Bibliologia - Aula 2

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BIBLIOLOGIA

AULA 2

Prof. Roberto Rohregger


CONVERSA INICIAL

A revelação de Deus nas escrituras tem um objetivo, Deus se faz


conhecer pelo homem por meio daquilo que deseja revelar a este mesmo
homem. É extremamente importante conhecer a mensagem central das
Escrituras, que perpassa como um fio condutor, direcionando e inspirando seus
escritores por séculos. O estudo da formação da Bíblia passa por compreender
a sua função e a forma como ela foi escrita.
Nesta aula veremos além da mensagem central das Escrituras, algumas
de suas características e particularidades, e, para fundamentar a compreensão
da importância e relevância da Bíblia, veremos a forma como Jesus compreendia
as Escrituras, que em seu tempo se compunham dos livros do Antigo
Testamento. Finalizaremos apresentando o conceito de inspiração, que é
fundamental para caracterizar a diferença entre a Bíblia e qualquer outro livro,
por mais importante que este tenha sido ou venha a ser. Vamos começar e
aprofundarmo-nos cada vez mais no conhecimento sobre este Livro.

TEMA 1 – O TEMA CENTRAL DA BÍBLIA

Ao estudarmos as Sagradas Escrituras, logo percebemos que não se trata


de um conjunto de livros esparsos juntados aleatoriamente, ou simplesmente de
um livro que conta a história de um povo. Apesar de o pano de fundo das
Escrituras apresentar a história do povo judeu, não é este o tema da Bíblia.
Percebemos que há um fio condutor em todo o Livro, cujo objetivo central
é a redenção ou reconciliação da humanidade com Deus, por meio de Cristo.

Os estudiosos afirmam que a Bíblia apresenta um tema único de


Gênesis a Apocalipse. Uns dizem que a mensagem central é a aliança
– o pacto que Deus fez com Israel e mais tarde com toda a
humanidade, através de Jesus. Outros afirmam ser o plano de
salvação – a revelação sucessiva e progressiva de Deus aos homens
para que tosos pudessem chegar ao conhecimento da verdade e ser
salvos (1 Tm 2.4). Há também quem diga eu o tema das Escritura seja
promessa e cumprimento. A promessa de Deus era a de que o Messias
viria da família de Davi (2 Sm 7.12-16) e faria uma nova aliança (Jr
31.31). O cumprimento desta se deu em Jesus Cristo (Lc. 1.31-33) que
estabeleceu durante a última ceia (Lc 22.s0). (Schwarz, 2002, p. 26)

O resumo central é a redenção do ser humano, o plano da salvação em


Cristo, conforme Ele mesmo declara em: "Foi isso que eu lhes falei enquanto
ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu
respeito estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos" (Lucas
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24:44) e: “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que
nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu
respeito” (João 5:39). Ao lermos Atos 10.43, “Todos os profetas dão testemunho
dele, de que todo aquele que nele crê recebe o perdão dos pecados mediante o
seu nome", isso fica ainda mais claro.
Desta forma, compreendemos que a redenção é o tema central da Bíblia
e Jesus é seu personagem central. De uma forma didática, pode-se entender
que na Bíblia teríamos a preparação para a vinda de Cristo no Antigo
Testamento; nos Evangelhos encontramos a sua presença manifesta; nas
epístolas, a explicação e detalhamento teológico de sua vinda; e, por fim, no livro
de Apocalipse, a consumação dos tempos e o comprimento total da promessa.

TEMA 2 – FATOS E PARTICULARIDADES DA BÍBLIA

As Sagradas Escrituras originalmente eram formadas por um texto


corrido sem divisões, versículos ou capítulos. Esta separação do texto ocorreu
no início da Idade Média (em torno de 1250), pelo cardeal Hugo de Saint Cher,
abade dominicano e estudioso das Escrituras. Posteriormente, o impressor
Robert Stevens, em 1551, realizou uma nova estruturação do texto do Novo
Testamento. Já o Antigo Testamento teve a elaboração de sua estrutura
realizada pelo Rabi Nathan, no ano de 1445. A primeira Bíblia a ser publicada
inteiramente dividida em versículos foi a Bíblia de Genebra, em 1560.
Encontramos vários estilos literários nas Escrituras, gêneros narrativos,
históricos e, inclusive, poesia:

Aproximadamente um terço do Antigo Testamento está em forma de


poesia, incluindo todos os Salmos, Provérbios, Eclesiastes,
Lamentações e o Cântico dos Cânticos. Alem disso há poemas
especialmente na forma de canções, espalhados por todos os livros
narrativos e boa parte dos profetas, e, exceto o começo e o fim do Livro
de Jó, todo o resto está em forma de poesia. A poesia hebraica difere
um pouco da poesia moderna. Ela não faz uso de rimas, mas parece
possuir uma forma rítmica definida, apesar de os estudiosos não
saberem exatamente como ela funciona. Os versos na poesia hebraica
são compostos de duas ou, às vezes, três pequenas unidades.
Frequentemente essas pequenas unidades são repartidas em duas
com uma pausa no meio, duas pequenas unidades compõem uma
linha e duas linhas compõe um verso. (Miller; Huber, 2006, p. 217)

A Bíblia é composta de vários livros, diversos autores e variados estilos


literários, e nos apresenta um completo roteiro pela literatura, cultura e geografia
da região da Palestina.

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TEMA 3 – JESUS E SEU CONCEITO DAS ESCRITURAS

Jesus tinha plena compreensão de que as Escrituras eram a Palavra de


Deus e que estas testificavam sobre Ele.
Leia a seguir algumas passagens que apontam como Jesus compreendia
e usava as Escrituras.
Jesus leu-a:

Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na
sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe
entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde
está escrito:
"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar
boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos
presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e
proclamar o ano da graça do Senhor".
Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na
sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; (Lucas 4.16-20)

Jesus ensinou-a:

E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que


constava a respeito dele em todas as Escrituras. (Lucas 24:27)

Chamou-a de “Palavra de Deus”:

Assim vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que


vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas coisas como essa.
(Marcos 7:13)

Cumpriu-a:

E disse-lhes: "Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com
vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito
estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos". (Lucas
24:44 – Bíblia NVI)

Jesus também afirmou que as Escrituras são a verdade, “Santifica-os na


verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17:17).
Ele viveu e procedeu de conformidade com ela:

Jesus chamou à parte os Doze e lhes disse: "Estamos subindo para


Jerusalém, e tudo o que está escrito pelos profetas acerca do Filho do
homem se cumprirá”. (Lucas 18:31)

Declarou que o escritor Davi falou pelo Espírito Santo:

Ensinando no templo, Jesus perguntou: "Como os mestres da lei dizem


que o Cristo é filho de Davi? O próprio Davi, falando pelo Espírito
Santo, disse: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-te à minha direita
até que eu ponha os teus inimigos debaixo de teus pés’”. (Marcos
12:35,36)
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Venceu o diabo no deserto com a Palavra de Deus:

E lhe disse: "Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar".


Jesus lhe disse: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o
Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’". (Mateus 4:9,10)

TEMA 4 – INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS

Sua autoria divina é vista no texto clássico sobre a inspiração em 2


Timóteo 3.16. Paulo declara que: “Toda Escritura divinamente inspirada é
proveitosa para ensinar, para corrigir, para instruir em justiça”.
Compreende-se pelo termo inspiração a ação sobrenatural do Espírito
Santo sobre os autores das Escrituras, que possibilitou que seus escritos fossem
o registro preciso da Palavra de Deus. Cabe ressaltar:

Na única vez em que o Novo Testamento usa a palavra inspiração, ela


se aplica aos escritos, e não aos escritores. A Bíblia é que é inspirada
e não seus autores humanos. O adequado, então, é dizer que: o
produto é inspirado, os produtores não. Os autores indubitavelmente
escreveram e falaram sobre muitas coisas, por exemplo, quando se
referiram a assuntos mundanos, pertinentes à vida, os quais não foram
divinamente inspirados. Todavia, visto que o Espirito Santo, conforme
ensina Pedro, tomou posse dos homens que produziram os escritos
inspirados, podemos, por extensão, referir-nos à inspiração em sentido
mais amplo. Tal sentido mais amplo inclui o processo total por que
alguns homens movidos pelo Espírito Santo, enunciaram e escreveram
palavras emanadas da boca do Senhor; e, por isso mesmo, palavras
dotadas da autoridade divina. (Geisler, Nix, 1997, p. 10)

Devemos manter clara a distinção entre revelação e inspiração. Por


revelação compreende-se o ato de Deus de comunicar ou revelar diretamente a
verdade que era desconhecida ao ser humano – verdade esta que não poderia
ser conhecida de outra maneira senão diretamente. Schwarz explica que:

Alguém já disse que religião é a tentativa da humanidade de encontrar


Deus e que o cristianismo é o plano do Criador para alcançar a
humanidade. Ele promove isso por da revelação, tanto geral como
particular. A primeira refere-se ao testemunho dos elementos da
criação, que provam, por si mesmos, não terem surgido por acaso, nem
espontaneamente. Mostram a humanidade que existe um criador, que
chamamos de Deus. A revelação particular diz respeito às palavras e
aos feitos divinos como, por exemplo, quando o Senhor revelou seu
nome aou ao chamar Abraão para se o “pai” do seu povo, e também
quando libertou os israelitas da escravidão no Egito. (...) A Bíblia é
testemunho das revelações de Deus aos patriarcas e profetas de Israel
e aos apóstolos e discípulos de Jesus. (2002, p. 31)

Podemos exemplificar algumas formas de revelação apresentadas nas


Escrituras: o momento em que José interpreta os sonhos de Faraó (Gênesis
40.18;41.15-16,37-39) e a declaração de Daniel ao rei Nabucodonosor com

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relação ao sonho que este havia esquecido, procedendo na sequência a sua
interpretação (Daniel 2.2-7,19,28-30). Desta forma, conforme Geisler e Nix, a
Bíblia ensina que a inspiração é:

Verbal: independentemente de outras afirmações que possam ser


formuladas a respeito da Bíblia, fica bem claro que esse livro reivindica
para si mesmo esta qualidade de inspiração verbal.(...) A inspiração é
plena: a Bíblia reivindica a inspiração divina de tosa as suas partes. (...)
A inspiração atribui autoridade: fica, pois, saliente o fato de que a
inspiração concede autoridade indiscutível ao texto ou documento
escrito. (1997, p. 20)

Pudemos desta forma compreender o que faz a Bíblia um livro


completamente diferente dos demais, e de onde vem sua autoridade.

TEMA 5 – TEORIAS FALSAS DA INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA

Em decorrência da importância do conceito de inspiração para a


compreensão correta das Escrituras, precisamos evitar qualquer falso
entendimento com relação a ele, por isso, leia a seguir algumas das falsas
teorias do conceito de inspiração da Bíblia:
Teoria da inspiração natural humana – a Bíblia foi escrita por homens de
gênio e força intelectual como Sócrates, Platão e outros.
Conforme podemos constatar nas passagens de 2 Samuel 23.2 com Atos
1.16; Jeremias 1.9 com Esdras 1.1; Ezequiel 3.16-17; Atos 28.25, a
reinvindicação dos escritures bíblicos era de que Deus falava por meio deles.
Segundo Gilberto, outras teorias equívocas são:

Teoria da inspiração divina comum – a inspiração dos escritores da


Bíblia é a mesma que hoje nos vem quando oramos, pregamos,
cantamos, ensinamos;
Teoria da inspiração parcial – algumas partes da Bíblia são
inspiradas, outras não; que a Bíblia não é a Palavra de Deus, mas
apenas contém a Palavra de Deus.
Teoria da inspiração de ideias – ensina que Deus inspirou as ideias
da Bíblia, mas não as suas palavras. Estas ficaram a cargo dos
escritores. Esta teoria falha, pois a expressão do pensamento é através
da palavra, não dá para separar a palavra da ideia; (1986, p. 33-34)

Conceito correto: inspiração plenária


Ainda segundo Gilberto, a inspiração plenária é a teoria teologicamente
mais conservadora e correta quando se discute o conceito de inspiração:

ensina que todas as palavras da Bíblia são inspiradas nos seus


autógrafos originais; que os escritores não funcionaram como
máquinas inconscientes, mas houve uma cooperação vital entre eles e
o Espírito de Deus que os capacitava. (1986, p. 34)

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Compreendemos desta forma a importância que o conceito correto de
inspiração tem para o estudo das Sagradas Escrituras como um livro, e que não
tem origem nas elucubrações humanas, mas de inspiração divina.

NA PRÁTICA

Como diferenciar a Bíblia de outro livro antigo?


Para avançarmos no estudo da Bíblia, é extremamente necessário que
consigamos entender a importância do conceito das Escrituras no decorrer da
história e que ela nunca foi compreendida como um livro comum. A Bíblia como
revelação de Deus para a humanidade aponta para um conjunto de escritos que
nos apresentam Deus e o plano da salvação. Desta forma, podemos afirmar que
o estudo do livro Bíblia difere de qualquer outro livro, seja ele um livro antigo de
sabedoria ou extremamente raro.
A bibliologia deve levar em consideração que a Bíblia, apesar de ser um
livro composto de características similares a qualquer outro livro, possui uma
característica que deve ser levada em conta em seus estudos: este Livro se
autointitula como sendo a Palavra de Deus, e seus escritores humanos foram
divinamente inspirados para relatarem a revelação de Deus à humanidade.

FINALIZANDO

Pudemos compreender durante esta aula que o tema central das


Escrituras é o plano da Salvação e que este se efetiva na pessoa de Jesus Cristo.
Isto já mostra a importância da Bíblia, uma vez que apenas podemos conhecer
a ação de Deus e a de Jesus Cristo pelo relato das Escrituras.
Outro assunto importante é a percepção de como Jesus compreendia as
Escrituras e de que forma estas apontavam para o próprio Jesus como
comprimento daquilo que estava escrito.
O conceito de inspiração também foi apresentado, como a comunicação
da revelação de Deus para a humanidade, e o cuidado que devemos ter com
relação às interpretações extremante equivocadas do conceito de revelação,
incompatíveis com o que a própria Escritura afirma. Desta forma, devemos
manter-nos dentro daquilo que a Bíblia nos indica sobre sua forma de escrita.

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REFERÊNCIAS

BÍBLIA de estudo arqueológica – NVI. São Paulo: Vida, 2013.

GEISLER, N.; NIX, W. Introdução bíblica – como a Bíblia chegou até nós. São
Paulo: Vida, 1997.

GILBERTO, A. A Bíblia através dos séculos. Rio de Janeiro: CPAD, 1986.

MILLER, S. M.; HUBER, R. V.; A Bíblia e sua história – o surgimento e o


impacto da Bíblia. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006.

SCHWARZ, J. Manual da fé cristã. Belo Horizonte: Betânia, 2002.

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