Revista Parlamento e Sociedade v6 n11
Revista Parlamento e Sociedade v6 n11
Revista Parlamento e Sociedade v6 n11
11 v.6 n.11
julho/dezembro 2018
ESCOLA DO
PARLAMENTO
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
Mesa
2018
Presidente
Milton Leite (DEM)
1º Vice-Presidente
Eduardo Tuma (PSDB)
2º Vice-Presidente
Rodrigo Goulart (PSD)
1º Secretário
Arselino Tatto (PT)
2º Secretário
Celso Jatene (PR)
1º Suplente
Soninha (PPS)
2º Suplente
George Hato (PMDB)
Corregedor Geral
Souza Santos (PRB)
Revista
Parlamento
e Sociedade
ESCOLA DO
PARLAMENTO
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
Revista
Parlamento
e Sociedade
Rev. Parlamento e Sociedade São Paulo v.6 n.11 p.1-108 jul.-dez. 2018
A Revista Parlamento e Sociedade é uma publicação semestral da
Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo
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Escola do Parlamento
Câmara Municipal de São Paulo
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13º andar, 1302A
São Paulo – São Paulo – CEP 01319-900
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Revista
Parlamento
e Sociedade
Expediente
Editor Presidente Alexsandro Santos
11 Apresentação
Alexsandro Santos
Por fim, o artigo assinado por Roberto Lamari e Fátima Thimóteo, também
partindo da base de dados da pesquisa conduzida pela Escola do Parlamento em
2018, estabelece o cotejamento entre as respostas apresentadas pelos estudantes
de ensino médio da rede pública municipal de São Paulo a respeito de suas repre-
sentações e compreensões a respeito da participação política, das instituições da
democracia e da sua adesão a valores democráticos com as respostas apresenta-
das pelo público de jovens atendidos nos cursos de Iniciação Política desenvolvi-
dos junto à Escola do Parlamento Doutor Osmar de Souza, vinculada à Câmara
Municipal de Itapevi, na Grande São Paulo.
...
Num tempo em que a democracia está sendo posta à prova e questionada
em sua responsividade e em sua capacidade de organizar e mediar as demandas,
conflitos e relações sociais, aumentar nossa densidade no debate público e na
formulação de soluções no campo da educação política para a cidadania é uma
tarefa incontornável e urgente. Este número da Revista Parlamento e Sociedade
sinaliza um direcionamento estratégico importante convergente com essa aposta
e demonstra a relevância de adensarmos estudos e pesquisas que subsidiem ações
consistentes voltadas à aprendizagem de valores democráticos nas escolas de
educação básica.
As evidências disponíveis nos indicam que tais ações devem ser mobiliza-
das em perspectiva sistêmica, considerando as traduções das diretrizes curricu-
lares estabelecidas nos documentos oficiais em programas permanentes nas dife-
rentes redes e sistemas de ensino, a produção e disseminação materiais didáticos
e de orientação aos professores, a inclusão da temática na formação inicial dos
professores, em cursos de licenciatura, a criação de programas de formação con-
tinuada sobre o tema e a construção de mecanismos e estratégias de avaliação de
resultados neste campo, à semelhança de experiências internacionais já exitosas
em diferentes países, inclusive na América Latina.
Referências Bibliográficas
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WOOD E. M. Democracy Against Capitalism. Cambridge, UK: Cambridge
University Press, 1996.
Resumo
O artigo apresenta uma reflexão a respeito das relações entre qualidade
da democracia e educação política para a cidadania, verticalizando sua análise
na convocação feita às escolas de educação básica para que assumam parte da
responsabilidade pela formação política das crianças, adolescentes e jovens. No
esforço analítico, o texto estabelece uma proposta de tipologia em torno de três
macrovisões sobre as possibilidades de compreensão da função da escola neste
campo a partir da convergência de pesquisadores do campo da educação com
pesquisadores do campo das ciências sociais. A título de considerações (não)
finais, sugere-se cinco iniciativas importantes para os esforços de educação polí-
tica para a cidadania na escolarização formal.
Introdução
O indiano Bhaskara Akaria, que desenvolveu estudos avançados na área da
matemática e da astronomia no século XII é considerado um dos primeiros pensa-
dores modernos que tentou desenvolver uma máquina de movimento perpétuo (ou
moto-contínuo). Depois dele, outros homens do pensamento e da ciência buscaram
o mesmo objetivo como Villard de Honnecourt (França, 1200-1250), Leonardo da
Vinci (Florença, 1452 – Amboise, 1519), Edward Somerset (Inglaterra, 1602 – 1667)
e o austríaco Nikola Tesla (Austria, 1856, Estados Unidos, 1943).
De modo simplificado, poderíamos dizer que o moto-contínuo seria um sis-
tema ou dispositivo que, uma vez iniciado, seria capaz de permanecer em movi-
mento indefinidamente a partir da energia gerada pelo seu próprio movimento.
Até onde avançamos, na Física, esse sistema ou dispositivo não é possível – uma
vez que contraria as leis da termodinâmica.
Metaforicamente, podemos dizer que, especialmente após a derrubada
do muro de Berlim e o avanço dos regimes democráticos formais (basicamente,
com eleições livres e razoavelmente seguras) nas diferentes regiões do pla-
neta, passamos a encarar a democracia liberal (BOBBIO, 2000; OVEJERO, 2008;
MACPHERSON, 1978; SANTOS, 2003) como uma espécie de sistema moto-contí-
nuo que, uma vez instalado nas sociedades, manter-se-ia em movimento, gerando
as condições para sua própria sustentação, sem qualquer tipo de esforço adicional
das comunidades.
Não é que considerássemos a democracia liberal o arranjo perfeito para
a governança das sociedades. Pelo contrário, neste mesmo período, uma quan-
tidade gigantesca de estudos e proposições críticas apontando os limites desse
modelo de democracia e convocando os povos a aprofundar suas promessas de
igualdade e de liberdade foram produzidas em diferentes lugares do planeta.
Mas, em todos esses investimentos, a democracia pareceu figurar como um valor
universal (SEN, 1999) e como uma realidade tão sólida que seria impossível de se
desmanchar no ar. Essas nossas nossas crenças ingênuas numa estabilidade ‘ine-
rente’ ou ‘constitutiva’ da democracia foram pouco a pouco sendo solapadas por
uma crise dos fundamentos dos regimes democráticos. Temos enfrentado uma
recessão democrática, o termo foi mobilizado por Larry Diamond (2015), no artigo
Facing up to the democratic recession, publicado no Journal of Democracy.
Recuperando a periodização estabelecida por HUNTINGTON (1991),
Diamond assinala que o último quartel do século XX assistiu entusiasmado a
chamada terceira onda da democratização, inaugurada com a Revolução dos
Cravos, em Portugal:
Quando a terceira onda [de democratização global] começou em 1974, ape-
nas cerca de 30% dos países do mundo cumpriam os critérios de democracia
eleitoral – um sistema em que os cidadãos, por meio do sufrágio universal,
podem escolher e substituir suas lideranças políticas por meio de eleições
regulares, livres, justas e legítimas. Naquela época, havia apenas 46 demo-
cracias no mundo. (...) Nas três décadas seguintes, a democracia teve uma
Efetivamente, a crise das democracias tem sido assumida como uma carac-
terística marcante do início do terceiro milênio e uma série de estudos e pesquisas
vêm se debruçando sobre suas causas e buscando alternativas para seu enfren-
tamento. Nos últimos anos, essa temática, inclusive, superou os limites estritos
do debate acadêmico de especialistas e ocupou a esfera pública de modo mais
intenso, levando livros como “Como as democracias morrem”, de Steven Levitsky
e Daniel Ziblatt e “O povo contra a democracia”, de Yascha Mounk às listas dos
mais vendidos em diferentes lugares do mundo.
sociedade nova, sem os defeitos e vícios da sociedade herdada dos mais velhos.
Presente nessa perspectiva está a narrativa que considera que a criação de uma
sociedade nova passa, necessariamente pelo enfrentamento ostensivo e destitui-
ção dos grupos/classes sociais que, no presente arranjo social, ocupam posições
de dominação nas diferentes dinâmicas de opressão e hierarquização, a partir
de marcadores como classe, raça e gênero, por exemplo. Em certa medida, essa
macrovisão pretende, além de realizar a educação política propriamente dita,
colocar a escola como lugar de operacionalização de um projeto político específico
de sociedade – o que pode, dependendo das formas escolhidas – abrir espaço para
que se questione se o que está em jogo é a educação política para valores demo-
cráticos ou – em algum grau – a formação de quadros ideológicos a partir de uma
determinada posição do espectro político desta sociedade. (KRUPSKAYA, 2017;
ABREU & LIMA, 2013; MANACORDA, 2007; FRIGOTTO & CIAVATTA, 2012;
PISTRAK, 2009, SHLGIN, 1924)
Em uma terceira macrovisão, defende-se que a educação política para a
cidadania que a escola deve promover é aquela que permite aos educandos o
acesso amplo e plural ao conjunto de conhecimentos necessários à interpretação
crítica da realidade social, à interpretação da dialética existente entre passado e
presente, à compreensão das dinâmicas históricas que atualizam as estruturas
sociais e à identificação, crítica e combate às diferentes manifestações de hierar-
quização e opressão presentes de modo contraditório no arranjo democrático e
que oferece aos estudantes a possibilidade de conhecer e manejar as ferramentas
disponíveis para que os sujeitos (individual ou coletivamente) interfiram na con-
formação das estruturas e instituições sociais, quer seja para manter e preservar
determinadas tradições, práticas ou valores condizentes aos valores democráticos
e inclusivos, quer seja para questionar, eliminar, transformar ou reinventar outras
tradições, práticas e valores que considerem ferir um projeto de sociedade demo-
crático e inclusivo. Em certa medida, tal macrovisão considera que a contribuição
da educação política para o avanço dos processos de transformação social e de
confirmação de valores democráticos se organiza mais pela garantia da apropria-
ção efetiva das ferramentas de compreensão crítica e plural da realidade social a
partir de valores democráticos que não se afiguram como propriedade ou patri-
mônio exclusivo de um único setor do espectro político de uma dada sociedade.
Ao encarar desta forma a educação política para a cidadania, os defensores desta
macrovisão podem – dependendo dos caminhos que escolherem para operacio-
nalizá-la – assumir uma perspectiva ingênua que deixa de enxergar as determi-
nações econômicas, sociais e culturais que impedem que a pluralidade de visões
processos de educação formal, nos limites deste artigo ousaremos propor algu-
mas reflexões sobre os desafios e oportunidades que se colocam para este campo.
Inicialmente, vale assinalar uma certa análise alternativa sobre a participa-
ção política juvenil. Analisando essa questão, estamos inclinados a assumir que:
Embora os últimos anos, com uma multiplicidade de manifestações e tentati-
vas de ensaiar novas formas de fazer política (Ekman & Amnå, 2012; Ferreira,
Azevedo & Menezes, 2012; Norris, 2002), tenham sido pródigos em contrariar
os discursos sobre o aparente desinvestimento e apatia políticos dos jovens,
tanto em democracias emergentes como tradicionais (e.g., Amadeo et al.,
2002), há uma mathesis instalada sobre o déficit de participação dos jovens e
uma recorrente ênfase na responsabilidade das escolas como contexto para
resolver este “problema”. (RIBEIRO & MENEZES, 2015, p. 71)
2 Algumas experiências têm sido desenvolvidas neste campo, como o trabalho da organização não
governamental Politize!, que tem liderado a construção de propostas de itinerários formativos para
o ensino médio na área da educação política para a cidadania.
Referências Bibliográficas
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COMPARATO, F. Educação, Estado e Poder. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987
Resumo
Um dos desafios de um país democrático está associado à educação política
formal. Há um número relevante de pessoas no Brasil que se destinam a discutir a
educação política, algumas no papel da academia, e outras como organizações e ini-
ciativas que atuam levando este conhecimento à população brasileira. No entanto,
identifica-se uma inexistência de consenso sobre o que seria essa educação – a
começar pelo próprio termo, que no Brasil já não é unânime. Múltiplos termos são
empregados para tratar dessa mesma educação, e não há estudos indicando as simi-
laridades entre esses conceitos. Além disso, a própria ideia que o conceito traduz,
mesmo quando empregado o mesmo termo, difere entre os autores encontrados.
Este trabalho apresenta uma revisão de parte da bibliografia existente sobre o tema,
discorrendo sobre os principais termos empregados e as ideias atreladas a eles.
Por fim, é feita uma análise sobre as similaridades entre os termos, e a sugestão de
construção dos aspectos comuns a este conceito. As conclusões apontam que existe
mais convergência do que diferenças entre os diferentes termos.
1 Luiza Jardim é analista de participação social no Colab, formada em Administração Pública pela
FGV-EAESP. Trabalha com gestão pública colaborativa em governos municipais, estruturação
de processos participativos, articulação com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e é
coordenadora acadêmica do Colab University, que oferece cursos sobre inovação na gestão pública.
Trabalhou previamente com sustentabilidade em um centro de estudos no Brasil e em uma orga-
nização de reciclagem no Chile, e é voluntária de educação política pelo Politize. Suas áreas de
atuação são gestão pública colaborativa, participação social, política e sustentabilidade.
Introdução
A filosofia política associa a democracia a duas questões essenciais: a parti-
cipação, que sob a lógica da eleição de representantes teria um aspecto mais quan-
titativo, e a educação (ou informação), que estaria associada a um aspecto mais
qualitativo (DANTAS, 2010). O autor justifica essa divisão trazendo o exemplo do
sufrágio universal, e mostrando a relação de que quanto mais espaço é oferecido
para os cidadãos participarem, melhor ou mais democrático seria o regime. No
entanto, afirma que não basta ampliar o acesso dos cidadãos aos mecanismos de
participação, porque só isso não garante a efetiva participação.
Neste contexto, o desafio de um país democrático deve estar associado,
também, à educação política formal – o aspecto qualitativo levantado anterior-
mente e que Bobbio (1986) chamou de “a promessa não cumprida da Democracia”
(BOBBIO, 1986). No Brasil, a educação política formal foi obrigação nos currículos
escolares durante muitos anos (REZENDE, 2010). Hoje este tema não está mais
previsto dentro de uma matéria única e obrigatória, mas considerado de maneira
transversal no currículo.
Nos últimos anos, de tempos em tempos têm surgido debates sobre o
ensino de política nas escolas, motivados por alguma discussão em nível nacional.
No Congresso, o debate também se manifesta, sendo destacado em projetos de
lei que avançam em diferentes graus. No entanto, embora a abrangência dessas
discussões, pouco é mencionado sobre qual seria este conteúdo, e o seu proces-
so-aprendizagem, abrindo margem para que cada pessoa enxergasse o tema com
uma perspectiva diferente, o que é ilustrado quando pensamos na coexistência
de movimentos por educação política e o Escola Sem Partido, ambos com seus
adeptos, mas sem critérios claros.
Há, na academia, alguns trabalhos que apresentam discussões sobre isso,
e é possível perceber uma variação em relação ao termo utilizado nas aborda-
gens, como educação política, educação para a cidadania, letramento político, ensino
da democracia, dentre outros. Levanta-se, portanto, o questionamento de quais as
diferenças entre estes termos, e quais termos mais se adequam a este debate sobre
a discussão e educação sobre aspectos da política.
Forlini (2015) aponta que, embora o tema esteja presente de alguma maneira
em obras de diversos autores clássicos, não há autores que discorram unicamente
sobre Educação Política e seus diversos aspectos. Nascimento et al. (2016) colocam
que as experiências de educação política, em um geral, “compartilham a convic-
ção em torno da necessidade dos cidadãos compreenderem determinados temas e
interiorizarem práticas que contribuem para qualificar a sua relação com a política
democrática” (NASCIMENTO et al., 2016, p. 232), e descrevem que cultura política
é desde a interação dos cidadãos entre si, até destes com as instituições políticas.
Além disso, colocam que outro aspecto importante é que essas atividades fujam
dos padrões de ensino tradicionais, que costumam ser excessivamente expositivos,
colocando a necessidade de práticas conectadas a situações reais (idem).
No entanto, a despeito dessas contribuições de Nascimento et al. sobre
uma concepção geral das atividades de educação política, não há estudos que se
aprofundem na pluralidade de conceitos e concepções do termo, conforme citado
anteriormente e apontado também por Forlini (2015).
Partindo, então, da hipótese de que não há no Brasil um consenso sobre o
que é educação política, e que isso representa um problema na medida em que
dificulta as discussões sobre o tema, foi realizada uma pesquisa em 2018 com o
objetivo de, com base na literatura existente sobre o assunto, identificar quais os
diferentes termos empregados, suas características e as relações entre os diferen-
tes conceitos para essa mesma educação.
Neste artigo, para a Revista Parlamento e Sociedade, será apresentada essa
revisão do que é ou do que se tem entendido por Educação Política no Brasil, na
perspectiva de diferentes autores, e uma análise sobre as similaridades entre os
termos existentes. Com isso, pretende-se apresentar uma base comum daquilo
que se entende por educação política no Brasil, afim de contribuir para a compre-
ensão e análise dos demais artigos que compõem esta revista.
2 PLATÃO. República. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2002. Tradução de Enrico Corvisieri.
entre educador e educando (Freire, 1987, apud Pellanda, 2016); um processo con-
tínuo, sem um início ou fim demarcado (Cosson, 2010); e imersivo em práticas
políticas didáticas, deliberativas e participativas (Fuks e Casalecchi, 2016).
Conclusão
A revisão de literatura aqui apresentada revela a falta de consenso em rela-
ção ao termo adotado para referir-se ao tema da Educação Política e ao seu signi-
ficado. Esta falta de consenso pode representar dificuldades significativas sobre-
tudo em dois sentidos: (i) na tarefa de reunir todo o material que está falando
sobre o tema, porque as pesquisas por bibliografia podem trazer apenas parte dos
resultados, dificuldade relatada por Forlini (2015); (ii) na criação de barreiras para
a construção de um sentido comum do que é essa educação, e de que conteúdos
seriam necessários nos currículos escolares brasileiros.
Este segundo argumento refere-se ao fato de que, como a maioria dos auto-
res descreveu, este tipo de conteúdo – considerando as diferenças para cada autor
– está em falta na educação básica do país. Ainda assim, o tema está em debate
atualmente. No entanto, não havendo um consenso sobre a nomenclatura para
referir-se a essa educação e qual o seu significado, é difícil realizar discussões
aprofundadas sobre o tema, dado que as partes envolvidas podem estar olhando
para diferentes objetos. Além disso, a falta de consenso que foi percebida em
relação a quais conteúdos compõe este ensino, também representa um fator a ser
revisto, mas este trabalho não traz este enfoque.
A principal contribuição aqui indica que, com base na literatura abordada,
o uso de diferentes termos não traz de fato mudanças significativas em relação
ao tipo de educação que se está estudando ou aplicando atrelada a cada termo. O
que está sinalizado no final da seção anterior é que as diferentes concepções de
educação política – ou outro termo utilizado – tem mais pontos em comum do que
divergências, e isso é essencial ao debate.
Ademais, mesmo que este campo de estudos seja recente – dado que a
literatura aqui abordada é predominantemente das últimas duas décadas – é de
grande importância a construção de um significado comum, ou pelo menos uma
intensificação das trocas entre as pessoas aqui envolvidas, com o intuito de con-
tribuir para os estudos do campo e facilitar as discussões sobre o tema.
Portanto este artigo, ao apresentar uma revisão da literatura existente sobre
os diferentes conceitos de educação política e um resumo do que seria essa edu-
cação com base nas diferentes concepções, é necessário para iniciar o processo de
construção de um significado comum para o tema, que permita, por fim, ampliar
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DANTAS, H. Apresentação: O caráter essencial da educação política e o
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Resumo
Este artigo apresenta a educação política como tema central, tendo como
objetivo reunir e demarcar conceitos e abordagens teóricas fundamentais ao estudo
dessa prática e, sobretudo, de seus efeitos. Para tanto, utiliza de ampla pesquisa
bibliográfica para retomar literaturas seminais sobre socialização, socialização polí-
tica e eventos políticos, subsidiando a elaboração de uma compreensão mais apro-
fundada das teorias sobre educação política e sobre os seus efeitos em dimensões
do conhecimento político, da participação política e das atitudes políticas demo-
cráticas de seus participantes. Os achados revelam que esse tipo de esforço teórico
se mostra indispensável a um campo de estudo amplo e detentor de conceitos fre-
quentemente imbricados que nem sempre se distinguem tão claramente uns dos
outros, sinalizando, ainda, o efeito de compensação da educação política como uma
possibilidade a ser mais bem investigada para o contexto brasileiro.
décadas seguintes, 1960 e 1970. Sapiro (2004) realizou, por meio do repositório
on-line Journal Storage (JSTOR)4, um mapeamento dos artigos acadêmicos do
campo da Ciência Política que traziam o termo “socialização” em seus respecti-
vos resumos, encontrando o primeiro trabalho em 1958, o segundo em 1960 e o
terceiro em 1964. O levantamento da autora também demonstrou o significativo
crescimento das pesquisas sobre o tema na década de 70 e a relativa redução
dessa expansão já na década seguinte, embora a produção dos estudos continu-
asse a fluir. Greenstein, em 1970, afirmou que a socialização política era, então,
um “estoque de crescimento”, assim como Cook indicou, em 1985, a clara desa-
celeração desse desenvolvimento.
As razões fundamentais do florescimento do interesse dos estudos da
Ciência Política pela socialização política foram questionadas por Sigel ainda em
1970. Entre as possíveis respostas elencadas pela autora para a referida indagação,
uma merece destaque: a que qualifica o século XX como o século da democracia.
Para a devida compreensão desse cenário, entretanto, torna-se necessário locali-
zá-lo no contexto histórico, social e político ao qual se relaciona, enquadramento
este explorado e discutido notadamente pela obra The Civic Culture, de Almond
e Verba (1963).
No início da década de 1960, Almond e Verba publicaram uma obra que se
tornou canônica, The Civic Culture (1963). A pesquisa, oriunda da Ciência Política
norte-americana, apresenta, como tônica, o estudo da cultura política democrá-
tica e dos processos e estruturas sociais que a sustentam, ao mesmo tempo em
que afirma, como argumento central, a necessidade, em sistemas políticos par-
ticipativos democráticos, de uma cultura política consistente com tais sistemas.
Situada na conjuntura pós Segunda Guerra Mundial, com o avanço dos regimes
democráticos no Ocidente e o crescente número de nações emergentes africanas
e asiáticas que pleiteavam a admissão no “mundo moderno”, a obra questiona
qual conteúdo e direção a cultura política mundial em ascensão à época teria,
sugerindo, porém, uma clareza.
Mas um aspecto dessa nova cultura política mundial é discernível: será uma
cultura política de participação. Se existe uma revolução política em todo o
mundo, é o que pode ser chamado de explosão da participação. Em todas as
novas nações do mundo, a crença de que o homem comum é politicamente
relevante – que ele deveria ser um participante envolvido no sistema político
– ainda que essas experiências possam criar certas predisposições para atitudes
políticas por parte dos indivíduos, existem outras formas de socialização, inclu-
sive a socialização política manifesta; e (3) o fluxo de influência não é necessa-
riamente unidirecional, ou seja, não apenas os padrões de autoridade familiares,
escolares ou ocupacionais podem influenciar o sistema político, mas também é
possível que os padrões aplicados ao sistema político interfiram nos padrões de
autoridade nessas outras áreas.
Em continuidade à evolução histórica do conceito de socialização política,
Almond e Powell (1966) a definem como o processo a partir do qual atitudes
e valores políticos são introduzidos à medida que crianças se tornam adultos,
bem como a partir do qual adultos são recrutados para assumir papéis na socie-
dade. Greenstein (1968), por sua vez, a compreende como o aprendizado político
– formal e informal, deliberado e não planejado – em todas as etapas do ciclo
da vida, considerando tanto o aprendizado político explícito quanto o aprendi-
zado não denominado político capaz de influenciar o comportamento político5.
Easton (1968) ainda define socialização política como processos de desenvolvi-
mento por meio dos quais as pessoas adquirem orientações políticas e padrões
de comportamento.
A aparente concordância da literatura sobre o significado e o caráter pro-
cessual dos conceitos de socialização e de socialização política alcança trabalhos
contemporâneos, que repercutem e alimentam tais ideias. Maccoby (2015) se
refere à socialização como os processos por meio dos quais os indivíduos apren-
dem habilidades, padrões de comportamento, valores e motivações que sejam
fundamentais ao devido funcionamento da cultura por eles vivenciada quando
crianças em desenvolvimento. Para Sapiro (2004), a socialização política, como
campo, compreende dois níveis interligados e complementares: no nível “macro”,
enquadra estudos sobre como políticas, sociedades e sistemas políticos inculcam
normas e práticas consideradas apropriadas em cidadãos, residentes ou mem-
bros; no nível “micro”, compõe-se de pesquisas sobre padrões e processos a partir
dos quais os indivíduos se engajam no desenvolvimento e aprendizado políticos,
de forma a estabelecerem relações particulares com os contextos em que vivem.
Com visão crítica sobre a construção do campo da socialização política na
esfera acadêmica, Sapiro (2004) argumenta que a Ciência Política precisa avançar
5 Conceito mais amplo de socialização política apresentado pelo autor, que exemplifica o aprendi-
zado denominado não político capaz de afetar o comportamento político a partir de atitudes sociais
e de características de personalidade politicamente relevantes.
6 Educação política, educação cívica, letramento político, educação para a democracia e educação
para a cidadania exemplificam parte dos termos designados. Alguns deles abarcam aspectos distin-
tos de um mesmo fenômeno; outros, concorrentes, trazem consigo diferentes abordagens teóricas
e práticas; enquanto outros, ainda, representam ênfases ou demarcações (COSSON, 2008).
pais; ou, de forma mais ampla, (iv) níveis de status socioeconômicos ao qual o
indivíduo está condicionado (NEUNDORF; NIEMI; SMETS, 2016; GAINOUS;
MARTENS, 2012; CAMPBELL, 2008). É novamente resgatada, portanto, a influ-
ência de agentes tradicionais da socialização política; agora, porém, interagindo
com e condicionando, por meio de seus atributos sociais, políticos e econômicos,
os efeitos de fontes alternativas de socialização política.
A noção de que a educação política pode compensar desigualdades funda-
mentadas sobretudo no status socioeconômico ao qual está condicionado o indi-
víduo frente aos seus respectivos níveis de conhecimento político, participação
política e atitudes políticas democráticas traz consigo, como ponto de partida,
uma ideia central: a de que os estratos menos privilegiados apresentam-se des-
favorecidos nessas três dimensões. Para que fique claro que essa teoria não se
sustenta de visão determinística ou mesmo preconceituosa, é preciso resgatar
achados empíricos que, hoje, se refletem na literatura.
No campo do conhecimento político, Sears (2002) aponta que as elites não
apenas detêm mais informações, como também possuem melhores recursos de
processamentos cognitivos. Converse (1964) já sugeria diferenças centrais nos
níveis de informação entre elites e públicos de massa, abordando o “primeiro nível
de informação” – simples, direto e mais comum aos públicos de massa, menos
politicamente sofisticados – e também o “segundo nível de informação”, mais
próximo do que Downs chamou de “conhecimento contextual” – complexo, abs-
trato e mais comum às elites, mais politicamente sofisticadas. Complementando,
Moisés e Carneiro (2008) afirmam, a partir de achados empíricos, que a baixa
escolaridade e a consequente baixa cognição se associam a uma perspectiva acrí-
tica quanto ao funcionamento do sistema democrático, enquanto os mais altos
níveis de escolaridade se aproximam de uma postura mais crítica nesse sentido
– ou seja, se associam aos “cidadãos críticos”, nos termos de Norris (1999).
Já no campo da participação política, Verba, Burns e Schlozman (2003, 2005)
são referências centrais ao explorarem a relação entre desigualdades econômicas
e políticas com foco para os seus desdobramentos no engajamento político. Em
suas principais conclusões, os autores apontam que a maioria dos elementos que
impulsionam a participação política tem origem, ao menos em partes, em antece-
dentes relacionados à classe social; nos estudos em questão, é a escolaridade dos
pais o fator que se configura como a “força motriz da desigualdade” na esfera da
atividade política. Verba, Burns e Schlozman (2003, 2005) concluem que a transmis-
são da desigualdade política não apenas é análoga à transmissão da desigualdade
econômica, mas interage com ela, elencando dois mecanismos a partir dos quais o
status socioeconômico dos pais, nesse caso representado pela escolaridade desses,
fomentaria a participação política dos filhos: o primeiro considera que pais escolari-
zados alimentam um ambiente politicamente estimulante, o que seria um bom pre-
ditor até mesmo para formas menos comuns de participação, enquanto o segundo
sugere ser provável que pais escolarizados tenham filhos escolarizados, sendo
então a escolaridade o preditor mais potente da participação política de um adulto.
No campo atitudinal, por fim, há algum tempo é apontada a relação entre
atributos individuais, com foco para o status socioeconômico e as características
demográficas, e a maior adesão a atitudes democráticas. Moisés e Carneiro (2008,
p. 30) encontram resultados que confirmam achados anteriores (Moisés, 1995) e
sugerem que “os indivíduos com baixa escolaridade preferem menos a democra-
cia, são mais indiferentes quanto ao regime e preferem mais o autoritarismo do
que os indivíduos com nível superior”, conclusões sustentadas inclusive para o
contexto da América Latina. Fuks, Casalecchi e Ribeiro (2019) conferem atuali-
dade a esse debate ao apontarem que, embora a maioria dos latino-americanos
prefira a democracia a outras formas de governo, apenas parte seleta desse grupo
apoia os princípios subjacentes a esse regime político, sendo a escolaridade e o
interesse por política, entre outros fatores, os elementos que distinguem aqueles
pertencentes ao pequeno grupo que apoia consistentemente os princípios demo-
cráticos daqueles que não o fazem.
É interessante, ainda, apresentar hipóteses rivais apontadas pela literatura
ao efeito de compensação da educação política. Neundorf, Niemi e Smets (2016)
afirmam outros três efeitos possíveis: o efeito de aceleração, o efeito “teto” e o
efeito “deixados para trás”. O efeito de aceleração, contrário ao de compensa-
ção, espera que os indivíduos oriundos de famílias mais politizadas tenham os
maiores ganhos com a educação política, enquanto o efeito “teto” espera que esse
mesmo grupo mantenha relativamente estáveis os seus altos níveis prévios de
engajamento. O efeito “deixados para trás”, por sua vez, espera que aqueles que
compartilham baixos níveis socioeconômicos, na ausência da educação política
ou com uma precária formação nesse sentido, se mantenham “atrás” daqueles
oriundos de famílias politizadas e/ou que se beneficiam da educação política. A
expectativa é que todos esses efeitos sejam encontrados na sociedade, porém o
efeito de compensação tem se mostrado mais consistente a partir de diferentes
pesquisas, conforme já referenciado.
Embora este artigo fundamente na teoria a sua aposta no efeito de com-
pensação da educação política para o caso brasileiro, ainda é preciso dialogar
com a literatura nacional sobre o tema que coloca desafios a essa interpretação,
como a que aponta relações próximas entre jovens “periféricos” e a esfera política
(DANTAS, 2016) ou a que apresenta ressalvas aos efeitos da escolarização sobre
comportamentos políticos desejáveis à convivência democrática (SCHLEGEL,
2010); razões, entre outras, que instigam e estimulam a caminhada de investi-
gação aprofundada do efeito compensatório da educação política para o Brasil.
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Resumo
O presente artigo dialoga com o campo da educação para a cidadania e
com as pesquisas que buscam compreender as relações entre educação escolar
e formação de valores e atitudes democráticas. Após uma discussão introdutó-
ria sobre as questões conceituais relacionadas à temática do engajamento cívico
e da participação política, os autores investigam a correlação entre a existência
de grêmios escolares (e a participação dos estudantes nesses colegiados) com a
construção e apropriação de valores e atitudes favoráveis à participação política
e ao engajamento cívico, mobilizando a base de dados organizada a partir dos
questionários aplicados aos jovens estudantes de 8 escolas de ensino médio no
âmbito da pesquisa “Jovens e Política”, realizada pela Escola do Parlamento da
Câmara Municipal de São Paulo em 2018.
1 Camila Alencar é Diretora de Programas na Politiquê?, ONG pernambucana que trabalha com
educação cívica de jovens. Formada em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco,
atuou como Programme Manager na TIE, empresa social britânica que fornece serviços de volun-
tariado corporativo; na Microsoft Europa, como Philantropies Coordinator em temas de educação
e tecnologia para jovens; e na GlobalGiving Foundation, com a equipe de Partner Services. Foi
bolsista da Fundación Botín no programa de Fortalecimento da Função Pública para a América
Latina e foi uma Global Citizen Fellow da Prudential Foundation.
2 Rafael Paraiso é Mestre e Bacharel em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE). Atualmente, atua como técnico de gestão para resultados na Secretaria do Planejamento e
Gestão do Estado do Ceará. Suas áreas de pesquisa principais incluem economia política, institui-
ções políticas e eleitorais.
Introdução
A falta de envolvimento de boa parte da população brasileira nos processos e
instituições que compõem o atual sistema político é um tema abordado pelos mais
diversos círculos sociais, desde debates acadêmicos, até conversas entre amigos. É
comum associar este fenômeno com a persistência das diversas mazelas que asso-
lam a vida cívica e política nacional e o nosso desenvolvimento socioeconômico.
Os dados, por sua vez, não nos permitem mentir. Apenas um número bas-
tante reduzido de brasileiros declaram abertamente participar de alguma ativi-
dade ou manifestação política. Dados coletados pelo Pew Research Center (2018),
relacionados ao engajamento cívico e participação política dos cidadãos, mos-
tram, tanto para o Brasil, quanto para outros 14 países, que a única forma de par-
ticipação na qual uma parcela significativa da população ainda está engajada é a
do voto. Em outras formas de participação, a parcela é consideravelmente menor.
80% 75%
70%
61%
60% 55%
50% 46%
42%
40% 35%
30%
19%
20% 16% 15%
10%
10% 6%
3%
0%
Votar em Participar de Prestar Comparecer Participar Doar
eleições discussões trabalho a evento de protestos dinheiro
políticas online voluntário político organizados
Votaram
21,6%
Não votaram
78,4%
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO
SOCIEDADE CIVIL
ORGANIZADA CAPITAL SOCIAL BOAS INSTITUIÇÕES
escola, está fortemente associado a uma maior integração social dos estudantes;
um maior conhecimento dos problemas que afligem sua escola e comunidade; e
maiores oportunidades para se mobilizar em torno deles (VERBA ET AL., 1995;
MCFARLAND; THOMAS, 2006).
Vêm se popularizando, especialmente nos Estados Unidos, os progra-
mas conhecidos como service-learning, que consistem na integração de serviços
comunitários no currículo pedagógico dos estudantes. Os programas conciliam
a atuação prática, em iniciativas que envolvam a resolução de problemas comu-
nitários, com lições acadêmicas, que buscam contextualizar as demandas sociais
das comunidades atendidas (ASLER, 1993). Oferecem, portanto, uma instrução
incluída tanto no contexto acadêmico da sala de aula, quanto no contexto social
mais amplo da comunidade.
No Brasil, a prestação de serviços comunitários por estudantes se consoli-
dou como prática pedagógica, principalmente, entre cursos de ensino superior.
Iniciativas como o Programa Nacional de Incentivos a Mudanças Curriculares
nos Cursos de Medicina (PROMED), implementado pelo Ministério da Saúde,
colocaram a integração do serviço comunitário como prioridade para os currícu-
los dos cursos superiores de medicina por todo o país. No entanto, o enfoque na
formação profissional e no reconhecimento territorial limita o enquadramento
dessas iniciativas no campo da educação cívica (PIZZINATO ET AL., 2012).
Variável dependente:
Participação estudantil
Exposto 0.038(0.034)
Atuante 0.406***(0.072)
Renda -0.003(0.017)
Constante 0.676***(0.037)
Observações 2,021
Por fim, resta-nos aferir se os grêmios são capazes de incentivar a atuação polí-
tica direta dos estudantes. Nossa hipótese considera que é possível haver um efeito de
“contágio”, em que a atuação dos participantes do grêmio serviria de incentivo para
que outros estudantes se tornassem mais atuantes politicamente (SAHA; PRINT,
2010). Para isso, iremos observar se há uma associação entre frequentar uma escola
onde há um grêmio estudantil e a declaração dos respondentes sobre outras formas
de manifestação cívica, política e social. Esta última será mensurada a partir da ques-
tão “23 – Ao longo dos últimos anos temos assistido a muitas manifestações pelo país.
Você participou de”, onde os respondentes assinalam entre seis alternativas distintas.
Assim, utilizaremos uma mensuração similar à da variável de participação
estudantil na gestão escolar, com as respostas sendo agregadas em um índice de
manifestação individual. No lugar da regressão de quasi-Poisson, utilizaremos
uma regressão binomial negativa, para lidar com problemas de superdispersão
no modelo. Os resultados (reproduzidos na tabela 4) mostram que tanto a expo-
sição, quanto a participação em grêmios tem uma relação bastante positiva com
as formas de participação.
Variável dependente:
Participação política
Exposto 0.242***(0.073)
Atuante 0.993***(0.146)
Renda 0.022(0.035)
Constante -0.671***(0.080)
Observações 2,021
Theta (Θ) 1.559*** (0.205)
Nota: *p<0.1; **p<0.05; ***p<0.01
Fonte: Elaborado pelos autores.
Conclusão
Há muito, os estudiosos do desenvolvimento reconheceram a importância
de uma cidadania ativa e de uma sociedade civil organizada para o bem-estar da
sociedade. Nomes como Robert Putnam (1993; 2000) colocaram no mapa a ideia
de que políticas públicas sozinhas não seriam suficientes para melhorar as con-
dições de vida dos vários grupos sociais mundo afora. A partir desse momento,
inspirar os cidadãos e cidadãs dos mais diversos países a se organizarem e lança-
rem redes e iniciativas capazes de aprimorar a vida de suas comunidades - locais
e nacionais - se tornou a prioridade dos diversos indivíduos e organizações que
se propuseram a promover o desenvolvimento em escala global.
A noção de que há uma relação direta entre os processos de socialização
política dos jovens e os padrões de comportamento cívico e político dos adultos
abriu outra frente de atuação: as intervenções em escolas. Promover ambientes
escolares democráticos e civicamente engajados se tornou uma das principais
formas de remediar a perceptível queda de envolvimento dos indivíduos nos
assuntos cívicos, políticos e sociais de suas comunidades. A educação cívica –
como ficou conhecido o conjunto de práticas pedagógicas que buscam promover
os conhecimentos, valores, competências e motivações necessárias a uma cidada-
nia ativa – voltou a ganhar defensores por todas as partes.
Nosso artigo buscou demonstrar a real importância da cidadania ativa no
bem-estar das sociedades e as maneiras como esta cidadania pode ser construída,
mantida e cuidada. Por meio da teoria do capital social, demonstramos como os
3 Importante relembrar neste ponto sobre a nossa decisão de agrupar, em nossa variável explicativa,
respondentes que afirmaram não existir um grêmio na escola em que frequentavam, com aqueles
que afirmaram não saber responder – logo, não estarem ao menos cientes de sua existência.
produza uma riqueza de novas análises, para além deste trabalho e desta publi-
cação, que busquem esclarecer a ainda pouco explorada relação entre os jovens
e a política no Brasil.
Pensando mais além, não nos custa ter a esperança de que esta iniciativa –
ou iniciativas similares – seja realizadas com frequência, nos permitindo formular
bancos de dados longitudinais, que nos permitam explorar de forma mais apro-
fundada a evolução e sensibilidade das atitudes entre diferentes indivíduos, perí-
odos e gerações. De maneira geral, a elaboração e implementação de intervenções
baseadas em evidências é uma das poucas formas de garantir resultados efetivos
e, entre as iniciativas brasileiras, esta ainda é uma prática relativamente rara.
Enquanto a sociedade brasileira se pergunta sobre que caminho trilhar para
um futuro mais próspero e igualitário, para os autores deste trabalho não restam
muitas dúvidas: precisamos começar pelas nossas escolas.
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Resumo
O que jovens do terceiro ano pensam sobre política? Como enxergam ele-
mentos essenciais atrelados à democracia? O presente trabalho se baseia em sur-
vey realizado pela Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo em
2018 com jovens de toda a rede de ensino médio municipal de São Paulo-SP, e em
pesquisas realizadas em cursos de Iniciação Política ministrados pela Fundação
Konrad Adenauer nas periferias da Região Metropolitana de São Paulo com jovens
de escolas estaduais nesse mesmo ano. O objetivo é compreender se a variável
atrelada à esfera de poder responsável pelo Ensino Médio impacta nas percepções
políticas especificamente dos estudantes do terceiro ano. Parte-se da hipótese,
seguindo outras análises comparativas semelhantes, que o fato de o aluno ser de
uma escola estadual ou municipal não altera sua relação com princípios e concei-
tos basilares de política e democracia.
Introdução
O artigo parte de uma comparação sobre a percepção de jovens sobre a
política construída com base em dois grandes grupos de alunos de terceiro ano
da bibliografia em geral. Não será preocupação dessa análise uma análise acurada
de outras pesquisas e estudos. Com base no que colheram os autores que avalia-
ram jovens em diferentes realidades em termos geográficos, é possível partir da
hipótese de que os dois públicos aqui analisados não tendem a revelar grandes
diferenças em suas percepções sobre política.
mais tradicionais, com exceção da TV, são menos utilizados. E as formas pre-
senciais – aulas, eventos e conversas – ganham peso maior que o grupo anterior.
Nesse sentido, foi possível agrupar os 11 canais de informações dos for-
mulários em três grandes grupos. Estudantes do Município e do Estado mos-
tram padrões muito semelhantes de comportamento em relação aos resultados
aqui obtidos. Com base nas médias simples dos canais, o grupo chamado Canais
Virtuais é o mais significativo. O que chamamos de Canais Tradicionais ficam
abaixo, até mesmo, dos Canais Presenciais. Isso representaria dizer que a escola,
as conversas e eventos públicos têm peso agregado maior que as mídias tradicio-
nais, destacando aqui o peso da TV para alavancar uma média de meios que não
parecem dialogar fortemente com os jovens – rádio, revistas e jornais impressos.
Os resultados também servem para desmistificar a ideia, por vezes veiculada no
senso comum, de que estudantes do Ensino Médio não têm interesse por política.
Seguindo a ordem do formulário aplicado na fase inicial do curso de
Iniciação Política, a questão seguinte estava associada ao envolvimento dos res-
pondentes com a política: o interesse pelo título de eleitor, a percepção sobre o
voto, o gosto pela política e a participação eleitoral. Ao todo foram quatro per-
guntas, com resultados apresentados na Tabela 3.
Os resultados não são diferentes em nenhuma das questões, mas por vezes
aparecem em intensidades distintas. No Estado, o interesse dos jovens pelo título
de eleitor é maior com menos de 18 anos, mas aqui o curso foi realizado, por
exemplo, em projetos sociais que durante semanas trabalham com aspectos rela-
cionados à cidadania. No Município, a pesquisa abordou todos os estudantes,
enquanto o curso de Iniciação Política, por vezes, fala para públicos mais específi-
cos. Ainda assim, a percepção sobre o voto predominantemente como um direito,
e não como um dever, se sobressaiu de forma bastante significativa em ambos
os grupos. Na questão seguinte essa qualificação do público aparece com maior
intensidade: afirmar que “não gosta de política, mas precisa dela no cotidiano”
conta com a imensa maioria das percepções dos jovens em percentuais bastante
semelhantes, mas entre os alunos do Estado gostar de política atinge 22% dos
respondentes, contra 12% nas escolas municipais. Isso pode ser resultado do que
se afirmou anteriormente: as pesquisas se deram por razões diferentes. Por fim,
ainda com relação aos dados da Tabela 3, a minoria dos jovens já havia votado
em 2018, e mais da metade deles não teria a experiência naquele ano, mesmo com
idades que lhes permitissem tal ato.
A despeito dos resultados colhidos em relação aos instrumentos mais for-
mais da democracia representativa, as questões seguintes buscavam entender
quantos jovens participaram de movimentos com características sociais e políti-
cas mais ativas.
feita anualmente pelo Ibope desde 2009, e denominada Índice de Confiança Social
(ICS), mostra as legendas com resultados críticos e em último lugar entre 2009 e
2016. No biênio seguinte a baixa popularidade do ex-presidente Michel Temer
fez a “Presidência da República” ocupar tal posto, mas como resultado do demé-
rito do mandatário e não em virtude de uma melhora na imagem das legendas.
Os jovens pesquisados reforçam o que tem sido colhido junto à opinião pública
mais geral. Entre os alunos do Estado 84% afirmaram não simpatizar com qual-
quer partido, enquanto pouco menos de 15% dizem ter alguma preferência. Aqui
o destaque é o PT (Partido dos Trabalhadores), mas PSOL, PSL, Novo, PMDB,
PSDB, dentre outros, aparecem de forma mais discreta. Já entre os estudantes
de escolas municipais, 82% reforçam a ausência de simpatia por algum partido,
enquanto pouco mais de 12% dizem ter uma determinada preferência – aqui o
PT repete seu destaque, e PC do B, PSL, PSDB, PSC, entre outros, aparecem em
menor escala. Os percentuais de posicionamento não atingem 100% porque mui-
tos jovens deixaram de responder a essa pergunta.
Seguindo no formulário dos cursos de Iniciação Política, o intuito era com-
preender o que faz uma Câmara Municipal com base em alternativas oferecidas
no questionário. Os estudantes podiam marcar quantas respostas fossem condi-
zentes com suas percepções, sendo que duas delas tinham aspecto verdadeiro e
atrelado às leis – fiscalizar a Prefeitura e Legislar – enquanto outras estão mais
associadas a gestos e atitudes afeitos à cultura política e por vezes bastante ques-
tionados por analistas.
existe por grande parte dos alunos e alunas. Também importante destacar que o
índice que identifica o Legislativo como esfera para a prestação de favores indi-
viduais aos cidadãos é grande nos dois grupos, reforçando a lógica clientelista do
Legislativo no Brasil tão criticada em análises.
Para encerrar a avaliação dos estudantes em suas respectivas relações com
a política, uma série de sentenças era apresentada e os alunos podiam concordar
ou discordar, em partes ou totalmente, de cada uma delas. O nível de adesão à
afirmação pode gerar um índice de concordância que varia de 0 a 100, onde o
menor valor está mais próximo da discordância plena e o maior valor se aproxima
da concordância absoluta. Na Tabela 6, estão apresentadas as médias dos dois
grupos analisados.
Conclusão
Os resultados apresentados nesse trabalho corroboram a hipótese inicial-
mente lançada acerca da não existência de diferenças significativas na forma de
dois grupos de jovens estudantes de São Paulo enxergarem a política. A esfera de
poder responsável pelas escolas frequentadas – Município de São Paulo e Estado
de São Paulo – não justifica percepção diferenciada na imensa maioria dos resul-
tados debatidos.
Em linhas gerais o que foi encontrado é um jovem contestador de algu-
mas características do sistema político e das instituições em geral, mas capaz
de valorizar aspectos basilares da democracia. Importante salientar, a despeito
da análise aqui desenvolvida, que enquanto a pesquisa foi realizada em toda
a rede municipal – composta por apenas oito escolas em diferentes regiões da
capital paulista – no Estado não existiu qualquer controle de amostra, mas sim a
coleta de percepções de jovens que iriam participar de uma formação em projetos
sociais, escolas do parlamento ou mesmo em suas escolas – fruto de parceria com
a Fundação Konrad Adenauer. Como esses resultados foram utilizados nos estudos
já citados à introdução, que buscavam diferenciar, sem sucesso, estudantes por
razões geográficas, é possível sugerir que, em relação à política, os resultados
colhidos servem para ilustrar uma visão mais ampla da juventude sobre o tema.
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Resumo
O presente artigo tem o objetivo de compreender o conhecimento de jovens
estudantes revelam sobre política e as regras do sistema político a partir de duas
pesquisas realizadas em decorrência de iniciativas de educação para a cidada-
nia implementadas pelas escolas legislativas de Itapevi e São Paulo. Revela-se o
impacto destas iniciativas na compreensão que os estudantes revelam ao mesmo
tempo em que indica a necessidade de ampliar qualitativa e quantitativamente
este trabalho de formação política para a cidadania e para a democracia, promo-
vido por escolas do Legislativo. Nos tempos atuais, potencializar este trabalho
significa incorporar, inclusive, as linguagens e as novas ferramentas de informa-
ção e comunicação indicadas pelos próprios jovens, as quais permitirão maior
alcance e a desejável disseminação do conhecimento.
Introdução
Os tempos atuais têm visto surgir lideranças juvenis na defesa de temáticas
importantes para a vida da sociedade planetária.
Na defesa de causas relevantes, exemplos como a ativista paquistanesa Malala
Yousafzai, com sua luta pela educação de meninas na área onde morava, e a sueca
1 Especialista em Gestão Pública pela EACH – USP e diretor geral da Escola do Parlamento Doutor
Osmar de Souza, da Câmara Municipal de Itapevi.
2 Mestre em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas – EAESP/SP, foi asses-
sora da Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo.
4 Percepciones de los jóvenes acerca del gobierno, la convivencia pacífica y la diversidad en cinco
países de América Latina Estudio Internacional sobre Educación Cívica y Ciudadana 2016 de la
IEA Informe Latinoamericano disponivel em https://www.iea.nl/publications/study-reports/
international-reports-iea-studies/percepciones-de-los-jovenes-acerca-del acessado em 15/11/2019
5 As amostras não são representativas da população estudantil do Ensino Médio das cidades indicadas.
6 O total geral é de 3000 alunos nas escolas.
Tabela 1
7 Com esta afirmação não se pretende negar a diversidade ou a desigualdade entre jovens adoles-
centes. Apenas se argumenta que estes jovens tem perfil semelhante, cursam escolas públicas no
estado de São Paulo e foram participantes do curso de iniciação política.
8 Essa constatação oferece um forte argumento para a melhoria da aprendizagem cívica dos estu-
dantes e a aquisição de conhecimento e compreensão cívica, com a perspectiva de desenvolver
orientações mais democráticas e níveis mais altos de aceitação do Estado de Direito.
Considerações finais
De formas muito diferentes, a atualidade vê surgir atitudes de ativismo
político que partem de uma realidade local e ganham a esfera global em pou-
quíssimo tempo.
A ideia de utilizar esta nova forma de perceber e atuar no mundo com o
objetivo de promover a democracia e a cidadania se sustenta pela constatação de
que graus mais elevados de compreensão e conhecimento levam a atitudes mais
próprias ao ser político e ao exercício pleno da cidadania, além da superação das
mazelas conhecidas e, por conseguinte, à melhoria das próprias instituições.
Referências Bibliográficas
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