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03 Revista Litere Se

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Litere-se

Ano 01 - Edição 03 - Abril 2017


Equipe
Editora Chefe Colunistas
Perla de Castro Alberto Neto
Alexandre D’Assumpção
Beatriz de Castro
Conselho Editorial Danie Ferreira
Diego Guerra
Alberto Neto Elves Boteri
Alexandre D’Assumpção Emily Del-Vecchio
Glau Kemp Glau Kemp
Jhefferson Passos
Projeto Gráfico Luanna Mello
Pedro Cotrim
Perla de Castro Perla de Castro
Raquel Rasinhas
Ilustração Capa
Marcelo Oliveira (UCM Comics)

www.revistaliterese.com
[email protected]
[email protected]
Índice
6 Evento Multi
7 Concurso de Microcontos
8 Coluna : História da Estória
10 Recursos digitais para a criação de quadrinhos
12 Você quer fazer quadrinhos no Brasil?/
Vida e obra do cartunista mais famoso do Brasil

13 Entrevista com Ana Recalde


16 Pioneirismo Moaçy Cirne
18 Coluna: O Velho Caolho
19 Perfil
21 Contra Crítica
39 Coluna: Escuridão Profunda e Vazia
40 Coluna: O lado agridoce da Poesia
41 Entrevista com Antony Magalhães
44 Coluna: Contos, onde eu os encontro?
46 Entrevista com Jean Carlo Barusso
48 Resenha
51 Lançamentos
52 Indicação
Editorial
Chegamos na nossa terceira edição e lhe convido a relembrar os tempos de criança
e mergulhar no mundo das HQs e quadrinhos. Preparamos este número com muito
carinho e pedimos que apreciem sem moderação.

Agradeço aos escritores que cada vez surgem mais e mais com interesse em participar
de nossas edições. Sentimos muito orgulho de saber que existem muitas pessoas que-
rendo tocar o barco junto de nossa equipe.

É por nossos leitores e escritores que buscamos sempre oferecer o nosso melhor em
cada nova edição.

Estamos aproximando do nosso aniversário de 1 ano e até outubro traremos muitas


surpresas para comemorar com cada um de vocês que ajudam esse sonho a se realizar.

A Revista Litere-se está de cara nova em todos os sentidos. Todas essas mudanças
tanto no nosso visual como no conteúdo que trazemos a vocês é nossa infinda busca
por evolução e melhora para o escritor e leitor.

Puxe a cadeira, pegue aquela xícara de café e vem com a gente embarcar nesse mundo
dos quadrinhos!

Sintam-se em casa!

Perla de Castro
Editora Chefe
Escritores nesta edição

34 Ana Ferrari
32 Beatriz de Castro
29 Johan Henryque
30 Liliane Oliveira
23 Lisa Hallowey
37 Lisi de Castro
27 Madu Dumont
31 Mickael Alves da Silva
25 Omar Va Elabo
36 Pedro Cotrim
38 Perla de Castro
26 Thais Rocha
22 Washington Soares
Evento Multi

A Revista Litere-se tem o orgulho de anunciar a realização da pri-


meira feira multicultural da cidade de Queimados com o apoio da Luva
Editora e da Prefeitura Municipal de Queimados.

O evento acontecerá do dia 13 ao dia 15 de julho no CEU - Rua
Macaé, s/n - São Roque - Queimados/RJ.

Serão três dias de oficinas literárias, palestras e debates com escri-


tores e editores, contação de histórias para crianças e muitas outras
atrações.

Se você é escritor e mora no Rio ou Baixada Fluminense e tem um


livro para expor para vendas ou precisa fazer um lançamento de seu livro,
temos espaço para você! Entre em contato até dia 28/04/2017 e garanta
seu espaço e o melhor ainda, tudo gratuito!

Contato: [email protected]

Acompanhe tudo sobre o evento nas nossas redes sociais!


Esperamos por todos vocês!

6
Concurso!!!

7
Coluna: A História da Estória

Nascimento dos quadrinhos


Quem nunca leu uma HQ do Su- Em meio a heróis como o Capitão Marvel, Tocha-
per-Homem, Batman, Homem Aranha, X- humano e toda uma legião de justiceiros, a Marvel
mens e tantos outros heróis, a turma da Comics criou o Capitão América sob a batuta de
Mônica ou seu mangá favorito enquanto Stan Lee e Jack Kirby. Com seu uniforme inspi-
crescia e pensou: “Como eles surgiram?” rado na bandeira americana se tornou a personi-
ficação da luta contra o nazismo.
História em quadrinhos, quadrinhos, gibi.
Existem várias nomenclaturas para essa que é Curiosidade:
conhecida como a “Nona Arte”, isso graças a
Riccotto Canudo. As HQs servem para narrar uma Na mesma época em que foi criado o Capitão
história de forma sequencial com as imagens e América e a revista Mad (uma sátira as histórias
os textos interagindo entre si, geralmente pu clássicas), Will Eisner criou o personagem The
-blicadas em formato de revista, contendo uma Spirit cuja importância foi tão grande que hoje,
ou mais histórias de um mesmo personagem. o maior prêmio do mundo dos HQs, o Oscar dos
quadrinhos, se chama Prêmio Will Eisner.
Agora pode imaginar o quão antiga é essa arte?
Agora completamente fora do controle dos
Já na pré-história, os homens das cavernas fa- jornais e com suas próprias revistas, os quadrin-
ziam uso de pinturas para narrar os acontec- hos ficam cada vez mais violentos, foi então que
imentos do seu dia a dia, mas pensando em um pais e educadores de todo o mundo levantaram a
sentido mais moderno do termo HQ começou voz contra eles. Diziam que as HQs estavam influ-
de maneira definitiva em 1895, pelas mãos enciando de forma negativa as crianças e queriam
do artista norte-americano Richard Outcault. proibir as publicações. A coisa ficou tão feia que
Aparecendo primeiro nos jornais sensacio- o governo Norte Americanos chegou a censurar
nalistas de Nova York, a primeira história em vários quadrinhos de heróis. A guerra acabou, a
quadrinhos que se tem registro foi “Yellow kid”. justiça estava perseguindo ferozmente e isso fez
com que as vendas de revistas em quadrinhos
A novidade logo se espalhou pelo mundo, despencasse. A criação de códigos de ética e de
encontrando terrenos férteis para material de HQ postura por parte das editoras, para combater a
e surgindo muitos cartunistas célebres no início censura, só foi dar resultados alguns anos mais
do século XX. Nessa época os quadrinhos se tor- tarde. A década de 60 marcou a recuperação do
naram material indispensável nos jornais diários. mercado de heróis com as editoras lançando no-
A década de 30 trouxe criações quase imortais vos heróis com características mais humanas e
para os quadrinhos, introduzindo a aventura filosóficas, com dramas psicológicos e problemas
como tema principal. Flash Gordon, Dick Tracy cotidianos.
e O Fantasma são apenas alguns exemplos. E foi
em 1933 que Funnies on Parede, primeira revista Nas últimas décadas do século XX, os heróis se
americana de quadrinhos surgiu, depois vieram firmaram e ganharam mais revistas. Os criadores,
a Famous Funnies, Tip Top Comics, King Co- roteiristas e desenhistas passaram para o nível de
mics, Action Comics (onde Jerry Siegel e Joe Shus- celebridades mundialmente famosas e seus nomes
ter criaram o Super-Homem) e Detective Com- estão nos créditos das histórias, passando a contar
ics (onde Bob Kane, em 1939, criou o Batman). tanto quanto o nome de um ator famoso em um
Veio a segunda guerra e muitos personagens, filme. O século termina consagrando McFarlane
sobre tudo os heróis, passaram a se envolver em como um dos grandes nomes das HQs, ao lado de
tramas de violência, guerra, democracia e paz. gênios como Alan Moore (que criou a obra-prima
dos quadrinhos e mini-série Watchmen), Frank
Miller (autor de Batman - Cavaleiro das Trevas e
Demolidor - homem sem medo) e do desenhista
8
Alex Ross (que ilustrou as obras Marvels, Reino do Antes as únicas formas de ler uma tirinha ou
Amanhã e Super-Homem - Paz na Terra), dando uma uma HQ eram as revistas e jornais, os car-
realidade nunca antes vista nos desenhos das HQs. tunistas precisavam de uma editora para
publicar e seguir suas diretrizes, com a inter-
Em terras tupiniquins, no ano de 1884, net todas as barreiras vieram a baixo. Um ex-
o cartunista italiano, radicado no Brasil, Angelo celente exemplo é o brasileiro Fábio Yabu,
Agostine foi responsável pelos primeiros quadrin- criador dos Combo Rangers que nasceram do
hos brasileiros de longa duração com As aventu- seu site na internet e ganharam legiões de fãs.
ras do Zé Capoeira. Em 1905 veio a revista Tico-
Tico e com ela o lançamentos de outras histórias Chegamos ao final de mais uma jornada,
em quadrinhos nacionais. Em meados de 1930, hoje pelo universo das HQs. Espero ter ajudado
Adolfo Aizen lançou o Suplemento Juvenil, com o a sanar as dúvidas sobre essa arte literária tão
qual introduziu no Brasil as histórias americanas única e inspirados futuros cartunistas e son-
e em 1937 Roberto Marinho entrou no ramo com har mais alto e se arriscar em seus sonhos.
O Globo Juvenil. Dois anos depois lançou o Gibi, Nos vemos na próxima edição de Litere-se.
nome que passou a ser também um dos sinôni-
mos das HQs. Em 1950 a editora Abril começou
a publicar as histórias em quadrinhos da Disney.
Chegando a década de 60, multiplicaram-se as
publicações e os personagens brasileiros.Des- Por, Raquel Rasinhas
taque para Pererê, de Ziraldo (que mais tarde
criaria O Menino Maluquinho) Maurício de Sou-
sa que criou toda uma série de personagens,
dentre os quais, Mônica, Cascão e Cebolinha.

Curiosidade

Maurício de Sousa é o maior nome dos


quadrinhos nacionais. Foi o único a viver ex-
clusivamente dos lucros de suas publicações. A
Turma da Mônica é o maior sucesso do ramo
no país, em todos os tempos. Virou linha de
produtos que vão desde sandálias, a macar-
rão, passando por material escolar, roupas, etc.
Também já foram produzidos desenhos ani-
mados e longa-metragem com os personagens.

A Editora Abril passa a publicar os heróis


da DC e Marvel Comics no Brasil, em 80 os
grandes jornais começam a postar tirinhas de au-
tores nacionais, algo que antes era exclusivamente
território gringo. Nos anos 90 o mercado brasileiro
cresce, novas revistas passam a ser editadas no país.

Chegamos ao século XXI, o mercado


de quadrinhos ainda em expansão, a Edito-
ra Globo mantendo o grande sucesso dos gi-
bis da Turma da Mônica e a Abril com os HQs
de heróis das grandes comics norte americanas.
Esse mercado está crescendo dia a dia, no Bra-
sil e fora dele com a internet como uma ferra-
menta muito útil para postagens e divulgações.
www.iluminerds.com.br
Recursos digitais para a criação de quadrinhos

Dentre as novas tecnologias que são A nossa segunda entrevistada, Letícia Pusti, é
desenvolvidas mais a cada ano, os quadrinhos e criadora do Another Art Book, que traz tirinhas
mangás também não ficaram fora deste meio sobre problemas do cotidiano, problemas so-
e ninguém melhor para comentar sobre o uso ou fridos pela maioria das pessoas e até mesmo
não desses recursos do que os próprios quadrini- textos de apoio para pessoas que estejam pas-
stas. Para este artigo, convidei três ilustradoras sando por algum tipo de difilcudade. Com uma
para darem sua opinião sobre o que mudou com linguagem leve e algumas brincadeiras. De
o uso dessas técnicas, seja para um lado positivo acordo com esta ilustradora, as novas tecnolo-
ou negativo. A primeira entrevistada, que atende gias para quadrinhos são mais positivas do que
pelo apelido de Haru, é formada em Artes Visuais negativas: “Acho que os recursos mais ajudam
e tem como foco o desenho mangá feito à mão. do que atrapalham, quando atrapalham é mais
As imagens feitas por ela ilustram sua saga de por falta de disciplina. As informações são mui-
livros, tendendo sempre para o estilo do mangá tas e constantes, independente da relevância,
japonês. Segundo ela, os recursos digitais foram por isso é importante saber filtrar. É do meio digi-
muito úteis em um momento importante do tal que surge muito conteúdo para o meu trab-
desenvolvimento do desenho: “Eu sempre gos- alho e é dele que vem 90% (ou mais) do retorno.
tei de fazer linearts, mas tinha dificuldade em Os memes surgem no meio digital, é praticamente
colorir. Nisso, os recursos digitais me ajudaram uma nova forma de se comunicar e se a gente sou-
bastante! Uso o programa Photofiltre para lim- ber usar bem eles, os assuntos em alta, isso pode
par e colorir minhas linearts. Então, desenho as ser revertido para atenção ao meu trabalho e a
linearts à mão, scaneio, e limpo e aplico as cores produção de vários outros artistas também, claro”.
pelo Photofiltre. Isso acelera muito o processo
além de deixar os desenhos mais padroniza-
dos”. Ela diz que embora esteja iniciando nesse
modo de criação de quadrinhos, indica o Photo-
filtre que é um programa gratuito e mais simples
que diversos outros disponíveis no mercado.

Tirinha da página “Another Art Book” de Letícia


Pusti.

Ilustração da obra “A Chama da Esperança” de


Haru.
10
Para a quadrinista, apesar disso tudo os equipa- Caso desejem conhecer melhor o trabalho
mentos ultramodernos, como mesas digitalizado- das ilustradoras, no final deste texto estão
ras, não são tão necessários, estando em segundo os nomes das páginas delas. Não deixem de
plano na hora de produção das tirinhas: “O que apoiar os artistas brasileiros, a falta de apoio
faz o meu trabalho funcionar é comunicar bem faz com que muitos talentos sejam perdi-
uma ideia, se não existir uma história bem conta- dos e isso seria prejudicial para todos nós.
da, se não houver um esforço para tentar isso, não
adianta ter a tecnologia e materiais de ponta”. * “A Chama da Esperança”:
* Lúcia Lemos
Nossa última ilustradora entrevistada é * Another Art Book
Lúcia Lemos, autora da série de livros Aika, que
trata a história de uma jovem mestiça no japão
que adentra em um mundo fantástico habitado Por,Beatriz de Castro
pelos personagens de seu mangá preferido e
une-se a eles na luta contra os vilões da história.

Na opinião dela, os recursos, que ainda são tabu


para muitos ilustradores que ainda acreditam
que a forma tradicional de desenho à mão seja
a mais correta de ilustrar, foram um modo de fa-
cilitar o trabalho não só do quadrinista quanto do
leitor de quadrinhos: “Você tem mais facilidade
para trabalhar As mesas digitalizadores estão
mais sensíiveis. Tem muitos locais que você pode
subir sua série e em alguns você ganha dinhei-
ro, tem um serviço de streaming de quadrinhos
(comentarei sobre isso melhor) em que se paga
uma quantia por mês e pode ler quantos quiser.”

Além disso, a ilustradora comenta que existem


muito mais formas de aprender e comparti-
lhar material, mas que infelizmente a maio-
ria das video-aulas e vendas de e-books ainda
é em inglês. O serviço comentado por Lúcia se
chama Social Comics, que através de um paga-
mento mensal, assim como todo serviço de
streaming, libera uma grande gama de con-
teúdo, neste caso de quadrinhos e mangás. Cri-
ado por uma dupla de cearenses, o site é uma
ótima forma de acompanhar as histórias sem
pagar por um valor muito alto em cada revista.

Algo foi unânime para todas as autoras que foi


a possibilidade de atrair um público cada vez
maior para suas obras. Utilizando ou não me-
sas digitalizadoras, programas que auxiliem
no aprimoramento da imagem ou inserção de
diálogos, a tecnologia vai estar sempre mais
presente no dia-a-dia de todos, então cabe
a nós aproveitarmos essas oportunidades.
Você quer fazer quadrinhos no Brasil?!

“Os quadrinhos estão morrendo! Vá fazer outra coisa da sua vida”!

Ouvi essa frase no final dos anos 80 quan- vários eventos Nerds/Geeks existentes. E se o
do pedi um conselho a um artista experiente. autor não conseguir o financiamento, ainda tem
Numa época de transição antes da internet, os editoras que editam uma quantidade mínima
profetas do fim do mundo pareciam fazer senti- de vinte revistas. Isso sem contar que vermos
do. Algumas editoras estavam fechando, muitos cada vez mais grupos locais, alguns dando caras
artistas estavam desesperados e ninguém tinha regionais ás suas produções, outros apenas di-
bola de cristal para prever que nossa conversa vulgam seu lugar de origem, mas todas garan-
viraria futuro do pretérito. Poderia ter sido o tem a diversidade típica da cultura brasileira.
fim, mas não foi. Surgiram coletivos de artistas,
editoras independentes que publicaram uma Você quer fazer quadrinhos no Brasil?
nova leva de artistas, estúdios e agentes que ne- Se joga! Vivemos um bom momento em que
gociavam contratos com editoras do exterior e as supostas dificuldades de se fazer quadrinhos
a internet, o que não só mudou a forma como caíram por terra. Não dependemos de uma edi-
nos comunicamos como a forma como produzi- tora poderosa que seleciona uma suposta elite,
mos e divulgamos nossas ideias. Como bons ci- o que permite o surgimento de diferentes tra-
dadãos do mundo, passamos a consumir RPG, ços e narrativas e com um computador razoável
Mangá e “quadrinho europeu” da mesma for- você pode não só produzir seus próprios quadri-
ma que consumíamos tudo que já vinha pra cá. nhos como divulgá-los e até comercializá-los.

Os quadrinhos não morreram, se adaptaram aos


novos tempos e fomos introduzidos a uma série
de novos formatos e interpretações da nona arte.
A maioria aproveitou a chance e fez experimen- Por, Alexandre D’Assumpção
tos que deram certo. Muitos desses novos nomes
migraram da internet para o impresso e serviram
de exemplo para uma nova geração que apren-
deu com seus erros e acertos abrindo novas trin-
cheiras. Teria o mundo mudado para a melhor?
Em 2017, dezessete anos após esse boom da in-
ternet que nos trouxe todas as facilidades cita-
das, ainda tem gente dizendo que ninguém valo-
riza o quadrinho nacional, que ele vai morrer em
um ano e etc. Muitas vezes esse discurso é usa-
do por pessoas que não acreditam em seu mate-
rial ou que não vendem tanto quanto gostariam.
Segundo um artista reconhecido moderno, só não
vende seu material quem não souber divulgá-lo. A
internet facilitou a comunicação e o autor não só
passou a ter formas de se comunicar com outros
autores e possíveis contratantes de todo o mundo
como pode vender visualizações de seus
quadrinhos através de sites como o Social
Comics e bancar sua publicação física através
de sites de financiamento coletivo ou de pa-
tronagem e depois de produzidos, os mes-
mos quadrinhos podem ser vendidos nos

12
Vida e obra do cartunista mais famoso do Brasil

Maurício Araújo de Sousa, cartunista e empresário Em 2008, foi lançada a “Turma da Mônica
brasileiro, nasceu no dia 27 de outubro de 1935, Jovem”, com os personagens da turma do
em Santa Isabel, São Paulo, é filho dos poetas,
limoeiro agora com 15 anos, no original os
Petronilha Araújo de Sousa e Antônio Mauricio de
Sousa. personagens principais tem apenas 7 anos.
Maurício é mundialmente famoso por ser o cria- Essa versão vendeu mais de um milhão e
dor da adorada e inesquecível, “Turma da Môni- meio de exemplares, só as quatro primei-
ca”, tendo ganhado diversos prêmios por seu tra- ras edições. Ao todo, a turma já chegou a
balho, mais recentemente foi homenageado no 50 países, com mais de um bilhão de revis-
Jabuti 2015, sendo agraciado com um troféu feito
tas publicadas.
especialmente para ele.
O cartunista começou ilustrando pôsteres e car- Os prêmios recebidos pelo autor incluem,
tazes para os comerciantes de Mogi das Cruzes, a medalha dos Direitos Humanos em 1998,
onde viveu a maior parte de sua infância. Em que recebeu em mãos do presidente da
1956, mudou-se para a capital, e foi trabalhar época. Antes disso, em 1971, ganhou pela
para o Jornal da Manhã, local em que trabalhou revista Mônica, o Prêmio Gran Guinigi. No
por cinco anos, escrevendo reportagens policiais
mesmo ano recebeu o Trófeu Yellow Kid,
e fazendo ilustrações.
Em 1959, criou seu primeiro personagem, Bidu, o considerado o oscar dos quadrinhos. Tam-
cão do Franjinha. Foi uma tiragem em quadrinhos bém foi premiado com os, Prêmio de Liter-
semanais pelo Jornal da Manhã com “Bidu e Fran- atura Infantil da ABL em 1999, a Medalha
jinha”. Em seguida, outros personagens de Vermeil em 2008, etc. E em 2011 pelo
conhecidos foram surgindo, “Cebolinha”, “Piteco”, conjunto da obra ganhou o Prêmio Pulci-
“Chico Bento”, “Horácio”, “Astronauta”, entre out-
nella.
ros. A primeira revista da “Mônica” foi publicada
em 1970, pela Editora Abril, com mais de 200 mil
exemplares. Sousa migrou com seus personagens
para a Editora Globo em 1986, e em 2006 foi para
a Panini, sua editora atual.
“Em minha casa, todos contavam histórias, princi- Esses personagens tão aclamados pelo público
palmente minha vó Dita, que mesmo analfabeta, vivem, nas histórias, no bairro do Limoeiro, local
envolvia as crianças de Mogi das Cruzes, com sua onde protagonizam muitas de suas aventuras. Os
narrativa. Em comum com o Sítio do Picapau Am- mais conhecidos são: Cascão, o mais “sujinho” da
arelo, o universo da vó Dita tinha raízes no folclore turma, ele odeia tomar banho, o Cebolinha, bas-
e na fantasia”, conta Mauricio. Seu contato com tante engenhoso com seus planos infalíveis, um
a literatura infantil veio desde cedo como vemos de seus objetivos é derrotar a Mônica, mas sem-
em seu relato. Atualmente, é considerado um dos pre acaba apanhando de seu coelhinho Sansão. A
maiores formadores de leitores no Brasil, sua in- Magali, muito meiga e extremamente comilona,
fluência literária, em mais de 50 anos de trabal- e a personagem título, a maravilhosa, incrível,
ho, atinge milhares de crianças de todas as faixas líder do grupo, Mônica, sempre lembrada por seu
etárias. E Ele continua “Como Lobato, eu acredito comportamento marrento e dentes avantajados.
na força da literatura para construirmos o Brasil E esses são só alguns dos integrantes da Turma
que todos queremos. Acredito que um país se faz da Mônica, Mauricio conseguiu criar personagens
de crianças e histórias. Como o jabuti nas Reina- muito ricos, com suas diversidades estéticas e cul-
ções de Narizinho, temos a condição de vencer turais, tornando uma tarefa, quase impossível,
obstáculos e alcançar nossos objetivos como na- para o leitor não se identificar com pelo menos
ção. E não tenho dúvidas de que este Plano In- um de seus personagens.
falível começa nas páginas dos livros, que podem
ser antecedidas pelas histórias das avós, como
aconteceu comigo e com Chico Bento. Ou pelos Por, Emily Del-Vecchio
quadrinhos dos gibis, como acontece com
milhões de crianças brasileiras”.
Para o seu trabalho com a turma, Mauricio buscou
inspirações bem cotidianas. O paulista é pai de 10
filhos, e todos influenciaram alguns de seus per-
sonagens, inclusive a “Mônica”, que é inspirada
em sua filha, Mônica Spada e Sousa. Os demais
são, “Magali” inspirada em Magali Spada e Sousa,
“Nimbus” em Mauro Takeda e Sousa, “Do contra”
em Maurício Takeda e Sousa, “Maria Cebolinha”
em Mariângela Spada e Sousa, “Marina” em Ma-
rina Takeda e Sousa, as gêmeas “Vanda e Valéria”, Fonte* Folha de São Paulo.
em Vanda e Valéria Signorelli e Sousa, o “Profes-
sor Spada” em Maurício Spada e Sousa, e o mais
recente integrante do grupo é o “Marcelinho”
criado em 2015, inspirado no seu filho mais novo,
Marcelo Pereira de Sousa. O mais legal na con-
strução desses personagens é que eles possuem
traços das personalidades dos irmãos Sousa,
como o personagem “Do Contra” que é baterista,
Mauricio também toca bateria, e “Marina” quem
tem o seu lado artista nos quadrinhos, fora dos gi-
bis, a filha, Marina trabalha com o seu pai na parte
de artística do estúdio.
Entrevista
Ana Recalde é do Mato Grosso do Sul e residente
do Rio de Janeiro.
Começou como quadrinista no lançamento da
revista Patre Primordium, em 2009. Em 2011
iniciou a webcomic Beladona, que no final de
2014 se tornou livro através de financiamento
coletivo e ganhou o Troféu HQMix como melhor
webquadrinho de 2014. Também participou de
várias coletâneas como Quadrinhópole, Petisco
Apresenta, Clássicos Revisitados: Monstros Noir
e Feitiço da Vila. Atualmente é editora do selo
Pagu Comics.

A Pagu Comics completou um ano, realizando


projetos incríveis e dando visibilidade para ar-
tistas mulheres. Já dá para dizer que existe uma
mudança no cenário e que hoje o momento é
mais favorável para a mulher que faz quadrin-
hos?

Ana Recalde : Então, eu não acredito em mu-


danças rápidas em problemas estruturais. O
machismo é um problema generalizado e afeta
todas as mulheres, e a consciência social muda
muito devagar. Se formos pensar no âmbito
dos quadrinhos, temos muitas autoras que vem
brigando há anos por espaços e quebrando bar-
reiras e a Pagu colhe frutos disso. Eu fico feliz
de imaginar que estarmos juntas no selo pode
gerar uma visibilidade umas para as outras, e
esse é nosso objetivo. Então se eu for pensar
em 2009, quando comecei, hoje temos muito
mais espaço e estamos mostrando muito mais o
nosso trabalho. Nesse um ano de Pagu eu gos-
taria de imaginar que colocamos a nossa contri-
buição ao lado de tantas mulheres fantásticas
que temos no mercado brasileiro.
Agora, sobre quadrinhos em geral e cultura, eu
não diria que é um momento favorável, não ape-
nas para as mulheres, mas para sermos vistos
como importantes. O quadrinho, apesar de ser
uma arte muito importante, tem uma visão mui-
to restrita por parte do público. Então quando
vemos coisas absurdas acontecendo na cultura
em todo o país, entendemos que precisamos ser
uma arte de resistência, continuar lutando pe-
los espaços. O FIQ quase não acontecer é uma
grande prova disso.

13
Como você analisa o mercado editorial de Eu acredito que minha história influencia sim nas
quadrinhos nacionais e fazendo um balanço dos escolhas que eu faço como editora, assim como o
últimos cinco anos podemos ser otimistas para gosto pessoal. É complicado investir seu trabalho
o que vem pela frente? em uma obra que não se acredita. Eu sou muito
apaixonada por todos os títulos da Pagu. Mas eu
Ana Recalde : Em relação às artistas e editoras também sempre busco expandir os meus horizon-
eu fico otimista. Podemos ver dentro do próprio tes como editora e consumidora. Não dá pra parar
FIQ o crescimento de lançamentos. Outra forma de conhecer e pesquisar. Levar os quadrinhos a
fácil de medir é olhar para artistas brasileiros no sério e de forma profissional envolve dedicação,
Artist’s Alley da CCXP. Na primeira edição faltou até para apurar o próprio gosto e senso estético.
mesa e nosso espaço continua crescendo. Ver
que o investimento vai para outros lugares do
país, fora do sudeste também é empolgante. A Com o debate sobre o Jabuti incluir quadrin-
CCXP Tour tem tudo pra ser um arraso. hos na premiação, muito se falou de alterna-
Muitas editoras pequenas também surgiram tivas que pudessem incentivar o crescimento
nesses cinco anos! Nossa, artistas e editoras es- do mercado de HQ nacional. Qual sua opin-
tão fazendo um grande esforço pro mercado con- ião sobre assunto? Um prêmio exclusivo para
tinuar crescendo de forma saudável, ou seja, com mulheres seria valorização ou segmentação?
aumento dos leitores e de qualidade.
E o que vem pela frente continuará tanto quanto Ana Recalde : O prêmio Jabuti tem muito prestí-
a força de todos esses artistas independentes e gio, então incluir quadrinhos eu vejo como uma
editoras pequenas. Precisamos sempre ir des- boa forma de incentivo. Mas não acredito em
bravando esses espaços de consumidores e apre- um prêmio apenas para mulheres. Se tivéssemos
sentando o quadrinho brasileiro para um público uma diferença muito grande de formação entre
que ainda não o conhece. Mas não tenho grandes artistas mulheres e homens, não seria contra.
ilusões que isso será fácil, além de ser construído Porém, nenhuma das mulheres produzindo hoje,
no agora. Deve ser uma batalha travada todo o devem em nada para nossos colegas homens.
tempo. Os prêmios servem e ajudam muito na divulgação
de uma obra, então participar, ser indicada ou
Como leitora de quadrinhos quais são suas ganhar um prêmio adiciona um crivo ao leitor(a).
referências? E como suas referências e gosto Por isso acredito em investir nos prêmios que te-
pessoal interferem no seu trabalho de editora mos e estimular a diversidade de indicados e cat-
na seleção de novos artistas? egorias. Afinal temos um mercado de quadrinhos
enorme, é realmente impressionante a quanti-
Ana Recalde : Meu pai era colecionador de dade de títulos sendo lançados todos os anos.
quadrinhos, então desde muito cedo eu tive
contato com dois ramos bem interessantes, DC/ O que você pode adiantar sobre as novidades
Marvel e europeus. Lia muito Asterix, Turma da de 2017? E para quem sonha em fazer parte da
Mônica e Batman, ao mesmo tempo. Era uma equipe qual é melhor caminho para ser publi-
infância interessante (risos). Aos 18 anos con- cado pela Pagu Comics?
heci a obra do Neil Gaiman e posteriormente os
trabalhos japoneses. Todas essas influências são Ana Recalde : Nossa, milhares de planos! Bom,
muito vivas dentro da minha cabeça. Gosto tan- primeiro vamos terminar em 2017 os títulos at-
to de Sakura Card Captors quanto de V de Vin- uais da Pagu, completando 5 edições cada. Isso
gança. Depois fui conhecer mesmo o quadrinho vai ser legal de ler, pois é um universo compar-
brasileiro depois de 2009 e aí sim que meus hori- tilhado e vai dar as bases para uma história em
zontes se abriram para novos traços e histórias. conjunto para 2018.

14
Ainda em 2017 vamos publicar diversas autoras
que se inscreveram para a nossa convocatória
em histórias curtas, todas para ser lançadas em
dezembro. Além do lançamento do título novo,
Violeta.

Também estamos com uma comunidade de auto-


ras mulheres no G+, para entrar tem que pedir a
autorização no link: https://plus.google.com/u/0/
communities/101196199905472056589

Para fazer parte da Pagu, basta nos mandar


contato pelo [email protected], mandar
portfolio e vamos entrar em contato. Mas esta-
mos com várias artistas na agulha já, para serem
lançadas ainda em 2017, então aguardem e con-
fiem.

Por, Glau Kemp


Pioneirismo - Moacy Cirne

Conheci o conterrâneo Moacy Cirne Poeta conhecido por ser um dos fundadores do
através do texto de um amigo em um site falan- poema-processo ao lado de Wlademir Dias Pino,
do sobre o poema-processo, e fui surpreendida Neide de Sá e Álvaro de Sá entre outros nomes
ao saber que esta vanguarda aconteceu no país (movimento derivado do concretismo que foi a
apenas no Rio de Janeiro e em Natal simulta- mais potiguar das vanguardas), se dedicou as
neamente. Há pouco tempo atrás em conversa narrativas gráficas e a poesia tendo escrito di-
informal com outro amigo descobri que Moacy versos livros sobre essas duas linguagens:
também havia sido o pioneiro em estudos de
quadrinhos no Brasil. E é por esse motivo decidi 1970- A explosão criativa dos quadrinhos|
escrever sobre ele na Litere-se edição especial 1975-Vanguarda: um projeto semiológico| 1979-
sobre HQ’s. A poesia e o poema do Rio Grande do Norte |
1979-Objetos Verbais | 1982- Uma introdução
Moacy Cirne nasceu em São José do Seridó - Na- política aos quadrinhos| 1983-Cinema Pax|
tal / Rio Grande do Norte (1943-2014), foi um 1988-Docemente Experimental |1990- História
poeta/escritor, jornalista, apaixonado por cin- e critica dos quadrinhos brasileiros| 1998-
ema, torcedor do fluminense, artista visual e Rio Vermelho | 2000- Quadrinhos, sedução e
um dos maiores pesquisadores das histórias em paixão|2003- Cinema Cinema | 2004- A inven-
quadrinhos no Brasil introduzindo o gênero nas ção de Caicó | 2006- A escrita dos quadrinhos|
Universidades. Foi professor (aposentado) do 2007- Poemas Inaugurais | 2013- Seridó Seridós,
Departamento Comunicação Social da Univer- foi o último livro lançado com memórias, fotos,
sidade Federal Fluminense, onde lecionou dis- poemas e listas de livros e filmes.
ciplinas sobre histórias em quadrinhos e ficção
cientifica. Editava e distribuía o fanzine de uma
única página, O Balaio Porreta.

16
Sua obra diversificada na linguagem dos quadrin-
hos procurou valorizar em suas análises, publi-
cações nacionais como “O Pererê”, de Ziraldo e
os personagens de Mauricio de Souza. Enquanto
muitos estudiosos relutavam em analisar a nar-
rativa dos quadrinhos, Cirne inovou sendo um
acadêmico da área de comunicação envolvendo
o tema da cultura de massa. Como Marxista ele
se empenhou em defender as produções artísti-
cas em geral como função social, relacionando
o fazer artístico com o materialismo histórico. A
sua contribuição foi muito importante contra o
preconceito de que os quadrinhos era uma lei-
tura superficial por ser dita como “mais fácil”.

(O poema processo é uma produção poética


gráfica-visual que transborda as regras conven-
cionais do que é poesia. Incorporando formas
geométricas, desenhos, quadrinhos e texturas.)
Cirne morreu aos 70 anos no dia 11 de janeiro de
2014 em Natal, após sofrer uma parada cardíaca
depois de uma cirurgia, Moacy havia descobe-
rto um câncer de fígado no final de 2013.

Por, Maluz Medeiros


Coluna: O velho Caolho

“Numa cidade de setecentas pessoas, eu e minha filha estamos sozinhas.” – Hilda.

“Hail, Midgard! Hail, filhos de Midgard! Hail a O suspense toma conta quando, por meio de
todos os Deuses!” uma votação da assembleia local, decidem
fechar os portões para que a praga não se alas-
Hail, meus queridos amantes das terras gélidas tre. Mas, enquanto os portões são fechados e
e de seus grandes guerreiros e das grandiosas a temperatura despenca, fica claro para todos
sagas!! que a verdadeira ameaça está dentro das mural-
has… Gunborg, um líder local, começa uma bru-
Trago a vós mais uma história dos povos nórdi- tal campanha de intimidação. Boris, o forasteiro
cos! com uma teoria sobre doenças contagiosas,
tenta resistir a ele. Os doentes são banidos e a
O que os senhores estão para ler retrata tensão só vai aumentando. Seria realmente a
a era em que estes povos dominavam as terras mortal praga o maior problema dos setecentos
de gelo, um conto muito bem explorado e cheio nórdicos do Volga?
de detalhes. Uma série da linha Vertigo, escrita
por Brian Wood (ZDM – Terra de Ninguém). Violência, fome, frio, mortes e motim. Brian
Wood explora de maneira criativa e incontes-
Na série Vikings (Northlanders) nos é mostrada tável a Era Viking sem falar nos estudos de anos
a difícil vida dos nórdicos, suas ideologias, siste- que realizou pra conceber estas obras de arte.
mas de comercio, navegações. Você não vera elmos com chifres ou homens
que só pensam em comer e realizar pilhagens.
Em A Viúva do Inverno (que traz as edições 21 São histórias meticulosamente bem escritas,
à 28 de Northlanders), acompanhamos uma co- com a linha de pensamento em seguir os pa-
munidade nórdica aos redores do rio Volga, por drões da época, porém, com histórias e perso-
volta de 1.020 d.C; que é assolada por uma pra- nagens fictícias.
ga, onde todos ou pelo menos em maioria, são A Viúva do Inverno é um conto de suspense nar-
adeptos da ideologia cristã (após anos de guer- rado pelo ponto de vista de uma solitária mãe e
ras), mas que ainda em seus íntimos, guardam sua filha de oito anos, que lutam para se manter
as antigas tradições e crenças pagãs. Hilda é a vivas em meio à adversidade.
protagonista e voz que narra o conto, uma bela Brian Wood (ZDM – Terra de Ninguém) e Lean-
e jovem mulher que teve seu marido levado pela dro Fernandez (Justiceiro MAX) nos brindam
peste. Ela e sua filha precisam sobreviver em com essa aventura épica, que traz uma aborda-
meio à doença contagiosa, ao rigoroso inverno gem criativa e original da Era Viking, marcando
que dura praticamente sete meses sem contar um dos melhores momentos da série Vikings.
os crimes e assassinatos dentro da comunidade. Vikings: A Viúva do Inverno é uma excelente lei-
Wood explora bem as características e personal- tura. E caso você também escute os conselhos
idade dos personagens principais, a ignorância dos Deuses, procure o encadernado da Vertigo
da época em relação às doenças, seguindo sem- e não se arrependerá.
pre suas morais religiosas, o ambiente e tudo
que pode acontecer e tudo com possibilidades
fortes e reais. Além disso, nos banha com a rica Por, Elves Botéri
história da época, com desenhos que ornam
com o tema, de Leandro Fernandez (artista de
Justiceiro Max) que faz jus ao
trabalho.

18
Perfil

Nessa edição especial de HQ eu convidei um artista nacional de quadrinhos para falar um


pouco de sua trajetória e como é vida de alguém que está se estabelecendo no mercado.
Essa mini biografia resultou em um perfil muito verdadeiro e temos a impressão de conhec-
er um artista assim. Esse é o Chibi um cara comum de uma comunidade do Rio de Janeiro
que faz arte e roteiro.

Por, Glau Kemp

Meu nome é Fábio Santos, sou carioca, moro


na Comunidade do Alemão no Rio de Janeiro,
tenho 24 anos e desenho desde minha infância.
É difícil precisar quando exatamente eu
comecei a rabiscar minhas primeiras ilustra-
ções e porque eu o fiz, já que isso me parece
muito intrínseco, mas consigo afirmar quando e
porque eu comecei a me interessar em contar
histórias. Foi quando assistia aos clássicos ani-
mados que eram transmitidos pela TV aberta no
fim dos anos noventa até parte dos anos dois
mil. Clássicos como Dragon Ball Z, Digimon,
Cavaleiros do Zodíaco, Hunter x Hunter, Full-
metal Alchemist, Naruto... (Sim, percebe-se que
minhas tardes e manhãs eram recheadas de
animações japonesas). Eu amava aquelas nar-
rativas, aqueles personagens e seus mundos
peculiares. Isso cultivou em mim um amor que
crescera e se manifesta de maneiras diferentes
até o dia de hoje.
Ainda quando criança eu era daqueles que ao Uma história onde todos aqueles personagens
brincar com meus bonecos de ação criava ro- antes retratados nos meus bonecos ganharam
teiros, dava papéis aos personagens, inven- os papéis em aventuras próprias. E meus dias
tava todo um contexto fora da realidade dos de RPG deram origens a personagens que hoje
heróis que eu usava nas brincadeiras (Batman ilustram meus mangás, ideias que incorporei
deixava de ser Batman e virava outro ser total- a minhas histórias e roteiros que futuramente
mente diferente). Às vezes eu até me incluía transformarei em HQs para meu público. Diria
nessas histórias como um personagem a mais que fui moldando desde cedo essa paixão por
e interagia diretamente com os bonecos (Sim, contar histórias e desenvolver meus próprios
parece estranho, mas tinha um primo que brin- mundos.
cava comigo para eu não ser o único humano). Quando eu finalmente decidi criar meu primeiro
Quando mais velho, no colégio, um amigo meu, mangá que seria direcionado ao público (Uma
Eduardo Gonçalves, me apresentou outra forma vez que Holy só estava acessível para meus ami-
de contar histórias que era divertida e interes- gos mais próximos), surgiu High Deathnition.
sante: o RPG. Um jogo incrível que te permite Na época, meados de 2008, eu ia trabalhar nela
estreitar laços de amizade e treinar sua criativi- junto ao meu amigo Eduardo, já mencionado
dade ao mesmo tempo. A partir dessas duas ex- aqui, ele cuidando do roteiro e eu da arte. Porém,
periências eu criei histórias que mais tarde me com o fim do ensino médio a ideia foi engaveta-
inseriram ao mundo dos quadrinhos. Minhas da.
brincadeiras com meu primo deram origem ao
meu primeiro mangá independente: Holy.
19
Em 2011 eu ingressei num curso de desenho em sua segunda cerimônia de premiação, pelo
no Studio Mangaka, na Tijuca, RJ, onde apri- trabalho social e os destaques que temos gan-
morei minhas habilidades e cresci como artista hado em meio aos profissionais do ramo. Eu só
durante meu período de estudo. High Deathni- tenho a agradecer ao Paulo e a Roberta
tion permaneceu guardado até 2014, quando Pauletich pela oportunidade incrível de reali-
eu decidi trabalhar a história por mim mesmo zar um sonho e aos amigos quadrinistas e não
e disponibiliza-la para leitura online. Fiz o pri- quadrinistas que me apoiam e encorajam a se-
meiro capítulo e nessa mesma época, enquanto guir e conquistar a cada dia mais vitórias.
participava de um curso gratuito de produção
audiovisual, conheci Paulo Ballado, meu atual
editor. Ele viu a história, se interessou pelo po- Minha estrada está somente começando e todos
tencial e me ofereceu a oportunidade de lançá- que estiverem interessados em me acompanhar
la em versão física através de sua recém-funda- nela podem fazê-lo através da minha página no
da Editora Guardião. Facebook em @Chibifabioart, no Instagram e
Minha real imersão no mercado de quadrinhos Twitter por @Chibifabio e me encontrando em
foi, e ainda é, uma luta constante. Por muitos eventos nos quais eu estarei para bater um papo
fatos já conhecidos por quem está dentro desse e mostrar um pouco mais do meu trabalho.
mundo. Conquistar o público, conquistar espaço,
conseguir se destacar e mostrar que as pessoas
podem achar material bom nacional são coisas
difíceis e muitas vezes abaixo das expectativas.
As pessoas dificilmente buscam por material
brasileiro, principalmente os mais jovens que são
alimentados pelo que está em destaque na mí-
dia, coisas em sua maioria internacionais, e isso
às vezes nos isolam, pois o público tem receio de
arriscar consumir coisas feitas em sua terra natal.
Mas a mudança já é visível e graças a isso tem
sido cada vez mais gratificante produzir HQs.
Seja de forma independente, ou não, muitos no-
vos quadrinistas têm surgido para mostrar suas
histórias ao mundo. O que só ajuda aos que já
estão na área e encoraja os futuros aspirantes. Eu
mesmo conheci muitos artistas que se unem para
fazer do quadro de HQs nacionais uma referên-
cia, como já foi um dia.

Atualmente estamos no quarto volume de High


Deathnition, que está para ser lançado em breve.
A série pode ser encontrada no Social Comis e
no Smocci e comprada no site da editora (guar-
diaoeditora.wixsite.com/guardiaoeditora).
Eu estou trabalhando em paralelo em outra sé-
rie para leitura online chamada Dreamlander
(que pode ser lida no site Smocci). Uma série de
aventura e magia que promete agradar um pú-
blico mais apegado aos conteúdos mais main-
stream. Recentemente fomos, a editora Guardião
e eu, homenageados pela Academia Brasileira de
Histórias em Quadrinhos (ABRAHQ),

20
Coluna: Contra Crítica

Está faltando o quê?


A cena é propícia para o crescimento da Agora é hora de fortalecer este mercado e, in-
produção nacional de HQs, mas ela ainda é bas- dependente dos olhos das editoras estarem ou
tante tímida e não conseguem das grandes edi- não voltados para as HQs brasileiras, aproveit-
toras, o espaço que merecem. ar os meios que existem e conquistar cada vez
mais público. E, o mais importante, unir pú-
HQs vêm ganhando espaço nas prateleiras das blico, artistas, profissionais envolvidos com os
livrarias. É mais um momento delas, principal- quadrinhos nacionais, criando uma grande cor-
mente impulsionada pelos heróis quem saíram rente de divulgação, fortalecendo cada vez mais
dos quadrinhos e ganharam as telas dos cin- a produção independente. Pois assim, as nossas
emas, com grandes bilheterias. Além disso, vi- HQs se consolidarão de uma vez por todas.
vemos uma época em que culturas nerds, cults
ou geeks ganham muitas evidências.
Por, Pedro Cotrim
É um momento bem interessante para a in-
dústria dos quadrinhos, porém, não são tantas
flores assim para os quadrinistas brasileiros. As
nossas produções ainda penam para conseguir
algum espaço entre o que vem de fora e, mais
ainda, para ter alguma visibilidade nas grandes
editoras.

Para estas editoras, acaba sendo mais viável, fi-


nanceiramente, trazer publicações de fora, uma
vez que não têm nenhum gasto com produção e
muito pouco com divulgação (são personagens
consagrados, com público formado e cativo), do
que investir nas HQs nacionais. Não é que elas
perdem dinheiro, investindo nas produções in-
ternas, mas o problema é que praticamente não
tentam abrir espaço para os nossos artistas.

Mas, enquanto as gigantes do mercado editorial


brasileiro só tem olhos para o que vem de fora,
muitas outras, de menor expressão e indepen-
dentes, apóiam e incentivam a produção nacio-
nal. E, na base do ‘faça você mesmo’, usando,
principalmente, as ferramentas que a web ofe-
rece, os artistas brasileiros vêm conquistando
seu público e o fidelizando.

21
A Memória

Examinando meu passado de forma aleatória,


Eu poderia me deter em momentos memoráveis e esquecíveis,
Mas ainda assim não conseguiria me desfazer de nenhum dos dois.
A memória tem seus caprichos de amante.
Ela pode nos proporcionar momentos maravilhosos, ou frustrantes.
Amante voluptuosa.
Como ser inconstante,
A Memória merece muita atenção,
Mas nunca sabemos o quanto.
Por isso, assim como fazemos com as criaturas indecifráveis,
Corremos como loucos atrás da Memória.
Amante ingrata!
Pintamos quadros e paredes,
Compomos músicas,
Esculpimos,
Escrevemos livros,
Tiramos fotos,
Filmamos.
Nada é suficiente para saciar a sua fome milenar.
A Memória continuará nos atormentando até o fim do tempo.
Até o último ser humano,
Até o último suspiro,
Até a última batida do último coração partido.
Amante insaciável!
Não se contenta com menos do que a morte,
Para que possa se entregar complemente,
Num último abraço quente,
Rumo ao completo esquecimento.

Por, Washington Soares

22
Ele confere todos os seus materiais: lápis, borracha, grafite, papel, lápis de cor, régua. Coloca
na mochila, e vai para a aula.
****

Entra no prédio de cabeça baixa. Sobe as escadas e para por um momento no corredor, men-
talizando novamente seu plano. Caminha em direção a sala, e antes de entrar, olha primeiro
ao redor para ver se não havia ninguém pelos corredores, depois olha para a placa um pouco
acima da porta: Aulas de desenho em quadrinho. Um sorriso, meio que de lado, surge em sua
face. Calmo, entra e tranca à porta da sala, disfarçadamente.
“O senhor está atrasado!” – Repreende o professor, sem tirar os olhos da lousa.
Ele ignora as palavras, e vai para seu lugar no fundo da sala. Alguns dos alunos, o encaram
e começam a cochichar. Ele passa por eles. “Isso vai acabar hoje” – ele pensa, esbarrando em
uma das mesas de propósito, derrubando alguns lápis no chão. “Idiota” - diz o rapaz, de olhos
azuis que estava sentado ali. Ele não responde, e continua andando. Chega em sua mesa,
e senta-se, colocando a mochila no chão. O rapaz ainda o encara. E ele, para provocar, lhe
mostra o dedo. O rapaz ia se levantar para tirar satisfação, mas seu amigo que está do lado,
coloca a mão em seu ombro, e faz sinal com a cabeça, em direção ao professor. O rapaz,
então, permanece em seu lugar, voltando sua atenção para a aula. Ele observa, com um ol-
har de deboche. Espera alguns minutos, até ver todos distraídos. Pega sua mochila, e coloca
no colo. Abre o bolso da frente e tira um objeto. Dá um sorriso, e olha em direção ao profes-
sor, que está de costas, desenhando alguns círculos, no quadro, enquanto explica.
“Professor!” – Ele diz, com a voz calma.
O homem vira-se, encarando os alunos:
“Quem me chamou?”
“Eu...”
Bang... Bang...
Os alunos olham assustados. Gritos e desespero. De repente, silêncio...
****

Ele abre o caderno de desenho. Coloca os lápis de forma ordenada na mesa. E antes de
começar a desenhar seu HQ, vai até à frente da sala e ajeita a cena que planejou durante
todo o verão.
Seus “modelos” tem que estar perfeito, nada pode dar errado. Sete corpos banhados de
sangue. O professor sentado em sua mesa, e seus “queridinhos” ao lado, segurando seus ca-
dernos de desenho.
Sempre foi reprovado por aquele ser desprezível. Ele sempre dizia a ele, que seus personagens
não tinham “personalidade”. Que lhe faltava criatividade e talento. Pois iria lhe provar que
tinha muito talento e criatividade. Só era uma pena o professor não poder ver isso, já que
estava no inferno agora.
Claro que isso teria consequências graves, mas deixaria para pensar nisso depois. O impor-
tante naquele momento, era sua concentração em desenhar cada traço, cada detalhe sem
deixar passar nada. Aquilo seria seu legado para o mundo dos quadrinhos.
Ele admira a cena com um sorriso de satisfação. Vira-se para ir até sua carteira, quando ouve
um barulho. Olha para trás e vê um dos alunos mexendo-se. É aquele metidinho, “filhinho de
papai” de olhos azuis, que o chamou de idiota. Ele olha em sua direção. Os olhos do rapaz
estão arregalados de pavor.
celular e escolhe uma música: Dance Macabre – Scalene. Deixa o som invadir o ambiente.
Fecha os olhos, por um momento. Suspira, abrindo-os novamente, e começa a desenhar
sua obra de arte.

23
Ele olha sério para sua vítima, admirando o medo estampado naquele rosto todo sujo de
sangue. “A bala deve ter passado de raspão, e ele apenas deve ter desmaiado” - ele pensa. E
antes que o rapaz pudesse ter qualquer tipo de reação, ele tira o revólver do bolso do mo-
letom e dá um tiro certeiro no meio da testa. Os olhos azuis do rapaz se fecham para sem-
pre. Novamente, ele volta para perto dos cadáveres e ajeita a cena de novo. “Pronto, agora
sim está tudo certo” - diz, guardando a arma novamente. Retorna para sua mesa, pega seu
celular e escolhe uma música: Dance Macabre – Scalene. Deixa o som invadir o ambiente.
Fecha os olhos, por um momento. Suspira, abrindo-os novamente, e começa a desenhar sua
obra de arte.

Por, Lisa Hallowey

24
Confidência

Não sei escrever poesia


para ti, meu amor.
É intermitente esta insuficiência
que me faz tactear ilusões
e cair nesta tremenda inferência

Múltiplas vertentes
derramam meus sentimentos…
Minha razão, decadente
impede-me de sintetizar tudo
que reside cá, por dentro

Por dentro, lá no fundo


no cerne dos meus versos
reside um grande amor
que de leve, eleva-me
e traduz meus firmamentos

Por dentro, confesso.


Meu afrouxado coração
construiu um mundo
e tu Ivete, resides nele
meu grande amor.

Por, Omar Va Elabo

25
Pour Elise

Adentrou o palco sem ver. Não era a escuridão, ou a velha técnica de olhar o
infinito fingindo encarar a plateia. Não. Sua visão estava embaçada pelas pequenas
poças que se formavam embaixo de seus olhos. Toda a plateia lhe parecia uma única
massa disforme de seres respirantes. Aquilo importava? Não, não importava.
Posicionou-se em seu lugar no palco. Os braços delicadamente sobrepostos e
sustentados, a perna esquerda esticada atrás en croisé. A entrada delicada de Pour
Elise começou e passou então a se mover ao som dela, a contagem de oito um mero
fundo em sua mente, guiando seu tempo e seus passos.
Talvez fosse uma boa coisa, não conseguir enxergar a plateia. O que veria lá, afi-
nal? Entre as pessoas com rostos de admiração e paixão pela dança haveria o rosto
daquela pessoa.
Nunca achara Pour Elise uma música triste – era delicada demais, mimosa de-
mais para ser triste. Mas não agora. As notas pareciam rasgar sua carne por dentro,
passando por todos os outros órgãos até chegar ao coração. Será que ainda batia, ou
estava tão dormente que nem se percebia?
Graças ao treinamento impecável e ensaios intermináveis, seu corpo sabia
exatamente o que fazer, para onde ir, qual movimento executar. Ainda bem. As lágri-
mas rolavam por seu rosto, quentes, paralisadoras. Mas a expressão era impecável.
Será que as pessoas na primeira fileira conseguiam perceber seu choro? Provavelmente
não. Era um palco grande, e a coreografia fazia que estivesse sempre em movimento.
A música parou. Congelou-se em sua pose final por um momento. Sorriu ao
receber seus aplausos e se aproximou para agradecer ao caloroso público. Reconheceu
o rosto entre a multidão, um círculo nítido em meio ao borrão, longe, quase na saída.
Abriu um sorriso triste, mas não havia lágrimas nos olhos. Claro que não.
Levantou-se do agradecimento e saiu do palco. Em sua mente, apenas música
ecoava.
Pour Elise. Pour Elise.

Por, Thais Rocha

26
Então, chegamos lá

De repente, quando ela resolveu falar do amor, era como se pertencesse a um


outro mundo, insuportavelmente vazio, regido por critérios pelos quais ela só
podia sentir desprezo.
Ainda era uma mulher, seu desejo ainda era latente, sua alma também pulsa-
va como quando tinha vinte anos, ou pulsava muito mais, pois tinha consciên-
cia de quanto agora seria mais difícil, seus amores, suas fantasias...
Aquele corpo repleto de marcas do tempo, não havia envelhecido nem um
único dia no prazer.
Das inúmeras experiências que viveu, conseguia agora traduzir em apenas
uma palavra fortuita e sem o merecido cuidado: velhice. Mas foram essas
experiências mudas, algumas ocultas, outras imperceptíveis, que deram à sua
vida forma, colorido e melodia.
Os pensamentos se deslizam para fora de sua vivência e o que resta neste pa-
pel é um sem número de contradições, de preconceitos. Ela chega a acreditar
que isso é um defeito, algo que devia ser esquecido: o desejo do prazer.
Talvez o tamanho deste desconcerto entre o desejo, a fantasia, o amor e pre-
conceito (muitas vezes pessoal) é o tamanho, a maneira exata para com-
preender essa experiência do corpo e da alma, ao mesmo tempo conhecida e
enigmática.
Então se é verdade tudo que acontece dentro dela e que só pode viver uma
pequena parte, a dúvida permanece: O que fazer com o resto?
Tem a sensação de que pela primeira vez está atenta e lúcida com relação a
ela mesma, ao seu mundo mágico e ainda juvenil no seu interior.
Sentia-se como se houvesse embarcado em um avião para, poucas horas de-
pois, aterrissar em um mundo externo completamente diferente, sem ter tido
tempo de absorver as imagens que passaram durante o longo caminho.
É uma mulher, uma mulher que não suporta pensar que todas aquelas mar-
cas, as das dores, as dos amores, as mais profundas, assim como as mais
superficiais, tenham sido em vão. A pele do seu rosto, seus seios, os cabelos
brancos que agora além da cabeça, nascem no sexo, a barriga um pouco mais
volumosa...
As imagens nas vitrines desse mundo moderno, são grandes e nítidas, mas do
outro lado do vidro, ela não tem como não sentir orgulho de ser quem é, de ser
como é.
Os homens, não a olham mais, os vendedores a chamam de senhora, as crian-
ças de tia ou vovó.
A família espera o bolo de banana, que era receita de sua não se sabe qual ta-
taravó... Mas ela sabe, tem certeza, que seu lugar não é o forno, que seu desejo
não é a gritaria das
crianças. 27
Seu desejo é sexo, amor, toque, um longo beijo na boca, como se tivesse sido
o primeiro, um abraço cheio do tesão igual àquele quando sua carne era dura,
mas seu universo interno quase nada sabia do amor.
Hoje ela sabe tudo, dar e receber afeto, hoje não existe mais pudor, hoje não
é mais o sexo pelo sexo, hoje é o sexo que foi para sempre, aquele que esteve
guardado por tanto tempo nas cicatrizes de sua pele.
Hoje ela sabe ser completa, sente o sangue de seu homem, aquele que não
está mais alí, correr nas suas veias, mesmo quando está acendendo a luz do
forno para determinar o ponto do bolo, da tataravó, da avó, que tem certeza,
também desejavam determinar, ao invés do calor do forno, o calor do sexo de
seu homem.
Agora ela sabe mais que tudo, que não tem a menor ideia de como será essa
coisa do desejo de viver um amor novo, em uma época que não conhece mais.
Só sabe que não cabe nenhum adiamento. seu tempo está bem mais próximo
do fim, do que do início, e pode ser que não reste muito.
Agora já não é entre milhões de pedras preciosas que abriria a porta do palá-
cio de seus sonhos, mas sabia que podia ser a libertação de uma imagem de si
mesma, aquela que na vitrine mostrava seus limites.
Será que há um mistério sob a superfície da vida humana? Ou as pessoas são
exatamente como se revelam através de suas ações.
Está resolvida, tudo completamente claro, não precisa de bagagem, não preci-
sa de nada que não seja apenas ela mesma, nem dinheiro, nem realidade, nem
família, nem problemas, nem soluções.
O circo chegou à cidade, pobre, pequeno, o fotógrafo tirou uma foto dela,
mostrou em um monóculo, sorriu e gostou da imagem que viu. Foi aí que ela
decidiu, de uma vez por todas, e para sempre, fugir com o circo, exatamente
como sonhou na infância: Pois o palhaço quem é? É ladrão de mulher...

Por, Madu Dumont

28
Existência

Penso que emocionar


Seja transparecer
Um jeito de amar
Mas, quem dera escrever
Exigisse mais liberdade
Talvez, uma
Centelha de criatividade
Há tanto escondido
Amores separados por distância
Tantas coisas inúteis
Ganhando importância
Sentimentos
Que mal cabem
Em pensamentos
Há tantos sonhos
Desejos e planos
Abandonados por angústia
Ou pequenos danos
Tenho pena de quem
Pensa poder apagar
Momentos e lembranças
Como fotos em um celular
Vejo aqueles
Corações afogados
Por palavras não ditas
Que agora, rabiscam recados
Rabiscos
Presos ao peito
Quebrando paradigmas
Ou qualquer conceito
Livre
Espero poder
Compartilhar essa essência
Antes que chegue o fim
De nossa existência.

Por, Johan Henryque


29
Prisão da alma

Dela fugi, noites e dias


Dela fugi, mente fóbica.
Dela me ocultei, no meio de lágrimas
Pelos caminhos dos labirintos
Trevas e temores
Mãos que me seguiam, seguiam após mim.
Uma voz insistia: “Trata-se de uma busca
incansável”.
Salva-me, salva só a mim?

Eu floresço em ti

Choro pétalas de sangue


Mentiras em rosas que sangram lenta-
mente na raiz (Coração)
Ventania de incertezas
Perdida no tronco da imaginação
Preciso de terra firme
Quando planto a semente
Eu floresço em ti.

Por, Liliane Oliveira

30
Variáveis verdades

Anseio somente a alcunha de bom moço


Desalentado estou entre os sonhos e o
ócio
Distopia ingênua segue meus passos
Sou heroi do contrário
Naveguei perante a lacuna do honorário
Racionalizando o resto
Exclamei:- Quem dera fosse eu feto
abortado
Perante o silêncio, sou mestre dos dias
arcaicos
Matei o destino por fatalidade
Reivindicando o símbolo
O prestígio da saciedade
Onde eu sendo vivaz
Para além das covas da cidade

Por, Mickael Alves da Silva

31
Heroína sem Quadrinhos

Quando criança passava eras lendo histórias em quadrinhos, os homens e


mulheres que eram super, suas habilidades fora do normal e como eles sempre
triunfavam e salvavam a todos. Eu ficava imaginando como seria ter uma vida
como aquela. Eu tinha muito medo de passar a vida toda e não ter feito nada
para deixar uma marca, que ninguém se lembrasse de quem eu sou ou de algo
que eu fiz. Na infância, colocava a minha capa e a minha máscara, lutava
com os vilões imaginários e salvava reféns. Eu era sempre corajosa, tinha po-
deres, sequer imaginava quais eram os reais vilões. Sendo uma garota, muitos
diziam que eu era estranha, que aquelas brincadeiras não eram para meninas,
mas meusque meus pais sempre me apoiavam e pude ser a heroína dos meus
brinquedos.
Conforme fui crescendo, me interessava por romances policiais e séries. Ter-
minei o ensino médio e comecei a estudar para passar na prova para a polícia,
focada com o dia que colocaria o uniforme, estando pronta para servir e pro-
teger. O grande dia, então, chegou, o resultado da prova! Eu tinha passado e
não houve alegria maior para mim e minha família, meus pais estavam
orgulhosos, eles viram na filha o resultado de acreditar em dias melhores. Eu
realmente acreditei que seria tudo perfeito.
Entrei primeiro apenas com papelada e só queria me ver livre daquela mesa
e de todos aqueles arquivos, queria estar nas ruas, ajudando a diminuir o crime
e impedindo que coisas ruins acontecessem com as pessoas. Depois de um
tempo, passei para os registros e comecei a sentir que finalmente útil, pois po-
dia fazer algo pelas pessoas, entretanto, comecei a perceber que não era assim
que as coisas funcionavam. Por mais que eu tentasse pegar os casos, meus
superiores descartavam os B.O.s dizendo que não dariam em nada. Comecei a
me entristecer.
Quando não aguentava mais, eis que surgiu a minha oportunidade de tra-
balhar nas ruas. Na minha primeira patrulha, prendi alguns menores que en-
contrei roubando. Levando-os para delegacia, me surpreendi aos vê-los sendo
soltos logo em seguida.
- Senhor, eles possuem ficha, não serão nem ao menos detidos por algumas
horas?
- Para quê? Daqui alguns anos, tudo deles será apagado e não vai adiantar de
nada.
Eu acreditava que as pessoas poderiam mudar, mas que deveriam pagar pelos
seus erros. Entretanto, meus pensamentos começavam a se desmantelar, pois
eu via que estava em um beco sem saída. Se eu prendesse alguém, ele iria para
a cadeia e não melhoraria em nada ou ainda seria solto e nada aconteceria.
Se eu não prendesse, estaria me omitindo do meu dever, além de deixar que
alguém continuasse seus atos. Em um momento de total dúvida sobre o que
fazer, comecei a conversar com alguns colegas.
32
- Oras, mas é por isso que a gente acaba com eles logo, não vai dar em nada
se os prendermos… - comentou um dos meus colegas, enquanto ria.
- Acabar com eles? - questionei, temendo o que ele quis dizer.
O homem vendo que eu não estava bem, respirou profundamente e disse:
- Você ainda está muito verde, não entende como as coisas funcionam…
- Eu sei exatamente como as coisas funcionam! Se eu mato alguém estou
cometendo o mesmo crime ao qual eu deveria combater! Só atirarei em último
caso!- me exaltei.
- E vai fazer o quê? Deixar eles matarem um cidadão de bem? Quem você
prefere que morra? - o cuspe dele caindo no meu rosto.
Entretanto, não me abalei ou movi um músculo.
- Eu vou fazer a minha parte para que ele pague pelo seu crime, não farei algo
assim. Defenderei e servirei, mas dentro da lei.
- Pfff… não vai durar nem um ano. - disse me deixando sozinha.

Depois daquele dia, os meus ideais ficavam cada vez mais confusos. Não
sabia o que era certo e errado mais e tive que permanecer forte nas múltiplas
vezes em que vi colegas se tornarem cada vez mais corruptos e se venderem.
Vi muitas coisas que me fizeram duvidar, ou se no final tudo seria entregue à
barbárie e tudo teria sido inútil. Até que um dia, em uma patrulha com um
colega desconhecido, encontramos um homem que estava assaltando uma
mulher e com a nossa chegada, usou-a como escudo para que não
atirássemos. Naquele momento, as palavras do policial que rira de mim volta-
ram a mim e congelei. O meu colega, entretanto, conseguiu atirar na perna do
assaltante e quando ele se dobrava em dor, corri, tirando a moça dos braços
dele, enquanto o meu colega o algemava. Mais tarde, procurei o policial que
estivera comigo e perguntei.
- Por que você atirou na perna dele e não em um ponto vital?
- Não é porque encontramos bandidos todos os dias que temos que nos tornar
como eles. Se um dia eu precisar tirar uma vida pelo bem maior, eu farei, mas
não se eu tiver outras opções.
Eu sorri para aquilo e pude acreditar novamente em nosso heroísmo. Podería-
mos, sim, fazer o que é certo e sempre há um caminho correto a percorrer, por
mais que seja o mais difícil.

Por, Beatriz de Castro

33
Farol Vermelho

Uma gota de suor escorreu da minha têmpora esquerda até o meu


queixo, preguiçosamente eu a enxuguei enquanto via o semáforo fechar. Colo-
quei o carro em ponto morto e considerei ligar o ar condicionado por alguns
minutos, só enquanto o farol estava fechado, mas meus olhos encararam o
medidor da gasolina, e com pesar eu respirei fundo, arrumei o cotovelo na
janela aberta e apoiei minha cabeça em minha mão.
“Ovo, pão, leite e bananas... Ovo, pão, leite e bananas... Ovo, pão, leite e
bananas” Eu repetia em uma tentativa de não esquecer a lista que minha mãe
tinha dito pelo telefone, ela tinha oferecido mandar por mensagem, mas isso
implicaria em eu passar vinte minutos explicando a ela passo a passo de como
se usava o celular, para no final ela dizer que era muito complicado e que se
eu não conseguia decorar uma simples lista, deveria comer mais peixe.
Foi com o canto do olho que eu reparei no motorista do carro do lado, o
excesso de movimentos me chamou atenção e eu me virei completamente en-
contrando um homem nos seus vinte anos cantando e balançando a cabeça
freneticamente ao som de alguma música que as janelas fechadas me impe-
diam de escutar. Eu ri me divertindo com aquela cena, ele estava tão concen-
trado naquilo, que eu tinha certeza que nunca passou pela cabeça dele a ideia
de alguém estar observando.
Automaticamente meus olhos viraram para o outro lado, e em um susto
encontraram a motorista do carro a minha direita, a princípio ela sorria e
olhava na minha direção, mas ao perceber que eu olhava de volta, virou o
rosto imediatamente. Eu mantive o olhar intrigado, enquanto ela parecia de-
bater consigo mesma o que fazer, por alguns instantes segurou o volante com
mais força, e então virou o rosto em minha direção novamente, e acenou sem
graça.
Ela apontou para mim e percebi que indicava o menino do carro do lado,
eu olhei para ele de novo e vi que agora ele batia no volante como se fosse
uma bateria profissional, olhei de volta para ela sorrindo e tentando dizer ape-
nas com linguagem corporal: “jovens não é mesmo?”, ela retribuiu o gesto e o
sorriso.
De relance eu vi que o semáforo de pedestres tinha ficado vermelho,
tínhamos menos que um minuto até que o nosso ficasse verde. Eu tentei pen-
sar em alguma forma de saber mais sobre ela, mas o semáforo abriu e ela
acenou ainda sorridente e eu fiz o mesmo, seu carro virou a direita enquanto
eu segui reto atravessando a avenida.

34
Aquele seria um bom momento para acreditar em destino e pedir para um
ser cósmico fazer com que nossos caminhos se encontrassem de novo.
Talvez nos encontrássemos algum dia em um shopping e ela diria: “você é
o homem simpático do carro ao lado?” para o que eu responderia: “ você é
a mulher simpática do carro ao lado?” e nós dois iriamos rir e então iriamos
tomar um café, e dentro de alguns meses estaríamos morando juntos e eu
estaria escrevendo meus votos de casamento e lembrando desse mesmo dia
em que paramos lado a lado no farol.

No semáforo seguinte não tinha nenhum carro do meu lado, eu fechei as


janelas e liguei o ar condicionado olhando fixamente para frente. “ Ovo, leite,
pão e...Droga, o que mais?” Pensei irritando percebendo que teria que ligar
novamente para minha mãe. “Melhor aproveitar e comprar mais peixe”. Con-
siderei esperando o semáforo ficar verde.

Por, Ana Farias Ferrari

35
Des

Gostava de ver você animada, pulando e dançando, no final de cada missa


de domingo. Sempre me perguntava o motivo daquela euforia e mais ainda,
como alguém conseguia ser tão feliz assim em um domingo de manhã. Não,
domingo não combina com alegria, mas você, você também não combinava
com nada que não ela.
Ontem, ao cair da tarde, aquela tinta acinzentada tomava conta do dia,
uma fina garoa molhava as roupas curtas desavisadas que transitavam pelas
calçadas. Fora de repente, uma mudança no tempo, coisas de São Paulo, ci-
dade de tempo completamente imprevisível, mais até que o meu humor. Aqui
da janela do quarto, ria mentalmente, a cada gritinho de surpresa, causado
pela temperatura que diminuíra consideravelmente, foi nessa hora que me
veio a imagem da sua alegria, das missas no interior, eu nem era católico,
nunca fui, mas me dava vontade de frequentar as suas missas, descobrir
mais sobre essa fé que tinha nas cores, na vida.
Mas não pude deixar de lembrar daquele dia, nossos poucos momentos
juntos, minha euforia, o seu desespero. A sua vontade de não ser. Foi a pri-
meira vez que a vi enegrecida. Suas maçãs continuavam vermelhas, mas a
escuridão vinha de dentro, sentia o medo que estava em você. Eu, tentando
driblar a minha loucura. Há tanto tempo esperava para estar tão perto de
você e agora estávamos ali, juntos, mas sem poder gozar nem um momento.
Você rezava, rezava muito, eu, estava arrependido de não ter nunca sido fiel
a nenhum credo, nunca soube rezar, ainda não sei. Talvez, fosse a forma
única de nos unirmos em alguma coisa, a oração inundava o ambiente, sen-
sação estranha de paz, envolta a um turbilhão de tensão, gritos de ordem e
ameaças. Foi quando você se ajoelhou, olhou para mim, seus olhos nadavam
nas lágrimas que nasciam do seu medo.
Por mais que evite, aquela cena sempre me revisita, na verdade, eu sempre
estarei vivendo-a, seus cabelos sendo puxados, você, sem forças para gritar e
eu, paralisado diante de tudo aquilo. Foi neste momento que eu descobri que
as cores podem ser apagadas.

Por , Pedro Cotrim

36
Direção

Estava tudo lá, mas para encontrar


tive que me aproximar, e mesmo
assim não consegui achar.
Dei passos largos para alcançar, senti
um calor me guiar
Curiosidade a me equilibrar, um deslize
para logo chegar
De repente algo a me tocar, para me
embaraçar ou ajudar, só veio es-quentar,
meus passos direcionar
Minha mente clarear
Quando por um relance parei, os olhos
escancarei e pude constatar...
Você estava lá, como um anjo a me
fitar com aqueles olhos de mar

Por, Lisi de Castro

37
Coração

Relicário
álbuns de foto
Debaixo do assoalho
Pisar nas memórias
Quem sabe elas adentram reverso
Pelas portas dos pés
Talvez faça mais sentido
Pois a cabeça falha não tem mais
juízo

Por Perla de Castro

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Coluna: Escuridão Profunda e Vazia - Uma página sombria

Eu achava graça na mania do meu filho: engatinhar até a cômoda e esparramar as


fraldas da gaveta pelo chão. Um dia, voltando pra casa com ele dormindo no colo,
vi as fraldas espalhadas pela casa toda. Não teve graça.

Por, Jhefferson Passos

“Se sair do quadrado que desenhei ali no chão da sala, enquanto tomo banho, o
Bode Velho vem te pegar”, diz a mãe.
Ao voltar, soltou um grito desesperado: em vez da filha no quadrante, havia a mar-
ca de um casco de bode.

Por, Jhefferson Passos

Sempre faço de joelhos, ao pé da cama, as minhas orações. Noite passada, ao me


benzer no final, uma voz debaixo da cama respondeu: Amém!

Por, Jhefferson Passos

Em Araraquara, tem um casarão do século 19 assombrado por escravos. Pessoas


alegam ouvirem vozes ou gritos de agonia vindos de um porão. Eu quis saber a
verdade e com uma câmera resolvi passar a noite naquele casarão. Hoje faz um
mês que não consigo encontrar a saída do porão. Grito, mas os visitantes não me
ouvem.

Por, Jhefferson Passos

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Coluna: O lado agridoce da Poesia
Corrompida

Ela só queria poder correr livremente sem medo de ser atacada.


Ela queria poder andar nas ruas sem se sentir ameaçada.
Ela queria dormir tranquilamente
e não ter mais um daqueles seus terríveis pesadelos.
Ela queria poder desabar e não ser julgada pela sua dor.
Ela queria ter uma vida normal como as outras pessoas.
Ela queria ser tudo aquilo que sonhou um dia...
Mas o sonho virou pesadelo, e hoje o medo a assombra todos os dias.

Por, Luana Melo


“Rabiscando a própria Alma”

Eu comecei rabiscando a própria alma.


Eu comecei abrindo meu coração.
Eu comecei sem nem entender o que rabiscava.
Eu apenas me doava.
Numa folha de papel,
O coração sangrava.
A dor era sentida,
A alma era rasgada.
Foi desse jeito torto que comecei minha primeira terapia.
Essa mesma que eu pratico todos os dias.
Foi escrevendo que cultivei a arte da paciência.
Foi escrevendo que descobrir meu lugarzinho no mundo.
Foi poetisando que me desfiz dos meus medos obscuros.
Foi poetisando que voltei a sonhar.
Foi poetisando que aprendi a lutar.
Foi poetisando que voltei a viver.
Eu sou feita de versos.
Eu sou feita de estrofes.
Eu sou palavras poéticas,
Sempre serei poesia.
Poetiso pra desabafar,
Poetiso pra escrever
De forma simples
E sincera a minha alma poética.
Poetiso porque sou pura poesia.

Por, Luana Melo

40
Entrevista
Muito em breve a Luva Editora lançará sua primeira obra de Ficção Científica, o livro
Anacrônico, do autor Antony Magalhães. Enquanto o livro está em produção, confira
uma breve entrevista com Antony, em que ele fala sobre sua carreira, o Anacrônico e
mais.

Crédito : Leo Cavalheiro


41
Lançamento

Conte um pouco sobre sua carreira literária.

Antony M.: Sempre li muito desde cedo. Era lou-


co por revistas e gibis e já dizia que seria escritor
e jornalista. A “Turma da Mônica” fez com que
tomasse gosto pela leitura. Visitava a biblioteca
da escola todos os dias e estava sempre com um
livro novo enfiado na mochila. Comecei a es-
crever com 14 anos. É a história que muitos jo-
vens escritores contam, mas comecei a escrever
por causa de Harry Potter. Queria muito ler os
livros e, como não tinha condições pra comprar,
decidi que iria escrever os meus. Por anos fui
começando livros e projetos e nunca terminava.
Quando estava com 17 anos, um editor disse
que publicaria meu livro se eu o terminasse no
prazo. Deixei até de ir pra escola e dormir, mas
consegui escrever “Éden: Morte no paraíso” no
tempo previsto. Ele nunca publicou o livro, mas
isso me deixou mais confiante. Sabia que se sen-
tasse iria escrever. Depois disso escrevi um livro
atrás do outro.

E como surgiu a inspiração para escrever Ana-


crônico? E como foi a experiência de escrevê-
lo? Anacrônico toca em questões importantes e sen-
síveis, como a desigualdade social. Poderia falar
Antony M.: Anacrônico surgiu da junção de um pouco sobre isso?
várias ideias. Tinha ideias pra uns quatro
livros e percebi que poderia juntar tudo em Antony M.: Seja nos roteiros ou livros que es-
uma história só. Um universo bem rico acabou crevo, procuro sempre prezar pela representa-
surgindo e fiquei bem feliz com o resultado. Ten- tividade. Se for pra escrever livros com perso-
ho 8 originais prontos. Livros que escrevi desde nagens iguais aos da maioria dos livros, prefiro
que finalizei “Éden” aos 17 anos. Cada livro foi nem escrever. De diversas formas Anacrônico é
importante para o amadurecimento da minha uma crítica aos problemas da nossa sociedade.
escrita. Escrever o romance “As palavras que Diversidade sexual, de gênero e cor estão pre-
ninguém mais diz”, por exemplo, mostrou que sentes no livro e quando tratamos de repre-
eu conseguia emocionar se quisesse. Não pre- sentatividade é inevitável não falar sobre rac-
cisava de explosões e pessoas usando poderes ismo, machismo, homofobia. Espero que muitos
pra narrativa fluir e ser interessante. Escrever leitores se sintam representados no livro e se
Anacrônico provou que eu estava pronto de ver- identifiquem com a personagem Maria. Uma
dade. Que tinha maturidade pra contar histórias brasileira corajosa que luta pra conseguir o que
complexas e maduras e que minha narrativa es- deseja.
tava em um novo patamar. É como se Anacrôni-
co fosse meu primeiro livro. Após Anacrônico,
me sinto um escritor diferente.

42
Lançamento Luva Editora

Quais escritores você mais admira? Eles influen-


ciaram sua escrita de alguma forma?

Além de J.k Rowling e Agatha Christie, gosto mui-


to de Marcelo Rubens Paiva. Estava começando a
escrever meu primeiro livro quando li “Feliz ano
velho”. Li e percebi que poderia falar sobre sexo e
drogas com naturalidade. Não era “proibido” usar
palavrões ao escrever. Eu ainda tinha uma visão
de que a literatura deveria ser toda certinha e que
haviam assuntos proibidos. Mesmo lendo bastante,
tinha essa visão e certo receio de ser julgado pelo
que escrevia. Quando li Marcelo Rubens Paiva
aprendi algumas lições que mudaram minha forma
de escrever e enxergar a literatura.

Em um Brasil pós-guerra, a escravidão é um negó-


cio lucrativo, o ar é tóxico, as temperaturas são altas
e as pessoas vivem em cidades tecnológicas prote-
gidas por redomas de vidro. Nessa sociedade que
passa seu tempo diante da TV e entorpecida com
drogas fornecidas pelo governo, vive a jovem es-
crava Maria. Comprada por uma família poderosa
quando criança, aos poucos ela demonstra ser uma
escrava diferente. Ela quer saber mais sobre seu
passado e poder controlar seu futuro. Maria quer
vingança.

Em breve, o Anacrônico entrará em pré-


venda. Fique atento às redes sociais da
Luva para garantir logo o seu.

43
Coluna : Contos, onde eu os encontro?

Vermelho  Tomate

Seus olhos arderam diante daquele tom vermelho que cobriu a sua vista, as risadas invadiram
a sua mente, ele ficou desorientado e tropeçando nos próprios sapatos de bico largo caiu com
o rosto colado no assoalho de madeira. Mas o show tinha de continuar então ele enxugou o
salgado das lágrimas misturado ao molho rubro e disse – Nossa está muito temperado! – en-
quanto elevava o rosto para observar aquela plateia que se degustava de suas lagrimas – do
jeitinho que eu gosto – comentou lambendo os lábios e fingindo alegria apesar do líquido ver-
melho que borrava sua maquiagem. As vaias que se seguiram também não o intimidaram, ele
contou aquela anedota do “bêbado dançarino” e ouviu de alguém da plateia – conta aquela
do palhaço patético!
– e foi o seu fim, ele se viu em silêncio no meio da piada como se tivesse levado uma picada
de abelha (alérgico que era) – você acha que é fácil? – disse em resposta aquele estranho que
sequer conseguia localizar naquela sala pequena mas escura de bar – ficar aqui me expondo
apenas para tentar fazer você rir?
E assim mais uma noite terminava e ele voltava para casa de ressaca moral imaginando se
adiantava seguir esse caminho. Seu apartamento era tão pequeno que apesar de sua baixa
estatura ele tinha de se agachar. Foi imediatamente ao banheiro se encarar. O rosto sempre
cuidadosamente pintado maculado com aquele tom vermelho, foi aos poucos tirando a ca-
mada de tinta revelando o humano por de tras do artista lembrou que a sua mãe como toda
a boa genitora elogiava a sua aparência. Ele costumava ser um rapaz alegre na adolescência
do tipo que ria dos próprios problemas até que surgiu um que lhe quebrou o sorriso perpetu-
amente e o seu palhaço virou um personagem realmente bastante caricato do jeito que Jean-
nine gostava – faz o Poncho – pedia e ele imediatamente a atendia pintando o rosto com
tinta acrílica e sorrindo torto,

mas agora o que ela acharia do Ponchito? que se tornou um palhaço patético exatamente
como se referiu o desconhecido.
Ele tirou a roupa, ligou o chuveiro e enquanto aquela água fria envolvia seu corpo lembrou
da última vez em que viu Jeannine. Foi em uma noite fria e de chuva e eles discutiram, não se
lembrava exatamente quais as palavras dela, apenas de seu rosto angustiado e ele sabia que
não importava a piada que conta­se não iria provocar nela aquele mesmo sorriso de tantas
vezes. E nunca mais soube dela. É engraçado como um – até logo – pode soar como um –
adeus – talvez não fosse engraçado mas ele como palhaço que era nunca perdia a oportuni-
dade de contar uma piada mesmo que fosse para si mesmo.
E quando deitou na sua cama envolvido pelo lençol foi como entrar em uma lona de circo.
Em seus sonhos ouvia as pessoas conversando ansiosas pelo seu número, escutou o an-
fitrião devidamente caracterizado com seu terno desbotado anunciar – Com vocês o filho de
Pirro nosso querido Ponchito! – ele então avançou orgulhoso de si mesmo e reverenciou o
seu público que o recebeu aos aplausos ansioso pelo que ele iria lhes apresentar essa noite. A
cada piada que desferiu ouvia alto o som das risadas escandalosas que chegava a balançar o
picadeiro a elas se misturaram aplausos quando ele usando de uma habilidade malabarística
se pos no ar feito um ginasta enquanto fingia estar tonto de bêbado e quando foi executar o
salto novamente rompeu a lona e ouviu o som de rasgar. Então percebeu o buraco que fizera
em seu lençol enquanto dormia o despertador ainda não apitará, apesar do sonho bom ele
não tinha vontade de voltar a dormir.

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Saiu da cama e começou a sua rotina, ensaiava as falas com o rosto já maquiado de
frente para o espelho treinando ao mesmo tempo as caretas, um palhaço precisa ter os
músculos faciais tão elásticos quanto uma massinha de modelar. Fingiu um sorriso, na
verdade, fazia tempos em que não abria um sorriso que não fosse mecânico mas sentia
tamanha satisfação em seu trabalho que apesar de tudo, de todos os tomates não conse-
guia se imaginar em outro papel e bem – Tomate faz bem pra pele – disse e repetiu com a
cara marcada de vermelho para a parca plateia daquele mesmo estabelecimento que dessa
vez riu e este pode então prosseguir com as suas anedotas por que até mesmo para ele a
vida se tornará dramática demais.

Por, Alberto Neto

45
Entrevista

primeiro livro, Viva a/à Poesia.


Acredito que o caminho seja, primeiramente,
dedicar-se ao máximo à escrita. É importante es-
tudar ortografia, o gênero textual que pretende
produzir etc. Depois disso também acredito que é
muito importante ter uma boa identidade visual.
Se a pessoa não souber fazer isso conta própria,
sugiro que procure um designer. Também é pri-
mordial saber quem é o seu público, onde ele se
encontra e como chegar até ele.

Falando um pouco do seu livro: “Viva a/à Poesia”,


qual foi sua principal experiência em realizar sua
própria publicação? E por que fez essa escolha?
Não buscando a publicação por editoras.

Jean: Acredito que a publicação independente foi


importante para conhecer todo o procedimento
de publicação de um livro. Contratei a editora
Madrepérola para fazer o registro de ISBN e có-
digo e também para auxiliar nas negociações com
Jean Carlo Barusso, é escritor natural de Arapon- as gráficas.
gas, Paraná, tem 23 anos é formado em publici- Antes de fazer a publicação já havia feito orçamen-
dade e propaganda e atualmente cursa Letras. O tos com algumas editoras, mas nunca encontrei
poeta começou a publicar seus textos autorais nenhuma proposta interessante porque havia uma
em 2015 e foi publicado pela editora Madrepéro- certa limitação artística e também porque o custo
la em 2016 com seu livro de poesia: “Viva a/à era mais alto, então resolvi fazer do meu jeito. É
poesia”. mais difícil, é muito mais trabalhoso, mas, para o
meu caso, acredito que tenha sido a melhor opção.
Jean, primeiramente, gostaria que contasse um Sabemos que administrar o tempo é muito difícil,
pouco mais pra gente como começou a sua página e no seu caso, Jean, você teve que vender os seus
no Facebook, que hoje conta com mais de 45 mil livros sozinhos, e também reconhecemos que a
curtidas, como você estruturou esse projeto? Qual é maior dificuldade após a publicação do original é
a principal dica que você dá aos novos autores para de fato a venda. Como você planejou a primeira
que alcancem uma página de tamanha visibilidade? tiragem, e as vendas? Acredita que as mídias só-
cias ajudaram na distribuição da obra, como?
Jean: Comecei a publicar meus textos em um blog e
nas mídias sociais em março de 2015. Inicialmente Jean: A publicação do livro não estava, inicial-
eu era apenas uma pessoa que gostava de escrever mente, nos meus planos. Como disse anterior-
e que queria expor seus textos. No começo eu pub- mente, eu só queria escrever e expor meu trab-
licava dois textos por semana (naquela época eram alho. Conforme o número de seguidores crescia,
crônicas), depois mudei o gênero textual e passei aumentava também o número de pessoas que
a escrever poemas. Com o passar do tempo au- perguntavam se eu tinha algum livro publicado,
mentei a periodicidade para três textos por sema- pois elas gostavam dos meus textos e gostariam
na, quatro, cinco, até que cheguei no padrão atual, de comprá-lo. Enxerguei naquelas mensagens
que são publicações de segunda a sábado. Ao longo uma grande oportunidade. A minha formação em
da caminhada cada vez mais pessoas liam o que eu publicidade contou muito nesta hora. Montei um
escrevia e tudo resultou na publicação do meu pri- banco de dados com os nomes das pessoas que

46
afirmaram ter interesse em adquirir meu futuro Para uma segunda tiragem ou um novo livro, con-
livro, reuni o material para a publicação e comecei tinuaria de modo independente, ou procuraria uma
a fazer orçamentos. editora? Recomenda o self-publish?
Quando o banco de dados atingiu um número de
pessoas que já era suficiente para pagar a tiragem Jean: Já negociei com a Madrepérola a segunda tira-
foi o momento em que senti segurança para poder gem do meu livro, que provavelmente ficará pronta
efetivamente lançar o livro. no começo de março. Também tenho ideias para
As mídias sociais são de extrema importância. Sem publicar um novo livro ainda este ano, mas ainda
elas eu acredito que nem estaria escrevendo até não sei como será a publicação. Quanto ao modo
hoje. O apoio dos leitores e as mensagens que de publicação, acredito que não há uma fórmula
recebi e recebo até hoje sempre servem para in- que se aplique atodos que pretendem publicar. Há
centivar a produção. E como as mídias sociais são métodos que funcionam melhor em um caso, há
os principais veículos de comunicação contem- outros que funcionam melhor em outros. Cada au-
porâneos, encontrei nelas a melhor forma de dis- tor deve considerar quais são as suas necessidades
seminar meu trabalho. e possibilidades e depois procurar a melhor forma
Praticamente todas as vendas foram feitas pelas de suprí-las.
mídias. As pessoas entravam em contato comi-
go, eu informava os procedimentos de compra e
fechávamos por ali mesmo. Inicialmente eu usava Por, Diego Guerra
o Mercado Livre para poder proporcionar paga-
mentos em boleto e cartão, mas atualmente faço
isso pelo PagSeguro. Os livros estão à venda em
apenas uma livraria, numa cidade da minha região.

Você realizou lançamento da obra? Se sim, como


conseguiu organizar e produzir esse evento para
ser bem sucedido?

Jean: Sim. Fiz um sarau lançamento do livro na


biblioteca da minha cidade (Arapongas, PR). Uti-
lizei tanto as mídias sociais quanto as tradicionais
para convidar as pessoas da região. Fui a algumas
rádios, TV’s, jornais etc. Com a ajuda de amigos,
montamos a decoração e também houve apresen-
tações artísticas de músicos e de alunos de uma
escola de teatro.

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Resenha - J.R.R. Tolkien ~ O Senhor da Fantasia

Título: “J.R.R.Tolkien ~ O Senhor da Fantasia


Autor: Michael White
Ano de Publicação Original :2013
Relançamento de Edição Comemorativa de 125 anos de Tolkien: 2017
Editora: DARKSIDE
Número de Páginas: 275

Em comemoração aos 125 anos do nascimento de J.R.R. Tolkien, a editora Darkside resolve
dar de presente aos fãs uma edição mais que especial, lindíssima e luxuosa em capa dura
num tom verde com uma aparência rústica e um pôster exclusivo da terra média.
O livro é um relançamento da biografia de Tolkien escrita por Michael White que a editora já
havia lançado em 2013.
Essa biografia em especial contou com uma rápida participação da equipe do site Tolkien
Brasil fornecendo informações sobre a bibliografia, aspectos da vida de Tolkien e detalhes.
Por isso vale muito mesmo a pena ler o livro e tê-lo já que esta edição está mais para um
presente para os leitores que o livro em si.
Segundo o jornal “The Independent” esta biografia apresenta Tolkien como alguém vivaz e
amante do riso...uma biografia cativante.
Essa edição comemorativa de 125 anos é limitada e só estará a venda nas lojas Submarino e
Americanas.

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Quem é Michael White?

Michael White é autor de mais de 20 livros e ex-editor de ciências da revista britânica GQ e coluni-
sta do Sunday Express em Londres. Entre suas obras estão os Best-Sellers internacionais Stephen
Hawking - Uma vida para a ciência, biografia sobre C.S Lewis, Maquiavel, Galileu e Isaac Newton.

J.R.R. Tolkien

Sou completamente suspeita para falar de Tolkien porque sou fã de suas obras desde os 9 anos de
idade. Mas me atrevo mesmo assim pois acho que como fã e como resenhista posso ser a porta voz
de muitos de vocês leitores.
Eu e você fã de Tolkien ou você que só ouviu falar ou que está conhecendo mais desse escritor
fantástico sabemos que as obras dele ainda impressiona e influencia milhares de mentes por todo
o mundo. Existe uma diversidade infinda de pessoas que admiram as aventuras pela terra média ou
que alguma vez já sonhou em viver as aventuras de O Hobbit com Frodo e seu Tio Bilbo no con-
dado. Quem nunca quis ter uma amigo fiel como Sam ou andar pelas terras dos Elfos, lutar com
dragões ou mesmo carregar o anel.
O que talvez vocês nunca pararam para se perguntar ou mesmo pensar é...quem será Tolkien?
Sabemos que foi ele quem escreveu todas essas histórias fascinantes e que por inúmeras vezes me
fez viajar para a Terra Média e muitos de vocês também...mas quem era ele? Como se tornou esse
gênio da Literatura Fantástica, o Senhor da Fantasia e influenciou e influencia tantas gerações?
Ele foi Professor meus caros, e um dia corrigindo provas, inclinou-se para trás em sua cadeira e
olhando em volta da sala, de repente, seus olhos foram atraídos pelo carpete próximo a um pé da
mesa. Ele observa um minúsculo buraco no tecido e fixa-se nele por um longo momento, sonhando
acordado. Então ele volta a atenção para o papel à sua frente e começa a escrever: “em uma toca
no chão vivia um hobbit...” e assim dá inicio a essa história fantástica que abre as portas para o
mundo que nos foi apresentado como O Hobbit, Silmarillion e O Senhor dos Anéis e Contos Ina-
cabados.
Tolkien dedicou mais de 60 anos de sua vida para esta criação única.
Mas quais foram as influências que desencadearam a criação? E o que manteve Tolkien imerso e
absorvido por tanto tempo?
Essas questões são complexas e alguns aspectos, difíceis de explicar, mas devemos ao menos tentar
seguir o pensamento de Tolkien e procurar as raízes e os estímulos. (pg 81)

Um dos aspectos mais surpreendentes da mitologia de Tolkien é que, como as antigas tradições nas
quais se baseava, ele descreve um mundo destituído de cristianismo. A Terra Média é um mundo
que, em linguajar cristão, havia ‘caído em desgraça”, mas não havia se redimido. Em outras pala-
vras, é o mundo da primeira infância de Tolkien, um tempo e um lugar anterior ao encontro de sua
mãe com a igreja; Sarehole talvez, ou Bloenfontein, mundo no qual sua mãe é jovem e saudável,
um mundo onde eles estão juntos. Em seu subconsciente, a cada noite em que Tolkien retomava
seu manuscrito, a cada noite que deslizava o papel por sua máquina de escrever, ou começava uma
ilustração com tinta e aquarela, ele retornava para os braços de sua mãe. Mas quem poderia cen-
surá-lo? A morte de sua mãe e suas razões foi algo inconsciente, isso não iria nos dar apenas a Terra
Média pois ele encontrou a força para seguir a diante em seu escritório tarde da noite pois retorna-
va ao começo de sua infância moldando uma mitologia inteira, produzindo personagens e enredos
convincentes e então estruturar uma vasta variedade de material da forma mais legível possível. (pg
86, 87)

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Essa Biografia conta a vida até a morte de Tolkien em detalhes fascinantes os quais nos causa ainda
mais admiração pelo professor que nos cativou com sua Literatura Fantástica.
Deixo a curiosidade de vocês aguçada para que o que mais quiserem saber sobre esse grande Escri-
tor e essa obra maravilhosa vocês possam conferir no Livro.

Por, Danie Ferreira

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Abril 2017

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