Carta de Sado - I
Carta de Sado - I
Carta de Sado - I
BS
Carta de Sado
Matéria da reunião de palestra de dezembro
Imagine a seguinte situação: se observarmos uma folha em branco contendo somente um ponto escuro em seu centro, serão
grandes as chances de nos concentrarmos só no ponto, em vez de enxergarmos a quantidade de espaço em branco. Esse
ponto pode ser interpretado como as situações negativas que enfrentamos diariamente; e o espaço em branco da folha são
as possibilidades que temos para transformar as dificuldades.
Esse escrito é datado do século 13, mas sua abordagem é mais que atual. Na explanação, nosso mestre, Daisaku Ikeda,
enfatiza o sentimento de Nichiren Daishonin ao mencionar a importância de se possuir o “coração do rei leão”1. E, por meio
desse escrito, ele encoraja todos os discípulos que possuíam forte espírito de procura, lutando ao seu lado em meio a inúmeras
adversidades.
Com o estudo da Carta de Sado, finalizamos 2020, Ano do Avanço e dos Valores Humanos. Que tal pensar na história vivida
neste período tão desafiador e nas páginas vitoriosas de um ano que ainda vamos escrever. Como protagonistas, vamos
descobrir como manter nossa vida com foco nas possibilidades — afinal, isso é iluminação. Iluminação provém da fé e fé é
razão. Excelente estudo!
Trecho do Gosho
É da natureza dos animais ameaçar os fracos e temer os fortes. Nossos eruditos contemporâneos das várias escolas agem
exatamente da mesma forma: desprezam um sábio que não detém o poder, mas temem os governantes maléficos. Esses
indivíduos não passam de serviçais aduladores. Somente quando uma pessoa vence um poderoso inimigo é que ela consegue
provar a sua verdadeira força. (...) O arrogante sempre fica amedrontado quando está diante de um forte inimigo, assim como
ocorreu com o insolente asura2 que, ao ser repreendido por Shakra,3 se encolheu e se escondeu numa flor de lótus no Lago
Livre de Calor.4 (CEND, v. I, p. 318)
Sobre o escrito
Nichiren Daishonin endereçou essa carta a todos os discípulos de forte espírito de procura, que atuavam ao seu lado em meio
a grandes adversidades. Ela é datada do vigésimo dia do terceiro mês de 1272 e foi escrita quando Nichiren Daishonin residia
em Tsukahara, na Ilha de Sado, onde ficou exilado após a Perseguição de Tatsunokuchi, ocorrida no ano anterior.
Nesse escrito, Daishonin dissipa as trevas do medo e da dúvida que haviam se alojado no coração dos seus discípulos e
enfatiza que o único caminho para manifestar o estado de buda é ter a disposição de dedicar a própria vida, o tesouro mais
precioso de uma pessoa, ao budismo.
Explanação
Nichiren Daishonin explica, nesse escrito, as circunstâncias reais que estavam por trás do seu exílio na Ilha de Sado e destaca
que os “três poderosos inimigos”5 aliam forças para atacar os devotos do Sutra do Lótus. Mesmo diante das piores
adversidades, ele jamais recuou. Por isso, reforça que aqueles que se levantam sozinhos e seguem em frente com o “coração
do rei leão”, em meio a esses ataques intensos, são budas — e faz isso por meio do próprio exemplo, mantendo-se inabalável
diante das dificuldades.
Aprendemos com a postura de Nichiren Daishonin que os obstáculos existem para que possamos superá-los e, assim,
fortalecer nossa fé. Nós nos sentimos capazes e munidos de coragem, pois a recitação do daimoku eleva nossa condição de
vida e faz com que a esperança e a sabedoria brotem.
A “unicidade de mestre e discípulo” é um princípio fundamental e o alicerce do Budismo de Nichiren Daishonin. Como
discípulos, é importante que, em nossas orações e ações, estejamos ligados ao coração do nosso mestre e ao juramento pelo
kosen-rufu — movimento pela paz abraçado pela Soka Gakkai. Nossa postura diante dos dramas de vida é crucial, pois, com a
prova real, conseguimos encorajar as pessoas e evidenciar a alegria em praticar esse budismo que nos impulsiona a vencer.
Na revista Terceira Civilização de agosto de 2019, encontramos um exemplo inspirador: uma senhora com problema de saúde
que buscou incentivos do presidente Ikeda.
Certa ocasião uma senhora havia sido desenganada pelos médicos — disseram que não viveria mais que alguns
meses. Então, ela decidiu recitar oito horas diárias de daimoku. Passados dois anos sem ter se curado, ela
perguntou ao presidente Ikeda: “Mestre, por que, apesar de recitar oito horas de daimoku diariamente durante
dois anos consecutivos, ainda não venci minha doença?”. Em resposta, ele a parabenizou por sua coragem e
persistência. Entretanto, solicitou que mudasse seu sentimento por alegria e gratidão, uma vez que se empenhar
dessa forma é difícil até mesmo para uma pessoa saudável. Ele percebeu que, na pergunta dela havia dúvida
A partir da resposta do mestre, ela começou a orar manifestando seu profundo sentimento de gratidão por ter conhecido este
budismo e a organização e até mesmo pela doença. Começou a visualizar que estava curada, transformando o carma de
doença. Em menos de seis meses já havia recuperado a saúde. (Cf. Terceira Civilização, ed. 612, ago. 2019)
Com sincera dedicação, essa senhora entendeu que a mudança do seu coração foi determinante para compreender a vitória.
Um pequeno gesto deu origem a uma nova decisão.
No romance Nova Revolução Humana, o presidente Ikeda narra as perseguições sofridas pela Soka Gakkai e por seus
membros, devido ao vertiginoso crescimento da organização, que inspirava mais e mais pessoas ao caminho da felicidade.
Nesse cenário, Ikeda sensei reflete: “Épocas como esta, em que a Soka Gakkai é atacada por muitas e muitas críticas, nos
proporcionam a oportunidade perfeita de realizar nossa revolução humana e elevar nossa condição de vida”.
E, diante dessa realidade, ele bradou em seu íntimo: “Meus companheiros, não sejam derrotados! Levantem-se como corajosos
leões!” (NRH, v. 14, cap. “Vendaval”, p. 202).
Vamos juntos escrever páginas douradas no ano que se aproxima. E seguir com o diálogo de vida a vida com as pessoas,
demonstrar a prova real da nossa prática e transmitir-lhes esperança, coragem e alegria. Assim como o presidente Ikeda nos
incentiva constantemente: “O Budismo é para vencer o coração covarde e de desistência. Vamos, infalivelmente, ultrapassar os
obstáculos e as maldades perseverando na forte e impetuosa oração” (Brasil Seikyo, ed. 2.373, 27 maio 2017).
Notas:
1. “Coração de um rei-leão”: Refere-se ao profundo estado de vida de uma pessoa que, por meio da fé na Lei Mística, vence a
escuridão fundamental inerente em sua vida e manifesta o poder de sua iluminação primordial. Poderíamos dizer também que
se refere à condição de vida iluminada do Buda, que brota quando superamos as ilusões inatas da vida mediante a firme fé.
Portanto, o “coração de um rei-leão” é dotado da sabedoria e benevolência do estado de Buda. (DRH, v. 1, p. 172)
2. Asura (sânscr.; jap. ashura): Na mitologia hindu, é um tipo de demônio hostil e beligerante por natureza, que luta
constantemente com a divindade Shakra ou Indra. O mundo dos asura constitui um dos seis caminhos da existência, os seis
mais baixos dos “dez mundos”.
3. Shakra (sânscr.; jap. Taishaku): Também conhecido como Indra e Shakra Denavam Indra, ou somente Indra. Shakra e
Brahma são as duas principais divindades protetoras do budismo. Shakra habita o céu das trinta e três divindades, localizado
no pico do Monte Sumeru.
4. Lago Livre de Calor (jap. Munetchi): Também “Lago Anavatapta”. Acredita-se que esse lago tenha originado os quatro rios
que nutrem o solo dos quatro quadrantes de Jambudvipa e esteja localizado ao norte das Montanhas de Neve.
5. “Três poderosos inimigos”: Três tipos de pessoas arrogantes que perseguem aqueles que propagam o Sutra do Lótus na era
maléfica após a morte do buda Shakyamuni, descritos na parte final em verso do capítulo 13, “Encorajamento à Devoção”, do
Sutra do Lótus. O grande mestre Miaole, da China, resume-os como leigos arrogantes, sacerdotes arrogantes e falsos
veneráveis arrogantes.
Material de apoio
Leia mais:
CEND, v. I, p. 318.
Aplicativo BS+.