Relatório Preliminar (Grupo 10)

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

SEMINÁRIO DA LICENCIATURA

ECONOMIA MONETÁRIA E FINANCEIRA

2020/2021

RELATÓRIO PRELIMINAR
A ESTABILIDADE FINANCEIRA DA ECONOMIA PORTUGUESA
NO CONTEXTO DA CRISE PANDÉMICA:
CONSTRANGIMENTOS & DESAFIOS

AUTORES:
FABIANA ANSELMO, 52203
NUNO EDUARDO,52269
PEDRO C. DIAS, 52427
RUTE PINTO, 52280

ORIENTADOR:
PROFESSORA MARIA R. BORGES

COORDENADOR:
PROFESSORA CÂNDIDA FERREIRA
A ESTABILIDADE FINANCEIRA DA ECONOMIA
PORTUGUESA NO CONTEXTO DA CRISE PANDÉMICA:
CONSTRANGIMENTOS & DESAFIOS
Por F. Anselmo, N. Eduardo, P. Caçorino, R. Pinto

Resumo
Uma vez que ainda nos encontramos numa fase bastante embrionária do nosso
trabalho, cremos que não nos encontramos ainda em condições de realizar um resumo
detalhado daquilo que virá a constar no corpo deste estudo.

Palavras-Chave: Moratórias de crédito, crédito malparado, Portugal, Covid-19, União


Europeia.

2
1. Introdução

A pandemia da Covid-19, que teve início em Portugal no mês de março de 2020,


acabou por arrastar consigo uma série de novos paradigmas e realidades às quais a
sociedade teve que se adaptar. Para além destes, trouxe novos desafios para toda a vida
económica, com especial enfâse no setor financeiro.

Num período tão crítico como este, as autoridades viram-se forçadas a intervir por
meio de medidas robustas, de modo a tentar travar as consequências deste contexto, que
acabaram por afetar tanto as empresas quanto as famílias. Um dos principais exemplos
das ações levadas a cabo pelas autoridades competentes, foi a implementação de regimes
de moratórias - caracterizadas por um período de carência de capital e juros - e linhas de
crédito, que tinham por objetivo aliviar a pressão e assegurar a solvabilidade dos agentes
económicos previamente referidos.

Numa fase inicial, as moratórias, iniciando-se no dia 30 de março de 2020, haviam


sido projetadas para o período de até um ano; contudo, face a um crescimento acentuado
e contínuo do número de infeções pelo vírus, que culminaram num novo confinamento,
as autoridades, após revisão e deliberação do Governo e da Assembleia da República,
decidiram expandir o prazo do pagamento das prestações até ao dia 30 de setembro de
2021 – ou seja, por um período extra de seis meses.

O que nos motivou a selecionar esta temática de análise foi, acima de tudo, a sua
atualidade, dado que a sua contemporaneidade nos é transversal e que nos poderá vir a
condicionar futuramente, tanto num contexto económico quanto num contexto social.
Também a grande variedade de perspetivas e incertezas nos despertaram a atenção para
o tema, sendo que, por mais informação que esteja disponível, a ambiguidade está sempre
presente.

Por intermédio da análise de uma série de artigos científicos e estudo empíricos


académicos de teor relevante, este trabalho de investigação tem por objetivo realizar uma
reflexão sobre a temática da estabilidade financeira da economia portuguesa no contexto
da crise pandémica, com especial realce para os constrangimentos e desafios que o final
das moratórias pode gerar.

3
Como complemento a esta análise, procuraremos, numa fase mais conclusiva do
ensaio, enquadrar o panorama português face ao cenário europeu, de maneira a que nos
seja possível posicionar Portugal em relação àquilo que pode ser o futuro da economia
nacional e da sua recuperação.

Em síntese, este trabalho irá progredir ao longo de quatro momentos distintos:


primeiramente, iremos proceder a uma revisão bibliográfica, que se irá traduzir numa
definição dos conceitos centrais, sejam eles moratória de crédito, crédito malparado ou
outros; num segundo momento, procederemos a uma análise empírica, onde será efetuado
um estudo da perigosidade dos riscos associados ao final das moratórias, por meio dos
relatórios realizados pelo Banco de Portugal relativos ao ano de 2020 e primeiro trimestre
de 2021 e outros dados estatísticos também publicados pela mesma instituição;
seguidamente, num terceiro momento e como previamente mencionado, iremos realizar
uma analogia entre o cenário verificado em Portugal e o contexto europeu (benchmark
comparativo); finalmente, serão enunciadas as conclusões subsequentes da realização do
trabalho.

2. Revisão Bibliográfica
2.1. Explicação de conceitos fundamentais

Neste capítulo, pretendemos definir os conceitos que consideramos serem essenciais


para a melhor compreensão e contextualização do nosso trabalho. Assim, os quatro
conceitos centrais a definir serão: moratórias, crédito malparado, capacidade de
solvência e estabilidade financeira.

As moratórias são uma das medidas tomadas para fazer face às consequências
financeiras da covid-19, tal como, amparar as famílias que sofreram quedas no seu
rendimento como atenuar a tesouraria de algumas empresas. As moratórias concedem-
nos a possibilidade de não pagar capital e juros durante um determinado período de
tempo. Assim, uma moratória de seis meses traduzir-se-á no aumento do prazo de
pagamento nestes mesmos seis meses, ou seja, é como se estivesse a retardar o problema
para uma altura em que pareça possível lidar com as quebras de rendimento. Com isto, é
possível adiar o nível de incumprimento no setor bancário e auxiliar os devedores pois
não necessitam de liquidar as prestações no curto prazo. Em Portugal, beneficiam das

4
moratórias quem se “encontra em isolamento profilático, situação de doença, em
assistência a filhos e netos e a trabalhadores a quem tenha sido reduzido o horário ou em
desemprego devido à suspensão do trabalho em virtude da crise empresarial devido à
covid-19" (Tudo o que precisa de saber sobre as moratórias de crédito, 2021).

O conceito de crédito malparado ou também denominado por crédito não produtivo


(non-performing loans), é identificado quando há o risco de uma determinada empresa
ou indivíduo não deter a possibilidade de reembolsar um determinado empréstimo num
prazo acordado previamente ou quando tiverem passado mais de 90 dias sem que esse
mesmo pagamento seja efetuado (O que são “créditos não produtivos”?, BCE, 2021).

Este tipo de crédito pode afetar os bancos de duas formas. Por um lado, reduzindo a
rentabilidade dos mesmos, porque são geradas perdas que diminuem o montante ganho
com a concessão de empréstimos- como forma de precaução os bancos devem constituir
provisões- e por outro lado, deixa de existir dinheiro disponível para conceder novos
empréstimos ou absorver eventuais perdas. Portanto é bastante importante que os bancos
consigam identificar numa fase antecipada, quais dos seus empréstimos estão em risco de
se tornarem não produtivos, o que pode ser feito através do “reconhecimento de créditos
não produtivos”. Da mesma maneira, os bancos têm de ser capazes de adotar critérios
sólidos, avaliar a capacidade de envidamento dos mutuários e fazer uso de sistemas de
monitorização que permitam detetar quando os mutuários enfrentam dificuldades
financeiras.

O conceito de estabilidade financeira, poderá ter interpretações diversas, dado a que


a sua conceptualização é bastante ampla e discutida. A definição dada pelo Banco Central
Europeu (BCE, instituição oficial da UE) sobre a temática é a de que: “a estabilidade
financeira pode ser definida como uma condição na qual o sistema financeiro – que inclui
intermediários financeiros, mercados e infraestruturas de mercado – tem capacidade para
resistir a choques e a desequilíbrios financeiros. Essa condição reduz a possibilidade de
ocorrerem perturbações no processo de intermediação financeira que sejam
suficientemente graves para terem um impacto adverso na atividade económica real.”
(Estabilidade financeira e política macroprudencial, BCE, n.d.).

A solvência traduz-se na habilidade que uma empresa ou particular possui de honrar


as suas dívidas e obrigações financeiras no longo prazo. Trata-se de uma importante
forma de medir a saúde financeira, dado que permite demonstrar a capacidade que o

5
agente económico tem de gerir as sus operações num futuro previsível. No caso de uma
empresa, a maneira mais rápida de avaliar a sua solvência passa por verificar o seu
património líquido através do balanço. Para análises mais detalhadas, existe uma série de
rácios de solvência, que destacam áreas mais profundas da temática. Contudo, ao estudar
o conceito de solvência, é também importante ter em conta um outro conceito
complementar, sendo este o de liquidez. Assim, como descrito anteriormente, enquanto a
solvência representa a capacidade de uma empresa cumprir todas as suas obrigações
financeiras, geralmente através da soma dos seus passivos, a liquidez reproduz esta
mesma capacidade, apenas que no curto prazo. Uma empresa pode sobreviver à
insolvência por um período de tempo razoável, mas não pode sobreviver sem liquidez.

Relativamente às instituições financeiras, nomeadamente os bancos, sendo que se


tratam de negócios alavancados, a sua capacidade de curto e longo prazo deve ser
cuidadosamente examinada, de modo a verificar se o valor dos ativos é superior ao dos
passivos, isto é, se a situação em que se encontra é saudável. Esta posição do setor
bancário deve ser analisada tanto numa base de banco autónomo quanto também em
comparação com os seus pares, de modo a facilitar a compreensão do setor como um
todo, dado que um dos fatores atuais que mais conduz à falência ou decadência de um
banco é a insolvência de outro. A insolvência dos bancos, definida pela incapacidade que
a instituição tem de pagar as suas dívidas, geralmente acontece por um de dois motivos.
Um dos casos dá-se quando o banco não tem capacidade de pagar as suas dívidas aquando
do prazo, embora o valor dos seus ativos possa ser superior ao dos passivos. O outro caso
ocorre quando existe falta de liquidez, ou insolvência dos cash flows, ou seja, quando o
valor dos ativos é inferior ao dos passivos. Neste segundo caso, o facto de ter sido
oferecido crédito a todo o tipo de clientes (particulares e empresas), sem discriminação
nem garantias, por juros muito baixos, - risco de crédito - foi o que levou à falência de
muitas destas instituições.

As instituições bancárias são o ponto fulcral dada a estruturação da economia de


mercado. Quando a estabilidade deste sistema é afetada, o mercado bancário está
inevitavelmente sujeito a sofrer. O comércio e o investimento sofrem quebras e, como
consequência imediata, o crédito malparado inunda os bancos. Uma vez que o sistema
bancário é fundamental para garantir a liquidez financeira coletiva, o banco central tem a
seu encargo cuidar do bom funcionamento desse bem coletivo; quer seja pela capacidade
de injetar liquidez, quer pela fiscalização das regras através do seu poder de supervisão.

6
2.2. Contextualização socioeconómica: a pandemia e a
atualidade

Ainda que caracterizada por diversos problemas estruturais e uma pesada herança
derivada da passada crise de 2007-2012, a verdade é que, no final de 2019, a economia
portuguesa demonstrava sinais de recuperação bastante positivos; o PIB real registava o
seu 25.º trimestre de expansão ininterrupta; o emprego total havia aumentado em todos
os trimestres desde o final do ano de 2013; a taxa de desemprego apresentava-se no nível
mais baixo desde 2002 (6,5%); os salários reais tinham crescido cerca de 2,7% em 2018
e 2% em 2019, depois de uma década de quase estagnação. O índice de Gini foi de 31,9
em 2018, abaixo dos 34,5 de 2013. Pela primeira vez em 50 anos o saldo orçamental foi
positivo, ao mesmo tempo que a dívida pública, embora ainda elevada, seguia uma
tendência claramente decrescente. A balança corrente, que, historicamente, tinha
apresentado valores negativos, permaneceu equilibrada ou ligeiramente positiva desde
2013. No setor bancário, o crédito malparado a empresas caiu de 15,5% do crédito total
em 2015 para 6,5% em 2019, o que evidencia uma melhoria significativa do balanço das
instituições financeiras.

Perante este cenário animador, eis que surge uma afronta perante todo o mundo que
se apresenta mediante a forma de uma pandemia global, decretada pela Organização
Mundial da Saúde. Portugal registou o primeiro caso confirmado de COVID-19 a 2 de
março de 2020, sendo que a primeira morte se verificou a 16 de março. Esta pandemia
acarreta consigo graves problemas sanitários, exigindo drásticas medidas de contenção,
as quais se começaram a implementar em Portugal em meados do mês de março de 2020,
com reforço jurídico a partir do decreto de Estado de Emergência no dia 19 do mesmo
mês. Desde então, o país atravessou três vagas da pandemia e dois confinamentos, tendo
janeiro de 2021 sido um período bastante dramático, onde os novos casos e óbitos
registados diariamente chegaram a ser superiores a 15000 e 300, respetivamente. Nos dias
correntes, já em processo de vacinação da população, têm-se verificado alguns atrasos
mediante ao previsto no plano de vacinação e certos problemas com a legalização de
certas vacinas, que se esperam ver resolvidos em breve.

Em termos económicos, estamos perante uma situação sem precedentes no passado


recente, cujos impactos macroeconómicos são e serão enormes futuramente,
especialmente a nível das empresas, do emprego, nos rendimentos e no consumo. Num

7
país que encontra grande parte do seu rendimento dependente da atividade turística, as
maiores preocupações centram-se na hotelaria, restauração e serviços de apoio, setores
que explicam a maior proporção das perdas.

Figura I: Taxa de Variação Homóloga do PIB (%) - 01/2020 - 02/2021

Fonte: Banco de Portugal, retirado de EcoSapo.

A fim de auxiliar as inúmeras empresas e famílias, que se viram afetadas por este
contexto pandémico, e evitar o colapso do sistema financeiro, foram implementadas
medidas diversas, nomeadamente o regime de moratórias. Com o seu fim previsto para
setembro de 2021, e considerando o quadro macroeconómico que se estabeleceu, os
agentes económicos poderão não ter a capacidade de suportar as suas obrigações para
com as entidades bancárias, contribuindo assim para um grande aumento da taxa de
incumprimento do crédito, refletindo-se no aumento substancial na carteira de non-
performing-loans (crédito malparado) – amplificando a pressão sobre os valores dos
ativos imobiliários do país.

8
Bibliografia

- CIRE, Código da Insolvência e Recuperação de Empresas.

Artigos

- Banco Central Europeu (n.d). Estabilidade financeira e política macroprudencial.


Acedido a 20 de março de 2021, no website do Banco Central Europeu:

Disponível em: https://www.ecb.europa.eu/ecb/tasks/stability/html/index.pt.html

- Banco Central Europeu (2021). O que são “créditos não produtivos”? Acedido a 19 de
março de 2021, no website do Banco Central Europeu:

Disponível em:
https://www.bankingsupervision.europa.eu/about/ssmexplained/html/npl.pt.htm

- United States Courts (n.d.). Chapter 11- Bankruptcy Basics. Acedido a 26 de março de
2021, no website dos United States Courts:
Disponível em: Chapter 11 - Bankruptcy Basics | United States Courts (uscourts.gov)
- Em que consiste uma moratória de crédito? Acedido a 20 de março de 2021, no website
Reorganiza:
Disponível em: https://reorganiza.pt/moratoria-de-credito/
- Tudo o que precisa de saber sobre as moratórias de crédito. Acedido a 20 de março, no
website da TVI:
Disponível em:https://tvi24.iol.pt/economia/covid-19/tudo-o-que-precisa-de-saber-
sobre-as-moratorias-de-credito
- How banks become insolvent. Acedido a 28 de março de 2021, no website do Our
Money:
Disponível em: How Banks Become Insolvent - Our Money (ourmoneyus.org)

Teses
- da Cruz, Alberto Correia. (2012). Consequências da Aplicação do Capítulo 11 do
Código de Falências dos Estados Unidos da América no Processo de Recuperação das
Empresas em Portugal. Dissertação de mestrado em Finanças e Fiscalidade. Universidade
do Porto, Faculdade de Economia. Porto.

9
- Nascimento, Tatiana Cardoso. (2016). A Falência de uma Instituição Financeira e o
Risco Sistémico. Dissertação de mestrado em Finanças Empresariais. Universidade do
Algarve, Faculdade de Economia. Faro.
- Silva, Luís Filipe Novais. (outubro de 2018). A insolvência bancária e a crise
financeira: análise do Banco Crédito Agrícola. Relatório de estágio de mestrado em
Economia Monetária, Bancária e Financeira. Universidade do Minho, Escola de
Economia e Gestão.
- Mamede, Ricardo Paes. Pereira, Mariana. Simões, António. (junho de 2020). Portugal:
uma análise rápida do impacto da COVID-19 na economia e no mercado de trabalho.
Trabalho de acesso aberto distribuído sob a licença Creative Commons Attribution 3.0
IGO. Organização Internacional do Trabalho.

10

Você também pode gostar