Geometria Descritiva Uma Abordagem Concr
Geometria Descritiva Uma Abordagem Concr
Geometria Descritiva Uma Abordagem Concr
A Geometria Descritiva (GD) constitui uma das mais importantes disciplinas básicas dos
cursos de Engenharia, Arquitetura e Design, pois contribui decisivamente no desenvolvimento
do raciocínio lógico e da visão espacial, as quais são as bases para que sejam construídas as
competências dos profissionais egressos, principalmente no que tange às atividades
relacionadas ao projeto. No entanto, o ensino tradicional da Geometria Descritiva utiliza uma
abordagem extremamente abstrata, com pouca relação com o mundo concreto e totalmente
dissociada das experiências prévias dos estudantes. Como resultado, há excesso de
reprovações e evasões nas disciplinas relacionadas à GD (SILVA, 2005; TEIXEIRA et al.,
2006 e SILVA et al., 2007). Além disso, a imensa maioria dos alunos que são aprovados não
alcança um domínio total da disciplina, o que representa um grave desperdício de tempo e de
recursos, além de afetar a formação do futuro profissional.
Algumas escolas resolvem o problema da maneira mais fácil, retirando a GD como disciplina
obrigatória dos currículos dos cursos e dissolvendo o seu conteúdo nas disciplinas de Desenho
Técnico (DT). Mas isto não resolve o problema, pois o número de horas dedicadas aos
conceitos de GD fica muito reduzido e, muitas vezes, não há qualquer adequação da
metodologia já utilizada em DT. As conseqüências são graves, pois os alunos efetivamente
não aprendem os conceitos fundamentais de GD e acabam por concluir seus cursos sem uma
importante ferramenta para a sua formação plena. Por outro lado, as escolas resolvem o
problema das reprovações.
É obvio que existem problemas, mas simplesmente retirar a GD dos cursos cria um problema
muito maior, pois cria repercussões na formação dos egressos, os quais podem ser
permanentes. O grupo de pesquisa Virtual Design (ViD) é pioneiro no desenvolvimento de
ferramentas e metodologias com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino de GD,
buscando a melhoria do processo de aprendizagem dos alunos. O ViD desenvolveu pesquisas
teóricas relacionadas ao processo de aprendizagem, incluindo pesquisas relacionadas a estilos
de aprendizagem (SILVA, 1999 e Silva, 2005a), à aprendizagem significativa (SILVA,
2005b) e a aprendizagem baseada em projetos (TEXEIRA et al., 2006). Além disso, o ViD
desenvolveu várias pesquisas tecnológicas que resultaram em ferramentas de apoio ao
processo de ensino-aprendizagem, incluindo ambientes de aprendizagem hipermídia, como o
inovador HyperCALGD (TEIXEIRA et al., 1999), o HyperCAL on-line (SILVA et al., 2004) e
um modelador sólido para o apoio ao ensino de GD, o HyperCAL3D (TEIXEIRA et al., 2007).
O ViD vem implementando a aprendizagem baseada em projetos na maioria das turmas de
GD em um processo que teve início em 2006 e vem se expandindo pelos resultados bastante
animadores. Esta iniciativa mostra que investindo em pesquisa científica na área de
metodologia, ensino-aprendizagem e tecnologias educacionais é possível aumentar a
qualidade do ensino, aumentando a profundidade sobre os conceitos estudados e despertando
a vontade e a curiosidade de aprender nos estudantes. Este trabalho apresenta os principais
aspectos da nova metodologia aplicada no ensino de Geometria Descritiva nos cursos de
Engenharia, Arquitetura e Design da UFRGS.
2 METODOLOGIA
Trabalhar com objetos sólidos ao invés dos tradicionais ponto, reta e plano tem a importância
de reduzir a abstração necessária para entender as operações com estas entidades. Afinal, um
ponto é um objeto sem dimensões, uma reta é um objeto com uma única dimensão, mas de
comprimento infinito, e um plano é um objeto de duas dimensões e também infinito. Todos
estes conceitos extremamente abstratos são importantes, mas não há a necessidade de se
trabalhar com abstrações desde o início do processo. O estudo de entidades abstratas
dissociado de um contexto é a razão para o conflito no processo de ensino-aprendizagem.
Um objeto sólido de faces planas contém todas as entidades que são necessárias para a
aprendizagem da Geometria Descritiva. Os vértices são pontos, as arestas são segmentos de
reta e as faces são segmentos de planos. Porém, todos estes objetos são estudados como parte
de um contexto concreto: são elementos de um sólido. As operações relacionadas às entidades
fundamentais também são estudadas no contexto da solução de problemas relacionados aos
objetos sólidos.
Para um estudante que está iniciando o estudo de GD, é muito mais fácil entender o porquê de
achar a verdadeira grandeza (VG) de uma face de um sólido do que a razão para achar a VG
de um plano infinito ou de um triângulo solto no espaço. Obtendo a VG das faces de um
sólido, é possível planificar a sua superfície para construir um modelo real com as dimensões
corretas.
2.2 Notação
Apesar de manter nomes como linha de terra e plano de projeção, a ênfase é dada para os
eixos cartesianos que definem o Sistema de Referência (SR) e os planos de projeção. A linha
de terra é sempre o eixo x. Os eixos y e z são sempre representados de forma que fique clara a
coerência dos sistemas de referência e a lógica da representação. A ênfase na notação do SR
cartesiano aproxima da lógica dos sistemas CAD e de toda a experiência prévia dos alunos na
matemática, a qual sempre utiliza este tipo de representação. As conhecidas mudanças de
plano passam a ser denominadas mudanças de sistemas de referência.
3 EXEMPLOS DE ATIVIDADES
O
x
(a) (b)
z
z
O
x O
x
y
y
y’ y’
O’ O’
x’ x’
z’ z’
47°
(a) (b)
z z
O O
x x
y y
y’
O’
x’
z’
(c) (d)
Outra forma de aprendizagem contextual utilizada nesta nova metodologia de ensino para a
Geometria Descritiva é a construção de perspectivas dos objetos a partir de conceitos da
própria GD. As perspectivas facilitam a visualização tridimensional e permitem verificar a
precisão e coerência dos processos realizados. Perspectivas cilíndricas podem ser geradas
diretamente por mudanças de sistemas de referências apropriadas. Porém, perspectivas
cônicas requerem o uso de projeções cônicas em conjunto com as técnicas tradicionais de GD.
Um método para a construção de perspectivas cônicas exatas com três pontos de fuga foi
proposto por TEIXEIRA et al. (2006) e é utilizado como uma importante ferramenta nesta
nova metodologia de ensino para a GD.
O processo utiliza um vetor de visualização, o qual pode ser definido por dois pontos ou
algum outro tipo de descrição. No exemplo da Figura 3, é dada a posição do alvo, a direção na
projeção horizontal, ângulo em relação ao plano horizontal (neste caso é de 45º) e a distância
da câmera até o alvo (D). A perspectiva é obtida quando a projeção se dá na direção do vetor.
Portanto, é necessário acumular o vetor de visualização para obter a vista em perspectiva.
Inicialmente, é realizada uma mudança de sistema de referência para determinar a verdadeira
grandeza (VG) do vetor de visualização. Nesta vista auxiliar, o vetor de visualização é
completado, pois está em VG e é possível marcar seu comprimento e ângulo. Assim,
determina-se a posição da câmera (Figura 3a). Nesta mesma vista auxiliar, é posicionado o
quadro, plano onde é projetada a perspectiva e que deve ser perpendicular ao vetor de
visualização. Desta forma, o quadro fica acumulado na vista auxiliar, pois o vetor de
visualização está em VG. A seguir, são traçadas linhas de chamada (projetantes) a partir do
vértices do sólido na vista auxiliar até o base do vetor de visualização. O mesmo deve ser
feito na vista projeção horizontal original (Figura 3b). O passo seguinte é determinar a
interseção destas projetantes com o quadro. Os pontos de interseção são determinados
diretamente na vista auxiliar e transportados por linhas de chamada (alçamento) até às
projetantes correspondentes na vista horizontal. O resultado é a perspectiva (Figura 3c), mas
ainda em projeção reduzida, pois o plano do quadro não se projeta em VG na vista horizontal.
A perspectiva final é obtida a partir de uma mudança de sistema de referência que obtém a
VG do quadro. A nova linha de terra deve ser paralela ao quadro e, na maioria dos casos,
pode até sobrepor o quadro. No exemplo, a linha de terra não sobrepõe o quadro para que a
perspectiva não fique sobreposta às projeções existentes. Esta vista auxiliar secundária é feita
somente para o quadro, pois é este que contém sobre sí a projeção em perspectiva cônica. O
resultado é um perspectiva cônica exata com três pontos de fuga do ponto de vista do vetor de
visualização (Figura 3d).
O procedimento é bastante trabalhoso, muito mais do que a maioria dos exercícios
convencionais com mudança de sistema de referência (mudança de plano). No entanto, os
alunos apreciam bastante a tarefa em função de poderem visualizar o sólido em perspectiva. O
resultado deste tipo de atividade é muito interessante, pois aprofunda de forma significativa os
conhecimentos de Geometria Descritiva envolvidos e possibilita corrigir eventuais erros nas
operações de modelagem.
V2
V2
Quadro
D
45°
z’
z’
x’
x’ O’
O’
y’
y’
z
z
V1 O
V1 O
x
x
y
y
(a) (b)
V2 V2
z’’
O’’
x’’
y’’
z’ z’
x’ x’
O’ O’
x’
y’ y’
z z
V1 O V1 O
x x
y y
(c) (d)
(a) (b)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Abstract: This paper presents the main aspects of the experience of implementing a new
paradigm in the teaching of descriptive geometry: design-based learning. This paradigm
changing is result of a student-centered approach, seeking to develop their creativity and
ability to solve problems through the descriptive geometry concepts. Thus, all concepts and
projects developed involve working with solids. This increases the concrete experience,
reducing the abstraction degree need for the concepts learning. The methodology includes the
use of three-dimensional modeling software specifically designed to work with this new
educational paradigm in descriptive geometry. The proposed methodology was implemented
initially in some test classes of Design and Engineering courses of Federal University of Rio
Grande do Sul (UFRGS) with great success. Recently the new methodology has been
implemented in most of descriptive geometry classes of Engineering, Architecture and Design
courses at UFRGS.