Plano Orientador UFSB Final1
Plano Orientador UFSB Final1
Plano Orientador UFSB Final1
PLANO ORIENTADOR
3
CONSULTORES
Denise Coutinho
Discussão de conceitos
Elaboração dos documentos
Revisão de texto
4
SUMÁRIO
RESUMO EXECUTIVO 6
EXECUTIVE SUMMARY 10
ANTECEDENTES 14
APRESENTAÇÃO 17
MARCO CONCEITUAL 20
Universidade Popular: Anísio Teixeira 20
Pedagogia da autonomia: Paulo Freire 22
Geografia Nova: Milton Santos 23
Ecologia dos saberes: Boaventura de Sousa Santos 24
Inteligência coletiva: Pierre Lévy 25
Comentários 27
ANÁLISE DE CONTEXTO 30
Contexto local 30
Demanda social 32
Comentários 37
ARQUITETURA CURRICULAR 39
Primeiro Ciclo de Formação 41
Segundo e Terceiro Ciclos de Formação 47
Comentários 49
MODELO PEDAGÓGICO 59
Regime letivo quadrimestral multiturno 61
Tecnologias digitais 62
Práticas pedagógicas 65
Competências socialmente referenciadas 70
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS 83
APÊNDICES 85
Carta de Fundação da Universidade Federal do Sul 85
da Bahia
Composição da Comissão Interinstitucional de 87
Implantação
6
RESUMO EXECUTIVO
7
8
9
meio de redes digitais ligadas em tempo real, superando o ambiente escolar tradicional
mediante espaços não-físicos e situações metapresenciais.
Compromissos de Aprendizagem Significativa serão pactuados entre educandos-
educadores em cada etapa/módulo dos processos formativos, materializados em um
“Compromisso Pedagógico”, com direitos, deveres e responsabilidades. Em todos os
cursos, são oferecidas três opções metodológicas ao estudante: presencial (aulas,
seminários, oficinas etc.); meta-presencial; aprendizagem auto-programada (Método Keller).
As práticas pedagógicas estruturam-se nos seguintes formatos:
• Aprendizagem Baseada em Problemas Concretos (APC), ajustados ao contexto e
objetivos do curso;
• Equipes de Aprendizagem Ativa (EAA): grupos de 2 a 3 estudantes de cada ano do
curso, atuando em todos os níveis de prática do campo;
• Estratégias de Aprendizagem Compartilhada (EAC), onde os estudantes de cada ano
de um curso serão tutores dos colegas do ano anterior;
• Oficinas de Práticas Orientadas por Evidências (POE) para supervisão, coordenação e
validação de tecnologias baseadas em conhecimento.
A UFSB inicia suas atividades em 2014, oferecendo em Primeiro Ciclo modalidades de BI,
nos IHACs e na Rede CUNI. Com pleno funcionamento previsto para 2020, serão
oferecidos Certificados de Formação Geral em todos os 48 municípios da Região, 12
Bacharelados Interdisciplinares-BI nas quatro grandes áreas Humanidades, Artes, Ciências,
Saúde; cinco Licenciaturas Interdisciplinares-LI (Ciências da Natureza e suas tecnologias;
Ciências Humanas e Sociais e suas tecnologias; Matemática, Computação e suas
tecnologias; Linguagens e Códigos e suas tecnologias; Artes e suas tecnologias), 15 Cursos
Superiores Tecnológicos, (em cotitulação com instituições parceiras: IFBaiano, IFBA,
SEBRAE, SESI, SESC, Ceplac), 30 cursos de graduação profissionalizante, 10 Residências, 19
Mestrados e nove Doutorados.
A Universidade Federal do Sul da Bahia será uma instituição federal de educação superior
de porte médio. No final do período de implantação previsto, nos dois ciclos de graduação,
projeta-se uma oferta de 9 100 vagas no Primeiro Ciclo (7 000 na Rede CUNI e 2 600 na
modalidade LI), 1 000 vagas presenciais em Segundo Ciclo, com mais 700 vagas em PG,
totalizando aproximadamente 11 000 entradas. Prevê-se um total geral de matrículas de
aproximadamente 20 000 estudantes regulares, somando-se todos os níveis de ensino.
Ademais do impacto econômico direto, com a implantação desta Universidade amplia-se a
oferta de vagas públicas no nível superior de formação, em paralelo e em sintonia com a
melhoria dos indicadores do ensino básico, reforçando os programas indutores de melhoria
do ensino fundamental e médio na região. Entretanto, para além do desenvolvimento
tecnológico imediato, é preciso também identificar demandas específicas relacionadas a
propostas de formação referidas não somente ao crescimento econômico regional, mas,
sobretudo, ao seu desenvolvimento social e humano.
10
EXECUTIVE SUMMARY
11
12
located in larger municipalities may serve as field of practice for some graduate prgrams,
taking advantage of distance learning infrastructure deployed and made operational,
particularly the Multidisciplinary Residency in Public Policy and the Teacher’s Residency.
Institutional and academic management of UFSB will be based on information and
communication technology (ICT) with e-government resources and strong decentralization
and flexibility. To allow this, open institutional control and centralized evaluation will be
coordinated with decentralized governance, supported by strategies of e-management, with
a main focus on the high quality of the educational process.
For the institutional operation of the diverse, complex offering of courses in cycles, the
UFSB structure have three levels of organization, respecting the broad regional coverage of
the institution, with the following distribution of academic units:
Jorge Amado Campus (Itabuna)
• Centre for Techno-sciences and Innovation (CFTCI )
• Centre for Agro-sciences and Technology (CFACT )
• Jorge Amado Institute of Humanities, Arts and Sciences (IHAC)
• CUNI Network
Sosígenes Costa Campus (Porto Seguro)
• Centre for Human and Social Sciences (CFCHS)
• Centre of Arts (CFAr)
• Centre for Environmental Sciences (CFCAm)
• Sosígenes Costa Institute of Humanities, Arts and Sciences (IHAC)
• CUNI Network
Paulo Freire Campus (Teixeira de Freitas)
• Centre for Health Sciences (CFCS)
• Paulo Freire Institute of Humanities, Arts and Sciences (IHAC)
• CUNI Network
To ensure quality education at all levels of training, UFSB will develop contents and adopt
advanced technologies for teaching and learning. With this objective, Virtual Learning
Environments (VLE) will be created, with Virtual Learning Devices (VLD) as key teaching
tools. DVA comprise digital interfaces (games, websites, blogs, social networking,
multimedia devices) and interactive media technologies through digital networks connected
in real time, overcoming the traditional school environment through non-physical spaces
and meta-presence situations.
Significant Learning Commitments will be agreed upon between students and teachers in
each step/module of training processes, formatted as a "learning contract" with rights,
duties and responsibilities. In all relevant courses, three methodological choices will be
offered to the student: in-presence (classes, seminars, workshops etc.); meta-presence and
self-programmed learning (Keller Method).
Pedagogical practices will be structured by the following formats:
• Concrete Problem-Based Learning (cPBL), adjusted to the context and objectives of the
course;
13
• Team Active Learning (TAL): groups 2-3 students in each year of the course, working at
all levels of the practice field;
• Shared Learning Strategies (SLS), where students from each class of a course are Peer
Tutors of students in less-advanced cohorts;
• Practice-Oriented Evidence (POE) Workshops for supervision, coordination and
validation of knowledge-based technologies.
The new university starts its activities in 2014, offering first-cycle BI options in the Institutes
of Humanities, Arts and Sciences (IHACs) and at the Anísio Teixeira Network of Community
Colleges (CUNI Network). With the full implementation of the new university planned for
2020, General Education Certificates will be offered in all 48 counties of the Region, 12
Interdisciplinary Bachelor in four areas of knowledge (Arts, Sciences, Humanities, Health),
five Interdisciplinary Licentiate degrees (Natural Sciences; Human and Social Sciences;
Mathematics, Computing and Technology; Languages and Codes; Arts), 15 university
technological courses (in cooperation with partner institutions: IFBaiano, IFBA, SEBRAE,
SENAI, SESC, Ceplac), 30 vocational graduate courses, 10 residencies, 19 masters and nine
PhD programs.
The Federal University of Southern Bahia will be a midrange federal institution of higher
education. At the end of the envisaged implementation period, in both cycles of
graduation, it will offer 9,100 slots in the First Cycle (7,000 in the CUNI Network), 1,000 slots
in Second Cycle, with over 700 slots in Post-graduate totaling almost 11,000 entries. An
overall total enrollment of almost 20,000 regular students is expected, considering all levels
of education.
Besides the direct economic impact, the new University will not only expand the offer of
public slots at higher education levels of training in the hinterland of Bahia. In parallel and in
line with improvement of relevant basic education indicators, it will promote extension
programs designed to increase the quality of elementary and secondary education.
Nevertheless, beyond immediate scientific and technological development, specific
demands related to training proposals will be referred not only to economic growth, but
above all for equitable social and human development of the region.
14
ANTECEDENTES
1 A Lei 12.808/2013 estabelece a sigla Ufesba como designativo oficial da nova Universidade. Originalmente,
esta sigla foi usada num projeto legislativo apresentado à Câmara Federal em 2005, propondo uma
“Universidade Federal do Extremo Sul da Bahia”, com sede em Porto Seguro. Esse e outros projetos indicativos
de criação de universidades federais foram arquivados pois constitucionalmente a criação de órgão federal é
prerrogativa do Executivo. Entretanto, no processo de elaboração do projeto de lei pelo MEC, a sigla Ufesba foi
inadvertidamente mantida, mesmo depois da definição de que a sede da Universidade seria no município de
Itabuna que, geograficamente, não se encontra no território do Extremo Sul. Em função dessa inadequação, a
Comissão de Implantação propôs modificar a sigla designativa da instituição em todo o seu material de
divulgação, mantendo-a exclusivamente em documentos oficiais, onde couber no cumprimento da Lei. Duas
alternativas (Ufsba e UFSB) foram inicialmente propostas e divulgadas no site provisório da nova instituição. Em
resposta, leitores se queixaram da ausência da sigla oficial na enquete realizada e alguns comentários chamaram
a atenção para mais uma sigla – Ufsulba, que teria sido usada em propostas iniciais sobre o tema. Reforçando o
compromisso com a transparência e a governança participativa, essa questão foi então submetida a uma
Consulta Pública, mediante enquete eletrônica no site institucional, obtendo-se o seguinte resultado: Ufsulba:
5%; Ufesba: 8%; Ufsba: 44%; UFSB: 45%. Além de todas essas nomenclaturas, no dia 30/12/2013, o Diário
Oficial da União publicou os códigos de vagas para a Universidade Federal do Sul da Bahia com a sigla
Unifesba. Para reduzir a confusão terminológica e facilitar a comunicação social, respeitando a manifestação da
comunidade, o Consuni aprovou o acrônimo UFSB como sigla da nova instituição.
2 As datas das reuniões da Comissão de Implantação: 15/8/2012; 22/8/2012; 5/9/2012; 10/9/2012; 26/9/2012;
31/9/2012, 17/10/2012, 15/12/2012, 9/01/2013; 5/3/2013; 20/3/2013.
15
16
17
APRESENTAÇÃO
18
19
20
MARCO CONCEITUAL
3 Cf. a brilhante análise de Jacques Derrida em O olho da universidade. São Paulo: Estação Liberdade, 1999.
4 Cf. TEIXEIRA, Anísio. O ensino superior no Brasil: análise e interpretação de sua evolução até 1969. Rio de
Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1968.
5 SOUSA-SANTOS, Boaventura. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez,
1995.
21
Assim, como será exposto adiante, o projeto da UFSB inspira-se em reflexões, conceitos e
iniciativas de construção institucional, desenvolvidos e aplicados pioneiramente por Anísio
Teixeira, em duas oportunidades históricas: em 1934-1935, na criação da Universidade do
Distrito Federal (UDF) e em 1961-1965, especialmente, no projeto da Universidade de
Brasília (UnB). O projeto original da UnB, tal como concebido por Anísio, previa oferecer
apenas cursos profissionalizantes e doutorados no campus central. A concepção dos
colégios universitários, elemento central do conceito anisiano de Universidade Popular,
destinava-se à necessária ampliação do acesso à educação superior a grupos sociais
historicamente dela excluídos.
Esse projeto foi criticado por muitos como elitista e contraditório. Nessa crítica, omite-se o
fato de que, na proposta de Anísio, a captação de estudantes para o que se chamava de
ciclo básico seria realizada por meio de uma rede de colégios universitários articulada ao
sistema de ensino secundário de todo o Distrito Federal. A principal discordância entre os
elaboradores do plano orientador da UnB, portanto, situava-se neste ponto: Anísio
defendia uma universidade aberta e integrada ao sistema geral de educação pública e o
projeto de Darcy Ribeiro, afinal vencedor, concebia uma universidade autocontida, com
6 TEIXEIRA, Anísio. Mestres de amanhã. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v. 40, n. 92,
out./dez. 1963, p. 19.
22
quase todas as atividades concentradas num campus de recorte quase convencional, não
por acaso chamado de “cidade universitária”.7
7 RIBEIRO, Darcy. UnB invenção e descaminho. Rio de Janeiro: Avenir, 1978.
8 Sintetizado em duas obras principais: FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1967; FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.
9 Essa inflexão culmina com a obra da maturidade: FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes
Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
23
10 Principalmente em: SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. São Paulo: Hucitec-EDUSP, 1978 e SANTOS,
Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. São Paulo: Record, 2000.
24
11 Em: LEITE, Maria Angela (Org.). Encontros: Milton Santos. São Paulo: Azougue, 2007.
12 Cf. principalmente a coletânea Conhecimento prudente para uma vida decente: um discurso sobre as
ciências revisitado. Porto: Edições Afrontamento, 2003.
25
A ação política pode criar espaços institucionais que facilitam e incentivam a ocorrência e
penetração da ecologia dos saberes. Por essa via, atuam alguns dos processos de
promoção da cidadania ativa e crítica tão importantes na dinâmica social das sociedades
contemporâneas. Trata-se de um movimento generalizado de busca e afirmação da
democracia cognitiva, pois a injustiça social contém no seu âmago uma injustiça cognitiva.
Esse movimento ocorre em escala global; os países periféricos, ricos em saberes não
científicos, mas pobres em conhecimento cientifico, sofrem os efeitos de estratégias
econômicas que, subsidiadoras de políticas fiscais multilaterais, destroem formas de
produção e de sociabilidade de comunidades indígenas e camponesas, bem como seu
meio ambiente. De modo análogo, isso afeta também os países centrais, onde os impactos
negativos ambientais e sociais do desenvolvimento científico começam a entrar nos
debates no espaço público, forçando o conhecimento científico a confrontar-se com outros
conhecimentos, leigos, filosóficos, de senso comum e mesmo religiosos.
Ao propor uma “epistemologia dos conhecimentos ausentes” para introduzir uma análise
crítica da noção de transição epistemológica, Boaventura apresenta um marco referencial
de grande potencial para um projeto renovado de Universidade.13 No âmbito universitário,
a ecologia de saberes pode produzir um movimento de revolução epistemológica, sendo
assim considerada uma forma de extensão ao contrário, de fora da universidade para
dentro da universidade.
A ecologia de saberes, metodologicamente, significa um aprofundamento do conceito de
pesquisa-ação. Acarreta vasta gama de ações de valorização, tanto do conhecimento
cientifico quanto de conhecimentos práticos, considerados úteis, cuja partilha por
pesquisadores, estudantes e grupos de cidadãos serve de base à criação de comunidades
epistêmicas mais amplas que convertem a Universidade num espaço público de
compartilhamento e produção de conhecimentos, no qual cidadãos e grupos sociais
podem intervir fora de uma posição subordinada exclusivamente como aprendizes.
Compreende, enfim, a promoção de diálogos entre saberes científicos ou humanísticos,
que a universidade produz, e saberes leigos, populares, tradicionais, urbanos, camponeses,
das favelas, provindos de culturas não ocidentais (indígenas, de origem africana, oriental
etc.) que circulam na sociedade e igualmente a compõem.
26
27
Comentários
Como fundamento e princípio, é preciso problematizar a universidade como um contexto
simultaneamente epistemológico, simbólico, social e político. Como contexto
epistemológico, buscando entender os modos vigentes de produção do conhecimento
sistematizado e de suas bases lógico-pedagógicas. Como contexto simbólico, incorporando
as variadas possibilidades de relação dialógica entre as diversas culturas que compõem o
ecossistema de saberes. Como contexto social, na medida em que uma universidade faz
parte da sociedade, no seio da qual, de muitas maneiras, reproduz ou opera etapas do
processo ampliado de reprodução social. Como contexto político, conformando ambientes
onde relações de poder se exercem e anéis políticos têm gênese e determinação.
Enfim, longe de significar um mero ecletismo instrumental, dada a diversidade e aparente
quase contradição de suas raízes teórico-políticas, as referências citadas nesta seção são
importantes para a concepção do modelo proposto e permitem articular os marcos
conceituais complementares e diversificados escolhidos como base para o Plano Orientador
da nova instituição. Além dos importantes quadros conceituais tratados neste capítulo, a
UFSB incorpora como elementos estruturantes de seu projeto duas outras questões: por um
lado, o tema da sustentabilidade, entendida no campo das relações sociais engendradas
nos processos de apropriação da natureza, e, por outro lado, a questão da afiliação, a partir
da constatação de que, para sujeitos antes excluídos do ambiente universitário, o acesso à
escolaridade superior implica uma profunda mudança pessoal, cultural e política.
A questão ambiental caracteriza-se, justamente, pela complexidade nas inter-relações entre
sociedade e natureza.15 Há necessidade de ultrapassar uma noção de ambiente que
considera apenas aspectos biológicos e físicos, a uma concepção mais ampla, que dê lugar
às questões econômicas, comportamentais, cognitivas e socioculturais, reconhecendo que,
se os aspectos biológicos e físicos constituem a base do ambiente humano, as dimensões
socioculturais e econômicas definem orientações conceituais, instrumentos técnicos e
comportamentos constitutivos das relações entre sociedades e naturezas. Assim, não é
possível pensar em conservação de recursos ambientais sem considerar a dinâmica da
sociedade e, logo, a diversidade de formas técnicas, atitudinais, sociais e culturais de
apropriação desses recursos.
A partir dessa ótica, a abordagem da problemática ambiental exige abertura e
democratização da ciência, tanto internamente, através de perspectivas inter-
transdisciplinares que permitam a integração entre ciências, como externamente, pelo
reconhecimento da diversidade de outros saberes engendrados na apropriação social dos
recursos ambientais, e da promoção do diálogo entre esses saberes e os saberes científicos.
Diante disso, a concepção de sustentabilidade, incorporada pela UFSB, relaciona-se ao
reconhecimento dos distintos, e, por vezes, conflitantes, modos sociais de uso e
apropriação dos recursos ambientais territorializados, bem como à perspectiva da
democratização e diálogo de saberes.
15 Nessa questão, adotamos a perspectiva de Enrique Leff: LEFF, Enrique. Saber Ambiental: Sustentabilidade,
Racionalidade, Complexidade, Poder. Petrópolis: Vozes, 2001; e LEFF, Enrique. Ecologia, capital e cultura:
racionalidade ambiental, democracia participativa e desenvolvimento sustentável. Blumenau: Editora da FURB,
2000.
28
16 Cf. principalmente: COULON, Alain. Etnometodologia e educação. Petrópolis: Vozes, 1995; COULON, Alain.
A condição de estudante: a entrada na vida universitária. Salvador: Edufba, 2008.
29
para a instalação da UFSB, será pertinente entender de modo plural e complexo o contexto
pessoal, social, político, econômico e cultural em todos os níveis, do mais global ao mais
local, como base para analisar sua atuação, seus compromissos, sua missão institucional,
enfim, seu papel na transformação da sociedade baiana e brasileira.
30
ANÁLISE DE CONTEXTO
O contexto geral de criação de uma universidade nos moldes da UFSB define-se, dentre
outros, por dois blocos de fatores. Por um lado, fatores intrínsecos, definidores do estatuto
institucional da Universidade na contemporaneidade, decorrem do movimento de assunção
da educação como catalisadora de equidade e integração social nas sociedades
democráticas modernas. Nesse bloco de fatores, destaca-se o reconhecimento da missão
social da Universidade, em dois diferentes momentos e contextos do Século XX: no cenário
latino-americano, da Reforma de Córdoba de 1918 na Argentina às Cartas da UNE em
1960-63, que incluíram a reforma universitária nas reformas de base do Governo Goulart; no
Hemisfério Norte, do movimento pelos direitos humanos nas universidades norte-
americanas às mobilizações estudantis de maio de 1968 no continente europeu.
Por outro lado, fatores externos à instituição universitária referem-se, no plano geral, aos
processos de globalização cultural, científica e tecnológica característicos do mundo
contemporâneo e, no plano particular, aos efeitos dessa conjuntura no contexto brasileiro e
regional. Recentemente, as instituições de educação superior têm se ajustado, nos planos
acadêmico, administrativo e político, à tendência de valorização do conhecimento como
vetor de desenvolvimento humano e principal valor econômico da contemporaneidade.
Esse movimento ocorre numa conjuntura internacional marcada por iniciativas visando a
mercantilização da educação superior e pela formação de espaços universitários
transnacionais.
Assim, tendencialmente, observam-se crescentes demandas de um ciclo sustentado de
desenvolvimento econômico com integração social, em curso no Brasil a partir de 2004,
apesar dos efeitos inibidores das crises internacionais de 2009-2013. Nesse contexto,
ressaltam os desafios decorrentes da massiva integração socioeconômica e do processo de
mobilidade social resultantes do atual modelo brasileiro de desenvolvimento.
Como resultado, registra-se neste momento um viés de expansão da educação superior,
promovida a partir de programas governamentais de incentivo individual (pelo
financiamento subsidiado, como no FIES) e de fomento institucional com renúncia fiscal
(modelo de bolsas do PROUNI), beneficiando o setor privado e, de certo modo em
contrapartida, com ampliação dos investimentos públicos na rede federal de educação
superior. Essa tendência é confirmada pela ambiciosa meta 12 do Plano Nacional de
Educação como um grande desafio: elevar de 36% para 50% a taxa bruta de matrícula na
educação superior e a taxa líquida de 16% para 33% da população de 18 a 24 anos,
assegurando a qualidade do ensino.
Contexto local
A Região Sul da Bahia (Figura 1) compreende originalmente os Territórios de Identidade 5 e
7 (conforme classificação da SEI/BA), denominados respectivamente de Litoral Sul e
31
32
Demanda social
A Região Sul da Bahia apresenta indicadores educacionais bastante precários. Cerca de 290
mil estudantes encontram-se matriculados em 1 878 estabelecimentos de ensino
fundamental e 66 mil estudantes no ensino médio, em 165 escolas públicas, em sua maioria
da rede estadual. O Gráfico 1 demonstra a variação no contingente de jovens matriculados
na educação básica nos municípios da Região, ressaltando a enorme defasagem entre os
níveis fundamental e médio de ensino.
33
Gráfico 1 – Matrículas na Educação Básica por Município. Região Sul da Bahia, 2010.
Gráfico 2 – Taxa de acesso do Ensino Fundamental ao Ensino Médio por Município. Região
Sul da Bahia, 2010.
34
de continuar sua educação, em contraste com Floresta Azul, onde quase 40% dos egressos
do nível fundamental matriculam-se no ensino médio.
No Gráfico 3, observa-se a variação no contingente de estudantes do ensino médio por
município, em parte devido à variação populacional porém também decorrente das taxas
diferenciadas de perda na transição do nível fundamental ao médio. Jucuruçu e Almadina
são os municípios com menor população escolar nesse nível (respectivamente 139 e 161
estudantes), em contraste com os pólos Itabuna (8 700 estudantes) e Ilhéus (7 500
estudantes), Porto Seguro (5 700 estudantes) e Teixeira de Freitas (4 900 estudantes).
Gráfico 3 – Matrículas no Ensino Médio por Município. Região Sul da Bahia, 2010.
Para atender à demanda social por educação superior, a Região Sul da Bahia conta com
quatro instituições públicas e 11 estabelecimentos privados.
A Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), criada em 1991, oferece anualmente 800
vagas em cursos de graduação nas áreas de saúde, ciências da vida, ciências humanas,
engenharias e ciências exatas e tecnológicas. Apesar de situar-se num único campus, na
rodovia Ilhéus-Itabuna, a área geoeducacional da Uesc abrange as sub-regiões conhecidas
como Baixo-Sul (11 municípios), Sul (42 municípios) e Extremo-Sul (21 municípios),
perfazendo um total de 74 municípios. O quadro de pessoal da Uesc é composto por 780
docentes e 409 servidores técnicos e administrativos.
Atualmente, encontram-se matriculados na Uesc 9 469 estudantes na graduação presencial,
EaD/UAB, Parfor e pós-graduação. São ofertados 44 cursos de graduação, sendo 33
presenciais regulares – 22 bacharelados e 11 licenciaturas, sendo 01 curso de licenciatura
regular na modalidade Educação a Distância. Quanto aos cursos e programas de pós-
graduação, encontram-se em andamento 16 mestrados, 04 doutorados e 05 cursos lato
senso.
35
36
UNIME 9 1 210
Do lado da oferta, a rede institucional oferece um total de 10 795 vagas de ensino superior,
sendo apenas 1 475 dessas vagas em cursos regulares no setor público de ensino.
Apesar da criação de novos cursos, levando-se em consideração as necessidades do
mercado e as demandas da sociedade e da alta qualidade da formação em vários dos
cursos de graduação da Uesc – destaque para o Curso de Medicina, com foco na atenção
primária em saúde, portador da melhor avaliação Enade/Inep na Bahia – e de pós-
graduação, particularmente na área de Biotecnologia, o porte reduzido dessa única
instituição universitária impede maior oferta de vagas públicas aos jovens do território do
Litoral Sul da Bahia.
Nos territórios meridionais da Região, a situação é ainda mais dramática, com insuficiente
cobertura de educação superior pública. A Universidade do Estado da Bahia, em Eunápolis
37
Tabela 2 – Distribuição da oferta de ensino superior público na Região Sul da Bahia, 2013.
Comentários
Enfim, face às carências e às oportunidades aqui delineadas, justifica-se plenamente a
iniciativa de implantar na região uma instituição universitária da rede federal de educação
superior, de porte médio e com desenho institucional ajustado a esse contexto de carências
e demandas. Dessa forma, pretende-se ampliar a oferta de vagas públicas no nível superior
de formação, em paralelo e em sintonia com a melhoria dos indicadores pertinentes ao
ensino básico, reforçando os programas de aumento da qualidade do ensino fundamental e
médio na região.
É certo que o desenvolvimento da região terá como base ferrovias, trens e portos para
transporte de minérios, parques industriais e centros de distribuição de bens e serviços.
Porém, para torná-lo sustentável e socialmente impactante, será preciso engajar e
beneficiar preferencialmente a economia local, mediante programas de graduação em
engenharia e outras carreiras tecnológicas nos setores de Transportes, Química, Logística,
Mineração etc., visando à formação de mão de obra local.
Entretanto, para além do desenvolvimento imediato, é preciso também identificar
demandas específicas de formação, destinadas prioritariamente à população local, referidas
não somente ao crescimento econômico, mas também ao desenvolvimento social e
humano da Região. Nesse caso, enquadram-se os campos da Saúde, do Desenvolvimento
Ambiental Sustentável e das Humanidades e Artes. Pode-se apontar o Território do
Extremo Sul da Bahia como futuro polo de referencia em termos de assistência médica e
promoção da saúde e o território da Costa do Descobrimento como pólo de formação em
Ciências Humanas e Sociais e em Ciências Ambientais.
38
39
ARQUITETURA CURRICULAR
40
17 Cf. SEABRA-SANTOS, Fernando; ALMEIDA-FILHO, Naomar. A Quarta Missão da Universidade.
Coimbra/Brasília: Editora da Universidade de Coimbra/Editora UnB, 2012.
41
42
O acesso aos cursos de Primeiro Ciclo se dará através do ENEM/Sisu diretamente nos BIs
nos campi, ou por meio de Área Básica de Ingresso (ABI), nos campi e nos Colégios
Universitários. Haverá reserva de vagas para egressos do ensino médio em escola pública,
com recorte étnico-racial equivalente à proporção censitária do Estado da Bahia, sendo
metade dessas vagas destinadas a estudantes de famílias de baixa-renda. Nos campi, a cota
será de 55% e na rede de Colégios Universitários, será de 85%. Além disso, mediante
convênios especiais com instituições públicas da área educacional, são disponibilizadas
vagas supranumerárias, por processo classificatório com base no ENEM, restrito aos
estudantes do ensino médio que cursaram todo o ensino médio no município ou consórcio
municipal participante da Rede Anísio Teixeira.
Bacharelado Interdisciplinar (BI)
O Bacharelado Interdisciplinar compreende cursos de graduação plena, com duração
mínima de três anos, oferecido em quatro grandes áreas de formação: Ciências, Artes,
Humanidades, Saúde. Trata-se de uma modalidade de formação superior caracterizada
como modular, progressiva, flexível e polivalente. A estrutura curricular do BI compreende
duas etapas:
a. Formação Geral, sendo previstas certificações intermediárias;
b. Formação Específica, destinada ao ensino-aprendizagem de conteúdos necessários para
a formação nas Grandes Áreas e para as carreiras acadêmicas e profissionais de nível
43
44
II - Eixo vocacional, no qual o estudante é convidado a escolher entre um e quatro CCs que
apresentam uma visão panorâmica de cada uma das quatro grandes áreas do BI. Nesse
eixo, o discente pode e deve explorar, refletir e planejar o seguimento de sua vida pessoal-
profissional, a partir de problemas atuais, trabalhos de campo e técnicas de orientação de
carreira. Busca-se, também, oferecer um quadro atualizado das diversas áreas básicas do
conhecimento e das profissões. Sob tutoria, o estudante decide se e como quer prosseguir
em estudos posteriores. Atividades com esses propósitos cumprem importante papel no
sucesso da experiência universitária, tanto para o indivíduo quanto para a própria
instituição.
Com este desenho curricular, o estudante pode optar por integralizar sua formação no BI
exclusivamente na Formação Geral ou Grande Área. Assim, seu diploma indicará Bacharel
em Ciências, em Artes, em Humanidades ou em Saúde, com um mínimo de 2 400 h, tal
como se dá nos BIs da UFBA. Sugere-se, no período, um equilíbrio entre o número de CCs
de Grande Área e CCs da AC escolhida. Com o valor atribuído à autonomia do estudante,
seu percurso formativo prevê inúmeras variações desse quadro, cuja única finalidade é
didática e ilustrativa. O estudante pode, por variados motivos, trancar um quadrimestre
para dedicar-se a uma atividade laboral sazonal; pode ainda, sob tutoria, programar uma
série coordenada de CC (no mínimo seis) pertencentes a um ou mais cursos para compor
um certificado de curso sequencial, sem dirigir-se a uma AC.
Ao cumprir com sucesso a etapa de Formação Geral (1 080 horas, em 3 quadrimestres, com
duração média de 9 meses) o estudante da ABI-BI ou ABI-LI fará jus a reconhecimento dos
estudos realizados nos campi ou na Rede Anísio Teixeira como Curso Sequencial de
Complementação de Estudos (conforme previsto na LDB vigente). Por seu caráter de
estratégia inovadora de integração social na educação superior, pelo menos no cenário
brasileiro, o modelo dos Colégios Universitários será objeto de um capítulo especial,
adiante, detalhando antecedentes, fundamentos, detalhes operacionais e repercussões.
O estudante que avançar da Formação Geral para a etapa de Formação Específica do BI
poderá escolher uma Área de Concentração, oferecida nos IHACs, que compreende CCs
básicos ou propedêuticos para carreiras profissionais ou acadêmicas específicas, conforme
Projeto Político-Pedagógico (PPP) próprio, a ser delineado posteriormente.
Cursos Tecnológicos
O concluinte da Formação Geral, na Rede Anísio Teixeira ou no IHAC, que optar por
formação mais rápida, com acesso imediato ao mundo do trabalho, poderá escolher uma
terminalidade mais curta, nas modalidades Curso Superior Tecnológico (CT), de oferta
própria ou conveniada, ou Curso Tecnológico pós-médio, em instituições participantes do
Pronatec. Dentre os parceiros potenciais para programas de CT em dupla-titulação,
destacam-se a rede dos Institutos Federais de Ciência, Tecnologia e Inovação (atualmente,
atuam na Região o Ifba e o IFBaiano), órgãos do Sistema S (na Região, atuam Sesi, Senac e
Sebrae) e, no setor de sistemas agroflorestais, a Comissão Executiva de Planejamento da
Lavoura Cacaueira – Ceplac.
Nesse sentido, à Formação Geral concluída com aproveitamento na Rede Anísio Teixeira ou
no IHAC, o estudante agregará atividades de ensino-aprendizagem de caráter prático,
laboratorial ou em trabalhos de campo, como formação profissionalizante, incluindo noções
de empreendedorismo, completando carga horária concentrada em práticas e estágios
45
46
Áreas de Concentração
O conceito de Área de Concentração, atualmente vigente na Pós-Graduação, tem duas
finalidades neste modelo curricular: agregar ao BI terminalidade própria ou servir como
etapa de transição entre o BI e um curso de Segundo Ciclo, profissionalizante. Nesse
sentido, Área de Concentração (AC) pode ser definida como conjunto de estudos teóricos e
aplicados que tenham coerência interna e estejam a serviço da construção de um perfil
acadêmico e/ou ocupacional. As ACs organizam-se como trajetórias de formação em
campos inter-transdisciplinares de conhecimento, saberes e práticas, constituídos por
módulos, eixos e CCs preferencialmente optativos. Dessa forma, incluem o cumprimento da
função propedêutica de etapa inicial de estudos posteriores, sem excluir, como dito acima,
terminalidade em um BI. Com essa configuração, os CCs que compõem as ACs
preparatórias aos cursos profissionais de Segundo Ciclo são ministrados nos Centros de
Formação Profissional e Acadêmica (CF), situados nos respectivos campi, integrados
estreitamente aos IHAC.
A escolha da AC dar-se-á no início da etapa de formação específica do BI ou da LI. Na
etapa correspondente à AC, o estudante poderá formalizar sua opção de ingresso num
curso de Segundo Ciclo, profissionalizante, que contará com um elenco de CCs
previamente definido conforme o Projeto Político-Pedagógico de cada curso de graduação.
A AC será estruturada a partir de três critérios:
a) estrutura curricular leve, sem pré-requisitos, mas com matriz curricular com base em
eixos e módulos;
b) trajetórias curriculares abertas à escolha do estudante, com CCs majoritariamente
optativos, permitindo inclusive mobilidade inter-áreas;
c) diversificação de focos de formação, com predominância de componentes
propedêuticos.
Exemplos de áreas de concentração:
• Estudos em Artes Cênicas
• Estudos em Artes Musicais
• Estudos das Culturas
• Estudos das Sociedades
• Estudos Jurídicos
• Estudos da Subjetividade e do Comportamento Humano
• Estudos da Saúde-Enfermidade-Cuidado
Outras ACs, alternativas a este elenco, resultantes de inovações curriculares ou de
combinações ou integrações meta-inter-transdisciplinares de CCs oferecidos pela UFSB ou
por instituições parceiras, poderão ser propostas por docentes ou pelo estudante e
avaliadas pelos respectivos colegiados. A depender dessa aprovação, o estudante poderá
graduar-se em até duas ACs. Ambas poderão ser consideradas como requisito para os
processos de progressão para a formação em Segundo Ciclo.
Critérios de passagem para o Segundo Ciclo
Para concluintes do BI, CT e LI que desejarem ingressar no Segundo Ciclo, visando à
formação em carreiras profissionais, dois princípios devem fundamentar os critérios de
progressão: por um lado, encoraja-se a pluralidade de modalidades de processo seletivo,
47
visando contemplar distintas competências como critério de recrutamento; por outro lado,
respeitam-se as peculiaridades de cada formação, na medida em que critérios específicos
podem ser agregados ao processo de seleção.
No geral, para atender a critérios de diversidade e à autonomia cidadã e universitária, aqui
preconizados, os seguintes instrumentos ou processos de avaliação de desempenho podem
ser utilizados, isoladamente ou, de preferência, em combinação:
• Coeficiente de Rendimento durante o BI, mediante sistemas coletivos de avaliação do
desempenho médio nos módulos de FG e AC do BI.
• Coeficiente de Rendimento na AC ou trajetórias pré-profissionais na FE do BI;
• Exame de Avaliação Seriada a cada ano do BI, compondo um escore cumulativo.
Começando no fim do primeiro ano, essa avaliação pode cobrir conteúdos do Eixo
Temático da FG e da AC no qual se encaixa a carreira profissional desejada.
• Seminário ou Oficina de Extensão para avaliar aptidão/vocação; aplica-se especialmente
às áreas que exigem talentos específicos, como as Artes, dificilmente observáveis
mediante formas convencionais de seleção.
• Avaliação de competências sociais, interpessoais e éticas nos estágios de práticas
comunitárias multiprofissionais.
Conforme detalhado adiante, sistema de tutoria inter-pares e por colegas em PG, todos
eles supervisionados por pelo menos um docente, permitem um processo contínuo de
avaliação compartilhada, com forte valorização da solidariedade e relativização da
competitividade individual como critério estrutural de progressão aos cursos de Segundo e
Terceiro Ciclos. Para verificação de competências sociais, interpessoais e éticas nas
atividades práticas, o estudante será avaliado pelo desempenho em estágios, realizados no
último ano do BI ou LI junto às equipes de atividades práticas, nelas incluídos mediadores,
tutores, residentes e docentes-supervisores. Considera-se pertinente permitir ao estudante
do BI e LI participar de mais de um processo seletivo simultaneamente para progressão ao
Segundo Ciclo.
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49
Comentários
A arquitetura curricular delineada para a UFSB, incluindo um fluxograma geral de trajetórias
curriculares e modalidades de conclusão de estudos, encontra-se esquematizada na Figura
5. Observe-se a diversidade de processos seletivos, ajustados às especificidades do acesso
aos distintos ciclos de formação: para ingresso ao Primeiro Ciclo, Enem/Sisu; para o
Segundo Ciclo, indicadores de aproveitamento no decorrer dos cursos de Primeiro Ciclo;
para o Terceiro Ciclo, modalidades de seleção apropriadas a cada curso ou programa de
pós-graduação. A flexibilidade do modelo se evidencia na grande mobilidade interna do
sistema, fomentada por transferências internas, transições de campos de formação e modos
de progressão. Nota-se também a modularidade do regime progressivo de formação, com
grande variedade de formas de certificação intermediária ou diplomação após a conclusão
de etapas ou ciclos.
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51
terão exercitado uma visão humanística, política e social da sua própria prática, no contexto
de diversas outras formas de compreender e atuar no mundo.
O marco conceitual sobre educação superior apresentado como base para esta arquitetura
curricular implica um novo modo de formação cidadã e profissional capaz de responder de
modo efetivo e sustentado às demandas sociais e também a necessidades individuais e
coletivas. Tal projeto, efetivamente político e pedagógico, permitirá superar modos
acostumados de ensino baseados na fragmentação do conhecimento, na especialização
precoce, na supervalorização da tecnologia e na perspectiva disciplinar, para tornar
realidade um modelo de ensino-aprendizagem orientado para a promoção da equidade,
sustentabilidade e solidariedade, conforme destacado na Carta de Fundação da UFSB.
52
18 TEIXEIRA, Anísio. Depoimento e debate sobre o Projeto da Lei de Diretrizes e Bases. Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 73, n. 173, jun./abr. 1992, p.143-183. Disponível em:
<http://rbep.inep.gov.br/index.php/RBEP/article/viewFile/428/432>. Acesso em: 28 nov. 2013.
19 TEIXEIRA, Anísio. Mestres de amanhã. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v. 40, n. 92,
out./dez. 1963, p. 13.
53
20 BRASIL. I Seminário Nacional da Reforma Universitária – Declaração da Bahia, promovido pela União
Nacional dos Estudantes, 1961, Salvador – Bahia. In: FAVERO, Maria de Lourdes de A. UNE em tempos de
autoritarismo. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994.
21 BRASIL. II Seminário Nacional de Reforma Universitária – Carta do Paraná, promovido pela União Nacional
dos Estudantes, 1962, Curitiba - Paraná. In: FÁVERO, Maria de Lourdes de A. op.cit.
22 MENDONÇA, Ana Waleska. Anísio Teixeira e a Universidade de educação. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2002.
24 Cf. COHEN, Arthur (2008). The American Community College. San Francisco, CA: Jossey-Bass. p. 566.
54
25 Disponível em: <http://cegepadistance.ca/en/home-students/cegep-a-distance/our-history/>.
27 BLANCO, José Arsênio Martín. La universidad cubana del siglo XXI: la Sede Universitaria Municipal. Revista
Iberoamericana de Educación, v. 44, n. 6, 2007, p. 1-6.
55
56
tutores são recrutados nas próprias escolas, cidades ou comunidades que sediam os CUNIs,
aproveitando da sua proximidade e conhecimento do alunado de cada local. Equipes
especialmente treinadas encarregam-se das atividades docentes da Rede, supervisionando
os tutores locais. Essas equipes atuam nos municípios da Rede Anísio Teixeira aos sábados,
aproveitando uma característica cultural da Região Sul onde o “dia da feira” significa muitas
vezes o momento de maior interação social da comunidade.
O cumprimento dos requisitos da Formação Geral habilita o estudante do CUNI a integrar-
se ao programa curricular regular do BI ou da LI na etapa de Formação Específica. Isso
ocorre por seleção direta mediante Coeficiente de Rendimento ou através do
preenchimento de vagas residuais por evasão. Para cada vaga de acesso direto ao BI ou LI
nos campi há outra vaga destinada aos concluintes da Rede Anísio Teixeira. Além de lhes
ser permitido o ingresso aos BIs ou às LIs, os estudantes dos CUNI podem optar por
conclusão de estudos, recebendo um Certificado de Formação Geral Universitária (CFGU),
na modalidade Curso Sequencial de Complementação de Estudos (mínimo de 1 000 horas).
Se tiver cursado 1 200h na Rede Anísio Teixeira e, ingressando nos Institutos Federais ou
outras instituições parceiras, e cumprir mais 600h de componentes específicos em
determinada formação ou habilitação profissionalizante oferecida, o estudante faz jus a um
diploma de Curso Superior Tecnológico.
As atividades de aprendizagem realizadas na Rede Anísio Teixeira de Colégios
Universitários suscitam dois blocos de questões no plano legal: acesso e certificação.
Definido como política de ações afirmativas específica da instituição, o acesso por meio de
vagas supranumerárias atende plenamente à legislação. Conforme a Portaria Normativa
18/2012, que regulamenta a Lei 12.711 (Lei das Cotas), de 29 de agosto de 2012, e o
Decreto no 7.824, de 11 de outubro de 2012, em seu Art. 12:
As instituições federais de ensino poderão, por meio de políticas
específicas de ações afirmativas, instituir reservas de vagas:
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Todos os estudantes que entrarem na Formação Geral, diretamente nos campi ou através
dos CUNI, cursarão os seguintes componentes no primeiro quadrimestre: Seminários
Interdisciplinares; Oficinas de Leitura e Produção de Textos; e dois CCs do eixo vocacional
como interdisciplinas. O componente “Seminários Interdisciplinares” terá programação e
ementa baseadas em objetivos e competências. O componente “Oficinas de Leitura e
Produção de Textos em Língua Portuguesa” abordará tanto a linguagem culta quanto a
diversidade linguística e suas implicações na esfera do poder e da cultura. O componente
voltado para a cultura científica analisará os discursos científicos e suas interlocuções com as
culturas locais. Por fim, o componente voltado para cultura humanística analisa o conceito
de cultura e suas implicações no âmbito global e local.
Cada um dos componentes oferecidos nos CUNIs pode ser adaptado ao interesse dos
estudantes locais e adequado às características e demandas do município onde a formação
universitária inicial ocorre. Como se pretende articular a Rede Anísio Teixeira com as
políticas de melhoria do Ensino Médio, este planejamento será trabalhado também com os
professores do EMP, para que os projetos sejam pensados e inseridos nos seus currículos,
no âmbito das disciplinas, ou sob a forma de projetos interdisciplinares. Para dar suporte a
essas atividades, previstas no currículo do CUNI e articuladas com o EMP, durante horários
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MODELO PEDAGÓGICO
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62
janeiro será também utilizado para promoção de eventos científicos e acadêmicos, além de
cursos de verão intensivos, aproveitando o período de férias e a atratividade turística de
todo o litoral da Região Sul da Bahia.
Para o gerenciamento do regime letivo quadrimestral multiturno e seus desdobramentos,
sistemas de gestão acadêmica e administrativa correlatos incorporam modelos de melhores
práticas e alta eficiência, demandando maior rigor gerencial. Soluções de autosserviço,
governança eletrônica e técnicas modernas de gestão informatizada contribuirão para a
viabilidade dessa estrutura de ensino-aprendizagem.
O regime quadrimestral permite anualizar a distribuição de atividades letivas, dando aos
estudantes e aos servidores docentes e técnico-administrativos e às instâncias de gestão
acadêmica maior flexibilidade na montagem dos respectivos planejamentos pessoais e
institucionais. Assim, um docente terá uma carga didática anual que poderá ser distribuída
igualmente nos três períodos letivos ou concentrada em um ou dois quadrimestres,
facilitando o desenvolvimento de atividades de pesquisa, extensão ou intercâmbio
interinstitucional.
Os estudantes, por seu turno, podem montar suas trajetórias curriculares com alternância ou
concentração de quadrimestres, preservando seus planos de formação sincronizados com
viagens de estudos, programas de intercâmbio, compromisso profissionais, trabalhos
temporários, beneficiando principalmente aqueles que mantêm empregos ou outras
ocupações remuneradas.
O sistema quadrimestral multiturno será ajustado de modo permanente pelas instâncias de
coordenação responsáveis pelo planejamento e alinhamento dos objetivos dos
componentes curriculares e a conversão parcial do processo avaliativo em relatórios de
processos de execução dos problemas apresentados. O perfil acadêmico do concluinte de
cada ciclo deverá culminar em perfis de certificação compatíveis com as demandas vigentes
no país e no mundo.
Tecnologias digitais
A complexidade do mundo contemporâneo demanda cada vez mais modalidades
diversificadas de formação e níveis de educação flexíveis, matizados e modulares, em
função da variedade de situações e contextos que geram enorme volume de informações
de caráter científico-tecnológico e artístico-cultural. O processo educativo, nesse cenário,
tem sido pautado pelo desenvolvimento das bases cognitiva, afetiva, social e ético-políticas
do sujeito, bem como suas potencialidades, capacidades de realização, canais de
comunicabilidade e de expressão artística, desenvolvimento corporal e sociabilidade.
Nesse contexto, observa-se enorme e crescente introdução de inovações tecnológicas
apoiadas pelos avanços no cenário da TIC, em todo o mundo. A apropriação de conteúdos
de conhecimento e experiências pedagógicas em espaços não-físicos e situações não-
presenciais tem-se dado através dos chamados Recursos Educacionais Abertos (REA), que
incluem dispositivos e ambientes virtuais de aprendizagem. Dispositivos Virtuais de
Aprendizagem (DVA) compreendem novas tecnologias de interface digital (games, sites,
blogs, redes sociais, dispositivos multimídia, entre outros) e meios interativos de
comunicação, por meio de redes digitais ligadas em tempo real, mediante sistemas de
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64
65
etc.), sempre com foco nas escolhas e na autonomia dos estudantes, e difundidos nas redes
sociais. Além disso, os educadores serão treinados para permanente atenção aos
acontecimentos em situações virtuais ou físicas de aulas, encontros, reuniões e espaços de
práticas, para explorá-los pedagogicamente com técnicas de questionamento,
problematização e geração de soluções, igualmente postos à disposição, de modo
transparente e aberto, à comunidade da UFSB.
Do ponto de vista de conteúdo e formato pedagógico, as estratégias metodológicas são
variadas e as modalidades de REA de última geração devem servir de inspiração e modelo
para o ensino na UFSB. Todos os cursos de Primeiro Ciclo são oferecidos tanto na
modalidade de xMOOC quanto como cMOOC para a Rede Anísio Teixeira de Colégios
Universitários. Entendimentos serão mantidos com as diferentes organizações que apoiam
essas modalidades de aprendizagem orientada por TIC, como principalmente Coursera e
EDx (nos EUA), Futurelearning (na Inglaterra) e plataformas nacionais em vias de
consolidação.
Práticas pedagógicas
O modelo formativo da UFSB está pautado no pluralismo metodológico, incorporando
distintos modos de aprendizagem ajustáveis às demandas concretas do processo coletivo
institucional. Assim, reconhecendo seus limites, mas sem desprezar as potencialidades do
modelo convencional de Pedagogia Programada (onde se definem antecipadamente
conteúdos, métodos, ritmos e técnicas), outras metodologias contemporâneas são
privilegiadas: Aprendizagem por Projetos; Aprendizagem Baseada em Problemas
Concretos; Aprendizagem por Competências. Para registro adequado e eficiente da
diversidade de modos de aprendizagem previstos, adotar-se-á o sistema ECTS,30 adaptado
ao contexto institucional do ensino superior no Brasil e compatível com a plena mobilidade
internacional.
O modelo pedagógico geral da UFSB compreende construção orientada do conhecimento
pela via da problematização, com base em elementos da realidade concreta da prática
laboral, artística, tecnológica ou acadêmica. Essa abordagem submete a percepção inicial
da aprendizagem a um processo crítico de constante questionamento, mediado pela
literatura de referência (acadêmica, científica etc.) para o conjunto de saberes em questão,
compilado ou extraído do conhecimento disponível ou herdado.
Isso ocorrerá mediante a identificação de problemas gerados por duas fontes: por um lado,
induzidos em projetos temáticos de aprendizagem, estabelecidos e renovados
periodicamente pelas equipes docentes, a depender das estruturas curriculares dos cursos
programados; por outro lado, pactuados contingencialmente pelas práticas vivenciadas nos
estágios curriculares e extracurriculares incorporados nos programas de ensino. Em suma, a
primeira opção configura aprendizagem-orientada-por-projetos e a segunda aprendizagem-
orientada-por-problemas. O desafio, nesse caso, será conciliar e articular os momentos e
processos pertinentes numa estratégia pedagógica consistente, convergente e produtiva.
30 European Communities. ECTS User’s Guide. Luxembourg: Office for Official Publications of the European
Communities, 2009. Disponível em: <http://ec.europa.eu/education/tools/docs/ects-guide_en.pdf>.
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Nos cursos de Primeiro Ciclo, cada estudante matriculado num programa presencial cumpre
a função de mediador e tutor de colegas que se encontram em situação metapresencial.
Encontros presenciais serão propostos e estimulados, por meio de feiras, visitas, recepção
de colegas em suas próprias casas, ou em alojamentos nos campi por períodos curtos para
estreitar laços e convivência.
Nos cursos de Segundo Ciclo, nas equipes de EAA, estudantes de cada ano dos cursos são
tutores de estudantes mais novos na trajetória formativa. Onde for viável, as notas dos
estudantes terão três componentes equivalentes: a) desempenho individual; b)
desempenho da equipe; c) aproveitamento dos estudantes sob sua tutoria. Assim, a nota
de cada estudante considera seu aproveitamento individual, mas também contempla o
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DELEUZE, Gilles. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, v.1. Trad. Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa.
São Paulo: Ed. 34, 1995.
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Visando maior cobertura territorial, conforme sua Lei de criação, orientada pelo marco
conceitual acima exposto, a UFSB tem sede em Itabuna e campi nos municípios de Porto
Seguro e Teixeira de Freitas. Desde sua concepção, prevendo uma arquitetura curricular
complexa, modular e flexível, com base em regime de ciclos, esta universidade oferece
cobertura ampla e capilarizada em todo o território da Região Sul da Bahia através da Rede
Anísio Teixeira.
As distâncias geográficas, mais de 200 km entre cada campus e quase 900 km de estradas
entre os 29 municípios que receberão Colégios Universitários, constituem potencial
obstáculo à eficiência operacional da instituição. Assim, justifica-se desenvolvimento e
implantação de inovações estruturais no plano organizacional da universidade. O desafio
imediato será articular, por um lado, controle institucional aberto e avaliação centralizada e,
por outro lado, governança e gestão acadêmica apoiadas em instâncias, estratégias e
dispositivos virtuais de gestão, tendo como foco qualidade e efetividade do processo
pedagógico. Como solução, são utilizadas as seguintes estratégias:
• descentralização de processos de gestão administrativa no cotidiano institucional;
• forte investimento em rede digital, possibilitando governança e gestão mediadas por
tecnologia em tempo-real;
• otimização e dinamização das instâncias de gestão administrativa visando maior
eficiência acadêmica;
• registros, sistemas e dispositivos transparentes de controle social institucional,
produzindo de modo constante e confiável dados capazes de orientar os processos de
gestão;
• instâncias deliberativas ampliadas e abertas, fomentando maior participação dos
segmentos da comunidade universitária e da sociedade da Região na governança da
instituição.
Estrutura organizacional
Para gestão institucional e acadêmica eficiente e participativa, a UFSB contará com uma
estrutura organizacional “orbital” em rede, visando à otimização administrativa e
racionalidade no uso de recursos materiais, levando em consideração a necessidade de
cobertura territorial ampliada. Considerando peculiaridades geográficas, institucionais e
acadêmicas, a UFSB será operada por instâncias e tecnologias leves de gestão, eficientes e
desburocratizadas, com uso intensivo de recursos telemáticos.
Nesse sentido, a estrutura institucional da UFSB terá três esferas de organização,
correspondendo a ciclos e níveis de formação:
• Colégios Universitários (CUNI)
• Institutos de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC)
• Centros de Formação Profissional e Acadêmica (CF)
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Rede digital
Para dar agilidade aos processos administrativos e acadêmicos, a UFSB implantará uma
rede digital robusta, interligada através do backbone da Rede Nacional de Pesquisa RNP.
Trata-se de uma rede de fibra ótica de alta velocidade de transmissão de dados, em
processo de implantação atualmente na região (no eixo da BR-101), como pode ser visto na
Figura 6.2. Deverão ser feitos investimentos na ampliação e complementação dessa rede
para atingir os municípios integrantes da Região, em especial aqueles onde será implantada
a Rede CUNI.
A RNP utiliza a rede Ipê, a qual se constitui em infraestrutura de rede internet voltada para a
comunidade brasileira de ensino e pesquisa. Estão a ela conectadas as principais
universidades e institutos de pesquisa nacionais e internacionais. Baseada principalmente
em tecnologia de transmissão óptica, a RNP está entre as mais avançadas do mundo e
possui conexão com redes acadêmicas estrangeiras, tais como Clara (América Latina),
Internet2 (Estados Unidos) e Géant (Europa).
Através da implantação da rede da UFSB, que estará ligada à RNP, será possível a utilização
de serviços que combinem áudio e vídeo, possibilitando a interação em tempo real de
usuários em diferentes pontos geográficos da UFSB. Dentre os serviços oferecidos pela
RNP que devem ser adotados pela UFSB, destacam-se:
• Ambientes Virtuais de Aprendizagem
• Conferência WEB – reuniões virtuais entre participantes remotos
• Videoconferência – utilização de salas virtuais
• Disponibilização de conteúdos digitais
• Hospedagem Estratégica para conteúdos digitais
• Telepresença
Além disso, a UFSB contará com estrutura de gestão e sistemas baseados em rotinas
virtuais de comunicação, registro, tramitação e arquivamento digital de processos
administrativos, minimizando a utilização de suportes físicos em papel, cartões e outros
derivados de celulose. Todos os sistemas e serviços de TIC da UFSB estarão disponíveis na
NUVEM, de modo a minimizar custos operacionais e maximizar robustez e acesso universal,
a partir de qualquer lugar, a qualquer hora.
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Estrutura de gestão
Fortemente pautada na utilização de tecnologias digitais, a gestão da UFSB terá como base
uma estrutura administrativa enxuta e descentralizada, autonomizando os campi, sem
entretanto perder a articulação de gestão com os diversos setores da Administração
Central. Ou seja, tanto no plano acadêmico quanto administrativo, combinar-se-ão, de
modo orgânico, a descentralização da gestão de rotina com a centralização dos processos
de regulação, avaliação e controle de qualidade.
As principais inovações adotadas na estrutura organizacional de gestão da UFSB são:
• Criação do Conselho Estratégico Social
• Pró-Reitoria de Tecnologia de Informação e Comunicação
• Pró-Reitoria de Sustentabilidade e Integração Social
• Pró-Reitoria de Gestão Acadêmica
• Decanatos para gestão acadêmica das unidades universitárias
• Programas Integrados de Pesquisa, Extensão, Ensino e Criação
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Unidades universitárias
A função acadêmica da UFSB baseia-se em Unidades Universitárias – Institutos de
Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) e Centros de Formação Profissional e Acadêmica
(CF):
Instituto de Humanidades, Artes e Ciências – com a seguinte estrutura interna:
• Decanato
• Congregação – constituída pelos coordenadores dos Bis e LIs.
• Colegiados Acadêmicos – 4 Colegiados nos IHACs, de acordo com as grandes áreas
(Humanidades, Artes, Ciências e Saúde)
• Coordenações dos Programas de Formação
• Coordenação da Rede CUNI
• Secretaria Administrativa, com a função de dar apoio ao Decanato.
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• Secretaria Acadêmica, para apoio aos coordenadores de cursos, bem como aos
Programas Integrados de Pesquisa e Extensão que ainda não tenham atingido
autossustentabilidade.
Centro de Formação Profissional e Acadêmica – terá estrutura similar ao IHAC, sem a
responsabilidade de coordenação das Redes CUNIs:
• Decanato
• Congregação – constituída pelos coordenadores de curso de graduação e
coordenadores dos programas de pesquisa e extensão.
• Colegiados de cursos – formados pelos docentes de cada curso, carreira ou programa
de formação.
• Secretaria Administrativa, com a função de dar apoio ao Decanato.
• Secretaria Acadêmica, para apoio aos coordenadores de cursos, bem como aos
Programas Integrados de Pesquisa e Extensão que ainda não tenham atingido
autossustentabilidade.
Vinculados às Unidades Universitárias, Programas Integrados de Pesquisa, Extensão e
Criação (PIPEC) compreenderão unidades operacionais de pesquisa, pós-graduação e
educação continuada, promotores de atividades de pesquisa, extensão, inovação, criação e
cooperação técnica. Organizados em torno de temáticas inter-transdisciplinares ou
focalizados em recortes disciplinares ou em problemas setoriais, os PIPECs funcionarão,
quando possível e pertinente, num regime de autogestão e autofinanciamento, sempre
articulados aos programas regulares de ensino da UFSB.
Cada CF ou IHAC terá um fórum de coordenadores dos PIPECs, com a função de promover
articulação horizontal e intertemática entre os diversos programas, bem como de regular a
articulação de projetos e o compartilhamento de recursos e pessoal necessários ao
funcionamento da Unidade Universitária. Os PIPEC indicarão representante e suplente para
a Congregação, mas sem direito a voto, apenas a voz. Os professores, técnicos e
estudantes participam desses PIPECs conforme sua aderência às temáticas, podendo
participar de mais de um; cada PIPEC estabelece um regime interno de funcionamento,
subordinado às deliberações dos Conselhos Superiores, Congregações e Colegiados de
Curso.
Os Centros de Formação funcionarão em estreita interface com Parques Tecnológicos ou
Parques Culturais, a depender de sua vocação, e seus respectivos PIPECs estarão
conectados a empresas-juniores, ONGs, projetos de empreendedorismo e incubadoras de
startups. Nesta fase inicial, prevê-se a instalação de um Parque Agro-Tecnológico, em
parceria com a Ceplac, no campus de Itabuna e um Parque Ecológico e Cultural no campus
de Porto Seguro, nas instalações do Centro de Eventos Costa do Descobrimento, cedido
pela Bahiatursa.
Modelo de sustentabilidade
Universidades são instituições hipercomplexas ligadas à educação, à ciência e à cultura.
Para alcançar melhores níveis de desempenho ambiental em relação aos conseguidos pela
implementação dos Sistemas de Gestão Ambiental convencionais, instituições de
conhecimento devem operar modelos de gestão estratégica em rede, fundamentados na
80
32 ALMEIDA-FILHO, Naomar; QUINTELLA, Rogério; COUTINHO, Denise; MESQUITA, Francisco; BARRETO,
Osvaldo. Mapa de Rede de Impactos para Gestão Estratégica na Universidade. Educação & Realidade v. 39, n.
1, p. 277-301, jan./mar. 2014.
33 Modificado de Fouto, 2002 (apud TAUCHEN J. BRANDLI L. A gestão ambiental em instituições de ensino
superior: modelo para implantação em campus universitário. Gestão e Produção, v. 13, n. 3, 2006, p. 503-515).
81
82
importância como dispositivo pedagógico crucial para uma instituição educadora nos
moldes da UFSB.
Em síntese, uma perspectiva efetiva de sustentabilidade deve agregar-se à própria vida
universitária, com suas diversas articulações dentro e fora da Universidade, no sentido do
que ocorre no espaço físico-comportamental dos seus campi e esferas de atuação. A prática
da vida universitária não pode restringir-se aos conhecimentos discutidos em sala de aula e
em outros ambientes de ensino-aprendizagem. Assim, para o direcionamento das
atividades de ensino, pesquisa e extensão, é necessário que se evidencie, em seus próprios
espaços físicos, forte e constante coerência com o discurso praticado nos espaços
pedagógicos. Concepção, projeto, construção e funcionamento dos campi com base neste
modelo integrado de sustentabilidade constitui eixo central e intrínseco do projeto
acadêmico desta Universidade, porque a prática de uma verdadeira pedagogia crítica assim
o exige.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fazer desta Universidade uma instituição educadora em todos os planos significa valorizar
sua missão acadêmica em quatro aspectos distintos porém complementares: governança,
estrutura organizacional, regime letivo e arquitetura curricular. Isso implica conceber,
propor, implantar e avaliar a eficácia-efetividade de uma série de inovações.
No que concerne à governança, por um lado, o Conselho Universitário é voltado para a
gestão acadêmica, com competências referidas ao planejamento e supervisão das
atividades-fim da instituição. Por outro lado, as unidades universitárias são lideradas por
dirigentes que se ocupam efetivamente da gestão acadêmica, não sendo, portanto,
gerentes de rotinas e problemas do cotidiano administrativo. A adoção do termo Decano
para designar tais dirigentes é proposital: tanto reafirma a função do gestor acadêmico
como líder institucional de ambientes educativos quanto remete à nomenclatura
internacional, retomando um título equivalente aos cargos de dean e doyen das principais
universidades do mundo. Dessa maneira, define-se melhor a estrutura de governança e
gestão em suas especificidades no plano acadêmico, pelas unidades universitárias
(Institutos e Centros), e no plano administrativo, pelas instâncias de gestão (Pró-Reitorias,
diretorias e gerências dos campi).
No que se refere ao regime letivo, a UFSB pretende otimizar os recursos institucionais
disponíveis, operando um sistema quadrimestral multiturno. Com isso, tanto os estudantes
podem ajustar seu calendário de estudos aos contextos laborais de realidades econômicas
sazonais quanto os docentes terão a possibilidade de organizar suas atividades de
pesquisa, extensão e cooperação institucional em agendas mais flexíveis.
No plano curricular, a UFSB adota o sistema de ciclos de formação: no Primeiro Ciclo,
Bacharelados Interdisciplinares e Licenciaturas Interdisciplinares; no Segundo Ciclo,
formações profissionais e acadêmicas; no Terceiro Ciclo, doutorados e mestrados
profissionais, acoplados a Residências redefinidas como ensino em serviço, em todos os
campos de formação.
Em segundo lugar, a UFSB valoriza o tema da eficiência, tanto acadêmica quando gerencial.
Nos termos da etimologia histórica e da epistemologia, o conceito de ‘eficiência’, definido
como ação, força ou capacidade de produzir bem o efeito desejado ou o impacto
projetado, incorpora a ideia de qualidade. Mais ainda: por um lado, toma como objeto “o
bem”, recurso tangível e intangível ao mesmo tempo, valor e meta ético-política das
instituições sociais de caráter radicalmente público; do mesmo modo, referencia a
transformação, operando a ideia aristotélica de causa eficiente: processo que transforma a
causa material em causa final. Como construto prático, faz parte de uma série semântica
composta por (novamente) quatro significantes articulados: eficácia, eficiência, efetividade e
equidade. Neste quadro, eficiência vincula-se tanto a qualidade (eficácia) da atividade-fim
da Universidade quanto a sua viabilidade institucional (efetividade) e política (equidade).
Enfim, o conceito de eficiência incorpora, com vantagens, todos os valores acadêmicos
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APÊNDICE 1
CARTA DE FUNDAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA
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APÊNDICE 2
COMISSÃO INTERINSTITUCIONAL DE IMPLANTAÇÃO