Serviços Farmacêuticos

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Fonte:

Universidade Federal de Santa Catarina. Serviços farmacêuticos [Recurso eletrônico] /


Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Aberta do SUS. Florianópolis:
UFSC, 2011. 397 p.

AUTORES

Antonio Fernando Boing, Carine Raquel Blatt, Célia Maria Teixeira de Campos, Iane
Franceschet de Sousa, Indianara Reynaud Toreti Becker, Jardel Corrêa de Oliveira,
Julieta Ueta, Ligia Hoepfner, Margaret Grando, Marlene Zannin, Mônica Holtz
Cavichiolo Grochocki, Noemia Liege Bernardo, Norberto Rech (Colaborador), Paulo
Sérgio Dourado Arrais, Rafael Mota Pinheiro, Ronald dos Santos
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Unidade 1 – o uso de ferramentas da epidemiologia na


assistência farmacêutica........................................ 13
Lição 1 - Definição e potenciais usos da epidemiologia para
a gestão da assistência farmacêutica............................................ 15
Lição 2 - Medidas de frequência de doenças...................................... 20
Lição 3 - Indicadores de saúde........................................................... 24
Lição 4 - Sistemas de informações em saúde..................................... 39
Lição 5 - Acessando os dados dos sistemas de informações em saúde.. 42

Referências. ........................................................................ 51
Unidade 2 – Seleção de medicamentos...................................... 55
Lição 1 - A importância da seleção de medicamentos......................... 58
Lição 2 - Requisitos para a elaboração da lista de
medicamentos essenciais............................................................. 65
Lição 3 - Comissão de Farmácia e Terapêutica.................................... 71
Lição 4 - Como estabelecer prioridades no processo de
revisão da lista de medicamentos................................................. 82
Lição 5 - Informação sobre medicamentos............................................ 86
Lição 6 - Apresentando as fontes de informação
sobre medicamentos..................................................................... 94
Lição 7 - Como tratar as demandas de outras origens....................... 105
Lição 8 - As fontes de informação na mídia eletrônica....................... 109
Lição 9 - As bases de dados bibliográficas........................................ 120
Lição 10 - Modelos para elaboração de parecer sobre medicamentos.. 132
Lição 11 - Evidência como orientadora de conduta........................... 141
Lição 12 - A formalização da seleção de medicamentos
na gestão pública..............................................................................156

Referências. ...................................................................... 171


Unidade 3 – Programação, aquisição, armazenamento e
distribuição de medicamentos................................ 177
Lição 1 - Programação: Definição e objetivo da programação
de medicamentos........................................................................ 181
Lição 2 - Programação: Métodos de programação............................. 186
Lição 3 - Programação: Controle de estoque..................................... 191
Lição 4 - Programação: Gestão dos estoques de medicamentos........ 202
Lição 5 - Aquisição: Definição, objetivo e financiamento da
aquisição de medicamentos no serviço público.............................. 205
Lição 6 - Aquisição: Modalidades de licitação pública........................ 213
Lição 7 - Aquisição: Princípios e fases da licitação pública................ 217
Lição 8 - Aquisição: Elaboração do edital........................................... 221
Lição 9 - Armazenamento e distribuição de medicamentos:
Definição, objetivo e etapas do armazenamento e
da distribuição dos medicamentos.............................................. 227
Lição 10 - Armazenamento e distribuição de medicamentos:
Central de abastecimento farmacêutico......................................... 234
Lição 11 - Armazenamento e distribuição de medicamentos:
Distribuição de medicamentos.................................................... 242
Lição 12 - Armazenamento e distribuição de medicamentos:
Resíduos de saúde............................................................................246

Referências. ...................................................................... 256


Unidade 4 – dispensação de medicamentos............................... 263
Lição 1 - Dispensação: conceitos e objetivos..................................... 266
Lição 2 - Organização da dispensação.............................................. 272
Lição 3 - Estrutura física e recursos humanos para a
organização da dispensação.............................................. 280
Lição 4 - Processo de dispensação................................................... 282
Lição 5 - Registro das informações de dispensação ......................... 303

Referências. ...................................................................... 308


Unidade 5 – Ações de vigilância em saúde................................ 313
Lição 1 - Contextualização da vigilância em/da saúde....................... 315
Lição 2 - Integralidade da atenção à saúde no território.................... 326
Lição 3 - Redes de atenção à saúde ................................................. 332
Lição 4 - Compartilhando conhecimentos e experiências.................. 339

Referências. ...................................................................... 347


Unidade 6 – Farmacovigilância.............................................. 353
Lição 1 - Farmacovigilância: aspectos introdutórios........................... 357
Lição 2 - Reações Adversas a Medicamentos - RAM......................... 362
Lição 3 - Intoxicações humanas por medicamentos.......................... 368
Lição 4 - Métodos aplicados à farmacovigilância.............................. 371
Lição 5 - A farmacovigilância e o ciclo da assistência farmacêutica.. 383

Referências:....................................................................... 393
APRESENTAÇÃO DO CURSO

Seja bem-vindo!

Os medicamentos são insumos essenciais nos processos


de prevenção de doenças e recuperação da saúde. Exemplo
disto é o fato de que nos últimos anos o Ministério da Saúde tem
gasto cerca de 12% do seu orçamento para aquisição de
medicamentos. Contudo, apenas disponibilizar medicamentos não
é suficiente para melhorar as condições de saúde da população.

Quando os medicamentos são prescritos e/ou utilizados de


maneira inadequada, ou ainda quando os serviços farmacêuticos
não estão bem estruturados e organizados, observa-se o aumento
dos riscos de agravos à saúde e dos custos envolvidos e, acima de
tudo, o não cumprimento da função para a qual existem: melhorar
efetivamente a qualidade de vida da população.

Entendemos ser fundamental estruturar os serviços farmacêuticos de


forma integrada aos serviços médicos, de enfermagem, de
psicologia, de nutrição, de assistência social, entre outros, que
compõem os serviços de saúde. Desta forma, o curso visa
instrumentalizar os alunos para o desenvolvimento de atividades
que possibilitem a estruturação dos serviços farmacêuticos sob uma
nova perspectiva.

Inicialmente vamos discutir o uso de ferramentas da epidemiologia


na assistência farmacêutica.

Quais são os principais indicadores empregados na área de


saúde, como calculá-los, interpretá-los e onde podemos obter esses
dados para planejar e avaliar, pensar e exercer a gestão da
Assistência Farmacêutica de forma mais eficiente?

Na sequência, vamos refletir sobre a importância da Seleção de


Medicamentos no âmbito da saúde pública e trabalhar do ponto de
vista teórico e prático os aspectos envolvidos na seleção de
medicamentos, segundo os princípios epidemiológicos e da saúde
baseados em evidências.
Vamos discutir como desenvolver as ações de
programação, aquisição, armazenamento e distribuição de
medicamentos nos serviços públicos. Estas atividades,
quando realizadas adequadamente, contribuem para
minimizar faltas e sobras de medicamentos e para viabilizar os
complexos trâmites burocráticos do processo de compras
públicas.

Outra etapa fundamental dos serviços farmacêuticos é a


dispensação dos medicamentos. A reestruturação deste serviço
é cada vez mais premente, visando um processo que promova o
uso racional de medicamentos, focado nas necessidades dos
usuários e desenvolvido de forma integrada aos demais serviços
específicos que compõem os serviços de saúde.

Sob esta lógica, o profissional farmacêutico precisa conhecer


e participar dos debates nacionais sobre o papel da Vigilância
em Saúde e das Redes de Atenção à Saúde, refletindo sobre o
Modelo de Atenção à Saúde no Sistema Único de Saúde,
contribuindo para a inserção das questões farmacêuticas neste
debate.

Por fim, vamos trabalhar a importância da Farmacovigilância na atenção


à saúde e a contribuição dos serviços farmacêuticos para otimizar a
utilização de medicamentos e diminuir os riscos de agravo à saúde.

Você irá refletir sobre todos os métodos, técnicas,


fluxos inerentes aos serviços farmacêuticos, mas também tendo
sempre em mãos os instrumentos, as habilidades e as formas de
gestão que colaboram em muito para que tudo isso
funcione como forma de condução para uma realidade melhor
que a atual:

o trabalho cooperativo, a participação, a escuta, a transparência, a


negociação e a democracia.
Objetivos

• Empregar os instrumentos de gestão dos serviços farmacêuticos


no setor público de saúde.

• Realização da seleção de medicamentos segundo os princípios


epidemiológicos e da saúde baseada em evidências.

• ompreender os meios e a aplicação de instrumentos de gestão


C
na programação, aquisição, armazenamento e distribuição de
medicamentos no setor público de saúde.

• struturar o processo de dispensação de medicamentos, visando


E
a promoção do uso racional de medicamentos e focado nas
necessidades dos usuários.

• efletir sobre conceitos, organização, saberes e olhares da(s)


R
Vigilância(s) local/municipal/regional ou estadual e a necessária
articulação da Gestão da Assistência Farmacêutica com a
Vigilância em /da Saúde.

• Compreender a importância da Farmacovigilância e


instrumentalizar para o desenvolvimento de atividades
relacionadas à Farmacovigilância, refletindo sobre o papel dos
profissionais de saúde e gestores como agentes de mudança
nesta área.

Carga horária: 100 horas.

Unidades:

Unidade 1: O uso de ferramentas da epidemiologia na


assistência farmacêutica

Unidade 2: Seleção de medicamentos

Unidade 3: Programação, aquisição, armazenamento e


distribuição de medicamentos

Unidade 4: Dispensação de medicamentos

Unidade 5: Ações de vigilância em saúde

Unidade 6: Farmacovigilância
Unidade 1
UNIDADE 1 - O USO DE FERRAMENTAS DA EPI-
DEMIOLOGIA NA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Ementa da Unidade

• Usos e aplicações da epidemiologia.

• Medidas de frequência de doenças.

• Indicadores de saúde.

• Informações em saúde.

• Sistemas de informação em saúde.

Objetivos específicos de aprendizagem

• Identificar o potencial uso da epidemiologia para a gestão da


assistência farmacêutica.

• Entender a importância do uso de medidas de frequência de


doenças no âmbito dos serviços de saúde e aprender a calculá-las.

• Conhecer os principais indicadores de saúde, compreender a


relevância de seu uso no planejamento em saúde e aprender a
calculá-los.

• Identificar os principais sistemas de informações em saúde


brasileiros e sua potencial aplicação.

• Aprender a acessar os principais sistemas de informações em


saúde a partir de seus endereços eletrônicos.

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 13


Apresentação

Saber para onde queremos ir é fundamental para guiar nossas


escolhas no presente.

Da mesma maneira, reconhecer onde estamos também é


essencial para definir qual passo dar. Planejar ações é algo
que fazemos constantemente em nossa vida pessoal e
que precisamos impor também em nosso cotidiano de
trabalho. Atualmente, é necessário que os gestores
aperfeiçoem e busquem novas estratégias no setor saúde,
com propostas estruturantes, que garantam a eficiência de
suas ações. E o aumento da eficiência é conquistado quando
se planeja de acordo com a realidade de saúde e se sabe para onde
se deseja ir.

Ao atuar nas diferentes etapas de gestão da assistência


farmacêutica, sobretudo na seleção, programação, distribuição e
avaliação da utilização de medicamentos, exige-se do farmacêutico
conhecimento apurado da realidade sanitária e epidemiológica da
população. Afinal, quais medicamentos selecionar, quanto comprar,
como distribuí-los e avaliar o seu uso deve ser pautado, dentre
outros fatores, pelo número de habitantes da região, sua
distribuição etária, sua carga de doenças, as principais morbidades
que acometem as pessoas, além de aspectos econômicos, sociais
e culturais.

Quais são os principais indicadores empregados na área de


saúde, como calculá-los, interpretá-los e onde podemos obter
esses dados para planejar a gestão da assistência farmacêutica
mais eficiente é o que veremos a seguir. Mas, antes disso, vamos
definir epidemiologia e conhecer suas premissas e usos potenciais.

Bons estudos!

Conteudistas responsáveis:
Antonio Fernando Boing
Carine Raquel Blatt

Conteudista de referência:
Antonio Fernando Boing

Conteudistas de gestão:

Antonio Fernando Boing


Carine Raquel Blatt

14 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


ENTRANDO NO ASSUNTO

Lição 1 – Definição e potenciais usos da epidemiologia para


a gestão da assistência farmacêutica

Nesta primeira lição vamos construir uma base para aprofundar o


conhecimento sobre a temática da unidade. Vamos iniciar pelas
definições dos termos básicos e depois veremos as premissas e os
usos potenciais da epidemiologia, sempre com exemplos para que toda
a informação nova possa ser contextualizada. Assim, esperamos que,
ao final desta lição, o aluno esteja apto a identificar o potencial uso da
epidemiologia para a gestão da assistência farmacêutica.

O que é mesmo epidemiologia?

A literatura é farta em tentativas de se definir epidemiologia. Existem


dezenas delas e cada uma expressa, na verdade, a diferença existente
na forma de se enxergar a ciência e o mundo. Consideramos a
proposta de Rouquayrol e Goldbaum (2003) bastante completa e que
permite um ótimo entendimento. Segundo os autores:

Epidemiologia é a “ciência que estuda o processo saúde-doença


em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores
determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à
saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou
erradicação de doenças, e fornecendo indicadores que sirvam de suporte
ao planejamento, à administração e à avaliação das ações de saúde”.

Ou seja, a Epidemiologia se distingue claramente da clínica. 1 Coorte é um tipo de estudo


Enquanto a primeira estuda eventos em populações, comunidades, epidemiológico que,
coletividades, a segunda tem como objeto o indivíduo. Isso significa basicamente, se configura
que o conhecimento epidemiológico não é utilizado na clínica? De pelo acompanhamento dos
maneira alguma! sujeitos de pesquisa, por ser
observacional, ter grupos de
As ferramentas epidemiológicas são largamente empregadas comparação e por sua linha
para produzir evidências científicas que auxiliam a clínica. Por temporal de pesquisa partir
exemplo, os medicamentos que utilizamos são testados em da exposição (fator) em
estudos epidemiológicos chamados ensaios clínicos, que atestam a direção à doença (desfecho).
segurança e eficácia dos mesmos. A identificação de fatores de risco
para doenças cardiovasculares pode ser demonstrada por meio de
estudos de coorte1 ou caso controle.

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 15


Agora, voltando à definição de epidemiologia, a primeira característica
que vimos foi o estudo do processo saúde-doença em coletividades
humanas. Isso envolve investigar como as doenças, os agravos à saúde
e os determinantes da saúde das pessoas se distribuem na população.

Cabe destacar que a epidemiologia tem como premissa o entendimento


de que esses fatores não acontecem, ou se distribuem, ao acaso nas
comunidades. Ou seja, há características individuais e coletivas que
determinam a carga de doenças que cada grupo populacional ou região
apresentam. Assim sendo, é fundamental conhecer como as doenças
se distribuem na população, como variam no tempo e o que determina
essas diferenças espaciais e temporais.

Precisamos de todas essas informações para que possamos, com


base concreta, planejar ações, programar serviços e avaliar se o
que fazemos está produzindo o impacto esperado. Vejamos alguns
exemplos direcionados à área farmacêutica:

• Exemplo 1: Há algumas décadas, no Brasil o profissional de


saúde depositava grande preocupação sobre as doenças
infecciosas e parasitárias. Isso porque, em meados do século
XX, cerca de 50% dos óbitos dos brasileiros ocorriam por essas
causas. Ao longo dos anos, a distribuição das doenças, ou seja,
o perfil epidemiológico brasileiro mudou. Observou-se acréscimo
das doenças crônicas e declínio das infecciosas e parasitárias.
A Figura 1, a seguir, apresenta a razão das mortes por doenças
do aparelho circulatório e respiratório em relação às mortes por
doenças infecciosas e parasitárias.

14
12
Razão de mortalidade

10
8
6
4

2
0
1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007
Ano
Figura 1 – Razão entre as mortes por doenças do aparelho circulatório e respiratório e doenças infecciosas e
parasitárias. Brasil, 1979-2007.
Fonte: Sistema de Informação sobre mortalidade

16 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


Em 1979, a mortalidade proporcional pelas doenças
cardiovasculares e respiratórias era duas vezes maior, já em 2007,
proporcionalmente, morria-se no Brasil quase 12 vezes mais por
essas causas em relação às doenças infecciosas e parasitárias.
Acompanhar a mudança na carga de doenças e sua distribuição
na população é vital para que um gestor planeje adequadamente
as ações de saúde. Correto? Em 2007 não se pôde mais
planejar em saúde considerando os dados de 1979. O perfil
epidemiológico mudou! O mesmo vale para um farmacêutico
que precisa selecionar medicamentos para a população. Ele
precisa saber de que adoece e morre a população para entender
a demanda de medicamentos e planejar a oferta necessária
dos insumos. Além disso, alguns municípios podem apresentar
diferentes perfis epidemiológicos das doenças. Essas diferenças
podem estar relacionadas a características culturais, genéticas,
ambientais, de organização do serviço.

Reflexão

Você sabe quais as principais causas de mortes na população do seu


município? Elas estão variando ao longo dos anos?

• Exemplo 2: A partir de 1948, o Framingham Heart Study (FHS)


passou a acompanhar 5.209 pessoas com idade entre 30 e 62
anos. Desde então, a cada dois anos essas pessoas passam por
um detalhado exame de saúde e respondem a um questionário,
identificando-se fatores de risco a doenças coronarianas. É um dos
mais famosos estudos epidemiológicos do mundo e, certamente,
muitos dos conhecimentos que você tem sobre o tema são
originários de análises do FHS. Por exemplo, valor elevado de
colesterol LDL, valor baixo de colesterol HDL, obesidade e inatividade
física aumentam as chances de ataque cardíaco, correto?

Essas evidências vêm do FHS! Portanto, pesquisar os fatores associados


às doenças é vital para definirmos ações de prevenção de doenças,
promoção de saúde e também de desenvolvimento de novos fármacos.

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 17


Identificar os fatores que podem aumentar o risco da doença auxilia
o farmacêutico no acompanhamento dos usuários. Existem alguns
fatores que consideramos não modificáveis, como idade, sexo e
herança genética. Mas os modificáveis, que estão relacionados
principalmente ao comportamento do indivíduo e são social, cultural
e economicamente determinados, podem ser alvos de intervenção
e merecem especial atenção dos profissionais de saúde.

• Exemplo 3: A partir de 1996, o Brasil consolidou-se como um dos


primeiros países em desenvolvimento a prover a seus cidadãos
acesso aos medicamentos antirretrovirais por meio de um sistema
público de saúde. Essa importante política pública é exemplar e,
junto com outras ações constituintes do Programa Nacional de
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e AIDS, espera-se
que tenha alterado a magnitude da mortalidade por esse agravo
no país. Mas será que houve mudanças positivas? E, em caso
positivo, de quanto foi essa redução? Dourado e colaboradores
(2006), por meio de estudo epidemiológico, investigaram esse
assunto e concluíram, de maneira categórica, que, apesar de o
número de casos novos crescer durante toda a década de 1990,
a mortalidade apresentou tendência diferente e caiu a partir de
meados dos anos 1990. Tal constatação permite ao formulador
de políticas públicas e ao profissional de saúde defender essa
importante ação, seja em nível institucional ou individual.

• Exemplo 4: Frequentemente o farmacêutico realiza atividades de


educação em saúde, por exemplo, mas ao elaborar esta atividade
não planeja como medir os resultados da intervenção. Mostrar os
resultados aos gestores é importante para justificar a contratação
de outros profissionais e a adequação dos serviços. Veja o
exemplo a seguir: na Unidade Básica de Saúde Vila Romana, São
Paulo, foi proposta intervenção em uma população de usuários
diabéticos e hipertensos por meio de formação de grupos para
ação educativa, seguimento regular, fornecimento de medicação,
controles periódicos e atendimento de intercorrências. Nos
primeiros três meses, ocorreram encontros mensais, seguidos
de consultas periódicas, controle das doenças e dispensação
da medicação por mais 27 meses. Com os 191 usuários,
foram formados grupos de hipertensos e grupos de diabéticos/
hipertensos. Comparando-se os resultados iniciais com os de
pós-intervenção, observou-se redução relativa de 42% e absoluta
de 26% no número de usuários com pressão moderada e grave.
Para os diabéticos, a redução absoluta foi de 22%, para aqueles
com glicemia superior a 200mg/dl, e aumento de 33%, para
aqueles com níveis inferiores a 125mg/dl (SILVA et al, 2006).

18 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


• Exemplo 5: Outro exemplo que pode ser interessante em relação
a dados na assistência farmacêutica é a criação de um banco com
informações para o monitoramento e a avaliação da demanda
judicial. Manter um cadastro das ações judiciais que demandaram
o fornecimento de medicamentos, contendo informações que
permitam localizar o processo, identificar o usuário, quem o
representou juridicamente, planejar as futuras aquisições e elaborar
a defesa. O cadastro deve ser único e compartilhado o acesso entre
as áreas que atuam no atendimento das demandas judiciais. Essas
informações são importantes para verificar que medidas preventivas
podem ser realizadas para evitar a demanda judicial. O conhecimento
das ferramentas da epidemiologia poderá contribuir muito na
construção do banco de dados e na sumarização dos resultados.

Poucos são os indicadores de serviços de saúde propostos,


implantados, avaliados e efetivamente utilizados para a melhoria
dos serviços prestados na assistência farmacêutica. Um estudo
promovido pela Organização Mundial de Saúde, e coordenado pelo
Ministério da Saúde e pela Organização Pan-Americana de Saúde,
apresentou a situação farmacêutica do Brasil em 2003. Foi avaliado
um conjunto de indicadores organizados em dois níveis: estruturas
e processos da situação farmacêutica nacional (nível I) e indicadores
de dados de acesso e uso racional de medicamentos (nível II). Os
resultados desse estudo subsidiaram importantes debates sobre
a assistência farmacêutica e podem ser acessados na publicação
Avaliação da Assistência Farmacêutica no Brasil (OPAS, 2005).

Você já tomou conhecimento do artigo Avaliação da gestão


descentralizada da assistência farmacêutica básica em municípios
baianos, de Barreto e Guimarães (2010), sobre indicadores da
assistência farmacêutica apresentado na unidade “Avaliação em
saúde e avaliação da assistência farmacêutica”. Se quiser conhecer
outros trabalhos, indicamos outros dois estudos sobre o tema.

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 19


Para completar seus conhecimentos, recomendamos a leitura de
dois artigos.

- Assistência farmacêutica na atenção básica de saúde: a experiência


de três estados brasileiros, de Cosendey e colaboradores, publicado no
periódico Caderno de Saúde Pública, em 2000.

- A proposal for an evaluation model of pharmaceutical services for


malaria, de Osorio-de-Castro e colaboradores, publicado no periódico
Caderno de Saúde Pública, em 2009.

Vimos aqui vários exemplos do uso e da importância dos dados


epidemiológicos para a resolução de problemas e para o aumento
do conhecimento em saúde. Também vimos como as ferramentas
epidemiológicas nos auxiliam para planejar ações, programar serviços
e avaliar os resultados, ou seja, auxiliam a gestão da assistência
farmacêutica.
Como já vimos durante o Curso, todas as informações são importantes
e devem ser consideradas no processo de condução da Assistência
Farmacêutica - as informais e as formais, as qualitativas e as
quantitativas. O mais importante é sempre utilizar o conjunto delas e
saber como cada uma é construída e como deve ser interpretada, e
como pode e deve, realmente, contribuir para o reconhecimento da
realidade com qual lidamos e na qual gerenciamos.
Então, colega, vamos seguir na Unidade para compreender e saber
utilizar a epidemiologia como ferramenta de gestão, sem medo e com
segurança!

Lição 2 – Medidas de frequência de doenças

Comentamos anteriormente que é vital um profissional de


saúde conhecer o perfil epidemiológico da população e avaliar a
implementação de um novo serviço, organização ou ação para o
monitoramento das ações ou para a avaliação dos resultados. Mas
como fazemos isso? Tal leitura da realidade se dá por meio do uso

20 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


de medidas de frequência e de indicadores de saúde. São essas
questões que abordaremos nesta lição e que levará você a conhecer
as principais medidas de frequência de doenças.

O mais conhecido uso da epidemiologia talvez seja o que se refere ao


emprego de medidas quantitativas para identificar a frequência das
doenças na população. No que tange à assistência farmacêutica, o
conhecimento das patologias que acometem a população é muito
importante para a seleção dos medicamentos, tema que será tratado
com profundidade na unidade 2 deste Módulo.

A prevalência e a incidência, que veremos a seguir, são as principais


medidas utilizadas para avaliar a frequência de doenças e eventos
relacionados à saúde na população. Por meio dessas medidas de
frequência e indicadores de saúde, você pode determinar se houve
aumento ou decréscimo da doença ao longo dos anos e se uma
área geográfica ou determinado grupo populacional tem frequência
da doença mais alta do que outros. Isso pode ser útil tanto para a
adoção de medidas preventivas, como para a indicação terapêutica
do uso de um medicamento.

Para facilitar sua compreensão apresentamos, na sequência, alguns


exemplos do emprego dessas medidas.

• Exemplo 1: Em Fortaleza, no Ceará, pesquisa realizada em 2002


mostrou que quase metade da população entrevistada consumiu
medicamentos num período de duas semanas. A prevalência
constatada foi de 49,7%, sendo mais elevada entre as mulheres
(55,6%), os mais idosos (67,2%), os mais ricos (55,2%), naqueles
com plano de saúde (66,0%) e hospitalizados no último ano
(62,0%) (ARRAIS et al, 2005).

No exemplo anterior é apresentada a prevalência do uso de


medicamentos em uma população. O que significa isso?

Primeiramente, vamos definir prevalência. “Trata-se da frequência


de casos existentes de uma um determinado evento relacionado à
saúde, em uma determinada população e em um dado momento”
(MEDRONHO, 2005, p.26). Colocando-se isso numa fórmula, temos
o seguinte:

número de casos existentes


em determinado período
Prevalência = x constante
número de pessoas na
população no mesmo período

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 21


Ou seja, dividimos o número de casos existentes daquilo que estamos
investigando pela população e multiplicamos por uma constante, que
pode ser uma potência de 10, 100, 1.000, 10.000 etc.

• Exemplo 2: Em Porto Alegre, Flores e Mengue (2005)


entrevistaram 215 idosos que residiam em uma zona de cobertura
do Serviço de Saúde Comunitária, ligado a um grupo hospitalar,
área que possuía 12 unidades de saúde. Os autores estavam
interessados em conhecer, dentre outros fatores, a prevalência de
automedicação nessa população. Foi identificado que 71 idosos
haviam consumido medicamento sem consultar um médico.
Portanto, qual a prevalência de automedicação? Tomando-se a
fórmula há pouco descrita, faríamos a seguinte composição:

71 (número de casos existentes)


x 100
215 (número total de pessoas)

Resolvendo a equação apresentada, chegamos a uma prevalência


de 33,0%, ou seja, a cada 100 idosos, 33 realizaram automedicação.

Em algumas situações, no entanto, queremos conhecer como se dá


a dinâmica das doenças (ou eventos relacionados à saúde). Podemos
querer acompanhar com qual intensidade surgem casos novos
de determinada doença em uma população. Para tal, utilizamos a
medida de incidência. Veja o exemplo a seguir:

• Exemplo 3: No município de São Sebastião, em São Paulo, no


ano de 2001, surgiram 1.282 casos novos de dengue, número que
chegou a 2.152 em 2002. Os coeficientes de incidência anuais
para 2001 e 2002 foram de 80,31 e 211,1 por 10.000 habitantes,
respectivamente. Observaram-se maiores incidências (ondas
epidêmicas) nos meses de abril a junho (RIBEIRO et al, 2006).

Nesse exemplo da disseminação dos casos novos de dengue no


interior de São Paulo, podemos definir incidência como “a frequência
de casos novos de uma determinada doença, problema ou evento
de saúde, oriundos de uma população sob risco, ao longo de um
período de tempo” (MEDRONHO, 2005, p.16). Verifiquemos a
fórmula de cálculo da incidência:

22 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


número de casos novos em
determinado período
Incidência = x constante
número de pessoas expostas
ao risco no mesmo período

Ou seja, dividimos o número de casos novos da doença (ou evento)


que estamos investigando pela população exposta ao risco e
multiplicamos por uma constante, que pode ser uma potência de 10,
100, 1.000, 10.000 etc.

Para que esses conceitos fiquem bem claros para você, vamos retomá-
los a seguir. É importante que você consiga entender cada um deles.
Leia com atenção.

A prevalência se refere ao número de casos existentes de uma


doença em um dado momento; é uma “fotografia” sobre a sua
ocorrência. Os casos existentes são daqueles que adoeceram em
algum momento do passado, somados aos casos novos dos que
ainda estão vivos e doentes (MEDRONHO, 2005; PEREIRA, 1995).

A incidência diz respeito à frequência com que surgem novos casos


de uma doença num intervalo de tempo, como se fosse um “filme”
sobre a ocorrência da doença, no qual cada quadro pode conter um
novo caso ou novos casos (PEREIRA, 1995).

A prevalência é amplamente utilizada no planejamento de ações


e serviços de saúde, previsão de recursos humanos, diagnósticos
e terapêuticos. Já a incidência é mais utilizada nas investigações
etiológicas, estudos de prognóstico (sobrevida) e estudos de eficácia
terapêutica.

Veja no quadro a seguir os fatores que podem aumentar ou diminuir


a prevalência das doenças:

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 23


Fatores que aumentam a prevalência Fatores que diminuem a prevalência

• Introdução de fatores que prolongam a • Introdução de fatores que diminuem a


vida dos pacientes sem curá-los; vida dos pacientes;
• Aumento da incidência; • Taxa elevada de letalidade da doença;
• Aprimoramento das técnicas de • Diminuição da incidência;
diagnóstico; • Introdução de fatores que permitem o
• Correntes migratórias originárias de aumento da proporção de curas de
áreas que apresentam níveis uma nova doença;
endêmicos mais elevados. • Correntes migratórias originárias de
áreas que apresentam níveis
endêmicos mais baixos.

Quadro 1 – Fatores que influenciam no aumento ou diminuição da prevalência


Fonte: Pereira,1995.

A partir de agora não deixe de utilizar as medidas de ocorrência


(prevalência e incidência) para acompanhar a carga e a disseminação
das doenças e os agravos à saúde em sua localidade. Elas deverão
ser ferramentas de uso cotidiano no planejamento em saúde.

Lição 3 – Indicadores de saúde

Vimos na lição anterior que diferentes municípios podem apresentar


diferentes perfis epidemiológicos. Além disso, muitos países, inclusive
o Brasil, sofreram modificações no perfil das principais doenças que
acometem a população. Uma forma de analisar e acompanhar essas
alterações de perfil é conhecer quais são os indicadores de saúde,
tema que trataremos nesta lição. Seu objetivo de aprendizagem neste
estudo é o de conhecer alguns dos principais indicadores de saúde.

Segundo Barradas (1999), nas décadas de 1940 e 1950, iniciou-se a


mudança do perfil epidemiológico no Brasil. Os avanços, sobretudo nas
condições gerais de vida e também da qualidade dos serviços de saúde,
contribuíram para a transição epidemiológica, que se caracteriza pela
redução da frequência de doenças infectocontagiosas, diretamente
relacionadas à mortalidade infantil, e ao aumento da ocorrência de
doenças crônico-degenerativas, decorrentes do envelhecimento da
população, do estilo de vida e de fatores ambientais.

Associado à mudança do perfil epidemiológico, o período que vai do


início dos anos 1970 ao início dos 1990 foi caracterizado por intenso
processo de urbanização que resultou no aparecimento de grandes
centros urbanos com mais de um milhão de habitantes, em áreas onde
anteriormente não havia tais adensamentos populacionais; fluxos
migratórios decorrentes desse mesmo processo ou associados a
guerras civis e perseguições políticas; incorporação desordenada de

24 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


tecnologias. Todas essas condições de transformação resultam em
modificações no perfil de morbidade, acarretando o aparecimento de
novas doenças e agravos à saúde e a alteração no comportamento
epidemiológico de antigas doenças, tornando mais complexo o
quadro sanitário (BARRADAS, 1999).

Link

Você conhece a música Carcará, composta por José Cândido da Silva


(Zé Cândido)? A versão apresentada no show “Opinião”e interpretada
por Maria Bethânia, em 1965, disponibilizada no YouTube ilustra a
mudança do perfil epidemiológico e os fluxos migratórios no Brasil.
Você pode conferir o vídeo no endereço http://www.youtube.com/
watch?v=NZbxncygOPQ

Contudo, apesar dos avanços, muitos municípios apresentam


redução apenas modesta nas doenças infectocontagiosas e,
ao mesmo tempo, aumento substancial das doenças crônico-
degenerativas. Dessa maneira, a tarefa de selecionar medicamentos
torna-se bastante complexa e é fundamental conhecer as causas de
morte de sua população.

Para que sua compreensão de situações como essas fique mais fácil,
vamos apresentar alguns conceitos que fundamentam a análise. Fique
atento!

Transição demográfica – Mudanças nos níveis de fecundidade,


natalidade e mortalidade alteram a composição de uma população,
influenciando sua estrutura etária e por sexo. Num primeiro momento,
é caracterizada por altas taxas de mortalidade e natalidade.
Em seguida, há diminuição da mortalidade e manutenção das altas
taxas de natalidade. Como consequência, há aumento populacional
(número de habitantes). Num momento posterior, a natalidade começa
a declinar acentuadamente, levando ao envelhecimento populacional.
Em uma etapa seguinte, natalidade e mortalidade se equilibram em
baixos níveis, próximos da taxa de reposição. Destaca-se como
consequência desses eventos o forte envelhecimento populacional
(VERMELHO e MONTEIRO, 2005).

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 25


Transição epidemiológica – Caminhando junto com a transição
demográfica, há mudança nos padrões de morbidade e mortalidade
em uma população, a transição epidemiológica. Proposto por Omran
(1996), tal teoria postula que “à medida que os países atingem níveis
de desenvolvimento mais elevados, as melhorias das condições
sociais, econômicas e de saúde causam a transição de um padrão
de expectativa de vida baixa, com altas taxas de mortalidade por
doenças infecciosas e parasitárias em idades precoces, para um
aumento da sobrevida em direção às idades mais avançadas e
aumento das mortes por doenças não transmissíveis” (VERMELHO E
MONTEIRO, 2005, p.92).

Agora que verificamos o que representa a transição demográfica e a


epidemiológica, vamos conhecer alguns indicadores de saúde.

Indicadores de saúde

Mortalidade geral

Para qualquer pessoa que trabalha na gestão de saúde no Brasil é


fundamental estar apto a responder: de que morre a população do
país atualmente?

Conhecer os motivos de morte de uma população e sua magnitude é de


extrema relevância para o profissional de saúde avaliar o estado sanitário
da área em estudo. Trata-se de um dos indicadores mais utilizados na
saúde pública e permite comparar, indiretamente, diferentes padrões de
adoecer ao longo do tempo e entre regiões distintas.

Calcula-se a taxa de mortalidade geral “dividindo-se o número de


óbitos concernentes a todas as causas, em um determinado ano,
pela população naquele ano, circunscritos a determinada área
e multiplicando-se por 1.000”, de acordo com a fórmula seguinte
(KERR-PONTES e ROUQUAYROL, 2003, p.40).

número total de óbitos


Mortalidade no período
= x constante
geral população total do período

26 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


Como exemplo, vamos calcular as taxas de mortalidade geral para as
regiões do Brasil, em 2007.

Taxa de mortalidade
Região Número de óbitos População
(x1.000 habitantes)
Região Norte 56.731 15.342.561 3,7
Região Nordeste 262.193 52.193.847 5,0
Região Sudeste 495.877 80.641.101 6,1
Região Sul 169.004 27.641.501 6,1
Região Centro-Oeste 64.019 13.516.181 4,7
Total 1.047.824 189.335.191 5,5
Quadro 2 – Número de óbitos, população residente e taxa de mortalidade segundo macrorregiões. Brasil, 2007.
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DATASUS).

Mortalidade específica

Também podemos detalhar a análise da mortalidade da população,


pois trazem para nós, elementos adicionais para debate. Em vez de
calcular a taxa de mortalidade geral, podemos calcular a taxa de
mortalidade para cada causa específica. Para tanto, no numerador,
em vez de colocar o total de mortes, colocamos o número de óbitos
pela causa que queremos estudar. O denominador continua o mesmo
e a constante mudamos para 100.000.

Veja o quadro a seguir. Ele apresenta as taxas de mortalidade específicas


por causa, no Brasil, no ano 2007, considerando-se população estimada,
no ano, de 189.335.191 pessoas.

Taxa de mortalidade
Causa Número de mortes
(x 100.000 habitantes)
Doenças do aparelho circulatório 308.466 162,9
Neoplasias (tumores) 161.491 85,3
Causas externas de morbidade e mortalidade 131.032 69,2
Doenças do aparelho respiratório 104.498 55,2
Sintomas, sinais e achados anormais de exames
clínicos e de laboratório, não classificados em 80.244 42,4
outra parte
Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 61.860 32,7
Doenças do aparelho digestivo 53.724 28,4
Algumas doenças infecciosas e parasitárias 45.945 24,3
Algumas afecções originadas no período perinatal 26.898 14,2
Doenças do sistema nervoso 20.413 10,8
Doenças do aparelho geniturinário 18.301 9,7
Transtornos mentais e comportamentais 10.948 5,8
Continua...

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 27


Continuação...
Taxa de mortalidade
Causa Número de mortes
(x 100.000 habitantes)
Malformações congênitas, deformidades e
10.262 5,4
anomalias cromossômicas
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos
5.719 3,0
e alguns transtornos imunitários
Doenças do sistema osteomuscular e do tecido
3.789 2,0
conjuntivo
Doenças da pele e do tecido subcutâneo 2.475 1,3
Gravidez, parto e puerpério 1.615 0,9
Doenças do ouvido e da apófise mastoide 118 0,1
Doenças do olho e anexos 26 0,0
Quadro 3 – Número de óbitos e taxa de mortalidade segundo causas. Brasil, 2007.
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DATASUS).

Ou, então, vamos analisar dados do município de Água Fria (BA), que
acompanharemos ao longo do Módulo Serviços farmacêuticos. De que
morre a população de Água Fria (BA)? A população do município, em
2007, era de 15.207 pessoas. Acompanhe o quadro a seguir:

Taxa de mortalidade
Causa Número de mortes
(x 100.000 habitantes)
Sintomas, sinais e achados anormais de exames
clínicos e de laboratório, não classificados em 23 151,2
outra parte
Doenças do aparelho circulatório 8 52,6
Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 7 46,0
Causas externas de morbidade e mortalidade 6 39,5
Neoplasias (tumores) 5 32,9
Doenças do aparelho respiratório 3 19,7
Doenças do aparelho digestivo 3 19,7
Algumas afecções originadas no período perinatal 3 19,7
Transtornos mentais e comportamentais 1 6,6
Malformações congênitas, deformidades e
1 6,6
anomalias cromossômicas
Quadro 4 – Número de óbitos e taxa de mortalidade segundo causas. Água Fria (BA), 2007.
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DATASUS).

Com os exemplos anteriores, verificamos a importância de cada


profissional conhecer o perfil de morbi-mortalidade de sua localidade.
O padrão de mortes no Brasil como um todo é diferente de Água
Fria, correto? Em primeiro lugar cabe destacar em Água Fria a grande

28 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


quantidade de óbitos por causas mal definidas (que no quadro aparece
como “Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de
laboratório, não classificados em outra parte”). Todos esses casos
referem-se a pessoas que morreram e que o médico não precisou
na Declaração de Óbito a causa da morte, indicando deficiência
de registro de dados na localidade. Nesse caso, as 23 mortes por
diversas causas levaram a uma subestimativa da taxa de mortalidade
específica. É um problema, mas não nos impede de usar o dado. Aliás,
apenas utilizando-o abriremos caminho para qualificá-lo.

Em segundo lugar, vê-se que as causas seguintes de óbitos são


diferentes do encontrado no país, exceto as doenças do aparelho
circulatório. Mas, por exemplo, doenças endócrinas e metabólicas
são a terceira principal causa de morte em Água Fria e apenas a
sexta no Brasil.

De maneira análoga, podemos calcular as taxas de mortalidade


específicas por sexo e por idade. Por exemplo, se desejo saber de
que morre a população idosa (60 anos ou mais) do meu município,
componho uma fórmula em que no numerador estará o número de
óbitos dessa faixa etária pela causa em estudo e no denominador o
total de pessoas daquela faixa etária. Realiza-se a divisão e, por fim,
multiplica-se por 100.000 (a constante).

Mortalidade proporcional

Outra medida de mortalidade é a mortalidade proporcional. Por meio


dela podemos expressar quanto das mortes ocorridas se deram pela
causa em questão. Seu método de cálculo é semelhante ao da taxa
de mortalidade específica, no entanto, no denominador trocamos a
população da região pelo total de óbitos ocorridos e a constante
utilizada é 100 (para expressar um percentual). Veja a fórmula a seguir
para o cálculo da mortalidade proporcional:

número de óbitos por


Mortalidade
= determinada causa no período
proporcional x 100
total de óbitos no período

Exemplificando, vamos calcular a mortalidade proporcional em duas


capitais brasileiras: Porto Alegre (Rio Grande do Sul) e São Luís
(Maranhão).

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 29


Porto Alegre São Luís
Mortalidade Mortalidade
Causa
Óbitos proporcional Óbitos proporcional
(%) (%)
Algumas doenças infecciosas e parasitárias 795 7,2 283 6,1
Neoplasias (tumores) 2463 22,3 689 14,9
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e
9 0,1 31 0,7
alguns transtornos imunitários
Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 584 5,3 436 9,4
Transtornos mentais e comportamentais 79 0,7 51 1,1
Doenças do sistema nervoso 520 4,7 100 2,2
Doenças do aparelho circulatório 3347 30,4 1321 28,5
Doenças do aparelho respiratório 1024 9,3 350 7,6
Doenças do aparelho digestivo 489 4,4 279 6,0
Doenças da pele e do tecido subcutâneo 10 0,1 11 0,2
Doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo 53 0,5 12 0,3
Doenças do aparelho geniturinário 130 1,2 68 1,5
Gravidez, parto e puerpério 13 0,1 29 0,6
Algumas afecções originadas no período perinatal 100 0,9 147 3,2
Malformações congênitas, deformidades e anomalias
91 0,8 109 2,4
cromossômicas
Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos
175 1,6 80 1,7
e de laboratório, não classificados em outra parte
Causas externas de morbidade e mortalidade 1140 10,3 635 13,7

Quadro 5 - Número de óbitos e taxa de mortalidade segundo causas. Porto Alegre e São Luís, 2007.
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DATASUS).

Analisando-se o Quadro 5, verificamos, por exemplo, que a cada


100 mortes ocorridas em Porto Alegre, em 2007, aproximadamente
sete foram por doenças infecciosas e parasitárias. Já em São Luís, o
número foi de aproximadamente seis. Verifica-se em outras causas
de morte, como neoplasias, doenças nutricionais e metabólicas e
do sistema nervoso, variações expressivas entre os dois municípios.

Importante: a mortalidade proporcional por causas específicas não mede


risco de morrer, mas apenas mostra a distribuição dos óbitos segundo
cada causa dentre o total.

Vamos ler agora algumas aplicações do conhecimento da mortalidade


proporcional (RIPSA, 2008):

• Analisar variações geográficas e temporais da mortalidade por grupos


de causas, identificando tendências e situações de desigualdade
que possam demandar a realização de estudos especiais.

30 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


• Contribuir para a análise da situação epidemiológica e dos níveis
de saúde da população, identificando questões críticas a serem
melhor investigadas.

• Subsidiar processos de planejamento, gestão e avaliação de


políticas de saúde visando à adoção de medidas preventivas e
assistenciais relativas a cada grupo de causas.

Letalidade

A letalidade mede a probabilidade de um indivíduo, atingido por um


agravo, morrer devido a esse mesmo agravo. A letalidade expressa
o grau de gravidade de uma determinada doença, constituindo,
juntamente com a frequência de sequelas, um dos indicadores
utilizados na identificação de prioridades para o desenvolvimento de
programas de controles de doenças (a severidade do dano).

E permite avaliar a gravidade de uma doença, considerando-se as


variáveis idade, sexo, condições socioeconômicas da região onde
ocorre.

A expressão matemática da letalidade é a seguinte:

Nº de óbitos por determinada


causa x 1.000
Letalidade =
Nº de doentes pela mesma
causa

Índice de envelhecimento

A demanda por medicamentos, em específico, e o padrão


epidemiológico, de maneira geral, estão diretamente relacionados com
a estrutura etária da população. Nas últimas décadas, por exemplo,
a expectativa de vida do brasileiro aumentou sensivelmente. Apenas
entre 1998 e 2009 o ganho foi de aproximadamente três anos de
vida. Enquanto no final da década de 1990 a expectativa de vida da
população brasileira era de 69 anos, 7 meses e 29 dias, em 2009
chegou a 72 anos, 10 meses e 10 dias. Acompanhar tal variação na
estrutura etária da população é essencial para o planejamento dos
serviços de saúde baseado nas demandas advindas desse novo
perfil demográfico do brasileiro. Um indicador utilizado para esse
acompanhamento é o Índice de envelhecimento. Seu método de
cálculo é bastante simples:

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 31


População residente de 65
Índice de anos e mais de idade
= x 100
envelhecimento população residente com
menos de 15 anos de idade

Vamos verificar como esse valor variou em Água Fria, no decorrer das
últimas décadas:
Ano Índice de envelhecimento
1980 12,9
1985 14,6
1990 16,4
1995 16,8
2000 22,1
2005 22,1
2009 28,9

Quadro 6 - Índice de envelhecimento. Água Fria (BA), 1980-2009.


Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ou seja, em 1980, havia aproximadamente 13 pessoas com 65 anos


de idade ou mais para cada 100 com menos de 15 anos. Já em 2009,
havia, em Água Fria, quase 29 idosos para cada 100 pessoas com 15
anos ou menos. Percebe-se um nítido e acentuado envelhecimento
da população do município. Você consegue dimensionar o impacto
de tal mudança demográfica para o planejamento em saúde, inclusive
da assistência farmacêutica?

Mortalidade infantil

O risco de uma criança morrer durante o seu primeiro ano de vida


reflete, indiretamente, os níveis de saúde e de desenvolvimento
socioeconômico de uma região. Conceitualmente, a mortalidade
infantil representa o número de óbitos de menores de um ano de
idade, por mil nascidos vivos, na população residente em determinado
espaço geográfico e ano. A expressão desse indicador pode ser
observada na fórmula seguinte:

N° de óbitos de residentes com


Mortalidade menos de um ano de idade
=
infantil x 1.000
N° de nascidos vivos de mães
residentes

32 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


Esse indicador, um dos mais consagrados e relevantes na área da
saúde, é, ainda, subdividido em:

• mortalidade neonatal precoce, quando no numerador consideram-


se apenas os óbitos de crianças entre 0 e 6 dias de vida;

• mortalidade neonatal tardia, quando no numerador consideram-


se apenas os óbitos de crianças entre 7 e 27 dias de vida;

• mortalidade pós-neonatal, quando no numerador consideram-se


apenas os óbitos de crianças entre 28 dias até um ano de vida.

De maneira geral, quando um determinado país, ou município,


apresenta alta taxa de mortalidade infantil, o componente pós-
neonatal é majoritário, sendo influenciado, sobremaneira, pelas
condições sociais, econômicas e sanitárias da população. Já quando a
mortalidade infantil é baixa, predomina o componente neonatal, muito
sensível à assistência em saúde provida ao recém-nascido no parto e
nos momentos seguintes. Um importante uso da mortalidade infantil é
“subsidiar processos de planejamento, gestão e avaliação de políticas
e ações de saúde voltadas para a atenção pré-natal e ao parto, bem
como para a proteção da saúde infantil” (RIPSA, 2008, p.276).

Esperança de vida

A esperança de vida é um indicador de duração média da vida,


calculados com base na expectativa de mortalidade acumulada em
toda a escala etária. Designa o número médio de anos que ainda
restam para serem vividos pelos indivíduos que sobrevivem até a
idade considerada, pressupondo-se que as probabilidades de morte
que serviram para o cálculo continuem as mesmas.

Região Homens Mulheres Ambos os sexos


1991 1995 2000 2005 1991 1995 2000 2005 1991 1995 2000 2005
Brasil 63,2 64,7 66,7 68,4 70,9 72,5 74,4 75,9 66,9 68,5 70,4 72,1
Norte 63,7 65,1 66,8 68,2 70,3 71,3 72,4 74,0 66,9 68,1 69,5 71,0
Nordeste 59,6 61,4 63,6 65,5 66,3 68,4 70,9 72,7 62,8 64,8 67,2 69,0
Sudeste 64,5 66,0 67,9 69,5 73,4 74,8 76,3 77,7 68,8 70,3 72,0 73,5
Sul 66,7 67,9 69,4 70,8 74,3 75,2 76,3 77,7 70,4 71,5 72,7 74,2
Centro-oeste 65,2 66,7 68,4 69,8 72,0 73,6 75,3 76,7 68,6 70,0 71,8 73,2

Quadro 7 - Esperança de vida ao nascer segundo macrorregiões. Brasil, 1991, 1995, 2000 e 2005.
Fonte: RIPSA, 2008.

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 33


Indicadores de morbidade

Para descrevermos o comportamento de uma doença numa


comunidade, ou a probabilidade (risco) de sua ocorrência, utilizamos
as medidas de frequência (incidência e prevalência) de morbidade.
Os indicadores de morbidade revelam do que adoece a população
e também são bastante úteis para o planejamento em saúde,
principalmente para a seleção e programação de medicamentos.

As informações sobre morbidade no Brasil são obtidas principalmente


por meio de:

• Análises das Autorizações de Internação Hospitalar do SUS;

• Registros de doenças passíveis de notificação compulsória;

• Registros de comunicações de acidente de trabalho;

• Estudos locais realizados com fins específicos de levantar os


diagnósticos e/ou motivos de consulta;

• Estudos de prevalência;

• Arquivos médicos de empresas, sindicatos, escolas;

• Fichas de consultórios particulares;

• Registros policiais;

• Prontuários e estatísticas de estabelecimentos de saúde;

• Arquivos de bancos de sangue;

• Arquivos de laboratórios de patologia clínica.

Vamos ver alguns exemplos para facilitar a compreensão dos conceitos


de prevalência e incidência apresentados. Leia com atenção!

34 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


• Exemplo 1: A taxa de prevalência de diabetes mellitus é calculada
por meio do número de casos da doença (códigos E10 a E14 da
CID10), por 100 habitantes, existentes na população residente
em determinado espaço geográfico, na data de referência do ano
considerado. Essa taxa pode ser utilizada para:

• Analisar variações geográficas e temporais na distribuição da


prevalência de diabetes, identificando áreas de maior risco
e, a partir da repetição de estudos de base populacional,
observar tendências temporais;

• Contribuir na análise de condições de saúde e na avaliação e


prevenção de casos de diabetes mellitus;

• Subsidiar processos de planejamento, gestão e avaliação


de políticas e ações preventivas e assistenciais, relativas
à diabetes mellitus e às doenças associadas, tais como
estimativa de demanda de medicamentos e da necessidade
de profissionais e serviços especializados para tratamento das
doenças causadas pelo diabetes, como doença renal crônica.

A limitação é que esse indicador depende da realização de estudos


amostrais de base populacional, que têm elevado custo financeiro
e apresentam dificuldades de operacionalização (visita domiciliar,
coleta de sangue, pessoal capacitado, materiais e condições
de processamento e análise dos dados). Veja alguns dados de
prevalência de diabetes para a população de 30 a 69 anos, para o
Brasil e algumas capitais (RIPSA, 2008).

Local Taxa (%)


Brasil 7,6
Belém 7,2
Fortaleza 6,5
João Pessoa 8,0
Recife 6,4
Salvador 7,9
Rio de Janeiro 7,5
São Paulo 9,7
Porto Alegre 8,9
Brasília 5,2

Quadro 8 - Prevalência estimada de diabetes mellitus ajustada por idade na população de 30 a 69 anos. Brasil e
capitais selecionadas, 1988.
Fonte: RIPSA, 2008.

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 35


• Exemplo 2: A taxa de prevalência de hipertensão arterial é
calculada por meio da estimativa do percentual de indivíduos
de 25 anos ou mais com diagnóstico de hipertensão arterial,
residentes em determinado espaço geográfico, no período
considerado. Esta taxa pode ser útil para:

• Analisar variações geográficas e temporais na distribuição


da prevalência de hipertensão arterial, identificando áreas
de maior risco e, a partir da repetição de estudos de base
populacional, observar tendências temporais;

• Identificar grupos populacionais de maior risco quanto a


sexo, faixa etária e nível de escolaridade;

• Contribuir na análise de condições de saúde;

• Subsidiar processos de planejamento, gestão e avaliação de


políticas e ações de promoção, de prevenção e assistenciais
relativas à hipertensão e às doenças associadas.

Capital Masculino (%) Feminino (%) Total (%)


Manaus 17,9 26,0 22,7
Belém 18,7 23,5 21,6
Palmas 16,3 17,4 16,9
São Luís 18,2 26,4 23,1
Fortaleza 23,3 28,4 26,3
Natal 21,9 28,6 25,9
João Pessoa 19,7 23,4 22,0
Recife 26,5 31,6 29,5
Aracaju 20,4 29,5 25,8
Belo Horizonte 22,7 28,0 25,8
Vitória 25,9 27,2 26,6
Rio de Janeiro 27,3 33,3 31,0
São Paulo 26,5 31,2 29,3
Curitiba 23,6 28,5 26,4
Florianópolis 21,6 32,1 27,7
Porto Alegre 24,9 34,1 30,2
Campo Grande 20,5 29,5 25,7
Brasília 19,7 27,3 24,0

Quadro 9 - Taxa de prevalência da hipertensão arterial. Brasil, 2002-2003 e 2004-2005.


Fonte: RIPSA, 2008.

36 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


Indicadores do Pacto pela Vida

Você conhece o Pacto pela Saúde? É importante conhecê-lo antes


de avançar no estudo do Pacto pela Vida.

O Pacto pela Saúde é um conjunto de reformas institucionais do


SUS pactuado entre as três esferas de gestão (União, Estados e
Municípios) com o objetivo de promover inovações nos processos
e instrumentos de gestão, visando alcançar maior eficiência e
qualidade das respostas do Sistema Único de Saúde. Ao mesmo
tempo, o Pacto pela Saúde redefine as responsabilidades de cada
gestor em função das necessidades de saúde da população e na
busca da equidade social.

A definição de prioridades está articulada e integrada sob a forma de


três pactos:

• Pacto pela Vida.

• Pacto em Defesa do SUS.

• Pacto de Gestão.

O Pacto pela Vida é um conjunto de compromissos sanitários expressos


em objetivos e metas, derivados da análise da situação de saúde da
população e das prioridades definidas pelos três gestores. O pacto pela
vida reforça no SUS o movimento da gestão pública por resultados,
identificando indicadores de monitoramento e avaliação.

As prioridades nacionais estabelecidas pelo Pacto pela Vida são:

• Saúde do idoso;

• Controle do câncer do colo do útero e da mama;

• Redução da mortalidade infantil e materna;

• Fortalecimento da capacidade de respostas às doenças


emergentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase,
tuberculose, malária e influenza;

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 37


• Promoção da saúde, com ênfase na atividade física regular e
alimentação saudável;

• Fortalecimento da atenção básica.

Existem diversos outros indicadores de saúde utilizados pelos


profissionais que atuam em diferentes posições do setor saúde. Não
é possível descrever todos nesta unidade do Curso, mas existe um
documento em que você pode se basear. Trata-se da publicação
Indicadores Básicos para a Saúde no Brasil, disponível na página
da RIPSA (Rede Interagencial de Informações para a Saúde). É um
excelente material de apoio!

Vimos algumas medidas e outros indicadores de saúde de suma


importância. Mas, afinal, como você pode acessá-lo em seu local de
trabalho? Como calcular mortalidade, incidência de doenças, prevalência
de hipertensão etc? Uma forma bastante rápida, fácil e útil é por meio
dos sistemas de informações em saúde.

Anotações

38 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


Lição 4 – Sistemas de informações em saúde

Os Sistemas de Informação em Saúde (SIS) são bancos de dados


destinados a fornecer informações e estatísticas de interesse
médico hospitalar, médico ambulatorial, medicina pública, medicina
investigativa (pesquisa e desenvolvimento). São esses sistemas que
vamos abordar nesta lição. Esperamos que ao final deste estudo
você tenha conhecimento dos principais sistemas de informações de
saúde disponibilizados por meio do DATASUS.

Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)

Você sabia que cada pessoa que morre no Brasil tem preenchida
uma Declaração de Óbito (DO)?

Nesse documento constam, dentre outros, dados relativos à pessoa


que faleceu (como idade e sexo), o local onde ela residia e onde
ocorreu a morte e, muito importante, o motivo do óbito (causa da
morte). É obrigatório que cada Secretaria Municipal de Saúde acesse
as DO de sua população, insira num sistema eletrônico e passe ao
nível estadual, que, por sua vez, passará ao nível federal. No final
desse fluxo, haverá, no país, o registro informatizado de todas as
mortes ocorridas. Isso é essencial do ponto de vista epidemiológico.
E o melhor é que o Ministério da Saúde disponibiliza esses dados de
maneira simplificada para qualquer brasileiro que tenha interesse. Por
exemplo, com apenas oito cliques em seu mouse e em menos de
dois minutos podemos obter as causas e o número de mortes nos
últimos 29 anos (os dados de mortalidade estão disponíveis a partir
de 1979), no município de Água Fria. Veremos isso na próxima lição.

Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC)

Outra pergunta: você sabia que cada pessoa que nasce tem preenchida
uma Declaração de Nascido Vivo (DN)? Assim, existem dados sobre
os nascimentos – e nascidos – em todo o território nacional. De
maneira similar às DO, as DN são inseridas pelos municípios em um
sistema informatizado de livre acesso a profissionais, pesquisadores
e população em geral. Por meio do SINASC podemos calcular, por
exemplo, qual o percentual de:

• gestantes que realizaram ao menos sete consultas durante o seu


pré-natal;

• partos cesáreos realizados;

• crianças nascidas com baixo peso;

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 39


• prematuros nascidos vivos;

• mães adolescentes.

Por meio do SINASC você calcula vários indicadores de saúde para o


seu município, regional de saúde, estado ou para o Brasil.

Sistema de Informações sobre Agravos de Notificação (SINAN)

Todo farmacêutico, cirurgião-dentista, enfermeiro, médico, médico


veterinário, biólogo, biomédico e outros profissionais de saúde,
além dos responsáveis por organizações e estabelecimentos de
saúde ou de ensino públicos ou privados, devem, por lei, informar às
autoridades competentes a suspeita ou o diagnóstico de uma série
de doenças. Dentre elas estão a febre amarela, malária, leptospirose,
tétano, hepatites virais, difteria, dentre outras, descritas na Portaria
n. 2.472/2010/GM/MS. A partir da notificação dos profissionais
de saúde, os serviços de vigilância epidemiológica dos municípios
fazem a devida investigação epidemiológica dos casos e divulgam
as características quantitativas da população acometida. Ou seja,
temos a quantidade de casos novos que surgem de várias doenças,
segundo municípios, estados etc. Casos novos nos remetem a
qual medida? Incidência. Ou seja, pela SINAN você pode calcular a
incidência de diversas doenças em seu município.

Anotações

Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e


Diabéticos (HiperDia)

Todas as unidades ambulatoriais do Sistema Único de Saúde devem


cadastrar no HiperDia os usuários com hipertensão e diabetes
para o monitoramento da prevalência destas doenças e auxílio no
planejamento dos serviços de saúde. Assim, pode-se conhecer as
características demográficas e socioeconômicas dessa população,
bem como características mais amplas do seu perfil epidemiológico
(comorbidades que apresentam, hábitos de vida como tabagismo
e atividade física), sobrepeso, grau de hipertensão etc. Alguns
desses dados também estão disponíveis on-line, mas, para maior
detalhamento, você pode entrar em contato com sua Secretaria
Municipal (ou Estadual) de Saúde que, certamente, poderá lhe passar
os dados epidemiológicos de seu interesse.

40 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


Sistema de Informações da Atenção Básica (SIAB)

Expressiva parte da população brasileira reside em área já coberta pela


Estratégia de Saúde da Família (ESF). O significativo contingente de
profissionais que compõem as equipes da ESF executam, diariamente,
inúmeros cadastramentos familiares, acompanhamentos de usuários
dos serviços de saúde e procedimentos ambulatoriais. Todas essas
atividades são registradas em papel ou eletronicamente e, agregadas,
compõem o SIAB. Assim, “obtêm-se [através do sistema] informações
sobre cadastros de famílias, condições de moradia e saneamento,
situação de saúde, produção e composição das equipes de saúde”.

Link

Acesse o SIAB e confira:


http://siab.datasus.gov.br/SIAB/index.php?area=01

Compõem o SIAB as fichas:

A: Ficha de cadastramento familiar;

B: Fichas de acompanhamento de gestantes (B-GES),


diabéticos (B-DIA), hipertensos (B-HAS), pessoas com
hanseníase (B-HAN) e pessoas com tuberculose (B-TB);

C: Ficha de acompanhamento de crianças;

D: Ficha de produção de todos os profissionais.

Dentre diversas outras informações, explorando o SIAB você pode


conhecer:

• a cobertura de famílias cadastradas na ESF;

• o percentual de crianças desnutridas;

• o número de portadores das doenças referidas anteriormente;

• a adesão à terapia medicamentosa e não medicamentosa de


usuários do serviço e portadores de hipertensão, diabetes,
hanseníase e tuberculose;

• o percentual de famílias cadastradas na ESF com acesso à luz


elétrica, coleta de lixo, rede de esgoto e água tratada;

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 41


• o percentual de crianças de 5 a 14 anos que estão frequentando
a escola;

• a taxa de alfabetização entre maiores de 15 anos;

• o perfil demográfico da população coberta pela ESF.

Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX)

Segundo definição própria, o SINITOX coordena o processo de coleta,


análise e divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento
registrados por uma rede composta de Centros de Informação e
Assistência Toxicológica.

Link

Para saber mais acesse a página do Sistema Nacional de Informações


Tóxico-Farmacológicas em: http://www.fiocruz.br/sinitox_novo/cgi/cgilua.
exe/sys/start.htm?tpl=home

Os sistemas de informações são construídos por todos os profissionais


de saúde, gestores e técnicos. Eles proveem informações a todos os
atores do setor saúde e você, enquanto profissional, deve qualificar os
SIS e utilizá-los cotidianamente enquanto rica fonte de informações.

Lição 5 – Acessando os dados dos sistemas de informações em


saúde

Você já conhece as medidas de ocorrência de doenças e alguns


indicadores de saúde. Também sabe que, no Brasil, existem Sistemas
de Informação em Saúde (SIS) estruturados que coletam, de maneira
sistematizada, dados de saúde. Agora, para poder conhecer e calcular
os indicadores para o seu município ou estado, basta saber como ter
acesso a esses dados dos SIS. E é a isso que dedicamos a lição 5.
Portanto, ao final deste estudo você deverá estar apto a acessar os
principais sistemas de informações em saúde do DATASUS.

Vamos lhe apresentar, a seguir, parte do portal do DATASUS. Ele


abriga diversas informações em saúde, desde dados brutos até
indicadores já calculados.

42 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


Link

Para acessar esse universo de dados que irão lhe permitir conhecer a
realidade epidemiológica do seu município inicie acessando a página do
DATASUS no endereço www.datasus.gov.br.

Na sequência, apresentamos um passo a passo para ajudá-lo nesse


acesso.

Ao clicar na página antes indicada aparecerá a seguinte tela:

Em seguida, clique no link “Informações de Saúde”.

Perceba que o menu lateral apresenta novas opções. Imagine que


você deseja conhecer as causas de mortalidade de Água Fria. Para
isso, clique em “Estatísticas Vitais”.

Anotações

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 43


Na nova janela você terá algumas opções, desde dados de nascimentos
a dados de mortes. A mortalidade, nesse caso, está separada em
dados de 1979 a 1995 (quando as mortes eram registradas segundo
a 9ª revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde -CID) e de 1996 a 2008 (quando as mortes
foram registradas pela 10ª revisão da CID). Os dados de mortalidade
demoram cerca de dois anos para serem publicados pelo DATASUS.
Isso ocorre para que todas as etapas de garantia de qualidade
dos dados sejam conduzidas pelo Ministério da Saúde, estados e
municípios. Neste exemplo vamos selecionar a opção “Mortalidade
Geral”, em “Mortalidade – 1996 a 2008, pela CID-10”.

44 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


Perceba, conforme figura a seguir, que apareceu um mapa na parte
lateral da tela. Nele você pode clicar no estado sobre o qual deseja
a informação. Tal seleção também pode ser feita por meio do menu
suspenso logo acima do mapa. Vamos clicar na Bahia.

Agora abrirá uma última tela (de fundo azul), antes de você conhecer
os dados. É nesse momento que você determina quais dados deseja
obter. Como estamos construindo uma tabela, você deve escolher,
dentre as várias opções, o que deseja que apareça nas linhas e nas
colunas dessa tabela. Suponha que queiramos conhecer as causas
de mortes de Água Fria, em 2008, segundo o sexo. Na linha, selecione
“Capítulo CID-10” e, na coluna, “Sexo”. No espaço “conteúdo”,
deixaremos “óbitos por residência”; em “períodos disponíveis” apenas
“2008” e, mais embaixo, em “Município” clicar em Água Fria.

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 45


Por fim, desça a barra de rolagem até o final da página e clique na
opção “Mostra”.

Pronto! A tabela com os dados que queríamos está pronta.

Percebe-se que, dentre as causas definidas, entre os homens os


principais motivos de mortes foram os relativos a doenças do aparelho
circulatório e causas externas. Já entre as mulheres foram as neoplasias.

Para calcular a taxa de mortalidade falta uma informação, correto?


Trata-se da população de Água Fria em 2008. Para obter esse
dado, em vez de clicar em “Estatísticas Vitais”, na página inicial do
DATASUS, clique em “Demográficas e Socioeconômicas”.

46 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


Os passos seguintes são os mesmos vistos no caso do SIM,
ilustrados anteriormente. E essa é uma grande vantagem dos
SIS disponibilizados pelo DATASUS: a mesma estrutura. Você,
invariavelmente, cairá naquela tela de fundo azul em que escolherá o
que deseja que apareça nas linhas e colunas das tabelas.

Link

Bem, vale a pena você explorar a seção de “Informações de Saúde”


na página do DATASUS www.datasus.gov.br. Seja curioso e você será
recompensado com vários dados de extrema relevância para o seu trabalho.

Como escrito anteriormente, na página do DATASUS também são


disponibilizados indicadores já calculados. Por exemplo, clique em
“Indicadores de Saúde” e “Cadernos de Informações de Saúde”,
conforme tela a seguir. Pressione o botão “OK”

Na tela seguinte selecione a abrangência geográfica da qual deseja


os dados. No nosso exemplo, vamos selecionar a Bahia.

Anotações

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 47


Em seguida, selecionamos Água Fria.

Anotações

48 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


Um arquivo do Excel se abrirá. Nele você terá acesso a indicadores
de morbidade hospitalar, demografia, imunizações, rede ambulatorial,
mortalidade, orçamento público e muito mais. Tudo já calculado e
apresentado para você, como no exemplo a seguir:

Anotações

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 49


Análise Crítica

Com o aprimoramento conceitual na área da gestão em saúde,


com a importância que o planejamento e a avaliação assumiram
nos processos decisórios e com o avanço tecnológico recente, é
inconcebível que profissionais de saúde e gestores se privem de
qualificar suas ações por meio dos conhecimentos da saúde coletiva,
de maneira geral, e da epidemiologia, em particular.

As vantagens são indiscutíveis e, atualmente, completamente


exequíveis. Como vimos ao longo da unidade, os indicadores e as
medidas mais usuais na epidemiologia são de simples compreensão,
cálculo e interpretação. Além disso, estão todos disponíveis on-line
ou, na pior das hipóteses, podem ser obtidos junto à sua Secretaria
Municipal de Saúde.

Construa uma forma dinâmica de pensar os processos de trabalho,


uma maneira que inclua a análise e o acompanhamento do quadro
sanitário de sua localidade. Além disso, adapte ou crie novos
processos, inclua outros indicadores, ajuste práticas dos SIS para
atender sua necessidade local. Por exemplo, no seu município existe
um registro dos medicamentos dispensados? Existem indicadores
relacionados à assistência farmacêutica?

A existência destes dados e a riqueza de sua utilização dependem,


primordialmente, da alimentação das informações. Portanto, registrar
as atividades desenvolvidas na ponta do serviço é fundamental.

Por fim, a internet tem muitos textos de ótima qualidade que permitem
o aprofundamento de todos os temas tratados sumariamente nessa
unidade. De acordo com a sua necessidade e interesse, aprofunde
esse conhecimento.

Anotações

50 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


Referências

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FLORES, L. M.; MENGUE, S. S. Uso de medicamentos por idosos em região


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PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara


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Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 51


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In: MEDRONHO, R. A. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2005.

52 Boing e Blatt Serviços farmacêuticos


Autores

Antonio Fernando Boing

Antonio Fernando Boing é cirurgião-dentista de formação básica.


Fez mestrado em Saúde Pública, área de concentração em
Epidemiologia, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Em seguida cursou o doutorado na Universidade de São Paulo
(USP) no Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas,
área de concentração em Odontologia Social. Sua principal área de
atuação é em Saúde Coletiva, com ênfase na Epidemiologia. Suas
principais pesquisas são na área dos determinantes sociais em
saúde, da epidemiologia das doenças crônicas e da epidemiologia
na atenção básica em saúde. Atualmente, é professor adjunto do
Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa
Catarina. Também ministra aulas e conduz orientações no Programa
de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da mesma instituição.

http://lattes.cnpq.br/1079435250033626

Carine Raquel Blatt

Carine Raquel Blatt é farmacêutica formada pela Universidade Federal


de Santa Catarina em 2002. Cursou a Especialização Multiprofissional
em Saúde da Família (2003) e o Mestrado em Farmácia também
pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Em 2007 fez a
Especialização em Avaliação de Novas Tecnologias em Saúde pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e em 2011 concluiu o
Doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Farmácia da
Universidade Federal de Santa Catarina (2011), tendo realizado estágio
de doutorado sanduíche na University for Health Sciences, Medical
Informatics and Technology (UMIT-AT). Atualmente é professora da
Universidade do Sul de Santa Catarina e professora substituta da
Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência na área
de Farmácia, com ênfase em Assistência Farmacêutica, atuando
principalmente nos seguintes temas: Assistência Farmacêutica,
Avaliação de Tecnologias em Saúde, Saúde Pública e Estudos de
Utilização de Medicamentos.

http://lattes.cnpq.br/4746842392238066

Unidade 1 - O uso de ferramentas da epidemiologia na assistência farmacêutica 53


Unidade 2
UNIDADE 2 - SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS

Ementa da Unidade

• Importância da seleção de medicamentos.

• Construção de lista de medicamentos.

• Informação sobre medicamentos.

• Evidência como norteadora de conduta.

• Formas de conduzir o processo de seleção de medicamentos.

• Formalização do processo de seleção de medicamentos no


âmbito público.

Objetivos específicos de aprendizagem

• Compreender a importância do processo de seleção de


medicamentos para a promoção do acesso e do uso racional de
medicamentos.

• Conhecer os responsáveis pela seleção de medicamentos no


Brasil e no mundo e os critérios utilizados para a seleção de
medicamentos essenciais.

• Conhecer as atribuições e o processo de trabalho da Comissão


de Farmácia e Terapêutica (CFT).

• Definir as prioridades na seleção de medicamentos.

• Refletir sobre a produção de informação sobre medicamentos e


sobre a atuação do farmacêutico.

• Relacionar as diferentes fontes de informação sobre


medicamentos.

• Discutir outras possíveis demandas da CFT, como a judicialização


do direito à saúde, as pactuações da política de medicamentos e
a implantação de novos serviços.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


55
• Identificar as fontes de informação sobre medicamentos de
qualidade, disponibilizadas em meio impresso e eletrônico.

• Conhecer as bases de dados bibliográficas que podem ser


utilizadas como fonte de informação sobre medicamentos.

• Elaborar pareceres técnicos sobre medicamentos.

• Compreender os fundamentos do uso da evidência científica


como orientadora de conduta.

• Reconhecer as instâncias do SUS, relacionadas à decisão e


consolidação do processo de seleção de medicamentos.

Apresentação

Prezado aluno,

“O conceito de medicamentos essenciais é uma das maiores


conquistas da saúde pública na história da Organização Mundial
da Saúde. É tão relevante hoje como foi sua concepção há 30
anos” (OMS, 2008, p.1).

A OMS estima que, no âmbito mundial, mais da metade de todos


os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos
inapropriadamente e que metade dos usuários não os usam
corretamente. O conceito de medicamento essencial é reconhecido
como o eixo central da organização de uma política de medicamentos:
“... são aqueles que satisfazem às necessidades prioritárias de
cuidados da saúde da população” (OMS, 2002).

Cada país, estado, município ou serviço de saúde possui a prerrogativa


de determinar quais medicamentos serão selecionados para compor
o seu elenco com base na situação epidemiológica; nas melhores
evidências em saúde; nas prioridades definidas pela gestão; nos
recursos financeiros disponibilizados para esta finalidade; e na oferta
de serviços de saúde.

Mas, nem sempre esse elenco é adotado. Possivelmente você,


farmacêutico do setor público, já recebeu ou testemunhou a
solicitação de um medicamento diverso daqueles disponibilizados
pelo SUS. Situações como essa, muitas vezes rotineiras, interferem
nas atividades regulares da assistência farmacêutica, dificultam a
possibilidade de sucesso da gestão e o melhor uso dos limitados
recursos financeiros destinados à aquisição de medicamentos.

56 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Imagine se o responsável pela aquisição de medicamentos de um
município ou estado precisasse comprar qualquer medicamento
disponível no mercado! Iríamos nos deparar com uma situação que
acarretaria inúmeras consequências negativas para o planejamento e
execução das atividades.

Este tema, Seleção de Medicamentos, está contemplado neste


Curso para que possamos juntos refletir sobre a importância dessa
atividade no âmbito da saúde pública. Para fins didáticos de busca
de dados epidemiológicos, utilizaremos o município de Água Fria,
na Bahia, ao qual iremos nos referir ao longo do texto. Todas as
demais informações, incluindo os nomes e as características dos
personagens são fictícios. Convidamos você para acompanhar a
nossa história!

Bons estudos!

Conteudistas responsáveis:

Jardel Corrêa de Oliveira


Mônica Holtz Cavichiolo Grochocki
Rafael Mota Pinheiro

Conteudista de referência:

Mônica Holtz Cavichiolo Grochocki

Conteudistas de gestão:

Silvana Nair Leite


Maria do Carmo Lessa Guimarães

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


57
ENTRANDO NO ASSUNTO

Lição 1 – A importância da seleção de medicamentos


Dra. Lenita Wannmacher 1 Vamos iniciar apresentando o cenário nacional e internacional da
é membro do Comitê de seleção de medicamentos. A Organização Mundial da Saúde (OMS)
Especialistas em Seleção e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) têm incentivado os
e Uso de Medicamentos países a aprimorarem a seleção de medicamentos em seus sistemas
Essenciais da OMS. Para a de saúde. O Brasil participa desse processo e possui representantes
Organização Pan-Americana nas comissões internacionais, como a Dra. Lenita Wannmacher1,
da Saúde escreveu os que é membro do Comitê de Especialistas em Seleção e Uso de
temas selecionados em Uso Medicamentos Essenciais da OMS. A Dra Lenita concedeu uma
Racional de Medicamentos entrevista exclusiva para esta unidade; produziu diversos materiais,
(Farmacoterapia baseada que são disponibilizados pelo Ministério da Saúde e pela OPAS. Esses
em evidências: 2003- documentos serão apresentados a você ao longo desta unidade.
2007). Para o Ministério da
Saúde, coordena a série de Começamos com um texto que apresenta o entendimento da OMS
publicações reunidas sob sobre a importância da existência e da utilização de uma lista de
o título Condutas Baseadas medicamentos essenciais:
em Evidências sobre
Medicamentos Utilizados O uso de uma lista de medicamentos essenciais [...] facilita a gestão do medicamento
em Atenção Primária à no que diz respeito a todos os aspectos (as atividades): aquisição, armazenamento
Saúde para incorporação e distribuição são mais fáceis com poucos itens, e a prescrição e a dispensação são
na plataforma do Sistema mais fáceis para os profissionais se eles precisarem conhecer poucos itens. Uma
Nacional de Gestão da lista nacional de medicamentos essenciais deve ser baseada em diretrizes clínicas
Assistência Farmacêutica nacionais. A seleção de medicamentos deve ser realizada por um comitê nacional
(Hórus: URM - Temas com membros designados e usando critérios explícitos, previamente acordados,
selecionados: 2010-2011). baseados na eficácia, segurança, qualidade, custo (que variará localmente) e
custo-efetividade. As listas de medicamentos essenciais devem ser regularmente
atualizadas e sua introdução acompanhada de um lançamento oficial, de treinamento
e disseminação. A aquisição e distribuição de medicamentos no setor público devem
ser limitadas, primeiramente por aqueles medicamentos constantes na lista, e
deve ser assegurado que somente aqueles profissionais de saúde autorizados a
utilizar certos medicamentos sejam os realmente providos por eles As atividades
do governo no setor farmacêutico (ex: garantia da qualidade, políticas de reembolso
e treinamento) devem estar focadas na lista de medicamentos essenciais. A Lista
Modelo de Medicamentos Essenciais da OMS pode ser o ponto de início para os
países desenvolverem sua própria lista de medicamentos essenciais.

(WHO Policy Perspectives on Medicines — Promoting rational use of medicines: core


components, September 2002, World Health Organization, Geneva. p 3.)

58 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


No Brasil o conceito de medicamento essencial está fortemente
vinculado ao conceito de uso racional de medicamentos.
Recomendamos que você leia um dos textos de autoria da Dra.
Lenita Wannmacher.

O primeiro texto que recomendamos é o artigo intitulado Importância


dos medicamentos essenciais em prescrição e gestão racionais,
produzido para a coletânea Uso Racional de Medicamentos – Temas
selecionados.

Esse texto divulga o conceito de medicamento essencial e faz um


breve relato da história relacionada à seleção de medicamentos no
mundo. Apresenta o propósito e as consequências da construção
de uma lista de medicamentos essenciais, os critérios de seleção
desses medicamentos, o formato da lista e, ainda, os desafios e as
expectativas que surgem a partir de sua elaboração.

Anotações

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


59
Anotações

Selecionamos alguns textos para sua leitura, caso queira


complementar o seu estudo. Eles são materiais técnicos, elaborados
pelo Ministério da Saúde e pela Organização Pan-Americana da
Saúde, que podem ser utilizados para fundamentar a seleção e a
indicação de medicamentos essenciais:

Link

• Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – Rename


2010: Assistência farmacêutica e a consolidação da Rename
como instrumento orientador, páginas 15 a 18. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/rename2010final.pdf
• Uso Racional de Medicamentos - Temas selecionados (2003 –
2007). Disponível em: http://portal.saude.gov.br/saude/visualizar_
texto.cfm?idtxt=25690
• Uso Racional de Medicamentos - Temas selecionados (2010 – atual).
Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/
visualizar_texto.cfm?idtxt=35811&janela=1

Agora que você conheceu o contexto da seleção de medicamentos,


vamos iniciar o trabalho de seleção propriamente dito.

60 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Iniciando o trabalho

Para dar início ao estudo sobre seleção de medicamentos,


escrevemos uma história fictícia, especialmente para esta
unidade. Você, aluno, fará o papel de um farmacêutico do
município e será convidado a participar dos trabalhos de
atualização da relação municipal de medicamentos (Remume).
Exceto pelos dados epidemiológicos oficiais, disponíveis nos
endereços eletrônicos de Água Fria (município do estado da Bahia),
do Ministério da Saúde e do IBGE, todos os demais, incluindo os
personagens, foram inventados. Acompanhe a história!

Imagine agora que estamos em uma sala da Secretaria Municipal


de Saúde, onde a Secretária de Saúde, Justina da Cruz, recebe o
farmacêutico para tratar das atividades que devem ser realizadas no
município, no âmbito da assistência farmacêutica.
No encontro, a Secretária de Saúde diz o seguinte: - Bom dia. Meu nome é
Justina da Cruz e sou a Secretária Municipal de Saúde e eu estou aqui para
convidar você, que é especializando do Curso de Especialização em Gestão
da Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde, para acompanhar as
atividades da CFT do nosso município. A primeira atividade é a atualização
da nossa relação municipal de medicamentos essenciais (Remume),
com base na nova portaria de financiamento do Componente Básico da
Assistência Farmacêutica.
Gostaria de lhe apresentar o farmacêutico Pedro Paulo dos Santos. Ele
vai participar da nossa CFT e orientará a condução dos trabalhos, pois
precisarei viajar para participar da reunião da Comissão Intergestores
Bipartite (CIB). Até breve.
O farmacêutico Pedro Paulo, por sua vez, começa a sua fala: - Olá.
Prazer em conhecê-lo(a). Como você sabe, nosso município, segundo
o IBGE, tem quase 15.000 habitantes. Temos 7 equipes de saúde da
família implantadas, com 7 médicos clínicos gerais, 6 cirurgiões
dentistas e 7 enfermeiros. A primeira tarefa da CFT, como a Secretária
falou, será a atualização de nossa Remume com base na Portaria GM/
MS n. 4.217/2010, do Ministério da Saúde. Nosso orçamento da saúde
é escasso, como o da maioria dos municípios, e não podemos adquirir
medicamentos que não estejam contemplados pelo financiamento
previsto nessa portaria. Para isso, é fundamental conhecermos a
portaria GM/MS n. 4.217/10.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


61
Anotações

Retomando a história... Confira!


Pedro Paulo continua a sua fala: - Ao trabalharmos com seleção de
medicamentos, devemos agir estabelecendo critérios e objetivos bem
definidos. A pesquisa na assistência farmacêutica na atenção básica
em municípios do estado de Santa Catarina, de Silvana Leite (2006,
p. 5), apresenta considerações de alguns autores sobre a seleção de
medicamentos:
...a seleção de medicamentos para um serviço de saúde é
uma etapa crítica da assistência farmacêutica. A seleção de
medicamentos, resultando nas listas padronizadas, tem sido a
base de muitos programas de saúde recentes, desenvolvidos
com o objetivo de reduzir tanto a morbimortalidade nos países
em desenvolvimento, quanto os gastos com medicamentos –
que comprometem parte importante de seus orçamentos (WHO,
2001 apud LUIZA, 2003; BERMUDEZ, 2004). Para Perini (2003), a
seleção de medicamentos é um processo que culmina na escolha
de medicamentos a serem utilizados na assistência à saúde
de determinada instituição ou serviço, com base em critérios
fármaco-epidemiológicos e fármaco-econômicos predefinidos.
Relata o mesmo autor que:

Embora deva ser fortemente baseada em critérios técnico-


científicos, a seleção é uma das etapas mais expressivas
da atividade política em um processo de (re)organização
da assistência farmacêutica. Nela estarão aflorando, de
forma mais intensa, os conflitos entre a liberdade clínica,
as influências e os interesses comerciais e os interesses da
racionalização do consumo de medicamentos.

A necessidade de critérios técnicos para a seleção de medicamentos


cresce na medida em que a indústria farmacêutica disponibiliza,
no mercado, um número cada vez maior de especialidades
farmacêuticas, com preços sempre muito mais elevados em
relação aos produtos já padronizados. A grande maioria desses
‘novos’ produtos são, na verdade, fruto de pequenas modificações
em suas estruturas moleculares que não representam melhorias
terapêuticas substanciais ou que justifiquem tamanha elevação
de seus custos (MARIN et al., 2003).

62 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Há, de forma geral, a separação das decisões sobre
prescrição, consumo e financiamento. Geralmente quem
consome não é quem decide sobre os medicamentos,
quem decide não paga e quem paga (parcial ou
integralmente) às vezes é um terceiro, como é o caso
quando os medicamentos são cobertos por seguro público
ou privado. Em consequência, há interesses contrapostos,
dado que quem paga quer minimizar custos, quem
consome quer o melhor e quem decide é influenciado pela
oferta, que, além de ser concentrada, procura induzir a um
maior consumo (BERMUDEZ et al., 2004).

No mesmo relatório de pesquisa sobre a assistência farmacêutica


na atenção básica, o grupo de pesquisa revela que, mesmo
entre os municípios de maior porte no estado e que contam com
farmacêuticos responsáveis pela assistência farmacêutica, poucos
possuem CFT constituída e com algum trabalho realizado. Entre os
municípios de menor porte não há CFT. Apesar de relatados nos
planos de assistência farmacêutica, os estudos para seleção de
medicamentos não são adequadamente realizados em nenhum dos
municípios pesquisados. Mesmo nos municípios que possuem CFT
e/ou são coordenados por farmacêuticos, o processo de seleção
de medicamentos e atualização das listas municipais é realizado
de forma empírica, baseado, de forma geral, em consumo histórico
estimado e na opinião de alguns médicos e do próprio farmacêutico,
sem qualquer sistematização.

Após a apresentação dos autores, Pedro Paulo, então, continua.

- Podemos observar, no texto antes citado, que vários fatores justificam


a necessidade de se realizar a seleção de medicamentos no âmbito da
saúde pública. Vejamos alguns deles:
• A multiplicidade de produtos disponibilizados no mercado pela
indústria farmacêutica, que contribui para o tratamento desigual das
enfermidades, muitas vezes dentro de um mesmo serviço de saúde;
• O grande número de medicamentos registrados no país;
• A frequência de novas descobertas na área de medicamentos,
que dificulta o conhecimento dos profissionais de saúde sobre
as especialidades farmacêuticas, e gera, consequentemente,
dificuldade ao profissional de se manter atualizado;
• A existência de medicamentos pouco conhecidos no mercado,
com informação insuficiente sobre segurança e toxicidade;
• A existência de medicamentos denominados me too, que causam
confusão na já sobrecarregada saúde pública.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


63
Link

Você pode conhecer mais sobre os medicamentos me too no texto


disponibilizado na página da Anvisa em:
http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/registro/metoos.htm

Vamos interromper a história por aqui. Os personagens nos auxiliarão


no desenvolvimento da atividade avaliativa da unidade, e as instruções
começam na lição 2. Aguarde a retomada da história na próxima lição.

Reflexão

Refletindo sobre o que foi abordado até o momento, observamos que os


fatores apresentados pelo farmacêutico na história estão relacionados ao
setor da indústria farmacêutica, que procura impor novos medicamentos
no mercado. Porém, a política internacional e nacional no setor busca
contrapor esta situação, determinando que sejam criadas condições para se
realizar a seleção de medicamentos, no âmbito mundial, nacional, regional
e local, com a formação de comitês para esta finalidade. A discussão para
a elaboração de uma lista de medicamentos essenciais , com critérios bem
estabelecidos, com um número de itens que contemple as necessidades de
saúde da população, resulta em benefícios para a execução das atividades
gerenciais e operacionais da assistência farmacêutica.

Para avançar na sua reflexão, listamos alguns benefícios relacionados


às atividades desenvolvidas na assistência farmacêutica que sofrem
influência da lista de medicamentos, resultados de um processo de
seleção bem conduzido:

• Possibilita maior eficiência no gerenciamento dos serviços


farmacêuticos;

• Racionaliza custos e possibilita uma maior otimização dos


recursos disponíveis, inclusive recursos humanos;

• Facilita o estabelecimento de ações educativas para prescritores,


dispensadores e usuários, com possibilidade de diminuição de
erros e melhoria dos resultados de tratamentos;

64 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


• Permite uniformização de condutas terapêuticas;

• Melhora a qualidade da informação sobre o medicamento e


facilita o fluxo da informação;

• Propicia melhores condições para a prática da farmacovigilância;

• Contribui para a promoção do uso racional de medicamentos.

Concluindo, a seleção norteia todas as etapas da assistência


farmacêutica: uma lista de medicamentos é a chave de todas as
outras etapas e o primeiro passo para a promoção do uso racional
de medicamentos (MSH, 1981).

Todas as atividades da assistência farmacêutica devem conferir


sustentação para que, uma vez realizado o processo de seleção
de medicamentos em um nível de gestão, se forneça ao usuário “o
medicamento adequado às suas necessidades clínicas, nas doses
correspondentes à sua necessidade individual, durante o período
de tempo adequado e ao menor custo para o paciente e para a
comunidade”(OMS, 2002, p. 1).

Lição 2 – Requisitos para a elaboração da lista de medicamentos


essenciais

Caro aluno, nesta lição você irá conhecer os responsáveis pela


seleção de medicamentos no Brasil e no mundo e os critérios
utilizados para a seleção de medicamentos essenciais.

Os responsáveis pela elaboração das listas de medicamentos

As listas podem ser elaboradas por grupos constituídos em três níveis:


no âmbito mundial, nacional e regional/local. Vejamos cada um deles.

Anotações

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


65
• No âmbito mundial, a lista é elaborada pelo Comitê de Seleção
e Uso de Medicamentos da Organização Mundial de Saúde.
Para saber como o comitê atua, assista a mais um trecho da
entrevista com a Dra. Lenita, que nos explica sobre como são
desenvolvidos os trabalhos do Comitê.

Anotações

• No âmbito nacional, a lista é elaborada pela Comare, Comissão


Multiprofissional e Técnica de Atualização da Relação Nacional
de Medicamentos Essenciais (Rename). A Rename é utilizada
como lista de referência para estabelecer o elenco do Componente
Básico da Assistência Farmacêutica, mas também pode incorporar
medicamentos dos outros Componentes (Especializado ou
Estratégico) desde que preencham os critérios de essencialidade
definidos em seu regimento interno. Assim, fármacos do Componente
Estratégico, utilizados para tratamento de doenças infectoparasitárias
negligenciadas ou de interesse para saúde pública, podem constar
na Rename, bem como alguns medicamentos do Componente
Especializado destinados ao tratamento de enfermidades prevalentes,
cuja eficácia e segurança esteja comprovada cientificamente.

Anotações

66 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


• No âmbito regional e local, por uma Comissão de Farmácia
e Terapêutica - CFT, legalmente constituída, capacitada
tecnicamente, no estado ou município, e também em hospitais.

Do que vimos até aqui, podemos concluir que o gerenciamento


da assistência farmacêutica deve contemplar a estruturação e
organização dos serviços de modo a implementar todas as suas
atividades. Mesmo um município ou serviço de saúde de pequeno
porte, com uma estrutura enxuta e serviços de menor complexidade,
necessita de organização e gerenciamento eficientes.

Considerando que no Brasil temos uma diversidade de municípios


em relação ao número de habitantes, com diferentes estágios de
organização e estruturação dos serviços de saúde e contando com
equipe de profissionais de composição diversa, é de se esperar
que haja, também, diversidade na forma de desenvolvimento das
atividades da assistência farmacêutica.

Independente da forma de constituição e de tamanho, a equipe, ou


o responsável pela seleção, deve trabalhar colaborativamente para
atingir os objetivos perseguidos, de forma articulada e sincronizada
com as outras atividades da assistência farmacêutica. A equipe deve
estar preparada para ampliar as atividades e a complexidade dessas
atividades, à medida que o trabalho se aperfeiçoe e que tenha êxito
em demonstrar para os gestores e para a população que a seleção
de medicamentos é uma atividade importante, que contribui para a
efetividade dos tratamentos disponibilizados pelo sistema de saúde.

Vale ressaltar que a participação e o envolvimento dos profissionais da


equipe de saúde na atividade contribuem para que estes se tornem
mais bem informados e se sintam corresponsáveis com a relação de
medicamentos selecionados, além de acrescentar valor técnico ao
trabalho. Essa participação pode contribuir com a aceitação da lista
e com a prescrição dos medicamentos contemplados.

Anotações

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


67
Colega, já deu para perceber que “participação” é termo-chave para todo o
processo de condução, em qualquer das atividades que estejam envolvidas
com o seu contexto: desde o planejamento geral do setor, a construção das
políticas, até as atividades que exigem maior preparo técnico de todos os
envolvidos. Na seleção de medicamentos, isso não é diferente.
Como os conteudistas desta unidade nos chamam a atenção, a inclusão de
diferentes profissionais enriquece o trabalho de seleção de medicamentos,
e por diferentes razões. Apesar de exigir preparo técnico-científico
para busca, seleção, interpretação e aplicação de informações técnicas
adequadas, a experiência e a sensibilidade das pessoas (profissionais)
também devem contribuir para a construção das listas padronizadas.
O envolvimento de diferentes profissionais com o processo de seleção
resulta também em comprometimento com esta diretriz: é importante
reconhecermos diversos estudos que já indicam que grande parte dos
profissionais prescritores, ou não conhecem a relação de medicamentos
do serviço onde atuam ou, mesmo conhecendo a relação, não conhecem o
processo e os critérios que deram origem a ela, resultando em descrença
e sérios preconceitos sobre os medicamentos que a compõem. Você já
deve ter percebido isso no seu dia a dia!
Inserir os profissionais nesse processo também não é fácil em algumas
realidades, mas vale a pena o esforço de fazer com que o processo
de seleção tenha representatividade, seja transparente, com critérios
publicizados. Esse processo deve render importantes parcerias para
a assistência farmacêutica; é um investimento importante para a
governabilidade e a sustentabilidade necessárias para a consolidação
desta política.

Critérios para a seleção de medicamentos

A seleção de medicamentos depende de dados epidemiológicos


e da construção prévia de um perfil da população, que inclua
faixa etária, sexo, atividade econômica, morbidade e mortalidade.
Segundo Wannmacher (2006, p.3), “o cerne da seleção é o processo
comparativo, diferentemente do usado pelo órgão regulador para
aprovar um dado medicamento no país”. A autora destaca ainda
que a seleção deve levar em conta, além destes aspectos citados,
as condições de organização dos serviços de saúde, a capacitação
e experiência dos profissionais, a qualidade dos medicamentos
registrados e disponibilizados no país e ainda os recursos financeiros
para a saúde (WANNMACHER, 2006).

68 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Anotações

Outros aspectos, também importantes a serem considerados


durante o processo de seleção de um medicamento, consistem na
observância da forma de apresentação de uso mais racional, baseado
em sua disponibilidade no mercado, número de fabricantes, custo,
comodidade de administração, possibilidade de fracionamento das
doses e uso em diferentes faixas etárias, como idosos e crianças.

Vamos, agora, dar continuidade a nossa história. Lembre-se de que,


ao final da lição 1, nossos personagens estavam envolvidos com
as atividades de revisão da lista de medicamentos do município.
Vejamos quais os encaminhamentos que estão sendo realizados no
município a respeito das atividades que precisam ser desenvolvidas
neste momento. Acompanhe!

Pedro Paulo diz: 2 Termo de isenção de


- Para podermos fazer a revisão da lista de medicamentos, precisamos, conflito de interesse é
inicialmente, elaborar os documentos que vamos utilizar para a condução e um documento assinado
formalização dos trabalhos na CFT: Regimento interno, Termo de isenção de pelo participante, no qual
conflito de interesses2 e Formulário de solicitação de medicamentos. A CFT ele declara que não tem
nenhum comprometimento,
precisa ter um regimento interno que defina as atribuições, os critérios de
compromissos e obrigações
seleção de medicamentos, a composição e as regras para funcionamento
com instituições e
da comissão. Já temos modelo praticamente pronto, mas está faltando indústrias produtoras de
uma das partes mais importantes, que é justamente definir os critérios medicamentos, de forma a
de seleção. Faremos, primeiramente, uma discussão entre os membros garantir a credibilidade da
da comissão para isso. Utilizaremos, como base, alguns exemplos condução dos trabalhos.
de regimentos já existentes. Aqui está o regimento que já utilizamos
anteriormente em nosso município para que vocês possam conhecê-lo.

E ele continua:
- Neste material para consulta, nós encontramos um modelo de Termo
de isenção de conflito de interesse. Todos os membros devem preenchê-
lo, pois a ideia é que não haja nenhum conflito importante. Do contrário,
isso pode comprometer nosso trabalho de análise, pois alguém pode

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


69
elaborar pareceres ou votar nas decisões tentando favorecer algum
laboratório ou medicamento específico.
O farmacêutico Pedro Paulo fala ainda que: - Nosso regimento também
contém um formulário de solicitação de alteração da Remume para que
se possa solicitar a inclusão ou a exclusão de medicamentos da relação
de medicamentos essenciais pactuada. Qualquer profissional, médico,
odontólogo, farmacêutico ou enfermeiro que atue na gestão e na
assistência no serviço público pode fazer a solicitação. Para tanto, basta
preencher um formulário padrão e incluir três referências bibliográficas
que mostrem a eficácia e a segurança do medicamento proposto. Veja
alguns outros modelos de formulário de solicitação externa.

Ainda com o farmacêutico Pedro Paulo: - Precisamos conhecer mais sobre


o processo de trabalho de uma Comissão de Farmácia e Terapêutica.
Vamos conversar sobre esse tema em nosso próximo encontro.

Concluindo a lição, a atividade de seleção de medicamentos essenciais


é exercida em todos os âmbitos da saúde pública por comitês ou
comissões internacionais, nacionais ou locais. E deve ser executada
idealmente por uma equipe multiprofissional e multidisciplinar, que
pode variar dependendo da realidade local. Para o funcionamento da
comissão, faz-se necessário, primeiramente, definir um Regimento
interno que contenha, além das atribuições, critérios de seleção
adotados, composição e normas de funcionamento; um Termo de
isenção de conflito de interesses, que garanta a idoneidade dos
membros da comissão; e um Formulário de solicitação de
alteração da relação de medicamentos essenciais, que
permita a contribuição de outros profissionais.

Anotações

70 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Lição 3 – Comissão de Farmácia e Terapêutica - CFT

Esta lição foi preparada especialmente para você poder conhecer


as atribuições e o processo de trabalho de uma Comissão de
Farmácia e Terapêutica - CFT. Você está pronto para começar?
Então, vamos lá!

O que é uma Comissão de Farmácia e Terapêutica?

Uma Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) tem como objetivo


a promoção do uso racional de medicamentos. Nesse sentido,
sua principal atribuição é a de selecionar os medicamentos
essenciais no nível de gestão do SUS em que está inserida.
No Ministério da Saúde, a Comare realiza a atualização da
Rename a cada dois anos. Nas secretarias estaduais e
municipais de saúde, as CFTs são responsáveis,
respectivamente, pela Reme (ou Resme - Relação Estadual de
Medicamentos Essenciais) e Remume (Relação Municipal de
Medicamentos Essenciais). A Organização Mundial da Saúde
(OMS) conta com um Comitê de Especialistas para Seleção e Uso
de Medicamentos Essenciais.

Diferentemente das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar


(CCIH’s), que atuam no sentido de racionalizar o uso de antibióticos
dentro dos hospitais, buscando reduzir o surgimento de resistência
bacteriana, as CFTs não possuem caráter obrigatório no Brasil.
Porém, desde 2007, com a Portaria GM/MS n. 3.237/2007, e, mais
recentemente, com as Portarias GM/MS n. 2.982/2009 e n. 4.217/2010,
o financiamento do Componente Básico da Assistência Farmacêutica
tem sido vinculado à Rename, tida como lista de referência.

A publicação do Decreto Federal n. 7.508, de 28 de junho de


2011, que regulamenta a Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990,
estabelece que a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
(Rename) compreende a seleção e a padronização de medicamentos
indicados para atendimento de doenças ou de agravos no âmbito
do SUS. Estabele, ainda, que a Rename será acompanhada
do Formulário Terapêutico Nacional (FTN), a qual subsidiará a
prescrição, a dispensação e o uso dos seus medicamentos; que
o Ministério da Saúde é o órgão competente para dispor sobre a
Rename e sobre os Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas em
âmbito nacional, observadas as diretrizes pactuadas pela Comissão
Intergestora Tripartite (CIT), atualizados a cada dois anos. O estado,

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


71
o distrito federal e o município podem adotar relações específicas
e complementares de medicamentos, desde que em consonância
com a Rename e respeitadas as responsabilidades dos entes pelo
financiamento de medicamentos, de acordo com o pactuado nas
comissões intergestores (as relações somente poderão conter
produtos com registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária
– Anvisa). O decreto trata também das condições de acesso
à assistência farmacêutica, que pressupõe, cumulativamente,
que o usuário esteja assistido por ações e serviços de saúde do
SUS; que o medicamento tenha sido prescrito por profissional de
saúde do SUS; que a prescrição esteja em conformidade com a
Rename e os Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas ou com
a relação específica complementar estadual, distrital ou municipal
de medicamentos; que a dispensação tenha ocorrido em unidades
indicadas pela direção do SUS.

Como abordado no Módulo 3, o recurso financeiro do Componente


Básico da Assistência Farmacêutica, oriundo das três esferas de
governo (União, estados e municípios), só pode ser utilizado para
compra daqueles medicamentos constantes da Rename ou de
alguns medicamentos que atendam a primeira linha de cuidado do
tratamento de doenças contempladas no Componente Especializado
da Assistência Farmacêutica (estes últimos definidos na Portaria GM/
MS n. 2.981/2009 e suas atualizações).

Promovendo o uso racional de medicamentos

Dessa forma, as CFTs adquirem importante papel na qualificação da


assistência farmacêutica ao selecionar, dentre os medicamentos da
Rename, aqueles considerados essenciais para atender a população
de seu território, o que deve levar em conta as necessidades
epidemiológicas locais. Além disso, as CFTs têm outras atribuições
importantes na promoção do uso racional de medicamentos,
quais sejam: elaboração de documentos como protocolos clínicos
e terapêuticos, pareceres técnicos e científicos e formulários
terapêuticos; participação e estímulo à educação continuada sobre
uso racional; avaliação e monitoramento com definição de indicadores
sobre o uso de medicamentos. Dependendo da realidade local e do
regimento interno, pode participar também das discussões sobre
judicialização do direito à saúde, elaborando pareceres técnicos
sobre as solicitações de medicamentos, promovendo debates,
compondo câmaras técnicas e interagindo com o Poder Judiciário
de forma a divulgar a lista de medicamentos essenciais e o processo
científico de sua elaboração.

72 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


No âmbito nacional, uma subcomissão, vinculada à Comare, elabora
o Formulário Terapêutico Nacional, que traz monografias de todos
os medicamentos, constantes da Rename, bem como capítulos
abordando o uso racional de medicamentos e sua utilização em
mulheres grávidas, durante a lactação, e em pessoas com hepatopatia
e insuficiência renal.

A composição de uma Comissão de Farmácia e Terapêutica - CFT

A composição das CFTs deve ser preferentemente multiprofissional


e multidisciplinar. A presença de profissionais de diversas áreas de
formação (farmácia, enfermagem, medicina, odontologia e outros) e
que atuem em diferentes níveis do serviço, como na gestão, unidades
básicas de saúde, policlínicas, unidades de urgência e emergência,
garante a possibilidade de discussão mais abrangente, qualificada
e representativa das necessidades identificadas no atendimento à
população e nas demandas das políticas públicas. A saúde baseada
em evidências científicas, aliada à vivência prática, à experiência
profissional e a conhecimentos técnicos, como de farmacologia
clínica, de farmacotécnica, de vigilância em saúde, de economia e de
avaliação de tecnologias em saúde, é fundamental para o processo
de análise e decisão para selecionar um fármaco. Os membros da
CFT devem possuir a maior variedade possível dessas habilidades.

Anotações

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


73
Como organizar a lista

A lista de medicamentos essenciais pode ser apresentada segundo


diferentes critérios de ordenação (ou classificação). Deve-se evitar
dispor os fármacos em ordem alfabética, o que apenas facilita a
consulta. A distribuição, segundo a classe farmacológica e/ou a
indicação clínica e/ou o local de atuação no organismo, como por
exemplo, anti-inflamatórios não-esteroides, antidepressivos ou
medicamentos que atuam no sistema cardiovascular, respectivamente,
pode contribuir para a promoção do uso racional de medicamentos.
Dependendo de como os medicamentos estão dispostos, isso pode
sugerir o uso para o qual foram selecionados. Também pode facilitar
a organização dos trabalhos de atualização da lista ao permitir a
pronta visualização de quais fármacos há numa determinada classe
ou para certa indicação. Permite ainda a comparação com listas
de referência que estejam organizadas de forma semelhante, por
exemplo, comparação da Reme e Remume com a Rename e a Lista
Modelo de Medicamentos Essenciais da OMS.

A organização da lista pode servir a outros propósitos da gestão. A


forma como os serviços de farmácia estão organizados no município,
o tamanho de seu território e de sua população, bem como os serviços
oferecidos (por exemplo, atenção primária ou também secundária e
terciária) determinam a forma de distribuição dos medicamentos e os
locais de acesso. Os medicamentos podem estar organizados na lista,
de acordo com o serviço onde estão disponíveis, como em unidades
básicas de saúde, unidades de urgência e emergência, hospitais e
farmácias de referência. Estas últimas podem ser as responsáveis
pela dispensação de restritos aos critérios de protocolos clínicos e
terapêuticos, elaborados pelas próprias CFTs.

A lista pode incluir também os locais de acesso de medicamentos


cuja aquisição e/ou dispensação seja de responsabilidade de outra
esfera de gestão, incluindo uma coluna com o ente que deve adquiri-
lo (União, estado ou município). Assim, o município pode elaborar

74 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


uma lista com os medicamentos da Remume e dos Componentes
Estratégico e Especializado da Assistência Farmacêutica. Isso permite
identificar todos os medicamentos disponibilizados pelo SUS, o que
pode ser útil na elaboração de parecer sobre a solicitação judicial
de um medicamento. Da mesma forma, facilita o trabalho de análise
durante a atualização da Remume quando comparada à Rename,
pois esta inclui medicamentos essenciais de todos os níveis (primário,
secundário e terciário), não se restringindo ao Componente Básico da
Assistência Farmacêutica, o que a diferencia de uma lista municipal.

Ao avaliar o tratamento para determinada doença segundo as linhas


de cuidado definidas na Portaria GM/MS n. 2.981/2009, pode-
se conhecer quais medicamentos são disponibilizados pelo SUS.
Isso permite identificar se o município possui os medicamentos
considerados essenciais e de primeira ou, eventualmente, de segunda
escolha, dependendo do custo de tratamento que representam, e quais
devem ser adquiridos pelo Estado ou pela União. Dessa forma, pode
se evitar que o município padronize medicamentos de alto custo, que
estão definidos na política como sendo de responsabilidade de outra
esfera de governo, concentrando sua análise naqueles que são de sua
responsabilidade, de acordo com os critérios epidemiológicos locais.

Além dos medicamentos do Componente Especializado que devem


ser adquiridos pelos estados, algumas Reme possuem apenas
medicamentos para uso em hospitais e serviços de urgência e
emergência. Isso depende de como está organizada a gestão estadual
de assistência farmacêutica, dos serviços de saúde oferecidos
pelo estado e de sua relação com os municípios, o que é definido
pelos gestores e por pactuações nas Comissões Intergestoras
Bipartite (CIB). Algumas secretarias estaduais de saúde incluem
medicamentos do Componente Básico da Assistência Farmacêutica
e realizam a aquisição de medicamentos de forma centralizada. Há,
ainda, a possibilidade de os municípios se organizarem em consórcio
para a aquisição de medicamentos.

A Reme não precisa incluir todos os medicamentos do Componente


Especializado sob responsabilidade de aquisição do estado, cabendo
a CFT selecioná-los de acordo com as necessidades epidemiológicas
locais. O elenco de referência desse Componente, presente na
Portaria GM/MS n. 2.981/2009, é decorrente de pactuações na CIT,
que define quais medicamentos irão compô-lo e a qual ente federado
compete a aquisição e/ou dispensação dos mesmos.

O atual Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, que


incorporou os conceitos de linha de cuidado, baseia-se em Protocolos
Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), publicados por meio de
portarias específicas. Esses PCDT definem os critérios de tratamento

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


75
e quais medicamentos são utilizados para uma determinada doença
contemplada pelo Componente. Os tratamentos de primeira, segunda
ou até mesmo terceira linha, como no caso de doenças refratárias ou
de difícil controle, são incorporados no SUS, conforme a pactuação
da CIT. A responsabilidade de cada ente federado é definida segundo
a linha de cuidado e o impacto financeiro do tratamento. Assim, os
municípios tendem a assumir os tratamentos de primeira linha cujo
custo seja pequeno. Medicamentos de primeira linha e custo mais
elevado, em geral, ficam sob a responsabilidade do estado ou da União.

Link

Você pode ler sobre os protocolos clínicos diretamente no portal do


Ministério da Saúde:
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.
cfm?idtxt=35490&janela=1

A Lei n. 12.401/2011, que dispõe sobre a incorporação de tecnologia


em saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS entrou em
vigor em outubro de 2011. A avaliação da incorporação de novas
tecnologias no SUS, não só de medicamentos, realizada anteriormente
pela CITEC (Comissão de Incorporação de Tecnologias do Ministério
da Saúde), passa a ser de responsabilidade da Comissão Nacional de
Incorporação de Tecnologias no SUS - Conitec. A Conitec, comissão
da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos
(SCTIE/MS), tem por finalidade assessorar o Ministério da Saúde na
incorporação, alteração ou exclusão pelo SUS de novas tecnologias
em saúde, como novos medicamentos, produtos e procedimentos
e na constituição ou na alteração de protocolos clínicos e diretrizes
terapêuticas.

Link

A página da Conitec pode ser acessada no endereço:


http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/area.cfm?id_area=1611

76 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Os trabalhos da Comissão de Farmácia e Terapêutica - CFT

As CFTs precisam observar os cenários políticos e as diferentes


instâncias deliberativas do SUS, que avaliam a incorporação de
novas tecnologias de tratamento.

Como você viu no início da história, o processo e o fluxo de trabalho;


os objetivos ou as atribuições; a composição; e os critérios utilizados
na seleção de medicamentos devem ser definidos por meio de um
regimento interno, que precisa ser aprovado pelo gestor. O regimento
precisa definir como se dará o convite e a periodicidade de renovação
dos membros. Estes podem ser indicados pelo gestor, como ocorre,
geralmente, com o coordenador da comissão; pelos seus membros,
se esta já estiver em funcionamento; ou pelos profissionais de uma
instituição, órgão (de classe, governamental ou não governamental)
ou sociedade profissional, de especialistas, ou ligada à área de
medicamentos. Os médicos da atenção primária do município podem,
por exemplo, indicar um deles como representante na comissão. Ou
mesmo no Conselho de Saúde, seja municipal, estadual ou nacional,
dependendo do âmbito de atuação da CFT. Definidos os membros,
eles devem assinar um termo de isenção de conflito de interesses,
que também deve fazer parte do regimento. Baseado na existência ou
não de conflitos, o gestor e/ou os demais componentes da comissão
aprovam a participação do novo membro.

Ao iniciar os trabalhos de elaboração ou atualização de uma lista de


medicamentos, a CFT deve avaliar a necessidade de um treinamento
sobre a busca e análise crítica das evidências científicas, bem como
sobre as fontes de informação sobre fármacos e medicamentos,
como as listas de referência e os dados de agências de regulação,
como a Anvisa, no Brasil. No caso da Remume, os membros da
comissão municipal devem saber onde buscar informações sobre a
Rename e as políticas de medicamentos do SUS. Isso é de extrema
importância quando a CFT foi estabelecida recentemente ou quando
houve a renovação de vários de seus membros. O treinamento pode
otimizar os trabalhos na medida em que qualifica e contribui para uma
maior uniformidade na elaboração dos pareceres. Nesse sentido,
deve-se decidir como se dará o processo de trabalho; qual o formato
e o roteiro para elaboração e apresentação dos pareceres; como as
tarefas serão distribuídas; e como ocorrerá a análise e votação para
decidir pela inclusão, alteração ou exclusão de um fármaco da lista.
Os critérios de votação devem ser incluídos no regimento interno.
Se a mudança na lista se dará por aprovação da maioria simples
ou por dois terços dos membros da comissão, por exemplo, e se
há necessidade de definir a presença de um número mínimo de
componentes na reunião para que a votação possa ser realizada.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


77
Distribuição de tarefas entre os participantes da Comissão de Far-
mácia e Terapêutica - CFT

Quanto à distribuição das tarefas de análise dos pareceres, é


necessário observar o tempo disponível para a elaboração ou
atualização da lista e o número de integrantes da comissão. Um
primeiro passo após a confecção e aprovação do regimento interno,
definição dos componentes e realização do treinamento, é estabelecer
as prioridades de revisão, que precisa levar em consideração esses
aspectos. As prioridades podem ser indicadas pelo gestor, pelos
membros da comissão, por profissionais de saúde ou pelos setores
técnicos da Secretaria Municipal, Estadual ou do Ministério da Saúde,
dependendo do âmbito de atuação da CFT. A Comare, por exemplo,
aceita solicitações da indústria de medicamentos. Para tanto, visando
proporcionar a participação de membros da sociedade, profissionais
da saúde e de órgãos ou instituições, é necessário estabelecer um
formulário para solicitação de inclusão, exclusão ou alteração da
lista de medicamentos, o qual deve constar no regimento interno. Tal
formulário deve exigir algumas informações técnicas, incluindo uma
justificativa e a disponibilização de referências científicas que embasem
o pedido. A CFT precisa definir qual o período em que receberá esses
formulários dentro do tempo disponível para a revisão da lista. Isto deve
ocorrer no início do processo para que se possa avaliar a pertinência
das solicitações e estabelecer as prioridades de trabalho.

Estabelecimento de prioridades

Neste momento, pode-se optar por realizar uma oficina de


priorização, que pode envolver apenas os membros da comissão ou
até mesmo o gestor e representantes dos setores técnicos do ente
federado em que está inserida a CFT, como os coordenadores dos
programas, dos serviços de atenção primária, secundária, terciária,
de urgência e emergência. O objetivo é estabelecer as prioridades
com base nas necessidades identificadas nos serviços e nos dados
epidemiológicos locais. Assim, é importante que se verifiquem as
indicações dos fármacos que estão sendo propostos para revisão,
de forma a identificar se as doenças tratadas com os mesmos são
as de maior incidência, prevalência ou representam risco de morte
ou impacto para saúde pública. Aluno, aqui você pode adaptar a
metodologia e os instrumentos utilizados no Plano Operativo.

78 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Elaboração de pareceres

Após a definição das prioridades, levando em conta o volume de


trabalho, o tempo e o número de integrantes, deve-se decidir como
será feita a elaboração dos pareceres. Estes podem envolver a análise
de um grupo farmacológico, como, por exemplo, os medicamentos
utilizados no tratamento da asma, ou uma pergunta específica de
pesquisa, como avaliar entre os fármacos fenoterol e salbutamol
qual deve ser padronizado para tratamento de asma aguda. Isso
deve levar em consideração a eficácia, a segurança, a facilidade
de administração; as diferentes apresentações, como solução para
nebulização, aerossol, solução oral, e o custo de cada uma; bem
como os demais critérios definidos no regimento. Esses pareceres
podem ser elaborados por um membro individualmente; em dupla,
trabalhando de forma conjunta ou independente, o que pode levar a
diferentes conclusões; ou por um dos integrantes, passando depois
pela revisão de outro, de acordo com critérios e um roteiro previamente
estabelecido. Ao final, o parecer deve indicar a conclusão, de quem
o elaborou, quanto à sugestão de inclusão, exclusão ou alteração do
fármaco avaliado, indicando inclusive em que apresentação.

A análise de grupo, não necessariamente, deve conduzir a uma


conclusão final, mas, sim, indicar perguntas de pesquisa específicas que
devam ser avaliadas com maior profundidade dentro daquele grupo de
medicamentos. A análise dos medicamentos para tratamento da asma,
por exemplo, pode levantar a pergunta comparativa entre fenoterol
e salbutamol. Esse novo parecer pode ser elaborado pela mesma
pessoa que fez a análise de grupo ou por outro integrante da comissão,
dependendo de como está a distribuição de tarefas entre os membros.

Depois da elaboração de um parecer, este deve ser colocado no


formato de apresentação combinado, para que seja discutido entre
os integrantes durante a reunião. A análise dos membros pode
identificar dúvidas ainda presentes no parecer, exigindo a busca de
mais informações, ou entender que já é possível votá-lo. Em uma
apresentação de análise de grupo, os integrantes podem sugerir outras
perguntas de pesquisa além das levantadas por quem a elaborou. A
análise pode concluir também que não há necessidade de alteração
nos fármacos daquele grupo, e não gerar nenhuma pergunta. Os
pareceres devem ser encaminhados para os membros com um tempo
de antecedência da reunião, o qual deve ser previamente definido, de
forma a permitir a leitura e análise prévia dos mesmos.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


79
Aprovação da gestão

Uma vez finalizada uma etapa ou todo o processo de revisão,


segundo definição prévia, este deve ser submetido para análise e
aprovação do gestor e também do Conselho de Saúde. Um fator
a se avaliar neste momento ou, preferentemente, ainda durante o
processo de análise e decisão da CFT é a viabilidade de orçamento
para incorporação de novos medicamentos. Em uma Remume, isso
é de extrema importância quando se opta por incluir um fármaco
que não está na Rename ou sob competência do município para
atendimento do Componente Especializado, ou seja, quando não
fizer parte do elenco da Portaria GM/MS n. 4.217/2010. Nesse caso,
sua aquisição não poderá usar os recursos de financiamento do
Componente Básico da Assistência Farmacêutica, devendo utilizar
de outra fonte municipal. A avaliação torna-se mais complexa se
tal medicamento consiste num tratamento de segunda ou terceira
linha ou que exija, necessariamente, a implantação de um protocolo
terapêutico de forma a evitar o uso irracional ou como primeira
escolha. Isso deverá considerar, portanto, os locais de distribuição e
dispensação do mesmo; qual profissional será responsável por avaliar
os critérios de inclusão e exclusão do protocolo; quem assumirá a
elaboração deste, se um membro da comissão ou outra área técnica
da gestão; qual o espaço físico necessário para armazenamento e
atendimento do protocolo; e a necessidade de informatização. Vários
desses aspectos serão abordados nas próximas unidades do Curso.

Se você sentir necessidade de aprofundar este tema, relacionamos


aqui alguns links para documentos que podem contribuir para o seu
estudo.

80 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Link
• Conheçam o guia da Organização Mundial da Saúde sobre
Comissões de Farmácia e Terapêutica. Ele está disponível em inglês
e espanhol:
http://whqlibdoc.who.int/hq/2003/WHO_EDM_PAR_2004.1.pdf (inglês)
http://whqlibdoc.who.int/hq/2004/WHO_EDM_PAR_2004.1_spa.pdf
(espanhol)

• Como citado anteriormente, as comissões de farmácia e terapêutica


podem ser implantadas também em hospitais. Se quiser saber mais
a respeito, veja este estudo que avalia a atuação dessas comissões
em hospitais da Alemanha:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2014287/pdf/bcp0048-
0239.pdf

• Em 1998, um estudo australiano testou 35 indicadores para


avaliação do trabalho de uma comissão de farmácia e terapêutica
no âmbito hospitalar. Muitos desses indicadores podem ser
adaptados para comissões que atuem em diferentes locais, como
estados e municípios. Se quiser conhecer mais sobre eles, acesse
o texto completo em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1873960/pdf/bcp0045-
0393.pdf

Agora vamos nos encontrar novamente com o farmacêutico Pedro


Paulo, pois ele tem um documento importante para nos entregar...

- Olá. Estamos neste momento nos organizando para atualizar a nossa


Remume. Vocês precisam ter ela em mãos para que possam consultá-
la. Nossa equipe de assistência farmacêutica trabalhou na relação,
destacando os medicamentos que temos padronizado e que não
constam da Rename. Nas próximas semanas faremos um treinamento
com um consultor técnico do Ministério da Saúde, referente à busca
de informações sobre medicamentos e evidências científicas para
elaboração de pareceres. Assim, estaremos mais preparados para
as discussões técnicas sobre possíveis alterações da nossa lista de
medicamentos. Até breve!

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


81
Você também deve ter em mãos a Remume do município para que
possa avançar no estudo.

Concluindo, uma CFT pode assumir diversas atribuições dependendo


do cenário em que está inserida, desde a seleção até outras funções
relacionadas a políticas de medicamentos e à promoção do seu uso
racional. Nesse sentido, a lista de medicamentos pode ser organizada
de diversas formas, de acordo com o objetivo a que se propõem. Para
desempenhar seu papel, uma CFT precisa estabelecer sua dinâmica
de trabalho e considerar a constante capacitação de seus membros.

Lição 4 – Como estabelecer prioridades no processo de revisão


da lista de medicamentos

Nesta lição, você verá como definir as prioridades na seleção de


medicamentos.

Na lição anterior você assistiu ao vídeo da Dra. Lenita Wannmacher,


apresentando algumas considerações sobre as prioridades que devem
ser observadas quando da elaboração de listas de medicamentos
essenciais. Lembra-se? Você precisará dessas informações para
melhor compreensão desta lição.

Anotações

82 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Organizando as atividades em função do tempo

No momento, a atualização da Remume da nossa história está focada


nos medicamentos presentes na lista, que não estão na Rename e
nas solicitações externas. Lembram-se do formulário de solicitação
externa que foi incluído no regimento interno? Mas afinal, num
processo de revisão como este, como estabelecer as prioridades
para iniciar os trabalhos? É preciso levar em conta a quantidade
de pessoas envolvidas no trabalho e o tempo para sua execução.
Uma apresentação de análise de grupo farmacológico, como os
medicamentos para tratamento de asma, pode levar em torno de
duas horas, considerando a apresentação de dois pareceres, a
discussão e os encaminhamentos.

Uma análise de grupo pode ser feita em dupla ou individualmente,


a depender da dinâmica e no número de componentes da CFT.
Relembre que, na análise de grupo, pode se concluir por não alterar a
lista ou gerar novas perguntas de pesquisa para pareceres específicos.

A resposta a uma questão comparativa entre salbutamol e fenoterol


para abordagem de asma aguda pode gerar uma discussão de
parecer de cerca de sessenta minutos. Assim, dependendo da
periodicidade das reuniões da CFT e do tempo de duração destas,
deve-se programar a pauta e avaliar quanto se pode produzir
durante o período disponível para atualização da lista. Vamos usar
um exemplo. Digamos que uma CFT disponha de um ano para o
trabalho de revisão e que tenha uma reunião mensal de quatro horas.

4 horas x 12 meses = 48 horas de trabalho presencial por ano.


Em 48 horas é possível programar o seguinte volume de trabalho:
4 análises de grupo = 8 horas de trabalho.
20 perguntas de pesquisa específicas (análise comparativa de um
medicamento, por exemplo) = 20 horas de trabalho.

Restam vinte horas, mas é preciso reservar tempo para o treinamento


da equipe, para a oficina de priorização e outras demandas. Em
uma CFT municipal, podem surgir demandas do gestor, como a
implantação de novos serviços, pedidos judiciais de medicamentos
e pactuações das políticas públicas de medicamentos no SUS
decorrentes da CIB ou da CIT. Importa, ainda, lembrar que a CFT tem
papel importante na promoção do uso racional de medicamentos,

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


83
devendo ocupar-se de discussões de apoio às decisões da
gerência de assistência farmacêutica; de avaliações sobre o uso de
medicamentos; de elaboração ou validação de protocolos no que diz
respeito à terapia, mesmo de intervenções não farmacológicas.

Agora, vamos retomar nossa história. Acompanhe!

O farmacêutico, Pedro Paulo, quer começar o processo de atualização


da Remume e organiza uma oficina de treinamento dos membros da
CFT, abordando, inicialmente, uma metodologia de priorização.
Ele diz o seguinte: - Olá. Nesta semana precisamos elencar as prioridades
para atualização da Remume e definir os pareceres que teremos que
elaborar. Essas tarefas serão distribuídas entre os membros da CFT
e vamos ter que definir nosso processo de trabalho. Por enquanto,
os membros da CFT precisam comparar a lista da Remume que
entreguei com o elenco do anexo III, da Portaria GM/MS n. 4.217/2010,
especialmente aqueles que estão destacados por não pertencerem à
Rename. Vocês vão perceber que há medicamentos que não estão na
Rename, mas que constam do anexo. Trata-se de medicamentos que
migraram do antigo Programa de Medicamentos Excepcionais para a
primeira linha de cuidado do Componente Especializado da Assistência
Farmacêutica, sob responsabilidade de atendimento pelos municípios,
ou seja, cujo financiamento de aquisição se dá juntamente com o
Componente Básico da Assistência Farmacêutica.

Pedro Paulo diz ainda: - Precisamos estar preparados para exercer todas
as atividades, e para isso a Secretaria organizou um curso para vocês. Vou
apresentar-lhes o consultor técnico Gilberto, que trabalha no Departamento
de Ciência e Tecnologia (DECIT) da Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde para conduzir oficinas
de capacitação. Iniciaremos agora nossa primeira oficina.

Gilberto assume a palavra: - Olá. Prazer em conhecê-los. Eu trabalho


no DECIT, com avaliação para incorporação de novas tecnologias,
principalmente medicamentos. Primeiramente, precisamos realizar uma
oficina para que vocês saibam como estabelecer prioridades de revisão da
lista de medicamentos. Vamos seguir o direcionamento que a Secretaria
me passou, e que já havia informado a vocês também. Assim, com base
nos documentos apresentados: medicamentos da Remume elencados a
seguir que não constam da Rename e do anexo III da Portaria GM/MS n.
4.217/2010, formulários de solicitação recebidos pela Secretaria, e nos
dados epidemiológicos do município de Água Fria, obtidos do Instituto
Brasileiro de Geografia Estatística - IBGE, do Cadastro Nacional de

84 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Estabelecimento de Saúde (CNES), e Datasus, discutiremos as prioridades
para atualização da lista municipal. Iremos estabelecer uma lista com a
ordem de prioridade de elaboração dos pareceres.

Anotações

Agora, vamos voltar a nossa história!

Gilberto continua falando: - Aqui está o formulário de solicitação externa


que Pedro Paulo me entregou. Trata da solicitação de inclusão do
medicamento carvedilol. Precisamos incluí-lo em nosso trabalho.

E continua: - Para cada medicamento listado na planilha que vocês


receberam, estabeleçam uma pontuação de 0 a 4 em cada um dos
critérios e façam a soma na última coluna. Depois, vamos consolidar
as planilhas de todos vocês num documento único, com a ordem de
prioridade que iremos usar na revisão. Para o trabalho de priorização
adotaremos os seguintes critérios:

1) Relevância epidemiológica: doenças de alta incidência e/ou prevalência;

2) Impacto para saúde: enfermidade com risco elevado de morbimortalidade,


alta letalidade e/ou alto impacto na qualidade de vida;

3) Relevância para o serviço: falta de forma farmacêutica adequada e/ou


dificuldade de acesso;

4) Possibilidade de intervenção: impacto do tratamento com o medicamento na


melhora da qualidade de vida, redução da morbimortalidade e/ou controle da
doença.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


85
Anotações

Nossos personagens utilizarão os critérios aqui apresentados para


a oficina de priorização. Em futuros trabalhos de priorização, a CFT
pode discutir a alteração dos critérios adotados, e outros podem
ser acrescentados pelo grupo como: avaliação de custo ou impacto
financeiro; demanda social; interesse da gestão; entre outros.
Este último critério não se aplica em nossa história, pois todos os
medicamentos a serem revisados já foram indicados previamente
pelo gestor.

Para concluir esta lição, pode se dizer que, uma vez estabelecidos
os medicamentos ou grupos farmacológicos da Remume, que serão
revisados, seja por definição dos membros da Comissão, seja por
interesse do gestor, seja por solicitação externa, seja por mudanças
na política de medicamentos, deve-se, idealmente, realizar uma
oficina de priorização. Esta tem como objetivo definir a ordem em
que serão revisados os medicamentos propostos, seguindo critérios
previamente estabelecidos.

Lição 5 – Informação sobre medicamentos

Nesta lição, você poderá refletir a respeito da produção de informações


sobre medicamentos e quanto à atuação do farmacêutico. Para isso,
faremos uma pausa na nossa história e vamos apresentar algumas
considerações a respeito das informações sobre medicamentos.

Vamos começar?

O cenário

Quando um novo medicamento é introduzido no mercado, ou


um medicamento já em uso passa a ter nova indicação, ocorre,
simultaneamente, a introdução de novas informações sobre este
medicamento. O farmacêutico e os outros profissionais de saúde
necessitam estar atualizados sobre essas informações, de forma
a melhor exercer suas atividades, tanto no atendimento ao usuário
quanto nas atividades de gestão.

86 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Essa atualização exige acesso a fontes de informação de qualidade
e isentas de interesses. Porém, nem sempre os profissionais de
saúde têm acesso a essas fontes. Isso ocorre por questões de
ordem financeira e também pela falta de entendimento, por parte dos
gestores, da necessidade de investimento nesta área. A CFT pode
desempenhar um papel importante na argumentação junto ao gestor
sobre a importância desses investimentos.

Felizmente, nos dias de hoje, muitos recursos estão disponibilizados


na internet, gratuitamente, mas que exigem investimentos de acesso
à internet.

Por outro lado, é preciso reconhecer que vivemos numa denominada


“sociedade da informação”, capaz de nos confundir com uma grande
quantidade de informação, nem sempre de boa qualidade e que
atinge todos os setores da atividade humana. Os profissionais de
saúde, que trabalham com medicamentos, são bombardeados com
informações de diversas origens e de qualidade diversificada, por
meio de publicações científicas, principalmente artigos, acrescidas
daquelas disponibilizadas pela indústria farmacêutica. Para trabalhar
nesse contexto, esses profissionais precisam estar capacitados para
buscar a informação sobre os medicamentos, de acordo com o uso
a que se destinam.

Lembre-se de um exemplo recente que vivenciamos:


O medicamento fosfato de oseltamivir, indicado para tratamento de
gripe aviária, foi o antiviral eleito pela OMS para o tratamento da recente
pandemia de gripe suína. Em função dessa nova indicação de uso,
muitas dúvidas foram levantadas acerca do medicamento, do esquema
de tratamento e dos grupos a serem tratados.
Quem teve oportunidade de trabalhar na assistência farmacêutica na
época, precisou enfrentar muitos questionamentos de prescritores,
serviços de saúde e secretarias municipais, até que informações seguras
e de qualidade fossem disponibilizadas pela Organização Pan-Americana
da Saúde, Ministério da Saúde e Anvisa, para dar suporte consistente à
utilização do medicamento para o tratamento da Influenza A (H1N1).

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


87
A origem da informação sobre medicamentos

A informação sobre medicamentos é divulgada por diferentes meios


e para públicos diversos.

Você já parou para pensar qual é o caminho que a informação percorre


antes de chegar ao usuário, o principal interessado em se beneficiar do
medicamento para que seu tratamento tenha êxito?

Sem pretender esgotar todas as possibilidades, vamos apresentar


aqui um desenho com algumas das possíveis origens dessas
informações:

Agências
Indústria
reguladoras

??? Outras
Prescritor
pessoas

Sociedades
Internet
Científicas

Usuário
Farmacêutico
Indústria
e equipe

Conselhos de Meios de
categoria profissional comunicação

Figura 1 - Origem das informações sobre medicamentos.

Se prestarmos atenção no que acontece quando o usuário procura


atendimento médico, percebemos que ele recebe (ou deveria
receber) do prescritor e do farmacêutico (ou da pessoa que o
atendeu na farmácia pública ou privada), as informações sobre o(s)
medicamento(s) que irá utilizar. Mas, certamente, será influenciado
com informações oriundas de familiares, amigos e colegas de
trabalho, de propaganda de medicamentos gerada pela indústria

88 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


farmacêutica, de informações (ou alertas) originadas de agências
regulatórias como a Anvisa, e ainda do Ministério da Saúde ou da
Organização Mundial da Saúde e da Organização Pan-Americana da
Saúde. E, ainda, com toda a informação existente na internet, que o
usuário pesquisa, gerando dúvidas e confundindo-o. Possivelmente,
o gestor que necessita avaliar a inclusão (ou retirada) de um
medicamento em um programa de saúde se sente da mesma forma.

Vamos tratar agora da informação fornecida pela indústria


farmacêutica que produz o medicamento. As demais fontes serão
apresentadas na próxima lição.

A informação produzida pela indústria farmacêutica

Além de produzir o medicamento, a indústria farmacêutica atua


na produção de informação sobre ele. São os propagandistas que
levam aos profissionais de saúde a informação sobre medicamentos.

Recentemente, a Anvisa coordenou uma pesquisa, executada por


universidades brasileiras. A pesquisa relata que a influência do
marketing da indústria farmacêutica não se restringe à presença
de propagandistas nas salas de espera dos consultórios médicos
e hospitais particulares: o SUS também é alvo desta estratégia
empregada pela indústria (BRASIL, 2010).

Anotações

Autores como Pepe e Osório de Castro (2000) e Wannmacher (2007)


afirmam que os fabricantes de medicamentos estão certos do poder
da visita do propagandista aos médicos e estudantes de hospitais de
ensino (que serão futuros prescritores), para influenciar a prescrição.

As autoras apresentam outras formas empregadas pela indústria


como estratégia de convencimento do prescritor, tais como:

• Publicação do Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF);

• Anúncios em revistas médicas;

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


89
• Distribuição de amostra grátis, revistas e brindes;

• Financiamento de recepções, patrocínio de viagens e


congressistas;

• Financiamento de programas de educação continuada e fundos


de escolas médicas;

• Financiamento de associações profissionais e de associações de


usuários portadores de patologias;

• Financiamento de revistas médicas;

• Financiamento de pesquisas;

• Produção de material tido como educativo.

Assim como o médico, o farmacêutico é visitado pelo propagandista


para ser “apresentado” a novos medicamentos.

Sabemos que a informação sobre o medicamento é produzida


durante toda a cadeia do medicamento. Ao ser introduzido novo
medicamento no mercado, a informação é mais fortemente
disponibilizada pelo laboratório produtor, de forma a impor a sua
utilização. Os propagandistas apresentam o medicamento para a
categoria médica, oferecendo-o gratuitamente para tratamento de
portadores da doença em hospitais universitários, de forma que
seja usado e conhecido. O medicamento começa a ser prescrito,
disponibilizado ao usuário, utilizado – e começa a se tornar mais
conhecido. As pessoas pesquisam na internet, conversam com
amigos, e vêm perguntar para o farmacêutico. Afinal, não somos nós,
farmacêuticos, que entendemos de medicamento?

O papel do farmacêutico

A informação sobre medicamentos é um tema que não está


contemplado nos currículos da maioria dos cursos de graduação, e
isso tem reflexo na sua atividade profissional.

A Resolução n. 308/97, do Conselho Federal de Farmácia – CFF


(veja que o documento é de 1997), estabelece a necessidade de
formação profissional:

“cabe ao farmacêutico promover a educação dos profissionais de saúde e usuários;


participar em programas educacionais de saúde pública, promovendo o uso racional
de medicamentos; que o farmacêutico deve (grifo dos autores) atuar como fonte de
informação sobre medicamentos para outros profissionais de saúde.”

90 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Anotações

O tema está contemplado também na Política Nacional de


Medicamentos:

“Será estimulado, por intermédio de diferentes mecanismos de articulação


intersetorial, o acesso do profissional a conhecimentos e treinamentos voltados
ao desenvolvimento de habilidades específicas, como aquelas relacionadas
ao gerenciamento de sistemas de saúde e de informação, guias terapêuticos
padronizados e farmacovigilância” (BRASIL, 1998).

Reflexão

Então, o farmacêutico é o profissional de saúde que tem a responsabilidade


de ser a referência em informações sobre medicamentos. Você já havia
pensado sobre essa responsabilidade? E como os farmacêuticos são
preparados (ou não?) para exercer esta atividade? Reflita se você está
preparado para esta função.

O farmacêutico deve desenvolver habilidades e competências


para poder exercer adequadamente esta atividade. A Federação
Internacional de Farmacêuticos – FIP (WIEDENMAYER et al., 2006),
bem como Vidotti e colaboradores (2000) listam as seguintes
competências e habilidades:

• seleção da fonte de informação (entender e usar as ferramentas


para uma avaliação crítica quando frente a grande quantidade de
informações existentes);

• destreza na busca da informação disponível nos meios


convencionais e eletrônicos;

• emprego da análise crítica da literatura;

• interpretação da informação;

• utilização da informação;

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


91
• organização da informação, participando de CFT, de elaboração
de listas de medicamentos e de pareceres sobre medicamentos;

• comunicação da informação para usuários e outros profissionais


de saúde, incluindo elaboração de material para pessoas com
deficiências, analfabetos, analfabetos funcionais; elaboração de
folhetos, campanhas e aconselhamentos como estratégias de
educação em saúde.

A informação sobre medicamentos

Quando o medicamento é entregue sem a devida orientação de seu


uso, há uma grande possibilidade que o usuário o utilize incorretamente,
com prejuízo do tratamento. A qualidade da informação sobre um
medicamento é tão importante quanto a qualidade do medicamento
e pode influenciar a forma como o medicamento é utilizado (MARIN
et al., 2003).

Para chegarmos ao conceito de informação sobre medicamentos,


vamos, inicialmente, apresentar uma definição de informação:

Informação é o “significado que o homem atribui a um determinado


dado, por meio de convenções e representações” (CARVALHO e
EDUARDO, 2006).

Quando precisamos tomar uma decisão, buscamos informações


para poder definir a ação a ser executada. Esta informação deve ter
significado, quer dizer, ter sentido, valor para quem a usa. Precisamos
entendê-la para poder utilizá-la. As definições de informação
sobre medicamentos se complementam: Malone (apud VIDOTTI
et al., 2000), a define como a “provisão de informação imparcial,
bem referenciada e criticamente avaliada sobre qualquer aspecto
da prática farmacêutica” e Vidotti e colaboradores (2000) como
“informação dirigida a solução de problemas e conceitos ligados a
utilização de medicamentos.”

Outro aspecto a abordar é a qualidade da informação, que, para que


possa ser bem utilizada pelos profissionais de saúde e gestores, deve
atender certos requisitos sendo:

92 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


• objetiva, direcionada exatamente para o problema;

• autêntica e verdadeira, com fontes reconhecidas;

• completa, obtida e fornecida de maneira completa;

• disponibilizada com agilidade;

• atualizada, para não incorrer em erro;

• imparcial e independente, não ser produzida por grupos de


interesse;

• imune a pressões políticas e econômicas.

Vale lembrar que a informação sobre o medicamento é instrumento


de promoção do seu uso racional:

A disponibilidade de fontes de informação técnico-científica sobre medicamentos e


sua utilização apropriada, enquanto fontes confiáveis, atualizadas e independentes,
são requisitos fundamentais para garantir o uso racional de medicamentos (SILVA
et al., 1997, p 532).

Vejamos aqui dois exemplos de utilização de informação sobre


medicamentos:

1) Farmacêutico ao dispensar um medicamento: se o usuário


receber a orientação adequada pelos profissionais de saúde,
terá condições de aderir ao tratamento mais corretamente e ter
mais benefícios. Um exemplo comum é o emprego incorreto
do dispositivo inalatório para tratamento de asma – se o
farmacêutico explicar e mostrar como usar corretamente e o
usuário compreender e utilizar adequadamente, o seu tratamento
terá mais sucesso.

2) Gestor que precisa decidir sobre a utilização de um medicamento


em um serviço de saúde. Voltando ao episódio da gripe suína,
o gestor federal (Ministério da Saúde e Anvisa) percebeu o uso
do medicamento em condições diferentes daquelas indicadas
no protocolo de tratamento. Para tentar conter a situação, o
medicamento foi incluído na lista C1 (Lista das outras substâncias
sujeitas a controle especial) da Portaria SVS/MS n. 344/98, por
meio da RDC n. 70/2009.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


93
Pesquise e Leia

Pesquise e Leia sobre o artigo: A interação entre prescritores,


dispensadores e pacientes: informação compartilhada como possível
benefício terapêutico, das autoras Vera Lúcia Edais Pepe e Cláudia Osório
de Castro, ambas pesquisadoras do Núcleo de Assistência Farmacêutica
da Fiocruz.
Essa é uma leitura importante para a compreensão do conteúdo
abordado nesta unidade.

Esse artigo apresenta o processo que se inicia quando o usuário


busca atendimento médico, o que pode desencadear na prescrição
e dispensação de medicamento(s). Além disso, analisa criticamente a
interação entre prescritores, dispensadores e usuários, considerando
a informação sobre medicamentos como um dos fatores-chave
para o desenvolvimento da relação. Trata também da produção e
disseminação dessas informações entre os profissionais de saúde,
das fontes disponíveis e de alguns fatores envolvidos na utilização
dessa informação.

Esperamos que essa referência ajude na reflexão sobre este tema.


Voltaremos a ela em futuras lições.

Concluindo

A informação sobre medicamentos pode ter diferentes origens, e é


necessário selecioná-la criticamente para utilizá-la. O farmacêutico
deve estar capacitado para buscar, selecionar e organizar a informação
sobre o medicamento, de forma a utilizá-la no atendimento ao usuário
ou à coletividade e nas atividades de gestão.

Lição 6 – Apresentando as fontes de informação sobre medica-


mentos

Agora você compreenderá como relacionar as diferentes fontes de


informação sobre medicamentos. Para isso, vamos voltar a mais uma
etapa de trabalho com o consultor Gilberto. Nesta lição ele iniciará a
segunda oficina, na qual serão apresentadas as fontes de informação
sobre medicamentos disponíveis em meio impresso e eletrônico, e
como você poderá ter acesso a elas.

94 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Antes de avançar na história, para você poder acompanhá-
la adequadamente, vamos recordar o que foi dito a respeito de
informação sobre medicamentos no texto indicado ao final da última
lição. Nesse artigo, as autoras listam várias fontes de informação
que podemos utilizar, de acordo com a pergunta que precisamos
responder. Assim, temos:

• Livros textos, contendo informações gerais, como os de


farmacologia;

• Farmacopeia, contendo monografia de substâncias


medicamentosas;

• Fontes oficiais, como lista de medicamentos essenciais, informes


técnicos sobre medicamentos, produzidas por organizações
internacionais como a OMS e a OPAS;

• Informações trocadas entre profissionais de saúde, durante a


prática diária, em reuniões, congressos, sociedades científicas;

• Centros de Informação sobre Medicamentos – CIM e Centros de


Informações e Assistência Toxicológica - CIAT;

• Documentos produzidos pelos Centros, Comissões e Sociedades


Científicas: Formulários Terapêuticos; Protocolos Clínicos e
Diretrizes Terapêuticas – PCDT; Listas de medicamentos; guias,
diretrizes e consensos, elaborados pelas sociedades científicas;
Boletins com informações sobre medicamentos;

• Material disponibilizado em páginas da internet;

• Listas de discussão na internet;

• Material disponibilizado pela indústria: DEF, Vademecum,


propagandas, reuniões, congressos;

• Literatura científica publicada em revistas científicas


independentes, indexadas;

• Literatura publicada em revistas não indexadas, algumas


financiadas pela indústria;

• Material de cunho formativo, produzido pela academia para fins


didáticos (para a formação de especialistas, por exemplo).

Agora vamos voltar à nossa narrativa. Acompanhe a segunda oficina.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


95
- Olá! Vamos para nossa segunda oficina. Trabalharemos nesta sala, com
computadores e internet, para aprender a buscar informações sobre
medicamentos em diferentes fontes. Dando continuidade aos trabalhos,
na oficina anterior, pedimos a vocês que trabalhassem na Relação
Municipal de Medicamentos, elencando as prioridades. O trabalho de
cada membro já está consolidado em uma planilha; encaminharemos
as tarefas de elaboração de pareceres. Aqui está a planilha. Logo
iniciaremos os trabalhos – diz Gilberto retomando sua fala.

Pedro Paulo apresenta Kely: - Vou lhes apresentar a enfermeira Kely. Ela
está assumindo a coordenação da Atenção Básica do nosso município e
vai acompanhar nossos trabalhos.

- Olá! Eu trabalhei em uma unidade de saúde do município por três anos


e agora estou vindo trabalhar no nível central da Secretaria Municipal de
Saúde. Espero que possamos desenvolver várias atividades em conjunto.
Conheci Gilberto em um treinamento que fiz em Salvador há um ano e ele
pediu que o ajudasse nesta oficina. Na verdade, também vou aproveitar
para reforçar o que aprendi e rever alguns conteúdos, diz Kely.

- Vocês leram no texto apresentado na lição anterior que, para se


buscar a informação, as pessoas devem estar capacitadas e o serviço
estruturado em relação aos recursos físicos, materiais e financeiros.
Algum de vocês tem ideia de como fazer isto?, questiona Gilberto.

- Sim, Gilberto. Já precisei fazer consulta a um Centro de Informação


sobre Medicamentos. É disso que você está falando?, responde Kely.

- Isto mesmo! Uma das formas de estruturar este serviço é por meio
de implantação de um Centro de Informação sobre Medicamentos,
conhecido como CIM. O CIM é um serviço que tem como propósito
produzir informação técnico-científica sobre medicamentos, de modo
objetivo e oportuno, para um fim específico, com o objetivo de promover
o uso racional de medicamentos. Conceitualmente, um CIM é o local
onde se realiza a seleção das fontes de informação, a informação é
avaliada e se elabora a informação a ser comunicada, de acordo com o
questionamento que foi feito, ressalta Gilberto.

Paremos um pouco a nossa história para entendermos melhor o


funcionamento de um CIM.

O CIM trabalha com a produção de diferentes tipos de informações,


que podem ser divididas em passivas, que são aquelas oferecidas
para responder a uma pergunta encaminhada ao CIM; e ativas,
quando a iniciativa da comunicação é do farmacêutico que organiza

96 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


a informação e a disponibiliza, em resposta a uma percepção da
necessidade de esclarecimentos acerca de um medicamento para
os profissionais de saúde.

Agora,vamos retornar à nossa história.


Pedro Paulo retoma dizendo o seguinte: - Tenho uma colega que
trabalha em um CIM e que me contou que eles também trabalham com
pesquisas.

- Bem lembrado, destaca Gilberto. O CIM pode trabalhar com estudos de


utilização de medicamentos e com problemas detectados nas perguntas
recebidas, com a possibilidade de realizar propostas de intervenção
sobre problemas detectados com maior frequência.

O primeiro CIM foi implantado em 1962, em um hospital, no Kentucky,


EUA. O sucesso conduziu a abertura de outros centros nos EUA e em
outros países. No Brasil, o primeiro CIM foi instalado em um hospital
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Atualmente existem
vários CIM no Brasil, em alguns conselhos regionais de farmácia,
universidades, hospitais e serviços. É possível encaminhar consultas
por fone, fax ou email.

Link

Você pode consultar a lista atualizada dos centros de informação na


página do Conselho Federal de Farmácia, no seguinte endereço: http://
www.cff.org.br/pagina.php?id=213

Atualidades

Iniciativa de cooperação técnica entre OPAS/BRA, DAF/SCTIE/


MS, Associação Brasileira de Ensino Farmacêutico (ABENFAR) e os
CIM/SIM, sob coordenação da Unidade Técnica de Medicamentos,
Tecnologias para a Saúde e Pesquisa da OPAS/BRA, discute a
proposta de estruturação de um Serviço de Informação sobre
Medicamentos articulado e integrado ao SUS, bem como a
retomada da Rede Brasileira de Serviços e Centros de Informação de
Medicamentos – REBRACIM. A contribuição dos CIM nos estados
brasileiros, para a promoção do uso racional de medicamentos,
participando e desenvolvendo ações nos vários níveis de gestão do
SUS, busca a garantia da perenidade ao trabalho de qualificação dos

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


97
serviços assistenciais, buscando segurança, eficácia e efetividade
das ações de saúde, em particular quanto ao uso dos medicamentos.
O I Fórum da REBRACIM aconteceu nos dias 27 e 28 de outubro de
2010, na OPAS/OMS, no Brasil.

As fontes de informação com função regulatória

Outra importante fonte de informação é a página eletrônica da Anvisa,


onde se pode consultar sobre a situação de registro de medicamentos
no país, além de outros aspectos relacionados à legislação sanitária
de medicamentos no Brasil.

“Bula é o documento 3 A Anvisa é a agência que tem como finalidade promover a proteção
legal sanitário que contém da saúde da população por intermédio do controle sanitário da
informações técnico- produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos
científicas e orientadoras à vigilância sanitária, incluindo-se, entre eles, os medicamentos.
sobre os medicamentos para Especificamente em relação aos medicamentos, a Anvisa é a agência
o seu uso racional” (RDC responsável por estabelecer normas para a elaboração das bulas de
Anvisa n. 47/2009). medicamentos3 com registro no país.

Enquanto isso na reunião...


- A Resolução RDC n. 47, de 8 de setembro de 2009, estabelece regras para
elaboração, harmonização, atualização, publicação e disponibilização de
bulas de medicamentos para usuários e para profissionais de saúde.
Lembro a vocês que as bulas publicadas antes da data 9 de setembro
de 2009 ainda não estão completamente adequadas a essa Resolução.
A RDC n. 47 tem como objetivo aprimorar a forma e o conteúdo das
bulas de medicamentos, visando garantir o acesso à informação segura
e adequada, visando o uso racional de medicamentos – diz Gilberto.

- Quer dizer que o fabricante não pode fazer a bula da forma que ele
quer? Existem regras? – questiona Kely.

- Sim, responde Gilberto - as bulas devem ter texto elaborado de acordo


com o seu emprego. Se a bula é para o usuário, o conteúdo deve ser
resumido, em linguagem apropriada e de fácil compreensão; se é para
o profissional de saúde, o conteúdo deve estar detalhado tecnicamente.

Considerando o que foi abordado até agora, já podemos refletir sobre


a importância de se disponibilizar informações sobre medicamentos,
de acordo com a finalidade de seu uso: usuário utilizando um ou mais
medicamentos precisa saber exatamente como usá-lo. Deve, portanto,
receber a informação em linguagem compreensível, com terminologia
adequada, de forma que ele compreenda como utilizar o medicamento e
saiba os cuidados que devem ser tomados, para que o tratamento seja

98 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


seguro e efetivo. Já o profissional de saúde necessita de informações
para que decida sobre a melhor conduta terapêutica a ser tomada.

- Lembro-me de uma colega que relatou uma situação que ocorreu com
uma moça que, mesmo utilizando anticoncepcional, engravidou, porque
não havia entendido como usar a cartela - retoma Kely.

- É muito frequente que nos deparemos com situações em que o


medicamento não exerce o efeito esperado, durante o tratamento,
por uso incorreto. Com certeza, cada um de vocês se lembra de uma
situação que ocorreu no seu trabalho. - disse Gilberto.

- Na página da Anvisa pode-se também fazer a pesquisa das bulas


de medicamentos no Bulário Anvisa, - continua Gilberto - onde estão
publicadas as bulas dos medicamentos registrados e comercializados
no Brasil como medicamento de referência. As bulas dos medicamentos
genéricos e similares, com o mesmo princípio ativo de um medicamento
de referência, se diferenciam das bulas dos medicamentos de referência
apenas em alguns aspectos, como a identificação e composição
do medicamento, dizeres legais e outros itens particulares de cada
produto. A informação essencial mínima deve estar presente em todas
as bulas de mesmo princípio ativo. Esse bulário pode ser utilizado por
profissionais de saúde e pelo público em geral.

- Recentemente, em dezembro de 2010, a Anvisa publicou a Resolução


n. 60/2010, que aprova o Regulamento Técnico, que estabelece
frases de alerta para os princípios ativos e excipientes em bulas e
rótulos de medicamentos, visando garantir o acesso à informação
segura e adequada para a utilização dos medicamentos. A Anvisa
também disponibiliza as Denonimações Comuns Brasileiras (DCB) e
a Farmacopeia Brasileira, a qual também é uma fonte de informação
sobre medicamentos – diz Gilberto.

Essa oficina está sendo muito produtiva para toda a equipe! Você
também pode ter acesso aos documentos mencionados.

Anotações

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


99
Link

Se você quiser mais detalhes sobre os temas tratados, acesse os


seguintes endereços eletrônicos:
• Bulário Eletrônico: base de dados disponibilizada no Portal da Anvisa,
que contém as últimas versões aprovadas dos textos de bulas de
medicamentos ou outros documentos que possam substituí-las, de
acordo com a RDC Anvisa n. 47/2009. O bulário está disponível no
endereço: http://www4.anvisa.gov.br/BularioEletronico/

• A relação atualizada das DCB – Denominações Comuns Brasileiras, pode


ser encontrada no endereço: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/
pdf/Lista_DCB_consolidada_ate_RDC_19_11_09_maio_2011.pdf

Fontes de informação sobre preços de medicamentos

A Anvisa regula o preço dos medicamentos no mercado brasileiro


por meio da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos –
CMED, que tem como responsabilidade divulgar as listas de preços
máximos de medicamentos ao consumidor.

Link

Outra fonte para busca de preços de comercialização de medicamentos


é o endereço: www.consultaremedios.com.br

Vamos acompanhar o que Gilberto tem a nos dizer a respeito das


fontes de informações.
E Gilberto continua: - Esse endereço eletrônico apresenta os
medicamentos de referência, similares e genéricos e pode complementar
a informação de registro da Anvisa, pois é possível ver as apresentações
que estão sendo comercializadas, as formas farmacêuticas disponíveis
no mercado e a quantidade de fabricantes existente. A existência de
uma fonte de consulta para avaliar custo de medicamentos/tratamentos
é importante durante o processo de seleção de medicamentos e no
momento de fazer a programação de medicamentos.

100 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Entendendo que os medicamentos não são bens de consumo comuns,
e sim bens de saúde, a propaganda, a publicidade, a promoção e a
informação dos mesmos está sujeita a regras específicas, atividade
também de responsabilidade da Anvisa. Essa regulação de mercado
tem como propósito reduzir a exposição da população à propaganda
abusiva e enganosa e abordar questões relevantes à saúde coletiva –
como a automedicação, intoxicações, uso inadequado de medicamentos
e alimentação saudável. Dessa forma busca se minimizar os riscos
à saúde, subsidiar o aprimoramento da legislação e propiciar que
sejam elaboradas políticas de educação em saúde para a população.

As propagandas de medicamentos devem apresentar informações


completas, claras e equilibradas, evitando que se tornem tendenciosas
ao destacar apenas aspectos benéficos do produto, quando se sabe que
todo medicamento apresenta riscos inerentes ao seu uso.

Gilberto dá continuidade: - Algumas organizações internacionais


exercem essa função regulatória em âmbito mundial, outras em regiões:
Organização Mundial da Saúde (OMS); a Organização Pan-Americana
da Saúde (OPAS) nas Américas; a European Medicine Agency (EMA) na
Europa e o Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos.

O Food and Drug Administration (FDA) é uma agência regulatória do


Departamento de Serviços de Saúde dos Estados Unidos, responsável
pela proteção da saúde pública, garantindo a qualidade, a segurança
e a eficácia de medicamentos de uso humano e veterinário, produtos
biológicos, alimentos, cosméticos, produtos que emitem radiação e de
produtos do tabaco. No endereço eletrônico desta agência você poderá
encontrar informações sobre medicamentos.

Vamos fazer uma pausa para conferir os links que o consultor Gilberto
mencionou até aqui.

Anotações

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


101
Link

Vejamos separadamente cada um dos links:


• A Anvisa, em 2008, desenvolveu a campanha: Informação é o
melhor remédio, visando esclarecer a população quanto aos
riscos da automedicação. Saiba mais sobre essa campanha no
endereço: http://www.anvisa.gov.br/propaganda/educacao_saude/
campanha_informacao.htm
• A Organização Mundial da Saúde é a autoridade no sistema da
Organização das Nações Unidas (ONU) que coordena as ações de
saúde no âmbito mundial. (http://www.who.int/en/)
• A Organização Pan-Americana da Saúde é um organismo internacional,
especializado em saúde, cuja missão é orientar os esforços
estratégicos de colaboração entre os países que a constituem e seus
parceiros, no sentido de promover a equidade na saúde, combater
doenças, melhorar a qualidade de vida e elevar a expectativa de vida
dos povos das Américas. (http://new.paho.org/bra/)
• A European Medicine Agency (EMA) é a agência de medicamentos
da União Europeia, responsável pela avaliação científica de
medicamentos desenvolvidos pelas indústrias farmacêuticas da
União Europeia. (http://www.ema.europa.eu/ema/index.jsp?curl=/
pages/home/Home_Page.jsp&jsenabled=true)
Se você quiser mais informações sobre a EMA, em português, acesse
um documento produzido pela Infarmed de Portugal no endereço
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/PUBLICACOES/
TEMATICOS/SAIBA_MAIS_SOBRE/26_EMA.pdf
• Você também pode acessar a página do Food and Drug
Administration (FDA) (http://www.fda.gov/)

Na página do FDA, se você clicar em “Drugs”, depois em “Drug Safety


and Availability”, clique em “Medication Guides” e finalmente em
“Drugs@FDA”. Você terá acesso a um menu contendo, em ordem
alfabética, nomes de medicamentos para consulta.
Agências de regulação de outros países podem também ser consultadas,
como exemplo, a da Austrália e da Nova Zelândia. (http://www.tga.gov.
au/ e http://www.medsafe.govt.nz/)

102 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Classificação das fontes de informação sobre medicamentos

Continuando...
O consultor Gilberto destaca: - Para podermos avançar em alguns
conceitos, vamos apresentar uma classificação didática de fontes de
informação sobre medicamentos: primárias, secundárias e terciárias:

1 Fontes primárias - São publicadas em revistas da área da


saúde, onde a pesquisa aparece pela primeira vez na literatura,
por exemplo, os artigos científicos publicados em jornais de boa
qualidade. Há publicações disponibilizadas gratuitamente por
serviços de indexação de fácil consulta; em algumas é necessário
fazer assinatura e pagar pelo serviço.

2 Fontes secundárias - São constituídas por serviços de indexação


e resumo da literatura primária. Servem como orientadores na busca
desta literatura. Na mídia impressa há livros como o Martindale.
Na mídia eletrônica, os serviços de indexação viabilizam a busca
sistemática por meio de descritores, que veremos mais adiante. A
referência do artigo é descrita, o resumo normalmente é apresentado.
Os artigos podem ser solicitados após a seleção (gratuitamente ou
pagos, dependendo da origem). Trataremos deste tipo de fonte na
sequência. Algumas fontes são consideradas híbridas - apresentam
ao mesmo tempo características de mais de um tipo. O Martindale,
por exemplo, que apresenta monografias de medicamentos e cita
artigos sobre os mesmos – é uma fonte ao mesmo tempo secundária
e terciária. Tem várias edições e é uma fonte relativamente cara.

3 Fontes terciárias - Constituídas por livros-texto, livros de


monografias, manuais, livros eletrônicos, além de artigos de revisão.
Em algumas situações há dificuldade de acesso a edições recentes
pelo valor ou pela ausência de tradução.

- Parece muito complicado. – diz Kely.


Mas Gilberto retruca: - Então vamos detalhar! Veja o esquema a seguir,
que apresenta essa classificação:

Anotações

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


103
British The Lancet New England Cadernos de

PRIMÁRIAS
Medical Journal of Saúde
Journal Medicine Pública

Onde a pesquisa aparece pela primeira vez na literatura

Martindale Medline Biblioteca


International
Cochrane -
SECUNDÁRIAS Pharmaceutical
ensaios
Abstract
clínicos

Serviços de indexação das fontes primárias, para auxiliar


na busca da informação

USP - DI Livros de Biblioteca


Dicionário
Cochrane -
TERCIÁRIAS

Terapêutico farmacologia
revisões
Guanabara
sistemáticas

Compilação das informações publicadas nas fontes primárias

Figura 2 - Classificação das fontes de informações sobre medicamentos.

- Mas pode ser que você só tenha o Dicionário de Especialidades


Farmacêuticas, conhecido como DEF, para consultar na unidade onde
trabalha! – diz Gilberto.

Gilberto ainda continua a sua fala: - Barros (2000) é um autor que afirma que
a importância conferida ao DEF como fonte de informação é preocupante,
pois esta publicação tem vínculo com os fabricantes de medicamentos
e, por deixar de incluir dados essenciais para subsidiar uma prescrição
racional, pode minimizar usos inadequados e riscos potenciais.

O Dicionário Terapêutico Guanabara (também conhecido como


Korolkovas, nome do autor) é outra fonte frequentemente disponível.
Este livro, de publicação bianual é comercializado em livrarias. Contém
índice de medicamentos por nome comercial e por nome genérico. Os
fármacos estão classificados por ação farmacológica, com indicação
de uso, dose, farmacodinâmica e farmacocinética, contraindicações,
precauções de uso, efeitos adversos e interações medicamentosas.
Além disso, lista as apresentações comerciais de cada fármaco.

Agora vamos fazer um intervalo. Vejam os endereços eletrônicos


apresentados, para que possam fixar a forma de realizar a pesquisa.

A enfermeira Kely completa: - É verdade, Gilberto, se não treinamos,


logo esquecemos como fazer a pesquisa.

104 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


E Gilberto encerra se despedindo: - Vou precisar voltar a Brasília, mas já
tenho encontro marcado com vocês, para trabalharmos com as fontes
de informação disponíveis na mídia eletrônica. Até breve.

Caro Aluno, veja como o Dicionário de Especialidades


Farmacêuticas está organizado.

O Dicionário de Especialidades Farmacêuticas está organizado em


seções:

1 Endereços comerciais dos laboratórios e relação de todos os


medicamentos produzidos por cada laboratório;

2 Grupos farmacológicos, com nome comercial e do fabricante;

3 Nome genérico ou químico;

4 Situações clínicas em que são indicados;

5 Informações sobre os produtos, por nome comercial: nome químico,


indicação terapêutica, posologia e reações adversas.

Assim, finalizamos esta lição. Esperamos que essas referências


ajudem você na busca de informações.

Lição 7 – Como tratar as demandas de outras origens

Nesta lição, você poderá discutir outras possíveis demandas da


CFT, tais como a judicialização do direito à saúde, as pactuações da
política de medicamentos e a implantação de novos serviços.

Um grande problema que enfrentamos hoje, no Sistema Único de


Saúde (SUS), são as solicitações judiciais para garantia do direito
à saúde, estabelecido na constituição. Nem sempre as solicitações
estão baseadas numa conduta médica racional ou na existência de
evidências científicas. Muitas não fornecem dados clínicos suficientes
para que se possa avaliar isso de forma adequada. No que diz
respeito aos medicamentos, observam-se pedidos justos, como nos
casos de pessoas que já tentaram o uso de medicamentos essenciais
disponíveis no SUS, mas que encontram-se naquela pequena parcela
da população que não responde bem a esses medicamentos, ou
porque, realmente, aquela doença ainda não tem seu tratamento
completamente garantido nas políticas do SUS. Exemplos são os
tratamentos de glaucoma e de doença pulmonar obstrutiva crônica.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


105
Por outro lado, há inúmeras situações de pedidos de medicamentos
que ainda não possuem registro na Anvisa, ou que não possuem
comprovação científica de seu benefício, ou em que se exige
determinado medicamento pelo nome comercial. Neste último caso,
contrapõe-se à própria legislação vigente (Lei n. 9.787/1999), que
obriga as aquisições e prescrições no âmbito do SUS a seguirem a
Denominação Comum Brasileira (DCB). Isso interfere, inclusive, no
processo de compra, já que numa licitação não se pode estabelecer
um nome comercial ou um laboratório específico. Além do maior
custo de uma determinada marca, a aquisição, nesses casos por
compra direta, ajuda a encarecer mais o produto.

Há também solicitações de medicamentos oncológicos, que não estão


padronizados no SUS por implicarem um alto custo de aquisição e por
promoverem uma sobrevida adicional de apenas um ou três meses,
não isenta necessariamente de riscos. Outros ainda estão em fase de
estudo clínico para conseguir aprovação das agências de regulação
e obter permissão de comercialização. Boa parte dos pedidos alega
risco de morte ou de piora da doença se a pessoa não tiver acesso
ao tratamento. Isso é difícil de ser avaliado pelo judiciário, que não
detém o conhecimento técnico na área da saúde. Por essa razão,
atualmente, algumas comarcas têm procurado desenvolver trabalhos
em parceria, criando câmaras técnicas que envolvam representantes
jurídicos e técnicos da saúde ou grupos multi e interdisciplinares que
subsidiam tecnicamente as decisões do juizado.

Além dessa demanda, outra que pode ser assumida pela CFT é a
elaboração de protocolos clínicos e terapêuticos, que pode surgir como
necessidade dos serviços de saúde, de uma área técnica específica
da Secretaria Municipal de Saúde, como no caso de um protocolo
de saúde da criança, da mulher ou da saúde mental, ou, ainda por
necessidade de racionalizar o uso de um medicamento ou o tratamento
de uma doença, principalmente quando está gerando um custo elevado
para a gestão ou envolve a incorporação de novas tecnologias. Nesse
sentido, a CFT pode ser chamada para avaliar a incorporação de um
grupo de medicamentos ainda não constantes da Remume devido a
implantação de novos serviços no município, como um ambulatório de
especialidades ou uma unidade de pronto atendimento.

Para retomar a nossa história, vocês lembram que estávamos em


treinamento com o consultor Gilberto. Agora, Pedro Paulo solicita uma
pausa na oficina devido ao surgimento de novas demandas para a CFT.

106 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


O farmacêutico Pedro Paulo comenta o seguinte: - Olá. Conversei
com o Gilberto e teremos que fazer uma pausa no treinamento para
encaminhar outras questões de certa urgência! Acabamos de receber
pedidos judiciais de medicamentos e precisamos que alguns membros
da CFT elaborem pareceres técnicos sobre esses medicamentos
solicitados. Vou distribuir essa tarefa para aqueles que ainda não
assumiram a elaboração de nenhum parecer. Diante da implicação
financeira no possível fornecimento desses medicamentos, sugiro que
se avalie, segundo a lógica da linha de cuidado estabelecida na Portaria
GM/MS n. 2.981/2009 e do financiamento que os municípios têm
para aquisição de medicamentos, de acordo com a Portaria GM/MS n.
4.217/2010, verificando a que esfera de gestão cabe o atendimento do
pedido. Sabemos que existe a possibilidade de, em algumas situações
fazer um acordo estabelecendo uma divisão do valor de aquisição entre
diferentes esferas (município e estado, estado e União ou entre os três).

De qualquer forma, é preciso observar, pois, às vezes, o deferimento


inicial do juizado obriga o município a adquirir um medicamento que
seria de responsabilidade do estado ou da União, como no caso dos
oncológicos ou de outros definidos na Portaria GM/MS n. 2.981/2010, o
que impacta, de forma negativa, o orçamento do município. O estado, por
sua vez, acaba tendo que fornecer, em alguns processos, medicamentos
que seriam de competência municipal, como aqueles do anexo I da
Portaria GM/MS n. 4.217/2010. Também é fundamental verificar se o
pedido é coerente, racional e se há dados clínicos suficientes para que
se avalie isso do ponto de vista científico.

Quero apresentar-lhes estes artigos para ter mais uma ideia sobre os
tipos de solicitações judiciais que recebemos, e sobre a atuação da
indústria farmacêutica neste cenário.

Sugerimos a leitura dos artigos recentemente publicados que


abordam o tema das solicitações judiciais para fornecimento de
medicamentos.

Anotações

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


107
Pesquise e Leia

• Caracterização de demandas judiciais de fornecimento de


medicamentos “essenciais” no Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
O artigo relata uma pesquisa que teve como objetivo analisar as ações
individuais de fornecimento de medicamentos, considerados essenciais
pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro nas decisões
judiciais de 2ª instância (acórdãos) proferidas no ano de 2006.

• Ações judiciais: estratégia da indústria farmacêutica para introdução


de novos medicamentos. O artigo faz uma análise da concentração
na distribuição dos processos judiciais, segundo medicamento
(fabricante), médico prescritor e advogado impetrante da ação,
como também a tendência de incorporação de novos fármacos
ao programa de medicamentos excepcionais após o crescimento
exponencial das ações judiciais.

Continuando...
A Secretária de Saúde Justina se manifesta: - Bom dia. Fiquei sabendo que
a equipe da assistência farmacêutica tem se empenhado nos trabalhos
da CFT. Ontem, na reunião da CIB, foi aprovada uma deliberação, pela
qual o estado vai repassar um recurso financeiro adicional para que
realizemos a aquisição de heparina não fracionada para tratamento de
grávidas de alto risco. Hoje, essas mulheres precisam permanecer por
longos períodos internadas, pois tal medicamento não está disponível
para compra, nem nas farmácias comerciais. Ao oferecer a possibilidade
de tratamento domiciliar e acompanhamento ambulatorial, reduziremos
os custos do SUS com internações. O valor do repasse será negociado
na próxima reunião da CIB, pois os municípios pediram um prazo para
avaliar a sua demanda interna. Assim, quero que a CFT elabore uma
proposta de protocolo para uso da heparina na gravidez, definindo em
que situações clínicas há provas de benefício no seu uso e por quanto
tempo. Com base nisso, devemos estimar qual o custo mensal e anual
para aquisição desse medicamento.

Pedro Paulo diz: - Vamos pedir que alguns dos membros, que ainda não
tenham assumido nenhum parecer, realizem essa tarefa para discussão na
CFT. Vou organizar uma tabela com as indicações da heparina na gravidez
de alto risco, e cada membro faz uma busca sobre as provas científicas
disponíveis sobre um dos possíveis usos listados na tabela. Depois que
fecharmos o material, trazemos para apresentação no gabinete.

108 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


- Tenho ainda outra tarefa para vocês. Na semana passada, estive em
Brasília e assinei convênios para implantar uma Unidade de Pronto
Atendimento e um ambulatório de oftalmologia no município. Preciso que
vocês elaborem, na CFT, uma lista sugestiva de medicamentos para uso
interno desses serviços, a qual será incorporada a nossa Remume. Preciso
disso com certa urgência, pois, na próxima reunião da CIB, levarei esses
assuntos também para pactuação - diz a Secretária de Saúde Justina.

Pedro Paulo fala: - Iniciaremos fazendo um levantamento dos


medicamentos da Rename de uso oftalmológico e injetáveis, que não
temos padronizado na Remume, e avaliando a sua indicação de acordo
com o Formulário Terapêutico Nacional 2010. Incluiremos aqueles
pertencentes a esses grupos, que tenham indicação para procedimentos
oftálmicos ou para uso em situações de urgência e emergência.
Discutiremos isso na CFT.

A Secretária Justina concorda: - Está bem! Estou satisfeita com os


encaminhamentos. Assim que tiverem finalizado, marcaremos nova
reunião. Só lembrem-se de que vocês precisam me trazer este material
antes da próxima reunião da CIB, que será no próximo mês. Até breve.

Concluindo

A CFT pode receber outras demandas, como pedidos judiciais de


medicamentos, atendimento a mudanças nas pactuações do SUS e
necessidade de implantação de novos serviços de saúde. Nesses casos
é preciso definir estratégias para lidar com essas demandas, que podem
se sobrepor à programação efetuada para atualização da Remume.

Lição 8 – As fontes de informação na mídia eletrônica

Nesta lição, você poderá identificar fontes de informação sobre


medicamentos de qualidade, disponibilizadas em meio impresso e
eletrônico.

Reflexão

Além das fontes impressas, grande quantidade de informação na área


da saúde passou a ser disponibilizada pela mídia eletrônica. Mas, como
ter acesso a toda essa informação de forma sistematizada e segura?

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


109
Vamos dar continuidade ao treinamento com o consultor Gilberto,
que vai nos orientar na busca das informações sobre medicamentos
na internet.
Gilberto começa: - Olá! Agora vamos aprender como buscar as
informações pela internet. É interessante saber que a OMS, a OPAS e a
Bireme construíram uma rede de fontes de informação científica e técnica
em saúde, com um portal de acesso chamado BIblioteca Virtual em
Saúde – BVS. Essa rede é operada na Internet de modo cooperativo por
produtores, intermediários e usuários de informação em saúde dos países
da América Latina e Caribe. Tem como objetivo possibilitar o acesso à
informação em saúde de forma sistematizada, trabalhando com bases de
dados bibliográficos nacionais e internacionais. O acesso a BVS se dá por
meio da Internet, e é livre, gratuito, disponibilizado constantemente (todos
os dias da semana, a qualquer hora). Vamos agora navegar pela BVS para
conhecê-la. Não pretendo aqui esgotar as possibilidades de consulta,
mas, sim, estimulá-los a utilizar essa grande e dinâmica biblioteca!
Kely comenta: - Gilberto, eu sempre fico insegura se estou fazendo a
busca da forma correta.

Gilberto continua: - Vamos trilhar esses caminhos juntos agora. É


importante que à medida que eu for apresentando os endereços
eletrônicos, vocês os consultem para que possam ir se familiarizando
com a forma de consulta. Vou apresentar o assunto a vocês como se
fosse um tutorial – dessa forma, à medida que eu apresentar os recursos,
vocês já visitam o endereço eletrônico e fica mais fácil de entender.

Caro Aluno, vamos também acompanhar a consulta


apresentada pelo consultor técnico Gilberto. Antes, é
interessante você saber que a Bireme é um centro
especializado da OPAS, estabelecido no Brasil desde 1967,
em colaboração com os Ministérios da Saúde e da Educação,
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e Universidade
Federal Paulista, que tem a missão de contribuir com o
desenvolvimento da saúde, fortalecendo o fluxo de informações em
Ciências da Saúde.

Link

Você poderá obter mais informações sobre a Bireme baixando o


documento tutorial da BVS em:
http://usuario.bvsalud.org/apresentacoes/Tutorial_BVS_pt.pdf
Acesse, para acompanhar o passo a passo a seguir, o endereço:
http://regional.bvsalud.org/php/index.php

110 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Na sequência, apresentamos um passo a passo para que você
possa trilhar o mesmo caminho que o consultor técnico Gilberto.
Acompanhe!

Acesse o endereço eletrônico da BVS, que é uma biblioteca digital


organizada em áreas para facilitar a pesquisa do usuário. A página
inicial apresenta uma série de possibilidades de pesquisa. Observe
que no canto superior, à direita da página, você pode selecionar o
idioma (português, inglês e espanhol). Há também um campo para
fazer contato com a BVS. Vamos nos focar em algumas áreas mais
detalhadamente, iniciando pela estruturação da página inicial da BVS.

Figura 3 - Portal da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS.


Fonte: http://regional.bvsalud.org/php/index.php

No lado esquerdo da página inicial, em “Redes”, estão listadas


as redes parceiras da BVS – vocês lembram que vimos que a
BVS se constitui de uma grande rede de parceiros trabalhando
colaborativamente? É possível selecionar temáticas específicas por
“Países” selecionando a bandeira do mesmo, ou, ainda, “Temas”
específicos selecionando-o.

Entre as redes parceiras, a SciELO – Scientific Eletronic Library


Online - nos será bastante útil como fonte de informação. SciELO é Figura 4 - Portal da Biblioteca Virtual em
uma biblioteca eletrônica on-line que disponibiliza textos completos, Saúde – BVS.
técnicos e científicos, nacionais e internacionais em formato eletrônico. Fonte: http://regional.bvsalud.org/php/
index.php
Nessa biblioteca encontramos artigos científicos, monografias, teses,
documentos governamentais, de instituições como OPAS e OMS;
ainda, anais de congressos, manuais, guias e legislação. Voltaremos
a SciELO posteriormente.

No lado direito da página principal, há uma área para Notícias,


Eventos em saúde, que apresenta atualidades, com destaques e
notícias sobre a Bireme e outras instituições parceiras. Nessa área é
possível adicionar um evento que se deseja divulgar.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


111
Figura 5 - Portal da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS.
Fonte: http://regional.bvsalud.org/php/index.php

A área central apresenta acesso a:

1) Pesquisa na BVS – onde se faz a pesquisa por busca de termos:

Figura 6 - Portal da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS.


Fonte: http://regional.bvsalud.org/php/index.php

2) Coleção de Fontes de informação – apresenta todo o conteúdo


disponibilizado na BVS, com as principais bases de dados
bibliográficas (veremos o conceito mais adiante) e evidências
científicas.

3) As fontes de informação estão organizadas de acordo com o tipo


de conteúdo e finalidade:

• Literatura Científica e Técnica – espaço que dá acesso às


bases de dados bibliográficos;

• Diretórios, Portais – espaço destinado a consultar e anunciar


eventos e ter acesso ao portal de Comunicação Científica em
Saúde;

• Comunicação – espaço destinado às comunidades virtuais


e divulgação da rede;

112 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


• Sobre a BVS – espaço composto por documentos sobre o
modelo da BVS, sobre a Bireme e sobre reuniões e eventos
da BVS.

Especificamente em “Fontes de informação” – “Literatura Científica e


Técnica” tem-se acesso a:

• Bases de dados bibliográficas – Lilacs, Medline, SciELO e


outras, além da Biblioteca Cochrane;

• Portal de Evidências – que apresenta estudos clínicos de


melhor nível de evidência em saúde;

• LIS – Localizador de Informação em Saúde;

• DeCS – Descritores em Ciências da Saúde;

• SCAD- Serviço Cooperativo de Acesso a Documentos.

Figura 7 - Portal da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS.


Fonte: http://regional.bvsalud.org/php/index.php

Vamos ver o que aconteceu na reunião, após eles percorrerem esses


mesmos passos? Acompanhe!
- Mas são muitos os recursos disponíveis! – diz a enfermeira Kely, após
acompanhar a pesquisa.

- Exatamente por este motivo estão concentrados em um única página de


acesso – completa Gilberto. Vamos conhecer alguns desses recursos, que
já listei anteriormente: LIS; DeCS; Bases de Dados Bibliográficas (Medline,
SciELO e Portal Cochrane), Portal de Evidências, Catálogo de revistas
científicas e SCAD. Preparei um documento que explica cada um desses
recursos, de forma que vocês possam ler e fazer a consulta indicada.

Aluno, você também é convidado a conhecer esses recursos


mencionados pelo consultor Gilberto.
Unidade 2 - Seleção de medicamentos
113
A - Localizador de informação em saúde – LIS

O LIS é um portal da BVS que contém um catálogo de fontes de


informação em saúde disponíveis na internet, onde se encontra
descrito o conteúdo dessas fontes e o link de acesso a elas. É
construído com metodologia resultante de cooperação técnica entre
o Centro Nacional de Información de Ciencias Médicas (CNICM),
a Red Telemática de Salud de Cuba (Infomed) e a Bireme. Segue
normas e formatos internacionais, adotados em bibliotecas e centros
de documentação em uso, atualmente, na internet.

Na página inicial, se você clicar em um tema, por exemplo, Influenza


A H1N1 (Gripe/Influenza Suína), serão apresentados links para
instituições que contêm documentos que tratam desse assunto. É
apresentado também breve relato acerca do conteúdo do documento
e o endereço de acesso ao mesmo. A partir daí, é possível selecionar
os documentos de seu interesse.

Figura 8 - Página do LIS Regional.


Fonte:http://lis.bvs.br/lis-Regional/xmlListT.php?xml%5B%5D=@/P/define.xml&xsl=lis-Regional/home.xsl

Link

Na página inicial do portal LIS, há uma animação que explica como fazer
a pesquisa na BVS. Esse material está disponibilizado com imagem
e áudio, ou imagem e legenda; é só clicar em Como pesquisar no
endereço: http://usuario.bvsalud.org/lildbi/docsonline/4/1/014-BVS-
BuscaPortal-pt-Audio.html

114 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


B - Descritores em ciências da saúde - DeCS

Como é muito grande a quantidade de informação que precisa ser


catalogada e recuperada na internet, os bancos de dados eletrônicos
são construídos com base em uma estrutura comum de catalogação,
para indexar artigos e citações, livros, anais de congressos, relatórios
técnicos, e outros tipos de materiais. A estratégia utilizada associa
cada referência a um conjunto de termos denominados descritores,
que são utilizados para encontrar os artigos que tratam de determinado
assunto. Na BVS, esse vocabulário é trilíngue, e denominado
Descritores em Ciências da Saúde. Os descritores são utilizados
na pesquisa e recuperação de assuntos da literatura científica nas
bases de dados para agilizar o processo de busca. Ao pesquisar um
descritor, aparecerá o termo em português, inglês e espanhol.

Link
Os descritores estão classificados em grupos. No endereço http://decs.
bvs.br/ encontram-se mais informações sobre os descritores, incluindo
a sua classificação.

Na parte central da página, em “Pesquisa na BVS”, é possível


selecionar pesquisa livre, buscando por palavras nos títulos, resumos,
autores e descritores de assunto. Também se pode selecionar o
idioma da pesquisa: português, inglês, espanhol.

Além da pesquisa via descritores, três outros métodos de pesquisa


livre são oferecidos: integrado, por palavras, e google. Cada um desses
métodos tem características específicas que influenciam no processo
de recuperação de informação nas fontes de informação da BVS.

• Integrado: você digita a expressão na caixa de texto e clica


no botão pesquisar. Neste método, o resultado é apresentado
em uma única lista (por isso o termo integrado), pela ordem de
relevância (e não cronológica), de acordo com critérios que são
definidos, e que podem ser alterados anteriormente à pesquisa.

• Por palavras: neste método, a busca é feita no conteúdo dos


títulos, resumos, autores e descritores de assunto. Você digita a
expressão de busca na caixa de texto e clica em pesquisar.

• Google: este método recupera referências presentes tanto na


BVS, no Google Acadêmico e também apresenta o resultado no
Google Web.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


115
Figura 9 - Portal da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS.
Fonte: http://regional.bvsalud.org/php/index.php

Existem recursos de busca usados para relacionar termos ou palavras


em uma expressão de pesquisa, combinando dois ou mais assuntos,
nomes ou palavras: são os chamados operadores booleanos. Os
mais frequentemente utilizados, na maioria das fontes de informação,
são: AND/OR/NOT. Eles possibilitam a combinação ou exclusão de
palavras-chave.

• Para limitar a busca.


AND • Inclusão de qualquer artigo com os dois termos.

• Para expandir a busca.


OR • Inclusão de qualquer artigo com pelo menos um dos termos.

• Limita a busca.
NOT • Artigo que não contenha o termo.

Figura 10 - Biblioteca digital BVS – Busca avançada

Link

Se você quiser saber mais detalhes sobre esses recursos de pesquisa,


você pode acessar maiores informações em:
http://usuario.bvsalud.org/apresentacoes/Tutorial_BVS_pt.pdf e em
http://bases.bvsalud.org/public/docs/pt/Pesquisa%20nas%20
Bases%20de%20Dados.htm#operadores

O recurso truncamento, representado por $ (cifrão), é utilizado


quando se precisa incluir variações de um mesmo termo ou nome.
Exemplos:

• no campo descritor de assunto - epidemi$ - este recurso


inclui os descritores epidemiologia, epidemiology, epidemia,
epidemiológico etc.

116 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


• no campo autor - Marin$ - inclui os autores com o sobrenome
Marin.

Agora que vocês concluíram esta etapa, lendo o texto e consultando


os links indicados, como os personagens de nossa história, vamos
compreender o conceito de metapesquisa. Para conduzir o processo
de busca, de forma mais ágil e sistemática, a BVS trabalha com esse
conceito. Esse recurso permite que se realize pesquisa simultânea
nas principais fontes de informação que compõem a coleção da
BVS, ao mesmo tempo.

Se você acessar a página da BVS e selecionar a pesquisa via


descritores, uma nova tela se abrirá com o campo localizar descritor.
Escreva medicamentos essenciais. Abre-se uma caixa com o termo
medicamentos essenciais e programa de medicamentos essenciais.
Se você clicar no ícone, surge a definição do termo e os descritores
em inglês e espanhol. Se clicar na seta, o termo selecionado é copiado
na caixa e você inicia a pesquisa de referências com o termo.

Clicando em “Pesquisar”, o resultado da consulta é mostrado, listando


os artigos que contêm esses termos. Aqui, você vai perceber que é
apresentada uma série de informações, com links para conteúdos e
serviços de outras fontes de informação da BVS:

• Título do artigo – este link aponta para o resumo do documento


quando disponível;

• Autores

• Nome da revista – este link aponta para o Portal de Revistas


Científicas em Ciências da Saúde;

• Resumo – link para o resumo do documento, que apresenta o


idioma do mesmo;

• Texto em... – este link aponta para o texto completo do


documento, no idioma apresentado;

• Imprimir – imprime a referência bibliográfica;

• Fotocópia – este link aponta para o Serviço Cooperativo de


Acesso a Documentos (SCAD), serviço que permite fazer o pedido
do texto completo se ele não estiver disponível gratuitamente.
Falaremos desse recurso posteriormente.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


117
Figura 11 - Resultado de pesquisa no portal da BVS.
Fonte: http://pesquisa.bvsalud.org/regional/?q=Medicamentos%20essenciais&where=ALL&index=&lang=pt&_
charset_=iso-8859-1

Veja o que aconteceu na sala de reunião quando o consultor chegou


a esse ponto da pesquisa.
- Puxa, temos muito material para trabalhar – retrucou Kely.

- Sim, Kely, precisamos usá-los para que se incorporem nas nossas


atividades – respondeu Gilberto.

Vamos continuar e ver o que o consultor Gilberto apresentou em


seguida para os participantes da reunião.

Continuando, no menu à esquerda, clicando em “Mostrar”, surgem


possibilidades de selecionar artigos por categoria. Por exemplo, é
possível escolher textos completos, definir um tipo de estudo, uma
determinada revista. Na barra superior, é possível definir a ordem de
resultado e a forma de apresentação. Em forma de apresentação,
são oferecidas as opções “resumido” ou “detalhado”. Nesta última já
aparece o resumo do artigo.

Anotações

118 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Figura 12 - Retorno de pesquisa no portal da BVS.
Fonte: http://pesquisa.bvsalud.org/regional/?q=Medicamentos%20essenciais&where=ALL&index=&lang=pt&_
charset_=iso-8859-1

Lembrem-se de que descritores que correspondem a uma expressão


com mais de uma palavra devem ser colocados entre aspas. Voltemos
ao exemplo do descritor: “medicamentos essenciais”.

Ao digitar essa expressão na pesquisa da BVS, encontramos 3.312


(pesquisa realizada em 20 de julho de 2011) artigos, pois o aplicativo
realiza uma busca correspondente a “medicamentos” and “essenciais”.
Notem que o operador “and” é considerado automaticamente,
mesmo quando não o especificamos entre as palavras. Nesse caso,
a busca recupera artigos com os dois descritores: medicamentos
e essenciais. Se pretendemos focar mais a busca na expressão
completa, ou seja, “medicamentos essenciais”, precisamos digitá-
la entre aspas. Repetindo a pesquisa dessa forma, reduzimos a
quantidade de artigos para 1.622 (pesquisa realizada em 20 de julho
de 2011). Isso diminui a possibilidade de incluirmos estudos que não
se refiram especificamente ao tema em que estamos interessados.
Na sequência do treinamento, conversaremos mais sobre as bases
de dados disponibilizadas na mídia eletrônica.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


119
Concluindo

Uma grande quantidade de informação na área da saúde está


disponibilizada na mídia eletrônica. A Biblioteca Virtual em Saúde
– BVS é uma rede de fontes de informação científica e técnica
em saúde, com acesso facilitado por meio de um portal, com o
objetivo de possibilitar o acesso à informação em saúde de forma
sistematizada, trabalhando com bases de dados bibliográficos
nacionais e internacionais.

Existem outros portais que possibilitam pesquisas semelhantes,


mas que nem sempre são de livre acesso; alguns exemplos serão
apresentados nas próximas lições.

Lição 9 – As bases de dados bibliográficas

Nesta lição você conhecerá as bases de dados bibliográficas que


podem ser utilizadas como fonte de informação sobre medicamentos.

As bases de dados bibliográficas consistem de um agrupamento de


fontes de informação, disponibilizadas na internet, que organizam
as referências de documentos técnicos e científicos - artigos,
revistas, teses, livros, trabalhos de congressos - registram, indexam,
armazenam e recuperam a informação.

Cada base de dados possui critérios próprios de seleção e inclusão


de documentos, pois a quantidade de literatura publicada torna
impossível registrar todos os documentos existentes.

Retomando a reunião...
Gilberto começou sua fala cumprimentando: - Olá, vamos voltar ao
trabalho? Agora vamos conhecer algumas bases de dados. Acompanhem!

Vamos também acompanhar o que Gilberto apresentou sobre


algumas bases de dados.

Na página inicial da BVS em Fontes de informação - Literatura Científica


e Técnica,- estão listadas as bases de dados que compõem a coleção
de fontes de informação da BVS. Vamos continuar trabalhando da
mesma forma, como se fosse um tutorial.

120 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Figura 13 - Portal da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS.
Fonte: http://regional.bvsalud.org/php/index.php

Ao clicar em “Literatura Científica e Técnica”, e depois em “Ciências


da Saúde em Geral”, encontram-se informações mais detalhadas
sobre cada base de dados. Detalharemos quatro delas: Medline,
Lilacs, Cochrane e SciELO.

O Medline – Literatura Internacional em Ciências da Saúde - é a


base de dados na área da saúde mais conhecida mundialmente:
produzida pela NLM (National Library of Medicine, USA), contém
referências e resumos de mais de 5.000 títulos de revistas publicadas
nos Estados Unidos e em outros 70 países, publicados desde 1966
até o momento, com atualização mensal e disponível em português,
espanhol e inglês.

Medline é uma importante fonte de informação, principalmente no que


se refere a novos achados na medicina – um novo medicamento, por
exemplo. Nesta base podemos selecionar os estudos por palavras
citadas no título ou no corpo do artigo; pelo nome dos autores ou
nome das revistas. A base de dados é ampla, com instrumentos de
apoio úteis e de acesso fácil. A estratégia de busca se baseia na
indexação de artigos por meio de descritores, como DeCS e MeSH
(MeSH é um vocabulário controlado usado na indexação dos artigos
do Medline), que descrevem o conteúdo dos artigos.

Clique sobre o Medline para ver a página de pesquisa, que pode ser
no formulário básico:

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


121
Figua 14 - Portal da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS.
Fonte: http://regional.bvsalud.org/php/index.php

ou no avançado:

Figura 15 - Portal da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS.


Fonte: http://regional.bvsalud.org/php/index.php

É importante que você saiba que pode ter acesso ao Medline por
outros provedores comerciais, por exemplo o PubMed.

Não importa a forma de acesso, é o mesmo Medline que você está


consultando.

122 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Figura 16 - Página do PubMEd.
Fonte: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed

Retornando a página anterior, em Ciências de Saúde em Geral,


temos outra base de dados, a Lilacs.

Lilacs é um produto cooperativo da Rede BVS, que indexa e analisa


artigos de cerca de 800 revistas científicas publicadas nos países da
América Latina e Caribe. Indexa também outros tipos de literatura
científica e técnica: teses, monografias, livros e capítulos de livros,
trabalhos apresentados em congressos ou conferências, relatórios,
publicações governamentais e de organismos internacionais regionais.

Link

Para fazer a pesquisa na Lilacs você pode acessar o portal BVS. Os


registros são também indexados no Google:
http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/
iah.xis&base=LILACS&lang=p

A Lilacs tem importante papel no registro e na disseminação da


literatura produzida nos países da América Latina e no Caribe. Como
ela disponibiliza a literatura desta região, será uma boa opção de
pesquisa quando o interesse for por informação epidemiológica
de enfermidades com maior prevalência em países tropicais.
As pesquisas da área da saúde pública no Brasil não podem
desconsiderar a busca na base de dados Lilacs.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


123
Link

Para melhor conhecer como funciona esta base de dados, há um


tutorial da BVS disponível em http://lilacs.bvsalud.org/wp-content/
uploads/2010/10/tutorialPesquisaBVS.pdf e outro em http://lilacs.
bvsalud.org/blog/2010/10/15/guia-rapido-pesquisa/

Outra base é a SciELO – Scientific Eletronic Library Online. Esta


Biblioteca Científica Eletrônica é um modelo de publicação para países
em desenvolvimento, particularmente América Latina e Caribe. Uma
biblioteca eletrônica que está em constante expansão, que contém
grande parte dos artigos disponibilizados com texto completo da
base de dados da BVS.

O Modelo SciELO contém procedimentos integrados para medir o


uso e o impacto dos periódicos científicos.

Foi desenvolvida, inicialmente, em 1997, pela Fapesp - Fundação de


Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Bireme - Centro Latino-
Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, envolvendo
10 periódicos brasileiros. Conta, desde 2002, com o apoio do CNPq,
com instituições nacionais e internacionais incorporando novos títulos
de periódicos, expandindo sua operação em outros países. Na página
inicial da SciELO, vocês podem realizar a pesquisa de artigos e há uma
lista de periódicos (Lista periódicos), que pode ser consultada por ordem
alfabética e por assunto. Em “Serviços Personalizados”, preenchendo o
seu perfil e informando os assuntos do seu interesse, você pode criar
sua própria biblioteca e acessar a página por meio de login e senha.

Figura 17 - Página da SciELO.


Fonte: http://www.scielo.org/php/index.php

124 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Observe que, depois de ter selecionado um artigo, à direita, há
uma caixa para você selecionar “Serviços”, que incluem a geração
do documento em pdf. Assim, você pode salvar o artigo na sua
biblioteca, e pode fazê-lo, salvando os artigos por assunto e consultar
quando preciso.

Vamos agora falar sobre o portal Cochrane. Ele também pode ser
acessado na página em que estávamos anteriormente, Ciências da
Saúde em Geral, clicando sobre “Biblioteca Cochrane”.

Link

Acesse o Portal Cochrane no endereço


http://cochrane.bvsalud.org/portal/php/index.php?lang=pt.

Aqui é apresentado o trabalho da Colaboração Cochrane e de outros


organismos, com o propósito de compilar dados baseados em
evidência. A forma de pesquisa é realizada nos moldes da BVS - cada
conjunto de bases de dados pode ser pesquisado separadamente,
pela interface e recursos de metapesquisa. O portal da Cochrane
na BVS está conformado pelo conjunto de bases de dados da
Cochrane Library; pelo conjunto de bases de dados da Biblioteca
Cochrane Plus, produzida pela Rede Cochrane Ibero-Americana, que
inclui conteúdos em espanhol; e pela base de dados de resumos
de revisões sistemáticas da Cochrane, traduzidos ao português,
produzida pelo Centro Cochrane do Brasil:

• The Cochrane Library - coleção de fontes de informação de


evidência em atenção à saúde, em inglês. Inclui as Revisões
Sistemáticas da Colaboração Cochrane, em texto completo,
além de ensaios clínicos, estudos de avaliação econômica em
saúde, informes de avaliação de tecnologias de saúde e revisões
sistemáticas resumidas criticamente.

• Biblioteca Cochrane Plus – coleção adicional à Cochrane Library;


inclui as revisões sistemáticas Cochrane, com textos completos
traduzidos ao espanhol e outras fontes exclusivas em espanhol:
Bandolera, Gestión Clínica y Sanitaria, Resúmenes de La Fundación
Kovacs, Evidencia em Atención Primaria de Argentina, entre outras.

• Resumos de Revisões sistemáticas em português – seleção


de resumos de Revisões Sistemáticas Cochrane, traduzidos
ao português. É resultado do trabalho promovido pelo Centro
Cochrane do Brasil.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


125
Figura 18 - Página da Cochrane BVS.
Fonte: http://cochrane.bvsalud.org/portal/php/index.php

Voltemos à página inicial da BVS.

Link
Observe, em Fontes de informação, o Portal de Evidências.
Acesse direto no endereço:
http://evidences.bvsalud.org/php/index.php?lang=pt.

O termo “medicina 4 Este portal reúne, organiza e oferece acesso integrado a fontes de
baseada em evidências” foi informação em saúde de melhor nível de evidência, de acordo com a
cunhado por pesquisadores metodologia proposta pela Medicina Baseada em Evidências (MBE)4.
canadenses na década de Os níveis de evidência serão discutidos nas próximas lições. O portal
1990. Desde então,o termo tem como objetivo promover o uso da informação de melhor evidência
e sua aplicação na saúde para apoio aos processos de tomada de decisão na atenção e gestão
evoluiu bastante, ao ponto da saúde. Oferece acesso a fontes de informação sobre a própria
de hoje chegarmos a utilizar metodologia MBE e sobre o processo de desenvolvimento de novos
o termo “saúde baseada em estudos baseados em evidências com a aplicação dessa metodologia.
evidências” como sinônimo
de “medicina baseada em A coleção tem como base a rede de fontes de informação da
evidência”. Biblioteca Virtual em Saúde e utiliza filtros para a seleção de
conteúdos de acordo com o tipo de estudo. Estão selecionados
conteúdos das seguintes fontes de informação: Lilacs, Cochrane
Library, La Biblioteca Cochrane Plus, diretrizes clínicas do Ministério
da Saúde do Brasil, Sociedade Brasileira de Medicina de Família e
Comunidade e National Guideline Clearinghouse (Estados Unidos),

126 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Portal de Revistas da BVS, LIS – Localizador de Informação em Saúde,
além de endereços eletrônicos avaliados e eventos relacionados
à metodologia MBE. O Portal de Evidências da BVS apresenta os
mesmos recursos de pesquisa da BVS: interface trilingue (português,
inglês e espanhol) e metapesquisa.

O Portal de Evidências está organizado em seções:

• Atenção à Saúde - inclui estudos sobre efetividade, eficiência


e segurança das intervenções no cuidado e atenção à saúde,
selecionadas e organizadas por tipo de estudo:

» Revisões sistemáticas;

» Ensaios clínicos;

» Sumários de evidência;

» Avaliações econômicas em saúde;

» Avaliações de tecnologia em saúde;

» Diretrizes para a prática clínica.

• Medicina Baseada em Evidências - metodologia e aplicação


- inclui conteúdos de fontes de informação relacionados à
metodologia Medicina Baseada em Evidências, incluindo
definição, aplicação, características dos estudos e outros
aspectos gerais:

» Endereços relevantes sobre MBE;

» Ensaios clínicos;

» Revisões sistemáticas de estudos sobre a metodologia MBE;

» Bibliografia Cochrane sobre a metodologia MBE;

» Revistas de saúde com foco em MBE;

» Glossários, terminologia.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


127
Figura 19 - Página do Portal de Evidências.
Fonte: http://evidences.bvsalud.org/php/index.php

E, o que estava acontecendo na reunião neste ponto da apresentação


do consultor Gilberto? Veja.
- Gilberto, como vamos lembrar de tantos recursos? – questiona Pedro
Paulo.

- Pedro Paulo, você tem acesso a todos eles por um único portal, a BVS.
Isso facilita muito o trabalho de pesquisa. Agora é usar o portal para fixar
a forma de consulta - responde Gilberto.

Link
Ainda na página inicial da BVS, confira, em Acesso a documentos, o
Catálogo de Revistas Científicas.
Acesso direto no endereço: http://portal.revistas.bvs.br/

Esse portal, organizado na forma de um catálogo, oferece informações


sobre a descrição bibliográfica dos títulos, o acesso ao formato
eletrônico e as coleções de bibliotecas que cooperam com o Catálogo
Coletivo SeCS e com o SCAD - Serviço Cooperativo de Acesso a
Documentos. Vocês podem selecionar a opção de pesquisa:

128 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


• Pesquisa livre: permite buscar, ao mesmo tempo, em vários
campos, como título, subtítulo, título abreviado, editora, código
de ISSN, cidade, órgão responsável pela publicação, assunto da
revista. Vocês podem digitar uma ou mais palavras ou números,
separados somente por um espaço, e selecionar uma opção de
operador, empregando and, or ou truncamento ($).

• Pesquisa por especialidade: vocês podem clicar em uma das áreas


temáticas e serão mostrados todos os títulos correspondentes à
área selecionada.

• Pesquisa avançada: permite que vocês limitem a pesquisa por


assunto, disponibilidade do texto completo, índices onde a revista
é indexada (por ex.: Lilacs), idioma da revista, país, situação do
título (corrente ou encerrado). Vocês podem, por exemplo, buscar
somente os títulos em formato eletrônico, com acesso gratuito,
que sejam indexados na Lilacs.

Figura 20 - Portal de Revistas Científicas em Ciências da Saúde.


Fonte: http://portal.revistas.bvs.br/

Caso o documento não esteja disponível em uma base de dados


gratuita você pode dispor de um outro serviço, o SCAD – Serviço
Cooperativo de Acesso a Documentos.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


129
Link

Você tem acesso direto ao SCAD no endereço:


http://scad.bvs.br/php/index.php.

Este é um serviço coordenado pela Bireme, com a cooperação das


bibliotecas integrantes da rede BVS, que tem como objetivo fornecer
documentos na área de ciências da saúde. Os documentos são
fornecidos exclusivamente para fins acadêmicos e de pesquisa, e os
direitos autorais são rigorosamente respeitados. É um serviço pago,
somente disponível para usuários residentes no Brasil.

Figura 21 - Página do SCAD.


Fonte: http://scad.bvs.br/php/index.php.

Enquanto isso, na reunião...


A enfermeira Kely questiona novamente: - E existem outros endereços
eletrônicos além da BVS?

E Gilberto responde: - Além da BVS, existem outros endereços


internacionais que reúnem bases de dados de estudos na área da
saúde. Um deles é o trip database, ferramenta de busca desenhada para
permitir que se achem rapidamente respostas para questões clínicas,
usando a melhor evidência disponível.

Vamos também conhecer o trip database.

130 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Link

Acesse você também a página do trip database pelo endereço


http://www.tripdatabase.com/

Figura 22 - Página do Trip Database.


Fonte: http://www.tripdatabase.com/

É possível iniciar a pesquisa escrevendo o nome do medicamento,


da doença ou de ambos em Search. Nesta caixa também podem ser
usados os operadores booleanos. Note que a pesquisa é realizada
em inglês.

Figura 23 - Pesquisa na página do Trip Database.


Fonte: http://www.tripdatabase.com

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


131
Artigos sobre o assunto de pesquisa são elencados, com possibilidade
de selecionar para ler o resumo, a conclusão do artigo, e a referência.
Na coluna com título Filter Your Search, é possível filtrar os estudos
encontrados, clicando, por exemplo, em “Systematic Reviews”.

Anotações

Concluindo

Existem diferentes bases de dados onde se pode buscar informação


sobre medicamentos. É importante que se realize o processo de
busca, de forma sistematizada, para que o resultado da busca
conduza a informações de qualidade, que possam contribuir na
definição da conduta a ser tomada.

Lição 10 – Modelos para elaboração de parecer sobre medica-


mentos

Para uma melhor compreensão de como elaborar um parecer sobre


medicamento, precisamos trabalhar com alguns conceitos. Vimos
em lição anterior que a informação é obtida e organizada para um fim
específico. Nesta lição, após a seleção e a avaliação da informação,
vamos aprender a organizá-la na forma de um parecer técnico sobre
medicamentos.

A elaboração de parecer sobre medicamento

Há dois tipos de parecer mais comumente utilizados no processo


de seleção de medicamentos. Um deles para análise de grupo
farmacológico, ou seja, de um grupo de medicamentos para tratar
uma determinada enfermidade, como no caso daqueles utilizados no
tratamento da asma, ou de um grupo de fármacos com mecanismo
de ação semelhante, como os betabloqueadores, que podem ser
utilizados no tratamento de mais de uma doença. O outro tipo de
parecer destina-se à análise de um fármaco específico, seja para
determinar as evidências de sua eficácia no tratamento de uma
enfermidade ou para compará-lo a outro medicamento usado
para a mesma indicação. Com isso, define-se pela inclusão ou
não do fármaco, em qual apresentação e forma farmacêutica,

132 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


podendo, por vezes, levar à exclusão de um fármaco anteriormente
padronizado. Essa exclusão ocorre quando o novo fármaco avaliado
demonstra superioridade na comparação com o outro que já estava
na padronização, ou seja, quando tem melhor perfil de eficácia,
segurança e custo-efetividade.

Quando a CFT decide por alterar a lista de medicamentos essenciais,


pode optar por elaborar um parecer resumido que contenha os
principais pontos discutidos para a tomada de decisão, baseada
nas evidências científicas disponíveis. Esse parecer final pode ser
de inclusão, não inclusão, exclusão ou, ainda, de manutenção de
um determinado fármaco. Tais pareceres podem ser publicados
e disponibilizados para os profissionais de saúde, como forma de
tornar o processo de seleção transparente e para promover o uso
racional de medicamentos.

Há ainda outro tipo de parecer que pode ficar sob a responsabilidade


da CFT, que é sobre os pedidos judiciais de medicamentos. Neste
caso, utilizando os dados clínicos do usuário, deve-se avaliar se o
medicamento solicitado não corresponde a uma lacuna do sistema,
ou seja, se destina-se ao tratamento de uma doença ou estágio da
mesma que não possui nenhuma forma de terapêutica padronizada
nos Componentes Básicos, Especializado ou Estratégico da
Assistência Farmacêutica. A ausência de padronização pode ser
decorrente da falta de evidência sobre a eficácia do medicamento ou
por potenciais riscos à saúde decorrentes de seu uso. O medicamento
ou a sua indicação podem também não estar registrados na Anvisa.

Por outro lado, se já existem outros medicamentos padronizados


no SUS para a mesma indicação, é preciso considerar se o usuário
já fez uso desses fármacos. Pode ser que o usuário tenha alguma
contraindicação específica àqueles padronizados ou tratar-se apenas
de uma preferência do prescritor, nem sempre baseada na evidência
de melhor eficácia e segurança e, muitas vezes, influenciada pela
indústria de medicamentos. Há os casos em que os medicamentos
disponíveis no SUS já foram utilizados, mas o usuário não obteve
melhora clínica por uma questão de resposta individual ou por ter
apresentado algum efeito adverso que impedisse a continuação
da terapêutica padronizada. Outras vezes, o medicamento está
padronizado no SUS, mas mediante protocolo para uma doença
diferente da que o usuário apresenta. Todos esses fatores devem ser
levados em conta ao analisar o pedido judicial de um medicamento,
de forma a garantir o seu uso racional e evitar a pressão do mercado.

Nesta etapa serão apresentados modelos e fluxogramas para


elaboração de pareceres sobre medicamentos.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


133
De volta à oficina, com o consultor Gilberto.
Gilberto retoma a oficina: - Olá! Nesta parte da nossa oficina vamos
ver alguns modelos de parecer. Como neste momento os membros
da CFT estão avaliando fármacos específicos que estão na Remume
do município, mas não na Rename, o tipo de parecer que irão realizar
é de comparação destes com outros já padronizados no SUS para as
mesmas indicações. Quando não houver outros medicamentos para
compará-los, deve-se definir se os fármacos sob análise preenchem os
critérios de eficácia e segurança e se as doenças para as quais são
indicados realmente necessitam de tratamento farmacológico. Porém,
muitas vezes, esses pareceres mais específicos sobre determinado
medicamento provêm de uma análise mais ampla de um grupo
farmacológico, a qual produz recomendações para avaliação de um
fármaco do grupo para certa doença ou estágio da mesma. Portanto,
vamos começar apresentando um modelo de parecer para análise de
grupo, adaptado do que é utilizado pela Comare.

Quando se buscam fontes de informação sobre as indicações dos


medicamentos do grupo sob análise ou mesmo num parecer sobre
um fármaco específico, é importante consultar o bulário eletrônico
da Anvisa para ter ideia se esta indicação está registrada. Da mesma
forma, quando se trata de avaliação sobre novos medicamentos,
primeiramente é preciso consultar o seu registro na Anvisa.

O parecer sobre um fármaco específico segue um molde semelhante


ao da análise de grupo, mas se foca num medicamento único ou
neste e naqueles que estão sob comparação. Em geral, é direcionado
por uma pergunta de pesquisa, que pode ser construída utilizando o
modelo PICO, que veremos a seguir. Quando deriva de uma pergunta
elaborada a partir de uma análise de grupo, pode limitar-se a busca de
evidências direcionadas pela pergunta, pois os dados epidemiológicos,
de registro na Anvisa e das indicações já devem ter sido contemplados
na análise prévia do grupo. Vejamos agora um roteiro que pode ser
usado como modelo para elaboração de um parecer deste tipo.

Anotações

134 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Anotações

Para iniciarmos uma pesquisa sobre um fármaco, primeiramente é


necessário definir uma Pergunta de Pesquisa que possa direcionar
nossa busca por informações. Do contrário, podemos nos deparar
com uma infinidade de estudos sobre o fármaco, vários deles não
relacionados àquilo que realmente precisamos analisar. A pergunta
de pesquisa ajuda a limitar a busca de evidências. Para estruturar
uma pergunta de pesquisa, podemos utilizar o modelo PICO,
que trabalha com quatro elementos considerados fundamentais
para a busca bibliográfica. PICO é um acrônimo para Patient,
Intervention, Comparison, Outcome, desenvolvido por médicos da
McMasterUniversity nos anos 90.

Tabela 1 - PICO.

Sigla Pergunta
Certifique-se sobre QUAL é o problema e sobre QUEM é o problema.
P – Patient
Procure descrever o problema e o usuário ou o grupo de usuários
Problema/Paciente/Grupo
semelhantes, incluindo suas características (gênero, faixa etária,
de Pacientes/População
raça, histórico da doença ou do problema etc.).
I – Intervention Defina, em seguida, qual a intervenção que se pretende conhecer
Exposição para o usuário (ou grupo de usuários).
Qual é o procedimento, caso a intervenção proposta não seja
realizada?
C – Comparison
Qual a comparação com a intervenção proposta?
Comparação/Controle
Aqui se busca a evidência de que a intervenção proposta produz
melhor ou pior resultado do que a não intervenção, a intervenção
padrão ou alternativa.
O - Outcome Defina quais são os efeitos/resultados esperados da intervenção
Desfecho/Resultados proposta.

Fonte: Adaptado de: SANTOS, PIMENTA, NOBRE; 2007.

Mesmo que você não tenha todos os quatro elementos necessários


para construir o PICO, ainda assim esta sistemática pode ser adotada.
Vamos ver um exemplo para facilitar a compreensão. Lembra-se da
comparação citada algumas vezes entre salbutamol e fenoterol para
tratamento de asma aguda? Pensemos numa pergunta de pesquisa:
O salbutamol é mais eficaz e seguro que o fenoterol no tratamento
da asma aguda? Experimente pesquisar na BVS somente com o
descritor de salbutamol (albuterol). Foram encontrados 11.502 artigos
(pesquisa em 18 de julho de 2011). Imagine ter que avaliar o resumo
de todos eles para definir quais são relevantes para a questão de
pesquisa.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


135
Agora, vamos utilizar o modelo PICO:

P- Usuários com asma aguda.

I - Salbutamol.

C- Fenoterol.

O- Controle ou melhora dos sintomas, tempo para melhora da


crise, riscos ou potenciais efeitos adversos do tratamento.

De acordo com o PICO podemos utilizar alguns descritores:

• asma – asma/asthma;

• salbutamol – albuterol;

• fenoterol – fenoterol;

• efeitos adversos – efeitos adversos/adverse effects.

Primeiro vamos refazer a pesquisa com os descritores: asma and


albuterol and fenoterol (lembrem que não é necessário digitar o
“and”). Reduzimos a pesquisa para 216 artigos (pesquisa em 18 de
julho de 2011).

Agora, vamos considerar os efeitos adversos: asma and albuterol


and fenoterol and “efeitos adversos” (descritores compostos devem
ser colocados, preferencialmente, entre aspas para direcionar
corretamente a busca). Notem que não encontramos nenhum
artigo. Tentem refazer a pesquisa usando: asthma and albuterol and
fenoterol and adverse effects.

Retornaram 10 estudos. Embora a BVS permita a busca com os


termos em português, é preferível o uso dos decritores em inglês,
pois isso pode ampliar um pouco a busca, embora, nem sempre, os
artigos adicionais sejam relevantes para o objetivo da pesquisa. Como
estamos considerando efeitos adversos, talvez seja interessante
estruturar a busca também desta forma: asthma and (albuterol or
fenoterol) and “adverse effects”.

Vejam que encontramos 221 artigos (pesquisa em 18 de julho de


2011). Fazendo assim, podemos encontrar artigos que apresentem
efeitos adversos somente do uso do salbutamol ou do fenoterol no
tratamento da asma. Do outro jeito, utilizando apenas “and”, tende-se
a limitar a busca a artigos que discutam sobre os dois medicamentos.

136 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Retomando com Gilberto, vejamos agora sobre os pareceres finais
e sobre a análise de pedidos de medicamentos judiciais. Siga a fala
do consultor.
- Os pareceres finais resumidos de inclusão, não inclusão, exclusão e
manutenção devem seguir um modelo acordado pela CFT, que inclui
a padronização de termos técnicos e a formatação (tipo e tamanho
de letra etc). Esses pareceres são agrupados de acordo com a
decisão correspondente, ou seja, pareceres de inclusão, pareceres de
manutenção etc. O título de cada parecer, em geral, corresponde ao
nome do fármaco sob análise. – diz Gilberto.

Caro aluno, continue também estudando sobre estes


assuntos.

Quando se decide elaborar um parecer desse tipo, a partir de


uma análise de grupo, por julgar que possa contribuir na promoção
do uso racional de medicamentos, o título pode indicar o uso de
um grupo farmacológico para uma indicação específica, como
por exemplo: Betabloqueadores na insuficiência cardíaca. O
texto do parecer deve apresentar os dados epidemiológicos de
maneira resumida, seguidos pelas evidências científicas, deixando
claros os motivos que levaram à tomada de decisão.

Depois, deve-se colocar uma frase destacada que expresse


a recomendação final do parecer, como: Recomendação:
inclusão da budesonida aerossol nasal 32 mcg para
tratamento de rinite alérgica e não alérgica. Por fim, ficam
listadas as referências bibliográficas utilizadas na elaboração do
parecer.
o tamanhoPreferencialmente,
não deve exceder uma página, de forma a facilitar e
estimular a leitura.

Anotações

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


137
Depois de terminados, o ideal é que esses pareceres sejam
submetidos a alguém que trabalhe na área de medicamentos para
que se obtenha uma validação externa do seu conteúdo. Isso porque
pode persistir dúvida para um leitor quanto à decisão tomada pela
CFT, pois seus integrantes, ao avaliarem esses pareceres finais, têm
uma memória das discussões realizadas e podem não perceber a
falta de um dado importante ou a existência de uma informação
dúbia. Você pode consultar pareceres desse tipo na Rename 2010.

A seguir, vamos ver uma proposta para elaboração de pareceres sobre


pedidos judiciais de medicamentos. Apresentamos um fluxograma
que pode ser empregado para analisar a racionalidade da solicitação
e se a mesma já não está contemplada no SUS. Posteriormente,
sugere-se que se apliquem os modelos apresentados, de acordo
com a tarefa assumida na atividade avaliativa da unidade. A ideia
principal é treinar a elaboração de pareceres. Nem sempre um
parecer apresentado na comissão permitirá a tomada de decisão
num primeiro momento.

Anotações

138 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


O medicamento solicitado é Sim A indicação para a qual está sendo
registrado na Anvisa? solicitado tem registro na Anvisa?

Não Parecer contrário ao Não Sim


fornecimento

Há algum parecer contrário à inclusão do medicamento solicitado para tratamento desta


Sim doença no SUS, devido à falta de eficácia ou segurança1
(ver pareceres da Rename e Protocolo Clínico e Diretriz Terapêutica se houver)?

Não

Considerando o sexo e a idade do solicitante, a sua doença tem algum tipo


de tratamento padronizado ou recomendado pelo SUS?
Atenção! Algumas vezes o
medicamento pode estar Sim Não
padronizado no SUS, mas
para uma doença diferente
da que o solicitante O medicamento solicitado está padronizado
apresenta. no SUS para esta doença?

Sugerir o encaminhamento do Sim Não


solicitante para o programa
específico, se pertencer ao
Componente Estratégico ou Há algum relato no processo ou no prontuário2 de que o
for padronizado no alto custo, solicitante utilize ou já tenha utilizado os tratamentos
como no caso de tratamento disponíveis no SUS?
oncológico, ou para abertura
de processo no Componente Sim
Especializado ou para atenção Não
primária, se disponível nas
Unidades Básicas de Saúde.
Emitir parecer comparando eficácia,
segurança, custo-efetividade e comodidade
O solicitante permanece em uso de uso entre o medicamento solicitado e os
desses medicamentos? disponíveis no SUS.

Sim, mas sua


Há outras opções terapêuticas para tratamento desta doença
doença permanece
além do medicamento solicitado5?
descompensada3.

Não há informação Sim Não


disponivel4.

Não, devido à Comparar eficácia, segurança, Avaliar a eficácia e


contraindicação, custo efetividade e comodidade segurança do medicamento
efeitos adversos ou de uso entre o medicamento para esta doença.
ausência de solicitado e as outras opções
resposta clínica. terapêuticas.

Fluxograma 1 - Análise de pedido judicial de medicamentos.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


139
Observe agora as explicações das notas contidas no fluxograma:

1) Às vezes o medicamento não está padronizado por corresponder


a terceira ou quarta linha de tratamento de uma doença, cuja
incidência e/ou prevalência são baixas, não caracterizando,
desta forma, um medicamento essencial. Apesar disso, pode
haver comprovação de sua eficácia e segurança. Nesse caso,
deve-se considerar não a esta pergunta.

2) Ao entrar com o pedido na justiça, é comum o solicitante assinar


um documento autorizando a quebra de sigilo de seus dados
clínicos. Portanto, se ele tem registro de acompanhamento nos
serviços de saúde pública do ente federado citado como réu no
processo, pode-se realizar a consulta do seu prontuário. Algumas
vezes o prontuário também é solicitado para ser anexado ao
próprio processo.

3) Pode ser que o solicitante esteja em uso dos medicamentos


disponíveis no SUS para uma doença crônica, mas sem
controle adequado da mesma, necessitando substituir algum
medicamento do esquema terapêutico em uso ou acrescentar
um novo.

4) Se a informação não estiver disponível isso deve ser questionado


no parecer. Algumas instâncias da justiça realizam audiências
com a presença do solicitante e do prescritor, podendo esse
questionamento ser feito pelo corpo técnico ou pela representação
jurídica dos entes federados do SUS.

5) É importante considerar a existência de outras opções


terapêuticas também não padronizadas no SUS. Em alguns
casos, o medicamento solicitado pode corresponder a terceira
linha de tratamento de uma doença ou ser indicado para um
estágio mais grave e raro da mesma, mas não ser a única
opção. Pode haver outro medicamento não padronizado do
mesmo grupo farmacológico, com a mesma indicação, eficácia e
segurança, mas com custo bem inferior.

6) Havendo comprovação de benefício do medicamento para o


caso clínico do solicitante e, quando houver, de sua superioridade
a outras opções terapêuticas, pode-se discutir a que esfera de
gestão caberia a responsabilidade de fornecimento pela lógica da
linha de cuidado e pelo custo de tratamento segundo a Portaria
GM/MS n. 2.981, de dezembro de 2009. Isso pode auxiliar o
parecer do judiciário na definição de qual esfera deverá fornecer
o tratamento no caso de a solicitação ser deferida.

140 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Muitas vezes, a discussão suscita dúvidas e faz com que o conteúdo
da apresentação precise ser aprimorado até que permita um consenso
do grupo ou, ao menos, que todos se sintam suficientemente
esclarecidos para votação. Somente ao vivenciar este processo e
elaborar alguns pareceres é que o integrante de uma CFT desenvolve
suas habilidades na seleção de medicamentos. Neste processo, o
conhecimento inter e multidisciplinar é fundamental para garantir
tanto o olhar da gestão e das políticas públicas na assistência
farmacêutica como o de farmacologia clínica, evidências científicas,
farmacotécnica, farmacoeconomia, entre outros.

Concluindo

É importante que sejam adotados modelos para elaboração dos pareceres


da CFT. Além de facilitar a confecção e análise do parecer, isso tende a
tornar o trabalho dos diferentes membros da comissão mais homogêneo,
garantir a presença de informações relevantes para o processo de tomada
de decisão e permitir que se acompanhem ou se refaçam os passos da
pesquisa, se necessário. Quando se tem uma questão específica, como
a análise de um medicamento para determinada indicação, é importante
a formulação de uma pergunta de pesquisa, que pode ser estruturada
utilizando o modelo PICO. Este permite direcionar e limitar a busca por
evidências científicas, evitando que seja encontrado um número grande
e desnecessário de artigos para análise.

Lição 11 – Evidência como orientadora de conduta

Nessa lição, seu desafio é compreender os fundamentos do uso da


evidência científica como orientadora de conduta. Para isso, vamos
acompanhar a nossa história, que, nesse momento, inicia-se com uma
reunião entre o farmacêutico, os membros da CFT e o consultor Gilberto.
Pedro Paulo abre a reunião dizendo: - Agora vamos ver como selecionar
e analisar artigos científicos. O Gilberto vai dar sequência ao nosso
treinamento. Aproveitem o decorrer desta parte do Curso para buscar os
estudos que vocês vão utilizar para elaboração dos pareceres.
- Olá, Kely - cumprimenta Gilberto. - Que bom que você está aqui
para nos ajudar novamente. Estávamos falando sobre o formulário de
solicitação externa de alteração da Remume. Kely ouviu falar sobre isso
em um congresso em Brasília onde conversou com um farmacêutico do
Distrito Federal. Como estava comentando há pouco com ela, é frequente
que estudos revelem que os medicamentos prescritos em unidades de
saúde não pertençam à relação de medicamentos pactuada, sendo esse
um dos fatores responsáveis pelo não fornecimento de medicamentos
na unidade básica de saúde.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


141
Kely responde: - É verdade. Comentei com esse farmacêutico de Brasília
sobre a ausência de estratégias de divulgação da lista e até mesmo
a falta da lista pactuada da Atenção Primária impressa e disponível
Estudos observacionais: 5 aos prescritores nos consultórios, o que compromete o conhecimento
são estudos realizados pelo pelos profissionais. Muitos profissionais desconhecem o trabalho da
observador (pesquisador) em CFT e não sabem que podem pedir a alteração do elenco municipal de
que este apenas observa, de medicamentos por meio do formulário de solicitação.
modo passivo, a ocorrência
dos eventos sobre os Outros até conhecem, mas ficam com receio por não conhecer bem
sujeitos da pesquisa. Pode sobre as evidências científicas. Como o formulário exige que se anexem
ser descritivo, quando o ensaios clínicos, revisões sistemáticas ou meta-análises, eles acabam não
observador apenas descreve participando do processo. Outros mandam o formulário com informações
os eventos ocorridos;
de livros texto ou de páginas eletrônicas como o Google, o que não
ou analítico, quando o
caracteriza um bom nível de evidência, não é, Gilberto? - diz Kely.
observador testa hipóteses
ou estabelece associações Gilberto concorda: - É mesmo. Vamos ver a partir de agora as principais
correlações ou inferências. características de um ensaio clínico bem delineado, o que são revisões
sistemáticas e meta-análises. É interessante que, posteriormente,
Estudos experimentais: 6
vocês repliquem essas informações entre os profissionais de saúde
neste caso, o observador
(pesquisador) realiza uma do município para que eles possam participar mais efetivamente
intervenção direta sobre no processo de sugestões de atualização da Remume ou mesmo de
os sujeitos da pesquisa, uma oficina de priorização. Também vamos discutir sobre os estudos
podendo ser a alocação observacionais5 (coorte, transversal, de caso e controle, ecológicos e
dos sujeitos randomizada série de casos), pois podem ser úteis na ausência de evidências de
ou não. estudos experimentais6 em desfechos clinicamente relevantes.

- Desfecho? indaga Kely.

Gilberto responde: - Sim, também existe hierarquia na pesquisa clínica!


A depender da classificação do tipo de desfecho, pode-se antecipar sua
relevância ao ler um trabalho.

E ele continua: - Em estatística também há outra hierarquia.

Vamos fazer uma pausa em nossa história para vermos também


sobre os desfechos e sobre a hierarquia da estatística.

A realização de estudos de grande porte permite ter desfechos


primordiais, ou seja, desfechos de grande impacto como incidência
de infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico, câncer e morte
(também chamados de hardendpoint na língua inglesa).

Desfechos intermediários devem estar associados, de forma


causal, com o desfecho primordial, como as medidas de parâmetros
fisiológicos, fisiopatológicos ou comportamental (por exemplo: níveis
de pressão arterial, parar de fumar...), sendo que alguns desfechos

142 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


intermediários são positivos após intervenção com medicamentos,
contudo, não necessariamente resultam em melhor desfecho
primordial (por exemplo: terapia de reposição hormonal e efeitos
bioquímicos positivos com aumento de doença cardiovascular). O
desfecho substituto é diferente do intermediário por não apresentar
associação causal com o primordial (por exemplo: frequência de
internação hospitalar como desfecho substituto para controle de
sintomas em ensaios clínicos controlados aleatórios).

Agora se fala em desfecho primário, desfecho secundário e desfecho


composto. Idealmente, o desfecho primário deveria corresponder
ao desfecho primordial. Evidências chamadas de nível I por muitos
autores fazem referência a estudos com desfecho primário
(corresponde ao primeiro parâmetro que será avaliado em um estudo
clínico) e que apresentam validade interna (quando as evidências de
associação têm mínima chance de dever-se ao acaso e não existem
erros sistemáticos) e tratamento de magnitude clínica relevante sobre
o desfecho simultaneamente primário e primordial.

Os desfechos secundários, em relevância clínica, podem ser


primordiais, intermediários ou substitutos, e correspondem a
desfecho não nomeado como primário no estudo clínico.

No caso de erro aleatório (acaso) há duas possibilidades: Erro do tipo I,


em que falta achar uma associação que realmente existe ou Erro do tipo
II em que se acha uma associação que não existe. A solução para ambos
é aumentar o tamanho da amostra.
No erro sistemático, quando se observa um resultado incorreto por
causa de viés (fonte de variação que distorce os achados para uma
direção), tal fato pode estar relacionado a erro de amostragem ou erro
de medida. O uso de amostragem probabilística e revisão minuciosa de
instrumentos, questionários e entrevistadores podem diminuir tal erro.

Evidências baseadas em desfechos secundários são qualificadas


por autores como sendo evidências de nível II. Também que o viés
corporativo usa de desfechos compostos, de diferentes hierarquias,
para diminuir o tamanho da amostra e o custo e aumentar a taxa de
eventos e, com isso, não atendem a recomendação de que ao usar
desfechos compostos haja inclusão de componentes igualmente
importantes para o usuário, com incidência de frequência similar e
suscetibilidade similar à intervenção.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


143
Vamos ver mais sobre as evidências de nível I e II, visto serem úteis
ao processo de seleção de medicamentos e avaliação do impacto
de intervenções farmacológicas. David Sackett, pioneiro da medicina
baseada em evidências, disse que precisamos de evidência de alta
qualidade, que seja compreensível, científica e prática. Ele propôs
que o desenho do estudo, a intensidade dos efeitos observados
e a possibilidade de ocorrência de erros aleatórios qualificassem a
tomada de decisão terapêutica em diferentes graus de certeza. Veja
agora um vídeo sobre este assunto, com a Dra. Lenita.

Anotações

Estudos observacionais também geram graus de recomendação. A


sistemática coleta de dados e o controle de viéses em estudos desse
tipo podem gerar dados que delimitam efetividade de tratamento que
não foi ainda avaliado em ensaios clínicos, controlados aleatórios.

A seguir, é apresentada a tabela proposta por Sackett, com


a qualificação dos estudos que fundamentam os graus de
recomendação.

Tabela 2 - Qualificação dos estudos.

Nível do Estudo Tipo de questão: Terapia Grau de Recomendação


Revisões sistemáticas de Ensaios Clínicos A: Estudos consistentes
1a
Controlados Aleatórios (ECCA) B: Extrapolações dos estudos
1b Ensaios Clínicos Controlados Aleatórios D: Estudos inconclusivos ou inconsistentes
2a Revisões sistemáticas de Coorte B: Estudos consistentes
Estudos de Coorte ou ECCA de baixa qualidade C: Extrapolação dos estudos
2b (seguimento <80%) D: Estudos inconclusivos ou inconsistentes
3a Revisões sistemáticas de Caso e Controle B: Estudos consistentes
C: Extrapolação dos estudos
3b Estudos de Caso e Controle D: Estudos inconclusivos ou inconsistentes
Série de casos ou estudos de coorte ou C: Estudo nível 4
4
caso e controle de baixa qualidade D: Estudos inconclusivos ou inconsistentes
Opinião de especialista sem
5 D: Estudo nível 5
explicitar a análise crítica
Fonte: Fonte: SACKETT, et al. Oxford Centre for Evidence-based Medicine. Levels of evidence and grades of
recommendations. November 1998. Updated by Jeremy Howick March 2009. Disponível em: http://www.cebm.
net/index.aspx?o=1025

144 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Preste atenção no diálogo da enfermeira Kely e do consultor Gilberto,
sobre a qualificação dos estudos.
- Ensaio clínico controlado aleatório, meta-análises, estudos quase
experimentais, coorte, caso e controle, graus de recomendação? Nossa!
Estou ficando confusa. Mesmo fazendo um Curso, se a gente não
pratica, acabamos esquecendo ou misturando tudo – questiona Kely.

E Gilberto explica: - É mesmo, mas o trabalho numa CFT acaba reforçando


o conteúdo por trabalhar, frequentemente, com esses conceitos. Quanto
aos graus de recomendação, temos as de grau A, que apontam
intervenções de seguimento obrigatório; as de grau B, que ainda podem
ser desmentidas por novos estudos; enquanto as recomendações de
graus C e D fundamentam minimamente o emprego da intervenção
e são boas hipóteses para testes em ensaios clínicos controlados
aleatórios. Ensaio clínico controlado aleatório bem delineado é aceito
por muitos autores como sendo um estudo de nível I. Lembram-se do
conceito de descritores? Procurem no DeCS os descritores para ensaio
clínico controlado aleatório. Isso pode ser útil para filtrar alguma
pesquisa que vocês talvez façam, utilizando os operadores booleanos.

Acredita-se que o primeiro ensaio clínico da história tenha sido


realizado em 1747, pelo então cirurgião escocês do navio britânico
HMS Salisbury, James Lind. Ele realizou o experimento a bordo
do navio, administrando, a 12 embarcados que desenvolveram
escorbuto, diferentes suplementos alimentares. Os usuários foram
divididos em pares e cada um recebeu cidra ou vinagre ou vitriol ou
água do mar ou uma combinação de laranjas e limões ou uma mistura
de alho, semente de mostarda e bálsamo do Peru. Ele observou,
sistematicamente, que os marinheiros que recebiam as frutas cítricas
apresentavam melhoras visíveis, mais rapidamente em seu estado de
saúde. Em 1753, Lind publicou O tratamento do escorbuto.

Hoje podemos consultar onde e quais ensaios clínicos estão sendo


realizados no mundo. A plataforma do National Institute of Health
(NIH) norte americano disponibiliza ferramenta de busca de ensaios
clínicos para condições médicas específicas ou outro critério entre os
quase 100.000 ensaios registrados, que estão sendo realizados em
mais de 170 países. A Organização Mundial de Saúde também tem
sua plataforma de registro de ensaios clínicos, a ICTRP (International
Clinical Trials Registry Platform).

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


145
Link

Visite o endereço eletrônico dessas duas instituições, caso queira


conhecê-las mais.
Você pode acessar a página do National Institute of Health no link:
http://clinicaltrials.gov/ct2/home
E a página do International Clinical Trials Registry Platform no link :
http://apps.who.int/trialsearch/

O portal da OMS é atualizado, semanalmente, com os dados


provenientes de estudos registrados na Austrália e Nova Zelândia, e
dos registrados na plataforma do NIH e da ISRCTN Register. A cada
semana são acrescentados os dados de registros das plataformas
chinesa, indiana, alemã, iraniana, japonesa, africana, holandesa, do
Sri Lanka e da República da Coreia. A OMS considera um ensaio
clínico passível de ser registrado em sua plataforma aquele que
“prospectivamente designa participantes humanos ou grupos de
seres humanos para uma ou mais intervenções relacionadas à saúde
para avaliar os efeitos na saúde”.

No Brasil foi criada uma plataforma semelhante há pouco tempo.


O Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (ReBEC) é uma plataforma
virtual de acesso livre para registro de estudos experimentais e não-
experimentais, realizados em seres humanos, em andamento ou
finalizados, por pesquisadores brasileiros e estrangeiros.

Link

Você pode acessar a página do ReBEC pelo endereço http://www.


ensaiosclinicos.gov.br/

Vamos retomar a busca de descritor feita anteriormente. Talvez alguns


tenham encontrado, no DeCS, “ensaio clínico” e outros “ensaio clínico
controlado” ou até ambos.

146 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Ensaio Clínico: Trabalho que relata um estudo clínico pré-planejado
de segurança, eficácia ou esquema de dosagem ideal de um ou mais
fármacos, procedimentos ou técnicas diagnósticas, terapêuticas
ou profiláticas, em humanos selecionados de acordo com critérios
predeterminados de elegibilidade e observados para evidências pré-
definidas de efeitos favoráveis ou desfavoráveis. Embora a maioria dos
ensaios clínicos se refira aos seres humanos, este tipo de publicação
pode ser usado para artigos de veterinária, que satisfaçam os requisitos
para os humanos.

Ensaio clínico controlado: Trabalho que consiste em ensaio clínico


envolvendo um ou mais tratamentos experimentais, pelo menos
um tratamento controle, resultados determinados para avaliar a
intervenção estudada, e um método não tendencioso para designar
usuários aos tratamentos experimentais. O tratamento pode ser com
fármacos, dispositivos, ou procedimentos estudados para eficácia
diagnóstica, terapêutica, ou profilática. Os métodos de controle
incluem placebos, medicamento ativo, não tratamento, formas de
dosagem e regimes, comparações de históricos clínicos etc.

Vamos acompanhar o que acontece na reunião neste ponto do


conteúdo...
- Perceberam a diferença entre estes conceitos? Quando a distribuição
aleatória com técnicas matemáticas, como o uso de uma tábua de
números aleatórios, é utilizada para designar usuários para tratamentos
experimentais ou de controle, o ensaio se caracteriza como sendo um
ensaio clínico controlado aleatório - questiona Gilberto.

Pedro Paulo pergunta: - E a relação entre ensaios clínicos, revisões


sistemáticas e meta-análises?

Gilberto responde: - Em 1904, Karl Pearson, resumiu e sintetizou


resultados de 11 ensaios que abordavam efeitos da vacina contra tifo,
antecipando o desenvolvimento de meta-análises (pacote estatístico
usado para agrupar resultados de diferentes estudos). Durante a década
de 1960 e 1970, graças a cientistas sociais, houve um avanço significativo
no desenvolvimento da metodologia para revisões sistemáticas.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


147
Se você tem interesse em conhecer sobre Karl Pearson, citado pelo
consultor Gilberto, não deixe de visitar o endereço eletrônico indicado.

Link
Leia sobre Kal Pearson em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2355479/pdf/
brmedj08194-0039.pdf

Em 1971, Archibald Cochrane, um epidemiologista britânico, advogou


persistentemente que a avaliação científica de terapia médica,
comumente usada, deveria ser por ensaios clínicos controlados
aleatórios; e em 1979, já sugeria que o resultado de ensaios
clínicos controlados aleatórios com a mesma intervenção deveriam
ser sistematicamente resumidos. Entretanto, foi somente no início
da década de 1990 que muitos países começaram a subsidiar a
produção de revisões sistemáticas para o setor público e privado.

Em 1999, a Administração de Recursos em Saúde (HCFA) norte


americana (hoje Centers for Medicare and Medicaid Services)
anunciou que requereria revisões sistemáticas de evidências antes de
realizar qualquer grande decisão nacional. O crescimento de revisões
sistemáticas e de meta-análises listadas no PubMed é exponencial no
início da década de 2000. Buscas, utilizando os dois descritores MeSH
no PubMed, revelaram somente 22 resultados em 2000; 89 em 2001;
305 em 2002; 1.071 em 2005; 1.480 em 2007; e 1.974 em 2009.

O DeCS apresenta o seguinte conceito para o descritor meta-análise:

trabalhos que consistem em estudos que utilizam um método quantitativo de


combinação dos resultados de estudos independentes (normalmente tirados da
literatura publicada) e que sintetizam resumos e conclusões, que podem ser usados
para avaliar a eficiência de terapias, planejar novos estudos etc. É frequentemente
uma revisão de ensaios clínicos (DeCS).

A imagem a seguir representa uma forestplot, uma das representações


gráficas que servem para ilustrar a força de tratamentos obtidos de
vários estudos que abordam a mesma questão e, frequentemente,
representam uma meta-análise. Perceba que todos os estudos incluídos
estão na primeira coluna. Ao lado de cada estudo consta o ano de
realização, a representação gráfica da razão de chances encontrada
para cada estudo, o peso individual de cada ensaio para a meta-análise
e a razão de chances com o intervalo de confiança na última coluna da
direita. Atente para o fato de que a última linha apresenta a razão de
chances geral, com o intervalo de confiança de 95%.

148 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Relação deprobabilidade
Estudo Ano Peso
(95%CL)
Dold (8) 1992 2,7% 1.50 (0,70 até 2.70)
Frischer (12) 1993 1,6% 3.21 (1.11 até 9.28)
Kelly (16) 1995 4,4% 3.13 (2.36 até 4.16)
Ehrlich (10) 1996 3,3% 2.07 (1.24 até 3.46)
Abrahamson (36) 1996 3,5% 2.40 (1.51 até 3.82)
Rona (28) 1997 4,8% 2.42 (2.03 até 2.87)
Jenkins (23) 1997 5,0% 3.13 (2.82 até 3.48)
Baeza Bacab (37) 1997 2,6% 3.45 (1.75 até 6.79)
Millar (38) 1998 4,8% 2.78 (2.33 até 3.31)
Litonjua (17) 1998 2,0% 4.10 (1.70 até 10.10)
Halonen (33) 1999 2,7% 3.90 (2.00 até 7.40)
Illi (21) 2001 0,9% 9.61 (2.16 até 42.80)
Wang (19) 2001 1,2% 4.10 (1.12 até 14.7)
Sherriff (30) 2001 4,4% 2.00 (1.52 até 2.63)
Wickens (20) 2001 3,0% 3.36 (1.88 até 5.99)
Karunasekera (24) 2001 4,1% 1.6 (1.10 até 2.20)
Jaakkola (22) 2001 3,6% 3.11 (1.97 até 6.82)
El-Shariff (35) 2003 2,2% 3.00 (1.32 até 6.82)
Cole Johnson (32) 2004 0,7% 1.80 (0.32 até 10.0)
Sandin (29) 2004 2,6% 5.90 (2.90 até 11.7)
Jan (14) 2004 2,4% 5.80 (2.77 até 12.2)
Arshad (34) 2005 2,8% 2.26 (1.20 até 4.24)
Taveras (31) 2006 3,6% 2.33 (1.48 até 3.68)
De Sario (7) 2006 2,5% 4.91 (2.42 até 9.95)
Lee (25) 2006 4,1% 11.60 (8,07 até 16.40)
Bizur (11) 2007 1,0% 0.90 (0.20 até 3.70)
Bjerg (6) 2007 3,9% 2.80 (1.91 até 4.11)
Mai (26) 2007 3,8% 1.90 (1.26 até 2.86)
Morais-Almeida (18) 2007 1,4% 5.39 (1.70 até 17.10)
Martel (27) 2008 4,7% 1.66 (1.38 até 2.00)
Jacobson (13) 2008 2,6% 3.00 (1.50 até 6.01)
Dong (9) 2008 3,8% 5.42 (3.60 até 8.16)
Karino (15) 2008 3,5% 4.90 ( 3.00 até 7.90)
Somatório das relações de
3.04 (2.59 até 3.56)
probabilidade (95CL)
0,1 11 0 100
Relação de probabilidade

Figura 24 - Resultado de meta-análise de vários estudos de asma materna como fator de risco para asma.
Fonte: LIM, KOBZIK, DAHL, 2010.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


149
Lembre-se de que nem toda revisão é sistemática. As revisões
sistemáticas diferem de revisões narrativas tradicionais nos seguintes
componentes: formulação de questão de pesquisa, metodologia,
estratégia de avaliação da qualidade dos estudos identificados,
extração dos dados, síntese dos dados, heterogeneidade e
interpretação de resultados. Revisões sistemáticas são usualmente
direcionadas a responder questões específicas formuladas e
descrevem claramente os critérios de inclusão dos participantes,
intervenções e desfechos. A estratégia de busca em uma revisão
sistemática pode ser exaustiva, normalmente transparente e
reproduzível. A heterogeneidade é trabalhada com métodos
estatísticos e gráficos em revisões sistemáticas que são menos
propensas a viéses sistemáticos e de opiniões pessoais. Uma revisão
sistemática é frequentemente realizada por mais de um revisor e a
síntese de dados pode ou não sofrer uma meta-análise. Revisões
sistemáticas da colaboração Cochrane tendem, via de regra, a ser
mais rigorosas e melhor apresentadas que revisões publicadas em
periódicos científicos.

Há também os estudos quase experimentais (quasi-experiment) em


que a alocação dos indivíduos em grupos de intervenção e controle
é feita de forma sistemática, sem ser aleatória. São úteis em estudos
com intervenção de eficácia provável, sendo mais suscetíveis a viéses.

E os estudos de coorte, caso e controle e os outros estudos


observacionais? Será que se pode utilizar informações desses estudos
para a seleção de medicamentos essenciais?

Estudos observacionais são úteis para uma variada gama de


objetivos, desde funcionar como primeira dica de uma potencial
causa de uma doença, até ser útil para verificar a magnitude de
associações descritas previamente. Apesar de existirem vários
desenhos metodológicos observacionais, os principais são estudos
de coorte, caso e controle e estudos transversais.

Alguns estudos fazem comparações entre os grupos, enquanto


outros descrevem simplesmente o desfecho em um único grupo
(p.ex: série de casos). O desenho de comparação difere na
forma de alocação dos participantes aos grupos, variando desde
o uso de fatores geográficos ou temporal (estudos de coorte),
decisão de profissionais de saúde (coorte com uso de banco
de dados de registros clínicos) até a identificação de grupos com
desfechos específicos definidos (estudos de caso e controle).

150 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Outra característica, que pode diferenciar estudos observacionais,
é o sentido temporal (prospectivos ou retrospectivos), fato que
está refletido no recrutamento de participantes, na coleta de dados
basais, coleta de dados de desfecho e geração de hipóteses.

O método usado para investigar a comparação entre os grupos


também pode variar, sendo medida do desfecho na linha de base
em observação controlada de antes-depois e, obrigatoriamente,
investigação de agentes confundidores em estudos de coorte e
caso e controle. A direcionalidade, por sua vez, classifica os estudos
observacionais como estudos anterógrados (exposição precede o
desfecho clínico), retrógrados (investigação de presença de fatores
que precedem a ocorrência do desfecho) ou não-direcionais (observa
eventos e fatores em estudo ao mesmo tempo).

Os estudos observacionais ainda podem ser caracterizados como


descritivos ou analíticos, onde não há, a priori, uma hipótese a testar
ou moldado por hipóteses, respectivamente.

Anotações

Os estudos de coorte7 são o melhor método para determinar a incidência 7 Coorte, “cohors” em latim,
e a história natural de uma condição. Podem ser prospectivos (grupos significa um grupo de
de indivíduos que não têm a doença, mas foram ou não expostos, são soldados que marchavam
acompanhados por um período de tempo para avaliar se desenvolvem juntos na Roma antiga.
um determinado desfecho ou doença) ou retrospectivos (informações A coorte do estudo de
sobre a exposição e doença já foram coletados, seja como parte do Framingham, a de médicos
estudo ou de registros médicos sendo agora usados para avaliar a ingleses fumantes são
relação entre a exposição e a doença por um período de tempo). O outros exemplos de coortes
estudo apresentado anteriormente é prospectivo. famosas.

Os estudos de coorte normalmente utilizam o risco relativo


(RR) como medida de associação. Seu cálculo é feito a partir da
comparação das incidências do evento observado em indivíduos
expostos e não-expostos. Os fatores envolvidos no desenvolvimento
de uma doença são identificados por risco relativo superior a um.
Caso o RR seja inferior a um, o fato em estudo é protetor para a
doença em questão.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


151
Os estudos de caso e controle são muito comuns e úteis para
avaliar eventos pouco frequentes. São compostos por dois grupos
de indivíduos selecionados da mesma população, pareados por
características comuns, tendo um grupo a doença e o outro não.
A exposição será avaliada em ambos grupos e, então, calculada a
associação da exposição à doença.

Diferentes intervenções também podem ser comparadas em estudos


de caso e controle, sejam duas intervenções distintas ou comparação
de intervenção com não intervenção. São estudos comumente
retrospectivos. Além de determinar a importância relativa de variáveis
preditoras em relação à presença ou ausência de doença, também
podem gerar razão de chances (OddsRatio = OR). A OR relaciona-
se a chance de exposição entre os casos comparativamente à
chance de exposição entre os controles. O risco é sugerido quando
a frequência de exposição for maior entre os casos e o resultado
exceder um. A proteção está relacionada a OR menores do que um.

Há ainda o estudo transversal, outro tipo de estudo observacional.


O estudo de padrão de uso de fármacos na comunidade ou o uso de
antimicrobianos no hospital, usando indicadores, pode ser considerado
um estudo transversal. Assim, obtemos a prevalência do desfecho em
um único momento, sem acompanhamento. Esse delineamento não
aparece na tabela de grau de recomendação, contudo, são estudos
úteis na caracterização do problema a ser estudado.

Vamos acompanhar o que nossos personagens estão conversando.


Acompanhe!
Kely pergunta a Gilberto: - E qual é mesmo a diferença entre relato de
caso e estudo de série de casos?

- O número de participantes envolvidos no estudo. No estudo de série


de casos são descritas características clínicas de usuários selecionados
com uma condição específica, sendo descritos aspectos diagnósticos,
terapêuticos e de efeitos adversos de fármacos. O relato de caso faz
referência a mesma descrição, só que de um grupo reduzido de até 10
participantes - diz Gilberto.

E Pedro Paulo questiona: - E existe revisão sistemática de estudos


observacionais?

Gilberto responde: - Sim. A lógica é a mesma da construção de revisão


sistemática, descrita anteriormente. Há preocupação com a qualidade
dos estudos incluídos na revisão e, por isso, muitos autores seguem
recomendações do documento STROBE (Strengthening of the Reporting
of Observational Studies in Epidemiology), usado para avaliar a qualidade
de estudos observacionais.

152 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Kely: - Não há algo semelhante para avaliar a qualidade de ensaios
clínicos, que pode ser utilizado, inclusive, para construção de protocolos
e recomendações clínicas?

Gilberto: - Sim, também existe um. É chamado de CONSORT


(Consolidated Standards of Reporting Trials) e é usado para avaliar a
qualidade de estudos de intervenção.

E Gilberto encerra o encontro, dizendo: - Foi um prazer poder


compartilhar essas oficinas com vocês, e coloco-me à disposição se
quiserem realizar novos trabalhos no futuro. Qualquer coisa, podem
entrar em contato comigo no Ministério da Saúde. Abraços a todos.
O Gilberto indicou um endereço eletrônico para Kely e Pedro Paulo,
acesse você também!

Link

Consulte o endereço eletrônico do CONSORT http://www.consort-


statement.org/

Concluindo

O conceito de evidência em saúde trouxe um significativo avanço


para a avaliação crítica das informações disponibilizadas no meio
científico, para um melhor atendimento ao usuário.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


153
Ter informação e trabalhar com elas é fundamental para a gestão,
como já concluímos, anteriormente, durante o Curso, certo? Produzir
informação também faz parte da própria gestão, pois pode fornecer os
argumentos e as justificativas necessários para a tomada de decisão.

Por mais que algumas pessoas ainda acreditem que fazer gestão é
algo intuitivo, dependente de uma capacidade inata de certos “seres
iluminados”, é cada vez mais evidente que o uso de evidências
instrumentaliza o processo de gestão, que se torna, desta forma, uma
atividade cada vez mais profissionalizada, embasada e respeitada.

Já discutimos durante o Curso, também, que diversos tipos de informação,


de diversas fontes (oficiais, científicas, de corredores, do cafezinho, de
sistemas de informação etc) são importantes na tomada de decisão.
Todas trazem algum grau de evidência, mas têm diferentes impactos.

O uso de evidências científicas a respeito de condutas terapêuticas


individuais ou coletivas, como vimos agora na seleção de medicamentos,
já está consolidado como meio respeitado de tomada de decisão, e tem
inserido esta forma de raciocínio no nosso meio. No entanto, o uso de
evidências para a gestão, de forma mais ampla, ainda é muito pequeno.

Alguns autores tem chamado a atenção para esse fato, como no texto de
Walshe e Rundall (2001). Eles fazem uma comparação do uso de evidências
na prática clínica e na gestão de serviços de saúde, a partir de três aspectos:
- Cultura: Na área clínica há um enorme corpo de conhecimentos
formalmente constituídos e reconhecidos como o embasamento de todo
o saber profissional na saúde, e os profissionais têm intensa formação
científica e para pesquisa. Já a área administrativa na saúde é pouco
profissionalizada (no Brasil não há exigência de formação profissional,
nem tampouco os profissionais de saúde, que assumem essas funções,
são profissionalizados para gestão); as características pessoais são
mais valorizadas; pouca compreensão do que é, como se desenvolve e
para que servem a pesquisa e as publicações científicas.

- Pesquisa e evidências: Entre os profissionais da clínica, há grande


valorização do referencial biomédico, com destaque para métodos
experimentais e dados quantitativos generalizáveis, em literatura publicada
em veículos respeitados, bem organizada e indexada. Entre os gestores,
prevalece um fraco e disperso paradigma das ciências sociais; os resultados
das pesquisas não são amplamente compreendidos e, em virtude de
realidades muito diferenciadas, não são sempre generalizáveis; a literatura
é dispersa e inclui mais livros que artigos, o que dificulta o acesso.

154 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


- Tomada de Decisão: Há uma longa tradição no uso de sistemas de
suporte para tomada de decisão na clínica (handbooks, guidelines...),
para decisões entre opções relativamente claras e muitas vezes de
resultado imediato; as decisões envolvem conhecimentos específicos,
muito direcionados, para situações específicas que envolvem um
conjunto limitado de variáveis e constrangimentos. Já na área da
gestão dos serviços e sistemas de saúde, não há a tradição do uso de
sistemas de suporte para tomada de decisão nem a busca de evidências
sobre questões relacionadas à organização de serviços e sistemas; as
circunstâncias da gestão exigem conhecimentos e tipos de informações
muito abrangentes, de diferentes bases conceituais, para situações
em que muitas variáveis influenciam, há diversos constrangimentos
ao processo, de diversas naturezas; e os resultados – o que tanto
perseguimos e sobre os quais somos avaliados – são mais difusos, mais
complexos e multideterminados que os resultados clínicos.

Dessa rápida comparação, podemos destacar que há, sim, maiores


dificuldades na aplicação de evidências científicas na gestão de serviços
e sistemas de saúde, mas que a experiência da área clínica tem trazido
para o campo da saúde uma forte influência que pode ser percebida
pelo impacto que tem causado a avaliação da incorporação de novas
tecnologias e inovações em saúde. Da mesma forma, decisões sobre
as formas de organização de um serviço, de orientação de sistema de
saúde, no processo de gestão, podem se beneficiar de evidências.

As metodologias para busca e seleção em fontes confiáveis de informação


para seleção de medicamentos que antes vimos são gerais, e podem
nos guiar também na busca de evidências para nortear outros processos
decisórios no dia a dia da gestão da assistência farmacêutica, conferindo a
força da evidência e o respeito pelo embasamento de que a gestão precisa.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


155
Lição 12 – A formalização da seleção de medicamentos na ges-
tão pública

Nesta lição, você aprenderá sobre como reconhecer as instâncias do


SUS, relacionadas à decisão e consolidação do processo de seleção
de medicamentos.

A participação dos três níveis de gestão no SUS

Nesta última lição, vamos organizar uma discussão de trabalho com


os profissionais que atuam na assistência farmacêutica do município,
de forma a compreender como a seleção de medicamentos é
formalizada nos três níveis de gestão do SUS.

Os medicamentos essenciais devem estar continuamente disponíveis aos


segmentos da sociedade que deles necessitem, nas formas farmacêuticas
apropriadas, e compõem uma relação nacional de referência que servirá de base
para o direcionamento da produção farmacêutica e para o desenvolvimento científico
e tecnológico, bem como para a definição de listas de medicamentos essenciais nos
âmbitos estadual e municipal, que deverão ser estabelecidas com o apoio do gestor
federal, e segundo a situação epidemiológica respectiva (BRASIL, 1998).

Essa citação, extraída da Política Nacional de Medicamentos


(BRASIL, 1998), demonstra que a demanda por medicamentos no
âmbito público é um processo dinâmico e influenciado por fatores
que precisam ser contemplados quando da elaboração das políticas
e dos programas de fornecimento de medicamentos:

• mudanças no perfil epidemiológico da população;

• aumento da morbimortalidade por causas externas;

• prevalência de doenças emergentes e reemergentes como cólera,


dengue, malária, AIDS e doenças sexualmente transmissíveis;

• envelhecimento populacional;

• transformação do modelo de atenção prestada;

• alterações nos indicadores demográficos, que ocasionam


modificações qualitativas e quantitativas no consumo de
medicamentos;

• aumento da demanda por medicamentos para tratamento de


portadores de doenças crônicas.

156 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Cada esfera de gestão tem responsabilidades definidas e pactuadas
em relação à seleção de medicamentos:

• o gestor federal tem a responsabilidade de promover a atualização


contínua da Rename e a sua divulgação, favorecendo o processo
de descentralização da gestão;

• o gestor estadual deve definir a relação estadual de medicamentos,


com base na Rename em conformidade com o perfil
epidemiológico do estado e o elenco de medicamentos a serem
adquiridos diretamente pelo estado (que, atualmente, incluem
os medicamentos do Componente Especializado da Assistência
Farmacêutica);

• o gestor municipal deve definir a relação municipal de


medicamentos essenciais, com base na Rename, a partir das
necessidades decorrentes do perfil nosológico da população;
assegurar o suprimento dos medicamentos destinados à atenção
básica à saúde de sua população, integrando sua programação
à do estado, visando garantir o abastecimento de forma
permanente e oportuna; ainda, adquirir outros medicamentos
essenciais que estejam definidos no Plano Municipal de Saúde
como responsabilidade do município.

Construindo o processo de seleção de medicamentos

Como os medicamentos disponibilizados pelo SUS não se encontram


reunidos em uma lista única, estando contemplados em relações
de medicamentos dos Componentes Básico e Especializado da
Assistência Farmacêutica e para cada um dos programas do
Componente Estratégico da Assistência Farmacêutica, a formalização
do elenco se dá por meio de publicação de leis, portarias e resoluções.

Esquematicamente, podemos representar da seguinte forma:

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


157
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
POLÍTICA NACIONAL DE MEDICAMENTOS

Atendimento de critérios
Pactuação entre as esferas técnicos, orçamentários,
de gestão envolvidas financeiros, administrativos
e legais

Situação Modelos de
epidemiológica SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS atenção

Pedidos Pedidos
administrativos Judiciais

RELAÇÃO DE MEDICAMENTOS NACIONAL,


ESTADUAL E MUNICIPAL E OUTRAS LISTAS

Figura 25 - A construção do processo de seleção de medicamentos.

Por meio do esquema apresentado é possível observar que, uma vez


estabelecidas as políticas públicas, para que estas se concretizem na
produção de uma relação de medicamentos, há uma série de fatores
a serem considerados: situação epidemiológica e modelo de atenção
adotado; o atendimento a normativas da administração pública;
pactuação entre gestores; sem deixar de considerar a influência dos
pedidos externos, de ordem administrativa ou ainda os judiciais.

Legislação
Sucessivas portarias vêm organizando o que hoje se constitui
o Componente Básico da Assistência Farmacêutica. Já vimos
anteriormente que, com a publicação da Portaria GM/MS n.
2.982/2009, que aprova as normas de execução e de financiamento
do Componente Básico da Assistência Farmacêutica e define
o Elenco de Referência Nacional de Medicamentos e Insumos

158 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Complementares para a Assistência Farmacêutica neste âmbito,
incorporou-se o conceito de disponibilização dos medicamentos para
garantia das linhas de cuidado para as doenças contempladas no
âmbito do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica
e acompanhadas no âmbito da atenção básica.

Em dezembro de 2010, o Ministério da Saúde revogou essa Portaria


e publicou a Portaria GM/MS n. 4.217/2010. Esta Portaria estabelece
que o Elenco de Referência Nacional é composto pelos medicamentos
integrantes da Rename 2010 e por medicamentos fitoterápicos
e homeopáticos, destinados a atender os agravos prevalentes
e prioritários da atenção básica, e que as secretarias estaduais e
municipais de saúde são responsáveis pela pactuação nas CIB do
Elenco de Referência Estadual, de acordo com a necessidade local/
regional, financiados com os recursos advindos desta Portaria. No
ano de 2012 o Ministério da Saúde deve publicar uma nova versão
desta portaria.

A Portaria trata também da não obrigatoriedade de dispensação


de todos os medicamentos elencados, desde que não haja
prejuízo para o atendimento dos agravos, considerando a situação
epidemiológica loco/regional. Além disso, os municípios poderão
custear medicamentos não constantes no Elenco com os recursos
da Portaria, desde que estejam contemplados na Rename e que
sejam de uso ambulatorial no âmbito da atenção básica. Está explícito
que, com recursos desta Portaria, não poderão ser custeados
medicamentos não constantes da Rename 2010.

Deve estar assegurada a disponibilização de medicamentos


para garantir as linhas de cuidado das doenças contempladas no
Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, indicados
nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), de acordo
com a necessidade local/regional.

A Portaria estabelece que as secretarias estaduais de saúde devem


encaminhar ao Ministério da Saúde o documento resultante da
pactuação na CIB – uma resolução ou deliberação, contendo as
informações referentes ao Elenco de Referência Estadual.

Para melhor entendermos a condução do processo, listamos a


legislação que foi contemplada para a elaboração da Portaria GM/
MS n. 4.217/2010:

• Portaria GM/MS n. 3.916/1998 - Política Nacional de


Medicamentos;

• Resolução CNS n. 338/2004 - Política Nacional de Assistência


Farmacêutica;
Unidade 2 - Seleção de medicamentos
159
• Portaria GM/MS n. 399/2006 - Pacto pela Saúde;

• Portaria GM/MS n. 204/2007, que regulamenta o financiamento


e a transferência dos recursos federais para as ações e os
serviços de saúde, na forma de blocos de financiamento, com o
respectivo monitoramento e controle;

• Lei n. 11.347/2006, que dispõe sobre o fornecimento de


medicamentos e materiais necessários a sua aplicação e
monitoramento da glicemia capilar;

• Portaria GM/MS n. 2.583/2007, que define o elenco de


medicamentos e insumos disponibilizados pelo Sistema Único
de Saúde, nos termos da Lei n. 11.347, de 2006, aos usuários
portadores de diabetes mellitus;

• Portaria GM/MS n. 3.176/2008, que aprova orientações acerca


da elaboração da aplicação e do fluxo do Relatório Anual de
Gestão;

• Decreto n. 5.813/2006, que aprova a Política Nacional de Plantas


Medicinais e Fitoterápicos;

• Portaria n. 971/2006, que aprova a Política Nacional de Práticas


Integrativas e Complementares no SUS;

• Portaria Interministerial n. 2.960/2008, que aprova o Programa


Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e cria o Comitê
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos;

• Portaria GM/MS n. 2.981/2009, que aprova o Componente


Especializado da Assistência Farmacêutica, a importância dos
medicamentos para garantia das linhas de cuidado para as
doenças contempladas no âmbito do Componente Especializado
da Assistência Farmacêutica, acompanhadas no âmbito da
Atenção Básica;

• Portaria GM/MS n. 1.044/2010, que aprova a 7ª edição da


Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) 2010;

• pactuações ocorridas nas Comissões Intergestoras Bipartite no


período entre 1º de dezembro de 2009 até a publicação desta
portaria;

• pactuação na reunião da Comissão Intergestora Tripartite, de 25


de novembro de 2010.

160 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Observe que a elaboração da Portaria contemplou a Rename, os
programas existentes (como tratamento ao portador de diabetes,
fitoterápicos), o Componente Especializado da Assistência
Farmacêutica, os instrumentos de gestão (Relatório Anual de
Gestão), a pactuação entre os gestores, com o objetivo de assegurar
a viabilidade de sua implementação.

Como conduzir o processo de seleção de medicamentos

Vamos retomar um parágrafo que você leu na unidade 1 do Módulo


Transversal 1:

“E, no mundo do trabalho, a essência da gestão é ‘conduzir’ para


obtenção de resultados!

Sintetizando: Gestão é fazer acontecer!

Ou seja, é conduzir pessoas, recursos para mudar uma situação na direção


de um objetivo desejado. Por isto é uma condução comprometida com um
projeto, com um resultado. Por isto a gestão é resultado e não esforço”.

Você já deve ter se questionado a respeito de como conduzir o processo


de seleção para que chegue a um resultado, para que ele realmente
aconteça, e que o estado e o município tenham uma Relação de
Medicamentos com base no estabelecido na legislação vigente no país,
e, mais que isso, que seja o balizador do uso racional de medicamentos
e de recursos nos serviços de saúde. Os autores desta unidade dão as
dicas a seguir, considerando a realidade na administração pública de
uma cultura muito recente de planejar as atividades, pensar de forma
estratégica, e adotar processos mais participativos de gestão. Mas esses
conceitos você já está adquirindo e praticando ao longo do Curso e das
atividades cotidianas, como no seu Plano Operativo, não é mesmo?

Então, vamos continuar trabalhando nesse perspectiva, aplicando ao


processo de seleção de medicamentos.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


161
Reflexão

Você já percebeu que muitas vezes é difícil você modificar rotinas e incluir
nelas mais uma atividade? Mas que, após dominar o processo, ele se
internaliza e você passa a fazê-lo sem perceber? E, muitas vezes pensa:
Por que não fazia isso antes? Muitas coisas teriam sido mais fáceis...

Vamos refletir um pouco sobre como podemos avançar para adquirir as


habilidades e competências necessárias para fazer um planejamento das
atividades. Pensando especificamente na seleção de medicamentos:
abordamos quais as vantagens de se realizar um processo de seleção
de medicamentos, que tem como resultado uma lista de medicamentos,
formalizada no âmbito da secretaria, divulgada entre os prescritores e
serviços de saúde; é elaborado um FTN, profissionais são capacitados
para prescrever e dispensar os medicamentos.

Reflexão
Você pode pensar que são muitas as atividades a serem contempladas
e muitos os responsáveis envolvidos. Vamos pensar em uma coisa de
cada vez?

Vamos retomar a lição 1, quando abordamos as várias dimensões


que estão envolvidas no processo de seleção de medicamentos:

1) Dimensão política – vontade política de fazer

A evidente necessidade de sensibilização/conscientização


do gestor sobre a importância de se realizar a seleção de
medicamentos, abordando os benefícios advindos do processo.
Quando o gestor se compromete com o processo, e este é
legitimado pela instituição, há maiores possibilidades de sucesso
quando da divulgação da lista para os serviços de saúde e
da população. O gestor pode, ainda, trabalhar em conjunto
com outros municípios que tenham situação epidemiológica
semelhante, dividindo tarefas e somando resultados.

162 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


2) Dimensão econômica – viabilizar recursos para que aconteça

Os recursos necessários para a realização da atividade devem


estar contemplados, incluindo os financeiros e a existência de
pessoas em quantidade suficiente e capacitadas para conduzir
o processo.

3) Dimensão técnica – capacidade para fazer

Para realizar a atividade há de se ter conhecimento técnico que a


respalde, de forma que as atividades possam ser desenvolvidas
com segurança, bem como apresentadas (e mesmo defendidas)
frente a secretários, profissionais de saúde e população.

4) Dimensão administrativa – organizar-se para fazer

Uma estrutura organizada confere visibilidade ao processo


e dá mais credibilidade aos profissionais responsáveis pelas
atividades. A definição de estrutura organizacional, responsáveis,
cronograma de execução, de acompanhamento e avaliação são
instrumentos importantes para a execução exitosa do processo.
Os instrumentos de gestão devem contemplar as atividades
de seleção: Plano Estadual e Municipal de Saúde, Relatório de
Gestão, assim como deve estar claramente definido de que
forma se dará o acompanhamento e a avaliação das atividades
realizadas nos municípios pelo estado.

Agora, vejamos como se conduzir a elaboração da Relação de


Medicamentos de um município, respeitando que deve contemplar a
legislação vigente no país e a Rename, que deve ser fundamentada
em evidências atualizadas, com base na situação epidemiológica
loco/regional e formalizada por instrumentos específicos.

O gestor federal determina a revisão do elenco de medicamentos da


assistência farmacêutica na atenção básica:

1º O gestor estadual e municipal reconhece a importância deste


processo?

2º A assistência farmacêutica tem fundamentação técnica para


explicar a importância para o gestor?

3º Há pessoas capacitadas no estado e no município para conduzir


a discussão?

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


163
Reflexão
Você e sua equipe se sentem preparados para executar a atividade?
Você já teve oportunidade de participar de capacitações que contemplem
este assunto?

O esquema a seguir apresenta resumidamente como acontece o


processo de revisão do elenco de medicamentos na atenção básica.
A partir de definição de incorporação ou exclusão de medicamentos
pelo Ministério da Saúde, inicia-se o processo com a participação dos
estados, Distrito Federal e municípios, com uma série de atividades
desenvolvidas e que resultam no elenco estadual e municipal de
medicamentos.

Anotações

164 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Informações sobre medicamentos atualizadas e
fidedignas, baseadas em evidências

Portaria que determina a revisão Atualização da Rename e discussão


do elenco sobre elenco de referência nacional
FEDERAL

Publicação da Rename

Atualização do FTN e publicação

Publicação da Portaria formalizando


Pactuação em CIT
o elenco de Referência e a Rename
MUNICIPAL

Revisão do elenco no âmbito


municipal

Consolidação da revisão do elenco


Relação Estadual de Medicamentos
no âmbito estadual
ESTADUAL

Deliberação / Resolução CIB Pactuação na CIB

Relação Municipal de Elaboração de Lista Municipal com


Medicamentos base na Lista Estadual
MUNICIPAL

PRODUTO ATIVIDADE

Fluxograma 2 - Fluxo para revisão de lista de medicamentos.

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


165
Para que se chegue aos produtos esperados: Rename, Reme
e Remume, FTN e demais extensões da lista, é importante que
os trabalhos sejam desenvolvidos de forma articulada, com
responsabilidades bem definidas e de forma colaborativa.

O Conselho de Saúde (Estadual e Municipal), dependendo da


dinâmica de trabalho no estado e municípios, participa do processo
– na discussão do elenco propriamente dito, ou na ratificação
do mesmo. Em seguida, a relação é publicada de forma que a
comunidade, prescritores e serviços de saúde tenham ciência do
elenco que será disponibilizado pelo município.

É importante lembrar que cada município pode selecionar outros


itens para aquisição e não é necessário que todos os itens do
elenco definido na CIB sejam adquiridos pelo município. Assim, o
município pode avaliar a condição de saúde de sua população e,
com os recursos financeiros advindos desta portaria, adquirir os itens
identificados como necessários. O município pode também aplicar
recursos municipais (além do R$1,86) para selecionar e adquirir
outros itens que não podem ser contemplados com os recursos da
Assistência Farmacêutica na Atenção Básica, oriundos da Portaria
GM/MS n. 4.217/2010.

Para esta seleção, os critérios estabelecidos são: evidência, situação


epidemiológica, disponibilidade de serviços de saúde. Além disso,
deve haver, pelo gestor, definição dos critérios de utilização dos
medicamentos em indicações que não estão contempladas por
Protocolos e Diretrizes, no sentido de fortalecer o uso racional de
medicamentos e o acompanhamento da utilização dos medicamentos,
gerando evidências para embasar discussões futuras.

Todas as atividades precisam ser avaliadas. Marin e colaboradores


(2003) sugerem que a avaliação seja periódica, com o emprego de
indicadores, pois a seleção de medicamentos é um processo muito
dinâmico. Alguns dos indicadores propostos pela OPAS, para esta
atividade, estão aqui elencados:

• Existência de Comissão de Farmácia e Terapêutica;

• Número de reuniões da CFT durante o ano;

• Existência de critérios técnicos e científicos e econômicos de


seleção de medicamentos, expressos em documentos;

• Percentual dos medicamentos selecionados que fazem parte da


Rename;

166 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


• Existência de relação de medicamentos essenciais;

• Existência de Formulário Terapêutico com atualização, no


máximo, a cada dois anos.

A avaliação confere a necessária reflexão sobre as condutas que


precisam ser adotadas no sentido de melhorar a qualidade do
processo, buscando o propósito estabelecido pelas Políticas de
Medicamento e Assistência Farmacêutica: promover o acesso e o uso
racional dos medicamentos aos usuários do Sistema Único de Saúde.

Link

Algumas situações especiais exigem elaboração de listas de


medicamentos para populações ou grupos de pessoas. A título de
exemplo, a população indígena é atendida por uma portaria específica,
que estabelece elenco específico, da mesma forma que a população
carcerária.
- Portaria GM/MS n. 3.185, de 19 de outubro de 2010: Relação Nacional
de Medicamentos Essenciais da Saúde Indígena
http://www.brasilsus.com.br/legislacoes/gm/105889-3185.html
- Portaria GM/MS n. 3.270, de 26 de outubro de 2010: Relação de
medicamentos para o sistema penitenciário.
http://www.brasilsus.com.br/legislacoes/gm/106008-3270.html?q=

Essas listas devem ser elaboradas por grupo de profissionais


designados para esta finalidade, com definição de critérios e
responsabilidades, e formalização por meio de instrumentos legais.

Concluindo

E aí, pessoal? Será que nossos colegas vão agora institucionalizar a


seleção de medicamentos como prática corrente, científica, participativa
e organizadora da assistência farmacêutica? Obstáculos sempre
existirão, mas eles estão instrumentalizados, fortalecidos e engajados
no processo com concepções firmes sobre sua importância e forma de
realização – o que lhes permite buscar as estratégias para vencer os
obstáculos e identificar as oportunidades. E vocês, como se sentem?

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


167
Fazendo uma retrospectiva dos aspectos abordados, vejamos se
contemplamos os rumos de gestão defendidos no Curso:

• Ter projeto – um propósito – um resultado

Realizar seleção de medicamentos para promover o acesso


e o uso racional de medicamentos. O resultado é a lista de
medicamentos do estado, município ou serviço de saúde,
orientando prescritores para a utilização de medicamentos de
comprovada qualidade, efetividade e segurança, considerando o
menor custo para a comunidade.

• Ter recursos de toda a natureza

Necessidade de mobilizar as pessoas para a realização das


atividades – você lembra que tratamos da necessidade de
envolver os profissionais de saúde nas atividades? Além disso,
viabilizar a disponibilização de recursos financeiros, materiais e
de informação para que possamos sustentar o processo. Os
recursos de poder são fruto da nossa capacidade de sensibilizar
nossas instituições, colegas de trabalho e a comunidade para
a necessidade de realização da atividade, e dos benefícios
atingidos, sejam eles financeiros, administrativos ou de melhoria
de qualidade do serviço prestado à comunidade. Nos espaços
e com os atores de interlocução, a negociação de saberes, de
expectativas e de poderes é uma ferramenta fundamental para a
viabilização desta atividade.

• Construir a governabilidade, para conferir sustentabilidade.

O estabelecimento de parcerias dentro da nossa instituição e


com outras instituições – como a academia para participar da
discussão sobre o elenco de medicamentos; a divulgação do
elenco e dos critérios utilizados para defini-lo, que conferem a
necessária transparência criando uma relação de confiança entre
todos os envolvidos - profissionais dos serviços de saúde e os
usuários de medicamentos.

Procuramos aqui estabelecer a importância da participação dos


profissionais dos serviços de saúde, dos municípios, do estado; da
academia; do controle social (conselhos municipais e conselho estadual
de saúde), dos dirigentes das Secretarias e demais instâncias gestoras
do SUS (incluindo Comissões Bipartite e Tripartite), Ministério da Saúde,
Comissões de Seleção no âmbito nacional e local (Comare e CFT). A
participação de diferentes atores é fundamental para que o processo se
realize, seja formalizado e incorporado nos serviços de saúde.

168 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Análise Crítica

Podemos reforçar ainda os seguintes aspectos:

A Comare considera o possível impacto das mudanças da Rename


sobre a gestão e discute o uso racional de medicamentos, mas
seu trabalho é muito mais focado na elaboração de pareceres e
atualização da lista de medicamentos essenciais. Nos estados
e municípios, questões políticas, envolvendo a gestão do SUS,
em especial no que diz respeito à política de medicamentos e da
assistência farmacêutica, como a publicação de uma portaria que
altera o financiamento e a responsabilidade de aquisição de alguns
medicamentos implica diretamente no trabalho da CFT. Nessas
instâncias a CFT acaba atuando não só na seleção, mas de forma
mais direta na própria gestão do sistema, ao analisar mudanças
políticas, suas implicações nos serviços e propor protocolos de
tratamento locais ou formas de acesso. Pela maior proximidade com
os serviços, a vivência da necessidade de promoção do uso racional
e a discussão de formas de atingi-la estão mais presentes no seu
cotidiano de trabalho.

Após a seleção de medicamentos, condições devem ser viabilizadas


para que se faça o acompanhamento de sua utilização. Protocolos
de tratamento conectam a lista a informações essenciais de como
manejar doenças comuns, e são particularmente importantes quando
abordam enfermidades tratadas de maneira muito variada. Ao
serem elaborados, fundamentados na melhor evidência em saúde,
a variabilidade da prescrição de medicamentos é minimizada. Além
disso, esses protocolos possibilitam a disseminação da informação
sobre o tratamento a ser preconizado ao usuário, reduz os riscos
de ocorrência de indicações não adequadas, de períodos de
tratamento incorretos, doses mal utilizadas, bem como alertam sobre
a possibilidade de ocorrência de reações adversas a medicamentos
(WANMACHER, 2006). Constituem-se de estratégia para a promoção
do uso racional de medicamentos por meio de uniformização de
condutas sobre a utilização de fármacos disponibilizados pelos
serviços públicos de saúde e de educação continuada do prescritor.

Anotações

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


169
Com o volume cotidiano de trabalho, muitas vezes os pareceres sobre
solicitações judiciais de medicamentos são elaborados pela própria
gerência de assistência farmacêutica. Isso porque, geralmente,
o prazo de resposta solicitado pela justiça é exíguo e não permite
tempo suficiente para que a demanda seja encaminhada para análise
e parecer da CFT.

170 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Referências

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Aprova as normas de financiamento e execução do Componente
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BRASIL. Portaria GM/MS n. 2981, de 26 de novembro de 2009.


Aprova o Componente Especializado da Assistência Farmacêutica.
Brasília, DF. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, n. 228,
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BRASIL. Portaria GM/MS n. 3916, de 30 de outubro de 1998. Aprova


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Unidade 2 - Seleção de medicamentos


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172 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


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Unidade 2 - Seleção de medicamentos


173
AUTORES

Jardel Corrêa de Oliveira

É médico da família e comunidade. Tem especialização multiprofissional


em Saúde da Família pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), onde também obteve a graduação. Fez especialização em
Geriatria e Gerontologia pelo Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino
(IBRATE) e Universidade Estadual do Norte do Paraná/Jacarezinho
(FAEFIJA). Atua como médico e coordenador de um Centro de Saúde
do município de Florianópolis, que opera na Estratégia de Saúde da
Família. Na secretaria desse município, exerce atividade na gestão
como coordenador da Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT).
É membro da Câmara Técnica de Assistência Farmacêutica da CIB/
SC e tem experiência em atividades multidisciplinares no processo
de judicialização do direito à saúde. Além da CFT, atua na área de
seleção de medicamentos, como membro da Comissão Técnica e
Multidisciplinar de Atualização da Relação Nacional de Medicamentos
Essenciais - Comare, representando a Secretaria de Atenção à Saúde
do Ministério da Saúde (SAS/MS), e como membro da Comissão
Técnica e Multidisciplinar de Elaboração e Atualização da Relação
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (Comafito), pela
Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).
Participou também da subcomissão editorial do Formulário Terapêutico
Nacional 2010, importante desdobramento do trabalho da Comare
na promoção do uso racional de medicamentos, que apresenta as
monografias de todos os fármacos constantes da Rename 2010.

http://lattes.cnpq.br/1686462131403135

Rafael Mota Pinheiro

É farmacêutico formado pela Universidade Estadual de Londrina,


mestre em Farmacologia pela Universidade Federal de Santa Catarina
e doutor em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (com estágio sanduíche na Universidade de Heidelberg
- Alemanha). Trabalhou como docente concursado da Universidade
de Blumenau (Farmacologia Clínica) e supervisor de Estágio em
Farmácia (Saúde Coletiva e Farmácia Comunitária) na Universidade
Federal de Santa Catarina. Atualmente é professor de Assistência
Farmacêutica da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade
de Brasília. Tem experiência em seleção de medicamentos essenciais,
em estratégias de promoção do uso racional de medicamentos,
serviços farmacêuticos na Atenção Primária à Saúde e no uso de
evidências como orientadora de conduta.

http://lattes.cnpq.br/1043839432317392

174 Oliveira, Grochocki e Pinheiro Serviços farmacêuticos


Mônica Holtz Cavichiolo Grochocki

É farmacêutica, mestre em bioquímica e especialista em Atenção


Farmacêutica pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Foi
professora na Pontifícia Universidade Católica (onde se especializou
em Didática do Ensino Superior) e no Departamento de Farmácia
da UFPR. Em 2007 passou a integrar a equipe do Centro de
Medicamentos do Paraná - CEMEPAR, como gestora do SISMEDEX
(Sistema de Informação do Componente Especializado da Assistência
Farmacêutica), atuando na estruturação e organização dos serviços
e capacitação dos profissionais da assistência farmacêutica. É
coordenadora do curso de especialização em Gestão da assistência
farmacêutica presencial (financiado pelo Ministério da Saúde),
na Escola de Saúde Pública do Paraná. Em fevereiro de 2011
assumiu a Direção Técnica do Consórcio Intergestores Paraná
Saúde, responsável pela aquisição de medicamentos da Assistência
Farmacêutica na Atenção Básica para os municípios consorciados do
Paraná. Desenvolve atividades relacionadas à tecnologia educacional
desde 1996 e considera a estratégia de aplicar esta tecnologia à
assistência farmacêutica de extrema importância para o avanço na
qualificação dos farmacêuticos no nosso imenso país.

http://lattes.cnpq.br/8995010853145433

Unidade 2 - Seleção de medicamentos


175
Unidade 3
UNIDADE 3 - PROGRAMAÇÃO, AQUISIÇÃO, AR-
MAZENAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE MEDICA-
MENTOS

Ementa da Unidade

• Definição e objetivo da programação de medicamentos.

• Métodos de programação.

• Controle e gestão de estoques de medicamentos.

• Definição e objetivo da aquisição.

• Financiamento da aquisição de medicamentos no serviço público.

• Modalidades de licitação pública.

• Princípios e fases da licitação pública.

• Elaboração do edital de licitação.

• Definição e objetivo do armazenamento e distribuição dos


medicamentos.

• Central de abastecimento farmacêutico.

• Procedimentos de armazenagem e distribuição de medicamentos.

• Resíduos de saúde.

Objetivos específicos de aprendizagem

• Desenvolver a atividade de programação de medicamentos.

• Conhecer os diferentes métodos de programação de


medicamentos.

• Reconhecer os conceitos fundamentais para o controle de


estoques de medicamentos.

177
• Reconhecer os conceitos fundamentais da atividade de
gerenciamento de estoques de medicamentos.

• Compreender o objetivo da aquisição, bem como a forma de


pactuação e o financiamento da aquisição de medicamentos no
serviço público.

• Conhecer as diferentes modalidades de licitação pública.

• Conhecer os princípios constitucionais e as fases do processo


de licitação.

• Elaborar edital de licitação de medicamentos.

• Desenvolver atividades de armazenamento e de distribuição de


medicamentos.

• Conhecer e organizar a central de abastecimento farmacêutico.

• Conhecer a maneira correta de realizar o descarte de resíduos


de saúde.

Apresentação

Olá! Seja bem-vindo à unidade Programação, aquisição,


armazenamento e distribuição de medicamentos. Para abordar de
forma clara o conteúdo desta unidade, nós organizamos o texto da
seguinte maneira: nas lições 1 a 4 discutiremos como desenvolver a
atividade de programação nos serviços públicos, de modo a minimizar
faltas e sobras de medicamentos. Nas lições 5 a 8 abordaremos as
etapas de aquisição dos medicamentos, de modo a esclarecer os
trâmites burocráticos desse processo. E, por fim, nas lições 9 a 12
apresentaremos os cuidados no armazenamento e na distribuição,
para evitar perdas e organizar o estoque de medicamentos; e o
manejo dos resíduos de saúde.

Nós descreveremos alguns conceitos importantes e algumas


orientações para a realização dessas atividades, mas, para cada uma
delas, é necessário que você faça o exercício de pensar: Como é
isso no meu município? Como posso aplicar esses conceitos? O que
preciso mudar? Quais são os atores envolvidos?

Nesta unidade faremos uma atividade onde você identificará e analisará


aspectos das etapas de programação, aquisição e distribuição
de medicamentos no seu serviço, seja na esfera municipal,
federal ou estadual.

Bons estudos!

178 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Conteudistas responsáveis:

Carine Raquel Blatt


Célia Maria Teixeira de Campos
Indianara Reynaud Toreti Becker

Conteudista de referência:

Carine Raquel Blatt

Conteudistas de gestão:

Silvana Nair Leite


Maria do Carmo Lessa Guimarães

179
ENTRANDO NO ASSUNTO

Contextualizando

Vamos começar nosso estudo com uma busca por reportagens que nos
mostrem diferentes realidades e situações pertinentes aos transtornos
causados pela falta e pelo excesso de medicamentos nos serviços
públicos. Acesse a internet, digite as palavras “falta de medicamentos”
e veja o que você encontra.

Os exemplos de reportagens que você encontrou são recorrentes


nos meios de comunicação. Isso lembra alguma coisa para você?
Provavelmente, problemas de falta de medicamentos são frequentes
no seu dia a dia.

Vamos fazer uma reflexão sobre essa situação:

• Na sua unidade de saúde também há falta de alguns


medicamentos e excesso de outros? Se sim, por que será que
isso acontece?

• Você pensa que o processo de aquisição é muito complicado e


burocrático?

• Será correto jogar medicamentos no lixo devido ao prazo de


validade expirado ou por manipulação ou estocagem inadequada?

Bem, esses temas serão objeto de estudo das próximas lições.

Existem inúmeras evidências do aumento crescente dos gastos em


saúde, sendo que os medicamentos são responsáveis por uma grande
parcela desse custo. Relatório do Banco Mundial, resultante de estudo
que avaliou a governança no SUS, aponta que o gerenciamento da
logística de medicamentos absorve cerca de 20% dos recursos
financeiros da saúde, podendo ser a causa principal da ineficiência e
perda (BANCO MUNDIAL, 2007).

Antes de continuar a leitura da unidade, reflita, ainda, sobre os


questionamentos a seguir.

180 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Reflexão

Se os recursos financeiros são finitos, por que, geralmente, o serviço


público é apontado como ineficiente? Como podemos melhorar a
logística que envolve os medicamentos no setor público?

As atividades de programação, aquisição, armazenamento e


distribuição são atividades gerenciais que exigem adequado
planejamento. Essas atividades estão intrinsecamente relacionadas
e exigem do farmacêutico, além do conhecimento técnico, o
conhecimento de gestão de recursos financeiros, materiais e humanos.

Isso mesmo! Alguns farmacêuticos precisam assumir atividades


gerenciais que envolvem a administração de recursos humanos e
financeiros. Além disso, é comum ouvirmos a afirmação de que, em
saúde, as necessidades são infinitas e os recursos são finitos. Partindo-
se da premissa que os recursos financeiros são finitos, torna-se ainda
mais importante a utilização dos recursos com maior eficiência.

Lição 1 – Programação: Definição e objetivo da programação de


medicamentos

Nesta primeira lição, que diz respeito à etapa de programação, vamos


abordar o tema iniciando pela definição e pelos objetivos e depois
apresentando formas de se fazer uma programação, salientando sua
importância como atividade de planejamento e gestão. Ao final da
lição, você deverá reconhecer as etapas para desenvolver a atividade
de programação de medicamentos.

Na gestão da assistência farmacêutica, a programação de


medicamentos e o gerenciamento de estoques são atividades-chave
por suas relações com o nível de acesso aos medicamentos e com
o nível de perdas desses produtos. Vamos entender de forma mais
detalhada o que envolve uma programação de medicamentos.

O que é mesmo programação?

Programar é definir os quantitativos dos medicamentos, selecionados


previamente, que devem ser adquiridos, de modo a evitar a
descontinuidade do abastecimento por um determinado período de
tempo.

181
Nesse sentido, o objetivo principal da programação é manter o
abastecimento de medicamentos das farmácias das unidades
de saúde, compatibilizando os recursos disponíveis com as
necessidades.

Vamos checar o que mostram os dados. No quadro a seguir, você


pode verificar o resultado de um estudo que utilizou a proposta de
avaliação da Organização Mundial de Saúde – OMS. Esse estudo
avaliou a disponibilidade de medicamentos, a porcentagem de
medicamentos prescritos e dispensados e o tempo médio de
desabastecimento em unidades de saúde, centrais de abastecimento
farmacêutico municipais e estaduais em cinco estados brasileiros
(Espírito Santo, Goiás, Pará, Rio Grande do Sul e Sergipe). Os dados
foram obtidos de dois municípios por estado, selecionados por
sorteio (BRASIL, 2005):

Unidades Centrais de abastecimento Centrais de abastecimento


de saúde farmacêutico municipais farmacêutico estaduais
Disponibilidade dos
73% 76% 77%
medicamentos principais
Porcentagem de medicamentos
prescritos, dispensados ou 66% -- --
administrados
Tempo médio de
84 dias 74 dias 128 dias
desabastecimento

Quadro 1– Disponibilidade dos medicamentos em unidades e centrais de abastecimento.


Fonte: Adaptado de Brasil, 2005.

Medicamentos traçadores: 1 Outro inquérito realizado no estado de Minas Gerais, utilizando a mesma
são medicamentos metodologia, apresentou o percentual médio de disponibilidade do
selecionados dentro de conjunto de medicamentos traçadores1 em almoxarifados públicos
um determinado conjunto (n=14) de 52,0% e em unidades públicas (n=14) de 46,9% (GUERRA
de medicamentos para a JR et al., 2004). Esses dados reforçam que a baixa disponibilidade
avaliação em questão. Os dos medicamentos essenciais no setor público é preocupante.
medicamentos traçadores
podem ser selecionados por Outro exemplo a considerar é a pesquisa realizada por Vieira
classe, por demanda ou por (2008), com 597 municípios selecionados (10,7% dos municípios
importância de uso. brasileiros), em que se verificou a falta de medicamentos em 24%
desses municípios. Em 13% dos municípios foram encontrados
medicamentos vencidos e em 71% foi constatada a falta de controle
de estoque ou sua deficiência.

Vieira e Bousquat (2008) apontam duas características administrativas


que podem contribuir para as deficiências na programação: (1) a
falta de treinamento dos funcionários no controle de estoque e (2) a
ausência de funcionários fixos.

182 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


O rodízio de auxiliares de enfermagem e técnicos de farmácia nas
farmácias de unidades de saúde pode levar à falta de vínculo e ao
descompromisso com a função.

A ausência ou deficiência de programação e controle de estoque


indica que a aquisição de medicamentos é realizada sem a
utilização de parâmetros concretos para a mensuração da oferta
conforme a demanda. Dessa forma, os medicamentos podem ser
adquiridos em quantidade muito superior à necessária, levando
a perdas e desperdícios de recursos públicos, resultantes da
necessidade de descartar produtos com prazo de validade expirado.
Sem considerar a demanda, também é possível a aquisição
insuficiente de medicamentos, prejudicando o acesso da população
e, consequentemente, a efetividade do cuidado à saúde. O
agravamento dessa situação culmina na falta de medicamentos, que
pode constituir-se um dos motivos pelos quais os cidadãos buscam
a via judicial para assegurar o seu direito de acesso a medicamentos.

Estudos recentes demonstram que um percentual elevado de


medicamentos solicitados judicialmente está presente na lista do
Componente Básico ou no Componente Especializado da Assistência
Farmacêutica.

Vieira e Zucchi (2007) apontam, em estudo realizado no município de


São Paulo, que esse percentual chegou a 62%. Em uma pesquisa
realizada no estado de Santa Catarina, o percentual foi de 40%
(PEREIRA et al., 2010).

Reflexão

Você conseguiria apontar quais as fragilidades existentes na sua


programação? Comece por fazer uma reflexão a respeito das questões
a seguir:
Existe controle informatizado de estoque? Os dados existentes são
confiáveis? Você tem acesso aos dados tempestivamente? Como é o
processo de programação? Quais são as pessoas responsáveis pela
programação?

183
Refletir sobre o processo de programação leva-nos a ponderar sobre
a questão da diferença entre necessidade e consumo.

Você tem conhecimento de que necessidade é diferente de consumo?


Muitos serviços não têm registro dos medicamentos que estão em falta
ou que não são disponibilizados à população (demanda não atendida),
ou ainda a programação é baseada apenas no consumo, o que, algumas
vezes, pode não refletir a real necessidade daquele medicamento.

As necessidades de medicamentos se originam nas unidades


de saúde, em consultas com especialistas ou nos hospitais e são
resultantes do perfil das doenças da população, e não devem ser
confundidas com o consumo de medicamentos. Quando o usuário
vai à farmácia e o medicamento que estava prescrito está em falta
naquele momento, ele teve uma necessidade que não foi atendida.

Muitas vezes, programamos a aquisição de medicamentos


considerando o que foi dispensado (consumido) e não computamos
o que deveria ter sido dispensado, mas que, por algum motivo, não o
foi. Lembre-se de computar a necessidade de medicamentos na sua
próxima programação.

A programação é uma atividade associada ao planejamento, por isso


recomenda-se que seja descentralizada e ascendente. Mas, o que
isso significa?

Significa que é preciso conhecer as necessidades e o consumo de


cada unidade de saúde para estimar a necessidade do município.
Por isso, a qualidade da informação é muito importante para
uma programação satisfatória. Pensando assim, quais são as
informações necessárias para uma adequada programação?

• A primeira informação refere-se a quais medicamentos estão


padronizados nos diferentes níveis de serviço do município.
A padronização dos medicamentos é definida pela Comissão de
Farmácia e Terapêutica (CFT), conforme estudado na unidade 2
do Módulo 4 – Seleção de medicamentos. Por isso, um bom
processo de comunicação intersetorial é importante para evitar
faltas e desperdícios. O farmacêutico ou o setor responsável pela
programação deve ser avisado sempre que um medicamento
for excluído da lista ou incluído nela. Da mesma maneira, é

184 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


importante prever um aumento de demanda se novos serviços
estão para ser implantados no município.

• A segunda informação é saber qual processo de aquisição é


adotado pelo município e qual a periodicidade das compras.
Confira as modalidades de aquisição nas próximas lições.

• terceira informação é estimar as quantidades a serem


A
programadas. Os profissionais farmacêuticos responsáveis pelo
dimensionamento dos estoques costumam reclamar em relação ao
grau de incerteza que envolve a programação de medicamentos,
reforçando a necessidade de utilização de ferramentas que
possibilitem, no mínimo, planejar com maior precisão e aliviar os
transtornos causados pela falta ou pelo excesso de produtos
estocados. Talvez essa seja a mais árdua tarefa da programação,
pois exige um conjunto de informações fidedignas em relação
ao estoque e consumo dos medicamentos e/ou a dados
epidemiológicos de morbidade (taxa de portadores de determinada
doença em relação à população total estudada em determinado
local e em determinado momento). Nesse caso, um bom sistema
informatizado e adequadamente alimentado é uma importante
ferramenta. Se você não tiver um sistema informatizado, elabore
alguns formulários e/ou tabelas para auxiliá-lo no levantamento de
dados. Vamos discutir mais sobre isso ao longo desta unidade.

• A quarta informação é definir a quantidade de medicamentos a


ser adquirida. Uma vez que se deve considerar a quantidade de
medicamentos em estoque, as compras que estão para serem
entregues e a demanda até a data de recebimento da próxima
compra.

• A quinta informação, e não menos importante que as anteriores,


é a estimativa de orçamento para o processo licitatório. Para
tal, é necessário multiplicar as quantidades estimadas para o
período programado, pelo valor unitário de cada medicamento. A
estimativa de preço, de acordo com a Lei n. 8666/93 é obrigatória,
e segundo orientação do Tribunal de Contas da União (TCU),
deve ser feita considerando registros de compras efetuadas
(como é o caso da última compra e do Banco de Preços do
Ministério da Saúde (BPS/MS) e também a cotação no mercado.
O orçamento é muito importante para dar andamento ao
processo de aquisição. Convém ressaltar que a reserva de verba
e a autorização da aquisição é realizada a partir da programação.

Vamos visualizar agora as etapas da programação de medicamentos.

185
Definir a equipe de trabalho
Quem alimentará o sistema de informação, ou quem repassará as informações sobre
a necessidade de medicamentos nas unidades de saúde?

Estabelecer normas e procedimentos


Qual o fluxo e o prazo para o conhecimento dessas informações?

Levantar dados e informações necessárias ao processo


Qual a lista de medicamentos selecionados?
Qual a posição de estoque?
Existe algum pedido para ser entregue? Existe algum quantitativo de medicamento
com prazo de vencimento próximo?
Existe previsão de abertura de alguma unidade de saúde ou contratação de novos
profissionais?
Quais recursos estão disponíveis?
Existe diferença de sazonalidade na necessidade de medicamentos nas unidades?
Existem protocolos de tratamento para algumas doenças específicas?
Para quanto tempo devo programar?
Quanto tempo demora o processo entre a programação, a compra e a entrega dos
medicamentos?

Elaborar a programação

Acompanhar e avaliar

Fluxograma 1 - Etapas da programação de medicamentos.

Lição 2 - Programação: Métodos de programação

Nesta lição você irá conhecer sobre a programação e os métodos:


método consumo histórico, método perfil epidemiológico, método
oferta de serviços e método consumo ajustado. Assim, ao final
desta lição, você, aluno, deverá estar apto a conhecer os
diferentes métodos de programação de medicamentos.

A maioria das instituições públicas costuma utilizar o método de


consumo histórico para a programação de medicamentos. Contudo,
existem outros métodos de programação que também podem ser
utilizados. Cada método apresenta vantagens e desvantagens, além
das situações em que um método pode ser mais adequado que o

186 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


outro, principalmente quando não se dispõe de informações fidedignas
sobre o consumo histórico. Observa-se, também, que o uso de um
único critério técnico pode permitir a manutenção de erros contínuos
de fornecimento, por isso recomenda-se ajustar a combinação dos
vários métodos para se obter uma programação mais adequada.

Método consumo histórico

Consiste na análise do comportamento do consumo de


medicamentos, em uma série histórica no tempo, possibilitando
estimar as necessidades. Devem-se excluir perdas, empréstimos e
outras saídas de produtos não regulares.

A vantagem deste método é que não requer dados de morbidade e


de esquemas terapêuticos, além de que os cálculos são simplificados.

Dentre as desvantagens, podemos citar: a dificuldade na obtenção de


dados de consumo fidedignos e/ou que retratem a real necessidade;
a não confiabilidade quando ocorrem períodos prolongados
de desabastecimento; o fato de que pode não corresponder
às necessidades sanitárias do momento e o uso irracional de
medicamentos pode ser perpetuado (MARIN et al., 2003).

Requisitos:

• Registros de movimentação de estoques (entradas, saídas,


estoque);

• Dados de demanda (atendida e não atendida);

• Inventários com informações de pelo menos 12 meses, incluídas


as variações sazonais (alterações na incidência das doenças
decorrentes das estações climáticas).

Como calcular:

• Efetuar levantamento de dados: série histórica representativa do


consumo no tempo de, pelo menos, 12 meses;

• Calcular o consumo de cada medicamento: somar as quantidades


consumidas e dividir o resultado pelo número de meses de
utilização.

Exemplo: O consumo de comprimidos de norfloxacino 400 mg


ocorrido nos últimos 12 meses em uma unidade básica de saúde
do município foi de: 570, 630, 750, 680, 740, 710, 690, 640, 670,
720, 700 e 660. Calcular o consumo médio mensal pelo método do
consumo histórico (CMM).

187
Solução:

CMM = (570 + 630 +750 + 680 + 740 + 710 + 690 +640 + 670 +720 +700 + 660)
12

CMM = 680 comprimidos

Se durante o período analisado ocorreu o desabastecimento da


unidade de saúde, o consumo médio mensal deve ser calculado
usando, no denominador, apenas os meses em que os medicamentos
estavam disponíveis.

Método perfil epidemiológico

Baseia-se, fundamentalmente, nos dados de morbidade das doenças


para as quais os medicamentos padronizados são utilizados.
Este método considera os dados populacionais de prevalência ou
incidência da doença, os medicamentos padronizados e os esquemas
terapêuticos comumente utilizados para esses medicamentos.

A vantagem deste método é poder ser utilizado quando não


existem informações sobre o consumo. Pode ser útil quando ocorre
a padronização de um novo medicamento, tendo o cuidado para
considerar a confiabilidade dos dados epidemiológicos de frequência
da doença.

A desvantagem situa-se na disponibilidade e confiabilidade desses


dados epidemiológicos.

Como calcular:

• Identificar o problema de saúde;

• Verificar os dados de incidência e prevalência das doenças


nas diferentes faixas etárias. Geralmente, usa-se prevalência
para doenças crônicas como diabetes mellitus e hipertensão e,
incidência, para doenças infecciosas como conjuntivite ou diarreia;

• Verificar qual a capacidade de cobertura da doença nos serviços


públicos, uma vez que nem todos os indivíduos são atendidos
no SUS;

• Identificar a posologia e o tempo de tratamento para o


medicamento padronizado;

• Calcular a necessidade mensal.

188 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Exemplo: A população do município de Água Fria/BA2, segundo 2 Para fins didáticos de busca
a estimativa do IBGE (BRASIL, 2010a), é de 14.966 habitantes e a de dados epidemiológicos
incidência de conjuntivite é de 3% da população ao ano. O tratamento utilizaremos o município de
é feito utilizando-se cloranfenicol 4 mg, colírio (frascos contendo 10 Água Fria, na Bahia, ao qual
mL). A posologia é pingar, diretamente no saco conjuntival do olho iremos nos referir ao longo
afetado, 2 a 3 gotas, 3 vezes ao dia (1 frasco por tratamento). Calcular a do texto. Todas as demais
quantidade de frascos do colírio para atender as necessidades mensais informações são fictícias.
do serviço ambulatorial de oftalmologia que será implantado na unidade
de pronto atendimento (UPA) no município, utilizando o método do perfil
epidemiológico. A capacidade de cobertura dos serviços será de 50%.

Solução:

Necessidade mensal = nº de usuários x percentual de pessoas que


usam o medicamento x consumo/dia x nº dias no mês x percentual
de cobertura.

Necessidade mensal = (14.966 x 0,03 x 1 x 0,5)/12 = 19 frascos.

Observação: no exemplo descrito, foi usado o consumo de 1 frasco


por período de tratamento, desta maneira, excluiu-se da fórmula
o número de dias no mês em uso do medicamento. O cálculo foi
dividido por 12 para que seja obtida a necessidade mensal, uma vez
que a incidência informada para conjuntivite foi anual

Método oferta de serviços

Baseia-se na estimativa de medicamentos em função da


disponibilidade de serviços ofertados à determinada população-
alvo. Não pode ser aplicado para doenças que não possuem serviço
de registro e acompanhamento de usuários porque é dependente
dessas informações. Este método pode ser útil para as patologias
hipertensão e diabetes mellitus; para doenças de notificação
compulsória; e para doenças específicas que o município possui
centro especializado de atendimento.

Apresenta a vantagem de não depender de dados de consumo


histórico. Tem como desvantagem que a estimativa pode ser
subestimada, dependendo do grau de cobertura do serviço. Por
exemplo, pode-se utilizar os dados do DATASUS – SIS/HIPERDIA
para identificar o número de usuários com hipertensão e diabetes, o
que destaca a importância de um bom sistema de informação e com
informações confiáveis.

189
Como calcular:

• Inicialmente deve-se levantar a informação do registro de usuários


ou de atendimentos na rede de serviços para aquela patologia,
em um determinado período de tempo;

• Identificar a posologia e o tempo de tratamento para o


medicamento padronizado.

Exemplo: O número de usuários hipertensos do município de


Água Fria/BA cadastrados no programa DATASUS – SIS/HIPERDIA
(BRASIL, 2010b) é de 1.114 usuários. Destes, 334 fazem uso de
comprimidos de maleato de enalapril 10 mg, 2 vezes ao dia, sendo
que somente 234 retiram o medicamento nas unidades de saúde.
Calcular a previsão de consumo do medicamento para 12 meses
pelo método oferta de serviços.

Solução = número de casos estimados para o atendimento x


quantidade de comprimidos necessária ao esquema terapêutico
proposto x período de tempo (meses ou anos).

Solução = 334 x 2 x 30 x 12 = 240.480 comprimidos.

Método consumo ajustado

Aplicado em situações em que não se tem disponibilidade alguma


de dados (consumo, demográficos e epidemiológicos). Pode ser
útil para projeção de necessidades orçamentárias em unidades de
saúde. Nesses casos, podem-se extrapolar dados de consumo por
comparação a outras áreas/populações semelhantes. No Brasil, o
registro de morbidade é incompleto, geralmente há falta de dados
importantes.

A desvantagem deste método está na estimativa grosseira da


demanda, pois não levam em consideração quaisquer parâmetros
locais.

Como calcular:

• Selecionar o serviço ou a área considerada padrão (local e


condições semelhantes aos da área ou serviço para o qual se
deseja extrapolar os dados;

• Determinar o período em que se fará a revisão de dados;

• Determinar o denominador a ser utilizado para o serviço padrão


(ex: nº de habitantes);

190 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


• Determinar a taxa de consumo para cada medicamento no
serviço padrão;

• Extrapolar a taxa de consumo para a unidade-alvo, multiplicando


essa taxa pelo número de habitantes da unidade-alvo.

Exemplo: Calcular a quantidade de frascos do colírio solução


oftálmica de tobramicina 3 mg para atender as necessidades mensais
do serviço ambulatorial de oftalmologia, que será implantado em uma
unidade de pronto atendimento (UPA), no município de Água Fria/
BA, com 14.966 habitantes, segundo estimativa do IBGE (BRASIL,
2010a), utilizando o método do consumo ajustado. Convém ressaltar
que, segundo o levantamento das fichas cadastrais dos usuários em
tratamento com o medicamento de uma UPA, em um município da
região, com 12.567 habitantes, o consumo é de 35 frascos.

Solução:

Número de casos no município da região: 35 frascos – 12.567 habitantes


X – 14.966 habitantes
X = 42 frascos/ mês

O município, por muitos anos, teve alguns problemas com o processo


de programação dos medicamentos. Atualmente, o farmacêutico
responsável pela elaboração da programação formou uma comissão
para auxiliá-lo nas tarefas. Fazem parte desta comissão o farmacêutico
da unidade de pronto atendimento (UPA), o farmacêutico responsável
pela central de abastecimento farmacêutico e um farmacêutico de uma
unidade de saúde. Esses membros da comissão trazem dados com
diferentes combinações que auxiliam no ajuste do pedido, conforme as
necessidades do município, identificando o aumento e o decréscimo da
demanda nos diferentes níveis de atendimento. E para você? Qual a sua
equipe? Quem pode auxiliar na sua programação?

Medicamentos para uso em doenças crônicas, como o captopril e


a metformina, possuem uma demanda constante nas unidades de
saúde. Programar uma quantidade maior desses medicamentos não
será desperdício de recursos, pelo contrário, muitas vezes representa
uma antecipação à demanda crescente para o consumo desses
medicamentos nas unidades de saúde.

191
Lição 3 - Programação: Controle de estoque

Nesta lição será abordado o tema controle de estoque, em que você verá
as características deste controle no formato manual e no informatizado.
Também conhecerá o inventário e alguns conceitos fundamentais para
o controle de estoque. Com esta organização de estudos, esperamos
que, ao final da lição, você seja capaz de reconhecer os conceitos
basilares para o controle de estoques de medicamentos.

Como você pode perceber no seu cotidiano, o dimensionamento e o


controle de estoques de medicamentos são fatores decisivos para o
sucesso ou fracasso da gestão da assistência farmacêutica, estando
intimamente relacionados com as faltas e os desperdícios. Portanto,
descobrir fórmulas para reduzir estoques sem afetar o processo e
sem o crescimento de custos é um dos maiores desafios.

Como realizar o controle de estoques?


- Definindo rotinas;
- Estabelecendo prioridades;
- Realizando o gerenciamento das informações.

Uma administração adequada do serviço deve disponibilizar um


sistema eficiente de controle de estoque, que apresente, de maneira
satisfatória, informações sobre a posição dos estoques, os dados
de consumo, a demanda, o percentual de cobertura, os gastos
efetuados com medicamentos e o quantitativo financeiro de perdas
de medicamentos na rede de saúde.

Sem informação não há gerenciamento!

Para perfeito gerenciamento dos materiais é imprescindível o exercício


do controle físico e registro de todas as operações realizadas (entradas
e saídas), o que possibilita informações precisas a respeito do saldo
existente em estoque. Todas as informações são imprescindíveis
para um adequado processo de programação.

192 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Lembre-se de que o controle de estoque deve ser realizado na central
de abastecimento farmacêutico (CAF) e também nas unidades de saúde
onde há armazenamento e dispensação de medicamentos.

A forma de controle adotada para a obtenção de informações


referentes ao estoque de medicamentos pode ser manual ou
informatizada.

Controle de estoque manual

O controle de estoque manual é realizado, ao final de cada mês, por


meio da utilização de ficha de prateleira e confronto dos registros
realizados com o estoque físico. Para ser efetivo, alguns dados são
obrigatórios na ficha de prateleira. Veja, a seguir, os principais:

• Identificação do produto: especificação (nome, forma


farmacêutica, concentração e apresentação) e código do
medicamento.

• Dados da movimentação do produto: quantidade (recebida e


distribuída), dados do fornecedor e do requisitante (procedência/
destinatário e número do documento), lote, validade, preço
unitário e total.

• Dados do produto: consumo mensal, estoque máximo e mínimo


e ponto de reposição.

Pode-se gerar, se a administração da CAF julgar necessário, um duplo


controle de estoque. Dessa forma, teremos uma ficha de prateleira
(apenas com registro de movimentação do estoque), colocada junto
a cada material, e uma ficha de controle de estoque, em que se
registram, além das transações propriamente ditas, os níveis de
estoque (máximo e mínimo) e de segurança e outras informações a
critério da CAF.

As fichas de controle devem ser organizadas em ordem alfabética


(nome genérico), datadas e assinadas. Ao término de cada mês,
devem-se somar as entradas e saídas e confrontar os valores
encontrados nas fichas com o estoque físico (quantidade armazenada
na prateleira), corrigindo possíveis distorções e atualizando-as. Para
facilitar o processo e evitar erros, o registro das entradas e saídas
deve ser feito com cores diferenciadas (entradas: cor vermelha;
saídas: cor azul ou preta).

193
Controle informatizado

A introdução de sistemas informatizados tem a finalidade de fornecer


as informações necessárias em tempo real, além de modernizar os
procedimentos. Dentre os benefícios advindos com a informatização
pode-se citar:

• Agilidade do processo de tomada de decisão;

• Criação de um banco de dados confiável;

• Aumento da velocidade de localização das informações e


diminuição da manipulação de grande quantidade de documentos.

Lembre-se de que o sistema informatizado tem por fim facilitar o


gerenciamento e fornecer informações confiáveis e tempestivas. Se o
seu sistema não preenche esses requisitos, é necessário rever e planejar
adequadamente. Muitas vezes, quem cria um sistema informatizado não
conhece as informações de que o farmacêutico precisa para o controle
de estoque. Acompanhar a criação do sistema e fazer sugestões de
melhoria deve ser obrigação do profissional farmacêutico.

Além disso, informações corretas são imprescindíveis, por isso


quem alimenta o sistema deve receber capacitação adequada para
tal tarefa. Da mesma maneira, periodicamente deve ser realizada a
conferência e o acerto das divergências entre o estoque físico e o
estoque registrado no sistema informatizado.

Existem vários sistemas informatizados para gerenciamento de


estoques, porém, para informatizar os estoques, é necessário, em
primeiro lugar, organizar o serviço.

ATENÇÃO: O sistema informatizado só moderniza o processo. Se não


existir um controle eficaz, esse sistema não irá solucionar os problemas,
pelo contrário, poderá aumentá-los.

Hoje, é disponibilizada uma série de softwares de gerenciamento de


estoques de medicamentos, plenamente exequíveis e adaptáveis a

194 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


qualquer serviço que se disponha a implementar.

Destacamos aqui o Hórus – Sistema Nacional de Gestão da


Assistência Farmacêutica - por ser um sistema informatizado de
controle de estoque desenvolvido e distribuído gratuitamente pelo
Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos
do Ministério da Saúde – DAF/MS. O Hórus tem como objetivo
contribuir com a gestão da assistência farmacêutica, por meio da
informatização dos almoxarifados/CAFs e farmácias/unidades de
saúde para auxiliar no planejamento, monitoramento e avaliação
das ações da assistência farmacêutica. O sistema permite, entre
outras funcionalidades, o controle de estoque, a rastreabilidade
dos medicamentos distribuídos e dispensados, o agendamento
das dispensações e o conhecimento do perfil de consumo. Além
disso, possibilita o acompanhamento do uso dos medicamentos
e a geração de dados para o desenvolvimento de indicadores de
assistência farmacêutica que auxiliem no planejamento, na avaliação
e no monitoramento das ações nessa área.

Por meio da internet é possível aderir ao sistema Hórus.

Link

Saiba como aderir ao sistema Hórus, acessando:


http://www.saude.gov.br/horus

Inventário

O inventário é a contagem física dos estoques para verificar se a


quantidade de medicamentos estocada coincide com a quantidade
registrada nas fichas de controle ou no sistema informatizado.

A realização do inventário permite verificar as divergências entre os


registros e o estoque físico, além de possibilitar a avaliação do valor

195
total (contábil) dos estoques para efeito de balanço ou balancete, no
encerramento do exercício fiscal.

O inventário deve ser realizado no término de um ano de trabalho, ou


sempre que o responsável se ausentar das funções, ao deixar e/ou
assumir um novo cargo ou função.

A periodicidade do inventário pode ser:

• Diária: de forma aleatória, para monitorar os produtos de controle


especial, medicamentos classificados como A da curva ABC, ou
os medicamentos classificados como P da curva PQR, que serão
discutidos na próxima lição.

• Semanal: contagem por amostragem seletiva de 10% a 20%


dos estoques.

• Trimestral: contagem para conferência do estoque, que pode


ser por amostragem ou do totalizador.

• Anual: obrigatoriamente, ao final de cada ano-exercício, para


atualização dos estoques e prestação de contas.

Para realização do inventário, deve haver um planejamento prévio.


Veja a seguir.

Como realizar o inventário?

• Elaborar um instrumento padrão (formulário), com as


especificações de todos os produtos, lote, validade, quantidades
previstas, quantidades em estoque, diferenças (para mais e para
menos) e percentual de erros;

• Determinar o período para realização do inventário;

• Designar os profissionais responsáveis para contagem;

• Proceder à arrumação física dos produtos, para agilização da


contagem;

• Retirar da prateleira os produtos vencidos ou prestes a vencer,


bem como os deteriorados e dar baixa nos estoques;

• Comunicar, por escrito, aos interessados (administração e


usuários) a data de início e finalização do inventário;

196 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


• Atender a todos os pedidos pendentes antes do início do
inventário;

• Revisar as fichas de controle, somando entradas e saídas (se o


controle for manual);

• Realizar a contagem. Cada item deve ser contado duas vezes.


A segunda contagem deve ser feita por uma equipe revisora
(diferente da primeira). No caso de divergência deve ser feita uma
terceira contagem;

• Confrontar o estoque registrado nas fichas com o estoque físico;

• Atualizar o registro dos estoques, fazendo os ajustes necessários;

• Elaborar relatório e encaminhar cópias às áreas competentes.


Pode-se registrar como indicador o número de itens com estoque
divergente entre o estoque físico e o valor do sistema de controle
de estoque;

• Quando muitas diferenças são encontradas, deve-se buscar


identificar suas causas e possibilidades de correção.

Recomendações

• O inventário deve ser realizado em período em que não ocorra


atendimento simultaneamente.

• As entradas e saídas devem ser lançadas somente após a


finalização do inventário, para evitar risco de dupla contagem do
mesmo produto.

No caso de divergência nos estoques:

• Registrar a ocorrência;

• Rastrear as notas fiscais de entrada, os documentos de saída,


os registros de ocorrência de devolução, o remanejamento, as
perdas e a validade vencida, para identificar as possíveis falhas;

• Revisar a soma de entradas e saídas das fichas de controle, para


avaliar se houve erro na soma ou nos registros etc;

• Em caso de desvio de medicamentos, comunicar, por escrito, à


área competente, para as providências cabíveis.

197
Alguns conceitos importantes para o controle de estoque

Nesta parte da lição, você verá os principais conceitos relacionados


ao controle do estoque. Fique atento, esses são conceitos que devem
estar claro para você, pois serão recorrentes no processo de gestão.

Consumo médio mensal (CMM)

É a média dos consumos mensais de cada produto num certo


período de tempo.

CMM= ΣCM : NM
CMM = consumo médio mensal
CM = consumo de cada mês
NM = número de meses

Exemplo: determinação do consumo de unidades de comprimidos


de captopril 25mg durante 12 meses.

Mês J F M A M J J A S O N D
Quantidade 1222 807 1022 1200 1390 1350 1345 1334 1345 1356 1358 1367

Solução:

CMM = (1222 + 807 + 1022 + 1200 + 1390 + 1350 + 1345 +1334


+ 1345 + 1356 + 1358 + 1367) /12
CMM = 1258 comprimidos

Média aritmética móvel

É a média de certa quantidade de dados. Consiste em utilizar como


previsão para o período seguinte, calculando-se a média dos valores
de consumo nos n anteriores.

CM = (C1 + C2 +C3 +......Cn) : n


CM = consumo médio
C = consumo nos períodos anteriores
n = número de períodos

A escolha do valor de n é arbitrária e experimental.

Qual a diferença entre média aritmética móvel e consumo médio


mensal?
A média aritmética é dita móvel porque, a cada novo tempo, é
considerado um novo dado e abandona-se o mais antigo, isto é, a

198 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


quantidade de dados é sempre constante o que faz com que seja
abandonado sempre o primeiro dado da série. O consumo médio
mensal (CMM) é a média dos consumos mensais de cada produto
num certo período de tempo, que é, geralmente, de 12 meses.

Quando usar um ou outro?

Deve-se dar preferência ao consumo médio mensal. Utiliza-se a


média aritmética móvel quando não estiverem disponíveis todos
os dados de consumo. Isso acontece, geralmente, quando não se
tem os dados de demanda não atendida (reprimida) em épocas de
desabastecimento de medicamentos.

Exemplo: o consumo, em quatro anos, do comprimido de


levonorgestrel 75 mg “pílula do dia seguinte” foi de:

Ano 2007 2008 2009 2010


Quantidade 82 88 120 140

Qual deveria ser o consumo previsto para 2010, utilizando-se o


método da média aritmética móvel, com n = 3?

Solução:
CM = (82 + 88 + 120)/3
CM = 96,6

Qual deverá ser o consumo previsto para 2011, utilizando-se o


método da média aritmética móvel, com n = 3?

Solução:
CM = (88 + 120 + 140)/3
CM = 116

Estoque mínimo

Durante o período de renovação, que é o tempo que decorre entre


dois pedidos consecutivos, podem ocorrer algumas falhas, motivadas,
por exemplo, por atrasos dos fornecedores na entrega dos produtos
ou por aumento de demanda. Para evitar falta de produtos e compras
emergenciais, introduz-se o conceito de estoque mínimo (EMn), que
é uma quantidade de material para suprir eventuais necessidades do
sistema.

Estoque mínimo ou de segurança (EMn)


Também chamado estoque reserva, é a quantidade de cada item
que deve ser mantida como reserva para garantir a continuidade do

199
atendimento em caso de ocorrências não previstas, como a elevação
brusca no consumo ou o atraso no suprimento.

EMn = CMM x k
EMn = estoque mínimo
CMM = consumo médio mensal
k = é uma constante que corresponde a um fator de segurança arbitrário
com o qual se deseja garantir um risco de ruptura. É proporcional ao
grau de atendimento desejado para o item = relação entre a demanda
atendida (quantidade atendida) e a demanda real (quantidade
necessitada).

Exemplo: o consumo médio mensal de albendazol 400 mg é de 95


unidades. Calcular o estoque mínimo, levando em conta um grau de
atendimento de 90%, ou seja, uma garantia de que somente 10%
das vezes o estoque deste medicamento esteja zerado.

Solução:

EMn = 95 x 0,9
EMn = 85,5

Quando o valor do estoque mínimo mensal é atingido (neste caso


quando restarem apenas 85 frascos em estoque), existe a necessidade
de providenciar a reposição do estoque. Por outro lado, se existem
300 frascos em estoque, não há necessidade de fazer novo pedido.
Tal medida pode ser útil para a reposição dos estoques nas unidades
de saúde, que geralmente trabalham com a reposição mensal. Neste
caso, sugere usar o valor de 100% para o grau de atendimento.

Estoque máximo (EMax)

É igual a soma do estoque mínimo e do lote de compra (cujo cálculo


está a seguir).

EMax = EMn + LC

Em condições normais, de equilíbrio entre a compra e o consumo,


o estoque oscilará entre os valores máximos e mínimos. O estoque
máximo sofrerá limitações de ordem física, como espaço para
armazenamento. É possível, ainda, diminuir tanto o tamanho do lote
como o de estoque mínimo, quando houver falta de capital.

Lote de compras (LC) de reposição


O lote de compras deve conter uma quantidade de medicamentos
igual à necessidade do período, considerando, obviamente, a

200 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


inclusão do estoque mínimo. Portanto, o lote de compras é igual ao
ponto de pedido.

LC = PP

Prazo de abastecimento (PA)

Período compreendido entre a solicitação e a chegada do pedido.


Considera-se, nesse prazo, o tempo gasto na emissão do pedido,
a tramitação do processo de compra, o tempo de espera, a entrega
do fornecedor, a entrada nos estoques até a disponibilidade para a
utilização do medicamento.

Ponto de pedido (PP)

O nível de estoque que indica o momento de solicitação é denominado


ponto de pedido, nível de ressuprimento ou estoque de alerta. A
quantidade a ser adquirida deve ser a mínima suficiente para atender
as necessidades até que se atinja um novo período de abastecimento
e é calculada a partir das médias já mencionadas.

PP = (CMM x PA) + EMn

Convém salientar que o ponto de pedido é mais utilizado em farmácias


comerciais e deve ser evitado ao máximo em entidades públicas
que necessitam fazer licitação, pois compras pequenas e não
planejadas podem aumentar o valor dos produtos. O ideal é seguir a
programação de compras. Mas, podem-se usar essas ferramentas
para o monitoramento dos estoques e evitar falta de medicamentos.

Quantidade em
estoque
Pedido Pedido Pedido
Ponto de pedido
Q Q Q

Estoque mínimo

Recebimento Recebimento Recebimento Recebimento

Prazo de Tempo
abastecimento

Figura 1 - Representação gráfica do modelo de estoque.


Fonte: Vecina Neto e Reinhardt Filho, 1998.
201
Lição 4 – Programação: Gestão dos estoques de medicamentos

Nesta lição, vamos focar no gerenciamento dos estoques de


medicamentos, apresentando a você os conceitos fundamentais da
atividade de gerência de estoques de medicamentos. Ao final
deste estudo, você, aluno, deverá reconhecer tais conceitos.

Classificação de itens do estoque de medicamentos

É a utilização de técnicas que permitem aplicar tratamentos


apropriados a cada item de estoque e constitui-se em uma importante
aliada na elaboração das estratégias de gestão dos estoques de
medicamentos.

Você já ouviu falar da curva ABC? Provavelmente sim, mas você a utiliza
no gerenciamento do seu estoque? Vamos ver como ela pode ser útil.

A análise de Pareto ou curva ABC é um método de classificação de


informações, adotado para separar os itens de maior importância ou
impacto (CARVALHO, 2002). Corresponde a uma dupla classificação
dos itens: de acordo com seu valor, obtido pelo preço unitário; e
de acordo com sua posição no estoque, obtida pelos registros
de consumo. Pode ser útil para a determinação de estoques de
segurança; o refinamento na alocação dos recursos; e para a redução
de custos.

Como elaborar uma curva ABC

Veja, a seguir, os passos para a elaboração da curva ABC:

1) Listar todos os itens comprados ou consumidos e gerar unidade


de custo (comprimido, ampola, frasco).

2) Calcular o número de unidades consumidas por unidade de


tempo de análise.

3) Calcular o valor de consumo (multiplica-se o valor unitário pelo


número de unidades consumidas no período), obtendo-se,
assim, o valor total gasto de cada item no período.

4) Calcular o valor percentual de cada item, dividindo o valor total


gasto de cada item pelo valor total da lista.

202 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


5) Rearranjar a lista, realocando os itens de acordo com os
percentuais individuais, começando com o maior.

6) Em uma nova coluna, calcular o percentual acumulado no valor


total de cada item.

7) Escolher os pontos de corte para itens A, B, C. Sugere-se como


exemplo:

• Medicamentos A= 10 a 20% dos itens e 75 a 80% dos


recursos;

• Medicamentos B= 10 a 20% dos itens e 15 a 20% dos


recursos;

• Medicamentos C= 60 a 80% dos itens e 05 a 10% dos


recursos.

8) Apresentar os resultados (plotar % do valor acumulado no eixo y


e número de itens no eixo X).

% do valor

10%

15%

75% C
B
A

10% 20% 70% % de materiais

Figura 2 - Representação da curva ABC.

Considerações sobre a curva ABC

• Os parâmetros não são fixos e os percentuais descritos podem


variar, com base na organização dos serviços.

• O que importa é que a análise desses parâmetros propicia o

203
trabalho de controle de estoque do farmacêutico, cuja decisão de
compra pode se basear nos resultados obtidos pela curva ABC.

• Os itens considerados de classe A merecerão um tratamento


preferencial. Para esses itens, as ações devem ter como meta:
diminuição dos prazos de abastecimento; redução dos estoques;
redução dos períodos de renovação; redução dos estoques de
segurança; estabelecimento de controles de utilização; busca
dos melhores fornecedores; e obtenção dos melhores preços. O
estoque deve ser rigorosamente controlado.

• O estoque dos itens de classe C deve ter controle simples,


podendo até ter um estoque de segurança maior. Já os itens da
classe B deverão estar em situação intermediária.

• Lembre-se de que os itens classificados como A, embora


representem os maiores gastos, não são necessariamente
aqueles de maior custo unitário. Alguns produtos de custo unitário
médio, mas de consumo elevado, absorvem grandes volumes
financeiros. Provavelmente, alguns anti-hipertensivos irão fazer
parte da sua lista de itens A, devido ao grande volume utilizado.

• O uso da curva ABC propicia uma otimização na aplicação


dos recursos financeiros pois evita desperdícios ou aquisições
inadequadas. Uma solicitação de itens com mais frequência e em
quantidades menores pode levar à redução nos custos do estoque.
Porém, tome cuidado, pois aquisição em quantidades menores
pode favorecer cotações mais altas nesses itens, a menos que o
município tenha o sistema de registro de preço.

• A curva ABC pode ser utilizada também durante a seleção


de medicamentos. Uma revisão dos medicamentos que são
classificados como A, pode mostrar itens para os quais existem
alternativas com mesma eficácia e custo menor.

Existem outras maneiras de classificar os medicamentos. A curva ABC


utiliza o ponto de vista econômico, mas podemos utilizar o ponto de vista
do usuário; do fornecedor; ou do processo operacional.

204 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Veja a tabela comparativa a seguir:

Tabela 1 - Classificação de itens de estoque de medicamentos.

Ponto de vista
Classificação Conceito
contemplado

Consiste na separação dos itens em três grupos de


acordo com o valor da demanda, em determinado
período de tempo, sendo:
ABC Econômico
A = alto valor
B = valor intermediário
C = valor baixo

Classificação de criticidade, baseada no critério do


impacto resultante da falta, sendo:
XYZ Usuário X = alta criticidade (material imprescindível)
Y = média criticidade
Z = baixa criticidade

Classificação de aquisição, baseada na dificuldade em


adquirir determinado item, sendo:
123 Fornecedor 1 = obtenção muito difícil
2 = obtenção relativamente difícil
3 = obtenção fácil

Classificação de popularidade, baseada na frequência de


utilização dos itens, sendo:
Processo
PQR P = elevada frequência de movimentação
operacional
Q = frequência de movimentação intermediária
R = baixa frequência de movimentação

Lição 5 – Aquisição: Definição, objetivo e financiamento da aqui-


sição de medicamentos no serviço público

Nesta lição, você conhecerá o processo de aquisição de medicamentos


no serviço público, partindo da definição e dos objetivos para chegar
à forma de pactuação e ao financiamento. Ao final do conteúdo,
você, aluno, deverá estar apto a compreender o objetivo da
aquisição, bem como a forma de pactuação e o financiamento da
aquisição de medicamentos no serviço público.

Muitos acreditam que, no serviço público, a função de comprar


está diretamente relacionada à falta de flexibilização e repleta de
procedimentos e formalidades que dificultam e dão morosidade ao
processo de aquisição. De certa forma, isso é verdade, mas não
pode ser caracterizado como um empecilho, tampouco como uma
barreira que justifique comprar mal ou errado.

Unidade 3 - Programação, aquisição, armazenamento e distribuição de medicamentos 205


Como podemos, no serviço público, comprar adequadamente,
respeitando as formalidades previstas em lei?

Batista e Maldonado (2008) sugerem que a administração pública


deve estabelecer procedimentos e encontrar formas para que
o problema possa ser minimizado, seja qualificando os agentes
públicos envolvidos (solicitantes, compradores, almoxarifes, etc),
seja estabelecendo rotinas específicas, capazes de melhorar tanto
os produtos adquiridos quanto os processos envolvidos.

A definição de um fluxo operacional para o processo de compras,


com atribuições e responsabilidades, deve assegurar agilidade e
sequência em todas as etapas, além de garantir o envolvimento de
todos os setores.

A definição de um fluxo operacional para o processo de compras,


com atribuições e responsabilidades, deve assegurar agilidade e
sequência em todas as etapas, além de garantir o envolvimento de
todos os setores, tais como: assistência farmacêutica, planejamento,
orçamento, finanças, administrativo/compras e outros para
harmonização dos procedimentos.

Muitas vezes, o desconhecimento dos setores envolvidos e a falta de


definição de trâmites adequados ao processo é que geram a morosidade
do processo de aquisição. Além disso, a falta de medicamentos é vista,
geralmente, como resultado da má administração pública e pode
comprometer a resolutividade do sistema de saúde.

Para compreender melhor os processos e fluxos envolvidos é


necessário ter uma base conceitual bem clara. Assim, apresentamos,
a seguir, conceito e objetivos da aquisição. Leia-os com atenção!

206 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Definição de aquisição

A aquisição de medicamentos pode ser considerada como o


processo administrativo que visa o suprimento de medicamentos
para atender a demanda das unidades de saúde do seu município.

Objetivos da aquisição

O objetivo do processo de aquisição é garantir a disponibilidade de


medicamentos e a qualidade dos produtos adquiridos.

É com esse objetivo que o seu município ou o estado realizam as


aquisições?

Uma boa aquisição de medicamentos deve considerar o que,


quando, quanto e como comprar. Veja, em seguida, detalhes de
cada um desses itens:

O que comprar é definido na seleção de medicamentos. Essa


definição deve ser realizada no âmbito municipal/estadual, de acordo
com o perfil epidemiológico da população local e contemplando as
portarias vigentes (BRASIL, 2006b).

Quando e quanto comprar é definido pela programação de


compras, que tem como objetivo determinar os quantitativos do
medicamento selecionado que devem ser adquiridos. A decisão de
quando comprar deve considerar: a modalidade de compra adotada;
a disponibilidade e a capacidade do fornecedor; a definição dos
níveis de estoque; a capacidade de armazenamento do serviço; e
os recursos orçamentários e financeiros disponíveis (BRASIL, 2006b;
MARIN et al., 2003; VECINA; REINHARDT, 1998).

Como comprar é muitas vezes um problema nos municípios/estados,


uma vez que os medicamentos são tratados como qualquer outro
insumo pelo setor de compra. No entanto, esses precisam ter
requisitos de qualidade, e quem participa do processo de compra
precisa entender que a falta de medicamentos pode comprometer os
serviços de saúde.

207
Quando comprar?
A decisão de quando comprar é muito importante para garantir a
disponibilidade dos medicamentos e está intrinsecamente relacionada à
atividade de programação que você estudou anteriormente.
Alguns municípios e estados realizam apenas uma aquisição anual,
uma aquisição a cada semestre ou trimestre, e alguns realizam
aquisições mensalmente. Considerando, a necessidade da garantia
da disponibilidade do medicamento, qual a periodicidade que você
entende mais adequada? Pense sobre isso, considerando os parâmetros
destacados anteriormente.
E, como é o financiamento da aquisição de medicamentos nos serviços
públicos?

Tradicionalmente, o financiamento da assistência farmacêutica se dava


por meio de programas em que os medicamentos eram adquiridos
pelo Ministério da Saúde e distribuídos às Secretarias Estaduais de
Saúde, que, por sua vez, repassavam para os municípios, de acordo
com as notificações efetuadas por estes (BRASIL, 2002a).

Em 1999, o Ministério da Saúde, visando implementar as diretrizes e


prioridades da Política Nacional de Medicamentos, publicou a Portaria
n. 176, que estabelece critérios e requisitos para a qualificação
dos municípios e estados ao incentivo à assistência farmacêutica
básica, repassando ao município a responsabilidade de assegurar
o suprimento dos medicamentos destinados à atenção básica
(BRASIL, 1999).

A partir de fevereiro de 2006, segundo as novas formas de alocação de


recursos federais, propostas pelo Pacto de Gestão do SUS (Portaria
n. 399/06), a assistência farmacêutica passou a ser financiada por
bloco de recurso próprio, além do agrupamento dos programas em
componentes da Assistência Farmacêutica (BRASIL, 2006a).

Vamos ver agora como está organizado o bloco de financiamento da


assistência farmacêutica atualmente.

208 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


O bloco de financiamento da assistência farmacêutica, destinado à
aquisição de medicamentos para oferta à população em serviços
ambulatoriais do SUS, está dividido em três componentes: Básico,
Estratégico e Especializado (BRASIL, 2009a, 2009b, 2010d; VIEIRA,
2010). Cada componente possui uma forma de organização e
financiamento, conforme pode ser visualizado no Quadro 2.

Básico Estratégico Especializado


I. Controle de Endemias:
tuberculose, hanseníase
malária, leishmaniose,
chagas e outras
doenças endêmicas de
abrangência nacional ou
regional.
Medicamentos pactuados buscam
II. Programa de DST, AIDS
garantir a integralidade do tratamento
e Hepatites Virais.
Medicamentos e insumos essenciais medicamentoso em nível ambulatorial,
III. Programa
Definição destinados ao atendimento dos agravos cujas linhas de cuidado estão definidas
Nacional de Sangue e
prevalentes e prioritários da Atenção Básica. em Protocolos Clínicos e Diretrizes
Hemoderivados.
Terapêuticas publicados pelo
IV. Imunobiológicos
Ministério da Saúde.
(vacinas e soros) do
Programa Nacional de
Imunizações.
V. Programa de Combate
ao Tabagismo.
VI. Alimentação e
Nutrição.
Portaria GM/MS n. 4.217, Portaria GM/MS n. 2.981,
Portarias -
de 28 de dezembro de 2010. de 26 de novembro de 2009.
Grupo 1a: medicamentos com aquisição
Insulinas
Tiras, lancetas e seringas centralizada pelo Ministério da Saúde.
Estadual* – R$0,50 hab/ano Grupo 1b: medicamentos financiados
Municipal – R$0,50 hab/ano com transferência de recursos
financeiros pelo Ministério
Contraceptivos
Financiamento Básico Ministério da Saúde da Saúde para os estados.
e insumos
União - R$ 5,10 hab/ano Grupo 2: medicamentos financiados
insumos do
Estadual* - R$ 1,86 hab/ano pelas secretarias de estado da saúde.
Programa
Municipal - R$ 1,86 hab/ano Grupo 3: Medicamentos cuja
Saúde da
dispensação é de responsabilidade dos
Mulher
municípios.
Estados ou Municípios,
Ministério
Aquisição conforme pactuação Ministério da Saúde União/Estados/Municípios
da Saúde
bipartite.
Centros de Custo/
Dispensação Municípios Municípios Centros de Referência/Unidades de
dispensação
Em unidades específicas, O acesso estará vinculado à abertura
Nas unidades básicas de saúde dos geralmente após de processo administrativo,
Acesso municípios por meio da apresentação de notificação do caso subordinado a Protocolos Clínicos
receita médica. e apresentação da e Diretrizes Terapêuticas publicados
receita médica. pelo Ministério da Saúde.

* Os valores repassados pelos Estados podem ser alterados de acordo com a pactuação na CIB.

Quadro 2 - Quadro comparativo dos componentes da assistência farmacêutica.

209
O financiamento da assistência farmacêutica básica é tripartite, e a
forma de aquisição dos medicamentos deve ser pactuada entre as
comissões bipartites. Existem quatro formas de pacto entre estados
e municípios: totalmente centralizada no estado; parcialmente
centralizada no estado; totalmente descentralizada no município; e
parcialmente descentralizada no município (BRASIL, 2001, 2002a).

Em uma avaliação realizada pelo Departamento de Assistência


Farmacêutica em 2008, quase 60% dos municípios brasileiros
pactuaram a transferência de recursos financeiros federal e estadual
para o Fundo Municipal de Saúde (BRASIL, 2008).

E o que isso significa?


A forma de pactuação totalmente centralizada no município, com a
transferência dos recursos financeiros para o Fundo Municipal de
Saúde, transfere a responsabilidade de aquisição de medicamentos do
Componente Básico da Assistência Farmacêutica para a gestão municipal.

Pois é, colega! Essa nova realidade pode ser facilmente percebida pelo
aumento do número de farmacêuticos trabalhando na gestão municipal
da assistência farmacêutica e, é claro, no aumento das responsabilidades
desses farmacêuticos – que precisam estar preparados, engajados e
dispostos a fazer a diferença na realidade da assistência farmacêutica
municipal. Em 60% dos municípios brasileiros não é mais possível
transferir a culpa de tudo “para cima”: para o estado, para a união... A
condução de todo o processo é local: a tomada de decisão, a negociação,
a pactuação com o estado e com outros municípios e as respostas para
as necessidades da sua população.
Vamos ver um pouco mais sobre como funciona o financiamento e sua
execução.

A Portaria n. 2.982, de 26 de novembro de 2009, aprova as normas


de execução e de financiamento da assistência farmacêutica na
atenção básica. Essa Portaria foi atualizada pela Portaria n. 4.217, de
28 de dezembro de 2010.

Apresentamos, a seguir, alguns aspectos importantes dessas


Portarias.

210 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Sobre a utilização deste recurso financeiro, está definido que
o mesmo deve ser discriminado no Relatório Anual de Gestão
Municipal. As secretarias municipais de saúde devem manter em
arquivo os documentos fiscais que comprovem a aplicação dos
recursos tripartite desse componente. Além disso, o Relatório Anual
de Gestão deve estar disponível, sempre que necessário, para o
desenvolvimento dos processos de monitoramento, avaliação e
auditoria (BRASIL, 2009b).

Os medicamentos não-constantes na Rename 2010, não poderão


ser custeados com recursos previstos na Portaria n. 4.217/10.

Uma importante modificação, oriunda da Portaria n. 4.217 é a


possibilidade de as secretarias municipais de saúde utilizarem,
anualmente, um percentual de até 15% da soma dos valores dos
recursos financeiros estaduais, municipais e do Distrito Federal, também
definidos nessa Portaria, para atividades destinadas à adequação de
espaço físico das farmácias do SUS, relacionadas à Atenção Básica,
à aquisição de equipamentos e mobiliários destinados ao suporte das
ações de assistência farmacêutica. E, também, para a realização de
atividades vinculadas à educação continuada, voltada à qualificação dos
recursos humanos da assistência farmacêutica na Atenção Básica. No
entanto, para esta última, é vedada a utilização dos recursos federais.
Essas atividades e os recursos financeiros aplicados deverão estar
previstos nos instrumentos de planejamento do SUS (Plano de Saúde,
Programação Anual e Relatório Anual de Gestão) (BRASIL, 2009b).

Vale destacar que conhecer essa Portaria na íntegra é fundamental


para as ações da gestão farmacêutica.

Agora que já sabemos que o financiamento do Componente Básico da


Assistência Farmacêutica é tripartite, fica mais fácil planejar quanto
realmente é possível gastar com a aquisição de medicamentos do
Componente Básico da Assistência Farmacêutica. Em outras palavras,
qual é a previsão orçamentária.

Com a publicação da Portaria GM/MS n. 2.982, de 26 de novembro


de 2009, o financiamento dos medicamentos para a Atenção
Básica teve seus valores ampliados a partir de janeiro de 2010,
para contrapartidas mínimas estaduais e municipais, de R$ 1,86/
habitante/ano para cada uma dessas esferas de gestão; e de
R$ 5,10/habitante/ano na esfera federal, com repasses mensais
equivalentes a 1/12, com base na população recenseada pelo IBGE
2009 (BRASIL, 2009b). A Portaria n. 4.217/2010 não alterou esses
valores de financiamento (BRASIL, 2010d).

211
Vamos fazer um pequeno cálculo. Se a população do município de
Água Fria é de 14.966 habitantes, segundo a estimativa do IBGE
(BRASIL, 2010a), qual o orçamento anual desse município para a
compra de medicamentos do Componente Básico da Assistência
Farmacêutica? Veja os resultados a seguir:

Esfera Valor por habitante Valor total


Municipal R$1,86 R$ 27.836,76
Estadual R$1,86 R$ 27.836,76
Federal R$5,10 R$76.326,60
Total R$ 132.000,12

Qual o valor que pode ser investido em qualificação da assistência


farmacêutica?

Resultado: (27.836,76 + 27.836,76) x 15% = R$ 8.351,03

O estudo que avaliou os resultados dos relatórios completos


de fiscalização referentes ao gasto com o financiamento dos
medicamentos, realizado pela Controladoria Geral da União (CGU),
apontou que, dos 597 municípios avaliados, 29% apresentaram
problemas de efetivação da contrapartida estadual e 14%, da
contrapartida municipal. Além disso, no que se refere ao item aquisição,
verificou-se que 19,4% dos 597 municípios avaliados não realizavam
os procedimentos obrigatórios para a licitação ou executavam a
licitação sem observância de todos os requisitos previstos em lei.

Essa não observância dos procedimentos obrigatórios pode ser


decorrente da falta de conhecimento da legislação sobre aquisição.

E você, conhece a legislação sobre licitação nos serviços públicos? Quais


são os procedimentos obrigatórios que devem ser observados durante
o processo de licitação? Discutiremos esse assunto na próxima lição.

212 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Lição 6 – Aquisição: Modalidades de licitação pública

Nesta lição, você conhecerá as diferentes modalidades de licitação


pública e os consórcios intermunicipais. Esperamos que, ao
final desta lição, você, aluno, seja capaz de identificar as
diferentes modalidades de licitação.

Todas as aquisições no serviço público, tanto de bens materiais


quanto de serviços, são feitas por licitações, conforme preconizado
pela Lei n. 8.666/93.

Licitação é um procedimento administrativo preliminar à compra, que


procura selecionar a proposta mais vantajosa para uma instituição,
baseando-se em critérios prévios e possibilitando à administração
pública impor a concorrência entre os participantes (BRASIL, 1993).

Modalidades de licitação

Uma licitação pode seguir modalidades distintas (convite, tomada


de preços, concorrência, concurso, leilão ou pregão), definidas pelo
valor estimado para o objeto a ser adquirido ou pelas características
da modalidade (BRASIL, 1993; MARIN et al., 2003).

Um quadro adaptado de Marin e colaboradores (2003), contendo as


principais características das modalidades de licitação, é apresentado
a seguir.

Prazo de publicação Cadastro de


Licitação Valor financeiro
do edital fornecedor
Dispensa Até R$ 8.000,00 - -
Entre R$ 8.000,00 e Cadastro ou
Convite 5 dias úteis
R$ 80.000,00 convidado
15 dias, contados
da publicação
Entre R$ 80.000,00 e
Tomada de preço (tipo menor preço) Obrigatório
R$ 650.000,00
30 dias (tipo técnica
ou técnica e preço)
30 dias da 1ª publicação
Acima de Cadastrado e/ou
Concorrência pública 45 dias (tipo técnica
R$ 650.000,00 interessado
ou técnica e preço)
Pregão Qualquer valor Mínimo de 8 dias Cadastrado

Quadro 3 – Modalidades de licitação, classificadas pelo valor financeiro, prazo de publicação do edital e cadastro
de fornecedor.
Fonte: Adaptado de Marin et al., 2003.

Para compreender melhor o quadro apresentado, na sequência você


encontra os conceitos de cada item. Leia com atenção.

213
A dispensa de licitação ocorre quando, embora viável a competição,
sua realização se mostra contrária ao interesse público. A Lei n.
8.666/93 prevê algumas situações em que a contratação não
decorre de licitação. São os casos de dispensa de licitação e de
inexigibilidade de licitação. A primeira ocorre nos casos em que há
competição, mas a licitação afigura-se objetivamente inconveniente
ao interesse público. Ao contrário, a inexigibilidade ocorre nos casos
em que é inviável a competição e, portanto, não se aplica o dever de
licitar (BRASIL, 1993).

Uma das situações mais utilizadas na aquisição de medicamentos,


principalmente para aquelas solicitadas por meio da Justiça e que
não fazem parte da Remume, é a dispensa de licitação no valor de até
R$ 8.000,00. Deve-se ter cautela na sua utilização, para que não se
configure fuga da licitação. Além disso, deve levar em consideração
o orçamento anual e o dever do administrador de planejar.

Outra situação em que a dispensa pode ser aplicada é para a aquisição


de medicamentos por pessoa jurídica de direito público interno, de
bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que
integre a administração pública e que tenha sido criado para esse fim
específico em data anterior à vigência dessa lei, desde que o preço
contratado seja compatível com o praticado no mercado. É o caso
das aquisições dos laboratórios oficiais (BRASIL, 2006b).

Os casos de inexigibilidade mais utilizados na aquisição de


medicamentos são para a aquisição de materiais e equipamentos
ou gêneros que só possam ser fornecidos por um produtor, empresa
ou representante comercial exclusivo, vedada a preferência de
marca (BRASIL, 1993, 2006b). Contudo, cabe destacar que durante
a seleção de medicamentos o número de fabricantes deve ser um
critério a ser analisado, uma vez que, quando não há concorrência
entre os fabricantes, os preços dos medicamentos podem ser
bastante elevados.

O convite é a modalidade mais simples, utilizada para compras


ou contratações de R$ 8.000,00 a R$ 80.000,00, com prazo para
recebimento das propostas de apenas cinco dias úteis.

A tomada de preços é empregada em aquisições de valor entre


R$ 80.000,00 e R$ 650.000,00. A principal característica desta
modalidade é a dispensa de qualificação prévia, participando dela
apenas os fornecedores cadastrados, ou que atenderem aos
requisitos para esse cadastramento até três dias antes do prazo para
recebimento das propostas.

214 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Para compras acima de R$ 650.000,00, utiliza-se a modalidade de
concorrência. Dela podem participar fornecedores, cadastrados ou
não, que atendam aos pré-requisitos de habilitação ou qualificação,
desde que apresentem documentação de capacidade técnica,
jurídica, fiscal, financeira e de idoneidade.

As modalidades concurso e leilão não são usadas para aquisições de


medicamentos (BRASIL, 1993, 1998, 2002b, 2006b; MARIN et al.,
2003; VECINA; REINHARDT, 1998).

Na escolha da modalidade de licitação, a modalidade que permite maior


ampliação da disputa substitui a menor. Dessa maneira, por exemplo,
a concorrência pode substituir a tomada de preços e o convite, assim
como a tomada de preços pode substituir o convite (BRASIL, 2006b).
Nos últimos anos, muitos municípios têm adotado a modalidade de
pregão para a aquisição de medicamentos, isso porque, a legislação
brasileira, recentemente, obrigou o governo a dar preferência ao pregão
quando se tratar de bens e serviços que não sejam de engenharia
(BRASIL, 2002b). Nele se incluem os medicamentos.

Quais são as vantagens do pregão em relação às outras modalidades?


Para a modalidade pregão, o critério não é a faixa de preço, e sim
a natureza do produto ou serviço. Essa modalidade aplica-se a
qualquer valor estimado para o objeto a ser adquirido, e a disputa
pelo fornecimento é feita em sessão pública (presencial ou eletrônica)
por meio de propostas e lances, para classificação e habilitação do
licitante com menor preço (MARIN et al., 2003).

O pregão simplifica e agiliza o processo de aquisição por meio da


desburocratização dos procedimentos para a habilitação e pela
inversão das fases da licitação. Essa inversão permite examinar
apenas a documentação do participante que tenha apresentado a
proposta mais vantajosa, eliminando-se todo o volume de trabalho e
tempo despendidos na avaliação prévia da documentação de todos
os participantes do certame (BRASIL, 2006b; MARIN et al., 2003).

Essa agilidade também é fruto do tempo de publicação do edital,


que é de somente oito dias, e da adjudicação compulsória do objeto
ao vencedor. Já a redução de custos se dá em função da ampliação
da concorrência e, principalmente, devido à dinâmica de negociação
por meio dos lances decrescentes efetuados pelos licitantes (MARIN
et al., 2003).

215
Consórcios Intermunicipais

Você já ouviu falar de municípios que fazem a aquisição de medicamentos


em conjunto? A legislação brasileira permite a aquisição de medicamentos
por meio de consórcios intermunicipais, bem como a aquisição de outros
materiais e serviços. Quais são as vantagens dos consórcios?

Independentemente da modalidade de aquisição, a formação de


consórcios intermunicipais, em âmbito regional ou estadual, é uma
estratégia de gestão que pode permitir aos municípios menores
usufruir do poder de compra e da infraestrutura administrativa
proporcionada por essa forma de organização (LIMA, 2000).

Em estudo de Amaral e Blatt (2011), em um município catarinense que


participa de um consórcio, foram comparados os valores unitários da
aquisição de medicamentos: (a) pelo município, (b) com os valores
do Banco de Preço em Saúde/MS e (c) via consórcio. Encontrou-se
que o custo total de aquisição seria R$ 302.962,60, R$ 247.148,44
e R$ 203.022,32, respectivamente, para 38 itens da relação de
medicamentos desse município, o que demonstra a economia do uso
de escala de escopo, principalmente importante para municípios de
pequeno porte, que licitam quantidades menores de medicamentos.

O Consórcio Paraná Saúde já conta com experiência e


reconhecimento regional na aquisição de medicamentos. Até o final
de 2000 abarcava 88,2% dos municípios e 55,6% da população
paranaense, especialmente de municípios de até 20.000 habitantes,
além de demonstrar resultados bastante animadores nos valores
comparados com o Banco de Preços em Saúde do Ministério da
Saúde (FERRAES e CORDONI JUNIOR, 2007).

Vamos conhecer mais detalhes da experiência dos nossos colegas


paranaenses. Fomos até Curitiba, Paraná, conversar com o pessoal envolvido
com o Consórcio Paraná Saúde e verificar sua história e forma de trabalho.
Experiências como esta nos mostram que existem possibilidades de
criar, inovar, encontrar soluções. Para isso, pró-atividade é essencial!
Outras estratégias podem e devem ser desenvolvidas, desde que
respeitem as bases legais e ideológicas do SUS e tragam, efetivamente,
melhorias para o atendimento das necessidades da população.

216 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Lição 7 – Aquisição: Princípios e fases da licitação pública

Nesta lição, serão apresentados os princípios constitucionais e as


fases do processo de licitação. Esperamos que ao final do
conteúdo você, aluno, possa identificar esses princípios e essas
fases da licitação.

A validade da licitação é garantida por meio dos princípios


constitucionais: legalidade, igualdade, publicidade dos atos,
vinculação ao instrumento convocatório e julgamento objetivo.

Anotações

Fases da licitação

Respeitando as diferenças entre a forma de organização de alguns


municípios, as etapas de aquisição podem ser resumidas e sequenciadas
nas seguintes atividades: requisição, abertura de processo, autorização
de verba, elaboração de edital, abertura do edital, qualificação dos
fornecedores, opinião técnica, julgamento e adjudicação.

Veja, na figura a seguir, um exemplo das etapas de aquisição dos


medicamentes nos serviços públicos.

217
Requisição

Abertura de processo

Autorização de verba

Elaboração de edital

Abertura do edital

Abertura de processo

Qualificação dos fornecedores

Opinião técnica

Julgamento

Adjudicação

Recursos

Homologação

Contrato

Figura 3 – Etapas de aquisição dos medicamentos nos serviços públicos.

Na sequência, apresentamos os detalhes de cada uma dessas


etapas. Leia com atenção!

Para que se inicie um procedimento de compra, há a necessidade


de uma requisição de compra, determinando os medicamentos e as
quantidades a serem adquiridas. Essa requisição deve ser remetida
com uma estimativa de preço que deve ser feita considerando
registros de compras efetuadas, como é o caso da última compra e
do Banco de Preços do Ministério da Saúde (BPS/MS) e também a
cotação no mercado. Os valores são importantes, pois a aprovação
e a reserva de verba são feitas a partir deles.

A requisição de compra deve ser remetida à autoridade maior da


organização, que detém a competência para aprovar a despesa
(abertura do processo).

Após essa etapa, o responsável pela área financeira tem a obrigação


de reservar o recurso para efetuar a aquisição (autorização de verba).

A elaboração do edital deve ser feita em conjunto com o setor


administrativo e o setor de gerenciamento da assistência farmacêutica.

218 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Como elaborar o edital será apresentado mais detalhadamente no
próximo tópico.

Em geral, as aberturas são marcadas com antecedência, de acordo


com os prazos legais. A abertura é feita por funcionários designados
para tal finalidade, em local claramente identificado no edital.

Após a abertura do edital, os fornecedores que cumpriram as


exigências dele continuam a participar do processo, e aqueles
que não o fizeram são excluídos. O pregão em relação às outras
modalidades apresenta a vantagem de que somente será realizada a
qualificação da proposta vencedora do certame (qualificação).

O produto ofertado pelo licitante deve atender as exigências


impostas pelo edital e um técnico especializado, recomenda-se um
farmacêutico, deve acompanhar a licitação e fazer a avaliação técnica
dos produtos licitados, vedando a participação de concorrentes que
não preencham os critérios impostos pelo edital (opinião técnica).

A forma de julgamento da licitação pública pode ser menor preço,


melhor técnica ou técnica e preço. Para medicamentos, é utilizado
o menor preço. Nas modalidades tomada de preço, convite e
concorrência, o fornecedor que atende as especificações do edital e
que apresentou o menor preço é o vencedor do processo licitatório.

No pregão eletrônico todas as propostas vão para a fase de lances.


No entanto, no pregão presencial, a proposta de menor preço e
todas que estiverem acima, até o limite de 10% sobre o valor da
menor proposta, com um mínimo de três preços ou não havendo,
no mínimo, três preços nessas condições, são selecionadas as
propostas dos três menores preços. Na fase de lances, o autor da
proposta selecionada de maior preço é convidado a oferecer um
preço menor do que a proposta de menor preço, e assim por diante.
A fase de lances se encerra quando todos declinarem de oferecer
lances (julgamento).

A adjudicação é a declaração do vencedor do certame e registro em ata.

Os prazos de interposição de recursos são os seguintes: tomada


de preços e concorrência, 5 dias úteis; convite, 2 dias úteis; pregão,
3 dias úteis. Na modalidade de pregão, é necessária a presença
do representante legal do licitante para declarar, no momento da
elaboração da ata, a intenção de interpor recurso. Caso contrário,
decai seu direito de fazê-lo.

A homologação só pode ser feita depois de decorrido o prazo legal


para a apresentação de recursos contra a adjudicação. É um ato da

219
autoridade superior da instituição e, na prática, significa a autorização
para que o proponente, ao qual foi adjudicado o fornecimento,
possa, finalmente, celebrar o contrato com a entidade compradora
do produto, bem ou serviço.

O setor administrativo recebe o processo devidamente homologado,


procedendo à confecção do contrato e cuidando dos passos para
sua assinatura. Somente após esse procedimento é que poderão
ser emitidos os empenhos, com a autorização para a entrega do
material ou a prestação do serviço. Recomenda-se que as compras,
sempre que possível, sejam processadas por um sistema de registro
de preços (SRP) (BRASIL, 1993, 2006b).

Você sabe o que é sistema de registro de preços?

O registro de preços é uma forma simplificada de contratação,


precedida de licitação nas modalidades concorrência ou pregão,
sendo firmada, no final do processo, uma ata de registro de preços
com validade, geralmente, por um período de doze meses, em que
são averbados os bens, os preços, os fornecedores e as condições
das futuras contratações (BRASIL, 1998).

Essa forma de contrato permite racionalizar a utilização do orçamento,


na medida em que ele deve ser disponibilizado no momento da
contratação, e não no início da licitação. A grande vantagem é permitir
que não se mantenham grandes estoques, uma vez que a licitação
já foi realizada e as contratações podem ser efetuadas de acordo
com a necessidade (VECINA; REINHARDT, 1998). Além disso, não é
necessário adquirir tudo o que foi programado ou, se for do interesse
público, pode-se adquirir 25% a mais dos itens programados, desde
que previsto no edital.

Você deve estar pensando que, após todas as etapas descritas


anteriormente, o processo de licitação está finalizado. Mas, queremos
lembrar que você não pode deixar de fazer o acompanhamento do pedido
de aquisição. Isso significa o monitoramento do processo de aquisição,
visando assegurar que o fornecimento seja realizado em conformidade
com os prazos estabelecidos e nas condições técnicas adequadas.

220 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Uma ferramenta importante para o monitoramento do processo de
aquisição pode ser a elaboração de relatórios mensais de avaliação de
fornecedores, que evidencie comportamento irregular do fornecedor
ou ocorrências com produtos recebidos.

Banco de Preços em Saúde do Ministério da Saúde

O Banco de Preços em Saúde – BPS foi desenvolvido em abril de


1998, visando proporcionar maior visibilidade no uso dos recursos
públicos do SUS e oferecer ao mercado um instrumento regulador
de preços de medicamentos e outros insumos da área de saúde. O
Ministério da Saúde disponibiliza na internet o Banco de Preços em
Saúde – BPS, que divulga os resultados dos processos licitatórios
de instituições públicas, privadas e filantrópicas credenciadas no
sistema (BRASIL, 2004a).

As informações são atualizadas diretamente via internet pelas


instituições credenciadas, que alimentam os preços dos seus
processos de compra, os quais são disponibilizados no endereço
eletrônico do Ministério da Saúde.

O BPS permite que cada instituição utilize uma lista curta de itens,
tendo como critério de seleção a curva ABC de custos: cada
instituição alimenta somente os itens que representem 80% (curva
A) dos gastos de cada grupo - medicamentos, material médico
hospitalar e gases medicinais.

Você pode utilizar os valores do banco de preços para comparar


com os seus valores de aquisição e negociar os preços com os
fornecedores, ou para a previsão do orçamento da licitação.

Link

Para acessar o banco de preços em saúde, saber mais ou cadastrar o


seu município, acesse o endereço:
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/area.cfm?id_area=939

Lição 8 - Aquisição: Elaboração do edital

Nesta lição, você conhecerá a forma adequada para elaboração de


edital e os implicantes na sua elaboração não correta.
Esperamos que ao final do estudo desse tema você, aluno,
esteja pronto para elaborar um edital de licitação de medicamentos.

221
A vinculação ao edital é princípio básico de toda licitação. Nenhuma
exigência que não conste no edital poderá ser solicitada ao fornecedor.
Para tanto, deve ser bem elaborado e constar de requisitos técnicos
e administrativos, como forma de assegurar a qualidade do processo
de aquisição e dos medicamentos que estão sendo adquiridos.

Bem, vamos, a seguir, tratar da elaboração do edital de licitação de


medicamentos.

Elaboração do edital

O edital é considerado a lei interna das licitações e define as condições


necessárias à participação dos licitantes, ao desenvolvimento da
licitação e à futura contratação (BRASIL, 2004a).

Cabe ao ato convocatório disciplinar prazos, atos, instruções relativas


a recursos e impugnações, informações pertinentes ao objeto e aos
procedimentos e outras que se façam necessárias à realização da
licitação (BRASIL, 2004a).

O ato convocatório deve conter:

• O número de ordem da licitação em série anual e o nome do


órgão ou entidade e setor que originou o processo licitatório;

• A modalidade de licitação;

• A menção de que o ato é regido pelas Leis n. 8.666/93 e n.


10.520/02, quando se referir a pregão;

• O local, dia, hora para o recebimento da documentação e


proposta e para o início da abertura dos envelopes;

• O objeto da licitação, com descrição sucinta, precisa e clara;

• Os documentos requeridos na fase de habilitação referentes à


qualificação técnica dos fornecedores;

• O prazo e condições para a assinatura do contrato de fornecimento,


execução e entrega do objeto licitado. Bem como, penalidades
para o descumprimento do prazo de entrega dos produtos;

222 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


• O critério para julgamento, com disposições claras e parâmetros
objetivos;

• O critério de aceitabilidade de preço unitário e global, geralmente,


para medicamentos, é exigido o valor unitário dos medicamentos
para a cotação;

• As condições de pagamento, penalidades por eventuais atrasos.

O edital deve descrever a lista de documentos que o licitante deve


apresentar para comprovar que está apto a participar da licitação.
Essa documentação é relativa à habilitação jurídica, qualificação
técnica, qualificação econômico-financeira e à regularidade fiscal das
empresas participantes.

Os artigos 27 a 33 da Lei n. 8.666/1993 (BRASIL, 1993) tratam da


documentação para habilitação. Dentre os documentos exigidos nas
licitações para medicamentos, devem constar, como requisito de
qualificação técnica, a autorização de funcionamento, emitida pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); a licença sanitária
em vigor, emitida pela vigilância sanitária local; e a inscrição da
empresa no Conselho Regional de Farmácia.

Nós listamos para você, no quadro a seguir, alguns documentos que


podem ser requeridos na fase de habilitação, referentes à qualificação
técnica para a aquisição de medicamentos nos serviços públicos de
saúde.

Documentação Órgão expedidor Exigido para Descrição


Autorização de funcionamento Anvisa Fabricantes Regulamenta o laboratório junto à Anvisa.
Autorização de funcionamento para Fabricantes e Permite ao laboratório ou às distribuidoras trabalhar
Anvisa
psicotrópicos e entorpecentes distribuidoras com psicotrópicos e entorpecentes.
Vigilância Sanitária Fabricantes e Permite exercer atividades de comercialização e
Alvará de funcionamento
estadual distribuidoras venda de medicamentos.
Certificado de responsabilidade Conselho Regional de Fabricantes e Atesta responsabilidade técnica pelos
técnica Farmácia distribuidoras medicamentos comercializados.
Fabricantes e Regulamenta o estabelecimento junto à prefeitura
Licença de funcionamento Prefeitura
distribuidoras local.
Credencia a distribuidora a comercializar seus
Declaração dos laboratórios Laboratórios Distribuidoras
produtos.
Registro Sanitário dos Registro do medicamento, conforme Decreto n.
Anvisa Fabricantes
Medicamentos 79.094, de janeiro de 1977*.
Certifica que as empresas fabricantes de todos
Certificado de Boas
Anvisa Fabricantes os produtos cotados atendem às Boas Práticas de
Práticas de Fabricação
Fabricação, conforme o PNIIF**.
*Artigo 14, parágrafo 4o.
** Programa Nacional de Inspeção em Indústrias Farmacêuticas e Farmoquímicas.

Quadro 4 – Documentos requeridos na fase de habilitação, referentes à qualificação técnica para a aquisição de
medicamentos nos serviços públicos de saúde.

223
Considerando a necessidade de garantia da qualidade dos
medicamentos adquiridos, a organização do fluxo e o cumprimento
da legislação para o serviço público, identificamos algumas frases
que foram incorporadas a editais. Os requisitos foram divididos em
administrativos, aqueles que dizem respeito aos prazos e organização
do serviço; e em requisitos técnicos, aqueles que dizem respeito ao
medicamento propriamente dito.

Os medicamentos devem ser entregues acompanhados da


Documentação fiscal documentação fiscal, em duas vias, com especificação dos
quantitativos discriminados na nota fiscal.

Os medicamentos devem ser entregues nas quantidades


requeridas e apresentados em unidades individualizadas. Na
Quantidades descrição do produto a ser adquirido pode ser discriminada
a quantidade de comprimidos por blister.

Os medicamentos devem ser entregues de acordo com os


prazos estabelecidos no edital. Havendo a ocorrência do
Prazos de entrega descumprimento desse quesito, uma multa no valor X será
aplicada, ou o licitante, por um período de 1 ano, não poderá
participar das licitações do município.

Os preços devem estar descritos em documento fiscal e


Preços especificados por preço unitário e total.

O transporte dos medicamentos deverá obedecer a critérios


adequados, de modo a não afetar a identidade, qualidade,
integridade dos mesmos. Consultar legislação: Portaria n.
1052/98; RDC n. 329/99; RDC n. 478/99.
Transporte Os medicamentos somente serão recebidos por
transportadora autorizada. Os medicamentos termolábeis
devem ser acondicionados em caixas térmicas (isopor ou
equivalente) com controle de temperatura.

Quadro 5 – Requisitos administrativos que podem ser incorporados no edital para a garantia da qualidade dos
medicamentos.

Anotações

224 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Os medicamentos não podem ser adquiridos com nome
de marca/fantasia. Deve ser utilizada a DCB (Denominação
Comum Brasileira), disponível no endereço eletrônico www.
anvisa.gov.br.
Os medicamentos devem estar com as especificações
Especificações em conformidade com o que foi solicitado: forma
farmacêutica, concentração, condições de conservação.
Além disso, a proposta das empresas deverá indicar a marca
(medicamentos de referência e similar), o fabricante e a
procedência do medicamento oferecido.

O medicamento deve ser entregue na embalagem original,


em perfeito estado, sem sinais de violação, sem aderência
Embalagem ao produto, umidade, sem inadequação de conteúdo,
identificado, nas condições de temperatura exigida em
rótulo e com o número do registro emitido pela Anvisa.

Todos os medicamentos, nacionais ou importados, devem


ter, constadas nos rótulos e nas bulas, todas as informações
em língua portuguesa. Ou seja: número de lote, data de
Bula e rótulos
fabricação e validade, nome do responsável técnico, número
em português do registro, nome genérico e concentração, de acordo com
a legislação sanitária e nos termos do artigo 31 do Código
de Defesa do Consumidor.

As embalagens devem apresentar o nome do farmacêutico


responsável pela fabricação do produto, com o respectivo
Responsável técnico número do Conselho Regional de Farmácia (CRF). O registro
do profissional deve ser, obrigatoriamente, da unidade
federada onde a fábrica está instalada.

Os medicamentos devem ser entregues por lotes e data de


validade. Todos os lotes deverão vir acompanhados de laudo
analítico laboratorial, expedido pela empresa produtora/
titular do registro na Anvisa e/ou laboratório integrante
Lote e data de validade da Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde
(Reblas). O número do lote do medicamento recebido deve
constar na rotulagem, e na nota fiscal, especificados o
número de lotes por quantidade de medicamento entregue.

Deve contemplar: identificação do laboratório;


especificações (valores aceitáveis) e respectivos resultados
das análises dos produtos; identificação do responsável
Laudo de análise com o respectivo número de inscrição no seu conselho
profissional correspondente; lote e data de fabricação;
assinatura do responsável; data; resultado.

O edital deve dispor sobre o prazo de medicamento,


quando da entrega. Sugere-se que os medicamentos sejam
Prazo de validade entregues com prazo equivalente a, no mínimo, 75% de sua
validade, contados da data de fabricação.

De acordo com a Portaria n. 2.814/GM, de 29 de maio de


Proibida a venda 1998, os produtos a serem fornecidos pelas empresas
no comércio vencedoras das licitações devem apresentar, em suas
embalagens, a expressão: PROIBIDA A VENDA NO COMÉRCIO.

Quadro 6 – Requisitos técnicos que podem ser incorporados no edital para a garantia da qualidade dos
medicamentos.

225
Descrição dos produtos a serem licitados

Lembre-se de que a descrição adequada do produto é que especifica o


que você quer comprar.

Exemplo: Quando vamos comprar um computador podemos


analisar algumas características como: memória RAM, conexões,
HD, Wireless, processador, peso, teclado, placa mãe, vídeo, tela,
sistema operacional e garantia do fornecedor. Essas características
dependem da nossa necessidade para o uso do computador.

Para os medicamentos é a mesma coisa. Pense: que características


você deve descrever do produto para que este corresponda as suas
necessidades?

Veja alguns exemplos a seguir:

• Sinvastatina 10mg comprimido, blister com 30 comprimidos.

• Amoxicilina 250/5mL solução oral, frasco com 150 mL com copo


dosador.

• Paracetamol 200mg/mL solução oral, frasco com 10mL, caixa


com 100 frascos.

• Diazepam 10mg comprimido, blister com 20 comprimidos,


embalagem fracionável.

Um município catarinense de médio porte avaliou a inclusão da


exigência, em seu edital, que os medicamentos deveriam apresentar os
testes de bioequivalência e/ou biodisponibilidade. Ou seja, o município
só compraria medicamentos de referência ou genéricos no ano de
2008 e os valores foram comparados com os do ano de 2007 sem
esta exigência. O resultado foi que o percentual de itens fracassados
foi de 2,64 e de 56,92 nos anos de 2007 e 2008, respectivamente.
Comparando-se os valores unitários de 2008 com os de 2007, 69,33%
dos medicamentos tiveram acréscimo, e 20,00% decréscimo. Os
custos totais de aquisição para 150 medicamentos em 2007 e 2008,
considerando os valores unitários praticados e o consumo médio anual,
foram de R$ 2.120.790,00 e de R$ 4.270.425,00 respectivamente
(BEVILACQUA, FARIAS e BLATT, 2011).

226 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Ao exigir a quantidade de comprimidos por blister, certifique-se que
existe um número de fabricantes suficiente para que se possa garantir
a concorrência entre os produtos. E ainda, é necessário conferir se os
produtos cotados e os produtos entregues preenchem tais requisitos.
A descrição da embalagem primária auxilia na dispensação racional.
A descrição da embalagem secundária auxilia no armazenamento e
distribuição para as unidades de saúde.

Os padrões mínimos de qualidade foram garantidos no edital, por


meio da especificação completa dos produtos, acompanhada
da definição das unidades e das quantidades a serem adquiridas.
Lembre-se de verificar esses quesitos no recebimento dos produtos.

Reflexão

Um processo de aquisição deficiente pode acarretar diversos problemas.


Podemos citar alguns:
- falta crônica de alguns produtos e excesso de outros;
- prescrições irracionais;
- excesso de compras de “urgência;
- desperdício de recursos;
- migração de usuários para outras unidades;
- disponibilização de produtos de baixa qualidade;
- comprometimento de tratamentos para doenças crônicas.
Você identifica outros problemas advindos de um processo de aquisição
deficiente? Pense nisso.

Lição 9 – Armazenamento e distribuição de medicamentos: De-


finição, objetivo e etapas do armazenamento e da distribuição
dos medicamentos

A partir de agora, você estudará sobre o armazenamento e a


distribuição de medicamentos e a importância desses itens para o
gerenciamento da assistência farmacêutica.

Inicialmente, vamos ver o objetivo do armazenamento e da distribuição,


qual a infraestrutura física necessária para o armazenamento de

227
medicamentos e, posteriormente, as atividades relacionadas ao
processo de armazenamento e distribuição de medicamentos. Veremos
também sobre a segregação e o descarte de medicamentos. Ao
final desta lição, você, aluno, deverá estar apto a desenvolver a
atividade de armazenamento e distribuição de medicamentos.

Conforme vimos no Módulo 2 – Medicamento como insumo para


saúde, ao estudarmos os aspectos técnicos dos medicamentos,
podemos concluir que a eficácia dos medicamentos está diretamente
relacionada à manutenção de sua estabilidade. Esta, por sua vez,
depende, dentre outros fatores, do armazenamento, transporte e
manuseio em condições adequadas, desde a sua fabricação até a
sua dispensação, preservando, desta forma, sua qualidade, eficácia
e segurança.

Nesse contexto, o principal objetivo do armazenamento e da


distribuição é garantir a qualidade dos medicamentos sob condições
adequadas e manter um controle de estoque eficaz, bem como
garantir sua disponibilidade em todos os locais de atendimento. A
qualidade do produto deve ser assegurada desde o recebimento
até sua entrega ao usuário, em todos os níveis de gestão: federal,
estadual ou municipal.

De acordo com o manual do Ministério da Saúde Boas Práticas para


Estocagem de Medicamentos ou, ainda, com o Guia Básico para
a Farmácia Hospitalar (1994) e com as Diretrizes para estruturação
de farmácias no âmbito do Sistema Único de Saúde (2009), todos
os produtos devem ser armazenados obedecendo às condições
técnicas ideais de luminosidade, temperatura e umidade, com
o objetivo de assegurar a manutenção das características e da
qualidade necessárias à correta utilização. Os produtos devem ser
dispostos de forma a garantir as características físico-químicas,
a observação de prazo de validade e, ainda, a manutenção da
qualidade. Por outro lado, o sistema de distribuição deve permitir
que os produtos cheguem a seu destino com qualidade e de maneira
rápida, devendo obedecer a rotinas pré-estabelecidas.

228 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


As perdas de medicamentos podem ser agravadas pelas condições
inadequadas de armazenamento, situação esta observada em 39%
dos municípios brasileiros (VIEIRA, 2008). O fato sinaliza a falta de
investimento na estrutura de centrais de abastecimento farmacêutico
e de locais apropriados para o armazenamento nas farmácias das
unidades de saúde e, ainda, em recursos humanos.

Anotações

Essas afirmações sugerem fortemente que o investimento público


para aquisição de medicamentos torna-se um desperdício de recursos
quando empregado sem critérios. Isso também ocorre caso sua
armazenagem se processe em condições tecnicamente incorretas,
e quando a rede básica não atende as demandas provenientes da
sociedade.

Além de garantir medicamentos de qualidade, faz-se necessário o


correto suprimento às unidades de saúde, em quantidade, qualidade
e tempo oportuno. Dessa forma, em consonância com as atividades
de armazenamento, a distribuição de medicamentos deve garantir
rapidez e segurança na entrega, e eficiência no controle e informação.

Infelizmente, nem sempre as coisas acontecem como deveriam.


Quando o armazenamento e a distribuição de medicamentos
acontecem de maneira inadequada, podem ocorrer inúmeros
prejuízos, tais como:

• Perda de medicamentos por vencimento, com consequentes


perdas econômicas;

• Desvio de medicamentos, com consequente falta dos mesmos;

• Perda de estabilidade de medicamentos, com consequente


prejuízo à saúde do usuário.

O armazenamento de medicamentos envolve um conjunto de


procedimentos técnicos e administrativos que incluem diversas
atividades, conforme ilustra o fluxograma a seguir:

229
1. RECEBIMENTO / RECEPÇÃO

Entrada de materiais Conferência Regularização

2. ESTOCAGEM

Entrada de materiais Regularização

3. CONTROLE DE ESTOQUE

Sistema eficiente de registro Inventário

4. EXPEDIÇÃO

Separar medicamentos solicitados Preparar documentação

Fluxograma 2: Etapas de armazenamento.

Na sequência você verá os detalhes de cada uma dessas etapas.


Leia com atenção!

Recebimento/Recepção de Medicamentos

É o ato de conferência em que se verifica a compatibilidade dos


produtos solicitados e recebidos, ou seja, se os medicamentos
entregues estão em conformidade com as condições pré-
estabelecidas no edital e conforme nota fiscal.

A primeira fase da atividade de recebimento é a entrada de materiais,


que se caracteriza pela recepção dos veículos transportadores. Após
consulta ao órgão de compras, deve-se recusar o recebimento para
os casos de compras não autorizadas ou em desacordo com a
programação de entrega, registrando os motivos no verso da nota
fiscal. No caso de recusa, deve-se entrar em contato com o licitante
para o cumprimento das exigências. Em caso da impossibilidade
do cumprimento dessas exigências, deve-se solicitar a entrega ao
fornecedor que foi o segundo colocado.

230 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


A determinação para recebimento de produtos, pelo dirigente ou gestor,
deverá ser realizada por meio de autorização escrita, para que você
possa se resguardar em termos de auditorias e/ou prestação de contas.

As compras, cuja entrada foi autorizada, devem ser conferidas


segundo os critérios administrativos e técnicos descritos no edital
de aquisição, conforme abordado na lição 5, desta unidade, sobre
aquisição de medicamentos.

Qualquer ocorrência encontrada durante a conferência deve ser


notificada em livro ata e/ou boletim de ocorrência, datada, assinada
e arquivada. Todos os procedimentos adotados referentes às
ocorrências deverão ser realizados por escrito, em duas vias,
com arquivamento de uma delas para efeito de isenção de
responsabilidade. As divergências também devem ser comunicadas
à empresa fornecedora.

E, finalmente, a regularização, a qual se caracteriza pelo controle


do processo de recebimento, pela confirmação da conferência e
avaliação do fornecedor, mediante preenchimento de formulário
específico e arquivamento com a cópia da nota fiscal.

LEMBRETE:
Devoluções de medicamentos pelas unidades de saúde só deverão ser
recebidas com as devidas justificativas e assinadas pelo responsável.
O recebimento de medicamentos também ocorre em farmácias de unidades
básicas de saúde e as ocorrências precisam ser registradas e arquivadas.
Pode-se elaborar procedimentos operacionais padrão (POPs) de fluxos
de distribuição e recall, orientando como proceder em caso de devolução
de medicamentos.

Para que as exigências do edital sejam cumpridas, deve-se ter


um bom sistema de comunicação entre o setor administrativo e a
central de abastecimento farmacêutico (setor de almoxarifado). Estes
devem checar os itens exigidos no edital durante o recebimento
dos medicamentos. Se, por um lado, só pode ser exigido o que
está descrito no edital, por outro, não adianta um edital cheio de
exigências se elas não são cumpridas ou verificadas no momento da
aquisição e do recebimento dos medicamentos.

231
A criação de um cadastro de fornecedores referente à qualificação
técnica destes para fins de concorrências públicas, objetivando o
incremento da qualidade dos produtos e serviços oferecidos aos
seus consumidores, é uma importante ferramenta de gestão.

Anotações

Estocagem

A estocagem de medicamentos deve ocorrer de forma a garantir


a segurança e as características de qualidade dos medicamentos
estocados. Para realizar o armazenamento, de modo que se atendam
as boas práticas, são necessários conhecimentos técnicos sobre os
produtos a armazenar e sobre gestão de estoques. Fica difícil realizar
um bom armazenamento sem esses conhecimentos.

Devemos observar, por exemplo, se existem medicamentos que


exigem cuidados especiais de armazenamento, como termolábeis e
psicotrópicos.

Para a correta estocagem dos medicamentos, acompanhe as dicas


a seguir:

• Estoque os medicamentos por nome genérico, lote e validade,


de forma que permita fácil identificação. Utilize uma forma de
organização, por exemplo, ordem alfabética ou forma farmacêutica
e tenha um mapa da distribuição dos medicamentos na CAF ou
almoxarifado.

• Não arremesse caixas, nem arraste ou coloque muito peso sobre


elas.

• Os medicamentos devem ser conservados nas embalagens


originais. Ao serem retiradas da caixa, as embalagens devem ser
identificadas.

• Embalagens abertas devem ser destacadas e identificadas com


número de lote e validade.

232 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


• Os medicamentos com data de validade mais próxima devem
ficar à frente (sistema PVPS: primeiro que vence, primeiro que sai).

• Estoque os medicamentos de acordo com as especificações do


fabricante. Na ausência de recomendação específica, estoque
em temperatura ambiente (15-30°C).

• Realize controle diário de temperatura e umidade do ambiente


por meio de termohigrômetros e fichas de registro.

• Em caso de temperaturas elevadas ou umidade excessiva, elabore


um plano de controle e certifique-se de quais medicamentos
podem perder estabilidade nestas condições.

• Não armazene medicamentos diferentes no mesmo estrado ou


prateleira, para evitar possíveis trocas.

• Observe o empilhamento máximo permitido para o produto (ver


recomendações do fabricante).

• Não armazene os medicamentos diretamente sobre o piso ou


encostados nas paredes. Armazene-os sobre estrados (paletes)
com uma distância mínima de 50cm da parede e 1m do telhado.

• Inspecione os estoques rotineiramente para identificar possíveis


alterações nos produtos, que possam comprometê-los ou
oferecer risco às pessoas. Produtos rejeitados pela inspeção,
suspeitos e/ou passíveis de análise devem ser armazenados na
área de quarentena.

• Os itens mais volumosos e mais pesados devem ficar próximos


à área de saída, para facilitar a movimentação. Devem ser
colocados em estrados ou paletes.

• O local de armazenamento deve sempre ser bem iluminado e


bem ventilado, de modo a evitar confusões e acidentes de
trabalho por iluminação inadequada ou para a própria segurança
dos funcionários.

• Mantenha a CAF sempre bem fechada e com medidas que evitem


a presença de animais. A colocação de telas finas nas janelas é uma
medida barata e eficaz contra a maioria das pragas domésticas.

• Manter os medicamentos termolábeis em áreas específicas,


por serem produtos sensíveis à temperatura. Conservar os
imunobiológicos (soros e vacinas) em um sistema chamado
rede de frio, em condições adequadas de refrigeração, desde

233
o laboratório produtor até a destinação final do produto. Os
medicamentos sujeitos a controle especial (Portaria SVS n.
344/98) devem ser armazenados em local seguro, isolados dos
demais, sob controle e responsabilidade legal do farmacêutico.

Anotações

No que concerne à temperatura, a norma brasileira não especifica


qual a indicada. Vecina Neto e Reinhardt Filho (1998) propõem que a
temperatura não deva ser superior a 25°C. Já o Ministério da Saúde,
no Guia Básico para a Farmácia Hospitalar (1994), recomenda
uma temperatura em torno de 20-22°C para a conservação de
medicamentos, observando que cada dez graus de elevação
de temperatura correspondem à duplicação da velocidade dos
processos de decomposição.

Os produtos sensíveis à umidade devem ser conservados e


distribuídos em frascos hermeticamente fechados ou contendo
substâncias dessecantes. Alguns, devido à elevada umidade, trazem
invólucros de sílica gel para a devida proteção, não devendo ser
retirados das embalagens. O grau de umidade para armazenamento
de medicamentos não deve ultrapassar 70%.

Lição 10 - Armazenamento e distribuição de medicamentos:


Central de abastecimento farmacêutico

Nesta lição, você conhecerá como funciona a central de abastecimento


farmacêutico. Esperamos que ao final deste conteúdo, você,
aluno, esteja apto a organizar sua central de abastecimento
farmacêutico.

Atualmente, sistemas sofisticados de manuseio e armazenagem de


materiais possibilitam redução de custos, aumento significativo de
produtividade e maior segurança nas operações de controle, com
obtenção de informações precisas em tempo real.

Apesar dos avanços, a antiga ideia de “depósitos”, onde os materiais


eram acumulados de qualquer forma, em locais inadequados,

234 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


utilizando-se de mão de obra desqualificada e despreparada, ainda é
realidade em diversos locais de armazenamento de medicamentos.

O local destinado à estocagem de todos os tipos de materiais pode


ser denominado como almoxarifado. No Brasil, o espaço dedicado
exclusivamente à armazenagem de medicamentos é denominado
Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF).

Central de abastecimento farmacêutico (CAF) é a área destinada


à estocagem e conservação dos produtos, visando assegurar a
manutenção da sua qualidade, enquanto estocados, conforme as
características de cada medicamento.

A CAF deve possuir condições para assegurar que medicamentos


de qualidade, na quantidade devida, estarão no local certo quando
necessário, por meio da armazenagem, de acordo com normas
adequadas, objetivando proteger as exatas quantidades, além de
preservar sua qualidade.

Para assegurar condições ideais de conservação e contribuir para


a manutenção da estabilidade dos medicamentos, a CAF deverá
atender a alguns requisitos básicos:

• Localização: Deve estar localizada em regiões de fácil acesso


para o recebimento e a distribuição dos produtos, além de
dispor de espaço suficiente para movimentação e circulação de
pessoas, produtos, equipamentos e veículos, estando longe de
fontes de calor e contaminação.

• Identificação externa: O prédio onde a CAF encontra-se


instalada deve estar devidamente identificado de forma visível
por meio do nome, logotipo e sinalizadores ou placas indicativas.

• Acesso: Para otimizar a funcionalidade dos serviços, a CAF


deve ser de fácil acesso, com plataformas que facilitem os
procedimentos de carga e descarga dos meios de transportes
utilizados, com vias de acesso desobstruídas e área de manobra
suficiente para carros e caminhões, bem como espaço para
estacionamento.

• Sinalização interna: A CAF deve sinalizar os espaços e as áreas


por meio de letras ou placas indicativas nas estantes, nos locais
de extintores de incêndio, entre outros.

235
• Condições ambientais: O ambiente geral deve ser propício
e apresentar condições adequadas quanto à temperatura,
ventilação, luminosidade e umidade, permitindo, ainda, boa
circulação, além de estar organizado de forma a permitir fácil
limpeza e controle de pragas.

• Higienização: O espaço destinado ao armazenamento de


medicamentos deve ser higienizado constantemente. A limpeza,
além de demonstrar aspecto de organização, é uma norma de
segurança que deve ser rigorosamente seguida.

• Segurança: Para garantir a total segurança do ambiente e prevenir


eventuais acidentes, devem ser estabelecidos mecanismos
e equipamentos de segurança à proteção das pessoas e dos
produtos em estoque.

• Equipamentos e acessórios: Os equipamentos e acessórios


utilizados no almoxarifado devem ser em número suficiente e
adequados, levando-se em consideração o tipo e o volume de
produtos, a forma de organização do estoque e a movimentação
necessária. A CAF deve apresentar instalações elétricas,
sanitárias, equipamentos e acessórios adequados, bem como
suas instalações interiores devem apresentar superfícies lisas,
sem rachaduras e sem desprendimento de pó, facilitando a
limpeza e não permitindo a entrada de roedores, aves, insetos
ou quaisquer outros animais. Ainda com relação à infraestrutura,
mais alguns aspectos devem ser atendidos (BRASIL, 2001):

• Piso: Para enquadrar-se nos critérios de qualidade, o piso deve


ser plano e lavável, de material adequado de modo a facilitar
sua higienização frequente, e suficientemente resistente
para suportar o peso dos produtos e a movimentação dos
equipamentos. A espessura do piso deve estar de acordo
com o quantitativo de cargas, para que ele não venha a
rachar ou sofrer fissuras.

• Paredes: Devem possuir cor clara, que evidencie o acúmulo


de sujidades, com pintura lavável e livre de infiltrações e
umidade.

• Portas: Devem ser pintadas a óleo, ou preferencialmente


esmaltadas ou de alumínio, com dispositivo de segurança
automático.

• Teto: Recomenda-se o uso de telha de fibra de vidro, telhas


térmicas com uso de poliuretano, lã de vidro, colocação de
exaustores, ou demais alternativas que facilitem uma boa

236 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


circulação de ar. As telhas de amianto devem ser evitadas
porque absorvem muito calor. O teto com forro adequado e
boas condições contribuem para a garantia da estabilidade
dos medicamentos.

• Janelas: Devem possuir telas para proteção contra entrada


de animais.

• Pé direito: É conveniente, para a área de armazenamento,


ambiente de grande altura.

As instalações elétricas devem sofrer manutenção constante, sendo


prioridade dos responsáveis pelo setor, a fim de evitar acidentes
e curtos-circuitos. Para isso, todos os equipamentos devem ser
desligados diariamente, exceto os da rede de frio, antes da saída
do trabalho; deve-se evitar sobrecarga de energia, com o uso de
extensões elétricas; cada tomada deve ter apenas um equipamento
conectado a ela, não fazendo uso de adaptadores; e o edifício deve
solicitar um contrato de manutenção elétrica ou realizar vistorias
periódicas nas instalações.

As instalações sanitárias devem ser apropriadas e sem comunicação


direta com as áreas de estocagem. Devem existir lavatórios e instalações
sanitárias em condições de higiene perfeitas e separadas para uso do
pessoal administrativo e para o pessoal da área de estocagem.

LEMBRETE:
Os requisitos básicos apontados até agora estão diretamente
relacionados à garantia da qualidade de medicamentos e, por isso,
precisam ser garantidos no armazenamento de medicamentos em
qualquer unidade de dispensação de medicamentos, como, por exemplo,
nas farmácias de unidades básicas de saúde.

Organização Interna da CAF

Agora precisamos organizar a CAF de forma que as atividades


possam ser realizadas de maneira eficaz.

A organização interna de uma CAF está condicionada às


características dos produtos a serem estocados. Deve ser bem
sinalizada, de forma que permita fácil identificação e visualização dos
produtos e sua localização, bem como processos inerentes a ela, de
forma a impedir contaminações de fluxo.

237
Para o bom andamento das atividades de armazenamento, o espaço
físico da CAF precisa estar organizado e atender as necessidades do
serviço. As instalações devem proporcionar a movimentação rápida
e fácil dos produtos, desde o recebimento até a expedição, com a
utilização do espaço nas três dimensões, de maneira mais eficiente
possível. Assim, alguns cuidados precisam ser observados.

Cuidados para a organização interna da CAF:

• Determinação do local onde a CAF será instalada;

• Definição adequada do layout;

• Ordem, arrumação e limpeza, de forma constante;

• Segurança patrimonial, contra furtos e incêndios.

Ao se otimizar a armazenagem obtém-se:

• Máxima utilização do espaço;

• Efetiva utilização dos recursos disponíveis;

• Pronto acesso a todos os itens;

• Máxima proteção aos itens estocados;

• Boa organização.

Arranjo Físico (layout)

Consiste na disposição e forma de organização do espaço físico, dos


equipamentos, mobiliários, acessórios, materiais, possibilitando um
fluxo adequado; permitindo a utilização eficiente do espaço físico, para
melhor aproveitamento da área disponível, maior agilidade na execução
das atividades e melhoria das condições de trabalho. Para tal, há que
se ter um planejamento do espaço físico a ser ocupado e utilizado.

Considerando as atividades relacionadas ao armazenamento de


medicamentos, a CAF deverá se constituir de áreas que contemplem
as necessidades do serviço, considerando o volume e os tipos de
produtos a serem estocados.

238 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Área Descrição
Área destinada às atividades operacionais da CAF. Sua localização deve estar próxima à entrada do prédio
Área administrativa para maior controle das ações e a circulação de pessoas e materiais. Esta área deverá conter salas para
escritório, vestiários, refeitórios, banheiros e demais áreas destinadas às atividades administrativas.

Área destinada ao recebimento e à conferência dos produtos que estão sendo entregues. Sua localização
Área de recepção é compulsoriamente junto à porta principal ou docas de descarga. Deve possuir, fixadas em lugar visível,
normas e procedimentos que devem estar escritos de forma clara e objetiva.

De acordo com os tipos de materiais a serem estocados e as exigências específicas de conservação, deve-
se contar com áreas distintas para estocagem de medicamentos, como: de controle especial, termolábeis,
Área de estocagem imunobiológicos, inflamáveis (os de grande volume devem ser armazenados em ambiente separado),
ou guarda produtos químicos e material médico-hospitalar. Cada área destas deverá estar sinalizada e identificada de
forma a favorecer a sua visualização. O fluxo de pessoas nestas áreas deve ser restrito aos colaboradores
do setor.

Área destinada à conferência, organização, preparação e liberação dos produtos a serem distribuídos.
Área de expedição Pode estar ou não no mesmo espaço físico da recepção, porém distintamente separadas, dependendo da
dimensão da área física.

Área de produtos Área destinada à guarda de materiais imprestáveis à distribuição, enquanto aguardam destinação
rejeitados/interditados específica.

Quadro 7 – Áreas da central de abastecimento farmacêutico.

Além das áreas antes citadas, outras áreas básicas para conforto dos
funcionários podem ser disponibilizadas, como vestiários, banheiros
e refeitórios, em quantidade dependente do porte do almoxarifado.

Um modelo tradicional de organização consiste em uma área de


estantes a frente e uma área circundante de paletes, garantindo
espaço adequado de movimentação.

Estrados Estrados Estrados Estrados Estrados


Saída
Estrados
Estantes Estantes
Estrados
Estantes Estantes Estrados
Entrada Estrados
Estantes Estantes
Estrados
Estantes Estantes
Estrados

Área de
Área de Área Produtos de Termolábeis
Recepção Administrativa Controle
Especial

Figura 4 - Modelo de disposição interna de prateleiras e estrados em uma CAF.


Fonte: Adaptado de BRASIL, 2006c.

239
Organização do Espaço Físico

• As áreas de recebimento e expedição devem ser separadas,


no entanto, para um melhor controle, é ideal que elas sejam
adjacentes, com uma única entrada. Próximo ao local de
recebimento e expedição deve haver um espaço de armazenagem
temporária para se colocar, separadamente, as mercadorias
conforme o tipo. Dependendo do tamanho do almoxarifado,
do fluxo de atendimento e do número de funcionários pode se
organizar a entrada e a saída em áreas opostas. Dessa maneira,
evitam-se confusões e pode-se realizar recebimento e distribuição
ao mesmo tempo.

• Os estrados devem estar posicionados em um espaço delimitado


para grandes volumes e afastados das paredes.

• Os corredores deverão facilitar o acesso às mercadorias em


estoque. Quanto maior a quantidade de corredores maior
será a facilidade de acesso e menor o espaço disponível para
armazenamento. A localização dos corredores é determinada em
função das portas de acesso e da arrumação das mercadorias.

• As estantes devem ser posicionadas uma de costas para a outra,


numeradas e afastadas das paredes. Para cada duas filas de
prateleiras deve haver um corredor.

• As mercadorias leves devem permanecer na parte superior


das estruturas e as mercadorias mais pesadas devem ser
armazenadas nas barras inferiores da estrutura. Além disso, os
materiais mais pesados ou de maior fluxo devem ser estocados
próximos à área de expedição.

• A altura máxima de empilhamento deverá considerar o peso dos


materiais. O topo das pilhas de mercadorias deve se distanciar
um metro das luminárias do teto.

• O fluxo interno deve ser bem definido, preferencialmente


organizado de forma contínua, para que não se faça necessário
o retorno ao caminho já percorrido para obtenção do produto.

• A sinalização interna deve ser visível, estando organizada por


meio de letras ou placas indicativas das estantes, corredores,
locais de extintores de incêndio etc.

• O espaço entre as estantes e os estrados deve ser bem


dimensionado, permitindo a circulação dos equipamentos e o
transporte dos medicamentos.

240 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Depois de ver toda a área física necessária para o correto armazenamento
de medicamentos você deve estar se perguntado: Qual o tamanho ideal
para uma CAF?

Não existe um padrão estabelecido que determine o tamanho


adequado de uma CAF. No entanto, a área física disponibilizada deve
ser adequada para conter os produtos a que se destina acondicionar
de maneira segura e organizada. Devem-se considerar fatores como
a rotatividade e a periodicidade de movimentação dos produtos, o
tempo da entrega de medicamentos pelos fornecedores, o sistema
de distribuição (se centralizado ou descentralizado), a quantidade
de equipamentos e recursos humanos, as áreas necessárias à
funcionalidade do serviço (área administrativa, recepção/expedição)
e áreas específicas de estocagem.

Anotações

Nesse vídeo, você poderá observar que o responsável pelo


almoxarifado/CAF fala sobre o fluxo de entrada e saída de
medicamentos; sobre como é o controle de estoque da rede de
frios e, por fim, sobre como é o armazenamento dos medicamentos
controlados.

Nem sempre temos a possibilidade de projetar a CAF, pois, na maioria


das vezes, iniciamos um trabalho onde a CAF já está em funcionamento.
Será que podemos adequar a CAF, dentro do espaço disponibilizado?
Como iniciar esse processo?

Podemos iniciar, projetando um layout para a CAF existente, tentando,


dentro das possibilidades existentes, adequar, da melhor maneira

241
possível, o espaço às atividades a serem realizadas. Para isso, você
pode observar os passos a seguir:

• Defina, dentro da CAF, a localização de todos os obstáculos


existentes (pontos críticos do armazenamento);

• Localize as áreas de recebimento e expedição;

• Localize as demais áreas, como separação de pedidos,


estocagem etc;

• Defina o sistema de localização do estoque;

• Avalie as alternativas de layout da CAF.

Grande parte dos problemas encontrados nas CAFs refere-se à


deficiência de espaço físico. Mas, como podemos atuar sobre esse
problema, sem alterarmos a localização da CAF?

Basicamente de duas maneiras: (1) utilizando o espaço vertical


disponível e/ou (2) diminuindo os prazos de entrega, que podem ser
efetuadas mais facilmente por meio do registro de preços como visto
no conteúdo sobre aquisição.

Lição 11 - Armazenamento e distribuição de medicamentos:


Distribuição de medicamentos

Nesta lição, você conhecerá os aspectos e as etapas da


distribuição de medicamentos. Ao final dos estudos, você, aluno,
deverá estar apto a desenvolver a distribuição.

A distribuição de medicamentos é uma atividade que consiste no


suprimento de medicamentos às unidades de saúde, em quantidade,
qualidade e tempo oportuno, para posterior dispensação à
população usuária.

Dessa forma, uma distribuição correta e racional deve apresentar os


seguintes aspectos:

242 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Deve ser realizada em tempo Garantia de que os produtos
hábil, por meio de cronograma chegarão aos destinatários nas
estabelecido, impedindo quantidades corretas e com a
atrasos e desabastecimento qualidade desejada.
do sistema.
Distribuição Segurança

Transporte Sistema de
informação
Considerar condições e controle Monitoração constante.
adequadas de transporte, eficiente Deve dispor de dados
distância das rotas das atualizados sobre movimenta-
viagens, o tempo de entrega e ção dos estoques a qualquer
custos financeiros. momento para um gerencia-
mento adequado.

Figura 5 - Aspectos da distribuição de medicamentos.

A escolha do transporte adequado é de extrema importância para


a garantia das condições de estabilidade do medicamento. Alguns
fatores precisam ser observados:

• Os veículos devem apresentar isolamento térmico, principalmente


em distâncias longas, em função das grandes variações de
temperatura, umidade e pressão atmosférica de uma região para
outra.

• Os motoristas devem ser capacitados sobre as características


da carga que estão transportando, seu alto custo, os fatores que
interferem na qualidade dos medicamentos e os cuidados para
seu manuseio.

• As operações de carga e descarga precisam respeitar o


empilhamento máximo permitido das caixas, conforme setas
indicativas, de modo a evitar danificação dos produtos.

• Os medicamentos termolábeis necessitam de veículo com


características especiais (conforto térmico) e devem ser,
imediatamente, colocados em locais adequados de armazenagem
assim que chegarem ao seu destino.

Anotações

243
Para determinação da frequência de distribuição dos medicamentos
às unidades de saúde, alguns questionamentos precisam ser
respondidos:

• Quantas unidades de saúde precisam ser abastecidas?

• Como estas unidades estão distribuídas geograficamente?

• Qual a característica dos serviços prestados pelas unidades de


saúde?

• Qual a capacidade de armazenamento da CAF e das unidades


de saúde?

• Qual a demanda local?

• Qual a disponibilidade de transporte?

• Qual a disponibilidade de recursos humanos?

Depois de analisar todos os parâmetros aqui apontados, é possível


estabelecer a periodicidade para entrega dos produtos, por meio
de um cronograma. O intervalo entre as distribuições deve ser
cuidadosamente observado, evitando-se o desabastecimento.
Quanto menor a periodicidade, maiores os custos com a distribuição.
A distribuição mensal, apesar de mais onerosa ao sistema, é a
que garante o melhor acompanhamento e gerenciamento das
informações. Além disso, algumas unidades de saúde não possuem
espaço suficiente e adequado para armazenar uma quantidade de
medicamentos para um período superior a 30 dias.

Pode ser importante, dependendo do tamanho do município,


organizar um calendário para suprimento. Dividir o município em
regiões e determinar datas diferentes para a entrega do pedido e
datas para o período de suprimento. Além de organizar o trabalho da
CAF, isso também é importante para o planejamento local.

A seguir serão descritas as etapas da distribuição de medicamentos


e algumas observações importantes:

244 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Etapa Descrição
O requisitante faz uma solicitação de medicamentos para suprir as necessidades de medicamentos por
um determinado período de tempo (determinado a partir do cronograma de distribuição, ex. mensal).
Atenção: na inexistência de um pedido informatizado, a central de distribuição deve elaborar um
Solicitação do
formulário para a solicitação de medicamentos que contenha as informações mínimas necessárias
medicamento
para o correto gerenciamento: descrição detalhada do medicamento (para evitar erros); quantidade
de medicamentos recebida no último mês; quantidade de medicamentos distribuída; quantidade de
medicamentos em estoque; e quantidade de medicamentos a ser solicitada.

Antes de atender a solicitação, deve-se avaliar criteriosamente: que quantidades distribuir? Qual o
Análise da
consumo da unidade? Qual a demanda (atendida e não atendida)? Qual o estoque existente? Qual a data
solicitação
da última solicitação? Como foi realizada a solicitação anterior?

Após análise das informações e identificação das necessidades, atende-se a solicitação mediante
Processamento documento elaborado em duas vias (uma cópia para requisitante e outra para o controle da distribuição).
do pedido Atenção: é importante registrar no documento de saída o número dos lotes dos medicamentos
distribuídos, para que seja possível seu rastreamento caso ocorram problemas de qualidade.

A preparação do pedido deve ser realizada por um funcionário e revisada por outro, para evitar falhas na
conferência.
Atenção 1: realizar a inspeção física do medicamento para identificar alterações no produto ou nas
embalagens antes da distribuição. Separar os medicamentos por ordem cronológica de prazo de validade.
Preparação e Atenção 2: seria interessante a existência de um sistema que registrasse o que foi solicitado e que não foi
liberação do pedido enviado.
Atenção 3: também é importante que se estabeleça um sistema de comunição entre a CAF e as unidades
de saúde com as informações de quais medicamentos estão em falta e se há previsão de chegada.
Atenção 4: também podem ser feitos lembretes ou destaques sobre produtos com prazo de validade
próximos de definir regras (POPs de redistribuição).

Após a entrega do pedido, o documento, devidamente assinado, é entregue no almoxarifado e, somente


Registro de saída então, registram-se as informações de saída dos medicamentos. Atenção: Em algumas situações, o
registro de saída é efetuado após a liberação dos produtos no almoxarifado.

O pedido é transportado até a unidade solicitante, acompanhado das duas vias do documento. Atenção:
Transporte além de garantir as condições ideais de transporte, deve-se garantir a segurança dos produtos até seu
destino final, por meio de lacres nas caixas utilizadas para transporte de medicamentos, por exemplo.

A unidade solicitante deve conferir todos os itens e assinar as duas vias dos documentos (nome por extenso,
número de identidade ou da matrícula, setor de trabalho e data do recebimento). Pode-se utilizar um carimbo
Conferência com os referidos dados.
Atenção 1: a conferência deve ocorrer no momento da entrega, antes da assinatura dos documentos.
Atenção 2: Deve-se ter POPs para o que fazer quando as quantidades estão discordantes.
Arquivo e
Deve-se manter arquivo das cópias de todos os documentos por um período de 5 anos.
documentação

Quadro 8 – Etapas da distribuição de medicamentos.

245
Lição 12 - Armazenamento e distribuição de medicamentos:
Resíduos de saúde

Estamos quase finalizando nosso conteúdo e você já pode verificar


que a execução inadequada das atividades de gerenciamento,
relacionadas à programação, aquisição, armazenamento e
distribuição de medicamentos, pode gerar medicamentos vencidos
e/ou inadequados para consumo, que precisam ser descartados.
O ideal é que tenhamos um gerenciamento de excelência para que
essa situação não aconteça.

Mas, o que fazer quando temos medicamentos para descartar? E os


medicamentos estocados em domicílio? Como jogar fora? No lixo
comum? É sobre os resíduos de saúde que trataremos nesta
lição. Ao final deste conteúdo, você, aluno, deverá conhecer a
maneira correta de realizar o descarte de resíduos de saúde.

O descarte de medicamentos não pode ser discutido isoladamente, já


que é apenas um dos muitos resíduos gerados. A geração de resíduos,
de uma forma geral, constitui-se atualmente em um grande desafio a
ser enfrentado pelas administrações municipais e estaduais, sobretudo
nos grandes centros urbanos. A falta de orientação e estruturação
para o seu manejo tem causado sérios danos à saúde pública e ao
meio ambiente, revelando a necessidade urgente de identificação de
alternativas para tratamento adequado e redução da produção.

Link

Recentemente, foi aprovada a Política Nacional de Resíduos (BRASIL,


2010c) que estabelece um marco regulatório para esta questão.
Você pode ter acesso a lei, na íntegra, no link:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm

Dentre os diversos tipos de resíduos gerados, encontram-se os resíduos


sólidos de saúde (RSS) que merecem atenção particular devido,
principalmente, ao elevado potencial de risco de contaminação que
oferecem, não somente na unidade geradora (aquela onde o resíduo é
gerado), mas também ao meio externo quando são dispostos no meio
ambiente de forma inadequada. Os profissionais devem ser conscientes
de que os resíduos gerados por suas atividades podem levar riscos ao
meio ambiente e à saúde das pessoas que, eventualmente, possam
entrar em contato com esses materiais.

246 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Os resíduos sólidos de saúde classificam-se em grupos distintos de
risco, que exigem formas de manejo específicas:

resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas


Grupo A
características, podem apresentar risco de infecção;

Grupo B resíduos químicos (incluindo os medicamentos);

Grupo C rejeitos radioativos;

Grupo D resíduos comuns;

Grupo E materiais perfurocortantes.

Quadro 9 - Classificação dos resíduos sólidos de acordo com os grupos de risco.

Cada estabelecimento gerador de resíduo de saúde deve


implementar um plano de gerenciamento de resíduos em serviço de
saúde (PGRSS) com objetivo de minimizar a produção e proporcionar
aos resíduos gerados um encaminhamento seguro e eficiente. Para
atingir tal objetivo, o PGRSS deve contar com a descrição de todas
as ações pertinentes ao manejo de resíduos.

Anotações

Afinal de contas, como deve ser a segregação dos medicamentos?

A RDC Anvisa n. 306/04 determina como deve ser a segregação


para os medicamentos que pertencem aos grupos dos produtos
hormonais, produtos antimicrobianos, citostáticos e antineoplásicos,
imunossupressores, digitálicos, imunomoduladores, antirretrovirais
e medicamentos controlados pela Portaria MS n. 344/98 e suas
atualizações. Esses medicamentos devem ser descartados juntamente
com os blísteres e frascos. Retirar as caixas e bulas quando estas não
estiverem sujas e descartar em lixo comum (BRASIL, 2004b).

Todos os outros medicamentos não apontados pela RDC Anvisa n.


306/04 devem ser separados em sólidos e líquidos.

247
• Sólidos: retirar os comprimidos e as cápsulas das embalagens
(blísteres ou frascos). As embalagens devem ser descartadas em
lixo comum, junto com caixa e bula. Os comprimidos e as cápsulas
são descartados no lixo químico, devidamente identificado.

• Líquidos: retirar as caixas e bulas (lixo comum). O líquido deve


ser despejado em uma bombona devidamente identificada. Os
frascos devem ser descartados em lixo comum.

• Semi-sólidos: devem ser descartados juntamente com os


sólidos em sua embalagem (bisnaga).

• Ampolas: quebrar a ampola, despejar o líquido na bombona. As


ampolas devem ser descartadas em caixa para perfurocortantes.

MEDICAMENTOS

APRESENTAM RISCO QUÍMICO: Outros medicamentos


Produtos hormonais e antimicrobianos;
Citostáticos, antineoplásticos;
Imunossupressores;
Digitálicos, Imunomoduladores
Anti-retrovirais;
Medicamentos Portaria n. 344/98 Líquidos Sólidos

Blísters e frascos Descarte em Blísters e Comprimidos


Caixas e Bulas
contendo medicamentos bombonas frascos e cápsulas

ATERRO ESGOTO ATERRO


CLASSE I OU (NORMAS SANITÁRIO OU
GRUPO D INCINERAÇÃO AMBIENTAIS) GRUPO D INCINERAÇÃO

Fluxograma 3 - Manejo de medicamentos vencidos.

248 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


O gerenciamento dos resíduos de saúde, por meio do PGRSS deve ser
desenvolvido de acordo com as condições reais do estabelecimento,
propondo modificações quando necessárias ou quando possíveis.
Uma das etapas que precedem a elaboração do plano, portanto, é
a realização do diagnóstico da situação real do manejo de resíduos
do local. O diagnóstico fornecerá os dados necessários para a
implantação do plano de gestão.

Desse modo, a União e os estados têm o importante papel de estabelecer


as leis e normas de caráter geral como princípios orientadores, que
servirão de base para leis e normativas municipais, que devem tratar
os problemas locais, considerando suas especificidades.

Ressalte-se que os poderes públicos têm responsabilidade não só na


elaboração de leis que contribuam para a sustentabilidade ambiental,
mas, principalmente, em fazer com que sejam cumpridas, propiciando
condições para isso.

Apesar de muitos municípios e estados já terem aprovado e


implementado seus planos de gestão de resíduos sólidos, observa-
se que faltam recursos financeiros e capacitação técnica; que os
planos são genéricos e não respeitam a logística e as peculiaridades
ambientais dos municípios.

É importante que todos os profissionais da saúde tenham


conhecimento e apropriem-se do processo de descarte de resíduos
em seu território. Lembre-se de que não são somente as farmácias
que produzem resíduos. Por isso, o descarte de resíduos na farmácia
deve estar inserido no contexto da unidade de trabalho.

Além disso, é necessário estabelecer fluxos e orientar quanto ao


recebimento de resíduos de saúde de usuários, como, por exemplo,
devoluções de medicamentos.

Link

Na página da Agência de Vigilância Sanitária na internet há um canal


especial para orientar a população a respeito das medidas em curso
para evitar o descarte aleatório de medicamentos. Nesta página
você encontra a legislação relacionada ao tema, publicações de
interesse e indicações de links. O endereço da página da Anvisa é:
http://189.28.128.179:8080/descartemedicamentos

249
Ao final deste conteúdo, vamos listar alguns fatores que já foram
amplamente discutidos e que podem interferir no processo de
gestão, no aumento dos gastos com aquisição de medicamentos e
na qualidade dos produtos e serviços. Cabe a você identificar quais
os problemas enfrentados na sua realidade e como esses problemas
podem ser resolvidos.

Falta de critérios técnicos

A falta de critérios pode comprometer o processo de programação.


Esse problema pode ocorrer tanto na primeira vez que se efetua a
programação para um serviço ou unidade quanto em programações
sucessivas. Ainda que as informações a coletar sejam escassas e
de difícil acesso, é importante chegar até elas de forma criativa. É
importante aderir às listas de medicamentos essenciais, bem como
é, ainda, imprescindível que se empreguem métodos de avaliação de
modo a acompanhar o processo ao longo do tempo. Programações
anteriores, que foram empreendidas com falta de critérios técnicos
adequados, não podem ser utilizadas na elaboração de nova
programação, pois trazem distorções importantes.

Centralização

A programação deve ser descentralizada, para que possa retratar


o mais fielmente possível a necessidade local. É impossível para o
gestor central ter uma ideia clara das necessidades locais se não
buscar dados ou recebê-los. A perpetuação de programação
centralizada pode ocasionar excessos e faltas de grande monta, com
sério impacto sobre a resolutividade dos serviços.

Sistema de informação gerencial e epidemiológica deficiente

Os dados de consumo obtidos, normalmente, são aqueles


relacionados à distribuição, sem que haja avaliação da demanda real
(atendida e não atendida); aos períodos de desabastecimento; e aos
estoques existentes (inventário). Os registros epidemiológicos, que
normalmente poderiam corroborar as informações de consumo, são
pouco confiáveis nesse caso.

Recursos humanos despreparados

A baixa capacitação técnica é um grande entrave na qualidade do


processo de programação. A carência de conhecimentos técnicos
aliada à falta de atitude pró-ativa compromete o desempenho dessa
atividade.

250 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Recursos financeiros insuficientes

A limitação dos recursos financeiros, cada vez mais escassos, tem


transformado as programações em um processo eminentemente
administrativo, que acabam sendo realizadas em função dos recursos
financeiros disponíveis e não das reais necessidades da população.
Além da insuficiência no tocante à disponibilidade financeira, a
irregularidade do seu aporte compromete sobremaneira a eficiência
da execução da programação.

Falta de organização e estruturação dos serviços farmacêuticos

Aumentar os recursos para compra de medicamentos sem organizar


e estruturar os serviços de assistência farmacêutica é aumentar
os riscos de desperdício. Uma gestão eficiente necessita de
pessoal qualificado e estrutura mínima adequada e pode contribuir
decisivamente na melhoria do acesso, na resolutividade dos
problemas rotineiros e na racionalização dos procedimentos de
compra/dispensação com impacto positivo na cobertura assistencial.

Demora no processo de aquisição

Um processo de compra de medicamentos no setor público é


complexo e envolve um conjunto de exigências legais e administrativas
que devem ser cumpridas. Essa situação, entretanto, pode ser
agravada quando não há prioridade na garantia do medicamento
à população e dificuldades de tomada de decisão, demandando
um tempo muito maior que o necessário ou levando à tomada de
decisão sob pressão pela falta do medicamento – aumentando as
chances de não “comprar bem”.

Compras frequentes, em pequenas quantidades, segmentadas, em


regime de urgência

São problemas comuns e frequentes no serviço público, em sua


maior parte por falta de planejamento e programação das compras,
o que gera irregularidade no abastecimento e riscos de desperdícios
de recursos, pois compras menores e em regime de urgência tendem
a apresentar preços maiores. Com a organização do processo de
compras otimizam-se os recursos, racionaliza-se o quantitativo de
compras e presta-se maior atendimento.

Falta constante de medicamentos


A falta de medicamentos de uso contínuo pode comprometer e
agravar a situação de saúde dos usuários. Um serviço organizado
deve manter um cadastro atualizado dos usuários e, por meio dele,

251
elaborar a ficha do usuário ou planilha, registrar e monitorar os usuários
de risco e assegurar seus tratamentos. A interrupção no tratamento
pela falta de medicamento, seja por cortes dos pedidos de compras
ou por falta de orientação adequada ao usuário, representa prejuízos
efetivos, não só na melhoria da qualidade de vida do usuário como
na credibilidade do serviço prestado.

Falta de eficiente sistema de controle e de informação

Sem informação, não há gerenciamento. Sem registros, em especial


das demandas atendidas e não-atendidas, dificilmente se conseguirá
programação de medicamentos ajustada. Um sistema de informação
eficiente permite evitar a falta e/ou o desperdício de medicamentos;
garantir a regularidade no abastecimento; e suprir as necessidades
dos serviços de saúde. Existem várias alternativas para registrar e
coletar dados de demanda, mesmo sem um programa informatizado:
ficha, planilha, cópia da 2ª via da prescrição ou cadastro do usuário são
recursos que possibilitam registrar as quantidades de medicamentos
entregues, data da entrega, entre outras informações.

Falta de planejamento e de avaliação

Em geral, o planejamento concentra-se nos aspectos financeiros e


de distribuição (medicamentos recebidos e dispensados). Entretanto,
o planejamento da assistência farmacêutica deve ir além e avaliar
o impacto dos gastos em relação à cobertura assistencial com
medicamentos versus atendimento de usuários em números
absolutos e per capita; percentual de cobertura de medicamentos por
grupos terapêuticos, por programas estratégicos, por especialidade
ou clínica médica, e/ou enfermidades, entre muitos indicadores
representativos para avaliar resultados.

Anotações

Com base no texto anterior você conseguiu identificar alguns


parâmetros que você pode utilizar para fazer o diagnóstico do
processo de programação, aquisição, armazenamento e distribuição
do seu município/estado?

252 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


• Que tal começar a identificar a equipe de trabalho e quais os
fluxos operacionais para estes processos?

• Como estão organizados os fluxos operacionais?

• As informações de programação são fidedignas?

• Qual o estoque atual de todos os medicamentos na CAF?

• Quais medicamentos estão com o prazo de validade próximo?

• Qual o consumo dos medicamentos nas unidades de saúde?

• Este consumo reflete a demanda real?

• Qual o tempo entre a elaboração da requisição e a efetiva entrega


do medicamento?

• Qual o número de compras de urgência do último ano?

• Qual o percentual de itens em falta no último ano?

• Qual o percentual de itens em falta no último ano, por um período


maior de 30 dias?

• Qual o percentual de itens em que o estoque físico é diferente


dos valores do estoque informatizado?

• Qual o percentual de itens adquiridos na última licitação, com


valores superiores ao BPS/MS?

• Qual o percentual de itens não adquiridos na última licitação?

• Qual o percentual de fornecedores que entregaram os


medicamentos de acordo com as especificações do edital?

• Existe procedimento operacional padrão para o recebimento dos


medicamentos?

• Quais itens são verificados no momento do recebimento dos


medicamentos?

• Como os medicamentos são armazenados? Existe observância


das Boas Práticas de Armazenamento?

• Qual o percentual de itens que tiveram o prazo de validade


expirado no último ano?

253
• Qual o percentual de medicamentos em estoque, cuja contagem
física corresponde ao valor registrado no controle de estoque?

• Existe controle de estoque informatizado? Este controle é


adequado as suas necessidades?

• O pessoal que trabalha na CAF ou almoxarifado e nas unidades


de saúde recebeu capacitação para exercer tais funções?

• Qual o tempo entre o recebimento do pedido da unidade de


saúde e a sua distribuição?

• Como é o transporte e o recebimento dos medicamentos nas


unidades de saúde?

• Como é a comunicação entre a CAF ou almoxarifado e as


unidades de saúde?

Existem muitos outros parâmetros que podem ser monitorados.

Análise Crítica

Baseado em tudo o que estudamos nesta unidade, conclui-se


que a eficiência do gerenciamento de estoques de medicamentos
é fundamental para suprir as necessidades de medicamentos das
instituições de saúde, além de colaborar também para
diminuir gastos. Portanto, você, precisa aliar as novas técnicas de
gestão de estoque ao seu conhecimento técnico. Precisa também
conhecer as etapas e a organização do processo de programação e
aquisição para dar maior agilidade ao processo e evitar desperdícios de
tempo e dinheiro. Esses aspectos irão contribuir para o fortalecimento
da sua credibilidade profissional e, mais ainda, sua instituição estará
modernizando a gestão administrativa, racionalizando gastos e
incorporando novas estratégias.

254 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Anotações

255
Referências

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e contratos da Administração Pública e dá outras providências.
Brasília, D.F.: Diário Oficial da República Federativa do Brasil, n. 116,
seção 1, p. 8269-8281, de 20 de junho de 1993. Brasília, 1993.

BRASIL. Decreto n. 2.743, de 21 de agosto de 1998. Regulamenta o


Sistema de Registro de Preços previsto no art. 15 da Lei n. 8.666, de
21 de junho de 1993, e dá outras providências. Brasília, 1998.

BRASIL. Portaria GM/MS n. 176, de 08 de março de 1999. Estabelece


critérios e requisitos para a qualificação dos municípios e estados ao
incentivo à Assistência Farmacêutica Básica e define valores a serem
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Farmacêutica. Assistência farmacêutica na atenção básica: instruções
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256 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


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Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 jul. 2002b.

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Sanitária – Anvisa. Resolução RDC n. 306, de 07 de dezembro de
2004. Dispõe sobre o Regulamento técnico para o gerenciamento de
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farmacêutica e regulamentação de medicamentos no Brasil: estrutura,
processo e resultados. Brasília: Organização Pan-Americana da
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BRASIL. Portaria GM n. 399, de 22 de fevereiro de 2006. Divulga


o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as
Diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde. Brasília, 2006a.

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Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e
Insumos Estratégicos. Aquisição de medicamentos para assistência
farmacêutica no SUS: orientações básicas. Brasília: Ministério da
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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e


Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica
e Insumos Estratégicos. Assistência farmacêutica na atenção
básica: instruções técnicas para sua organização/Ministério da
Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos,
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Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica
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Farmapolis.

257
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BRASIL. Portaria n. 2.982, de 26 de novembro de 2009. Aprova as


normas de execução e de financiamento da Assistência Farmacêutica
na Atenção Básica. Brasília, D.F.: Diário Oficial da República Federativa
do Brasil, seção 1, p. 71-120, de 01/12/09. Brasília, 2009b.

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BRASIL. Lei n. 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política


Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro
de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil], Brasília, DF, v. 134, n. 147, 03 ago. 2010. Seção
1, p. 27834-27841. 2010c.

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de 2010. Aprova as normas de execução e de financiamento da
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farmacêutica à gestante na rede básica de saúde do Município de
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VIEIRA, F. S.; ZUCCHI, P. Distorções causadas pelas ações judiciais


à política de medicamentos no Brasil. Revista de Saúde Pública, v.
41, n. 2, p. 214-222, 2007.

259
Autores

Célia Maria Teixeira de Campos

Conhecida como a professora Celinha, do Curso de Farmácia da


Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É nativa da Ilha
de Santa Catarina, fez a sua graduação em Farmácia - habilitação
Tecnologia de Alimentos, mestrado em Ciências dos Alimentos, na
UFSC e doutorado em Ciência dos Alimentos, na UFSC e na École
Nationale Supérieure Agronomique de Rennes - França. Já trabalhou
como farmacêutica na Secretaria de Saúde do Estado de Santa
Catarina, antes de ser professora da Universidade. Ministrou aulas de
Química Farmacêutica, Farmácia Hospitalar e Farmacotécnica. Hoje,
atua na disciplina de Estágio Supervisionado em Farmácia, onde
exerce a função de coordenadora. Também, é uma das professoras
responsáveis pela Farmácia Escola UFSC/PMF [um projeto da UFSC
feito em parceria com Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis
(SMS/PFM), que tem por objetivo qualificar a assistência farmacêutica
no SUS, por meio da viabilização e dispensação de medicamentos
financiados pelo Estado, adotando a lógica do uso racional de
medicamentos].

http://lattes.cnpq.br/0036896546217928

Indianara Reynaud Toreti Becker

Catarinense, nascida e criada no município de Criciúma, cidade


que reside até o momento. Cursou graduação em Farmácia e
especialização em Farmácia Clínica na Universidade do Sul de
Santa Catarina (UNISUL). Possui mestrado em Farmácia pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É professora no
Curso de Graduação em Farmácia da Universidade do Extremo Sul
Catarinense (UNESC), atuando em ensino, pesquisa e extensão na
área de Assistência Farmacêutica. Atualmente exerce suas funções
junto à Residência Multiprofissional, PET Saúde e Componente
Especializado (por meio da Farmácia Escola).

http://lattes.cnpq.br/5306896177649205

260 Blatt, Campos e Becker Serviços farmacêuticos


Carine Raquel Blatt

Carine Raquel Blatt é farmacêutica formada pela Universidade Federal


de Santa Catarina em 2002. Cursou a Especialização Multiprofissional
em Saúde da Família (2003) e o Mestrado em Farmácia também
pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Em 2007 fez a
Especialização em Avaliação de Novas Tecnologias em Saúde pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e em 2011 concluiu o
Doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Farmácia da
Universidade Federal de Santa Catarina (2011), tendo realizado estágio
de doutorado sanduíche na University for Health Sciences, Medical
Informatics and Technology (UMIT-AT). Atualmente é professora da
Universidade do Sul de Santa Catarina e professora substituta da
Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência na área
de Farmácia, com ênfase em Assistência Farmacêutica, atuando
principalmente nos seguintes temas: Assistência Farmacêutica,
Avaliação de Tecnologias em Saúde, Saúde Pública e Estudos de
Utilização de Medicamentos.

http://lattes.cnpq.br/4746842392238066

261
Unidade 4
UNIDADE 4 – DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS

Ementa da unidade

• Bases filosóficas, conceituais e regulamentação da dispensação


de medicamentos.

• Organização da dispensação.

• Estrutura física e recursos humanos.

• Processo da dispensação.

• Sistema de informação.

Objetivos específicos de aprendizagem

• Conceituar o serviço de dispensação.

• Conhecer os objetivos de dispensação.

• Reconhecer a importância da dispensação no processo de


atenção à saúde.

• Reconhecer a organização do serviço de dispensação.

• Identificar e discutir a importância da estrutura física e de recursos


humanos para o organização da dispensação.

• Organizar e ordenar o processo de dispensação.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 263


Apresentação

Caro aluno,

Nós, as autoras, assumimos o desafio de elaborar um conteúdo que


possibilitasse a você compreender, vislumbrar, planejar e incorporar,
na sua prática profissional, ferramentas e estratégias que qualifiquem
a dispensação e que promovam o acesso e o uso racional do
medicamento. Nossa primeira preocupação foi como construir o
conteúdo no sentido de auxiliar na elaboração de soluções para as
situações/problemas do dia a dia.

Nesse contexto, decidimos abordar as questões referentes à


dispensação, partindo do pressuposto de que essa atividade é o
serviço farmacêutico técnico-assistencial que ocupa maior tempo do
trabalho cotidiano de uma farmácia. Além disso, é a que possui maior
demanda, e apresenta um impacto importante para a promoção do
acesso e do uso racional de medicamentos.

E para que você assuma o papel de gestor da assistência


farmacêutica, o seu olhar sobre a dispensação deve estar voltado
para a obtenção de um diagnóstico de como anda esse processo.
Para isso, analise criticamente cada ação ou atividade executada
e foque sua atenção para as pessoas que atuam nos espaços e
na prática da dispensação, suas relações com outros serviços da
assistência farmacêutica e outros locais do próprio serviço de saúde.

Consideramos muito importante que você descubra como as pessoas


estão sendo assistidas pelo processo de dispensação. Você poderá
observar se tudo o que está relacionado a esse serviço tem como
foco central o usuário de medicamentos e não o medicamento em si.

A estruturação desta unidade, que compreende conteúdos, textos


complementares e atividades, permitirá o desenvolvimento de um olhar
crítico sobre a gestão do processo de dispensação, possibilitando
uma inter-relação com as outras unidades e módulos com o objetivo
de desenvolver competências e habilidades necessárias para
estruturar, qualificar e aprimorar esse serviço técnico-assistencial.

A dispensação é um processo que exige conhecimentos técnicos


sobre os medicamentos e clínicos sobre a terapêutica, bem como
habilidades de comunicação, de relacionamento interpessoal,
de análise da situação, de decisão e de síntese das informações.
As diferentes unidades deste Curso procuram contribuir para
a construção desses conhecimentos e para a reflexão sobre a
importância do desenvolvimento dessas habilidades.

264 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Conteudistas responsáveis:

Julieta Ueta
Lígia Hoepfner
Noemia Liege Bernardo

Conteudista de referência:

Noemia Liege Bernardo

Conteudistas de gestão:

Silvana Nair Leite


Maria do Carmo Lessa Guimarães

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 265


ENTRANDO NO ASSUNTO

Lição 1 – Dispensação: conceitos e objetivos

Nesta lição, você, aluno, será capaz de entender o conceito de


dispensação e conhecer os objetivos desse serviço.

Nos cenários descritos a seguir são relatadas situações e


apresentados personagens fictícios para que você reconheça quais
são os serviços farmacêuticos envolvidos no atendimento das
demandas dos usuários. Leia atentamente cada um e assinale as
alternativas que, em sua opinião, estão relacionadas aos cenários
descritos.

Cenário 1

Dona Felisberta chega à Farmácia e é atendida por Lucas, um técnico


de enfermagem. Ela parece apressada e estende a prescrição médica
solicitando os medicamentos. Ele verifica que foram prescritos
medicamentos para hipertensão e diabetes: hidroclorotiazida 12,5mg
por dia e captopril 25mg por dia e, metformina 850mg duas vezes
ao dia, respectivamente. Lucas faz a conferência da prescrição,
certifica-se que os medicamentos estão disponíveis em estoque,
separa-os, faz o registro no sistema informatizado e na carterinha de
“dispensação de medicamentos de uso contínuo” e, então, entrega
os medicamentos a Dona Felisberta.

Aquisição/Solicitação Educação em saúde


Armazenamento Farmacovigilância
Descarte de resíduos Orientação farmacêutica
Dispensação Programação
Distribuição Seguimento farmacoterapêutico

Cenário 2

Seu Antônio, 70 anos, vai à farmácia central e solicita os medicamentos


da prescrição médica. Lá, é atendido por Dona Ana, funcionária
antiga do município que está na farmácia há mais de 10 anos. Durante
o atendimento ele solicita que a auxiliar da farmácia marque bem
certinho nas cartelas dos medicamentos como deve tomá-los, porque
o Dr. José Carlos, seu médico, falou que se ele não tomar os remédios
corretamente há risco de ter outro infarto. Seu Antônio teve um infarto
agudo do miocárdio há três anos e, atualmente, sofre de insuficiência
cardíaca, diabetes e apresenta dificuldades para enxergar.

266 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Aquisição/ Solicitação Educação em saúde
Armazenamento Farmacovigilância
Descarte de resíduos Orientação farmacêutica
Dispensação Programação
Distribuição Seguimento farmacoterapêutico

Cenário 3

Dona Felisberta vai à Farmácia e é atendida por Geane, que é


agente de saúde. Hoje, ela trouxe uma prescrição médica contendo
loratadina xarope 10mL, para ser utilizada a cada 12 horas, a qual
foi resultante de um atendimento médico no serviço de emergência
devido a uma tosse que está prejudicando seu sono. Ela desconfia
que a tosse está sendo causada por algum medicamento. Geane
certifica-se de que tem o medicamento em estoque, separa-o,
faz o registro no sistema informatizado, carimba a prescrição com
“Fornecido”, e entrega o frasco de loratadina, informando a usuária
de que deve tomar 10mL a cada 12 horas.

Aquisição/ Solicitação Educação em saúde


Armazenamento Farmacovigilância
Descarte de resíduos Orientação farmacêutica
Dispensação Programação
Distribuição Seguimento farmacoterapêutico

Cenário 4

Viviane, farmacêutica do Núcleo de Apoio à Saúde da Família


(NASF), está hoje auxiliando no atendimento dos usuários em
uma das unidades básicas de saúde (UBS), que faz parte da área
onde presta assistência. Durante um dos atendimentos, o usuário
solicitou metformina. Ao realizar a conferência da prescrição médica
e do registro na carteirinha “dispensação de medicamentos de uso
contínuo”, percebeu que o usuário havia pegado a quantidade do
mês havia três dias. Quando questionado, o usuário respondeu que
o medicamento estava com odor e gosto muito forte de álcool, por
esse motivo não conseguia tomá-lo.

Aquisição/ Solicitação Educação em saúde


Armazenamento Farmacovigilância
Descarte de resíduos Orientação farmacêutica
Dispensação Programação
Distribuição Seguimento farmacoterapêutico

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 267


Cenário 5

Dona Mariana, 57 anos, diabética, hipertensa, às vezes poliqueixosa,


mora perto da unidade de saúde, na qual veio buscar um frasco
de dipirona, que foi prescrito pelo dentista para a neta, que havia
extraído um dente. Aproveitou, e trouxe uma sacola de medicamentos
vencidos para serem descartados.

Aquisição/ Solicitação Educação em saúde


Armazenamento Farmacovigilância
Descarte de resíduos Orientação farmacêutica
Dispensação Programação
Distribuição Seguimento farmacoterapêutico

Qual semelhança você percebe entre esses cenários apresentados?

Nos cenários antes descritos podemos perceber que todos


envolveram:

• fornecimento de medicamentos ao usuário;

• os medicamentos solicitados o foram mediante prescrição de um


profissional (médico ou dentista);

• necessidade de orientação farmacêutica; e

• educação em saúde.

É importante reconhecer que a dispensação não é o final do serviço


farmacêutico, mas que, a partir desse momento, é possível evidenciar
a necessidade de outros serviços farmacêuticos, como:

• seguimento farmacoterapêutico: cenário 2;

• farmacovigilância: cenário 3 e 4;

• descarte de resíduo: cenário 5.

268 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


É importante ressaltar que as suas respostas também estarão corretas
caso tenha assinalado, além dos serviços citados anteriormente, as
opções aquisição, armazenamento, distribuição e programação. Para
entender melhor, continue lendo atentamente o texto a seguir.

Segundo as Diretrizes para a estruturação de farmácias no Sistema


Único de Saúde (SUS) (2009), os serviços (aquisição, armazenamento
e distribuição), também classificados como Serviços Técnico-
Gerenciais, compreendem atividades administrativas que garantem:

• disponibilidade adequada dos medicamentos;

• conservação; e

• qualidade.

Já os Serviços Técnico-Assistenciais (dispensação, orientação


farmacêutica, seguimento farmacoterapêutico, educação em saúde
e suporte técnico para equipe de saúde) são os serviços cujo objetivo
consiste em:

• garantir a efetividade e a segurança da terapêutica;

• possibilitar a avaliação da resposta ao tratamento farmacológico;

• obter e difundir as informações sobre os medicamentos; e

• promover educação em saúde e educação permanente da


equipe de saúde.

Anotações

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 269


Você pode observar que a dispensação possui uma interconexão
com os demais serviços farmacêuticos que integram a assistência
farmacêutica e com o processo assistencial do usuário. É importante
reconhecer que a dispensação, enquanto parte do processo de
cuidado do usuário, é o ponto final do atendimento ambulatorial e é
nesse momento que o usuário tem a oportunidade de, ainda dentro
do sistema de saúde, identificar, corrigir ou reduzir os possíveis riscos
associados à terapêutica medicamentosa prescrita. Por outro lado,
é o primeiro momento em que os profissionais das unidades de
dispensação interagem diretamente com o usuário. Nesse sentido ela
pode ser considerada a etapa final dos serviços técnico-gerenciais e
o início dos serviços técnico-assistenciais.

A Política Nacional de Medicamentos (1998) garante ao usuário o


acesso ao serviço de dispensação e orienta para a promoção do uso
racional dos medicamentos ao conceituar a dispensação como

[...] o ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um


paciente, geralmente como resposta à apresentação de uma receita elaborada por
um profissional autorizado. Nesse ato, o farmacêutico informa e orienta o paciente
sobre o uso adequado do medicamento. São elementos importantes da orientação,
entre outros, a ênfase no cumprimento da dosagem, a influência dos alimentos,
a interação com outros medicamentos, o reconhecimento de reações adversas
potenciais e as condições de conservação dos produtos (PNM, 1998, p.26).

Vale destacar que o primeiro conceito de dispensação no Brasil ocorreu,


em 1973, pela Lei n. 5991, que regia o “controle sanitário do comércio
de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos”; e o
foco da ação estava na entrega. Esse conceito teve grande influência
na determinação do processo de dispensação até os dias atuais, como
pode ser visto na revisão realizada por Angonesi (2008).

Também conforme Angonesi (2008), a evolução do conceito de


dispensação está diretamente relacionada à norma legislatória sobre
o controle sanitário do comércio de medicamentos, à evolução do
processo de geração e produção de medicamentos (industrialização),
e à orientação da prática profissional do farmacêutico.

Após a Política Nacional de Medicamentos, em 1998, tem início o


processo de reorientação da assistência farmacêutica, quando a
logística não é mais o foco principal das intervenções farmacêuticas e
inicia-se a discussão sobre a qualidade dos serviços e a promoção do
acesso e uso racional dos medicamentos essenciais (VIEIRA, 2008).

A dispensação é uma das atividades da assistência farmacêutica


considerada privativa do farmacêutico. Esse novo paradigma orienta
que o farmacêutico é o responsável pelo fornecimento do medicamento
e pelas orientações para seu uso adequado (ANGONESI, 2008).

270 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


O processo de dispensação deve estar estruturado e sistematizado
de modo a assegurar que o medicamento esteja sendo entregue
ao usuário certo, na dose prescrita, na quantidade adequada e
que sejam fornecidas as informações suficientes para o uso correto
(OMS, 1993). Além disso, acrescentamos que essa estruturação
deve favorecer o atendimento, a relação direta do farmacêutico com
o usuário, respeitando a individualidade e a privacidade.

Segundo as instruções técnicas para a organização da assistência


farmacêutica na atenção básica (2006), os objetivos da dispensação
devem ser:

• Garantir o cumprimento da prescrição por meio do fornecimento


do medicamento correto e em quantidade adequada;

• Contribuir para adesão ao tratamento;

• Minimizar erros de prescrição;

• Proporcionar atenção farmacêutica de qualidade;

• Informar sobre o uso correto do medicamento.

Veja que não importa se a farmácia fica dentro de uma unidade de


saúde ou em unidade própria. O importante é lembrar que a farmácia ou
unidade de dispensação é parte do sistema de saúde e a dispensação é
um dos componentes do cuidado ou da atenção à saúde.

A dispensação não configura apenas a ocasião em que determinada


prescrição é aviada, mas sim um conjunto de ações, isto é:

• Obter prescrição - adquirir, alcançar, interpretar, entender,


executar, analisar.

• Fornecer - abastecer, proporcionar o necessário.

• Entregar - passar às mãos ou à posse a alguém.

• Informar - dar informe ou parecer sobre; comunicar; dar notícias.

• Orientar - dirigir, guiar, caminhar junto; reconhecer e examinar a


situação.

• Educar - promover a troca de saberes entre os sujeitos.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 271


Para que isso ocorra é necessário planejamento e organização da
dispensação, incluindo-se aí as estruturas física, organizacional e
funcional, bem como os recursos humanos qualificados e a elaboração
de um manual com normas e procedimentos, pois, se a dispensação
for destituída de informações básicas, pode levar a resultados
inesperados, que podem comprometer a saúde do usuário.

A prática da dispensação não pode ser considerada apenas como


uma troca de prescrições por mercadorias. Tão importante quanto
o medicamento, a informação de como utilizá-lo cumpre um papel
fundamental e nunca deve ser omitida.

O serviço de dispensação deve estar organizado a fim de assegurar


ao usuário os princípios éticos/doutrinários do SUS: universalidade,
equidade e integralidade. Nesse sentido, constituem-se direito do
usuário:

• A garantia do acesso aos medicamentos por parte do sistema.

• O tratamento diferenciado aos desiguais, oferecendo mais a


quem precisa mais, procurando reduzir a desigualdade.

• Ser atendido nas suas necessidades, sendo que os serviços de


saúde devem estar organizados de modo a oferecer todas as
ações.

Lição 2 – Organização da dispensação

Ao final desta lição, você, aluno, deverá estar apto para


reconhecer a organização do serviço de dispensação.

A organização da dispensação possui como estratégia superar a


fragmentação, mediante definição de fluxos na construção de um
conjunto de ações articulado e sincronizado, que influencia as áreas dos
serviços de saúde da mesma forma que é influenciado por elas.

272 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Nesse momento do Curso, é importante que você conheça a Relação
Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename), as pactuações
da Comissão Intergestora Bipartite (CIB) no seu Estado, o elenco
de medicamentos do município, o financiamento e as etapas da
assistência farmacêutica anteriores à dispensação, pois, para existir
dispensação, é necessário que o medicamento esteja disponível!

Segundo alguns autores, o acesso é a provisão do cuidado adequado,


no momento adequado e no local adequado. O acesso, nesse caso,
não abrange qualquer uso; ao contrário, limita-se ao uso qualificado,
isto é, aquele que ocorre no momento adequado ao atendimento
do problema de saúde do usuário, utilizando recursos corretos e
executado da forma correta (TRAVASSOS, MARTINS, 2004).

Anotações

A dispensação dos medicamentos pode ser feita de maneira


centralizada ou descentralizada. Quando feita em apenas uma
farmácia central tem vantagens e desvantagens. Podemos citar
como vantagem um maior controle, já que ali é onde, geralmente,
está alocado o farmacêutico e, portanto, tem-se a possibilidade
de uma supervisão direta do processo de dispensação e um maior
controle do atendimento dos funcionários.

Como desvantagem, pode-se citar o deslocamento do usuário até


essa farmácia central, que, muitas vezes, está localizada na região
central do município, dificultando o acesso de alguns usuários.
Inicialmente, pode-se pensar que assim diminui-se o custo com
pessoal e infraestrutura, mas, dessa maneira, ocorre concentração de
demanda e, portanto, o número de funcionários tende a ser o mesmo.
Sem uma estratégia de trabalho, que aproxime o serviço farmacêutico
das unidades de saúde, pode-se perder o contato com a comunidade,
com as unidades de saúde e com os profissionais, especialmente da
Estratégia de Saúde da Família, sendo que esse contato é fundamental
para o desenvolvimento de estratégias visando o uso racional de
medicamentos. De modo geral, tem-se um bom serviço farmacêutico,
com boa gestão operacional, mas pouco integrado ao serviço de
saúde, principalmente do ponto de vista da gestão clínica.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 273


Já a descentralização da dispensação tem como vantagem o
respeito ao usuário, facilitando o acesso ao medicamento, fazendo
com que o nível central, responsável pela assistência farmacêutica
municipal, trabalhe de forma integrada com o serviço farmacêutico e
os profissionais de saúde, especialmente da Estratégia de Saúde da
Família, pois somente nesses locais há o contato direto e diário com
usuários e, por isso, é ele que deve determinar e direcionar todas as
políticas e normas elaboradas no nível central.

Muitos municípios, principalmente os de pequeno porte, centralizam


os medicamentos na farmácia central do município, geralmente
localizada em unidades de referência ou policlínicas e com a presença
do farmacêutico. Contudo, é possível, tanto nesses municípios como
em municípios maiores, a descentralização da dispensação com a
criação de unidades regionais que atenderiam de 3 a 5 unidades de
saúde ou a dispensação em unidades de saúde estratégicas, que
teriam a presença do farmacêutico, melhorando assim o acesso aos
serviços farmacêuticos pelos usuários do sistema.

O modelo descentralizado da dispensação em unidades de saúde


com farmacêutico responsável possibilita a inserção deste na equipe
de saúde, para a realização dos serviços técnico-gerenciais e
assistenciais, evitando que esse modelo seja reconhecido como um
serviço desorganizado, com falta de medicamentos, ineficiência no
controle de estoques e armazenamento inadequado.

As informações, muitas vezes, não chegam ao nível central por


não existirem instrumentos ou pessoal qualificado para detectá-las,
registrá-las e repassá-las adequadamente. Aliado a isso tem-se o
fato de que muitas Secretarias Municipais de Saúde não possuem
ou não contam com um número suficiente de farmacêuticos. Esse
cenário contribui para o atendimento inadequado dos usuários do
SUS, além de favorecer perdas financeiras, elevada mobilização de
recursos e, principalmente, uso irracional de medicamentos, baixa
cobertura populacional e baixa resolutividade dos serviços de saúde.

Os medicamentos que compõem o elenco da Relação Municipal de


Medicamentos Essenciais (Remume) podem ser distribuídos nas
unidades de saúde, desde que respeitada a legislação vigente, com
destaque para a Portaria SVS/MS n. 344/1998; a Resolução RDC Anvisa
n. 20/2011; as Portarias MS n. 2.981/2009 e n. 4.217/2010; e que os
profissionais, responsáveis pela dispensação desses medicamentos
aos usuários, sejam qualificados e treinados para esse fim.

274 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Link

Para saber mais sobre a legislação vigente acesse os seguintes


endereços:
Portaria SVS/MS n. 344/1998: http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/
344_98.htm

Resolução RDC Anvisa n. 20/2011: http://www.in.gov.br/visualiza/


index.jsp?data=09/05/2011&jornal=1&pagina=39&totalArquivos=88

Portaria MS n. 2.981/2009: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/


pdf/portaria_gm_2981_3439_ceaf.pdf

Portaria MS n. 4.217/2010: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/


pdf/Portaria_MS_4217_28_12_2010.pdf

Outra forma de acesso aos medicamentos, utilizada por alguns


municípios, em diversas regiões do país, é a entrega em domicílio
do medicamento, por meio de motoboys, agentes comunitários de
saúde, correios etc.

Link

Não deixe de ler o artigo de Simões e Monteiro, publicado em 2005,


sobre a experiência do Projeto Remédio em Casa, no município do Rio de
Janeiro. O artigo está disponível no endereço: http://www.saocamilo-sp.
br/pdf/mundo_saude/35/estrategias_apoio.pdf

Reflexão

Esses modelos de acesso aos medicamentos têm gerado muita


discussão, considerando que, por um lado, com a entrega em domicílio,
tem-se a certeza de que o usuário teve acesso ao medicamento. Mas,
ele teve acesso ao serviço farmacêutico?

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 275


Quando falamos em serviço farmacêutico, estamos falando de ações
que visam garantir a atenção integral, articulada e contínua das
necessidades e dos problemas de saúde da população tanto individual
como coletiva, tendo o medicamento como um dos elementos
essenciais, contribuindo para seu acesso equitativo e uso racional.

No foco dos serviços técnico-assistenciais, a farmácia comunitária


pública pode ser definida como uma unidade de prestação de serviços
farmacêuticos, organizada no âmbito do SUS, sob gerência de
farmacêuticos. Nela deve-se realizar a dispensação de medicamentos;
o acompanhamento farmacoterapêutico; a difusão de informações
educativas ao indivíduo, a outros profissionais de saúde e à comunidade
em relação ao uso dos medicamentos; e outras ações vinculadas à
promoção da saúde (BRASIL, 2009; GOMES et al., 2007).

Reflexão

E no modelo que conhecemos, com o usuário se deslocando até a


unidade de saúde ou à farmácia central para buscar seus medicamentos,
está sendo promovido o acesso ao serviço farmacêutico?

Antes de pensarmos em como promover o acesso aos medicamentos


e em que este seja humanizado, temos que refletir sobre algumas
questões.

Reflexão

Muitas vezes, os gestores querem que o usuário receba o medicamento,


mas sem refletir que apenas o ato de entregá-lo ao usuário não irá
promover o acesso. Será que não estamos escondendo o problema?
“Tapando o sol com a peneira”?

Quando o medicamento é enviado pelos correios ou pelo motoboy,


simplesmente para tirar o usuário da unidade de saúde, diminuindo
as filas para atendimento, estamos apenas escondendo o problema,
e não promovendo o acesso ao serviço.

Nós não vamos definir aqui um modelo ideal de organização da


dispensação no seu município, pois cada local tem características
diferentes. Não existe um modelo nacional ou internacional, mas
existem, sim, aspectos estratégicos relacionados à realidade geográfica,
demográfica e socioeconômica da área, perfil epidemiológico, número
de unidades de saúde no município, estrutura física e funcional.

276 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


As unidades de dispensação deverão estar em local de fácil acesso para
o recebimento e a dispensação de medicamentos e demais serviços
ofertados, atendendo aos critérios de referência territorial e de facilidade
de acesso à população. Portanto, ao definir como será essa organização,
centralizada, descentralizada, pelos correios, ou outra forma, é importante
lembrarmos que devemos promover o acesso ao serviço farmacêutico.

Além da organização da dispensação no município, deve-se pensar


também na organização da dispensação nas unidades de saúde.
Não apenas a organização do espaço físico e funcional, bem como
do serviço de farmácia.

É necessário que o farmacêutico compreenda e defina, de maneira


explícita, o serviço que fornecerá ao usuário, sendo que a equipe
(gestores e equipe de saúde) deve articular a maneira de pensar
sobre o serviço a ser prestado.

A farmácia deve apresentar layout próprio, de forma a priorizar a


área de atendimento onde os usuários possam receber atendimento
personalizado e individualizado, seguindo uma concepção
humanizada dos serviços ofertados e buscando o reconhecimento
da unidade como referência na prestação de serviços farmacêuticos.

Reflexão

Agora, imagine que você é o usuário do serviço e necessita de uma


informação. Chegando ao guichê, percebe que ele contém grade ou
vidro, dificultando enxergar ou ouvir a pessoa que está “atendendo”.
Como você se sente? Imagine um idoso com dificuldade auditiva ou uma
mãe com um filho doente no colo.

Para um ambiente confortável, existem componentes que atuam


como modificadores e qualificadores do serviço, como, por exemplo:
atendimento sem grades ou vidraça, para facilitar a comunicação;
disponibilidade de mesas e cadeiras para o atendimento; colocação
de placas de identificação do serviço existente e sinalização dos fluxos;
iluminação adequada; ausência de ruídos; e tratamento das áreas
externas (BRASIL, 2009). Além, sem dúvida, de pessoal capacitado
e treinado para o desenvolvimento de atividades administrativas,
logísticas e assistenciais.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 277


Esse espaço deve permitir também a troca de informações de
forma semiprivativa ou privativa. Para a realização desse serviço, é
importante que se atenda o usuário em local que permita um diálogo
sem interferentes auditivos ou que distraiam a atenção do usuário;
que ofereça conforto e sensação de acolhimento, onde tanto o
farmacêutico quanto o usuário estejam sentados. A estrutura do
serviço de farmácia deve dispor, preferencialmente, de acesso à
internet, telefone e material bibliográfico.

Outra dificuldade nas unidades de saúde é a falta de espaço para a


farmácia. Em muitos casos, os medicamentros ficam armazenados
em vários locais, como cozinha, copa, banheiros e no chão,
dificultando muito o processo de dispensação e controle de todas as
etapas da assistência farmacêutica.

Reflexão

A partir do que já foi exposto, quais competências e habilidades são


necessárias para a organização do serviço de dispensação?

Leia o relato da farmacêutica Ana, do município fictício de Terra Fértil.

Ana, farmacêutica, que há dois anos foi contratada por meio de


concurso público para atuar no município de Terra Fértil, com uma
população de 27.000 habitantes, relata que, quando assumiu
seu cargo, detectou situações que interferiam diretamente na
dispensação, tais como:

• Falta de medicamentos na farmácia central e nas unidades de


saúde.

• O elenco dos medicamentos fornecidos não contemplava


algumas patologias, por exemplo, epilepsia e hipotiroidismo.

• Reclamação dos usuários do CAPS (Centro de Atenção


Psicossocial) quanto ao acesso aos medicamentos.

• Grande quantidade de medicamentos vencidos na farmácia central


e nas unidades de saúde, que correspondiam a 5% do estoque
geral e 10% do orçamento mensal da assistência farmacêutica.

• A estrutura física inadequada para o serviço farmacêutico, por


exemplo: temperatura elevada, mobiliário, limpeza e vidro.

278 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


• Não era fornecido o insumo para o tratamento do diabetes, por
exemplo: seringa, lancetas, tiras e glicosímetros.

• Os medicamentos de tuberculose e hanseníase eram entregues


na vigilância epidemiológica.

• Os medicamentos judiciais eram entregues pelo motorista da


prefeitura.

• O farmacêutico não dispensava medicamento, este serviço era


realizado pelos funcionários.

• A relação entre o serviço farmacêutico e as unidades de saúde


era focada na reposição de estoque.

• O serviço farmacêutico não estava envolvido nas atividades de


educação em saúde.

A partir da detecção desses problemas, ela desenvolveu seu


planejamento estratégico com objetivo de promover o acesso e o
uso racional do medicamento e melhorar a satisfação do usuário com
o serviço farmacêutico. Nesse sentido, ela percebeu que necessitava
de algumas informações:

• Onde há entrega de medicamento no município?

• Existe algum funcionário responsável pela entrega dos


medicamentos? Quem é esse responsável? E qual o período de
entrega?

• De onde vêm os recursos para a estruturação das farmácias?

• Como os recursos podem ser utilizados e por que isso influencia


a organização e o processo de dispensação?

• A organização do serviço no município promove o acesso


dos usuários ao tratamento medicamentoso e ao cuidado
farmacêutico?

• É possível, na sua rotina, outras atividades como educação em


saúde, visita às unidades de saúde, inserção na Comissão de
Farmácia Terapêutica?

E você, se identificou com a situação vivida pela Ana? Discutiremos


nas próximas lições alguns mecanismos para organização do serviço
de dispensação.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 279


Lição 3 – Estrutura física e recursos humanos para a organiza-
ção da dispensação

Ao final desta lição, você, aluno, estará apto a identificar e


discutir a importância da estrutura física e dos recursos humanos
para a organização da dispensação.

As perdas financeiras p ara a s S ecretarias M unicipais d e S aúde t êm


sido consideráveis pela falta de observação de alguns detalhes na
questão dos medicamentos. Infelizmente, os desperdícios são de difícil
mensuração quantitativa, visto que os cálculos envolvem outros níveis
de complexidade do sistema de saúde, e até mesmo outros setores.

É crucial a modernização da estrutura física das farmácias e a presença


institucionalizada dos profissionais farmacêuticos. Essa lógica se faz
necessária para o caráter multiprofissional e interdisciplinar no SUS
e para a garantia mínima de dois de seus princípios: integralidade da
assistência e humanização do atendimento.

A área física deverá atender a demanda populacional existente na


área de abrangência, permitindo a disponibilização dos serviços
necessários. Por fim, essa área deverá ser compatível com as demais
atividades de assistência farmacêutica, com as quantidades e os tipos
de produtos a serem estocados e com a periodicidade da reposição.

No planejamento do projeto, devem ser considerados o Plano Diretor


do Município, as normas sanitárias vigentes, e os requisitos exigidos
pela NBR ABNT n. 9.050, de 31 de maio de 2004, que dispõe sobre
“acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos”.

Além de tudo isso, a fim de melhorar a estruturação da assistência


farmacêutica no município, um percentual de até 15% (quinze por
cento) da soma dos valores dos recursos financeiros do Componente
Básico da Assistência Farmacêutica, estadual e municipal pode ser
utilizado, anualmente, para atividades destinadas à adequação de
espaço físico das farmácias do SUS relacionadas à atenção básica,
à aquisição de equipamentos e mobiliário destinados ao suporte
das ações de assistência farmacêutica, e à realização de atividades
vinculadas à educação continuada voltada à qualificação dos
recursos humanos da assistência farmacêutica na atenção básica,
sendo vedada a utilização dos recursos federais para esta finalidade,
conforme estabelecido na Portaria GM/MS n. 4.217/2010.

280 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Essas atividades e os recursos financeiros aplicados deverão
constar nos instrumentos de planejamento do SUS (Plano de Saúde,
Programação Anual e Relatório Anual de Gestão).

Nós, as autoras, consideramos que os benefícios de estruturação e


manutenção de um serviço de farmácia têm um enorme potencial
para superar os seus custos:

• Diminuindo o número de usuários que evoluem a um nível de


maior complexidade de atendimento e, portanto, de maior custo;

• Diminuindo a quantidade de produtos que são descartados


por ultrapassar o prazo de validade e, consequentemente,
economizando com a aquisição de produtos em quantidade
demasiada e com o custo do descarte;

• Aumentando o atendimento das prescrições por existir uma


melhor distribuição dos medicamentos e insumos nas farmácias,
evitando faltas destes;

• Aumentando o número de itens atendidos por prescrição, devido


a maior interação entre o prescritor e o farmacêutico nas unidades
de saúde.

A farmácia é um espaço identificado como uma estrutura física


que permite não somente a guarda correta de medicamentos, mas
também um espaço humanizado de atendimento aos usuários do
SUS, dotado de um sistema eficiente de informação aos interesses
do conjunto dos programas e ações de saúde.

Sendo assim, a farmácia deve dispor de recursos humanos suficientes,


tanto para gestão quanto para assistência aos usuários, mobilizados
e comprometidos com a organização e a produção de serviços que
atendam às necessidades da população. O quantitativo desses
recursos deve variar conforme o número de atendimentos diários e
a complexidade do serviço prestado pela farmácia (BRASIL, 2009).

Portanto, farmácias comunitárias, implantadas de acordo com as


normas sanitárias vigentes, devem ser referência para a dispensação de
medicamento para uma determinada população adscrita, organizando
os registros, a dispensação, o acompanhamento dos tratamentos e
desenvolvendo ações de educação em saúde para promover o uso
racional dos medicamentos e a otimização de processos logísticos.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 281


Um fator de grande relevância que tem impedido a criação e
o desenvolvimento de serviços farmacêuticos é a escassez de
profissionais farmacêuticos no SUS, sobretudo nas unidades básicas
de saúde. Em geral, os gestores ainda não estão sensibilizados quanto
à importância desse profissional para a eficiência da assistência
farmacêutica nos municípios.

Outro fato é o envolvimento demasiado do farmacêutico nas atividades


administrativas, distanciando-se das assistenciais. Com a consolidação
do SUS, estas se mostram como uma possibilidade de atuação do
profissional farmacêutico, que pode atuar tanto no nível gerencial/
administrativo, quanto em atividades assistenciais ou clínicas.

A importância dos medicamentos na recuperação da saúde dos


usuários do sistema, o volume cada vez maior de recursos empregados
na aquisição destes e a dificuldade na gestão central e local dos
medicamentos justificam cada vez mais a inserção do profissional
farmacêutico no sistema de saúde (LEITE, CORDEIRO, 2005).

De importância cada vez mais reconhecida, as questões inerentes


à capacitação de recursos humanos ocupam lugar de destaque nas
estratégias de implementação do SUS. A capacitação de todos os
funcionários para atuar na farmácia é indispensável, e é fundamental
que o gestor da saúde e o responsável pela farmácia desenvolvam e
mantenham um plano de educação permanente para esses profissionais.

Lição 4 – Processo de dispensação

Nesta lição vamos observar, refletir e discutir o processo


de dispensação, para que você, aluno, esteja apto a organizar e
ordenar esse serviço.

282 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Tudo certo, até agora? Estamos falando de gestão dos serviços
farmacêuticos, certo? E por que, então, as autoras nos trazem, na lição
4, a descrição e desenvolvimento do processo de dispensação? Muitos
chamam esta atividade de “ponta” do serviço, como algo muito diferente
da “gestão” do serviço. No entanto, estamos considerando, ao menos,
duas questões relevantes para a gestão da assistência farmacêutica:
1. Para saber gerenciar/conduzir um serviço é preciso conhecer este
serviço: suas peculiaridades, suas necessidades, seu impacto,
suas barreiras. Desta forma, é possível buscar os recursos, os
profissionais, as condições necessárias para que este serviço
seja o melhor possível. Sabendo sobre ele é possível organizar os
argumentos, as informações, identificar os parceiros e pactuações
possíveis para que o serviço aconteça. E mais: o conhecimento gera
o comprometimento do gestor com o serviço! Nós já falamos sobre
isso antes, está lembrado?

2. Todo serviço, em todos os níveis – incluindo a “ponta”, tem uma


gestão. Isso pode estar acontecendo de forma muito informal,
talvez sem consciência, mas de alguma forma acontece. E este
serviço precisa ter qualidade técnica e administrativa. Infelizmente
muitos de nós não tivemos a oportunidade de ter uma formação
sólida, teórica e prática, para o bom desenvolvimento dos serviços
de dispensação de medicamentos, mas é tempo de recuperar
esta base! Vamos retomar as questões técnicas e aliá-las ao bom
gerenciamento para que a dispensação de medicamentos torne-se
realidade em nossos serviços.

Vamos lá! Sempre temos o que aprender, refletir, comparar e melhorar


nas nossas práticas.

Recomendamos algumas leituras complementares para que você


possa recordar alguns tópicos já estudados.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 283


Anotações

Como você pode observar nas lições anteriores, o objetivo da


dispensação é o acesso aos medicamentos e o uso racional destes,
e para que possamos atingi-lo é necessário que esse processo
seja estruturado, planejado e sistematizado, respeitando as
especificidades dos municípios.

Segundo Correr (2007), a dispensação faz parte do processo de


atenção à saúde do usuário, é o momento em que o farmacêutico,
frente a uma prescrição ou a uma solicitação do usuário, assume a
corresponsabilidade na utilização do medicamento, por meio do que
podemos chamar de validação do uso do medicamento. Como você
pode ver no esquema ao lado, o processo deve estar estruturado de
tal forma que seja possível:

1 2 3
Ampliar o
Avaliar e Facilitar a
conhecimento
resolver adesão ao
do usuário
problemas de tratamento
sobre os
receituário
medicamentos

Figura 1 – Descrição dos objetivos do processo de dispensação.

A dispensação deve ser realizada pelo farmacêutico ou auxiliar que


esteja sob a sua supervisão, o processo deve estar organizado de
tal forma que permita um atendimento ágil, mas que não interfira na
qualidade (CORRER, 2007).

284 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


O farmacêutico nem sempre estará disponível para o atendimento
dos usuários e o número de funcionários da farmácia pode não ser
suficiente para atender a demanda. Por essa razão é importante que
estejam definidos quais funcionários da unidade de saúde ou da
farmácia estarão envolvidos nesse serviço, bem como que estes sejam
treinados e estejam dispostos a seguir os procedimentos implantados.

Os procedimentos operacionais padrão devem descrever como se


dá o atendimento na dispensação.

Para sistematizar o processo, é necessário recordar alguns pontos


que você aprendeu sobre dispensação e refletir sobre quais são os
cenários da dispensação.

• No SUS, a dispensação dos medicamentos se dá a partir de


um receituário médico ou odontológico e o tratamento pode ser
contínuo como para hipertensão, diabetes, hipotiroidismo, ou por
um período determinado, como: antibioticoterapia, analgésicos.

• Pode ser a primeira vez que o usuário utilizará um determinado


medicamento ou está em continuação do tratamento. Pode ser
também a primeira vez que utiliza o serviço da farmácia pública.

Anotações

Na figura 2, a seguir, você pode observar todas as etapas do processo


de dispensação (BRASIL, 2006).

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 285


7. Avaliação dos resultados 6. Sistema informatizado

1. Acolhimento

2. Análise da 3. Separação 4. Registro 5. Orientações


prescrição

Figura 2: Fluxograma do processo de dispensação.

Veja agora cada uma dessas etapas:

Etapa 1: Acolhimento

De acordo com a Política Nacional de Humanização da Atenção


e da Gestão do SUS, o termo acolhimento refere-se à recepção
do usuário, desde sua chegada ao serviço de saúde até a escuta
ativa das suas necessidades, incluindo preocupações, angústias,
solicitações. É uma forma de atender a todos que procuram os
serviços de saúde, garantindo uma atenção resolutiva e articulada
1. Acolhimento com os demais serviços quando necessário.

O acolhimento é considerado uma estratégia de interferência no


processo de trabalho e pode ser reconhecido como uma forma de
otimizar a informação e facilitar o acesso. Na prática profissional, é
necessário que seja adotada uma postura acolhedora, que respeite
a individualidade, a privacidade, e favoreça a troca de informações.

Por meio do relato de caso descrito a seguir, vamos analisar como


podemos incorporar esse conceito em nossa prática.

J.R.M. de 72 anos, sexo masculino, após consulta com o médico da


família foi à farmácia solicitar o medicamento que havia sido prescrito
porque a hipertensão arterial sistêmica estava descompensada. O
usuário foi atendido com muita cordialidade e informado de que o
medicamento não era padronizado no município e, portanto, deveria

286 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


adquirir em uma farmácia privada. O funcionário que o atendeu foi
tão atencioso que verificou, inclusive, o custo do medicamento.

Prescrição: losartana 50mg. Tomar 1 comprido a cada 12 horas, uso


contínuo.

Vamos analisar o processo:

O senhor J.R.M. foi recepcionado e ouvido sobre a sua


necessidade?

Sim, pois ele foi atendido com cordialidade, e a sua solicitação era o
medicamento para o tratamento para a hipertensão arterial sistêmica.

Prezado aluno, ser gentil, cordial, escutar foi resolutivo1? 1 Ser resolutivo no serviço de
dispensação é alcançar os
O serviço não foi resolutivo porque o usuário foi orientado para objetivos desta: promover o
adquirir o medicamento no serviço privado. acesso e o uso racional do
medicamento.
Como poderia ser resolutivo?

O usuário deveria ter sido orientado que o acesso ao medicamento


losartana pode-se dar por meio da Campanha Saúde Não Tem
Preço, e, para isso, seria necessário que o usuário fosse orientado
a procurar uma farmácia habilitada para fornecer os medicamentos
do programa, levando a prescrição e documento de identificação.
Para otimizar essa orientação, seria importante que, no serviço
de dispensação, tivesse uma relação contendo os endereços das
farmácias populares da cidade e a informação de quais documentos
ele precisaria levar para fazer o seu cadastro.

Link

Você pode saber mais da Campanha “Saúde não tem preço”, do Ministério
da Saúde, no link: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/index.
cfm?portal=pagina.visualizarArea&codArea=375

O caminho para o acesso ao medicamento existe, porém ele


é desconhecido, e essa falta de informação inviabilizou que
acontecesse a integralidade no atendimento desse usuário, uma vez
que ele realizou a consulta médica, teve um diagnóstico, um plano
terapêutico e a tecnologia utilizada para a resolução do seu problema
não estava acessível.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 287


Reflexão

Recomendamos que você reveja a unidade 4 do Módulo 3, e identifique


quais os caminhos para o acesso aos medicamentos. A partir dessa
análise, como você pode instrumentalizar o seu município ou serviço
em que esteja atuando?

Após ser constatado que há disponibilidade do medicamento no


serviço de dispensação, é importante saber se quem está buscando
é o próprio usuário, o cuidador ou terceiros, bem como quanto à
experiência de uso do medicamento (primeira vez ou continuação de
tratamento).

Quando da primeira vez que o usuário vai utilizar o serviço da farmácia


pública, é realizado o cadastro do usuário (nome, endereço, telefone).
Caso o cadastro já exista, é importante verificar a experiência de uso
do medicamento e avaliar o histórico de dispensação (atraso na
retirada de medicamento de uso contínuo, retirada do medicamento
em outra unidade de saúde ou farmácia do município).

O cadastro do usuário em um sistema informatizado facilita a avaliação


dos resultados e permite o acompanhamento do histórico da dispensação.

Veja como pode ser o processo de comunicação:

Este medicamento é para


o(a) senhor(a)?

7. Avaliação dos resultados

1. Acolhimento 1. Acolhimento 1. Acolhimento


- Sim, é para mim - Não, é para o meu vizinho - Não, é para o meu pai, ele mora
(usuário) (terceiro) comigo (cuidador)

288 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Quando o solicitante for um terceiro, a etapa de orientação, na maioria
das vezes, fica suprimida, e pode-se avaliar a necessidade de outros
meios de comunicação, tais como, informe escrito, comunicação via
agente de saúde ou por meio de visita domiciliar.

Lembre-se de que:

• Identificar o solicitante impactará na escolha do método de


comunicação utilizado para orientar o usuário sobre o uso correto
do medicamento.
• Para a etapa seguinte, análise da prescrição, é necessário identificar
o usuário do medicamento (adulto, criança, idoso, gestante).
• Apenas identificando o cenário (início ou continuação de
tratamento) é possível identificar a experiência que o usuário tem
com o medicamento.

Resumo da Etapa 1:

• Recepcionar o usuário.

• Escutar todas as necessidades do usuário.

• Verificar a disponibilidade dos medicamentos solicitados.

• Identificar o solicitante (próprio usuário, cuidador ou terceiro).

• Identificar o usuário do medicamento (criança, adulto, gestante,


idoso).

• Verificar a experiência de uso do(s) medicamento(s).

Etapa 2: Análise da prescrição

Segundo Correr (2007), na dispensação com receituário, subentende-


se que o usuário já foi avaliado por outro profissional de saúde (médico
ou dentista) e que o foco desse processo deve ser a interpretação das
informações disponíveis na prescrição, com o objetivo de aumentar
as chances do êxito terapêutico.

Esta etapa garante que:

• a prescrição esteja livre de erros legais; 2. Análise da


prescrição
• estejam sendo respeitados os parâmetros básicos de indicação,
posologia e contraindicações.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 289


Anotações

Segundo exposto no artigo 44 da RDC n. 44/2009, o farmacêutico


deve avaliar as prescrições, observando os seguintes itens:

I legibilidade e ausência de rasuras e emendas;

II identificação do usuário;

III identificação do medicamento, concentração, dosagem, forma


farmacêutica e quantidade;

IV modo de usar ou posologia;

V duração do tratamento;

VI local e data da emissão;

VII assinatura e identificação do prescritor com o número de registro


no respectivo conselho profissional.

Durante esta etapa é importante conhecer para qual problema de


saúde foi prescrito o medicamento e se o usuário utiliza outros
medicamentos, para que possa ser avaliada a dose e a duração
de tratamento. Nesse momento, além de ponderar o grau de
conhecimento que o usuário tem sobre o seu medicamento
ou tratamento, também é possível avaliar o risco de interações
medicamentosas, reações adversas e contraindicação.

Veja como pode ser o processo de comunicação:

O(a) senhor(a) sabe para que o médico lhe passou este


medicamento ou tratamento?

7. Avaliação dos resultados


- Tem alergia a medicamento?
- O(a) senhor(a) toma outros medicamentos além deste(s)?
- Que outros problemas de saúde o(a) senhor(a) tem?

sodatluser sod oãçailavA .7

290 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Durante a análise da prescrição, é necessário responder algumas
perguntas:

• A posologia está correta? A dose prescrita está dentro da margem


terapêutica de efetividade e segurança?

• As indicações estão adequadas? O medicamento prescrito tem


indicação clínica relacionada com a queixa ou sintoma relatado
pelo usuário?

• Existem situações especiais (gravidez, idoso e criança)?

• Existem outras situações clínicas, outros medicamentos ou


outras doenças concomitantes? Avaliação do risco de interação,
precauções, contraindicação ou reação adversa.

Segundo Correr (2007), quando forem percebidas falhas que


comprometem o entendimento sobre o medicamento, a dose ou forma
farmacêutica, frequência, duração de tratamento, aumentando o risco
de erro na dispensação, podem-se utilizar fontes de informação, relato
do próprio usuário ou contactar o prescritor.

Veja, a seguir, algumas situações que necessitam ser discutidas com


o prescritor, visando garantir a segurança do tratamento e a obtenção
de melhores resultados terapêuticos.

• Não há informação suficiente.

• Forma farmacêutica incompatível com o usuário.

• Falta no mercado/não há substituições.

• Usuário reclama de falta de resposta do tratamento (mesmo


estando o uso correto).

• Contraindicação com risco para a saúde.

• Duplicidade sem justificativa.

• Interação medicamentosa: evidência científica para o risco e a


gravidade potencial.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 291


• Efeito colateral.

• Existe uma alternativa mais segura.

• Provoca não adesão.

• Prescrição sem referência bibliográfica/evidência científica.

• Quando a informação do usuário não está de acordo com o que


está na prescrição ou na bibliografia.

Quando não há possibilidade de resolver o problema encontrado,


deverá ser considerada a não dispensação do medicamento.

Caso não haja nenhuma não conformidade, a próxima etapa será a


separação do(s) medicamento(s).

Etapa 3: Separação

Nesta etapa deve ser avaliada a integridade do produto, data de


validade e a quantidade necessária para realizar o tratamento. A
quantidade separada sempre deve ser confrontada com a prescrição
3. Separação no momento da entrega ao usuário.

Etapa 4: Registro

Consiste em realizar a identificação na prescrição dos itens atendidos


e não atendidos e a data da dispensação. Para os tratamentos de
uso contínuo o registro pode ser realizado em carteirinhas específicas
4. Registro (hipertensão, diabetes, anticoncepcionais).

Etapa 5: Orientações

O objetivo desta etapa é aconselhar e educar sobre o uso correto


dos medicamentos.

A informação deve estar adequada às necessidades de cada usuário:


5. Orientações
• Nome, dose, frequência e duração.

• Cuidados especiais (preparo ou administração).

• Facilitar a adesão.

• Uso de etiquetas recordatórias.

• Dispensadores.

292 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


• Orientações sobre autocuidado.

• Precauções.

• Reações adversas.

• Interações com medicamentos ou alimentos.

Os horários de administração do medicamento podem ser avaliados


juntamente com o usuário, considerando seus hábitos alimentares,
suas atividades diárias, para que sejam de acordo com os hábitos
de vida.

Por exemplo, se o medicamento deve ser ingerido em jejum ou de


estômago vazio, verificar o horário do café da manhã, se é viável
ingerir antes do café ou duas horas depois etc.

Procure substituir as expressões como “o senhor deve tomar assim...”


por o senhor poderia tomar assim, ou, o que o senhor acha de tomar
tal hora, seria melhor?

Vale ressaltar que é importante conhecer a experiência que o usuário


tem com o uso do medicamento. Trata-se de um cenário de início de
tratamento ou de um cenário de continuação?

Veja, a seguir, dois aspectos importantes a serem considerados, de


acordo com a experiência de uso do medicamento.

1 - Início de tratamento (o usuário não tem nenhuma experiência


de uso do medicamento)

Nesses casos o atendimento deve ser realizado, preferencialmente,


pelo farmacêutico, e o foco do processo de uso deve ser:

• o objetivo do tratamento;

• a posologia;

• as precauções do modo de uso;

• a conveniência e disposição do usuário em utilizar o medicamento; e

• o modo de conservação do produto.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 293


Para realizar a orientação, é necessário avaliar a compreensão do
usuário sobre as orientações do prescritor.

Por exemplo:

É a primeira vez que o(a) senhor(a) vai utilizar este


medicamento? O senhor está iniciando o tratamento
agora?

7. Avaliação dos resultados


Perguntar para o usuário:
- Como o médico lhe disse para tomar este medicamento?
- De quantas em quantas horas?
- Até quando? Ou durante quanto tempo?

sodatluser sod oãçailavA .7

2 - Continuação de tratamento

O foco deve ser o resultado do uso do medicamento. Inicialmente, o


atendimento pode ser realizado pelo auxiliar que deve ter a obrigação
de investigar se o tratamento está sendo efetivo, ou seja, se está
alcançando os objetivos terapêuticos. Por exemplo: se a pressão
arterial está controlada ou se as crises de asma reduziram.

É necessário certificar-se de que o tratamento está sendo seguro,


se não estão ocorrendo reações adversas, se não surgiu um novo
problema de saúde ou agravou algum existente após o início do
tratamento.

Também é importante averiguar se o usuário não está tendo


dificuldades em utilizar o medicamento e se está tendo adesão ao
tratamento.

Caso nenhum problema seja identificado, o auxiliar pode seguir o


procedimento de dispensação. Quando houver algum problema
identificado, o usuário deve ser encaminhado à avaliação do
farmacêutico.

Veja, agora, como avaliar o resultado dos medicamentos, de acordo com


a percepção do usuário.

294 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


• Para que o(a) senhor(a) vem usando este medicamento?

• Como está o tratamento, sente-se melhor?

• A pressão arterial (a glicemia, o colesterol...) está controlada?

• O(a) senhor(a) tem tolerado bem a medicação?

• Sentiu alguma reação diferente ou algum efeito indesejável?

• Adaptou-se bem ao medicamento?

• Sente alguma dificuldade na utilização?

Caso o usuário tenha respondido alguma das perguntas acima de


forma negativa, é necessário verificar como ele procede ao utilizar o
medicamento prescrito. Para isso, você pode fazer perguntas como:

• O(a) senhor(a) tem tomado a medicação todos os dias?

• A que horas tem tomado?

• Conte-me, como exatamente o(a) senhor(a) está tomando os


seus medicamentos?

Caso o prescritor tenha feito alguma alteração de dose ou forma


farmacêutica, é imprescindível avaliar a compreensão do usuário sobre
o processo de uso do medicamento.

Lembre-se de orientar o usuário sobre o uso de medicamentos


complexos. Para isso, durante a separação do produto pergunte-se:

• Exige condições especiais de armazenamento?

• Deve ser mantido sempre na embalagem original?

• Requer abrir de alguma forma especial ou tem uma tampa de


segurança?

• É necessária alguma preparação especial antes de sua


administração?

• Precisa de alguma técnica de administração especial?

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 295


• Apresenta alguma condição especial de administração?

• Necessita de explicação sobre como utilizar a forma farmacêutica?

Na sequência, abordaremos alguns exemplos de orientações a


serem feitas na dispensação de colírios, gotas otológicas e aerossóis.

Colírios

1) Lave as mãos.

2) Não encoste na abertura do conta-gotas.

3) Olhe para cima.

4) Puxe a pálpebra inferior para baixo para fazer uma “calha”.

5) Coloque o conta-gotas o mais perto da “calha” possível, sem


encostá-lo no olho.

6) Aplique a quantidade prescrita na “calha”.

7) Feche o olho por mais ou menos dois minutos, porém, não o


feche com muita força.

8) O excesso de líquido pode ser removido com um lenço de papel.

9) Se você estiver usando mais de um tipo de colírio, espere pelo


menos cinco minutos antes de aplicar as gotas seguintes.

10) Colírios podem causar uma sensação de ardência que deve


durar por alguns minutos. Se a sensação não desaparecer logo,
consulte um médico ou farmacêutico.

Anotações

296 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Figura 3 - Orientação sobre o uso de colírio
Fonte: Guia do cuidado farmacêutico, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Superintendência de
Assistência Farmacêutica. Belo Horizonte: SES-MG, 2010.

Gotas otológicas

1) Esquente as gotas segurando-as entre suas mãos ou debaixo do


braço por vários minutos. Não use água quente da torneira, pois
você não pode controlar a temperatura.

2) Vire a cabeça para o lado ou deite-se de lado com o ouvido para


cima.

3) Delicadamente, puxe o lóbulo da orelha para expor o canal


auditivo.

4) Aplique a quantidade de gotas prescrita.

5) Espere cinco minutos antes de virar a cabeça para o outro lado.

6) Use algodão para fechar o canal auditivo depois de aplicar as


gotas somente se houver uma recomendação explícita do
fabricante.

7) Gotas otológicas ardem somente por alguns minutos.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 297

3
Figura 4 - Orientação sobre o uso de gotas otológicas
Fonte: Guia do cuidado farmacêutico, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Superintendência de
Assistência Farmacêutica. Belo Horizonte: SES-MG, 2010.

Aerossóis

1) Expectore o máximo
3
de catarro possível.

2) Agite o tubo antes de usar.

3) Segure o aerossol
2 como está indicado nas instruções do
1
fabricante (normalmente
4
de cabeça para baixo).

4) Coloque a boca firmemente em volta do bocal.

5) Incline a cabeça levemente para trás.

6) Respire devagar, esvaziando os pulmões tanto quanto for


possível.

7) Inspire profundamente e ative o aerossol, mantendo a língua


baixa.

8) Segure a respiração de 10 a 15 segundos.

9) Expire pelo nariz.

10) Lave a boca com água quente.

298 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


3

2
1
4

Figura 5 - Orientação sobre o uso de aerossóis


Fonte: Guia do cuidado farmacêutico, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Superintendência de
Assistência Farmacêutica. Belo Horizonte: SES-MG, 2010.

Veja, a seguir, um exemplo, considerado complexo, de esquema de


administração e de cuidados de alendronato de sódio.

Orientações para o uso de alendronato de sódio, indicado para o


tratamento da osteoporose.

1) No dia escolhido, ao levantar-se e antes de se alimentar, beber


qualquer tipo de líquido ou tomar qualquer outro medicamento,
tome o comprimido de alendronato de sódio com um copo cheio
de água filtrada.

• Não tomar com água mineral.

• Não tomar com café ou chá.

• Não tomar com suco.

• Não mastigue ou chupe o comprimido.

2) Após ter engolido o comprimido, fique em posição ereta (sentada,


em pé ou caminhando) durante pelo menos 30 minutos e não se
deite até que você tenha feito a sua primeira refeição do dia.

3) Não tome o alendronato à noite, ao se deitar ou pela manhã,


antes de se levantar. As recomendações anteriores facilitarão a
chegada do comprimido ao estômago e, desse modo, reduzirão
o potencial de irritação do esôfago.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 299


4) Após engolir o comprimido, espere pelo menos 30 minutos antes
de alimentar-se, beber ou tomar qualquer outra medicação,
incluindo antiácidos, suplementos de cálcio e vitaminas. O
alendronato só é eficaz se ingerido quando seu estômago estiver
vazio.

5) Se você sentir dificuldade ou dor ao engolir o comprimido, dor no


peito ou azia que seja recente ou tenha piorado, suspenda o uso
do medicamento e procure seu médico.

Fonte: http://www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/BM/BM%5B25915-1-0%5D.PDF

Uso de pictogramas

Segundo Galato e colaboradores (2006), o uso de pictogramas


(símbolos gráficos) ou de sinalização constitui uma importante
ferramenta para facilitar a comunicação durante as orientações sobre
o uso dos medicamentos. Veja alguns exemplos:

• Sampaio e colaboradores (2008) aplicaram um questionário,


contendo 12 figuras, envolvendo 83 usuários, com baixa ou
sem escolaridade, atendidos no sistema público, e observaram
que, entre as figuras apresentadas, 9 foram corretamente
compreendidas por 63 usuários, apontando que esta pode ser
uma ótima estratégia para a compreensão da prescrição médica.

• Em outro estudo realizado, o objetivo foi desenvolver pictogramas


com informações sobre a utilização de medicamentos.
Desenvolveram-se 6 pictogramas e foram realizadas 73
entrevistas, 4 pictogramas foram considerados legíveis, com
mais de 67% de compreensão (GALATO et al., 2006).

Os pictogramas podem ser muito úteis, no entanto, é necessário


certificar-se de que o usuário compreendeu o significado deles. Como os
artigos citados mostram, todos os estudos apresentaram pictogramas
incompreensíveis ou pessoas que não os compreenderam.

Veja alguns exemplos de pictogramas.

300 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Mastigue Dilua em água Não dirigir se o medicamento
fizer ficar sonolento

Coloque embaixo da língua Coloque dentro da vagina Lave as Mãos / Coloque no ânus / Lave as mãos novamente

1 Hora

Tome 1 hora antes das refeições Agite bem Injeção

Não beba bebida alcoólica Não tome com alimentos Não dirigir se o medicamento
enquanto estiver tomando fizer ficar sonolento
este medicamento

Figura 6 – Exemplos de pictogramas disponíveis para orientação sobre o uso de medicamentos.


Fonte: Farmacopeia Americana (www.usp.org)

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 301


É muito importante que o usuário conheça:

• o objetivo e o benefício do tratamento para a sua saúde;

• a forma de administrar corretamente os medicamentos;

• a conservação dos medicamentos em casa.

Dicas de comunicação:

• Pergunte seu nome e procure chamá-lo pelo nome.

• Use linguagem popular, clara e objetiva.

• Faça somente perguntas claras e objetivas.

• Cuide para não sobrecarregar o usuário de informações.

• Peça ao usuário que mostre como vai utilizar os medicamentos.

• Saiba ouvir com atenção.

• Nunca interrompa sua fala.

• Demonstre confiança e interesse evitando displicência ou


desatenção.

• Mantenha um sorriso cordial e sincero durante o atendimento.

• Seja honesto.

Certifique-se:

• O usuário sabe para que é o tratamento?

• O usuário sabe a forma de administração, a frequência e a


duração do tratamento?

Para o processo de dispensação, existem várias metodologias propostas,


e a correta é aquela que possibilita a comunicação adequada com
aquele usuário específico.

302 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Etapa 6: Registro no cadastro

Refere-se ao momento em que são realizados os registros da


dispensação, por exemplo, medicamento entregue, quantidade,
duração do tratamento e prescritor. Esses registros, por meio de
dados numéricos, possibilitam demonstrar a importância do serviço
farmacêutico, representando a sua produtividade. Lembre-se de que
esses dados são fundamentais para a avaliação e o planejamento
estratégico do serviço.

Alguns municípios utilizam sistemas informatizados para o cadastro


de tais informações. Esse tema será abordado na próxima lição.

Etapa 7: Avaliação

O foco desta etapa é avaliar a dispensação dos medicamentos, e


pode, ainda, subsidiar a avaliação da adesão, quando é possível
visualizar o histórico de retirada dos medicamentos. Nessa fase é que
ofertamos outros serviços farmacêuticos como o acompanhamento
farmacoterapêutico2, farmacovigilância, programas de educação
em saúde e visita domiciliar. 7. Avaliação dos resultados

Lição 5 – Registro das informações de dispensação

Ao final desta lição, você será capaz de entender a importância do 2 Para saber mais sobre
registro das informações, pois o que não foi documentado não foi acompanhamento
realizado! Nesta lição, abordaremos o registro das informações da farmacoterapêutico, acesse
dispensação, seja ele informatizado ou manual. a unidade 3 do Módulo
6 – Modelos de seguimento
farmacoterapêutico. O tema
Reflexão da farmacovigilância será
abordado na unidade 6
Afinal, como podemos realizar esses registros? Que informações devem deste Módulo.
ser registradas? E por quê?

Bom, vamos começar por onde registrar essas informações. Hoje


existem inúmeros sistemas informatizados para o registro das
informações do serviço farmacêutico, incluindo a dispensação,
muitos deles interligados aos prontuários e outros serviços das
unidades de saúde. Esses sistemas são elaborados, em sua maioria,
por empresas privadas e devem ser pagos para que se tenha acesso
ao serviço. Se seu município possui um sistema desses, informe-se

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 303


bem como ele funciona e procure alimentá-lo com o registro dos
serviços farmacêuticos. É importante considerar não apenas as
atividades administrativas farmacêuticas, como controle de estoque,
programação e entrega, mas também as atividades clínicas de
dispensação, orientação, acompanhamento, visitas domiciliares etc.

Se seu município não possui um sistema informatizado, existe um


sistema gratuito, elaborado pelo Ministério da Saúde, o Hórus -
Sistema Nacional de Gestão da Assistência Farmacêutica, que
permite o registro de todas as entradas, saídas e fluxos de produtos
e de medicamentos na Central de Abastecimento Farmacêutico e
nas Farmácias/Unidades de Saúde. Lembre-se de que esse assunto
já foi mencionado na unidade 3 do Módulo 4.

O Hórus possibilita o agendamento, registro e a rastreabilidade da


dispensação, além do acompanhamento do uso dos medicamentos.
Esse sistema também permite realizar o registro dos medicamentos
controlados, conforme a Portaria n. 344/98.

Link

Para saber mais e sobre como aderir ao sistema, acesse o link a seguir:
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1675

A qualidade de um sistema de registro é importante. Um bom


sistema deve ser confiável, seguro e de fácil acesso. Quanto mais
complexa a organização, o volume e a qualidade das informações,
mais complexos serão os sistemas de registro para que tudo fique
disponível da forma mais adequada.

Reflexão

Qual sistema devo escolher?

Para responder a essa questão é necessário conhecer a realidade


do serviço e quais informações você vai registrar. Muitos municípios
não têm nenhum sistema implantado ou o sistema existente não
está adequado e, em outros, a realidade não permite a instalação
de um computador em todas as unidades dispensadoras. O mais

304 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


importante é que as informações necessárias sejam registradas e a
consulta a estas seja possível. O registro pode ser manual, criando-
se fichas para o registro da dispensação e acompanhamento da
utilização dos medicamentos. Muitos municípios já utilizam fichas
para o acompanhamento dos usuários do HIPERDIA e para o
controle do estoque.

Outros sistemas utilizados pelo Ministério da Saúde são o


SISMEDEX, para gerenciamento dos medicamentos do Componente
Especializado, e o SICLOM, para os medicamentos do programa
DST/Aids. Ambos também realizam o registro da dispensação.

Os registros devem ser conservados porque, além do seu valor


informativo, demonstram todas as atividades da organização. O
consistente gerenciamento de registros garante que a integridade
destes seja preservada enquanto forem necessários.

Você deve estar se perguntando “Quais informações devo


registrar?”. Como já dito anteriormente, é importante saber quais
informações são necessárias para o serviço em que você atua, se
serão registrados apenas dados básicos da dispensação, ou se você
quer registrar também os dados complementares, que auxiliarão no
acompanhamento da utilização dos medicamentos.

Os dados importantes a serem registrados são: o cadastro de cada


usuário, com informações como nome, endereço, telefone, número
do Cartão Nacional do SUS (CNS); informação sobre os tratamentos
prescritos (medicamentos, posologia, dosagem, quantidade);
informações sobre o prescritor (nome, registro no Conselho Regional
de Medicina ou no Conselho Regional de Odontologia); medicamentos
dispensados (medicamento e quantidade dispensada); bem como
o registro de ocorrência no uso dos medicamentos; e informações
sobre quem está realizando a dispensação.

Sem dúvida, o registro é uma questão muito importante para a gestão


dos serviços. Só com registros confiáveis é possível realizar uma
administração racional e coerente de produtos como os medicamentos.
E é a partir dos registros que podem ser geradas as informações
necessárias para a tomada de decisão, assim como para avaliar os
resultados das ações empreendidas. São essas informações que
embasam as negociações, e dão suporte ao gestor para que escolhas
difíceis possam ser feitas.
Portanto, para que haja gestão em seu serviço, município, instituição,
não é possível ignorar esta questão: investir em registro é fundamental!

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 305


O sistema também pode imprimir dados sobre o tratamento,
inclusive com ficha de orientação para controle e acompanhamento
do tratamento pelo usuário.

É indispensável que o sistema registre informações dos


medicamentos atendidos e não atendidos a cada
dispensação, pois essas informações serão bastante úteis para
a programação, aquisição e controle de estoque dos
medicamentos

Embora não seja possível afirmar se a medicação dispensada foi


utilizada adequadamente, os registros das dispensações
realizadas tornam-se instrumentos importantes na identificação
precoce dos usuários em risco de não-adesão (GOMES et al.,
2009).

O registro do atendimento, segundo normas e


procedimentos estabelecidos, visa documentar as atividades de
dispensação de medicamentos, tendo em vista necessidades
administrativas, técnicas e éticas. O procedimento da dispensação
resultará em uma série de registros que terão desde a finalidade
administrativa de documentar a movimentação de estoque, o
cumprimento das normas legais e governamentais até a finalidade
gerencial de garantia de qualidade e proteção do usuário e dos
profissionais. Principalmente quando implementados os
procedimentos mais técnicos, como os que envolvem o
aconselhamento e a educação, é importante a garantia do registro
das informações prestadas (MARIN, 2003).

Anotações

306 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Análise crítica

A dispensação é uma ação que deve garantir o acesso e a promoção


do uso correto dos medicamentos. Assim, para sua efetividade,
é necessário que esse processo seja planejado e que assegure a
eficácia, a segurança e a qualidade dos medicamentos.

O acesso insuficiente aos medicamentos essenciais constitui um


problema bastante grave e importante. Adicionalmente, o acesso
físico e financeiro, não se traduz necessariamente no uso correto,
reforçando a necessidade de priorizar também, ao lado da discussão
do acesso, a qualidade dos serviços e produtos oferecidos em relação
ao provimento de medicamentos, bem como o treinamento contínuo
dos profissionais e a disseminação de informações confiáveis
(BERMUDEZ, 2004).

Sendo assim, é necessário que o farmacêutico compreenda e defina,


de maneira explícita, o serviço que fornecerá ao usuário. O modelo
de serviço prestado não deve estar centrado no produto; deve-se
pensar em uma farmácia que oferece serviços.

O planejamento e a organização desse processo devem incluir as


estruturas física, organizacional e funcional, bem como os recursos
humanos qualificados e a elaboração de um manual com normas e
procedimentos. A dispensação é a etapa em que os profissionais
das unidades de dispensação interagem diretamente com o usuário.

O desenvolvimento dos serviços farmacêuticos, aqui descritos


como técnico-assistenciais, necessitam de uma equipe plenamente
capacitada para aplicar conhecimentos sobre os medicamentos, a
terapêutica, as habilidades e as competências para estabelecer a
relação com os usuários dos serviços e a equipe assistencial e gerencial.

Anotações

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 307


Referências

ANGONESI, D. Dispensação farmacêutica: uma análise de diferentes


conceitos e modelos. Ciência e Saúde Coletiva, sup.13, p. 629-
640, 2008.

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Janeiro: Sede da ABNT, 2004. 105 p.

BERMUDEZ, J. A. Z.; OLIVEIRA, M. A.; ESHER, A. Accesso a


Medicamentos: Derecho Fundamental, Papel del Estado. Rio de
janeiro: ENSP, 2004.

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outubro de 1998. Aprova a Política Nacional de Medicamentos. Diário
Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 10 nov. 1998.

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Insumos Estratégicos. Assistência farmacêutica na atenção básica:
instruções técnicas para sua organização. Brasília: Ministério da
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publicacoes/assistencia_farmaceutica_atencao_basica_instrucoes_
tecnicas.pdf

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e


Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e
Insumos Estratégicos. Diretrizes para estruturação de farmácias no
âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde,
2009. 44 p.: il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos).

CORRER, C. J. A prática farmacêutica de dispensação de


medicamentos. Material didático. 2007.

GALATO, F. et al. Desenvolvimento e validação de pictogramas para


o uso correto dos medicamentos: Descrição de um estudo-piloto.
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GOMES, C. A. P., et al. A assistência farmacêutica na atenção à


saúde. Belo Horizonte: FUNED, 2007.

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n. 3, p. 495-506, 2009.

308 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Guia do cuidado farmacêutico: uma estratégia para promover o uso
racional de medicamentos e a farmacovigilância no SUS/Secretaria de
Estado de Saúde de Minas Gerais. Superintendência de Assistência
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LEITE, S.; CORDEIRO, B.C. O farmacêutico na atenção à saúde.


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Revista Panamericana de Salud Pública, v. 24, n. 2, p. 91-100,
2008.

Unidade 4 - Dispensação de medicamentos 309


Autores

Julieta Ueta

Possui graduação em Farmácia Bioquímica pela Universidade de


São Paulo (1971) e doutorado em Bioquímica pela Universidade de
São Paulo (1977). Atualmente é Professora Associada da Faculdade
de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da Universidade de
São Paulo. Tem experiência na área de Farmácia, com ênfase em
Farmácia Clínica, atuando principalmente nos seguintes temas:
assistência farmacêutica, medicamentos, atenção farmacêutica e
segurança dos usuários. Na Graduação, da FCFRP/USP, ministra as
Disciplinas de Tecnologia das Fermentações, Atenção Farmacêutica
em Serviços Públicos e Práticas Farmacêuticas no SUS.

http://lattes.cnpq.br/8380494651921859

Ligia Hoepfner

Possui graduação em Farmácia pela Universidade Federal de


Santa Catarina (1999), especialização em Farmácia Hospitalar
com introdução à Farmácia Clínica, pelo Hospital das Clínicas da
Universidade de São Paulo (2000) e mestrado em Farmácia, pela
Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Foi professora
colaboradora da Universidade da Região de Joinville do curso de
Farmácia, professora do curso de especialização interinstitucional em
Gestão da Assistência Farmacêutica e, atualmente, é coordenadora
da Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde do Município de
Pomerode, SC. Atua como pesquisadora em assistência farmacêutica
e educação.

http://lattes.cnpq.br/7870135739923419

Noemia Liege Bernardo

Possui graduação em Farmácia pela Universidade Paranaense (1993),


habilitação em Farmácia Industrial pela Universidade Estadual de
Maringá (1994), especialização em Farmacologia pela Universidade
Federal do Paraná (2005) e mestrado em Farmácia pela Universidade
Federal de Santa Catarina (2010). Atualmente é professora na
Universidade do Vale do Itajaí, SC. Tem experiência na área de
Farmácia, com ênfase em Atenção Farmacêutica, Farmácia Clínica
e Farmácia Hospitalar, atuando principalmente nos seguintes temas:
assistência farmacêutica, medicamentos, atenção farmacêutica e
segurança dos pacientes.

http://lattes.cnpq.br/1047114367084356

310 Ueta, Hoepfner e Bernardo Serviços farmacêuticos


Unidade 5
UNIDADE 5 – AÇÕES DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE

Ementa da Unidade

• Vigilância em saúde e vigilância da saúde no contexto da gestão


da assistência farmacêutica.

• Componentes da Vigilância em Saúde e possibilidades de


articulação com a gestão da assistência farmacêutica.

• Redes de atenção à saúde.

• Integralidade da atenção à saúde.

Objetivos específicos de aprendizagem

• Refletir sobre conceitos, organização, saberes e olhares da(s)


vigilância(s) local/estadual/municipal/regional e a necessidade
de articulação da gestão da assistência farmacêutica com a
vigilância em saúde.

• Compreender o processo de trabalho da(s) vigilância(s) local/


municipal/regional/estadual e da assistência farmacêutica na
construção da integralidade da atenção à saúde.

• Compreender as redes de atenção à saúde propostas pelo


Ministério da Saúde, em conjunto com a OPAS, Conass e
Conasems, e nelas compreendida a assistência farmacêutica e
a vigilância em saúde.

• Observar como as vigilâncias podem compartilhar informações


para o trabalho da gestão da assistência farmacêutica e como
esta pode contribuir com o trabalho da(s) vigilância(s) local/
estadual/municipal/regional.

Apresentação

Caro aluno, considerando os debates acerca do papel da


vigilância em saúde frente aos desafios colocados em todos os
níveis da gestão do SUS, entendemos que não é possível discutir
uma articulação entre vigilância em saúde e assistência
farmacêutica - sem que o debate nacional sobre Redes de Atenção
à Saúde seja

313
Unidade 5 - Ações de vigilância em saúde
contextualizado, provocando você - profissional farmacêutico - para
essa agenda e estimulando uma reflexão sobre o Modelo de Atenção
à Saúde no Sistema Único de Saúde.

Assim, o conteúdo desta unidade foi elaborado tendo como pressuposto


o entendimento do atual estado da arte da vigilância em saúde, conceitos,
atribuições, ações e estrutura e as articulações que você, como gestor
da assistência farmacêutica, deve compreender e empreender com a
vigilância em saúde, na busca da atenção integral à saúde.

Desejamos a você um excelente aprendizado!

Conteudistas responsáveis:

Margaret Grando
Ronald dos Santos

Colaborador:

Norberto Rech

Conteudista de referência:

Margaret Grando

Conteudistas de gestão:

Silvana Nair Leite


Maria do Carmo Lessa Guimarães

314 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


ENTRANDO NO ASSUNTO

Lição 1 – Contextualização da vigilância em/da saúde

Foi pensando no seu papel de gestor da assistência farmacêutica ou de


farmacêutico, que coopera e contribui com a gestão de medicamentos
e serviços de assistência farmacêutica em determinado município
ou estado, que desenvolvemos a lição sobre a vigilância em e da
saúde. No decorrer desta lição, você poderá refletir sobre conceitos,
organização, saberes e olhares da(s) vigilância(s) local, municipal,
regional ou estadual e sobre a necessidade de articulação da gestão
da assistência farmacêutica com a vigilância em saúde ou da saúde.

Reflexão

Seguramente, você já se deparou com situações-problema que


necessitam de articulação com a vigilância em saúde. Mas, o que é
vigilância em saúde? E vigilância da saúde?

Didaticamente, podemos dizer que o debate em torno do tema tem


gerado duas concepções:

• A Vigilância da Saúde – surge no contexto da implantação dos


Distritos Sanitários no final da década de 1980 e se afirma como
uma proposta de reorganização das práticas de saúde. A vigilância
da saúde considera a busca da integralidade do cuidado à saúde
e a adequação das ações e dos serviços aos problemas, às
necessidades e demandas concretas da população de um distrito
sanitário, de um município, ou de uma micro ou macrorregião
de saúde, em função de suas características demográficas,
socioambientais, econômicas, epidemiológicas e sanitárias. Essa
proposta articula a promoção da saúde, passando pelos vários
níveis de prevenção e de organização da atenção à saúde, até a
formulação e implementação de políticas públicas intersetoriais.
Observa-se que esse referencial persegue a integralidade da
atenção e do cuidado (TEIXEIRA, SOLLA, 2006; TEIXEIRA, 2010;
COSTA, 2008).

• A Vigilância em Saúde – se constitui em uma forma organizativa


de integração institucional das áreas de vigilância epidemiológica,
vigilância sanitária, saúde ambiental, saúde do trabalhador e

315
laboratórios de saúde pública, na maior parte dos estados e em
muitos municípios de médio e grande porte.

Como você pode verificar, a vigilância em saúde ainda tem se


apresentado como uma concepção mais restrita à organização
institucional das vigilâncias. Portanto, em determinados momentos
faremos uso de uma ou outra, ou mesmo de ambas as denominações.

Embora careça de uma política nacional de vigilância em saúde,


o esforço de organizar o conjunto das ações, os conceitos e as
responsabilidades das diferentes áreas da vigilância, materializou-se,
em 22 de dezembro de 2009, na Portaria do Ministério da Saúde
(MS) n. 3.252. Essa Portaria expressa a incorporação conceitual
ampliada da vigilância da saúde e apresenta a vigilância em saúde,
tendo como objetivo a análise permanente da situação de saúde da
população, articulando-se num conjunto de ações que se destinam
a controlar determinantes, riscos e danos à saúde de populações
que vivem em determinados territórios, garantindo a integralidade da
atenção, o que inclui tanto a abordagem individual como coletiva dos
problemas de saúde (BRASIL, 2009a).

Reflexão

Isso significa que eu posso e devo promover uma articulação com a


vigilância em saúde do meu estado ou município, a fim de que esta
contribua com a gestão da assistência farmacêutica, nos serviços a elas
vinculados?

Sem dúvida, as ações, que visam controlar os determinantes, riscos


e danos à saúde, serão melhor implementadas quando articuladas
e trabalhadas no conjunto dos serviços. Isso contribui para a
integralidade da atenção, e quem sairá ganhando é o usuário!

Anotações

316 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


Link

Outra possibilidade de trabalho conjunto refere-se ao estudo


e conhecimento sobre os indicadores de saúde da sua região,
fundamentais na construção dos processos de seleção e programação
de medicamentos. Para tanto, acesse a Sala de Situação em Saúde
do Ministério da Saúde, selecionando o estado e município, e confira:
http://189.28.128.178/sage

E como a Vigilância em Saúde se organiza nos diferentes níveis de


gestão?

a) Na esfera federal, a institucionalização da vigilância em saúde se


dá na Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da
Saúde, e tem como objeto de trabalho ações de promoção da
saúde da população, vigilância, proteção, prevenção e controle
das doenças e dos agravos à saúde, abrangendo as seguintes
áreas de atuação:

1) Vigilância epidemiológica;

2) Promoção da saúde;

3) Vigilância da situação de saúde;

4) Vigilância em saúde ambiental;

5) Vigilância da saúde do trabalhador;

6) Vigilância sanitária.

b) Nas Secretarias Estaduais de Saúde, com a criação das


Superintendências ou dos Departamentos ou Centros de
Vigilância em Saúde, a institucionalização ocorre de forma muito
similar à esfera federal, ou seja, é constituída na maior parte
dos estados pelas áreas técnicas de vigilância epidemiológica,
vigilância sanitária, saúde ambiental e saúde do trabalhador.

c) Em muitos municípios apenas se reproduzem as estruturas do


nível estadual. Em outros, a discussão sobre a integração entre as
vigilâncias vem sendo forçada pela necessidade de reorganização
de práticas de saúde, que contemplem intervenções sobre
problemas de saúde.

317
OBS: A Portaria MS n. 3.252/2009 reconhece dois sistemas nacionais:
o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde e o Sistema Nacional
de Vigilância Sanitária, que é coordenado pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) e integrado pela própria Anvisa, pelas
Vigilâncias Sanitárias Estaduais e Municipais e pelo Sistema Nacional
de Laboratórios de Saúde Pública no aspecto pertinente à Vigilância
Sanitária, além dos sistemas de informação de vigilância sanitária.

O fato de a Vigilância em Saúde se organizar em “diferentes” vigilâncias


é apontado por Paulo Sabroza e colaboradores (2006) e Marcelo Firpo
Porto (2007) como uma fragmentação do campo das vigilâncias, que
se reproduz tanto nas dimensões conceitual e organizacional como nas
práticas nos diferentes níveis do sistema.

Paulo Sabrosa e Firpo Porto, da Escola Nacional de Saúde Pública/


ENSP/FIOCRUZ (SABROZA, PORTO, 2010), destacam que as
perspectivas para a vigilância da saúde incluem:

• vigilância com base territorial local, atuando sobre problemas de


saúde e priorizando-os;

• vínculo à atenção primária e à promoção da saúde;

• comprometimento com a redução das vulnerabilidades


socioambientais e com o controle social;

• orientação para a produção e difusão de informações


sobre análises de situações de saúde e seus determinantes
socioambientais;

• utilização de diferentes métodos e fontes de informações,


inclusive a análise de rumores.

Jairnilson Paim (2008) argumenta que os serviços deveriam ser


organizados para produzir mudanças no perfil epidemiológico, a
partir das necessidades e dos problemas de saúde (riscos e danos),
coletivos e individuais, do território, seja ele um distrito sanitário, um
município, uma micro ou uma macrorregião de saúde.

318 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


As reflexões dos estudiosos do tema da vigilância da/em saúde
contribuem para a reavaliação constante das práticas de saúde e
a melhoria dos serviços, embora nem sempre com impactos e
repercussões imediatas nas estruturas organizacionais e políticas do
setor.

Uma leitura interessante para ser feita nesse momento é o artigo do


Jairnilson Silva Paim, que está disponível no Centro de Gestão do
Conhecimento Técnico Científico, na página da Anvisa.

Link

Você pode conferir o texto “Modelos Assistenciais: reformulando o


pensamento e incorporando a proteção e a promoção da saúde”,
de Jairnilson Silva Paim, no endereço: http://www.anvisa.gov.br/
institucional/snvs/coprh/seminario/modelo.htm

Como citado anteriormente, a vigilância em saúde compreende


diferentes áreas de atuação, também chamadas de componentes da
vigilância em saúde. Agora, você conhecerá um pouco das diferentes
áreas, dos componentes e das possibilidades de articulação com a
assistência farmacêutica, aprendendo quais são as principais ações
de cada área de atuação e como pode ocorrer a articulação da
gestão da assistência farmacêutica com todos esses componentes.

Anotações

319
Vigilância epidemiológica

Refere-se a um conjunto de ações que proporcionam


o conhecimento, a detecção ou a prevenção de
qualquer mudança nos fatores determinantes e
condicionantes da saúde individual e coletiva, com
a finalidade de se recomendar e adotar as medidas
de prevenção e controle das doenças e dos
agravos. Inclui a vigilância e o controle das doenças
transmissíveis, não transmissíveis e agravos.
html, body {
border:0;
outline:0;
ve rtical-align:baseline;
t ical-al
ica
c ign:bas
gro
grround:transp
background:transparent;
margin:0;n:0
0;
html, body { padding:0;g:0
:0
0;
border:0; }
outline:0; /* BASIC */
ve rtical-align:baseline;
*:focus {
background:transparent;
outline:none;
margin:0; }
padding:0; .clear {
} clear:both;
/* BASIC */ }
*:focus {
outline:none;
one;
}
.clear {
clear:both;
th;

Seu propósito é fornecer orientação técnica


}

permanente para os que têm a responsabilidade de


decidir sobre a execução de ações de controle de
Figura 1 – Vigilância Epidemiológica. doenças e agravos. Tem como funções, dentre outras:

• coleta e processamento de dados;

• análise e interpretação dos dados processados;

• divulgação das informações;

• investigação epidemiológica de casos e surtos;

• análise dos resultados obtidos; e

• recomendações e promoção das medidas de controle indicadas.

Um bom exemplo de articulação entre a gestão da assistência


farmacêutica e a vigilância epidemiológica pode ser a eleição de grupos
prioritários, por exemplo, usuários acometidos de tuberculose, para
acompanhamento e avaliação da adesão ao tratamento proposto.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 2003) destaca que,


nos países em desenvolvimento, a inadequada adesão ao tratamento
de doenças crônicas supera a média dos 50% observados em países
desenvolvidos.

Outro exemplo importante está vinculado aos medicamentos utilizados


pela vigilância epidemiológica em casos de meningite, hanseníase,
tuberculose e leishmaniose, por exemplo, em seu território.

320 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


Reflexão

Você sabe onde estão esses medicamentos? Qual o fluxo de aquisição,


transporte, armazenamento e distribuição? Será que é papel da
assistência farmacêutica se envolver nisso?

Promoção da saúde

Refere-se ao conjunto de intervenções individuais,


coletivas e ambientais responsáveis pela atuação
sobre os determinantes sociais da saúde, entendendo
a saúde em sua complexidade. Essa política objetiva
promover a qualidade de vida, “empoderando” a
população para reduzir a vulnerabilidade e os riscos
à saúde relacionados aos seus determinantes e
condicionantes – modos de viver, condições de
trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer,
cultura e acesso a bens e serviços essenciais. Figura 2 – Promoção da saúde.

As ações específicas são voltadas para: alimentação saudável, prática


corporal/atividade física, prevenção e controle do tabagismo, redução
da morbimortalidade em decorrência do uso de álcool e outras
drogas, redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito,
prevenção da violência e estímulo à cultura da paz, além da promoção
do desenvolvimento sustentável.

Assim, considerando o ambiente saudável como um determinante


da saúde e construindo parcerias com as áreas da promoção e da
vigilância em saúde, com as unidades de saúde de seu município/
estado, você, como gestor da assistência farmacêutica, pode propor
a avaliação do uso de medicamentos para o sistema respiratório em
grupos suscetíveis de sua população adscrita e correlacionar essas
informações com fontes poluidoras do ar, por exemplo.

321
Meu colega, a qual atributo do gestor os autores estão se referindo?
A capacidade de ter um olhar ampliado sobre os problemas de saúde
de sua população para, além da demanda por medicamentos, enxergar
seus determinantes e meios de agir sobre eles. Isso faz de nós,
farmacêuticos, profissionais de saúde, não apenas de medicamentos!
Mas, como agentes “promotores de saúde”, o papel dos profissionais
da assistência farmacêutica na vigilância da saúde é bem mais amplo:
é colaborar para que a população tenha os conhecimentos e as
ferramentas necessários para tomar a frente dos processos decisórios
que vão impactar sobre sua vida e sua saúde.
O que quer dizer isso?
Que a promoção da saúde está verdadeiramente apoiada no
desenvolvimento do poder da comunidade, das pessoas, da sociedade
organizada solidariamente. Só com uma população esclarecida, bem
informada, crítica, com autonomia e não dependência de favores e
promessas é que um projeto ambicioso, audacioso e democrático como
o SUS pode dar certo. É dessa população que sairão os rumos para
políticas públicas saudáveis, a escolha por hábitos de vida que protejam
sua saúde, para organização mais solidária da vida social, condições
para o desenvolvimento ambiental adequado e serviços de saúde
realmente eficientes.
Já tivemos durante o Curso a oportunidade de refletir um pouco
sobre as saudáveis relações da gestão da assistência farmacêutica
com a população organizada (nos conselhos, nas associações, nas
conferências e tudo mais). Na verdade, podemos ter no controle social
um importante alicerce para a gestão – para sua operacionalidade e sua
sustentabilidade (para lembrar Carlos Matus).
Como está a relação entre a assistência farmacêutica do seu município/
estado ou serviço com a população? Tem evoluído? Você e seus colegas já
encontraram os caminhos, os meios, as estratégias para tornar a gestão
da assistência farmacêutica mais participativa, mais interativa? A esta
altura do nosso Curso, é hora de refletir e avaliar essas evoluções, certo?

322 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


Vigilância da situação de saúde

Desenvolve ações de monitoramento contínuo do país, estado,


região, município ou áreas de abrangência de equipes de atenção à
saúde, por meio de estudos e análises que identifiquem e expliquem
problemas relacionados à saúde e ao comportamento dos principais
indicadores, contribuindo para um planejamento mais abrangente.

Já conversamos com você sobre a utilização de indicadores de


saúde de sua região nos processos de seleção e programação de Figura 3 – Sala de situação em saúde.
medicamentos. Quando achar necessário, revisite a Sala de Situação
em Saúde do Ministério da Saúde e confira o diagnóstico de saúde da
área de sua responsabilidade, nos planos locais, regionais, municipal
ou estadual de saúde. Lembre-se de verificar as prioridades, as
metas e os resultados esperados da assistência farmacêutica. Caso
você desconheça esse processo, informe-se junto às áreas de
planejamento ou gestão das secretarias de saúde.

Vigilância em saúde ambiental

Refere-se ao conjunto de ações que propiciam o conhecimento e a


detecção ou prevenção de mudanças nos fatores determinantes e
condicionantes do ambiente que interferem na saúde humana. Tem
como finalidade identificar as medidas de prevenção e o controle
dos fatores de risco ambientais, relacionados às doenças ou aos
agravos à saúde, prioritariamente, à vigilância da qualidade da água
para consumo humano, ao ar e ao solo, aos desastres de origem
natural ou antropogênica, a substâncias químicas, a acidentes com
produtos perigosos, a fatores físicos. Figura 4 – Vigilância em saúde ambiental.
Fonte: Ministério da Saúde.
Os desastres, sejam eles de origem natural e/ou antropogênica,
impactam os serviços de saúde, dentre eles os serviços da
assistência farmacêutica. Em 2001, após os terremotos ocorridos
em El Salvador, observou-se que 37% dos medicamentos recebidos
por doação apresentavam-se inadequados ao consumo humano.

Seja proativo e estreite contato com a área técnica de vigilância


em saúde ambiental relacionada aos desastres de seu estado e/ou
município e conheça melhor o trabalho desenvolvido.

323
Anotações

Vigilância da saúde do trabalhador

Conjunto de atividades destinadas à promoção e proteção,


recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores
submetidos aos riscos e agravos advindos das condições
de trabalho.

O trabalho de gestão da assistência farmacêutica,


articulado e integrado às equipes de saúde do estado e/
ou município, depende do conhecimento do diagnóstico
local de saúde. Reflita sobre a carga de riscos e agravos
Figura 5 – Vigilância da saúde do trabalhador. relacionados ao trabalho no território onde você está
atuando! A vigilância em saúde do trabalhador do
seu estado ou município possui indicadores de saúde e doença,
socioambientais e demográficos que afetam esse contingente
populacional. Essas informações podem ser relacionadas com a
utilização dos medicamentos por diferentes categorias profissionais,
podendo ser útil na organização dos serviços farmacêuticos.

Vigilância sanitária

Conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos


à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do
meio ambiente, na produção e circulação de bens e na prestação
de serviços de interesse da saúde. Abrange o controle de bens
de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a
saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção
ao consumo; e o controle da prestação de serviços que, direta ou
indiretamente, se relacionam com a saúde.

Muitas ações da assistência farmacêutica necessitam do suporte e


Figura 6 – Vigilância sanitária. da orientação/inspeção da vigilância sanitária. Podemos destacar:
registro de medicamentos; gerenciamento de resíduos de serviços
de saúde; investigação de queixas técnicas relativas à qualidade de
medicamentos e produtos para a saúde; investigação de notificações

324 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


sobre reações adversas a medicamentos; inspeção quanto a boas
práticas de produção, manipulação, dispensação, armazenamento e
transporte, entre outros elos da cadeia do medicamento; controle de
qualidade; além da regulamentação técnica de medicamentos em geral.

Reflexão

E quem financia essas ações da vigilância em saúde nos estados e


municípios?

Bem, é importante você compreender que para o financiamento das


ações e dos serviços do SUS existem blocos de financiamento com
seus respectivos componentes. Esse financiamento é tripartite, isto
quer dizer, existem recursos disponibilizados pela União, pelos estados
e pelos municípios. Assim, os recursos financeiros federais do bloco
da vigilância em saúde representam uma parte do financiamento
destinado ao desenvolvimento das ações de vigilância em saúde,
definidas como de responsabilidade de cada esfera de governo.

Em 2009, a edição da Portaria MS n. 3252 também aprovou as


diretrizes para o financiamento das ações de Vigilância em Saúde
pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Essa Portaria
revogou outras e alguns artigos da Portaria MS n. 204/2007, que
regulamenta os blocos de financiamento, entre eles o da Vigilância
em Saúde.

Link

Você pode conferir as novas portarias do Ministério da Saúde nos links:


Portaria GM/MS n. 3.252/2009 - http://portal.saude.gov.br/portal/
arquivos/pdf/portaria3252_da_vigilancia_em_saude_0501_atual.pdf
Portaria GM/MS n. 204/2007 - http://siops.datasus.gov.br/
Documentacao/LEGISLA%C3%87%C3%83O/portaria_204%20
Regulamenta%20os%20Blocos%20de%20Financiamento.pdf
Portaria GM/MS n. 1.397/2011 - http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
saudelegis/gm/2011/prt1397_15_06_2011.html
Portaria conjunta n. 1/2010 - http://www.conass.org.br/arquivos/file/nt_
conjunta_define_valores_componente%20vigilancia_promocao_saude.pdf

325
Com as alterações já observadas na leitura complementar, o bloco de
vigilância em saúde continua sendo composto por dois componentes:

1) Componente de Vigilância e Promoção da Saúde: destina-se às


ações de vigilância, promoção, prevenção e controle de doenças,
e é constituído por:

a) Piso Fixo de Vigilância e Promoção da Saúde - PFVPS; e

b) Piso Variável de Vigilância e Promoção da Saúde - PVVPS.

2) Componente da Vigilância Sanitária: destina-se à execução das


ações de vigilância sanitária nos termos do disposto no caput do
art. 6º da Portaria GM/MS n. 1.106, de 12 de maio de 2010 e é
constituído pelo Piso Fixo de Vigilância Sanitária (PFVISA), o qual,
por sua vez, é assim composto:

a) Estratégico: constituído por recursos financeiros oriundos do


Fundo Nacional de Saúde e da Anvisa, calculado mediante:

a1) Valor per capita, calculado à razão de R$ 0,21 (vinte e um


centavos) por habitante/ano ou Piso Estadual de Vigilância
Sanitária, no valor de R$ 450.000,00 (quatrocentos e
cinquenta mil reais) para unidades federadas, cujo valor
per capita configurar um teto abaixo desse valor, conforme
o Anexo I dessa Portaria;

a2) Recursos financeiros da Anvisa, conforme o Anexo I


dessa Portaria; e

b) FINLACEN-Visa, conforme os Anexos IV e V da Portaria n.


1.397, de 15 de junho de 2011.

Concluindo...

Os conceitos e olhares sobre a vigilância em saúde, a organização


e as ações das diferentes áreas/componentes das vigilâncias são
atributos indispensáveis na gestão da assistência farmacêutica, que
apenas se concretizam quando articulados entre si.

Lição 2 – Integralidade da atenção à saúde no território

Nesta lição você poderá compreender o processo de trabalho


da(s) vigilância(s) local/municipal/estadual/regional e da assistência
farmacêutica na construção da integralidade da atenção à saúde.

326 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


A integralidade é compreendida como a garantia de acesso a todos
os serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades de
saúde de uma população, em um dado território, adequando a
competência dos profissionais ao quadro epidemiológico, histórico e
social da comunidade e do usuário (Portaria Ministerial n. 3.252/2009,
art. 4º, § 2º - BRASIL, 2009a).

O Decreto Presidencial n. 7.508, de 25 de junho de 2011, que


regulamenta a Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, dispõe que a
integralidade da assistência à saúde se inicia e se completa na rede de
atenção à saúde mediante referenciamento do usuário na rede regional
e interestadual, conforme pactuado nas Comissões Intergestores.

O Pacto pela Saúde (2006) já ressaltava a relevância de aprofundar o


processo de regionalização e de organização do sistema de saúde para
consolidar os princípios de universalidade, integralidade e equidade.

Jairnilson Paim (2006), citando Paim & Teixeira (1992), considera


que a construção e implementação da integralidade representam,
talvez, o maior desafio da saúde no Brasil, e reconhece a proposta da
vigilância da saúde como uma via para superar esse desafio, uma vez
que a sua proposta original apoia-se na ação e atuação intersetorial e
procura reoganizar as práticas de saúde no âmbito local.

Conclui que “o princípio da integralidade implica dotar o sistema de


condições relacionadas às diversas fases da atenção à saúde, ao
processo de cuidar, ao relacionamento do profissional de saúde com
os pacientes”.

No Brasil, a Atenção Primária foi implementada com a Política Nacional


de Atenção Básica (2006) e é caracterizada como um conjunto de
ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que compreende a
promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, danos e
riscos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da
saúde, tendo a Estratégia de Saúde da Família como prioridade para
sua organização (BRASIL, 2007; BRASIL, 2009a).

Embora não tenha modificado as características que definem a


atenção básica, a Portaria GM/MS n. 2.488, de 21 de outubro de
2011, revisa as diretrizes e normas para a organização da Atenção
Básica, da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e do Programa de
Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e aprova, a nova Política
Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2011).

Paim (2006) destaca que a reorganização da atenção básica no Brasil


talvez tenha sido a intervenção mais ampla, por meio do Programa
de Saúde da Família e vinculado à vigilância da saúde, na construção
contra-hegemônica do modelo de atenção à saúde vigente.

327
Carmem Teixeira e Ana Luiza Vilasbôas, em seu documento preliminar
intitulado “Diretrizes para a integração entre a Atenção Básica e
a Vigilância em Saúde”, alertam que grande parte dos municípios
brasileiros ainda desenvolvem ações de vigilância em saúde de modo
centralizado, sem a devida capilaridade para as unidades básicas,
o que provoca restrições no efetivo controle das doenças e dos
agravos prioritários e torna distante a possibilidade de operacionalizar
o princípio da integralidade da atenção (BRASIL, 2009b).

Conforme a Portaria MS n. 3.252/2009, art. 4º, “A Vigilância em Saúde,


visando à integralidade do cuidado, deve inserir-se na construção
das redes de atenção à saúde, coordenadas pela Atenção Primária à
Saúde (APS)” (BRASIL, 2009a).

Reflexão

Da mesma forma que a vigilância em saúde, você entende que a


assistência farmacêutica também deve inserir-se na construção das
redes de atenção à saúde e aumentar sua capilaridade com a APS?
Mas, e o que são as redes de atenção à saúde?

Eugênio Vilaça Mendes (2009) define as redes de atenção à saúde


como organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde,
vinculados entre si por uma missão única, por objetivos comuns e
por uma ação cooperativa e interdependente, que permite ofertar uma
atenção contínua e integral a determinada população, coordenada pela
Atenção Primária à Saúde - prestada no tempo certo, no lugar certo,
com o custo certo, com a qualidade certa e de forma humanizada, e
com responsabilidades sanitárias e econômicas por esta população.

A Portaria MS n. 3.252/2009, no §1º do art. 4º, estabelece que


as redes de atenção à saúde consistem em estruturas integradas
de provisão de ações e serviços de saúde institucionalizados pela
política pública, em um determinado espaço regional, a partir do
trabalho coletivamente planejado e do aprofundamento das relações
de interdependência entre os atores envolvidos (BRASIL, 2009a).

Outra definição, proposta por Gilson Carvalho e colaboradores (2008)


é que as redes de atenção à saúde representam uma malha que
interconecta e integra os estabelecimentos e serviços de saúde de
um determinado território, organizando-o sistemicamente para que
os diferentes níveis e densidades tecnológicas de atenção estejam
articulados e adequados para o atendimento ao usuário e para a
promoção da saúde.

328 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


As diretrizes para a organização das redes de atenção à saúde no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), preconizadas pela Portaria
MS n. 4.279/2010, definem a rede de atenção à saúde como um
conjunto de arranjos organizativos de ações e serviços de saúde,
de diferentes densidades tecnológicas, que, integradas por meio de
sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a
integralidade do cuidado (BRASIL, 2010b).

Já o Decreto n. 7.508/2011 considerou a rede de atenção à saúde


como um “conjunto de ações e serviços de saúde articulados em
níveis de complexidade crescente, com a finalidade de garantir a
integralidade da assistência à saúde”.

Como você pode observar, todos os conceitos sobre redes de atenção


à saúde convergem e se complementam. Essa discussão ainda está
se processando no âmbito nacional e a própria conceituação de redes
ficará mais clara a medida em que todos nós nos engajemos na tarefa
de colocar em prática o trabalho em rede. Acompanhe esse debate
nos portais do Conass, Conasems, Ministério da Saúde.

O Boletim SVS em rede n. 76/2010 menciona que as redes de atenção


integral e de saúde da família não existem sem uma Atenção Primária
à Saúde qualificada e ordenadora dessas redes; sem promoção
e vigilância em saúde; e sem a integração entre a Atenção Básica
e a vigilância em saúde. Essas condições foram colocadas como
obrigatórias para a construção da integralidade na atenção básica e
o alcance de bons resultados, tomando-se por base o apoio matricial
(quando um grupo tem a função de apoiar outro).

Anotações

Conforme mencionado na Revista Vigilância em Saúde, o Núcleo de


Apoio à Saúde da Família (NASF) é um exemplo de apoio matricial. É
uma estratégia para ampliar a abrangência e a diversidade das ações
das equipes de saúde da família, assim como sua resolubilidade,
pois promove a criação de espaços para a produção de novos
conhecimentos e ampliação da clínica, marco importante no alcance
de melhores resultados em saúde.

329
BRASIL. Conselho Nacional 1 E isso também deve ocorrer com as áreas de vigilância – estas devem
de Secretários de Saúde. aprofundar suas singularidades técnicas e de organização de serviço
Oficina 4: A Vigilância em para a construção do apoio matricial às ações de atenção básica,
Saúde, Brasília: CONASS, como meio de assegurar retaguarda especializada e suporte técnico
2010. pedagógico a equipes e profissionais de saúde, para o aumento da
capacidade de intervenção e resolubilidade (Oficina 41).

O apoio matricial da Vigilância em Saúde deve ser operacionalizado


de modo a promover um planejamento que considere a soma das
tecnologias da Vigilância em Saúde e a reformulação dos processos
de trabalho, considerando as seguintes atribuições mínimas/
essenciais:

I) análise da situação de saúde dos territórios locais/regionais,


incluindo análise de tendência, fatores condicionantes e
determinantes, situações de vulnerabilidade e suscetibilidade de
grupos populacionais e do meio ambiente;

II) apoio às equipes no planejamento das ações de atenção,


vigilância e promoção à saúde, subsidiando-as na construção
de planos de intervenção;

III) articulação das ações coletivas, incluindo as relacionadas ao


meio ambiente; e

IV) articulação e apoio à implementação da estratégia de


gerenciamento do risco individual e coletivo. (Oficina 41)

A atenção básica não substituirá os profissionais das vigilâncias, mas


atuará de forma complementar e com conhecimento técnico nas
diversas áreas de atuação das vigilâncias. Em resumo, é a partir da
atenção básica que a vigilância da saúde da população de um dado
território será construída.

Reflexão

Reflita sobre a contribuição da assistência farmacêutica na integralidade


do cuidado.
- Em algum momento, a assistência farmacêutica que você representa
participou de reuniões ou discussões de trabalho sobre Integralidade da
Atenção à Saúde?
- No município/região ou estado onde você exerce atividades
farmacêuticas, a sua instituição participa da construção de redes de
atenção à saúde?

330 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


Link

Excelentes materiais sobre Redes de Atenção estão disponíveis no


portal da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina. Acesse-os
na página: http://portalses.saude.sc.gov.br/index.php?option=com_con
tent&view=article&id=1173&Itemid=241

O portal “Redes de Atenção à Saúde coordenada pela Atenção


Primária de Saúde” foi constituído a partir do esforço coletivo de
pensadores, gestores e militantes do Sistema Único de Saúde e
instituições como Conasems, Conass, Ministério da Saúde e OPAS/
OMS. Ele proporciona, além de um acervo de publicações na área,
conhecimentos sobre a gestão das redes de atenção à saúde, e sobre
elementos concretos para que os municípios e estados construam
suas próprias soluções e instrumentos gerenciais. São publicações
originais, documentos oficiais, textos selecionados de revistas e livros
científicos nacionais e internacionais.

Link

Você pode acessar as Redes de Atenção à Saúde coordenadas pela


Atenção Primária à Saúde no endereço: http://new.paho.org/bra/
apsredes/

Concluindo...

Em seus mais de 20 anos, o SUS passou por diferentes momentos de


reordenamento dos seus serviços. A organização da atenção primária
à saúde por estados e municípios e o apoio matricial das vigilâncias
(ainda em discussão) e dos NASF contribuem para a integralidade
das ações e dos serviços no território e para o fortalecimento da rede
de atenção à saúde.

Compartilhar o conhecimento, entender as relações, os nós das


redes, dentro do território, é uma questão central para a saúde
humana e ambiental.

331
Lição 3 – Redes de atenção à saúde

Nesta lição você irá compreender como as redes de atenção


à saúde propostas pelo Ministério da Saúde, em conjunto com a
OPAS, Conass e Conasems, situam a Assistência Farmacêutica e a
Vigilância em Saúde.

Pronto para seguir em frente?

Sabemos que o cenário brasileiro é caracterizado pela diversidade de


contextos regionais, com marcantes diferenças socioeconômicas e de
necessidades de saúde da população entre as regiões, agravado pela
forte presença da oferta privada e seus interesses e pressões sobre o
mercado na área da saúde e pelo desafio de lidar com a complexa inter-
relação entre acesso, escala, escopo, qualidade, custo e efetividade
que demonstram a complexidade do processo de constituição de um
sistema unificado e integrado no país (BRASIL, 2010a).

A rede de atenção à saúde no SUS, tendo a APS como eixo estruturante


da rede, foi concretizada por meio da Portaria MS n. 4.279/2010,
em sintonia com o Pacto pela Saúde, as Políticas Nacionais de
Atenção Básica (PNAB) e de Promoção à Saúde (PNPS), atendendo
a configuração de um modelo de atenção capaz de responder às
condições crônicas e às condições agudas e promover ações de
vigilância e promoção à saúde.

Link

Você pode acessar a Portaria n. 4.279/2010, que estabelece diretrizes


para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema
Único de Saúde, no endereço: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/
pdf/portaria4279_docredes.pdf

No acesso ao link anterior, você pode perceber que o objetivo das


Redes de Atenção à Saúde é promover a integração sistêmica, de
ações e serviços de saúde com provisão de atenção contínua, integral,
de qualidade, responsável e humanizada; bem como incrementar o
desempenho do Sistema, em termos de acesso, equidade, eficácia
clínica e sanitária, e eficiência econômica.

Percebeu também que elas se caracterizam pela formação de


relações horizontais entre os pontos de atenção, pela centralidade nas
necessidades em saúde de uma população, pela responsabilização
na atenção contínua e integral, pelo cuidado multiprofissional, pelo

332 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


compartilhamento de objetivos e compromissos com os resultados
sanitários e econômicos.

A Rede de Atenção à Saúde ganhou especial significado com


a publicação do Decreto n. 7.508/2011, que dispõe sobre a
organização do SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde
e a articulação interfederativa, e dá outras providências.

O sanitarista Gilson Carvalho, colaborador assíduo do endereço


eletrônico do Instituto de Direito Sanitário Aplicado (IDISA), em seu
artigo sobre Regulamentação da Lei 8080: um Decreto com 20 anos
de atraso, listou, de forma muito didática, as principais conquistas do
Decreto n. 7.508/2011 (CARVALHO, 2011):

• Definiu, aprofundou ou clareou conceitos como: regionalização,


hierarquização, região de saúde, rede interfederativa, protocolos
clínicos e diretrizes terapêuticas, contratos entre os entes
públicos, comissões intergestores.

• Oficializou a Atenção Primária como porta de entrada e


ordenadora do acesso ao SUS.

• Como novidade trouxe os Contratos Organizativos da Ação


Pública - ponto fulcral do Decreto e que sacramentará a relação
entre as esferas de governo.

• As Comissões Intergestores tiveram uma maior legitimação,


agora em decreto o que apenas estava formalizado em portarias.

• Mapa de Saúde é uma nomenclatura nova da descrição de todas


as ações e serviços de saúde e das necessidades de saúde de
cada local.

• A centralidade da Região de Saúde que inclusive será a base de


alocação de recursos.

• Criada a Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde –


Renases, com todas as ações e serviços de responsabilidade
do SUS.

• A Rename, já existente há vários anos, está sendo aperfeiçoada


com reforço sobre os protocolos clínicos e as diretrizes
terapêuticas.

Destacamos, a seguir, vários itens da Portaria MS n. 4.279/2010,


fundamentais para a reflexão do trabalho de gestão da assistência
farmacêutica e do apoio matricial dos NASF no contexto das redes
de atenção à saúde (BRASIL, 2010b):

333
• as diretrizes para a organização das Redes de Atenção definem
claramente que todos os profissionais de saúde podem e devem
fazer a clínica ampliada, pois escutar, avaliar e se comprometer
na busca do cuidado integral em saúde são responsabilidades
de toda profissão da área da saúde;

• é preciso considerar e valorizar o poder terapêutico da escuta e


da palavra, o poder da educação em saúde e do apoio matricial,
a fim de construir modos para haver a corresponsabilização do
profissional e do usuário;

• o foco do trabalho vivo devem ser as relações estabelecidas


no ato de cuidar, que são: o vínculo, a escuta, a comunicação
e a responsabilização com o cuidado. Os equipamentos e o
conhecimento estruturado devem ser utilizados a partir desta
relação e não o contrário como tem sido na maioria dos casos.

Ainda, o acesso com qualidade é um dos objetivos fundamentais


e pode ser melhor compreendido com o conceito de graus de
excelência do cuidado nas seis dimensões, a saber:

• segurança (reconhecer e evitar situações que podem gerar danos


enquanto se tenta prevenir, diagnosticar e tratar);

• efetividade (utilizar-se do conhecimento para implementar ações


que fazem a diferença, que produzem benefícios claros aos
usuários);

• centralidade na pessoa (usuários devem ser respeitados nos


seus valores e expectativas, e serem envolvidos e proativos no
cuidado à saúde);

• pontualidade (cuidado no tempo certo, buscando evitar atrasos


potencialmente danosos);

• eficiência (evitar desperdício ou ações desnecessárias e não


efetivas); e

• equidade (características pessoais como local de residência,


escolaridade, poder aquisitivo, dentre outras, não devem resultar
em desigualdades no cuidado à saúde).

334 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


Ferramentas de microgestão dos serviços

Um dos principais tópicos das diretrizes preconizadas na Portaria MS


n. 4.279/2010, o qual permite que estabeleçamos conexões entre a
gestão da assistência farmacêutica, a vigilância em saúde e a APS,
refere-se às ferramentas de microgestão dos serviços na rede de
atenção à saúde.

As redes se conformam a partir dos processos de ampliação do


objeto de trabalho da clínica para além das doenças, visando
compreender os condicionantes e determinantes de saúde, os
problemas de saúde, ou seja, entender as situações que ampliam o
risco ou a vulnerabilidade das pessoas.

Como os problemas ou as condições de saúde estão em sujeitos, em


pessoas, a clínica do sujeito é a principal ampliação da clínica, o que
possibilita o aumento do grau de autonomia dos usuários, cabendo
uma decisão compartilhada do projeto terapêutico.

Na identificação e estratificação de riscos em grupos individuais


expostos a determinados fatores e condições que os colocam em
situação de prioridade para a dispensação de cuidados de saúde, o
principal subsídio à gestão da clínica, na área da Vigilância em Saúde,
refere-se à análise da situação de saúde.

As ferramentas de gestão da clínica ou de microgestão dos serviços


partem das diretrizes clínicas, para, a partir delas, ofertar outras
ferramentas como a gestão da condição de saúde ou de patologias,
gestão de casos, auditoria clínica, entre outras, destacando-se:

• Diretrizes clínicas - entendidas como recomendações que


orientam decisões assistenciais, de prevenção e promoção,
como de organização de serviços para condições de saúde
de relevância sanitária, elaboradas a partir da compreensão
ampliada do processo saúde-doença, com foco na integralidade,
incorporando as melhores evidências da clínica, da saúde
coletiva, da gestão em saúde e da produção de autonomia.

As diretrizes desdobram-se em Guias de Prática Clínica/Protocolos


Assistenciais, orientam as linhas de cuidado e viabilizam a
comunicação entre as equipes e os serviços, a programação de
ações e a padronização de determinados recursos.

• Linhas de cuidado – ou linhas-guia, segundo Eugenio Vilaça


Mendes (2009), citado na recente publicação da OPAS (2011) -
Inovando o papel da Atenção Primária nas redes de Atenção à
Saúde: resultados do laboratório de inovação em quatro capitais
brasileiras, são:

335
[...] recomendações sistematicamente desenvolvidas com o objetivo de prestar a
atenção à saúde apropriada em relação a uma determinada condição de saúde,
realizadas de modo a normatizar todo o processo, ao longo de sua história
natural, cobrindo, portanto, as intervenções promocionais, preventivas, curativas,
cuidadoras, reabilitadoras e paliativas realizadas em todos os pontos de atenção
de uma rede de atenção à saúde. As linhas-guia normatizam todo o processo de
atenção à saúde, em todos os pontos de atenção, obedecendo à ação coordenadora
da atenção primária à saúde.

A implantação de linhas de cuidado deve acontecer a partir das


unidades da APS, que têm a responsabilidade da coordenação do
cuidado e ordenamento da rede. Vários pressupostos devem ser
observados para a efetivação das linhas de cuidado, como garantia dos
recursos materiais e humanos necessários a sua operacionalização;
integração e corresponsabilização das unidades de saúde; interação
entre equipes; processos de educação permanente; gestão de
compromissos pactuados e de resultados. Tais aspectos devem ser
de responsabilidade de grupo técnico, com acompanhamento da
gestão regional (BRASIL, 2010a).

• Gestão de caso - é um processo que se desenvolve entre o


profissional responsável pelo caso e o usuário do serviço de
saúde para planejar, monitorar e avaliar ações e serviços, de
acordo com as necessidades da pessoa, com o objetivo de
propiciar uma atenção de qualidade e humanizada. É, portanto,
uma relação personalizada entre o profissional responsável pelo
caso e o usuário de um serviço de saúde.

Seus objetivos são:

a) atender as necessidades e expectativas de usuários em situação


especial;

b) prover o serviço certo ao usuário no tempo certo;

c) aumentar a qualidade do cuidado; e

d) diminuir a fragmentação da atenção (BRASIL, 2010a).

Contextualizando o proposto para a Gestão de caso com a prática


da Assistência Farmacêutica, também podemos estabelecer uma
conexão com a legislação sanitária - RDC Anvisa n. 44, de 17 de
agosto de 2009, em seu Capítulo VI, na Seção I - Art. 63, que
estabelece como objetivos da atenção farmacêutica (BRASIL, 2009c):

• prevenção, detecção e resolução de problemas relacionados a


medicamentos;

336 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


• promoção do uso racional dos medicamentos;

• melhoria da saúde e da qualidade de vida dos usuários.

Lembrando que para subsidiar informações e permitir o


acompanhamento da eficácia dos tratamentos prescritos, a RDC n.
44/2009 permitiu a aferição de parâmetros fisiológicos e bioquímicos,
devendo, para isso, serem elaborados protocolos para as atividades
relacionadas à atenção farmacêutica, incluindo indicadores para
avaliação dos resultados.

A RDC n. 44/2009 também reforçou a necessidade e obrigatoriedade


de documentação das atividades de forma sistemática e contínua,
com o consentimento expresso do usuário e os registros contendo,
no mínimo, informações referentes ao usuário e ao profissional
responsável pela execução do serviço, e registro das intervenções
farmacêuticas realizadas e os resultados dela decorrentes (BRASIL,
2009c).

Na gestão de caso, o farmacêutico, em conjunto com a equipe da


APS, deve:

• selecionar usuários portadores de condições ou agravos de


importância epidemiológica ou estratificados por risco;

• elaborar o plano de cuidados e de acompanhamento para os


usuários selecionados, em conjunto com o usuário, o médico e
os profissionais da equipe;

• implementar e monitorar o plano de cuidados;

• documentar as atividades propostas, os indicadores de avaliação


e as intervenções realizadas.

Outro exemplo de ferramenta de gestão de caso é a conciliação de


medicamentos - um procedimento de revisão dos medicamentos
usados por um usuário, como meio efetivo de auxiliar os usuários
a obterem o máximo benefício no uso de seus medicamentos,
identificando os problemas relacionados a medicamentos, prevenindo
ou diminuindo a ocorrência de erros de medicação e reduzindo o
desperdício (NATHAN, 1999, apud GOMES et al., 2007).

A conciliação de medicamentos pode ser feita durante a dispensação


ou em qualquer momento de interação entre o farmacêutico e o usuário
da APS, da unidade hospitalar ou dos ambulatórios especializados.
Momentos privilegiados para a revisão do uso de medicamentos são
as situações de transferências entre esses serviços ou quando o

337
usuário não é transferido de nível de assistência, mas é atendido por
vários médicos, que prescrevem diversos medicamentos, sem haver
conciliação entre eles.

A conciliação contribui para o uso racional de medicamentos e consiste


na obtenção de uma lista completa e precisa dos medicamentos
que o usuário está utilizando, incluindo os não prescritos e os
provenientes de terapias complementares, comparando-os com
aqueles prescritos, além da análise do uso por meio da identificação
de duplicidades, discrepâncias, interações, necessidades de ajustes
e modificações (GOMES et al., 2007).

Anotações

Concluindo...

Você deve ter observado que existem muitos documentos, portarias,


textos e decretos que versam sobre o tema Redes de Atenção à
Saúde. Alguns se referem às redes no plural, outros no singular. Esse
processo está em construção e a assistência farmacêutica deve
ser proativa e não se omitir da discussão e da construção desse
processo. Nem todas as publicações contextualizam a assistência
farmacêutica da forma como nós farmacêuticos a entendemos. É da
nossa participação que depende a formulação de proposições e a
melhoria do processo em curso.

Com certeza, é hora de estarmos muito atentos e participativos neste


movimento de definição (conceitual e operacional) das Redes de Atenção.
A assistência farmacêutica não pode deixar de integrar-se nesta lógica
de organização e de responsabilização pela saúde das pessoas.
O tema está atualmente em forte debate em todos os níveis e chamamos
nosso colega Luiz Henrique Costa, colaborador da Organização Pan-
Americana de Saúde no Brasil, para nos situar neste debate.

338 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


Ambiente Virtual

A entrevista com o farmacêutico Luiz Henrique Costa, colaborador da


OPAS no Brasil, está disponível no AVEA. Confira!

Lição 4 – Compartilhando conhecimentos e experiências

Nesta lição, você poderá observar como as vigilâncias podem


compartilhar informações para o trabalho da gestão da assistência
farmacêutica e como esta pode contribuir com o trabalho da(s)
vigilância(s) local/municipal/regional/estadual.

Com o objetivo de que a manifestação de diferentes atores do SUS


possa contribuir para o debate da integralidade da atenção à saúde
aqui apresentada, encaminhamos um elenco de três questões a três
convidados:

• Dr. Dirceu Barbano – Diretor Presidente da Agência Nacional de


Vigilância Sanitária – Anvisa/Ministério da Saúde.

• Dr. Jarbas Barbosa – Secretário de Vigilância em Saúde do


Ministério da Saúde.

• Dr. Luis Antonio Silva – Diretor de Vigilância Epidemiológica da


Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina e membro do
Grupo Técnico de Vigilância em Saúde da Comissão Intergestores
Tripartite - CIT.

Confira, na sequência, as colocações e ponderações dos nossos


entrevistados.

Quais as perspectivas de trabalhos compartilhados entre a Vigilân-


cia em Saúde e a Assistência Farmacêutica visando à construção
da integralidade da atenção?

Dr. Dirceu Barbano – A Vigilância em Saúde tem apoio no tripé


e no compartilhamento das vigilâncias sanitária, ambiental e
epidemiológica. A Vigilância Sanitária tem como fundamentação
conceber “um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou
prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários
decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e
da prestação de serviços de interesse da saúde.” Compreendemos
também que o uso dos serviços das tecnologias de saúde pela

339
população não é uma questão de opção de consumo de bens e sim
uma condição necessária à recuperação da saúde, por isso um de
seus principais atributos deve ser a segurança, pois nada é isento de
riscos. Dentre essas tecnologias destaca-se o medicamento, como
um dos principais e com significativo grau de variabilidade de perfil de
segurança para o uso. Na medida em que a assistência farmacêutica
engloba também políticas e ações destinadas a contribuir com o uso
racional desses medicamentos, torna-se fundamental que haja uma
relação estreita e compartilhada entre a Vigilância Sanitária, integrada
na Vigilância em Saúde, e a Assistência Farmacêutica.

Portanto, a busca de maior integração entre as várias expertises de


vigilâncias no âmbito da definição de políticas, diretrizes e indicadores
de impacto de resultado na Assistência Farmacêutica, e vice versa,
deve ser uma primeira perspectiva de trabalho compartilhado.

Dr. Jarbas Barbosa – Dentro do escopo de ação da vigilância


em saúde, o relacionamento com a assistência farmacêutica
potencialmente se dá de diversas formas, seja por meio do processo
de aquisição dos medicamentos para endemias como, tuberculose,
leishmaniose, malária, esquistossomose e AIDS, apenas para citar
alguns exemplos; como também por meio do acompanhamento aos
processos de transferência de tecnologia, incorporação de novos
fármacos e formulações a serem disponibilizadas pelo SUS.

Como perspectiva de trabalho compartilhado, a farmacovigilância é,


sem dúvida, um importante ponto de intersecção entre esses dois
temas. Com perspectivas necessárias de crescimento.

Dr. Luis Antonio Silva – Recentemente tem se discutido vigilância


em saúde mais focada nos pressupostos da proteção e promoção
da saúde. Essa abordagem está alinhada aos tópicos divulgados
pela OMS em relação a medidas que podem ser adotadas para a
promoção da saúde.

Vários estudos de pesquisadores da área de assistência


farmacêutica identificam quatro categorias de iniciativas que podem
ser implantadas pelos farmacêuticos para a melhoria do estado de
saúde da comunidade:

I) Acompanhamento e educação do e para o paciente;

II) avaliação dos seus fatores de risco;

III) prevenção da saúde; e

IV) promoção da saúde e vigilância das doenças.

340 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


Especificamente quanto à promoção da saúde, esta pode ser feita por
meio de três domínios que dão suporte aos serviços de assistência
farmacêutica oferecidos à população, quais sejam:

I) disposição de serviços de prevenção clínica;

II) vigilância e publicações em saúde pública; e

III) promoção do uso racional de medicamentos pela sociedade.

Do ponto de vista epidemiológico, o consumo de medicamentos


apresenta um complexo processo de múltiplas determinações. O
uso racional de medicamentos e a adesão ao tratamento são objetos
e problemas da epidemiologia, portanto da vigilância em saúde.
Estudá-los implica compreender sua transcendência às necessidades
coletivas e a expressão dos diferentes quadros nosológicos.

Os dados e as informações epidemiológicas podem melhorar a


qualidade da assistência farmacêutica, permitindo uma intervenção
mais precisa do farmacêutico, pois sustentam o conhecimento
necessário e suficiente sobre os medicamentos mais utilizados por
determinada população, o que permite e facilita a chamada difusão
da terapêutica informada.

Qual o papel dos diferentes níveis de gestão da vigilância em saúde


e da gestão da assistência farmacêutica para que a integração de
fato ocorra?

Dr. Dirceu Barbano – À gestão federal deve e cabe o papel mais


estratégico dessa integração. A capacidade para operacionalizar essa
integração é mais palpável e melhor estabelecida. Além do mais, a
gestão federal deve cumprir seu papel de coordenar a política de
saúde no país. A melhoria dos instrumentos políticos e operacionais
existentes para a pactuação de ações integradoras entre os níveis de
gestão coloca-se, nesse contexto, como um grande desafio. O principal
papel a ser cumprido em cada um dos níveis de gestão para que essa
integração ocorra de fato é a superação das fragmentações na definição
das políticas, ações e indicadores de resultado, em cada espaço de
implementação da vigilância em saúde e da assistência farmacêutica.

Dr. Jarbas Barbosa – Em todas as instâncias federativas do


SUS, para uma efetiva integração é fundamental que as áreas de
assistência farmacêutica e a vigilância em saúde construam agendas
de ação conjuntas, de modo que sejam desenvolvidas de fato ações
compartilhadas, em que cada área em seu campo de ação possa
contribuir para qualificação dos procedimentos, ultrapassando uma
relação meramente burocrática e normativa. Um exemplo do que

341
isso pode beneficiar é com relação à aquisição de medicamentos
para programas de endemias.

Dr. Luis Antonio Silva – Na velocidade das mudanças do contexto


e na nova ótica de gestão que vem se consolidando no âmbito do
SUS, entendo não ser possível individualizar e caracterizar uma
simplificação de papéis assumidos por área ou esferas de gestão.
Trata-se de “gestar” perspectivas no âmbito geral, e que aí sim,
depois de definidas como estratégias a serem implementadas, deve-
se estratificar de acordo com cada responsabilidade de gestão e
aplicá-las de forma integrada.

Nesse sentido, pode-se descrever como atribuições inerentes,


facilitadoras dessa integração:

• Novos desafios apontados pelo atual contexto epidemiológico


e pela necessidade em saúde, o que gera demanda em novas
demandas por investigação e respostas às emergências de
saúde pública e às doenças emergentes de relevância nacional
e/ou internacional.

• Identificação e intervenção nos fatores de risco decorrentes da


produção e do uso de produtos e serviços sujeitos ao consumo,
visando a apropriação do uso racional desses produtos e serviços
na busca da melhor qualidade de vida.

• Necessidade de ampliar pesquisas e estudos para uma melhor


aproximação entre o homem e o ambiente como componente
essencial de preservação da vida, visando a redução de riscos à
saúde humana, tais como: ocupação do espaço; enfrentamento de
desastres naturais; controle de substâncias químicas e de acidentes
com produtos perigosos; caracterização do ambiente de trabalho.

• Necessidade de identificar e investigar os fatores determinantes


que interferem na saúde dos trabalhadores expostos aos riscos e
agravos advindos das condições de trabalho.

• Exigência, cada dia mais presente, de procedimentos seguros,


focados nos parâmetros de qualidade e biossegurança que
sustentam as ações dos profissionais da área de saúde pública.

342 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


Quais as políticas, tecnologias, ferramentas e meios disponíveis
para aprimorar o processo de integração?

Dr. Dirceu Barbano –

Políticas:

a) Diretrizes do SUS – basicamente a integralidade das ações;

b) Fortalecimento do Controle Social na definição de políticas, ações


e indicadores de integração;

c) Fortalecimento da pactuação entre os vários níveis da gestão da


saúde.

Tecnologias e ferramentas:

Definições integradas de vigilância em saúde e assistência


farmacêutica nos programas estratégicos da Política de Saúde;

• Indicadores que reflitam o trabalho integrado;

• Maior articulação e troca de informações de dados entre as áreas


de vigilância sanitária, vigilância epidemiológica e assistência
farmacêutica, principalmente, nos programas que envolvem o
uso de medicamentos:

I) Programa Farmácia Popular;

II) Programas estratégicos de controle e tratamento de


tuberculose, hanseníase, AIDS, etc, enfim, em cada um dos
programas.

Dr. Jarbas Barbosa – As instâncias e os processos de pactuação


do SUS e os compromissos internacionais, como o Regulamento
Sanitário Internacional 2005 e os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio (ODM) são alguns dos instrumentos que corroboram com o
desenvolvimento de ações intersetoriais, entre as diversas temáticas
do SUS. Além disso, mecanismos de controle externos e internos
demandam o desenvolvimento de sistemas de informação que
permitam o acompanhamento tanto de processos burocráticos,
como a ocorrência de eventos de saúde relacionados, não apenas
a doenças transmissíveis, mas devido ao uso de produtos, como os
fármacos, por exemplo.

Podemos afirmar que ainda há um longo caminho a se percorrer para


alcançarmos a efetiva integração entre a assistência farmacêutica e
a vigilância em saúde, embora significativos passos já venham sendo

343
dados na perspectiva do desenvolvimento de ações matriciais, uma
vez que ambas as áreas atuam de modo transversal no Sistema
Único de Saúde.

Dr. Luis Antonio Silva – Esse processo todo envolve aspectos


diversos e complexos, todavia não tenho dúvida alguma que as
abordagens transdisciplinares utilizadas atualmente, com resultados
extremamente positivos, tornam-se um bom modelo para a efetivação
dessa integração. Defendo que os estabelecimentos farmacêuticos
têm, como finalidade, a realização de ações de vigilância em saúde
e, como função básica, promover atividades voltadas para o controle
epidemiológico e sanitário de uma população.

Entendo que suas principais ações devem estar fundamentadas


em critérios epidemiológicos, tanto no campo da análise - quando
da dispensação para a terapêutica clínica -, quanto na orientação e
educação de problemas prioritários de saúde pública de determinada
população.

Como primeiro passo, o simples fato da compreensão dos princípios de


vigilância baseados nas especificidades da assistência farmacêutica,
que levam à percepção e identificação de eventos e agravos de
importância em saúde pública, contribuindo diretamente com:

I) Identificação de sinais de alerta;

II) capacidade de detecção e predição;

III) capacidade de organização e resposta;

IV) acompanhamento das tendências;

V) acompanhamento dos progressos para o objetivo de vigilância e


controle; e

VI) avaliação das intervenções. Isso já seria, por si só, uma enorme
contribuição.

344 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


Na prática, a assistência farmacêutica, no desempenho de suas
atividades, deve atuar como uma das principais fontes identificadoras
e notificadoras de situações diferenciadas e inusitadas, relacionadas
com o processo saúde/doença/cuidado, sendo meio indispensável
para a rápida e eficaz difusão das informações, por meio da
capacidade de comunicação em massa, que a mesma exerce com
grande parcela da população.

Outro aspecto de grande importância, como componente essencial,


que pode reforçar a integração dentro do sistema de saúde, está
relacionado com as modernas tecnologias de informática em uso,
atualmente, ainda como simples elemento de controle de custos
e estoques pela área da assistência farmacêutica, tanto no setor
público quanto no privado, e que, se redirecionadas para uma lógica
de educação em saúde, traria impactos imediatos. Em síntese,
seria a oportunidade para o resgate do papel do farmacêutico e da
farmácia como elemento central e promotor da saúde, assim como
na compilação, na capilarização e divulgação de dados e informações
de interesse da saúde pública.

Concluindo...

Como você pode acompanhar nas entrevistas, as respostas colocam


necessidades de políticas específicas e de agendas comuns. A lição
que fica é que estamos no meio de uma estrada e não podemos
nos contentar em fazer do mesmo jeito, como diz Paim. Para a
implementação das mudanças na direção da integralidade da atenção
e do cuidado à saúde, é necessário um trabalhar junto, conjunto,
intra e intersetorialmente. No decorrer do tempo que você ainda
tem no Curso, selecione um problema e divida com seus colegas
de Secretaria ou de trabalho as proposições para equacioná-lo,
construa as possibilidades de intervenção. Nada fica mais difícil do
que quando trabalhamos sós. Mãos a obra!

Anotações

345
Análise Crítica

Vale lembrar aqui o pensamento expresso em um texto de Jairnilson


Paim (2006), originalmente escrito em 2004 e publicado pelo Ministério
da Saúde – como Contribuições para a Agenda de Prioridades de
Pesquisa. Nele, Jairnilson coloca que a atenção à saúde, como
expressão do cuidado às pessoas – individualmente e coletivamente,
pode ser analisada sob dois enfoques principais:

• Um como resposta social aos problemas e às necessidades


de saúde, em que são analisadas as ações do Estado, leia-se
serviços de saúde, ou em que não são executadas as ações
necessárias à saúde das coletividades e dos indivíduos.

• Outro, como um serviço no interior do qual se processam relações


de produção, distribuição, uso e consumo de mercadorias. Ao
mesmo tempo que é serviço, também é um setor estratégico para
o complexo industrial, na medida que a atenção à saúde usa ou
necessita de tecnologias como medicamentos, equipamentos,
alimentos, vacinas etc.

Como tal, a atenção à saúde é perpassada por relações que, por sua
vez, geram “pressão para o consumo independente da existência ou
não das necessidades de saúde”.

Nesse contexto, os profissionais de saúde devem manter-se


vigilantes, críticos e aliados às universidades e à pesquisa – espaço
de construção de possibilidades e de atitudes para um consumo
orientado pelas necessidades.

Algumas perguntas geradoras de pesquisas e proposições são


destacadas pelo próprio Paim:

• Como incorporar tecnologia efetiva sem propiciar aumentos


exponenciais dos custos?

• Como utilizar o poder de regulação do SUS para aquisição de


insumos, avaliação e vigilância tecnológica de procedimentos e
equipamentos, bem como a prestação de serviços?

• Como formular políticas específicas de saúde, contemplando a


integralidade?

São desafios que estão colocados para todos, inclusive para você!

346 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


Referências

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Dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário
do funcionamento, da dispensação e da comercialização de produtos
e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
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de 2010. Estabelece diretrizes para a organização da rede de atenção
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da União, Poder Executivo, Brasília, DF, n. 245, Seção 1, p. 88, Col.
1, de 31 Dez. 2010. Disponível em: <http://www.brasilsus.com.br/
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BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n.


2488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a Política Nacional de
Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas
para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia de
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WHO. SABATÉ, E. (Org.). Adherence to long-term therapies: evidence


for action. 2003

349
Autores

Margaret Grando

Farmacêutica, especialista em Saúde Pública e mestre em Ciência


dos Alimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina. Servidora
da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, respondendo,
atualmente, pela Gerência em Saúde Ambiental da Diretoria de
Vigilância Sanitária – Superintendência de Vigilância em Saúde.

http://lattes.cnpq.br/4080970088799155

Ronald dos Santos

Farmacêutico graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina


em 1993 e mestre em Farmácia pelo Programa de Pós-Graduação em
Farmácia (PGFAR-UFSC) em 2003. É farmacêutico da Secretaria de
Estado da Saúde de Santa Catarina desde junho de 2006, assessor
técnico do Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina desde
abril de 2003, vice-presidente do Sindicato dos Farmacêuticos no
Estado de Santa Catarina, diretor de comunicação da Federação
Nacional dos Farmacêuticos (FENAFAR) e Conselheiro do Conselho
Nacional de Saúde.

350 Grando e Santos Serviços farmacêuticos


Unidade 6
UNIDADE 6 –FARMACOVIGILÂNCIA

Ementa da Unidade

• Farmacovigilância: aspectos introdutórios.

• Reações adversas a medicamentos (RAM).

• Intoxicações humanas por medicamentos.

• Métodos aplicados à farmacovigilância.

• A farmacovigilância e o ciclo da assistência farmacêutica.

Objetivos específicos de aprendizagem

• Reconhecer o que é a farmacovigilância, os aspectos históricos


e a relação com o desenvolvimento de fármacos.

• Reconhecer os fatores determinantes das reações adversas,


definição e classificação.

• Compreender a importância da farmacovigilância frente a


prevenção das intoxicações humanas.

• Reconhecer as ferramentas da farmacovigilância disponíveis


para subsidiar o trabalho dos profissionais de saúde e gestores
na identificação, prevenção, notificação e intervenção em caso
de suspeita de eventos adversos.

• Inter-relacionar a farmacovigilância com alguns serviços


farmacêuticos sob a ótica da gestão.

Apresentação

Caro aluno,

Nesta unidade você aprenderá um pouco mais sobre a


farmacovigilância e a sua inter-relação com a gestão da assistência
farmacêutica. A importância da farmacovigilância na atenção à saúde
é fundamental, haja vista que o consumo de medicamentos pela

Unidade 6 - Farmacovigilância 353


população é cada vez maior, e as práticas de prescrição, dispensação
e utilização nem sempre são racionais.

Neste conteúdo pretendemos trabalhar junto com você


conhecimentos, métodos e ferramentas que podem subsidiar as
ações de farmacovigilância. Além disso, vamos instigar a reflexão e a
crítica sobre o assunto.

Desejamos a você um excelente aprendizado!

Conteudistas responsáveis:

Paulo Sérgio Dourado Arrais


Iane Franceschet de Sousa
Marlene Zannin

Conteudista de referência:

Paulo Sérgio Dourado Arrais

Conteudistas de gestão:

Silvana Nair Leite


Maria do Carmo Lessa Guimarães

354 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


CONTEXTUALIZANDO

Prezado aluno, iniciamos o estudo desta unidade com uma charge


de Ivan Cabral, que parodia o uso excessivo de medicamentos.

Figura 1 – Charge sobre uso excessivo de medicamentos


Fonte: Direitos de uso da imagem cedidos ao Curso para utilização neste material didático.

Qual sensação temos ao ver esta figura?

É isso mesmo! Cada vez mais somos “invadidos” por uma avalanche
de medicamentos, cujas consequências nem sempre são positivas.

Reflexão

Será que isso tem relação com a farmacovigilância?


Com certeza!

O consumo excessivo de medicamentos ou seu uso inadequado


é uma das causas para o aparecimento de reações adversas,
intoxicações, alergias, agravamento de doenças já existentes ou
surgimento de novas doenças, além de outros problemas de saúde.
Muitas vezes, isso constitui a causa de internações hospitalares e
aumento da mortalidade, gerando um impacto significativo nos
gastos com saúde.

Unidade 6 - Farmacovigilância 355


De acordo com Arrais (2009), existem alguns fatores que influenciam
o consumo de medicamentos, como os listados a seguir:

• competição entre as indústrias do setor farmacêutico pelo


mercado consumidor;

• número excessivo de medicamentos e especialidades


farmacêuticas disponíveis no mercado, sendo que boa parte
destes não apresenta eficácia e segurança comprovadas;

• propaganda de medicamentos direcionada à população e aos


profissionais de saúde, que induz à prescrição e ao consumo de
medicamentos;

• excessivo número de farmácias/drogarias no Brasil;

• procura de farmácias/drogarias pelos usuários, para resolver


seus problemas de saúde, sem antes procurar atendimento
médico especializado;

• presença de medicamentos de venda isenta de prescrição;

• fácil acesso a medicamentos de venda sob prescrição médica e


controle especial;

• falta de disponibilidade de serviços médicos;

• venda de medicamentos fora do estabelecimento farmacêutico;

• distribuição da população segundo sexo e faixa etária, que pode


influenciar no consumo de medicamentos;

• atitude dos usuários que depositam grande confiança na cura de


doenças pelo uso de medicamentos.

É por essas e outras circunstâncias que identificamos situações que


podem causar algum agravo à saúde dos usuários de medicamentos
e que estão presentes em nosso meio. Como exemplos podemos
citar a venda indiscriminada de medicamentos sem prescrição
médica; a automedicação; a indicação de tratamento por
balconistas de farmácia; a preferência por medicamentos de recente
comercialização; o uso abusivo de anabolizantes, psicotrópicos,
“pílula do dia seguinte” e de produtos para tratar a disfunção erétil.
Também estão presentes, a prescrição irracional, a polimedicação e
a não adesão ao tratamento prescrito ou o uso em desacordo com
a prescrição, devido a falta de informação ou não compreensão das
informações recebidas dos profissionais da saúde.

356 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Ainda, o elevado consumo de medicamentos em nosso meio
favorece o aparecimento de produtos falsificados. Além do que, os
medicamentos são a segunda carga mais roubada em nosso território,
perdendo apenas para os eletrodomésticos (ANÔNIMO, 2003).

Link

Para saber mais sobre medicamentos falsificados, acesse a página da


Anvisa: http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/falsificados/index.htm

Enfim, podemos dizer que a farmacovigilância não se restringe


apenas ao estudo das reações adversas. Veremos durante este
conteúdo que ela é uma atividade relevante em saúde pública, além
de se constituir em uma ferramenta que avalia o risco-benefício dos
medicamentos e as consequências na sua utilização, servindo como
suporte instrumental para as atividades de vigilância sanitária.

Reflexão

Talvez você esteja se perguntando: Qual é a relação da farmacovigilância


com a gestão da assistência farmacêutica?

Bem, de fato essa é uma pergunta importante.

Esperamos, ao final deste conteúdo, ajudá-lo a respondê-la, com


uma visão mais crítica e reflexiva sobre a farmacoterapia.

ENTRANDO NO ASSUNTO

Lição 1 – Farmacovigilância: aspectos introdutórios

Nesta lição será possível relembrar alguns aspectos introdutórios à


farmacovigilância: definições, objetivos, histórico, desenvolvimento
de fármacos e vigilância.

Unidade 6 - Farmacovigilância 357


Definições e objetivos

A farmacovigilância, como área de atuação, está inserida no campo


da farmacoepidemiologia e esta, por sua vez, no campo mais amplo
da epidemiologia. A farmacovigilância nasceu da preocupação com
o uso de medicamentos, tornando-se alvo de investigação a partir
do pós-guerra dos anos 40 e do desenvolvimento industrial, quando
os medicamentos passaram a ser utilizados como ferramenta
terapêutica principal.

Segundo Laporte e Carné (1993), a farmacovigilância é o conjunto de


métodos e técnicas que tem por objetivo a identificação e a avaliação
dos efeitos do uso, agudo ou crônico, do tratamento farmacológico
no conjunto da população ou em subgrupos de usuários expostos a
tratamentos específicos.

A OMS conceitua a farmacovigilância como a “ciência relativa à


detecção, avaliação, compreensão e prevenção dos efeitos adversos
ou quaisquer problemas relacionados a medicamentos” (WHO, 2002).

Entre os objetivos da farmacovigilância destacam-se:

• Identificar os efeitos indesejáveis raros e desconhecidos


relacionados aos medicamentos;

• quantificar o risco desses efeitos;

• identificar fatores de risco e mecanismos subjacentes aos efeitos


indesejáveis;

• informar e educar os acadêmicos e profissionais da saúde sobre


os riscos e os problemas associados ao uso de medicamentos;

• informar e subsidiar as autoridades da área da saúde sobre os


riscos e problemas associados ao uso de medicamentos;

• melhorar a atenção ao usuário e sua segurança em relação


ao uso do medicamento, assim como todas as intervenções
médicas e paramédicas;

• contribuir para a avaliação das vantagens, da nocividade, da


efetividade e dos riscos que podem apresentar os medicamentos.

Podemos verificar que, de maneira geral, a farmacovigilância busca


contribuir para a utilização segura, racional e mais eficaz dos
medicamentos.

358 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Acontecimentos históricos relacionados a problemas de segurança
com medicamentos

No decorrer da história, foi possível verificar várias situações de uso


de medicamentos que levaram a eventos adversos, alguns fatais,
outros que deixaram sequelas. Para relembrar algumas situações,
você pode observar no quadro 1 alguns exemplos de problemas
relacionados com medicamentos no decorrer dos últimos 70 anos.

ANO MEDICAMENTO EFEITO


1938 Sulfanilamida Intoxicação fatal por dietilenoglicol
1961 Talidomida Focomelia
1966 Contraceptivos orais Tromboembolismo
Carcinoma vaginal, malformações
1972 Dietilestilbestrol
urogenitais
1976 Glafenina Anafilaxia
1979 Triazolam Psicoses, amnésia
1981 Cetoconazol Hepatite
1997 Fenfluramina ou Dexfenfluramina Lesões válvulas cardíacas
2001 Fenilpropanolamina Derrame cerebral
2001 Cisaprida e Astemizol Arritmia cardíaca
2001 Gangliosídeos Síndrome de Guillan-Barré
2001 Cerivastatina Rabdomiólise
2004 Rofecoxibe Distúrbio Cardiovascular

Quadro 1 – Acontecimentos ocorridos nos últimos 70 anos relacionados a efeito adverso de medicamentos, por
ano, medicamento e efeito produzido.

A partir da catástrofe da talidomida, na década de 60, por exemplo,


percebeu-se que os medicamentos podem ser nocivos e até
fatais. Esse acontecimento foi muito importante para a criação
de mecanismos regulatórios, posteriores à comercialização dos
medicamentos. Você já estudou, na unidade 1 do Módulo 2, os
aspectos legais de registro de medicamentos no Brasil, lembra?

Principalmente em relação aos novos medicamentos lançados no


mercado, a atenção para a ocorrência de reações adversas deve
ser redobrada. É verdade que, para os novos medicamentos, na
maioria das vezes, as evidências científicas relacionadas à segurança
apresentam pouca robustez.

Na unidade 2 do Módulo 4, foram discutidos vários aspectos


relacionados com a seleção de medicamentos. As evidências de
segurança na utilização de medicamentos são fundamentais para o
processo de seleção e, por este motivo, dificilmente medicamentos
novos são incluídos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais,
a Rename, que é referência para as listas estaduais e municipais.

Unidade 6 - Farmacovigilância 359


Dessa forma, a atuação dos profissionais de saúde – principalmente
dos farmacêuticos – nas Comissões de Farmácia e Terapêutica é
fundamental para evitar a padronização de medicamentos com risco
não totalmente conhecido ou evidências científicas insuficientes.
Uma vez padronizados, o acesso a esses produtos de segurança
duvidosa torna-se facilitado, podendo gerar problemas como reações
adversas, intoxicações, óbitos, entre outros.

Desenvolvimento de medicamentos e farmacovigilância

Na unidade 1 do Módulo 2 foram abordados os aspectos legais do


registro de medicamentos, levando-nos a questionar por que temos
que nos preocupar com a segurança dos novos medicamentos,
se há testes clínicos que são feitos antes desses produtos serem
comercializados?

Saiba Mais

Se você tiver interesse sobre o tema da indústria farmacêutica e dos


testes clínicos com medicamentos, sugerimos que assista ao filme O
Jardineiro Fiel, de 2005, dirigido por Fernando Meirelles.

A preocupação com a monitoração dos efeitos adversos pós-


comercialização advém das limitações dos ensaios clínicos
controlados, fase em que o medicamento é testado em seres
humanos (LAPORTE; CAPELLÀ, 1989; ARRAIS, 1996; AMERY,
1999). Entre essas limitações destacam-se:

• Participam poucos usuários: dezenas, centenas e, raramente,


milhares;

• não participam crianças, gestantes e idosos;

• não participam usuários com mais de uma enfermidade, os que


apresentam contraindicações potenciais e os polimedicados;

• não incluem indivíduos de diferentes etnias ou com diferentes


condições socioculturais;

• existe um controle rígido, com peculiar relação entre o médico e


o usuário;

• os critérios diagnósticos são, em geral, mais estritos;

360 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


• não permitem a identificação de reações adversas raras (menos
de 1 entre 1000 usuários tratados);

• não permitem a identificação de reações que surgem após


tratamento prolongado ou muito tempo depois de suspendê-lo;

• não permitem a identificação de reações que ocorrem em


subgrupos específicos da população.

Apesar dessas limitações expostas, a partir dos ensaios clínicos são


produzidas as informações necessárias sobre eficácia e segurança
do medicamento, que permitem a avaliação pelas autoridades
sanitárias, e posterior concessão do registro para comercialização
do produto no país.

Entretanto, existem evidências de manipulação dos ensaios clínicos que


reforçam, ainda mais, a necessidade de implementação de serviços de
farmacovigilância. A entidade Acción Internacional por La Salud (2005)
apontou exemplos de métodos utilizados para conseguir os resultados
esperados em ensaios clínicos de um determinado medicamento:

• utilizar para comparação um medicamento que sabidamente


apresente menor eficácia;

• utilizar para comparação doses mais baixas do que o tratamento


padrão;

• utilizar doses mais altas do tratamento padrão (faz parecer que


seu medicamento é de menor toxicidade);

• estudos pequenos que demonstram diferenças consideráveis


entre os medicamentos comparados;

• uso de múltiplas fases de estudo para publicar aqueles resultados


que são favoráveis no estudo;

• estudos multicêntricos para selecionar os resultados dos lugares


onde o estudo foi favorável;

• publicação de resultados em revistas médicas financiadas pela


indústria.

Outra preocupação está relacionada com a pressão das indústrias


farmacêuticas no que diz respeito a mudanças na regulamentação de
medicamentos, que podem expor, ainda mais, as pessoas a eventos
adversos, uma vez que: medicamentos estão chegando cada vez
mais cedo ao mercado (em fases preliminares de estudo); novos

Unidade 6 - Farmacovigilância 361


medicamentos estão sendo aprovados mais rapidamente e sem
estudos mais longos sobre sua segurança; a globalização favorece
o lançamento simultâneo em vários mercados; ocorre mudança de
categoria legal de medicamento sob prescrição médica para isentos
de prescrição (ISDB, 2005).

Link

O Sistema Nacional de Vigilância de Eventos Adversos e de Queixas Técnicas


dos Produtos sob Vigilância Sanitária – Vigipós, vinculado ao Núcleo de
Gestão do Sistema Nacional de Notificação e Investigação em Vigilância
Sanitária (NUVIG), definiu como estratégias, para seu fortalecimento, a
Rede Sentinela e o Programa Farmácias Notificadoras. Vinculados ao NUVIG
encontramos a Unidade de Farmacovigilância, a Unidade de Tecnovigilância
e a Gerência de Vigilância em Serviços Sentinela.
Para saber mais, acesse a página da Anvisa e confira: www.anvisa.gov.br

Resumindo esta primeira lição, observa-se que a importância


da farmacovigilância para a saúde pública está relacionada à
possibilidade de:

• identificação de reações adversas em indivíduos de etnias e/ou


condições socioeconômicas e culturais distintas dos ensaios
clínicos controlados;

• identificação de reações adversas raras e/ou desconhecidas;

• identificação de fatores de risco e mecanismos subjacentes aos


efeitos adversos;

• funcionar como importante instrumento na mudança dos


padrões de utilização de medicamentos, saneamento do
mercado farmacêutico e de poder estimular a preocupação com
a formação e educação permanente dos profissionais de saúde.

Lição 2 – Reações Adversas a Medicamentos - RAM

Nesta lição você irá rever mais detalhadamente o assunto reações


adversas a medicamentos. Aqui você encontrará abordagens
sobre: definições, fatores determinantes, classificação e tipos,
medicamentos como causa de patologias.

362 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Conceitos e classificação das reações adversas

Na farmacovigilância, costuma-se trabalhar com terminologias como


evento adverso, efeito adverso e reação adversa.

Você sabe diferenciar evento adverso de reação adversa? Procure


pesquisar na literatura sobre o assunto e identifique as definições.

Segundo Edwards & Biriell (1994), evento adverso é “qualquer


insucesso médico que pode apresentar-se durante o tratamento
com um produto farmacêutico, mas que não tem necessariamente
uma relação de causalidade com tal tratamento.” Qualquer suspeita
envolvendo medicamento e um efeito adverso atribuído a ele pode
ser chamado de evento adverso.

Já a reação adversa é conceituada pela Organização Mundial


da Saúde como “qualquer efeito prejudicial ou inesperado que se
apresente após a administração das doses normalmente utilizadas
no homem para a profilaxia ou diagnóstico, ou o tratamento de uma
enfermidade.”

Alguns autores e instituições consideram essa definição muito


limitada. Por isso a ampliaram para envolver outra gama de problemas
ocasionados pelos medicamentos.

Assim, a American Society of Health System Pharmacists define


reação adversa a medicamento (RAM) como:

qualquer resposta inesperada, não intencional, indesejável, excessiva de um


fármaco, que necessita sua interrupção, a mudança na terapêutica, a modificação
da dose, o internamento ou prolongamento da permanência no hospital, necessita
tratamento de suporte, afeta o prognóstico, resulta em dano ou incapacidade
temporária ou permanente, ou a morte (ASHP, 1995, p. 418).

O Food and Drug Administration (FDA) define RAM como:

qualquer experiência associada com o uso de um fármaco, seja ou não considerada


relacionada com o fármaco, e inclui qualquer efeito colateral, dano, toxicidade,
hipersensibilidade, ou carência de uma ação farmacológica esperada (ASHP, 1995,
p. 418).

Unidade 6 - Farmacovigilância 363


As definições apresentadas se relacionam diretamente com o tipo
e o modo como são classificadas as reações adversas. Segundo
Laporte e Capellá (1993), as RAM podem ser classificadas quanto
ao mecanismo de produção em dependentes do fármaco e
dependentes de características do usuário; e quanto ao impacto na
saúde em tipo A ou tipo B (RAWLINS; THOMPSON, 1991). Veja isso
mais detalhadamente nos quadros 2 e 3:

Mecanismo de Tipos de efeitos


Explicação Exemplo
produção indesejáveis
Usuários com insuficiência renal tratados
Ocorre com dose habitual ou com
Sobredose relativa com aminoglicosídeos possuem mais chance
concentração anormal
de desenvolver surdez
Dependentes do
Alterações no metabolismo hidroeletrolítico
fármaco Efeitos colaterais Inerentes à ação farmacológica do fármaco
causado pelo uso contínuo de corticoides
Antimicrobianos podem provocar alteração da
Efeitos secundários Consequência do efeito buscado
flora bacteriana intestinal
Sua ocorrência necessita da sensibilização
Reações de Uso de penicilinas e ocorrência
prévia do usuário e da mediação de
hipersensibilidade de choque anafilático
mecanismo imunitário
Dependentes das
Uso de dapsona e sulfonamidas em usuários
características Reações de
Em geral são de base genética com déficit de glicose-6-fosfato desidrogenase
do usuário idiossincrasia
pode gerar quadro de anemia hemolítica
Uso contínuo ou crônico de fármaco e a Uso de benzodiazepínicos, opioides,
Tolerância
diminuição progressiva do efeito anticonvulsivantes, entre outros
Quadro 2 - Tipos de reações adversas a medicamentos quanto ao mecanismo de produção
Fonte: LAPORTE; CAPELLÁ, 1993.

Características Tipo A Tipo B


Sinônimos Efeito exagerado, dose-dependente Efeito bizarro, dose-independente
Mecanismo Conhecido Desconhecido
Incidência Alta (70%) Baixa (30%)
Morbidade Moderada Severa
Mortalidade Baixa Alta
Causas F, FC, FD* F, FC, FD* (genética, imunológica)
Tratamento Ajuste Dose Interrupção
Prevenção Ajuste Dose Evitar o Uso
*F: fármaco; FC: farmacocinética e FD: farmacodinâmica

Quadro 3 - Tipos de reações adversas a medicamentos quanto ao impacto na saúde


Fonte: adaptado de GHARAIBEH et al., 1998; NARANJO e BUSTO, 1992.

Reflexão

Agora reflita. Qual o impacto das RAM na vida dos usuários e nos custos
com a saúde?

364 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


De maneira geral, as RAM podem afetar a qualidade de vida do
usuário; prejudicar a adesão do usuário ao tratamento; influenciar na
perda de confiança do usuário para com o médico; aumentar custos
com tratamento e necessidade de hospitalização ou prolongar
a hospitalização e aumentar o custo do internamento, além de
aumentar a morbidade e mortalidade.

Quanto à gravidade, as RAM podem ser classificadas em leve, moderada,


grave e fatal. A RAM leve é atribuída às reações de pouca importância
e curta duração, que podem requerer tratamento, mas não afetam
substancialmente a vida normal do usuário. São exemplos: a diarreia, a
náusea, a cefaleia leve, as erupções eritematosas, a urticária aguda etc.
A RAM moderada altera a atividade normal do usuário. Pode provocar
hospitalização, atenção em serviços de urgência ou falta às atividades
laborais ou educacionais. São exemplos: efeitos de medicamentos que
causam a hepatite, a pancitopenia, o parkinsonismo, a distonia aguda,
as convulsões etc. A RAM grave é aquela que ameaça diretamente a
vida do usuário. São exemplos: a agranulocitose, o choque anafilático,
o tromboembolismo pulmonar etc.

Os fatores de risco associados à RAM estão relacionados, entre


outros, ao próprio medicamento (características físico-químicas,
características da formulação, dose, velocidade de infusão e via de
administração), a variáveis fisiológicas (idade, sexo, estado nutricional,
gravidez) e patológicas do usuário (doenças crônicas, doenças
concomitantes, insuficiências hepática e renal, predisposição
genética e antecedentes alérgicos), a situações de exposição ao
meio ambiente e a hábitos sociais (álcool, fumo, bebidas com cafeína,
alimentos) e culturais (automedicação e uso de remédios caseiros).

No que diz respeito a exposições ambientais é bom lembrar que os


pesticidas (inseticidas, raticidas, fungicidas, herbicidas e fumigantes)
podem contribuir para a degradação e modificação de funções
elementares do organismo humano, o que pode predispor o indivíduo a
reações adversas quando do uso de medicamentos (DIAS et al., 2001),
pois os mesmos são indutores da atividade do sistema microssomal
P450, interferindo em seu próprio metabolismo e no de outros fármacos.

Outros fatores de risco associados a RAM poderiam ser:

• A dificuldade de obtenção de informações confiáveis sobre os


medicamentos e sua utilização inadequada;

• a polimedicação;

• o risco de interações medicamentosas;

Unidade 6 - Farmacovigilância 365


• aconselhamento com balconistas de farmácia e/ou compra em
locais não autorizados e mercado negro;

• prescrição irracional: fármaco(s) e/ou posologia(s), inadequado(s)


ou desnecessário(s) para o usuário/doença;

• manipulação incorreta: medicação de liberação prolongada ou


com proteção gastrointestinal (tamponados);

• uso incorreto da medicação: não compreensão do tratamento,


perda da memória, deficiência visual, estados de confusão.

É também interessante observar que várias doenças ou agravos à


saúde que conhecemos podem ter sua origem na exposição prévia
a medicamentos. No quadro 4 apresentamos alguns exemplos
(INSTITUTO CATALÁ DE FARMACOLOGIA, 1999).

Fármacos Agravos à saúde


flunarizina, cinarizina, b adrenérgicos, retinoides, bloqueadores dos canais de cálcio, anfetaminas Depressão
teofilina, agonistas b adrenérgicos, fluoroquinolonas, antidepressivos, ISRS
Ansiedade e Insônia
(fluoxetina e similares)
flunarizina, cinarizina, antipsicóticos, metroclopramida Parkinsonismo
ácido acetilsalicílico em altas doses, macrólidos, indometacina Vertigem-Instabilidade
espasmolíticos, anti-histamínicos H1, sedantes, antidepressivos tricíclicos Retenção urinária
diuréticos, benzodiazepínicos, bloqueadores b adrenérgicos a1 Incontinência urinária
diuréticos poupadores de potássio, bloqueadores b adrenérgicos, digitálicos,
Hiperpotassemia
inibidores da enzima conversora da angiotensina, heparinas
uso crônico de analgésicos Cefaleia
ergotaminas, dopamina, bromocriptina, alguns bloqueadores b adrenérgicos Isquemia periférica
corticoides Cataratas
aminoglicosídeos, macrólidos, furosemida, salicilatos em altas doses Surdez
benzodiazepínicos, antidepressivos (tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação Quedas, acidentes de trânsito,
de serotonina), antipsicóticos, anti-histamínicos H1sedantes, analgésicos opiáceos de trabalho
Hiperglicemia e
inibidores das proteasas, diuréticos tiazídicos em altas doses, pentamidina
descompensação da diabetes
diuréticos tiazídicos, antidepressivos, benzodiazepinicos, bloqueadores b adrenérgicos Impotência
bloqueadores b adrenérgicos, fibratos, antidepressivos, antipsicóticos Diminuição do libido

Quadro 4 – Doenças ou agravos à saúde com origem na exposição prévia a medicamentos.

Portanto, nunca se devem descartar as suspeitas de que um


medicamento possa ter causado transtornos ao usuário. Para tal,
deve-se proceder com uma anamnese farmacológica cuidadosa.

366 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Excipientes com potencial para indução de reações adversas

Falando em suspeita, alguns excipientes utilizados nas formulações


farmacêuticas podem ser responsáveis pela origem de reações
adversas após sua ingestão. Daí a importância de estarmos atentos
também à composição do produto.

Reações adversas a plantas medicinais e fitoterápicos

Outro tópico importante é o uso de plantas medicinais e fitoterápicos


pela população, que tem boa aceitação e está em ascensão no país.
E quem disse que plantas medicinais e fitoterápicos estão isentos de
efeitos indesejados?

Anotações

Você percebeu que há uma infinidade de fatores que podem


desencadear uma reação adversa? Essas reações podem ser
originadas a partir de características do próprio fármaco, ou, então,
do usuário. A gravidade e o impacto na saúde do indivíduo variam
de reação para reação. Até os excipientes utilizados na produção
de um determinado medicamento podem resultar no surgimento
de uma RAM. Tendo em vista o panorama estudado, a atuação
do farmacêutico na detecção e no manejo de reações adversas a
medicamentos é de fundamental importância.

Unidade 6 - Farmacovigilância 367


Lição 3 – Intoxicações humanas por medicamentos

Nesta lição, você compreenderá a importância da farmacovigilância


frente a prevenção das intoxicações humanas. Para tal, você conhecerá
algumas estatísticas referentes ao número de intoxicações por
medicamentos no Brasil e suas consequências para a saúde pública.

A problemática do uso irracional de medicamentos pode levar a


sérias consequências, uma delas está relacionada com o risco de
intoxicações. Para contextualizar este tema, vamos acompanhar as
estatísticas dos Centros de Informação e Assistência Toxicológicas
do Brasil (CIAT).

De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-


Farmacológicas, o SINITOX, em 2008, dos casos de intoxicação
registrados no Brasil, os principais agentes em seres humanos foram:

• 1º lugar: medicamentos (30,7%);

• 2º lugar: animais peçonhentos (20,4%);

• 3º lugar: domissanitários (12,3%).

Os medicamentos são a principal causa de intoxicações em humanos


desde 1996. O gráfico a seguir aponta a evolução temporal.

Número de casos de intoxicações por medicamentos no


Brasil, por ano.
40.000
34.716 34.068
35.000

30.000 27.191 26.436 26.540


25.000
24.057 25.170
22.121 20.996
19.882 20.534
20.000

15.000

10.000

5.000

0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Gráfico 1 - Evolução temporal de casos de intoxicações por medicamentos no Brasil.


Fonte: SINITOX, 2010.

Em relação à faixa etária, os medicamentos são os agentes tóxicos


que lideram as intoxicações em crianças menores de 5 anos, em
jovens de 15 a 19 anos e em adultos de 20 a 39 anos. Quanto ao
sexo, as mulheres são as mais acometidas.

368 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Imagine o impacto deste fato na saúde pública. Na maioria das vezes,
as intoxicações ocorrem de forma acidental, seguida das tentativas
de suicídio. Além disso, quase sempre um usuário intoxicado exige
cuidados extremos e hospitalização. Do total de intoxicações por
medicamentos registradas em 2008, apenas 36,9% dos casos
evoluíram para cura, 20,6% dos usuários não evoluíram para a cura
(sequelas e/ou óbito) e 42,4% dos casos não possuíam registro da
evolução. Esses dados demonstram que a situação é grave, pois
parte da população que sofre intoxicação por medicamentos torna-
se permanentemente dependente dos serviços de saúde, exigindo
uma estrutura médico-hospitalar efetiva, e como consequência,
aumentando os custos do setor saúde e prejudicando seriamente a
qualidade de vida do usuário.

Anotações

Outro fator importante é a subnotificação. As ligações ou o


encaminhamento dos usuários aos CIAT é voluntária. Por outro
lado, boa parte dos usuários com intoxicações leves não procuram
os serviços de saúde, desse modo não sendo computados na
estatística. Além disso, percebe-se que o processo de notificação é
falho, deixando lacunas (como no caso da evolução não registrada).

Para melhorar o registro dos casos de intoxicações atendidos pelos


CIAT, a Associação Brasileira de Centros de Informação e Assistência
Toxicológica - ABRACIT - implantará, em 2012, um sistema
informatizado em todos os Centros – DATATOX. Este será o Sistema
Brasileiro de Registro de Intoxicações dos Centros de Informação
e Assistência Toxicológica, o qual permitirá a harmonização das
informações e o detalhamento dos medicamentos envolvidos. Além
disso, permitirá diferenciar problemas relacionados à superdosagem
daqueles relacionados com a dose terapêutica e outros erros
relacionados aos medicamentos.

Desde agosto de 2010 as intoxicações passaram a fazer parte dos


agravos de notificação compulsória no Sistema de Informação de
Agravos de Notificação - SINAN e devem ser notificadas pelo serviço
de saúde que presta o atendimento. Nos próximos anos poderemos
avaliar o impacto desta medida em relação aos medicamentos.

Unidade 6 - Farmacovigilância 369


Dentre os fatores que contribuem para o aumento significativo no
número de intoxicações por medicamentos a cada ano estão aqueles
que já citamos na apresentação desta unidade, como a propaganda de
medicamentos e a prática da automedicação. De acordo com Margonato
e colaboradores (2008), outro fator que interfere no aumento do número
de acidentes com medicamentos, gerando quadros de intoxicação,
principalmente em crianças, é a utilização abusiva de embalagens
atraentes, medicamentos coloridos e adocicados, com sabor de frutas e
formato de bichinhos. Além disso, quem de nós não possui medicamentos
guardados em casa? E como é feito o armazenamento desses produtos?
O ideal é manter os medicamentos longe do alcance de crianças, realizar
o descarte adequado de produtos que não serão mais utilizados e/ou
que estejam vencidos; bem como manter os medicamentos dentro da
sua embalagem original. Esses são cuidados simples, mas muitas vezes
não executados, o que facilita a ocorrência de uma situação que poderia
ser evitada, ou seja, o uso acidental de medicamentos.

Anotações

Tendo em vista o panorama apresentado, é hora de refletir:

• Como a farmacovigilância pode contribuir para minimizar a


problemática das intoxicações por medicamentos?

• Você se lembra dos objetivos da farmacovigilância apresentados


na lição 1 desta unidade?

Todos eles estão relacionados, de alguma forma, com a questão das


intoxicações por medicamentos.

Se a farmacovigilância busca contribuir para a utilização segura,


racional e mais eficaz dos medicamentos, ela pode atuar subsidiando
os profissionais de saúde com ferramentas que auxiliam na
minimização dos problemas gerados a partir do uso irracional de

370 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


medicamentos, como as intoxicações. Uma das ferramentas mais
importantes é a notificação de casos suspeitos de reações adversas
e queixas técnicas, que vamos estudar a seguir, na lição 4.

Lição 4 – Métodos aplicados à farmacovigilância

Agora que você relembrou os referenciais e as definições essenciais e


pode compreender a importância da farmacovigilância para a saúde
pública, nesta lição você conhecerá as ferramentas da farmacovigilância
disponíveis para subsidiar o trabalho dos profissionais de saúde e
gestores na identificação, prevenção, notificação e intervenção em
caso de suspeita de eventos adversos. Você estudará, então, sobre os
métodos aplicados à farmacovigilância: métodos de classificação da
OMS, sistema de notificação de RAM e queixa técnica (QT), regulação
de medicamentos, fontes de informação sobre medicamentos e
reações adversas.

Na farmacovigilância existem vários métodos que podem


ser empregados para a identificação de reações adversas a
medicamentos. Alguns geram hipóteses das ocorrências de casos e
são do tipo descritivo (comunicações a revistas médicas, notificação
voluntária, estudos das estatísticas de morbimortalidade) e outros
são empregados para a confirmação destas hipóteses e se valem
de estudos do tipo analíticos (experimental ou observacional: caso
controle ou coorte).

Notificação de Reações Adversas e Queixas Técnicas de Medicamentos

O mais empregado na farmacovigilância é a notificação voluntária


ou espontânea de casos suspeitos de RAM e queixas técnicas.
Entre as vantagens desses métodos, pode-se citar: detecta reações
adversas de baixa frequência; gera sinais de alerta, que, segundo
Edwards & Biriell (1994), é a “Comunicação de uma possível relação
de causalidade entre um evento adverso e um fármaco, quando esta
relação era previamente desconhecida ou documentada de forma
incompleta”; não interfere nos hábitos de prescrição; permite um rápido
envolvimento dos profissionais de saúde; abrange todo o período de
vida do medicamento no mercado; é de fácil aplicação e de baixo
custo. No que diz respeito às desvantagens, esses métodos podem
favorecer uma subnotificação de casos; apresentar incapacidade para
estabelecer incidências; favorecer uma notificação seletiva: reações
agudas, conhecidas e envolve fármacos de recente comercialização.

O método de notificação voluntário/espontâneo utiliza um formulário


básico, pelo qual são coletadas as seguintes informações:

Unidade 6 - Farmacovigilância 371


• Identificação do usuário e do notificador, mantidas totalmente
confidenciais;

• fármaco(s) suspeito(s) (nome comercial e genérico, laboratório,


via de administração, dose, data do início e fim do tratamento,
indicação do uso);

• outros fármacos utilizados (incluindo automedicação);

• natureza, localização, características e gravidade dos sintomas da


reação adversa suspeita, início e tempo de duração da reação; e

• outros dados relevantes (fatores de risco).

Desse processo voluntário podem participar médicos, farmacêuticos,


enfermeiros, dentistas, outros profissionais de saúde e os próprios
usuários. Da mesma forma, a indústria farmacêutica também tem
a responsabilidade de comunicar os casos que chegam ao seu
conhecimento. Podem ser comunicados casos suspeitos de eventos
que põem em perigo a vida do usuário; produzidos por fármacos
de recente comercialização; que provoquem reações fatais ou
efeitos irreversíveis; que provoquem ou prolonguem internamento;
que induzam a malformações congênitas. Entretanto, para aqueles
que estão interessados em desenvolver tal método e empregar
os instrumentos desenhados para avaliar os casos suspeitos, vale
a pena trabalhar na avaliação de casos possivelmente comuns,
principalmente para aprimorar o método.

Os motivos que pesam na decisão do médico em não notificar casos,


segundo estudo realizado por Belton (1997), são:

a) crença de que só se permite comercializar fármacos seguros;

b) medo de sofrer denúncias por parte dos usuários;

c) sentir-se culpado pelo dano que o tratamento causou ao usuário;

d) interesse pessoal de publicar casos;

e) não saber da existência do sistema;

f) medo de notificar simples suspeitas;

g) letargia, uma mistura de falta de tempo, falta de fichas e outras


desculpas.

372 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Numa situação de suspeita de reação adversa por determinado
medicamento, a relação entre o início da RAM e o início da utilização
do medicamento, chamada de relação de causalidade, é de suma
importância.

Para avaliar a relação de causalidade dos casos suspeitos, podem


ser empregados os seguintes parâmetros:

• Houve intervalo adequado entre o uso do medicamento e o


evento?

• A reação pode ser explicada pelo quadro clínico ou por outro


fármaco/excipiente?

• As propriedades farmacológicas do medicamento podem


explicar o evento?

• Existem evidências na literatura que tenha descrito este evento


ou algum quadro semelhante?

• Suspendeu-se a medicação?

• Melhorou ao suspender a medicação?

• Houve reexposição?

• Houve reaparecimento da reação após a reexposição?

Outros dados importantes e que podem ajudar na avaliação são:


resultados laboratoriais, estudo das interações medicamentosas ou
com alimentos, confirmação do diagnóstico inicial, hábitos sociais,
automedicação etc.

Para garantir o sucesso do método de notificação voluntária é


necessário sensibilizar os profissionais de saúde e usuários; distribuir
a ficha de notificação, o folheto informativo e os boletins; ter esquema
definido para coleta das notificações ou busca ativa de casos e dar
retorno aos notificadores, agradecendo a participação e enviando
conclusões sobre a avaliação do caso.

Antes de iniciar o processo de avaliação é necessário verificar


a qualidade da notificação, observando se o preenchimento foi
adequado (fonte da informação, clareza, campos não preenchidos),
a qualidade do diagnóstico, a necessidade de informações
complementares e a necessidade de acompanhamento do caso.

Unidade 6 - Farmacovigilância 373


Nesse processo são empregados alguns métodos de classificação/
codificação recomendados pela OMS, como:

a) A classificação dos medicamentos: Anatomical Therapeutical


Chemical Classification (ATC-WHO). Consulte a página: www.
whocc.no/atcddd.

b) A classificação das reações adversas: Adverse Drug Reaction


(ADR-WHO).

c) A classificação das doenças para as quais os medicamentos estão


sendo empregados: Código Internacional de Doenças (CID).

d) Algoritmos para classificar a relação de causalidade. A OMS


tem seu próprio algoritmo: caso definido, provável, possível,
improvável, condicional/não classificável.

e) A classificação da gravidade: leve, moderada, grave e letal.

Os quadro 5 e 6 apresentam a classificação das RAM, segundo a


metodologia preconizada pela OMS – Avaliação da causalidade e
gravidade. A compreensão desses itens é importante para subsidiar
suas ações no processo de detecção de reação adversa.

Relação de causalidade ou imputabilidade


Um evento clínico, incluindo anormalidades de exames laboratoriais, ocorrendo
em um espaço de tempo plausível em relação à administração do medicamento, e
que não pode ser explicado pela doença de base ou por outros medicamentos ou
Definida
substância química. A resposta da retirada do medicamento deve ser clinicamente
plausível. O evento deve ser farmacologicamente ou fenomenologicamente
definido, utilizando um procedimento de reintrodução satisfatória, se necessário.
Um evento clínico, incluindo anormalidades de exames laboratoriais, com um tempo
de sequência razoável da administração do medicamento, com improbabilidade de
Provável ser atribuído à doença de base ou por outros medicamentos ou substância química,
e que requer uma resposta clinicamente razoável, após a retirada. A informação de
reintrodução não é necessária para completar esta definição.
Um evento clínico, incluindo anormalidades de exames laboratoriais, com um
tempo de sequência razoável da administração do medicamento, mas que
Possível poderia também ser explicado pela doença de base ou por outros medicamentos
ou substâncias químicas. A informação sobre a retirada do medicamento pode ser
ausente ou ser claramente conhecida.
Um evento clínico incluindo anormalidades de exames laboratoriais, com relação
de tempo com a administração do medicamento que determina uma improvável
Improvável
relação causal, na qual outros medicamentos, substâncias químicas ou doenças
subjacentes fornecem explicações plausíveis.
Um evento clínico incluindo anormalidades de exames laboratoriais, relatados
Condicional/Não classificável como um evento adverso, sobre o qual é essencial mais dados para uma avaliação
apropriada ou os dados adicionais estão sob observação.

Quadro 5 - Classificação das RAM, segundo a metodologia preconizada pela OMS – Avaliação da causalidade
Fonte: ARRAIS, FONTELES e COELHO, 2005.

374 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Avaliação da gravidade
Reação de pequena importância clínica e de curta duração, podendo requerer
Leve
tratamento, não afetando substancialmente a vida do usuário.
Reação que altera as atividades habituais do usuário, resultando em incapacidade
Moderada transitória sem sequelas, podendo causar falta ao trabalho ou à escola e podendo
exigir atendimento em serviço de saúde.
Reação que ameaça diretamente a vida do usuário, provoca hospitalização e
Grave
pode causar sequelas permanentes.
Letal Reação que resulta em óbito.
Quadro 6 - Classificação das RAM segundo a metodologia preconizada pela OMS – Avaliação da gravidade
Fonte: CAPELLÀ et al., 1988; COELHO et al., 1999; WHO, 2002.

As informações geradas pela notificação voluntária possuem grande


utilidade para as autoridades sanitárias, os profissionais de saúde e
a sociedade, já que auxiliam na regulamentação dos medicamentos
(autorização de registro, modificação de bulas, retirada de produtos
do mercado, restrição do uso, instruções para o melhor uso
do fármaco); são utilizadas para informar e educar estudantes,
profissionais da saúde e os próprios usuários; subsidiam a Comissão
de Farmácia e Terapêutica; são utilizadas na elaboração de materiais
técnico-científicos e educativos, publicação de boletins, artigos
científicos, livros etc.

São, ainda, questões relevantes para a farmacovigilância: desvio


da qualidade de produtos farmacêuticos; erros de administração de
medicamento; notificações de perda da eficácia; uso de fármacos
para indicações não aprovadas, que não possuem base científica
adequada; intoxicação aguda ou crônica por produtos farmacêuticos;
avaliação de mortalidade; abuso e uso errôneo de produtos;
interações, com reações adversas, de fármacos com substâncias
químicas, outros fármacos e alimentos.

Outro tipo de notificação é a queixa técnica ou desvio de qualidade,


feita pelo profissional de saúde quando observado um afastamento
dos parâmetros de qualidade, exigidos para a comercialização ou
aprovação no processo de registro de um produto farmacêutico, ou
seja, qualquer problema relacionado com a qualidade do produto
medicamentoso, como, por exemplo, falta de eficácia terapêutica,
presença de corpo estranho, dificuldade na reconstituição, diluição,
alteração ou adulteração evidente (mudança das características
organolépticas: cor, odor, ou sabor) do produto (ARRAIS et al., 1999).

Para a correta notificação de casos de queixa técnica ou desvio de


qualidade é importante informar: o nome do produto (comercial ou
genérico); o laboratório produtor; a data de fabricação e validade; o
número do lote; a descrição do problema.

Unidade 6 - Farmacovigilância 375


Você já fez uma notificação de RAM e/ou de desvio de qualidade?
Vamos ver passo a passo como se faz?

Passo 1. A partir de um caso suspeito de evento adverso, você pode


acessar o endereço eletrônico da Anvisa no link a seguir:

Link
Os casos podem ser notificados eletronicamente pelo Sistema de
Notificação em Vigilância Sanitária – Notivisa (http://www8.anvisa.gov.
br/notivisa/frmlogin.asp)

Passo 2. Para ter acesso ao sistema Notivisa, você precisa se


cadastrar (acesse o cadastro na barra horizontal superior da página).
Se já for cadastrado, é só acessar o sistema digitando usuário e
senha.

Passo 3. Selecione o produto/motivo da notificação.

Passo 4. O formulário é simples e contém 5 abas para serem


preenchidas: sobre o evento adverso, sobre os medicamentos/
empresa, sobre o usuário, outras informações e pendências.

Passo 5. Depois de tudo preenchido, é só enviar.

Além disso, você pode acompanhar as notificações efetuadas no


Notivisa.

Você sabia que qualquer cidadão pode acessar o Notivisa e encaminhar


uma notificação de evento adverso? Do mesmo modo, o acesso
pode ser feito por meio da página principal do endereço eletrônico da
Anvisa (www.anvisa.gov.br), no ícone à direita “Notificação Anvisa”,
por meio do preenchimento do formulário on-line, que é acessível ao
público em geral, sem necessidade de efetuar cadastro.

Agora, vá até o ambiente virtual e assista à simulação. Convidamos


você a acessar o Notivisa e conhecer esta ferramenta na prática.
Comece a utilizá-la no seu trabalho para notificar os casos suspeitos
e confirmados de reações adversas e desvios de qualidade de
medicamentos. As notificações enviadas são mantidas sob sigilo.

376 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Este é um mecanismo importante criado pela Anvisa com a função de:

• subsidiar o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS)


para identificar reações adversas ou efeitos não-desejados dos
produtos;

• aperfeiçoar o conhecimento dos efeitos dos produtos e, quando


indicado, alterar recomendações sobre seu uso e cuidados;

• regular os produtos comercializados no país e, de forma geral,


promover ações de proteção à Saúde Pública.

É importante que os profissionais de saúde que lidam diretamente


com uso de medicamentos - como farmacêuticos, médicos,
odontólogos e enfermeiros - conheçam e utilizem o Notivisa.

Histórico das ações de farmacovigilância no Brasil

Desde 2005, o Brasil participa do Programa Internacional de


Monitorização de Reações Adversas a Medicamentos, da Organização
Mundial da Saúde. Esse programa foi criado em 1968 e conta com a
colaboração do Centro Internacional de Monitorização The Uppsala
Monitoring Centre. Mais de 100 países participam oficialmente do
programa e 30 são associados (consulta em 13/2/11). Em dezembro
de 2009, o sistema contava com 4,6 milhões de casos notificados.

No Brasil, o Centro Nacional de Monitorização de Medicamentos se


encontra na Unidade de Farmacovigilância da Anvisa, a qual recebe
as notificações encaminhadas por hospitais sentinela, farmácias
notificadoras, indústrias farmacêuticas e Centros de Farmacovigilância
Estaduais, bem como usuários de medicamentos.

Anotações

Unidade 6 - Farmacovigilância 377


A farmacovigilância e a atuação farmacêutica: a internet como ins-
trumento de referência

Informações referentes aos medicamentos podem ser obtidas de


várias fontes, entre as quais destacam-se as oriundas das agências
reguladoras de medicamentos, Centros de Informação sobre
Medicamentos, Centros de Farmacovigilância, Centros de Informação
Toxicológica, e produções científicas como livros-textos, manuais
técnicos e artigos científicos. Para obter essas e outras informações,
segue uma lista com os endereços eletrônicos mais recomendados:

Agências ou autoridades reguladoras na área de medicamentos:

• Agência Nacional de Vigilância Sanitária: www.anvisa.gov.br

• Agencia Española del Medicamento: www.agemed.es

• The European Agency for the Evaluation of Medicinal Products:


www.emea.europa.eu

• Food and Drug Administration (EUA): www.fda.gov

• Medicines and Healthcare Products Regulatory Agency (Reino


Unido): www.mhra.gov.uk

• TGA Therapeutical Goods Administration (Austrália): tga.gov.au

• New Zealand Medicines and Medical Devices Safety Authority:


www.medsafe.govt.nz

Nesses endereços podem ser encontradas normas legais que


constituem o fundamento para o exercício democrático de regulação
e do controle de medicamentos, lista de produtos registrados,
monografia de produtos, farmacopeias, manuais técnico e educativos,
livros-textos etc.

Para exemplificar a utilidade dessas páginas, escolhemos a da Anvisa


para mostrar suas potencialidades na área da farmacovigilância.

378 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Link

A ação em vigilância sanitária depende de conhecimento e de base


legal. Para buscar Leis, Decretos, Resoluções, Portarias e outras normas
legais utilize o Sistema de Legislação em Vigilância Sanitária – Visalegis,
um banco de dados corporativo de legislação sanitária federal, estadual
e municipal www.anvisa.gov.br/e-legis.

Com o caráter de promover a proteção da saúde, diminuindo


ou eliminando riscos, e visando o uso e a prescrição racional de
medicamentos, a Anvisa publica várias Resoluções da Diretoria
Colegiada (RDC) que tem impacto direto ou indireto, no consumo de
medicamentos e, consequentemente, na farmacovigilância.

São exemplos:

• Portaria SVS/MS n. 344, de 12/05/1998, que aprova o


regulamento técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos
a controle especial.

• RDC n. 320, de 22/11/2002, que determina que as empresas


distribuidoras de produtos farmacêuticos devem notificar a
autoridade sanitária competente, de imediato, ante quaisquer
suspeitas de alteração, fraude, falsificação ou roubo dos produtos
que distribui, com a indicação do número dos lotes.

Com relação a este assunto, a página da Anvisa disponibiliza bancos


de dados para consulta a medicamentos registrados e medicamentos/
empresas irregulares, onde se pode buscar informações sobre produtos
apreendidos, falsificados, interditados, recolhidos, revogados, roubados,
suspensos, suspensos de importação. O princípio da precaução é
imperativo para evitar danos/agravos aos consumidores.

Unidade 6 - Farmacovigilância 379


• Lei n. 11.903, de 14/01/2009, cria o Sistema Nacional de Controle
de Medicamentos, que monitora todo medicamento produzido,
dispensado e vendido no país.

• Resolução n. 47, de 08/09/2009, estabelece regras para


elaboração, harmonização, atualização, publicação e
disponibilização de bulas de medicamentos para usuários e para
profissionais de saúde.

Com relação a bulas, a Anvisa disponibiliza em sua página um


banco de dados para consulta às bulas de medicamentos, intitulado
“bulário eletrônico”, no qual podem ser obtidas informações de bulas
para o usuário e para o profissional da saúde (www4.anvisa.gov.br/
BularioEletronico). Informações provenientes da farmacovigilância
podem alterar as bulas.

• RDC n. 96, de 17/12/2008, dispõe sobre a propaganda,


publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo seja a
divulgação ou promoção comercial de medicamentos.

• RDC n. 04, de 10/11/2009, dispõe sobre as normas de


farmacovigilância para os detentores de registro de medicamentos
de uso humano. Entre outras, a norma aponta as funções e
rotinas em farmacovigilância; a notificação de casos e seus
prazos; a transmissão das notificações; os relatórios periódicos
de segurança; a inspeção dos sistemas de farmacovigilância das
empresas farmacêuticas; e procedimentos relativos aos estudos
fase 4, pós-registro.

As normas que falam em “Boas Práticas” também são importantes e,


se cumpridas à risca, garantem segurança aos consumidores. São
exemplos:

• RDC n. 17, de 16/04/2010, que dispõe sobre o regulamento


técnico das Boas Práticas para a Fabricação de Medicamentos.

• RDC n. 204, de 14/11/2006, que dispõe sobre regulamento


técnico de Boas Práticas de Distribuição e Fracionamento de
Insumos Farmacêuticos.

380 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


• RDC n. 44, de 17/08/2009, que dispõe sobre Boas Práticas
Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento da
dispensação e da comercialização de produtos e da prestação
de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e dá outras
providências.

No que diz respeito à pós-comercialização/pós-uso, a página da Anvisa


tem uma área específica para a farmacovigilância, na qual se pode
consultar comunicados sobre segurança de medicamentos, alertas e
publicações na área da farmacovigilância, e da qual destaca-se:

• A importância da farmacovigilância: monitorização da segurança


dos medicamentos;

• Monitorização da segurança de medicamentos: diretrizes para


criação e funcionamento de um Centro de Farmacovigilância;

• Diretrizes para o gerenciamento do risco em farmacovigilância, o


qual recomendamos a leitura; e

• Guias de farmacovigilância para detentores de registro de


medicamentos.

Anotações

Publicações, Boletins, Guias, Revistas e Manuais na área de farma-


covigilância no mundo

• Uppsala Monitoring Centre: http://www.who-umc.org

• Current Problems in Pharmacovigilance: http://www.mhra.gov.uk

• Butlletí Groc (Espanha): http://www.icf.uab.es

• Canadian Adverse Reaction Newsletter: http://www.hc-sc.gc.ca

Unidade 6 - Farmacovigilância 381


Boletins de Medicamentos (International Society of Drug Bulletins)

• Australian Prescriber: www.australianprescriber.com

• BTA - Boletín Terapéutico Andaluz (Espanha): http://www.easp.


es/web/cadime

• Focus (Itália): http://www.sfm.univr.it/it/Focus/

• INRUD News - International Network for Rational Use of Drugs:


www.msh.org/inrud

• Therapeutics Iniciative - Evidence based Drug Therapy: www.


interchange.ubc.ca/jauca

• Boletín de Medicamentos Esenciales, OMS: http://www.who.int/


publications/en/

Boletins de Medicamentos

• WHO Drug Information: www.who.int/druginformation

• Boletim Farmacos (Latinoamericano): www.boletinfarmacos.org

• Temas selecionados. Uso Racional de medicamentos: http://


portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.
cfm?idtxt=35811&janela=1

• Formulário Terapêutico Nacional: http://portal.saude.gov.br/


portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1000

• British National Formulary (BNF): bnf.org

Centros de informação sobre medicamentos

Nos Centros de Informação de Medicamentos/Serviços de Informação


de Medicamentos (CIM/SIM) podem ser obtidas informações
atualizadas, fidedignas e imparciais sobre medicamentos.

382 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Link

O papel dos CIM/SIM na farmacovigilância pode ser apreciado no artigo de


Arrais e colaboradores, intitulado Sistema Nacional de Farmacovigilância:
proposta de contribuição do Sistema Brasileiro de Informação sobre
Medicamentos (SISMED). O artigo pode ser acessado no link:
http://docvirt.com/asp/acervo_cebes.asp?bib=SAUDEDEBATE&pesq=
Titulo%20do%20Artigo:%20SISTEMA%20NACIONAL%20DE%20
FARMACOVIGILaNCIA:%20PROPOSTAS

Os CIM/SIM trabalham com informações passivas, atendendo


solicitações de informação sobre medicamentos, oriundas de
profissionais de saúde ou público em geral. Após recebimento da
solicitação, o Centro passa a analisá-la, realizando busca na literatura
científica, e termina com a elaboração e transmissão da resposta ao
solicitante.

No Brasil existem diversos Centros e Serviços de Informação sobre


Medicamentos. Recentemente, a Associação Brasileira de Educação
Farmacêutica – ABENFAR realizou o I Fórum da Rede Brasileira de
Centros e Serviços de Informação sobre Medicamentos.

De maneira geral, o centro de documentação dos CIM/SIM será


útil para a avaliação dos casos suspeitos de reações adversas
a medicamentos e para a avaliação da relação de causalidade. O
CIM/SIM também funciona como observatório de solicitações que
envolvem possíveis casos de RAM, consequentemente, poderá ser
um colaborador na notificação de casos suspeitos.

Lição 5 – A farmacovigilância e o ciclo da assistência farmacêutica

Conforme já estudado na unidade 4 do Módulo 3, as etapas do ciclo da


assistência farmacêutica devem estar articuladas e inter-relacionadas
de forma sistêmica. De acordo com Marin e colaboradores (2003),
uma das principais ferramentas de gerenciamento das ações de
assistência farmacêutica são os sistemas de informação. Apesar da
sua complexidade, os sistemas de informação permitem melhorias
em todos os componentes do ciclo, proporcionando um bom padrão
no suprimento de medicamentos. A tendência na utilização de
sistemas de informação é cada vez maior, devido as suas vantagens
e possibilidades, bem como ao acesso facilitado às tecnologias de
informação e comunicação.

Unidade 6 - Farmacovigilância 383


Você viu, na entrevista com a Chefe do NUVIG (Anvisa), diversos
aspectos da relação entre a farmacovigilância e a gestão da assistência
farmacêutica. Se por muito tempo as áreas de vigilância e assistência
ficaram absolutamente separadas no cotidiano das secretarias e
unidades de saúde, essa realidade tem se modificado substancialmente
com a profissionalização desses setores. As propostas mais atuais
de farmacovigilância têm envolvido cada vez mais a atenção básica
como espaço e ambiente de investigação permanente sobre a eficácia
e a segurança dos medicamentos (além dos hospitais e centros
especializados, que já têm certa tradição nessa atividade).
E as relações da farmacovigilância com a gestão da assistência
farmacêutica vão ainda mais além: uma é subsídio para o bom
desempenho da outra.
Os autores desta unidade elaboraram uma série de situações hipotéticas
e exemplos da interface entre as ações mais características da
assistência farmacêutica (como seleção, aquisição e armazenamento)
e a farmacovigilância para nos ajudar a identificar também a nossa
atuação nesse setor.
Vamos acompanhar a seguir.

Farmacovigilância e a seleção de medicamentos

Você já parou para pensar como a seleção de medicamentos e a


farmacovigilância se relacionam? Convidamos você para refletir
sobre isso.

Vamos imaginar o trabalho no seu município, como ocorre a seleção


dos medicamentos? Existem medicamentos pactuados que não
constam nas listas de medicamentos essenciais?

Você já estudou, na unidade 2 do Módulo 4, sobre a importância


da seleção de medicamentos ser pautada nas melhores evidências
científicas disponíveis, certo?

Pois bem, imagine agora se um determinado medicamento


selecionado não possuir garantia de eficácia e segurança bem
delineada. É seguro expor a população ao uso deste medicamento?

Imagine se esse medicamento começar a surtir reações adversas


até então não monitoradas ou, se monitoradas, numa frequência
bem mais baixa do que o real. Muitos medicamentos mostram não
serem seguros mesmo depois de serem registrados na Anvisa,
quando já são utilizados por muitos usuários e, muitas vezes, sua

384 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


comercialização fica proibida. Um caso recente que vivenciamos em
2011 é a proibição dos anorexígenos pela Anvisa, já que estudos mais
atuais demonstraram relação risco versus benefício desfavorável.
Outro caso relativamente recente foi a retirada do anti-inflamatório
inibidor seletivo da COX-2, rofecoxib, em 2004, após confirmar risco
cardiovascular associado ao uso do medicamento.

A Anvisa, por meio da unidade de Farmacovigilância, é responsável


pelo monitoramento dos medicamentos também na fase pós-registro.

Reflexão

Reflita e discuta com seus colegas: De que forma o farmacêutico,


como gestor, pode atuar para evitar problemas que possam refletir na
farmacovigilância, durante o processo de seleção de medicamentos?

Farmacovigilância e a aquisição de medicamentos

Marin e colaboradores (2003) destacam que, no setor público, a


aquisição de medicamentos é uma das etapas que contribuem
para a credibilidade dos serviços farmacêuticos. Realmente, de
nada adianta termos medicamentos selecionados com rigor, boas
condições de armazenamento, uma equipe de saúde bem preparada
para prescrevê-los e dispensá-los, se houver falhas na sua aquisição.

Você lembra do que estudou na lição 4 da unidade 1 do Módulo


2, referente à falsificação de medicamentos? Os autores da
unidade descreveram sabiamente que “uma correta aquisição de
medicamentos favorecerá um consumo consciente e o exercício
da cidadania”. Neste ponto, podemos interagir também com a
farmacovigilância!

Logicamente, se a qualidade dos medicamentos adquiridos for


duvidosa, os problemas em relação à falta de eficácia e segurança
podem aparecer, resultando em aumento de reações adversas,
toxicidades, ineficácia terapêutica, entre outros.

Outra questão importante de uma problemática bastante complexa,


se refere à falsificação de medicamentos e suas consequências para a
saúde pública. Indústrias clandestinas que produzem medicamentos
falsificados, sem registro na Anvisa e sem garantia de eficácia e
segurança, deixam o consumidor exposto a problemas advindos da
utilização de produtos sem procedência.

Unidade 6 - Farmacovigilância 385


Você lembra da série de vídeos sobre pirataria de medicamentos,
assistidos na unidade 2 do Módulo 2? A reportagem nos mostra que
o comércio de medicamentos falsificados correspondeu, em 2010,
ao equivalente a 16% das vendas de medicamentos não falsificados.

Por isso, tanto no setor público quanto no privado, a seleção dos


fornecedores de insumos, independentemente da modalidade
de compra, deve contemplar algumas exigências técnicas e
administrativas, incluindo a apresentação do laudo de análise para
cada lote fornecido, emitido pelo fabricante.

Reflexão

Você, como gestor, o que faz no seu município para evitar problemas na
aquisição de medicamentos, que possam refletir em danos ao usuário?

A partir desses exemplos, podemos confirmar a importância da


gestão eficaz na aquisição de medicamentos. É importante que o
farmacêutico ou gestor selecione os fornecedores mais qualificados
para o suprimento dos materiais. Além disso, é importante ter acesso
aos laudos de qualidade das indústrias, dos laboratórios e das
distribuidoras de medicamentos que fornecem produtos para a rede
pública. Nesse sentido, a existência de um sistema de informações
sobre o controle de estoques, os produtos, os fornecedores e preços
de mercado constituem um aspecto fundamental para o êxito das
atividades de programação e aquisição.

A Anvisa também vem trabalhando para impedir o aumento no número


de empresas clandestinas e de medicamentos falsificados. No Brasil,
foi criado o Sistema Nacional de Controle de Medicamentos, por meio
da Lei n. 11.903, de 14 de janeiro de 2009. A partir da implantação
deste sistema, os medicamentos poderão ser rastreados em todo o
caminho percorrido desde o laboratório até as mãos do consumidor
final, dificultando sua falsificação e venda ilegal. Em novembro de
2010 foi publicada, no Diário Oficial da União, a Instrução Normativa
n. 11, que dispõe sobre a tecnologia, a produção, o fornecimento e o
controle da distribuição das etiquetas autoadesivas de segurança para
o Sistema de Rastreamento de Medicamentos. As empresas terão até
janeiro de 2012 para se adequar à nova normativa, quando, a partir de
então, todas as unidades de medicamentos em circulação no Brasil
terão que contar com a etiqueta de segurança em sua embalagem.

386 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Link

Você pode encontrar mais informações sobre a Lei n. 11.903/2009 em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11
903.htm
Já sobre a Instrução Normativa n. 11/2010 em: http://www.brasilsus.
com.br/legislacoes/instrucao-normativa/106050-11.html

Anotações

Farmacovigilância e o armazenamento de medicamentos

O armazenamento e a distribuição são atividades que visam,


sobretudo, assegurar a qualidade dos medicamentos por meio
de condições adequadas de estocagem, e de controle eficaz do
estoque (MARIN et al., 2003). Para o alcance desses objetivos, cada
município deve contar com locais apropriados para a armazenagem
dos produtos, seja na Central de Abastecimento Farmacêutico, seja
na Unidade Básica de Saúde.

Infelizmente, a falta de condições adequadas para a guarda de


medicamentos e insumos ainda é comum em muitos municípios
brasileiros. Esta situação pode afetar diretamente a qualidade dos
produtos, provocando desvios de qualidade e, no caso da utilização
destes, o usuário pode apresentar quadros de intoxicação e reações
adversas.

A Anvisa publicou a Resolução - RDC n. 17, de 16 de abril de 2010,


que dispõe sobre as Boas Práticas de Fabricação de medicamentos.
inclusive no que concerne às condições de armazenamento, dos
artigos 116 ao 123, considerando as orientações aplicáveis à CAF.

Link

Resolução - RDC n. 17/2010 pode ser encontrada em: bvsms.saude.


gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2010/res0017_16_04_2010.html

Unidade 6 - Farmacovigilância 387


Farmacovigilância e o uso de medicamentos

Conforme você já estudou na unidade 4 do Módulo 4, a utilização


de medicamentos envolve a prescrição, a dispensação e o uso
desses produtos. Combinado a isso, estão inseridas as atribuições
dos profissionais de saúde envolvidos. Muitas vezes, o insucesso
terapêutico ocorre devido a falhas em alguma etapa deste ciclo, como,
por exemplo, quando o usuário não compreende a maneira correta
de utilizar o medicamento ou, por algum motivo, não consegue aderir
ao tratamento prescrito.

Neste ponto, podemos visualizar como é importante a orientação


adequada ao usuário, bem como o seguimento farmacoterapêutico.
Tal fato justifica o papel de uma equipe de saúde devidamente
qualificada.

Vejamos, agora, um pouquinho de cada uma dessas atividades e da


sua relação com a farmacovigilância.

A Organização Mundial da Saúde faz recomendações em relação


aos aspectos técnicos da prescrição de medicamentos. No entanto,
além disso, outros aspectos são importantes quando falamos da
“boa prescrição médica”. A questão do conhecimento do prescritor
em relação à racionalidade de uso do medicamento prescrito, por
exemplo, é fundamental.

Arrais e colaboradores (2007), em estudo sobre os aspectos dos


processos de prescrição e dispensação de medicamentos na
percepção do usuário, trazem a problemática relacionada à prescrição
e dispensação de medicamentos na rede pública. Os autores
abordam a necessidade do resgate das relações médico-usuário e
farmacêutico-usuário como um aspecto chave para a melhoria da
qualidade do serviço de saúde. Além disso, enfatizam que a ausência
do farmacêutico nas unidades públicas e privadas é um fator crítico
para a implementação do uso racional de medicamentos.

Muitos erros de medicação ocorrem por problemas na leitura do


receituário, ou por ter sido prescrito algum medicamento sem
segurança comprovada, ou por um erro de dispensação. Podemos
encontrar com frequência, nos noticiários, situações como as que
seguem.

388 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Figura 2 – Notícia sobre erro de medicação
Fonte: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2010/12/auxiliar-suspeita-de-trocar-soro-por-vaselina-da-detalhes-
do-atendimento.html

Figura 3 – Notícia sobre erro de medicação


Fonte: http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default.jsp?uf=2&local=18&section=Geral&newsID=a2963461.htm

Situações como essas, que acompanhamos nos noticiários, como


a troca de soro por vaselina e a utilização de lidocaína por via de
administração oral, que resultaram em óbitos, são comuns.

Esses erros de medicação, provenientes de negligência, imprudência


ou imperícia dos profissionais de saúde, não podem ser tolerados.

Isso apenas ilustra um dos problemas relacionados ao uso de


medicamentos, que tem a ver com a farmacovigilância. Erros podem
ocorrer tanto na prescrição, na dispensação e na utilização do
medicamento pelo usuário.

Reflexão

Alguma situação similar, mesmo que não tenha sido fatal, já aconteceu
no seu município? Qual nosso papel, como farmacêuticos, ao observar
esses fatos que têm ocorrido em relação a problemas no processo de
utilização de medicamentos?
Saiba que a prevenção dos problemas relacionados com medicamentos
ainda é a forma mais efetiva de evitá-los!

Unidade 6 - Farmacovigilância 389


Ações positivas também são importantes para minimizarmos
problemas decorrentes da má utilização de medicamentos.

No Brasil, a Anvisa e o Ministério da Saúde, juntamente com órgãos


como OPAS e OMS, têm incentivado, desde o ano 2000, a capacitação
para o “Ensino sobre o Uso Racional de Medicamentos”, de prescritores
e professores envolvidos com o ensino da prescrição e dispensação de
medicamentos e farmacologia clínica. Dessa forma, os futuros médicos,
dentistas e farmacêuticos já teriam esta experiência na sua formação
básica e, consequentemente, maior compreensão da importância da
prescrição e dispensação racional, em todos os sentidos.

Você também, a partir desta especialização, está sendo convidado a


refletir de que maneira você pode melhorar esses aspectos em seu
local de trabalho.

A dispensação de medicamentos e o seguimento farmacoterapêutico


são importantes momentos em que o farmacêutico pode usar todo
o seu conhecimento em prol do uso racional de medicamentos. De
acordo com Marin e colaboradores (2003), esta é uma das últimas
oportunidades de, ainda dentro do sistema de saúde, identificar, corrigir
ou reduzir possíveis riscos associados à terapêutica medicamentosa.

Também é muito importante, neste processo, a identificação de


reações adversas e desvios de qualidade dos medicamentos, os quais,
identificados, devem ser notificados à Vigilância Sanitária, conforme
estudamos anteriormente. Isto é papel do prescritor, do farmacêutico,
dos demais profissionais de saúde e também do usuário.

Já no processo de uso de medicamentos, nas suas residências, as


pessoas costumam modificar hábitos de utilização destes, emprestar
ou indicar medicamentos a familiares e vizinhos, assim como acumular
medicamentos em casa, na chamada “farmácia caseira”. Isso se
deve ao processo social e cultural de medicalização, que você já
estudou no Módulo 2. Nesse sentido, também é nosso papel, como
agentes de saúde, orientarmos as pessoas em relação aos cuidados
com a utilização de medicamentos.

Para ilustrar essas ações positivas, sugerimos a leitura complementar


dos textos que seguem, disponíveis na Biblioteca da unidade.

390 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Anotações

Análise Crítica

Todo profissional de saúde pode e deve colaborar com a implementação


de programas de farmacovigilância, seja ele em nível municipal,
estadual ou federal, na indústria farmacêutica, farmácia/drogaria,
unidade básica de saúde, hospital, clínica médica ou odontológica.

A atividade não se restringe à notificação de casos suspeitos de


eventos adversos ou queixas técnicas/desvios de qualidade. A
prevenção deve ser atividade rotineira dos profissionais de saúde e do
próprio consumidor de medicamentos. Nesse aspecto a contribuição
do farmacêutico perpassa por todos os serviços farmacêuticos.

Um dos objetivos da assistência farmacêutica é garantir a oferta de


medicamentos eficazes e seguros. Por exemplo, no setor público, a
seleção de medicamentos objetiva a identificação dos medicamentos
ditos essenciais, que possuem comprovada eficácia e segurança e
que atenderá as necessidades de uma população.

No setor privado, a oferta de produtos é maior e não existe uma


seleção criteriosa dos produtos para sua comercialização. Aqui a
implementação do projeto farmácias notificadoras foi um passo
importante para a monitoração pós-comercialização.

Na aquisição, os produtos só deverão ser obtidos se possuírem


registro e se forem comercializados em locais credenciados pela
Indústria Farmacêutica e Vigilância Sanitária. No transporte, no
armazenamento e na posterior distribuição dos medicamentos reside

Unidade 6 - Farmacovigilância 391


a preocupação em garantir a integridade e qualidade dos produtos
a serem dispensados. Garantir a qualidade também implica evitar
possíveis desvios de qualidade. Da mesma forma, o armazenamento,
os cuidados no recebimento e na estocagem dos medicamentos
são imprescindíveis para garantir a qualidade dos produtos. Na
distribuição, os cuidados com transporte são importantes para
garantir a integridade dos produtos.

Na dispensação, o aviamento e as consequentes informações e


orientações farmacêuticas para o uso correto dos medicamentos
são outra forma de prevenir possíveis eventos adversos e desvios de
qualidade.

Outro aspecto importante e que os profissionais de saúde devem ter


em mente é o rastreamento de produtos com desvio de qualidade. A
identificação, comunicação para as autoridades sanitárias de casos
suspeitos e o posterior rastreamento destes produtos pode evitar
exposição desnecessária a medicamentos com qualidade alterada
ou até de produtos falsificados.

Para o sucesso de um programa de farmacovigilância, a sensibilização


dos profissionais de saúde para a notificação voluntária e a garantia
de resposta aos casos notificados é de suma importância. Com
relação a esse assunto é necessário fortalecer o processo nas
unidades básicas de saúde. O reforço também implica a oferta de
fontes de informação sobre medicamentos que facilite a consulta e
estudos na própria unidade de saúde.

É sempre bom lembrar que o fato de termos medicamentos


essenciais ou produtos com reconhecida eficácia e segurança não
significa estar protegido do aparecimento de eventos adversos, pois,
caso venham a ser utilizados de forma errada, podem oferecer riscos
graves ao seu usuário.

Esteja sempre alerta e contribua notificando casos suspeitos!

392 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


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Unidade 6 - Farmacovigilância 395


Autores

Marlene Zannin

Possui graduação em Farmácia e Bioquímica pela Universidade


Federal de Santa Catarina (1986), mestrado em Farmacologia pela
Universidade Federal de Santa Catarina (1994) e doutorado em
Ciências Médicas pela Escola Paulista de Medicina (2002). Publicou
18 artigos em revistas indexadas e 14 capítulos de livros. Atualmente é
Docente da Disciplina de Toxicologia (professor adjunto), ministrando
aulas para os cursos de Farmácia e de Medicina da Universidade
Federal de Santa Catarina – UFSC; e é Supervisora do Centro de
Informações Toxicológicas de Santa Catarina - CIT/SC. Foi Diretora
Presidente da Associação Brasileira de Centros de Informação e
Assistência Toxicológicas e Toxicologistas Clínicos no período de 2008
a 2010. Trabalha na pesquisa e na extensão, na área da Toxicologia
Clínica e Toxinologia, junto ao CIT/SC. Tem como linha principal de
atuação: animais peçonhentos - Lonomia obliqua (lagarta taturana).

http://lattes.cnpq.br/9563730480893621

Paulo Sérgio Dourado Arrais

Tem graduação em Farmácia pela Universidade Federal do Ceará -


UFC (1991), mestrado em Farmacoepidemiologia pela Universidad
Autonoma de Barcelona (1994) e doutorado em Saúde Pública pela
Universidade Federal da Bahia (2003). É professor adjunto IV do
Departamento de Farmácia da UFC, membro do Grupo de Prevenção
ao Uso Indevido de Medicamentos-GPUIM, do Grupo Temático em
Vigilância Sanitária da ABRASCO, do Drug Utilization Research Group-
Latin America (DURG-LA), da Academia Cearense de Farmácia. Tutor
do PET-SAÚDE/UFC e coordenador PRÓ-SAÚDE II/Farmácia. Tem
experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Saúde Pública,
atuando principalmente nos seguintes temas: medicamentos, uso
racional de medicamentos, farmacoepidemiologia/farmacovigilancia,
reação adversa a medicamentos, Epidemiologia, Centros de
Informação sobre Medicamentos, Assistência Farmacêutica e Ensino
Farmacêutico.

http://lattes.cnpq.br/6391182272759310

396 Arrais, Sousa e Zannin Serviços farmacêuticos


Iane Franceschet de Sousa

Possui graduação em Farmácia pela Universidade Federal de Santa


Catarina – UFSC (1999). Mestre em Farmácia pelo Programa de
Pós-Graduação em Farmácia da UFSC (2003), especialista em
Educação à Distância pelo SENAC (2010). Doutoranda no Programa
de Pós-Graduação em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-
Oeste da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS.
Diretora Pedagógica no Instituto Salus. Suas linhas de atuação são:
Farmacologia Clínica, Assistência Farmacêutica, Uso Racional de
Medicamentos e Educação Farmacêutica.

http://lattes.cnpq.br/1123516579608143

Unidade 6 - Farmacovigilância 397


Fechamento do Curso
Finalizar o Curso, com certeza, é muito significativo: estudar
sobre os serviços farmacêuticos com base em referenciais
técnicos, científicos, políticos e, sobretudo, para desenvolvê-los
como prática gerencial colaborativa, atualizada e sustentável, é
colocar o papel do farmacêutico em um nível de responsabilidade
e profissionalismo muito elevado. Temos hoje, no Brasil, o
nascimento de um novo perfil de trabalho farmacêutico na rede
de atenção à saúde, e cada aluno deste Curso está
demonstrando no seu trabalho o que nossa categoria pode
produzir.

Não foi tarefa fácil! Muitos conteúdos para estudar, muitas


tarefas a cumprir, e tudo para colocar em prática nos serviços
reais, onde diferentes culturas profissionais, hierarquias de
poder, conflitos de interesse e entendimentos sobre o que deve
ser o trabalho do farmacêutico se entrecruzam. E este é o maior
aprendizado de todos: muito mais que técnicas regimentais, a
capacidade de desenvolver serviços farmacêuticos éticos,
comprometidos com os resultados e com a população, no
complexo cenário do serviço público de saúde.

398 Serviços farmacêuticos


O Curso – Serviços farmacêuticos - apresentou, por meio
de seis unidades, a discussão das questões operacionais
e logísticas dos medicamentos sob uma nova lógica, a
da estruturação de serviços farmacêuticos.

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