o
usuário de forma mais profunda, seja individual ou coletiva.
● Estudo Social: O assistente social é o profissional que adquiriu
competência para dar visibilidade às demandas dos processos sociais
que constituem o viver dos sujeitos, e o faz através do estudo social
● Análise documental: que se dá a partir da junção de informações que se
auxilia na identificação de vulnerabilidade no contexto socioeconômico;
● Parecer Social: Deve conter a opinião do profissional, ou seja, deve conter
uma análise crítica; aponta conclusões ou alternativas cabíveis do que
levou a responder as questões em estudo;
42

● Visita Domiciliar: O profissional se redireciona à residência dos usuários


a fim de saber mais profundamente a condição de vida dos mesmos e a
apreender os aspectos do cotidiano;
● Atividades Socioeducativas: Consiste em passar a orientação reflexiva,
ou seja, criando um senso crítico da realidade social, pode se dá a partir
de forma individual, em grupo ou de forma coletiva.
● Acompanhamento dos casos;
● Seleção socioeconômica dos estudantes para o recebimento de auxílios
do PNAES.

Visto que todas essas ações são frutos de um posicionamento ético-


político da profissão frente ao sistema capitalista, visando conhecer de forma
profunda a história de vida dos/das estudantes, que a partir daí possa construir
com os/as usuários/as dos serviços e programas propostas cabais de
intervenção específicas para cada situação, mas também voltados para o bem
estar coletivo.
Conclui-se que mediante a esses fatos é necessário mais investimento no
PNAES, para que o mesmo venha cumprir os seus objetivos com mais
qualidade, a qual, sua atuação deve alinhar-se a defesa de uma política
universal, para que possa favorecer os estudantes de forma ampla e inclusiva
para que possa favorecer todos os estudantes sem distinção de classe, raça e
gênero, ao mesmo tempo trazendo uma reflexão para a sociedade.
Contudo, no que corresponde ao Serviço Social como profissão nas suas
ações, é imprescindível o/a assistente social ter o seu comprometimento
profissional em responder às necessidades dos indivíduos, buscando meios
cabíveis de superar os limites institucionais, lutando pelos direitos em questão.
Isso quer dizer que o assistente social deve de forma séria lançar mão dos
instrumentos que acompanham sua prática, assim como deve amadurecer as
dimensões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativa da
profissão com a finalidade de mobilizar estruturas para o acesso aos direitos de
toda a população.
43

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse tema foi escolhido mediante aos fatos vividos neste século. Há uma
grande massa de “estudantes-trabalhadores”, que não conseguem o direito à
permanência no ensino superior. Dentre esses desafios, o mais comum é a
dificuldade financeira em se manter no curso.
Este estudo propôs, como objetivo geral, analisar os principais desafios
para a permanência dos estudantes oriundos da classe trabalhadora no ensino
superior, numa perspectiva de direito. Visto que a camada das classes populares
no ensino superior representa uma grande mudança no processo sócio-histórico
do ensino superior no Brasil.
Portanto se faz necessário destacar que, é preciso pensar políticas de
permanência para esses estudantes-trabalhadores de forma mais intensa, sob a
perspectiva da justiça social, visando cada vez mais a igualdade de
oportunidades, uma vez que, em algumas situações nem sempre as políticas
estudantis promovem a permanência dos estudantes na universidade.
No que tange a democratização do ensino superior, é preciso reconhecer
e que se faça exigências de políticas sociais e econômicas voltadas para o
rompimento das barreiras da desigualdade na sociedade brasileira, com a
criação de oportunidades para todos.
É preciso romper com a barreira da desigualdade educacional no ensino
superior, a partir dessa mudança, se abre espaços para pensar novas formas de
modificar estruturas da sociedade brasileira, com isso a sociedade torna-se
equilibrada, visando o bem coletivo.
44

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47

ANEXO

DECRETO N° 7.234, DE JULHO DE 2010

Dispõe sobre o Programa Nacional da Assistência Estudantil - PNAES

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art.


84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição:

DECRETA:

Art. 1o O Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES, executado


no âmbito do Ministério da Educação, tem como finalidade ampliar as condições
de permanência dos jovens na educação superior pública federal.

Art. 2o São objetivos do PNAES:

I – democratizar as condições de permanência dos jovens na educação


superior pública federal;

II - minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na


permanência e conclusão da educação superior;

III - reduzir as taxas de retenção e evasão; e

IV - contribuir para a promoção da inclusão social pela educação.

Art. 3o O PNAES deverá ser implementado de forma articulada com as


atividades de ensino, pesquisa e extensão, visando o atendimento de estudantes
regularmente matriculados em cursos de graduação presencial das instituições
federais de ensino superior.

§ 1o As ações de assistência estudantil do PNAES deverão ser


desenvolvidas nas seguintes áreas:

I - moradia estudantil;

II - alimentação;

III - transporte;

IV - atenção à saúde;

V - inclusão digital;

VI - cultura;
48

VII - esporte;

VIII - creche;

IX - apoio pedagógico; e

X - acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência,


transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação.

§ 2o Caberá à instituição federal de ensino superior definir os critérios e a


metodologia de seleção dos alunos de graduação a serem beneficiados.

Art. 4o As ações de assistência estudantil serão executadas por instituições


federais de ensino superior, abrangendo os Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia, considerando suas especificidades, as áreas estratégicas
de ensino, pesquisa e extensão e aquelas que atendam às necessidades
identificadas por seu corpo discente.

Parágrafo único. As ações de assistência estudantil devem considerar a


necessidade de viabilizar a igualdade de oportunidades, contribuir para a
melhoria do desempenho acadêmico e agir, preventivamente, nas situações de
retenção e evasão decorrentes da insuficiência de condições financeiras.

Art. 5o Serão atendidos no âmbito do PNAES prioritariamente estudantes


oriundos da rede pública de educação básica ou com renda familiar per
capita de até um salário mínimo e meio, sem prejuízo de demais requisitos
fixados pelas instituições federais de ensino superior.

Parágrafo único. Além dos requisitos previstos no caput, as instituições


federais de ensino superior deverão fixar:

I - requisitos para a percepção de assistência estudantil, observado o


disposto no caput do art. 2o; e

II - mecanismos de acompanhamento e avaliação do PNAES.

Art. 6o As instituições federais de ensino superior prestarão todas as


informações referentes à implementação do PNAES solicitadas pelo Ministério
da Educação.

Art. 7o Os recursos para o PNAES serão repassados às instituições


federais de ensino superior, que deverão implementar as ações de assistência
estudantil, na forma dos arts. 3o e 4o.

Art. 8o As despesas do PNAES correrão à conta das dotações


orçamentárias anualmente consignadas ao Ministério da Educação ou às
instituições federais de ensino superior, devendo o Poder Executivo
compatibilizar a quantidade de beneficiários com as dotações orçamentárias
existentes, observados os limites estipulados na forma da legislação
orçamentária e financeira vigente.
49

Art. 9o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 19 de julho de 2010; 189o da Independência e 122o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Fernando Haddad

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