O Poder Do Poder Versao Final
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AGRADECIMENTOS
À Adesta White e ao Peter Khembo, meus pais, por terem sabido criar
e educar um filho rebelde. Ao Ntsholo, Kwamy e Imma Khembo, meus fi-
lhos a vossa existência tornou a elaboração deste livro um exercício menos
penoso.
A toda minha família que, durante todo este tempo soube compreender
a minha ausência por causa desta marmelada de palavras. À Anifa Saide que
soube muito bem negociar entre a aproximação e a distância, física, en-
quanto eu parecia não sentir que ela precisava de mim e eu dela. Não foi
fácil. À Puxinha, quando a história deste livro começou ainda existíamos.
Ao Michel Cahen, Dominique Darbon, David Hedges, Aurelia Wa
Kabwe-Segatti, Joel das Neves Tembe, Luís de Brito, Arnaldo Caliche,
Colin Darch de quem as críticas e subsídios me encorajaram a não desistir
deste manuscrito. Ao Panganai que me socorreu ao hospital no dia do meu
acidente, em 2009 no meio da pesquisa que resultou neste livro. Este so-
corro permitiu-me retomar a redacção deste trabalho.
A publicação deste livro não seria possível sem o apoio do Serviço de
Cooperação e Acção Cultural da Embaixada da França (SCAC), instituição
a qual manifesto o meu profundo agradecimento.
Ao Ramiro, meu querido tio-pai que sempre insistiu: «Va étudier, mon
fils». Enfim, um grande agradecimento à todos que directa ou indirecta-
mente, contribuíram duma ou doutra forma para este estudo, que ainda não
terminou…
Obrigado
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O PODER DO PODER: OPERAçãO PRODUçãO E A INvENçãO DOS «IMPRODUTIvOS»
URbANOS NO MOçAMbIqUE SOCIALISTA, 1983-1988
RESUMO
Com ênfase na sociologia política e particularmente no processo da pro-
dução social de políticas, este estudo propõe uma nova interpretação da
Operação Produção (OP). Longe do discurso político que sugere uma liga-
ção, objectiva, entre esta política e a sua necessidade sócio-económica de
tornar «produtivos» e úteis à sua sociedade, os «improdutivos urbanos»,
aqui procurar-se-á mostrar que é mais na construção social, na representa-
ção, na percepção, no sistema de referenciais sobre os «improdutivos ur-
banos», partilhada no seio da direcção da Frelimo, nos finais dos anos 1970
e primeira metade de 1980, que leva à adopção e implementação da OP e
ao seu modus operando.
A dimensão subjectiva dos «improdutivos urbanos», a sua invenção po-
lítica é que conduz a decisão que foi oficialmente baptizada de Operação
Produção em 1983. Não quer com isso dizer que a presença de indivíduos
nas cidades, mais do que aquilo que elas podiam suportar, não constituísse
um problema. Mas, isso sozinho não justifica a adopção duma política pú-
blica, muito menos uma que tenha uma dimensão compulsiva.
Baseado em algumas entrevistas, nos documentos de imprensa escrita da
época, principalmente o jornal Notícias e a revista Tempo, a literatura es-
trangeira e nacional acessível, directa ou indirectamente relacionada com
o objecto do estudo, no cruzamento de métodos de ciência política e de his-
tória política, este estudo pretende ser uma contribuição à literatura sobre
a trajectória política, económica e social dum dos países de África que é re-
ferência na adopção da opção marxista do socialismo. É também uma con-
tribuição ao debate académico sobre o processo decisional em África, no
geral e em Moçambique em particular.
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REGARDS CROISÉS
PREFÁCIO
A Operação Produção foi um programa iniciado pelo governo moçam-
bicano nos meados de 1983, logo após o IV Congresso do Partido Frelimo,
para expulsar (palavra certa) coercivamente os desempregados das gran-
des cidades, e enviá-los para remotas zonas rurais, onde – pelo menos teo-
ricamente – iriam cultivar. O programa não surgiu de repente ou sem aviso
prévio, mas foi sim o culminar lógico de tendências sociais e políticas iden-
tificáveis, num momento de crise para o estado moçambicano. O conflito
já prolongado com a Renamo estava a intensificar-se e em consequência o
país estava cada vez mais vulnerável aos desastres naturais tais como as
inundações, a seca e a fome. Mas, mesmo na ausência desses factores agra-
vantes, a Frelimo, como movimento, já tinha mostrado uma tendência no
sentido de um “puritanismo” anti-urbano, caracterizando as vilas e cidades
como corruptas e corruptoras. Uma “operação limpeza”, afinal, foi desen-
cadeada tão cedo que 1975. Além disso, a credibilidade da chamada “en-
genharia social” como instrumento para atingir objectivos políticos e
económicos era ainda elevadíssima na década de setenta, o que se tinha
manifestado em tais projectos ambiciosos como as aldeias comunais.
O descontrolado e afinal incontrolável influxo das populações rurais
para os centros urbanos em busca de emprego e melhores condições de vida
foi percebido pelo governo da Frelimo como grande desafio para o seu pro-
jecto socialista. Assim, a população desocupada nas cidades e vilas au-
mentou, colocando uma pressão adicional nos serviços tais como saúde e
educação. É bem possível que de facto tenha reduzido também a capacidade
do campo para produzir alimentação. Acreditou-se na altura que os “mar-
ginais” ou “improdutivos”, utilizando a terminologia desdenhosa contem-
porânea, virariam quase, inevitavelmente às actividades do crime ou da
prostituição para sobreviver, e a migração para as cidades foi, assim, visto
como contributo para a instabilidade social.
No entanto, a Operação Produção não foi de modo nenhum, uma res-
posta inusitada pelos governos enfrentando o problema da influência de-
sestabilizadora do «lumpemproletariado», ou seja uma subclasse urbana
fora das estruturas normais do controlo. Foi, sem dúvida, uma resposta ex-
trema, e resultou em rupturas sociais em larga escala sem ter, como Carlos
Quembo argumenta neste livro, qualquer impacto perceptível sobre os pro-
blemas que deveria ter ajudado a resolver. Carlos Quembo aponta para
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Lista de ilustrações
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Abreviaturas
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INTRODUÇÃO
Situando a Operação Produção
...21 de Maio de 1983, num comício popular, o então presidente da Re-
pública Popular de Moçambique, Samora Machel (Figura 2), dentre várias
decisões do 4º Congresso da Frelimo, anuncia a necessidade da interven-
ção implacável do estado para inverter o massivo êxodo rural e a presença
excessiva de “improdutivos” urbanos, que eram politicamente percebidos
como causadores da criminalidade, prostituição, vadiagem nas cidades no
geral e em particular nas principais cidades do país (com maior destaque
para a cidade de Maputo). Esta medida devia também conduzir os “impro-
dutivos urbanos” para “actividades produtivas”, sobretudo no campo atra-
vés da agricultura, e nas regiões menos povoadas do país, tais como Niassa
e Cabo Delgado. Numa fase mais avançada devia acabar com os que de-
gradavam as casas do estado, os que não pagavam a renda, devia também
racionalizar a função pública, as despesas do estado e acabar com a ocio-
sidade dos funcionários públicos. Era uma medida fulcral para contribuir
para os propósitos da Revolução.
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Daí a necessidade de acabar com esses males para de seguida criar um am-
biente político, social e económico são e seguro no país. A implementação
deste conjunto de acções em 1983 foi designada, pelo regime, por Opera-
ção Produção (OP). Para além do objectivo de conduzir todos os “impro-
dutivos” residentes nas cidades, principalmente nas três principais do país,
a saber Maputo, Beira e Nampula, à Niassa e Cabo Delgado, para o go-
verno da Frelimo, era necessário também alertar a população rural sobre os
perigos que corria em migrar para estas cidades, sem um objectivo reco-
nhecido e aceite pelo regime. Era necessário também encontrar meios de tor-
nar o acesso à estas cidades difícil e controlar rigorosamente a mobilidade da
população urbana graças, dentre outros, à guia de marcha6 (Figura 6).
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O último grande projecto de desenvolvimento «socialista» lançado pelo estado moçambicano
antes da viragem liberal.
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1979: Introdução da guia de marcha nas cidades do país. Este, que era
uma espécie de passaporte interno, necessário para se deslocar nas cidades
e no campo, era um instrumento de controlo da mobilidade populacional.
Foi fundamental na execução da Operação Produção.
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1988, Maio: Fim da Operação Produção. Esta decisão foi tomada por
Joaquim Alberto Chissano, então Presidente da República Popular de Mo-
çambique, após uma visita de trabalho em Niassa onde confrontou-se com
o sofrimento de alguns “improdutivos” levados aí no âmbito da Operação.
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CAPÍTULO 1
A experiência colonial de gestão urbana
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Antes a capital da província ultramarina de Moçambique era a Ilha de Moçambique, no norte do
país.
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Trabalho forçado instituído para os considerados indígenas pelas autoridades coloniais. Certos
africanos que eram encontrados em situação irregular na cidade de Lourenço Marques eram con-
duzidos ao Shibalo.
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Transvaal, em prejuízo dos farmeiros portugueses, que não viam com bons
olhos este recrutamento. Em resultado da implementação dalgumas políticas
de contenção, o número de moçambicanos reduziu para 40% entre 1906 e
1920 (Penvenne, 1995 : 24).
O artigo N° 1 da lei do passe de 1891 foi um dos instrumentos princi-
pais dos Serviços Indígenas para controlar a mobilidade dos nativos nas ci-
dades. Segundo este, que aplica-se a cidade de LM, nenhum indígena podia
permanecer neste local sem ter um trabalho formal e reconhecido pelas au-
toridades coloniais (Muchangos, 1987 : 125; CMCM/DCU(a), 1999 : 16;
Exposição : 14). A implementação da lei do passe visava, por um lado for-
çar a população africana habitando às cidades, a procurar um emprego,
mesmo se as condições de remuneração não fossem satisfatórias, e doutro
lado, evitar a presença dos africanos indígenas e desempregados nas cida-
des. Assim como preconizava a Operação Produção em 1983, o desem-
prego urbano foi percebido como um mal, do qual era necessário se
desfazer e criou uma necessidade de intervenção política para resolver o
que foi considerado um problema político. Com base nos preceitos da Lei
de 1891 este mal era visto como resultado da preguiça dos desempregados
africanos e não como um problema estrutural da organização da economia
colonial e do mercado de trabalho (Penvenne, 1993).
De acordo com o Estatuto Político, Civil e Criminal dos indígenas de
1926 (Angola e Moçambique) e 1929 (Guiné portuguesa), os indígenas de-
viam respeitar o seu “dever moral de trabalhar”. Para o sistema colonial, o
“trabalho” não significava se não uma actividade plenamente integrada ao
capitalismo colonial. Assim, um indígena vivendo da agricultura tradicio-
nal não era considerado trabalhador e com efeito, devia ser penalizado ao
“dever moral do trabalho”. A liberdade do trabalho reconhecida pelo Acto
Colonial de 1930, não significava se não a liberdade do indígena escolher
o seu patrão. O segundo Estatuto Português das Províncias da Guiné, An-
gola e Moçambique de 1954, reproduz este aspecto.
A cidade era percebida e concebida, por ordem de prioridade, para a po-
pulação branca europeia, para os asiáticos e os mestiços. Uma parte menor
era reservada à população que havia adquirido o estatuto de assimilado.
Quer dizer aqueles africanos, mas que, segundo o código de assistência ao
nativo de 1921, tendo adquirido a cidadania portuguesa, tenham provado ter
aprendido a falar português, terem-se apropriado dos costumes portugueses,
terem assimilado os valores portugueses e que tenham adquirido um emprego
assalariado (Mondlane, 1975 :37). As restrições eram tão evidentes e rígidas
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no geral e Moçambique não foi excepção (Vail & White, 1980). Os indí-
genas que habitavam no meio rural, para além da produção para o seu próprio
consumo, deviam também produzir, obrigatoriamente e intensivamente, o
algodão e o arroz para o interesse da economia colonial portuguesa, que as
considerava culturas de rendimento. E ainda deviam pagar o imposto de
palhota. Tudo isto contribuía para a fuga dos indígenas para as cidades e
para outros países vizinhos, tais como a África do Sul e a então Rodésia do
Sul (Mosca, 2005).
O regresso quase forçado dos trabalhadores migrantes na África do Sul,
após o fim de cada período do contrato, também contribuiu para o aumento
e estabelecimento definitivo, nalguns casos, dos africanos não assimilados
em Lourenço Marques. É necessário notar que sempre que alguns destes
trabalhadores regressavam da África do Sul entre dois contratos, uma parte
significativa ficava em Lourenço Marques, em vez de regressarem às suas
zonas de origem, que era maioritariamente a província de Gaza e Inham-
bane. De tal forma que existiu uma zona dos trabalhadores mineiros no
bairro da Malanga, em Lourenço Marques (Penvenne, 1995).
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CAPÍTULO 2
O crescimento urbano após a independência e o
receio da perca de controlo nas vésperas da libera-
lização económica
Partindo da política das nacionalizações de 24 de Julho de 1976, a da
emancipação e de ruptura com o legado colonial, pelo menos no discurso,
a ocupação das habitações do espaço urbano (abandonadas por a maioria
dos colonos no momento da independência e nacionalizadas pela estado)
pela população outrora “indígena”, que já vinha acontecendo durante o pe-
ríodo colonial, mas de forma reivindicativa, ganhou uma nova dinâmica
nos primeiros anos da independência e intensificou-se durante o conflito
armado que opós o governo da Frelimo e da Renamo. Feita à uma forte in-
tensidade, não “regulamentada”, por um Estado ainda frágil e por cima pre-
cocemente marcado por um conflito armado, os efeitos dessa ocupação
puseram em causa as pretensões dum estado que se queria de providência,
que não teve outra escolha se não rejeitar o usufruto duma das conquistas
da independência (a ex-cidade colonial) à um segmento significativo da
sua população, agora designada de “improdutiva”. As coisas não aconte-
ceram de forma linear e simples. Quais eram as possíveis formas de con-
trolo ? Quais foram as consequências do crescimento urbano descontrolado
? Estas são as questões abordadas neste segundo capítulo.
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fins dos anos 1940, acontecia também o aumento da população branca, de-
vido à política de branqueamento levada a cabo pela administração colonial.
O recenseamento de 1970 indica 378 348 habitantes para Lourenço Mar-
ques, 101 754 para Matola e 46 293 para o Conselho da Beira13.
No momento da independência, Maputo contava 505 000 habitantes
(Vivet, 2015; Allan Rodrigues, Noticias, 4 de Junho de 1983). O primeiro
recenseamento depois da independência, feito em 1980, indica que os nú-
meros passaram à 739 077 para Maputo e 214 613 para Beira14. Segundo
António Hama Thai, que era Secretário do Comité da cidade de Maputo, de
Outubro de 1981 a Junho de 1982 o número de habitantes na cidade de Ma-
puto passou de 750 000 para 850 000 (The Guardian, dia 15 de Junho de
1982). Nampula tinha 23 072 habitantes em 1970 e 145 772 em 1980
(Araújo, 2003). Entre 1970-1980 a população urbana do país multiplicou
7,5 vezes e a taxa média de crescimento dessa população, à excepção de
Quelimane e Beira, ultrapassou 20%.
Um ano e meio depois do recenseamento de 1980, se percebe que houve
um novo aumento de 100 000 habitantes na cidade capital, passando de
739 007 à 850 000 habitantes (Allan Rodrigues, Notícias, 4 de Junho de
1983). Estes espaços, outrora percebidos pelo sistema colonial em tanto
que zona branca, mestiça e incluindo alguns “assimilados” aparecem quase
que “repentinamente” disponíveis para a antiga população “indígena”.
Este crescimento resulta de vários factores. Nos finais dos anos 1970, o
país recentemente independente conhecera uma guerra interna, que trouxe
o deslocamento das famílias no sentido campo-cidade. Segundo uma re-
portagem na revista Tempo feita por António Elias (N° 948, 11 de Dezem-
bro de 1988:19), no distrito urbano N°. 2 da cidade de Maputo, as
autoridades locais enfrentavam o problema do estabelecimento de 5 635
famílias deslocadas vindas das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane
(Vivet, 2015). Sobre o papel do conflito na intensificação do êxodo rural,
apesar do posicionamento de Anne Pitcher (2002 : 104), segundo o qual a
guerra deslocou cerca de 3,7 milhões de moçambicanos é importante mos-
trar que não foi somente o conflito por si que levou ao deslocamento das fa-
mílias ou doutros que habitavam o campo.
É sobretudo a percepção que se construiu, foi interiorizada e apropriada
pelos deslocados, segundo a qual, a cidade oferecia melhores condições de
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É o equivalente colonial dos municípios do período pós-colonial.
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Lourenço Marques passou a designar-se cidade de Maputo logo após a independência.
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população da Beira quase que duplicou, passando à 214 613 (Araújo, 2003).
A maioria dos deslocados aqui vinha, provenientes doutras províncias do
centro do país. Quanto à Nampula, terceira cidade do país, ela acolhe os
deslocados da região norte de Moçambique.
Outro aspecto que contribuiu para a “africanização” ou “moçambicani-
zação” das zonas urbanas em geral e em particular das cidades, foi a polí-
tica das nacionalizações introduzida pelo governo da Frelimo logo após a
independência, exactamente aos 24 de Julho de 1975 (Tempo, 1 de Agosto
de 1976). Como consequência disto, no dia 3 de Fevereiro de 1976 os pré-
dios, que durante o período colonial estavam restritos aos colonos, foram
nacionalizados e a sua ocupação, pelos moçambicanos estimulada. Um dos
impactos imediatos foi a sua ocupação, de certa forma eufórica, pela maio-
ria daquela população que antes vivia na periferia das cidades ou nas zonas
rurais, contribuindo assim para o aumento da população urbana. Este au-
mento da população urbana não foi seguido do crescimento do número dos
imóveis para habitação, nem de melhoramento ou redimensionamento das
infra-estruturas urbanas para acomodar à esta nova realidade dessas cidades,
construídas sob o rigor e interesses da colonização portuguesa, para uma po-
pulação branca e minoritária na época. Assim, a degradação das cidades, que
já começara, se agrava durante o conflito e principalmente nos anos oitenta.
Segundo Muchangos (1989), em 1989 Maputo, por exemplo, era uma das
cidades mais degradadas da África Austral. Suas infra-estrututuras (sistema de
abastecimento de água, o sistema de esgotos, as estradas) estavam longe de
responder às demandas da população urbana. No discurso oficial do partido-
Estado foi o fluxo progressivo e massivo da população rural às cidades que foi
apresentada como a causa. Isso motivou a convocação da primeira “Reunião
Nacional sobre as Cidades e Bairros”, realizada em 1979 na cidade de Maputo,
onde o discurso político e a construção da argumentação prática, como sugere
Fairclough & Fairclough (2012) justificaria a adopção de algumas medidas
coercivas de evacuação e ou restrição cerca de quatro anos mais tarde.
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O Estado-providência em crise?
O Estado dirigente, definido na constituição da República de Moçambique
de 1975, via o seu papel social posto em causa, sobretudo no meio urbano e par-
ticularmente na cidade de Maputo. À excepção do milho e do arroz, a capaci-
dade do Estado de providenciar alimentação à população urbana baixa
consideravelmente nos anos anteriores à OP. Assim, segundo os dados da Co-
missão Nacional do Planeamento, da Direcção Nacional de Estatística, de 1981
a 1982 o aprovisionamento em farinha de milho passa de 58 000 a 55 900 to-
neladas, farinha de trigo de 96 000 a 85 100 toneladas, batata de 20 300 a 15
500 toneladas, peixe de 28 700 a 25 500 toneladas, carne de vaca de 9 600 a 6
400 toneladas, carne de cabrito de 2 000 a 800, carne de galinha de 4 000 a 2
800, cebola de 5 400 a 3 300 toneladas, açúcar de 89 100 a 78 000 toneladas,
óleo de 21 400 a 17 000 toneladas, feijão de 14 900 a 2 100 toneladas. De 1981
a 1982, por causa do fracasso da implementação do Plano Prospectivo Indica-
tivo (PPI), que visava as grandes machambas estatais em detrimento do sector
familiar, a produção baixa na maioria dos sectores do país (Frelimo, 1983).
Já identificados aquando da primeira Reunião Nacional sobre Cidades
e Bairros Comunais de 1979, os problemas de aprovisionamento em ali-
mentos, foram interpretados (aquando do 4° Congresso em 1983) não so-
mente como resultados da destruição da base económica colonial (Frelimo,
1979 (b), mas também como fruto da massiva migração campo-cidade. Para
além destes dois factores, a redução da capacidade do Estado também foi
provocada pela baixa da produção após a independência e pelo fracasso da
produção agrícola (com excepção da agricultura urbana nas “zonas ver-
des”16), incapaz de responder às demandas. Também foi imputada a gestão
16
As “zonas verdes” foram terrenos situados nas periferias das cidades identificados pelas autori-
dades e atribuídos à população urbana para a práctica da agricultura por forma a cobrir o défice
de fornecimento de alimentos nas zonas urbanas. Segundo a visão da Frelimo na época (fim dos
anos 1970 e princípios dos anos 1980) as cidades deviam também, com isso, ser autosuficientes.
Para além da agricultura, estas zonas deviam contribuir para a preservação do meio ambiente,
para a recreação da sua população e para a expansão das mesmas.
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Não é por acidente que o governo assinou o Acordo de Incomati em Março de 1984, um acordo
de não agressão e boa vizinhança com o país vizinho, uma potência regional sob o regime segre-
gacionista do apartheid.
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Frelimo na sua fase radical, que não beneficiava a economia rural desen-
corajou sem no entanto, permitir a emergência duma nova ordem econó-
mica sustentável: é neste contexto que o país não terá mais escolha.
Como diz Cahen (1987 : 34 – 37), no princípio dos anos 1980, Samora
Machel (então presidente da República) sabia que a URSS refutaria a en-
trada de Moçambique no Conselho de Ajuda Mútua Económica (CAME).
Isto significava que a União Soviética não reconhecia a Frelimo como um
partido verdadeiramente socialista e não lhe concedia o apoio massivo ne-
cessário para a sua recuperação económica, apoio militar, fornecimento de
equipamento e treinamento do seu exército. Mas também a União Soviética
já apoiava Cuba e o Vietname. Não estavam interessados em apoiar um
outro país do “terceiro mundo”. Assim, os dirigentes do país já realizaram
nesta época, a necessidade de se curvar ao Ocidente. É parcialmente por
este motivo que o PPI, apesar da sua orientação ainda do tipo socialista, foi
paradoxalmente fundada sob a hipótese dum apoio do Ocidente.
Donde a necessidade de aderir às instituições de Breeton Woods, tais
como o Banco Mundial (BM) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI)
e à convenção de Lomé e a necessidade de negociar com o regime de Apart-
heid vizinho, para a transição económica. Transição económica liberal, que
na percepção da elite dirigente da Frelimo não significava transição política
para a democracia18. A assinatura do Acordo de Inkomati, aos 16 de Março
de 1984 com a África do Sul, precedida por reuniões em Nkomatiport-
África do Sul e em Mbabane-Suazilândia em 1982 e 1983 respectivamente,
vem mostrar esta tendência de transição. Prevendo o fim das agressões e
boa vizinhança entre os dois países, o fim do apoio sul-africano à Renamo
e moçambicano aos membros do Congresso Nacional Africano (ANC), este
acordo permitiria o desbloqueio da ajuda americana ao país, principalmente
em alimentos (Hall & Young, 1997 : 149). Na mesma lógica, Joaquim Chis-
sano, na qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros, fez a sua pri-
meira visita oficial à Alemanha Ocidental em 1982, o que permite o apoio
deste país à Moçambique. O reconhecimento da Alemanha Federal abre as
vias para a adesão de Moçambique à convenção de Lomé e para a ajuda da
Comunidade Económica Europeia. Com Portugal, vários acordos foram
assinados em 1982, até no domínio da cooperação militar.
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Esta informação resulta duma conversa-entrevista com Michel Cahen, pesquisador no antigo Cen-
tro de Estudos da África Negra de Bordeus, na França.
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CAPÍTULO 3
Conteúdo ideológico da Operação Produção
Quais as diferentes interpretações da Operação Produção? Que signifi-
cado político pode ser atribuído? A sua implementação foi numa lógica do
individualismo metodológico ou de redes de autores políticos e de organi-
zações? Que relação pode-se estabelecer entre esta Operação e a desordem
social urbana? Este capítulo gravita sobre estas questões e traz uma expli-
cação desencantada da OP. Ela foi objecto de várias reflexões, das mais
simplistas, rápidas e caricaturais, até às mais sofisticadas no meio acadé-
mico. Sempre tendo em conta os seus elementos, e sem querer impor novas
respostas, vamos confrontar estas diferentes interpretações num contexto
mais abrangente da produção social da política.
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houve nenhum homicídio, nem assalto a mão armada e nem roubo violento
em Maputo, apesar de ter havido cerca de seis roubos não violentos e duas
agressões graves. Em todo o país o número de incêndios, de violações con-
tra pessoas reduziu para a metade. Roubos, assaltos a casas e outros crimes
reduziram cerca de 20%. Esta redução, segundo o discurso (Partido Fre-
limo, 1983) deveu-se, não a evacuação dos improdutivos como a OP iria
implicar, mas sim, ao aumento da vigilância popular e pelo papel decisivo
da PPM e das forças da defesa na protecção do povo. Uma questão se impõe
aqui: Porquê é que a liderança da Frelimo insiste na ideia da OP se esta
mesma liderança concluiu que a redução do crime não estava associada a
evacuação dos improdutivos, mas sim ao envolvimento popular na vigi-
lância e ao reforço da PPM e das forças da defesa ?
Marcelino dos Santos, na altura membro do bureau político da Frelimo
e governador de Sofala (Notícias, 9 de Agosto de 1983) e Teodato Hun-
guana, na época um dos vice-ministros da Administração Interna (Notícias,
20 de Agosto de 1983) apresentam a OP como uma ofensiva organizacio-
nal para além da luta contra o desemprego: ela devia também purificar a ci-
dade dos parasitas que criavam espaço para infiltração do inimigo. Ela era
uma reedição da experiência da luta anti-colonial, estreitamente ligada ao
processo da revolução nacional-democrática-popular (Naftal Donaldo,
Notícias, 20 de Agosto de 1983).
Inspeccionando até as residências, a OP difundia a ideia segundo a qual
era necessário proteger e valorizar as conquistas da Revolução contra a “sa-
botagem” dos bandidos armados e os inimigos dessa Revolução, e contra
uma ameaça de infiltração dos bandidos armados até ao centro urbano (No-
tícias, 10 de Outubro de 1983). É assim que foram criadas as brigadas de
controlo do parque imobiliário do Estado, constituídas pelo MI, APIE e
OMM (Notícias, 23 de Julho de 1983). Esta ideia de ligação entre essa ope-
ração e a protecção das conquistas da «Revolução» é também visível na
afirmação de Alberto Massavanhane:
«A inspecção das casas… é sobretudo uma acção política… enquadrada na
OP que tem por objectivo a valorização da nacionalização das casas, uma
conquista maior da revolução…» (Notícias, 29 de Julho de 1983).
Na verdade, a inspecção às casas era restrita àquelas formais, onde antes
estavam os portugueses, e que foram tomadas pela população africana, após
1975. Mas também aqui as rendas das casas foram mantidas baixas. Fre-
quentemente calculadas como uma percentagem do salário, em vez de
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fixado ao valor comercial do imóvel. Isto permitiu que muitos, que antes vi-
viam nas casas de caniço25, na periferia das cidades, ocupassem as casas.
Não sendo capazes de pagar a renda, o estado assumiu que fossem “im-
produtivos”, sem salários. Isto sugere que se tratava de expulsar os resi-
dentes “informais”, sem salário e por fim sem condição de pagar a renda,
a fim de os substituir pelos residentes “formais”. Segundo o modelo da Fre-
limo de organização das cidades, somente os “capazes “ deviam residir na
cidade-cimento, não as pessoas “incapazes”. As conquistas da Revolução
das quais fala Massavanhane, é a propriedade do estado sobre os imóveis,
que este pretende rentabilizar. Daí que era necessário expulsar todos aque-
les que não podiam pagar a renda ou os que destruíam as casas.
Nos finais dos anos 1970 e sobretudo num contexto de conflito armado,
o modelo de ordem política que a Frelimo pretendia impor logo após a in-
dependência se ressente duma ameaça. A cidade era vista como local de
possíveis manobras dos inimigos da Revolução. Da mesma forma que nas
“zonas libertadas” durante a luta anti-colonial, também era necessário in-
teriorizar nos habitantes das cidades a disciplina partidária e o trabalho co-
lectivo para fazer dos bairros uma das bases para o desenvolvimento das
“relações sociais socialistas”. Neste momento, foi desenvolvido o conceito
de bairros comunais26. Era necessário prestar uma atenção particular aos
jovens, para que estes pudessem desenvolver actividades produtivas: a ci-
dade sendo um local central de luta de classes, e os jovens potenciais con-
sumidores de diversas ideologias, podiam, sem o enquadramento político
do partido, ser um perigo à consolidação das conquistas da independência
e um viveiro de tensões latentes nas cidades.
Contudo, longe do que foi apresentado e assumido no discurso sobre o
“Homem Novo” e sobre o objectivo de tornar este homem útil à sociedade
(Tempo, 19 de Junho de 1983), a OP se mostrou na prática distante deste
objectivo. Tratava-se de eliminar da cidade os “indesejáveis”. Muitas pes-
soas foram arbitrariamente expulsas. Assim, Bento José que antes era fun-
cionário da Comissão dos Habitantes do bairro George Dimitrov, mas que no
momento da OP se encontrava desempregado, foi expulso (Notícias, Junho de
1983). José e outras pessoas que viveram a mesma experiência, não eram pa-
rasitas da cidade, não eram preguiçosos nem inúteis à sociedade urbana,
25
Casas construídas de material precário.
26
Aqueles cujos habitantes assumem tarefas políticas e de organização, tarefas de produção e do
aprovisionamento de mercadorias, tarefas de desporto, educação, saúde, de ordem e segurança
pública.
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Pois a maioria dos seus dirigentes tem um forte background militar. Eles são igualmente oficiais
das Forças Populares de Libertação de Moçambique, mesmo se para alguns seja somente simbólico.
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não podem habitar as cidades, pois não têm meios, elas são parasitas nas
cidades e constituem um risco para a preservação das conquistas da revo-
lução. Por este motivo é necessário lhes expulsar e lhes fazer produzir para
o bem da sociedade» (Narciso Castanheira, in Tempo, 4 de Setembro
de 1983).
Foi nestes termos que a OP foi justificada e implementada. A extensão
da definição social do risco mostra bem que se tratava dum meio social : a
expulsão de mais ou menos todo sector informal. A negação do direito ao
espaço urbano ao lumpen proletariat, contrariando assim a euforia dos anos
imediatos à independência quando a ocupação dos espaços urbanos pelos
moçambicanos, rejeitados antes pelo governo colonial, foi estimulada, en-
corajada e promovida. Mesmo no comício popular de 21 de Maio de 1983
onde o então presidente da República apresenta ao público as decisões to-
madas pelo 4º Congresso, dentre as quais os objectivos da Operação Pro-
dução, estas são apresentadas como tendo emanadas do povo e trazidas ao
Congresso através dos seus delegados, que meses antes, em preparação
deste, haviam feito consultas ao povo moçambicano. Assim, segundo a li-
derança do partido, a evacuação dos “improdutivos”, que era da essência da
OP, não foi uma decisão do partido-estado Frelimo.
Mas sim, do povo materializada pelo partido como o único legítimo
condutor e guia do povo moçambicano. Embora tenha sido assim cons-
truída, como sendo uma abordagem de política pública bottom up na ver-
dade a OP obedeceu um sentido inverso. Como veremos mais adiante, antes
mesmo do 4º Congresso e certamente antes de 20 de Junho de 1983, altura
que inicia a fase voluntária da Operação, a ideia já estava presente. A de-
tenção e julgamento sumário de indivíduos acusados de prostituição, va-
diagem, vagabundagem e de “inúteis” à sociedade urbana, data dos anos
imediatos a independência. As diferentes operações de “limpezas”, os cam-
pos de reeducação (embora com fins diferentes dos da Operação Produ-
ção), as campanhas selectivas desencadeadas pela Polícia Popular e pelas
forças de Defesa e Segurança Nacional não foram medidas propostas pelo
povo moçambicano. Nos julgamentos sumários, feitos pelos juízes aloca-
dos a cada bairro das cidades, os seus veredictos, a produção de provas ou
a confirmação do estatuto de criminoso, vadio ou vagabundo dependia es-
sencialmente dos depoimentos das autoridades locais.
Estes aspectos se verificaram aquando da OP. O que sugere que 20 de
Junho de 1983 somente oficializou o que na prática já vinha acontecendo.
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Blog: (http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2007/11/operao-produo-e.html, https://pt.wi-
kipedia.org/wiki/Armando_Guebuza), consultado no dia 23 de Fevereiro de 2016.
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[O primeiro nome não foi divulgado por opção do entrevistado].
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Principal Legislação Promulgada pelo Governo da República Popular de Moçambique, Volume III, de
25 de Junho de 1975 a 25 de Junho de 1976. Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique : 1976.
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Blog : (http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2007/11/operao-produo-e.html) consultado no dia
23 de Fevereiro de 2016.
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interior (Armando Guebuza). Tanto que, alguns dos incorporados por esta
operação, tais como Herbet Jossias (figura 8), Manuel Fernandes (figura
9), entrevistados aos 15 de Julho de 2016, falam mais de Samora Machel e
não de Armando Guebuza.
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CAPÍTULO 4
A Operação Produção e as suas consequências
económicas, políticas e sociais
A Operação Produção foi oficialmente uma medida dos anos 1980 que
visava acabar com um fenómeno social mais complexo do que a sua re-
presentação política cujas suas origens são longínquas. A sua implementa-
ção não esteve a medida da sua complexidade. A crença exagerada na
capacidade dum estado já fragilizado desde o início, deve ter traído aque-
les que a pensaram, conceptualizaram e lhe implementaram. Julius Lhonv-
bere (2004), sem se limitar ao culturalismo, indica que um dos maiores
problemas das políticas públicas em África em geral é a incapacidade dos
seus líderes de criar e implementar políticas viáveis e efectivas e que se
ajustam ao ambiente político, económico e sócio-cultural do funcionamento
desta mesma política. Dominique Darbon e Ivan Crouzel (2009) sublinham
o carácter anacrónico, a importação e a imposição de políticas públicas, de-
sajustadas da realidade. Isso leva à uma situação de instabilidade crescente,
de degradação infra-estrutural e institucional, à pobreza, à fome, às doen-
ças, à ineficácia burocrática, e ao quase colapso das instituições. A OP não
teve os efeitos que justificaram a sua implementação, como mostra o ba-
lanço das actividades em Abril de 1984. Este capítulo procura então com-
preender quais foram as consequências desta medida nos diversos domínios
e se ela significou, ou não, a resolução do problema que motivou a sua im-
plementação.
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Como se pode ler no jornal Notícias de 7 de Outubro de 1983.
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O balanço das actividades de Abril de 1984 fala dum certo sucesso político
da OP. Este balanço, para além de reforçar a ideia de que a OP tinha uma meta
política, como também é argumentado aqui, não especifica a natureza deste su-
cesso. Pelo contrário, certos autores avançam a hipótese dum reforço da Re-
namo, como resultado da OP. Robinson (2006 : 235) argumenta que ela
ofereceu à Renamo uma fonte importante base de recrutamento de soldados.
Certo que este aspecto ultrapassa o foco desta obra e a ser, careceria de
uma pesquisa aprofundada e separada. Mas relatos de fugitivos da Opera-
ção Produção que terminaram nas bases da Renamo no distrito de Sanga
vieram de muitos entrevistados. Moisés Samson, José Ngovene e Domingos
Tembe, entrevistado aos 13 de Julho de 2016, fazem menção dos que aca-
baram na base da Renamo em Xilocote, algures no distrito de Sanga. Assim
foi quando tentaram escapar de Unango, para regressarem a Maputo. “É
por isso que quando a Renamo atacou a Empresa Agrícola de Unango, em
1986/7 chamava pelos nossos nomes. E nós paravamos pensando que eram
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CONCLUSÃO
Resultado duma construção social associada às representações, do refe-
rencial e aos sistemas de percepção dos dirigentes políticos da época, con-
frontados à um contexto económico, político e sócio-cultural específico e
à uma herança colonial ainda presente, a OP não pode ser compreendida se
não neste ambiente onde ela é simultaneamente produto e produtor.
Várias explicações foram avançadas para alcançar a dinâmica desta realidade
emblemática da trajectória social, política e económica do Moçambique pós-co-
lonial. As vezes um modelo “socialista” de gestão do espaço urbano, outras uma
vontade política de reafirmar e impôr o monopólio da coerção legítima, alí a ne-
cessidade de consolidar o poder do estado, acolá consequência da marginaliza-
ção da economia nacional num contexto de crise internacional e regional, noutro
sítio a última tentativa de controlar as cidades e de acabar com o sector informal
antes da viragem liberal, e outros, estão entre os esforços académicos ou não para
compreender esta medida. A complexidade própria da produção social de políti-
cas – para emprestar Lagroye (2006) – a relação de forças no processo de cons-
trução de políticas públicas (assume-se aqui que a OP é uma política pública), sua
implementação, a necessidade de lhe fazer aceitar e de legitimá-la, implica a mo-
bilização de diferentes pontos de vista.
Pode-se compreender que a OP foi pensada, elaborada, concebida e im-
plementada num contexto de crise económica emergente que trazia con-
sigo uma crise generalizada do Estado. Foi num contexto de aumento da
migração campo-cidade, de desemprego acentuado, não somente nas cida-
des, mas como também no campo; durante um conflito armado, misturado
com a crise da rede de comercialização, controlo dos preços, etc. que mexia
com a produção camponesa, a agricultura e todas as outras actividades eco-
nómicas das quais a maioria da população moçambicana se dedicava para
sobreviver. Os anos 1980 também foram marcados pelas calamidades na-
turais (seca e inundações), que associadas ao conflito e à crise económica
já presente, logo após a independência, vai piorar as condições da produ-
ção camponesa e enfraquecer a capacidade de intervenção dum estado-pro-
vidência nas cidades. Como consequência, uma parte dessa população vai
procurar meios de sobrevivência nas cidades. Mas se bem que estes aspec-
tos não devem ser minimizados para explicar a OP, avançou-se aqui a ideia
de que as origens do fenómeno devem ser procuradas do lado da sociologia
política, particularmente da problemática da produção social de políticas.
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Operação. Bem que o objectivo acentuou mais sobre a maneira de lhe aplicar,
que sobre o conteúdo, a OP foi mesmo assim precedida dum debate – não
público – entre as diferentes sensibilidades no seio da Frelimo.
Esta Operação entra assim na visão global da Frelimo, um partido-es-
tado, partido único que se apresenta como “marxista-leninista” (oficial-
mente em 1977), como o único representante legítimo dos interesses do
“povo” moçambicano e que tem uma visão autoritária e militarizada sobre
a organização da ordem política. É difícil compreender o carácter coercivo
da OP sem captar a realidade deste partido dirigente. Certamente que existe
o indivíduo, mas para além deste, está-se em presença duma acção colec-
tiva, duma instituição, dum sistema político, dum estado que confunde uma
certa modernização com a transição socialista.
Assim, a OP não foi possível se não pela existência dum “quadro men-
tal” anterior, segundo o qual é toda a população moçambicana que devia ser
“organizada”, “modernizada”, “moçambicanizada”, transformada numa
massa nacional de “Homem Novo” – o paternalismo autoritário, expressão
do paradigma de modernização rápida, está na base dessa percepção duma
elite produzida pelo, ou a margem dum estado colonial.
O estado “da Frelimo” é um estado que deriva dum sistema colonial es-
truturante, e donde principalmente, o modelo autoritário, está ligado a ideo-
logia colonial de exploração e de reprodução da colonização. Para
compreender a OP esta herança não pode ser minimizada. Contrariamente
ao discurso de ruptura com tudo que fora herdado da colonização (por exem-
plo a exploração do homem pelo homem, a discriminação, o racismo, o de-
semprego, a exclusão do acesso às cidades, o sistema económico e político)
é possível estabelecer um certo paralelismo no espírito da OP, sobretudo no
que concerne a percepção do desempregado, do trabalho “útil” e do que ele
representa no meio urbano, com o modelo colonial do “indígena” “vaga-
bundo” e “preguiçoso”. Sem ser uma reprodução exacta, mesmo o conceito
desta Operação, remete à experiência do modelo de gestão da mobilidade
populacional e das cidades, durante a colonização. A época mudara, o próprio
estado também mudou, o contexto internacional mudou, mas o paralelismo
quanto ao imaginário social sobreviveu a estas mudanças de contexto.
O carácter coercivo desta Operação e o seu desajustamento com a rea-
lidade da sociedade sobre a qual ela devia ser aplicada, levou à um fra-
casso. E o facto que o discurso sobre as suas consequências, tenha
acentuado um certo sucesso político, sugere o questionamento daquilo que
foi apresentado inicialmente como seus próprios objectivos. Esta medida
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ANEXO
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BIBLIOGRAFIA
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Documentos institucionais
«Combate Popuar contra a Criminalidade» in Circulares da Sede
Nacional da FRELIMO Colecção Palavras de Ordem no.3, 11 de Agosto de
1976, (Maputo: DIP, s.d.), p.3-8.
ASSEMBLEIA POPULAR, «Resolução 5/84 sobre os trabalhos da 12ª
sessão da Assembleia Popular».
ASSEMBLEIA POPULAR (1984), Síntese geral sobre o balanço das acti-
vidades do estado (PEC 84 e orçamento do estado), 12.ª sessão, Abril/84,
Boletim Oficial de Moçambique (1984), Lourenço Marques, Imprensa
Nacional de Moçambique, 15 Julho.
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Exposição
Exposição Xilunguine: as origens da cidade, Maputo: Centro de Estu-
dos Brasileiros, 20 julho – 10 Agosto, 2005. (Commissaires: António Sopa
et Bartolomeu Rungo).
Entrevistas
− Araújo, Manuel de, Docente e Universitário na Universidade Eduardo
Mondlane, entrevistado aos 20 de Maio de 2010, na cidade de Maputo.
− Bila, Custódio, agente de seurança do estado nos anos 1980s, entrevista aos
23 de Dezembro de 2009, na Matola Rio, Boane, Província de Maputo.
− Chiao, João, Secretário do bairro de Maxaquene na época da Operação
Produção, entrevistado aos 09 de Janeiro de 2010 na cidade de Maputo.
− Frangoulis, António, oficial da polícia, entrevistado aos 12 de Abril de
2016 na cidade de Maputo.
− Gimo, André, funcionário do Ministério da Administração Interna
aquando da implementação da Operação rodução, entrevistado aos 8 de Ja-
neiro de 2009 na cidade de Maputo.
− Honguana, Teodato, Segundo Vice-Ministro da Administração Interna
aquando da implementação da Operação Produção, entevistado aos 05 de
Janeiro de 2010 na cidade da Matola.
− José, Alexandrino, Arquivo Histórico de Moçambique, Docente e Pes-
quisador na Universidade Eduardo Mondlane, entrevistado aos 11 de Maio
de 2010 na cidade de Maputo.
− Luciano, Teodósio, funcionário do Ministério da Administração In-
terna aquando da implementação da Operação Produção, entrevistado aos
8 de Janeiro de 2009 na cidade de Maputo.
− Mucuapera, oficial do Ministério da Administração Interna aquando da
implementação da Operação Produção, entrevistado aos 11 de Setembro
de 2009 na cidade de Maputo.
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O PODER DO PODER: OPERAçãO PRODUçãO E A INvENçãO DOS «IMPRODUTIvOS»
URbANOS NO MOçAMbIqUE SOCIALISTA, 1983-1988
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