Teste 202211022143

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Nome da escola

N. Data
Aluno ___________________________ º ____ Turma _______ ________

Classificação: __________________________ Professor/a: ______________________________


Nível: ___________________(100) Enc. Educação: ______________________________

Nota prévia:

    Era uma vez um rei que partiu para combater por terras distantes, deixando para trás a rainha e o filho de tenra
idade. A morte do rei tornou evidente o desamparo da criança no meio de muitos inimigos, entre os quais o tio, um
“irmão bastardo do rei, homem depravado e bravio, consumido de cobiças grosseiras, desejando só a realeza por
causa dos seus tesouros”.

    Um grande temor enchia o palácio, onde agora reinava uma mulher entre mulheres. O bastardo, o homem de
rapina que errava1 no cimo das serras, descera à planície com a sua horda2, e já através de casais e aldeias felizes ia
deixando um sulco de matança e ruínas. As portas da cidade tinham sido seguras com cadeias mais fortes. Nas
atalaias3 ardiam lumes mais altos. Mas à defesa faltava disciplina viril. Uma roca4 não governa como uma espada.
Toda a nobreza fiel perecera5 na grande batalha. E a rainha desventurosa apenas sabia correr a cada instante ao berço
do seu filhinho e chorar sobre ele a sua fraqueza de viúva. Só a ama leal parecia segura – como se os braços em que
estreitava o seu príncipe fossem muralhas de uma cidadela6 que nenhuma audácia pode transpor.

    Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre7, entre os seus dois
meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis8 reais.
Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou, ansiosamente. Na terra areada, entre os
jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes,
como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de
lanternas, brilhos de armas… Num relance tudo compreendeu – o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar,
matar o seu Príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de
marfim, atirou-o para o pobre berço de verga – e tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-
o no berço real que cobriu com um brocado9.

    Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto negro sobre a cota de malha10, surgiu à
porta da câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou – correu ao berço de marfim onde os brocados luziam,
arrancou a criança, como se arranca uma bolsa de ouro, e abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente.

    O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva.

Eça de Queirós, [“A Aia”], in Contos, Vol. I, Edição de Marie-Hélène Piwnik, Lisboa, IN-CM, 2009.

NOTAS 1. errava – andava de um lado para o outro, sem destino certo. 2. horda – conjunto de pessoas que provocam desor- dem. 3.
atalaias – pontos elevados de onde se observa e vigia. 4. roca – instrumento para fiar o linho, a lã ou o algo- dão. 5. perecera –
morrera. 6. cidadela – fortaleza. 7. catre – cama pobre. 8. vergéis – jardins ou pomares. 9. brocado – tecido de seda com fios de ouro
ou prata e motivos em relevo. 10. cota de malha – armadura defensiva.

1. Explicita a expressividade da comparação “arrancou a criança, como se arranca uma bolsa


de ouro” (terceiro parágrafo).

A Aia

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Foi um espanto, uma aclama��o. Quem o salvara? Quem?... L� estava junto do ber�o de marfim vazio, muda e
hirta, aquela que o salvara! Serva sublimemente leal! Fora ela que, para conservar a vida ao seu pr�ncipe,
mandara � morte o seu filho... Ent�o, s� ent�o, a m�e ditosa, emergindo da sua alegria ext�tica, abra�ou
apaixonadamente a m�e dolorosa, e a beijou, e lhe chamou irm� do seu cora��o... E de entre aquela multid�o
que se apertava na galeria veio uma nova, ardente aclama��o, com s�plicas de que fosse recompensada
magnificamente a serva admir�vel que salvara o rei e o reino.

Mas como? Que bolas de oiro podem pagar um filho? Ent�o um velho de casta nobre lembrou que ela fosse
levada ao Tesoiro real, e escolhesse de entre essas riquezas, que eram como as maiores dos maiores tesoiros da
�ndia, todas que o seu desejo apetecesse...

A rainha tomou a m�o da serva. E sem que a sua face de m�rmore perdesse a rigidez, com um andar de morta,
como um sonho, ela foi assim conduzida para a C�mara dos Tesoiros. Senhores, aias, homens de armas,
seguiam, num respeito t�o comovido, que apenas se ouvia o ro�ar das sand�lias nas lajes.

As espessas portas do Tesoiro rodaram lentamente. E, quando um servo destrancou as janelas, a luz da
madrugada, j� clara e r�sea, entrando pelos gradeamentos de ferro, acendeu um maravilhoso e faiscante
inc�ndio de oiro e pedrarias! Do ch�o de rocha at� �s sombrias ab�badas, por toda a c�mara, reluziam,
cintilavam, refulgiam os escudos de oiro, as armas marchetadas, mont�es de diamantes, as pilhas de moedas, os
longos fios de p�rolas, todas as riquezas daquele reino, acumuladas por cem r�is durante vinte s�culos. Um
longo - ah! - lento e maravilhado, passou por sobre a turba que emudecera. Depois houve um sil�ncio ansioso. E
no meio da c�mara, envolta na refulg�ncia preciosa, a ama n�o se movia... Apenas os seus olhos, brilhantes e
secos, se tinham erguido para aquele c�u que, al�m das grades, se tingia de rosa e de oiro. Era l�, nesse c�u
fresco de madrugada, que estava agora o seu menino. Estava l�, e j� o Sol erguia, e era tarde, e o seu menino
chorava decerto, e procurava o seu peito!...

E ent�o a ama sorriu e estendeu a m�o. Todos seguiam, sem respirar, aquele lento mover da sua m�o aberta.
Que j�ia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis ia ela escolher?

A ama estendia a m�o, e sobre um escabelo ao lado, entre um molho de armas, agarrou um punhal. Era um
punhal de um velho rei, todo cravejado de esmeraldas, e que valia uma prov�ncia.

Agarrara o punhal, e com ele apertado fortemente na m�o, apontando para o c�u, onde subiam os primeiros
raios do Sol, encarou a rainha, a multid�o, e gritou:

- Salvei o meu pr�ncipe, e agora vou dar de mamar ao meu filho!

E cravou o punhal no cora��o.

E�a de Queir�s, Contos

2. Seleciona a resposta correta, a partir da leitura do excerto de "A Aia".

Por que razão a serva era "sublimemente leal"?


(A) Porque salvou a vida do príncipe, sacrificando a do seu filho.
(B) Porque escondeu o príncipe, tirando-o do berço.
(C) Porque era irmã da rainha.
(D) Porque estava feliz com a salvação do reino.

Grupo I

Nota prévia:

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    Era uma vez um rei que partiu para combater por terras distantes, deixando para trás a rainha e o filho de tenra
idade. A morte do rei tornou evidente o desamparo da criança no meio de muitos inimigos, entre os quais o tio, um
“irmão bastardo do rei, homem depravado e bravio, consumido de cobiças grosseiras, desejando só a realeza por
causa dos seus tesouros”.

    Um grande temor enchia o palácio, onde agora reinava uma mulher entre mulheres. O bastardo, o homem de
rapina que errava1 no cimo das serras, descera à planície com a sua horda2, e já através de casais e aldeias felizes ia
deixando um sulco de matança e ruínas. As portas da cidade tinham sido seguras com cadeias mais fortes. Nas
atalaias3 ardiam lumes mais altos. Mas à defesa faltava disciplina viril. Uma roca4 não governa como uma espada.
Toda a nobreza fiel perecera5 na grande batalha. E a rainha desventurosa apenas sabia correr a cada instante ao berço
do seu filhinho e chorar sobre ele a sua fraqueza de viúva. Só a ama leal parecia segura – como se os braços em que
estreitava o seu príncipe fossem muralhas de uma cidadela6 que nenhuma audácia pode transpor.

    Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre7, entre os seus dois
meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis8 reais.
Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou, ansiosamente. Na terra areada, entre os
jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes,
como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de
lanternas, brilhos de armas… Num relance tudo compreendeu – o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar,
matar o seu Príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de
marfim, atirou-o para o pobre berço de verga – e tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-
o no berço real que cobriu com um brocado9.

    Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto negro sobre a cota de malha10, surgiu à
porta da câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou – correu ao berço de marfim onde os brocados luziam,
arrancou a criança, como se arranca uma bolsa de ouro, e abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente.

    O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva.

Eça de Queirós, [“A Aia”], in Contos, Vol. I, Edição de Marie-Hélène Piwnik, Lisboa, IN-CM, 2009.

NOTAS 1. errava – andava de um lado para o outro, sem destino certo. 2. horda – conjunto de pessoas que provocam desor- dem. 3.
atalaias – pontos elevados de onde se observa e vigia. 4. roca – instrumento para fiar o linho, a lã ou o algo- dão. 5. perecera –
morrera. 6. cidadela – fortaleza. 7. catre – cama pobre. 8. vergéis – jardins ou pomares. 9. brocado – tecido de seda com fios de ouro
ou prata e motivos em relevo. 10. cota de malha – armadura defensiva.

3. Justifica a utilização do adjetivo “desesperados” (segundo parágrafo), no contexto dos


acontecimentos narrados na última frase do segundo parágrafo.

4. Explica de que modo se estabelece o contraste, no primeiro parágrafo, entre a descrição do


ambiente vivido no reino e a caracterização da ama.

Grupo II

A Aia
 
Era uma vez um rei, mo�o e valente, senhor de um reino abundante em cidades e searas, que partira
a batalhar por terras distantes, deixando solit�ria e triste a sua rainha e um filhinho, que ainda vivia no
seu ber�o, dentro das suas faixas.
A lua cheia que o vira marchar, levado no seu sonho de conquista e de fama, come�ava a minguar,
quando um dos seus cavaleiros apareceu, com as armas rotas, negro do sangue seco e do p� dos
caminhos, trazendo a amarga nova de uma batalha perdida e da morte do rei, trespassado por sete
lan�as entre a flor da sua nobreza, � beira de um grande rio.
A rainha chorou magnificamente o rei. Chorou ainda desoladamente o esposo, que era formoso e
alegre. Mas, sobretudo, chorou ansiosamente o pai, que assim deixava o filhinho desamparado, no meio

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de tantos inimigos da sua fr�gil vida e do reino que seria seu, sem um bra�o que o defendesse, forte pela
for�a e forte pelo amor.
Desses inimigos o mais temeroso era seu tio, irm�o bastardo do rei, homem depravado e bravio,
consumido de cobi�as grosseiras, desejando s� a realeza por causa dos seus tesoiros, e que havia anos
vivia num castelo sobre os montes, com uma horda de rebeldes, � maneira de um lobo que, de atalaia no
seu fojo, espera a presa. Ai! a presa agora era aquela criancinha, rei de mama, senhor de tantas
prov�ncias, e que dormia no seu ber�o com seu guizo de oiro fechado na m�o!
Ao lado dele, outro menino dormia noutro ber�o. Mas era um escravozinho, filho da bela e robusta
escrava que amamentava o pr�ncipe. Ambos tinham nascido na mesma noite de Ver�o. O mesmo seio
os criara. Quando a rainha, antes de adormecer, vinha beijar o principezinho, que tinha o cabelo louro e
fino, beijava tamb�m, por amor dele, o escravozinho, que tinha o cabelo negro e crespo. Os olhos de
ambos reluziam como pedras preciosas. Somente, o ber�o de um era magn�fico de marfim entre
brocados, e o ber�o de outro, pobre e de verga. A leal escrava, por�m, a ambos cercava de carinho
igual, porque, se um era o seu filho, o outro seria o seu rei.
Nascida naquela casa real, ela tinha a paix�o, a religi�o dos seus senhores. Nenhum pranto correra
mais sentidamente do que o seu pelo rei morto � beira do grande rio. Pertencia, por�m, a uma ra�a que
acredita que a vida da terra se continua no c�u. O rei seu amo, decerto, j� estaria agora reinando em
outro reino, para al�m das nuvens, abundante tamb�m em searas e cidades. O seu cavalo de batalha, as
suas armas, os seus pajens tinham subido com ele �s alturas. Os seus vassalos, que fossem morrendo,
prontamente iriam, nesse reino celeste, retomar em torno dele a sua vassalagem. E ela, um dia, por seu
turno, remontaria num raio de lua a habitar o pal�cio do seu senhor, e a fiar de novo o linho das suas
t�nicas, e a acender de novo a ca�oleta dos seus perfumes; seria no c�u como fora na terra, e feliz na
sua servid�o.
(...)
E�a de Queir�s, Contos
 

5.

A) Completa as frases com as opções corretas, a partir da leitura do excerto de "A Aia".
O rei tinha um irmão _________________ (bastardo | amigo | adotado) que era o seu maior
_________________ (inimigo | companheiro | amigo). Esse irmão cobiçava os _________________
(tesoiros | castelos | habitantes) do reino. Vivia como um _________________ (lobo | leão | tigre) num
castelo sobre os montes, à espera da sua _________________ (oportunidade | família | presa).

6. Seleciona a resposta correta, a partir da leitura do excerto de "A Aia".


Qual é o significado da expressão: "um reino abundante em cidades e searas"?
(A) Um reino desenvolvido e próspero tanto na cidade como no campo.
(B) Um reino muito antigo e onde havia muito pão.
(C) Um reino com território muito vasto.
(D) Um reino pequeno e novo.

A Aia

Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre, entre os seus dois
meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais.
Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os
jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes,
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como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de
lanternas, brilhos de armas... Num relance tudo compreendeu: o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar,
matar o seu príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de
marfim, atirou-o para o pobre berço de verga, e, tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-
o no berço real que cobriu com um brocado.

Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto sobre a cota de malha, surgiu à porta da
câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou, correu o berço de marfim onde os brocados luziam, arrancou a
criança, como se arranca uma bolsa de oiro e, abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente.

O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva.

Mas brados de alarme atroaram, de repente, o palácio. Pelas janelas perpassou o longo flamejar das tochas. Os pátios
ressoavam com o bater das armas. E desgrenhada, quase nua, a rainha invadiu a câmara, entre as aias gritando pelo
seu filho! Ao avistar o berço de marfim, com as roupas desmanchadas, vazio, caiu sobre as lajes num choro,
despedaçada. Então, calada, muito lenta, muito pálida, a ama descobriu o pobre berço de verga... O príncipe estava
quieto, adormecido, num sonho que o fazia sorrir, lhe iluminava toda a face entre os seus cabelos de oiro. A mãe caiu
sobre o berço, com um suspiro, como cai um corpo morto.

E nesse instante um novo clamor abalou a galeria de mármore. Era o capitão das guardas, a sua gente fiel. Nos seus
clamores havia, porém, mais tristeza que triunfo. O bastardo morrera! Colhido, ao fugir, entre o palácio e a cidadela,
esmagado pela forte legião de archeiros, sucumbira, ele e vinte da sua horda. O seu corpo lá ficara, com flechas no
flanco, numa poça de sangue. Mas ai! dor sem nome! O corpozinho tenro do príncipe lá ficara também envolto num
manto, já frio, roxo ainda das mãos ferozes que o tinham esganado! Assim tumultuosamente lançavam a nova cruel os
homens de armas, quando a rainha, deslumbrada, com lágrimas entre risos, ergueu nos braços, para lho mostrar, o
príncipe que despertara.

Eça de Queirós, Contos

7. Identifica a expressão sinónima do adjetivo "inominável".

A) Expressão

Rodeia os elementos do texto de acordo com os critérios.

"E nesse instante um novo clamor abalou a galeria de mármore. Era o capitão das guardas, a sua gente
fiel. Nos seus clamores havia, porém, mais tristeza que triunfo. O bastardo morrera! Colhido, ao fugir,
entre o palácio e a cidadela, esmagado pela forte legião de archeiros, sucumbira, ele e vinte da sua horda.
O seu corpo lá ficara, com flechas no flanco, numa poça de sangue. Mas ai! dor sem nome! O corpozinho
tenro do príncipe lá ficara também envolto num manto, já frio, roxo ainda das mãos ferozes que o tinham
esganado! Assim tumultuosamente lançavam a nova cruel os homens de armas, quando a rainha,
deslumbrada, com lágrimas entre risos, ergueu nos braços, para lho mostrar, o príncipe que despertara."

A Aia
 
Era uma vez um rei, mo�o e valente, senhor de um reino abundante em cidades e searas, que partira
a batalhar por terras distantes, deixando solit�ria e triste a sua rainha e um filhinho, que ainda vivia no
seu ber�o, dentro das suas faixas.
A lua cheia que o vira marchar, levado no seu sonho de conquista e de fama, come�ava a minguar,
quando um dos seus cavaleiros apareceu, com as armas rotas, negro do sangue seco e do p� dos
caminhos, trazendo a amarga nova de uma batalha perdida e da morte do rei, trespassado por sete
lan�as entre a flor da sua nobreza, � beira de um grande rio.
A rainha chorou magnificamente o rei. Chorou ainda desoladamente o esposo, que era formoso e
alegre. Mas, sobretudo, chorou ansiosamente o pai, que assim deixava o filhinho desamparado, no meio
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de tantos inimigos da sua fr�gil vida e do reino que seria seu, sem um bra�o que o defendesse, forte pela
for�a e forte pelo amor.
Desses inimigos o mais temeroso era seu tio, irm�o bastardo do rei, homem depravado e bravio,
consumido de cobi�as grosseiras, desejando s� a realeza por causa dos seus tesoiros, e que havia anos
vivia num castelo sobre os montes, com uma horda de rebeldes, � maneira de um lobo que, de atalaia no
seu fojo, espera a presa. Ai! a presa agora era aquela criancinha, rei de mama, senhor de tantas
prov�ncias, e que dormia no seu ber�o com seu guizo de oiro fechado na m�o!
Ao lado dele, outro menino dormia noutro ber�o. Mas era um escravozinho, filho da bela e robusta
escrava que amamentava o pr�ncipe. Ambos tinham nascido na mesma noite de Ver�o. O mesmo seio
os criara. Quando a rainha, antes de adormecer, vinha beijar o principezinho, que tinha o cabelo louro e
fino, beijava tamb�m, por amor dele, o escravozinho, que tinha o cabelo negro e crespo. Os olhos de
ambos reluziam como pedras preciosas. Somente, o ber�o de um era magn�fico de marfim entre
brocados, e o ber�o de outro, pobre e de verga. A leal escrava, por�m, a ambos cercava de carinho
igual, porque, se um era o seu filho, o outro seria o seu rei.
Nascida naquela casa real, ela tinha a paix�o, a religi�o dos seus senhores. Nenhum pranto correra
mais sentidamente do que o seu pelo rei morto � beira do grande rio. Pertencia, por�m, a uma ra�a que
acredita que a vida da terra se continua no c�u. O rei seu amo, decerto, j� estaria agora reinando em
outro reino, para al�m das nuvens, abundante tamb�m em searas e cidades. O seu cavalo de batalha, as
suas armas, os seus pajens tinham subido com ele �s alturas. Os seus vassalos, que fossem morrendo,
prontamente iriam, nesse reino celeste, retomar em torno dele a sua vassalagem. E ela, um dia, por seu
turno, remontaria num raio de lua a habitar o pal�cio do seu senhor, e a fiar de novo o linho das suas
t�nicas, e a acender de novo a ca�oleta dos seus perfumes; seria no c�u como fora na terra, e feliz na
sua servid�o.
(...)
E�a de Queir�s, Contos
 

8. Classifica as seguintes afirmações em verdadeiras ou falsas, a partir da leitura de "A Aia", de


Eça de Queirós.

(__) O cavaleiro que deu a notícia da morte do rei tinha uma armadura reluzente.
(__) A rainha chorou, principalmente, o facto de o filho ficar sem pai.
(__) O filho era já um adolescente que poderia defender bem o reino.
(__) A rainha ficou muito angustiada quando o rei foi para a guerra.

A Aia

Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre, entre os seus dois
meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais.
Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os
jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes,
como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de
lanternas, brilhos de armas... Num relance tudo compreendeu: o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar,
matar o seu príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de
marfim, atirou-o para o pobre berço de verga, e, tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-
o no berço real que cobriu com um brocado.

Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto sobre a cota de malha, surgiu à porta da
câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou, correu o berço de marfim onde os brocados luziam, arrancou a
criança, como se arranca uma bolsa de oiro e, abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente.

6 / 26
O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva.

Mas brados de alarme atroaram, de repente, o palácio. Pelas janelas perpassou o longo flamejar das tochas. Os pátios
ressoavam com o bater das armas. E desgrenhada, quase nua, a rainha invadiu a câmara, entre as aias gritando pelo
seu filho! Ao avistar o berço de marfim, com as roupas desmanchadas, vazio, caiu sobre as lajes num choro,
despedaçada. Então, calada, muito lenta, muito pálida, a ama descobriu o pobre berço de verga... O príncipe estava
quieto, adormecido, num sonho que o fazia sorrir, lhe iluminava toda a face entre os seus cabelos de oiro. A mãe caiu
sobre o berço, com um suspiro, como cai um corpo morto.

E nesse instante um novo clamor abalou a galeria de mármore. Era o capitão das guardas, a sua gente fiel. Nos seus
clamores havia, porém, mais tristeza que triunfo. O bastardo morrera! Colhido, ao fugir, entre o palácio e a cidadela,
esmagado pela forte legião de archeiros, sucumbira, ele e vinte da sua horda. O seu corpo lá ficara, com flechas no
flanco, numa poça de sangue. Mas ai! dor sem nome! O corpozinho tenro do príncipe lá ficara também envolto num
manto, já frio, roxo ainda das mãos ferozes que o tinham esganado! Assim tumultuosamente lançavam a nova cruel os
homens de armas, quando a rainha, deslumbrada, com lágrimas entre risos, ergueu nos braços, para lho mostrar, o
príncipe que despertara.

Eça de Queirós, Contos

9.

A) Completa as frases com as opções corretas, a partir da leitura do excerto de "A Aia".
A noite em que o assalto se deu era de _________________ (silêncio e escuridão | escuridão e de
barulho | luz e silêncio). Um homem de face _________________ (clara | reluzente | flamejante) surgiu
na noite com outros que traziam _________________ (lanternas | armas | fogueiras).

A Aia

Foi um espanto, uma aclama��o. Quem o salvara? Quem?... L� estava junto do ber�o de marfim vazio, muda e
hirta, aquela que o salvara! Serva sublimemente leal! Fora ela que, para conservar a vida ao seu pr�ncipe,
mandara � morte o seu filho... Ent�o, s� ent�o, a m�e ditosa, emergindo da sua alegria ext�tica, abra�ou
apaixonadamente a m�e dolorosa, e a beijou, e lhe chamou irm� do seu cora��o... E de entre aquela multid�o
que se apertava na galeria veio uma nova, ardente aclama��o, com s�plicas de que fosse recompensada
magnificamente a serva admir�vel que salvara o rei e o reino.

Mas como? Que bolas de oiro podem pagar um filho? Ent�o um velho de casta nobre lembrou que ela fosse
levada ao Tesoiro real, e escolhesse de entre essas riquezas, que eram como as maiores dos maiores tesoiros da
�ndia, todas que o seu desejo apetecesse...

A rainha tomou a m�o da serva. E sem que a sua face de m�rmore perdesse a rigidez, com um andar de morta,
como um sonho, ela foi assim conduzida para a C�mara dos Tesoiros. Senhores, aias, homens de armas,
seguiam, num respeito t�o comovido, que apenas se ouvia o ro�ar das sand�lias nas lajes.

As espessas portas do Tesoiro rodaram lentamente. E, quando um servo destrancou as janelas, a luz da
madrugada, j� clara e r�sea, entrando pelos gradeamentos de ferro, acendeu um maravilhoso e faiscante
inc�ndio de oiro e pedrarias! Do ch�o de rocha at� �s sombrias ab�badas, por toda a c�mara, reluziam,
cintilavam, refulgiam os escudos de oiro, as armas marchetadas, mont�es de diamantes, as pilhas de moedas, os
longos fios de p�rolas, todas as riquezas daquele reino, acumuladas por cem r�is durante vinte s�culos. Um
longo - ah! - lento e maravilhado, passou por sobre a turba que emudecera. Depois houve um sil�ncio ansioso. E
no meio da c�mara, envolta na refulg�ncia preciosa, a ama n�o se movia... Apenas os seus olhos, brilhantes e
secos, se tinham erguido para aquele c�u que, al�m das grades, se tingia de rosa e de oiro. Era l�, nesse c�u
fresco de madrugada, que estava agora o seu menino. Estava l�, e j� o Sol erguia, e era tarde, e o seu menino
chorava decerto, e procurava o seu peito!...

E ent�o a ama sorriu e estendeu a m�o. Todos seguiam, sem respirar, aquele lento mover da sua m�o aberta.

7 / 26
Que j�ia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis ia ela escolher?

A ama estendia a m�o, e sobre um escabelo ao lado, entre um molho de armas, agarrou um punhal. Era um
punhal de um velho rei, todo cravejado de esmeraldas, e que valia uma prov�ncia.

Agarrara o punhal, e com ele apertado fortemente na m�o, apontando para o c�u, onde subiam os primeiros
raios do Sol, encarou a rainha, a multid�o, e gritou:

- Salvei o meu pr�ncipe, e agora vou dar de mamar ao meu filho!

E cravou o punhal no cora��o.

E�a de Queir�s, Contos

10. Lê o excerto e seleciona a opção correta.


Na descrição dos objetos que fazem parte da "Câmara dos Tesoiros", o narrador recorre
(A) à antítese.
(B) ao pleonasmo.
(C) à enumeração.

Grupo III

A Aia

Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre, entre os seus dois
meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais.
Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os
jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes,
como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de
lanternas, brilhos de armas... Num relance tudo compreendeu: o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar,
matar o seu príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de
marfim, atirou-o para o pobre berço de verga, e, tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-
o no berço real que cobriu com um brocado.

Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto sobre a cota de malha, surgiu à porta da
câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou, correu o berço de marfim onde os brocados luziam, arrancou a
criança, como se arranca uma bolsa de oiro e, abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente.

O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva.

Mas brados de alarme atroaram, de repente, o palácio. Pelas janelas perpassou o longo flamejar das tochas. Os pátios
ressoavam com o bater das armas. E desgrenhada, quase nua, a rainha invadiu a câmara, entre as aias gritando pelo
seu filho! Ao avistar o berço de marfim, com as roupas desmanchadas, vazio, caiu sobre as lajes num choro,
despedaçada. Então, calada, muito lenta, muito pálida, a ama descobriu o pobre berço de verga... O príncipe estava
quieto, adormecido, num sonho que o fazia sorrir, lhe iluminava toda a face entre os seus cabelos de oiro. A mãe caiu
sobre o berço, com um suspiro, como cai um corpo morto.

E nesse instante um novo clamor abalou a galeria de mármore. Era o capitão das guardas, a sua gente fiel. Nos seus
clamores havia, porém, mais tristeza que triunfo. O bastardo morrera! Colhido, ao fugir, entre o palácio e a cidadela,
esmagado pela forte legião de archeiros, sucumbira, ele e vinte da sua horda. O seu corpo lá ficara, com flechas no
flanco, numa poça de sangue. Mas ai! dor sem nome! O corpozinho tenro do príncipe lá ficara também envolto num
manto, já frio, roxo ainda das mãos ferozes que o tinham esganado! Assim tumultuosamente lançavam a nova cruel os
homens de armas, quando a rainha, deslumbrada, com lágrimas entre risos, ergueu nos braços, para lho mostrar, o
príncipe que despertara.

Eça de Queirós, Contos

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11. Estabelece a correspondência correta entre os advérbios de modo e os verbos a que se referem no
excerto de "A Aia".

A) Violentamente _________________ (descerrou | surgiu | abalou)


B) Bruscamente _________________ (descerrou | surgiu | abalou)
C) Furiosamente _________________ (descerrou | surgiu | abalou)
D) Ansiosamente _________________ (escutar | arrebatar | lançavam)
E) Tumultuosamente _________________ (tombando | surgiu | lançavam)
F) Molemente _________________ (tombando | descerrou | surgiu)
G) Rapidamente _________________ (descerrou | arrebatar | lançavam)

12. A partir da leitura do excerto de "A Aia", estabelece a correspondência correta entre as
palavras e a sua conotação de acordo com o contexto.
12.1Noite
(A) Escuridão/morte
(B) Clarão/Oiro
(C) Escutar/abafar
(D) Gritos/atroar
12.2Silêncio
(A) Escuridão/morte
(B) Clarão/Oiro
(C) Escutar/abafar
(D) Gritos/atroar
12.3Barulho
(A) Escuridão/morte
(B) Clarão/Oiro
(C) Escutar/abafar
(D) Gritos/atroar
12.4Luz
(A) Escuridão/morte
(B) Clarão/Oiro
(C) Escutar/abafar
(D) Gritos/atroar

Grupo IV

A Aia
 
Era uma vez um rei, mo�o e valente, senhor de um reino abundante em cidades e searas, que partira
a batalhar por terras distantes, deixando solit�ria e triste a sua rainha e um filhinho, que ainda vivia no
seu ber�o, dentro das suas faixas.
A lua cheia que o vira marchar, levado no seu sonho de conquista e de fama, come�ava a minguar,
quando um dos seus cavaleiros apareceu, com as armas rotas, negro do sangue seco e do p� dos
caminhos, trazendo a amarga nova de uma batalha perdida e da morte do rei, trespassado por sete
lan�as entre a flor da sua nobreza, � beira de um grande rio.
A rainha chorou magnificamente o rei. Chorou ainda desoladamente o esposo, que era formoso e
alegre. Mas, sobretudo, chorou ansiosamente o pai, que assim deixava o filhinho desamparado, no meio
de tantos inimigos da sua fr�gil vida e do reino que seria seu, sem um bra�o que o defendesse, forte pela
for�a e forte pelo amor.
Desses inimigos o mais temeroso era seu tio, irm�o bastardo do rei, homem depravado e bravio,
consumido de cobi�as grosseiras, desejando s� a realeza por causa dos seus tesoiros, e que havia anos
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vivia num castelo sobre os montes, com uma horda de rebeldes, � maneira de um lobo que, de atalaia no
seu fojo, espera a presa. Ai! a presa agora era aquela criancinha, rei de mama, senhor de tantas
prov�ncias, e que dormia no seu ber�o com seu guizo de oiro fechado na m�o!
Ao lado dele, outro menino dormia noutro ber�o. Mas era um escravozinho, filho da bela e robusta
escrava que amamentava o pr�ncipe. Ambos tinham nascido na mesma noite de Ver�o. O mesmo seio
os criara. Quando a rainha, antes de adormecer, vinha beijar o principezinho, que tinha o cabelo louro e
fino, beijava tamb�m, por amor dele, o escravozinho, que tinha o cabelo negro e crespo. Os olhos de
ambos reluziam como pedras preciosas. Somente, o ber�o de um era magn�fico de marfim entre
brocados, e o ber�o de outro, pobre e de verga. A leal escrava, por�m, a ambos cercava de carinho
igual, porque, se um era o seu filho, o outro seria o seu rei.
Nascida naquela casa real, ela tinha a paix�o, a religi�o dos seus senhores. Nenhum pranto correra
mais sentidamente do que o seu pelo rei morto � beira do grande rio. Pertencia, por�m, a uma ra�a que
acredita que a vida da terra se continua no c�u. O rei seu amo, decerto, j� estaria agora reinando em
outro reino, para al�m das nuvens, abundante tamb�m em searas e cidades. O seu cavalo de batalha, as
suas armas, os seus pajens tinham subido com ele �s alturas. Os seus vassalos, que fossem morrendo,
prontamente iriam, nesse reino celeste, retomar em torno dele a sua vassalagem. E ela, um dia, por seu
turno, remontaria num raio de lua a habitar o pal�cio do seu senhor, e a fiar de novo o linho das suas
t�nicas, e a acender de novo a ca�oleta dos seus perfumes; seria no c�u como fora na terra, e feliz na
sua servid�o.
(...)
E�a de Queir�s, Contos
 

13. Classifica as seguintes afirmações em verdadeiras ou falsas, a partir da leitura do excerto


de "A Aia".

(__) A escrava dava mais carinho ao príncipe porque o seu berço era mais bonito do que o do
escravozinho.
(__) A rainha beijava o príncipe e o escravo.
(__) O escravozinho e o filho da rainha nasceram quase no mesmo dia.

14. A partir da leitura do excerto de "A Aia", seleciona as personagens que correspondem às
características apresentadas.

A) Moço e valente: _________________ (rei | rainha | um cavaleiro | tio | escrava | príncipe |


escravozinho)
B) Solitária e triste: _________________ (rei | rainha | um cavaleiro | tio | escrava | príncipe |
escravozinho)
C) Cabelo louro e fino: _________________ (rei | rainha | um cavaleiro | tio | escrava | príncipe |
escravozinho)
D) Bela e robusta: _________________ (rei | rainha | um cavaleiro | tio | escrava | príncipe |
escravozinho)
E) Negro de sangue e preto: _________________ (rei | rainha | um cavaleiro | tio | escrava | príncipe |
escravozinho)
F) Homem depravado e bravio: _________________ (rei | rainha | um cavaleiro | tio | escrava | príncipe
| escravozinho)
G) Cabelo negro e crespo: _________________ (rei | rainha | um cavaleiro | tio | escrava | príncipe |
escravozinho)

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A Aia

Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre, entre os seus dois
meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais.
Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os
jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes,
como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de
lanternas, brilhos de armas... Num relance tudo compreendeu: o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar,
matar o seu príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de
marfim, atirou-o para o pobre berço de verga, e, tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-
o no berço real que cobriu com um brocado.

Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto sobre a cota de malha, surgiu à porta da
câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou, correu o berço de marfim onde os brocados luziam, arrancou a
criança, como se arranca uma bolsa de oiro e, abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente.

O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva.

Mas brados de alarme atroaram, de repente, o palácio. Pelas janelas perpassou o longo flamejar das tochas. Os pátios
ressoavam com o bater das armas. E desgrenhada, quase nua, a rainha invadiu a câmara, entre as aias gritando pelo
seu filho! Ao avistar o berço de marfim, com as roupas desmanchadas, vazio, caiu sobre as lajes num choro,
despedaçada. Então, calada, muito lenta, muito pálida, a ama descobriu o pobre berço de verga... O príncipe estava
quieto, adormecido, num sonho que o fazia sorrir, lhe iluminava toda a face entre os seus cabelos de oiro. A mãe caiu
sobre o berço, com um suspiro, como cai um corpo morto.

E nesse instante um novo clamor abalou a galeria de mármore. Era o capitão das guardas, a sua gente fiel. Nos seus
clamores havia, porém, mais tristeza que triunfo. O bastardo morrera! Colhido, ao fugir, entre o palácio e a cidadela,
esmagado pela forte legião de archeiros, sucumbira, ele e vinte da sua horda. O seu corpo lá ficara, com flechas no
flanco, numa poça de sangue. Mas ai! dor sem nome! O corpozinho tenro do príncipe lá ficara também envolto num
manto, já frio, roxo ainda das mãos ferozes que o tinham esganado! Assim tumultuosamente lançavam a nova cruel os
homens de armas, quando a rainha, deslumbrada, com lágrimas entre risos, ergueu nos braços, para lho mostrar, o
príncipe que despertara.

Eça de Queirós, Contos

15. Lê o excerto e completa o espaço com a palavra correta.

A) O recurso fónico presente na expressão "um curto rumor de ferro" é a _________________.

A Aia
 
Era uma vez um rei, mo�o e valente, senhor de um reino abundante em cidades e searas, que partira
a batalhar por terras distantes, deixando solit�ria e triste a sua rainha e um filhinho, que ainda vivia no
seu ber�o, dentro das suas faixas.
A lua cheia que o vira marchar, levado no seu sonho de conquista e de fama, come�ava a minguar,
quando um dos seus cavaleiros apareceu, com as armas rotas, negro do sangue seco e do p� dos
caminhos, trazendo a amarga nova de uma batalha perdida e da morte do rei, trespassado por sete
lan�as entre a flor da sua nobreza, � beira de um grande rio.
A rainha chorou magnificamente o rei. Chorou ainda desoladamente o esposo, que era formoso e
alegre. Mas, sobretudo, chorou ansiosamente o pai, que assim deixava o filhinho desamparado, no meio

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de tantos inimigos da sua fr�gil vida e do reino que seria seu, sem um bra�o que o defendesse, forte pela
for�a e forte pelo amor.
Desses inimigos o mais temeroso era seu tio, irm�o bastardo do rei, homem depravado e bravio,
consumido de cobi�as grosseiras, desejando s� a realeza por causa dos seus tesoiros, e que havia anos
vivia num castelo sobre os montes, com uma horda de rebeldes, � maneira de um lobo que, de atalaia no
seu fojo, espera a presa. Ai! a presa agora era aquela criancinha, rei de mama, senhor de tantas
prov�ncias, e que dormia no seu ber�o com seu guizo de oiro fechado na m�o!
Ao lado dele, outro menino dormia noutro ber�o. Mas era um escravozinho, filho da bela e robusta
escrava que amamentava o pr�ncipe. Ambos tinham nascido na mesma noite de Ver�o. O mesmo seio
os criara. Quando a rainha, antes de adormecer, vinha beijar o principezinho, que tinha o cabelo louro e
fino, beijava tamb�m, por amor dele, o escravozinho, que tinha o cabelo negro e crespo. Os olhos de
ambos reluziam como pedras preciosas. Somente, o ber�o de um era magn�fico de marfim entre
brocados, e o ber�o de outro, pobre e de verga. A leal escrava, por�m, a ambos cercava de carinho
igual, porque, se um era o seu filho, o outro seria o seu rei.
Nascida naquela casa real, ela tinha a paix�o, a religi�o dos seus senhores. Nenhum pranto correra
mais sentidamente do que o seu pelo rei morto � beira do grande rio. Pertencia, por�m, a uma ra�a que
acredita que a vida da terra se continua no c�u. O rei seu amo, decerto, j� estaria agora reinando em
outro reino, para al�m das nuvens, abundante tamb�m em searas e cidades. O seu cavalo de batalha, as
suas armas, os seus pajens tinham subido com ele �s alturas. Os seus vassalos, que fossem morrendo,
prontamente iriam, nesse reino celeste, retomar em torno dele a sua vassalagem. E ela, um dia, por seu
turno, remontaria num raio de lua a habitar o pal�cio do seu senhor, e a fiar de novo o linho das suas
t�nicas, e a acender de novo a ca�oleta dos seus perfumes; seria no c�u como fora na terra, e feliz na
sua servid�o.
(...)
E�a de Queir�s, Contos
 

16. Identifica o recurso expressivo presente em cada uma das frases.


16.1"trespassado por sete lanças entre a flor da sua nobreza"
(A) Comparação
(B) Ironia
(C) Metáfora
(D) Personificação
16.2"à maneira de um lobo que, de atalaia no seu fojo, espera a presa"
(A) Comparação
(B) Ironia
(C) Metáfora
(D) Personificação

Grupo V

A Aia

Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre, entre os seus dois
meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais.
Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os
jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes,
como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de
lanternas, brilhos de armas... Num relance tudo compreendeu: o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar,
matar o seu príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de

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marfim, atirou-o para o pobre berço de verga, e, tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-
o no berço real que cobriu com um brocado.

Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto sobre a cota de malha, surgiu à porta da
câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou, correu o berço de marfim onde os brocados luziam, arrancou a
criança, como se arranca uma bolsa de oiro e, abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente.

O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva.

Mas brados de alarme atroaram, de repente, o palácio. Pelas janelas perpassou o longo flamejar das tochas. Os pátios
ressoavam com o bater das armas. E desgrenhada, quase nua, a rainha invadiu a câmara, entre as aias gritando pelo
seu filho! Ao avistar o berço de marfim, com as roupas desmanchadas, vazio, caiu sobre as lajes num choro,
despedaçada. Então, calada, muito lenta, muito pálida, a ama descobriu o pobre berço de verga... O príncipe estava
quieto, adormecido, num sonho que o fazia sorrir, lhe iluminava toda a face entre os seus cabelos de oiro. A mãe caiu
sobre o berço, com um suspiro, como cai um corpo morto.

E nesse instante um novo clamor abalou a galeria de mármore. Era o capitão das guardas, a sua gente fiel. Nos seus
clamores havia, porém, mais tristeza que triunfo. O bastardo morrera! Colhido, ao fugir, entre o palácio e a cidadela,
esmagado pela forte legião de archeiros, sucumbira, ele e vinte da sua horda. O seu corpo lá ficara, com flechas no
flanco, numa poça de sangue. Mas ai! dor sem nome! O corpozinho tenro do príncipe lá ficara também envolto num
manto, já frio, roxo ainda das mãos ferozes que o tinham esganado! Assim tumultuosamente lançavam a nova cruel os
homens de armas, quando a rainha, deslumbrada, com lágrimas entre risos, ergueu nos braços, para lho mostrar, o
príncipe que despertara.

Eça de Queirós, Contos

17. Estabelece a correspondência correta entre cada palavra e a respetiva definição, a partir da leitura
do excerto de "A Aia".

A) Cama tosca e pobre: _________________ (catre | vergéis | lajes)


B) Jardins: _________________ (bastardo | catre | vergéis)
C) Pedra lisa de pavimento: _________________ (brocado | catre | lajes)
D) Filho ilegítimo: _________________ (brocado | bastardo | servil)
E) Tecido de seda com bordados ricos: _________________ (brocado | catre | vergéis)
F) Referente à condição de servidão: _________________ (bastardo | servil | catre)

18. Seleciona a resposta correta, a partir da leitura do excerto de "A Aia".


"A Ama ficara imóvel no silêncio e na treva." Qual das afirmações seguintes melhor justifica a
atitude da Aia?
(A) Tinha acabado de sacrificar o seu filho.
(B) Não queria ser apanhada pelo cavaleiro.
(C) Não queria contar o que acabara de fazer.
(D) Ficou indiferente ao sucedido.
(E) Estava paralisada pelo medo.

A Aia

Foi um espanto, uma aclama��o. Quem o salvara? Quem?... L� estava junto do ber�o de marfim vazio, muda e
hirta, aquela que o salvara! Serva sublimemente leal! Fora ela que, para conservar a vida ao seu pr�ncipe,
mandara � morte o seu filho... Ent�o, s� ent�o, a m�e ditosa, emergindo da sua alegria ext�tica, abra�ou
apaixonadamente a m�e dolorosa, e a beijou, e lhe chamou irm� do seu cora��o... E de entre aquela multid�o
que se apertava na galeria veio uma nova, ardente aclama��o, com s�plicas de que fosse recompensada

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magnificamente a serva admir�vel que salvara o rei e o reino.

Mas como? Que bolas de oiro podem pagar um filho? Ent�o um velho de casta nobre lembrou que ela fosse
levada ao Tesoiro real, e escolhesse de entre essas riquezas, que eram como as maiores dos maiores tesoiros da
�ndia, todas que o seu desejo apetecesse...

A rainha tomou a m�o da serva. E sem que a sua face de m�rmore perdesse a rigidez, com um andar de morta,
como um sonho, ela foi assim conduzida para a C�mara dos Tesoiros. Senhores, aias, homens de armas,
seguiam, num respeito t�o comovido, que apenas se ouvia o ro�ar das sand�lias nas lajes.

As espessas portas do Tesoiro rodaram lentamente. E, quando um servo destrancou as janelas, a luz da
madrugada, j� clara e r�sea, entrando pelos gradeamentos de ferro, acendeu um maravilhoso e faiscante
inc�ndio de oiro e pedrarias! Do ch�o de rocha at� �s sombrias ab�badas, por toda a c�mara, reluziam,
cintilavam, refulgiam os escudos de oiro, as armas marchetadas, mont�es de diamantes, as pilhas de moedas, os
longos fios de p�rolas, todas as riquezas daquele reino, acumuladas por cem r�is durante vinte s�culos. Um
longo - ah! - lento e maravilhado, passou por sobre a turba que emudecera. Depois houve um sil�ncio ansioso. E
no meio da c�mara, envolta na refulg�ncia preciosa, a ama n�o se movia... Apenas os seus olhos, brilhantes e
secos, se tinham erguido para aquele c�u que, al�m das grades, se tingia de rosa e de oiro. Era l�, nesse c�u
fresco de madrugada, que estava agora o seu menino. Estava l�, e j� o Sol erguia, e era tarde, e o seu menino
chorava decerto, e procurava o seu peito!...

E ent�o a ama sorriu e estendeu a m�o. Todos seguiam, sem respirar, aquele lento mover da sua m�o aberta.
Que j�ia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis ia ela escolher?

A ama estendia a m�o, e sobre um escabelo ao lado, entre um molho de armas, agarrou um punhal. Era um
punhal de um velho rei, todo cravejado de esmeraldas, e que valia uma prov�ncia.

Agarrara o punhal, e com ele apertado fortemente na m�o, apontando para o c�u, onde subiam os primeiros
raios do Sol, encarou a rainha, a multid�o, e gritou:

- Salvei o meu pr�ncipe, e agora vou dar de mamar ao meu filho!

E cravou o punhal no cora��o.

E�a de Queir�s, Contos

19.

A) Completa as frases com as opções corretas, a partir da leitura do excerto de "A Aia".
Ao ver o tesoiro a _________________ (turba | ama | rainha) emudeceu. A ama não se
_________________ (calava | movia | enxergava). Os seus olhos _________________ (brilhantes e
negros | brilhantes e molhados | brilhantes e secos) ergueram-se para _________________ (o céu | o
povo | a multidão). O seu filho chorava e procurava o seu peito .

Grupo VI

A Aia
 
Era uma vez um rei, mo�o e valente, senhor de um reino abundante em cidades e searas, que partira
a batalhar por terras distantes, deixando solit�ria e triste a sua rainha e um filhinho, que ainda vivia no
seu ber�o, dentro das suas faixas.
A lua cheia que o vira marchar, levado no seu sonho de conquista e de fama, come�ava a minguar,
quando um dos seus cavaleiros apareceu, com as armas rotas, negro do sangue seco e do p� dos

14 / 26
caminhos, trazendo a amarga nova de uma batalha perdida e da morte do rei, trespassado por sete
lan�as entre a flor da sua nobreza, � beira de um grande rio.
A rainha chorou magnificamente o rei. Chorou ainda desoladamente o esposo, que era formoso e
alegre. Mas, sobretudo, chorou ansiosamente o pai, que assim deixava o filhinho desamparado, no meio
de tantos inimigos da sua fr�gil vida e do reino que seria seu, sem um bra�o que o defendesse, forte pela
for�a e forte pelo amor.
Desses inimigos o mais temeroso era seu tio, irm�o bastardo do rei, homem depravado e bravio,
consumido de cobi�as grosseiras, desejando s� a realeza por causa dos seus tesoiros, e que havia anos
vivia num castelo sobre os montes, com uma horda de rebeldes, � maneira de um lobo que, de atalaia no
seu fojo, espera a presa. Ai! a presa agora era aquela criancinha, rei de mama, senhor de tantas
prov�ncias, e que dormia no seu ber�o com seu guizo de oiro fechado na m�o!
Ao lado dele, outro menino dormia noutro ber�o. Mas era um escravozinho, filho da bela e robusta
escrava que amamentava o pr�ncipe. Ambos tinham nascido na mesma noite de Ver�o. O mesmo seio
os criara. Quando a rainha, antes de adormecer, vinha beijar o principezinho, que tinha o cabelo louro e
fino, beijava tamb�m, por amor dele, o escravozinho, que tinha o cabelo negro e crespo. Os olhos de
ambos reluziam como pedras preciosas. Somente, o ber�o de um era magn�fico de marfim entre
brocados, e o ber�o de outro, pobre e de verga. A leal escrava, por�m, a ambos cercava de carinho
igual, porque, se um era o seu filho, o outro seria o seu rei.
Nascida naquela casa real, ela tinha a paix�o, a religi�o dos seus senhores. Nenhum pranto correra
mais sentidamente do que o seu pelo rei morto � beira do grande rio. Pertencia, por�m, a uma ra�a que
acredita que a vida da terra se continua no c�u. O rei seu amo, decerto, j� estaria agora reinando em
outro reino, para al�m das nuvens, abundante tamb�m em searas e cidades. O seu cavalo de batalha, as
suas armas, os seus pajens tinham subido com ele �s alturas. Os seus vassalos, que fossem morrendo,
prontamente iriam, nesse reino celeste, retomar em torno dele a sua vassalagem. E ela, um dia, por seu
turno, remontaria num raio de lua a habitar o pal�cio do seu senhor, e a fiar de novo o linho das suas
t�nicas, e a acender de novo a ca�oleta dos seus perfumes; seria no c�u como fora na terra, e feliz na
sua servid�o.
(...)
E�a de Queir�s, Contos
 

20. Identifica o recurso expressivo presente em cada uma das frases.


20.1"Os olhos de ambos reluziam como pedras preciosas"
(A) Perífrase
(B) Enumeração
(C) Metáfora
(D) Comparação
20.2"A presa era agora aquela criancinha"
(A) Perífrase
(B) Enumeração
(C) Metáfora
(D) Comparação

21. Classifica as seguintes afirmações em verdadeiras ou falsas, a partir da leitura do excerto


de "A Aia".
(__) A escrava acreditava que a vida continuava depois da morte.
(__) A escrava acreditava que uma outra corte se formaria à medida que os súbditos do rei fossem
morrendo.
(__) A escrava ansiava pela sua liberdade.
(__) A morte do rei não lhe tinha causado qualquer tipo de desgosto.

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22. Identifica a expressão que remete para um tempo indeterminado.

A) Expressão

Rodeia os elementos do texto de acordo com os critérios.

"Era uma vez um rei, moço e valente, senhor de um reino abundante em cidades e searas, que partira a
batalhar por terras distantes, deixando solitária e triste a sua rainha e um filhinho, que ainda vivia no seu
berço, dentro das suas faixas."

A Aia

Foi um espanto, uma aclama��o. Quem o salvara? Quem?... L� estava junto do ber�o de marfim vazio, muda e
hirta, aquela que o salvara! Serva sublimemente leal! Fora ela que, para conservar a vida ao seu pr�ncipe,
mandara � morte o seu filho... Ent�o, s� ent�o, a m�e ditosa, emergindo da sua alegria ext�tica, abra�ou
apaixonadamente a m�e dolorosa, e a beijou, e lhe chamou irm� do seu cora��o... E de entre aquela multid�o
que se apertava na galeria veio uma nova, ardente aclama��o, com s�plicas de que fosse recompensada
magnificamente a serva admir�vel que salvara o rei e o reino.

Mas como? Que bolas de oiro podem pagar um filho? Ent�o um velho de casta nobre lembrou que ela fosse
levada ao Tesoiro real, e escolhesse de entre essas riquezas, que eram como as maiores dos maiores tesoiros da
�ndia, todas que o seu desejo apetecesse...

A rainha tomou a m�o da serva. E sem que a sua face de m�rmore perdesse a rigidez, com um andar de morta,
como um sonho, ela foi assim conduzida para a C�mara dos Tesoiros. Senhores, aias, homens de armas,
seguiam, num respeito t�o comovido, que apenas se ouvia o ro�ar das sand�lias nas lajes.

As espessas portas do Tesoiro rodaram lentamente. E, quando um servo destrancou as janelas, a luz da
madrugada, j� clara e r�sea, entrando pelos gradeamentos de ferro, acendeu um maravilhoso e faiscante
inc�ndio de oiro e pedrarias! Do ch�o de rocha at� �s sombrias ab�badas, por toda a c�mara, reluziam,
cintilavam, refulgiam os escudos de oiro, as armas marchetadas, mont�es de diamantes, as pilhas de moedas, os
longos fios de p�rolas, todas as riquezas daquele reino, acumuladas por cem r�is durante vinte s�culos. Um
longo - ah! - lento e maravilhado, passou por sobre a turba que emudecera. Depois houve um sil�ncio ansioso. E
no meio da c�mara, envolta na refulg�ncia preciosa, a ama n�o se movia... Apenas os seus olhos, brilhantes e
secos, se tinham erguido para aquele c�u que, al�m das grades, se tingia de rosa e de oiro. Era l�, nesse c�u
fresco de madrugada, que estava agora o seu menino. Estava l�, e j� o Sol erguia, e era tarde, e o seu menino
chorava decerto, e procurava o seu peito!...

E ent�o a ama sorriu e estendeu a m�o. Todos seguiam, sem respirar, aquele lento mover da sua m�o aberta.
Que j�ia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis ia ela escolher?

A ama estendia a m�o, e sobre um escabelo ao lado, entre um molho de armas, agarrou um punhal. Era um
punhal de um velho rei, todo cravejado de esmeraldas, e que valia uma prov�ncia.

Agarrara o punhal, e com ele apertado fortemente na m�o, apontando para o c�u, onde subiam os primeiros
raios do Sol, encarou a rainha, a multid�o, e gritou:

- Salvei o meu pr�ncipe, e agora vou dar de mamar ao meu filho!

E cravou o punhal no cora��o.

E�a de Queir�s, Contos

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23. Classifica as seguintes afirmações em verdadeiras ou falsas, a partir da leitura do excerto
de "A Aia".

(__) O punhal que a Aia escolheu pertencia a um jovem príncipe.


(__) O punhal tinha um valor incalculável.
(__) A Aia apunhalou a rainha no coração.
(__) Toda a gente previa a joia que a Aia ia escolher.
(__) A ama sorriu e estendeu a mão porque já sabia que recompensa escolher.

A Aia

Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre, entre os seus dois
meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais.
Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os
jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes,
como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de
lanternas, brilhos de armas... Num relance tudo compreendeu: o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar,
matar o seu príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de
marfim, atirou-o para o pobre berço de verga, e, tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-
o no berço real que cobriu com um brocado.

Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto sobre a cota de malha, surgiu à porta da
câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou, correu o berço de marfim onde os brocados luziam, arrancou a
criança, como se arranca uma bolsa de oiro e, abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente.

O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva.

Mas brados de alarme atroaram, de repente, o palácio. Pelas janelas perpassou o longo flamejar das tochas. Os pátios
ressoavam com o bater das armas. E desgrenhada, quase nua, a rainha invadiu a câmara, entre as aias gritando pelo
seu filho! Ao avistar o berço de marfim, com as roupas desmanchadas, vazio, caiu sobre as lajes num choro,
despedaçada. Então, calada, muito lenta, muito pálida, a ama descobriu o pobre berço de verga... O príncipe estava
quieto, adormecido, num sonho que o fazia sorrir, lhe iluminava toda a face entre os seus cabelos de oiro. A mãe caiu
sobre o berço, com um suspiro, como cai um corpo morto.

E nesse instante um novo clamor abalou a galeria de mármore. Era o capitão das guardas, a sua gente fiel. Nos seus
clamores havia, porém, mais tristeza que triunfo. O bastardo morrera! Colhido, ao fugir, entre o palácio e a cidadela,
esmagado pela forte legião de archeiros, sucumbira, ele e vinte da sua horda. O seu corpo lá ficara, com flechas no
flanco, numa poça de sangue. Mas ai! dor sem nome! O corpozinho tenro do príncipe lá ficara também envolto num
manto, já frio, roxo ainda das mãos ferozes que o tinham esganado! Assim tumultuosamente lançavam a nova cruel os
homens de armas, quando a rainha, deslumbrada, com lágrimas entre risos, ergueu nos braços, para lho mostrar, o
príncipe que despertara.

Eça de Queirós, Contos

24. Classifica as seguintes afirmações em verdadeiras ou falsas, a partir da leitura do excerto


de "A Aia".

(__) A escrava não percebeu de imediato o que se estava a passar.


(__) O assalto ao castelo deu-se de noite e silenciosamente.
(__) A escrava sacrificou o filho em favor do reino.
(__) A sua primeira reação foi a de esconder o seu filho.

25.

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A) Completa as frases com as opções corretas de acordo com o conto "A Aia":
A rainha saiu de uma alegria _________________ (estática | extática). A Aia ficou _________________
(estática | extática) no meio da sala.

A Aia

Foi um espanto, uma aclama��o. Quem o salvara? Quem?... L� estava junto do ber�o de marfim vazio, muda e
hirta, aquela que o salvara! Serva sublimemente leal! Fora ela que, para conservar a vida ao seu pr�ncipe,
mandara � morte o seu filho... Ent�o, s� ent�o, a m�e ditosa, emergindo da sua alegria ext�tica, abra�ou
apaixonadamente a m�e dolorosa, e a beijou, e lhe chamou irm� do seu cora��o... E de entre aquela multid�o
que se apertava na galeria veio uma nova, ardente aclama��o, com s�plicas de que fosse recompensada
magnificamente a serva admir�vel que salvara o rei e o reino.

Mas como? Que bolas de oiro podem pagar um filho? Ent�o um velho de casta nobre lembrou que ela fosse
levada ao Tesoiro real, e escolhesse de entre essas riquezas, que eram como as maiores dos maiores tesoiros da
�ndia, todas que o seu desejo apetecesse...

A rainha tomou a m�o da serva. E sem que a sua face de m�rmore perdesse a rigidez, com um andar de morta,
como um sonho, ela foi assim conduzida para a C�mara dos Tesoiros. Senhores, aias, homens de armas,
seguiam, num respeito t�o comovido, que apenas se ouvia o ro�ar das sand�lias nas lajes.

As espessas portas do Tesoiro rodaram lentamente. E, quando um servo destrancou as janelas, a luz da
madrugada, j� clara e r�sea, entrando pelos gradeamentos de ferro, acendeu um maravilhoso e faiscante
inc�ndio de oiro e pedrarias! Do ch�o de rocha at� �s sombrias ab�badas, por toda a c�mara, reluziam,
cintilavam, refulgiam os escudos de oiro, as armas marchetadas, mont�es de diamantes, as pilhas de moedas, os
longos fios de p�rolas, todas as riquezas daquele reino, acumuladas por cem r�is durante vinte s�culos. Um
longo - ah! - lento e maravilhado, passou por sobre a turba que emudecera. Depois houve um sil�ncio ansioso. E
no meio da c�mara, envolta na refulg�ncia preciosa, a ama n�o se movia... Apenas os seus olhos, brilhantes e
secos, se tinham erguido para aquele c�u que, al�m das grades, se tingia de rosa e de oiro. Era l�, nesse c�u
fresco de madrugada, que estava agora o seu menino. Estava l�, e j� o Sol erguia, e era tarde, e o seu menino
chorava decerto, e procurava o seu peito!...

E ent�o a ama sorriu e estendeu a m�o. Todos seguiam, sem respirar, aquele lento mover da sua m�o aberta.
Que j�ia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis ia ela escolher?

A ama estendia a m�o, e sobre um escabelo ao lado, entre um molho de armas, agarrou um punhal. Era um
punhal de um velho rei, todo cravejado de esmeraldas, e que valia uma prov�ncia.

Agarrara o punhal, e com ele apertado fortemente na m�o, apontando para o c�u, onde subiam os primeiros
raios do Sol, encarou a rainha, a multid�o, e gritou:

- Salvei o meu pr�ncipe, e agora vou dar de mamar ao meu filho!

E cravou o punhal no cora��o.

E�a de Queir�s, Contos

26. A partir da leitura do excerto de "A Aia", seleciona a dupla adjetivação que corresponde a cada
palavra apresenatada.

A) Incêndio _________________ (nova e ardente | maravilhoso e faiscante | lento e maravilhado)


B) Madrugada _________________ (muda e hirta | nova e ardente | clara e rósea)
C) A Aia _________________ (muda e hirta | nova e ardente | clara e rósea)
D) Olhos _________________ (clara e rósea | maravilhoso e faiscante | brilhantes e secos)
E) Ah! _________________ (nova e ardente | maravilhoso e faiscante | lento e maravilhado)

18 / 26
F) Aclamação _________________ (nova e ardente | maravilhoso e faiscante | lento e maravilhado)

A Aia

Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre, entre os seus dois
meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais.
Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os
jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes,
como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de
lanternas, brilhos de armas... Num relance tudo compreendeu: o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar,
matar o seu príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de
marfim, atirou-o para o pobre berço de verga, e, tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-
o no berço real que cobriu com um brocado.

Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto sobre a cota de malha, surgiu à porta da
câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou, correu o berço de marfim onde os brocados luziam, arrancou a
criança, como se arranca uma bolsa de oiro e, abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente.

O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva.

Mas brados de alarme atroaram, de repente, o palácio. Pelas janelas perpassou o longo flamejar das tochas. Os pátios
ressoavam com o bater das armas. E desgrenhada, quase nua, a rainha invadiu a câmara, entre as aias gritando pelo
seu filho! Ao avistar o berço de marfim, com as roupas desmanchadas, vazio, caiu sobre as lajes num choro,
despedaçada. Então, calada, muito lenta, muito pálida, a ama descobriu o pobre berço de verga... O príncipe estava
quieto, adormecido, num sonho que o fazia sorrir, lhe iluminava toda a face entre os seus cabelos de oiro. A mãe caiu
sobre o berço, com um suspiro, como cai um corpo morto.

E nesse instante um novo clamor abalou a galeria de mármore. Era o capitão das guardas, a sua gente fiel. Nos seus
clamores havia, porém, mais tristeza que triunfo. O bastardo morrera! Colhido, ao fugir, entre o palácio e a cidadela,
esmagado pela forte legião de archeiros, sucumbira, ele e vinte da sua horda. O seu corpo lá ficara, com flechas no
flanco, numa poça de sangue. Mas ai! dor sem nome! O corpozinho tenro do príncipe lá ficara também envolto num
manto, já frio, roxo ainda das mãos ferozes que o tinham esganado! Assim tumultuosamente lançavam a nova cruel os
homens de armas, quando a rainha, deslumbrada, com lágrimas entre risos, ergueu nos braços, para lho mostrar, o
príncipe que despertara.

Eça de Queirós, Contos

27. Classifica as seguintes afirmações em verdadeiras ou falsas, a partir da leitura do excerto


de "A Aia".
(__) Muito alegre, a Aia mostrou à rainha o príncipe, no berço de verga.
(__) A rainha gritou pelo filho pensando que ele estava morto.
(__) Quando viu o filho vivo, a rainha desfaleceu.
(__) Para ir ver o filho, a rainha vestiu um pesado vestido de veludo.

A Aia
 
Era uma vez um rei, mo�o e valente, senhor de um reino abundante em cidades e searas, que partira
a batalhar por terras distantes, deixando solit�ria e triste a sua rainha e um filhinho, que ainda vivia no
seu ber�o, dentro das suas faixas.
A lua cheia que o vira marchar, levado no seu sonho de conquista e de fama, come�ava a minguar,
quando um dos seus cavaleiros apareceu, com as armas rotas, negro do sangue seco e do p� dos

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caminhos, trazendo a amarga nova de uma batalha perdida e da morte do rei, trespassado por sete
lan�as entre a flor da sua nobreza, � beira de um grande rio.
A rainha chorou magnificamente o rei. Chorou ainda desoladamente o esposo, que era formoso e
alegre. Mas, sobretudo, chorou ansiosamente o pai, que assim deixava o filhinho desamparado, no meio
de tantos inimigos da sua fr�gil vida e do reino que seria seu, sem um bra�o que o defendesse, forte pela
for�a e forte pelo amor.
Desses inimigos o mais temeroso era seu tio, irm�o bastardo do rei, homem depravado e bravio,
consumido de cobi�as grosseiras, desejando s� a realeza por causa dos seus tesoiros, e que havia anos
vivia num castelo sobre os montes, com uma horda de rebeldes, � maneira de um lobo que, de atalaia no
seu fojo, espera a presa. Ai! a presa agora era aquela criancinha, rei de mama, senhor de tantas
prov�ncias, e que dormia no seu ber�o com seu guizo de oiro fechado na m�o!
Ao lado dele, outro menino dormia noutro ber�o. Mas era um escravozinho, filho da bela e robusta
escrava que amamentava o pr�ncipe. Ambos tinham nascido na mesma noite de Ver�o. O mesmo seio
os criara. Quando a rainha, antes de adormecer, vinha beijar o principezinho, que tinha o cabelo louro e
fino, beijava tamb�m, por amor dele, o escravozinho, que tinha o cabelo negro e crespo. Os olhos de
ambos reluziam como pedras preciosas. Somente, o ber�o de um era magn�fico de marfim entre
brocados, e o ber�o de outro, pobre e de verga. A leal escrava, por�m, a ambos cercava de carinho
igual, porque, se um era o seu filho, o outro seria o seu rei.
Nascida naquela casa real, ela tinha a paix�o, a religi�o dos seus senhores. Nenhum pranto correra
mais sentidamente do que o seu pelo rei morto � beira do grande rio. Pertencia, por�m, a uma ra�a que
acredita que a vida da terra se continua no c�u. O rei seu amo, decerto, j� estaria agora reinando em
outro reino, para al�m das nuvens, abundante tamb�m em searas e cidades. O seu cavalo de batalha, as
suas armas, os seus pajens tinham subido com ele �s alturas. Os seus vassalos, que fossem morrendo,
prontamente iriam, nesse reino celeste, retomar em torno dele a sua vassalagem. E ela, um dia, por seu
turno, remontaria num raio de lua a habitar o pal�cio do seu senhor, e a fiar de novo o linho das suas
t�nicas, e a acender de novo a ca�oleta dos seus perfumes; seria no c�u como fora na terra, e feliz na
sua servid�o.
(...)
E�a de Queir�s, Contos
 

28.

A) Lê o excerto e completa as frases com as opções corretas.


A frase "O seu cavalo de batalha, as suas armas, os seus pajens tinham subido com ele às alturas."
contém duas figuras de estilo. São elas _________________ (a enumeração | a perífrase | a aliteração) e
a _________________ (o eufemismo | a comparação | a antítese).

A Aia

Foi um espanto, uma aclama��o. Quem o salvara? Quem?... L� estava junto do ber�o de marfim vazio, muda e
hirta, aquela que o salvara! Serva sublimemente leal! Fora ela que, para conservar a vida ao seu pr�ncipe,
mandara � morte o seu filho... Ent�o, s� ent�o, a m�e ditosa, emergindo da sua alegria ext�tica, abra�ou
apaixonadamente a m�e dolorosa, e a beijou, e lhe chamou irm� do seu cora��o... E de entre aquela multid�o
que se apertava na galeria veio uma nova, ardente aclama��o, com s�plicas de que fosse recompensada
magnificamente a serva admir�vel que salvara o rei e o reino.

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Mas como? Que bolas de oiro podem pagar um filho? Ent�o um velho de casta nobre lembrou que ela fosse
levada ao Tesoiro real, e escolhesse de entre essas riquezas, que eram como as maiores dos maiores tesoiros da
�ndia, todas que o seu desejo apetecesse...

A rainha tomou a m�o da serva. E sem que a sua face de m�rmore perdesse a rigidez, com um andar de morta,
como um sonho, ela foi assim conduzida para a C�mara dos Tesoiros. Senhores, aias, homens de armas,
seguiam, num respeito t�o comovido, que apenas se ouvia o ro�ar das sand�lias nas lajes.

As espessas portas do Tesoiro rodaram lentamente. E, quando um servo destrancou as janelas, a luz da
madrugada, j� clara e r�sea, entrando pelos gradeamentos de ferro, acendeu um maravilhoso e faiscante
inc�ndio de oiro e pedrarias! Do ch�o de rocha at� �s sombrias ab�badas, por toda a c�mara, reluziam,
cintilavam, refulgiam os escudos de oiro, as armas marchetadas, mont�es de diamantes, as pilhas de moedas, os
longos fios de p�rolas, todas as riquezas daquele reino, acumuladas por cem r�is durante vinte s�culos. Um
longo - ah! - lento e maravilhado, passou por sobre a turba que emudecera. Depois houve um sil�ncio ansioso. E
no meio da c�mara, envolta na refulg�ncia preciosa, a ama n�o se movia... Apenas os seus olhos, brilhantes e
secos, se tinham erguido para aquele c�u que, al�m das grades, se tingia de rosa e de oiro. Era l�, nesse c�u
fresco de madrugada, que estava agora o seu menino. Estava l�, e j� o Sol erguia, e era tarde, e o seu menino
chorava decerto, e procurava o seu peito!...

E ent�o a ama sorriu e estendeu a m�o. Todos seguiam, sem respirar, aquele lento mover da sua m�o aberta.
Que j�ia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis ia ela escolher?

A ama estendia a m�o, e sobre um escabelo ao lado, entre um molho de armas, agarrou um punhal. Era um
punhal de um velho rei, todo cravejado de esmeraldas, e que valia uma prov�ncia.

Agarrara o punhal, e com ele apertado fortemente na m�o, apontando para o c�u, onde subiam os primeiros
raios do Sol, encarou a rainha, a multid�o, e gritou:

- Salvei o meu pr�ncipe, e agora vou dar de mamar ao meu filho!

E cravou o punhal no cora��o.

E�a de Queir�s, Contos

29. Classifica as seguintes afirmações em verdadeiras ou falsas, a partir da leitura do excerto


de "A Aia".

(__) A multidão pediu para a serva uma magnífica recompensa.


(__) O gesto da Aia seria pago com terras.
(__) Todos a seguiram num cortejo de alegria.
(__) A Aia ficou feliz e correu logo para o tesoiro.
(__) Do semblante alheio da Aia só se destacaram os seus olhos brilhantes e secos.

A Aia
 
Era uma vez um rei, mo�o e valente, senhor de um reino abundante em cidades e searas, que partira
a batalhar por terras distantes, deixando solit�ria e triste a sua rainha e um filhinho, que ainda vivia no
seu ber�o, dentro das suas faixas.
A lua cheia que o vira marchar, levado no seu sonho de conquista e de fama, come�ava a minguar,
quando um dos seus cavaleiros apareceu, com as armas rotas, negro do sangue seco e do p� dos
caminhos, trazendo a amarga nova de uma batalha perdida e da morte do rei, trespassado por sete
lan�as entre a flor da sua nobreza, � beira de um grande rio.

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A rainha chorou magnificamente o rei. Chorou ainda desoladamente o esposo, que era formoso e
alegre. Mas, sobretudo, chorou ansiosamente o pai, que assim deixava o filhinho desamparado, no meio
de tantos inimigos da sua fr�gil vida e do reino que seria seu, sem um bra�o que o defendesse, forte pela
for�a e forte pelo amor.
Desses inimigos o mais temeroso era seu tio, irm�o bastardo do rei, homem depravado e bravio,
consumido de cobi�as grosseiras, desejando s� a realeza por causa dos seus tesoiros, e que havia anos
vivia num castelo sobre os montes, com uma horda de rebeldes, � maneira de um lobo que, de atalaia no
seu fojo, espera a presa. Ai! a presa agora era aquela criancinha, rei de mama, senhor de tantas
prov�ncias, e que dormia no seu ber�o com seu guizo de oiro fechado na m�o!
Ao lado dele, outro menino dormia noutro ber�o. Mas era um escravozinho, filho da bela e robusta
escrava que amamentava o pr�ncipe. Ambos tinham nascido na mesma noite de Ver�o. O mesmo seio
os criara. Quando a rainha, antes de adormecer, vinha beijar o principezinho, que tinha o cabelo louro e
fino, beijava tamb�m, por amor dele, o escravozinho, que tinha o cabelo negro e crespo. Os olhos de
ambos reluziam como pedras preciosas. Somente, o ber�o de um era magn�fico de marfim entre
brocados, e o ber�o de outro, pobre e de verga. A leal escrava, por�m, a ambos cercava de carinho
igual, porque, se um era o seu filho, o outro seria o seu rei.
Nascida naquela casa real, ela tinha a paix�o, a religi�o dos seus senhores. Nenhum pranto correra
mais sentidamente do que o seu pelo rei morto � beira do grande rio. Pertencia, por�m, a uma ra�a que
acredita que a vida da terra se continua no c�u. O rei seu amo, decerto, j� estaria agora reinando em
outro reino, para al�m das nuvens, abundante tamb�m em searas e cidades. O seu cavalo de batalha, as
suas armas, os seus pajens tinham subido com ele �s alturas. Os seus vassalos, que fossem morrendo,
prontamente iriam, nesse reino celeste, retomar em torno dele a sua vassalagem. E ela, um dia, por seu
turno, remontaria num raio de lua a habitar o pal�cio do seu senhor, e a fiar de novo o linho das suas
t�nicas, e a acender de novo a ca�oleta dos seus perfumes; seria no c�u como fora na terra, e feliz na
sua servid�o.
(...)
E�a de Queir�s, Contos
 

30. Estabelece a correspondência correta entre cada advérbio e uma faceta do rei (visível
através do choro da rainha), a partir da leitura do excerto de "A Aia".
30.1Desoladamente
(A) Rei
(B) Esposo
(C) Pai
30.2Ansiosamente
(A) Rei
(B) Esposo
(C) Pai
30.3Magnificamente
(A) Rei
(B) Esposo
(C) Pai

A Aia

Foi um espanto, uma aclama��o. Quem o salvara? Quem?... L� estava junto do ber�o de marfim vazio, muda e
hirta, aquela que o salvara! Serva sublimemente leal! Fora ela que, para conservar a vida ao seu pr�ncipe,

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mandara � morte o seu filho... Ent�o, s� ent�o, a m�e ditosa, emergindo da sua alegria ext�tica, abra�ou
apaixonadamente a m�e dolorosa, e a beijou, e lhe chamou irm� do seu cora��o... E de entre aquela multid�o
que se apertava na galeria veio uma nova, ardente aclama��o, com s�plicas de que fosse recompensada
magnificamente a serva admir�vel que salvara o rei e o reino.

Mas como? Que bolas de oiro podem pagar um filho? Ent�o um velho de casta nobre lembrou que ela fosse
levada ao Tesoiro real, e escolhesse de entre essas riquezas, que eram como as maiores dos maiores tesoiros da
�ndia, todas que o seu desejo apetecesse...

A rainha tomou a m�o da serva. E sem que a sua face de m�rmore perdesse a rigidez, com um andar de morta,
como um sonho, ela foi assim conduzida para a C�mara dos Tesoiros. Senhores, aias, homens de armas,
seguiam, num respeito t�o comovido, que apenas se ouvia o ro�ar das sand�lias nas lajes.

As espessas portas do Tesoiro rodaram lentamente. E, quando um servo destrancou as janelas, a luz da
madrugada, j� clara e r�sea, entrando pelos gradeamentos de ferro, acendeu um maravilhoso e faiscante
inc�ndio de oiro e pedrarias! Do ch�o de rocha at� �s sombrias ab�badas, por toda a c�mara, reluziam,
cintilavam, refulgiam os escudos de oiro, as armas marchetadas, mont�es de diamantes, as pilhas de moedas, os
longos fios de p�rolas, todas as riquezas daquele reino, acumuladas por cem r�is durante vinte s�culos. Um
longo - ah! - lento e maravilhado, passou por sobre a turba que emudecera. Depois houve um sil�ncio ansioso. E
no meio da c�mara, envolta na refulg�ncia preciosa, a ama n�o se movia... Apenas os seus olhos, brilhantes e
secos, se tinham erguido para aquele c�u que, al�m das grades, se tingia de rosa e de oiro. Era l�, nesse c�u
fresco de madrugada, que estava agora o seu menino. Estava l�, e j� o Sol erguia, e era tarde, e o seu menino
chorava decerto, e procurava o seu peito!...

E ent�o a ama sorriu e estendeu a m�o. Todos seguiam, sem respirar, aquele lento mover da sua m�o aberta.
Que j�ia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis ia ela escolher?

A ama estendia a m�o, e sobre um escabelo ao lado, entre um molho de armas, agarrou um punhal. Era um
punhal de um velho rei, todo cravejado de esmeraldas, e que valia uma prov�ncia.

Agarrara o punhal, e com ele apertado fortemente na m�o, apontando para o c�u, onde subiam os primeiros
raios do Sol, encarou a rainha, a multid�o, e gritou:

- Salvei o meu pr�ncipe, e agora vou dar de mamar ao meu filho!

E cravou o punhal no cora��o.

E�a de Queir�s, Contos

31.

A) Lê o excerto e completa as frases com as opções corretas.


No segmento "e escolhesse de entre essas riquezas, que eram como as maiores dos maiores tesoiros da
Índia", estão presentes duas figuras de estilo, a _________________ (comparação | metáfora |
enumeração) e a _________________ (hipérbole | antítese | ironia).

A Aia

Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre, entre os seus dois
meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais.
Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os
jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes,
como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de
lanternas, brilhos de armas... Num relance tudo compreendeu: o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar,
matar o seu príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de
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marfim, atirou-o para o pobre berço de verga, e, tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-
o no berço real que cobriu com um brocado.

Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto sobre a cota de malha, surgiu à porta da
câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou, correu o berço de marfim onde os brocados luziam, arrancou a
criança, como se arranca uma bolsa de oiro e, abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente.

O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva.

Mas brados de alarme atroaram, de repente, o palácio. Pelas janelas perpassou o longo flamejar das tochas. Os pátios
ressoavam com o bater das armas. E desgrenhada, quase nua, a rainha invadiu a câmara, entre as aias gritando pelo
seu filho! Ao avistar o berço de marfim, com as roupas desmanchadas, vazio, caiu sobre as lajes num choro,
despedaçada. Então, calada, muito lenta, muito pálida, a ama descobriu o pobre berço de verga... O príncipe estava
quieto, adormecido, num sonho que o fazia sorrir, lhe iluminava toda a face entre os seus cabelos de oiro. A mãe caiu
sobre o berço, com um suspiro, como cai um corpo morto.

E nesse instante um novo clamor abalou a galeria de mármore. Era o capitão das guardas, a sua gente fiel. Nos seus
clamores havia, porém, mais tristeza que triunfo. O bastardo morrera! Colhido, ao fugir, entre o palácio e a cidadela,
esmagado pela forte legião de archeiros, sucumbira, ele e vinte da sua horda. O seu corpo lá ficara, com flechas no
flanco, numa poça de sangue. Mas ai! dor sem nome! O corpozinho tenro do príncipe lá ficara também envolto num
manto, já frio, roxo ainda das mãos ferozes que o tinham esganado! Assim tumultuosamente lançavam a nova cruel os
homens de armas, quando a rainha, deslumbrada, com lágrimas entre risos, ergueu nos braços, para lho mostrar, o
príncipe que despertara.

Eça de Queirós, Contos

32. Classifica as seguintes afirmações em verdadeiras ou falsas, a partir da leitura do excerto


de "A Aia".
(__) O escravozinho morrera numa poça de sangue.
(__) A rainha escondeu o príncipe de toda a gente.
(__) Apesar da vitória, ele vinha triste porque o príncipe morrera.
(__) O capitão da guarda chegou a tempo de matar o filho bastardo.

A Aia
 
Era uma vez um rei, mo�o e valente, senhor de um reino abundante em cidades e searas, que partira
a batalhar por terras distantes, deixando solit�ria e triste a sua rainha e um filhinho, que ainda vivia no
seu ber�o, dentro das suas faixas.
A lua cheia que o vira marchar, levado no seu sonho de conquista e de fama, come�ava a minguar,
quando um dos seus cavaleiros apareceu, com as armas rotas, negro do sangue seco e do p� dos
caminhos, trazendo a amarga nova de uma batalha perdida e da morte do rei, trespassado por sete
lan�as entre a flor da sua nobreza, � beira de um grande rio.
A rainha chorou magnificamente o rei. Chorou ainda desoladamente o esposo, que era formoso e
alegre. Mas, sobretudo, chorou ansiosamente o pai, que assim deixava o filhinho desamparado, no meio
de tantos inimigos da sua fr�gil vida e do reino que seria seu, sem um bra�o que o defendesse, forte pela
for�a e forte pelo amor.
Desses inimigos o mais temeroso era seu tio, irm�o bastardo do rei, homem depravado e bravio,
consumido de cobi�as grosseiras, desejando s� a realeza por causa dos seus tesoiros, e que havia anos
vivia num castelo sobre os montes, com uma horda de rebeldes, � maneira de um lobo que, de atalaia no
seu fojo, espera a presa. Ai! a presa agora era aquela criancinha, rei de mama, senhor de tantas
prov�ncias, e que dormia no seu ber�o com seu guizo de oiro fechado na m�o!
Ao lado dele, outro menino dormia noutro ber�o. Mas era um escravozinho, filho da bela e robusta
escrava que amamentava o pr�ncipe. Ambos tinham nascido na mesma noite de Ver�o. O mesmo seio
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os criara. Quando a rainha, antes de adormecer, vinha beijar o principezinho, que tinha o cabelo louro e
fino, beijava tamb�m, por amor dele, o escravozinho, que tinha o cabelo negro e crespo. Os olhos de
ambos reluziam como pedras preciosas. Somente, o ber�o de um era magn�fico de marfim entre
brocados, e o ber�o de outro, pobre e de verga. A leal escrava, por�m, a ambos cercava de carinho
igual, porque, se um era o seu filho, o outro seria o seu rei.
Nascida naquela casa real, ela tinha a paix�o, a religi�o dos seus senhores. Nenhum pranto correra
mais sentidamente do que o seu pelo rei morto � beira do grande rio. Pertencia, por�m, a uma ra�a que
acredita que a vida da terra se continua no c�u. O rei seu amo, decerto, j� estaria agora reinando em
outro reino, para al�m das nuvens, abundante tamb�m em searas e cidades. O seu cavalo de batalha, as
suas armas, os seus pajens tinham subido com ele �s alturas. Os seus vassalos, que fossem morrendo,
prontamente iriam, nesse reino celeste, retomar em torno dele a sua vassalagem. E ela, um dia, por seu
turno, remontaria num raio de lua a habitar o pal�cio do seu senhor, e a fiar de novo o linho das suas
t�nicas, e a acender de novo a ca�oleta dos seus perfumes; seria no c�u como fora na terra, e feliz na
sua servid�o.
(...)
E�a de Queir�s, Contos
 

33. Lê o excerto e completa o espaço com a resposta correta.

A) O recurso expressivo presente na expressão "solitária e triste" é _________________.

A Aia

Foi um espanto, uma aclama��o. Quem o salvara? Quem?... L� estava junto do ber�o de marfim vazio, muda e
hirta, aquela que o salvara! Serva sublimemente leal! Fora ela que, para conservar a vida ao seu pr�ncipe,
mandara � morte o seu filho... Ent�o, s� ent�o, a m�e ditosa, emergindo da sua alegria ext�tica, abra�ou
apaixonadamente a m�e dolorosa, e a beijou, e lhe chamou irm� do seu cora��o... E de entre aquela multid�o
que se apertava na galeria veio uma nova, ardente aclama��o, com s�plicas de que fosse recompensada
magnificamente a serva admir�vel que salvara o rei e o reino.

Mas como? Que bolas de oiro podem pagar um filho? Ent�o um velho de casta nobre lembrou que ela fosse
levada ao Tesoiro real, e escolhesse de entre essas riquezas, que eram como as maiores dos maiores tesoiros da
�ndia, todas que o seu desejo apetecesse...

A rainha tomou a m�o da serva. E sem que a sua face de m�rmore perdesse a rigidez, com um andar de morta,
como um sonho, ela foi assim conduzida para a C�mara dos Tesoiros. Senhores, aias, homens de armas,
seguiam, num respeito t�o comovido, que apenas se ouvia o ro�ar das sand�lias nas lajes.

As espessas portas do Tesoiro rodaram lentamente. E, quando um servo destrancou as janelas, a luz da
madrugada, j� clara e r�sea, entrando pelos gradeamentos de ferro, acendeu um maravilhoso e faiscante
inc�ndio de oiro e pedrarias! Do ch�o de rocha at� �s sombrias ab�badas, por toda a c�mara, reluziam,
cintilavam, refulgiam os escudos de oiro, as armas marchetadas, mont�es de diamantes, as pilhas de moedas, os
longos fios de p�rolas, todas as riquezas daquele reino, acumuladas por cem r�is durante vinte s�culos. Um
longo - ah! - lento e maravilhado, passou por sobre a turba que emudecera. Depois houve um sil�ncio ansioso. E
no meio da c�mara, envolta na refulg�ncia preciosa, a ama n�o se movia... Apenas os seus olhos, brilhantes e
secos, se tinham erguido para aquele c�u que, al�m das grades, se tingia de rosa e de oiro. Era l�, nesse c�u
fresco de madrugada, que estava agora o seu menino. Estava l�, e j� o Sol erguia, e era tarde, e o seu menino

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chorava decerto, e procurava o seu peito!...

E ent�o a ama sorriu e estendeu a m�o. Todos seguiam, sem respirar, aquele lento mover da sua m�o aberta.
Que j�ia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis ia ela escolher?

A ama estendia a m�o, e sobre um escabelo ao lado, entre um molho de armas, agarrou um punhal. Era um
punhal de um velho rei, todo cravejado de esmeraldas, e que valia uma prov�ncia.

Agarrara o punhal, e com ele apertado fortemente na m�o, apontando para o c�u, onde subiam os primeiros
raios do Sol, encarou a rainha, a multid�o, e gritou:

- Salvei o meu pr�ncipe, e agora vou dar de mamar ao meu filho!

E cravou o punhal no cora��o.

E�a de Queir�s, Contos

34. Completa os espaços com as opções corretas.

A) A _________________ que queriam dar à _________________ encontrava-se na


_________________ dos tesouros.

Opções:
prenda
, recompensa, Aia, câmara, Rainha
, cave

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