Cesario Verde Num Bairro Moderno Teste

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Num Bairro Moderno (início) Lê atentamente o seguinte texto:

Num Bairro Moderno

E rota, pequenina, azafamada,

Dez horas da manhã; os transparentes Notei de costas uma rapariga,

Matizam uma casa apalaçada; Que no xadrez marmóreo duma escada,

Pelos jardins estancam-se as nascentes, Como um retalho de horta aglomerada,

E fere a vista, com brancuras quentes, Pousara, ajoelhando, a sua giga.

A larga rua macadamizada.

E eu, apesar do sol, examinei-a:

Rez-de-chaussée repousam sossegados, Pôs-se de pé; ressoam-lhe os tamancos;

Abriram-se, nalguns, as persianas,

E dum ou doutro, em quartos estucados, E abre-se-lhe o algodão azul da meia,

Ou entre a rama dos papéis pintados, Se ela se curva, esguedelhada, feia,

Reluzem, num almoço, as porcelanas. E pendurando os seus bracinhos brancos.

Como é saudável ter o seu conchego Do patamar responde-lhe um criado:

E a sua vida fácil! Eu descia, "Se te convém, despacha; não converses.

Sem muita pressa, para o meu emprego, Eu não dou mais." E, muito descansado,

Aonde eu agora quase sempre chego Atira um cobre lívido, oxidado,

Com tonturas duma apoplexia. Que vem bater nas faces duns alperces.

Responde às seguintes questões:

1. O excerto acima transcrito dramatiza – em parte – a invasão simbólica da cidade pelo


campo.

1.1. Indica quem corporiza tal invasão.

1.2. Faz um levantamento das expressões que liguem essa personagem ao campo e estabelece um
contraste com o cenário envolvente.

2. «Como é saudável ter o seu conchego / E a sua vida fácil»

- Explicita a simbologia inerente a estes versos e a crítica social neles expressa.

3. «E eu, apesar do sol, examinei-a»

- Justifica o interesse demonstrado pelo sujeito poético nesta personagem.

4. Demonstra como o criado presente neste excerto é o elemento de ligação entre dois
mundos distintos.

5. Apresenta dois exemplos de características próprias da poesia de Cesário no excerto


acima transcrito.
Proposta de correcção

1.1. A personagem que corporiza o campo é a vendedora de fruta e legumes.

1.2. «Esta pequena vendedora é o arquétipo de uma personagem campestre, que, face à
opulência da cidade, se vê inferiorizada e diminuída. Por este motivo, ela é pequenina, não se
conseguindo opor às casa apalaçadas deste bairro; a sua atitude contrasta com a do bairro, uma
vez que, por se mostrar azafamada, não se coaduna com os Rez-de-chaussée que repousam
sossegados; a sua pobreza está expressa na sua indumentária, pois mostra-se rota, abre-se-lhe o
algodão azul da meia, facto impensável para aqueles que mostram ostensivamente as suas
porcelanas; por último, ela é esguedelhada, feia, pois a sua única preocupação reside no seu
trabalho, contrariando a vida burguesa, pois o luxo dos jardins e o bem-estar dos quartos
estucados surgem como preocupação primordial.

3. Os versos transcritos expressam condição social e o modus vivendi daqueles que habitam
neste bairro moderno. O sujeito poético deixa transparecer o seu desabafo ao constatar que
aqueles que vivem no seu conchego não merecem tal vida, uma vez que esta é demasiado fácil, é
um reflexo da exploração que exercem sobre os trabalhadores, que nunca chegam a beneficiar de
tamanho esforço. Por este motivo, este desabafo é irónico, pois a saúde que estes burgueses
gozam é para Cesário motivo de repúdio e não de satisfação.

4. Envolvido no ambiente citadino, o sujeito poético sente-se doente, enfermo, em constantes


tonturas de apoplexia. É a frieza citadina, a falta de contacto humano que provocam estes
sentimentos. Mas o campo revitaliza-o. A pureza, o colorido, a vitalidade transformam a sua
postura e a sua maneira de ser.

Ao caminhar para o emprego, e sem esperar por tal, o "eu" lírico encontra-se com uma vendedora,
símbolo do campo. É natural que, contra todas as adversidades que pudesse sentir, o sujeito
poético de imediato se interessa por aquela pessoa, símbolo da sua libertação citadina.

5. O criado é neste poema um elo de ligação entre a burguesia e o povo visto que este, apesar de
pertencer ele próprio ao povo, apresenta já os mesmos comportamentos da burguesia. Ele é rude
na forma como trata a vendedora, é snob e arrogante. No entanto, porque não pertence à
burguesia, continua a ser um daqueles que por ela é explorado, sendo ele quem fala e lida com o
povo, pois a burguesia ocupa uma posição demasiadamente altiva para se rebaixar ao ponto de
falar com estas pessoas.

6. Dos diversos recursos comuns na poesia de Cesário, podemos destacar os seguintes:

- a tripla adjectivação, em rota, pequenina, azafamada;

- as sinestesias, em Reluzem, num almoço, as porcelanas;

- o impressionismo, em pendurando os seus bracinhos brancos;

- o carácter deambulatório, em Eu descia, sem muita pressa;

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