Didática Da Literatura
Didática Da Literatura
Didática Da Literatura
Foram “por mares nunca d’antes navegados” que vivi uma das experiências mais
significativas de minha vida. A primeira terra que avistei, quando cheguei a Portugal, fez-me
remontar à época das Descobertas. Não faço referência aqui à civilidade, mas quando me
refiro a tal palavra remonto a algo incógnito, pelo fato de ter experienciado algo que para
mim foi motivo de grande estranhamento e, ao mesmo tempo, de grande fascínio: o
desconhecido. Experiências nunca antes vividas, sensações de não pertencer “a”. Abster-me
das coisas mais simples do dia-a-dia como encontrar rostos conhecidos, amigos ou
familiares, dias inteiros dedicados forçosamente à prática de ensimesmar-me e que, só agora,
finalmente, consigo encontrar a recompensa e ter a sensibilidade de perceber o quão
enriquecedora e prazerosa fora tal experiência.
À professora orientadora Cristina Mello que, com sua experiência, total dedicação,
largo conhecimento e muito profissionalismo, direcionou-me na pesquisa e na escrita desta
dissertação, sempre com ideias, opiniões e sugestões assertivas, o meu sincero
agradecimento.
Abstract
The issue of teacher training increasingly assumes importance in face of the demands that
are placed upon the teaching of basic education in contemporary society. To this end,
researching on how the Teaching of Literature is shaped and comprised within the programs
of two respected Brazilian universities, the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS)
and the University of Passo Fundo (UPF), makes us wonder about the contributions of this
training, as well as the relevance of the school community and the teacher's role as endorser
of reading and potential coaches of new readers. The effects of teacher education developed
in academia and its outcome in the teaching of Literature in the Final Years of Middle School
reveals one of the most sublime functions of literature: the exercise of Humanities.
Keywords: Teacher Training, Teaching Literature, UFRGS and UPF Programs, Reading
Endorsement, Readers Training, Final Years of Middle School, Literature and Humanities.
“Somos todos feitos do que os outros seres humanos nos dão:
primeiro nossos pais, depois aqueles que nos cercam;
a literatura abre ao infinito essa possibilidade de interação com os outros e,
por isso, nos enriquece infinitamente.
Ela nos proporciona sensações insubstituíveis
que fazem o mundo real se tornar mais pleno de sentido e mais belo.
Longe de ser um simples entretenimento,
uma distração reservada às pessoas educadas,
ela permite que cada um responda melhor à sua vocação de ser humano.”
Tzvetan Todorov (A Literatura em Perigo, 2009)
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 9
2.2 Reflexões de professores dos Anos Finais do Ensino Fundamental: de leitores para
formadores de leitores.......................................................................................................................... 45
CONCLUSÃO ............................................................................................................................................ 92
ANEXOS ....................................................................................................................................................... 99
1
Poderíamos citar, a título de exemplo, obras como A Literatura em perigo (2009) de Tzvetan Todorov, O
Silêncio dos Livros (2006) de George Steiner, Literatura para Quê? (2007) de Antoine Compagnon, dentre outros.
2
Termo cunhado por Magda Soares, presente no texto “A escolarização da literatura infanto-juvenil”. In:
Brandão, Heliana M. B, Evangelista, Aracy A. M., Machado, Maria Zélia V. (Orgs.). A escolarização da leitura
literária: o jogo do livro infantil e juvenil. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006, p. 17-48.
9
Analisaremos alguns contributos didáticos que envolvem o ensino da Literatura nos
cursos de Licenciatura em Letras de duas influentes universidades do Rio Grande do Sul.
Pautados nos programas dos cursos e nas súmulas das disciplinas que contemplam o ensino
da Literatura, realizaremos um panorama programático da área denominada de Didática nos
cursos de Licenciatura em Língua Portuguesa e Literaturas. Assim – ainda que baseando-nos
apenas em duas universidades – buscaremos constatar o que a didática curricular propõe
hoje, em nível de formação de professores, no Brasil. Além da captação desses dados,
faremos a auscultação – através de entrevista – a professores universitários que ministram
estas determinadas disciplinas nas respectivas Universidades.
3
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (doravante PCNs) os programas estão divididos em Ensino
Fundamental 1, que fazem referência do 1º ao 5º ano (ou Primeiro e Segundo Ciclo do Ensino Fundamental) e
em Ensino Fundamental 2, que abrangem do 6º ao 9º ano (ou Terceiro e Quarto Ciclo do Ensino Fundamental)
Fonte: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/portugues.pdf, 26-03-2014.
4
Utilizaremos os PCNs voltados à Língua Portuguesa, pois não há especificidade no currículo dos Anos Finais
relativa ao ensino da Literatura enquanto disciplina, uma vez que, pelos documentos legais que regem o ensino
no Brasil, a Literatura encontra-se inserida na área de Língua Portuguesa.
10
Programme for International Student Assessment (PISA) e as Fundações Victor Civita e Carlos
Chagas, que nos dão uma efígie da leitura no país e um retrato sobre o caráter teórico – em
prejuízo à prática – dos currículos das licenciaturas no país.
11
CAPÍTULO 1. A LITERATURA, HOJE
Mesmo assim, Carlos Reis atenta para a importância de o professor deter amplo
conhecimento da Literatura que ensina, ter preparação teórica e capacidade de leitura
crítica, uma vez que tal embasamento favorece a dinâmica do professor com os textos
literários e propicia “uma relação em que cientificidade e sensibilidade
se articulam harmoniosamente” (ibidem: 115, grifos do autor). Esta relação favorece a eficácia
de estratégias didáticas no ensino da Literatura.
Existem, também, vários aspectos que explicam o fenômeno literário e que, de certa
forma, implicam a didática da Literatura. Poderíamos mencionar aspectos relacionados à
recepção da Literatura e componentes psicoculturais e socioculturais (ibidem: 115) imbricados
na leitura; a singularidade da leitura literária e as suas relações com a leitura linguística; as
possibilidades de aplicação didática da Teoria Literária e sua conceptualização; as
potencialidades didáticas de noções advindas de domínios teóricos como o da teoria dos
gêneros e o da periodização literária; dentre outros.
12
O que podemos apreender com base nessa expressão é a ideia de que não se trata de
ensinar propriamente Literatura, mas antes propiciar, incentivar, favorecer reflexões em
contexto pedagógico. Trata-se, também, de levar os alunos a captarem elementos que se
situam além da superfície linguística do texto e resolverem questões que permitam suscitar e
orientar outras leituras.
Embora ainda existam zonas não aprofundadas relativas à didática da Literatura, não
podemos esquecer os elementos que confirmam a sua autonomia. Para Reis, isso só é
possível “porque se reconhece que o ensino da Literatura reclama uma especificidade que
claramente o distingue do ensino da Língua; por outro lado, o ensino da Literatura, naquilo
que pode ter de científico, beneficia do moderno desenvolvimento dos estudos literários”
(ibidem: 116).
5
Grifo nosso.
13
A questão dos gêneros literários e dos períodos literários são domínios e
contribuições da Teoria Literária necessários ao ensino da Literatura. Mas, alguns teóricos
atentam que tais contributos devem ser ponderados, uma vez que podem encerrar
potencialidades didáticas. Enquanto professores, devemos utilizar a Teoria Literária para
aprofundarmos nossos conhecimentos acerca do fenômeno literário em si, mas, para além
disso, devemos sempre considerar que a didática da Literatura exige instrumentos e
procedimentos que lhe são característicos e relacionam-se diretamente com a integração da
leitura num contexto singular: o ambiente escolar.
14
que nelas se processa exige o domínio aperfeiçoado dos instrumentos linguísticos
que são, afinal, instrumentos que definem a afirmação da nossa relação com o
mundo, com a Ciência, com a Cultura e com os outros. Neste sentido, o professor
de História, o professor de Ciências da Natureza ou o professor de Geografia
podem ser também, a seu modo, professores de Português (REIS, 1992a: 118).
Antonio Mendoza Fillola (2010: 20), ao tecer considerações a esse respeito, nos diz
que todas as disciplinas são beneficiadas com a didática da Língua e, aqui, inclui também a
didática da Literatura, mencionando que Língua e Literatura se integram e se fundem na
formação linguística e cultural do aluno. Diz-nos que a competência comunicativa permite
interagir entre falantes que conhecem e usam o mesmo sistema de língua. Já a competência
literária permite a interação texto-leitor a partir dos estímulos discursivo-textuais e
semiótico-culturais que conhecem e compartilham. Ambas as competências se
complementam; por isso faz-se necessário superar a diferenciação arbitrária entre os
saberes comunicativos, normativos e estéticos, uma vez que, no geral, se trata de usos e
saberes de um mesmo sistema de linguagem. Fillola indica que, tanto a didática da Língua
quanto a didática da Literatura tratam de superar, em suas abordagens, a dicotomia dos
programas oficiais (escolares) que, por vezes, estabelecem distanciamento entre as
manifestações linguístico-comunicativas e literárias.
Outra questão muito relevante considerada por Carlos Reis é a de que a Língua serve
como suporte expressivo6 para a Literatura, embora o ensino da Literatura eleja como
objeto central de atenção uma atividade cultural de natureza diversa do estudo da língua. É
neste momento que o professor e teórico cita as “virtualidades de comportamento anti-
normativo” como sendo inatas à estética da criação literária, capazes de interferir no
próprio sistema linguístico. Ou seja:
A partir destas considerações, entendemos que, trabalhado como uma disciplina que
não é regida forçosamente por princípios normativos, o ensino da Literatura pode se
6
Grifo nosso.
15
distanciar de preocupações que genuinamente podem inspirar a didática da Língua; logo, se a
criação artística é o lugar de afirmação de determinada liberdade (liberdade de inovar e
subverter), dificilmente se compreenderia um ensino que, de algum modo, ignorasse ou
contrariasse essa liberdade.
7
Fonte: http://www.poetryfoundation.org/harriet/2012/12/decio-pignatari-1927-2012, 20-06-2014.
16
os diversos conceitos a ela atribuídos. No dicionário online “Michaelis”8, cloaca significa um
cano para escoamento de dejeções, esgoto; sentina, latrina; lugar imundo.
O poeta vale-se das diversas facetas que constituem a Língua para suscitar
sentimentos e ideias que se sobrepõem a essa própria Língua. Fica clara a intenção irônica e
satírica do poeta. Ele deseja expor e denunciar aspectos da sociedade contemporânea,
configurada pelo regime capitalista e também saturada de objetos de/para compra, de
imagens de propaganda, de sentimentalismos comerciais. Analisando características da poesia
concreta, encontramos os escritos do também poeta concretista Haroldo de Campos,
publicados, primeiramente, no Jornal de Letras de 1960:
8
Fonte: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=cloaca,
20-06-2014.
17
Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Letras, especialmente na
Resolução CNE/CES de número 492/2001, está presente a ideia de que os conteúdos
básicos dos cursos devem estar voltados para o cultivo de valores humanistas e que a Língua
e a Literatura devem servir de molas propulsoras na qualificação das práticas sociais dos
sujeitos, colaborando para dar um tom mais elevado e elaborado nas diversas manifestações
culturais exercidas socialmente.
Aguiar e Silva faz uma reflexão preocupada e melancólica sobre o futuro das
Humanidades, sobre o espaço, cada vez menor, que a ela é reservado dentro das
Universidades modernas e contemporâneas, tendo sua representação também diminuída nos
currículos do ensino básico e secundário, referindo o progressivo declínio da sua
importância cultural e social. Afirma que a Literatura, em sua singularidade, “é a única arte
que cria as suas formas, a sua semântica, os seus mundos imaginários, com a matéria e as
formas da linguagem verbal, instituindo com esta uma relação verdadeiramente placentária,
no sentido literal e metafórico desta expressão” (SILVA, 2010: 26). Para o teórico, os textos
literários têm desempenhado, sob o ponto de vista didático-pedagógico, uma sublime função
no que diz respeito à formação humana, na educação linguística e na educação estética de
jovens e adolescentes.
18
Antonio Candido (2004), em sua obra intitulada O Direito à Literatura, vai ao encontro
das ideias de Aguiar e Silva (2010) quando explicita-nos a importância da Literatura. Faz a
distinção entre “bens compressíveis” e “bens incompressíveis”, sendo estes últimos àqueles
bens que não podem ser negados a ninguém. Dentre eles, o autor lembra que são bens
incompressíveis não apenas os que asseguram sobrevivência física em níveis decentes, mas os
que também garantem a “integridade espiritual”. Assevera que, certamente, são
incompressíveis a alimentação, a moradia, o vestuário, a saúde, etc., e também o direito à
crença, à opinião, ao lazer, e, principalmente, à arte e à literatura.
Candido remete-se à Literatura de uma maneira muito ampla. Afirma que a Literatura
abrange todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático, em todos os níveis da
sociedade, em todos os tipos de cultura. Inclui desde o folclore, a lenda, o chiste, até as
formas mais complexas e elaboradas da produção escrita das grandes civilizações:
19
Antonio Candido, por entender que a Literatura (no sentido amplo que fora exposto
acima) responde a uma necessidade vital e intrínseca do ser humano, argumenta que ela
precisa ser satisfeita e exercida em forma de um direito que cabe a toda e qualquer pessoa.
Assevera que, assim como o ser humano não consegue equilibrar-se psiquicamente sem o
sonho durante a noite, pode não conseguir equilibrar-se socialmente sem a Literatura. Desta
forma, “ela é fator indispensável de humanização e, sendo assim, confirma o homem na sua
humanidade, inclusive porque atua em grande parte no subconsciente e no inconsciente”
(CANDIDO, 2004: 17).
Nesta mesma linha, mas agora na visão de Cardoso Bernardes (2005: 22), a Literatura
é “entendida como forma de representação de realidades complexas, que mobilizam, ao
mesmo tempo, o espírito crítico, a sensibilidade, a cultura e a inteligência”, sendo este mais
um grande motivo para que os debates acerca dos objetivos do ensino da Literatura tornem-
se presentes nos diferentes níveis de ensino e em diferentes espaços da sociedade.
20
a obrigatoriedade da Educação Básica9 que, concomitantemente, trouxe a já citada
democratização do ensino.
9
Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a educação escolar no Brasil compõe-se de
Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) e Educação Superior. Neste
caso, ao referirmo-nos à “Educação Básica”, estamos considerando os Ensinos Fundamental e Médio.
10
Fonte: http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=668id=12391option=com_contentview=article, 09-06-2014.
11
Fonte: http://www.bn.br/proler, 09-06-2014.
12
Fonte: http://www.fnde.gov.br/programas/biblioteca-da-escola/biblioteca-da-escola-apresentacao, 10-06-2014.
21
Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) – com o fornecimento de obras e
demais materiais de apoio para a Educação Básica. Conforme consta no site do programa,
são distribuídos às escolas por meio do PNBE, PNBE do Professor, PNBE Periódicos e PNBE
Temático acervos compostos por obras de Literatura, de referência, de pesquisa e, ainda,
por outros materiais relativos ao currículo nas áreas de conhecimento da Educação Básica.
13
Fonte: http://www.brasil.gov.br/cultura/2012/02/livro-e-leitura-1 e
http://www.bn.br/portal/arquivos/pdf/folder_PNLL_Final.pdf, 10-06-2014.
22
Além dos programas referidos, poderíamos citar outros (FNPL – Fundo Nacional
Pró-Leitura (2011); “Vale-Cultura” (2012), criado com o apoio da Lei Federal de Incentivo à
Cultura de 1991, também chamada de “Lei Rouanet”; etc.) que continuam por demonstrar o
esforço do Governo Federal em aumentar a acessibilidade dos brasileiros (principalmente de
indivíduos inseridos no contexto escolar) às obras literárias, projetando a formação de
leitores. Além disso, muitos estudos acadêmicos também têm se voltado para essa área na
intenção de fornecer subsídios para a promoção e o favorecimento da formação do aluno
como leitor.
Também fica difícil acolhermos, de forma não tão positiva, algumas ações
governamentais apresentadas, mas cabe a nós, pesquisadores, tratar de todas as questões
passíveis de reflexão. É interessante neste momento refletirmos o que fora explicitado por
um dos professores de Língua Portuguesa e Literatura dos Anos Finais do Ensino
Fundamental, em entrevista (que será apresentada no capítulo seguinte), uma vez que ele faz
menção às ações Federais de forma crítica, por entender que estes programas pressupõem a
obrigatoriedade de se trabalhar uma obra que talvez não seja do interesse dos alunos,
acabando por limitar o papel criativo do professor em adequar as obras às características da
turma ou da específica região do país na qual os alunos se encontram:
23
Brasil. Conforme constatado na última pesquisa14 realizada em 2011, pelo Instituto Pró-
Livro15, acerca do retrato da leitura no território nacional, contemplando dados de nível
“macro”, podemos observar números impressionantes e que envolvem as políticas públicas
acima mencionadas, uma vez que estas têm se mostrado insuficientes para alcançar uma
efetiva mudança na média de leituras realizadas no Brasil. Como tais programas visam,
justamente, dar maior acessibilidade ao livro e, consequentemente, à leitura, o ideal seria
haver um aumento no número de livros lidos em todo o país, mas não é o que podemos
concluir através da pesquisa.
14
Pesquisa - de âmbito nacional - referência quando se trata de índices de leitura no país. O seu intuito é
promover uma análise da leitura no Brasil, além de identificar fatores que condicionam a leitura. A última
pesquisa foi realizada em 2011 e culminou, em 2012, com o livro Retratos da Leitura no Brasil 3. O livro
encontra-se disponível em http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/4056.pdf (consulta: 01-03-
2014).
15
O Instituto Pró-Livro – IPL foi criado no final de 2006 pelas entidades do livro – Abrelivros, Câmara
Brasileira do Livro – CBL e Sindicato Nacional dos Editores de Livros – SNEL, com o objetivo principal de
fomento à leitura e à difusão do livro. É mantido com recursos obtidos através de contribuições dessas
entidades e editoras. Fonte: http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/4056.pdf, 01-03-2014.
24
originário, com graves consequências escolares, culturais, sociais e cívicas para os
alunos (SILVA, 2010: 50).
16
O Programme for International Student Assessment (PISA) - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes -
é uma iniciativa internacional de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa dos 15 anos, idade em que
se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. O programa é desenvolvido e
coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Figuram entre os
países membros da OCDE Alemanha, Grécia, Chile, Coreia do Sul, México, Holanda e Polônia. Em cada país
participante há uma coordenação nacional. No Brasil, o PISA é coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). O objetivo do programa é produzir indicadores que
contribuam para a discussão da qualidade da educação nos países participantes, de modo a subsidiar políticas de
melhoria do ensino básico. A avaliação procura verificar até que ponto as escolas de cada país participante
estão preparando seus jovens para exercer o papel de cidadãos na sociedade contemporânea. Fonte:
http://portal.inep.gov.br/pisa-programa-internacional-de-avaliacao-de-alunos, 25-06-2014.
25
toda a comunidade escolar (pais, professores, bibliotecários, etc.) só conseguirá envolver-se
num papel ativo para perspectivar a real formação de leitores, se eles próprios receberem
formação adequada, se eles próprios estiverem inseridos no contexto de “leitores” e
obtiverem condições (inclusive, financeiras) efetivas e permanentes para tal prática. Os
números, ou melhor, os resultados das pesquisas mencionadas revelam que os programas
governamentais não têm alcançado os objetivos propostos, apontando a complexidade em
que estão inseridas as políticas educativas. Dessa forma, entendemos que atingir o tão
desejado efeito civilizacional (SILVA, 2010: 50) a que tais projetos se propõem, é um processo
muito mais amplo e profundo.
26
CAPÍTULO 2. A PRÁTICA LITERÁRIA NA ESCOLA
17
No Ensino Médio existem períodos específicos consagrados à disciplina “Literatura”, mesmo assim, muitas
vezes, o foco acaba sendo voltado à lista de obras de leitura obrigatória para o concurso público chamado
“Vestibular”, que se constitui num processo seletivo para o ingresso na universidade brasileira. O Vestibular
caracteriza-se normalmente como uma prova de aferição dos conhecimentos adquiridos no Ensino
Fundamental e Médio, sendo o principal meio de acesso ao Ensino Superior no Brasil. Tem maior significado
nas instituições públicas que, por sua gratuidade, são geralmente mais procuradas. Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vestibular, 22-05-2014.
Todos os alunos que pretendem iniciar uma Graduação acabam por prestar o chamado “Vestibular”. Assim, as
universidades disponibilizam, anualmente, uma lista de obras literárias de leitura obrigatória. Neste caso, a
Literatura tem seu espaço garantido na sala de aula do Ensino Médio, mesmo que seja limitada à historiografia e
às obras pré-selecionadas pelas intituições de nível superior. Como exemplo, pode-se consultar a lista de
leituras obrigatórias para a prova de “Literatura de Língua Portuguesa” do Vestibular 2015 da UFRGS em
http://www.ufrgs.br/coperse/concurso-vestibular/vestibular-2015/leituras-obrigatorias (consulta: 22-05-2014). A
lista de obras literárias selecionadas para a prova de “Literatura Brasileira” do último Vestibular (2014) da UPF
também está disponível em http://www.vestibular.upf.br/assets/arquivos/conteudos-e-bibliografias.pdf (consulta:
22-05-2014).
27
se dizer, de modo geral, que esta fase da educação escolar compreende a adolescência e a
juventude. Portanto, os professores devem levar em consideração, aquando da seleção de
textos literários e da escolha de suas abordagens, que é um período da vida em que o
desenvolvimento do aluno é marcado pelo processo de (re)constituição da identidade, para
o qual concorrem mudanças corporais, afetivo-emocionais, cognitivas e socioculturais,
resultando num período de efetivas transformações. Vejamos o que está consignado nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) a respeito da relevância deste momento
específico para a formação de alunos leitores:
28
Como mencionado anteriormente, o trabalho com a leitura literária no contexto
escolar pode facilitar o caminho do aluno na busca de reinterpretação das experiências já
vividas e das experiências que passa a viver a partir da expansão dos espaços de convivência
e socialização, possibilitando-lhe a ampliação de sua visão de mundo, na qual se incluem
questões de gênero, etnia, origem, possibilidades sociais e a rediscussão de valores que,
reinterpretados, passam a constituir e fazer parte da sua identidade:
Acreditamos na vital importância de uma prática literária efetiva, visto que este
exercício contribui para que os alunos refletitam sobre si mesmos e sobre as infinitas
possibilidades culturais que os cercam. Tal prática ganha particular importância na medida
em que o acesso a textos escritos mais complexos, com outras formas de organização do
discurso, com padrões linguísticos mais distanciados e diferenciados daqueles da oralidade e
com sistemas de referência mais distantes do senso comum e das atividades da vida diária,
impõe a necessidade de percepção da diversidade do fenômeno linguístico e dos valores
constituídos em torno das formas de expressão.
29
a necessidade de se trabalhar com textos integrais e não mais limitar o trabalho literário a
fragmentos de textos e/ou textos adaptados. É visível a necessidade de se trabalhar com
obras que permitam a formação e fruição de opiniões, valores e saberes. É neste momento
que fazemos referência à importância de se trabalhar, em sala de aula, também a Literatura
canônica, vista a carga cultural, histórica e ideológica que a constitui.
Este modelo textocêntrico que Silva propõe para o ensino da Literatura atribui à
hermenêutica uma função nuclear, onde a leitura implica a arte de interpretar. Além disso, o
teórico defende o uso do texto como forma de obter conhecimento da Língua materna,
pois, para ele, ensinar a Língua “é formar a inteligência, a sensibilidade, o imaginário, o
pensamento, a capacidade de julgar, argumentar, deliberar, assumir responsabilidades
culturais e cívicas” (SILVA, 2010: 52).
30
em gêneros literários, de imprensa, publicitários, de divulgação científica,
comumente presentes no universo escolar (BRASIL, 1998: 53).
Cabe, agora, nos questionarmos sobre como estes gêneros textuais são realmente
contemplados no ensino ou como eles chegam (recepção) até os alunos. Será que vamos
encontrar nos materiais didáticos uma adequada e consolidada presença da Literatura,
principalmente, naquela perspectiva humanista que vimos com Aguiar e Silva? Será que as
19
Grifo nosso.
20
Ver tabela, em anexo, p. 99.
21
Ver tabela, em anexo, p.100.
22
Todos os destaques deste páragrafo são grifos nossos.
31
noções de significação textual e interlocução ganham relevo na prática? É sobre estas
questões que nos debruçaremos nas páginas a seguir.
A dificuldade da pura e simples leitura literária em andar de “mãos dadas” com livros
de natureza didática, norteados por alguma atividade pedagógica ou alguma tarefa,
obrigatoriamente, de cunho curricular, faz com que pensemos nesta relevante questão: a
“escolarização da literatura”. Como já indicado, a expressão foi utilizada por Magda Soares
num estudo acerca deste fenômeno que ocorre com a Literatura inserida no contexto
escolar. Soares utiliza esta expressão ao referir-se à Literatura voltada para a “clientela
escolar”, ou seja, para a Literatura que é consumida na escola ou através da escola, tomando
o sentido de “tornar literário o escolar” (SOARES, 2011: 18).
Não há como ter escola sem ter escolarização de conhecimentos, saberes, artes: o
surgimento da escola está indissociavelmente ligado à constituição de “saberes
escolares”, que se corporificam e se formalizam em currículos, matérias e
disciplinas, programas, metodologias, tudo isso exigido pela invenção, responsável
pela criação da escola, de um espaço de ensino e de um tempo de aprendizagem.
(…) Portanto, não há como evitar que a literatura, qualquer literatura, não só a
literatura infantil e juvenil, ao se tornar “saber escolar”, se escolarize, e não se
pode atribuir, em tese, como dito anteriormente, conotação pejorativa a essa
escolarização, inevitável e necessária; não se pode criticá-la, ou negá-la, porque isso
significaria negar a própria escola (SOARES, 2011: 20-21, grifos da autora).
Indo ao encontro das ideias sustentadas acima, entendemos que não é possível
negarmos a “escolarização da literatura”, mas sim viabilizarmos essa escolarização de forma
mais empenhada, adequada e funcional possível, utilizando-nos de uma pedagogia e de uma
didática literária que possibilite aos docentes e alunos o trabalho e a aproximação com a
Literatura de forma verdadeira, democrática e produtiva. Muitas vezes, ao transformarem o
32
literário em escolar o que ocorre é a distorção, deturpação, desfiguração do texto literário,
não alcançando os objetivos aos quais a própria Literatura se propõe.
(...) as práticas de linguagem que ocorrem no espaço escolar diferem das demais
porque devem, necessariamente, tomar as dimensões discursiva e pragmática da
linguagem como objeto de reflexão, de maneira explícita e organizada, de modo a
construir, progressivamente, categorias explicativas de seu funcionamento. Ainda
que a reflexão seja constitutiva da atividade discursiva, no espaço escolar reveste-se
de maior importância, pois é na prática de reflexão sobre a língua e a linguagem que
pode se dar a construção de instrumentos que permitirão ao sujeito o
desenvolvimento da competência discursiva para falar, escutar, ler e escrever nas
diversas situações de interação (BRASIL, 1998: 34).
33
modificação, respeitar a essência que caracteriza o texto, sem transformá-lo ou desfigurá-lo
em outro texto que ele não é, até porque esse movimento pode acabar por anular a
densidade de significação do texto literário. Entendemos que “não há domínio semântico que
seja alheio ou defeso à literatura” (SILVA, 2010: 38) e são esses domínios que não podem
ser interditados ou restringidos.
23
Fonte: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico, 27-06-2014.
34
legislação e controle de produção e circulação do livro didático no país. No ano de 1945, é
consolidada a legislação sobre as condições de produção, importação e utilização do livro
didático, limitando ao professor a escolha do livro a ser utilizado pelos alunos.
Em 1976, o governo assume a compra de boa parcela dos livros para distribuir a
parte das escolas e das unidades federadas, mas, devido à insuficiência de recursos para
atender a todos os alunos do Ensino Fundamental da rede pública, a grande maioria das
escolas municipais é excluída do programa. Em 1983, o grupo de trabalho encarregado do
exame dos problemas relativos aos livros didáticos propõe a participação dos professores na
escolha dos livros e a ampliação do programa, com a inclusão de todos os anos do Ensino
Fundamental.
35
Em 1993/1994 são definidos critérios para avaliação dos livros didáticos, com a
publicação “Definição de Critérios para Avaliação dos Livros Didáticos” pelo
MEC/FAE/UNESCO24.
24
A preocupação com a melhoria da qualidade do livro didático, em termos mais amplos, inicia-se quando o
MEC (Ministério da Educação) passa a implementar medidas visando avaliar o livro didático brasileiro de
maneira contínua e sistemática. Até este momento, a preocupação do MEC, juntamente com a FAE (Fundação
de Assistência ao Estudante, criada em 1983 e extinta em 1997), era apenas de aquisição e distribuição gratuita
dos livros às escolas. Inicialmente, foram criadas comissões (por área de conhecimento) para elaborar os
critérios de avaliação, ficando definido, sob pena de exclusão do programa, que os livros didáticos não
poderiam expressar prejuízo à construção da cidadania, ou seja, preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação; também não poderiam estar desatualizados, nem conter ou induzir
a erros graves relativos ao conteúdo da área, como, por exemplo, erros conceituais. Hoje, são considerados
como principais critérios de análise os aspectos visuais do livro, a adequação dos conteúdos conforme o ano
escolar, a integração entre temas nos capítulos, a valorização da experiência de vida do aluno, as atividades
propostas, referências bibliográficas, citações e sugestões de leitura presentes, inclusive, no manual do
professor. Fontes: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-historico, 27-06-2014 e
http://fep.if.usp.br/~profis/arquivos/ivenpec/Arquivos/Orais/ORAL119.pdf, 09-07-2014.
36
Hoje, totalmente reestruturado, o PNLD busca atender os mais de 31 milhões de
alunos (conforme dados da imagem acima) que compõem a Educação Básica25 de todas as
cinco regiões do Brasil. Tem como principal objetivo subsidiar o trabalho pedagógico dos
professores por meio da distribuição de coleções de livros didáticos aos alunos. Após a
avaliação das obras, o Ministério da Educação publica o “Guia de Livros Didáticos” com
resenhas das coleções consideradas aprovadas. O guia é encaminhado às escolas públicas,
onde os professores e diretores escolhem, dentre os títulos disponíveis, aqueles que melhor
atendem ao projeto político pedagógico da escola em questão. Após a escolha de
determinada coleção, os livros didáticos26 são distribuídos gratuitamente às instituições de
ensino. No Ensino Fundamental, cada aluno tem direito a um exemplar respeitante às
disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia e Língua
estrangeira (Inglês ou Espanhol, do 6º ao 9º Anos).
25
Reiteramos que, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a Educação Básica no Brasil é
composta de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.
26
Para garantir o atendimento a todos os alunos, são distribuídas também versões acessíveis (áudio, braille,
libras, caractere ampliado e MecDaisy) dos livros aprovados e escolhidos no âmbito do PNLD. O MecDaisy é
uma ferramenta tecnológica que permite a produção de livros em formato digital. Possibilita a geração de livros
digitais falados e sua reprodução em áudio (gravado ou sintetizado) e apresenta facilidade de navegação,
permitindo a reprodução sincronizada de trechos selecionados, o recuo e o avanço de parágrafos e a busca de
seções ou capítulos. Fonte: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-apresentacao, 27-06-
2014.
27
Já para o ano letivo de 2015, foi lançado, em 2012, o edital que prevê que as editoras podem apresentar
obras multimídia, englobando livro impresso e livro digital. A versão digital deve conter o mesmo texto do livro
em formato papel, acrescida dos objetos educacionais digitais, como vídeos, animações, simuladores, imagens,
jogos, textos, entre outros itens, para auxiliar a aprendizagem. O edital também permite a apresentação de
obras somente na versão impressa, com o intuito de viabilizar a participação das editoras que ainda não
recorrem às novas tecnologias. O material digital será destinado aos alunos e professores do Ensino Médio da
rede pública. Fonte: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-historico, 27-06-2014.
37
Informática nas dependências da própria instituição de ensino28. Além disso, no “Manual do
Professor” (mesmo livro didático dos alunos, a diferença é que existem respostas ou
sugestões de respostas a todas as questões propostas aos alunos) é sugerido um endereço
eletrônico (http://pnld.editorasaraiva.com.br/disciplina/lingua-portuguesa/) onde o professor pode
acessar até 60 objetos educacionais digitais que também servem como complemento às
tarefas sugestionadas no livro impresso.
Outra questão relevante é que dificilmente encontramos nos livros didáticos do Brasil
a presença da Literatura Portuguesa ou da Literatura Africana. Nos manuais analisados da
editora Saraiva, que nos servem de referencial neste trabalho, notamos que, muitas vezes, os
textos que envolvem a leitura literária referem-se restritamente à Literatura Brasileira e vão
ao encontro do que sugestionam os PCNs acerca dos gêneros literários 29. Apenas no manual
destinado ao 9º (e último) Ano do Ensino Fundamental encontramos uma representação
diversa da Literatura Lusófona: o poema Amor é fogo que arde sem se ver de Luís de Camões.
Os manuais do 6º ao 9º Anos consideram, ainda que de forma restrita, apenas alguns autores
conhecidos mundialmente, restringindo o corpus, como já dissemos, à Literatura brasileira.
Consideramos que praticamente não existem atividades, por exemplo, que atentem
ao cânone literário português e que poderiam fazer referência à Literatura Brasileira – vista
a relação intertextual entre as obras – e que encontramos em textos com grande capacidade
de irradiação criadora (SILVA, 2010: 210), quer pela relevância estético-literária, quer pela
relevância linguístico-cultural. Podemos citar, a título de exemplo, autores e obras literárias
de grande renome e legado cultural que, através da intertextualidade com a Literatura
moderna e contemporânea, ultrapassam a barreira do tempo: visitações da poesia de Sá de
Miranda na poesia modernista de Carlos Drummond de Andrade e Haroldo de Campos;
nesta mesma linha, poderíamos citar a influência de Luís de Camões na obra de Augusto de
Campos; bem como, a relação entre as obras de Gil Vicente e Ariano Suassuna. Existem,
também, influências entre autores portugueses, é o caso dos Sermões do Padre António
Vieira, na obra de José Saramago, dentre vários outros.
28
Muitas escolas possuem um espaço onde são realizadas atividades específicas que envolvem o recurso do
computador. Em tal espaço, um professor desempenha o papel de mediador. A sua função é orientar e delinear
pesquisas em conjunto com o professor de determinada disciplina ou propor atividades aos alunos de forma
independente.
29
Ver tabelas, em anexo, p. 99 e 100.
38
no momento em que fossem analisadas as diferenças de épocas, possibilitando aos alunos um
maior conhecimento histórico-literário. Nesse sentido, podemos citar, como exemplo, a
reinvenção do poema “Teresa”, escrito em 1924 por Manuel Bandeira, baseado no poema
“O ‘Adeus’ de Teresa”, de 1868, de Castro Alves, sendo que tais referências e conexões
poderiam enriquecer as aulas de Literatura e favoreceria, na opinião de Aguiar e Silva (2010),
a diminuição da crise de amnésia que acomete os alunos atualmente. O teórico assevera que
os alunos estão alheios à própria “densidade memorial e simbólica do tempo histórico”
(SILVA, 2010: 46), muitas vezes, pelo fato de a escola e os instrumentos didáticos não
contemplarem devidamente o legado cultural e patrimonial que a Literatura encerra. Para o
estudioso, o aluno deve alcançar “uma visão adequada da interação existente entre tradição
e mudança literárias e da inserção da literatura nas grandes linhas de força do processo
histórico global” (ibidem, 264).
Entendemos que, como qualquer outro recurso didático, os manuais escolares devem
ser escolhidos criteriosamente. Devem ser selecionados em função das necessidades que
emergem de situações de ensino e de aprendizagem dos alunos, sobretudo no contexto
atual brasileiro onde, muitas vezes, dá-se
39
(…) o quase privilégio exclusivo do livro didático (as de qualidade, no mínimo,
variável) como fonte destinada aos jovens alunos. Em meio ao mundo globalizado e
no ponto mais importante, nunca antes vivido, da sociedade da informação,
mantém-se em sala de aula a monologia de uma fonte central de conteúdos e de
atividades. E mais: mantém-se a monologia de um livro que sequer chega a ser um
livro, no sentido mais rico e complexo da palavra. E isso implica, de toda maneira,
no contato minúsculo dos jovens com a leitura, também compreendida no sentido
mais rico e complexo da palavra (RETTENMAIER, s/d: 01).
Esse “contato minúsculo dos jovens com a leitura” acaba sendo estimulado no
contexto escolar, quando observado o reduzido número de textos literários incluídos nos
manuais. Como já dito, os livros didáticos seguem os referenciais sugeridos nos PCNs; logo,
abarcam vários tipos de gêneros textuais, dentre eles, os gêneros de imprensa, de
publicidade, de divulgação científica e os gêneros literários. Em meio a estes referidos
gêneros textuais, notamos que existem nos livros didáticos vários tipos textuais que tendem
a priorizar o cartum, a tira, a charge, textos jornalísticos, anedotas, anúncios, histórias em
quadrinhos, imagens (telas, fotografias, etc.), propagandas, artigos científicos e, de modo
muito escasso, textos que envolvem o gênero literário.
40
Quixote, também baseado numa versão adaptada de Miguel de Cervantes; duas fábulas (O
cão, o galo e a raposa e A toupeira) de Esopo e um pequeno texto (de dois parágrafos)
retirado do livro O príncipe e o mendigo, de Mark Twain. Passando à presença da Literatura
brasileira, encontramos um número mais expressivo de poemas se compararmos com o do
manual anterior (do 6º ano). As ocorrências podem ser justificadas pelo fato de uma das
unidades do manual contemplar o estudo acerca das características do texto em verso.
Assim, encontramos trinta e quatro poemas ou fragmentos de poemas de diversos
escritores infanto-juvenis, dentre eles, quatro poemas de Elias José, quatro escritos por
Roseana Murray, dois do escritor Ulisses Tavares, dois poemas de Marina Colasanti, dentre
outros escritores infanto-juvenis. Localizamos três poemas de Paulo Leminski, um de
Gonçalves Dias, um poema de Mário Quintana, outro de Décio Pignatari e dois poemas de
Carlos Drummond de Andrade, sendo que observamos um fato curioso a respeito de um
desses poemas de Drummond, chamado Quadrilha. Percebemos a repetição do mesmo
poema, só que em unidades diferentes e, inclusive, com referências bibliográficas diferentes,
sem o aviso prévio ao leitor-aluno de que era um poema já trabalhado anteriormente no
mesmo livro, ou seja, fica-nos clara a ideia de que há a repetição do texto por falta de
atenção dos autores e da própria editora que não percebeu a sua repetição. Além desses
textos em verso, podemos citar os textos em prosa do manual: o fragmento de um texto
(Bisa Bia, Bisa Bel) de Ana Maria Machado, um texto (Cabeludinho) de Manoel de Barros, um
conto integral (A doida) de Carlos Drummond de Andrade e o fragmento de um conto (A
terra dos meninos pelados) de Graciliano Ramos. Além disso, encontramos duas canções:
Vermelho, de Vanessa da Mata e um trecho de Mais louco é quem me diz, de Rita Lee e
Arnaldo Baptista.
O livro didático do 8º Ano não contempla qualquer texto que faça referência a
autores de outras nacionalidades e traz um número bem menor de poemas se compararmos
com o manual do ano anterior (7º Ano). No total, são dezesseis textos em verso, sendo que
a maioria é de autores de Literatura infanto-juvenil: três poemas escritos por Carlos
Queiroz Telles, dois de Elias José, dois de autoria de Ulisses Tavares, um de Sérgio
Capparelli, um de Marina Colasanti, dentre outros. Também verificamos a ocorrência de
dois poemas de Ferreira Gullar, dois de Vinícius de Morais e um de Mário Quintana. Com
relação ao texto em prosa, verificamos uma maior presença de crônicas, já que uma das
unidades concerne ao estudo das características deste gênero textual. Encontramos cinco
crônicas (O homem trocado, Povo, Sabe aquele que ri no velório? Não é ele, Caderno novo e Sexa)
41
de Luís Fernando Veríssimo, duas (Olhar de anúncio e Maneira de Amar) de Carlos
Drummond de Andrade, uma (Passageiro especial) de Moacyr Scliar e o texto Irmãos, de
Clarice Lispector. Duas canções também foram incluídas: Emília, da banda musical Pato Fu e
um trecho da canção Caçador de Mim, de Milton Nascimento.
No livro do 9º Ano, podemos encontrar – além do poema Amor é fogo que arde sem
se ver, de Luís de Camões, já citado como a única representação da Literatura Portuguesa
em todos os manuais (dos quatro nos do Ensino Fundamental) analisados – um poema (sem
título) do poeta chileno Pablo Neruda. Quanto ao contexto brasileiro, são incluídos poemas
que contemplam uma maior diversidade de escritores: dois poemas de Mário Quintana, um
poema de Sérgio Capparelli, um poema de Luís Fernando Veríssimo, dois poemas de Carlos
Drummond de Andrade, um poema de autoria de Castro Alves, outro de Casimiro de
Abreu, um de Vinícius de Morais, um de Oswald de Andrade e outro de Manoel de Barros.
No que diz respeito à crônica, é contemplado o texto Pais, de Luís Fernando Veríssimo; Ser
jovem, de Artur da Távola e No trânsito, a ciranda das crianças, de Ignácio de Loyola Brandão.
Com relação ao conto, comparece na íntegra, o conto Felicidade clandestina, de Clarice
Lispector; O amor por entre o verde, de Vinícius de Morais; Me responda, sargento, de Dalton
Trevisan; além do fragmento do conto Venha ver o pôr do sol, de Lygia Fagundes Telles. Em
forma de canção aparece a música Pra fazer o sol nascer, de Gilberto Gil e Milagres, de
Cazuza, Denise Barroso e Frejat.
42
Outro ponto relevante e, ao mesmo tempo, preocupante, é a restrição de poemas ou
textos em prosa de∕em determinados escritores. Na poesia, observamos a predominância de
autores como, por exemplo, Mário Quintana e Sérgio Capparelli. Não que estes autores não
sejam importantes, muito pelo contrário. A questão é que, dada a riqueza literária do Brasil,
muitas vezes, as obras incluídas nos manuais ficam circunscritas a dois ou três escritores, que
acabam também por limitar o conhecimento dos alunos.
Reiteramos que uma das condições fundamentais para que o texto literário
desempenhe satisfatoriamente as suas funções no processo de ensino e aprendizagem tanto
da Literatura quanto da Língua materna – visto o lugar privilegiado que os livros didáticos
ocupam no ensino brasileiro – reside na escolha e na análise criteriosa de manuais didáticos
43
de boa qualidade. Devem-se observar os autores que são contemplados e aqueles que são
excluídos, os estilos de época privilegiados, os gêneros discursivos que acolhe, o modo
como delimita um texto a partir do texto original – pela própria distribuição dos textos,
pelos títulos que impõe, pelas linhas de leitura e interpretação que propõe, pela (inevitável)
ideologia30 que, mesmo assim, preserva a liberdade da imaginação, até porque, o sentido da
comunicação só é alcançado através da/na liberdade:
Eu sei bem que não há antologias inocentes e assépticas e que o ensino da língua
materna – bem simbólico fundamental, repito – nunca pode ser neutro em termos
de mundividência, de axiologia ou de ideologia. Mas esta impossibilidade de
inocência e de assepsia só não se volverá num projecto ou num programa de
endoutrinamento e de manipulação ideológica, se se souber reconhecer e respeitar
o outro que é o texto e o outro que é o aluno; se não se procurar padronizar
homogeneamente o funcionamento da língua e a produção de sentido dos textos,
orientando uniformemente as respostas dos leitores/alunos (SILVA, 2010: 189).
Utilizar o livro didático de forma integral ou utilizar apenas alguns textos que sejam
interessantes aos alunos (como um instrumento de apoio ao trabalho docente e não um
parâmetro às aulas) ou, simplesmente, não usá-los? A resposta a esse questionamento
depende também da bagagem literária e das experiências leitoras do próprio professor. É
uma decisão que compete ao docente e ao compromisso que ele próprio tem para com os
seus alunos.
30
“Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. (...) A palavra é o
fenômeno ideológico por excelência. (...) A palavra não comporta nada que não esteja ligado a essa função,
nada que não tenha sido gerado por ela. A palavra é o modo mais puro e sensível de relação social”
(BAKHTIN, 1981: 24). Partindo dessa premissa, entendemos que todo texto literário possui uma dimensão
ideológica – quer pela voz da revolta, pela voz da conflagração, pela voz da insatisfação, pela ânsia de modificar
os homens e o mundo – propiciando à Literatura o estatuto de “porta-voz” das convicções, das crenças, das
ideias, da imaginação, da civilidade democrática, da libertação do homem.
44
2.2 Reflexões de professores dos Anos Finais do Ensino Fundamental: de
leitores para formadores de leitores
31
Ver entrevista/questionário, em anexo, p. 101.
32
Dos seis professores que responderam ao questionário/entrevista, três professores obtiveram a formação
acadêmica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), de Porto Alegre; dois professores na
Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), de Canoas e um professor no Centro Universitário Franciscano
(UNIFRA), de Santa Maria.
45
A questão negativa que pode advir dessa realidade é quando o professor acaba por
reduzir ou, até mesmo, suprimir a Literatura das suas aulas em detrimento do ensino da
Língua Portuguesa, uma vez que o tempo específico destinado à prática literária não está
delimitado. Em contrapartida, também se pode deduzir pontos positivos desta realidade, pois
pode propiciar, sobretudo àquele professor interessado, a integração entre Língua e
Literatura ou Português e Literatura, havendo maior interdisciplinaridade, como é o caso
dos professores entrevistados, uma vez que todos afirmaram trabalhar Literatura em
conjunto com a Língua Portuguesa. Vejamos algumas respostas com relação à pergunta
sobre qual é o espaço reservado à Literatura nas aulas de Língua Portuguesa:
Não há período específico para o trabalho com a Literatura, mas, hoje, posso dizer
que a Literatura ocupa um espaço privilegiado nas minhas aulas. Tão privilegiado é
o espaço dado à Literatura que escuto muitas reclamações de pais da escola
privada por conta da “pouca atenção que dou à Gramática”. Na escola pública o
trabalho é livre, parto do texto literário ou de tópicos culturais para o ensino da
Língua (Professor 2).
Por intermédio das respostas dadas acima, entendemos que abordar a Literatura em
conjunto com a Língua Portuguesa depende, muitas vezes, da escolha do próprio professor,
mas também pode depender do incentivo e apoio que é ofertado pela própria escola, ou
seja, se toda a escola estiver envolvida e engajada (equipe diretiva, bibliotecários, etc.), o
trabalho pode ser melhor efetivado. Além disso, notamos que os pais creditam maior
importância aos conteúdos gramaticais de Língua Portuguesa do que aos conteúdos
46
literários, podendo, com suas opiniões, gerar empecilhos entre a prática de Literatura e
Língua Portuguesa. Também podemos perceber, através da resposta do “Professor 3”, que a
distribuição dos períodos durante a semana, destinados à aula de Língua Portuguesa, também
pode contribuir para a segmentação do ensino tanto de Língua quanto de Literatura, uma
vez que a separação dos períodos favorece tal prática. Entendemos que cabe ao professor
gerir adequadamente a integração de conteúdos linguísticos e literários.
Quando questionados acerca do uso do livro didático ou manual escolar nas aulas de
Língua Portuguesa, constatamos que a maioria dos docentes utiliza o livro didático como
apoio às atividades (para recolha e uso de algum material em particular), funcionando como
um dispositivo pedagógico auxiliar e não como recurso utilizado diariamente em sala de aula.
Notamos a importância dos professores na escolha do que será lido e trabalhado em sala de
aula e a preocupação dos mesmos com relação à adequação dos textos às especificidades
psico-educativas dos alunos. Mesmo na escola privada, onde se observa certa cobrança por
parte da equipe diretiva e dos próprios pais para que se faça uso do manual – já que,
diferentemente do que ocorre nas escolas públicas, são os pais que asseguram o elevado
custo financeiro dos livros didáticos –, o professor mantém a sua autonomia na seleção dos
textos literários:
Raramente faço uso do livro didático. Ele é útil como qualquer outra fonte para se
encontrar textos a serem trabalhados ou esquemas a respeito de algum conteúdo.
No entanto, é incomum que um livro possa dar conta dos interesses e das
dificuldades de toda turma, a cada ano. Quando ocorre essa coincidência, utilizo
alguma parte (geralmente pequena) do material, sempre com muita explicação e
discussão para adequar bem às necessidades e à compreensão da turma específica
(Professor 1).
Como trabalho em escola privada faço uso de material didático, sim. A Instituição
que leciono pertence a uma rede e esta possui material próprio. Então, os alunos
(clientes), no ato da matrícula, recebem suas apostilas com os conteúdos de cada
trimestre. Trabalho com a apostila muitas vezes, mas também uso material extra
preparado por mim mesma. Em relação à Literatura, a apostila cenecista traz
indicações de leitura, mas não as sigo, pois prefiro trabalhar com autores gaúchos e
contemporâneos. Procuro trazer o texto literário que está mais de acordo com a
maturidade e a realidade dos meus alunos para a sala de aula. E também não é uma
regra, muitas vezes mudo as minhas escolhas a partir de sugestões das próprias
crianças, mas principalmente (algo que me faz refletir muito) de acordo com os
meus gostos (Professor 2)33.
33
O termo “cenecista”, utilizado na resposta, refere-se a um grupo privado de educação do Brasil chamado
CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade). Tem 70 anos de existência e atua em todos os níveis
educacionais, em 18 Estados do país. Possui 136 unidades de Educação Básica e 19 unidades de Ensino
Superior. Fonte: http://site.cnec.br/Institucional#.U8XAYfldW-Y, 15-07-2014.
47
Com relação às maiores dificuldades encontradas para se trabalhar com a Literatura
nas escolas e sobre qual seria o seu “ensino ideal”, temos diferenciados aspectos a
considerar a partir da opinião dos entrevistados. Desde as problemáticas básicas de
interpretação e leitura ligadas ao deficit no processo de alfabetização, também foram citados
os livros juvenis que se utilizam de um linguajar típico do público adolescente e que, ao
desejarem aproximar-se deste distinto público, acabam reforçando ainda mais as dificuldades
de fala e escrita dos adolescentes; a falta de paciência e interesse dos alunos; a dificuldade
em desenvolver o gosto pela leitura; o exemplo de professores não leitores; a ideia errônea
advinda de professores de outras áreas que consideram ser de responsabilidade apenas do
professor de Língua Portuguesa o trabalho de leitura e interpretação e, consequentemente,
as ações voltadas para a formação de leitores.
48
A maior dificuldade, em minha opinião, ainda é a resistência ao texto literário.
Ainda que já se tenha, hoje, alunos “devoradores” de livros, aqueles que amam ler,
também temos aqueles que odeiam, aqueles que quando falamos em livros de
Literatura a primeira coisa que perguntam é o números de páginas e se há
desenhos. Depois, é óbvio, perguntam o preço. A minha felicidade é que esta
situação está sendo revertida, pelo menos no que toca à escola. Quando a
professora ou professor é um leitor apaixonado ele consegue trazer o aluno para a
sua paixão, pelo menos um pouco, através do exemplo e do tipo de atividade de
leitura que desenvolve. O ensino ideal de Literatura para o Ensino Fundamental
seria o trabalho conjunto de todas as áreas. Já que não há uma disciplina específica
de Literatura, por que o professor de Geografia que está trabalhando as Regiões
Norte e Nordeste não indica um texto em Cordel para a turma? Por exemplo. É
que a maioria dos professores, cá entre nós, não são leitores. É como se a
Literatura, o texto ficcional e a formação de leitor fosse um compromisso somente
do professor de Língua. O que é um equívoco absurdo, mas a realidade. E me
refiro somente às obrigações da escola, nem vou falar sobre a importância da
família no percurso literário de uma criança (Professor 2).
49
Minha formação acadêmica em nada me ajudou para dar aula no sentido técnico-
pedagógico. No entanto, boa parte da formação em análise da língua (não em
regras normativas, que são também necessárias para trabalhar em escola) e os
debates de questões ideológicas envolvidas na sala de aula foram vitais para minha
prática (Professor 1).
Acredito que tudo que aprendi no curso acabo pondo em prática, entretanto, no
Ensino Fundamental, há muito pouco espaço para o trabalho da Literatura, além do
mais, a comunidade escolar exige o ensino da gramática, que não foi contemplado
na graduação devido às Teorias Linguísticas que são muito importantes, e são
aplicadas na sala de aula, mas nem sempre compreendidas pelos pais e equipe
diretiva que exige nos seus planos de estudo a primazia da gramatica tradicional,
que é matéria de seleções para ingresso no Ensino Médio de algumas escolas
(Professor 3).
Considero que a formação foi muito boa, mas isso não exclui os estudos que cada
um deve fazer posteriormente para estar em constante aperfeiçoamento
(Professor 5).
50
aperfeiçoando, buscando a atualização como forma de conseguir melhores resultados na sua
atividade prática, indo ao encontro da opinião de Cardoso Bernardes quando nos diz que
“está fora de dúvida que a formação contínua constitui um factor de credibilidade tão
importante como a própria formação inicial” (BERNARDES, 2010: 55). E, novamente, surgiu
a questão da comunidade escolar (incluido os pais) exigir uma maior atenção à gramática,
restando pouco espaço para o trabalho com a Literatura propriamente dita.
Penso que nenhum currículo poderá substituir a prática. Teoria é uma coisa, prática
é outra, embora ambas devam, obviamente, se relacionar. Veja-se o que acontece
na Medicina, por exemplo. Primeiro o aluno estuda a teoria, depois, ou
concomitantemente, inicia a prática, procurando relacionar ambas, ou seja, terá
contato, na prática, com aquilo que aprendeu na teoria e até mais. E são anos de
exercício prático até se especializar em uma ou outra área. Penso que com o
Magistério deveria ocorrer o mesmo: mais anos de prática antes de um profissional
entrar, efetivamente, em uma sala de aula e tornar-se professor (Professor 5).
Nós tivemos muitos estágios, mas existiu uma dificuldade entre a teoria e a prática.
Acredito que a teoria é mais voltada para o academicismo, o que é bom, mas na
prática complica um pouco (Professor 6).
51
profundo conhecimento acerca da Língua e da Literatura para poder exercer a sua profissão
de forma competente e plena. Vejamos:
Sim, mas não focado totalmente nela. Mesmo para os profissionais com licenciatura,
dar aulas não é a única oportunidade profissional. Além disso, um currículo voltado
para dar aula tende a se tornar muito específico e bitolado. Uma visão ampla da
língua e da literatura, para além de seus usos de Estado, enriquece em muito a
atividade do professor. No entanto, é claro que seria interessante se saíssemos do
curso de Letras minimamente preparados para dar aula, o que não considero que
seja verdade comparando-o com outros cursos que também preparam professores
(Professor 1).
Acredito que sim. Bem ou mal existe um sistema que tentamos mudar ou fazer
diferente, mas a realidade escolar ainda é muito diferente. Na academia não temos
noção disso, somente na prática (Professor 6).
52
Minha universidade não contemplou satisfatoriamente a didática da Literatura.
Aprendi na prática, no dia-a-dia e fazendo cursos com autores e editores, cursos na
Feira do Livro de Porto Alegre, oficinas literárias com Nóia Kern, Caio Riter, Elaine
Maritza e Celso Sisto, profissionais renomados na área de ensino e práticas
literárias com jovens leitores (Professor 2).
Havia uma disciplina denominada Seminário para o Ensino da Literatura que propunha
aulas de debate de atividades. Como era uma única disciplina, acredito que o
cotidiano é que trouxe essa segurança, pois o “aluno ideal” é muito diferente dos
inúmeros problemas encontrados diante de uma turma de “alunos reais”
(Professor 3).
53
um manual de sugestões de propostas bem sucedidas com cada faixa etária
(Professor 3).
Cada universidade elabora o seu currículo. Não há como unificar isso. Não me
parece que o problema esteja nos currículos, mas sim na metodologia que o
professor aplica em sala de aula e no sistema educacional que não se modernizou e
que, portanto, não consegue acompanhar os avanços tecnológicos (Professor 5).
Ocorre que, pelas mesmas razões que justificam sua existência, a disciplina Ensino
da Literatura vê-se desprestigiada na Academia, porque desacredita a noção de que
a Literatura pode ser autossuficiente, conforme proclamam muitas das teorias em
voga sobretudo na primeira parte do século XX e ainda vigentes nos cursos de
Letras. Creio que esse é o problema que afeta mais especificamente a formação de
54
professores, pois assumir a docência como parte das tarefas do diplomado em
Letras parece uma rendição – um barateamento da Literatura. Por isso,
seguidamente o Ensino da Literatura é transplantado para os cursos de Pedagogia,
como forma de as Letras se livrarem do “patinho feio”. A valorização da disciplina
pode ser, pois, um bom caminho para o fortalecimento de um diálogo entre Letras
e Educação que eventualmente beneficie os dois campos de conhecimento
(ZILBERMAN, 2013: 304).
55
CAPÍTULO 3. A DIDÁTICA DA LITERATURA NOS CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
34
O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) avalia o rendimento dos alunos dos cursos de
graduação, ingressantes e concluintes, em relação aos conteúdos programáticos dos cursos em que estão
matriculados. O exame é obrigatório para os alunos selecionados e condição indispensável para a emissão do
histórico escolar. A primeira aplicação ocorreu em 2004 e a periodicidade máxima da avaliação é trienal para
cada área do conhecimento. Fonte: http://portal.mec.gov.br, 05-03-2014.
56
conforme pesquisa35 realizada pela Câmara Rio-Grandense do Livro, a cidade tem a maior
média de leitores do país, isto é, uma média por habitante de 6,5 livros lidos ao ano. Estes
números representam mais que o dobro de leitores, se comparado com a realidade nacional.
Além disso, no ano de 2006, foi sancionada pelo então Presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, a Lei nº 11.264 que confere ao município de Passo Fundo o título de “Capital
Nacional da Literatura”. O mérito foi concedido à UPF pelo fato de sediar, bienalmente,
desde 1983, um dos maiores eventos literários da América Latina, a “Jornada Nacional de
Literatura”36.
35
As informações acerca desta pesquisa foram obtidas na entrevista concedida pela professora Tania Rösing ao
“Portal do Professor” que consta no site do Ministério da Educação. Disponível em
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/noticias.html?idEdicao=42&idCategoria=8 (consulta: 20-02-2014).
36
A ideia da Jornada partiu da professora Tania Rösing – à época coordenadora dos cursos de Letras da
Universidade de Passo Fundo e hoje coordenadora geral das Jornadas Literárias – em conversa com o escritor
Josué Guimarães, em abril de 1981. O entusiasmo de Guimarães, que aprovou integralmente a iniciativa, levou
Tania Rösing a procurar o apoio da Universidade de Passo Fundo para a organização do evento. Em agosto de
1981, a “1ª Jornada de Literatura Sul Rio-Grandense” contou com a participação de cerca de 750 inscritos.
Entre os escritores convidados estavam Armindo Trevisan, Antonio Carlos Resende, Cyro Martins, Carlos
Nejar, Josué Guimarães, Moacyr Scliar, Sérgio Capparelli e Deonísio da Silva, além do poeta Mario Quintana, o
homenageado especial.
O público, composto principalmente por estudantes e professores universitários, ficou empolgado com a
possibilidade de dialogar com os escritores (atualmente, essa é uma das principais características da Jornada).
Participar de um evento cuja preocupação principal era a discussão e a divulgação de obras foi uma experiência
inédita para todos. Os universitários escreveram resenhas e as melhores foram publicadas em jornais locais.
Com o sucesso atingido pela 1ª Jornada, Josué Guimarães sugeriu que o evento ganhasse abrangência nacional e
fosse realizado a cada dois anos. Guimarães engajou-se pessoalmente em trazer escritores do eixo Rio-São
Paulo a Passo Fundo. Em 1983, o evento foi batizado de “Jornada Nacional de Literatura”. A primeira edição da
Jornada Nacional teve a participação de escritores como Antonio Callado, Millôr Fernandes, Otto Lara
Resende, Fernando Sabino, Luis Fernando Veríssimo, Luiz Antônio de Assis Brasil, Lya Luft e Orígenes
Lessa. Fonte: http://jornadasliterarias.upf.br, 20-02-2014.
57
Delineada a especificidade de cada instituição, iniciaremos a análise do currículo 37 da
UFRGS. Observamos que dos treze cursos oferecidos na área da Licenciatura em Letras da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, oito têm por base a Língua Portuguesa e
Literaturas de Língua Portuguesa; além disso, o aluno tem a possibilidade de escolher outras
ênfases (especificidades) no decorrer do curso. Vejamos quais são elas: Licenciatura em Letras
- Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa, Língua Alemã e Literatura de Língua Alemã;
Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa, Língua Espanhola e
Literaturas de Língua Espanhola; Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa e Literaturas de Língua
Portuguesa, Língua Francesa e Literatura de Língua Francesa; Licenciatura em Letras - Língua
Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Literaturas de Língua Inglesa;
Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa, Língua Italiana e
Literatura de Língua Italiana; Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa e Literaturas de Língua
Portuguesa, Língua Grega e Literatura de Língua Grega; Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa
e Literaturas de Língua Portuguesa, Língua Latina e Literatura de Língua Latina; Licenciatura em
Letras - Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa; Licenciatura em Letras - Língua
Alemã e Literatura de Língua Alemã; Licenciatura em Letras - Língua Espanhola e Literaturas de
Língua Espanhola; Licenciatura em Letras - Língua Francesa e Literatura de Língua Francesa;
Licenciatura em Letras - Língua Inglesa e Literaturas de Língua Inglesa; Licenciatura em Letras -
Língua Italiana e Literatura de Língua Italiana.
37
Disponível em http://www.ufrgs.br/ufrgs/ensino/graduacao/cursos/exibeCurso?cod_curso=334 (consulta: 15-
01-2014).
58
prática do ensino de Literatura ou de Literaturas de Língua Portuguesa, que, inclusive,
compõem o nome do curso.
O currículo38 do curso de Letras oferecido pela UPF pode ser encontrado de duas
formas nos dois cursos existentes da área: Letras, Português - Espanhol e respectivas Literaturas
e Letras, Português - Inglês e respectivas Literaturas. Utilizaremos em nossa análise, o currículo
do curso de Letras, Português - Espanhol e respectivas Literaturas, uma vez que o currículo com
a ênfase em Inglês é o mesmo nos quesitos que aqui analisaremos e que são o foco da nossa
pesquisa.
O curso de Letras da UPF tem a duração de nove semestres e está dividido em nove
níveis. Possui, no total, uma carga horária de 3.405 horas. Excluindo as disciplinas que
envolvem a ênfase em Espanhol, a carga horária é de 2.295 horas destinadas às disciplinas
obrigatórias. Observa-se uma configuração um pouco diferenciada com relação ao currículo
da UFRGS, uma vez que as disciplinas têm os créditos nomeados e classificados em
Teóricos, Práticos, Práticos Pedagógicos e Estágio Supervisionado.
38
Disponível em https://secure.upf.br/apps/academico/curriculo/index.php?curso=4217&curriculo=1(consulta:
15-01-2014).
59
Fonologia (15 horas), Literatura e Intertextualidade (15 horas), Morfologia (15 horas), Prática
Pedagógica de Língua Portuguesa e Literatura I (90 horas) que, inclusive, é oferecida já no 4º
semestre do curso. No 5º semestre, temos o Estágio Supervisionado de Língua Portuguesa e
Literatura I (195 horas), além de Sintaxe (15 horas). No 6º semestre, é realizada a Prática
Pedagógica de Língua Portuguesa e Literatura II (60 horas). O Estágio Supervisionado de Língua
Portuguesa e Literatura II (210 horas) decorre no 7º nível. Para finalizar, temos a disciplina A
Literatura contemporânea na escola (15 horas).
39
Grifos nossos.
60
Ao término da análise curricular, algumas considerações se fazem pertinentes. A
primeira delas, e talvez a que nos chame maior atenção, tem a ver com a porcentagem de
horas dos cursos destinadas à prática pedagógica e/ou à prática de ensino. Embora as duas
instituições sigam a determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e das
Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Letras no Brasil no que se refere à
carga horária obrigatória destina à prática de ensino – que são de, no mínimo, 300
horas/aula no decorrer do curso – existem outros aspectos da LDB e das Diretrizes
Curriculares que são relevantes na análise em questão.
Outra questão a ser observada tem a ver com a prática e/ou estágio ofertados no
currículo universitário. Na UFRGS observa-se a primazia para a Língua Portuguesa, uma vez
que as disciplinas que envolvem a prática e os estágios são, na sua grande maioria, voltadas à
Língua Portuguesa. Observemos, como exemplo, a súmula da disciplina Estágio de docência
em Português I: “Integração do referencial teórico com a prática pedagógica em língua
61
portuguesa no ensino fundamental”. Agora, quanto à súmula da disciplina Estágio de docência
em Português II, temos: “Integração do referencial teórico com a prática pedagógica em língua
portuguesa no ensino médio”. Constatamos que ambas fazem referência à Língua
Portuguesa, sem citar, propriamente, a Literatura.
Contudo, não queremos dizer, com os dados apresentados, que o currículo de uma
universidade seja melhor do que outro. Da análise dos currículos conclui-se que as
disciplinas acadêmicas da UFRGS voltam-se mais à prática e ensino da Língua Portuguesa,
enquanto o currículo da UPF disponibiliza um maior número de créditos para a prática
docente tanto de Língua Portuguesa quanto de Literatura. Neste momento, acreditamos ser
interessante refletir acerca da ideia de Mendoza Fillola (2010), quando nos diz que a língua
serve tanto como forma de interação comunicativa como ponte para novos conhecimentos,
uma vez que, não só na didática da Literatura, mas também na Didática da Língua são
contempladas a investigação, os processos de ensino-aprendizagem e suas consequentes
intervenções práticas. Fillola afirma que a área da didática da Língua e da Literatura “tiene
global incidencia y repercusión en todos los niveles educativos y en todos los espacios
curriculares, porque los dominios lingüísticos determinan el éxito de todo los aprendizajes”
(FILLOLA, 2010: 11).
O brasileiro Rodrigo Santos (2012: 3) opta pela expressão “trabalho com a leitura
literária”, pois acredita que o termo “ensino da literatura” é um conceito limitador, uma vez
que não dá conta do processo de trocas que envolvem aluno e professor, ou seja, a
interação que ocorre com a leitura literária é muito mais que um mero “ensino da
literatura”. Para este estudioso, o “trabalho com a leitura literária” mobiliza de forma ativa
“toda uma série de conhecimentos e vivências que coloca os envolvidos no processo de
leitura em franco confronto para a construção-negociação dos sentidos do texto”, sendo
que essas trocas acabam por favorecer outras áreas de ensino.
63
literária” e perspectivar a importância, ou seja, seus contributos para a formação do futuro
docente.
Logo, a disciplina tem como objetivo construir uma base conceitual para o ensino da
Literatura, revisando e aproveitando os conceitos já estudados nos primeiros semestres do
curso. Neste momento, os alunos, fazendo uso de seus conhecimentos de base teórica,
deverão priorizar a leitura da obra literária, estabelecendo, assim, um nexo entre o texto
literário e a experiência do leitor. Dessa maneira, observamos que o que está em causa
neste desenho curricular é a construção de subsídios para o aluno exercer - de forma
prática - o seu futuro trabalho como professor.
40
LET 01490 - Código da disciplina que não aparecerá na dissertação.
41
Conforme já fora explicitado anteriormente, a educação escolar no Brasil compõe-se de Educação Básica
(Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) e Educação Superior. Neste caso, ao referirmo-nos
à “Educação Básica”, estamos considerando os Ensinos Fundamental e Médio.
64
No que diz respeito à UPF, e como fora apontado no item anterior, estamos
priorizando aqui as três disciplinas que, no nosso entendimento, contemplam dimensões de
ensino e aprendizagem de textos literários (do clássico ao contemporâneo, incluindo a
importante área da Literatura infantil e juvenil). Vejamos as ementas dessas disciplinas a fim
de explanar os seus conteúdos e objetivos.
42
LPL 158 - Código da disciplina que não aparecerá na dissertação.
43
LPL 170 - Código da disciplina que não aparecerá na dissertação.
44
LPL 182 - Código da disciplina que não aparecerá na dissertação.
65
(15 horas de prática pedagógica, mais 45 horas de teoria), tem caráter obrigatório e é
realizada no 7º semestre do curso. Os conteúdos apresentados na respectiva ementa são:
“A leitura na escola. Estudo sobre os diálogos com diferentes códigos e o leitor
contemporâneo. Estudo do texto literário em sua faceta infantil∕juvenil, sua trajetória e
especificidade enquanto gênero e as diferentes formações culturais que o engendram. A
história, a representação e os modos de ler na infância e na adolescência”. Podemos verificar
que a disciplina proporciona reflexões acerca da leitura realizada na escola, levando em
consideração as características específicas da Literatura e do público infanto-juvenil
contemporâneo.
Todas as ementas aqui analisadas, de disciplinas ofertadas pela UFRGS e pela UPF,
sugerem uma correlação entre teoria e prática. A grande diferença talvez seja o fato de a
UFRGS oferecer a disciplina voltada ao ensino da Literatura no 6º semestre, subentendendo-
se uma possível utilização dos conhecimentos teóricos adquiridos pelos seus alunos no
decorrer do curso, objetivando conhecimentos linguísticos e literários que serão
perspectivados, posteriormente, em termos didáticos, para aí sim por em prática aspectos
do ensino envolvendo a Literatura. Cristina Mello (2010: 66-67) designa essa junção de
saberes ou informações de “biblioteca acadêmica”. Nas suas palavras, a formação
constitutiva de conhecimentos sobre Língua e Literatura faz parte da biblioteca acadêmica do
futuro professor, é o seu “universo de saberes”. Essa “biblioteca acadêmica” constitui o seu
ponto de chegada à didática da Literatura. A partir daí, é necessária uma reconfiguração, um
saber que tem outra especificidade curricular. Percebemos que é nesse momento que a
UFRGS oferta a disciplina Seminário para o ensino da Literatura, favorecendo o futuro
professor, uma vez que ele pode utilizar-se do seu “universo de saberes”, isto é, das
disciplinas estruturantes que favoreceram a integração de saberes.
A autora também explicita que, a partir desse ponto, no momento em que o futuro
professor utiliza a sua “biblioteca acadêmica”, estamos diante de outra lógica. Assim, “os
objetivos, as finalidades, os conteúdos são perspectivados dentro de uma ótica que já não
66
deve ser a do ensino superior, mas antes dos sistemas de ensino básico e secundário”, ou
seja, é o final ou o topo de um ciclo (uma vez que as disciplinas científicas já foram feitas), e
o início de outro (uma vez que Seminário para o ensino da Literatura antecede a disciplina
Estágio de docência em Português 1, oferecida no 7º semestre e Estágio de docência em
Português II, realizada no 8º e último semestre do curso). O início, enfim, da componente
prática do curso no que concerne à docência.
67
O questionário abaixo foi enviado a um professor da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, através de correio eletrônico, com perguntas que, em nossa perspectiva,
fazem jus à pesquisa em questão:
1- Sabemos que, muitas vezes, nas escolas, a Literatura está a serviço do ensino de
Português, sendo que o ensino do Português acaba sendo priorizado. Parafraseando Antonio
Candido, a literatura acaba por ser “galho secundário” do português. Há articulação entre a
disciplina específica de Literatura e a formação pedagógica (conteúdos da docência) no
decorrer do curso de Letras? Ou existe apenas para a disciplina de Português? Como essa
formação se dá?
68
formação do docente. E, de fato, é impressionante como o aluno cresce dentro do próprio curso de
Letras, depois que entra em contato com a realidade escolar.
Professor A: Creio que seria interessante. Há dois aspectos que valem ser ressaltados. De um lado,
a formação atual nas disciplinas dos estudos literários, há formação na teoria da literatura, nas
literaturas nacionais, na leitura de clássicos. De certo modo, pode-se dizer que formam um crítico,
um leitor qualificado, tanto no aparato crítico quanto no domínio de repertório. De outro lado, não
há nesse caso formação do docente de literatura. Nesse aspecto, há tendência de repetir o padrão
da aula expositiva, da repetição da seleção já dada de autores consagrados, nas provas de leitura
cobrando nomes de personagens e momentos do enredo... Não há propriamente uma reflexão
sobre a experiência de leitura da obra, para citar um aspecto. Assim, seria interessante pensar que
diferentes propostas de trabalho levam a diferentes formas de leitura. Se é pedida uma adaptação,
um comentário, uma encenação, um comentário ou outra atividade, o aluno lê a obra por diferentes
ângulos. Por esse caminho, a leitura se efetiva como forma de ação pela necessidade de produzir
algo como resposta e de expor publicamente esse resultado. Voltando ao ponto, então, seria
interessante pensar pontos de articulação entre as pesquisas docentes (teoria, historiografia, crítica)
e o ensino de literatura, mas o espaço ainda é pequeno.
Professor A: A tecnologia tem entrado na sala de aula de forma contínua e está alterando o
cotidiano das aulas. Vou citar dois exemplos. Os professores tem usado o “Moodle”45 para
repositório de textos, para atividades em EAD (Ensino à Distância) e para contactar com a turma.
No caso dos textos, as fotocópias têm perdido espaço para a digitalização de textos e abre espaço
para outro tipo de leitura. Além disso, abre-se para outros tipos de contato com a Literatura. Pode-
se pesquisar a Literatura em jornais no site da Biblioteca Nacional (memoria.bn.br), pode-se ver
uma adaptação da obra para filme ou animação (como de “Morte e Vida Severina”), pode-se ouvir
45
Para uma melhor contextualização, acreditamos ser interessante relatar as características do programa
Moodle citado pelo “Professor A”: Utilizado principalmente num contexto de e-learning ou b-learning, o
programa permite a criação de cursos on-line, páginas de disciplinas, grupos de trabalho e comunidades de
aprendizagem, estando disponível em 75 línguas diferentes. Conta com 25.000 websites registrados, em 175
países. Fonte: http://pt.wikipedia.org, 06-03-2014.
69
a declamação (interpretação) do poema pela voz do próprio poeta (Drummond, João Cabral,
Vinicius, Bandeira...). Com certeza, esse nexo com a tecnologia vai aparecer ali adiante nas aulas.
Professor A: Vou falar dos projetos de ensino de Literatura feitos para a disciplina que ministro, o
citado “Seminário para Ensino de Literatura Brasileira”. Em primeiro lugar, pode-se ver uma
dificuldade de fazer o deslocamento do ensino de Literatura, centrado na exposição do professor e
na explicação do texto, para o ensino voltado para experiência de leitura do aluno. Outro ponto
difícil (pois gera insegurança) é seleção de autores e de obras a serem trabalhados no ensino. No
Ensino Fundamental, isso aparece com força, pois cabe ao professor definir a leitura a ser indicada
para leitura. No Ensino Médio, o problema é diverso, pois tende a se concentrar em períodos, estilos
de época e grandes autores da Literatura portuguesa e brasileira. Há uma seleção já dada de
autores. O problema volta-se para o modo de trabalhar esses textos, para além da obrigação de
leitura e para o estabelecimento de vínculo entre aluno leitor e obra indicada.
Professor A: Novamente essa preocupação aparece com mais força na Língua Portuguesa. Em
todo caso, pela preocupação com a leitura, essa questão tem entrado também no ensino de
Literatura. A avaliação é um ponto de difícil abordagem. A que atribuir valor? No caso de projetos
de ensino, o aspecto destacado está posto na articulação entre a produção que foi pedida ao aluno
e a posterior realização. Entre proposta e efetivação. Isso implica um deslocamento da avaliação,
mera atribuição de nota ou de conceito, para uma avaliação mais reflexiva. Isso gera dificuldade,
sim, mas está sendo posta em questão.
70
Professor A: Em parte, a resposta à questão 2 já contemplou essa resposta. A resposta é positiva.
Sim, a Licenciatura em Letras está preparando o aluno para a realidade escolar brasileira. Esse
“sim”, no entanto, ainda não é pleno, pois as atividades listadas acima aproximam o aluno da
escola, mas ainda falta (creio eu) um projeto mais amplo para isso. De certo modo, o curso de
Letras se divide entre formação de docentes e de pesquisadores.
Professor A: Novamente boa parte da contribuição vem de alguns professores da área de Língua
Portuguesa, professores que trabalham com leitura literária. Por exemplo, uma professora de
Estágio I (Ensino Fundamental) trabalha com o conceito de letramento literário. Enquanto problema
específico da literatura, apenas no referido Seminário.
Professor A: O principal ponto, creio eu, aparece quando se realiza um nivelamento entre diversas
práticas discursivas e a Literatura. O nexo entre os textos jornalístico e literário é produtivo, mas não
são produções de igual valor. Outra dificuldade está no deslocamento da aula de Literatura,
enquanto explicação do professor, para experiência de leitura por parte do aluno. Esse ponto de
partida nem sempre é posto. Também poderia falar do difícil diálogo entre os alunos leitores de
best-seller e o repertório oferecido pelo professor. Como justificar a relevância das obras indicadas
pelo professor? Como mostrar a necessidade de ler autores e obras consagradas (clássicas)? Como
desenvolver, construir um contrato de leitura eficaz com os alunos para realizarem uma leitura de
fôlego como um romance... Enfim, esses são alguns pontos apenas.
71
escolar, mas deve se levar em conta que nem todos os alunos que se formam, embora
tenham cursado uma licenciatura, seguirão a carreira docente, mas sim, a de pesquisadores.
Outra questão levantada pelo entrevistado é que boa parte da contribuição para
alcançar avanços e mudanças no trabalho com a Literatura no contexto escolar acaba
resultando de iniciativas de professores da própria área de Língua Portuguesa, pois, muitas
vezes, trabalham com a língua (entendida como atividade discursiva) a partir do texto
literário. O professor assevera que esta prática é recorrente, inclusive nos Estágios de
Língua Portuguesa, onde buscam trabalhar a língua a partir da leitura literária.
46
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), criado em 2010, é uma iniciativa para o
aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. O programa concede
bolsas a alunos de Licenciatura participantes de projetos de iniciação à docência, desenvolvidos por Instituições
de Educação Superior (IES) em parceria com escolas de educação básica da rede pública de ensino. Os projetos
devem promover a inserção dos estudantes no contexto das escolas públicas desde o início da sua formação
acadêmica para que desenvolvam atividades didático-pedagógicas sob orientação de um docente da Licenciatura
e de um professor da escola. Atualmente, 195 Universidades no Brasil estão participando do PIBID. Fonte:
http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid, 07-03-2014.
47
Disponível em http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid (consulta: 07-03-2014),
http://pibidletrasufrgs.wix.com/2013#!sobrenos/cjg9 (consulta: 16-07-2014) e
http://www.revistaglauks.ufv.br/arearestrita/arquivos_internos/artigos/Marleye_Patricia_Elisane.pdf (consulta:
16-07-2014).
72
Além do PIBID, o professor citou a revista Bem Legal48 que possui um repositório
digital, onde os acadêmicos disponibilizam textos∕artigos divulgando exemplos de práticas
acertadas. Também citou o exercício da docência de alunos universitários no Programa de
Português para Estrangeiros, onde os discentes podem ter a oportunidade de exercer a
docência para alunos de outras nacionalidades em salas de aula da própria universidade e os
Pré-Vestibulares Populares que são cursos preparatórios destinados a alunos carentes
provenientes do Ensino Médio e que pretendem prestar o Concurso Vestibular. Nestes Pré-
Vestibulares, os alunos da UFRGS, que se disponibilizarem, podem ministrar aulas de Língua
Portuguesa ou Literatura.
Observamos, nas ideias arroladas pelo “Professor A”, que uma das grandes
dificuldades encontradas na formação de docentes de Literatura prende-se justamente com a
questão recém citada: a dificuldade do futuro professor em deixar de centrar a aula apenas
na sua própria exposição, fazendo somente a “explicação” do texto, ou seja, reproduzindo a
formação obtida na graduação, sendo que, na opinião do entrevistado, poderia ser mais
produtivo centrar o ensino da Literatura nas experiências de leitura do aluno, colocando em
prática a tradição humanista da didática.
48
A Bem Legal é uma revista eletrônica para a divulgação de ações e iniciativas bem sucedidas em projetos de
ensino e aprendizagem de língua. Com periodicidade semestral, a publicação é um fórum para a troca de ideias
e reflexões entre professores de línguas e demais agentes da educação linguística. Dentre os artigos
consultados, encontramos “Uso de textos literários adaptados: o que faz rir?” de Daniel Welle; “A leitura
numa perspectiva (inter)disciplinar pode dar certo...” de Sandro L. da Silva e Cirlei I. S. Paiva; “Professor de
primeira viagem - Uma reflexão sobre a prática pedagógica de um professor iniciante” de Jonathan Everton
Bento da Silva; dentre outros artigos. Fonte: http://www.ufrgs.br/revistabemlegal, 15-07-2014.
73
O mesmo professor menciona a dificuldade que os futuros docentes enfrentam em
mostrar a relevância de obras canônicas, em conseguir justificar sua importância e, ao
mesmo tempo, trabalhar com estas obras clássicas, dado que alguns alunos do Ensino
Fundamental têm dificuldade em realizar a leitura integral propriamente dita ou são leitores
de best-sellers. Além disso, os alunos do ensino universitário demonstram insegurança para
fazer a seleção de autores e obras, pois como já vimos, no Ensino Fundamental, cabe ao
professor definir o que será lido e contemplado em sala de aula e, assim, tal dificuldade
constitui um problema que precisa ser enfrentado.
74
aprendizagem. Qual a importância desse estudo∕reflexão∕aprendizado para a formação do
futuro professor de Língua Portuguesa que também poderá ensinar Literatura?
75
final do semestre, planejam uma prática de leitura a ser discutida em grande grupo. As práticas de
leitura produzidas pelos alunos estão associadas a mais um projeto das Jornadas, o “Livro do Mês”.
c. Desde 2006 o projeto “Livro do Mês” traz mensalmente a Passo Fundo um autor para
discutir sua obra com a comunidade. Do início do projeto à atualidade, mais de 60 escritores
visitaram a cidade e tiveram a oportunidade de aproximar-se de um público leitor formado por
alunos universitários, do curso de Letras e de outros cursos, e por alunos das escolas da região,
principalmente públicas, municipais e estaduais. Assim, o projeto da Jornada mobiliza
permanentemente, pela leitura literária, a comunidade escolar e acadêmica. O projeto “Livro do
Mês” nasceu como atividade logo após Passo Fundo, por Lei Federal nº 11.264, de 02 de Janeiro de
2006, receber o título de Capital Nacional da Literatura. Em vínculo com o projeto “Livro do Mês”,
os alunos do primeiro semestre de Letras, na disciplina “Mundo da Leitura”, lidas as obras e
conhecidos pessoalmente os autores, planejam práticas de leitura a partir de um dos livros do
projeto “Livro do Mês”, em uma metodologia semelhante à desenvolvida nos Cadernos de Atividades
da Jornadinha e da Jornight (http://jornadasliterarias.upf.br/15jornada/index.php/7o-
jornadinha/caderno-de-atividades-vi.html). Os Cadernos de Atividades são publicações que integram
a produção didática e científica da Jornada de Literatura e são previamente elaborados pela equipe
do Mundo da Leitura, laboratório, para a mediação de leitura nas escolas da região.
Professor B: O perfil leitor do aluno do Curso de Letras da UPF é uma questão que ainda se
encontra sob pesquisa. Tal pesquisa está vinculada aos estudos que são desenvolvidos no Programa
de Pós-graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo em consonância com o que se
pretende ampliar na “Red de Universidades Lectoras”, na qual se integra a UPF
(http://universidadeslectoras.org). A Red reúne aproximadamente 50 universidades da Europa e das
Américas, com “el objetivo básico de potenciar el papel de la lectura y la escritura en la Universidad,
no sólo como herramientas de trabajo (la llamada “alfabetización académica”) sino como vehículo
de promoción integral del universitario”.
Há, contudo, quanto ao perfil de leitura dos alunos de Letras, tanto uma ‘hipótese’, que
parece confirmar-se na rotina dos trabalhos e no contato com os universitários, quanto uma
‘questão’, recorrente em grande parte dos cursos de graduação, no Brasil ou em outros países: a de
que os alunos necessitam, com metodologias inovadoras, com instrumentos atualizados e com
materiais de leitura renovados, de todo um trabalho de mediação que lhes permita o contato com o
76
literário e com o artístico, de forma a torná-los indivíduos críticos, autônomos e esteticamente
sensíveis. Parece também, quanto ao que se pode constatar, ainda empiricamente, que os alunos
universitários, de modo geral, em todos os campos, necessitam mediação de leitura quanto aos
textos que compõem suas próprias áreas de conhecimento.
4- Em sua opinião, como professor universitário, quais ações são imprescindíveis para
que o aluno de Letras, utilizando-se da sua formação acadêmica, possa realizar um trabalho
satisfatório e efetivo na área de Literatura dentro da escola pública brasileira?
Professor B: A discussão é muito complexa, mas penso que as ações devem estar associadas à
“inovação”, nos seguintes aspectos:
(i) Na metodologia – O trabalho com leitura na escola não pode restringir-se às disciplinas
de Língua e de Literatura. Todas as áreas e todas as disciplinas dos currículos devem voltar-se à
formação de leitores e à leitura como questão. Da mesma forma, os recursos devem ser
diversificados, relativos a diversos códigos e linguagens em dinâmicas nas quais se apresentem os
materiais de leitura e não se imponham alguns textos e uns poucos livros. A metodologia, que deve
associar textos, deve também responder às circunstâncias sociais e culturais, também diversificadas,
que compõem ao perfil – cada vez mais plural – dos alunos;
(ii) Nos recursos – Não há como restringir a leitura ao impresso e ao verbal. Os suportes e
códigos diversificados, as textualidades visuais, a mobilidade e a universalidade das TICs, as
77
possibilidades da portabilidade, da conexão, são aspectos que devem ingressar nos espaços de
leitura, dentre eles a sala de aula, como recursos inteligentes de intermediação na tríade “professor,
aluno, conteúdo”. Entre cada termo dessa triangulação, as tecnologias, associadas à informação, à
arte, à inovação, devem ser recursos que participem ativamente da renovação dos currículos, em
associação com o que se atualiza nos sujeitos (professor e aluno) e pelos sujeitos.
(iii) Nos conteúdos – É necessária a atualização dos conteúdos, quanto mais quando se
coloca em questão a leitura. A tradição deve estar associada ao contemporâneo, não isolada em
“unidades”. Na literatura, os clássicos devem ser lidos na medida em que são, inevitavelmente,
evocados pelo novo. A literatura contemporânea, ao tratar de temas da atualidade, ao discutir
problemas que fazem parte da vida dos alunos de hoje, ao formular questões frente às experiências
do presente, jamais se furta de referir, citar, aludir, parodiar. Nesse sentido, a renovação do
conteúdo, seja na literatura, seja nas demais áreas, é um termo essencial para que possamos
resgatar talvez o que a escola e a universidade jamais priorizaram, mas que, nos dias de hoje,
parece uma exigência nas relações intersubjetivas e das relações dos sujeitos com o conhecimento: o
diálogo.
(iv) Nos espaços de leitura – É fundamental animar as bibliotecas, normalmente renegadas
a um espaço secundário da escola (quando existentes). É preciso que sejam espaços de leitura que
promovam a pluralidade das produções culturais, a diversidades de códigos e das linguagens. Da
mesma forma, deve contemplar diferentes posturas leitoras, abandonado o padrão do silêncio e do
isolamento. Ler é algo que também envolve encontro e discussão. Em termos amplos, a biblioteca
deve ser um espaço lúdico, de diálogo, de contação de histórias, de encenação, de declamação, de
teatralização de bonecos. Deve mobilizar esforços de equipes multidisciplinares para atingir todos os
leitores, em todas as faixas etárias, em todas as instâncias culturais e sociais. Deve ser um espaço
aberto, acessível às pessoas e com acesso rápido e facilitado à rede de computadores. Deve
representar a integração ao local e ao global, assumindo uma feição “glocal”.
78
é o de ser um educador empenhado em formar leitores críticos, dotados de autonomia,
criatividade e sensibilidade.
Estas atividades centradas no uso do texto literário, referenciadas por Fillola, vão ao
encontro da tradição literária da UPF, alicerçada nas “Jornadas Nacionais de Literatura” (já
referenciadas nesta dissertação), uma vez que as Jornadas envolvem e interagem – de forma
pragmática e constante – com várias esferas da sociedade. Na opinião do entrevistado, a
Literatura é o objeto de estudo que se associa à leitura e, nesta disciplina, a leitura torna-se
o núcleo do desenvolvimento da identidade e da competência do futuro docente.
49
Grifo nosso.
79
os autores transcorre a disciplina “O Mundo da Leitura”, que culmina com o planejamento
de práticas de leitura associadas a autores que fazem parte do “Livro do Mês”.
Para finalizar, sugere ações para a realização de práticas positivas e eficazes que
envolvam o ensino da Literatura em escolas públicas. Embora assuma a complexidade da
discussão acerca do tema, a sua opinião está pautada em uma palavra carregada de
significação: “inovação”. Assim, sugere a inovação em quatro aspectos específicos: na
metodologia, nos recursos, nos conteúdos e nos espaços de leitura50, ficando evidente para
nós a ideia de que o professor deve estar em constante processo de atualização, efetivando
sempre a renovação de suas práticas.
50
Grifos nossos.
51
Grifos nossos.
52
Grifo nosso.
80
Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), uma vez que os textos devem ser
apresentados aos alunos em diferentes mídias, suportes e códigos, possibilitando o constante
movimento de renovação curricular.
Ao falar acerca dos conteúdos, sugere que a tradição deve ser considerada não de
forma isolada, mas sempre associada à contemporaneidade. Também acreditamos que a
escola atual deve ser positivamente eclética e abarcar a pluralidade. Neste sentido, entende-
se que todos os textos são passíveis de serem abordados em sala aula e nenhum discurso
pode, à partida, estar desconexo; o dialogismo garante que o texto não seja trabalhado
isoladamente, mas sim, correlacionado com outros discursos.
53
Embora grande parte das características deste ambiente educacional já tenha sido retratada nas respostas
(em entrevista) do “Professor B”, consideramos pertinente manter a explanação presente nesta nota: O
“Centro de Referência de Literatura e Multimeios – Mundo da Leitura” é um laboratório do curso de
Graduação e Pós-Graduação em Letras do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UPF, cujas ações,
instituídas desde setembro de 1997, envolvem atividades multimidiais de ensino, pesquisa e extensão sobre
questões de leitura. Através de visitas previamente agendadas, desenvolvem-se práticas leitoras em múltiplos
suportes e em linguagens variadas, destinadas a turmas de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio e
Superior. As centenas de visitas agendadas e práticas leitoras multimidiais aplicadas, bem como as incontáveis
atividades de ensino, pesquisa e extensão ligadas à formação do leitor, à difusão da Literatura e ao universo em
que se constituem as múltiplas linguagens, configuram grandes exemplos da bela integração de jovens/novos
autores com suas respectivas obras e a recepção pelos jovens/novos leitores. Fonte:
http://www.mundodaleitura.upf.br, 10-06-2014.
81
Em entrevista54 realizada no mês de Maio de 2010 e disponibilizada ao “Portal do
Professor” no site do Ministério da Educação e Cultura (MEC), a professora Tania dialoga
acerca de vários pontos fundamentais que dizem respeito à leitura, de entre eles a vital
importância da formação do professor, que culmina por incidir na eficaz formação do leitor.
Para tanto, inicia sua fala expondo a necessidade da mídia brasileira fomentar campanhas que
estimulem a importância da leitura em diferentes suportes (literatura impressa ou digital),
objetivando a formação de cidadãos críticos.
É neste ponto que ressaltamos ainda mais a importância do docente, visto que,
conforme pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro, já citada anteriormente, foi constatado,
com 45% dos entrevistados considerados “leitores”, que quem mais os influenciou a ler e a
tornarem-se leitores foi o professor ou professora. Em segundo lugar, a pesquisa revelou
54
A íntegra da entrevista encontra-se disponível em
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/noticias.html?idEdicao=42&idCategoria=8 (consulta: 20-02-2014).
82
que 43% dos entrevistados referiram-se à mãe ou à responsável do sexo feminino 55.
Ou seja, a figura do professor e da família na qual o aluno está inserido é fator determinante
para o sucesso no processo de formação do leitor. Não só o exemplo do professor como
leitor e entusiasta da Literatura, mas também o exemplo no seio familiar tornam-se fatores
decisivos.
Na referida pesquisa, dos considerados “leitores”, 22% sempre viram sua mãe lendo e
27% apenas de vez em quando. Dos considerados “não leitores”, 63% nunca viram sua mãe
ler. Outro dado impressionante é relacionado à biblioteca. Quando os entrevistados
considerados “leitores”, que já fizeram a compra de pelo menos um livro, são questionados
acerca do que a biblioteca representa para eles, 71% tem a ideia de que a biblioteca
representa um lugar para estudar, 61% um lugar para pesquisar e, apenas 12% considera-a
um lugar para lazer. Ou seja, a leitura está diretamente relacionada ao estudo, à escola, a
algo obrigatório, metódico e sistemático. O lugar reservado à Literatura como uma atividade
prazerosa praticamente inexiste. E essa visão é repassada pela escola, que, na maioria das
vezes, trabalha a leitura como uma obrigação, como uma atividade intrínseca à avaliação, sem
espaço para o que é lúdico e prazeroso.
55
Grifos nossos.
83
leitura, fazendo uso de materiais diferenciados e sempre levando em consideração os
interesses e reais necessidades dos alunos56.
Outro ponto citado na entrevista, pela professora Tania Rösing, que vai ao encontro
da necessidade de uma pedagogia e de uma didática da Literatura efetiva e motivadora no
meio acadêmico, e que evidencia ainda mais o comprometimento político da universidade,
refere-se ao perfil do aluno de Letras, hoje. Este perfil deve ser considerado na academia,
não como fora tradicionalmente instituído, quando a lógica tradicional dos processos de
ensino-aprendizagem da Literatura pautava-se na mera transmissão. Conforme Cristina
Mello (1998: 264), “na sociedade dos nossos dias, por força da democratização da escola e
em virtude do que se conhece sobre as insuficiências da aprendizagem, o ensino da literatura
tem solicitado, cada vez mais, que se considere a forma como o receptor aprende”. Na
realidade, Tania Rösing dá-se conta da desmotivação dos alunos com a leitura já no início do
curso de Letras, sendo que muitos, ao término do curso, continuam desmotivados:
Ao término de sua fala, Tania Rösing deixa claro que as ações para formar e ampliar o
número de leitores depende de várias práticas, de múltiplas ações. Sabemos que na ausência
de uma cultura de leitura, na qual se enquadra a realidade brasileira, impõe-se a intervenção
56
A problemática do distanciamento inegável entre a literatura canônica e o público juvenil justifica a
pertinência de se deter sobre a questão da formação de professores de Língua Portuguesa para o trabalho com
a leitura literária tanto nos anos finais do Ensino Fundamental, quanto no Ensino Médio. A importância da
literatura canônica é fortificada, na medida em que o docente obtém a consciência de que, ao estar trabalhando
com ela, estará valorando diversos conceitos, dentre eles, conceitos históricos, sociais, políticos, filosóficos e,
diria até, patrióticos para com seus alunos. O professor deve considerar tais valores culturais como reais
necessidades dos alunos, justificando, assim, a própria pertinência da Literatura enquanto meio de sublimação
dos sujeitos.
84
de mediadores entre texto e leitor e a adoção de novas práticas de leitura capazes de ir ao
encontro dos alunos tornam-se imprescindíveis.
A propósito desta relação entre teoria e prática nos cursos de licenciatura em Letras,
em cujo espaço curricular se situa a didática da Literatura, consideramos oportuno destacar
dados de uma pesquisa disponibilizada em formato digital,57 realizada pela Fundação Carlos
Chagas58 sob encomenda da Fundação Victor Civita 59, em 2008. Intitulada Formação de
Professores para o Ensino Fundamental: instituições formadoras e seus currículos, a pesquisa
analisa 32 currículos e suas respectivas ementas do curso de Licenciatura em Letras: Língua
Portuguesa, de três principais regiões do Brasil (Nordeste, Sudeste e Sul). Foi constatado
57
Pesquisa disponível em http://www.fvc.org.br/pdf/artigo-formacao-professores.pdf (consulta: 21-04-2014).
58
A Fundação Carlos Chagas é uma instituição privada sem fins lucrativos, reconhecida como de utilidade
pública nos âmbitos Federal, Estadual e Municipal, dedicada à avaliação de competências cognitivas e
profissionais e à pesquisa na área de educação. Fundada em 1964, expandiu rapidamente suas atividades,
realizando, em todo o Brasil, exames vestibulares e concursos de seleção de profissionais para entidades
privadas e públicas. A partir de 1971, com a criação do Departamento de Pesquisas Educacionais, desenvolve
um amplo espectro de investigações interdisciplinares, voltadas para a relação da educação com os problemas e
perspectivas sociais do país. Com a expansão das atividades desse Departamento ao longo dos anos, em maio
de 2009 foi instituída a Superintendência de Educação e Pesquisa incorporando a pesquisa e os demais setores
relacionados à educação. Fonte: http://www.fcc.org.br/institucional/2010/09/06/historico, 21-04-2014.
59
Criada em 1985, a Fundação Victor Civita é uma entidade sem fins lucrativos e suas pesquisas têm como
principal objetivo a produção e disseminação de informações resultantes de pesquisas educacionais entre
formuladores de políticas públicas, pesquisadores, institutos e universidades dedicados à pesquisa educacional e
à formação de educadores e gestores, bem como entre Organizações Não Governamentais (ONGs) com foco
na Educação. As evidências levantadas nos estudos servem ao propósito de ampliar a reflexão para subsidiar a
formulação de melhores políticas públicas para a Educação Básica brasileira. Fonte:
http://www.fvc.org.br/estudos-e-pesquisas/sobre.shtml, 22-04-2014.
85
que a maioria das instituições revela tendência para a concentração maior da carga horária
no núcleo de disciplinas da formação específica, em detrimento da formação para a docência.
A maioria dos cursos centra-se na formação específica, especialmente em áreas da
Linguística e da Literatura. A análise das propostas mais restritivas indica uma prematura
especialização dos futuros professores.
Outro ponto relevante que foi apontado como conclusivo na pesquisa é relativo às
disciplinas práticas exigidas pelas Diretrizes Curriculares que se mostram problemáticas,
pois, muitas vezes, o currículo dos cursos aponta uma porcentagem prática que está
“embutida” no total de horas nas ementas das disciplinas, mas sem especificação clara. Por
vezes, a distinção entre teoria e prática aparece em separado, mas com ementas que não
delimitam como ocorre tal prática. Outra questão é que na maior parte dos programas
analisados não foi observada uma articulação entre as disciplinas de formação específica
(conteúdos da área disciplinar) e a formação pedagógica (conteúdos da docência). Por outro
lado, os saberes relacionados a tecnologias no ensino também estão praticamente ausentes.
Um dado revelador é que mais da metade das disciplinas ofertadas no curso de Letras
tem como referência os "conhecimentos específicos da área". As matérias diretamente
ligadas à formação específica para a docência registram percentual em torno de 10%,
sinalizando que a maioria dos cursos de Letras têm uma carga horária muito reduzida para
disciplinas voltadas à formação de professores (para a Educação Básica). A formação em
Avaliação Educacional, especialmente no que diz respeito a processos de aprendizagem em
sala de aula, conforme dados da pesquisa, é “tema ausente”.
60
Grifos nossos.
86
A visão obtida através da pesquisa é geral, não sendo aplicável a uma instituição em
particular, mas sinaliza a tendência formativa no conjunto dos cursos. No modelo de
universidade brasileira, constata-se o lugar secundário ocupado pela formação de
professores, evidenciando o que já fora constatado neste trabalho, particularmente através
de textos de Regina Zilberman (2013). Em nossa cultura, infelizmente, a formação de
professores é considerada atividade de categoria inferior e quem a ela se dedica é pouco
valorizado. Decorre daí uma ordem hierárquica nas instituições de ensino superior em que
as atividades de pesquisa e de pós-graduação alcançam reconhecimento, enquanto que a
preocupação com o ensino e a formação de professores supõe perda de prestígio
acadêmico. Tal conclusão coincide com o senso comum, nas universidades.
61
Grifo nosso.
87
existem diferenças no enfoque das disciplinas entre uma universidade e outra, mas ambas
estão em consonância com o que propõem as Diretrizes Curriculares para os Cursos de
Graduação em Letras no Brasil.
62
Disponível em http://www.ufrgs.br/letras/arquivos/PropostaCurricular.pdf (consulta: 16-01-2014).
88
literatura…”. Finalizando, “deve ter um compromisso ético e responsável com o sucesso da
aprendizagem dos alunos e com as demais consequências de sua atuação na educação”63.
Ressaltamos, mais uma vez, com as análises apresentadas, que as propostas dos
cursos de Licenciatura de ambas as universidades vão ao encontro do que postulam as
Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Letras, integrantes do Parecer
63
Fonte: http://www.ufrgs.br/letras/arquivos/PropostaCurricular.pdf, 18-01-2014.
64
Disponível em http://www.upf.br/letras (consulta: 20-01-2014).
65
Fonte: http://www.upf.br/letras, 20-01-2014.
89
CNE/CES nº 492/2001, onde consta que esses profissionais “devem ser capazes de refletir
teoricamente sobre a linguagem, de fazer uso de novas tecnologias e de compreender sua
formação profissional como processo contínuo, autônomo e permanente” (BRASIL, 2001:
30). Ao mesmo tempo, utilizando-nos das descrições existentes no projeto pedagógico de
cada Universidade, ficamos com a ideia de que a UFRGS, seguindo quatro eixos (Língua,
Linguística, Teoria literária e Literatura) acaba por apartar mais esses saberes em duas
grandes áreas: Língua e Literatura, trabalhando-os de forma mais compartimentada. Talvez aí,
tenhamos a explicação para a tendência de se conferir uma maior ênfase a determinada área
que, no caso da UFRGS, dá-se em Língua Portuguesa (temos, como exemplo, as já citadas
disciplinas de Estágio de Docência em Português I e II que, inclusive, em sua nomenclatura e em
sua ementa só fazem referência ao Português; e a opinião do “Professor A”, que também
encaminha-nos para esta convergência). Muito provavelmente tal ênfase também se deve às
próprias orientações dos programas escolares, cujo foco maior acaba sendo a Língua
Portuguesa.
90
proposta de curso de Letras. Aparentemente, o substrato teórico deste currículo, se
comparado com a proposta curricular da UFRGS, poderia sugerir uma maior valorização dos
saberes na sua incidência didática, isto é, um conjunto de práticas voltadas ao processo de
ensino-aprendizagem. Mas, como esperamos ter mostrado ao longo do nosso trabalho,
entendemos que a UPF tem inovado a tradição.
91
CONCLUSÃO
Outra questão a ser considerada, uma vez que contribui fortemente para a prática do
encantamento literário dos alunos, é a importância de práticas de leitura do próprio
professor, seja ele docente de Língua Portuguesa e∕ou Literatura. Seguindo o mesmo
entendimento de Cristina Mello (2010), compreendemos que quem possui dificuldades no
processo da leitura também terá dificuldades em ensinar posteriormente, tendendo a fazer a
sua prática pedagógica apoiada em saberes do tipo expositivo∕declarativo, que não
substituem a real prática da leitura. Na realidade, percebe-se, muitas vezes, a iliteracia entre
os próprios acadêmicos, desencadeando, logo após, na escola onde vai ensinar, a prática da
mera reprodução, ou seja, “o modo como foram desempenhadas tarefas de leitura em
contextos anteriores (experiências individuais de défice de leitura desde a escolaridade
básica até o contexto universitário)” tendem e ser repetidas (MELLO, 2010: 72).
92
Também consideramos necessária uma maior atenção no meio acadêmico quanto aos
documentos oficiais que orientam o ensino (PCNs e LDB), uma vez que muitos discentes,
futuros professores, desconhecem os seus conteúdos e objetivos. Outra ação que
consideramos positiva seria a expansão do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência (PIBID), com o objetivo de contemplar um número maior de licenciandos,
promovendo, dessa forma, o aumento do vínculo entre o mundo acadêmico e a realidade
escolar brasileira, estabelecendo trocas entre professores da Educação Básica, alunos e
docentes do Ensino Superior.
66
Fonte: http://fne.mec.gov.br/images/pdf/notas_tecnicas_pne_2011_2020.pdf, 19-07-2014 e
http://fne.mec.gov.br/component/content/article?id=383:plano-nacional-de-educacao, 19-07-2014.
93
Também são contempladas, neste instrumento legal, outras questões que devem ser
encaradas como ferramentas de melhoria para a prática docente: i) a política nacional de
formação e valorização dos profissionais da educação, incluindo a importante evolução e
valorização salarial; ii) a promoção da reforma curricular dos cursos de licenciatura de forma
a assegurar o foco no aprendizado do estudante, dividindo a carga horária em formação
geral, formação na área do saber e didática específica; iii) a valorização do estágio nos cursos
de licenciatura, visando um trabalho sistemático de conexão entre a formação acadêmica dos
graduandos e as demandas da rede pública de Educação Básica; iv) aumentar o acervo de
obras didáticas e de Literatura; v) privilegiar a formação de professores por meio da
implementação de ações do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), já referido nesta
dissertação.
94
autêntica disponibilidade (física e mental) para realizar os esforços necessários exigidos pela
leitura. Do nosso ponto de vista, não consideramos este argumento contundente, já que as
novas tecnologias também forçam as pessoas a “perderem” tempo e também exigem muitas
habilidades cognitivas, além de dedicação para entendê-las plenamente e utilizá-las de forma
eficiente.
Pelo que temos vindo a expor, no término desta dissertação, queremos expressar o
nosso pensamento sobre a importância do papel dos professores no processo de valorização
do texto literário. Também entendemos que cabe ao docente realizar o papel de mediador
entre os saberes das diversas áreas de conhecimento e as atuais tecnologias. Por esta via,
poderão: i) conseguir demonstrar aos seus alunos a relevância da Literatura nas aulas de
Língua Portuguesa, fomentando, através do texto literário, o exercício da criatividade, da
imaginação, da liberdade de expressão; ii) favorecer o contato dos alunos com a Língua na
sua expressão mais rica e diversificada, interpretando os recursos estilísticos dos quais os
textos “elevados” se utilizam; iiii) construir, com os alunos, nexos interdisciplinares, a partir
dos textos, convocando os diferentes contextos que os cercam. Dessa forma, em todos
esses movimentos, o professor poderá pôr em prática conceitos semânticos, hermenêuticos,
pragmáticos e humanísticos, dentre outros.
95
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CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens, 7º Ano:
Língua Portuguesa. 7ª ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2012.
96
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TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009.
98
ANEXOS
DE exposição DE verbete
seminário enciclopédico
DIVULGAÇÃO debate DIVULGAÇÃO (nota/artigo)
palestra relatório de
CIENTÍFICA CIENTÍFICA experiências
didático (textos,
enunciados de
questões)
artigo
67
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs): Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental – Língua
Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 54.
99
ANEXO B: Tabela PCN68 - 2
DE exposição DE relatório de
seminário experiências
DIVULGAÇÃO debate DIVULGAÇÃO esquema e resumo de
artigos ou verbetes de
CIENTÍFICA CIENTÍFICA enciclopédia
68
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs): Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental – Língua
Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 57.
100
ANEXO C: Questionário/entrevista aos professores de Língua Portuguesa dos Anos Finais do
Ensino Fundamental
1- Experiência profissional:
a) Você atua em escola pública ou privada? Ministra aulas para quais Anos?
d) Você faz uso do livro didático nas aulas de Língua Portuguesa? Muitas vezes,
eventualmente, raramente, nunca? Por quê?
d) Quais foram e quais são as maiores dificuldades encontradas para se trabalhar com a
Literatura nas escolas? E qual seria, em sua opinião, o ensino ideal?
e) Gostaria que relatasse, brevemente, alguma experiência de sucesso vivida na sua escola ou
na sua turma em alguma aula de Literatura. Indique o texto literário que foi utilizado nessa
experiência bem como o tipo de prática desenvolvida.
2- Vivências acadêmicas:
b) Em sua opinião, a formação que você recebeu no curso de Letras foi adequada às suas
necessidades profissionais? Considera satisfatória a preparação acadêmica que obteve para
ministrar aulas de Português e Literatura no ensino Fundamental e Médio?
d) Em sua opinião, o currículo acadêmico deveria estar mais adequado à realidade escolar?
Por quê?
101
f) Se você pudesse dar uma sugestão de modificação curricular no curso de Letras, que
sugestão daria?
102