Optchá - Historia Do Povo Cigano

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CABANA CIGANA

DATA: 06 de outubro de 2021 AULA: 01


TEMA: OPTCHÁ -HISTÓRIA DO POVO CIGANO

OPTCHÁ

POR QUE OS CIGANOS FALAM ISSO?

OPTCHÁ, é uma saudação, um comprimento, porém como a língua CIGANA não é escrita, (não se tem
registro escrito), como nossa língua portuguesa, inglesa, etc. Os ciganos ensinam seus descendentes de
boca a boca isso mesmo... de geração a geração... A língua foi ensinada apenas falando. E foi se perdendo
muito dialetos e corrompendo muitas palavras. Como o povo cigano não vem de uma única etnia, a língua
cigana era uma bagunça só ate a formação de clãs com dialetos específicos , que veremos
depois, tem gente de toda parte do mundo só falando (vários dialetos e tentando se comunicar, a verdadeira
torre de babel) e o pior, ninguém anotou nada, não há registros escritos da língua cigana, nadinha.
Alguns estudiosos não ciganos, fizeram estudos em alguns países com grupos específicos de ciganos, e
descobriram palavras semelhantes na escrita e no sentido, porem muda um pouco no falar de região a região
ou de pais a pais, algums palavras como kali da santa sara tem 2 significados kali do hebraico cigano =
negra ou Cali \kali= cigano(a), como não há um entendimento sobre isso fica valendo os dois, santa sara
kali = santa sara cigana negra, por exemplo.
Sendo assim a língua cigana teve que se adaptar e se tornar uma língua mais bem simples, com dialetos
conhecidos por todos, por exemplo a palavra GAJE = não cigano, impuro, sujo, de fora.
(GAJE , homem não cigano; GAJI, mulher não cigana)

TRIBOS (CLÃS)

Na verdade, de concreto, sabemos que os Ciganos (ROM, o homem cigano; ROMLI, a mulher cigana)
agrupam-se em 7 (sete) grupos ou famílias:
·KALDERASH
·MOLDOWAIA
· SIBIAIA
·RORARANÊ
·HITALIHIÁ
·MATHIWIA
·KALÊ

Então o famoso OPTHÁ significa OLÁ, LEGAL, VIVA, SAÚDE, ALEGRIA, PARABÉNS,
SAUDACÕES e FELIZES.

HÁBITOS

A cultura Cigana nos oferece belos exemplos, que infelizmente a nossa cultura dos não ciganos (GAJE
, homem não cigano; GAJI, mulher não cigana) parece ter esquecido nos atropelos da vida moderna. Dentre
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eles destaca-se o respeito e amor aos mais


velhos, o amor e cuidados com as suas
crianças, o sentimento de família. Para eles
o velho representa a fonte de sabedoria e
experiência que deve ser ouvida e acatada.
A criança representa a possibilidade de
continuidade, a certeza da preservação de
sua cultura. Certamente não encontraremos
um velho cigano em um asilo, nem tão
pouco uma criança cigana em um orfanato,
sequer abandonada pelas ruas. Uma cigana
nunca pratica voluntariamente o aborto. O
casamento para o Cigano representa a
garantia da preservação. Um casamento
entre o povo cigano é sempre muito
comemorado, pois representa uma
oportunidade de reunião e de alegria; não
devemos esquecer que o cigano é acima de
tudo um povo alegre, que gosta de dançar, de festejar. Geralmente). atribuímos ao povo cigano o Dom de
ler a sorte através das cartas (cartomancia) ou da leitura das mãos (quiromancia), mas eles são um povo
com uma habilidade privilegiada para a música. Muitos músicos famosos eram ciganos.

“Muito usado na dança, como um grito de guerra, a expressão Optchá tem o mesmo significado de Bravo,
Olé, vamos, ou seja, um grito de força”, explica a cigana Jade, do clã Kalderash.11 de jul. de 2018
Talvez alguns admiradores da cultura cigana se decepcionem um pouco.

Optchá não é uma palavra de origem rhomá (cigana) e não está presente em nenhum dialeto rom, sinti ou
calon.

Alguns dizem que optchá tem significado húngaro, mas não possui tradução para este idioma, outros dizem
que optchá significa "glória" ou salve mas isso também é mito.

Quando ciganos falam a palavra glória, dizem "slava" e quando querem dizer salve algumas vitzas falam
Sokhranyat', "salvati", entre outras palavras como "berarbe" (salve) no chibi calon.

UMBANDA

Então como essa palavra se popularizou tanto na linha de ciganos de umbanda?

Os artistas quando faziam uma apresentação de dança costumavam falar "olé olé","bravo","força" ou
"optchá" como grito de guerra e entusiasmo com a arte.

Os ciganos da Espanha tiveram maior destaque da mídia fazendo com que todos os ciganos fossem
associados a Espanha pelo senso comum até mesmo por terem influenciado fortemente o flamenco.

A dança foi uma das coisas absorvidas e transformadas pelo povo cigano principalmente na Espanha, com
isso os gritos de guerra "optchá" e "olé olé" também foram absorvidos. alguns artistas ciganos e não ciganos
fora do brasil também dizem "opá".

Essa palavra, portanto, é usada por artistas ciganos e não ciganos para apresentações temáticas no mundo
afora e não se trata de algo tradicionalmente cigano e sim artístico.
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Para manter a cultura viva sem preconceitos, muitos grupos ciganos que lidavam com arte tinham uma
maneira diferente da tradicional para se apresentarem aos não ciganos e outra maneira tradicional fechada
no tsera romani.

Até mesmo a música sofria com variações, pois em alguns países as tradições reais não eram bem vistas
fazendo com que eles precisassem se vestir e atuar como a cultura local determinava para que fossem
tratados como pessoas normais e pudessem ganhar seu dinheiro com arte, isto aconteceu na Hungria.

Esta expressão se popularizou ainda mais por conta do seu uso em novelas como, Explode Coração e Flor
do Caribe, onde é dito que "Optchá" significa "Salve", mas se trata de um equívoco.

É errado usar a palavra "Optchá" na umbanda?

Se tratando da umbanda não é errado, pois misticamente falando, a palavra "Optchá" estará se conectando
a egrégora criada para a linha dos ciganos de umbanda mesmo que esta palavra não seja usada em nenhuma
vitza tradicional cigana, ela terá poder na egrégora umbandista.

A linha cigana representa o símbolo arquetípico dado aos ciganos na umbanda, como a liberdade, arte e
magia que são símbolos que marcaram a etnia cigana sob a ótica comum.

Egrégora significa "união de mentes", portanto a união de mentes em prol daquele culto irá alimentar a
egrégora, dando poder e força para ela trabalhar na sua vida. a força da fé.

Com os ciganos espirituais da umbanda esta palavra terá poder, e bota poder nisso.

"Optchá" portanto ser usado religiosamente não é errado pois faz parte do culto umbandista e dos mistérios
das falanges DE UMBANDA, mas não faz parte da cultura cigana em si.

Egrégora é a condensação de uma forma astral coletiva pela união de duas ou mais mentes consciente ou
inconsciente. Você pode ser envolvido em uma egrégora densa sem nem ao menos se dar conta, caso não
tenha o domínio da sua mente e energias.
RODRIGO BARROS

ORIGEM

A origem do povo rom foi objeto de todo tipo de fantasias. Foram considerados descendentes de Caim, ou
relacionados com a estirpe de Cam. Algumas tradições os identificam com magos caldeus da Síria, ou com
uma tribo de Israel fugida do Egito faraônico. Uma antiga lenda balcânica os faz forjadores (ou ladrões)
dos pregos da cruz de Cristo, motivo pelo qual teriam sido condenados a errar pelo mundo, se bem que não
há qualquer evidência que situe aos ciganos no Oriente Médio nessa época.
Porém os CIGANOS ESPIRITUAIS são todos os clãs ciganos e se denominam de como CIGANOS
UNIVERSAIS, pois para eles todos que se afinavam com a cultura e também os de clãs ciganos , são
socorridos espiritualmente e também são acolhidos pelos CIGANOS ESPIRITUAIS.

Em trabalhos realizados na TERRA, desde que estes sejam feitos elevados e de boa intenção terá a
companhia de bons espíritos.
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Porém, nem todos os trabalhos


feitos em nome do povo
ciganos aqui na terra tem a
verdade e a honestidade, são
trabalhos cobrados e enganam
as pessoas que os procuram em
busca de ajuda.

A equipe espiritual se afasta


deixando a pessoa que faz o
trabalho a sua própria sorte,
pois está agindo de forma errada e intencionalmente.

HISTÓRIA

A história do povo cigano é ainda hoje objeto de controvérsia. Existem várias razões que explicam a
obscuridade que envolve a esse assunto. Em primeiro lugar, a cultura cigana é fundamentalmente ágrafa e
despreocupada por sua história, de maneira que não foram conservados por escrito sua procedência.

Os primeiros movimentos migratórios datam do século X, infelizmente muita informação se perdeu.

Os primeiros grupos de ciganos chegados a Europa ocidental fantasiavam acerca de suas origens,
atribuindo-se uma procedência misteriosa e lendária, em parte como estratégia de proteção frente a uma
população em que eram minoria, em parte como posta em cena de seus espetáculos e atividades.

Outro problema que se deve ter em conta é que a inserção (ou não) na comunidade cigana é uma questão
disputada. Não existe uma delimitação clara dentro da própria comunidade (nem fora) acerca de quem é
cigano e quem não o é.

O termo em português "cigano" (assim como o espanhol gitano e em inglês gypsy) é uma corruptela
de egípcio, aplicado a esse povo pela crença errônea de que seriam provenientes do Egito. No século XVIII,
o estudo da língua romani, própria dos ciganos, confirmou que se tratava de uma língua indo-ariana, muito
similar ao panjabi e ao hindi ocidental. Isso demonstrou que a origem do povo rom está no noroeste
do Subcontinente Indiano, na zona em que atualmente fica a fronteira entre os estados modernos
de Índia e Paquistão.

MIGRAÇÃO

Devido às frequentes guerras entre os rivais bizantinos e otomanos, os roma iniciaram uma nova migração,
a primeira que está documentada. As evidências linguísticas permitem a reconstrução desta nova
peregrinação. Partindo de que os ciganos abandonaram o Subcontinente Indiano, e dali passariam
pelo Irã, Armênia até o Império Bizantino, Síria e Oriente Médio e o Mediterrâneo (da que ficariam
vestígios de vocabulário árabe). Em sua estadia nos Balcãs, a língua cigana absorveu o
vocabulário germânico, mas a ausência desse resto linguístico nos ciganos espanhóis faz pensar que a
migração dividiu-se em dois, antes desse assentamento centro-europeu. Uma dirigiria-se ao oeste, ao
interior de Europa, e outra ao sul, até a Síria. A primeira ponta estender-se-ia por todo o continente europeu,
enquanto a segunda cruzaria a África do Norte para reaparecer na Europa depois de cruzar o estreito de
Gibraltar no século XV, reencontrando-se ambas correntes migratórias em algum ponto do sul da Europa.
Dessa maneira, a chegada dos ciganos à Península Ibérica. Etc...
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GUERRAS

O auge do nazismo e os excessos da Segunda Guerra Mundial fartaram-se com a crueldade com os ciganos.
Em língua cigana, chama-se a esse processo de extermínio "o porraimos", ou "porajmos", a destruição.
Como sempre, é desconhecido o número exato de vítimas. As estimativas vão desde 50 mil a 80 mil (Denis
Peschanski, La France des camps, l'internement 1938-46, Gallimard, 2002, p. 379) até 500 mil a 1 milhão
e meio.
“Só em Auschwitz-Birkenau morreram mais de vinte mil ciganos. E num só dia, em 3 de agosto de 1944,
os últimos 2.897 habitantes das barracas ciganas de Auschwitz, incluindo mulheres e crianças, deixaram
para sempre de cantar e dar-se ao entusiasmo.[20]”
O genocídio cigano é um fenômeno relativamente desconhecido, no que colaboraram com mais ou menos
interesse (igual ao ocorrido no genocídio judeu) às populações autóctones.

CURIOSIDADES:

Hino Cigano

Gelem Gelem (Djelem Djelem) é o hino do povo rom, também conhecido como cigano. Também é
conhecido como Ђелем Ђелем, Џелем Џелем, Джелем джелем, Zhelim Zhelim, Opré Roma e Romane
Shavale, e significa "caminhei, caminhei".
Foi declarado internacionalmente como hino internacional rom durante o Primeiro Congresso Mundial
Rom, celebrado em Londres, em 1971, quando se pensou ser necessário fazer um hino e uma bandeira
comum que unificasse as diversas comunidades ciganas dispersas por todo o mundo.

Letra

Caminhei, caminhei por longos caminhos


Encontrei afortunados roma
Ai, roma, de onde vêm
com as tendas e as crianças famintas?
Ai, roma, ai, rapazes!

Também tinha uma grande família


foi assassinada pela Legião Negra
homens e mulheres foram esquartejados
entre eles também crianças pequenas.
Ai, roma, ai, rapazes!

Avante, roma, agora é o momento,


Venham comigo os roma do mundo
Da cara morena e dos olhos escuros
Gosto tanto como das uvas negras
Ai, roma, ai, rapazes!

SEGUE NO WATZAPP LINK DA MUSICA


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BANDEIRA

A bandeira do povo rom (styago le


romengo em romani) é a bandeira internacional
do povo rom, também chamado de cigano.
Foi aprovada no Primeiro Congresso Mundial
Rom realizado em Londres, no Reino Unido,
em 1971. A bandeira é composta por duas bandas
horizontalmente dispostas de azul em cima
e verde em baixo representando os céus e a terra,
respectivamente. No centro da bandeira, figura
uma chakra vermelha, representando a
herança indo-ariana do povo rom. A Bandeira da
Índia também contém uma chakra.

ANEXO:
A saga cigana

Revista super interessante


A história e os segredos do povo mais misterioso do mundo
Por Da Redação Atualizado em 31 out 2016, 18h54 - Publicado em 31 ago. 2008, 22h00
Texto Luciano Marsiglia
Leia mais em: https://super.abril.com.br/cultura/a-saga-cigana/

Imagine um mundo em que as pessoas não tenham endereço fixo, documentos, conta em banco, carteira
assinada nem história. E que a vida deles passe despercebida, como se não existisse. Que a única certeza é
que nunca faltará preconceito e ignorância, medo e fascínio, injustiças e alegrias ao longo de sua
interminável jornada. Bem-vindo ao mundo cigano.
Ou melhor: à imagem que temos dele. O universo cigano é tão antigo e extenso, tão cheio de crenças e
histórias que nem mesmo seu próprio povo conhece bem o limite entre verdade e lenda. É que o nome
“cigano” designa muitos povos espalhados por quase todas as regiões do mundo. Povos com diferentes
cores, crenças, religiões, costumes, rituais, que, por razões às vezes difíceis de compreender, foram
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abrigados sob esse o imenso guarda-chuva (assim como populações muito diferentes são chamadas de
índios).
A história dos ciganos é toda baseada em suposições. E a razão é simples: faltam documentos. Os ciganos
são um povo sem escrita. Eles nunca deixaram nenhum registro que pudesse explicar suas origens e seus
costumes. Suas tradições são transmitidas oralmente, mas nem disso eles fazem muita questão – os ciganos
vivem o hoje, não se interessam por nenhum resquício do passado e não se esforçam por se manterem
unidos. A dificuldade em se fixar, o conceito quase inexistente de propriedade e a forma com que lidam
com a morte – eliminando todos os pertences do falecido – dificultam ainda mais o trabalho aprofundado
de pesquisa.
Uma teoria, contudo, é aceita pela maioria dos especialistas. A partir da constatação da semelhança entre
as línguas romani (praticada pelos rom, o maior dos grupos ciganos) e hindi (variação do sânscrito,
praticada no noroeste da Índia, onde hoje fica o Paquistão), foi possível elucidar a primeira e grande
diáspora cigana. Um grande contingente, formado, possivelmente, por uma casta de guerreiros, teria
abandonado a Índia no século 11, quando o sultão persa Mahmoud Ghazni invadiu e dominou o norte do
país. De lá, emigraram para a Pérsia, onde hoje fica o Irã. A natureza nômade de muitos grupos ciganos,
entretanto, também permite supor um movimento natural de imigração que tenha chegado à Europa
conforme suas cidades se desenvolviam, oferecendo oportunidade de negócios para toda sorte de viajantes
e peregrinos.
É provável que, pelo caminho, por volta do século 15, tenham passado pelo Pequeno Egito, uma região do
Peloponeso, no interior da Grécia. Pelo menos era de lá que eles diziam vir a quem perguntava a sua origem.
Daí o nome gypsy (em inglês), ou gitanos (em espanhol). Mas, antes disso, ainda no século 13, um
documento escrito por um patriarca de Constantinopla já advertia sobre a presença dos adingánous, um
povo errante que, dizia, ensinava coisas diabólicas. O registro é o primeiro a tratar os ciganos de forma
pejorativa e a registrar o medo que as cidades européias sentiam de suas caravanas.
Era o começo da sina cigana.
“Desde o início do contato com o Ocidente, eles foram causa de conflitos, provocadores de desordem e
subversivos ao sistema. E sofreram todo tipo de perseguições religiosa, cultural, política e racial”, diz
Aluízio Azevedo, mestre em história cigana pela Universidade Federal de Mato Grosso e ele mesmo um
cigano calon (veja no quadro ao lado os principais grupos ciganos). É difícil saber o que veio primeiro:
hábitos pouco ortodoxos ou o preconceito em relação a uma cultura tão diferente. Os ciganos tinham a pele
escura, muitos filhos, uma língua indecifrável e origem desconhecida. Talvez a falta de oportunidades de
emprego tenha sido a causa do seu destino artístico. Eram enxotados e então se mudavam, levando
novidades dos lugares de onde vinham. Assim, surgiu a fama de mágicos, feiticeiros. Se todos acreditavam
nisso, por que não aproveitar para fazer dinheiro? E, então, as mulheres passaram a ler as mãos, a prever o
futuro. Negociar objetos era outra forma de sobrevivência: os ciganos tinham acesso a mercadorias
“exóticas” e podiam levar sua tralha para onde quer que fossem.
Os bandos que chegavam ao continente europeu eram liderados por falsos condes, duques ou outros títulos
de nobreza. Observando os peregrinos europeus, que entravam e saíam facilmente das cidades, copiaram a
idéia de salvo-conduto – uma espécie de pai do passaporte. Os ciganos inventavam que seus documentos
haviam sido expedidos por Sigismundo, rei da Hungria. Justificavam a vida nômade dizendo que bispos os
haviam condenado a peregrinar durante 7 anos como penitência pelo abandono da fé cristã. Alguns dos
salvos-condutos permitiam até que furtassem quem não lhes desse esmolas. Uma tática para aumentar a
chance de ser aceitos nas comunidades, fazer negócios e exibir seus dons artísticos. Até que a farsa acabava
e eles pulavam novamente para outra cidade.
Durante a Reconquista Cristã de 1492, na península Ibérica, árabes, judeus e ciganos foram expulsos –
muitos deles vieram para as Américas. Um século mais tarde, eram varridos da França, por Luís 12, e da
Inglaterra, por Henrique 8o. Logo depois, a rainha Elisabeth 1a decretou que ser cigano era crime punido
com morte. Uma das lendas que surgiram nessa época, e que até hoje perdura, é a de que um dos ferreiros
que fizeram os pregos que prenderam Jesus na cruz era cigano. Por isso, sua gente teria sido amaldiçoada
com uma vida nômade. E dessa forma construiu-se a com as imagens construídas e alimentadas no
Ocidente, foi criado o conceito de um povo cigano.
E o que é ser cigano?
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Definir a identidade cigana é bem mais difícil do que parece. Subdivididos em 3 principais etnias (rom,
calon e sinti), eles não constituem um povo homogêneo. Nem todos falam romani. Nem todos dançam ao
redor de fogueiras ou usam roupas coloridas. Podem ser pobres ou ricos. Podem ser cristãos, muçulmanos,
judeus. O que faz deles um povo é uma sensação comum de não serem gadgés – como eles chamam os não-
ciganos – e de se identificarem como rom, calon ou sinti. “O termo ‘cigano’ só funciona nessa oposição”,
diz o pesquisador Frans Moonen, autor do livro Anticiganismo – Os Ciganos na Europa e no Brasil.
Mas, apesar de todas as divergências, algumas características permitem traçar um perfil comum a esses
grupos. A primeira delas é o espírito viajante. Ainda que nem todos sejam nômades, os ciganos não se
sentem pertencentes a um único lugar. Não criam raízes, não têm uma noção concreta de propriedade –
estão sempre fazendo negócios com seus pertences, preferencialmente em ouro, que não perde valor e é
aceito em qualquer nação (por isso a imagem cigana é vinculada ao uso do ouro como adereço,
especialmente nos dentes das mulheres). Eles não gostam de se submeter a leis e a regras que não sejam as
deles. Prezam, acima de tudo, a liberdade. Assim, podem até se estabelecer por muito tempo em um mesmo
lugar (como é comum entre os sinti). Mas, nesse caso, procuram morar em uma mesma rua ou de
preferência, em acampamentos onde possam preservar sua autonomia e manter a unidade familiar – outro
aspecto primordial na vida cigana.
É em torno da família que uma comunidade cigana se organiza. Há um líder, sempre um homem, nomeado
por mérito e não por herança. Ele é escolhido levando em conta vários aspectos. Um deles, importantíssimo
para conseguir alugar um terreno, montar um circo ou participar de feiras, é ter um documento de
identidade, o que se tornou um verdadeiro desafio – o cigano não consegue registrar o nascimento dos filhos
porque não possui documentos próprios, em um processo sem fim. Também deve ser um bom interlocutor
entre o poder público e seu grupo, além de ter habilidade para resolver os problemas internos do
acampamento. É ele quem dita as regras, divide as tarefas, cria as leis do grupo.
A sociedade cigana é patriarcal, quase machista. Ao se casar, o homem vira o responsável pelo sustento do
lar. A mulher passa a morar com a família do marido e deve cuidar dele, dos sogros, da casa e dos filhos.
Isso costuma acontecer cedo, ainda na adolescência: logo após a primeira menstruação, a menina já é
considerada apta para casar e ter filhos. A noiva deve ser virgem. Tradicionalmente, sua pureza é
comprovada em um dos rituais da longa festa de casamento, em que o lençol da noite de núpcias é exibido
para toda a comunidade. Antigamente, os pais do noivo deviam pagar um dote à família da moça, mas esse
hábito já não existe mais na maior parte dos acampamentos.
O casamento entre primos, no entanto, continua sendo estimulado, também na tentativa de preservar o
núcleo familiar. É natural que em comunidades nômades seja mais difícil acontecer um casamento entre
ciganos e gadgés. Mas é possível e permitido. Nesse caso, o homem ou a mulher deve mudar de vida. Ser
cigano não depende do sangue – se o gadgé optar por se integrar ao grupo, automaticamente vira um deles.
À medida que se estabeleceram na Europa e nas Américas, os ciganos assimilaram cerimônias e ritos
ocidentais. No Brasil, por exemplo, o catolicismo foi adotado pela maioria (é comum encontrar imagens da
Nossa Senhora Aparecida nas barracas). Mas algumas tradições permanecem fortes. A simbologia da morte
é a principal delas. “Quando um cigano morre, há um processo de morte que se instala em todos os
indivíduos do grupo”, afirma Aluízio. Os calon realizam rituais de cura assim que é diagnosticada a doença.
Além de aceitar a medicina tradicional, eles recorrem a rezas, correntes de orações, garrafadas de ervas,
chás e simpatias, geralmente ministradas por uma curandeira do grupo.

Durante o velório, o morto é o centro do ritual e, dependendo da posição que ele ocupava, a família se
reestrutura: uma nova liderança terá que ser eleita. O corpo do falecido é lavado, untado com ervas
aromáticas e vestido adequadamente. Esse momento de sofrimento e cumplicidade é importante para a
identidade do grupo. Como em outras culturas, percebe-se a possibilidade de transcendência. No caso dos
ciganos, esse é o momento de encontrar a sua alma naturalmente viajante.
Em alguns acampamentos, eliminam-se todos os pertences do morto. Até o seu trailer chega a ser queimado.
“É como um corte na história. Nada é guardado, não se resgata o passado”, diz Florencia Ferrari, estudiosa
do assunto e autora do livro Palavra Cigana. Depois da morte de um membro, muitos grupos ciganos se
mudam para outro acampamento.
Os ciganos hoje
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Imagina-se que existam 15 milhões de ciganos espalhados pelo mundo. Como tudo relacionado a esse
universo, essa é só uma estimativa – eles vivem à margem da sociedade e não costumam participar de
pesquisas de censo demográfico.
E isso, por si só, já é uma polêmica. Em maio deste ano, o premiê italiano, Silvio Berlusconi, autorizou que
fosse feito um censo especial para mapear a presença de ciganos sem moradia fixa na periferia das grandes
cidades italianas. O censo incluiria dados como etnia, religião e impressão digital – que não são exigidos
na identidade dos italianos. Os ciganos saíram às ruas em protesto, argumentando que essa seria uma
ferramenta racista e discriminatória.
A medida foi considerada ilegal pelo Parlamento Europeu, já que impõe exigências desiguais a cidadãos
do bloco. Mas os ciganos continuam com medo de ser expulsos do país, ainda que um terço dessa população
não seja nem mesmo imigrante.
O receio é justificável: desde o século 15 os ciganos não têm um momento de folga. Até o século 19, eles
foram escravizados na região onde hoje é a Romênia. Durante a 2a Guerra Mundial, foram perseguidos
pelos nazistas, sendo, de acordo com alguns historiadores, o povo mais dizimado pelo Holocausto: do 1
milhão de ciganos que vivia na Europa, 500 mil foram assassinados. Muitos dos sobreviventes emigraram
para os EUA, daí a lei que impedia sua entrada no estado de Nova Jersey, que só foi abolida nos anos 90.
“Na Europa, em praticamente todos os países, os ciganos são a minoria mais discriminada, muito mais do
que os judeus ou os negros”, diz Moonen. E no Brasil não é muito diferente. O primeiro grupo de ciganos,
de maioria calon, chegou por aqui no século 16, deportados de Portugal. Os rom vieram de forma voluntária
a partir da 2a metade do século 19. Naquela época, eram comerciantes ambulantes de escravos, cavalos e
artesanatos. Hoje compram e vendem carros, televisores e toalhas. Os mais recentes, às vezes bem pobres,
vieram do Leste Europeu após a derrocada da da União Soviética. Alguns são sedentários, mas a maioria
se mantém na vida itinerante. Todos sofrem com desconfianças e preconceitos.
A cidade de Sousa, no interior da Paraíba, é um caso clássico. Os cerca de 450 ciganos fixados há anos por
lá não recebiam entregas de correio nem tinham o lixo coletado em seu acampamento. Curiosamente, muitas
escolas recusavam a matrícula de crianças ciganas. O caso ficou bem conhecido na região: foi necessária a
intervenção da Procuradoria da República da Paraíba para resolver a questão.
Tanto no Brasil quanto na Europa, o analfabetismo entre os ciganos é alto. Por aqui, segundo a historiadora
Isabel Fonseca, 3 em cada 4 mulheres ciganas são analfabetas. Por lá, escolas que só aceitam ciganos têm
os piores níveis de qualidade. A falta de estudo e a vida à margem os empurram cada vez mais para a
criminalidade, o que alimenta as visões deturpadas e generalizadas que sobrevivem desde os primeiros
contatos entre ciganos e europeus. Enquanto não forem compreendidos, eles se mudarão e começarão tudo
de novo. Seguirão vivendo sua saga cigana.
“Parece que os ciganos vieram ao mundo somente para ser ladrões: nascem de pais ladrões, criam-se com
ladrões, estudam para ser ladrões (…).”
– La Gitanilla, Miguel de Cervantes, 1613.
Iguais, mas diferentes
Quem são os 3 principais grupos ciganos

Rom ou Roma

Predominantes nos países balcânicos, principalmente na Romênia, falam romani, a mais conhecida das
línguas ciganas, ciganas, e são o grupo mais estudado pelos pesquisadores. São divididos em subgrupos:
kalderash, matchuaia, curcira, entre outros. Consideram-se os “ciganos autênticos”.
Sinti

Também chamados de manouch, são mais numerosos na Itália, no sul da França e na Alemanha. Falam a
lingua sintó, para alguns pesquisadores, uma variação do romani. Não há estudos que apontem a presença
significativa desse grupo no Brasil.
Calon ou Kalé
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Conhecidos por “ciganos ibéricos”, já que viviam na Espanha e em Portugal antes de se espalhar pelo resto
da Europa e da América do Sul. São os criadores do flamenco e responsáveis pela popularização da figura
da dançarina cigana. Falam a língua caló e são o grupo mais numeroso do Brasil.
Verdade ou mentira?
A origem das histórias do imaginário cigano
Ciganas lêem a sorte
Amparados pelo mistério que os rodeava, os ciganos perceberam que poderiam utilizar a curiosidade dos
povoados sobre o futuro como um modo de fazer negócio e ganhar dinheiro. A crença virou parte da cultura
cigana. Hoje, as ciganas lêem até mesmo a sorte de outras mulheres do grupo, mas, nesse caso, sem dinheiro
envolvido.
Ciganos roubam crianças

Essa crença pode ter vindo do hábito dos ciganos de circo de incorporar à trupe crianças órfãs ou
abandonadas que se encantavam pelo seu estilo de vida. Mas o mais provável é que o medo daquele povo
desconhecido o tenha transformado em uma espécie de bicho-papão para os europeus.
Ciganos são negociantes

É possível que sua vida errante tenha favorecido atividades relacionadas ao comércio. Além de terem acesso
a objetos “maravilhosos” dos lugares por que passavam, conseguiam carregar a sua forma de sustento numa
mala sempre que precisavam levantar acampamento.
Ciganos são trapaceiros

Na Idade Média, aquelas pessoas exóticas e desconhecidos eram vistas como bruxas (muitas foram
queimadas durante a Inquisição). A vida à margem da sociedade muitas vezes os empurrava à
criminalidade. As outras formas que encontravam para ganhar dinheiro – comércio e leitura de mãos –
colocavam à prova sua honestidade. Essa confluência de fatores pode ter criado a imagem do cigano
trapaceiro.
Ciganos falsificam ouro

Tradicionalmente, muitos grupos ciganos dominam o trabalho com metais. Algumas etnias carregam isso
até no nome, como os kalderash (“caldeireiros”, em romani). No Brasil, os ciganos participaram da
exploração de minas de ouro no século 18. Junte-se tudo isso à fama de trapaceiros e fica fácil entender a
crença de que eles falsificam metais.
Ciganos honram a palavra

Como são um povo sem escrita, as leis ciganas são regidas com base na palavra dada. O não-cumprimento
de uma regra ou de um acordo representa uma grande ofensa à sociedade cigana, e quem o faz é
desmoralizado perante o grupo.

Para saber mais:


Anticiganismo – Os Ciganos na Europa e no Brasil
Frans Moonen, Centro de Cultura Cigana, 2008.dhnet.org.br/direitos/sos/ciganos/index.html
História do Povo Cigano - Angus Fraser, Teorema (Portugal), 1997.
Revista SUPER INTERESSANTE:
Leia mais em: https://super.abril.com.br/cultura/a-saga-cigana/

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