Imobilismo Político e Crescimento Económico
Imobilismo Político e Crescimento Económico
Imobilismo Político e Crescimento Económico
UNIDADE 2
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A posição de neutralidade que Portugal assumiu na Segunda Guerra Mundial permitiu a
sobrevivência do regime salazarista. Apesar de alguns sobressaltos e do desencadear de
uma dura guerra nas colónias, a vida política do país manteve uma feição autoritária, a que
nem mesmo a doença e substituição do velho ditador foi capaz de pôr fim.
Este nosso país não soube também acompanhar o ritmo económico das nações mais
desenvolvidas. Mesmo com algumas realizações louváveis, o atraso português persistiu e,
em certos sectores, como a agricultura, agravou-se.
Apesar das campanhas de produção dos anos 30 e 40, o país agrário continuava um mundo
sobrepovoado e pobre, com índices de produtividade que, em geral, não atingiam sequer a
metade da média europeia. Os estudos apontavam como essencial o
redimensionamento da produtividade, que apresentava uma profunda assimetria
Norte-Sul:
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A partir do inicio da década de 50, alguns capitalistas e alguns responsáveis governamentais
passaram a defender que o crescimento industrial deveria ser o verdadeiro motor de
todo o sistema económico nacional. Assim, elaboraram-se planos de reforma, que
tornaram como referencia a exploração agrícola média, fortemente mecanizada, capaz de
assegurar um rendimento confortável aos seus proprietários e, assim, contribuir também
para a elevação do consumo de produtos industriais.
Tal como já tinha acontecido no passado, ergueu-se no contra estas novas medidas, a
cerrada oposição dos latifundiários do Sul, que utilizaram a sua grande influência
política as inviabilizarem. Desta forma, as alterações na estrutura fundiária acabaram
por nunca se fazer e a politica agrária esgotou-se em subsídios e incentivos que pouco
efeito tiveram e beneficiaram os grandes proprietários do Sul e os grandes vinhateiros.
A EMIGRAÇÃO
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No entanto, o maior destino da população rural portuguesa seria, porém, a
emigração para os países desenvolvidos. Embora a emigração fosse uma constante de
longa data na sociedade portuguesa, sofreu, a partir da década de 60, um dramático
aumento.
O destino principal deste novo surto migratório foi sobretudo a França, seguido em
menor escala pela América do Norte e do Sul. O Brasil que até à década de 50 era o
principal destino, perde gradualmente o seu poder de atracção.
Não obstante esta politica restritiva, o Estado procurou salvaguardar os interesses dos
nossos emigrantes, celebrando, no inicio dos anos 60, acordos com os principais
países de acolhimento. Estes acordos permitiram ao país, receber um montante
muito considerável de divisas: as remessas dos emigrantes.
O SURTO INDUSTRIAL
A política de autarcia empreendida pelo Estado Novo não atingiu os seus objectivos.
Portugal continuou dependente do fornecimento estrangeiro em matérias-primas,
energia, bens de equipamento e outros produtos industriais, adubos e alimentos.
Quando os países que tradicionalmente nos forneciam se envolveram na guerra, os
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abastecimentos tornaram-se precários e grassou a penúria e a carestia. Assim, em
1945, a Lei do Fomento e Reorganização Industrial estabelece as linhas mestres da política
industrializadora dos anos seguintes.
Em suma, estes dois primeiros planos mantêm intocado o objectivo da substituição das
importações e a lei do condicionamento industrial.
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Em 1968, a nomeação de Marcelo Caetano para o cargo de Presidente de Conselho
inaugura, com o III Plano de Fomento (1968-73), uma orientação completamente nova.
A implementação deste novo plano veio confirmar a internacionalização da
economia portuguesa, o desenvolvimento da indústria privada como sector
dominante da economia nacional, o crescimento do sector terciário e consequente
incremento urbano.
A URBANIZAÇÃO
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problemas de degradação da qualidade de vida, de marginalidade e de
clandestinidade a que os poderes públicos tiveram de dar resposta.
No período que se seguiu ao fim da guerra, o fomento económico das colónias passou
também a constituir uma preocupação do Governo Central, no âmbito da alteração
da política colonial.
Com efeito, nos inícios dos anos 50, o conceito de província ultramarina não se coadunava
com as formas tipicamente coloniais de exploração dos territórios africanos. O entendimento
das colónias como extensões naturais do território metropolitano tinha, forçosamente, de
levar o Governo de Salazar a autorizar a instalação das primeiras industrias como
alternativa económica à exploração do trabalho negro nas grandes fazendas
agrícolas. Havia necessidade de demonstrar à comunidade internacional que o
Governo Central se empenhava no fomento económico das suas “províncias
ultramarinas” como forma de legitimar este novo conceito de colónias. Acrescia que
a industrialização dos territórios ultramarinos era cada vez mais entendida como um factor
determinante do desenvolvimento da economia metropolitana.
Logo, com o primeiro plano, em 1953, Angola e Moçambique foram contempladas com
avultados investimentos para a criação de infra-estruturas, sobretudo ligadas aos
transportes, à produção de energia e de cimento para a construção urbana que
também urgia desenvolver. A modernização do sector agrícola, tendo em vista a grande
produção de produtos tropicais e a extracção de matérias-primas do rico subsolo angolano,
tendo em vista o mercado internacional que foram também preocupações do I Plano de
Fomento.
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O fomento económico das colónias intensificou-se, com efeito, em consequência da eclosão
da guerra na sequência do lançamento da ideia de Salazar em construir um Espaço
Económico Português (EEP). É no âmbito deste objectivo que se assiste à beneficiação
de vias de comunicação, à construção de escolas, hospitais e, sobretudo, ao
lançamento de obras grandiosas.
Um clima de optimismo instala-se entre aqueles que viam com maus olhos o
Estado Novo, e é numa entusiástica reunião no Centro Republicano Almirante Reis que
nasce a MUD (Movimento de Unidade Democrática), que congregou a força da oposição.
O impacto deste movimento dá inicio à chamada oposição democrática.
Como nenhuma das reivindicações do Movimento foram satisfeitas, concluiu-se que o acto
eleitoral não passaria de uma farsa. As listas de adesão ao MUD, que o Governo
requereu a fim de «examinar a autenticidade das assinaturas», forneceram à polícia política
as informações necessárias para uma repressão eficaz, tendo muitos aderentes ao MUD
interrogados, presos e despedidos do seu trabalho.
Entretanto, o clima de guerra fria foi tomando conta da Europa e as preocupações das
democracias ocidentais orientaram-se para a contenção do comunismo. Desta
forma, em 1949, Portugal tornou-se membro da NATO, o que equivalia estar de
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acordo com os parceiros desta organização, pois o nosso país servia de barreira na
expansão do comunismo e isto permitiu a Salazar afirmar mais o seu regime.
Neste mesmo ano, a oposição voltam a ter uma nova oportunidade de mobilização,
desta vez em torno da candidatura de Norton de Matos às eleições presidenciais,
sendo a primeira vez que um candidato da oposição concorria à Presidência. A sua
concorrência entusiasmou o país, da mesma forma que o desiludiu com a sua desistência,
enfraquecendo assim a oposição democrática.
- o assalto a Santa Maria. Em pleno mar das Caraíbas, o navio português Santa
Maria é assaltado e ocupado pelo comandante Henrique Galvão, como forma de
protesto contra a falta de liberdade cívica e política em Portugal. Apesar da tentativa
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por parte do Governo em evitar a compreensão deste acto, as instâncias
internacionais souberam-no e entenderam-no como um verdadeiro acto de protesto
legítimo.
Para além destes actos oposicionistas, a eclosão da guerra colonial traz ao regime a sua
maior e derradeira prova.
A QUESTÃO COLONIAL
A Partir de 1945, a questão colonial passa a constituir mais um serio problema para Portugal.
A nova ordem internacional instituída pela Carta das Nações e a primeira vaga de
descolonizações tiveram importantes repercussões na política colonial do Estado
Novo.
SOLUÇÕES PRECONIZADAS
Em termos ideológicos, a mística do império, que, na década de 30, fora um dos pilares do
Estado Novo, é substituída pela ideia da «singularidade da colonização portuguesa»,
inspirada na teoria do sociólogo Gilberto Freire, designada como teoria luso-
tropicalismo, que serviu para retirar o carácter opressivo que assumia nas colónias. Esta
teoria garantia ainda o não interesse económico dos Portugueses sob as colónias, e que a
presença destes em África era uma manifestação de extensão, a outros continentes, da
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histórica missão civilizadora de Portugal, explicada, por exemplo, pela falta de contestação à
presença portuguesa.
Esta quase unanimidade de opiniões veio a quebrar-se com o inicio da luta armada em
Angola, em 1961. Confrontam-se, então, duas teses divergentes: a integracionista e a
federalista.
Integracionista Federalista
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A aposta no federalismo, que será partilhada por muitos elementos da oposição, deu lugar,
em Abril de 1961, na sequência dos primeiros distúrbios em Angola, ao chamado «golpe de
Botelho Moniz». Caso insólito em que altas patentes das Forças Armadas, com o apoio do
ex-presidente da Republica (Craveiro Lopes) resolveram actuar pela via legal, exigindo a
Américo Tomás a destituição de Salazar. Porém, destituídos acabaram por ser eles,
e anulada a oposição governamental, Salazar agiu com determinação que lhe era
peculiar, enviando para Angola, os primeiros contingentes militares. Começava,
assim, a mais longa das guerras coloniais que se travaram a sul do Sara.
A LUTA ARMADA
- Em Angola:
- Em Moçambique:
- Na Guiné:
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• distingue-se o PAIGC (Partido para Independência da Guiné e Cabo Verde),
fundado por Amílcar Cabral, em 1956.
Durante treze anos, Portugal viu-se envolvido em três duas frentes de batalha que, à
custa de elevadíssimos custos materiais (40% do orçamento do Estado) e humanos
(8000 mortos e cerca de 100 000 mutilados), chegou a surpreender a comunidade
internacional. Todavia, a intensificação das pressões internacionais e o isolamento a
que o país era votado acabariam por tornar inevitável a cedência perante o
processo descolonizador, ainda que essa cedência tivesse custado o próprio
regime.
O ISOLAMENTO INTERNACIONAL
Esta oposição do Governo português levou a Assembleia-Geral da ONU, sob fortes pressões
dos países do Terceiro Mundo, a colocar sobre a mesa a questão colonial portuguesa. A
questão ganha ainda mais pertinência perante a habilidade de Salazar em transformar
colónias em províncias para não ter que se submeter às disposições da Carta das Nações
Unidas no que aos territórios não autónomos dizia respeito.
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Em 1961, ano em que se inicia a guerra em Angola, Portugal esteve particularmente em foco
nas Nações Unidas, acabando esta organização por condenar o nosso país devido ao
não cumprimento dos princípios da Carta e das resoluções aprovadas. Tal postura
conduziu, ao desprestígio do nosso país, que foi excluído de vários organismos das
Nações Unidas e alvo de sanções económicas por parte de diversas nações
africanas.
Para além das dificuldades que lhe foram colocadas na ONU, os Estados Unidos da
América não apoiaram a manutenção das colónias, visto que os Soviéticos
apoiavam a luta de independência das colónias e que o prolongamento da guerra
afastava os estados africanos de Portugal. Deste modo, não só financiaram alguns
grupos nacionalistas, como a UPA como propuseram planos de descolonização, procurando
vencer as resistências de Salazar que afirmava: «Portugal não está à venda» e «a Pátria não
se discute», encarando o facto de ficarmos «orgulhosamente sós».
Mesmo tendo tentado quebrar esse isolamento através de uma intensa campanha
diplomática junto dos aliados europeus e através do uso de propaganda internacional,
Salazar não conseguiu impedir, internamente as duvidas sobre a legitimidade do
conflito e o descontentamento crescente na sociedade portuguesa. Aquando da
substituição de Salazar, em 1968, tornara-se já claro que o futuro da guerra determinaria
o futuro do regime.
A PRIMAVERA MARCELISTA:
REFORMISMO POLÍTICO NÃO SUSTENTADO
Numa primeira fase da sua acção governativa, Marcello Caetano empreendeu alguma
dinâmica reformista ao regime:
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- permissão do regresso de alguns exilados, como o Bispo do Porto e Mário
Soares;
Popular - ANP;
voto;
Foi neste clima de mudança, que ficou conhecido como «Primavera Marcelista», que se
prepararam as eleições legislativas de 1969, onde a oposição pura e simplesmente não
elegeu qualquer deputado. As eleições acabaram por constituir mais uma fraude. A
Assembleia Nacional continuava dominada pelos eleitos na lista do regime, incluindo apenas
uma ala liberal de jovens deputados cuja voz era abafada pelas forças conservadoras,
acabando por abandonarem a Assembleia.
prisões);
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Alvo de todas as criticas, incapaz de evoluir para um sistema mais democrático, o regime
continua, ainda, a debater-se com o grave problema da guerra colonial.
A política de renovação tentada por Marcello Caetano também teve reflexos na questão
colonial:
- a presença colonial nos territórios africanos deixa de ser afirmada como uma
“missão histórica” ou questão de “independência nacional” para ser reconhecida
por questões de defesa dos interesses das populações brancas que há muito
aí residiam;
Apesar deste novo estatuto vir a ser consagrado na Constituição, em 1971, pouco ou nada
mudava para os movimentos independentistas e para a conjuntura internacional que lhes era
favorável. Assim, a guerra prossegue à medida que se acentua o isolamento
internacional de Portugal evidenciado:
- pela recepção dos principais dirigentes dos movimentos de libertação pelo Papa
Paulo VI, em 1970, traduzida numa humilhação sem paralelo da administração
colonial portuguesa;
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Entretanto, também internamente, apesar da actuação da censura, são conhecidas as
denuncias da injustiça da Guerra Colonial e os apelos à solução do conflito:
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