Mapa Mental - Marcus Lontra

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"Regida pela ética, a arte

Salão Nacional de Artes Plásticas (1983) conceitual é um grito débil, porém


persistente, de resistência e de
luta." (p. 352)
Artistas oriundos de
Julho, 1984 - Escola de Artes núcleos de resistência Fico constrangido em perceber que o texto de Marcos de Lontra
Visuais do Parque Lage (EAV) cultural durante a Ditadura. Costa, que é Crítico de Arte, Curador e Jornalista, seja tão pobre.
Não sei se assim acontece em função da qualidade do pdf que
estamos acessando, mas creio que não. A todo momento,
deparamo-nos com vírgulas sendo engolidas e subordinação mal
COMO VAI VOCÊ, GERAÇÃO 80? empregada. Além disso, parece traçar com seu storytelling
descolado uma narrativa utópica e bastante ideológica. Lê-lo
remete-nos imediatamente às ideias de Slavoj ?i?ek sobre
ideologia.
"[...] muito pouco, ou nada,
deviam aos movimentos
experimentais que marcaram os
anos 70." (p. 351) "Ao invés do prazer socializado, pré-68, o prazer é individual,
egoísta e particular. Faz-se arte, principalmente, porque não
há nada mais para se fazer." (p. 352)

"[...] a nova geração que não levou porrada e não comeu o pão que o
diabo amassou investiu na artesania da arte, pois não via mais saída
alguma; ela não acreditava mais na resistência." (p. 352)
O autor parece sofrer também de uma disfunção
diagnosticada pela teórica Anne Cauquelin (2005): olha
"Ora, para uma cambada de mesticos ignorantes, que recusavam a
sua própria história, o seu próprio passado, sua própria genetica,
para a Arte Contemporânea e tenta julgá-la aos moldes
nada melhor do que a invencao de um passado ficticio, nada melhor
da Arte Moderna. Em geral, Lontra passa a impressão de
que a alegoria e a grandiosidade épica do academismo." (p. 352) ser um arquivista, alguém que parece ter a necessidade
de classificar, separar e nivelar gerações inteiras de
artistas: esses são assim, aqueles são assados. Na
"O país condenado ao modemo deixou-se minha percepção da condição humana, esse tipo de
dominar por uma elite cujo sonho maior de generalização é pobre e bastante ingênua, tipicamente
riqueza era o Baú da Felicidade e o sonho moderna e herdeira de um Romantismo adolescente.
maior de beleza era a arte pompier" (p. 352)

"De acordo com ?i?ek, como e depois de Althusser, as ideologias


"Neste sentido, a busca por uma arte figurativa são, portanto, discursos políticos cuja função primária não é fazer
justifica-se como uma tentativa de se descobrir um
afirmações teóricas corretas sobre a realidade política (como
tema, uma história, urn caminho qualquer." (p. 353)
implica o modelo de ?falsa consciência? de Marx), mas orientar as
relações vividas dos sujeitos para e dentro dessa realidade." [2]
(tradução nossa)
"[...] toda abstração constrói urn território, todo o território
pressupõe uma reflexão, toda a reflexão determina uma Não posso deixar de comentar esta passagem. Eu sou o jovem
racionalização de métodos; toda a racionalização exige que salta do ônibus achando que toda modernindade é opressora.
objetividade; toda objetividade representa o discurso Não me julgo um inocente: observo os avanços e mudanças
modemo; toda a modernidade é repressora." (p. 353) compreendidas nesta, mas seus aspectos disciplinares, a vigilância
e a hegemonia, sua tendência à velocidade e ao autoritarismo, a
busca incessante do, assim dito, progresso, me dá ânsias de
vômito. Talvez essa seja a minha própria veia por onde corre algo
de Romantismo...
"E, assim, instala-se o paradoxo: a geração que investe
na Individualidade quer, ao memo tempo, descobrir
companheiros, Narcisos à procura de sua imagem, a Eis um tema que continua mais atual do que nunca. Ao ler esta
procura de seu eco." (p.353)
passagem, não pude não lembrar dos trabalhos renomaodos de
Zygmund Bauman - A Modernidade Líquida e o Amor Líquido, mais
especificamente - e de Byung-Chul Han com a sua Agonia do Eros.
Não poderia me aprofundar nestas obras em um espaço tão
"O mercado da arte a todos tratava como
pequeno. Basta dizer, porém, que Bauman traz no seu conceito de
enfants gates e a critica, na sua maioria,
liquidez uma resposta à questão da Pós-Modernidade, identificando a
acompanhava de maneira elogiosa as
raíz destes fatos na própria acessibilidade, velocidade e
peripecias dessa arte." (p. 356)
conectividade atuais. Byung-Chul Han, por sua vez, analisa esse
fenômeno através da ótica da perda constante da alteridade (a
agonia do Eros), uma vez que o sensual, em sua teoria, apenas pode
concretizar-se na relação do ser com o outro ser.

"Sem saudosismo. O sonho acabou, mais uma Um erro crasso no uso da língua francesa, uma expressão que
vez. Acabou a festa? Ora, basta olhar para o poderia muito bem ser dita em português: crianças mimadas. A
Brasil e ver a resposta estampada no rosto dessa grafia correta, entretanto, seria enfants gâtés. A palavra gâté define
miseria imensa, dessa impunidade imensa, aquilo que foi estragado ou arruinado, sendo un enfant gâté a
dessa falta de dignidade imensa, A "Geração 8o" criança que foi arruinada, a criança mimada. A acentuação ausente
fez a festa para urn pals que não houve." (p.
faz toda a diferença na hora da pronuncia.
358)

"E quando isso acontecer, meu amigo, meu camarada, Apesar de afirmar "sem saudosismos", o texto em si deixa-nos claro
todas as gerações da arte vão se encontrar unidas pelo que o que mais há é, de fato, saudosismo. Não apenas isso, reitero
tempo e não mais existirão temores pois a arte e a vida que o autor é um sonhador utópico, e que deveria comparecer
caminharao juntas, presente misterioso que o homem urgentemente a uma aula de produção textual, revendo não apenas
há de se permitir, sempre. E aí, então, a festa questões estilísticas, mas também gramaticais.
continuará. Podes crer." (p. 358)

Há algo aqui que ultrapassa a utopia, uma esperança que beira a religião. É
cega. Peço perdão pela minha arrogância: uma aluno da graduação urdindo
essas críticas à uma figura tão renomada no nosso campo de estudo,
porém, não posso me conter e não dizer o que penso sobre o que estou
lendo. Há passagens no texto que, ao meu ver, anulam totalmente a
credibilidade e autoridade intelectual do autor. Também surpreende-me que
um livro sobre crítica de arte não tenha sido alvo de uma revisão textual
mais minuciosa.
FURG
INSTITUTO DE LETRAS E ARTES (ILA)
História, Teoria e Crítica da Arte Brasileira - Turma U

Marcos Lontra: A Festa Acabou? A Festa Continua?


Um mapa mental comentado.

Professor Dr. Felipe Caldas


Discente: Eduardo Stigger (132473)

REFERÊNCIAS:

- CAUQUELIN, Anne. Arte contemporânea: uma introdução. São Paulo: Martins, 2005.
- Critica de arte no Brasil : temáticas contemporâneas / organizadora: Gloria Ferreira ? Rio de Janeiro : Funarte, 2006.
- [1] Internet Encyclopedia of Philosophy: https://iep.utm.edu/zizek/#:~:text=According%20to%20%C5%BDi%C5%BEek%2C%20like%20and,to%20and%20within%20this%20reality.
(acessado em 04/02/2022)

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