As Chaves Do Reino

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‫ב״ה‬

By M.B.A – Macaby ben Avraham

AS CHAVES DO REINO

INTRODUÇÃO

Em Matityahu (Mateus) 16:19, Yeshua deu a Shimon Kefa (Simão Pedro) as “chaves do reino”.
A imagem folclórica popular de Pedro recebendo almas nas portas do céu deriva dessa passagem.

As chaves não são chaves literais, nem são chaves para o paraíso celestial. O termo "Reino dos
céus" ou “Reino de Deus” refere-se à Era Messiânica (Israel restaurado sob o Reinado do Messias),
não ao céu.

‫ָארץ מֻ תָׁ ר‬ ֶ ָׁ‫ָארץ ָאסּור י ִהְ י ֶה בַשָׁ מַ י ִם וְכָׁל־אֲ שֶ ר ַתתִ יר עַ ל־ה‬


ֶ ָׁ‫ו ְאֶ תֵּ ן לְָך אֶ ת־מַ פְתְ חֹות מַ לְכּות הַ שָׁ מָׁ י ִם וְכָׁל־אֲ שֶ ר תֶ אֱ ס ֹר עַ ל־ה‬
‫י ִהְ י ֶה בַשָׁ מָׁ י ִם׃‬

“Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e o
que você desligar na terra terá sido desligado nos céus". Matityahu (Mateus) 16:19

O que significa possuir as chaves do Reino dos céus (‫ )מַ פְתְ חֹות מַ ְלכּות הַ שָׁ מָׁ י ִם‬no contexo judaico?

O BEIT DIN

Antes de entendermos a expressão semita “chaves do reino”, devemos entender primeiro, quem
possuia as “chaves do reino”.

Bet Din ou Bayit Din (em hebraico: ‫" ;בית דין‬Casa do Julgamento", plural: Battei Din), composto por
três sábios, responsáveis por julgar crimes menores do tipo roubo, lesão corporal e capaz de aplicar
multas.

Na ordem de importância é o terceiro Tribunal Judaico; Pequeno Sinédrio (vinte e três juízes) e o
Bet din a-Gadol (setenta e um juízes), o Tribunal remonta ao tempo das doze tribos. Na época do
Segundo Templo, ele era a pedra fundamental do sistema jurídico na Terra de Israel. Atualmente,
é investido de poderes para julgar assuntos religiosos, tanto em Israel, quanto na Diáspora, tais
como divórcio, leis alimentares judaicas, questões de perdas e danos, conversões, entre outros
temas ligados jurisprudência.
O BEIT DIN COMO AUTORIDADE PARA FAZER HALACHÁ

De início, a autoridade era limitada. Aos poucos, a medida em que o Beit Din original foi ganhando
maturidade, sua autoridade foi aumentando:

- De início: Ex. 18:22, Dt. 1:17

- Depois: Dt. 17:8-9

A NECESSIDADE DE HALACHÁ

O rabino é essencialmente um intérprete da Lei de Moisés. Ele é responsável por responder a


seguinte pergunta: Como colocar a Lei em prática? A espiritualidade judaica é de ação, e os rabinos
interpretam a Lei para tentar discernir quais ações um seguidor da Lei deve realizar, e quais deve
evitar.

A necessidade de halachá pode ser melhor descrita de três maneiras:

1 - Esclarecer mitsvot que são mais vagas. Exemplos: guet e tefilin

2 - A governabilidade da Torá: Que preceitos têm precedência sobre outros? Exemplo: b'rit milá x
Shabat

3 - A mitsvá de estabelecer juízes e cortes (Dt. 16:18)

- Os 70 anciãos: Nm. 11:16-17,24-25;

"A GRANDE ASSEMBLÉIA"

Com o passar do tempo, o Judaismo se fragmentou em várias seitas, sendo as principais delas:
p'rushim (fariseus), ts'dukim (saduceus) e issim (essênios).

Com o tempo, os ts'dukim (saduceus) assumiriam controle da "Grande Assembléia",

O Beit Din se esfacela: Os ts'dukim acusavam os p'rushim de fazerem acréscimos à Torá.


"O que eu agora explico é isto, que os P'rushim têm conduzido as pessoas a um grande número de
observâncias pela sucessão de seus pais, que não estão escritas na Torá de Moshe; e por esta
razão os Ts'dukim os rejeitam e dizem que nós devemos considerar apenas as observâncias que
são obrigatórias, as quais estão na Palavra escrita, mas não devemos observar as que se derivam
da tradição [takanot] de nossos pais." (Flavio Josefo - Antiguidades 13:10:6)

Os p'rushim acusavam os ts'dukim de terem se corrompido, e a "Grande Assembléia" de ter se


tornado um instrumento político de Roma.

O RABINO E A HALACHÁ

Quando o rabino interpreta a Lei, ele está preocupado em permitir e proibir, em termos simples,
dizer o que pode e o que não pode. Por exemplo, considerando que o sábado é dia de descanso,
santificada para o Eterno, qual é a maior distância que se pode percorrer? Um rabino dirá ''cinco
quilômetros'', outro dirá ''cinco quilômetros, desde que não se leve nenhuma carga''. Os rabinos
dedicam suas vidas essencialmente a discutir o horizonte de possibilidades de práticas da Lei para
a vida dos seguidores. Seu grande desejo é chegar o mais próximo possível da intenção original
do Eterno ao proferir um mandamento.

A Torá previa que a halachá seria futuramente dada a um rei: Dt. 17:14-20

O trono davídico passou a ser visto como o Trono de YHWH: 1 Cr. 29:23

A autoridade para fazer halachá ficou conhecida como "a chave de David" – vide Is. 22:22-23.

Então colocarei a chave da casa de Davi em seu ombro, quando ele abrir ninguém fechará, quando
ele fechar ninguém abrirá. (Isaías 22:22)

A literatura rabínica interpretou Isaías 22:22 com referência à autoridade dos mestres da Torá.
A VERDADEIRA HALACHÁ

Somente um descendente de David poderia resgatar o trono de YHWH e estabelecer a verdadeira


halachá.

Yeshua tinha autoridade para fazer halachá: Mt. 28:18.

Compare Is. 22:22-23 com Guilyana (Apocalipse) 3:7-8

Nessa interpretação, as chaves da casa de David representam o poder de ensinar com autoridade,
de abrir e encerrar argumentos da Torá e tomar decisões finais. Da mesma forma, Yeshua investiu
seu discípulo principal com a autoridade de falar em Seu nome, transmitindo e interpretando Seu
ensino, assim como os sábios transmitiram e interpretaram os códigos legais. Além disso, ele deu
a Pedro (e por extensão, a todos os discípulos) autoridade administrativa e legal para aplicar e
interpretar Seus ensinos.

Em Mt. 16:18-19, Yeshua dá a Kefa e aos nazarenos as chaves do Reino (a autoridade para fazer
halachá). Isto é confirmado em Mt. 18:16-17 - compare com Dt. 19:15-18. Como Mt. 18 cita Dt. 19,
fica bem claro que os "sacerdotes e juízes que houver nesses dias" é uma referência à kehilá
nazarena.

O termo "ligar e desligar" é um termo semita, que se refere à habilidade dos juízes de interpretarem
proibições (ligar) e permissões (desligar) da Torá.

BEIT DIN NAZARENO COMO AUTORIDADE PARA FAZER HALACHÁ

Em Atos 15, vemos o estabelecimento do Beit Din Nazareno, como um organismo mundial com
autoridade de halachá. Como eram escolhidos os membros do Beit Din? Inicialmente, foram
apontados por Yeshua (Mt. 10:2). Posteriormente, eram apontados pela própria comunidade
através da direção da Ruach HaKodesh (At. 13:1-3, e At. 7:3-6).
Na Peshitta Nasrani, da Igreja Nestoriana, foi preservada uma obra atribuída a Ya'akov HaTsadik
(Tiago o Justo) que fala um pouco acerca da função do Beit Din:

“A função deles [Sanhedrin Nazareno] é dar exemplo na observância da Torá, na verdade, na retidão
e na justiça, e no exercício da caridade e da humildade entre os homens; para mostrar como, pelo
controle do yetser hará e pela contrição do espírito, a fidelidade pode ser mantida na terra; e como,
pela ativa realização da justiça e passiva submissão às provas de punição, a violação da Torá pode
ser eliminada; e como alguém pode andar como todos os homens na qualidade da justiça e com
conduta apropriada em toda ocasião.” Sefer B'nei Or 21:3

CONCLUSÃO

Quando Yeshua entrega as chaves do reino a Pedro, na verdade está entregando a chave nas
mãos de sua Kehilá, sua ekklesia. A rocha sobre a qual a congregação está edificada não é Pedro,
mas a confissão de Pedro a respeito da messianidade de Yeshua, ou mesmo a própria
messianidade de Yeshua, ou ainda o próprio Yeshua (1Pedro 2.4-8). Yeshua estava dizendo aos
seus discípulos: Eu vos dou o poder de ensinar com autoridade, de abrir e encerrar argumentos da
Torá e tomar decisões finais.

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