A. Baldensperger (Literatura Comparada, A Palavra e A Coisa)
A. Baldensperger (Literatura Comparada, A Palavra e A Coisa)
A. Baldensperger (Literatura Comparada, A Palavra e A Coisa)
Coutinho e
Timia Franco Carvalhal
preparao de originais
EDUARDO F. COUTINHO lnlrodudo. Eduardo F. Coutinho e Thnia Franco Carvalhal
( ) mtodo comparotivo
e o literotura. Hutcheson M. posnett.
rwiso ('Iiad. Sonia Zyngier).... l5
WAI I IIR VIIRSSIMO/MAURCIO NETTO
I IIiNRIQTJU lARNAPOLSKY ( ),; estudos de litersturq comporodo no estrongeiro e no Fron_
.IoAo H. A. MACHADO
(?. Joseph Texte. (Tiad. Maria LuizaBerwanger da Silva). 26
( )lt.servoes crticos o respeito da noturezq,
funo e signi_
.ficado do histrio dq literatura comparodo.Iouii paul B-etz.
(Trad. Sonia Zyngier).... 44
,.1 "literatura comporsdo'i Benedetto Croce. (Tiad. Sonia
llaleotti) 60
Literatura comparodo: o palavrq e a coso. Fernand Balden_
sperger. (Trad. Igncio Antnio Neis)........ 65
('rtica literdrio, histria literdriq literaturo compqrado. paul
Van Tieghem. (Tiad. Cleone Augusto Rodrlgues)........ g9
t )l1ieto e mtodo do literatura comparoda. Marius-Franois
(luyard. (Tiad. Maria Imerentina Rodrigues Ferreir)...
97
CIP-Brasil. Catalogao-na-fonte .'l crise da literaturs comparoda. Ren Wellek. (Trad. Maria
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
l,cia Rocha-Coutinho).............. ... l0g
Literatura comparada: textos fundadores ,/ organizao de ( ) nome e a naturezo da literotura comparqda. Ren Wellek.
L755 Eduardo F. Coutinho e Tnia Franco Carualhal. Rio de
Janeiro: Rocco, 1994. - ('liad. Marta de Senna).. .......... l2O
l. Literatura comparada. I. Coutinho, Eduardo de Faria, ( t,\' tntodos da sociologia literdria. Robert Escarpit. (Trad.
1946- . II. Carvalhal, Tnia Franco, 1943- ('lcone Augusto Rodrigues) ....... l4g
CDD - 809
94-0439 cDU - 82.091 ,'l a:;ltica do estudo de influncios em literatura compora-
r/a. Claudio Guilln. (Tiad. Ruth persice Nogueir)..... 157
LITERATURA COMPARADA
priado para fecundar e multiplicar os talents...,, .,Comparao,, Dois anos mais tarde, Ph. Chasles quem, proferindo no
Alcrreu, em 17 de janeiro de 1836, sua aula inaugural, se escusa
ainda em Laharpe e em Marmontel, com desdm dogmtic pe-
grol haver escolhido a frmula de Littrature trangre compa-
lo ponto de partida. M." de Stal e B. Constant, pel contriio,
parecem evitar um termo to batido para qualificar estudos que
rla (Literotura estrangeira comparada): "Este ttulo, o nico que
nrc pareceu conveniente, carece de preciso sob vrios aspectos."
renovam muitos problemas, atravs da aplicao de um mtodo
l'rrla dar conta da atividade de Chasles neste domnio, Chaudes-
mais histrico; da mesma forma, a tradutora d.o curso de schle-
gel exprime por meio de um verbo incidente um substantivo de igues, em seus crivains modernes de lo France, em 1841,
rcslringir-se- "histria das literaturas comparadas"; Villemain
princpio e trad,z die vergleichung (a comparao) por ls criti-
que compore (a crtica compara), quando o prprio ievero com_
t' f 'uibusque, em 1842 e 1843, "histria comparada das litera-
paratista alemo havia intitulado sua brochura de lg07: Compa_ Irrras". Da mesma forma Benloew oferece em Dijon, em 1849,
rrrrra "Introduo histria comparada das literaturas". No ano
rado entre a Fedra de Racine e a de Euripides.
irntcrior, Ampre, em seu discurso de posse na Academia, havia
Prossigamos nosso levantamento em uma zona vizinha, se_
lrrlado uma vez mais do "estudo das literaturas comparadas".
no idntica. Em 1802, o abade Tiessan aventurava a Mytholo-
gie compare avec I'histoire (Mitologia comparada com a hist-
A. Duquesnel, em 1846, dava sua Histoire des Lettres o subt-
lrrlr de "curso de literaturas comparadas".
ria); a Erotique compore (Ertico compaiado) de Villers, em
Todas essas diferentes expresses, mais completas e mais exa-
1806, representa ao mesmo tempo uma udcia e uma inpcia,
lrrs, no cedem lugar sua cmoda designao abreviada. Em-
enquanto para Degrando, em 1804, a l{istoire compare des syst-
lrora Delatouche publique em 1859 um Cours de littrature com-
mes de philosophie (Histria comparada dos sistmas de
fiioso- 1mre (Curso de literotura comparodo), Zala, em 18 de julho de
fia) se oferece como um elemento desta histria literri com- lll(rl, escreve a seu amigo Baille: "...Da histria comparada das
pleta e universal, com seus ,,princpios de ligao,' que Bacon
lilcraturas, deduzir segundo que lei se revela o grande poeta..."
buscava com ardor. cours de peinture et de-tiitrature compa-
res (Curso de pintura e de literatura comparadas) de Sobryim
Mesmo depois da espcie de golpe de estado lingstico de
Sirinte-Beuve, no chegaram a desaparecer as frmulas antigas.
l8l0 e, em 1814, "exame comparativo', do abade Scoppa... Sc lld. Rod intitula "Da literatura comparada" sua aula inaugu-
Aps esses tateamentos, descobre-se logo uma terminologia
rlrl de 1886, em Genebra, Hennequin, mencionando no prefcio
que se esboa e, ao mesmo tempo, um ponto de vista que se aiir_
rrra. Nol e Laplace comeam a publicar em lg16 sei cours de
rlc sua Critique scientifique o ttulo do livro de Posnett, Compa-
rulive Literoture, cita-o tal e qual em sua forma inglesa. J. Texte
l,.illrature Compare (Curso de literaturo comparado). O pref_
intitula "Da histria comparada das literaturas" o primeiro de
ci. com que Villemain abre seu Thbleau du XVIil" scle,'curso
tlc lu27 e 1828, fala de um "estudo de literatura comparada,,. *w tudes de littroture europenee; emprega geralmente os ter-
rrros "crtica comparativa" e "mtodo comparativo". Bruneti-
'1. .l' Ar,prg em sua aula inaugural no Ateneu de Marseltia (1g30),
rc, igualmente, hesita entre expresses diversas, mais explcitas,
prc'vi "t histria comparativa das artes e da literatura em todos
c uquela que, aproximativa, mas simples, tinha sobre todas as de-
.r 1rr)vt)s", cla qual deve sair a filosofia da literatura e das artes. rrrais a grande vantagem de ser breve. A Histoire des littratures
't 1
acirramento de susceptibilidade patritica. Italianos, franceses, ( ioethe e em Manzoni, enquanto, pouco a pouco, atradapor um
alemes, ingleses, com o despertar das literaturas nacionais, ha_ ('r'L^scente determinismo, a teoria dos "meios" impe histria
viam todos jogado com um procedimento feito principarmnte, rlu arte sistematizaes indiscretas.
em ltima anlis.e, para estimurar a produo auictone. Agora Por outro lado, a simpatia do sculo XVIII pelo primitivo
que esta produziu frutos numerosos e diversos, confronta-se (' pelo espontneo, aguada por argumentos e antipatias de toda
acerbamente valores freqentemente incomensurveis cspcie, resulta por volta de 1800 nas teorias que se conhecem
provar o qu? Que Shakespeare superior ou inferior a corneil- - paa sobre a potica popular, sua eminente dignidade e sua imann-
le; que os clssicos modernos so ou no so verdadeiros clssicos; cia por trs de qualquer literatura digna deste nome. Atravs de
que os franceses no conseguem entender nada de Dante. l'l Schlegel, dos Grimm e de seus discpulos romnticos, atravs
Laharpe rlc Fauriel e de sua inestimvel descendncia, toda uma investi-
.u Lessing, Johnson ou Baretti, com mritos diversos, buscam
ua 'ncomparao" armas ofensivas ou defensivas. Ou nto um gao nova solicitava o esforo dos cientistas. A comunidade de
lirron, um Linguet, dando-se conta daquilo que de estrangeiro origens, o parentesco inicial e sempre latente dos grupos arianos,
o sabor de mito que deve transmitir qualquer dado verdadeira-
l)ussilra para uma obra conhecida, entregam_se ao brinqued das
-*u, nrente primordial ativado pela conscincia popular, todos esses
lrestlrrisas de fontes, no para destacar originalidad.r, pura postulados do romantismo conduziram a uma ordem interessante
r I i r r i r r i r i niciativas e para denunciar .,pil-hagens...,,.
r I r
rlc trabalhos: aquele /o lclore ou aquela Stoffgeschichte (historia
Irrrpitsscs, tudo isso, uma vez atingido o bjetivo. Algumas
dos temas), em torno dos quais veio gravitar toda uma variedaclc
I lllrl{AI'URA COMPARADA: A PALAVRA E A COISA 71
LITERAIURA COMPARADA
de literatura comparada, constitui uma ordem de investigaes tcrwck e de outros compiladores eruditos. Dir-se-ia que, no en-
que parece mais curiosa pela matria do que pela arte Irrsiusmo que seguiu sua libertao do jugo dogmtico, e tam-
.lura a
qual as sobrevivncias secretas so mais interssantes do que lr('rrr na sua alegria de se verem ligadas efetivamente a "naciona-
a Irtluclcs", naes autnticas ou naes em que h esperana, as
iniciativa do arteso; menos viva a preocupao com o .rac-
terstico do que com o desorganizado: assim's.ndo, . qrrro ,. tlilcrcntes literaturas contentam-se inicialmente com mostrar suas
trata de obras literrias autnticas, um Judeu Erranig um Enoch rir;rrczas e desfilar em sua respectiva posio diante da ateno
Arden, at um Fausto ou um Don Juan correriam o rir.o de se_ i'rcsccnte do mundo. Pois at h lugar, ento, neste crculo que
rem estudados para fins mais ou menos inversos daqueles da ati- rr cria, para os retardatrios, os lerdos, os oprimidos, gregos mo-
vidade artstica. rlcrnos, irlandeses, finlandeses, que no hesitam mais em divul-
Relacionar a literatura com conjuntos sociais ou fsicos; de- H:u seu nico bem reconhecido, sua literatura popular, Morla-
sintrincar os fios entrecruzados do iecido potico: u.r-r-'q". tlrrcs de Nodier e Illyriens do pastichador Mrime. Por volta de
pouco a pouco essas duas tendncias, instaladas quase de l't125, a imagem da literatura europia, ou mundial, comeou cer-
comum
acordo, no incio do sculo XIX, na crtica comparatista, con_ liuucnte a refletir-se, de maneira bastante pitoresca, no esprito
duzem a mtodos muito distantes entre si os espiitos deslosos tlos leitores cultos; e no de surpreender que a literatura com-
de compreender as coisas em certas regies da riao poeiica. prrrada tenha tirado proveito desta atmosfera to favorvel da Eu-
A primeira dessas atividades, sobretudo na Frana, no po_ ropa da Restaurao.
dia deixar de ser a mais manifesta. Firmadas ii-raro- Mas tudo isso eram apenas vises fragmentrias, um espe-
"u.n
go-ao da existncia, as diferentes literaturas nacionais,
doravante llro quebrado cujas facetas, rigorosamente falando, uniam-se umas
objetos da histria literria, podiam figurar lado a lado, se es- i'rs tlutras pela noo das mesmas origens ou pela lembrana de
favorecer demais alguma dentre elas nos quadros erabordos ;rlgumas disciplinas recebidas em comum. Impunha-se uma orien-
aqui
e ali sobre os progressos do esprito humano. Como vimos, re_ trrho nova para que fosse organizado de outro modo o resulta-
sultavam estmulos imediatos do prprio princpio da relativida- tlo de todos aqueles inventrios nacionais.
de do belo: nem Herder, nem Mi. d Stat, ,.- St.rOfri, ,..,
Manzoni se privaram de tirar as concluses que s" imprrh-,
uma vez admitido o axioma, alis contestvel, de qr" ;,u litera-
tura a expresso da sociedade,,: uma boa parte d impulso do IV
romantismo, como se sabe, provm destas premissas .iticur.
. _ . A_que chegava,_por outro lado, a literatura comparada do
incio do sculo XIX, quando se traava de aprese"tui'pnm a.
As cincias "comparativas" em biologia, no primeiro tero do
vista sobre o passado e no mais de estimul, o pr.r..rt.t in_
sculo XIX, haviam-se constitudo em disciplinas especiais, nas
rltrais a histria literria no podia deixar de inspirar-se sua
ventrios compartimentados da literatura universal, como eieti-
rrraneira. Cuvier em anatomia comparada (1800-1805), Blainville
vamente conhecemos muitos. Justaposio de sries paralelas
mais cnr fisiologia comparada (1833), Coste em embriogenia compa-
do que interpenetrao; firiaes e ieqncias mais o., *"r,
..r- r ircla (1837) todos eles tinham, com objetivos diversos, publicado
tnuas na ordem nacional, com "criss" principalmente internas
explicadas pelas "variaes do gosto,,, cm .,ieroOor;'pi.ta_ scus trabalhos sob o prisma do estudo comparativo: no a sim-
grlcs preocupao demasiado evidente para qualquer observa-
mados gloriosos ou depreciados como insuficienter, .onfo.o,
r- tlrrr -
de cotejar os objetos anlogos de um mesmo grupo para
ccrto ideal fosse manifesto ou esquecido: a manira de Denina
cm seu Thbleau des rvolutions de la littroture ancienne et
-
lirrs de classificao, mas a comparao de fenmenos destaca-
mo- tlos, sob certos aspectos, do grupo ao qual normulmente perten-
rlerne ou de Guinguen na Histoire rittraire que devia prorn-
giu' scr.rs estudos italianos; a maneira de Escenburg, 'm e submetidos a uma confrontao que evidencia um carter
de Bou_
LITERAIURA COMPARADA I lll l{AlIJRA COMPARADA: A PALAVRA E A COISA 75
comum e, com isso, sugere uma relao de parentesco e de de_ rk ltl27 e 1828, aborda o Thbleau du XVIIP sicle atraves da
senvolvimento entre grupos tidos como estionhos at ento. pt'stltrisa das influncias inglesas: e sabe-se com que emoo o
Importa no perder de vista este ponto de partida, que o ter_ vt'llro Goethe, desde sua longnqua Weimar, acompanhava essas
mo "compalado" por vezes faz esquecer (e bastant significa- lrr,'ocs retumbantes que lhe pareciam assegurar, entre os povos mo-
tivo que a disciplina comparativa m bioiogia, mesmo ;tA; o, tlcr rrr)s, um entendimento intelectual promissor de boa vontade
trabalhos dos owen e dos Gegenbaur, tenha precisado muilas ve-
l"icllrl e humana...
zes, elatambm, lembrar suarazo de ser essncial). Embora Apesar dessas esperanas do sculo XIX em seu bero, certo
evi-
dentemente no se tratasse, no caso da histria literria, de to- (luc, no esforo de um Buckle, de um Hallam, nas histrias lite-
mar emprestados s cincias biolgicas um mtodo. pro.di-.rr- uirirs no obscurecidas por um egocentrismo nacional, no S-
tos, ela encontrava naquelas cincias uma tendnciaque tinha o r'ttlo XVIil de Hettner, mais e mais se afirmam pontos de vista
m.rito de encorajar, por sua vez, diversos estudos a passao. l;rvorveis a uma concepo mais orgnica dos grandes conjun-
Littr ser um dos eruditos que, na Frana, garantir com a tos literrios da Europa. Sem dvida, essas amplas apresentaes
maior constncia a legitimidade das visei comparadas em do- crrru demasiadamente rpidas. E como no teriam elas sido pre-
mnios to diferentes, ele que, ao deixar o colgi, se apaixonava lrnllLrras, precipitadas, superficiais sob inmeros aspectos? Elas
por lingstica comparada, tomava partido rinlram pelo menos o mrito de levantar sinteticamente proble-
"- ts:oe adversrios
criado pela anatomia comparada enire partidrios
n conflito
nuls que a anlise, a seguir, podia resolver, precisando-os. Seu
da unidade do plano e ainda lembrava, no prefcio de lg74 de no prprio plano em que elas se coloca-
1rr irrcipal defeito era
seu ltimo volume, Littrature et histoire, qe as diferentes lite- viur)
-
submeter os fatos literrios a uma espcie de direo pre-
raturas so "irms,, a despeito de tudo o que as separa. -
t'orrcebida e fazer convergir coisas em excesso para um objetivo
Alis, j se haviam oferecido intermediiios em vrios pon- (lue se via antecipadamente, revoluo, parlamentarismo, racio-
tos entre o "comparatismo" das cincias da matria e o das in- rurlismo etc.! As idias mais que os modos de expresso, as no-
cias do esprito, e o mtodo comparativo em lingstica produ-
'ocs intelectuais mais que as energias eram analisadas nestas am-
zia, aps os trabalhos de A. W. Sihlegel, os de g"opp i.r, plls enquetes, realizadas, evidentemente, de um ponto de vista
entre,outros' chegava a vez das outras cincias, mitografia" com- (prc se poderia qualificar como "doutrinrio".
parada, geografia comparada, legislao comparadi_
sem fa_ J.-J. Ampre teria sem dvida constitudo mais livremente
lar do folclore, comparatista por ntureza, que cilebraua ao abrigo rr literatura comparada se tivesse percorrido toda a carreira que
do romantismo alguns de seus mais poplares sucessos. c'lc se traara na poca das grandes esperanas. Com seu gosto
-.
Eir, portanto, que apresentam, por volta de 1g30, para lrcla vida e pelo individual, sua curiosidade de viajante e de psi-
-se
a. histria literia, condies de renovao e de
ativida's-upe- t'tilogo, a conscincia hereditria de pesquisador que possua, ele
rior, mesmo tendo como objeto o peroo moderno, e no is
lroclia ultrapassar o estgio das generalizaes, sair ousadamen-
somente as pocas caras aos Fauriel e aos Raynouard, quando It: clos perodos em que a intercomunicao da Europa coisa
a difuso dos temas de inspirao e a precaridade reiaiiva do cvidente: ele carregou a pena de uma mobilidade de carter e de
ndice nacional tornavam a matria potica to fluida e mvel, e trriosidades que foi o preo de resgate das mais belas faculda-
to vagabunda e errante quanto possvel. As justaposies puras tlcs.
e simples de literaturas parecem ier coisas do passad;
r ,iri"- Sua gerao viu no sem preocupao instalarem-se, na his-
dicaes nacionais por comparao parec.- irrt.ir; interaao
triria da literatura e da arte, as idias s quais Tine, na Frana,
possvel e os contatos evidentes permitem, at para
pocas de ex_
presso nacional e de estilo "cristalizado", a eiposio
lx)uco a pouco ligou seu nome. Sem dvida, esta poderosa inte-
ligada de ligncia no abandonava as fecundas vises de conjunto que ul-
ccrtas grandes pocas intelectuais. Guizot empreende cm este tmpassavam categorias demasiadamente estreitas; em todas as par-
cslrrito se.u cours d'histoire moderne, villemain, em suas ries tcs de sua obra, a wocao dos conjuntos implcitos solicita
LITERAIURA COMPARADA
I II I lr \l I rli^ COMPARADA: A PALAVRA E A COISA
cngenhosamente o leitor.
Quantas vezes no se detm ere para ,l;r',, lurllnonicamente subordinadas e resultando em um conjun-
opor termos sobre os quais a comparao projetar uma
luz mais rl uuir'()... A conscincia uma resultante de milhares de outras
viva, Shakespeare e Racine, Musst. i.rryro.r, o homem
antigo
e o homem moderno, Fausto e Manfredo, hrandres ' r'n,,( incias que convergem para um mesmo objetivo..." Esten-
. u riri; o, ,lr,l;r r'rs coletividades humanas, uma tal concepo leva a admi-
para instituir analogias favorveis interao
aos espiriis, au- Irr ;r r'ocxistncia, em determinado "meio", de disposies, de
solutismo Francs e Restaurao Ingresa, it rur..rrtri"u
. r l r rt li:r rcias diversas
Reforma Germnica!... Entretanto,-seu princpio iur-ito
"convergncias", da concordncia das fras ao, r.iir, .,u
au, , r;t(,()cs sociais e morais - sobrevivncias
sobretudo
tnicas, heranas, diferen-
que condicionam os jogos
rrrrrltiplos da sensibilidade e, com isso, - as variedades da expres-
obra de arte determinada por um conjunto'qr. e o .r1o
do esprito e dos costumes,,, a ,,estrutura interna,, q". !.rur !;rr) rrtstica e o vaivm das manifestaes literrias.
'li:ria a literatura comparada podido avana um passo se-
f a"_
contra ao mesmo tempo num poema e numa raa _tdas
essas r lil('r, sc o rigor das teorias s quais o nome de Tine permaneceu
crescentes exigncia.s de suas-teorias opunhu--i.
u .r* [ti"u- Irp';rrlo no tivesse sido atenuado por noes diferentes? bem
o mais fecunda dos mtodos comprativos.
Era necessrio, com efeito, que iosse novamente maleabili- l,{)u(() provvel. Em todo caso, vemos em diversas partes, pelo
zado o elo rgido estaberecido pr sua doutrina lrrr rlo sculo XIX, um esforo que tende, atravs precisamente
manifestaes da vida de um pvo. para um Descart.r,
."tr. i, u, rlt urn mtodo comparativo mais direto, a justapor, e freqente-
Bruvre, um Fontenelle, o mei consritudo
u Lu nr('ntc a superpor aos conjuntos de Taine idias que abrandam
t";il;;;;Jto
cialou nacional no to hermtico nem t fechado q*
,o- .r ('\igncia destas. Instinto de um certo cosmopolitismo em his-
riau trrrildores e crticos pertencentes a pequenas ptrias aos quais
do es.prito no possa dele escapar; e, como dizia
oltim; .rr., ,,rr;r irrtensidade nacional no pode bastar: os nomes de G. Bran-
clssicos, "a leitura dos livros grgos produz em
ns o _.r_o rlcs, tlc Ed. Rod, de Marc Monnier, de V. Rossel esto ligados
efeito que se ns somente despossmos gregas,,.
Mas sg u.o.r_
trrio, os grupos dos quais emanam cri-es de arte, ii"gr, I'r rncipalmente a este "europeanismo" que , em muitos casos,
literaturas, so organismos mais ou menos-fechadoq
. ;r rrrola propulsora de uma sensibilidade confinada nos limites
municaes literrias entre estes no passam de
.rt"o- ,l;r ;rcquena ptria. Sentido mais imperioso das grandes divises
episdios inor- ,,ot'iolgicas da humanidade: Posnett, em 1886, baseia sua teo-
gnicos. Rejeitada to logo recebida, ou ento
rimitada a uma rrr tl:r literatura comparada nos estgios sucessivos que as aglo-
ao superficial, uma influncia estrangeira e-.raaa
modalidades essenciais.
t- u, rrrt'ures humanas atravessam. Para ele e para todo um peque-
con..po, como sabemos, pro_
^Desta
vm muitas denegaes formuladas rro r.'cnculo que dele procedeu na Inglaterra e nos Estados Uni-
por um Nisard, ,u f,iur_
a, e por outros, alhures _ em relao s trocas intelctuais na rlos, a evoluo das sociedades
-
passagem do cl cidade, do
atualidade, ou sua investigao no passado, il;;r;;;;;g"_ I'r ul)o feudal ao grupo nacional, etc. predomina amplamente
centrismo faz persistir o gnio de uma nao, no apnas
-
',olc a filiao tnica ou sobre a determinao pelo meio fsico;
,..r, .r lilcratura comparada depende dessas relaes, mais ou menos
lineamentos principais (o que evidentej, mas
tambm em "_ uma (()nsicientes, entre as artes e as variaes sociais: ponto de vista
irredutvel identidade (o qu rearmente ro ," sustenta
diante dos ,1rrc o livro de Irtourneat, L'volution littraire dans les diver-
fatos verificados).
Ora, a flexibilidade que nosso classicismo podia taze \t'.\' t'uces humaines, de 1894, representa numa certa medida na
to compacto determinismo em raz.o aa auaraao
aw I ' r ir na, pelo menos para os grupos primitivos. Inversamente, foi
o rrito ;r t'ornplexidade dos componentes tnicos que levou J.-J. Jusse-
c da matria, a cincia-recente_voltou a prop_la.-
JiprO_ r;rrrrl a retomar do ponto zero ainvestigao de Tine sobre a his-
pria pluralidade e murtipricidade. "o *uio, progr.rrolirio-
"o.
logia moderna, pde escrever Renan, foi mostrar que tr'rr irr literria do povo ingls; foi a variedade das afinidades do
a vida da ,'sprito que se afirmou para E. Hennequin (1889) como o gran-
pli'rl:r c a do animal no passam de uma resultante
de outras vi- rlt' luto intelectual, uma vez que h, entre as sensibilidades, "elos
LITERATURA COMPARADA I ll I lr'\l lrlt^ ('OMPARADA: A PALAVRA E A COISA
cletivos mais vivos e mais vivazes do que esta longa comunidade Iunllr)r os elementos: essas so as questes que o mtodo
do sangue, do solo, do idioma, da hiitria, dos'costumr,-q". cvrrltrlivo se prope tratar...
parece formar e distinguir povos,,.
Realizava-se assim em diversos lados uma espcie de St'rrr tlvida, esse darwinismo literrio podia operar, e se ma-
opera-
.o_"centrfuga", se assim se pode dizer, face ar sirte*ii ioes rrllt'..rrva rnuitas vezes no mbito de uma tradio nica; mas a
de Tine, deixando certamente subsistir algumas verdadesl-nis- Irrtrr pclu cxistncia, aqui invocada, levava imperiosamente as ap-
cutveis, alguns fortes relevos, mas enfraquecendo as teorias tlrhlt's vitais de um gnero a se reforarem atravs do emprsti-
mes-
tras de sua obra. A ,,emoo esttica,, d Guyau . u pr..*irn_ lllo ()u rla emulao que as fronteiras no podiam impedir.
cia da expresso na orte cara a B. croce contribuir
suu ,,,u-
neira para abrir caminh-o a uma concepo mais malevei
, por-
sibilidades literrias. Mas, logo, retomndo . ur-"o.o*,1-u
lgica vigorosa algumas das idias assim enunciadas, Brunetire
V
p-ropunha, para explicar a vida da literatura, sua teoria
da evolu-
o dos gneros. Esta voltava a pr em movimento .
municao diversos grupos nacinais; supunha u- .on;urio
* i.rlei"o- l)rr;rs rlirees mestras solicitavam, conseqentemente, a litera-
eu_ Iurircorllparada. Duas atividades principais podiam atrair aque-
ropeu cujas principais partes constitutivai podiam realmente It'r r1rc, ao estudarem o passado, dirigiam seus olhares para alm
agir
umas sob_re outras, graas principarmente formar rrp.ii*,
determinismo estreito das raas dos meios . o mominto
uo rk' rnrra s tradio, de uma linhagem nica de monumentos sig-
isto nrlit'irtivos.
-
, a velocidade adquirida, o legado do precursor ao sucessor, [Jma qual Gaston Paris foi, na Frana, o principal re-
prestgio de um modo de expresso j firmado
o
prcscntante, - edaque a erudio estrangeira cultivou copiosamente
- adquiriu
qryrlsor tal que, por si s, esse teiceiro elemento
u"i
O O"tii"u eslbrava-se por reduzir a elementos simples, tradicionais, os
de Thine quase bastava parafazer "evoluir,,as literaturas. rlrlcrcntes temos de que vivem as literaturas, sem renovao bsi-
este
movimento, do qual a existncia d,os gneros era a materiariza- r ;r tlc sua matria essencial, sem variao outra a no ser combi-
o, longe de se encontrar confinado em um nico grupo r.io_ rrirt)cs novas, e com uma espcie de adulterao contnua de sua
nal, criava dependncias entre as diferentes literatuias, a.ao rrrrrplicidade inicial e de sua significao primeira; e com isso
que a evoluo de um gnero podia ser escrita rrurrrtinha-se implicitamente a noo de uma arte outrora "secre-
como um captulo
da influncia daltliasobre a Frana, se se tratasse da lrtllr", em sua pueza absoluta, por uma alma popular coletiva.
tragdia,
da Inglaterra sobre a Frana, se estiress" em causa o romance ('onl uma meticulosidade compartilhada com o folclore e com
histrico, da Espanha sobr a Frana, se fosse ciio, o cstudo dos mitos, a literatura comparada entendia procurar,
"itiio-o
de Lesage, "enciclopdia do romance picaresco,,... rlcslc lado, que fontes mais ou menos diretas se ofereciam an-
lrse <le uma obra literria, que anlogos dessas fontes se apresen-
Como nascem os gneros, e graas a que circunstncias de tirvam em algum outro ponto do mundo, fbulas espicas ou con-
tempo ou de meio; como se distinguem e como se diferen_ tos milsios, narrativas populares ou afabulaes religiosas, trans-
ciam; como se desenvolvem de um ser vivo _ rrritidos passo a passo (por uma tradio oral ou por escrito) e
- mneira
e como se organizam, eliminando, descartando tudo o que ;reabando por aflorar na superfcie da literatura, aps sculos tal-
pode prejudic-los e, inversamente, adaptando_se vcz de uma vida mais ou menos subterrnea. A Matrona de Efe-
ou assii_
lando tudo o que pode favorec-los, ,utri_lor, ajuA_is a ,ro scria a transformao, bastante irnica, de uma histria rela-
crescer; como morrem, atravs de que empobrecimento tlcla pela propaganda moral dos pregadores budistas? O conto
ou
de que desagregao de si prprioi; e de que transforma_ dc Barbo Azul valorizar\a ainda, sem se dar conta, um antiqs-
iur, ou de que gnese de um gnero nouo srs destroos se sirno mito solar imaginado pelos arianos antes de sua disperso?
LITERAIURA COMPARADA I r tl lr \lt rR^ ('OMPARADA: A PALAVRA E A COISA ut
f":tl**1"*,::t:^f=_u.j3u.permitiriam,methordoquecer-
:"i:0"T,:1"{o1rgrnec.1.an1,mr1il#i,,i,.:",H"r;T:
do mais ou menos precrio a" rr..,
uD4l Ll
.omuns.
seara se estende perder de
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tsso no demais, paa se esperar recolher visra; mas
das do esforo comum de todas as boas as mais ricas biaa-
vontades. CRITICA LITERARIA, HISTORIA
I,ITERARIA, LITERAIURA COMPARADA*
NOTAS Poul Van Tieghem
Literaurgeschi:!:e;:!?ria corparam
),f;r:#';:;:{:;::,i::;,i:y'::*ende deile tet- Ar clapas do conhecimento dos livros: leitura crtica, histrio li-
comparada,etc.'rocomparata;sammenlignendeLiteraturniiilirruro
internationares d'histoire: congrs
de paris, rg\Q & section paris,
lerdria.
- Voc se encontra numa casa antiga, perdida no fundo
dc um campo, obrigado a passar vrios dias sem sair. Felizmen-
,1.nn'o'" tgOl, p.
Desconfiemos das analoeias te, l voc descobre uma ampla biblioteca, acumulada por vrias
entre obietos ."""..;or_I-*-
j:I:i:9"rr*,e fceis que sempre se podem estabele_ geraes de proprietrios letrados. Amante da leitura, nela voc
;:::1n".'*'n':m3m::::1:::i*:1":1*I#J['T':ff
que, nO momentg em que
est ffi
Yv'uwrurslru' D lgnlllcatlvo,
:,?,""f entretanto,
piui*ii."riii"i-
go da Revue scicntinro ,'it,Nltlii:,t:to sendo prepatuaut
:l"T,t, ntergulha. No incio, procurando apenas um passatempo, e guiado
jr:lli..id;ff:3J[:',:il",,fi ,r:,",?:,fi romente por sua fantasia, voc pega nas prateleiras, quase ao aca-
tilEi::#:i:fftr*::
:1:',T,1:L1;l l*,:*:::l :':::r.:,::*r;'i,i ':T: J#ffx,T r'-,I'j "fl
li,
:H: 1, diversos volumes cujos ttulos lhe despertam certo interesse,
3;,i3tT,,*:, ::3i*f :1.::^:g "Tldfi ;lffi I l",i;,, ifi ,XT,tl :.Ifl.#?- outros cujo autor voc conhece de nome. Muitas vezes, aps al-
:ilx:*:in;H,#j,1""#*^.:#i{}r}il;!iiiilTi!:T,:ffiH11:::ilT j,$X,
;:u'.t;i::Tu**:':xJ1.","::"*"I":.'ffi ;.",':B::.'ffi ffi [:ff -",: gumas pginas, o livro lhe cai das mos; ou ento, ele no de-
fA variao... --- --e'ua@Ysv' u.,#i..1,r.,.1XIlT"tTj[TTH::
,*#ll"::",$:l^.:^."1;;-J;*:#;;;:
,l11ll-;11 produz uura Expressao
as dift)renas... que marcam a personalidade,,. rtronstra qualquer talento, ou demasiado tcnico e no conse-
guc, ao instru-lo, interess-lo. s vezes, voc fica satisfeito com
n cscolha; sua leitura lhe agrada, voc a saboreia; e, tendo aca-
hndo o livro, rel certas pginas que o divertiram ou comoveram
tlc modo especial. A seguir, tenta outro volume.
Ao fim de algum tempo, se o seu esprito j est" amadureci-
rlo, e se voc tem certo interesse pelas coisas do intelecto, esta
simples leitura no lhe basta mais. Voc sentiu e se deleitou, sem
nrais; agora, desejaria ter tempo para refletir e julgar. Ento, vai
r\ cata de alguns dos volumes que havia separado como os mais
interessantes. Compara tal ?omance, tal pea de teatro, tal poe-
rna a outros lidos no passado, e evocados pela memria; e cons-
ttta preferncias instintivas que logo procura justificar. Consigo
nlesmo, voc critica a verossimilhana de tal cena, a justeza de
tal idia. Esfora-se a fim de compreender por que razo o estilo
' vrfil TIBCUEM, Paul. Critique littrake, histoire littraire, littrature compare. In:
. In littrature compare. Paris, Colin, 1931, p. 7-17.