Escola Biblica Dominical - Hebreus

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ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO

HEBREUS 1 - A SUPERIORIDADE DE CRISTO AOS ANJOS

HEBREUS 2 - EXORTAÇÕES À CONVERSÃO

HEBREUS 3 - A SUPERIORIDADE DE CRISTO A MOISÉS (O PERIGO DA INCREDULIDADE)

HEBREUS 4 - A SUPERIORIDADE DE JESUS A JOSUÉ: A NECESSIDADE DE ESFORÇO

HEBREUS 5 - A SUPERIORIDADE DE JESUS A ARÃO: A ESCOLA DO SOFRIMENTO

HEBREUS 6 - UMA DRAMÁTICA EXORTAÇÃO AOS HERDEIROS DAS PROMESSAS

HEBREUS 7 - A ORDEM DE MELQUISEDEQUE: SALVAÇÃO TOTAL

HEBREUS 8: A NOVA ALIANÇA: UMA ALIANÇA DO CORAÇÃO

HEBREUS 9: UM TABERNÁCULO E UM SACRIFÍCIO SUPERIORES: A PURIFICAÇÃO DA CONSCIÊNCIA

HEBREUS 10: O SACRIFÍCIO DE JESUS E A NECESSIDADE DE PERSEVERANÇA

HEBREUS 11: A NATUREZA E OS EXEMPLOS DA VERDADEIRA FÉ

HEBREUS 12: COMEÇAR E TERMINAR: A LUTA DA FÉ COMO MEIO PEDAGÓGICO DE DEUS

HBEREUS 13: A MANEIRA CORRETA DE SE ENFRENTAR AS LUTAS E PROVAÇÕES

O LIVRO DE HEBREUS
Introdução ao Estudo do Livro de Hebreus

Autoria: A carta aos hebreus tem sido atribuída a vários autores. Alguns pensam em
Paulo, outros em Barnabé. Há os que sugeriram que foi Lucas e Clemente de Roma (c. 95
d.C.). Durante a Reforma, Lutero propôs Apolo (At 18.24). Sugestões modernas incluem
Priscila (At 18.2), Epafras (Cl 1.7) e Silas (At 15.22,32,40; 1 Pe 5.12). No entanto, deve-se
estabelecer que não se sabe quem é o autor. Vemos um autor:
• Conhecia o AT profundamente (LXX).
• O que escreve é bem pensado.
• Perito nos estilos literários gregos.
• Sabe exortar seus leitores.
• Humilde: evitou a pseudepigrafia.

O que isso tem a ver conosco?


• Precisamos amar nossas Bíblias.
• Tudo que fizermos seja saturado pela Bíblia.
• Sejamos especialistas na nossa vocação.
• Sejamos sensíveis e saibamos tratar as pessoas.
• Sejamos humildes.

Data da escrita: Devido ao conteúdo, tudo indica que a carta aos Hebreus foi escrita por
volta do ano 64 d.C., sob o governo de Nero que incitou grande perseguição aos
cristãos.

Destinatários: A quem a carta foi escrita? Hebreus é uma das cartas “Gerais”, assim
classificada por não se ter certeza plena de seus destinatários (alguma evidência
aponta para uma congregação em Roma: Hb 13.24); e também, por seu conteúdo se
aplicar a todas as igrejas e congregações em todos os lugares daqueles dias (e é assim
até hoje).

Ocasião: Por que esta carta foi escrita? Os judeus (tanto da Palestina quanto helenistas)
que se converteram, começaram a ser perseguidos por causa da fé em Cristo. Eles
usaram o seguinte raciocínio: “se seguir a Cristo produz perseguição e a prática judaica
não, talvez voltar ao Judaísmo cessaria a perseguição”. Sabendo disso, o autor vai
argumentar e provar vigorosamente que isso não compensa, que deve ser algo
impensável; pois seria um retrocesso a uma religião obsoleta, inválida. Vale notar que a
carta não começa como carta. A expressão em Hb 13.22 “palavra de exortação” (lógos
paráklêsis) é a mesma de Atos 13.15. E ali pode-se ver que era um sermão, uma
pregação. A carta aos Hebreus, portanto, é uma pregação escrita, com um final com
estilo de uma carta.

Propósito: Para que esta carta foi escrita? Qual ou quais seus objetivos principais?
Advertir aos leitores a não abandonarem a sua fé em Cristo, mas suportar as aflições e
crescer como cristãos. As razões que justificam tal propósito podem ser vistas:
1. Incredulidade: 3.12
2. A conduta: 5.13-14
3. Negligência nos cultos públicos: 10.25
4. Fraqueza na oração: 12.12
5. Instabilidade doutrinária: 13.9
6. Recusa em ensinar outros: 5.12
7. Negligência nas Escrituras: 2.1

Esboço e prospecto dos estudos (lições):


1. A superioridade de Cristo aos anjos: Hb 1
2. Exortações à conversão: Hb 2
3. A superioridade de Cristo a Moisés (o perigo da incredulidade): Hb 3
4. A superioridade Jesus a Josué – A necessidade de esforço: Hb 4
5. A superioridade Jesus a Arão – A escola do sofrimento: Hb 5
6. Uma dramática exortação aos herdeiros das promessas: Hb 6
7. A ordem de Melquisedeque – salvação total: Hb 7
8. A nova aliança – uma aliança do coração: Hb 8
9. Um tabernáculo e um sacrifício superiores – a purificação da consciência: Hb 9
10. O sacrifício de Jesus e a necessidade de perseverança: Hb 10
11. A natureza e os exemplos da verdadeira fé: Hb 11
12. Começar e terminar: a luta da fé como meio pedagógico de Deus: Hb 12
13. A maneira correta de se enfrentar as lutas e provações: Hb 13

O objetivo das lições se aplicará no sentido de estar atento às ocasiões de apostasia


nestes; e entender que as pressões atuais são oportunidades para a busca e o
crescimento em uma fé madura e forte, que trará desafios aos nossos dias e à sociedade
como um todo. A lição terá o fundamento bíblico e orientação prática (aplicação).

Desafios para o leitor/professor e como resolvê-los1:


• Argumentos teológicos elaborados = Tirar tempo para compreendê-los.
• Citação abundante de passagens e práticas do AT = Paciência para ver como e
por que a citação.
• Repetição, em especial, da superioridade de Cristo = Ler o livro unidade por
unidade repetidas vezes.
• Organização fragmentada do livro = Confiar na leitura simples do texto.
• Método de argumentação um pouco diferente do que estamos acostumados =
Os antigos hebreus, nos argumentos teológicos, (1) repetiam uma ideia até que o
ouvinte concordasse com ela e, (2) citavam autoridade e exemplos do passado.

“A fé [...] é a arte de perseverar naquilo que a sua razão já aceitou, apesar de suas
mudanças de ânimo [...] A pessoa deve cultivar o hábito da fé [...] Se você já aceitou o
cristianismo, então algumas de suas doutrinas principais têm de ser firmadas em sua
mente todos os dias” [...]. C. S. Lewis.

Doutrinas Centrais:
• Cristologia
• Soteriologia
• Fé
• Aliança
• Escritura ou Revelação
• Escatologia
• Perseverança

Bibliografia básica:
João Calvino, Hebreus - Comentário.
Fritz Laubach , Carta aos Hebreus (Comentário Esperança).
D. A. Carson, Douglas J. Moo, Leon Morris, Introdução ao NT.
L. Ryken, Philip Ryken, James Wilhoit, Manual Bíblico Ryken.
J. D. Douglas (Ed.), O Novo Dicionário da Bíblia.

1
Conforme Leland Ryken, Philip Ryken e James Wilhoit.
R. N. Champlin, O NT Versículo por Versículo.
Simon Kistemaker, Hebreus – Comentário.
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 1
A SUPERIORIDADE DE CRISTO AOS ANJOS

O LIVRO DE HEBREUS
Texto: Hebreus 1
Tema: A superioridade de Cristo aos anjos

Introdução: A carta aos Hebreus foi escrita com o objetivo de não permitir que os cristãos judeus
convertidos ao cristianismo voltassem ao judaísmo. Os cristãos estavam sendo perseguidos por
sua fé, enquanto o judaísmo não. Eles usaram o seguinte raciocínio: “se seguir a Cristo produz
perseguição e a prática judaica não, talvez voltar ao Judaísmo cessaria a perseguição”.
Sabendo disso, o autor vai argumentar e provar vigorosamente que isso não compensa e que
deve ser algo impensável; pois seria um retrocesso a uma religião obsoleta, inválida.
Assim, esta carta é um poderoso incentivo àqueles que têm pensado em desistir da vida
com Cristo ou que têm se sentido atraído pelo mundo atual. O autor vai argumentar que as
razões para seguir a Cristo são infinitamente superiores. O capítulo 1 começa falando de Cristo
como a revelação de Deus, superior aos anjos e do ministério dos anjos. E isso não é sem
importância, pois desde os tempos antigos até hoje, há uma forte tendência humana em prestar
adoração a anjos (Cl 2.18). E adorar qualquer outra criatura é pecado (Êx 20.3-6). Há os que
pensam que, por não terem adulterado, se embriagado, etc., são totalmente limpos; enquanto
entre estes pode haver os que adoram outras criaturas. E assim, um bom exercício espiritual, é
perguntar a nós o que ou quem temos adorado.

Desenvolvimento

I Cristo – a Revelação de Deus v.1-3


O fato básico estabelecido pelo autor é que Deus fala. Desde os inícios Deus sempre se
comunicou com os seres humanos. E o v.1 diz que Deus falou “muitas vezes e de muitas
maneiras”. Deus repetia Suas palavras e usava sonhos, visões, teofanias (p.e: a sarça ardente – Êx
3), etc. Isso aponta para o caráter progressivo da Revelação. Isso se deve à nossa humanidade.
Vamos aprendendo aos poucos.
E o que isso tem a ver conosco? Em nossa vida com Deus precisamos ter paciência. Deus vai
falando conosco aos poucos. Há dias em que teremos luz e direção apenas para aquele dia.
Quem sabe para aquele momento só. Certamente para uma geração tecnológica isso não é
tarefa fácil. No entanto, precisa ficar entendido que Deus, apesar de não se opor à tecnologia,
não trabalha em seu compasso. Ele tem Seu ritmo. E é o melhor; pois Ele faz com que tudo
trabalhe para Sua glória e para o bem de Seus amados filhos. Por isso, aqui entra a mais
profunda lição da vida espiritual, da vida com Deus: esperar no Senhor (Sl 40.1). Neste sentido, é
possível pensar nos benefícios de esperar em Deus?
Deus falou “pelos profetas”. Convém enfatizar, por causa da confusão atual, que os profetas
não eram apenas “videntes”. Sua função não era somente prever o futuro (isso frequentemente
acontecia); mas, acima de tudo, expor a Lei (Torá – o Pentateuco) na linguagem de seus
contemporâneos. Donald Guthrie lembra que “estes homens eram levantados por Deus para
desafiar seus próprios tempos”. Olhando para os muitos “profetas” de hoje, este elemento de
desafio é descartado. Assim, um bom teste para um “profeta” atual é saber se ele nos desafia a
andar com Deus. O que notamos nos “profetas” de hoje é que, ou só profetizam “bênçãos”,
independente do estilo de vida de quem os “procura”; ou vivem condenando até mesmo
aqueles que querem concertar suas vidas com Deus.
O v.2 Deus fala dos “últimos dias”. Esta expressão no NT indica os dias inaugurados pela
primeira vinda de Jesus e pelo Pentecostes (Atos 2). Ou seja, nós já vivemos os últimos dias.
E assim, considerando o caráter progressivo da Revelação, em Cristo a esta se tornou
perfeita. Os v.2-3 mostram que Cristo é:
• Dono de todas as coisas (“herdeiro”) - v.2.
• A razão da Criação do universo – v.2
• O reflexo brilhante do ser de Deus – v.3
• Ele mostra de forma exata o “caráter” (expressão em grego é “charakter”) de Deus.
Significa um “carimbo”, uma marca ou um tipo de “gravação”.
• Sustenta todas as coisas por Sua Palavra. Ou seja, Ele está envolvido diretamente com a
Criação (e não longe, como afirma o Deísmo).
Quais as implicações destas verdades para nós? Calvino diz que precisamos pensar e
repensar nossa reverência, como tratamos o Senhor Jesus. Além disso, lembrar que somos
propriedade d’Ele. Não nos pertencemos (1 Co 6.19-20). Não fazemos da nossa vida o que
quisermos. Sem Jesus a vida é miséria. E, acima de tudo, se quisermos conhecer a Deus, temos
que olhar para Jesus. E isso nos convida a uma leitura bíblica dedicada; principalmente, a um
estudo detalhado dos 4 evangelhos. Precisamos lê-los não como receita para milagres; mas
como reveladores do caráter de Deus.
Depois disso, o autor levanta a solução para o maior problema humano: o pecado. Todos os
problemas com que se depara a humanidade advêm do pecado. O pecado traz consigo um
sentimento de imundície1 e muitos fazem até coisas absurdas (da autoflagelação ao uso de
drogas) para se verem livres disso. Deus em Cristo não está apenas envolvido conosco. Em 1
João 1.9, vemos que Deus em Cristo perdoa e “purifica”.
Ele também derrubou a parede que nos separava d’Ele (Is 59.1-2; 2 Co 5.18-21). E isso o
gabaritou a governar junto do Pai (“... à direita... nas alturas”). E aqui, uma pergunta pungente:
como temos tratado o pecado em nossas vidas? Qual a visão que temos dos mesmos?
Classificamos pecados? Escondemo-nos dos nossos atacando os dos outros?

II A superioridade de Cristo aos anjos v.4-14


Não se deve esquecer que o autor aos Hebreus está argumentando para que seus leitores não
desistam de seguir a Cristo. E uma das razões que eles usavam para voltar ao judaísmo era a
questão dos anjos. Certamente, eles tinham uma alta estima pelos anjos. E o autor aproveita isso
para argumentar a favor da superioridade de Cristo sobre os mesmos. Esta é a forma ideal para
evangelizar e defender a fé. O argumento é dividido em quatro partes.
Uma observação: Este trecho contém sete citações do Antigo Testamento. Cinco delas
são do livro de Salmos. Mesmo sendo um livro que trata da alma e das questões mais práticas da
existência, ele é carregado de boa e profunda teologia. E com isso aprendemos que, uma vida
saudável diante de Deus passa por uma boa teologia.

1 Jesus é Filho v.5-6


As duas citações do v.5 (Sl 2.7; 2 Sm 7.14) deixam claro para os leitores que, a Bíblia já falava de
Jesus como Filho. E o filho na cultura judaica era considerado como da mesma essência do pai.
E isso não se pode dizer dos anjos. Eles são criaturas. Jesus é Deus (Jo 14.6,9). No v.6, a expressão,
“Primogênito”, é uma referência à “manifestação de Cristo na carne” (Calvino), à Encarnação. E
a citação do Salmo 89.27 determina uma ordem para que os anjos adorem a Jesus. Por isso, Ele
é superior.
E como isso se aplica a nós? A vocação de nossa vida, aquilo que traz sentido à existência
passa pela simples questão da adoração. Nascemos para glorificar a Deus (Rm 11.36; 1 Co 10.31;
Sl 73.25-26; Is 43.7); e isso acontece mediante a adoração. E adoração não é simplesmente
cantar “músicas evangélicas”. É um estilo de vida. E é a adoração que nos torna semelhantes a
Deus (Sl 115.8).

2 Jesus governa os anjos v.7-9


O v.7 mostra que Jesus criou os anjos, assim como criou os elementos (vento e fogo). O v.8a (“o
Teu trono, ó Deus, é para todo o sempre”) faz o contraste, mostrando o governo soberano e
eterno de Jesus. Os v.8b-9, mostram que esse governo também é justo.
Portanto, em face da perseguição que os leitores vinham sofrendo, o autor pontua que
aquele sofrimento, por mais que parecesse injusto, na verdade não era. O Filho de Deus, o
Senhor Jesus, em Seu governo age em todo tempo com justiça, mesmo que não pareça. Mas
como o sofrimento pode ser justo? Pelos resultados que produz. Sofrimento produz oração e
união (Êx 2.23-25); produz unção do Espírito (1 Pe 4.14); produz salvação (Rm 5.12-21).
Dois exemplos da história da Igreja ajudam-nos a entender isso. John Bunyan (1628-1688)
escreveu O Peregrino durante seu aprisionamento de doze anos. David Brainerd (1718-1747),
enquanto exercia seu duríssimo ministério entre os índios, faz seu diário, o qual motivou a causa
missionária, da qual o Brasil faz parte.

1
Quando Pr. Lutero pastoreava no interior do Paraná, um membro da igreja, certa vez foi alvo de um trabalho de macumba. Ao
mexer as coisas ali, um dos elementos eram fezes de porco. Aprendemos a importante lição de que o pecado e o diabo jogam
com coisas sujas.
Assim, se estamos enfrentando algum sofrimento injusto (1 Pe 4.15-16), lembremo-nos que,
porque Jesus governa tudo de forma justa, este sofrimento é justo.

3 Jesus é eterno em relação à criação v.10-12


Estes versículos apresentam-nos uma figura de linguagem chamada “sinédoque”. Ela consiste na
atribuição da parte pelo todo ou do todo pela parte. Assim, aqui está incluso toda a criação,
inclusive os anjos. Mais uma razão para permanecer firmes em Jesus, e não confiar no socorro
dos anjos, é que estes são criaturas finitas; porém Jesus é Criador (v.10) e eterno (v.11-12).
E quais são as implicações disso? O que a eternidade de Jesus influencia em nossas vidas?
Como Criador, Ele faz tudo a partir do nada. Lutero, o Reformador, diz: “Deus se caracteriza por
criar a partir do nada. Logo, Deus nada pode fazer daquele que ainda não foi reduzido a nada”.
Só Jesus pode fazer isso. O salmo 138.7 diz aos que estão passando por tribulações destruidoras:
“Se ando em meio à tribulação, tu me refazes a vida; estendes a mão contra a ira dos meus
inimigos; a tua destra me salva”. Deus, no meio das lutas, está nos destruindo para nos recriar,
para nos refazer.
A outra implicação, por causa da eternidade de Jesus, é que Deus já tem o plano de
resgate e solução para as nossas aflições, mesmo enquanto passamos por elas. O profeta
Ezequiel exerceu seu ministério entre os exilados na Babilônia. E, do capítulo 40 em diante, ele
descreve a Jerusalém restaurada; inclusive apresentando a planta da reconstrução do Templo.
Isso nos ensina que, mesmo no meio das tragédias, Deus já tem a planta de uma nova história,
de uma nova vida, de um novo caráter. E o nome de Deus que define isso é “Iavé Shamah” (“O
Senhor está lá”), apontando para a eternidade de Deus, o qual se revelou em Jesus. Então, já
que é assim, por que querer voltar aos “rudimentos fracos e pobres” (Gl 4.9) do mundo ou de
qualquer outra fonte? Neste caso, a resposta que se deve dar à eternidade de Cristo, é
perseverança; a qual tem grande galardão (Hb 10.35-39).
Para finalizar este ponto, o que é preciso para conseguir perseverar? John Piper, com base
no exemplo do próprio Jesus, lembra:
• Escolher amigos íntimos para estar junto - Mt 26.37: “Levando consigo Pedro...”
• Abrir o coração para estes amigos – Mt 26.38: “A minha alma está profundamente triste...”
• Pedir intercessão e a parceria dele – Mt 26.38: “Fiquem aqui e vigiem comigo”.
• Derramar o coração em súplicas a Deus – Mt 26.39: “Meu Pai, se for possível, passa de mim
este cálice”.
• Descansar a alma na sabedoria soberana de Deus – Mt 26.39: “Contudo, não seja como
eu quero...”
• Fixar os olhos na gloriosa graça futura que nos espera – Hb 12.2:
Que Deus nos ajude!

4 Jesus é Senhor, os anjos são servos v.13-14


O autor aos Hebreus, na busca de convencer seus leitores a não desistirem de Jesus, lembra que
Aquele galileu era o cumprimento do Salmo 110.1. Jesus citou esse salmo para os fariseus a
respeito de Si mesmo (Mt 22.45)2. Claro que os anjos bons não são inimigos, apesar de que, há
anjos inimigos. O objetivo da citação é mostrar a autoridade celestial, o senhorio de Jesus sobre
tudo, especialmente, sobre os anjos que tanto exerciam fascínio pelos judeus (e ainda hoje
exercem).
O contraste é então estabelecido no v.14. Os anjos são “espíritos”, que conforme Calvino
revela a sua excelência como superiores às criaturas corporais. É por isso que podem “voar3”.
Eles estão a “serviço” (em grego “diakonian”) dos que herdarão a salvação. A palavra
“diácono” foi instituída para aqueles que serviam as mesas (At 6.1-7. Num linguajar atual, um
“diácono” seria um tipo de “garçom”. Então, o que o autor afirma é que não se deve voltar ao
judaísmo, mesmo com sua forte “angelologia4”, pois Jesus é maior, é Senhor sobre os anjos.
Então, se posso e devo adorar ao Senhor, por que e para que adorar os servos?
Podemos aplicar isto em nossas vidas lembrando que, enquanto me submeto ao senhorio
de Jesus, os Seus anjos vão sendo colocados a nosso serviço. E assim, “o acaso não vai nos

2
Os judeus do primeiro século e os Pais da Igreja também já interpretavam este salmo messianicamente.
3
Mas isso não quer dizer que, necessariamente, possuam asas.
4
Doutrina que estuda os anjos.
proteger enquanto andarmos distraídos”; mas Jesus através de Seus anjos (1 Rs 19.5; Sl 91.11-12;
Dn 9.20-23; 10.13).

Conclusão
Uma parte da música “Jesus, a Alegria dos Homens”, de J. S. Bach, resume nossa postura diante
do que estudamos hoje:
Jesus continua sendo minha alegria,
O conforto e a seiva do meu coração
Jesus refreia a minha tristeza,
Ele é a força da minha vida
É o deleite e o sol dos meus olhos,
O tesouro e a grande felicidade da minha alma,
Por isso, eu não deixarei ir Jesus
Do meu coração e da minha presença.

Sinceramente, que Deus nos ajude!


ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 2
EXORTAÇÕES À CONVERSÃO

O LIVRO DE HEBREUS
Texto: Hebreus 2
Tema: Exortações à conversão

Introdução: No estudo anterior vimos que Jesus é a Revelação de Deus e superior aos anjos. E isso
porque Ele é Filho, governa os anjos, é eterno em relação à Criação, e é Senhor enquanto os
anjos são servos. No capítulo 2, o autor continua argumentando sobre a superioridade de Jesus
aos anjos, para incentivar os leitores a não voltarem ao judaísmo. E o que cada cristão e todo o
mundo precisa saber é que Cristo é a resposta para todas as questões da humanidade. Até
mesmo para aquelas questões que parecem não ter resposta. Tudo que precisamos é Jesus.

Exposição

I Exortação contra o desvio v.1-4


A expressão “por esta razão” serve como uma conjunção explicativa de tudo o que foi dito no
capítulo 1. Ou seja, já que Jesus é superior aos anjos, deve-se apegar às verdades ouvidas a
respeito de Jesus. Pois, se o ministério dos anjos é firme, imagine o de Jesus? O qual é Senhor,
superior aos anjos? Este é um argumento do menor para o maior.
Os anjos participaram da entrega da Lei no monte Sinai (Dt 33.2; At 7.53; Gl 3.19). E esta Lei
quando foi quebrada teve justa retribuição (p.e. Êx 32.25-29; Lv 10.1-7). E o autor argumenta que
o Evangelho não foi trazido por anjos, mas pelo próprio Filho de Deus. Negligenciá-lo é muito
mais perigoso. A palavra “negligenciar” também pode ser traduzida por “ignorar, não prestar
atenção, não se importar”. É usada em Mt 22.5 quando Jesus conta a parábola das Bodas (Mt
22.1-14). O rei prepara uma festa e manda seus servos chamarem os convidados; mas por duas
vezes eles não vão. E no v.5 diz que eles “não se importaram e não foram”; e, por fim, até
mataram alguns servos enviados (v.6). Mt 22.5 diz que não se “importaram” porque priorizaram
seus negócios.
Assim, é hora de abrir espaço e perguntarmo-nos a nós mesmos: temos negligenciado o
Evangelho? Como temos nos portado diante da grandeza e beleza do Evangelho de Jesus? O
que tem ocupado o melhor do nosso tempo, pensamentos, emoções, ações? A que ou a quem
temos adorado e prestado obediência? Isso nos chama a um exame da consciência e da nossa
agenda quanto ao Reino de Deus; pois, o Evangelho é lindo e sério demais para ser
negligenciado. Não tem como escapar das consequências eternas de se negligenciá-lo. Como
diz Donald Guthrie: “a grandeza da salvação somente aumenta a tragédia”. Ele salva e
condena, dependendo de nossa atitude (2 Co 2.14-16). Assim, não importa a circunstância,
nossa atitude não deve ser de desânimo ou desejo de desistir; mas de perseverar, de reacender
a chama, de voltar ao primeiro amor (Ap 2.4-5) para com o evangelho.
Os v.3-4 apontam para duas provas da grandeza e veracidade do evangelho: 1) a
humanidade dos mensageiros (v.3b); ou seja, a mensagem do evangelho não veio por mãos
invisíveis de anjos; 2) o testemunho de Deus através dos sinais na pregação do evangelho (v.4).
Os Evangelhos e o livro de Atos mostram os milagres que acompanhavam a pregação. Assim,
conhecer o evangelho e abandoná-lo é loucura no mais amplo sentido da palavra; pois o
mesmo tem confirmações contundentes e inegáveis. Outro exercício santo seria rever a nossa
caminhada com Jesus e ver o que Ele já fez em nossa vida e estarmos motivados à firmeza.

II A humilhação e a glória de Jesus v.5-9


Depois da exortação, o autor retoma o tema da superioridade de Jesus em relação aos anjos. O
v.5 afirma que o mundo por vir está sujeito a Cristo. O Pai fez isso. Este “mundo que há de vir”,
como pontua Guthrie, refere-se à “nova ordem inaugurada por Jesus”, e não ao céu depois da
morte ou do julgamento final. Ou seja, é o Reino de Deus presente entre os homens pela ação e
habitação do Espírito e pelos ensinos de Jesus.
Assim, este mundo que Deus sujeitou a Jesus, existe por causa dos filhos de Deus, salvos em
Jesus, que vivem os valores do evangelho, como especialmente apresentados no Novo
Testamento (e, claro, em toda a Bíblia). Os anjos não precisam experimentar o que está, por
exemplo, no Sermão do Monte. Eles não adulteram, não precisam andar duas milhas, etc. Os
crentes sim. E é através de nós que o mundo se torna sujeito a Cristo. O autor de hebreus “vê
salvação como uma realidade corpórea” (D. Guthrie). Ou seja, salvação é um estilo de vida, sob
Cristo, o qual começa aqui e agora (Jo 17.3). Ela se materializa na ação do Espírito Santo, o qual
se manifesta pelo Seu fruto (Gl 5.21-22). O fruto do Espírito é a salvação efetuada, mesmo que de
maneira oculta para nós. Walter Brueggeman ajuda-nos a entender isso. Ele chama a salvação
de “vitória”:
“A vitória de Deus em nosso tempo [...] está oculta de nós, da mesma forma que a vitória decisiva
de Deus está sempre escondida de nós. Não sabemos exatamente quando e onde a vitória foi
forjada. Ela está oculta na fraqueza de amor ao próximo, na loucura da misericórdia, na
vulnerabilidade da compaixão, nas incríveis alternativas do perdão e da generosidade que
permitem a nova vida emergir em situações de desespero e brutalidade” (grifos acrescentados).

Um exemplo esclarece isso. George Butler (1855-1919)1, médico missionário no interior do


nordeste radicado em Canhotinho – PE. Era alvo do ódio de muitos que eram contra os
protestantes. Um dia quando passava na rua, uma pessoa cuspiu com a saliva cheia de muco e,
ao se defender, a cusparada lhe fica no braço. Vai assim até a sua casa. Lá fez uma análise e
descobre que a tuberculose começa a se instalar no corpo do seu agressor. Ele volta até este e
lhe dá a notícia e diz que lhe trataria2. Isso é salvação. Este é o reinado de Cristo neste “mundo”.
Cabe perguntar: Cristo exerce esse reinado em nós? Conhecemos, para usar a linguagem
de Brueggeman, a “loucura da misericórdia” pelos pecadores? Já nos pegamos presa da
“vulnerabilidade da compaixão”? Já experimentamos alguma das “incríveis alternativas do
perdão” para aqueles que, direta ou indiretamente, nos ofenderam?
A citação do Salmo 8.4-6 refere-se a Jesus. Jesus assume a carne humana; e isso é o que
se conhece como um dos aspectos da humilhação de Cristo (Fp 2.5-11). Na Sua encarnação,
Jesus pareceu ser “menor que os anjos” (v.7). Isto no sentido, basicamente, de mortalidade (a
encarnação fez isso). É por isso que o autor diz, no v.8 que “agora, porém, não vemos todas as
coisas a ele sujeitas”. Ou seja, como o dono do universo é um ser humano que morre crucificado
em flagrante demonstração de fraqueza?
E a que estas afirmações nos convidam? Ao exercício da fé. A vermos força na fraqueza,
vitória na derrota, saúde na doença, alegria nas dores, sucesso no fracasso, vida na morte, etc3.
Essa tem sido nossa atitude de fé? Assim, a humilhação e a glória de Cristo são vistas nesta
citação do Salmo 8.4-6. E convida-nos a não nos desesperarmos diante das humilhações. Ao
contrário, nos gloriarmos, porque parece que, quanto mais humilhação, mais glória (2 Co 4.16-18;
12.9-10). Seria um bom exercício espiritual, refletir em algumas possíveis humilhações que se tem
enfrentado e tentar enxergá-las sob a ótica proposta pelo autor aos Hebreus aqui. E veja que é
isso que o v.9 pontua. Ou seja, “por causa do sofrimento da morte” é que Jesus “foi coroado de
glória e de honra”. Isso aponta para o fato de que o sofrimento, ao invés de ser um incentivo
para desistir de Jesus; na verdade, deve ser uma poderosa motivação a permanecer firme, pois
o mesmo é a prova da vitória final. Como a igreja tem visto o sofrimento por Cristo? A igreja atual
sofre por Jesus? Que tipo de sofrimento enfrentamos? Como filhos de Deus-Pai, discípulos de
Jesus, dirigidos pelo Espírito Santo, o sofrimento e a glória de Cristo nos pertence. É por isso que
Pedro diz: “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a
provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário,
alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também,
na revelação de sua glória, vos alegreis exultando” (1 Pe 4.12-13). Sem masoquismos, portanto,
que Deus nos ajude a equacionar doce e levemente esta realidade em Cristo e não em nós.

III A obra de Jesus em favor dos homens v.10-18


Os v.10-13 enfatizam o relacionamento de irmãos que Jesus nutre pelos que são salvos. O v.10
fala do preço de sofrimento que Jesus pagou para salvar os pecadores. No entanto, Jesus fez
isso com alegria (Is 53.11; Hb 12.2); pois os seres humanos são criação divina (v.11). E ao citar
textos (v.12-13) que dizem que Jesus nos considera irmãos, o autor chama a atenção para o fato
do grande amor de Jesus por nós. Em Mateus 28.10 Jesus chama os 12 de “meus irmãos”. E
segundo o autor de Hebreus, Jesus “não se envergonha de [nos] chamar irmãos”. E é curioso
notar que, os 12 que Jesus chama de “irmãos” há três dias o tinham negado e abandonado.
Mesmo diante dos fracassos deles, Jesus não se envergonhou deles.

1
Esta história foi contada em sala de aula em 1994 no Instituto Bíblico Eduardo Lane.
2
Lembrando que naquela época não havia cura para a tuberculose.
3
Uma ilustração chocante e recente disso foi a decapitação dos 21 coptas na Líbia. Tem um poder de Deus por trás disso.
E notemos a poderosa e consoladora verdade contida aqui, especialmente, para aqueles
que andam tristes consigo mesmos, pensando que seus pecados fazem com Deus os considere
um peso; que Deus tenha animosidade e vergonha deles. Há muitos que se sentem uma
vergonha para com Deus e, por isso, ao invés de acreditarem que podem ter uma vida linda e
agradável a Deus, acabam se afundando mais no mundo e no pecado. E J. I. Packer explica isso
dizendo: “A constatação de sermos faltosos e culpados, e mais ofensivos a Deus do que jamais
sonhamos, torna difícil levar o pecado a sério”. Ou seja, a pessoa que não acredita que Deus a
perdoa, esquece e dá nova oportunidade, acaba se acomodando miseravelmente numa vida
de pecado que vai só aumentando a vergonha, a dor e a morte dia a dia. Mas não, já que
somos salvos em Jesus, não somos um peso para Jesus; não somos uma vergonha para Ele.
Somos a sua alegria. É isso que a litotes4 “não se envergonha de lhes chamar irmãos” mostra. Ou
seja, somos o orgulho de Jesus. Por nós, Ele foi alegremente para a cruz e ressuscitou cheio de
energia e animação para nos resgatar deste mundo perverso. Isso faz lembrar um fato narrado
por um missionário na cordilheira dos Andes, entre o povo Quéchua. Um menino de uns 9 anos
carregava o irmão menor amarrado às costas e fazia muito esforço para carregá-lo. O
missionário pergunta ao menino: “Não está pesado?” O menino responde: “Não. Ele é meu
irmão”. Que linda figura! É mais que dessa forma que Jesus nos considera.
Os v.14-15 apontam para a identificação de Jesus com nossa humanidade através de Sua
encarnação. No v.14, a expressão “carne e sangue” é uma expressão idiomática para dizer
“humano” (Mt 16.17; 1 Co 15.50; Gl 1.16; Ef 6.12). Jesus teve que sofrer o castigo como homem
para compensar a justiça divina, por causa do nosso pecado. E assim, Ele destruiu o diabo, o
qual tinha o poder da morte; e isso mantinha o ser humano em escravidão por causa do que o
pavor da morte exercia sobre o mesmo. Mas do que consistia o diabo “ter o poder da morte”?
Na verdade, o diabo não é dono da morte. O diabo é o dono da acusação aos que pecam e
pecaram. Isso é visto com clareza em Zc 3.1-2 e Paulo enfatiza em Rm 8.33-34. Tendo o pecado
castigado em si mesmo, Jesus destruiu a acusação de satanás contra Seus irmãos. Em Cristo,
somos livres na consciência e na vida aqui e eternamente (Jo 8.31-36).
Os v.16-18 são uma aplicação. Ao destruir a morte em Sua humanidade, Jesus o faz,
lembra o autor, não aos anjos; mas aos homens. Os anjos não têm a natureza humana para nos
compreender. Eles nos servem, mas não conhecem as lutas humanas que temos. Já o Filho as
conhece porque se tornou humano. E Ele socorre, em especial, a descendência de Abraão; ou
seja, os que receberam Jesus como Salvador e Senhor (Gl 3.7). E Jesus sabe muito bem o conflito
que se instala na alma do convertido. Gl 5.17 deixa claro essa verdade. E aí, Michael Horton tem
razão ao dizer que, a prova de que somos cristãos não é se vivemos “no topo” o tempo todo;
mas se existe o conflito contra o pecado5. Cristãos que não sentem a luta contra o pecado,
talvez sejam uma contradição de termo. O termo não seria “um cristão”; talvez, um “religiosista”6.
No entanto, esse conflito traz cansaços, decepções, tristezas, medos, etc. Mas por causa
de ter se tornado semelhante a nós; inclusive tendo sido tentado em todas as coisas, Jesus nos
entende e nos ajuda. É isso que fica claro no v.18. É por isso que em 1 Co 10.13, Paulo diz: “... Mas
Deus é fiel e [...] juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais
suportar”. É por isso que podemos cantar junto com Lionel Richie, quando era do Commodores,
a linda música “Jesus is love”:
Pai, ajude Seus filhos
E não os deixes cair pela estrada.
E ensine-os a amar uns aos outros,
Que o paraíso possa encontrar um lugar em seus corações.
Temos que caminhar, passar pela tentação,
Porque Seu amor, Sua sabedoria,
Será uma mão a nos ajudar.

4
Figura de linguagem que consiste em fazer uma afirmação pela negação do contrário. Por exemplo: “não me envergonho”; o
que quer dizer: “me orgulho”.
5
Romanos 7.7-25 apresenta este fato também.
6
Uso esse neologismo para me referi a pessoas que tem alguma prática religiosa, mas não compreende as implicações da vida
com Deus em sua verdade.
Conclusão
Deve ser lembrado que tudo isso é dito a leitores que pensavam em desistir de Jesus, por causa
da perseguição que estavam enfrentando. Era uma perseguição externa com resultados
internos. Estes resultados internos: medo, decepção, tristezas, etc., tinham ligação direta com o
pecado que tenazmente nos assedia. Mas, mais que os anjos, Jesus está conosco e nos ajuda,
fortalece, vence por nós; não as lutas externas; mas, acima de tudo, o pecado interno que nos
condenava eternamente. Assim, precisamos fazer o que esta música do grupo Rebanhão
propõe:
Se o sol parar de brilhar e o sol ficar escuro
Ter sensação de estar perdido
Levante os olhos pro céu e peça a ele que ilumine
Se as estrelas pararem de brilhar
E a lua não fizer mais as sombras da noite
Levante os olhos pro céu e peça a ele que abençoe
Se algum motivo fizer o seu sorriso apagar
E tristeza dominar seu caminho
Levante os olhos pro céu e peça a ele alegria
Que ele te ouve, não importa aonde você estiver
Não importa a cor, se é homem ou mulher
Ele, ele te ouve
Se há muito tempo você não sente a alegria
Sorri fingindo, enganosa euforia
Se os seus amigos fugiram e você ficou só na estrada perdido
Levante os olhos pro céu e aceite um grande amigo
Levante os olhos pro céu, receba um novo amigo.

Que Deus nos ajude!


ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 3
A SUPERIORIDADE DE CRISTO A MOISÉS
(O PERIGO DA INCREDULIDADE)

O LIVRO DE HEBREUS
Texto: Hebreus 3
Tema: A superioridade de Cristo a Moisés (o perigo da incredulidade)

Introdução: Em seu excelente livro Encontrando Deus em Meio à Dúvida1, o arguto autor Os
Guinness afirma:
A palavra descrença (incredulidade) é normalmente usada a partir de uma recusa deliberada em
acreditar ou de uma decisão voluntária de desobedecer. Desse modo, enquanto a dúvida é um
estado de suspensão entre fé e descrença, a descrença é um estado da mente que se fecha em
relação a Deus, uma atitude do coração que desobedece a Deus tanto quanto desacredita da
verdade. A descrença é a consequência de uma escolha.
A descrença, a incredulidade é a recusa deliberada em relação a uma verdade; e o
autor tenta não deixar os hebreus caírem na descrença, mostrando que Jesus é superior a um
dos maiores personagens do Judaísmo – Moisés. Após argumentar sobre isso, o autor entra com
vigorosa aplicação contra a incredulidade. Ele vai reforçando argumento sobre argumento para
convencer seus leitores. Ele não se deixa vencer. E aqui aprendemos a responsabilidade que
temos com os irmãos e que temos que insistir com eles. Isso é bíblico, pois vemos Paulo
“rogando” para que as pessoas se reconciliassem com Deus (2 Co 5.20; 1 Ts 5.14); Pedro disposto
a não deixar os irmãos esquecerem o evangelho (2 Pe 1.12-15: lindo!); e Jesus chorando sobre
Jerusalém (Lc 19.41-44). Conhecemos essa atitude? Temos feito o mesmo com algum irmão
desanimado ou o condenamos mais? Neste capítulo vemos como o autor combate este mal
perigoso chamado incredulidade.

Exposição

I Uma comparação entre Jesus e Moisés


“Por isso” (v.1) liga ao capítulo anterior (2.17). Ou seja, porque Jesus é misericordioso e pode
ajudar, por isso é que os “santos irmãos” podem manter a perspectiva espiritual correta (Fritz
Laubach).
A expressão “santos irmãos” tem muito a ensinar. Primeiro, é uma abordagem
respeitosamente positiva. No instituto bíblico, ouvi que “para que o cristão não faça o que não
deve fazer, devemos dizer-lhe quem ele é”. Isso é um poderoso encorajamento. Essa é a
estratégia de Deus. Vemos isso nas Cartas do NT. A primeira parte sempre apresenta o que os
leitores são; só depois vem o que deviam ou não fazer. Além dessa abordagem, vemos carinho
para com aqueles irmãos reticentes, mas sofredores leitores. Carinho e respeito são atitudes de
pessoas humildes, que não se colocam acima dos outros. E o respeito do autor passa pela
lembrança de que, assim como ele, os leitores também foram chamados pelo próprio Jesus
(“que participais da vocação celestial”). Jesus, como Apóstolo (“enviado”) e Sumo Sacerdote os
chamou. E aqui estamos exclusivamente por um chamado de Jesus. Não foi, de maneira
nenhuma, por alguma capacidade nossa.
Após esta pequena introdução, no v.2 o autor começa a argumentar sobre a
superioridade de Jesus em relação a Moisés. Ele começa comparando a fidelidade de ambos.
O ponto de referência para afirmar a fidelidade de Jesus é o próprio Moisés. E isso nos chama a
sermos fiéis não só para herdarmos bênçãos; mas também, para refletirmos o caráter do nosso
Deus. Há os que buscam fidelidade para ter alguma bênção, em geral, material.
O v.3 apresenta a adversativa, “todavia”, para mostrar que Jesus tem maior glória que
Moisés; e, por isso, devemos agarrar-nos a Ele. E no restante deste versículo o autor mostra que
assim como Deus estabeleceu a casa em que Moisés foi fiel; Jesus é o que estabeleceu Moisés.
Assim, não há nada que venha de nós mesmos. Recebemos tudo do Pai das luzes (Tg 1.16-18). E
a implicação disto é dupla, pelo menos: 1) É arrogância pensar que tudo depende de nós; 2) o
que recebemos é para ser colocado à disposição do povo Deus para Sua glória. Assim, como
vemos nossa formação, profissão, trabalho, família etc.? Para quem isso está a serviço? O v.4
arremata dizendo: “..., mas aquele que estabeleceu todas as coisas é Deus”. E que Deus nos
ajude a não nos esquecermos disso!
Nos versículos 5-6, o tema da fidelidade é exposto. Moisés era fiel “em toda a casa de
Deus” (v.5). Ou seja, era fiel como um do povo, “como servo”. Foi um grande líder. Experimentou

1
O título em inglês é God in the Dark (literalmente: “Deus no Escuro”). Livro recomendado com entusiasmo.
níveis de relacionamentos extraordinários com Deus (Dt 3410-12); mas era um dentre o povo;
apesar de Deus ter lhe conferido autoridade inigualável até então. Já Jesus é fiel “em sua casa”;
e é fiel não como servo, mas como Filho. A casa é de Jesus. Por isso é maior que Moisés. E o autor
acrescenta um dado importantíssimo: “a qual casa somos nós” (Ef 2.19-22; 1 Tm 3.15; 1 Pe 2.5).
Nós somos a casa em que Jesus é estabelecido como Salvador e Senhor. E aí vem outro dado
também importantíssimo: somos essa casa “se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a
exultação da esperança” (v.6). Ou seja, somos essa casa se permanecermos firmes na fé, no
caminho com Jesus.
E quais são os sinais dessa firmeza? 1) “a ousadia”; e, 2) “a exultação da esperança”.
Ousadia é a coragem de enfrentar as oposições e lutas advindas de nosso compromisso com
Jesus. A “exultação da esperança” é a alegre expectativa de que Deus cumprirá todas as Suas
promessas para Seu povo eternamente. A vida não se explica somente com expectativas, para
usar a linguagem de J. I. Packer, “deste lado da eternidade”. Há o outro lado. Há o lado eterno
que será inaugurado, ou com a morte ou com a volta de Jesus. Mas essas promessas somente se
cumprem na vida daqueles que permanecem firmes. Na vida dos que se regozijam na vida com
Cristo; que não andam com Jesus gemendo, murmurando ou desanimados. Assim, “não o
começo, somente o fim é que coroa a luta de fé do cristão” (Benjamim Schmolck).
Essa explicação nos convida a examinarmos o estado de nossa fé. Como temos servido,
andado com Jesus? Tem sido um fardo pesado? Uma chatice? Ou algo leve, alegre,
empolgante? D. M. Lloyd-Jones lembra que um crente sempre desanimado é um
contratestemunho ao Evangelho.

II Uma advertência contra a incredulidade v.7-19


Comparando o povo de Israel com a Igreja2, o autor agora entra incisivamente numa séria
aplicação. Já que Jesus é maior que Moisés, o preço de abandoná-lo é muito alto; e esse pastor
carinhoso e zeloso não quer isso para suas ovelhas. A propósito, o que fazemos para livrar as
pessoas, os irmãos de pensamentos, conceitos e crenças erradas?
Dessa forma, do v.7-11 a Escritura (Sl 95.7-11) é citada como confirmação de tudo o que
viviam e era combatido pelo autor. Essa parte da Bíblia é citada para confirmar que o que se
disse até aqui é Palavra de Deus. A pregação, quando é bíblica, é Deus falando. Além disso, o
texto sagrado não é algo dito no passado. Ele ainda fala. Ele continua falando. Ela não
depende de nada nem ninguém para falar. “Hoje, se ouvirdes a Sua voz...” A Bíblia fala hoje. E o
que Deus tem nos falado nesses dias? O que precisamos abandonar ou abraçar?
A advertência é para não endurecermos o coração diante da “provocação” (meribá) e
na “tentação” (massá). As referências destes termos são de Êx 17.7 e Nm 20.13. Deus diz que
estes eventos foram “tentações”. E quando tentamos Deus? Quando, mesmo tendo provas de
Sua grandeza, poder e amor, queremos ainda assim, fugir, nos afastar d’Ele (v.9).
Os destinatários da carta aos Hebreus viam nas dificuldades razões para abandonar
Cristo. Mas não deve ser assim. “Se Deus permite que andemos em caminhos difíceis e escuros
que não compreendemos, isso não é motivo para duvidarmos da condução de Deus e da Sua
presença” (Fritz Laubach). William Cowper (1731-1800), compositor com John Newton do hino
“Maravilhosa Graça”, em outro hino diz:
Não julgue o Senhor com débil entendimento,
Mas confie nele para sua graça.
Por trás de uma providência carrancuda,
Ele oculta uma face sorridente.
Como estamos vendo as nossas dificuldades? E de onde elas vêm? É de nossa fidelidade a Deus
ou de nosso estilo de vida, não poucas vezes sem considerar os caminhos de Deus? Somos
daqueles que somente buscam a Deus quando nossos projetos entram em colapso? Que não
façamos parte deste grupo; pois para eles, Deus pode dizer o que disse da geração que não
entrou em Israel: “Assim, jurei na minha ira: não entrarão no meu descanso”.

Após esta citação bíblica, os versículos 12-15 apresentam-nos uma aplicação. O autor fala para
se tomar cuidado com um “perverso coração de incredulidade”. Isso causa afastamento de

2
Isso ajuda a resolver a questão de que o Israel de Deus no NT é a Igreja. E isso tem implicações em outras áreas da teologia.
Deus. E uma tradução possível da palavra grega para “afaste” é “excitar à revolta”. Incrédulos
são dados à revolta.
E paramos para pensar num tipo diferente de incrédulo. É aquele que não aceita que tem
determinado comportamento pecaminoso. Um simples exemplo basta: o fofoqueiro,
maledicente que não acredita que é. Todos são ruins para ele; até que um dia ele se revolta. É o
que vemos em Corá, Datã e Abirão (Nm 16). Falaram mal de Moisés e Arão e, por fim, se
rebelaram.
E qual é o remédio para um “perverso coração de incredulidade?” A “exortação mútua”
(v.13). Um ajudando, encorajando ao outro. E isso acontece “Hoje”. A advertência não é para
os israelitas no deserto e aos hebreus. É para nós hoje também. A palavra “hoje”, também
mostra que não se dá tempo, oportunidade para a incredulidade. Ela tem que ser combatida já.
Não se pode esperar “as coisas melhorarem” ou “clarearem”. É agora que se combate a
mesma. Não fazer isso é se permitir ao “engano de pecado” (v.13), e isso traz destruição. Há
alguma incredulidade tomando conta do nosso coração hoje?
E é possível vencermos a incredulidade também, lembrando que nos tornamos
“participantes de Cristo”. Ou seja, os que O receberam como Salvador e Senhor. Simon
Kistemaker lembra que “somente os que continuam a professar sua fé em Jesus com firmeza são
salvos”. Calvino pontua a necessidade de progresso. Ele diz: “Muitos meramente provam o
evangelho, como se já tivessem atingido o topo, sem se preocuparem em progredir. Disso
sucede que não só desistem em meio ao curso de sua corrida, ou no próprio início dela, mas
também que desviam seu curso em outra direção”. E aqui cabe inquirir, examinar-se a si mesmo:
temos progredido na fé? Quais são os sinais deste progresso?

A parte conclusiva desta seção está nos v.16-19, em que o autor faz várias perguntas retóricas (já
tem a resposta em si). No v.16 as perguntas se referem aos que, mesmo vendo os milagres de
Deus, foram incrédulos. Não consideraram a bondade de Deus E quantos há ainda hoje que já
viram milagres de Deus em suas vidas e permanecem longe ou frios na fé.
O v.17 pontua os que se rebelaram, que não quiseram mudar de vida. Pelo contrário,
deram vazão, deram livre curso aos seus pecados. E aqui, com alguma insistência, não se pensa
somente em “pecadões” (matar, adulterar etc.); mas em pecados como invejas, amarguras,
maledicências, calúnias, insubmissão às autoridades, orgulhos, etc., dos quais alguns gozam até
de aceitação.
A desobediência não é só falta de obediência; mas é também a recusa deliberada em
obedecer. É isso que enfatiza o v.8. “A desobediência é uma recusa a ouvir a voz de Deus e uma
recusa obstinada a agir em resposta a essa voz” (Kistemaker). Precisamos aprender esta
distinção para o bem eterno de nossa alma. Há desobediências que acontecem por fraquezas
(“vacilos”, na linguagem coloquial); mas há outras que são recusa consciente em obedecer.
E o capítulo encerra de forma simples e enfática: “Não puderam entrar por causa da
incredulidade”. Vale a pena citar as palavras de Kistemaker aqui: “A incredulidade é a raiz do
pecado da provocação a Deus. A incredulidade rouba Deus de sua glória, e rouba o incrédulo
do privilégio das bênçãos de Deus”. Deus tem um descanso, não só na eternidade, mas aqui
também para cada um de nós. E que a incredulidade não nos tire isso. Que a incredulidade não
nos tire os privilégios e as bênçãos que Deus tem para nós!

Conclusão
Mc 6.1-6 narra a visita de Jesus a Nazaré. Ali fala que Jesus não fez muitos milagres por causa da
incredulidade e isso lhe causou admiração. Mas por que não pôde fazer nenhum milagre ali?
Porque para quem não quer crer, nem milagres adiantam e Deus não lança pérolas aos porcos.
A incredulidade não impede Deus. Mas Deus, por assim dizer, não vai “gastar” Seu poder à toa.
Que Deus nos dê forças para crer! Que Ele nos ajude!
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 4
A SUPERIORIDADE DE JESUS A JOSUÉ
A NECESSIDADE DE ESFORÇO

O LIVRO DE HEBREUS
Texto: Hebreus 4
Tema: A superioridade Jesus a Josué – A necessidade de esforço

Introdução: Até aqui o autor de Hebreus mostra Jesus como superior aos anjos (cap. 1 e 2) e
superior a Moisés; e agora, seguindo a linha de seu argumento para encorajar os hebreus a
ficarem firmes em Jesus, ele apresenta Jesus como superior a Josué. E o assunto principal deste
capítulo é a necessidade de esforço. A palavra “esforço” também é traduzida por “concentrar
as energias na obtenção de um alvo”. A tradução literal é “apressar-se”, “pressa”, “rapidez”.
Ressalta a preocupação séria com alguma coisa e o levar a sério as pessoas. Assim, a firmeza no
caminho de Jesus Cristo, deve ser agora e não depois e com muita disposição e vontade. Dessa
maneira cabe perguntar: como temos seguido a Jesus? Com pressa e firmeza? Com desejo
intenso ou com preguiça e desânimo?
No clássico O Peregrino, John Bunyan descreve “Cristão” caindo no “pântano do
Desânimo”. E o desânimo é um pântano mesmo. Nele, o filho de Deus vai se atolando e, se não
tomar uma atitude, a morte se torna realidade. E por que “Cristão” cai nesse pântano? Porque
não seguiu as “pegadas”. Para Bunyan, estas pegadas são as promessas de Deus. Assim, o que
nos mantém firmes, e nos esforçando é confiarmos nas promessas de Deus. Como vamos
conseguir nos esforçar, apressar, levar a sério a vida com Jesus? As promessas desse capítulo nos
ajudarão.

Exposição

I Fazendo a ligação entre o ouvir e o crer v.1-2


O capítulo 3 termina com sérias advertências sobre o fracasso dos israelitas que não entraram
em Canaã. O v.1 tem 3 palavras que merecem destaque:
• “Temamos”: Nossa geração tem medo do que não deveria (de ser e fazer alguém feliz,
por exemplo); e não tem medo do que deveria ter (da perdição eterna, por exemplo). Em
geral, o medo é condenado; mas esse medo deve ser considerado com seriedade. Temos
medo da perdição eterna? Isso nos move a alguma direção? Qual direção?
• Promessa: Um dos sustentáculos da vida cristã são as promessas de bênçãos presentes e
futuras. Há descanso aqui e no futuro para os que são de Jesus Cristo (Lc 16.19-31).
• Falha: Acontece quando não se leva a sério os perigos nem as promessas de Deus. É a
desistência. Convém lembrar que uns desistem longe de casa e outros dentro de casa,
como nos lembra a Parábola do Filho Pródigo (Lc 15.11-32).
Podemos resumir: um medo saudável leva a nos agarrar nas promessas de Deus para não falhar,
fracassar.
E como vamos conseguir fazer isso? O v.2 responde: unindo ouvir e crer. Os israelitas diante
de Canaã não acreditaram que conseguiriam entrar na terra e, por isso, não entraram mesmo
(Nm 13-14). Desistir do evangelho é não acreditar no destino descrito pela Bíblia. Os hebreus
também não estavam acreditando que Cristo é o único caminho para a vida eterna. E quando
nos desviamos é isso que implícita ou explicitamente declaramos. A falta de fé traz destruição. O
esfriamento na fé é uma declaração de que Deus não é tão sério assim. Como está nossa fé?

Como vamos nos esforçar?

II Compreendendo que já possuímos um descanso v.3-7


É interessante notar como o autor se refere aos leitores. Ele está escrevendo para pessoas que
estão considerando seriamente a possibilidade de abandonar Jesus; mas ele se dirige a elas
como se não fossem abandonar. Nos v.1-2, ele fala de pessoas que desistiram; mas dos leitores
ele diz, incluindo-se, reconhecendo que ele também tinha aquela luta: “nós, porém...” Ou seja,
conosco é diferente. Nós cremos. Nós não desistimos. Que grande pastor, esse autor de Hebreus!
Precisamos ser assim com as pessoas. A definição de evangelismo “um mendigo dizendo a outro
onde há pão1” se encaixa perfeitamente aqui. O autor se vê necessitado como seus leitores.
Toda a argumentação destes versículos é para mostrar que aqueles que têm Jesus, que O
receberam (Jo 1.12), já entraram no descanso de Deus. Mas que descanso é esse? Em resumo,

1
2 Rs 7.3-15 tem uma história que ilustra essa afirmação.
para não nos perder em detalhes, o descanso é uma referência à justificação pela fé2. É uma
afirmação sobre a conversão, onde tomamos posse da salvação eterna. No entanto, essa
salvação precisa ser mantida e desenvolvida.
Ao falar da obra da Criação e do descanso de Deus após terminar a Criação, o autor
está falando que esse descanso de Deus não é inatividade, mas a manutenção de Sua bela
Criação. Da mesma forma os hebreus que se converteram, receberam Jesus como Salvador e
Senhor, agora precisam manter esse relacionamento. Esse é o descanso. Ou seja, o
desenvolvimento da salvação. Vemos isso claramente em Fp 2.12-13; Jo 6.27,29; Mt 6.19; etc. Já
somos salvos em Cristo e em Cristo precisamos desenvolver esta salvação. Isso é chamado de
santificação. E a santificação inclui enfrentar as lutas e oposições internas e externas que surgem
neste processo. E o v.7 pontua que essa luta deve ser encarada agora. A salvação é a garantia
que temos para batalhar pela nossa fé (Jd 3). Somos salvos para a batalha.
Diante dessa argumentação é preciso avaliar e reavaliar nosso envolvimento com o
processo de santificação. Que passos temos dado nessa direção? Quais as atitudes que
tomamos diante de Deus e dos homens? O que sabemos sobre santificação? Investimos tempo
estudando esta verdade bíblica?

Como vamos nos esforçar?

III Lembrando-nos do descanso final dos santos v.8-10


Josué levou o povo a entrar em Canaã. Foi um descanso; mas a vida na Terra Prometida
demonstrava que ainda há um descanso futuro e que será eterno. Uma leitura atenta nos livros
de Josué e Juízes mostram que o povo teve que lutar contra alguns povos que habitavam ali.
Inclusive, estes povos foram deixados para provar e aperfeiçoar a Israel (Jz 3.1,2,4). Assim, todas
as lutas que os filhos de Deus enfrentam na caminhada cristã são a prova fiel de que Deus tem
um descanso final. A Bíblia e a história da Igreja mostram muitos exemplos de servos de Deus que
anelavam esse descanso (Fp 1.21; 2 Pe 1.14). Em seu Diário, David Brainerd deixava claro seu
anseio de ir para o céu3. David Martin Lloyd-Jones (1899-1981), quando estava em seus últimos
dias disse à esposa e à filha: “Não orem por cura. Não me impeçam de ir para a glória”.
Os filhos de Deus conseguirão se esforçar, lembrando que suas vidas caminham para a
glória. Lembrando que seu destino é viver no céu. E que lá, segundo a Bíblia, é a concretização
de nossos mais profundos anseios e necessidades.

Como vamos nos esforçar?

IV Fugindo do autoengano v.12-13


Os leitores poderiam pensar que tinham justificativas para desistir. O pecado tem seus enganos
atraentes (a Bíblia mostra isso em várias ocasiões). O homem, não poucas vezes, também tenta
se enganar para justificar uma crença ou comportamento. Os hebreus estavam tentando agir
assim. Pensavam que não teria nenhum problema dar as costas para Jesus. Mas, além de tudo
que tinha sido dito até aqui, o autor acrescenta o poder da Palavra de Deus. Eles tinham a Bíblia,
que naqueles dias era o Antigo Testamento. Não tem como fugir da questão. E por quê?
• Porque a Bíblia é viva e ativa: A Bíblia não é uma coleção de escritos mortos. Ela é a
expressão de um Deus vivo que age em todo lugar e pessoas. E ela mexe com a vida das
pessoas. Ela é ativa. Agostinho converteu lendo a Bíblia e tantos outros na história.
• Porque a Bíblia é cortante, penetrante e discernidora: Ou seja, a Bíblia penetra
profundamente conteúdos confusos dentro de nós e os expõe claramente a nós. Ela lê
nosso ser mais íntimo e profundo. Lendo a Bíblia descobrimos os processos da nossa alma e
da nossa sociedade.
Tudo isso quer dizer que não adiante querer fingir que não sabemos o que Deus quer. A Bíblia
deixa claro. Ninguém se esconde diante da Palavra de Deus (v.13). Inclusive, notemos que o
autor parece personalizar a Bíblia, quando diz que “todas as coisas estão descobertas e

2
Justificação é um ato da livre graça de Deus, no qual Ele perdoa todos os nossos pecados, e nos aceita como justos diante de
Si, somente por causa da justiça de Cristo a nós imputada, e recebida só pela fé (Ef 1.7; 2Co 5.21; Rm 4.6; 5.18; Gl 2.16).

3
Morreu aos 29 anos de tuberculose.
patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas”. Ao falar da Bíblia, o autor está
falando do próprio Deus. Assim, uma aplicação básica e profunda é que, conhecer a Bíblia é
conhecer a Deus.
Uma pequena observação: o autor aqui não está defendendo que o ser humano é uma
“tricotomia” (composto de corpo, alma e espírito). O contexto não permite isso. O que temos
aqui é uma ênfase no poder da Bíblia de penetrar nos recônditos mais profundos do íntimo
humano, “e não um tipo de divisão entre as partes constituintes4”.
Assim, podemos insistir: será que nossa dificuldade em ler, estudar, meditar na Bíblia não se
deva ao fato de que temos medo de não termos como nos auto enganar mais? Medo do que a
Bíblia vai expor, trazer à tona? Mas se tivermos coragem de enfrentar a Bíblia e nos enfrentar,
teremos forças para continuar.

Como vamos nos esforçar?

V Lembrando que Jesus se compadece de nós v.14-16


No capítulo 12, o autor usa uma expressão dolorosa sobre o pecado. Ele diz que o pecado nos
“assedia tenazmente” (Hb 12.1). O pecado insiste em nos rondar. Ele não dá tréguas. Não faz as
pazes conosco. Está sempre de espreita. Bate à porta todo dia o dia todo. E o assédio é uma
coisa tão ruim que hoje culmina em processos jurídicos. Além disso, as lutas contra o pecado e o
próprio pecado nos fazem sofrer intensamente na mente e no corpo.
O autor de Hebreus sabia disso. Sabia que a Bíblia, não poucas vezes, nos “espreme”, nos
aperta. Isso traz, algumas vezes, cansaço. Mas como bom pastor que é, o autor entra com mais
um “remédio” para que os leitores continuem se esforçando para permanecerem firmes com
Jesus (v.14).
E por que eles e nós podemos permanecer firmes? Porque temos, diante de Deus, a Jesus
como nosso sumo sacerdote (o que apresenta as pessoas a Deus) que se compadece de nós
em nossas fraquezas. E uma das principais razões para isso é que Ele foi tentado em todas as
coisas, da mesma forma que somos; mas sem pecado. Daí vem a máxima: a tentação não é um
pecado, cair em tentação sim (apesar que, não poucas vezes, traçar a linha divisória entre
tentação e pecado é um desafio).
Por isso, podemos nos achegar ao “trono da graça”. Que expressão mais linda! Aqui
vemos o reinado, o domínio, o senhorio da graça. É o reinado de Jesus Cristo, conforme
Kistemaker. Toda pessoa que, cansada da luta da fé e cai, que chega em arrependimento e fé
diante desse trono, encontra graça, perdão, restauração; não importando qual tenha sido o
pecado. E só uma lembrança: Jesus também morreu pelos pecados dos crentes, por mais
terríveis que eles sejam (Abraão, Moisés, Davi, Pedro etc.).
Como isso é feito? Como nos achegamos ao trono da graça? Usando os meios de graça
com confiante ousadia: batismo, santa ceia, oração, meditação, participação nos cultos, jejuns
etc. Que valorizemos mais os meios de graça!

Conclusão: No livro O Peregrino, quando se encontra com Intérprete, Cristão é tomado pela
mão e Intérprete o leva “a um lugar onde se via uma fogueira ardendo diante de uma parede.
Ali havia alguém que não saía de perto, jogando sempre muita água na fogueira com a
intenção de apagá-la. Mas as chamas aumentavam e ficavam cada vez mais quentes.
- O que significa isso? – perguntou Cristão.
- Esta fogueira – respondeu Intérprete – é a obra da graça que se opera no coração. Aquele que
joga a água, tentando apagá-la e extingui-la, é o diabo; mas você pode ver que o fogo assim
mesmo, fica sempre maior e mais quente. Você também verá a razão disso.
Então ele o levou para trás da parede, onde se via um homem com um vaso de óleo nas
mãos. Ele, em segredo, derramava continuamente óleo no fogo. Cristão perguntou:
- O que isso significa?
- Este é Cristo, que continuamente, com o óleo da Sua graça, mantém viva a obra já iniciada no
coração, e por meio dessa obra, a despeito de tudo o que pode fazer o diabo, as almas dos
crentes se provam piedosas”.

4
A nota na Bíblia de Genebra completa: “Além disso, se a ideia de divisão tivesse sido pretendida, iríamos esperar que o autor
dissesse ‘ossos e medula’ em vez de ‘juntas e medulas”.
É por isso que podemos nos esforçar, continuar, insistir, permanecer na caminhada com
Jesus. Ele mesmo está trabalhando em nós. Todo e qualquer esforço nessa caminhada tem
garantia de sucesso (Fp 1.6). Assim, que nenhum de nós, por qualquer motivo; por qualquer
opinião de quem quer que seja, deixemos de nos esforçar para permanecermos com Jesus. E
entraremos no descanso que nos espera no fim de nossas vidas ou dessa era.
Que Deus nos ajude!
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 5
A SUPERIORIDADE DE JESUS A ARÃO
A ESCOLA DO SOFRIMENTO

O LIVRO DE HEBREUS
Texto: Hebreus 5
Tema: A superioridade Jesus a Arão – A escola do sofrimento

Introdução: Jesus é superior aos anjos (cap. 1-2); a Moisés (cap. 3); a Josué (cap. 4). No capítulo
5, o autor vai mostrar que Jesus é superior a Arão, o sumo sacerdote do povo que saiu do Egito. É
bom lembrar que tudo isso é para mostrar aos destinatários que não há como desistir de Jesus
para voltar aos princípios obsoletos do judaísmo. E dentro desta argumentação, o tema que
sobressai é o do sofrimento. O autor reconhece que seus leitores estavam sofrendo. Ele não faz
descaso disso. No entanto, busca colocar o sofrimento numa perspectiva positiva; e usa para
isso, o exemplo do próprio Jesus, o qual “aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (v.8).
O sofrimento é uma questão espinhosa. Para alguns prova a falta de sentido na vida,
permitindo a cada um “inventar” seu próprio sentido. Para outros prova a inexistência de Deus. E
há os que dizem que, ou Deus não é bom ou não é poderoso. Realmente uma questão dificílima
para os cristãos resolverem. A resposta bíblica para isso é lembrar que Deus sofreu em Cristo.
Isaías diz lindamente que Jesus é “homem de dores e que sabe o que é padecer” (Is 53.3). A
encarnação do Filho é uma resposta honesta de Deus ao sofrimento. Dorothy L. Sayers (1893-
1957), romancista inglesa, amiga de C. S. Lewis faz uma grande contribuição ao dizer sobre isso:
Seja qual for o motivo pelo qual Deus resolveu fazer o homem do jeito que ele é – limitado, sujeito
ao sofrimento, à dor e à morte -, Ele teve a honestidade e a coragem de tomar o próprio remédio.
Seja qual for o jogo que esteja jogando com Sua criação, Ele não burlou as regras; jogou
honestamente. Ele não pode cobrar nada do homem que não tenha cobrado de si mesmo. Ele
passou pela experiência humana em toda a sua inteireza, das irritações triviais da vida em família
às restrições limitadoras do trabalho árduo e da falta de dinheiro até os piores horrores da dor, da
humilhação, da derrota, do desespero e da morte1.
Assim, para aqueles que têm lutado com as questões do sofrimento em sua vida ou na
vida de outros, o capítulo 5 de Hebreus nos ajudará a, pelo menos, compreendermos alguns
frutos desse sofrimento. O que o sofrimento pode e deve produzir?

I Compaixão v.1-3
O sumo sacerdote representava o homem diante de Deus. Era como um mediador entre os
homens e Deus. Ele oferecia os tipos diferentes de ofertas que se exigia no AT (ver Lv 1-7). E ele foi
constituído pelo próprio Deus “a favor” e não “contra” os homens (v.1). E isso tem preciosa
aplicação para cada cristão; pois todos somos sacerdotes (1 Pe 2.9; Ap 1.6). Assim, nosso
compromisso com Deus em relação aos homens é lhes mostrar que Deus não é indisposto, mal-
humorado, contrário aos homens; mas a favor. Somos, em alguma medida, “mediadores”
também.
Uma condição para isso é reconhecer que também se “está rodeado de fraquezas” (v.2).
O sumo sacerdote não podia esquecer suas fraquezas e pecados. O esquecimento ou desprezo
dessa verdade cria uma cultura entre o povo de Deus de hipocrisia por um lado, e inquisição do
outro.
A consciência das próprias fraquezas, pecados e fracassos produz compaixão. A palavra
“condoer-se” ressalta que o sumo sacerdote devia “ser comedido em sua indignação e ira pelas
incessantes transgressões do povo de Deus” (Fritz Laubach). Isso não quer dizer que se tem de
fingir de cego. Kistemaker lembra que se deve lidar amavelmente com os pecados e fraquezas
do povo de Deus, sem se colocar acima. As orientações de Mt 18.15-18 e Gl 6.1-3 devem ser
seguidas rigorosamente; e é por isso que esta é uma orientação contundente da Missão Praia da
Costa: “Missão: lutamos radicalmente contra o pecado, mas procuramos ser exageradamente
misericordiosos2”.
Para finalizar, deve ser lembrado que o próprio Jesus foi assim. Ele lutou contra o pecado
em todas as suas facetas; porém, com grande misericórdia. Isso porque “Ele foi tentado em
todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15b). A dor do nosso pecado ou
qualquer outra dor nos faz mais compassivos com os outros? Ou usamos os pecados dos outros
para esconder os nossos? Isso é manifestação de uma personalidade doente. Que Deus nos livre
disso!

1
A peça “O Grande Silêncio” apresenta a questão de forma muito bela, sábia e poderosa. Vale a pena o professor conferir:
http://historiaebiblia.blogspot.com.br/2010/04/o-longo-silencio.html
2
Pr. Simonton C. Araújo.
O que o sofrimento produz?

II Identidade v.4-6
O sumo sacerdócio é um chamado divino. Não é algo que se toma para si mesmo (v.4). Não é
uma decisão pessoal. Deus é que chama. E a confirmação do sacerdócio de Arão se deu
mediante o sofrido episódio com Datã, Corá e Abirão (Nm 16) pelo próprio Deus. Da mesma
forma Jesus. Foi o próprio Pai que o chamou. É isso que é proposto nos versículos 5 e 6. As
citações dos salmos 2.7 e 110.4 são a confirmação deste chamado ao sacerdócio de Cristo.
Um pequeno “parêntese” quanto a estes versículos é notar que toda a Bíblia fala de
Cristo. Precisamos lê-la assim. O assunto principal da Bíblia é Jesus. Com isso, fica claro que
salvação não é uma ideia, um conceito, uma “energia”. A salvação é Jesus Cristo, o Filho de
Deus.
Voltando, então, é notório que o sofrimento é um chamado (Mt 5.10-12; 10.24-33; 16.24-25;
At 9.16). Mas é esse chamado que nos dá uma origem, uma identidade. Não precisamos “pagar
a conta do analista para nunca mais ter que saber que eu sou3”. Somos filhos de Deus, santos e
amados. Não somos frutos do acaso. Não estamos entregues à sorte cega de um mundo
corrompido e desgovernado. Não precisamos nos sentir menores ou maiores. Somos o que Deus
quer que sejamos4: semelhantes a Seu Filho (Rm 8.29). Isso destrói toda autoestima baixa,
negativa e também superior. E uma autoestima bem resolvida é a base para que se busque uma
vida na presença de Deus, que é a vida vitoriosa. Uma autoestima negativa leva a todo tipo de
pensamento e comportamento destrutivo, pecaminoso. Sabendo quem somos não nos
estregaremos aos vícios, à imoralidade e sensualidade, à inveja, à maledicência etc.

O que o sofrimento produz?

III Aperfeiçoamento v.7-10


O v.9 fala que Jesus foi “aperfeiçoado”. Mas como lembra uma nota da Bíblia de Estudo de
Genebra, isso não significa que Jesus tornou-se sem pecado, pois Ele não os tinha (Hb 4.15).
Significa que Ele cumpriu a carreira de sofrimento que lhe foi confiada. E, da mesma forma,
temos uma carreira proposta em nossa conversão a Cristo e devemos ser aperfeiçoados. E em
que áreas esse aperfeiçoamento acontece? Vejamos:
• Oração (v.7): Aqui se vê uma referência ao jardim do Getsêmani; onde vemos que Jesus
ora fervorosa e intensamente. E diz o texto que Deus ouve. E como Deus ouve? Não foi
livrando Jesus da morte na cruz; mas trazendo-O à ressurreição dos mortos. Assim, o
sofrimento nos faz ter uma visão maior da vida. Orações que não são respondidas da
maneira que preferimos têm respostas maiores. Por exemplo, ao se consagrar para ser
monge por não ter morrido diante de um raio, Lutero se torna mais que um monge.
Portanto, se as nossas orações não estão sendo respondidas como preferimos é porque
Deus tem algo melhor e maior.
• Obediência (v.8): Qual foi a obediência que Jesus teve que aprender? Em Sua
humanidade foi a capacidade de suportar a cruz, o evento central de Sua vida. E o
evento central de nossas vidas é seguirmos a Jesus dia a dia; e o sofrimento faz a pessoa
ser obediente. O Sl 119.71 diz: “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que
aprendesse os teus decretos”. Thomas Watson, um puritano do século XVII, disse que o
sofrimento “é a medicina que Deus usa para nos libertar de nossas doenças espirituais”. E
Deus, como um Pai de amor perfeito, sabe fazer e vai fazer isso, se insistirmos em manter
nossas doenças espirituais e de caráter. Por isso, Oswald Chambers diz: “A verdadeira
medida de uma vida espiritual, não é seu êxtase, mas a obediência”. Nossa época
precisa redescobrir esta verdade; pois o emocionalismo não produz verdadeira vida com
Deus. Assim, ao invés de reclamar do sofrimento, que o acolhamos como presente
gracioso.

3
Trecho da música “Ideologia”, de Cazuza.
4
“Não sou o que penso que sou; não sou o que as pessoas dizem que sou; não sou o que o diabo diz que sou; sou aquilo que
Deus diz que sou” (origem desconhecida).
• Benefícios de salvação (v.9-10): O sofrimento de Jesus na cruz foi uma necessidade; pois
um homem teria que sofrer a penalidade do pecado. E a inclusão do nome de
Melquisedeque aponta para o chamado divino de Jesus para ser o Autor da nossa
salvação. O benefício do sofrimento de Jesus foi a nossa salvação. E todo sofrimento, por
mais sem sentido que pareça, produz benefícios diversos de salvação. Mesmo o
sofrimento de Jó, o qual não teve resposta satisfatória do ponto de vista da lógica
humana, produziu o benefício do conhecimento de Deus (Jó 42.5). E não se pode
desprezar este conhecimento; pois, para Paulo era a razão, a grande busca de sua vida
(Fp 3.7-8), e deve ser a nossa também. Lembremos que a ostra só produz pérola se for
ferida. Assim, que consigamos ver cada sofrimento sob essa luz!

Conclusão
O autor afirma que o ministério sacerdotal de Jesus, segundo a ordem de Melquisedeque é difícil
de explicar, por causa da imaturidade dos leitores (v.11-14). A falta de obediência, de mais
desejo de obedecer à Bíblia que produz esta imaturidade; e isso acaba destruindo a compaixão
tão necessária no relacionamento com os irmãos. É a imaturidade que luta contra valorizarmos
nossa verdadeira identidade e contra o crescimento, o aperfeiçoamento de levar salvação
através do nosso conhecimento de Deus.
E alguns sinais de imaturidade são dados no texto:
• Demora em ouvir (v.12): Omissão em ler, estudar e meditar na Bíblia.
• Viver atrás de pessoas para “ensinar” o básico (v.12): Na verdade, já sabem; mas como
não obedecem e as coisas dão errado por esta causa, ficam querendo encontrar
soluções mágicas nas coisas básicas.
• Falta de prática (v.13-14): Protelação em fazer o que se sabe que se deve fazer. O
conhecimento, a maturidade vêm através da prática. E praticar, na maioria das vezes,
não tem glamour, não é “romântico5”.

Gary L. Thomas afirma: “Maturidade na fé não é garantia que experimentaremos menos


sofrimento. Na verdade, pode bem significar que experimentaremos mais”. E é por isso que
muitos se contentaram com uma vida cristã medíocre, sem sabor, rasa. Não estão dispostos a
pagar o preço de uma vida com Deus (2 Tm 3.12); e, talvez principalmente por isso, não
experimentem uma vida profunda com Deus.
Que consigamos ir além desta geração que amaldiçoa o sofrimento e vejamos as
bênçãos contidas no mesmo! Que Deus nos ajude!

5
Expressão usada pelo Pr. Simonton quanto a ação.
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 6
UMA DRAMÁTICA EXORTAÇÃO AOS
HERDEIROS DAS PROMESSAS

O LIVRO DE HEBREUS
Texto: Hebreus 6
Tema: Uma dramática exortação aos herdeiros das promessas

Introdução: O autor já falou da superioridade de Jesus aos anjos, Moisés, Josué e Arão; mas, este
não é seu único objetivo e este capítulo (juntamente com 5.11-14) mostra isso. Havia também
uma ardente preocupação com o estado da Igreja e da alma de cada cristão. Por isso, estamos
diante de uma exortação dramática, incisiva, contundente. O autor insiste para que seus leitores
sejam firmes, cresçam na fé, amem e se agarrem a Jesus custe o que custar. E, para isso, usa
palavras e conceitos fortes, diretos, como veremos a seguir.
Em face disso, podemos e devemos pensar em duas implicações práticas: 1) a que ponto
e de que maneira temos insistido com as pessoas para que se voltem ou se firmem com Jesus?
Ou somos daqueles que somente criticam!? 2) Já nos questionamos sobre a autenticidade de
nossa própria fé? Fazemos algum tipo de autoexame? Lembremo-nos que esta é uma prática
essencialmente bíblica (2 Co 13.5; 2 Pe 1.10-11; Ap 2.5). Infelizmente, em geral, os que fazem
exame da vida de outros não costumam fazer o autoexame. Que Deus nos livre disso!
Os que agem assim são os que “herdam as promessas” (6.12). Essas promessas não só se
referem à salvação futura, seja na morte ou no Juízo Final; mas também à vida que Deus tem
para cada cristão aqui, que contribui para Seu plano de redenção para todo o universo (Rm
8.19-23). E isto enche a vida de sentido e de alegria. É isso que buscamos? Já compreendemos
que temos as promessas de Deus? Quem são os herdeiros das promessas?

I São os que buscam maturidade v.1-3


Após uma dura repreensão em 5.11-14, o autor segue encorajando seus leitores a lutarem pela
maturidade. Uma fé madura exige:
• Luta: Para crescer na fé é preciso esforço. É bom lembrar isso (Fp 1.27; Jd 3).
• Conhecimento das doutrinas cristãs: Há os que, com medo de que a vida cristã caia
apenas na teoria, acabam desprezando a doutrina. No entanto, vejamos que o v.1 fala
dos “princípios elementares da doutrina de Cristo”. Assim, não existe cristianismo
verdadeiro sem o conhecimento saudável das doutrinas corretas de Cristo. Agora, o que
cada um vai fazer com elas, já é outra história e exige outros tipos de ações, como por
exemplo, a admoestação.
Fazer isso é se deixar “levar para o que é perfeito” (v.1). O autor dá alguns exemplos de doutrinas
básicas que, exatamente por serem básicas, são necessárias (v.1-20):
• Arrependimento de obras mortas: É o afastar-se de tudo que seja prejudicial à vida de
Deus em nós. Aqui deve ser levado em conta com seriedade 1 Co 6.12: “Todas as coisas
me são lícitas, mas nem todas...”
• A fé em Deus: É a resposta que se dá a Deus dia a dia, mediante cada detalhe que nos
acontece.
• Ensinos de batismos: Havia vários tipos de batismos naqueles dias: de prosélitos
(convertidos ao judaísmo); o de João Batista (Mt 3.7); o em nome da Trindade (Mt 28.19);
etc. Ao usar a expressão “batismos” ele está distinguindo o batismo cristão dos tantos
outros.
• Imposição de mãos: Este ato litúrgico era muito usado para várias circunstâncias: curas
(Mc 16.18), recebimento do Espírito Santo (At 8.17), ordenação (At 13.3), etc.
• Ressurreição dos mortos: Outro assunto tratado com seriedade na Igreja Primitiva (1 Co 15,
por exemplo).
• Juízo eterno: Trata do Juízo Final.
Isso era importante para o autor, o qual disse que, se desse tempo, eles analisariam estes
assuntos (v.3). Assim, estes não são detalhes sem importância, mas verdades básicas por onde a
vida de Cristo flui e se torna real na vida das pessoas e da Igreja. Um exemplo da seriedade
destas doutrinas é visto em 1 Tm 5.22 (sobre imposição de mãos).
Não se deve, é claro, cair em disputas sem lógica e objetivo, mas entender a maneira
correta e aplicar tais doutrinas como se fosse um sacramento; ou seja, sinais visíveis da graça
invisível de Deus. Os “herdeiros da promessa” levam isso muito a sério. E continua a pergunta:
Quem são os herdeiros da promessa?
II Os que buscam uma vida de arrependimento v.4-8
Estes versículos mostram o perigo da falta de maturidade, da falta de crescimento na fé. E a falta
de maturidade se manifesta através da falta de arrependimento profundo e contínuo. Esta é a
verdade central destes versículos. Em Lc 13.1-5 vemos que não importa o que aconteça aos
outros, o que cada um de nós precisa é de arrependimento. E na sequência (Lc 13.6-9), Jesus
conta uma parábola mostrando que o tempo que temos, a vida que ainda conservamos, não é
para ser gasta em críticas e julgamentos a outros, mas para buscarmos arrependimento por nós
mesmos.
Em Hb 6.4-6 temos um daqueles textos difíceis, mas não impossíveis de interpretar. Este
texto é usado para a questão: é possível perder a salvação? O entenderemos a partir de 3
perguntas: quem são as pessoas mencionadas? O que acontece a estas pessoas? Por quê?

Quem são as pessoas mencionadas em Hb 6.4-6?


• “... foram iluminados”: Nos inícios cria-se que os iluminados eram os que se batizaram.
Porém, tem mais o sentido de “algum conhecimento da verdade”.
• “... provaram o dom celestial”: Significa a participação em realidades ativas da verdade,
como por exemplo, o cântico e a oração conjunta, participação na, na evangelização
etc. Um precedente bíblico para isso é o misto de gente que saiu do Egito com Israel (Êx
12.38). Eles também viram os atos celestiais de Deus.
• “... se tornaram participantes do Espírito Santo”: Ou seja, aqueles que, por estarem no
meio do povo de Deus, veem a ação do Espírito. Isso aconteceu em Atos 2, quando as
pessoas presenciam o dom de línguas, por exemplo.
• “... provaram a boa palavra de Deus”: Isso consiste em ouvir e obter alimento espiritual
vindo da proclamação da Palavra de Deus.
• “... e os poderes do mundo vindouro”: Isto é, tudo que foi dito nas 4 afirmações anteriores
são formas de já experimentar os poderes do mundo que virá em Cristo; e os poderes
exercidos por Cristo e pela igreja com os sinais, prodígios e milagres.

O que acontece a estas pessoas?


“... e caíram”: Este cair não é uma queda em algum pecado, um desvio temporário. É uma
referência à apostasia. Ou seja, a uma rejeição definitiva e irreversível do evangelho da graça
de Deus em Cristo.
Kistemaker faz séria advertência ao afirmar que “a apostasia não acontece de repente e
inesperadamente. Antes, é parte de um processo gradual, um declínio que vai da incredulidade
à desobediência e daí à apostasia”. Ou seja, é o perigo de nos acostumarmos com nossos
pecados; desprezarmos a necessidade contínua de arrependimento. É não nos lembrarmos de
nossa pecaminosidade. Pessoas que oram como Agostinho nunca apostatarão da fé: “Ó Senhor,
livra-me de mim mesmo”! Sem esta consciência “é impossível outra vez renová-los para
arrependimento”.

Por que é impossível essa renovação para arrependimento?


Porque quem apostata está “crucificando de novo a Jesus”: Quem “cai” (apostata) declara que
Jesus deve ser eliminado (Kistemaker). Isso é visto em Atos 2.23: “... vós o matastes, crucificando-
os por mãos de iníquos”.
E, além disso, está “expondo Jesus à ignomínia” (vergonha pública). Ou seja, passa a ser
um inimigo que busca meios públicos de ridicularizar a Jesus. Isso é visto em muitos ateus; dentre
os quais, boa parte teve uma formação cristã.
Assim, uma conclusão desta pequena e importante seção pode ser definida por um
princípio básico e simples de interpretação, resgatado na Reforma Protestante, que é: “um texto
mais difícil deve ser interpretado à luz de um texto mais fácil”. Quem são estes que não podem
ser renovados para arrependimento? São os que, conforme Mc 4.16-19 possuem uma “fé
temporária”; e, conforme 1 Jo 2.19 “não eram dos nossos”. Ou seja, não possuíam a verdadeira
fé salvadora, apesar de terem experimentado no meio do povo de Deus muitas bênçãos.
A questão aqui, portanto, não é se se pode perder ou não a salvação. A questão é: a
apostasia é uma ameaça e o remédio contra ela é a perseverança através do arrependimento
contínuo. E os v.7-8 comprovam isso. A chuva do evangelho que cai no meio do povo de Deus
vai nos levar a produzir frutos dignos de arrependimento (Lc 3.8-14; 13.6-9). E assim, a pergunta
permanece: quem são os herdeiros das promessas?

III Os que imitam aqueles que herdaram promessas v.9-20


A imitação sendo legítima é uma prática importante de aprendizado e transformação. E, após a
dura advertência, o autor carinhosamente afirma que seus leitores não se encaixam entre
aqueles que foram descritos (v.4-6). É interessantemente humana a forma como ele parece até
se justificar no v.9. Parafraseando: “Olha, vocês não têm nada a ver com estes que acabei de
falar. Vocês são diferentes. Até desculpa o jeito de falar”! Na verdade, este autor nos ensina que
a melhor forma de incentivar mudanças é sendo positivo.
E por que ele fala assim? Porque eles evidenciavam trabalho, amor servindo aos santos
(v.10). E Deus não esquece isso. Pecados Ele esquece (Is 43.25; Mq 718-19; Hb 8.12), mas nossos
atos de bondade, não. E notemos que esse trabalho amoroso não é uma coisa mística,
desencarnada. São ações concretas dirigidas aos “santos” (Mt 10.42; 25.40). Esta expressão se
refere aos irmãos em Cristo que em outro tempo e lugar sofreram perseguições (Hb 10.32-34); e,
com certeza, aos irmãos da comunidade deles mesmo.
Deve ser lembrado, portanto, que isso se configura em trabalho para Deus: cuidar dos
irmãos. Ajudá-los, restaurá-los. E já que é assim, creio que vivemos uma época em que podemos
ofertar um trabalho amoroso a Deus em abundância; pois temos visto muitas pessoas com a
história e a vida muito machucada, por tantas razões e necessidades. Como exemplo, podemos
pensar nos filhos esquecidos, abandonados pelos pais; cônjuges feridos, ressentidos; pais
ostracizados, desprezados por filhos duros ou indiferentes; crentes quebrados por igrejas abusivas;
etc. O que eu e você temos feito nesse sentido? Quanto de nosso tempo e dinheiro investimos
em pessoas assim?
O que é preciso para que imitemos aqueles que herdam promessas?
• Luta contra a preguiça (v.11-12): Num mundo tão corrido e cheio de atrativos e propostas
que tomam tanto de nosso tempo, uma preguiça até mesmo fruto do cansaço, pode
tomar conta de nossa vida com Deus. Além disso, as injustiças, as ambiguidades do nosso
coração e emoções, e a aparente fraqueza do cristianismo podem causar preguiça de
continuar firmes em Jesus. C. S. Lewis disse: “Se eu fosse te recomendar uma religião para
lhe fazer sentir confortável, certamente não lhe recomendaria o cristianismo”. Herdar
promessas inclui a luta contra a preguiça para buscar a Deus.
• Esperar com paciência (v.13-15): O exemplo clássico de um patriarca do AT que herdou
promessas é Abraão. Ele esperou “contra a esperança” e se tornou “pai de muitas
nações” (Rm 4.18). É um verdadeiro desafio acertar o relógio de uma era tecnológica
com o relógio de Deus em várias ocasiões1; mas esse é o caminho para se herdar as
promessas de Deus. É interessante notar que Jesus diz que Deus age depressa (Lc 18.7-8).
• Confiar no compromisso de Deus para com Seus filhos (v.16-20): A figura do juramento
usada nestes versículos é para mostrar que as promessas de Deus são certeiras. As “duas
coisas imutáveis” (v.18), que são a 1) natureza de Deus (Seu caráter) e 2) Seu juramento,
Sua promessa, são a garantia de que, se permanecermos firmes, herdaremos todas as
promessas de Deus aqui e na glória futura e eterna. E como conseguimos isso? Somente
tomando a firme decisão de confiarmos em Deus. Um exemplo, já quase comum, dessa
verdade está em José do Egito. Permaneceu firme e sofreu por isso; mas alcançou a
realização das promessas que Deus lhe havia dado em sonhos. Deus não mente (Nm
23.19).

Conclusão:
Quem são as pessoas que herdam promessas?
• Buscam maturidade.
• Buscam uma vida arrependimento contínuo.
• Imitam aqueles que herdaram promessas.
Certamente, algo que os impeliu foi a esperança. É isso que está proposto no final do v.18 e
vai até o v.20. A esperança é como uma âncora que segura o navio firme, a despeito da fúria
dos ventos ou das correntes marítimas. E é linda a forma como o autor de Hebreus a descreve

1
É verdade que há vezes em que Deus age muito mais rápido do que as mais poderosas tecnologias.
nos v.19-20: ele penetra no Santo dos santos da glória celestial, onde Cristo habita. Ter esperança
em Jesus é vivermos onde Ele vive (Ef 2.6). Ter esperança é vivermos na presença de Jesus, face
a face com Ele. E porque Ele está lá como nosso sumo sacerdote, podemos ter a esperança de
herdarmos todas as promessas de Deus. Porque Ele vive para interceder por nós diante do Pai
(Hb 7.25; 1 Jo 2.1; Zc 3.1-7).
Assim podemos perguntar: isso não é assombrosamente maravilhoso!?
Que Deus nos ajude!
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 7
A ORDEM DE MELQUISEDEQUE
SALVAÇÃO TOTAL

O LIVRO DE HEBREUS
Texto: Hebreus 7
Tema: A ordem de Melquisedeque – salvação total

Introdução: Depois dos argumentos sobre a superioridade de Jesus e a necessidade de um viver


cristão zeloso (cap. 1-6), marcado principalmente, pelo arrependimento contínuo; agora o autor
vai dissertar sobre os pormenores de como Jesus é o nosso Grande Sumo Sacerdote, tendo como
base a promessa do Sl 110.4. É bom lembrar que o papel do sacerdote era apresentar e
representar os homens diante de Deus. Ao estabelecer a comparação entre Melquisedeque e
Jesus, o escritor pontua a plena e total salvação que pode vir só de Jesus. Este é um tópico
defendido em outros escritos do NT. Ou seja, a salvação vem só de Jesus e não de Jesus e mais
alguma coisa1. Salvação é um ato exclusivo de Deus em Jesus Cristo. Por isso, os que estão em
Cristo, não importam as circunstâncias internas ou externas, ou a variação das nossas emoções,
devem saber que têm uma salvação completa porque têm um Salvador completo.

I A história e a importância de Melquisedeque2 v.1-10


Há os que acreditam que Melquisedeque seja uma “Cristofania” (aparição de Cristo pré-
encarnado); porém, ele se encaixa melhor na categoria de um “tipo” de Cristo. “Tipo é uma
relação representativa preordenada que certas pessoas, eventos e instituições têm com pessoas,
eventos e instituições correspondentes, que ocorrem numa época posterior na história da
salvação3”. Nestes versículos vemos:

1 A história de Melquisedeque (v.1-3): Aqui vemos quem ele é o que fez: Rei e sacerdote de
justiça e paz; vai ao encontro de Abraão, o abençoa e recebe os dízimos deste. Isso mostra a
superioridade de Melquisedeque a Abraão; o qual era tido em altíssima conta pelos crentes
judeus. E a ausência de dados (v.3) leva o autor a compará-lo a Jesus. E isso traz algumas
implicações para nossa vida com Jesus:
• Em nossa luta pela vida com Deus, Jesus sempre vem ao nosso encontro mostrando Sua
aliança conosco: Gn 14 diz que levou pão e vinho para Abraão (lembra os elementos da
Santa Ceia).
• Este encontro é para trazer a bênção da justiça e da paz: Deus sempre vai nos tratar com
justiça e dar paz; em especial, perdoando nossos pecados (Deus não nos perdoa à parte
da justiça) e promovendo nossa santificação.
• Temos que responder concretamente às bênçãos: Abraão “pagou” o dízimo a ele.
Resposta concreta, não apenas de intenção ou palavras. Gratidão são atitudes.
E podemos perguntar a nós mesmos: Temos ido ao encontro das pessoas? Quando vamos, o que
levamos? Justiça e paz ou acusações e discórdias? Como respondemos à aliança de Deus
conosco? Somos dizimistas de tudo?

2 A importância de Melquisedeque (v.4-10): No alvo de manter os hebreus firmes em Jesus, a


despeito da formação judaica deles, o escritor mostra que Melquisedeque era superior a Abraão
e ao sacerdócio levítico. E a explicação é que a tribo de Levi, em Abraão (v.9-10), pagou os
dízimos para Melquisedeque; comprovando, assim, a sua superioridade a esta tribo. E Jesus,
sendo comparado a Melquisedeque, também é maior que o sacerdócio levítico.
O v.8 precisa de atenção: Melquisedeque, nos dias da escrita da carta, estava vivo? A
resposta de Kistemaker é esclarecedora: “Por causa de sua semelhança com o Filho de Deus e
por ser assim um tipo de Cristo, Melquisedeque continua vivo por meio da Escritura (grifo nosso),
embora não historicamente”. Talvez não seja “forçar a barra” pensar que nós, mesmo quando
aqui não mais estivermos, desejemos estar na história de muitos e de maneira abençoadora.
E neste parágrafo, duas verdades práticas podem ser delineadas:
• Atenta observação dos personagens bíblicos: Depois de apresentar Melquisedeque, o
escritor ordena que os leitores olhassem com atenção para o mesmo. A palavra grega
traduzida por “considerai” (theoreô: v.4, de onde veio “teoria”) também pode ser

1
Exemplo: a carta aos Gálatas propunha Jesus e mais a circuncisão; Colossensses, Jesus e um conhecimento superior...
2
As divisões básicas deste capítulo seguem a exposição de Simon Kistemaker.
3
Por exemplo: Jo 3.14-15 (um evento tipológico); Davi como rei foi um “tipo” de Cristo etc.
traduzida como “ver mentalmente”, “desfrutar da presença de alguém”. Ou seja,
precisamos ler mais imaginativamente a Bíblia e ver Cristo em Sua plenitude em tudo.
• A questão dos dízimos: Podemos notar que para mostrar que Melquisedeque era maior
que Abraão e compará-lo a Cristo, o autor usa a questão de o patriarca ter dado o
dízimo. Ele repete várias vezes essa palavra. Apesar de o NT não apresentar prescrições
específicas sobre o dízimo, não vemos nada também que desabone, condene ou proíba
sua prática. O abuso atual de alguns não justifica sua abolição. Somos dizimistas? Pelo
que estudamos podemos entender que quem não é dizimista não admite a superioridade
de Cristo sobre sua vida?

2 A necessidade de um sacerdócio superior v.11-19


Por que Deus queria estabelecer a vigência de outra ordem sacerdotal, neste caso a de
Melquisedeque?
• Por causa da insuficiência da Lei para a salvação (v.11-12): Este sacerdócio se
caracterizou pelas demandas da Lei (moral, ritual, civil); a qual, segundo Paulo, produz
morte (Rm 7.7-25). Segundo este texto, a lei só trouxe frustração devido à impossibilidade
de guardá-la plenamente. Ela só revelava a falta e o fracasso dos homens e não
aperfeiçoou ninguém (v.19).
• Por causa da origem do sacerdote (v.13-19): Jesus não era da tribo de Levi. Era de Judá
de onde saiu a linhagem dos reis de Israel. No entanto, um rei não podia acumular a
função de sacerdote. Uzias foi punido por tentar fazer isso (2 Cr 26.16-21). Mas isso
aconteceu porque Uzias não era o Messias prometido que teria condições de suportar em
si o castigo e ser o sacrifício por ser também o rei. E não sendo da tribo de Levi condiz com
a origem divina profetizada no Salmo 110.4 e explicada pelo autor de Hebreus. E é essa
origem divina que dá a Jesus “o poder da vida indissolúvel” (v.16). Ou seja, só um
sacerdote eterno teria condições de ser o sacrifício perfeito para nos oferecer uma
salvação completa.
Temos aqui alguma implicação prática para nós? Certamente. Notemos que até Deus parece
buscar aperfeiçoamento em Seu plano redentor. Ele estabelece o sacerdócio levítico, mas
depois o aperfeiçoa em Jesus, mas tendo como base a Escritura. E isso implica que nós, os filhos
de Deus, precisamos viver questionando nossos conceitos, nosso entendimento do evangelho
aplicado a todas as áreas da vida. Um exemplo: na época de Lutero, a crença era que a
salvação era pelas obras; mas buscando aperfeiçoamento, Lutero redescobre que a salvação é
pela graça mediante a fé. E assim, não só podemos como também devemos buscar
aperfeiçoamento para salvação em nossos pontos de vista sobre a área profissional à luz do
evangelho, a relacionamentos, a família, o casamento, etc.

3 O sacerdócio de Jesus v.20-28


Assim, por que os hebreus devem permanecer firmes em Jesus e abandonarem a confiança no
sacerdócio levítico?
• Por causa da base do sacerdócio de Jesus (v.20-22): O sacerdócio levítico foi instituído por
meio da lei divina; o sacerdócio de Cristo, por meio do juramento divino. Uma lei pode ser
anulada; um juramento dura para sempre. No salmo 110.4 Deus jurou que daria um
sacerdote que traria plena salvação a nós. E “quando Deus acrescenta um juramento à
Sua própria palavra a questão fica duplamente garantida (cf. Hb 6.18)” (D. Guthrie).
• Por causa da indestrutibilidade do sacerdócio de Jesus (v.23-25): Os sacerdotes levíticos
morriam; mas, o sacerdote Jesus não. Ele até morreu, mas Sua morte foi eclipsada por Sua
ressurreição. Ele é indestrutível. Ele “continua para sempre” (v.24). É por isso que pode nos
salvar e interceder por nós. Ele nos conhece. Não precisamos ficar contando e
recontando nossa história porque, como aquele que vive eternamente, Ele conhece
perfeitamente a nossa vida e nos aceita em nossa total inaceitabilidade. E isso exige uma
fé robusta. E esta fé robusta, como disse Paul Tillich “é aceitar o fato de que sou aceito,
em minha total inaceitabilidade”.
• Por causa da perfeição do sacerdócio de Jesus (v.26-28): Os v.26-27 pontuam em termos
vigorosos a perfeição de Jesus que o capacitou a ser um sacerdote completo ao nosso
favor. Jesus é santo, sem culpa, sem contaminação, separado dos pecadores no sentido
de não ser pecador e exaltado (v.26). Enfim, conforme o v.28, Jesus é perfeito. E o
sacrifício tinha que ser perfeito para nossa salvação. Jesus ofereceu Sua perfeição para
nos salvar.
Surge, então, a pergunta: o que isso tem a ver conosco? Entalhada no v.25 está a expressão “os
que por Ele se chegam a Deus”. O que isso nos diz? Deus montou um verdadeiro esquema de
salvação. Porém, é preciso que nos acheguemos a Deus. Esta salvação não vem a nós à revelia
de nós mesmos. Precisamos reconhecer nossa condição desesperada e desesperadora por
causa de nossos delitos e pecados; e, em arrependimento e fé, estendermos nossas mãos ao
Senhor Jesus e recebermos esta salvação.

Conclusão
O clássico da literatura cristã mundial O Peregrino tem um trecho lindíssimo quanto à
completude da salvação em nossas vidas. É quando Intérprete toma Cristão pela mão e o leva
a um lugar onde se via uma fogueira ardendo diante de uma parede. Ali perto havia alguém
que jogava muita água com a intenção de apagá-la, mas as chamas aumentavam. Quando
perguntado por Cristão o que era aquilo, Intérprete responde:
- “Esta fogueira é a obra da graça que se opera no coração. Aquele que joga a água, tentando
apagá-la, é o diabo; mas você pode ver que o fogo, assim mesmo, fica sempre maior e mais
quente”.
Levado por Intérprete par trás da parede, Cristão vê um homem com um vaso de óleo nas mãos.
Ele, em segredo, derramava continuamente óleo no fogo.
- “O que isso significa”? Cristão pergunta.
- “Este é Cristo, que continuamente, com o óleo da Sua graça, mantém viva a obra já iniciada
no coração, e por meio dessa obra, a despeito de tudo o que pode fazer o diabo, as almas dos
crentes se provam piedosas. Mas você observou também que o homem fica atrás da parede
para alimentar o fogo. Isso é para ensinar-lhe que é difícil para aquele que é tentado ver como
essa obra graciosa se conserva na alma”.
Isso é uma prova de que nossa salvação em Cristo é perfeita e completa. E isso implica
em continuarmos perseverando dia a dia neste santo e maravilhoso caminho. Que tipo de
“água” o diabo tem jogado em nossas vidas? Quais as artimanhas, estratégias, tentações e
propostas ele tem usado contra nós? Pela fé, vejamos que Jesus, misteriosamente, continua
derramando o óleo de sua graciosa salvação em nosso coração.
Que o Salvador perfeito e completo nos ajude!
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 8
A NOVA ALIANÇA
UMA ALIANÇA DO CORAÇÃO

O LIVRO DE HEBREUS
Texto: Hebreus 8
Tema: A nova aliança – uma aliança do coração

Introdução Após comparar Jesus com Melquisedeque (cap.7), o autor e mostrar que Jesus é o
sacerdote divino prometido por Deus com juramento no Salmo 110.4. A afirmação “Ora, o
essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote...” confirma isso. E
agora, no capítulo 8 o autor mostra que era (e é) preciso uma nova aliança, um novo pacto.
É preciso lembrar (ou saber) que a distância entre nós e Deus é imensamente grande em
todos os sentidos, e que só conseguimos nos relacionar com Ele através de um pacto. E este
pacto é proposto pelo próprio Deus. O autor de Hebreus lembra que houve um primeiro pacto
com base na guarda de diversos tipos de leis sintetizadas no Pentateuco (Gl 3.12; Rm 5.12-14;
10.5; Gn 2.17). Mas o homem falha em sua observância (Gn 3). Por isso, Deus em Sua infinita
misericórdia e graça propõe um novo pacto em Jesus. “Neste pacto Deus oferece
gratuitamente, a pecadores, vida e salvação por Jesus Cristo, requerendo-lhes fé n’Ele para que
sejam salvos1...” E é neste pano de fundo que vamos analisar este capítulo. Veremos a nova
aliança, este novo pacto em 3 aspectos: seu alcance, seu mediador e suas características.

I O alcance da nova aliança v.1-2


Estes versículos falam do “santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu”. O
tabernáculo no deserto, que representa a presença de Deus entre Seu povo, era uma réplica
deste. E ele foi profanado pelo nosso pecado. E o alcance da nova aliança se estende a ele. E
isso por quê:
• Jesus está “assentado no santuário celestial (v.1): Essa posição revela o reinado e o
sacerdócio eterno de Jesus, além de honra e autoridade, cumpridos com Sua ascensão.
• Jesus está servindo no santuário (v.2): Diante de Deus o serviço de Jesus é apresentar Sua
obra sacrificial e substitutiva a Deus; e interceder pelos pecadores.
• Jesus serve no santuário que é o verdadeiro tabernáculo (v.2): O tabernáculo em que
Jesus serve não é aquele provisório no deserto, mas o celestial. Este tabernáculo, por
causa do nosso pecado, foi profanado; e dali flui as bênçãos para os pecadores.
Portanto, o alcance da nova aliança se estende além de nós mesmos. Ele acerta nossa conta
diante de Deus. E disso vem o tom de certeza da salvação porque temos Jesus como sumo
sacerdote perfeito e completo. E esta salvação não se baseia em alguma mudança em nós,
alguma reorientação da vida em direção a Deus; mas se firma sobre a grande dádiva da Pessoa
que nos foi presenteada, a saber, Jesus, o sumo sacerdote celestial. A salvação vem desta
realidade “fora” de nós. Salvação não é o que fazemos, mas o que Deus em Cristo, por Seu
Espírito, faz em nós.

II Jesus, o mediador da nova aliança v.3-6


O Cabeça desta nova aliança, aquele que seria o responsável por estabelecê-la era Jesus. E
estes versículos o descrevem. Na verdade, aqui o autor repete o que já havia dito em 5.1-3. Seu
objetivo é imprimir de maneira forte esta verdade na mente e coração de seus leitores. Aqui
vemos:
• A capacidade deste sacerdote (v.3): Como sacerdote do tabernáculo celestial, Jesus
tinha que oferecer “dons e sacrifícios2”. No caso aqui, Jesus mesmo foi o dom e o
sacrifício.
• Sua origem divina (v.4): O autor repete a ideia da divindade do sacerdócio de Jesus. Aqui
é uma referência rápida ao que vimos no capítulo 7.
• Jesus como o cumprimento dos “dons e sacrifícios” (v.5): Todas as leis rituais do AT se
cumprem em Jesus. Todas elas em conjunto convergem em Jesus. Não se pode
compartimentar demais, pois pode causar alguns mal-entendidos. Um exemplo é a
doutrina que propõe que Jesus é o cordeiro que era imolado e o bode azazel, que era
solto no deserto, é o diabo.

1
Confissão de Fé Batista de Londres de 1689, cap.VII, parág. 2.
2
O livro de Levítico, em especial, nos mostra estes dons e sacrifícios, principalmente, em seus capítulos iniciais.
• A superioridade de Jesus (v.6): Jesus é superior em Seu ministério (não ofereceu animais);
na aliança que serve como mediador (a aliança da graça); e nas promessas que obteve
para seu povo. E estas serão vistas nos versículos seguintes.
Diante disso, devemos perguntar: o que isso tem a ver conosco? Tudo isso, toda essa operação,
todo este trabalho é para mim e para você e para todos os que confiarem em Jesus. A
progressão da redenção, a perfeição graciosa da nova aliança é para que recebamos e
desfrutemos as riquezas e belezas da salvação em Jesus. Não é para se tornar motivo de
debates e discussões acadêmicas, frias e desconectadas do viver diário. Assim, é por isso que
não devemos perder a esperança e confiarmos “cegamente” no amor de Deus. Não há casos,
causas e pessoas tão perdidas para Deus. A força e a perfeição de sua salvação nos atingem
em nossos maiores empreendimentos pecaminosos e desesperados.
Ainda, sua promessa em Jo 14.3 de estarmos onde Ele estiver incluía assentarmo-nos com
Ele em Seu trono (Ap 3.21); e isso confirma que Cristo nos fez reino e sacerdotes para servir Seu
Deus e Pai (Ap 1.6). E isso se desenvolve na vida diária em todas as áreas. Que Deus nos ajude a
experimentarmos isso!

III As características da nova aliança v.7-13


O v.7 começa dizendo do fracasso da primeira aliança. Com isso, porém, não se está
“sugerindo que a lei estava defeituosa, mas somente que a experiência do homem sob a lei era
defeituosa”. Paulo diz: “E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se
me tornou para morte” (Rm 7.10). É isso que vemos exposto nos v.8,9. O povo liberto do Egito não
conseguiu guardar os mandamentos de Deus. Alguém aqui acha que guarda perfeitamente
todos os mandamentos de Deus? Há alguém aqui que não peque?
Então, como é a nova aliança, o pacto da graça? O autor faz a maior citação do AT no
NT. Ele cita Jeremias (Jr 31.31-34) a fim de explicar a abordagem de Deus à nova aliança. A
expressão “depois daqueles dias” no v.10 é uma referência à era cristã. Vejamos:
1. Ela é impressa no interior da pessoa (v.10b): Deus diz que vai imprimir, colocar Sua lei no
coração e na mente do pecador rendido a Cristo. “Coração e mente” representam o
todo o interior do ser humano e mostra que a lei de Deus se torna parte de sua
consciência. A consciência se torna cativa da Palavra de Deus. Não se consegue mais
fugir da mesma.
2. Torna-nos propriedade particular de Deus (v.10c): Passa a existir um relacionamento
extremamente próximo entre Deus e o crente. Ele passa a ser um povo especial,
possessão particular de Deus. Na nova aliança Deus está inseparavelmente unido ao seu
povo, porque a lei de Deus está gravada em seu coração, através da qual Deus fala com
eles; e eles, pela oração, falam e se unem a Deus. É por isso que podemos nos aproximar
com coragem junto ao trono de Deus (Hb 4.16; 10.22). Na verdade, pode parecer difícil
para muitos, mas Deus quer que nos aproximemos d’Ele como um Pai.
3. Cria um conhecimento imediato e universal de Deus (v.11): A palavra “imediato” é aqui
usada no sentido de “sem meios, mediadores ou intermediários”. Ou seja, sem
“sacerdotes”, “especialistas”. A pessoa que entra nesta nova aliança pode conhecer a
Deus a diretamente. Além disso, todos, pequenos e grandes não só podem como devem
conhecer a Deus. Conhecer a Deus diretamente é um privilégio dado a todos
indistintamente (Cl 3.10-11; Hb 10.19-22). Deus não tem filhos prediletos. Podemos
conhecer a Deus profundamente através dos meios que Ele mesmo instituiu (Bíblia,
oração, sacramentos etc.).
4. Perdão completo (v.12): Lembremo-nos que a aliança é uma concessão graciosa de Deus
para que nos aproximemos d’Ele; pois naturalmente, por causa de nosso pecado e
pecados, estamos separados de Deus (Is 59.1-2; Ef 2.1-3). O pecado é, verdadeiramente,
o único problema que a humanidade tem. E esta nova aliança inclui o perdão pleno,
total, completo de Deus aos Seus. É linda a afirmação de Kistemaker: “Quando Deus
perdoa o pecado, Ele o faz para nunca mais lembrar-se deles”. E de forma ainda mais
bela e ousada este estudioso continua: “Isso significa que quando perdoado, o homem é
como Adão e Eva no Paraíso: sem pecado. O homem perdoado por Deus é aceito como
se nunca tivesse pecado antes”. E por que é assim? Por causa do caráter misericordioso
de Deus (Sl 103.8-14; Mq 7.18-19). Inclusive, diz Lm 3.22-23 que Deus é capaz de renovar
todos os dias a Sua incrível misericórdia. E, além disso, vemos que Deus se esquece dos
nossos pecados (Is 43.25; 44.22; Jr 50.20; Ez 36.25. Deus não cobra novamente os pecados
que já foram perdoados. D. Guthrie afirma: “Já não haverá possibilidade de pecados,
uma vez perdoados, serem levantados contra o povo de Deus”. E tudo isso por causa de
Jesus. Tudo foi cobrado e pago por Ele. Por isso, Ele disse na cruz: “Está consumado!” (Jo
19.30). Deus é justo. Não cobra uma conta duas vezes. Aleluia!

Quais as implicações destas preciosas verdades em nossas vidas?


1. Podemos ter uma boa autoestima: Pois temos a lei de Deus gravada dentro de nós. Temos
grande valor, portanto, para Deus.
2. Não estamos soltos, ao léu da sorte cega: Temos um dono. Somos propriedade particular,
exclusiva de Deus. E mais: Ele também se deixar se nossa propriedade. Temos um Deus
para adorar que nos satisfaz em tudo.
3. Podemos conhecer a Deus diretamente: Não importa nossa situação intelectual,
socioeconômica etc., podemos conhecer a Deus em todo tempo e lugar. Posso amá-lo e
servi-lo com alegria intensa.
4. Não precisamos carregar mais nossos pecados: Somos totalmente perdoados. Mas, e o
que fazer com as pessoas que insistem em jogar nossos pecados em nosso rosto? É Deus
quem nos justifica e pode ser lembrado que esse é um papel desenvolvido pelo diabo e
seus demônios.
5. Já que Deus está dentro de nós, não vamos conseguir fugir d’Ele: Ele estará o tempo em
nosso encalço. Lembremo-nos do que disse Francis Thompson: “Todas as coisas traem a ti,
que traíste a Mim”. Tudo nos trai, quando traímos Deus.

Conclusão: O v.13 pontua que primeira aliança se provou ineficaz. E é uma lembrança que
ninguém salva a si mesmo. A salvação vem de Deus que opera em nosso interior. Ela já passou.
Já desapareceu e ninguém deve dar a sua vida por ela, como os hebreus queria fazer, pois
pensavam em desistir de Jesus. Desistir de Jesus é odiar-se a si mesmo; a viver sem um referencial
norteador de vida; a se sentir vazio, sem um conhecimento que encha a alma de alegria e
esperança; e no desespero de ser engolido pelos próprios pecados.
Que Deus nos ajude a amar e a viver plenamente esta nova e maravilhosa aliança!
Soli Deo gloria!
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 9
UM TABERNÁCULO E UM SACRIFÍCIO SUPERIORES
A PURIFICAÇÃO DA CONSCIÊNCIA

O LIVRO DE HEBREUS
Texto: Hebreus 9
Tema: Um tabernáculo e um sacrifício superiores – a purificação da consciência

Introdução: No capítulo 8, o autor apresentou a nova aliança. E uma das razões pelas quais ela
se tornou necessária é que o tabernáculo celestial foi profanado pelo nosso pecado (8.1-2). Daí,
a ênfase do autor no capítulo 9 está na consciência (v.9,14). Ele mostra que, ainda que fosse
possível uma volta ao judaísmo, a consciência estaria mais perturbada ainda por causa dos
pecados. Inclusive, essa “desistência” é descrita por Pedro como uma porca lavada voltar ao
lamaçal e um cachorro ao seu vômito (2 Pe 2.22). Entende-se que é isso que experimentam os
“desviados”.
O cap.9 faz uma comparação minuciosa entre os sacrifícios do AT (no tabernáculo) e o
sacrifício de Cristo. É o sacrifício de Cristo quando aceito e vivido que purifica a consciência. Ele
é o sacrifício definitivo a nosso favor. E para chegar a esta conclusão, o escritor de Hebreus fala
do tabernáculo (9.1-10) e do sacrifício de Jesus (9.11-28). Isto é, a consciência é purificada a
partir da purificação do tabernáculo de Deus pelo sacrifício de Jesus. Não é lago que fazemos
por nós mesmos a nosso favor. É externo a nós. É Deus que faz por e em nós.
Como bom pastor, então, o autor quer seu povo livre em suas consciências para servir
livremente a Deus. Diferente de muitos pastores e líderes no decurso da história que, com
objetivos escusos, escravizavam e escravizam a consciência de seu povo.
A Bíblia fala de consciência em várias passagens (Rm 2.14-15; 1 Tm 1.5; 2 Tm 1.3; 1 Tm 4.2; Tt
1.15; etc.); e, por isso, uma definição de consciência precisa ser estabelecida. Clark H. Pinnock a
define como “a capacidade no homem de avaliar sua vida e passar julgamento favorável ou
desfavorável sobre ela”. Francis Schaeffer descreve a consciência culpada como um tirano, um
algoz, um carrasco, uma amarra, um “canzarrão preto, de patas enormes, saltando sobre mim,
ameaçando cobrir-me de lama e devorar-me1”. Sabendo disso, o autor de Hebreus vai mostrar
como se é livre desta consciência, por causa dos nossos pecados. E assim, como é nossa
consciência? Ela nos acusa ou nos defende? É sã ou doente, cauterizada, endurecida (o que
tão ou mais perigoso)?

I O tabernáculo e a consciência v.1-10


Estes versículos descrevem o tabernáculo, seus utensílios e serviços. Os v.1-5 descrevem mais
especificamente o tabernáculo em suas duas divisões básicas: o Santo Lugar (v.2) e o Santo dos
Santos (v.3). O autor descreve o que continha em cada um, mas não entra em detalhes. Diz que
não falaria pormenores agora (v.5). Contudo, 2 aspectos podem e devem ser pontuados:
• Regulamentação para a adoração: Todos os detalhes do tabernáculo mostram que a
prática da adoração não deve ser feita a bel prazer e criatividade pessoal. Ela tem seus
critérios. E hoje, este critério é o de João 4.24: “em Espírito e verdade”. Ou seja, pelo
Espírito Santo (1 Co 12.3). E a obra essencial do Espírito, conforme o contexto de João 4, é
a quebra da barreira entre judeus e gentios. Isto quer dizer que adoração a Deus se dá
na realidade da aceitação do outro. É assim que adoramos? Ou quando nos reunimos
em culto nosso coração está cheio de conteúdos ruins contra o outro?
• O santuário terreno como protótipo do celestial: Isso traz a séria verdade que, ao se reunir,
a Igreja deve refletir o santuário celestial. O que acontece no santuário celestial? Como
Deus, que é a razão da adoração, vê as pessoas? E assim, como vemos as pessoas?
Nossas reuniões e cultos são locais de aceitação, inclusive de nós mesmos? Ou nos
reunimos como aquele fariseu de Lc 18.9-14 que orava de si para si mesmo? Qual o
reflexo de Deus para o outro trago para o culto?
Se não é assim nossa adoração, por mais que pensemos bem de nós mesmos, nossa consciência
é impura; e, pior, está cauterizada, endurecida pelo mais enganoso e nefasto dos pecados: o
orgulho espiritual. Ou seja, o pensar que se é melhor que o outro2 diante de Deus.
Do v.6-10 é estabelecido o contraste entre o sumo sacerdote terreno e Jesus, o sumo
sacerdote celestial segundo a ordem de Melquisedeque. Os v.6-7 falam dos sacerdotes que
entravam no Santo Lugar todos os dias (com o fim de limpá-lo) e o sumo sacerdote que entrava

1
Francis Schaeffer, Verdadeira Espiritualidade, p. 121, Editora Fiel.
2
O capítulo “O Grande Pecado” do livro Cristianimo Puro e Simples dá um excelente tratamento sobre isso.
no Santo dos Santos uma vez por ano. E do v.8-10 o autor faz aplicações que podem ser
resumidas em duas proposições:
• Atenção à mensagem do Espírito Santo (v.8): O fato de uma só pessoa entrar no Santo
dos Santos uma vez por ano mostra a mensagem do Espírito Santo, revelando através da
lei que o santuário terreno não era suficiente3. Isso mostra que a aproximação de Deus
não se dá mediante nossa criatividade ou qualquer obra que se passe por meritória.

Externalidades não purificam a consciência (v.9-10): Rituais, comidas, bebidas, festivais



etc., nenhum ato externo satisfaz, trata, cura uma consciência impura pelo engano do
pecado. Precisamos ter o cuidado de “casarmos” o ato externo com o coração sincero
diante de Deus e dos homens. E tomar cuidado com as tradições que abraçamos e já
perderam o sentido. Alguns exemplos de tradições vazias que não purificam a
consciência estão em Mateus 23.
Portanto, cabe aqui perguntar, num autoexame, sobre nossas práticas e tradições. O que
fazemos em nossa vida com Deus que já não tem sentido (que já são tradições que observamos
que já se tornaram apenas um ritual)? Por exemplo, por que levantamos a mão na hora dos
cânticos? Vida cristã é vida, primeiro, de autoquestionar-se; porém, acima de tudo, um
questionar-se direcionado pela Bíblia. O questionamento certo, portanto, é: o que a bíblia diz
sobre isso que faço ou não?

II O sacrifício de Jesus v.11-28


A repetição é a mãe do aprendizado. E o autor de Hebreus faz amplo uso desta regra simples.
Ele vai argumentar novamente sobre o sacrifício de Jesus em nosso favor. A conjunção
adversativa “porém”, faz a ligação com o argumento anterior, onde vemos que externalidades
não purificam a consciência. No entanto, o sangue de Jesus faz isso. Vejamos:

1 O sangue de Jesus purifica nossas consciências v.11-14


E como este “processo” funciona?
• A Encarnação (v.11): o verbo “veio” é um indicador da Encarnação. Ou seja, Deus
assume a natureza e a vida humana, a fim de se identificar com cada pessoa. Deus sente
e vê a vida como nós; por isso, nos perdoa (Hb 2.16-18; 4.15).
• O lugar (v.11-12): Onde Cristo purificou nossas consciências? No tabernáculo celestial. O
peso do pecado, que é a culpa, a vergonha e o medo têm sua origem não meramente e
uma autoestima prejudicada por qualquer razão que seja. Na verdade, isso tem origem
diante de Deus, onde nosso pecado afetou.
• O meio (v.12): Como Cristo entrou no céu? Por meio de sua morte. Seu sangue derramado
é que realiza a nossa reconciliação com Deus. É isso que se chama “expiação”. Ou seja, o
perdão, a reconciliação obtida mediante a morte de outro.
• O propósito (v.12-14): A morte de Cristo nos traz redenção. O sentido é do pagamento de
um resgate. Isso pode ser “desenhado”, lembrando-nos de homens presos em jaulas, os
quais eram comprados por outros. É isso que a morte de Jesus faz comigo e com você. E,
Efésios 2.1-3, lembra que tipo de “jaula” vivemos sem Jesus. A alegria e a gratidão são
resultado de uma consciência limpa.
Estas verdades preciosas deveriam nos fazer, em toda e qualquer situação, a assumir um estilo
de vida marcado pela alegria e gratidão. Mas, além disso, podemos obter mais implicações
destas verdades? Com certeza. Podemos, a favor das pessoas:
• “Encarnar” o evangelho para trazer a realidade de Deus às pessoas
• “Penetrar” os céus com nossa intercessão.
• “Pagar o preço” desta intercessão.
• “Alegrar-nos” com a obra de Deus na vida dos que são alcançados.

2 O sangue de Cristo nos traz perdão v.15-28


Sobre o perdão, estes versículos trazem duas verdades fundamentais:
• O perdão é herança (v.15-22): Através de um testamento, o dono de uma riqueza deixa
uma herança para seus escolhidos. Da mesma forma o perdão, não só de nossos

3
Referência às notas da Bíblia de Genebra.
pecados, mas também e acima de tudo de nossa pecaminosidade, é uma herança
dada por Deus; a partir da morte de Cristo. E uma herança deixa pelo menos: 1) provisão;
2) razão para dedicar a vida; 3) alegria; 4) união dos que a recebem. É assim que
convivemos uns com os outros em Cristo? Ou vivemos vidas miseráveis em murmuração,
acusações etc.? Ou, ao invés de nos dedicarmo-nos a Deus, relaxamos em nosso andar?
Nossa vida cristã é alegre? Somos unidos, entendendo que o perdão que alego ter o
outro também tem?
• O perdão é definitivo (v.23-28): Estes versículos mostram que o sacrifício de Jesus é
totalmente suficiente para nos dar pleno perdão. Não precisa de adendos, apêndices de
nossa criatividade; que na verdade, não passam de tentativas orgulhosas de nos
autossalvar. A prova disso é que Jesus não realizou nossa salvação em santuário humano
(v.24); não foram repetidas vezes (v.25) e Deus cobrou totalmente de Jesus em Sua morte
(v.26-28). Mas, e os pecados repetidos? Eles ocupam espaço para nossa santificação.
Um parêntese: o v.27 combate o falso ensino da reencarnação e de que a morte física é o fim
de uma existência pessoal. E assim como a morte de Jesus o trouxe à ressurreição, Ele se dará
com todo ser humano em dia oportuno, conforme a vontade soberana de Deus.

Conclusão
Este estudo pode ser concluído com algumas palavras do pensador cristão e pastor, Francis
Schaeffer (1912-1984):
Quando minha consciência, sob o Espírito Santo, faz-me ciente de um pecado específico,
devo reconhecê-lo como pecado de uma vez e colocá-lo conscientemente sob o
sangue de Cristo. Não estaremos honrando a obra que nosso Redentor realizou
cabalmente se ficarmos lamentando aquele pecado sem parar. Digo isto com vistas à
vida de consciente comunhão com Deus. Deveras, afligir-nos desse modo é menosprezar
o valor infinito da morte do Filho de Deus. Devemos, ao contrário, dar glória a Deus por
haver-nos sido restaurada a comunhão com Ele.

É soberanamente melhor não pecar. Mas não é maravilhoso que, quando pecamos,
podemos correr para o local da restauração? Assim, é da intenção de Deus que, como
um de Seus dons para a presente existência, tenhamos liberdade da falsa tirania da
consciência.

Que Deus, em e por Cristo, ajude-nos a vivermos em equilíbrio esta verdade! Isto é, sem
permitir que ela endureça e eu morra; e nem que ela me golpeie a ponto de me fazer
desanimar de viver a maravilhosa vida que Cristo, no Evangelho, nos oferece.
Soli Deo Gloria!
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 10
O SACRIFÍCIO DE JESUS E A NECESSIDADE
DE PERSEVERANÇA

O LIVRO DE HEBREUS
Texto: Hebreus 10
Tema: O sacrifício de Jesus e a necessidade de perseverança

Introdução: Pode-se pensar que o autor já deu provas suficientes da ineficácia do sistema
sacrificial levítico; e, em contrapartida, da absoluta eficácia do sacrifício de Jesus. Para alguns
ele está sendo muito repetitivo (e está mesmo, pois a repetição é a mãe do aprendizado). No
entanto, não é bem assim. Ele continua, como um vulcão em erupção, argumentando
vigorosamente sobre esta verdade essencial. Isso, mais uma vez, mostra um pastor apaixonado e
preocupado com a salvação eterna de seu rebanho (Hb 13.17; At 20.28). Por sua vez, isso traz a
implicação de que: 1) de alguma maneira, devemos também ser assim com aqueles com os
quais convivemos; 2) a orarmos para que Deus levante mais pastores assim em nossos dias; e, 3)
a valorizarmos aqueles pastores que, sem interesses escusos, agem assim, são zelosos por nossas
vidas aqui e na eternidade.
Este capítulo tem duas divisões básicas: do v.1-18, onde se trata mais uma vez e com mais
argumentos sobre a eficiência total do sacrifício de Jesus para nos perdoar e salvar; e do v.19-39,
onde o autor exorta com vistas à perseverança. E uma pergunta norteará este estudo: quais os
caminhos que levam o povo de Deus a perseverar?

I O sacrifício eficaz de Jesus v.1-18


Quanto ao sacrifício de Jesus, pode-se ver claramente nestes versículos que:

1 Foi necessário v.1-4


O sacrifício de Jesus foi necessário por causa do caráter provisório da aliança levítica. Todo o
sistema sacrificial (tabernáculo, altares, animais etc.) foram “sombras”, “figuras” da realidade
que está no santuário celestial (v.1). A repetição dos sacrifícios também mostra sua ineficácia
(v.2-3). E ainda, a qualidade dos sacrifícios, que era o sangue de animais (v.4).
Mas por que Deus usou estes sacrifícios? Como ajudas pedagógicas para conduzir Seu
povo a Cristo. Gl 3.24 diz que a lei nos serviu de “aio” (“em uma família, o tutor responsável pelo
cuidado e disciplina das crianças1”). E ainda hoje, Deus vai “trabalhando” progressivamente
com cada um de nós. Isso exige paciência conosco mesmo e com os outros também.

2 Tornou-se possível pela encarnação v.5-10


A frase introdutória da citação do Salmo 40.6 “ao entrar no mundo” (v.5), e a própria citação
deste salmo são o embasamento da encarnação. Apesar da necessidade (com fins didáticos,
apontando para Cristo), os sacrifícios de animais não faziam a devida satisfação, expiação
(satisfação, compensação mediante um sacrifício) do nosso pecado (v.6,8). Por isso, Jesus se
apresenta voluntariamente (Jo 10.17-18) para ser o sacrifício. E para isso, a encarnação foi uma
necessidade (v.9-10); pois, a Queda foi aconteceu com primeiro Adão; por isso, para a
redenção foi preciso o segundo Adão (Rm 5.12-21). O homem pecou, o homem tinha que
receber o castigo; mas, o preço do castigo só Deus consegue pagar; por isso, Deus, em Cristo, se
encarnou.
Mas o que isso tem a ver conosco? 1 Jo 3.16-18 faz um excelente paralelo com a oferta
voluntária de si mesmo que Jesus fez. E da mesma forma devemos dar nossas vidas pelos irmãos.
E 1 Jo 3.17 mostra uma área onde isso é possível: ajudar um irmão necessitado. Temos feito isso?

3 Foi único e perfeito v.11-14


O autor mais uma vez faz o contraste entre os sacrifícios repetidos do sistema levítico com a
única oferta de si mesmo de Jesus. E o faz para mostrar a perfeição única do sacrifício de Jesus
(v.11-12). O v.13 fala da exaltação de Jesus. Nele se diz que Jesus aguarda seus inimigos serem
subjugados sob Seus pés. A demora para que isso aconteça não demonstra fraqueza. Ela “deve
ser vista mais como um prolongamento do dia da graça e, portanto, como sinal da misericórdia
e longanimidade de Deus” (P. E. Hughes). E conforme o v.14 isso vai acontecer nossa progressiva
santificação. Nós participamos ativamente da exaltação de Cristo. Com nossa santificação
construímos essa realidade.

1
Nota da Bíblia de Genebra.
Assim, podemos entender que as demoras não nos são contrárias; mas o tempo em que
Deus nos dá a graça de participarmos da edificação de Seu eterno Reino. Além disso, podemos
descansar, pois a dureza dos sofrimentos somente e certamente apontam para a glória da
ressurreição e da vitória em toda e qualquer situação.
4 Trouxe pleno perdão v.15-18
A santificação que trabalha conjuntamente para a exaltação de Cristo (tanto agora quanto no
Dia do Juízo) é testemunhada pelo Espírito Santo. E aqui, segundo S. Kistemaker, o autor chega à
parte final de ensino da carta. Ele resume os ensinos da nova aliança profetizada por Jeremias,
mostrando que “pecado perdoado é pecado esquecido”. Vale lembrar que Deus não tem
amnésia quanto aos nossos pecados. Na verdade, Ele não nos cobra, não os lança em nosso
rosto mais (v.16-17). E a conclusão de toda a argumentação até aqui está no v.18. Isto é, não
existe possibilidade de voltar atrás, ao judaísmo obsoleto. O que, de fato, os hebreus precisavam
e nós também, é do sacrifício perfeito de Jesus. Quem tem consciência dessa verdade, vai
perseverar em seguir a Jesus.
O segundo aspecto do caminho da perseverança é:

II Livre acesso a Deus v.19-25


Deste versículo em diante entra a parte essencialmente prática da carta. E ela começa falando
que todos os que estão em Cristo podem entrar, quantas vezes forem necessárias, na presença
de Deus. Isso é possível por causa da morte de Jesus (v.19-21). Disso decorre 4 privilégios que
fortalecem a perseverança:
• Aproximar (v.22): Isso acontece basicamente pela oração. A oração sofre investidas
terríveis, não só de satanás e do mundo, mas de nós mesmos também. Somos reticentes
quanto à oração. Mas, ela é o meio pelo qual nos aproximamos de Deus. E o diabo não
quer isso. E a oração precisa ser: 1) Sincera (sem fingimento); 2) em plena convicção de fé
(Hb 11.6) que somos aceitos; 3) com consciência pura.
• Guardar (v.23): Ter esperança firme em Jesus e da vitória temporal e final dos seus servos.
• Considerar (v.24): Pensar bem dos irmãos e os animar na caminhada com Jesus. E isso, por
sua vez, anima a si mesmo.
• Congregar (v.25): A comunhão com o povo de Deus é uma necessidade, pois nos
prepara para a volta de Jesus. Além disso, conforme o Salmo 133, ela produz cura, unção,
alimentação e frutificação em toda boa obra. A vida da e na Igreja é uma oportunidade
para tudo isso.
Notemos que o livre acesso a Deus começa com o indivíduo orando (v.22), mas termina com a
comunhão da e na Igreja. J. I. Packer lembra que “Deus não fará prosperar o orgulho daqueles
que pensam que eles podem passar sem a ajuda de outros cristãos. O isolamento espiritual é,
aos olhos d’Ele, não uma virtude e sim um vício”. Seguindo esta linha de pensamento, o mesmo
Packer ainda diz: “Todas as igrejas são falhas, mas mesmo por meio dessas falhas, Deus usa a
igreja para lixar as arestas da nossa natureza”.
C.S. Lewis tinha dificuldades com o culto público2 por causa de músicas com melodias e
poesias de sexta categoria3; mesmo assim se disciplinava para participar ativamente da vida da
sua igreja. E sua explicação é que, ao ver “um velhinho santo de botinas, no banco ao lado”
cantando a música de sexta categoria, percebia que não era “digno de limpar aquelas
botinas”. E para ele “isso nos tira de nosso orgulho solitário”. Que beleza! É assim que pensamos?
Paul Tounier disse que há duas coisas que não se pode fazer sozinho: “uma é casar e a
outra é ser cristão”. Por isso, Philip Yancey conclui: “A Igreja é o lugar onde posso dizer, sem
vergonha alguma: não preciso pecar. Preciso de outro pecador. Quem sabe, juntos, possamos
nos ajudar a prestar contas um ao outro e nos manter no caminho certo!” Temos criado esse
ambiente? Essa é uma responsabilidade e um privilégio de cada crente.

III Fugir do pecado voluntário v.26-31


As advertências contidas nestes versículos são dramáticas por causa do pecado voluntário. Na
verdade, todo pecado, por mais “simples” que seja, é voluntário. Então é desses pecados que o
autor fala? Não. Ele fala da apostasia. O autor diz que, depois de terem lido tudo o que ele

2
J. I. Packer, Oração: Do Dever ao Prazer, p.233.
3
Philip Yancey, Igreja, Por Que Me Importar”, p.21
dissera até ali, para não abandonarem a Jesus; mas se “deliberadamente”, isto é, numa decisão
pensada, desistissem de Jesus, a punição seria severa.
Com certeza, além das dores temporais desta rejeição, está em jogo também a
condenação eterna. Por isso, o autor diz: “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (v.31).
Aqui lembramo-nos de Hb 2.3: “Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande
salvação”?
Assim, cabe a cada um de nós, perguntar: temos perseverado em uma vida abundante
com o Senhor Jesus? Ou já desistimos? Quantos estão vivendo deliberadamente em pecados?
Quantos já deixaram de lutar contra seus pecados? E por quê? A quem se está
responsabilizando ou culpando? Isso é justo? Que Deus sonde nossos corações! Na verdade, a
fugir da apostasia é um caminho que demonstra, não só nossa perseverança, mas a
perseverança de Deus em e por nós.

IV A beleza da perseverança v.32-39


A perseverança é bela apor causa dosa frutos que produz. Por exemplo, para produzir uma
colher de mel, as abelhas fazem 4.200 viagens às flores. Este parágrafo tem duas partes: v.32-34
e v.35-39. O autor expõe a perseverança aqui da seguinte maneira:
• No passado (v.32-34): Há um sentido em que lembrar o passado é extremamente
necessário; principalmente quando estamos esquecendo o que Deus fez; e até mesmo o
que já fizemos. No desejo de persuadir os hebreus a não desistirem do Nazareno, por
causa da perseguição, o autor pede-os a que se lembrassem dos dias dos inícios de sua
fé em Cristo; quando enfrentaram e venceram lutas por causa de Jesus (v.32-33). Estes
versículos deixam claro que foram, inclusive, ridicularizados publicamente (“espetáculo”,
que no grego vem de uma palavra que significa “teatro”). E ainda, sofreram perdas
materiais; mas permaneceram firmes (v.34).
• No presente (v.35-39): O escritor oferece duas razões para continuarem a perseverar: 1) o
galardão, o prêmio, a recompensa eterna que está reservada para os que perseverarem
(v.35-38ª); 2) o perigo de retroceder (v.38b-39). O v.39 é uma palavra afirmativa: nós
temos caráter, jeito, feição de quem não desiste; por isso, vamos continuar porque nossa
alma, nossa vida toda está em jogo. Retroceder é a perdição.
Assim, não chegamos até aqui por acaso. Deus nos trouxe. Ele perseverou. Nós também
perseveramos e vencemos tantas lutas e pecados. Por isso, não é hora de desanimar. É tempo
de permanecer firme e perseverar. Pode não parecer, mas, comparado à eternidade é por
pouco tempo (v.37).

Conclusão:
A pergunta final é: podemos perseverar? Vamos conseguir? A resposta é dada por um
comentarista quando diz que aqui ensina seus leitores a que “não foram chamados com o
propósito de retrocederem”. Deus não nos chamou para não perseverar. Não perseverar traz a
preocupante ideia de que não se foi chamado.
Mas não é estranho? Se Deus chamou por que temos que perseverar? C. S. Lewis escreveu
certa vez que “parece que Deus não faz por Ele mesmo nada do que pode delegar às suas
criaturas. Ele nos ordena a fazer devagar e desajeitadamente aquilo que poderia fazer
perfeitamente num piscar de olhos”. E isso porque quer nos dar a alegria de sermos participantes
da edificação de Seu Reino eterno. Que Deus nos ajude!
Soli Deo gloria!
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 11
A NATUREZA E OS EXEMPLOS DA
VERDADEIRA FÉ

O LIVRO DE HEBREUS
2
Texto: Hebreus 11
Tema: A natureza e os exemplos da verdadeira fé

Introdução: O capítulo 10 termina com as belas palavras afirmativas do v.39, onde vemos a
importância da fé. É a fé que não nos permite desistir. E esse era o grande problema dos
hebreus; isto é, desistir da fé em Jesus (problema muito recorrente entre nós ainda hoje). No
capítulo 11, portanto, o autor define a natureza da fé, e passa a apresentar vários exemplos de
pessoas que experimentaram e não retrocederam, por causa de sua fé. Assim, ao examinar este
capítulo tem-se o privilégio de se fazer um diagnóstico da fé de cada crente. Pode-se notar que
fé não é apenas um pensamento, um sentimento. Não é nem apenas ver o invisível. Fé são
atitudes concretas e diárias embasadas na confiança no caráter de Jesus Cristo, Senhor da
glória.

I A natureza da fé v.1-3
Sobre a natureza da fé pode-se afirmar (v.1):
• Fé habita em primeira instância a mente: as palavras “certeza” e “convicção” apontam
para esta realidade. Fé não pode, de maneira nenhuma, nas emoções. A ênfase atual
nas emoções (emocionalismo) está matando a fé. Por isso, John Stott escreveu o livro
“Crer é Também Pensar”. A verdade é que liberta e a verdade entra pela mente. Claro
que a fé afeta as emoções e aciona a vontade; mas a mente deve ser dominada pela
verdade da fé.
• Fé se coloca entre “dois mundos”: A fé tem “certeza das coisas que se esperam”; ou seja,
para o futuro onde as promessas de Deus estão. E a fé também tem “convicção de fatos
que não se veem”; isto é, olha para o passado, sabendo o que já aconteceu (v.3).
E é isso que constrói o presente. Se buscarmos um presente abençoado, a mente deve se fixar
nas promessas futuras de Deus; e nas obras que Deus já fez. Assim, vou fugir de todo mal e buscar
o bem porque Deus me dá razões para isso, tanto no que já fez no passado para nos salvar; e
ainda fará para nossa glorificação. É por isso que aqueles que os antigos obtiveram bom
testemunho, no sentido de terem sido aprovados por Deus. Creram nas obras de Deus. E assim, a
fé, conforme proposta aqui, produz fidelidade e constância.

II Exemplos de fé v.4-40
Dentro do objetivo de encorajar os cristãos hebreus, o autor agora passa a mostrar exemplos que
ilustram a perseverança da fé. E ao analisá-los pode-se ter a exata compreensão do que é a
verdadeira fé. Vejamos:

Os antediluvianos v.4-7
Abel, Enoque e Noé são assim chamados (antediluvianos) porque viveram antes do dilúvio:
• Abel e o “mais excelente sacrifício” (v.4): Além de ter ofertado as primícias, Abel ofereceu
um sacrifício cruento (que envolve sangue). Ou seja, Abel se aproxima de Deus pelo
sacrifício de Jesus. Ele sabia que era aceito pelo sacrifício de outrem. É assim que
devemos nos aproximar de Deus – somente pelos méritos de Jesus em nosso lugar. Caim é
um símbolo das demais religiões que propõem salvação pelas obras; além de ser o
primeiro anticristo que se tem notícia na história.
• Enoque - aquele que agradou a Deus (v.5): Juntamente com Elias, Enoque não viu a
morte, foi trasladado. Sua fé se caracterizou por “agradar” a Deus. A expressão de Gn
5.22 diz “andou” com Deus. Andar com Deus “significa que uma pessoa vive uma vida
espiritual na qual ela conta a Deus tudo” (Kistemaker). Para D. Guthrie, Enoque “esteve
sublimemente acima da corrupção dos seus tempos”. Isso é andar com Deus (Mq 5.8).
• Noé – o temente a Deus (v.7): O temor de Noé consistiu em obedecer imediatamente os
mandamentos específicos de Deus (“aparelhou uma arca”). Apesar de ter tomado o
“pileque” mais conhecido da história (Gn 9.21), Noé é citado pelo próprio Deus como
justo (Gn 9.6; Ez 14.14,20; 2 Pe 2.5).
Assim, fica claro que fé não é só acreditar que do outro lado tem alguém ouvindo. São atitudes
práticas; e é isso que o v.6 elogia: sem fé não se agrada a Deus. Ou, usando a lógica
interpretativa do v.5, Deus não “anda” conosco. Por isso, vale perguntar: como pensamos que
somos aceitos por Deus (como Abel?)? Andamos com Deus como Enoque? Obedecemos
imediatamente como Noé?

Os primeiros patriarcas v.8-22


O autor dá uma “overdose” de exemplos de fé para que os hebreus permaneçam firmes em
Jesus:
• Abraão – o que partiu sem saber aonde ia (v.8-19): Um fato inegável é que Deus nos
chama (v.8). A todo instante e todo lugar, Deus nos chama para sermos participantes de
Seu plano para a história. E Abraão aceitou deixar de ter uma vida instalada e previsível
para se lançar numa vida desinstalada e imprevisível (v.9). Isso é o evangelho. Uma vida
desapegada (Mt 10.9-10; Lc 9.58). E o que faz com que uma pessoa viva assim, sendo que
segurança é uma das necessidades mais básicas do ser humano? Por causa da
esperança da cidade eterna (v.10,14-16). Somente os que aspiram, anseiam a glória
celestial conseguem imprimir um ritmo de vida que abençoa esta terra. Na verdade, não
há nada mais seguro que viver no centro da vontade de Deus, mesmo que seja inseguro
do ponto de vista humano.
• Sara – a mãe da impossibilidade (v.11-12): Pela idade, humanamente falando Sara não
poderia ter filhos. Apesar de ter rido em sinal de desconfiança (Gn 18.12), a insistência de
Sara em andar ao lado de Abraão a fez mãe de impossibilidades. Precisamos disso. Andar
com gente que acredita. E, na verdade, parece que quanto mais contrária a situação,
mais Deus faz através dela (v.12). Sara se tornou mãe de multidões. Isso é um
encorajamento para os que lutam com grandes impossibilidades.
O autor se demora ao falar de Abraão (como fará com Moisés – principais personagens do
judaísmo). Do v.17-19, ele pontua o provável sacrifício de Isaque, onde se vê a disposição de ir
até às últimas consequências por causa de sua fé; isto é, matar o próprio. No entanto, com Deus
nunca se fica na perda, no negativo. Abraão sabia que Deus não se contradiz e que se Isaque
era o filho da promessa, de alguma maneira Deus o traria de volta mesmo das cinzas. Ele usa a
lógica. A palavra “considerou” (v.9), vem de uma palavra que tem a mesma raiz de “lógica”. Em
nossa vida com Deus, precisamos aprender a usar a lógica e deixar as emoções um pouco de
lado. C. S. Lewis disse que nem um ateu consegue ser um ateu consiste se passar a considerar
suas emoções.

• Isaque – aquele que abençoou (v.20): Isaque entra para a história como filho de Abraão e
pai de Jacó. Não teve grandes momentos como seu pai e seu filho. No entanto, foi um
abençoador. Vida de fé é isso. É a decisão de ser um abençoador(a).
• Jacó – aquele que adorou (v.21): O texto aludido aqui é o de Gn 48.13-20 quando Jacó
abençoa os filhos de José e diz que o mais novo se sobressairá ao mais velho. É
interessante notar que, para o autor aos hebreus, este ato de abençoar é adoração.
Precisamos pensar com mais seriedade nisso. Tomar cuidado com a maledicência. Se
abençoar é adorar a Deus, o que será a maledicência?
• José – aquele que não ficou (v.22): José sabia que o Êxodo aconteceria e deu ordens
para que nem seus ossos ficassem no Egito. Ele não quis ficar. Ele quis ir, ainda que morto.
Assim é a fé. Ela se recusa a permanecer em um estágio que não seja o de Deus. Ela
prossegue. Ela quer estar onde Deus e Seu povo estão.

Moisés
O autor, como já foi dito, se demora ao falar de Moisés. E sobre a fé de Moisés é dito:
• Teve forte influência dos pais (v.23): Os pais de Moisés, Joquebede e Anrão, não temeram
o decreto de Faraó que mandava jogar no rio as crianças. Eles não fizeram isso. Algo
aconteceu em seus corações que os moveu a isso. E todos os pais deveriam ver isso em
seus filhos. Ou seja, vê-los como alvos da Graça de Deus para a construção de uma nova
sociedade. Como os pais hoje veem os filhos?
• Escolheu aquilo que, de fato, valia a pena (v.24-26): Do ponto de vista humano, Moisés foi
um “sortudo”. Nasceu em uma época de morte e não morreu; teve carinho de mãe e pai;
foi adotado por uma princesa; teve uma educação invejável (At 7.22); teve riquezas; mas,
recusou tudo isso ou quase tudo, porque a educação de seus pais fez toda diferença. A
verdadeira fé consegue ver prazer na luta (v.25); consegue ver honra na vergonha (v.26);
consegue ver uma vida incomparavelmente melhor além desta (v.26b com Fp 1.21-23).
• Renegou a escravidão (v.27): Neste contexto, o Egito representa a escravidão. E a
escravidão é sempre limitadora das capacitações e habilidades que Deus dá. Moisés
optou pelos desafios da liberdade do que pela comodidade covarde da escravidão.
Assim é a fé verdadeira.
• Decidiu viver em festa (v.28): D.M. Lloyd-Jones afirma que um cristão cronicamente triste é
um mau testemunho ao Evangelho. A fé verdadeira vive em celebração. A Páscoa era a
celebração da libertação da escravidão e da morte. Assim, todos os que estão em Cristo,
precisam ter essa consciência. Ou seja, a consciência de fazer da vida uma celebração;
pois em Cristo, somos livres da escravidão e da morte espiritual e eterna.
• Abriu caminho onde não se podia ter caminho (v.29): A travessia do mar Vermelho é uma
maravilha num tempo não havia tecnologia de grandes pontes. A fé contribuiu para que
Deus abrisse um caminho impensável. E a fé age assim. Diante de “mares” de
impossibilidades, Deus é capaz de abrir caminhos impensáveis. Um simples exemplo pode
se dado: quando sequestrado para não ser morto pela igreja, Lutero ficou escondido no
castelo de Wartburgo; porém ali, traduz a Bíblia para o alemão. E certamente é assim
conosco. Deus abre caminhos onde não se podem abrir caminhos aos olhos humanos.

Os israelitas em Canaã
Multiplicando provas, o autor agora passar a mostrar exemplos de fé dentro da terra da
promessa.
• A queda das muralhas de Jericó (v.30): O fato a ser destacado deste episódio é o caráter
coletivo da fé. Neste evento todo o povo teve que estar junto. E isso precisa ser
reenfatizado na igreja. A fé individual não pode ser confundida com uma fé individualista
e não pode prejudicar a fé coletiva.
• Raabe (v.31): No caso de Raabe, “a fé não conhece barreiras” (S. Kistemaker): era pagã,
mulher e prostituta. E, além disso, sua triunfou em relação ao seu povo. Ela foi poupada.
Assim, a mensagem do autor é: a melhor maneira de triunfar não é desistindo, mas
persistindo.
Uma pequena digressão pode ser útil aqui, quanto a Raabe. Ela mentiu (Js 2), mas é declarada
como exemplo de fé e justa (Tg 2.25). É estranho dizer assim, mas a mentira de Raabe foi fruto de
sua fé no Deus de Israel. Some o fato de que há uma questão ética proposta. Ou seja, “uma
pessoa não pode ser tida como responsável por não cumprir uma lei menor de forma a cumprir
uma obrigação maior” (Geisler e Howe). Nesse sentido, a obrigação maior foi a vida dos espias e
a conquista da terra pelo povo sob a ordem de Deus.

Aqueles que triunfaram v.32-35a


A pergunta retórica “e que mais direi?” sugere que nem precisa de mais exemplos. Os que foram
dados bastam. E, como num ímpeto da memória de pregador, ele cita vários exemplos de
pessoas improváveis que prevaleceram pela fé; que experimentaram vitórias retumbantes:
• Gideão, o reticente de autoestima muito baixa: Jz 6
• Baraque, o tímido: Jz 4
• Sansão, o filho de uma estéril: Jz 13
• Jefté, o filho bastardo: Jz 11
• Davi, o caçula: 1 Sm 16
• Samuel, o outro filho de uma estéril: 1 Sm 1
Daí por diante, o autor não cita nomes, mas feitos, através dos quais podemos identificar quem
foi:
• Subjugaram reinos: Josué.
• Praticaram a justiça: os Juízes
• Obtiveram promessas: Josué e Calebe.
• Fecharam boca de leões: Daniel
• Extinguiram a violência do fogo: Amigos de Daniel
• Escaparam ao fio da espada: Davi e Elias
• Da fraqueza tiraram forças: Esdras e Neemias
• Fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga...: Josafá
• Mulheres receberam ressurreição... A viúva de Sarepta e a Sunamita.

Aqueles que sofreram v.35b-38


Estes são os exemplos dos que prevaleceram pela fé. No entanto, há os que sofreram por causa
de sua fé. E aqui vemos o caráter duplo da fé. Isto é, para uns, Deus ressuscita o filho, para
outros, não. Uns tem suas doenças curadas, outros não, etc. Vejamos:
• Torturados... (v.35): provável referência à revolta dos Macabeus (167-157 a.C.) – 2
Macabeus 6-7
• Escárnios... (v.36): Pedro, Paulo, Silas.
• Apedrejados, serrados... (v.37,38): Estes versículos tratam de muitos anônimos para nós. A
tradição diz que Isaías foi serrado ao meio.
O comentário inicial do autor é maravilhoso: “homens dos quais o mundo não era digno”. Temos
esta fé? Este mundo não é digno de nós? Ou é? Ou nós nos “encaixamos” perfeitamente nele?
O v.39 diz que eles foram aprovados. E é contra a reprovação de seus leitores que o autor
luta. A expressão “não obtiveram, contudo, a concretização da promessa” é uma referência à
primeira vinda de Jesus, que muitos deste não viram, mas permaneceram firmes. Os leitores
deviam crer agora numa segunda vinda e ficarem firmes. E o mesmo se dá conosco (Hb 11.13-
16).
O v.40 é um encorajamento à permanência, pois a volta de Jesus está ligada à fidelidade
de Seu povo da Nova Aliança. E os santos do AT também aguardam este retorno. É como se o
autor estivesse dizendo: “eles fizeram a parte deles para em preparo para a primeira vinda de
Jesus para nosso bem; então, façamos a nossa para o nosso e o bem deles também
(“aperfeiçoados”). Ou seja, a nossa responsabilidade é imensa. Não podemos desistir. Desistir é
nos tornarmos traidores dos planos de Deus, ainda que não o possamos frustrar. Que Deus nos
ajude!

Conclusão: A explorar a fé à luz deste capítulo, devemos pensar no conceito de fé atualmente.


Na verdade, para muitos, fé se parece à magia. Ronaldo Lidório define magia “como a
manipulação sistemática de elementos naturais, geralmente impessoais, com intenção de
produzir efeitos sobrenaturais e, assim, dominar a natureza e diversos aspectos da vida”. Muitos
querem fazer com Deus usando a “fé”.
Contudo, o capítulo 11 de Hebreus deixa claro que fé é submissão, obediência,
permanência nos planos de Deus. É enfrentar, com base no caráter de Deus, tudo o que Ele tem
proposto para Seus filhos, dentro de Seu plano maior de redenção para a humanidade. E, assim,
mais uma vez, que Deus nos ajude!
Soli Deo Gloria!
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 12
COMEÇAR E TERMINAR: A LUTA DA FÉ
COMO MEIO PEDAGÓGICO DE DEUS

O LIVRO DE HEBREUS
Texto: Hebreus 12
Tema: Começar e terminar: a luta da fé como meio pedagógico de Deus

Introdução: Nas olimpíadas de Los Angeles (1984), a maratonista suíça Gabrielle Andersen,
impressionou o mundo ao completar a prova em trigésimo sétimo lugar (num total de 44),
contorcendo em dores de cãibras. De certa forma, este episódio ilustra o capítulo 12 de Hebreus.
A afirmação “corramos com perseverança...” (v.1), segundo D. Guthrie “dá a entender a ideia
de persistência, da corrida firme até o fim, a despeito das dificuldades”. E nesta corrida, Deus vai
“educando1-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no
presente século, sensata, justa e piedosamente” (Tt 2.12). Sendo assim, o que é preciso para
começar e terminar? No capítulo 11, o escritor mostra exemplos de fé que começaram e
terminaram. Agora, ele vai mostrar como isso foi, é e continuará sendo possível, pela graça
maravilhosa de Jesus. Vejamos:

I Olhar fixamente para Jesus v.1-3


Uma questão pertinente é: como os hebreus deveriam olhar para Jesus? E como nós, hoje,
olhamos para Jesus? Através, principalmente, pela leitura e meditação atenta de toda a Bíblia;
e, em especial, dos 4 Evangelhos. A Igreja de Jesus e cada membro seu, individualmente, deve
retornar ou adquirir de modo arraigado, a atitude da leitura e meditação da Bíblia. O que nos
tem afastado da leitura da Bíblia? É a timidez? É o medo de não a entendermos? É a
indiferença? A preguiça? O que está acontecendo com a leitura da Bíblia em nossos dias?
Deve ser lembrado que há uma “nuvem de testemunhas” nos assistindo. Ou seja, os
exemplos de fé do capítulo 11. Claro que não são “almas penadas” na atmosfera; mas é o seu
testemunho registrado na Bíblia e na história. Assim, prosseguindo, o que é preciso para olhar
para Jesus?
• Desembaraçar de pecados e pesos (v.1): “Pecado” é aquilo que a Bíblia ordena
claramente que não se deve praticar (Êx 20.1-17; Cl 3.5-8; etc.). Já o peso é aquilo que
não está claro na Bíblia (por exemplo: assistir determinado programa na TV). E como se
define aquilo que é peso? Perguntando: isso glorifica a Deus (1 Co 10.31)? Isso traz paz (Cl
3.15)? Isso edifica o outro (Rm 14.21)? Isso provém da fé (Rm 14.23)?
• Lembrar que nossa vida tem um santo propósito (v.2): Jesus se encarnou para viver e
morrer em obediência em nosso lugar. Sua vida tinha um propósito definido. Da mesa
forma, temos um propósito de vida definido pelo próprio Deus: glorificar a Deus a gozá-lo
para sempre2. Jesus suportou a cruz também porque tinha alegria depois da mesma. A
vida cristã também é assim. Um dia veremos que valeu a pena.
• Encher a mente da Pessoa e da vida de Jesus (v.3): “Considerai” é um verbo que significa
“pensar sobre”, “ponderar”. A. W. Tozer disse que “para estarmos certos temos de pensar
certo”, e não tem ninguém mais certo do que Jesus. Nossa vida, depois de salvos por Ele,
deve ser uma imitação de Sua vida.

Para começar e terminar também é preciso compreender:

II A necessidade de disciplina v.4-11


O v.4 mostra que a perseguição enfrentada pelos hebreus não havia trazidos mortes (“resistido
até ao sangue”). A perseguição era através de palavras depreciativas3, restrições sociais,
políticas etc. No entanto, como um bom pastor, o escritor leva os olhos do seu rebanho para a
Providência de Deus. Tenta fazê-los enxergar a boa mão de Deus até mesmo na perseguição.
Além disso, ele mostra que havia um alvo pedagógico. Ou seja, havia muito a se aprender na
vida com Cristo. Portanto, a perseguição era uma “disciplina” de Deus. Uma frase do hino Deus
se Move de Forma Maravilhosa, de William Cowper, apresenta este assunto: “Por trás de uma

1
O verbo grego aqui é paideúô, de onde vem a palavra “pedagogia, educação, ensino”.
2
Breve Catecismo de Westminster, resposta 1. Textos de confirmação: Rm 11.36; 1Co 10.31; Sl 73.25-26; Is 43.7; Rm 14.7-8; Ef
1.5-6; Is 60.21; 61.3.
3
Os cristãos no século II eram acusados de incesto (pois havia casamento entre “irmãos”), de canibalismo (comiam o corpo e
bebiam o sangue de Jesus – santa ceia), de ateísmo (pois não aos deuses do panteão greco-romano).
providência carrancuda, Ele esconde uma face sorridente”. Assim, sobre o sofrimento como
disciplina, pode ser dito:

1 A disciplina divina é um sinal do amor paterno de Deus v.5-9


À medida que se vai caminhando pelo livro de Hebreus fica explícito um pastor dominado de
amor por Jesus e por suas ovelhas. Ele não os quer longe de Jesus de maneira nenhuma. Ele
multiplica argumentos, provas, conclusões, ilustrações, exemplos, textos etc. Ele chama a
atenção carinhosamente dos leitores ao lhes dizer: “vocês se esqueceram!?” (v.5). É como se ele
dissesse: “Isso que estão vivendo está na Bíblia. Isso é prova do amor de Deus por vocês. A Bíblia
está se cumprindo em suas vidas.” Assim:
• Não se deve menosprezar a disciplina (v.5): Não se deve olhar para a disciplina com
desdém ou qualquer outro sentimento ruim, negativo.
• Disciplina é prova de que se é filho (v.6-8): Somente um pai corrige o filho. A falta de
disciplina, de provações indica a falta de um pai. E sabe-se muito bem as dores de não se
ter um pai.
• A submissão é a atitude correta diante da disciplina (v.9): A obediência aos pais era uma
honra para um filho naqueles dias. Isso não tem sido, em geral, assim em nossos dias. Mas
a verdade continua absoluta: se é certo se submeter a um pai humano, quanto mais a
Deus, nosso Pai espiritual.

2 A disciplina é para nos fazer participantes da santidade de Deus v.10-11


A santidade é um mandamento que tem razões na santidade do próprio Deus (1 Pe 1.16). Deus é
a razão de nossa santidade. E, uma das maneiras de Deus fazer isso é através do sofrimento. 1 Pe
4.1b diz: “pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado”. A santidade tem dois aspectos:
• Abandonar o pecado: Santidade é deixar pecados, em quaisquer que sejam suas
manifestações.
• A paz resultante de deixar o pecado (v.11): Ao deixar o pecado, através da disciplina das
provações, o coração experimenta a paz que excede todo entendimento; e a paz cria a
ambiência para experimentar as profundezas do ser de Deus. Isso faz lembrar uma
criança que leva umas palmadas como correção e logo depois procura o colo da mãe e
do pai para desfrutar o amor deles. É assim que funciona a disciplina no processo de
santidade.

3 A disciplina é para restauração da coletividade também v.12-13


A frase “uma falha individual deve ser corrigida coletivamente4” apresenta esta verdade. Estes
versículos são uma alusão a Is 35.3-4, onde se encoraja os medrosos. Assim, sabendo do que
acontecia entre os hebreus, o autor quer que cada membro encoraje um ao outro a não desistir
de Jesus.
• A disciplina é para curar aquele que foi ferido (v.12): É para aquele que tropeçou na
caminhada com Cristo. É para levantar aquele que caiu, que pecou. E isso é papel de
cada membro. A Igreja deve se ajuntar para restaurar aquele que caiu e não para
acabar com o resto.
• A disciplina é para criar um caminho seguro para a vida de fé (v.13): O papel da igreja,
de cada membro não é condenar aquele que caiu, mas criar condições, ajudar a firmar
os passos e a vida de quem pecou.
Aqui é bom investigar: é assim que agimos com os que caem? Queremos a sua restauração ou
nos alegramos com o pecado, ou um percalço na vida de um irmão? Como vemos as
provações? Como as encaramos? Pensamos que Deus está contra nós? Ou conseguimos
enxergar Sua face amorosa nas mesmas?

Para começar e terminar ainda é preciso:

III Intensa vigilância espiritual v.14-29


O v.14 apresenta o tema dos últimos versículos: a santidade. Uma verdade desprezada por
muitos é que Deus nos salva para a santidade (Ef 1.4). A santidade é fator sine qua non

4
Frase dita por Márcio Faria de Azevedo numa palestra aqui na Missão Praia da Costa.
(indispensável, essencial) para se encontrar com Deus. A igreja precisa estudar mais sobre esta
verdade. E para isso é preciso vigilância espiritual. Do que consiste essa vigilância espiritual?

Cuidar uns dos outros v.15


O autor incentiva que os membros não deixassem os irmãos se desanimarem. Um ajudaria,
fortaleceria ao outro. Esse “separar-se da graça de Deus” não se refere à perda ou não da
salvação por algum pecado; mas na rejeição da obra de Jesus que já foi apresentada em todo
o livro. Ou seja, voltar ao judaísmo. E neste processo de ajuda alguns poderiam ficar
amargurados. A amargura tem dois frutos:
• Perturbação: A palavra grega para “perturba” ocorre somente aqui e em Lc 6.18, onde se
diz que Jesus libertava pessoas “atormentadas” por espíritos imundos. Ou seja, a amargura
abre espaço para perturbações e fortes opressões demoníacas5.
• Contaminação: A amargura é como um vírus contagioso. Para não “pegá-la” é preciso
muito remédio da graça de Deus.
Portanto, que ninguém brinque com a amargura.

Fugir da imoralidade sexual v.16-17


A palavra “impuro” é uma advertência contra a tendência de buscar alívio em algum tipo de
comportamento sexual impuro, ilícito, pecaminoso. A luta insistente contra algo pode levar a
racionalizações, e uma delas é a imoralidade sexual de algum tipo.

Não desprezar as bênçãos de Deus v.16-17


Esaú desdenhou de seu direito de primogenitura. Os Hebreus corriam o mesmo risco se
desistissem de Jesus. Esaú não teve consideração pela bênção da primogenitura e a vendeu por
quase nada. E é contra isso que o autor se esforça para não acontecer. Ou seja, desistirem de
Jesus por quase nada. E isso acontece com muita frequência entre nós. Pessoas que
abandonam a Jesus e a Igreja por quase nada. E isso é perigoso, pois pode gerar um estado de
mente e coração onde não mais seja possível ter condições de arrependimento (v.17).

Considerar os privilégios da nova aliança v.18-24


Do v.18-21, o autor fala dos acontecimentos relacionados à entrega da Lei em Êxodo 19
(repetidos em Deuteronômio). Estes eventos no monte Sinai destacam-se pelo medo. Até Moisés
ficou com medo (v.21b). E é assim que acontece: a proposta de salvação pelas obras, além de
ser impossível só causa o medo (Rm 3.20). Traz peso intenso para a vida; porque, quanto mais
queremos nos salvar, mais vemos a força do mal e do pecado sobre nós. E daí só existe dois
resultados: ou a doença (em todos os níveis da personalidade humana); ou a hipocrisia (fingir
que está tudo certo).
Do v.22-24, o autor apresenta as bênçãos da nova aliança, que são praticamente
resumos do que já foi apresentado no decorrer do livro:
• Livre acesso a Deus (v.22): Não estamos presos à Lei dada no Sinai, mas à graça da
Jerusalém celestial, da qual já fazemos parte (Ef 2.6). Temos Deus e Deus nos tem.
• Total consagração e comunhão (v.23): Em Cristo, somos todos primogênitos. Temos direitos
e privilégios que só alguns tinham nos tempos do AT. E isso deve nos levar a tratar com
amor, temor e tremor o nosso irmão; pois somos iguais diante de Deus (Deus é o Juiz de
todos), por causa da justificação em Cristo. Todos são aperfeiçoados.
• Perdão completo (v.24): Por causa do sangue de Jesus, que fala da remoção da
maldição e reconciliação, enquanto o de Abel fala de vingança.

Ter cuidado v.25-26


Os v.25-26 falam do cuidado que se deve ter para com as advertências divinas apresentadas na
carta. E, mais uma vez usando um argumento a fortiori, o autor diz que, se a antiga aliança, que
era terrena, teve suas consequências ao ser rejeitada; quanto mais a nova aliança, que é
celestial. É uma repetição de Hb 2.2-3; 10.26-31. O autor chama a atenção para a seriedade do
Juízo de Deus.

5
Em 2004 Pr. Martinho Lutero foi chamado para expulsar demônios de um homem que, após a apuração da situação, chegou
àquele estado por causa de amargura.
Adorar a Deus v.27-29
Deus removeu a antiga aliança; porém a nova vai permanecer (v.27), e é dela que os Hebreus
não podem desistir. A Nova Aliança é Cristo. Esta aliança é para sempre. E, pelo fato de a terem,
de terem Cristo, a atitude deles é de adoração, de gratidão, de “reter a graça”. Isso porque, o
Deus que é consumidor para com os que desanimam, também é consumidor para com aqueles
e com as situações que visam afastar Seu povo de Sua aliança. A adoração nos faz semelhantes
a Deus (Sl 115.8). A adoração me aproxima de Deus de tal forma que desistir é totalmente
impensável. É a adoração que dá forças para permanecer.

Conclusão:
Anos depois da olimpíada de Los Angeles, quando foi inquirida sobre o que a levou a terminar,
Gabrielle Andersen afirmou que, a todo tempo vinha em sua mente: “eu tenho que, pelo menos
terminar”. Ela reconheceu que muitos limites estão na mente. Ela, portanto, resolveu superá-los.
Teve determinação, compromisso com uma causa. E assim, que nenhum de nós, imponhamos
limites em nossa vida com Jesus. Porque temos uma salvação incomparável e Deus vencedor.
Que haja determinação e compromisso! Que seja assim! Em nome de Jesus.
Soli Deo Gloria!
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

HEBREUS 13
A MANEIRA CORRETA DE SE ENFRENTAR
AS LUTAS E PROVAÇÕES

O LIVRO DE HEBREUS
Texto: Hebreus 13
Tema: A maneira correta de se enfrentar as lutas e provações

Introdução: O autor está terminando seu “sermão-carta”. Ao longo de toda a sua


argumentação, ele vem insistindo que abandonar a Cristo é um grave e perigoso retrocesso. O
autor escreve com um coração profunda e compassivamente pastoral. Isto é, demonstrando
compreensão de que a experiência da perseguição é realmente algo terrível. No entanto, aqui
no capítulo 13, ele chama a atenção para o fato de que as lutas e provações não são
permissões para viver a vida cristã de qualquer maneira, relaxadamente ou até mesmo
envolvendo-se em pecados. Assim, o capítulo 13 é um breve manual prático de como se deve
enfrentar as lutas e provações da vida. E, neste caso, é importante perguntar: diante das lutas e
provações, como nos comportamos? Que tipo de alívio nós buscamos? Permitimo-nos praticar
algum pecado como desculpa para aliviar a pressão das provações? Com certeza não se deve
buscar estas coisas. No entanto, qual é a maneira certa de enfrentarmos as lutas e as
provações?

I Deveres sociais v.1-6


O dever é uma das maiores dádivas para o ser humano. Cumpri-lo é a própria caracterização
da sua humanidade plena. Deixar de cumprir seu dever no Jardim do Éden trouxe sérias
deturpações ao homem. Portanto, o resgate progressivo de nossa humanidade, passa pelo
cumprimento dos nossos deveres. Os deveres sociais são resumidos no v.1: o constante amor aos
irmãos (v.1), o que caracteriza ser discípulo de Jesus (Jo 13.34-35). Quais são?

1 Hospitalidade v.2
As pressões do sofrimento podem nos fechar para receber outros. E naqueles dias, não diferente
dos dias de hoje, as hospedarias eram locais de oportunidades para a imoralidade. Assim,
hospedar era para evitar. Mas também era sinal de amizade. A igreja precisa ser um ambiente
de amizades verdadeiras. Ambientes assim trazem segurança para a vida tão insegura que este
mundo proporciona.
O incentivo do autor era que, ao hospedar, poder-se-ia hospedar anjos; uma referência a
Gênesis 18, quando Abraão hospeda anjos que fazem uma promessa que, certamente, se
cumpriu. Assim, precisamos começar a andar na contramão da cultura local e buscarmos
ocasiões para hospedar, receber pessoas em nossas casas.

2 Atenção aos encarcerados v.3


Os presos referidos aqui eram os cristãos presos por sua fé. Este dever vai contra o ditado “quem
não é visto não é lembrado”. Era e é isso que Deus não permite. Em nossa cultura dificilmente
alguém é preso por ser cristão. Nesse caso, qual a aplicabilidade deste dever?
• Visitas a missionários em campos isolados: Em favelas, cidades pequenas etc.
• Visitas a irmãos em países fechados ao evangelho: Onde há perseguição.

3 Pureza sexual v.4


Há certamente a advertência quanto ao adultério (Êx 20.14; Pv 6.32-33). Mas, é essencial ver este
dever de forma positiva. Ou seja, um leito limpo, um casamento cheio de amor é uma das
maiores dádivas para a sociedade. Casais estruturados geram famílias estruturadas que
abençoam a sociedade. O amor emana para a sociedade a partir de um leito puro.

4 Cuidado com o materialismo v.5-6


Tempos de dificuldades podem levar a uma preocupação com a subsistência. E neste estado
pode-se haver confusão com a avareza, o materialismo. Ou seja, pensar que precisamos das
coisas para sobreviver. É claro que se precisa de comida, casa etc. Mas não justifica o apego
excessivo. E como se vence a avareza?
• Com contentamento (v.5b): Deve-se estar grato com o que já se tem e não viver
desenfreadamente atrás de mais e mais. Aqui se encaixam as palavras de Paulo
registradas em 1 Tm 6.6-10.
• Com confiança no cuidado de Deus (5c): A expressão “nunca jamais” em grego tem dois
advérbios de negação em dois modos: indicativo e imperativo. Isso com o objetivo de
mostrar a total impossibilidade, sob qualquer circunstância, de Deus abandonar Seu povo.
• Com palavras afirmativas (v.6): O autor diz que os leitores devem afirmar continuamente
que Deus é que nos ajuda (citação dos Salmos 27.1 e 118.6). Uma maneira de alimentar a
alma é usando palavras afirmativas, abençoadoras. E isso não é má teologia (da
confissão positiva ou da prosperidade).

II Deveres espirituais v.7-17


Estes deveres se referem à vida da Igreja de Jesus e a um relacionamento direto com Ele.
Vejamos:

1 Submissão aos líderes v.7,8,17


Submissão é ter a coragem de renunciar a gostos e preferências. Quem só faz o que quer, na
verdade, é covarde. A submissão à liderança espiritual, apesar de ser humana é uma ordem e
uma bênção divina; pois a submissão coloca a responsabilidade dos resultados nas mãos de
Deus (Lc 5.4-6; Rm 13.1-7). E por que submeter-se a uma liderança cristã?
• Porque nos pregam a Palavra de Deus (v.7): E pregar a Bíblia exige esforço, trabalho
árduo, coragem para falar a verdade e honestidade para ensinar o que é correto, não
adulterar a mensagem (At 20.31; 1 Co 2.1-5; 2 Co 4.7-13; 1 Ts 2.1-12).
• Por causa do estilo de vida que buscam (v.7): Apesar de suas fraquezas e erros, estes
líderes insistem em buscar uma vida que seja do agrado de Deus; e isso até mesmo
quando pecam, pois são modelos de arrependimento. Dois grandes exemplos da Bíblia
são Davi (que, por causa de seus pecados nos deixa salmos maravilhosos de
arrependimento, como o 32, 38 e 51); e Pedro que após a negação se arrepende e
retoma a vida como obreiro para ser o líder da desejável Igreja Primitiva. E aqui surge a
aplicação: imitamos nossos líderes em seu arrependimento também? Ainda mais: os
perdoamos?
• Porque cuidam de nossas almas (v.17): O preço deste cuidado se manifesta em oração,
visitas, aconselhamentos, socorros etc., (2 Co 4.7-13; 1 Ts 2.1-12). E deve ser observado que
parte da alegria dos líderes vem da atitude de cada crente para com eles (3 Jo 4; Fm 7).
O v.8 é um reforço para a submissão aos líderes, pois estes foram levantados pelo próprio Jesus.
Os apóstolos e primeiros líderes estavam morrendo; mas Jesus é o mesmo que, não só levantava
novos líderes, mas os usava para pastorear o rebanho de Deus (1 Pe 5.1-4).

2 Fugir do ascetismo v.9


Os ensinos condenados no v.9 são uma clara referência às leis dietéticas do judaísmo; mas
também ao gnosticismo (que dizia que a matéria é má e o espírito é bom). Paulo já disse que
ascetismo não tem valor contra a sensualidade (Cl 2.2-23). Em 1 Tm 4.1-3, Paulo chama isso de
ensino de demônios (v.1). O que, de fato, leva a uma vida de santidade é a graça que atua no
coração. E graça não é somente “favor imerecido”. É também a força de Deus para viver a vida
que Ele tem para Seu povo.

3 Buscar a santidade v.10-16


Santificação é o processo pelo qual se morre cada vez mais para o pecado, e se busca viver
para a retidão e proximidade de Deus. O que o autor apresenta como santidade nestes
versículos?
• Tomar a cruz (v.10): O altar de que se fala aqui, conforme Kistemaker, é a cruz. E Jesus
disse que quem não tomar a cruz não pode ser Seu discípulo (Mt 10.38). Isso significa
obedecer e se identificar com, mesmo até à morte. No altar do judaísmo ainda se
oferecia animais; mas no nosso altar, Jesus já foi oferecido e nosso papel é obedecê-lo,
viver a vida que Ele viveu. Oswald Chambers chega a dizer que isso é que é ter a vida
eterna; ou seja, buscar viver a vida obediente que Jesus viveu.
• Não se contaminar pelos desvios de uma religião institucionalizada (v.11-13): Estes
versículos mostram Jesus como sacrifício perfeito pelos nossos pecados; pois, no Dia da
Expiação (Yom Kippur), o sangue era trazido para dentro do Santo dos Santos e o corpo
do animal era queimado fora do acampamento. E Jesus morreu fora dos muros de
Jerusalém. Isso nos mostra que, precisamos de discernimento para não nos deixar adoecer
pelos vícios da religião que se deturpou. Isso pode ser visto em Mt 23.23, onde alguns
preceitos são observados em detrimento da justiça, da misericórdia e da fé. É visto
também em Lc 18.9-14, onde a religião adoecida insiste em alguns preceitos e, por isso,
ganha o dedo em riste, a condenação; e perde o coração quebrantado e arrependido
do publicano.
• Almejar a glória celestial (v.14): Outro sinal de santidade é se almejamos o céu. Isso tem se
perdido na igreja atualmente. Quando lemos a vida de personagens da igreja, vemos que
isso era uma marca em suas vidas. David Brainerd confiava a seu Diário um intenso anseio
pelo céu. D. M. Lloyd-Jones, quando estava enfermo, perto de sua morte, diz à família:
“não orem por cura. Não me impeçam de ir para o céu”. Os verdadeiros santos almejam
o céu.
• Sacrifícios espirituais (v.15-16): O v.15 apresenta o “sacrifício de louvor”. Este tipo de
sacrifício é feito com a boca; pois as palavras alimentam a mente e uma mente
dominada leva a uma prática de vida. E acima de tudo com atitudes de ações de
graças. E este é seguido pela prática de fazer o bem e cooperar com os outros em tudo
(v.16). Os tempos de crise são uma grande oportunidade para a prática desta mútua
cooperação.

III O dever da intercessão v.18-19


Que postura preciosa deste autor de Hebreus. Durante todo sermão-carta exorta seus leitores a
não abandonarem Jesus, em alguns momentos usa até palavras duras de repreensão (Hb 5.11-
14); mas, ao pedir oração, demonstra que sabia que eram pessoas comprometidas com Cristo e
o Evangelho. Tiago 5.16 diz que a súplica do justo tem grande eficácia. Portanto, ao pedir
oração aos hebreus, o autor confia que são justificados, justos. E é isso que deve nos motivar à
intercessão: somos justificados em Cristo. A nossa justificação é o maior incentivo para orar. Orar
faz toda diferença no Reino de Deus. E o v.19 deixa isso muito claro. Não está claro se o autor
estava preso; mas alguma circunstância o impedia de estar com os leitores e a primeira coisa a
se fazer era a oração. É isso que precisamos fazer: buscar a intercessão; pois “o único risco que
se corre quando oramos, é que Deus responde às orações” (Ronaldo Lidório). O autor de
Hebreus sabia disso.

IV O dever de abençoar v.20-21


Outro dever a ser cumprido em meio às lutas e provações é abençoar outras pessoas. O autor
dá esse exemplo ao dizer palavras de abençoadoras aos seus leitores. E ele deseja
aperfeiçoamento constante para que seus leitores cumprissem a vontade de Deus, de forma
agradável e não desagradável, mesmo em meio a tantas lutas e provações.
Vale lembra que, abençoar outros vence a amargura. Isso pode ser visto no Salmo 129.8c,
o salmista, mesmo em meio a memórias amargas, resolve abençoar àqueles que lhe
amarguraram a alma. Certamente isso não é um exercício automático. É preciso constância,
insistência em praticá-lo; mas fiel é Deus, que nos chama e cumprirá (1 Ts 5.24).

V O dever de suportar a Palavra v.22


É por causa deste versículo que Hebreus é considerado um sermão (conforme At 13.15). E esta
Palavra deve ser suportada. Ou seja, deve ser encarda de forma positiva e abençoadora, por
mais que ela confronte nossos gostos e preferências.

VI O dever da comunhão v.23-25


Estes versículos mostram que a Igreja desfrutava de uma comunhão plena. E esta comunhão se
configurava em preocupação uns com os outros (v.23); e uns dando suporte aos outros para que
cada um cumprisse sua missão (v.23b). Se Timóteo fosse solto, imediatamente, iriam juntos visitar
os irmãos hebreus.
O v.25 pontua o que é necessário para viver tudo o que nos acontece: a graça de Deus. E
a graça precisa ser experimentada no contexto de uma comunidade e não sozinho. O v.25 que
“a graça seja com todos vós”. Nenhum fica de fora, mesmo o mais fraco. Graça que se
experimenta sozinho, além de ser suspeita, pode causar o pior dos pecados: o orgulho espiritual.
Que Deus nos livre disso!

Conclusão:
A vida cristã é uma batalha (Jd 3). Tem muitas provações; mas que nenhum de nós busque alívio
em nada que entristeça ao coração do Senhor Jesus. Mas por que tem que ser assim? As estrofes
finais de um hino de John Newton (1725-1807) ajudam a responder:
Senhor, por que isso? clamei a tremer, Perseguir teu verme até à morte?
É desse modo, disse o Senhor; que Eu respondo aos rogos por graça e fé.
Estas provações íntimas Eu uso para livrá-lo do orgulho e egoísmo;
E quebrar teu esquema de alegria terrena, para que possas buscar-te todo em mim.

Que Deus nos ajude nesse caminho!


Soli Deo Glória.

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