Projeto de Vida No Ensino Médio - Sandra Fodra
Projeto de Vida No Ensino Médio - Sandra Fodra
Projeto de Vida No Ensino Médio - Sandra Fodra
PUC - SP
SÃO PAULO
2015
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC - SP
SÃO PAULO
2015
ERRATA
Página 33 – Onde se lê (PASCHOALETTO, 2008, p.158), leia‐se: (POSSANI, 2008, p.158)
Página 61 – nota de rodapé: Onde se lê: O Acolhimento é uma metodologia do Programa
Ensino Integral que está detalhada na página 77 deste capítulo, leia‐se: O Acolhimento é uma
metodologia do Programa Ensino Integral que está detalhada na página 79 deste capítulo.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________
___________________________________
___________________________________
DEDICAÇÃO
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE QUADROS
EE - Escola Estadual
SE - Supervisor de Ensino
CAPÍTULO 1
O Percurso da Educação Integral no Brasil 37
1.1 As Escolas Parque na Bahia 41
1.2 Os Colégios Vocacionais em São Paulo 43
1.3 Os Centros Integrados de Educação Pública (CIEP) no
Rio de Janeiro 44
1.4 O Programa de Formação Integral da Criança (PROFIC)
em São Paulo 46
1.5 As Escolas de Tempo Integral (ETI) em São Paulo 49
1.6 O Programa Mais Educação – Governo Federal 51
1.7 O Programa Escolas do Amanhã no Rio de Janeiro 53
1.8 Algumas considerações sobre os projetos apresentados 56
CAPÍTULO 2
O Programa Ensino Integral: Novo Modelo de Escola
de Tempo Integral – São Paulo 59
2.1 O Programa Educação Compromisso de São Paulo 59
2.2 Princípios, Premissas e Valores do Programa Ensino Integral 61
2.3 Características das escolas para ingresso no Programa 65
2.4 A seleção e avaliação dos profissionais 66
2.5 A formação dos profissionais das escolas do Programa 69
2.5.1 Os pressupostos da formação 69
2.5.2 O processo formativo das equipes escolares: os tempos
e espaços de formação 72
2.6 O Modelo Pedagógico e o Currículo do Programa 77
2.6.1 O Acolhimento 79
2.6.2 Os Clubes Juvenis 81
2.6.3 As Disciplinas Eletivas 82
2.6.4 Os Líderes de Turma 83
2.6.5 O Nivelamento 84
2.6.6 A Orientação de Estudos 85
2.6.7 A Tutoria 86
2.6.8 As atividades experimentais 87
2.6.9 A Preparação Acadêmica e o Mundo do Trabalho 90
2.7 O Modelo de Gestão 90
CAPÍTULO 3
O Projeto de Vida nas escolas do Programa Ensino Integral 95
3.1 O Projeto de Vida como espírito da escola 98
3.2 O Projeto de Vida como componente curricular 100
3.3 As aulas de Projeto de Vida no Ensino Fundamental –
Anos Finais 101
3.4 As aulas de Projeto de Vida no Ensino Médio 104
CAPÍTULO 4
O Percurso Metodológico 107
4.1 A pesquisa qualitativa 107
4.2 Os sujeitos 108
4.3 Os Procedimentos 109
4.3.1 A análise documental 109
4.3.2 As entrevistas semiestruturadas 110
CAPÍTULO 5
Apresentação e análise dos resultados 114
5.1 As entrevistas 114
5.2 O perfil dos sujeitos entrevistados 115
5.3 As categorias de análise 118
Considerações finais 142
Referências e anexos 152
Há escolas que são gaiolas e há escolas
que são asas.
Rubem Alves
16
Nasci em São Paulo, numa família que desejava muito que seus filhos
estudassem – já que meus pais completaram somente o chamado “Grupo
Escolar”. Meus três irmãos e eu tivemos todo apoio e incentivo para cursar a
Educação Básica e a Universidade. Estudamos em escola pública, numa época
que esta instituição era considerada altamente eficiente, respeitada e
inquestionável.
Durante toda a educação básica, tive apenas um professor que nos ouvia,
o professor Hamilton, de História. Ele não pedia para ninguém decorar nada,
apenas colocava a turma em círculo e “contava um monte de histórias pra gente”.
Algumas vezes, ele emprestava livros para lermos e depois, nós mesmos
contávamos as histórias nas aulas. Este era o único educador que abria espaço
para interação e questionamentos. Fazíamos comparações e análises entre os
fatos passados e presentes, em plena época da ditadura militar. Suas provas
eram dissertativas e escrevíamos sobre os processos históricos que tínhamos
aprendido durante o bimestre. Todos os alunos gostavam do professor Hamilton.
Acho que por isso resolvi cursar uma graduação em História. Mas antes dessa
decisão, cursei Comunicação Social porque queria espaço para falar, pensar,
17
criticar, questionar, enfim, sempre fui muito comunicativa e acho que por este
motivo os professores apelidaram-me de “diabo loiro”. Eu era considerada uma
aluna indisciplinada porque conversava demais; alguns professores diziam que
eu nem parecia irmã da Suzan e da Elizabeth, que eram alunas quietinhas e bem
comportadas.
Para Apple (2000, p. 170, 171), uma escola de sucesso tem um “currículo
baseado na crença de que o conhecimento se torna importante para estudantes
e professores quando é relacionado com aspectos sérios”. O progresso
intelectual é valorizado quando está vinculado à nossa realidade e consegue
transformar a compreensão e a atuação no mundo social em que vivemos. “Os
alunos percebem que o conhecimento estabelece a diferença nas vidas das
pessoas, inclusive nas delas”. Apple (2000, p. 170) questiona as “listas de
conceitos, factos e destrezas” utilizadas nas escolas tradicionais, que os alunos
estudam para as avaliações e que depois, geralmente esquecem o que
estudaram porque estas informações não têm uso prático para eles. Quando o
aprendizado parte das experiências pessoais e necessidades do contexto que
vivem, os alunos têm a oportunidade de ampliar e aprofundar sua visão do
mundo, e o currículo passa a ter como foco a sua realização pessoal.
22
1
Os índices apresentados nos gráficos estão disponíveis no site do IDESP: http://idesp.edunet.sp.gov.br/
27
O sonho dos alunos perpassa por todo Projeto Pedagógico da escola que
visa o desenvolvimento das habilidades e apropriação dos conhecimentos
necessários para a construção do seu Projeto de Vida. Quando os alunos
ingressam nas escolas do Programa, eles passam pelo Acolhimento, que
consiste em algumas vivências que os levam a refletir sobre suas pretensões
futuras e o que eles podem fazer no presente para realizá-las. Durante dois dias,
os ingressantes passam por diversas atividades reflexivas, coordenadas pelos
alunos veteranos, e, no final do segundo dia, eles elaboram a escalada dos
sonhos, onde preveem todas as ações a serem desenvolvidas a fim de atingir
suas metas, e penduram no varal dos sonhos. Essas produções relacionadas
aos sonhos dos alunos são organizadas pelo Vice-diretor da escola e
socializadas com os demais educadores; também são utilizadas para a criação
das disciplinas Eletivas e para as aulas de Projeto de Vida. Todos os educadores
passam a considerar as informações sobre os sonhos dos alunos nas suas aulas
31
Segundo Freire:
significado dos estudos para eles. Acredito que cabe à escola oferecer uma
formação emancipatória, que proporcione aos jovens a ampliação da sua visão
de mundo e suas perspectivas futuras, sem negligenciar o direito que eles têm a
uma educação de qualidade.
Penso que, à medida que o aluno constrói o seu Projeto de Vida na escola,
ele encontra sentido e significado para os estudos e passa a ser incentivado e
responsabilizado pelo seu desenvolvimento pessoal e acadêmico. A construção
do Projeto de Vida não se configura apenas na elaboração de um plano de ação;
é muito mais do que isto. Os jovens participam de muitas atividades: de
autoconhecimento, de reflexão dos valores pessoais e sociais, de conhecimento
das suas potencialidades e dificuldades, de busca de solução de problemas
pessoais e coletivos, dentre outras. Quando, enfim, o jovem finaliza o seu Projeto
de Vida, acredita-se que ele já esteja amadurecido e consciente do que quer
para si mesmo e para o mundo.
"Educar é crescer,
e crescer é viver.
autêntico da palavra."
Anísio Teixeira
37
2
A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo conta com dois programas de educação em tempo
expandido: a Escola de Tempo Integral (ETI), atualmente com 236 escolas, e o Novo Modelo de Escola
em Tempo Integral, mais conhecido como Programa Ensino Integral (PEI), com 257 escolas em 2015.
60
3
O Acolhimento é uma metodologia do Programa Ensino Integral que está detalhada na página 77 deste
capítulo.
62
Esses valores possibilitam aos jovens a reflexão sobre o mundo atual, seu
posicionamento enquanto indivíduo e cidadão, suas ações e tomada de decisões
para que façam escolhas conscientes.
64
com o apoio do seu superior imediato, e monitorado por meio dos resultados
evidenciados nas ações a serem melhoradas.
4
Todas as escolas que participam do Programa Ensino Integral pedem autorização de imagem para os
responsáveis pelos alunos, devido às inúmeras atividades que eles participam e são divulgadas para as
demais escolas e no site da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo. No caso das participações em
videoconferências, a Rede do Saber também solicita a autorização de imagem dos participantes.
71
2.6.1 O Acolhimento
Os Clubes Juvenis são criados pelos alunos a partir dos seus interesses,
com o objetivo de estimular o Protagonismo Juvenil e o aprendizado da
autogestão, colaborando para sua formação escolar.
Reunião dos Líderes de Turma e equipe gestora da EE Dr. Francisco Tozzi – Águas de Lindóia – 2014
2.6.5 O Nivelamento
O Nivelamento é uma ação emergencial que visa a superação das
defasagens de aprendizagem dos alunos. Logo no início do ano, eles passam
por uma avaliação diagnóstica de Língua Portuguesa e Matemática que aponta
quais são as deficiências de aprendizagem que eles trazem das séries
anteriores. A partir dos resultados desta avaliação, a escola organiza uma ação
planejada e monitorada para apoiar os alunos a superarem suas defasagens.
2.6.7 A Tutoria
O tutor jamais deve tomar decisões pelo aluno, e sim estimulá-lo a pensar
na melhor atitude a ser tomada diante de qualquer questão trazida por ele e
também nas suas consequências. Esta também é uma forma de desenvolver a
reflexão, a autonomia e a responsabilidade pelas suas escolhas.
Alunos da EE Ilza Irma de São José dos Campos recebendo menção honrosa
na Genyus Olimpyad em Nova Iorque - 2014
90
Por outro lado, existem adolescentes e jovens que por mais que tenham
uma família estruturada e boas condições de vida, ainda se sentem perdidos
neste mundo moderno tão cheio de informações, em que a alusão ao consumo
desenfreado, à valorização do corpo, da sexualidade como satisfação puramente
física, e outros valores que alienam, desqualificam o ser humano enquanto
pessoa dotada de inteligência e responsável por suas escolhas e ações. Esta é
97
a realidade que vivemos, com valores sociais que não contemplam as pessoas
no sentido humano e consideram somente o superficial, o material e o imediato.
O grande desafio das escolas é formar estes alunos diante desta realidade
e ainda torná-los cidadãos autônomos, conscientes e prontos para o mundo
produtivo. É claro que a maior parte das instituições públicas de ensino não têm
conseguido cumprir esta missão, principalmente aquelas mais tradicionais que
continuam valorizando somente o racionalismo acadêmico e não contribuem no
desenvolvimento do senso crítico e humano, em todas as suas dimensões.
É neste sentido que o Projeto de Vida vem como uma alternativa para
resgatar os valores humanos e o reconhecimento da pessoa enquanto um ser
capaz de rever sua história de vida e projetar um futuro digno e promissor,
ampliando seus horizontes por meio de um currículo que promova o
autoconhecimento, a aprendizagem vinculada às necessidades e expectativas
dos alunos e que proponha encaminhamentos para uma vida melhor, para si
mesmo e para o mundo do qual ele é sujeito participante.
Como diz Bauman (2014): “Confio que os jovens possam perseguir e
consertar o estrago que os mais velhos fizeram. Como e se forem capazes de
pôr isso em prática, dependerá da imaginação e da determinação deles”. O
trabalho com o Projeto de Vida faz com que a escola se torne um “locus” do que
a sociedade deveria ser.
construção do Projeto de Vida leva o jovem “a refletir sobre quem ele é, quem
ele gostaria de ser e ajudá-lo a planejar o caminho que ele precisa seguir para
alcançar o que pretende ser” (Diretrizes do Programa Ensino Integral, 2014, p.
22, 23). Conforme orientam Leão, Dayrell e Reis,
Espera-se que os jovens ampliem seus horizontes por meio das práticas
e vivências oferecidas pela escola, e que vislumbrem oportunidades para a
continuidade dos seus estudos e engajamento no mundo do trabalho mais
preparados e conscientes de suas escolhas.
O 8º ano traz como tema central o vínculo entre a escola e a família, com
a finalidade de buscar apoio na família para o Projeto de Vida dos alunos. As
atividades desenvolvidas estimulam o reconhecimento e valorização das
características e das representações familiares e a organização de ações de
aproximação da família com a escola.
1ª série:
Identidade: aprendendo a ser na família
Aprendendo a ser na escola e na comunidade
Os Quatro Pilares da Educação
Fortalecendo as relações interpessoais para a construção do Projeto de
Vida
Diferentes caminhos para a realização pessoal e profissional
2ª série:
O que e quando é o futuro?
Fatores de sucesso da vida escolar
O Projeto de Vida
Na terceira série os alunos não têm aulas de Projeto de Vida, mas as aulas
de Preparação Acadêmica e Mundo do Trabalho retomam conceitos e práticas
relacionadas aos valores e, consequentemente, com as escolhas pessoais e
profissionais que os alunos farão.
107
4.2 Os Sujeitos
5
O nome oficial deste Programa é Novo Modelo de Escola em Tempo Integral, mas é conhecido como
Programa Ensino Integral (PEI).
109
4.3 Os Procedimentos
1- Nome do entrevistado.
2- Idade do entrevistado.
3- Formação do entrevistado.
4- Há quanto tempo atua como Professor de História?
5- Há quanto tempo atua como Professor do componente curricular Projeto
de Vida?
6- Quais os aspectos positivos e os desafiadores do Programa Ensino
Integral?
7- Quais os aspectos positivos e os desafiadores das aulas de Projeto de
Vida?
8- Você vê alguma relação entre as aulas de História e as de Projeto de
Vida?
113
5.1 As entrevistas
PROFESSOR FORMAÇÃO
1 Graduação em História e Filosofia
2 Graduação em Psicologia, História e curso técnico em
Turismo
3 Graduação e pós-graduação em História
4 Graduação em Pedagogia e História
5 Graduação em Pedagogia, História e especialização em
História
6 Graduação em História
116
acabam acostumando. Eles dizem que a escola é diferente e que não tinham
este tipo de ensino nas outras escolas que frequentaram. Outro fator que
atrapalha os alunos do Ensino Médio é o apelo ao trabalho que vem do próprio
mercado de trabalho e também das famílias.
Esse é o maior desafio que nós temos, que o Projeto de Vida não seja uma
disciplina restrita a apenas duas aulas, mas que ele esteja vinculado com as
eletivas, com os projetos da escola e com todas as aulas das disciplinas da Base
Nacional Comum, porque a formação do aluno tem que ser integral. Ele precisa
124
PROFESSOR 2: Tem alunos que muitas vezes não querem que eu leia os
relatos das suas vidas, alguns querem que eu leia e guarde, e cada um que
supera a sua inibição e começa a participar ativamente das aulas, é uma grande
conquista.
Alguns alunos não gostam de se expor e esse é o maior desafio no início trabalho
até a gente conseguir fazer com que esse aluno se sinta à vontade fale de si
mesmo. Eles vêm que os outros também têm problemas, principalmente quando
se trata do projeto familiar, do apoio da família ao projeto de vida deles. Muitas
famílias não dão esse apoio que eles necessitam, não são presentes e eles
trazem isso com muita tristeza. É muito interessante como eles conseguem
colocar os seus próprios problemas e dizerem: o problema do outro é pior que o
meu.
126
PROFESSOR 4: “Eu dou aulas de Projeto de Vida nas primeiras séries e quando
os alunos entram na escola, nós temos muitos problemas principalmente porque
eles não têm comprometimento com os estudos, a indisciplina e problemas
pessoais com drogas, polícia, apologia ao crime dentro da sala de aula, além de
problemas familiares. Eu cheguei a ficar até assustada no início do ano. Eles
chegam sem postura sem hábito de estudo, sem regras de convivência e nós
temos que trabalhar tudo isso. Nós conseguimos nas aulas de Projeto de Vida
reverter essa situação. No começo, eles resistem um pouco em participar das
atividades, eles querem fugir da sua realidade, das suas vivências passadas; e
na verdade, nós vemos que a indisciplina deles está muito relacionada à fuga da
própria realidade que esses alunos vivem. A fuga em relação às histórias
pessoais é muito grande principalmente porque nós temos muitos casos de
abandono”.
falavam sobre seus projetos, mas uma grande parte ainda ficava muito tímida.
Eles aprendem a expor as suas ideias, a se auto conhecer, principalmente por
meio de desenhos e de uma forma bastante lúdica. A maior parte dos alunos
consegue edificar um projeto de vida ao longo das duas primeiras séries do
ensino médio”.
PROFESSOR 4: “As aulas de Projeto de Vida te sugam, você tem que olhar
para todas as manifestações dos alunos, mas são muito gratificantes,
principalmente porque sabemos da nossa contribuição para dar sentido à vida
de muitos jovens que se encontravam perdidos”.
As dificuldades que os docentes têm para lidar com esta nova realidade
são enormes; muitos se sentem desrespeitados, desqualificados e ainda
acreditam que devem ser os detentores do conhecimento e do poder sobre os
alunos. As universidades que formam estes docentes, ainda não conseguiram
ajustar seus currículos às necessidades de formação atuais, e quando os recém-
formados ingressam nas escolas, acabam reproduzindo o que aprenderam
enquanto eram alunos, reproduzindo um currículo com conhecimentos
estanques, por meio da transmissão e visando a acumulação, e como já
discutido na introdução desta pesquisa, sem sentido nem significado nenhum
para os alunos.
ressignificada. Dos gestores também porque são eles que têm o papel de liderar
e subsidiar o trabalho docente, inclusive o de formação. Para Freire (1996), os
educadores precisam ter um forte compromisso com os educandos e estarem
abertos a novos saberes, novas reflexões, novos posicionamentos, porque ele
também é um “ser inacabado”. Assim, o trabalho docente necessita:
PROFESSOR 5: Aprendi muito durante este tempo que trabalho nesta escola.
O Programa veio justamente para resgatar a qualidade de ensino, principalmente
no Ensino Médio. Uma das melhores coisas do Programa é o contato que nós
temos com os alunos, que por meio desse contato nós construímos muitas
coisas porque estreitamos nossa relação com eles. Nós vemos novas
possibilidades e desafios no contato com os alunos. E nós nos vemos obrigados
a rever muitos vícios, muitas crenças que nós vamos construindo ao longo do
tempo que trabalhamos no Magistério, o que é muito positivo. O nosso trabalho
em equipe e tantas outras coisas que dão certo, e nós comemoramos em grupo.
Nós temos tudo muito programado temos tempo para trabalhar na programação
e na execução desses projetos. As parcerias com os demais professores ficam
facilitadas pelo fato de nós convivermos durante 8 horas por dia todos os dias da
semana.
Os Professores confessam que tiveram que rever suas práticas,
programar suas atividades, e principalmente, buscar caminhos para atender as
necessidades dos alunos. Valorizam o tempo integral, para eles e para os
alunos; dizem que podem planejar e interagir com os demais professores, além
133
A Qualidade do Ensino
Mas eles têm todo o suporte aqui na escola e se sentem preparados para fazer
as provas do vestibular e o sucesso de alguns vão se replicando para os outros
vão contagiando e quando eles percebem que os alunos da terceira série
ingressam em boas Universidades, em cursos concorridos, eles começam a
achar que eles também têm condições de ingressarem. Muitos ingressam em
universidades particulares e conseguem bolsas. Quando a educação é de
qualidade faz muita diferença eles se sentem valorizados, auxiliados pelo
corpo docente, eles acabam se sentindo empoderados. Mesmo aqueles alunos
que passam por situações muito sérias, que chegam até a miséria, acabam não
vindo para escola só para comer, eles vêm, mas depois começam a perceber
que podem mudar essa situação; ficam tão estimulados e começaram a querer
coisas diferentes começam a ficar motivados”.
estudos do que ir para o mundo do trabalho, como a maior parte dos alunos das
outras escolas faz”.
alunos vão estudando a sua história de vida eles também estudam a história do
mundo porque os fatos que estão acontecendo hoje, têm relação com os fatos
passados, assim como na vida de cada um dos alunos. Nas aulas de História eu
procuro direcionar as diversas civilizações que nós estudamos às profissões que
existiam, como elas se definiam, como era ser um médico, um advogado ou um
engenheiro no Egito por exemplo, e como é atuar nessas profissões na
atualidade”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
6
A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo criou um currículo oficial que é utilizado em toda a
rede. As escolas do Programa Ensino Integral têm como diferencial a parte diversificada do currículo,
composta por metodologias e disciplinas que estimulam a construção do Projeto de Vida dos alunos.
7
A equipe central do Programa atua na elaboração de materiais, formação das equipes escolares e das
Diretorias de Ensino, orientação, acompanhamento e monitoramento das escolas pertencentes ao
Programa.
143
Retomando Freire (1996, p. 24), “(...) a reflexão crítica sobre a prática se torna
uma exigência da relação teoria/prática sem o qual a teoria pode ir virando
blábláblá e a prática o turismo”. Como os professores das escolas do Programa
trabalham em tempo integral, os gestores organizam diversos espaços de
formação, a partir das necessidades detectadas, com a proposta de ajudá-los a
superar suas dificuldades. Nota-se na fala dos Professores entrevistados uma
falta de entendimento no uso dos instrumentos de gestão, que deveriam
contribuir com o planejamento, monitoramento e avaliação das ações.
Outras necessidades de formação são levantadas por meio da Avaliação
360º. Esta avaliação, já apresentada no capítulo 2, feita com todos os
profissionais, aponta as fragilidades que precisam ser superadas, enquanto que
a elaboração do Plano Individual de Aprimoramento e Formação (PIAF) contribui
na organização de um plano de estudos que auxilia a sua autoformação e a
superação dessas fragilidades. Esse processo de gestão de desempenho
estimula a mudança de cultura na escola, principalmente porque a avaliação
ainda é vista pelos educadores como um instrumento de punição e controle, mas
a abordagem que os documentos do Programa trazem concebe a avaliação
como um instrumento de diagnóstico que colabora com a formação e o
aperfeiçoamento profissional dos educadores. O tempo integral também é um
aspecto facilitador para este processo, conforme demonstrado nos depoimentos
dos entrevistados.
Podemos concluir que, embora ainda existam dificuldades apontadas
pelos professores, o processo de formação instituído nas escolas tem
conseguido transformar o olhar dos educadores sobre os alunos; já não se pensa
mais em apenas transmitir conhecimentos, mas atender às necessidades e aos
sonhos dos alunos.
Como vimos, a Educação Integral consiste na oferta de atividades
pedagógicas diversificadas que visam ampliar as potencialidades dos alunos,
por meio de experiências artísticas, culturais, científicas, esportivas, do
aprendizado de línguas e outras que tenham sentido e significado para os
alunos, e também contribuam para a sua realização pessoal e inserção social.
A qualidade do ensino
E que por meio das aulas de História e Projeto de Vida os alunos possam
construir seu caminho para a emancipação pessoal e se libertar dos modelos
hegemônicos de dominação.
Por tudo o que foi exposto, acredito que as escolas do Programa Ensino
Integral oferecem Educação Integral em tempo integral aos estudantes do
Ensino Médio, respeita as suas individualidades e estimula as suas
potencialidades por meio de metodologias e disciplinas diversificadas; e tem
atingido seu objetivo na formação de jovens autônomos, solidários e
competentes com um Projeto de Vida construído, para atuar de forma consciente
e responsável neste mundo tão complexo e de sociedades com tantos desafios.
REFERÊNCIAS
DOCUMENTOS LEGAIS
ANEXOS
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – CURRÍCULO
Caro Professor(a):
Nome:________________________________________ CPF___________________
161
4
A maior preocupação é em relação à mudança de governo
porque nós sabemos que na rede estadual muda o secretário
ou o governador e mudam os projetos.
As disciplinas eletivas colaboram muito para o trabalho de
Projeto de Vida com os alunos. O único problema é que nós
temos que dar um curso novo a cada 6 meses e temos pouco
tempo para prepará-lo; é uma disciplina maravilhosa, mas às
vezes a gente não consegue preparar da forma que
gostaríamos.
O que eu vejo é que a escola do Programa Ensino Integral não
é integral só por causa do horário e esse é o nosso grande
desafio. Nós temos que pensar no aluno integral, temos que
pensar nele como um todo: na afetividade, na relação com a
família, na relação entre eles, no processo cognitivo e nós
temos que garantir a formação do aluno como um todo, temos
que convencê-los a se interessar pela aprendizagem.
Infelizmente, o apelo para o trabalho é muito grande, pois nós
estamos numa região industrial que tem boas ofertas de
emprego e isso acaba sendo um grande concorrente para
escola.
Nós temos o desafio das defasagens muito grandes; os anos
de defasagem acumuladas impedem que os alunos continuem
avançando nos estudos e acho que esse é o nosso maior
desafio: ajudá-los a superar essas defasagens.
2
Tem alunos que muitas vezes não querem que eu leia os relatos
das suas vidas, alguns querem que eu leia e guarde, e cada um
que supera a sua inibição e começa a participar ativamente das
aulas, é uma grande conquista.
Alguns alunos não gostam de se expor e esse é o maior desafio
no início trabalho até a gente conseguir fazer com que esse
aluno se sinta à vontade fale de si mesmo. Eles vêm que os
outros também têm problemas, principalmente quando se trata
do projeto familiar, do apoio da família ao projeto de vida deles.
Muitas famílias não dão esse apoio que eles necessitam, não
são presentes e eles trazem isso com muita tristeza. É muito
interessante como eles conseguem colocar os seus próprios
problemas e dizerem: o problema do outro é pior que o meu.