O Planeta Dos Dragoes - Jack Vance
O Planeta Dos Dragoes - Jack Vance
O Planeta Dos Dragoes - Jack Vance
CAPÍTULO 1
Phade suspirou, meio convencida de seu pró prio erro. Outra vez,
com menos veemência, tranquilizou-se a si mesma. Nunca vira antes
um sacerdote; por que haveria de imaginar um agora?
—Eu abri a porta do estú dio, bem devagar, com todo cuidado. E sabe
o que vi? Um sacerdote, nu em pêlo! Ele nã o me viu. Tornei a fechar
a porta e corri à procura de Rife. Quando voltamos os dois, a sala
estava vazia!
—Nã o. Acho que nã o. Mesmo assim, quando voltei com esse velho e
estú pido Rife, ele tinha desaparecido! É verdade que eles conhecem
magia?
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CAPÍTULO 2
— Da mesma forma que posso polir esta pedra a fim de adaptá -la a
um orifício redondo.
para Kergan Banbeck com uma atitude firme e decidida, falou como
se o diá logo anterior nã o houvesse sido trocado.
—Eu tenho algo que você deseja. Você tem algo que eu desejo.
Vamos negociar.
O sacerdote refletiu.
—Por minha fé, por meu credo, pela verdade do meu tand, nã o sirvo
a pessoa alguma a nã o ser a mim mesmo.
O sacerdote voltou o rosto para o grande rochedo do Monte Gethron
e afastou-se lentamente, enquanto o vento soprava seus cabelos
finos e compridos para os lados.
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—Vá embora! - trovejou Kergan Banbeck. —Caso contrá rio você vai
se reunir aos vinte e três venerados grefos, e eu vou ensinar-lhe a
que ponto o inimaginá vel pode vir a ser real!
fosse verdade, o que eram eles de fato? Dirigindo uns aos outros a
mesma pergunta em vozes lastimosas e tristonhas, eles desceram
pelo rochedo íngreme em direçã o ao Vale Banbeck.
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CAPÍTULO 3
Para onde leva tudo isso? Ele devia ter nascido sacerdote. No fundo
pertence ao mesmo tipo de gente débil, de boca amarga e mente
confusa!
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—Eu sou um homem prá tico e valho por dois dele - prosseguiu
Carcolo. —Ele sabe porventura projetar, criar, educar e treinar
dragõ es? Sabe impor disciplina, ensinar ferocidade?
—"De outra forma nã o haverá mais Vale Feliz. Nem haverá mais
Ervis Carcolo."
—Continue! Diga!
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CAPÍTULO 4
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—Joaz Banbeck está a caminho. Carcolo olhou para a Alameda
Kergan.
—É o que parece.
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Joaz concordou.
—Seu plano nã o é tolo. - disse Joaz por fim. —Pelo contrá rio, é até
engenhoso... pelo menos à primeira vista. Que tipo de informaçã o
você espera obter? Em suma, quais sã o seus objetivos?
—Talvez você tenha razã o. Mas por que nã o indagar estas coisas aos
sacerdotes? Minha proposta concreta é a seguinte. Primeiro é
necessá rio que você e eu concordemos com respeito ao objetivo
comum. Depois solicitamos uma audiência ao sacerdote Demie e
fazemos nossas perguntas. Se ele responder livremente, tudo bem.
Se se esquivar, agimos de acordo com o combinado, negamos
alimento aos sacerdotes até que nos informem clara e francamente o
que desejamos saber.
—E por que nã o?
—Eles andam nus pela neve e sob as tempestades. Você acha mesmo
que receiam a fome?
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—Joaz
Banbeck,
eu
o
julgava
um
homem
de
açã o.
Mas
você
—Bem e, neste caso, qual seria sua sugestã o? Joaz coçou o queixo.
—Você vai atacar feixes de calor e raios iô nicos com seus dragõ es?
—É . Pode funcionar.
—Vamos entã o coordenar nossos planos - continuou Carcolo.
Digamos que os Bá sicos desçam no Vale Banbeck. Sugiro que seu
povo se refugie no Vale Feliz, enquanto o exército do Vale Feliz se
une ao seu para cobrir a retirada. Da mesma forma, se atacarem o
Vale Feliz, meu povo irá refugiar-se no Vale Banbeck.
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—Ervis Carcolo, que tipo de luná tico você me considera? Volte para
seu vale, ponha de lado suas manias dementes de grandeza, cave
uma proteçã o para si mesmo. E depressa! Coralyne está brilhando!
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CAPÍTULO 5
—O quê?
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—Eu sei o que nosso exército pode fazer e o que nã o pode. Se Joaz
Banbeck é o homem que você julga ser, vamos vencer. Se tiver ao
menos a astú cia de alguns criados que ouvi há dez minutos, vamos
sofrer um sério revés.
—Volte para seus Demô nios e Moloques. Quero que consigam ser
tã o rá pidos quanto as Megeras.
A Aranha saltou com tanta força que Carcolo caiu para trá s, indo
bater de cabeça no chã o, onde permaneceu gemendo. Os criados
acorreram rapidamente e levaram-no para um banco onde se sentou
praguejando em voz baixa. O médico examinou-o, apalpou-o,
recomendou que fosse levado imediatamente para o leito e receitou
um calmante.
para a estrela, mas o brilho dela atingia o canto dos seus olhos por
toda parte onde andasse no vale.
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—Quantos perdidos?
—Inacreditá vel.
—Como foi entã o que Joaz Banbeck levou suas tropas para as
plataformas tã o cedo? Givven voltou-se, olhou para o vale abaixo,
onde dragõ es e homens feridos arrastavam-se pelo caminho do
norte.
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—Foi o terreno que nos salvou - continuou Givven. —Joaz Banbeck
nã o quis levar suas tropas até a ravina. Se houve algum erro tá tico
de um dos lados, foi certamente este. Ele trouxe um nú mero
insuficiente de Megeras e de Monstros Azuis.
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CAPÍTULO 6
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—Nã o, eu nã o.
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Joaz sorriu.
—Eu vou lutar com você - disse Phade assumindo uma atitude
corajosa. —Vamos atacar á grande nave dos Bá sicos, enfrentar os
raios de calor e os dardos de energia. Vamos investir contra a porta
da nave e puxar o nariz do primeiro aventureiro que se apresentar!
Num ponto pelo menos sua tá tica deixa a desejar. Como você vai
localizar o nariz de um Bá sico?
—Neste caso, vamos pegar no... —Ela voltou a cabeça ao ouvir um
ruído no vestíbulo. Joaz atravessou o quarto a passos largos e abriu
a porta bruscamente. O porteiro Rife adiantou-se.
—Sente-se ali, por favor - disse Joaz, indicando um banco. Você tem
muito que explicar.
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—Certamente. Mas prefiro voltar pelo caminho que tomei para vir
aqui.
—Sim.
—Quantos desses impulsos você reconhece?
—Nã o sei.
—Mais de um?
—Talvez.
—Menos de dez?
—Nã o sei.
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—Possivelmente.
—Descreva-o, entã o.
—Sim.
—Qual foi?
—O desejo de vagar.
—Sim.
—Qual é?
—Está certo entã o - disse Joaz. —Pode pensar em outro motivo para
ter vindo até aqui?
—Sim.
—Qual é?
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—O Arquimundo? O É den?
—Por quem?
—Pelo Demie.
—Estou incerto.
—Sim.
—Suspeito que o Demie julga desejá vel que eu venha aqui para ficar
em pé.
—Nada.
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—O que você pensa que o Demie pretende obter mandando-o vir até
aqui para ficar em pé?
—Creio que deseja que eu aprenda como os Homens Totais pensam.
—Nã o sei.
—Sete vezes.
—Prepare o chá .
—O que é o tand?
—Nã o.
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Joaz
deu
a
entender
que,
para
ele,
recusa
nã o
tinha
menor
importâ ncia.
—Sim.
—Sim, estã o.
Sem resposta.
—Nã o posso responder a esta pergunta. Joaz deu uma risada alta.
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—Nã o sei.
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Uma hora depois o cadá ver, sem os cabelos, estava numa cama de
madeira coberto por um lençol.
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—Eu o trouxe aqui para adverti-lo, para que nã o nos cause dano.
Isso nã o lhe trará proveito algum. A arma que está procurando é ao
mesmo tempo inexistente e fica além da sua imaginaçã o.
Joaz ouviu sua voz responder, sem uma decisã o consciente de sua
parte; soava mais nasal e aguda do que gostaria.
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—Agora fica claro que vocês se aliaram aos Bá sicos, que aguardam
nossa destruiçã o. E isto só pode mudar nossa atitude em relaçã o a
vocês. Acho que Ervis Carcolo tinha razã o. Eu estava errado.
Sua fé, sua Base Racional - seja lá o que for —Só está servindo para
iludi-los. Eu faço esta ameaça: se nã o nos ajudarem, sofrerã o tanto
quanto nó s.
—Nã o, nã o chamei...
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lo! Em decisã o, coragem e resistência sou mais do que seu igual. Ele
nã o vai me iludir de novo, destruir meus dragõ es e matar meus
homens! Ah, Joaz Banbeck, você vai pagar caro sua traiçã o!"
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CAPÍTULO 7
Até aqui tudo corre bem, exultou Ervis Carcolo. Ergueu-se nos
estribos para percorrer com a vista o Precipício Starbreak.Nã o havia
sinal das forças de Banbeck. Aguardou um momento, esmiuçando as
bandas distantes da Cordilheira Northguard, formas escuras contra
o céu. Passou um minuto, dois minutos; os homens batiam as mã os,
os dragõ es inquietos rosnavam e grunhiam.
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—Julgue por você mesmo. Acha que ele nos concederia uma
vantagem dessas sem cobrar um preço alto?
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Givven abriu a boca para protestar; olhou, porém, para onde Carcolo
apontava e foi obedecer à s ordens.
—Onde?
Carcolo exclamou:
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CAPÍTULO 8
—Joaz Banbeck, você é o responsá vel por tudo isso! Quando ainda
podia lutar por meu povo, você me deteve!
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—Gigantes!
Carcolo riu, uma risada sem graça. Bast Givven olhou de soslaio para
ele. Ervis Carcolo estaria louco? Em seguida afastou-se dali. Afinal, o
assunto nã o era importante.
Carcolo tomou uma decisã o sú bita. Foi até uma das Aranhas,
montou e voltou-se para encarar seus homens.
—Vou até o Vale Banbeck. Joaz Banbeck fez todo o possível para me
arruinar. Agora chegou minha vez. Nã o dou ordens. Quem quiser me
siga. Lembrem-se apenas: Joaz Banbeck nã o nos deixou combater os
Bá sicos!
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CAPÍTULO 9
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CAPÍTULO 10
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—Veja! — exclamou Joaz. — Ali estã o eles...
—Sã o os Bá sicos. Dos ovos deles nasceram nossos dragõ es. Fizeram
o mesmo com os homens. Veja, aquelas sã o as Tropas Pesadas.
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—"Destruiçã o da empresa"?
O Atirador piscou.
—Nã o existem Venerados aqui - disse Joaz. —Os dragõ es lutam por
nó s e conosco; sã o nossos guerreiros. Mas eu tenho uma proposta a
fazer. Por que você e seus companheiros nã o se unem a nó s?
Abandonem a escravidã o, voltem de novo à condiçã o de homens
livres! Assaltaremos a nave e partiremos em busca dos mundos
antigos dos homens.
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Joaz ergueu as mã os para o alto, tomado de desâ nimo, mas fez uma
ú ltima tentativa.
—E o É den?
Alguns dos homens, aos gritos, partiram atrá s dos Bá sicos, mas as
montarias humanas, saltando como lebres monstruosas, conduziam
os Bá sicos tã o velozmente quanto as Aranhas transportavam os
homens. Das Pedras veio um sinal de trompa; os homens montados
fizeram alto e retrocederam. A tropa inteira de Banbeck recuou e
refugiou-se rapidamente no meio das Pedras.
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As Tropas Pesadas deram alguns passos desconfiados naquela
direçã o, mas logo pararam, esgotadas. Dos primitivos três
esquadrõ es, nã o havia mais homens suficientes para formar um
ú nico. Os oito Gigantes tinham perecido, todos os Atiradores e quase
o grupo inteiro dos Batedores também.
Carcolo murmurou:
—Eu também teria conseguido, em condiçõ es favorá veis, dirigiu a
Bast Givven um olhar ferino.
— Nã o concorda?
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—Sua ambiçã o vai ainda nos custar a vida Carcolo deu uma risada.
—Pois é isto exatamente o que vamos fazer - disse Carcolo. —Eu vou
na frente. Você reú ne as forças e me segue. Vamos nos encontrar na
Fenda Clybourne, no lado oeste do vale!
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CAPÍTULO 11
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—Vamos em frente.
—Exatamente.
—Atacar!
Joaz, avançando pelo interior da nave, foi dar numa antecâ mara. A
porta interior estava fechada. Aproximou-se dela e avistou, através
de um visor retangular, o que parecia ser um hall ou sala de
concentraçã o. Ervis Carcolo e seus cavaleiros estavam agachados
junto à parede oposta, vigiados por vinte Atiradores. Um grupo de
Bá sicos descansava num aposento ao lado, tranquilos, silenciosos,
numa atitude contemplativa.
—De novo!
—Ataquem, matem!
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CAPÍTULO 12
A tranquilidade cobria agora todo o vale: o silêncio da exaustã o.
Homens e dragõ es erravam pelos campos devastados; os cativos
formavam um ajuntamento desalentado ao lado da nave. Vez por
outra, um ruído isolado acentuava o silêncio - os estalos dos metais
que esfriavam dentro da nave, a queda de uma pedra soltados
penhascos destruídos, o murmú rio ocasional da populaçã o livre do
Vale Feliz, que formava um grupo à parte dos guerreiros
sobreviventes.
Deu uma ú ltima batida na perna, olhou para Joaz Banbeck, voltou-se
e caminhou por entre os grupos de gente do Vale Feliz, fazendo
movimentos bruscos sem sentido aparente, parando aqui e ali para
dizer algumas palavras ou elogiar os homens, procurando,
certamente, instilar â nimo no povo vencido. Mas nã o foi bem
sucedido no seu propó sito; finalmente, deu meia-volta e avançou
pelo campo em direçã o ao local onde Joaz Banbeck estava deitado ao
comprido. Carcolo olhou para baixo.
—Pois é.
—Vamos deixar um ponto bem claro. A nave e seu conteú do sã o
meus. Uma regra antiga define os direitos do que atacou primeiro.
Recorro agora a esta lei.
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Joaz sorriu.
—Foi somente há dois dias atrá s que você fez sua proposta. Além
disso, os sacerdotes nã o possuem armas.
Carcolo encarou Joaz como se este tivesse perdido o juízo.
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—Eu sabia que a abertura devia estar situada atrá s das Pedras. Mas
tinha minhas dú vidas se vocês estavam ou nã o construindo a nave
espacial. Esperava que tivessem condiçõ es de se defender dos
Bá sicos. Dessa forma é claro que estariam servindo a meus
propó sitos. Admito suas acusaçõ es. Usei sua gente e sua construçã o
como uma arma para salvar meu povo e a mim mesmo.
Fiz mal?
—Estamos acima dos homens, como vocês bem sabem. Atrá s de Joaz
alguém caiu na gargalhada. Joaz voltou a cabeça e viu Ervis Carcolo.
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Com a ajuda dos Bá sicos e dos Mecâ nicos vou recuperar a nave e
partirei para estes mundos.
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—Esta noite vou alojar meu povo no Vale Banbeck emandá -lo de
volta para casa amanhã .
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—Você ficará encarregado do Vale Feliz. Leve seu povo para lá antes
que escureça puseram a caminho e partiram do Vale Banbeck.