Artigo 2 - Thais
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bibliográfica
Use of medicinal plants and herbal medicines in insomnia: a literature review
Citar: Rogério L V F; Ribeiro J C. Uso de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos em insônia: uma revisão bibliográfica.
Brazilian Journal of Health and Pharmacy, v. 3, n. 2, p. 35-44, 2021. DOI: https://doi.org/10.29327/226760.3.2-4
RESUMO
A insônia é caracterizada pelo sono não reparador, insuficiente para manter uma boa qualidade de alerta e bem-estar
físico e mental durante o dia. Podendo ser de curto prazo ou crônica, é algo que afeta grande parcela da população.
O tratamento da insônia pode ser diversificado e há grande interesse dos pacientes pelo uso de plantas medicinais,
com a errônea afirmativa de que “o que é natural não faz mal”. O objetivo deste estudo foi relacionar as principais
plantas medicinais usadas pela população brasileira para o tratamento da insônia, analisando sua eficácia, segurança e
evidenciando o seu uso racional. Realizou-se uma revisão narrativa de literatura sobre as principais plantas medicinais
usadas com ação sedativa no Brasil. Foram selecionadas vinte e cinco referências publicadas em diferentes bases de
dados de livre acesso e também livros didáticos. Como resultado, observaram que as plantas medicinais mais citadas
para uso no tratamento da insônia foram erva cidreira, passiflora, valeriana, lavanda e lúpulo. Dentre as plantas com
maior segurança encontrou-se a camomila, alfavaca, hortelã e lavanda; e outras como hipérico e kava-kava devem
ser usadas com maior cautela em função das interações medicamentosas, reações adversas e relatos de toxicidade.
Este trabalho evidencia o uso de plantas medicinais para o tratamento da insônia na população brasileira e destaca a
necessidade de orientações adequadas para o seu uso.
ABSTRACT
Insomnia is characterized by non-restorative sleep, insufficient to maintain a good quality of alertness and physical and
mental well-being during the day. Whether short-term or chronic, it is something that affects a large portion of the popu-
lation. The treatment of insomnia can be diversified and there is great interest from patients in the use of medicinal plants,
with the erroneous assertion that what is natural is not harmful. This work aims to list the main medicinal plants used by
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the Brazilian population for insomnia treatment, analyzing their effectiveness, safety and highlighting their rational use.
A narrative literature review was carried out on the main medicinal plants used with sedative action in Brazil. Twenty-five
references available in different open access databases and textbooks were selected. As a result, it was observed that the
most cited medicinal plants for use in the treatment of insomnia were lemongrass, passionflower, valerian, lavender and
hops. Among the plants with greater safety were chamomile, basil, mint and lavender; and others such as hypericum and
kava-kava should be used with greater caution due to drug interactions, adverse reactions and reports of toxicity. This
highlights the use of medicinal plants for the treatment of insomnia in the Brazilian population and, the need to provide
adequate guidelines for the use of these products.
INTRODUÇÃO
A insônia é a percepção subjetiva de insatisfação semana, dura mais de três meses e não pode ser
com a quantidade ou qualidade do sono. Trata-se totalmente explicada por algum outro problema
de um sintoma que engloba queixas como de saúde ou medicamento. Tal sintoma pode afetar
dificuldade para iniciar ou manter o sono, despertar a memória e a concentração, aumentar o risco de
precoce e incapacidade de voltar a dormir, além hipertensão, doença coronariana, Alzheimer, câncer,
de sono não-reparador, insuficiente para manter intenção suicida, ansiedade, obesidade e diabetes
uma boa qualidade de alerta e bem-estar físico e mellitus (PRADO et al., 2012; FEIZI et al., 2018).
mental durante o dia, com o comprometimento
consequente do desempenho nas atividades diurnas Para o tratamento da insônia podem ser adotados
(SOUZA, REIMÃO, 2004; GUADAGNA et al., 2020). diversos métodos, farmacológicos ou não,
variando de acordo com o quadro do paciente e
Segundo Prado et al. (2012), 33% a 50% da de sua adesão quanto à abordagem escolhida.
população sofre deste mal em alguma parte de sua As medidas não farmacológicas têm como foco
vida. O sono é uma rotina diária natural da mente intervenções educacionais e comportamentais,
e do corpo. Consequentemente, a sua perturbação sem o uso de medicamentos como a higiene do
pode ser seguida por efeitos adversos e problemas sono, terapia de controle de estímulos, terapia
de saúde, como função diurna prejudicada, fadiga, de relaxamento e a terapia de restrição de sono.
redução da qualidade de vida e alta utilização dos Nas intervenções farmacológicas são utilizados
serviços de saúde (KHADIVZADEH et al., 2018). A medicamentos como agonistas do receptor benzo-
causa da insônia pode ocorrer de forma indepen- diazepínico, antidepressivos, anti-histamínicos,
dente ou ser uma consequência de outros fatores, antipsicóticos e também os chamados compostos
como problemas emocionais, dor física e uso de naturais. Contudo, as evidências disponíveis acerca
medicamentos ou outras substâncias psicoativas. A da eficácia e da tolerabilidade desses agentes
insônia de curto prazo é comumente associada ao variam de forma considerável e devem ser cuidado-
estresse, mudanças no cotidiano, programação ou samente revisadas antes de seu emprego (BERLIM
ambiente, podendo durar dias ou semanas. Se é de et al., 2005; FEIZI et al., 2018; KHADIVZADEH et al.,
longo prazo, crônica, ocorre três ou mais noites por 2018). Em casos específicos, geralmente quando há
Citrus aurantium Laranja-amarga BALMÉ, 2004; ALONSO, 2008; BORTOLUZZI et al., 2019
Eschscholzia
Papoula da Califórnia Sortida ALONSO, 2008; FINTELMANN, WEISS, 2010
californica Cham.
Erva-cidreira-de-rama/
Lippia alba FERRO, 2008
Falsa-melissa
De acordo com a análise proposta, foram verificados ARRUDA, J.T. et al. Efeito do extrato aquoso de
camomila (Chamomilla recutita L.) na prenhez de ratas
os nomes populares, nomes científicos, indicações
e no desenvolvimento dos filhotes. Revista Brasileira
e riscos de diferentes plantas medicinais usadas no de Plantas Medicinais, v. 15, n. 1, p. 66-71, 2013. DOI:
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foram erva cidreira, maracujá, valeriana, lúpulo
BALMÉ, F. Plantas Medicinais. Brasil: Editora Hemus, 2004.
e lavanda. A camomila destaca-se em função
da segurança e eficácia, pois não demonstrou BARBOSA, D.R.; LENARDON, L.; PARTATA, A.K.
toxicidade relevante. Porém, hipérico, kava-kava Kava-kava (Piper methysticum): uma revisão geral.
e valeriana devem ser prescritas com cautela e Revista Científica do ITPAC, v. 6, n. 3, p. 1-19, 2013.
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vendidas sob prescrição médica, em função de
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relatos de reações adversas, contraindicações e
interações medicamentosas. BARNES, J.; ANDERSON, L.A.; PHILLIPSON, J.D.
Fitoterápicos. 3 ed. Brasil, 2012.
É importante ressaltar que ainda há poucos
estudos evidenciando as principais plantas BERLIM, M.T.; LOBATO, M.I.; MANFRO, G.G. Diretrizes e
algoritmo para o manejo da insônia. Psicofármacos:
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