Historia Demografica de Angelina 1860-1950

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE .SANTA.

CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE PÕS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

HISTÓRIA DEMOGRÁFICA DE ANGELINA

1860 - 1950

Dissertação apresentada ao Curso de

Pós-Graduação em História, da Uni­


versidade Federal de Santa Catarina
para a obtenção do título de Mestre

em História do Brasil.

JOAQUIM FRANCISCO PERARDT

FLORIANÓPOLIS

1990
HISTORIA DEMOGRÁFICA DE ANGELINA

1860-1950

JOAQUIM FRANCISCO PERARDT

Esta dissertação foi julgada e aprovada em sua forma fi­

nal para a obtenção do Titulo de

MESTRE EM HISTÓRIA DO BRASIL

BANCA EXAMINADORA:

MçxaÍL A . ’r.'è.
Prtffa.Dr^aiMarly AnnÁ F.B.Mira
Orientadora

Prof.Dr.Paulo Fernando de A.Lago

Prof.Dr.Aníbal Abadie-Aicardi
à minha esposa

MARIA LÜCIA,

pela sua compreensão

estímulo...
AGRADECIMENTOS

Em especial, ã Professora Marly Anna Fortes Bùstamante

Mira, pela orientação e acompanhamento da pesquisa, sugestões,


palavras de alento e confiança por ocasião dos momentos de

incerteza.

As entidades de pesquisa expressa-se o reconhecimento es

pecial aos funcionários: do Arquivo Público do Estado de Santa


Catarina, do Arquivo Histórico Eclesiástico da Arquidiocese de

Florianópolis, do Instituto Histórico e Geográfico de Santa


Catarina, da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina,

Biblioteca Central da UFSC, Prefeitura e a Casa Paroquial de


Angelina, pelo apoio ñas pesquisas para a realização deste tra

balho.

0 presente estudo não poderia ter êxito sem a colabora­


ção de várias pessoas e entidades que, direta ou indiretamente

contribuíram para a concretização.

Fica registrado um agradecimento especial, a João Fran­


cisco Sepetiba, pela correção do português e a João Inácio,que
efetuou a datilografia final do trabalho.

Finalmente quero expressar o mais profundo agradecimento


a todos que me auxiliaram: familiares, amigos/ entidades e

outros. Minha sincera gratidão.


V

RESUMO

Pretendeu-se fazer a História Demográfica da Colônia Nacional

Angelina, desde a sua criação em 1860, até 1950, sendo que em al­
guns aspectos se conseguiu avançar até 1961, ano do seu desmem­

bramento de São José, quando passou a constituir o Município de

Angelina.

A Colônia Nacional Angelina foi criada por Francisco Carlos ^


de Araújo Brusque, por ato de 10 de dezembro de 1860, em terras
devolutas, com a finalidade de receber o excedente da população

luso-brasileira das áreas litorâneas, fruto da má distribuição das


"sesmarias" aos açorianos e seus descendentes. Mais tarde a Colô­

nia passou a receber populações de origem germânica, primeiro da


Colônia Santa Isabel e, depois, da C-olônia São Pedro de Alcântara,
que devido à infertilidade das terras, o isolamento da área e a
proximidade entre as Colônias foram se fixar na Colônia Nacional

Angelina.

Ao ser criada, a Colônia teve como limites o Rio Garcia, o


Ribeirão de Mundéus, o Rio Tijucas e fundos para São Pedro de Al­

cântara, ficando distante 50 km de São José (SC), com 9.000.000 de


braças quadradas (43.560.000 m2), ampliado ao dobro, por ato de 27

de janeiro de 1866. Ao ser criado o Município, em 1961, .Angelina


passou a fazer limites com os Municípios de Biguaçu, São José, San­

to Amaro da Imperatriz, Rancho Queimado, Bom Retiro e Major Gerci-

no.

Pretendeu-se relacionar a área geográfica da Colônia Nacional

Angelina, com o seu desenvolvimento econômico, que aliado âs difi­

culdades de comunicação e transporte, resultou no pequeno progres­

so da Colônia. Por outro lado, a atitude governamental foi a de


vi

vuna política de completo abandono, pois sempre preferiu a co­

lonização estrangeira ã nacional. 0 trabalho, que é baseado

nos métodos e técnicas da História Demográfica, identifica as


etapas na ocupação populacional da área: Os luso-brasileiros,os
alemães vindos das Colônias vizinhas (Santa Isabel e São Pedro

de Alcântara); a estagnação no desenvolvimento demográfico, bem

como o comportamento do quadro mais atual e as suas implica­


ções no Município de Angelina.

0 estudo partiu do pressuposto de que o comportamento de­

mográfico era o de populações "tradicionais", com famílias nu­


merosas, trabalhos em atividades ligados â agricultura, casa­
mentos precoces e mortalidade infantil on geral elevada. Daí a

grande contribuição da História-Demográf ica, que possibilitou


determinar os níveis então vigentes de fecundidade, nupciali-
dade e mortalidade, nas suas grandes linhas de tendência. Os
dados possibilitaram o estudo do movimento sazonal, com o obje­
tivo de verificar a influência da Igreja, do clima e da econo­
mia sobre os eventos vitais da população.

Para alcançar os objetivos propostos no trabalho a pesqui­

sa baseou-se principalmente em fontes primárias, usando o Ar­


quivo Histórico-Eclesiástico da Arquidiocese de Florianópolis,
o Arquivo Público do Estado, dados do Instituto Histórico e

Geográfico de Santa Catarina e a Biblioteca Pública do Estado,


além das fontes secundárias dispersas em livros, jornais e re­

vistas relacionados com o tema.

Por fim, esta dissertação apresenta-se como uma contribui­

ção aos estudos demográficos catarinenses porque revela dados


extraídos de fontes inexploradas, como os registros paroquiais

e as demais fontes primárias nas quais a pesquisa se baseou.


vii

Isso, sem dúvida, ajudará a conhecer melhor a população ora es­

tudada, como também poderá conduzir a novas pesquisas que, so­


madas as já existentes, servirão para ampliar a história re­

gional.
viii

ABSTRACT

The intention of this study was to elaborate the

Demographic History of the Angelina National Colony, from its

establishment in 1860, to 1950, considering that some aspects


were examined up to 1961, when the Colony was separated from

São José and became the City of Angelina.

The Angelina National Colony was established by Francisco


Carlos de Araújo Brusque, through a law of December 10, 1860,

on unoccupied territories, with the purpose of receiving the

remainder of the Brazilian-Portuguese population of the

coastal areas, which resulted from the inadequate distribution

of the "sesmarias" (allotments of the colonial period) to the

Azorians and their descendants. At a later time, the Colony


came to receive people of German descent, first from the

Santa Isabel Colony and, afterwards, from the São Pedro de

Alcântara Colony who, due to unproductive lands, the isolation


of the area and the proximity of the Colonies, settled in the

Angelina National Colony.

At the time of its settlement, the Colony had as

boundaries "Rio Garcia", "Ribeirão de Mundéus", "Rio Tijucas"


and São Pedro de Alcântara, located 50 km from São José (SC),

with an area of 43.560.000 m2 , doubled through a law of

January 27, 1866. In 1961, when Angelina achieved the status

of City, it came to have its boundaries with the cities of

Biguaçu, São José, Santo Amaro da Imperatriz, Rancho Queimado,

Bom Retiro and Major Gercino.

Our purpose was to relate the geographical area of the

Angelina National Colony to its economic development which.,


ix

associated with the communication and transport difficulties,

resulted in the underdevelopment of the Colony. On the other


hand, the attitude of the government was expressed through a

policy of utter disregard, since it has always favored foreign

colonization to the national one. This study, which is based

on the methods and technics of Historical Demography,

identifies the stages of demographic occupation of the area:

the Brazilian-Portuguese, and the Germans who came from the

neighboring Colonies (Santa Isabel and São Pedro de


Alcântara); the stagnation in the demographic development, as

well as the characteristics of the present day situation and


its implications in the City of Angelina.

The study sprang from the assumption that the demographic

behavior was that of the "traditional" populations, with large


families, agricultural centered activities, early marriages
and a generally high rate of infant mortality. Here one can
appreciate the great contribution of Demographic History which

made it possible to determine the levels of fecundity,


marriages and mortality existing at the time, in their overall

tendencies. The data made possible the study of the periodic

movement, with the purpose of examining the influence of the


Church, the climate and the economy on the vital events of

the population.

In order to achieve the aims proposed in the study, the

research made use chiefly of data from primary sources, such

as the Historical-Ecclesiastic Resords of the Florianópolis

Archdiocese, the State Office of Public Records, data from

the Historic and Geographic Institute of Santa Catarina and


the State Public Library, besides the secondary sources
X

scattered in books, newspapers and magazines related to the

subjetct.

Finally, this dissertation represents a contribution to

Santa Catarina's demographic studies since it discloses data

obtained from unexplored sources, such as parich records and

the other primary sources which provided the information for


the research. These facts will certainly contribute to a

better understanding of the population under survey, as well


as lead to new investigations which, along with those already

available, will enhance our regional history.


xi

SUMÁRIO

I - RESUMO .... ....................................... V

II - ABSTRACT ................ .........................viii


III - LISTA DE TABELAS E QUADROS........................ xiv
IV - LISTA DE GRÁFICOS.-E, MAP AS........................ . xvi

INTRODUÇÁO .............. ................................ 1

CAPÍTULO I - FONTES E METODOLOGIA ....................... 1;L

1.1. Fontes ................ .......................... 2.1


1.1.1. Registros Paroquiais ........ ............. -^2
1.1.2. Outros Dados Populacionais ............ . .

1.2. Metodologia ........... ..........................

CAPÍTULO II - HISTÓRIA DA COLÔNIA NACIONAL ANGELINA

1850-1881 ................................. 23
2.1. Colônia Nacional Angelina: Razões de sua Criação . 23

2.2. Colônia Nacional Angelina: Criação e Instalação .. 33


2.3. A Área Territorial e sua Localização Geográfica .. 36
2.4. Primeiros Colonos e Distribuição dos Lotes ...... 40
2.5. Os Administradores da Colônia Nacional Angelina .. 53
2.6. Fatores de Fracasso da Colônia Nacional Angelina . 62

2.6.1. Situação Geográfica ...................... 62


2.6.2. Ordem Econômica e Burocrática ............. 64
2.6.3. Vias de Comunicação e Isolamento ......... 70
2.6.3.1. Angelina-Florianõpolis .......... 71
2.6.3.2. Angelina-Lages .................. 76

2.6.3.3. Angelina-Tijucas ................ 79


2.6.4. Problemas Médico-Sanitários .............. 81
xii

CAPÍTULO III - EVOLUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DE ANGELI­

NA - 1882-1950 ................... ........ 89

3.1. Emancipação Política ........ .................... 89

3.2. História da Paróquia de Angelina ................ 91


3.2.1. Paróquia da Imaculada Conceição de Angelina 93
3.2.2. A Gruta ..................... ............. ]_0 i

CAPÍTULO IV - ESTRUTURA DA POPULAÇÃO .................... 10g

4.1. Evolução Populacional ........................... 106


4.1.1. Estrutura Social ......................... H 9
4.1.2. Estrutura por Nacionalidade e Religião .... 122
4.2. Características Demográficas ..................... ^25
4.2.1. Estrutura por Sexo ........................ 125
4.2.2. Estrutura Etária ......................... I33

4.2.3. Estrutura por Esdado Civil ........ ....... 141


4.2.4. A Constituição da Família na Colônia Na­

cional Angelina - 1861-1864 .............. I43

4.2.5. Estrutura por Atividade Produtiva ......... 157

CAPÍTULO V - DINÂMICA POPULACIONAL ...................... 16 4

5.1. As Grandes Linhas de Tendência .................. 164


5.2. Os Movimentos Sazonais de Batismo, Casamentos e

Õbitos ........................................... 170


5.2.1. Movimentos Sazonais de Batismo ........... 172

5.2.2. Movimentos Sazonais de Casamentos ......... 178


5.2.3. Movimentos Sazonais de Õbitos ............ 184
5.3. Taxas Brutas de Natalidade, Nupcialidade e Morta­

lidade .......................................... 189

5.3.1. Natalidade ......... ...................... 190


5.3.2. Nupcialidade .............................. I95
xiii

5.3.3. Mortalidade .......... ..................... 198

5.4. Taxa de Crescimento Natural ...... ................ 201

CONCLUSÕES ............................................... 205

PONTES ................................................... 218

BIBLIOGRAFIA .............................................. 231

ANEXOS ................................................... 236


xiv

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabelas
01. População Total de Angelina 1861-1950 ....... ....... 108

02. Naturalidade dos Primeiros Colonos - 1864 .......... 116

03. Estrutura Social da População de Angelina 1861-1877.. 120

04. Colônia Nacional de Angelina: Brasileiros e Estran­

geiros 1866-1877 ................... ................ 122

05. Colônia Nacional de Angelina: Católicos e Não-Catõli-

cos 1877-1878 ...................................... 125

06. Angelina: População por Sexo 1861-1950 ............. 126

07. Angelina: Razão de Masculinidade por Idade - 1864 ... 131

08. Estrutura da População da Colônia Nacional Angelina,


por Idade e Sexo - 1864 ............................ 133

09. Estrutura por Idade (em percentagem) da População de

Angelina 1863-1920 ................................. 139

10. Estrutura por Estado Civil (em percentagem) da Popu­

lação de Angelina 1863-1877 ....................... 141

11. Estrutura das Famílias e Domicílios na Colônia Nacio­

nal Angelina 1861-1864 ............................ 145

12. Número Médio de Habitantes de Angelina por fogo e por

Casa 1861-1873 ..................................... 155


13. Repartição da População de Angelina por Atividade Pro

dutiva 1863-1877 .................................. 159

14. Repartição da População de Angelina por Setor de Pro­

dução - 1866 ................... .................... 151

15. Média Anual de Batismos, Casamentos e Óbitos por pe­

ríodo de 10 anos ................................... 165


XV

16. Movimento Sazonal de Batismos de Angelina, Século XIX

1863-1899 ............... ........................... 172

17. Movimento Sazonal de Batismos de Angelina, Século XX

1900-1950 .......................................... 172

18. Movimento Sazonal de Casamentos de Angelina, Século

XIX,1890-1899 178

19. Movimento Sazonal de Casamentos de Angelina, Século

XX,.1900-1950 ................................... 179


20. Movimento Sazonal de Óbitos de Angelina, Século XIX,

1863-1899 ............. ............................ 185

21. Movimento Sazonal de Óbitos de Angelina, Século XX,

1900-1944 .......................... ................ 185

22. Taxas Brutas de Natalidade, Nupcialidade e Mortalida­

de por período de 10 anos .......................... 191

23. Taxa de Crescimento Natural da População de Angelina. 202

Quadros

1. Despesas Realizadas com as Colônias ...... .......... 65

2. Estruturas das Famílias e Domicílios: Categoria e Class


se .................................................. 144
XV i

LISTA DE GRÁFICOS E MAPAS

Gráficos

01. Crescimento da População de Angelina - 1861-1950 .... ... ]_q 9


02. Razão de Masculinidade da População de Angelina

1861-1950 .......................................... ...127


03. Razão de Masculinidade da População Nacional Angeli­

na - 1864 .................... .........................132


04. Pirâmide Etária da População da Colonia Angelina

1864 ................................ ...................135

05. Produção da Colonia Nacional Angelina - 1866 ....... ...162


06. Movimento Decenal dos Eventos Vitais Século XIX e XX i6 7

07. Movimento Sazonal de Batismos Séc. XIX ............ .... 173


08. Movimento Sazonal de Batismos Séc. XX .............. ...I74

09. Movimento Sazonal de Casamentos Séc. XIX ....... •••• 180<


10. Movimento Sazonal de Casamentos Séc. XX ............ .. 181

11. Movimento Sazonal de Óbitos Séc. XIX ............... .. 186


12. Movimento Sazonal de Óbitos Séc. XX ................ .. 187
13. Crescimento Bruto dos Eventos Vitais e Crescimento

Natural - Séc. XIX e XX ............................ .. 1 9 2

Mapas

1. Mapa da Colonização Açoriana em Santa Catarina ...... .. 32

2. Colônia Nacional Angelina e Territórios Adjacentes -


1872 .......... ........................................ 38

3. Localidades do Municipio de Angelina ................ 256

4. Municípios do Estado de Santa Catarina .............. .. 257


INTRODUÇÃO

A História Demográfica, surgida como disciplina na década


de 50 desse século, preocupou-se, sempre, em conhecer e calcu­
lar as tendências históricas da reprodução humana. Inicial­
mente, tais estudos centraram-se na França, difundindo-se para
os países europeus nas décadas seguintes e para as demais á-
reas nos períodos posteriores^.

Os estudos de natureza social, politica,econômica-e cultural emba-


saram-se nos dados obtidos pela História Demográfica e nas
análises feitas, compreendendo que as mudanças populacionais
não podem ser entendidas ou explicadas isoladamente, mas sim
de um todo orgânico e multidisciplinar.

À publicação do primeiro manual de Demografia Histórica, em 1954, por


Louis Henry e Michel Fleury, e da obra clássica sobre Crulai, ensejaram
o aparecimento de inúmeros estudos em diversos países, principalmente
França e Inglaterra, dedicados ã demografia respectiva das populações
rurais, baseados nos registros paroquiais. Ao lado destes estudos bási­
cos, inúmeros outros de natureza econômica, social e cultural são a par­
tir de então realizados, com as fichas padronizadas de famílias recons­
truídas. Com o sucesSo obtido com as primeiras publicações, a Demografia
Histórica transpõe rapidamente as fronteiras do país onde nasceu.
2

( 2)
No Brasil, a partir de estudos de LISANTI' ' e de MARCI
(3)
LIO desenvolveram-se pesquisas demográficas sobre a popula­
ção de paróquias. Em Santa Catarina, destacam-se os trabalhos
(4)
de Edy BARROS sobre Santo Antonio, de Maria Teresinha. S.

BARRETO sobre os poloneses do alto Vale do rio Tijucas, de


(6 )
Maria Bernadete R. FLORES , sobre Itajai, de Vilson F. de
(7 )
FARIAS , sobre Enseada de Brito.

Todos estes trabalhos utilizaram primordialmente os re­


gistros paroquiais, adotando-se a metodologia proposta por
HENRY e FEEURY adaptada ao caso brasileiro por NIELSEN^ .

A Historia ao ganhar novas dimensões e incorporar metodo­


logias e técnicas mais elaboradas e eficientes, propiciou que
a Historia Demográfica as utilize para analisar uma massa pon­
derável de documentos com resultados apreciáveis. Possibilita
novos enfoques de abordagem e de compreensão da História e da
atuação do homem.

Buscando compreender o passado e o presente do homem ca­


tarinense e, particularmente, da população de Angelina, em to­
da sua complexidade e completa riqueza, é que nos propomos a

fazer este trabalho. Entende-se que essa pesquisa se.justifica

^LISANTI, Luiz. 0 Brasil e a Eurbpa no fim do século XVIII e início do


XIX. São Paulo: USP, 1960.
^MARCÍLIO, Maria Luiza. A Cidade de São Paulo: Povoamento e População
1750-1850. São Paulo: EDUSP - Pioneira, 1973.
^BARROS, Edy Alvares Cabral. A Freguesia de Nossa Senhora das Necessida­
des e Santo Antônio: 1841 a 1910: Sua Transição Demográfica. Florianópo
lis, 1979.
^ B A R R E T O , Maria Teresinha S. Os Poloneses do Alto Vale do Rio Tijucas.
Florianópolis, 1979.
^FLORES, Maria Bernadete Ramos. História Demográfica de Itajaí: uma Po­
pulação em Transição - 1866-1930. Florianópolis: UFSC, 1979. 5
^FARIAS, Vilson Francisco de. Evolução Histórica Demográfica de Enseada
de Brito - 1778-1907. Florianópolis: UFSC, 1980.
^ NIELSEN, Laurence James. Uma Metodologia de Pesquisa para a História
Demográfica: Trabalho apresentado no IX Simpósio da ANPUH. Florianopo-
lis, 1977. (Mimeografado)
3

pela necessidade que hã de se fazer a História catarinense,tam

bém, a partir do estudo de casos particulares. A história de


cada comunidade ajudará a compreender e entender a História de
Santa Catarina e do Brasil na sua totalidade.

A análise embasada nas metodologias propostas pela Histó­


ria Demográfica e pela ciência histórica contemporânea, não se
guiará pela narrativa política ou militar para explicar a rea­
lidade. Desta forma, deixa-se de lado as narrativas tradicio­
nais, da história dos grandes personagens e de fatos que pouco
explicam.

De um modo geral, com pequenas variações, os autores ca­


racterizam as populações humanas, de acordo com os seus pa­
drões de casamento, de natalidade e mortalidade, como perten­
centes ao: a) Antigo Regime Demográfico Europeu (ou sociedades
"tradicionais", ou "agrícolas"); b) sociedades "modernas" ou
industriais; c) sociedade em transição do tradicional para o

moderno (baseado na teoria "neomalthusiana", mais conhecida


(9 )
como "Teoria da transiçao demográfica"

No Antigo Regime Demográfico europeu demonstrou-se, atra­

vés das pesquisas que a História Demográfica propiciou, que


o casamento era bem tardio. Nesse período, que vai do século
XVI ao XVIII, os rapazes casavam-se em média por volta dos 28

anos, e as moças em torno dos 26 a 27 anos. Tanto na Inglater­


ra, como na França, nos Países Baixos ou na Itália do Norte e
Alemanha, esse modelo de nupcialidade é único, solidamente es­

truturado, resultante de um complexo econÔmico-social especí-

^MARCÍLIO, Maria Luiza. Demografia Histórica. São Paulo: Livraria Pio­


neira Editora, 1973. p.2.
4

As sociedades "tradicionais, ou agrícolas" apresentam um


máximo de fecundidade com tamanho médio de família em torno de
cinco filhos. Sendo que o alto índice de mortalidade de crian­
ças e jovens reduz dramaticamente a duração média da vida. A
expectativa de vida ao nascer nas sociedades agrícolas era em
média 20 a 35 anos, e dos que alcançavam 5 anos poucos tinham
a probabilidade de alcanças os 50 anos. Além disso, 40% a 60%

dos que nasciam, nessas sociedades agrícolas, morriam antes de


atingir a idade média de casar ali observada .

Além disso, a "sociedade tradicional" obedece, rigidamen­


te, aos preceitos religiosos em termos do casamento e sua fi­

nalidade. 0 padrão do casamento tardio é acompanhado, numa


( 12)
cristandade austera, por taxas quase nulas de ilegitimidade
A influência da Igreja Católica atinge não só os costumes so­
ciais, como também as atitudes individuais e as decisões dos
casais. Como, por exemplo, observa-se um menor número de casa­
mentos religiosos e concepções nas épocas que a igreja consi­
derava de "trevas" ou de penitência (Quaresma e Advento). Em
conseqüência desse costume, verifica-se uma baixa nos nasci­
mentos ocorridos nos meses de dezembro e setembro. Por fim, há

que se considerar que o casamento é um ato público, o que faz

verificar uma maior observância às normas religiosas.

^^MARCÍLIO, Maria Luiza. Caiçara: Terra e População: estudo de Demogra­


fia Histórica e da História Social de Ubatuba. São Paulo: Paulinas,
1986. p.120.
BARROS. Op.cit., p.3.
(12 )Por exemplo, numa França rural, as taxas de ilegitimidade
• ... ~
sao insigni­
ficantes, entre 0,5 e 2% de todos os nascimentos. Nas cidades, os ile­
gítimos já são em maior número, pois nelas refugiavam-se as mães sol­
teiras, longe das reprovações sociais que a comunidade de habitantes
impunha.
5

No estudo do movimento sazonal da população de Angelina

levou-se em consideração três fatores: a influência climática,


os fatores de ordem econômica e a influência da Igreja Católi­

ca, sobre as concepções e os casamentos, no período da Quares­


ma e do Advento. Com relação a este último fator, a variável

"doutrina católica", se deve considerar a influência direta que


a Igreja tem sobre os fiéis, a ponto de afetar o comportamen­
to reprodutivo da população católica. Essa doutrina pregou du­

rante muito tempo como tipo ideal a família numerosa, onde


certos meios anticoncepcionais e abortivos são ilegais.

0 ideal de família numerosa, comum ãs populações do tipo

agrário, foi transmitido do judaísmo para a Igreja Primitiva


e a interpretação das Escrituras originou uma teologia moral
pró-natalista e formalmente contrária aos meios contracepti­
vos. A doutrina de Santo Agostinho, que prevaleceu desde o sé­
culo V até o século XX, acentua a finalidade essencialmente re

produtiva do s e x o ^ ^ .

Nas sociedades "modernas", por alguns denominada "indus­


trial", a idade ao casar é geralmente tardia, por volta dos 24

aos 28 anos para as mulheres. A influência da Igreja Católica,


sobre os costumes da população, praticamente desaparece; o ca­

sal decide sobre o número de filhos que pode ter, sobre a épo­
ca mais conveniente para concebê-los, de acordo com suas con­

dições e necessidades particulares. Deixa-se de observar, por­

tanto, uma diminuição no número de casamentos nos meses de

março (Quaresma) e dezembro (Advento), bem como no número de

nascimentos em dezembro e setembro.

Por sua vez, a taxa de fecundidade é mais baixa, seguin­

^13 ^BARROS. Op.cit., p.28.


6

do-se à da mortalidade fruto da industrialização, do progres^

so científico e da urbanização . A expectativa de vida ao

nascer sobe para 50 a 70 anos. A mortalidade geral e infantil,

é baixa, devido ãs melhores condições de vida e saúde, advin­

das com o desenvolvimento social-econômico resultante do pro­


gresso científico. Nas sociedades modernas já há um controle

da natalidade, observado pelo menor número de filhos por famí­


lia e pelo maior intervalo entre eles. As práticas conceptivas

sao empregadas nas sociedades modernas (15)

Nas sociedades em "transição", baseadas na "teoria neo-

malthusiana", nelas as populações humanas apresentam inicial­


mente "taxas agrícolas" de crescimento demográfico, expressas

por elevadas taxas de fecundidade, e igualmente elevadas taxas


de mortalidade, o que se traduz em um crescimento médio a ní­

vel baixos e equilibrados. Mas, com o desenvolvimento indus­


trial, ou imediatamente posterior a ele, as taxas demográficas

demonstram tendências a mudanças, iniciando-se pela queda gra­


dual da mortalidade, seguindo-se a queda da fecundidade, fru­

tos do progresso científico e da urbanização. No espaço de tem

po entre a "queda da mortalidade e da fecundidade, estava um


período de rápido crescimento relativo das populações, ou se-
(16 )
ja, a fase de transição demográfica" (grifo nosso) . Esse

período duraria até atingir as "taxas industriais", que esta­

beleceria automaticamente o equilíbrio, onde a mortalidade e a


fecundidade resultavam no reencontro de um crescimento popula­

cional normal e lento.

MARCÍLIO, Maria Luiza. Demografia Histórica. São Paulo: Novos Um­


brais, 1977. p.2.
^15^BARR0S. Op.cit., p.5.
MARCÍLIO. Op.cit., p.2.
7

Por outro lado, na sociedade em transição, a taxa de mor­

talidade infantil está caindo e a idade média da população, ao

morrer, é de 40 a 50 anos. A natalidade apresenta níveis mais


baixos, verificando-se, automaticamente, que as famílias dimi­
nuem o seu número médio de filhos, os quais já se apresentam
mais espaçados entre si. A idade para o casamento pode aumen­

tar porque há possibilidades de empregos fora do campo tradi­

cionais (agrícola), com perspectivas de trabalho na indústria,


no comércio ou em outro tipo de atividade mais especializada.
Ao mesmo tempo, observa-se uma nítida diminuição na influência
da Igreja sobre os casamentos e concepçoes (17) . O fenomeno da

transição demográfica ocorre em diferentes ¿pocas e locais,


onde intervêm inúmeras variáveis.

ALBORNOZ-SANCHEZ, em seu trabalho sobre a população da


América Latina, já alertava: "O modelo europeu, que serviu por
muito tempo de marco de referência para a história da popula-
ção mundial, não se aplica, pois, ã América Latina" (18 ) . Desta
forma, o modelo absolutamente teórico, descrito anteriormente,
serve apenas como ponto de apoio para identificação da proble­
mática. Um modelo tão simples não poderia abranger nem expli­

car todo o problema, nem tampouco se aplicar totalmente ao es­


tudo demográfico da população de Angelina. Isso porque uma sé­

rie de variáveis se interligam para deflagrar as modificações,


ou a transição, nas diversas regiões, nas quais a queda da mor

talidade e da natalidade advém de causas diversas, que ocorrem

em épocas e dentro de situações econômico-sociais distintas.As

sim, como em todo estudo científico da sociedade humana, foi


necessário modificar o modelo da experiência de outras socieda

(17^BARR0S. Op.cit., p.5.


SANCHES-ALBONOZ, Nicolas. La Poblacion de America Latina, p.22.
8

des, para adequá-lo à realidade catarinense, e mais especifica


mente da comunidade de Angelina.

Existe uma grande quantidade de documentos sobre a popula


ção em estudo, que até hoje pouco foi explorada, com exceção
de um trabalho do professor PIAZZA, que questiona a realida­
de da colonização "nacional", sendo que, em geral, os autores
tratam mais da colonizaçao estrangeira (19)

A pesquisa teve como objetivo principal levantar a Histó­

ria Demográfica da Colônia Nacional Angelina, a partir da sua


criação em 1860, por Francisco Carlos de Araújo Brusque, até a
metade desse século, em 1950. Foram utilizados os registros
paroquiais no que se refere a batizados, casamentos e óbitos,
coletados conforme a metodologia adotada. Documentos existen­
tes em arquivos públicos e particulares também foram manusea­
dos .

A pesquisa partiu do pressuposto de que o comportamen­


to demográfico da população de Angelina era do tipo "agrário",
ou " t r a d i c i o n a l " . Teve como problema central determinar os
níveis, então vigentes, de fecundidade, nupcialidade e mor­
talidade, nas suas grandes linhas e tendências. Fez-

se, também, o estudo do movimento sazonal, dos batizados, ca­

samentos e óbitos, com o objetivo de verificar a influência da

da religião e da Igreja nas concepções e casamentos, nas épo­

cas do Advento e da Quaresma, como também as influências de or


dem climática e econômica sobre os eventos vitais da população.

(19) •
PIAZZA, Valter F. Angelina: Um Caso de Colonizaçao Nacional. Floria­
nópolis: UFSC, 1973.
^20V s populações do tipo "agrário" ou "tradicional" são aquelas em que as
famílias são numerosas, com casamentos em idades precoces e mortalida­
de infantil em geral elevada, trabalhando em atividades ligadas à agri^
cultura. Os autores, em geral, classificam essas familias como perten­
centes ao "Antigo Regime Europeu".
9

Os objetivos do presente trabalho sao:

a) identificar as etapas na ocupaçao aa área: luso-brasileiros;

os alemães vindo das colonias vizinhas; a estagnaçao no de­

senvolvimento demográfico, com a emigração da população jo­

vem e as suas implicações no desenvolvimento econômico do


Município de Angelina.

b) Relacionar a paisagem geográfica com o desenvolvimento eco­

nômico da Colônia e a política governamental de fixar o ho­

mem no interior da Província de Santa Catarina e sua pre­

ferência pelos colonos estrangeiros.

c) Estudar a evolução populacional e analisar a estrutura de­

mográfica: sexo, idade, estado civil, nacionalidade, reli­


gião e atividade produtiva.

d) Conhecer a dinâmica populacional através dos seus eventos


vitais (nascimentos e batizados, casamentos e óbitos), com
a finalidade de indicar a sazonalidade dos mesmos, nas suas
grandes linhas e tendências, bem como as taxas de: nata­

lidade, nupcialidade e mortalidade.

A partir destes objetivos, estabeleceram-se hipóteses que


nortearam o trabalho. A pesquisa baseou-se nas seguintes hipó­

teses:

a) A Colônia Nacional Angelina foi criada pelo Presidente da

Província, Francisco Carlos Araújo Brusque, com a finalida­

de de povoar o interior da faixa litorânea da Província de

Santa Catarina, com elementos luso-brasileiros, em meio as

colônias com elementos estrangeiros (da Colônia Santa Isa­

bel e São Pedro de Alcântara), que mais tarde passou a re­

ceber também a população de origem germânica.


10

b) O desenvolvimento econômico da Colônia foi pequeno devido a

sua localização geográfica desfavorável - área de relevo

acidentado, solo pouco fértil, isolamento da área - aliado


ã política governamental de pouco apoio e o conseqüente a-
bandono da população, em decorrência das dificuldades de co
municação e transporte dos produtos agrícolas.

c) O comportamento demográfico era o de uma população tradi­

cional, dita "agrária", com uma estrutura familiar de nume­


rosos filhos, casamentos em idades precoces, com alta taxa
de mortalidade infantil e geral, vivendo da atividade pri­

mária, mas que com a moderna divisão do trabalho e a nova

estruturação da sociedade, gradativamente, foi mudando a


sua maneira de viver.

Com base nos objetivos e hipóteses propostos elaborou-se


o presente trabalho, que compreende o estudo das fontes e da
metodologia no que se refere ã coleta de dados e sua análise.

Esboçou-se a História da Colônia Nacional Angelina com a


discussão sobre a política governamental que orientou sua cria

ção, bem como a sua evolução em termos administrativos. Procu­


rou-se compreender os motivos que concorreram para o seu fra­

casso .

A evolução populacional, com base nos mapas e censos pro­

vinciais e nacionais, foi estudada bem como a estrutura demo­

gráfica em vários períodos.

Os registros paroquiais possibilitaram a compreensão da

dinâmica populacional de Angelina, no que se refere às tendên

cias e taxas dos eventos vitais, seu comportamento e as influ­

ências recebidas de várias origens.

Finalmente, se enumeraram as principais conclusões.


CAPITULO I

FONTES E METODOLOGIA

1.1. Fontes

O levantamento dos eventos vitais - nascimentos, casamen­


tos, óbitos - apóia-se na metodologia e técnicas desenvolvidas
por franceses e ingleses, cano HENRY & FLEURY e HOLLLINGSWORTH
adaptadas por NIELSEN ao Brasil. Considerou-se que o registro

paroquial é fonte importante para o estudo retrospectivo das


populações. A partir do século XVI, com o Concílio Tridentino
estabeleceu-se a obrigatoriedade dos registros de batizados,

casamentos e óbitos para a cristande católica mundial, também

adotada por outras religiões.

As fontes utilizadas para o estudo foram:

a) Livros de batizados, casamentos e óbitos, localizados no Ar


quico Histórico da Arquidiocese de Florianópolis, citado a

partir deste momento como AHAF; bem como livros de Tombo da

Paróquia.

b) Falas- e relatórios de Presidentes da Província de Santa Ca­


tarina guardados no Arquivo Público do Estado, APE, de ago-
12

ra em diante.

c) Correspondências dos Diretores de Colônia e outros documen­

tos relacionados ã Colônia Nacional de Angelina, também lo­


calizados no Arquivo Público do Estado.

d) Jornais, revistas e folhetos pesquisados na Biblioteca Pú­


blica do Estado, citado como Bp e , na Biblioteca Universitá­
ria da UFSC, agora BU, e no Instituto Histórico e Geográfi­
co de Santa Catarina, agora IHGSC.

e) Livros, folhetos e Relatórios localizados na Prefeitura Mu­


nicipal de Angelina.

f) Entrevistas orais com moradores mais antigas.

g) Recenseamentos realizados ém 1872, 1890, 1900, 1920, 1940 e

1950.

1.1..JL. Registros Paroquiais

Os livros dos registros paroquiais não se referem tão-so­

mente â paróquia de Angelina, mas teve-se que utilizar os per­


tencentes ã paróquia de São Pedro de Alcântara. Nos primórdios
iniciais da Colônia Nacional Angelina, a assistência religio­

sa era prestada pelo vigário de São Pedro de Alcânatara. Em

1891, foram os padres que paroquiavam Teresópolis (Queçaba a-


tual) os responsáveis pelo atendimento religioso. A paróquia de

Angelina só foi criada a 8 de abril de 1921, desmembrada da


Paróquia de Santo Amaro, pelo decreto episcopal promulgado pe­

lo Bispo de Santa Catarina, Dom Joaquim Domingos de Oliveira.

Com a criação da Paróquia de Angelina todos os registros paro

quiais são feitos na própria sede da Paróquia ^^ .

^^Maiores informações serão prestados quando se tratar da História da Pa­


róquia de Angelina, no Capítulo III.
13

Não foram encontrados no AHAF, e nas paróquias de Angeli­

na, São Pedro de Alcântara e Santo Amaro da Imperatriz, todos

os livros de registros paroquiais exigidos pelo estudo. Tais

documentos não mais existem, conforme correspondência recebida


e transcrita:

Em atenção ao seu pedido de fontes de pesquisa nesta Pa­


róquia de São Pedro de Alcãnatara, a respeito da História
de ANGELINA, somente posso informar que os documentos an­
teriores ao ano de 1925 foram todos destruídos, ..." (gri
fo nosso)(2).

A impossibilidade de se contar com os registros paroqui­

ais para todo o espaço de tempo estudado, foi compensada pela


utilização dos dados populacionais das demais fontes. Ao mesmo
tempo, foram coletados nos registros de paróquias vizinhas,so­
bretudo na de São Pedro de Alcãnatara, os dados sobre a popu­

lação da Colônia de Angelina.

Os registros paroquiais dos livros da Paróquia de Angeli­

na, existentes no AHAF, foram levantados para complementar os

estudos.

Tanto os livros referentes â Angelina, como os das demais


paróquias, separaram-se em três categorias: batizados pasamen­
tos e óbitos. Não foram encontrados registros de escravos, uma

minoria na população da Antiga Colônia Nacional Angelina.

Os livros que se referem primordialmente ã população li­

vre , estáo bem conservados e se apresentam numerados, em se-

qüencia cronológica:

a) Batizados
Paróquia de São Pedro de Alcântara '

^Correspondência do Padre Huberto Waterkemper. Pároco de São Pedro de


Alcântara, ao Autor, em 14 de abril de 1989.
14

1 - 1854-1867 livro n9 02/100 folhas

Paróquia de Angelina

1 - 1926-1937 livro n9 03/150 folhas

2 - 1937-1945 livro n9 04/100 folhas

3 - 1945-1950 livro n? 05/100 folhas

b) Casamentos

Paróquia de São Pedro de Alcântara


1 - 1850-1867 livro s/n/100 folhas
2 - 1867-1872 livro n9 01/100 folhas

Paróquia de Angelina
1 - 1936-1955 livro n9 03/100 folhas

c ) óbitos

Paroquia de São Pedro de Alcântara

1 - 1850-1888 livro n9 01/100 folhas


2 - 1888-1946 livro n9 02/150 folhas

De certa forma são grandes as lacunas na nossa documenta


ção. Mas saberemos supri-las como se verificará no Capítulo que
trata da Dinâmica Demográfica, aplicando o tipo de estudo que
a documentação permite de forma a não influenciar os resulta­
dos finais. Ao todo, foram coletados para processamento e aná­
lise 8.281 registros, assim distribuidos: 7.056 registros de

tismo, 1.085 registros de casamentos e 140 registros de óbi­

tos .

Procedeu-se ã coleta des dados com assentamentos em

fichas individuais para batizados, casamento e óbitos

(anexo 1). As informações levantadas nas fichas, de

um modo geral, sofreram poucas variações, possibilitando ao


15

pesquisador servir-se de fichas uniformes, preparadas com an­

tecedência .

De um modo geral, quanto ao conteúdo, os registros paro­


quiais de São Pedro de Alcântara e de Angelina apresentam os
seguintes dados:

a) Batizados : São, geralmente, bem completos para o século XIX.

Enquanto que os registros desse século muitaas vezes omitem a


origem dos pais e dificilmente trazem o nome dos avôs (anexo

2 .1 )

- local do evento

- data do batizado

- preñóme da criança

- data do nascimento
- filho (legítimo, natural e exposto)
- nome completo dos pais (e sua origem quando consta)
- nome completo dos avôs (quando consta)
- nome completo dos padrinhos

- assinatura do Vigário.

Quando se trata do batizado de um filho natural, os re­


gistros trazem dados apenas sobre a mãe e quase nunca sobre o

pai. No caso de ser um filho exposto os dados referem-se, ape­


nas, às pessoas que os receberam e sobre os padrinhos. Os da­
dos referentes aos padrinhos são de grande importância para o

estudo das relações sociais.

b) Casamentos : De maneira geral, estes registros são mais ex­


tensos e bem completos (Anexo 2.2). As indicações que fornecem

são as seguintes:

- local

- data
16

- nome e origem dos noivos

- profissão e idade dos noivos

- nome e origem dos pais dos noivos

- avôs dos noivos

- assinatura do vigário e das testemunhas.

Os assentamentos podem trazer informações sobre a idade

e profissão dos noivos, bem como sobre a filiação. A circuns­


tancia do nubente ser filho legítimo, natural ou exposto, não
era esquecida. Nos casos de casamento em segundas ou terceiras

núpcias, o estado de viuvez, com os nomes completos do primei­


ro marido ou esposa era regularmente anotado ã margem do livro

de registro.

c) Õbitos: Estes registros além de serem menos completos, tam­


bém foram encontrados em menor quantidade (Anexo 2.3). Forne­
cem as seguintes indicações:

- local e data do evento


- nome e idade do falecido

- local do sepultamento
- em se tratando de um solteiro, indicava-se a filiação;

para os homens ou mulheres casadas dava-se os nomes completos


dos esposos; e no caso de viúvo mencionava-se os nomes comple­

tos dos esposos mortos.

Nesses registros de óbito, por serem mais incompletos d i ­

ficilmente constam dados referentes ã causa mortis. Em se tra­


tando de pessoas casadas não aparece a filiação, o que dificul

ta a identificação. A profissão, ao contrário dos registros

de casamento, nunca aparece.


17

1.1.2. Outros Dados Populacionais

A busca de informações demográficas para épocas remotas

não se esgota com os registros paroquiais. Os censos antigos


são importantes para obtenção de dados sobre as característi­
cas populacionais em determinados momentos, especificando to­
tais de população, a sua distribuição por idade, sexo, condi­
ção social, atividade ocupacional, rendas, permitindo um co­

nhecimento mais amplo sobre certa variáveis.

Utilizaram-se também Relatórios e Falas dos Presidentes


da Província de Santa Catarina, dirigidos ã Assembléia Legis­
lativa Provincial, com dados sobre a população da Colônia Na­
cional Angelina, referentes aos anos de 1860 até 1877, com da­

dos completos para todos os anos. Esses dados encontram-se no


Arquivo Público do Estado, na Biblioteca Central da Universida

de Federal de Santa Catarina, na seção que se refere à Histó­


ria de Santa Catarina, no Instituto Histórico e Geográfico de

Santa Catarina.

Os censos foram tirados das publicações da Diretoria Ge­


ral da Estatística, sendo que os principais foram:

a) Recenseamento da População do Império do Brasil, referente

ao dia 1? de agosto de 1872, por sexo, idade, estado civil,


condição social, nacionalidade e religião e alfabetização
das pessoas recenseadas. Este foi o primeiro recenseamento
geral do Brasil, apesar das várias tentativas feitas desde

a época colonial;

b) recenceamento realizado em 31 de dezembro de 1900, o qual

não contém muitos dados;

c) recenseamento realizado em 19 de setembro de 1920, por se­

xo, faixa etária e grau de instrução.


18

d) recenseamento realizado em 19 de setembro de 1940, onde a

população de Angelina foi dividida entre o Distrito de Gar­

cia e Angelina, por sexo e área (urbana, rural e suburbana);

e) recenseamento realizado em 19 de julho de 1950, onde a po­


pulação também foi dividida entre os dois distritos: Garcia
e Angelina, por sexo e área (urbana, rural e suburbana).

1.2. Metodologia

A metodologia de pesquisa utilizada apoiou-se nos


métodos propostos por Louis Henry e Michel Fleury e seus cole­
gas do grupo de pesquisadores do "Institut National d'Etudes
Démographiques”, na França, a partir de 1950 (3 ) . Foram eles
que criaram uma técnica de levantamento e processamento dos
registros paroquiais de casamentos, batizados e óbitos, para
os estudos históricos e demográficos, já adaptadas â nossa rea
(4)
lidade, através do professor Lawrence James Nielsen .

Desta forma, procedeu-se ao levantamento dos eventos vi­


tais relativos a batizados, casamentos e óbitos da população

de Angelina de 1860 a 1950, existentes no Arquivo Histórico-


Eclesiástico da Arquidiocese de Florianópolis, utilizando-se

fichas individuais para cada registro. Com base nestas fichas


(.3)FLEURY, Michel
. .
e HENRY, Louis. Nouvean Manuel de Depovillement et
d'Exploitation de l'Etat Civil Ancien. Paris, 1965. p.44, 46 e 48.
(4.)
Peter Laslett, E.a . Wrigley, T.H. Hollingsworth e outros pesquisadores
ingleses do "Cambridge Group for the History of Population and Social
Structure" adaptaram o método francês para a sua utilização na Inglatei:
ra, a fim de permitir a análise demográfica retrospectiva daquele País.
0 método utilizado na pesquisa realizada na Colonia Nacional Angelina
resultou de uma adaptação da técnica de indexação, crítica e reconsti­
tuição familiar, introduzida pelos pesquisadores franceses e ingleses,
as condições locais de registros paroquiais, realizadas pelo professor
Doutor Lawrence. James Nielsen, junto à Universidade Federal de Santa
Catarina. Confira NIELSEN, Lawerence James. Uma Metodologia de Pesqui­
sa para a História Demográfica: Trabalho apresentado no IX Simpósio da
ANPUH, Florianópolis, 1977. (Mimeografado).
19

individuais dos três eventos, fez-se a agregação numérica dos

eventos por mês e ano para o século XIX e XX.

A preferência pelas fichas individuais, decorre da faci­


lidade de seu manuseio em etapas posteriores da reconstituição

familiar e de problemas nos registros paroquiais como: assen­

tamento fora da ordem cronológica, seja do momento de trans­

crição, seja pela restauração. Concluídos os levantamentos,fo­


ram os registros separados por tipo - batismo, casamento, õbi-

to (5>.

Aã fichas individuais e separadas por tipo de assentamen­

to, foram agrupadas por ordem cronológica; no caso de batis­

mos, a ordenação foi por ordem cronológica da imposição do sa­

cramento e por ordem cronológica do nascimento, haja vista


constar este dado.

Procedeu-se, a seguir, à agregação numérica dos assenta­


mentos por mês e ano (Anexo 3). Essa operação possibilita ve­
rificar quais os meses do ano em que ocorre um maior número de
concepções, batizados, casamentos e óbitos. Relaciona-se essa

maior freqüência dos meses encontrados com os costumes sociais,


económicos, religiosos e também com as influências climáticas
da região. Os resultados dessas operações foram apresentados
em forma de tabelas e gráficos, ficando, assim, bem definida a

maior ou menor incidência de cada evento em determinados me-

ses(6>.

Ao se estudar a evolução populacional, por sexo e total,

entre 1860 e 1950, houve a necessidade de se fazer uma estima-

MARCÍLIO, Maria Luiza. A Cidade de São Paulo: Povoamento e População,


1750-1850. São Paulo: Editora Pioneira, 1973. p.68 e 69.
^BARROS, Edy Alves Cabral. A Freguesia de Nossa Senhora das Necessidades
e Santo Antônio, 1841 a 1910: A Sua Transição Demográfica. Florianópo­
lis, 1979. p.43-45.
20

tiva do número de habitantes. Este cálculo foi realizado com


o uso do Método da Progressão Geométrica, utilizado pelo IBGE

para as projeções da população brasileira, cujo modelo matemá­

tico é:

Px = P O (1 + r)tx " t0

Onde :

Px = População no ano tx

PO = População no ano tO
(1 + r) = razão anual do crescimento geométrico
i = taxa anual do crescimento geométrico.

Conhecendo-se a população de Angelina, e com os dados dos


eventos vitais - obtidos a partir dos registros paroquiais -

estabeleceu-se taxas de natalidade, de nupcialidade, de morta­


lidade, e de masculinidade; a partir das fórmulas seguintes:

a) Taxa de natalidade

N = 1000

b) Taxa de nupcialidade

n = 1000

c) Taxa de mortalidade

M = 1000

d) Razão de Masculinidade

R =-^-100
m M

^^LAURENTI, Rui. Estatísticas de Saúde. São Paulo, EPU, 1985. p.34.


21

Onde :

N = Taxa bruta de natalidade

nv = Nascidos vivos no respectivo ano


P = População no respectivo ano

n = Taxa bruta de nupcialidade

Ec = Somatória total de matrimônios no respectivo ano

M = Taxa bruta de mortalidade


Eo = Somatória total de óbitos no respectivo ano
Rm = Taxa bruta de masculinidade
H = Total de homens no respectivo ano

M = Total de mulheres no respectivo ano.

O estudo da estrutura populacional foi feito por sexo,

idade, estado civil, nacionalidade, religião e atividade eco­

nômica, a partir dos dados contidos nos mapas e censos popula-


cionais.

Os métodos de análise dessa pesquisa são aqueles preconi­


zados pela moderna História Demográfica, já especificadas nos
objetivos e hipóteses desse trabalho. Além disso, â medida do
possível, buscar-se-á traçar comparações com outros trabalhos
já realizados na mesma área, principalmente confrontando aque­
les indicadores que acusam o bem-estar sócio-cultural de uma

população. Assim, definidas as fontes e a metodologia, inicia­

mos o trabalho de pesquisa trabaçando a História da Colónia

Nacional Angelina.

Todavia, cabe observar que durante o levantamento e aná­

lise dos dados, encontraram-se algumas dificuldades operacio­

nais, principalmente relacionadas com a escrita e conservação


dos documentos e com a insuficiência e qualidade dos dados. Na
fase de levantamento dos dados, um dos maiores problemas foi o

manuseio e leitura dos registros mais antigos: o papel danifi—


22

cado pelo tempo e corroído pela tinta, a escrita com borrões,

a ortografia não legível, etc. Todos os problemas encontrados,


junto aos diversos arquivos utilizados neste trabalho, foram

solucionados da melhor maneira possível, com paciência e cri­

tério, de forma a não interferir nos resultados da pesquisa.

Maria Luiza Marcílio também encontrou problemas semelhan­

tes quando estudou a população da paróquia da Sé em São Pau-


/O \
lo . Os principais problemas dizem respeito aos nomes de

família, â idade e ao estado de conservação dos documentos. O


nome dos pais não era, necessariamente, o mesmo nome dos fi­
lhos e o nome da esposa quase nunca era o mesmo da famí­

lia do seu marido. 0 registro de batismo quase sempre aparece


com preñóme simples. Também, há várias pessoas diferentes com
o mesmo nome, principalmente quando se trata de nomes muito

comuns, como Maria, João, José, Manoel, etc. Outro problema é


a ausência dos nomes dos avôs nos registros de batizados, prin
cipalmente para esse século, o que dificulta a identificação,
assim como a ausência de filiação, nas fichas de casamento,

para as noivas e noivos viúvos.

(8 )"Notamos que, em virtude de um costume português transferido para o Bra


sil Colônia, os nomes de família dos pais não eram, necessariamente', a-
queles de seus filhos. Por outro lado, a mulher casada não adotava nun­
ca o nome ou os nomes de famílias de seu marido. Finalmente os filhos
de uma mesma família tinham, em regra geral, sobrenomes que variam enoi:
memente. Como geralmente havia dois sobrenomes para cada pessoa, tería­
mos para cada casal quatro sobrenomes; dois para cada pessoa. Então, os
sobrenomes de seus filhos, por sua vezpoderiam aparecer ora com os
dois nomes do pai, ora com os da mãe ou ainda com diferentes combina­
ções e diversa posição dos quatro sobrenomes. E não era tudo". MARCÍ­
LIO. Op.cit., p.70.
CAPITULO II

HISTORIA DA COLONIA NACIONAL ANGELINA - 1860-1881

2.1. Col5nia Nacional Angelina: razões de sua criação

As razões da criação da Colonia Nacional Angelina devem

ser buscadas não só na Historia Catarinense, mas também na His^


tória do Brasil enquanto colonia de Portugal. A forma como se
deu a ocupação do solo catarinense faz parte da política ex-
pansionista adotada por Portugal. A ocupação brasileira, du­
rante o regime colonial, se faz conforme a "Lei das Sesma­

rias", de 1375, firmada por D. Fernando I . O sistema foi


transplantado para o Brasil, quando foram criadas as Capita­

nias Hereditárias, tendo sido assegurado aos Donatários, nas

Cartas de Doação, capacidade para livremente doar terras de

sesmarias, exceto para a própria mulher ou ao filho herdeiro.

A ocupação do solo catarinense, como em todo o Brasil,

devido âs dificuldades naturais da conquista, foi-se dando

^ ^ A origem desse nome se deve procurar em sesma, que era a sexta parte de
qualquer coisa. Deixando de lado os significados diferentes que a pala­
vra teve durante a História, aqui ela deve ser entendida como Sítio,Ter­
reno, ou limite em que se acham as terras dadas de sesmarias. CAVALCAN­
TI, Tratado de Direito Administrativo, v.3, p.481-483.
24

primeiro no litoral e depois no interior. Por isso, são comuns

relatos como este de I860, do Presidente da Província de Santa

Catarina: "Não está cabalmente reconhecida a área que compre-

''hende o território desta província". E mais adiante acrescen­

ta: "Afõra o Município da Capital, todos os outros tem em si


grandes extensões desconhecidas, no todo ou em parte inabita-
(2 ) ~
das e incultas" . Nao eram so as divisas intermunicipais e
de freguesias as desconhecidas, como também, as da própria Pro

s víncia. Os traçados imaginários das cartas topográficas eram

quase todos imperfeitos.

Em Santa Catarina, particularmente, este contraste, entre


cidade e sertão, acentua-se ainda mais com o crescimento da
população luso-brasileira vinda do arquipélago dos Açores. Pa­
ra atender a problemática social, conjuntural e econômica do
arquipélago dos Açores e das Ilhas da Madeira, face ao pedido
que lhes fizeram suas populações, foi organizado, de 174 7 a

1756, o transporte de mais de 6.000 açorianos e pouco mais de


meia centena de madeirenses, a fim de serem localizados no va-
zio demográfico catarinense (3) . Os resultados se fizeram sen­

tir com o aumento populacional do litoral catarinense, surgin­


do uma sociedade marcadamente lusitana, com características e£

pecíficas: materiais, culturais e espirituais.

Os açorianos aqui chegaram com a promessa de receber um

quarto de légua em terras, ou o equivalente a 1.500 braças qua

drados. Alguns receberam 50 braças de frente com 200 de fundo,

outros um pouco mais, e muitos receberam menos ainda. Desta

Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Carlos


de Araujo Brusque, 1860. p.4.
PIAZZA, F. Walter. Santa Catarina: Sua História. Florianópolis: Edito­
ra Lunardelli, 1983. p.139-157.
25

forma, a Provisão de 09-de agosto de 1747 não foi cumprida^.

As dificuldades de subsistência do luso-brasileiro no li­

toral catarinense, sobretudo na Ilha de Santa Catarina, eram

motivo de preocupação. As terras da Ilha também eram desfavo­


ráveis. Acostumados à produtividade do solo vulcânico das ilhas

de onde provinham, tiveram que enfrentar a floresta tropical,


quente e úmida, (ou o solo formado por areia e mangue), que

após desnudada a mata exuberante, apresentava um terreno que

se empobrecia devido ao uso de técnicas agrícolas inadequadas.

Assim, tem-se uma ampliação da agricultura de subsistência^.

A política de imigração foi instituída por D. João VI,du­

rante a sua permanência no Brasil. Após a Independência, D.


Leopoldina e José Bonifácio foram seus estimuladores. A partir

de 1828 até o início do reinado de D. Pedro II, em 1840, houve


uma retração da política de imigração em virtude da exacerba­
ção de idéias nacionalistas, por pessoas que não viam com bons

olhos a ocupação de terras brasileiras por grupos estrangei­

ros .

A ocupação do Sul do Brasil, fez-se, principalmente,atra­

vés de um grande número de Colônias com imigrantes estrangei­

ros. Como exemplo temos a "Colônia São Pedro de Alcântara",fun

dada em 1829, no vale do rio Maruí, com elementos germânicos.

No Segundo Reinado, a partir de 1840, o Governo de D. Pe­

dro II, voltou a ocupar-se com a imigração. Mas acabou por con

siderar que a organização da imigração deveria ocorrer por con

ta das Províncias. Caracteriza-se, inicialmente, por ser um

(4)0 Cruzeiro (Jornal.Político, literário e noticioso) Ano I, n9 14, Des­


terro, 19 de abril, 1960. p.3.
^PIAZZA, Walter F. Formação Étnico Sociológica do Catarinense. Florianó
polis, 1988. p.5. (Mimeografado)
26

período sem linhas pragmáticas definidas e durante o qual o

território catarinense serviu de laboratório de experién-


(6 )
cias . A análise do processo imigratório para o Brasil, ao

iniciar a segunda metade do século XIX, tem que ter presente

alguns problemas do contexto social, econômico, político e cul

tural da época.

Desta forma, em 1860, ano da fundação da Colônia Nacional

de Angelina, o Brasil, predominantemente rural, enfrenta


uma profunda crise de mão-de-obra na lavoura, provocada pela

substituição do trabalho servil pelo assalariado. A políti­


ca migratória do Governo Imperial, numa atitude discriminató­
ria, dava prioridade ã migração estrangeira, sobretudo a ale­
mã. Mas como esta também estava ameaçada foi necessário vol­

tar-se para o colono nacional.

As colônias de imigrantes alemães, nas fazendas de café

em São Paulo, foram motivos de constantes reclamações, devido

âs condições dispensadas aos imigrantes. O sistema deu origem


a tantas queixas que a 3 de novembro do ano anterior (185 9),
fora promulgado o Rescrito Von der Heydt, decreto ministerial

da Prússia, também adotado por outros estados alemães, proi­

bindo a emigração para o Brasil. 0 decreto assinado pelo mi­


nistro prussiano Augusto Von der Heydt, do Comércio, Indústria

e Obras Públicas, representou um rude golpe para a colonização


alemã no Sul do Brasil. Os empresários que tiveram suspensas as

suas concessões para encaminhar emigrantes para o Brasil, eram

designados nominalmente (7)

O decreto só foi revogado para o Rio Grande do Sul, Santa

^PIAZZA, Op.cit., p.7.


^ SMITH, Brasil, Povo e Instituição, p.448-449.
27

Catarina e Paraná no ano de 1869. Mesmo o decreto não tendo pa

ralisado totalmente a migração alemã, foi suficiente para que


as discussões girassem em torno dá colonização nacional. Por­

tanto, Santa Catarina vai ter que encontrar outros contingen­


tes e outras formas para ocupar o seu território ainda grande­

mente vazio.

As razões que levaram a criação da Colônia Nacional Ange­

lina se tornam mais compreensíveis quando lê-se os jornais da


época e os discursos do Presidente da Província de Santa Cata­
rina durante os anos de 1859 a 1860. Este é o período em que
amadurecem as idéias a favor da colonização nacional. Nos jor­

nais da época não faltam críticas ã política migratória do Go­

verno Imperial no que se refere ã colonização alemã. "...A a-

gricultura deveria atraiiir os primeiros e principais cuidados


(8 )
do governo, mas não tem sido assim" . Os colonos alemães re­
crutados nas praças e tabernas da Alemanha quando não eram
proletários medíocres, já eram industriais, incompatíveis com

a realidade brasileira. Portanto, não faltaram críticas no que

se refere â aplicação dos recursos públicos e quanto ã prefe­

rência pelos estrangeiros.

A solução para a crise da lavoura não estava na Alemanha

mas sim na figura do desprezado luso-brasileiro. "Os portu­


gueses açorianos e madeirenses são incontestavelmente os mais

próprios para a nossa lavoura..." 0 mesmo jornal reconhece que:

"... enquanto não se explorar este ou semelhante alvitre a

crise da lavoura continuará" (9 ) . Enquanto nao


~ vingava
• •
a ideia

da colonização nacional centenas de açorianos superlotavam a

Ilha, enchendo a Capital de Carroças, aumentando as tabernas

( 8)
0 Cruzeiro (jornal, político, literário e noticioso), Ano I, n9. 3, Des­
terro, 08 de maio de 1860. p.2.
(9)tk- 9
, , p.2.
Ibid.
28

pelo medo natural de se espalhar pelo continente.

Todavia, a preferencia quase exclusiva pelo europeu no


que se refere à política migratória éstava sendo questionado.

Convinha, pois, dar um destino conveniente ao luso-brasileiro,


o que reverteria em benefício para eles e para o País. 0 acú­

mulo crescente da população no litoral catarinense causava

preocupação. "Esta população assim distribuída, é reconhecida-


mente nociva.. . " . Por outro lado,/ a colonização alemã tam­
bém podia vir a tornar-se uma améaça ( 11 )

A virtude estava em saber conjugar de forma equilibrada

o contingente europeu e o nacional. "Que venha embora boa co­


lonização allemã; mas que não seja exclusiva, e que aproveite

mos o que já temos mal aproveitada..."

As conseqüências desses erros na política migratória já

se faziam sentir. A má distribuição das terras, não obedecen­


do ã Provisão do rei, fazia com que a população fosse repar­
tindo as mesmas em herança, sendo que alguns já possuíam menos

de 20 braças de terra. Desta forma, fica difícil tirar o sus­

tento e o vestuário da família. "D"aqui nasce a pobreza de

crescido número de habitantes da ilha dados a lavoura" (13 )

0 jovem nasce sem muita perspectiva de vida. Ao ver que

terá que sustentar a sua família com um pequeno pedaço de ter­


ra logo pensa em se aventurar pelo mar. Quem lucra é a marinha

mercante norte-americana, onde os jovens catarinenses são ti­

dos como os melhores marinheiros. Por isso, são atraídos por

promessas de grandes lucros. Assim, pois, a Ilha é ocupada por

^ ^ 0 Cruzeiro. Op.cit., p.2.


^U ^lbid., p.2.
(12 )T w
Ibid., o.
p.I
^ ^ 0 Cruzeiro (jornal político, literário e noticioso), Ano I, n9 14, Des­
terro, 19 de abril, I860, p.3.
29

um grande número de crianças, mulheres e velhos. Essas são as

causas da pobreza de grande parte dessa população .

Já no início de 1860, o Presidente da Província de Santa


Catarina, Francisco Carlos de Araújo B r u s q u e , pensando em
fundar uma nova colônia, assim se expressa:

Sempre pensei, senhores que a deficiência dos braços no


nosso país não reclamava somente a emigração estrangeira,
mas também saber aproveitar melhor a que já temos. Com-
prehendendo também no nosso systema de colonização a po­
pulação nacional, podemos em meo conceito ir marchando pa
ra aquele fim.(16)

No entender do Presidente da Província a solução para o proble


ma estava na venda de terras, a longos prazos, a essas famí­

lias, em lugares desabitados no interior do Continente.

Portanto, diante da necessidade emergente, das famílias


sem terra, o Presidente da Província recorre ao Governo Impe­

rial:

Chegando a meu conhecimento que vagavão algumas famílias


nesta província em busca de terras de lavoura, mas que
não possuíam os recursos para obtê-las por meio de com­
pras, solicitei do governo imperial a faculdade de vender
a escolhidas pessoas nestas condições lotes de terra.(17)

A colônia seria destinada a pessoas "laboriosas", "escolhidas",

com "vocação para o trabalho", que sempre foram obrigadas a

distribuir com o seu senhorio a metade dos produtos que co-


MOV ^
lhem . Desde o início os preconceitos em relaçao ao nacio-

(14) 0 Cruzeiro. Op.cit., p.3.


(15) -. • •
Francisco Carlos de Araujo Brusque, fundador da Colonia Nacional Angelí^
na, confira a sua biografia no Anexo 4.
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Car­
los de Araújo Brusque, 1860. p.18 e 19. 0 mesmo Relatório também foi
publicado no jornal "0 Argos da Província de Santa Catharina", Desterro,
21 de abril, n9 576, 1860. p.3.
^^Relatório. Op.cit., p.18 e 19.
(18)Ibid., p.18 e 19.
30

nal são visíveis.

0 próprio Presidente da Província de Santa Catarina não

via com bons olhos os hábitos da população litorânea. Onde,

"... vivendo principalmente da pesca, não se sujeita ao diu­


turno serviço da lavoura, recusa a offerta do trabalho e relu-
ta em deixar a rede de pescaria pelo arado" (19) . Vivendo em

semelhante situação como poderia o luso-brasileiro, da Ilha de

Santa Catarina, conhecer o amanho da terra? Pois o cultivo da


terra que conheciam consistia em roçar e queimar. Os únicos ins

trumentos de lavoura que utilizavam era a velha enxada.

Os braços nacionais que vegetam na ociosidade, com os au­


xílios necessários, com a mudança de seus hábitos, podem vir
a produzir e ser úteis ao País. Porem, algumas mudanças são

indispensáveis. "... É preciso modificar hábitos arraigados,

inspirando a constância do trabalho e a ambição de bem estar,


e lutar de alguma forma contra a repugnancia natural ã locomo­
ção e separação do lugar do nascimento e das relações contraí­

das"^20^. Mesmo após, o Presidente da Provincia de Santa Cata­


rina, Francisco Carlos de Araújo Brusque, ter sido autorizado
a fundar a colônia, as reclamações contra os hábitos da popu-

laçao litorânea continuaram.

O texto que segue dará uma idéia bem clara do preconcei­

to generalizado que havia:

... um dos maiores inconvenientes que se opõe ao progresso


da colonia nacional é sem dúvida a pouca ou nenhuma voca­
ção que tem uma boa parte dos indivíduos que habitão as l£
calidades próximas ao mar a vida agrícola; criando êles
desde tenra idade na vida do mar, acompanhando os pais ã
pescaria, embarcados em pequenas canoas, consideram outra
qualquer ocupaçao penosíssima e por demais improdutiva;não

(19)
Relatorio. Op.cit., p.27.
^^^Pinto, Relatório, 1861, p.8.
31

se resolvem por maiores que sejam as vantagens prometidas


a abandonar os hábitos já tão arraigados, para abraçar a
vida laboriosa da lavoura. (21)

Desta forma, as autoridades provinciais mostram-se preo­

cupadas com o futuro da colônia. Os resultados da colonização


nacional eram incertos. Usando o elemento nacional podia sig­
nificar pôr em risco o futuro da colônia.

Todavia, era chegado o momento de enfrentar a nova expe­

riência. 0 elemento humano tinha com sobra. Uma multidão de

indivíduos existia em todo o litoral desde o município da La­


guna até o São Francisco, onerados de famílias, privadas de

todas as comodidades da vida, sem o necessário alimento, fal­


tas até de um terreno para fazer um rancho de palha para se
abrigar do tempo (22) . Porem,
- ~
os poderes provinciais estao con­
victos que, ao abrirem a possibilidade do luso-brasileiro vir
a povoar o interior do sertão, lhes estão prestando grandes fa

vores. Ao oferecerem terra para o cultivo, por insignificante

quantia que fosse, mesmo pagas em pequenas porções, não leva­

vam em consideração a vida do colono que constantemente estava


em risco (23 ) . A verdade e uma so: a vida do colono nacional

não era fácil nem no litoral nem no interior do sertão.

Diante das razões expostas foi possível a criação da Co­

lônia Nacional Angelina. O Presidente da Província Francisco

Carlos de Araújo Brusque recebeu a autorização da sua Majesta­

de o Imperador em Aviso de 30 de Novembro de 1859. Esta seria


a primeira experiência colonizadora a utilizar a mão-de-obra

nacional, luso-brasileira. Ao mesmo tempo, era uma forma de

Jornal: "0 Argos da Província de Santa Catharina", Desterro, n? 847,ed¿


ção de 28 de abril de 1861. p.l.
(22)Jornal "0 Argos da Província
*■ •
de Santa Catarina", Op.cit., p.l.
32

1. MAPA DA COLONIZAÇÃO AÇORIANA EM SANTA CATARINA

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Fonte: PIAZZA, Walter F. e HÜBENER, Laura. Santa Catarina:


historia da gente. Florianópolis, Ed. Lunardelli,
1983. p .38.
33

aproveitar melhor o excesso populacional das áreas litorâneas,

vitimas de um engodo colonizador que começou com a distribui-

çao das "sesmarias" aos açorianos e seus descendentes (24)

2.2. Colônia Nacional Angelina: Criação e Instalação

O Presidente da Província, Francisco Carlos de Araújo Brus


que, apôs receber a autorização do governo imperial, pelo Avi­

so de 30 de novembro de 1859, mandou fazer diversos levanta­


mentos, a fim de encontrar um lugar favorável para a criação

da Colonia (25 ) . Enquanto isso, aguardava "resultados de exames

que mandou fazer em terras situadas nas localidades indicadas


..." (26) . Porém, a sua preferência pessoal era por aquelas ter

ras situadas na direção do Rio Engano até a estrada de Lages,


(27)
um pouco acima da Colonia Leopoldina . Esta paragem estava
deserta e segundo as suas observações possuía boas terras.

A Colônia a ser criada teria de ser essencialmente agríco

la. Por isso, o terreno a ser escolhido deveria reunir "a fer­
tilidade do solo, a proximidade de um mercado regular, para
estabelecer um núcleo de colonos nacionais..." (28 ) . Assim,pois,

manifesta-se o interesse pelo desenvolvimento econômico da Co­

lônia. Onde a "fertilidade do solo" e um "mercado regular" da­

riam garantia ã produção e ao comércio dos produtos da Colô­

nia.

Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Car­


los de Raújo Brusque, 1861. p.8 e 9.
(25) - . r •
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Car­
los de Araújo Brusque, 1860. p.18 e 19.
Relatório. Op.cit., p.18 e 19.
(27)Ibid., p.18 e 19.
(28)
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Car­
los de Araújo Brusque, 1861. p.11 e 12. Confira Jornal "0 Argos da Pro­
víncia de Santa Catharina, Desterro, n? 667, edição de 23 de março de
1861. p.l.
34

Após receber o resultado dos levantamentos que mandou fa­

zer, para o estabelecimento da Colônia, o Presidente da Pro­


víncia assim se expressa: "Com effeito uma bela situação foi

encontrada entre o ribeirão dos Mundeos, e o Rio Garcia próxi­

ma da antiga estrada de Lages, e pouco acima da Colônia de São

Pedro de Alcantara" (29) . Ele esta convicto de ter feito uma

boa escolha. "0 ponto onde está situado a colônia de que tra­
tamos é o melhor que se podia e s c o l h e r . Isso porque
ficava próximo ã estrada de Lages e o Presidente já tinha em
4- *fazer uma comunicaçao
mente . . ,(31)
com Itajaí

Para fazer frente aos trabalhos de medição e demarcação

dos lotes, o Presidente da Província recorre ao governo impe­


rial, a fim de obter os recursos necessários. Este trabalho

não poderia ser feito pelos colonos, cuja pobreza e falta de


- (32)
instrumentos, nao lhes habilitava para tal serviço . Os lotes

de terra seriam de 62.500 braças quadradas, "ao preço de meio

real a braça, pagáveis em prestações iguais, a contar do fim


(33)
do 29 ano do estabelecimento..." . Já no início de 1861 mu_i

tos indivíduos procuravam a Presidência da Província pretenden


do possuir terras nestas condiçoes (34) . "Existem ja algumas fa

mílias a estabelecer e contam com outras, que procurão possuir

alli terrenos" .

(29)
Relatorío. Op.cit., p.11 e 12.
Jornal "0 Argos da Província de Santa Catharina", Desterro, n9 847, edi^
ção de 28 de abril de 1861. p.I.
(■^Jornal. Op.cit., p.I.
(32) - - •
Relatorio do Presidente da Província de Santa Catharina, Francisco Ca_r
los de Araújo Brusque, 1860. p.18 e 19.
(33) - .
Relatorio. Op.cit., p.18 e 19.
(34)Ibid., p.18 e 19.
(35) - . - • •
Relatorio do Presidente da Província de Santa Catharina, Francisco Ca_r
los de Araújo Brusque, 1861. p.11 e 12.
35

A criação da Colonia foi possível através de autorização

do Ministério do Império e com recursos expressos na Lei n9

482, da Província de Santa Catarina, de 5 de maio de 1860 com­

binado com o § 69 do artigo 29 Capítulo III da Lei n9 503, de


(36)
29 de junho do mesmo ano, (1860) . Efetivamente, pode o
Presidente da Província realizar o seu desejo de testar a Co­
lonização Nacional.

Assim, deu-se a criação da Colônia Nacional Angelina, em


homenagem ao então Presidente do Conselho de Ministros, Angelo
(37)
Moniz da Silva Ferraz . A Colonia foi localizada em terras
devolutas, ã margem do ribeirão dos Mundéus e próxima â antiga

estrada de São José - Lages, compreendendo inicialmente .....


9.000.000 de braças quadradas (43.560.000 m2), ampliadas ao
(38)
dobro, por ato de 27 de janeiro de 1866

Desta forma, a instalação da colônia se deu aos poucos.

Na data oficial da sua criação, 10 de dezembro de 1860, foram


(39)
baixadas "Instruções" , num total de 15 artigos, regulando

as atividades do "Encarregado da Direção" da Colônia com a

administração da Província de Santa Catarina, bem como o seu


relacionamento com os colonos Ao agrimensor Carlos Otton
(^) ^
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Pedro Leitão
da Cunha, 1863. p.27.
(37) - . •
PIAZZA, Walter F. Santa Catarina: Sua Historia. Florianopolis: Edit£
ra Lunardelli, 1983. p.354.
(38)
BOITEUX, J. Dicionário Histórico e Geográfico do Estado de Santa Cata^
rina. l.v. p.18 e 19.
(39)
As "Instruções", num total de 15 artigos, regulamentavam a distribui­
ção dos lotes de terra aos colonos da Colonia Nacional Angelina. Além
disso, regulavam as atividades do Encarregado da Direção da Colônia com
a Presidência da Província e o seu trabalho exercido junto aos colonos.
Confira as instruções no Anexo 5.
PIAZZA, Walter F. Angelina: Um Caso de Colonização Nacional. Florian£
polis: Arquivo Público do Estado, 1973. p.37 a 41. Foi uma tese apre­
sentada pelo professor, ao Curso de livre-docência em (História do Bra­
sil), na Universidade Federal de Santa Catarina, em 1973. 0 trabalho do
autor enfoca a validade da colonização por "nacionais" (luso-brasilei-
36

Schlappal coube a tarefa da medição e demarcação dos prazos co


(41) ~ ■
loniais . A sua obra e açao estao testemunhadas nos Relato-
rios e correspondencias que manteve com a Presidencia da Pro­

víncia.

0 fundador da Colonia, Francisco Carlos de Araújo Brusque,

não mediu esforços na escolha do pessoal que recebeu os lo-


tes (42) . Ele mesmo reconhece que da colocaçao dos primeiros ha

hitantes depende o feliz êxito da sua idéia. Desta forma, deu-


se a criação da Colônia Nacional Angelina, que está pronta pa­
ra receber os primeiros colonos.

2.3. A Ãrea Territorial e sua Localização Geográfica

Já bem antes de legalmente ser fundada a Colônia Nacional


Angelina, por ali passavam os tropeiros lageanos que desciam
para o litoral, passando por Bom Retiro, Taquaras, Mundeus (43) ,

São Pedro de Alcântara até São José. Como nos Mundéus, hoje

Angelina, havia uma baixada atraente e abundância de águas,era


o lugar privilegiado para o pouso dos tropeiros, tanto na ida

quanto na volta*44^. Dali para São José só havia uma picada,

que durante muitos anos serviu de caminho para os tropeiros,

ros), sendo que, em geral, os autores tratam mais da colonização estran­


geira. E também, dentro do contexto catarinense, até que ponto respon
deu como atitude governamental, ao problema da ocupação do território,f<i
ce às restrições de países europeus ã emigração para o Brasil, a partir
do Rescrito Von der Heydt, em 1859.
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Car­
los de Araújo Brusque, 1861. p.9.
(42) - .
Relatorio. Op.cit., p.11 e 12.
(43)0 nome de Mundeus,
- - •
como vemos, sobrou ate hoje, para o riacho que a-
travessa o estreito Vale e adiante deságua na represa da usina elétri­
ca do Rio Garcia. As imediações do Rio dos Mundéus foi o lugar escolhji
do para ser fundada a Colônia Nacional Angelina,, em 1860.
SCHMITT, Elizéário. Nossa Senhora de Angelina - 1902-1977. Curitiba:
Impressora Paranaense, 1977. p.25.
37

os quais, serra abaixo, passavam com seus animais até alcançar


o mar.

0 Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Car


los de Araújo Brusque, enquanto aguardava os resultados de exa

mes que tinha mandado fazer, já mostrava a sua inclinação pelas

terras que ficavam "na direção do Rio Engano até a estrada de Lages, pouco

acima da Colonia Leopoldina" (45) . Ja de posse dos resultados, o mes­


mo Presidente,, como já dissemos, localiza a Colonia "entre o ribei­

rão dos Mundéus, e o rio García próxima da antiga estrada de

Lages, e pouco acima da Colonia de São Pedro de Alcántara11 ^K

Definindo ainda melhor a localização pelos seus contornos, a

Colonia ficava no triângulo formado pelo Rio Garcia com o ri­

beirão dos Mundéus, águas do rio Tijucas e fundos da Colônia

de Sao Pedro de Alcantara (47 ) . Situava-se dentro do Municí­


pio de São José, distante da sua sede cerca de 50 quilômetros.

O mapa que segue retrata a Colônia Nacional Angelina e


territórios adjacentes, no ano de 1872, no contexto da Provín­

cia de Santa Catarina. Em destaque aparecem as colônias vizi­

nhas de São Pedro de Alcântara, Santa Isabel, São José, a Ilha

de Santa Catarina, além de outras localidades menores.

Angelina foi localizada em terras demarcadas, embora ten­


do a sua sede situada em um vale profundo, ainda está acima

dos 400 metros sobre o nível do Mar. Ao seu redor, contudo,

há picos com 600 a 800 metros de altura. O clima que varia de

frio a temperado atinge a média de 16,3°C com a média máxima

Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Car­


los de Araujo Brusque, 1860. p.18 e 19.
^^Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Car­
los de Araújo Brusque, 1861. p.11 (Conferir também "0 Argos da Provín­
cia de Santa Catarina", Desterro, n9 677, edição de 23 de março de
1861. p.l).
^4^MAT0S, Jacinto A. de. Colonização do Estado de Santa Catarina,dados his
tóricos e estatísticos. 1640-1916. Florianópolis :tip. "0 Dia",1917.p .80.
38

2- COLONIA NACIONAL ANGELINA E TERRITÓRIOS ADJACENTES, 1872

M apa
da C olonie A n g e lin a
e Territórios adjacentes
1872
MOO M«fro5

Fonte: PIAZZA, op.cit., p.78.


39

de 20,7°C em fevereiro , podendo, com freqüência, ocorrer gea­

das nos meses de junho e julho (quando a temperatura média mí­


nima é de 12,6°C). A sua Latitude é de 27o35'00" e a Longitude

de 48°59'30", com uma precipitação pluviométrica de 1.700 mm


anuais. O seu relevo é bastante montanhoso, com serras crista­

linas, apresenta solos dos tipos: Ilha, Orleans, Brusque, Rio

do Sul, Ribeirão, etc. .

A localização da Colônia teve início nas terras vargino-


sas do ribeirão dos Mundéus, porém, penetrando na formosura do

verde escuro das matas, não tardou em atingir as encostas acl¿


veis. Inicialmente, conforme as Instruções de 10 de dezembro

de 1860, que regeram a Instalação da Colônia, foi marcada a


área de nove milhões de braças quadradas, a demarcar em ambas

as margens do ribeirão dos Mundéus, e de um e outro lado da


antiga estrada para Lages, conforme o Artigo 39 das mesmas In£
truções. E, mais adiante, no Artigo 6? das ditas Instruções,
reza que a demarcação dos terrenos podia estender-se até a
margem direita do Rio Garcia (49) . Em 30 de dezembro de 1874, o

Presidente da Província, em vista do grande número de famílias


que procuravam a Colônia, autorizou também a distribuição de

lotes de terra na margem esquerda do dito rio Garcia.

Todavia, a área inicial de 9.000.000 de braças quadradas

(43.560.000 m2) ficou pequena, sendo que ainda havia colonos

que ali pretendiam estabelecer-se. Assim, por ato de 27 de ja­

neiro de 1866 foi elevada ao dobro a área da Colônia, sendo

que os estabelecimentos dos colonos foram marcados nas duas

margens da estrada Velha para Lages, bem como nas da estrada


para o Município de Tijucas Grande, que beira o rio Tijucas

Dados colhidos na Prefeitura Municipal de Angelina.


(49)
Confira o Artigo 3? e 6? das Instruções no Anexo 5.
40

grande em sua margem direita .

Os limites desta Colônia, ou de sua área total, nesta épo

ca, vinham a ser: desde o último morador de nome Pedro____Wal-

trich, no Distrito de São Pedro de Alcántara, pela estrada ve­

lha de Lages, até encontrar os estabelecimentos dos colonos


de Santa Isabel no lugar chamado as Taguaras que faziam os li­

mites de Este e Oeste. Ao sul, pelo Ribeirão dos Mundéus, até

encontrar os colonos de Santa Isabel. Ao Norte, passava nas


margens do Rio Garcia - Tijucas Grande - até o lugar denomina
do Major Em 1867, quando o Diretor da Colônia, Carlos

Othon Schlappal, viu a necessidade de se criar uma subdelega-


cia de Policia na Colonia os limites ficaram praticamente os
-, area
mesmos da - . -, (52) .
colonial

2 .4. Primeiros Colonos e Distribuição dos Lotes

De acordo com as Instruções de 10 de dezembro de 1860,que

regulamentavam a medição e distribuição dos lotes aos colonos,


em seu artigo primeiro, a colônia seria "composta de famílias
nacionais", que fariam a sua morada nos lotes recebidos com o

fim de efetivamente cultivá-los. E, no artigo segundo (d) as mes­


mas Instruções, é traçado o perfil moral e o tipo ideal de co­

lono quando se exige que fossem: "... casados, viúvos com fi-
(53)
lhos, e de boa conduta civil e moral" . Os lotes eram de

("^Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Adolpho de Bar­


ros Cavalcanti d'Albuquerque Lacerda, 1866. p.30-33.
(■^Ofício n9 67, de 29 de janeiro de 1868, do Diretor da Colônia ao Presi­
dente da Província de Santa Catarina, Dr. Adolpho de Barros Cavalcanti
de Albuquerque Lacerda.
(52) , ,

Confira os limites do distrito da Subdelegacia de Polícia no Capituló


III deste :estudo.
Confira Instruções de 10 de dezembro de 1860 que encontram-se, na ín­
tegra, no Anexo 5.
41

62,500 braças quadradas (o que equivale a 200 metros de fren­

te por 1.430 m de fundos). Cada lote de terra, inicialmente,

foi estipulado em 31$250 réis, na razão de meio real a braça

quadrada, pagáveis ao fim de 4 anos, a contar do segundo ano

do estabelecimento do colono, em prestações iguais de 7$800


réis.

O Agrimensor Carlos Othon Schlappal, encarregado da medi­

ção e demarcação dos lotes, não mediu esforços para realizar


sua tarefa, pois, deixando de lado os velhos preconceitos, de­

pois de algum esforço, já começaram a aparecer os primeiros

individuos, que pretendiam se estabelecer na colónia Em


ofício de 23 de março de 1861, o Encarregado da Direção da Co­

lônia, comunicou ã Presidência da Província a distribuição de

lotes feito a 8 famílias, que começavam a estabelecer-se e de­


pendiam, apenas, do consentimento do Presidente da Província
para a obtenção do título provisório de ocupação. Dando o seu
consentimento o próprio Presidente remeteu os referidos títu­

los ao agrimensor, a fim de serem entregues aos colonos na me-

dida que iam se estabelecendo (55) . Ja em abril, do mesmo ano


de 1861, o centro destinado ã povoação contava com 225 braças
(56)
quadradas medidas e demarcadas, em terreno plano e seco .As

sim, foi o seu modesto princípio.

Os colonos, logo que chegavam, ficavam em um barracão es­

pecialmente construído para recebê-los, até que construíssem

sua humilde casa, auxiliados pelos poucos recursos do Governo

^^Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Car­


los de Araújo Brusque, 1861. p.9.
^"^Relatório. Op.cit., p.9.
Jornal "0 Argos da Província de Santa Catharina", Desterro n? 847, 28
de abril de 1861. p.l.
42

(57)
Provincial . Tambem recebiam "ferramentas arratorias", que

no máximo eram: uma enxada, machado e quando ia bem uma foice

e enxadão, e, às vezes, auxílio em sua "primeira derrubada".

Torna-se evidente, que foi, desde o seu início, fundamental-


mente, uma colônia agrícola. Não se fez sentir nela nenhuma

inovação, o tradicionalismo nos métodos de produção e de tran£

formação dos produtos primários pouco ou nada vão se alte-


rar(58).

Enquanto isso novos colonos procuravam a Colônia para es­


tabelecer-se. Contava já em seu primeiro ano com 24 famílias
■r
com princípio de lavoura (59 ) . Todas tinham esperanças de fazer
boa colheita. 0 Agrimensor, Carlos Othon Schlappal, desde o

início, com seu zelo e dedicação trabalhou pelo bem da Colô­


nia. Pois, quando o novo Presidente da Província, Inácio da
Cunha Galvão, incumbiu-o de demarcar também os lotes da Colô­

nia Teresópolis, não aceitou essa tarefa para dedicar-se so­

mente à Colônia Nacional Angelina^0^.

Pouco a pouco, os colonos foram aumentando e, assim, em

março de 1862, poder-se-ia dizer: "com uma população de pouco


mais de 1 00
pessoas, possue já 28 lotes de terras cultivadas
(61 )
na extensão de 1 0 0 . 0 0 0 braças quadradas" . O terreno, que

(57>Jornal.
T ! n 1
•- p.l.
Op.cit.,
PIAZZA, Walter F. Santa Catarina: Sua Historia. Florianópolis. Edites
ra Lunardelli, 1983. p.357,
^^Relatório
*Relatório do Vice-Presidente
Vice-Presidentt da Província de Santa Catarina,Dr. Inácio
da Cunha Galvão, 1861. p.4.
Registro de correspondência do Presidente da Província de Santa Catari^
rina, Inácio da Cunha Galvão, ao Diretor da Colônia Nacional Angelina,
em 8 de junho dé 1861. Após ter exposto os seus motivos, Carlos Othon
Schlappal, foi autorizado a prosseguir os seus trabalhos somente na
Colônia Nacional Angelina. Confira também os Registros de Correspon­
dência. Op.cit., de 25 de junho de 1861.
^ ^ F a l a do Conselheiro Vicente Pires da Motta, 1862. p.26. Confira "0
Mercantil, Jornal da Província de Santa Catharina", Ano II, n9 121,Des^
terro, março de 1862. p.l.
43

parecia ser de superior qualidade, já neste ano, produziu al­

gum milho, feijão e batatas. Alguns colonos trabalharam na fa­

bricação da erva-mate, em cujas florestas abundavam tal tipo

de planta nativa. Contava com 39 casas, totalizando 187 pes­


soas. Os colonos eram localizados ã margem do rio dos Mundéus

(o futuro perímetro urbano) e bem mais abaixo, no vale do rio

Garcia (onde, mais tarde, se localizaria o distrito do mesmo


nome). Contudo, apesar da escassez de recursos, inicialmente,a
colonização com o elemento nacional apresentou os resultados

esperados.

Em 1863, evidentemente, a situação da colônia já era mais


promissora. A sua superfície ocupada elevou-se para, aproxima­

damente, 350.000 braças quadradas e, segundo informações,acha­


vam-se demarcados 69 lotes coloniais, dos quais 51 já distri-
(62)
buídos . A produção, que ainda era pequena, neste ano con­
sistiu em batatas, milho, feijão, fumo e mandioca em pequena
(63)
quantidade. A exploração da erva-mate também continuava

Mas, passado o primeiro impacto, custa a crer, que o vale dos


Mundéus, com seus ervais naturais e grande quantidade de madei.
ra de toda espécie, passadas as primeiras colheitas, iria apre

sentar um solo pouco fértil e improdutivo, deixando os seus


habitantes na indigência.

O Presidente da Província, Pedro Leitão da Cunha, em ou­

tubro de 1863, em visita ã Colônia, verificou de perto a rea­

lidade. Lá constatou que os lotes eram pequenos e como agra­

vante os colonos possuíam muitos filhos, e, por isso, era pre-

Relatório do Vice-Presidente da Província de Santa Catarina, o Comendji


dor Francisco José de D'Oliveira, 1864. p.22 e 23.
^"^Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Pedro Leitão
da Cunha, 1863. p.28.
44

ciso aumentar o tamanho dos lotes, o que aconteceu em janeiro

de 1864 ^ ^ . E, sobre o que viu em sua visita descreve: "...

É tal o estado de penúria em que vivem os colonos, que tive,


ao voltar a Capital, de enviar-lhes algumas peças de algodão
(65)
com que enroupasem seus filhos" . Foi esta a impressão que
teve ao ver os habitantes dessa colônia percorrer, sem parar,
os caminhos escabrosos das matas em busca da sua subsistência.
Na Colônia tudo ainda faltava, sem Igreja, hospital, escola,

botica e nem ao menos estrada que facilitasse a procura dos

recursos necessários, o que sem dúvida, retardava o seu desen­


volvimento. Por isso, era grande o número de colonos que dei­
xava o lugar, indo viver em outra parte mais comodamente.

Referente ao ano de 1864, encontra-se uma Relação de ha­

bitantes da Colônia Nacional Angelina, que permite um estudo


mais completo sobre os primeiros moradores, quantificando-os

quanto ao sexo, grupos etários, religião, naturalidade, posse


(6 6 )
e designação dos lotes de terra . A situação da Colônia a-

presentava-se com 86 lotes de terra demarcadas, dos quais 72

já distribuídos, sendo 50 com estabelecimento definitivo e 22

Ofício n9 117, datado da cidade do Desterro, em 15 de janeiro de 1864,


do Encarregado da Direção da Colônia ao 19 Vice-Presidente da Provín­
cia, o Comendador Francisco José D'Oliveira.
^^Relatório. Op.cit., p.28 e 29.
( 66) Ofício de 10 de janeiro de 1865, do Encarregado da Direção Carlos Othon
Schalppál ao Presidente da Província, Dr. Alexandre Rodrigues da Silva
Chaves. Contém um "Relatório dos colonos e mais habitantes da Colônia
Nacional Angelina", é datado de 08 de janeiro de 1865, contendo dados
como constituição da família, nome dos habitantes, idades, religião,na­
turalidade, data em que tomaram posse em seus lotes de terra, designa­
ção dos lotes, culturas, indústrias e artes exercidos na Colonia, -auxí­
lios recebidos do Governo Provincial, comportamento dos colonos e ou­
tras observações sobre a vida e comportamento de cada um. Faremos, mais
adiante, um estudo quantitativo desses dados quando tratarmos da estru­
tura familiar, no capítulo IV. Os mesmos dados também podem ser encontrji
dos, in PIAZZA, Walter F. Angelina: Um Caso de Colonização Nacional.
Florianópolis, 1873. p.184-202..
45

em princípio. Dos colonos que iniciam seu primeiro estabeleci­

mento diz-se que, "habitam em ranchos provisórios, cuidando de


í6 7 \
construir suas casas para então conduzir suas famílias . Na

oportunidade, 2 3 colonos estavam no prazo de entrar para os co

fres públicos com alguma quantia em forma de pagamento das ter


ras. Naquele ano todos os colonos que se estabeleceram recebe­

ram ferramentas aratórias. Também, auxiliou-se a 20 homens na


sua primeira derrubada, 2 colonos na construção de suas casas,

além de 7 outros no transporte de suas bagagens. Com um con­


tínuo fluxo colonizador, paulatinamente, vai-se ocupando a

área da Colônia.

Aos poucos, contrariando as instruções de 10 de dezembro

de 1860, há interesse em aceitar colonos solteiros, como é o

caso de João Francisco Bitancourt e de João Antônio da Silva,


ambos de bom comportamento, com casamento marcado com filhas
/gO \
de colonos . Daí em diante, é comum o colono solteiro pedir

lote de terra na colônia, bastava fazer o pedido, o Diretor


como era de praxe fazia a consulta e imediatamente, a Presi­
dência da Província dava o parecer favorável. Só para compro­
var a nossa afirmação, citamos também, como exemplo, o caso de

Jacinto Duarte da Silva, que pretendendo casar-se solicita um

lote de terra, o que lhe foi c o n c e d i d o ^ .

Ë, apesar de tudo, a Colônia prosperava e dela dizia-se

em 1865: "Comparativamente nenhuma colônia tem progredido tan­

to como esta..."*70*. Achavam-se demarcados 130 lotes de ter­

^67^Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Alexandre


Rodrigues da Silva Chaves, 1865. p.33-35.
Ofício n9 205, de 28 de julho de 1865, do Diretor da Colônia ao 19 Vi­
ce-Presidente, o Comendador Francisco José de Oliveira.
^69^Ofício n9 216, de 26 de setembro de 1865, Idem, Idem.
^70^Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Adolpho de Bar­
ros Cavalcanti d'Albuquerque Lacerda, 1866. p.30-33.
46

ra, dos quais 114 já distribuídos, 88 com estabelecimento def¿

nitivo e, apenas, 26 em começo. Porém, poucas obras tinham si­

do feitas na Colônia; apenas foi melhorada a estrada que segue

em direção â Capital, numa extensão de 9 léguas; melhorando-se


a estrada em direção a Lages, no lugar denominado Taquaras e

uma nova ligação com Santa Isabel. A única obra pública consis
tia, até 1865, em um rancho de palha construído para receber
os colonos. A situação era assim descrita:

... privados no entanto dos mais indispensáveis edifícios,


de que se faz mister em qualquer insignificante povoação,
como seja a casa para a residência do Diretor, uma capella
para a celebração dos santos mistérios, e uma escola para
o ensino de primeiras letras.(71)

A superfície original de 9.000.000 de braças quadradas


(43.560.000 m 2 ) já estava totalmente ocupada e a afluência de

pessoas que queriam terras continuava; desta forma, era neces­


sário o alimento da área, o que o Diretor pleiteia junto ã Pre­

sidência da Província e consegue uma outra área de igual tama-


nho (72 ) . Assim, por ato de 27 de janeiro de 1866, foi elevado

ao dobro a superfície quadrada da Colônia.

Até 1866, conforme pretendeu o seu idealizador, Francisco

Carlos de Araújo Brusque, a colônia foi essencialmente nacio­


nal, ou seja, ocupada por elementos luso-brasileiros. Mas, nes

te ano, os colonos da colônia Santa Isabel, num grupo de mais

de trinta famílias, procuram o Diretor da Colônia e pedem para

estabelecer-se na estrada que vai em direção ao Tijucas Gran­

de, nas mesmas condições que os colonos nacionais. 0 Diretor

Relatório. Op.cit., p.33.


(72) - -
Idem. Ibidem. Conferir tambem os Registros de Correspondencia do Pre­
sidente da Província de Santa Catarina, Adolpho de Barros Cavalcan­
ti d'Alburquerque Lacerda ao Diretor da Colônia Nacional Angelina, em
27 de janeiro de 1866.
47

da Colonia, quando pede permissão ao Presidente da Provincia,

aponta como causa do abandono da Colonia Santa Isabel o fato

das "terras serem estéreis", o que não possibilita o sustento


da família
(73 ) . E, em seu despacho, o Presidente da Província

só permite a mudança, se os colonos que a pretendessem, esti­

vessem em dia com a Fazenda Provincial.

Mas, quais as razões que levaram o elemento estrangeiro,

principalmente de origem Germânica, a procurar a Colônia Nacio


nal Angelina, de elemento luso-brasileiro? Concordamos com

Piazza, quando diz que tal fato se deve: "a proximidade da Co­
lônia Santa Isabel, de elementos germânicos, que, devido ãs
condições topográficas e ã falta de comunicação, a abandonam

e, logo após a instalação da Colônia Nacional Angelina a pro-


curam" (74) . Todavia, o elemento estrangeiro, de origem Germâ­
nica, primeiro, da Colônia Santa Isabel e, depois, da Colônia

São Pedro de Alcântara, foram penetrando, cada vez mais, em


maior proporção. Citemos, como exemplo, só para se ter uma

idéia, a relação percentual é de 1,5% em 1866 e chega a 9,8%

em 1877, apenas dez anos depois.

Ao fim do ano de 1866 existiam na Colônia 105 casas, 19


casas e 17 fogos a mais do que em 1865. E o quadro se comple­
ta: "Dos 156 lotes de terra atualmente demarcados, 139 já se

acham distribuídos sendo com estabelecimento definitivo 10 5 e

em princípio 34"v . Confrontando esses algarismos com os do

ano anterior vê-se que foram demarcados 26 lotes e distribuí-


(í'i) ~ .
Ofício n? 290, de 7 de dezembro dé 1866, do Diretor da Colonia ao Pre­
sidente, Dr. Adolpho de Barros Cavalcanti d 'Alburquerque Lacerda.
PIAZZA, Walter F. Santa Catarina: Sua História. Florianópolis: Edito­
ra Lunardelli, 1983. p.356.
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Adolpho de
Barros Cavalcanti de Alburquerque Lacerda, 1877. p. 13.
48

dos 25. Mas, o problema de troca de lotes continua, bem como a

saída de alguns colonos já instalados. Entretanto, o número dos

que procuravam a colonia era crescente. Nessa época, dava-se a

abertura do caminho para Tijucas Grande, até o lugar chamado

"ribeirão Major". Essas terras, nas margens do caminho aberto,


na opinião do Diretor da Colônia, eram de superior qualidade;

servindo de estabelecimento para muitos colonos, bem como às


margens dos dois rios Adolpho e dos Perdidos, o primeiro que

vem do Oeste, e o segundo do Leste (76)

Terminada a abertura da estrada do Alto Tijucas Grande,


até o lugar chamado "Major", novos pedidos de instalação de
colonos foram feitos, desta vez por mais de 50 famílias. Que­

rendo ampliar a colônia o seu Diretor propõe a Presidência da


Província o estabelecimento de colonos na margem esquerda do
rio Tijucas Grande, até o ribeirão Boa Esperança, a fim de fa­

zer ali os limites da Colônia; pois este ribeirão fica quase


em frente ao ribeirão Major. Desta forma, são autorizados os

estabelecimentos pelo curso da estrada até o lugar chamado Ma-


. (77) .
jor

Relativamente ao ano de 1867 existiam na Colônia 14 2 ca­

sas, sendo 12 ainda em construção, num total de 159 fogos,ten­


do havido em relação ao ano anterior um alimento de 37 casas e

23 fogos. Havia, também, 178 lotes demarcados, dos quais 152


já distribuídos, com estabelecimento definitivo 40, e em prin­

cípio 12^®^. Dos colonos novos 22 famílias receberam auxílio

Ofício n9 22, de 19 de maio de 1867, do Diretor da Colônia ao Presiden


te da Província de Santa Catarina, Dr. Adolpho de Barros Cavalcanti de
Alburquerque Lacerda.
^77^Ofício n9 56, de 24 de dezembro de 1867. Idem, Idem.
(78) - • r .
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Adolpho de Bar^
ros Cavalcanti de Alburquerque Lacerda, 1868. p.21.
49

em sua primeira derrubada e 12 na construção de suas casas,

dispendendo-se com o mencionado a quantia de 502$000 réis. To­


dos os colonos que se estabeleceram definitivamente receberam

ferramentas aratórias, a saber: machado 1, enxada 1 e cavadei-


ra 1.

0 Diretor e instalador da Colônia, Carlos Othon Schlappal,

a 3 de novembro de 186 8 , deixou o seu cargo e, em seu lugar,


assumiu Manoel Antônio Marques de Faria, que por motivos de
- -
saude, so ficou a frente da Colonia durante 7 meses e 3 dias (79) .
Com essa mudança e por ficar com alguns trabalhos interrompi­

dos a Colônia vai ter o seu desenvolvimento desacelerado, bem

como os trabalhos de medição e demarcação dos prazos coloniais


vão ser interrompidos.

Em setembro do ano de 1869, a Colônia contava com 142 fa­


mílias, perfazendo um total de 660 habitantes, mais ou menos.
De julho a setembro entraram para a Colônia 22 famílias, con­
tendo 95 pessoas, todas já estabelecidas^1^ . E as conseqüên­
cias da saída do primeiro Agrimensor e Diretor logo se fizeram
sentir: "Acha-se em completa confusão o estabelecimento de co­

lonos nesta colônia, em virtude da falta de medição e demar-


/ 0*1 \
cação dos prazos" . Muitos colonos desconheciam suas extre­

mas e deixavam de fazer as derrubadas e plantações com receio

de ultrapassar os seus limites. Desta forma, a instalação de

^^Relatório do Vice-Presidente da Província de Santa Catarina, Carlos de


Ciqueira Pinto, 1869. p.9. Cabe, todavia, observar que com a saída do
primeiro Diretor, Carlos Othon Schlappal, a Colônia, de certa forma,
desorganiza-se. Isso explica o fato que, nas administrações que o suce­
deram, até mesmo o número de informações, sobre a colônia vão diminuir
nos Relatórios da Presidência da Província; como, por exemplo, poucas
informações temos sobre o estado da colônia nos anos de 1868-1869.

Anexo do Relatório do Vice-Presidente da Província de Santa Catarina,Dr.


Manoel da Fonseca Galvão, 1870. p.17.
( 8 1 ) Anexo do Relatório. Op.cit., p.18.
50

novos colonos, praticamente, tornou-se impossível, agravando-

se com a falta de medição e demarcação de novos lotes, para o

que a Direção da Colônia conseguiu a colaboração grátis dos co


lonos.

Ao finalizar o ano de 1872, o Diretor da Colônia constata

que um número expressivo de colonos antigos, com posse de seus


lotes entre 4 a 9 anos, achavam-se com o tempo vencido para o
pagamento dos ditos terrenos, e, apesar do esforço do Diretor,
o mesmo não obtendo o pagamento pede providências ã Presidên­

cia da Província. "... rogo a V. Excia. se digne fornecer-me


ordens que os obrigue satisfazer tais importes, marcando um
(82)
prazo (...) sob pena de multa aos contraventores" . Como
vemos, pois, não estava sendo cumprido o Artigo 99 e §§ 19 e

29 das Instruções de 10 de dezembro de 1860. Tal fato, talvez,

deve-se mais ã incompetência dos administradores que não fize­


ram a cobrança no prazo certo do que ao calote dos colonos.

Em fins de 1873 é tomada uma nova diretriz com relação ã

Colônia, contrariando, definitivamente, as Instruções ini­

ciais, por aviso de 22 de agosto deste ano, é mandado prepa­

rar, ã custa do Estado, "prazos para o estabelecimento de co­


lonos E u r o p e u s " . Para este trabalho foi incumbido o Enge­

nheiro Pinto Braga (Martinho Dumiense). Assim, oficialmente,re


tirou-se da colônia a sua condição de "nacional", pois, como

vimos, de fato, isso já vinha acontecendo há muito tempo. En­

quanto isso, os novos colonos são remetidos para a colônia, só

que desta vez são europeus, de uma vez, oito famílias com 48

^82^Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Vice-Presidente da Província de San­


ta Catarina, o Dr. Guilherme Cordeiro Coelho Cintra pelo Diretor Joa­
quim José de Souza Corcoroca, 1871, em 15 de fevereiro de 1872. p.5-6.
^8^Fala do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. João Guilherme
da Silva, 1874. p.47.
51

pessoas. Essas famílias de alemães, vindas da Europa, foram lo

calizadas na linha do Rio Engano a partir do dia 10 de agosto

de 1873{84).

Para a instalação desses colonos que, não eram mais 48 e


sim 45, foi contratado, inicialmente, o agrimensor Arnaldo

Stahely, que, por motivos de doença, foi substituído pelo agri_


mensor Frederico Von Schôler*8^ . O Diretor da Colônia espera­

va introduzir novos colonos europeus, além daqueles alemães e

franceses, estabelecidos no Rio Engano, pois, mandou o agri­

mensor Frederico Von Schüler para o baixo Rio Garcia, para ali

medir lotes, em excelentes terras, para um número aproximado


fQC\
de 150 a 200 casais . Enquanto isso, os colonos nacionais
continuavam a fazer seus pedidos de lotes de terra ao Diretor

da Colônia para serem admitidos como colonos nacionais. Mas,ao


que parece, as preferências tanto do Diretor da Colônia quanto
da presidência da Província já estavam totalmente voltadas ã

colonização estrangeira.

Os problemas com a instalação de novos colonos aumentam.

Em fevereiro de 1876 a Presidência da Província comunicou ã

Gastou-se com essas famílias as seguintes quantias: transporte da Praia


Comprida a Colônia 240$000 réis, alimentação nos primeiros dias de che­
gada 240$000 réis, auxílio gratuito a 27 colonos adultos, mantimentos
para 10 dias a 48 pessoas 288$000 réis, abonos provisórios, derrubadas
e sementes para 8 famílias 400$000 réis, ferramentas agrárias para cada
família 1 2 0 $ 0 0 0 réis, mais transporte para os lotes 160$000 réis, e
construção de caminhos para os lotes 800$000 réis, totalizando ......
2 ::788$000 réis. Queremos, apenas, salientar que, certamente, a coloni­
zação nacional saía bem mais em conta. Mas, todavia, a política migra-
gratória do Governo Imperial dava prioridade à migração estrangeira. E,
desta forma, não se investiu mais na colonização nacional (luso-brasi-
leira). Ofício s/n9, de 04 de agosto de 1875, do Diretor da Colônia,
Gaspar Xavier Neves, ao Presidente da Província de Santa Catarina, Ten.
Cel. Luis Ferreira do Nascimento e Mello (orçamento de despesa anexo).
Ofício s/n9, de 19 de setembro de 1875. Idem, Idem.
(86^
Ofício s/n9, de 28 de outubro de 1875. Idem, Idem.
52

Direção da Colônia que estava para chegar â Capital "oitenta e


[87 \
seis famílias de imigrantes com 446 indivíduos" , dos quais

alguns deveriam ir para a colônia, onde tinham apenas 48 lotes

medidos, podendo chegar 60 a 70, no fim daquele mês. Então, já

havia na Colônia "nacionais", alemães e franceses. Para os tra


balhos de topografia, levantamento e loteamento da área desti­

nada à localização de colonos foi removido da Colônia Blumenau.


I?ara Angelina, o agrimensor Júlio Cesar dos Reis Pereira Car­
doso, o qual, apresentou-se ao Diretor em 30 de junho de
(88)
1877 .Porém, o referido agrimensor pouco tempo permaneceu
na colônia, e, já a 15 de setembro, novamente, foi removido pa
ra a Colônia Blumenau, para substituí-lo foi nomeado, por Avi­
so do Ministério da Agricultura, de 31 de agosto daquele ano,

o agrimensor Virginio de Souza Conceição .

Como o novo agrimensor, não foi atendido em alguns pedi­


dos que fez, em março do ano seguinte, ainda não havia chegado

na Colônia. Enquanto isso, no final daquela década, os proble


mas aumentam. A colônia recebeu mais imigrantes franceses, po­
rém, o problema consistia, desta vez, na abertura de uma pica­
da com uma légua de extensão, o que a Presidência da Província

autorizou por 450$000 r é i s ^ ^ . Ainda, em 1879, têm-se notí­

cias de dois outros imigrantes franceses, Napoleon Pititgenet

e Jean Batiste Demas, como haviam manifestado o desejo de ex­

perimentar o cultivo da vinha, a Presidência da Provincia re­

ís?)Correspondincia
- ••
do Presidente da Provincia de Santa Catarina, o Tenente
Coronel Luiz Ferreira do Nascimento e Mello, ao Diretor da Colonia Na­
cional Angelina, em 27 de fevereiro de 1876.
(OO) ^ ^

Oficio s/n9 de 02 de julho de 1877, do Diretor da Colonia, José Candido


Duarte Silva, ao Presidente da Provincia, Dr. José Bento de Araújo.
(^^^ofício s/n?, de 26 de setembro de 1877. Idem, Idem.
(90)Oficio s/n9, de 17 de novembro de 1879, do Diretor da Colonia, Alber­
to d'Aquino Fonseca, ao Presidente da Provincia de Santa Catarina, Dr.
Antonio de Almeida Oliveira.
53

comenda que recebam lotes de terra apropriados para esse


(91)
fim . Em dezembro de 1879, face as dificuldades existentes
e por continuar o afluxo de colonos, era necessário continuar
com os serviços de medição que tinham sido interrompido, "em
(92)
virtude da suspensão de todos os trabalhos"

Assim, pois, a colônia chega a sua emancipação em 1881.


Já durante os dois últimos anos diversos trabalhos foram rea­

lizados na colônia no sentido de prepará-la para tal fato, cu­

jos trabalhos foram aumentados com a medição e demarcação fi­


nal da área e a distribuição definitiva dos últimos lotes aos

colonos.

2.5. Os Administradores da Colônia Nacional Angelina

A direção da Colônia passou pelas mãos de vários adminis­

tradores, desde a sua fundação, em 18 60, até a sua emancipação


em 1881.

0 primeiro administrador da Colônia foi Carlos Othon Schla


ppal (93) , que junto com as instruções de 10 de dezembro de
1860, ficou responsável pelo serviço de medição e demarcação
dos prazos coloniais . Foi escolhido pelo Presidente da Pro

víncia e ficou ã frente da Colônia até 18 69. O seu trabalho ã

Correspondência do Presidente da Província de Santa Catarina, ao Dire­


tor da Colônia Nacional Angelina, em 5 de julho de 1879.
Ofício n? 151, de 29 de dezembro de 1879, do Diretor da Colônia Nacio­
nal Angelina, Alberto d'Aquino Fonseca, ao Presidente da Província, Dr.
Antônio de Almeida Oliveira.
(93) . * •
Carlos Othon Schlappal foi o primeiro diretor da Colonia Nacional Ange­
lina. A sua administração vai de 1860 a 1869. Confira a sua biografia
que se encontra no anexo 4.2.
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Car­
los de Araújo Brusque, 1861. p.11.
54

frente da Colonia, já no inicio, foi elogiado pelo Vice-Presi-

dente da Provincia, João Francisco de Souza Coutinho, cuja mar

cha ia com regularidade apesar da escassez dos recursos dispo­


níveis

A sua administração é retratada nos seus Relatórios, nas

correspondências que manteve com a Presidência da Província,


cujos dados são encontrados nos "Relatórios" e "Falas" da Pre­

sidência da Província de Santa Catarina. 0 Relatório que mais


se destaca pela minúcia, quantidade e qualidade de dados, é o
referente ao ano de 1864 Nele se encontra uma relação dos
habitantes da Colônia, os trabalhos nela desenvolvidos, o mo­

vimento da população, a entrega e distribuição dos lotes, da­


dos sobre a agricultura, auxílios recebidos para o estabeleci­
mento dos colonos; além de dados sobre a educação, saúde e
atendimento espiritual. Também, nesta época, já pleiteava a

construção de uma "Casa da Direção" (97) , a construção de uma

capela e a criação de uma escola.

Em 11 de janeiro de 1865 é, Carlos Othon Schlappal, no­

meado Diretor efetivo da Colônia Nacional Angelina . Ele


era a pessoa mais indicada, pois antes, ajudou a escolher o

local para a colônia ser fundada, depois marcou os lotes, foi

"Encarregado da Direção", e, finalmente, seu diretor efetivo.

Percebia um salário anual de 1:200$000 réis.


(95) - . - -
Relatorio do Vice-Presidente da Província de Santa Catarina, Joao Fran
cisco de Souza Coutinho, 1863. p. 17.
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Alexandre
da Silva Chaves, 1865.
(97) ~ _ _ . .
"Casa da Direção": e uma casa que ficava na sede da Colonia, destinada
ao Diretor da mesma, onde eram desenvolvidos os trabalhos de gabinete,
confecção de mapas e relatório da colônia, sendo usada para receber
autoridades de fora e impor o devido respeito aos colonos.
(98) — . »
Registro de correspondência do Presidente da Província de Santa Catari^
na, Alexandre Rodrigues da Silva Chaves, ao Diretor da Colonia Nacio­
nal Angelina, em 11 de janeiro de 1865.
55

Com ïama administração bem sucedida, entretanto, continua­

va o Diretor da Colônia a ser merecedor de dignos elogios por

parte da Presidência da Provincia, como este do ano de 1866.

É uma direção inteligente, zelosa e conscienciosamente de­


dicada, como é felizmente a que possue o estabelecimento,!
justo atribuir em grande parte o bom ixito que vai alcan­
çando esta primeira e creio que unica tentativa bem suce­
dida de colonização nacional.(99)

Mas, aos poucos, aquele diretor, zeloso, pensa em deixar

o seu trabalho diante do pequeno ordenado que recebia .Sen

do o único empregado da colônia desempenhava simultaneamente as


funções próprias de diretor, as de engenheiro e agrimensor, a-
lém das de escriturário. Como não foi possível obter o aumento

em seu salário, conforme pleiteava, pediu a exoneração do car­


go de direção. Desta forma, Carlos Othon Schlappal, foi a 3 de
novembro de 1868, exonerado da Direção da Colônia

0 segundo diretor da Colônia Nacional Angelina foi o Dou­


tor Manoel Antônio Marques de Faria^-^2) ^ Foi nomeado a 3 de

novembro de 1 9 6 8 Por motivos de saúde pouco se empenhou

no cargo e, durante a sua administração, a colônia quase não


progrediu. Ele próprio pediu exoneração do cargo em documento

(QQ) _ . ,
Relatorio do Presidente da Província de Santa Catarina, Adolpho de
Barros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda, 1867. p. 15.
(100)Reiat¿rio do Presidente da Província de Santa Catarina. Adolpho de
Barros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda, 1868. p.24.
(101)Reiat¿rio do Vice-Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Car­
los de Ciqueira Pinto, 1869. p.9.
(102^M^nop1 Antônio Marques de Faria - médico das Colônias Santa Isabel e
Teresópolis, com um ordenado anual de 3:600$000 réis. Foi nomeado a 3
de novembro de 1868 Diretor da Colônia Nacional Angelina. Jã a 9 ■ de
junho de 1869, era exonerado, a pedido, por motivos de saude. Ficou
residindo na Colônia Santa Isabel e fazia visitas a Colônia Angelina,
apenas 6 a 7 horas em cada mes. Por isso, na sua administração a Co­
lônia ficou quase em completo abandono. Confira PIAZZA, Walter F. An­
gelina: Um Caso de Colonização Nacional, Florianópolis, 1973. p.57.
(103)^eiatório. Op.cit., p.9.
56

do seguinte teor : "Não podendo por alteração de má saúde cont_i

nuar no exercício do meu cargo, rogo a V.Exa. se digne exone-

r a r - m e " . A sua exoneração se deu a 9 de junho de 1869.

Joaquim José de Souza Corcoroca^®5), en-t-rou no cargo pa­

ra substituí-lo, por ato de 19 de junho de 1869, logo depois,


em 21 de agosto já lhe foi concedida uma licença de um m ê s ^ ^ .
Depois, assumiu o cargo de direção, com muito esforço, procu­

rou restabelecer a ordem na colônia. Mandou informações precio


sas ao Presidente da Província de Santa Catarina, que foram pu
blicadas nos Relatórios anuais de 1871 e 1872(107)^ peias in_

formações que chegaram ã Presidência da Província lê-se que a


Colônia "vai prosperando g r a d u a l m e n t e " f sob a orientação

deste diretor.

Porém, como a fazenda provincial alega não ter muito di­


nheiro disponível nos cofres públicos, resolveu mandar suspen­
der as obras da Colônia. Assim, pois, foi comunicado pelo Pre­

sidente da Província em sua fala de 1 8 7 1 ^ ^ ^ . A partir de 19

de abril em diante, toda e qualquer obra, para ser feita, de­

veria ser em vista de plano e orçamento, após serem apresenta­


das as propostas em envelope fechado pelos próprios concorren-

(104)of£cio s/n9 e s/d do Dr. Manoel Antônio Marques de Faria ao Presidente


da Província de Santa Catarina, Carlos Augusto Ferraz de Abreu.
Joaquim José de Souza Corcoroca nasceu em 17 de maio de 1827. Foi Cap^
tão de Navio, 29 Tenente honorário da Armada. Por Aviso n9 17, de 30.
06.1859, foi nomeado "medidor de terras" na Província de Santa Catari­
na. Em 1861 era Diretor da Colônia Santa Isabel. 0 seu apelido era
"Corcoroca", o qual ele mesmo incorporou ao nome. Faleceu, aos 71 anos
de idade, a 30 de maio de 1898. Confira PIAZZA. Op.cit., p.58.
(106)Relatório do Vice-Presidente da Província de Santa Catarina, Coronel
Joaquim Xavier Neves, 1869. p.10.
(107)Reiat¿río do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Francis­
co Ferreira Corria, 1871. p. 14. Confira também GOUVÊA, Relatório,1871.
p.15.
(108)Relatório. Op.cit., p.14.
(109) iy
Ibid., p.14.
57

tes ã Presidência. Esta foi uma maneira encontrada pela Presi

dência da Provincia para controlar de forma direta os gastos

da colônia.

0 Coronel Joaquim José de Souza Corcoroca, por impedimen­

to físico, impossibilitado que estava para exercer o cargo,foi


exonerado, em 22 de novembro de 1873 ^ ^ ^ . Sabe-se, que por
pouco tempo, interinamente, assumiu a direção da colônia o Ca­

pitão honorário do Exército, Firmino José Corre a ^ ü ^ . Este

ficou apenas alguns dias ã frente da Colônia .

0 Coronel Gaspar Xavier Neves ^ , nomeado a 13 de de­

zembro de 1873, assumiu a Direção aos 17 dias do mesmo mês. Em

suas mãos a Colônia apresentou considerável desenvolvimento.

Todavia, no ano de 1874, passou a administração da Colônia a


ser subordinada ao Governo Imperial.

(H0)jrala ¿o Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. João Guilherme


da Silva, 1874. p.49.
Firmino José Corria, foi diretor interino da Colônia Nacional Angelina,
em dezembro de 1873. Antes, já tinha sido Diretor da Colônia Provin
ciai "Príncipe D. Pedro", de 12 de outubro de 1869/ Com a sua anexação,
pelo aviso do Ministério da Agricultura, de 6 de dezembro de 1869, à
Colônia Brusque, passou a Diretor desta, que exerceu até julho de 1870.
Mais tarde, em 1871, foi ajudante de ordens do Presidente Bandeira de
Gouvia. Confira, PIAZZA. Op.cit., p.58.
(112)Registro de Correspondência do Presidente da Província de Santa Catar_i
na, enviada pelo Secretário do Governo, Manoel Ferreira de Mello, ao
Diretor da Colônia Nacional Angelina, Joaquim de Souza Corcoroca, em
22 de novembro de 1873.
^l^Gaspar Xavier Neves: Nasceu em São José, 'SC, a 08.09.1815, filho do
Coronel Joaquim Xavier Neves e de D. Felicidade Firmina Neves. Exer­
ceu vários cargos públicos, sua vida política tem início em 1838, por
ocasião da Revolução Farroupilha. Foi eleitor de Paróquia em 1856, pe­
lo partido judeu liberal, vereador à Camara de São José, em vários pe­
ríodos, Coletor de Rendas Gerais, Tenente Coronel, Comandante do 29
Corpo de Cavalaria da Guarda Nacional da Província. Por fim, foi no­
meado a 10 de outubro de 1868 diretor da Colônia Santa Isabel e TeresçS
polis. E a 17 de dezembro de 1873 Diretor da Colônia Nacional Angelina,
cargo que exerceu ate a sua morte, a 17 de novembro de 1876. Foi casa­
do com D. Maria Luiza das Dores. Confira: PIAZZA, Walter F. Op. cit.,
p.58-59.
Fala do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. João Guilherme
da Silva, 1875. p.101.
58

Em ofício, sem número, de 13 de fevereiro de 1875, o Di­

retor da Colonia pede ao Presidente da Província a nomeação de

um a g r i m e n s o r . Segundo ele a medição e distribuição dos

lotes estava muito confusa, sendo que o seu antecessor, Joa­

quim José de Souza Corcoroca, havia feito a distribuição dos

lotes sem tê-los medido. E, reclama, que o único Diretor que


havia feito a distribuição certa dos lotes tinha sido Carlos
Othon Schlappal, em cujo trabalho é possível encontrar a nume­
ração dos lotes, a exatidão de suas frentes e a direção. "...O

que não se encontrou nos lotes distribuidos por aquelle ex-

Diretor, que nem ao menos em sua escrituração no competente li


vro de registro se encontra o número do lote .. ." .

Em 1875, novos elogios são emitidos, a favor da adminis­

tração do Coronel Gaspar Xavier Neves, pelo Presidente da Pro­

vincia de Santa Catarina. Desta vez diz: "que muito solícito


tem sido em promover os melhoramentos necessários à prosperida

de e engratn-dècimento da Colonia". E acrescenta que apesár dos

escassos recursos disponíveis, "vão se desenvolvendo com mais

vigor a lavoura, as vias de comunicação e as obras públicas


„(117)
••• •

Em 25 de abril de 1874, pelo Decreto n9 5.604, foi insti­

tuído o registro civil e conforme o seu artigo 49, este traba­


lho ficava sob a responsabilidade da Direção da Colonia. En­

tretanto, a Cámara Municipal de São José, responsável em arru­

mar os livros próprios para tal fim, não o fez em tempo há-

(ü^Ofício s/n9, de 13 de fevereiro de 1875, do Diretor da Colonia, Gas­


par Xavier Neves, a Presidente da Provincia de Santa Catarina, Dr. Je)
io Thome da Silva.
(116)-.,.- n
Oficio. Op.cit.
( ü ^ F a l a do Presidente da Provincia de Santa Catarina,, João Capistrano
Bandeira de Mello Filhó, 1876. p.91 a 92.
59

b i l (118).

Nesse meio tempo, a Colônia foi visitada pelo Presiden­

te da Província, João Capistrano Bandeira de Mello Filho, que


fez questão de deixar algumas diretrizes ã sua administração.

Em janeiro de 1876, lamentavelmente, Gaspar Xavier Neves, man­

dou seu último relatorio acerca da Colônia ã Presidência da


Província, que serviu de base ã Fala proferida na Assembléia
Legislativa p r o v i n c i a l .

Por ato de 18 de setembro de 1876, foi nomeado o Tenente

José Cândido Duarte Silva Diretor Ajudante do Diretor


Gaspar Xavier Neves. A 17 de novembro de 1876, o Ajudante do

Diretor, José Cândido Duarte Silva, comunica ã Presidência da

Província a morte do Diretor da Colônia, o Coronel Gaspar Xa­


vier Neves. De início respondeu interinamente pela Colônia e,
depois, como Diretor efetivo, foi nomeado a 23 de novembro de

1876 , e nela permaneceu até 1879 ^ ^ ^ .

A Presidência da Província de Santa Catarina, lamentando

a morte de Gaspar Xavier Neves, emite parecer favorável sobre

Ofício s/n9, de 7 de janeiro de 1876, do Diretor da Colônia, Gaspar


Xavier Neves, ao Presidente da Província, Dr. João Capistrano Bandei­
ra de Mello Filho.
Of icio s/n9, de 31 de janeiro de 1876, do Diretor da Colônia, Gaspar
Xavier Neves, ao Presidente da Província, Dr. João Capistrano Bandei­
ra de Mello Filho.
(120)jos¿ cândido Duarte Silva, natural da cidade de Desterro, filho de
Eduardo Duarte Silva e de D. Custódia Bernardina da Luz. Casou-se na
mesma cidade, a 16 de junho de 1849, com D. Francisca Leopoldina Gar-
cez, filha de Manoel Teixeira de Araújo Gonçalves e de D. Rita Luisa
do Nascimento. Como Ajudante da Direção da Colônia Nacional Angelina,
nomeado a 18 de setembro de 1876, só tomou posse a 18 de novembro da­
quele ano, por morte do Diretor da mesma, Gaspar Xavier Neves. Em 23
de novembro de 1876, foi nomeado Diretor da Colônia, fato que foi con
firmado por Aviso do Ministério da Agricultura,de 19 de dezembro do
mesmo ano. Faleceu em agosto de 1888. Confira obra Op.cit., PIAZZA,
Walter F. Angelina: Um Caso de Colonização Nacional, 1873. p.59.
^^^Relatório do Presidente da Provincia.de Santa Catarina, Dr. Herminio
Francisco do Espírito Santo, 1877. p.74 e 75.
60

a situação da Colonia. "A colocação da Colonia Angelina foi

melhor". E justifica que: "0 vale é muito mais largo, e apre­

senta certa extensão plana de terrenos férteis. (...) Teve vá-


rias phases de decadencia e prosperidade" ( 122 ) . E os generos
de consumo ordinário produzidos na colónia não só abasteciam

o mercado da capital, como Brusque e a sua vizinhança. Nesta

época, também, ficou autorizada a construção de duas casas na

sede da Colónia, para a botica, a fundação de duas escolas, no

ponto denominado "Garcia", onde habitava um núcleo de aproxi-


(123)
madamente 600 alunos

Num balanço geral, vê-se que a colónia estava bem desen­


volvida e que não tardaria a vir a sua emancipação. As linhas
de colonos já se estendiam num desenvolvimento de mais de 3
léguas, encontrando terras de boa qualidade, sobretudo, no va-
le do rio das Perdidas (124)

Relativamente aos anos de 1877 e 1878, o Diretor da Coló­

nia, José Cândido Duarte Silva, elaborou seus relatórios, fa­


zendo um balanço da situação da colónia. Apresentou a Presi­
dência da Provincia, em ambos os relatos, dados sobre: as vias

de comunicação, as obras públicas, os edifícios públicos, a la

voura, a situação do comércio e a indústria, sobre os indíge­

nas, instrução pública, médico, empregado da Direção, além de


^ j
outros dados (125)

0 engenheiro Alberto d 'Aquino Fonseca assume a Direção da

(122 ) . . .
Relatorio. Op.cit., p.74 e 75.
(123) , . , 7/ 7,
Ibid., p .74 e 75.
(124) „
Ibid., p .74 e 75.
(125)ofíc£0 s/n9, de 31 de janeiro de 1877, do Diretor da Colônia José Cân­
dido Duarte Silva, ao Presidente da Província, Dr. José Bento de Araú­
jo. Confira também ofício s/n9, de 23 de janeiro de 1878. Idem, Idem.
61

Colônia no ano 1879 ^12^ . Em 1880, o Governo Imperial começou

a traçar diretrizes com a finalidade de extinguir as colonias,

incorporando-as ao sistema de legislação comum. Para tanto,


foram estruturadas comissões responsáveis para analisar a sua
„ (127)
situaçao e tomar as medidas necessarias a emancipaçao .Fi­

nalmente, a emancipação da Colônia Nacional Angelina deu-se no


dia 3 de dezembro de 1881, através do Decreto n9 8.333.

Assim, estava cumprida a determinação do Governo Imperial


de emancipar a Colônia Nacional Angelina. Desta forma, Alberto
d 'Aquino Fonseca também terminou sua ação administrativa. O
último documento referente a sua administração, que encontra­
mos, é um ofício onde ele pede o pagamento a Manoel Duarte Sil
va, pela condução de 13 caixas e mais objetos avulsos, daquela

colônia e esta Capital, tendo que, ainda, estas despesas con­


correr por conta de crédito distribuído para a emancipação das
(128)
colônias . Para finalizar, cabe, todavia, dizer que as de£
pesas com a colônia aumentaram muito durante o ano da sua eman
cipação (129 ) . Isso se explica, pelas despesas que tiveram que

ser feitas com os trabalhos preliminares, que antecederam tal

ato. Emancipada a Colônia, não se pode afirmar, se ela estava,

ou não, preparada para sobreviver sozinha; mas teve que enfren

tar a nova realidade.

(126)Alberto d'Aquino Fonseca era Engenheiro Civil. Foi ele quem elaborou,
em 1874, os estudos e orçamentos para a ponte de desembarque junto ao
Mercado Municipal, na antiga cidade de Desterro. Também é o responsa
vel pelo orçamento dos melhoramentos das estradas das Colônias TerescD
polis e Santa Isabel ã Capital. Faleceu na cidade de Laguna, (SC), em
Dezembro de 1899.
(‘1 2 7 ^PIAZZA, Op.cit., p.55.
(128)of'cio s/n?, datado do Desterro, em 24 de março de 1882, do ex-Diretor
da Colônia Alberto d'Aquino Fonseca, ao Presidente da Província, Dr.
Joaquim Augusto do Livramento.
^129^Correspondência do Presidente da Província de Santa Catarina, ao Dir£
tor da Colonia Nacional Angelina, Alberto d*Aquino Fonseca, em 31 de
maio de 1881.
62

2 .6 . Fatores do Fracasso da Colônia Nacional Angelina

2.6.1. Situação Geográfica

0 Dr. Alfredo d 1Escragnolle Taunay, em 1876, no inicio

da sua administração na Presidência da Província de Santa Ca­


tarina, solicitou ao Engenheiro Antônio Florêncio Pereira do
Lago que realizasse um estudo sobre o desenvolvimento das Co­
lônias na Província de Santa Catarina. Em importante análise,

entre outras causas, aponta-se, como razão para o fracasso das


Colônias, a situação geográfica desfavorável^-^0) . a má esco­

lha das localidades para a fundação das colônias, aliada ã ig­


norância e desconhecimento das condições climáticas, sem ne­
nhum preparo do terreno a ser distribuído, punha em risco qual

quer empreendimento colonizador. A Colônia Nacional Angelina


também vai sentir, ainda mais que as outras, os efeitos dessa

má localização geográfica.

Em primeiro lugar, cabe dizer, que nenhum estudo foi fei­


to para analisar a natureza do solo e as condições bioclimáti-
cas para a fixação do elemento humano. E, no caso específico,
em se tratando de uma Colônia "Nacional", como se comportaria,
ali, o elemento luso-brasileiro? Na realidade, a primeira luta

do elemento humano estabelecido nestas condições, foi contra


os solos inférteis e a tropicalidade do ambiente. As encostas

cobertas com uma vegetação exuberante, desde que despidas da


sua cobertura florística, produz intensa erosão, face aos al­

tos índices de precipitação, existentes na área da C o l ô n i a .

(130)t ^un AY, Alfredo D'Escragnolle. Relatório com que o Exmo. Sr. Dr. Her­
minio Francisco do Espírito Santo, 1? Vice-Presidente passou a admi­
nistração da Província de Santa Catarina, em 02 de janeiro de 1877.
Desterro, Tip. de J.J. Lopes, 1877“. p.95.
(131)PIAz z a , Walter F. Angelina: Um Caso de Colonização Nacional. Floria­
nópolis, 1S73. p.239, 259 e 261.
63

Desta forma, após as primeiras colheitas, restam somente as

pequenas várzeas que recompõe-se com as inundações.

Em segundo lugar, sabendo-se da sua situação topográfica

difícil, situada em vale encaixado, sujeito ao desgaste das

suas terras, não se tomou nenhuma medida a nível de adminis­

tração política, nem a nível prático no sentido de usar téc­


nicas conversacionistas e cultivos que favorecessem a proteção
do ambiente. Adotando a derrubada e a queimada e a velha enxa­
da no preparo do solo os resultados só podiam ser desastrosos

para a Colônia. Por isso, a Colônia serviu como laboratório de


experiência, onde foram testados diversos tipos de cultura,sem
grandes resultados.

Em terceiro lugar, sua localização, próxima à "antigai es­

trada de Lages", seria para servir a uma necessidade da econo­


mia regional, ou seria tão-somente um problema de geopolítica,

com a ocupação de espaços vazios intermediários entre o lito­

ral e o planalto? Na verdade, é uma medida de altos interesses


econômicos, pois no caso do litoral ter produtos que interes­

sassem o planalto, e, vice-versa, com boas condições de trân-


(132)
sito, sem a menor duvida, ambos lucrariam . Por outro la­
do, conforme as Instruções de 10 de dezembro de 1860, que tra­

çam as diretrizes da colonização nacional, localizam a Colônia,


geopoliticamente, como uma cunha entre os imigrantes alemães e

nórdicos, de língua saxônica, da região, como São Pedro de Al­


cântara, Leopoldina e Teresópolis. Essa visão Geopolítica te­
ria como finalidade atrair para o interior da Província ' de

Santa Catarina o excesso populacional da área litorânea, além


de ocupar de forma estratégica e definitiva o lugar, o novo em

(1 3 2 )PIAZZA. Op.cit., p.240 e 241.


64

preendimento estaria conforme, os interesses políticos das auto


ridades migratórias.

A referida "antiga estrada de Lages", foi, nesse senti­


do, motivo de constante preocupação do Diretor da Colônia Na­

cional Angelina. Mas, no momento em que se vai usar mais a


"estrada nova", percebe-se, que a instalação da Colônia ficou
fora do eixo comercial. Este é, pois, um dos fatores impedi­
tivos mais ponderáveis ao seu desenvolvimento ) . Assim,pois,

pela impropriedade de localização, situada às margens de uma

estrada que caiu em desuso, a Colônia não chegou a ser, como

se esperava, um centro de comercialização entre o litoral e o

planalto.

O Governo Imperial, através dos seus elementos, ditou as


leis, escolheu os lugares das colônias; porem, pouco tez para
que houvesse um desenvolvimento econômico-social razoável^^ .

Os reflexos decorrentes de tal política migratória acompanha­


ram o futuro da Colônia. 0 pequeno desenvolvimento que houve,
de maneira geral, é fruto do esforço individual dos seus admi­
nistradores, ou quando não, de alguns líderes naturais exis­

tentes entre os seus habitantes.

2.6.2. Ordem Econômica e Burocrática

Usando de elementos quantitativos, em nossa análise com­

parativa, verificamos que houve ¡por parte da ação político-ad­

ministrativa desigualdade no tratamento econômico dado ã colo­

nização "nacional", em benefício da colonização estrangei-

(1 3 3 )PIAZZA. Op.cit., p.241.


(134) T, . ,
Ibid., p.234.
65

r a (135) ^ 0 gue qUer dizer/ qUe não houve eqüidade no tratamen­

to econômico com relação âs demais colônias da Província de


Santa Catarina. No..qi©dro.:l; verificar-se as despesas efetuadas

pelo Governo, com a colonização, com as várias colônias exis­

tentes na Província, desde a sua fundação até 31 de dezembro

de 1880(136).
QUADRO 1 - Despesas realizadas com as colônias

Angelina ....................... ....... 253:306$938 réis


Itajaí (Brusque) e Príncipe D. Pedro ... 3.920:089$843 réis
Blumenau ............................... 2.338 :435$557 réis

Azambuja .............................. 542:090$252 réis


Luiz Alves ............................ 263:465$760 réis
Santa Isabel .......................... 229:501$730 réis
Teresópolis ........................... 242:501$454 réis

TOTAL 7.789:391$625 réis


Fonte: Cf. nota 136.
— Enquanto que as demais colônias foram instaladas, basica­
mente, com elementos étnicos estrangeiros, ao contrário, Ange­
lina, recebeu elementos luso-brasileiros. Desta forma, os nú­

meros mostram o tratamento prejudicial dado â Colônia Nacional

Angelina., onde o dinheiro público foi empregado parcimoniosa-

mente, de forma a prejudicar o seu desenvolvimento (137) . Cabe,

pois, dizer que a Colônia Nacional Angelina é da mesma idade

que a Colônia Itajaí, porém, gastou menos que ela e só é igua­


lada no tratamento econômico-financeiro às Colônias Santa Isa-

(135)piAZZA^ waiter F. Angelina: Um Caso de Colonização Nacional. Floria­


nópolis, 1973. p. 259.
^13^Fala com que o Exmo. Sr. Doutor João Rodrigues Chaves, proferiu na
Assembléia Provincial de Santa Catarina, em 02 de fevereiro de 1881.
p. 39.
(137)piazza, Walter F. Op.cit., p.237-239. Confira também o mapa demonstra
tivo com as despesas realizadas com as colonias no Anexo 6 .
66

bel e Teresõpolis, aquela anterior e esta da mesma época de


- (1 3 8 )
sua fundação . 0 tratamento financeiro do Governo foi dis­

criminatório.

A carência de recursos financeiros traz graves conseqüên­

cias para o empreendimento colonizador, sobretudo na vida co­


tidiana. A Provincia de Santa Catarina, segundo um depoimento

de 1863, votava "anualmente 4:000$000 réis para as despesas do


estabelecimento, compreendendo-se nesta quantia 1 :2 0 0 $ 0 0 0 réis

de ordenado do Diretor"
(13 9 ) . 0 dinheiro que sobreva com ele
pouco se podia fazer. Para piorar ainda mais a situação, a po­

pulação, na sua maioria, era muito pobre. A pobreza era tama­


nha, que neste mesmo ano, 1863, quando o Presidente da Provín­

cia, Pedro Leitão da Cunha, voltou de sua visita ã colônia,

imediatamente, mandou três peças de fazendas para serem dis­


tribuídas entre as famílias a fim de cobrir a sua n u d e z ^

Este Presidente teve consciência que era necessário tomar me­


didas sábias, capazes de dar-lhes instituições, educação, en­
fim, tendo em vista "regenerá-los e erguê-los desse estado de
. , ,-
indolencia • - • „(141)
e miseria"

Ainda, durante o ano de 1863, dispendeu-se com a Colônia

apenas a quantia de 1:997$640 réis, dinheiro este gasto em:


serviços na colônia, transporte de 9 famílias de colonos, duas

pedras de moer, um pé de cabra e m e d i c a m e n t o s . Reconhe-

( 1 3 8 ) PIAZZA, O p . c i t . , p . 55.
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Pedro Leitao
da Cunha, 1863. p.28.
( 1 4 0 ) R e g i s t r o de c o r r e s p o n d e n c i a do P r e s i d e n t e da P r o v í n c i a de S an ta C a ta ­
r i n a , Pedro L e i t a o da Cunha, ao D i r e t o r da C o lo n ia N a c io n a l de Ange­
l i n a , em 16 de o u tu b r o de 1863.
( 1 4 1 ) R e i a t ó r i o . O p . c i t . , p . 29.
R e l a t ó r i o do V i c e - P r e s i d e n t e de S a n ta C a t a r i n a , o Comendador F r a n c i s ­
co J o s é de O l i v e i r a , 1 8 6 4. p . 23.
67

cendo-se o estado crítico das finanças da Província de Santa

Catarina, apesar de tudo, muita coisa foi deixado de fazer pe­


lo sucesso da colonização nacional. Nestas circunstâncias, há

motivos para o fracasso completo desta tentativa. Num comple­


to abandono, sem auxílio de espécie alguma, lutando com seus
próprios recursos, "compreende-se que só mesmo a resistência

e abnegação do nacional poderia arrastar e vencer tamanha di­


ficuldade" (1^3)^

Assim, pois, a carência de numerário esteve sempre pre­

sente na vida da Colônia. Ora, são as pedras de moer para á


tafona que precisam ser pagas, ora são as despesas com traba­
lhadores; acrescenta-se a compra de ferramenta, o salário do
Diretor, despesa com abertura de estradas, compra de medica­
mentos; auxílios nas derrubadas e construções de casas, capela

e escola, alem de outros encargos diversos (144) . A lista e in­


terminável. 0 Diretor da Colônia, na medida do possível, pro­

curava resolver todos esses problemas junto ao Presidente da

Província de Santa Catarina.

Mas, em 1866, a situação ficou mais crítica e o Diretor

da Colônia foi obrigado a recorrer à Presidente da Província,

para o bem dos interesses da colônia, não querendo parar os

trabalhos em andamento, pediu que "... fosse entregue a verba

consignada no exercício de 1866 e 1867 para esta Colônia, em

prestações adiantadas"*145*. Esta seria uma maneira de contra­

tar os trabalhos da colônia com mais economia. Para tanto, o

(143)s c h m i t t , Elizeáriò. Nossa Senhora de Angelina - 1902-1977. Curitiba:


Imprensa Paranaense, 1977. p.28.
PIAZZA, Walter F. Angelina: Um Caso de Colonização Nacional. Floria­
nópolis, 1973. p.77 a 82.
(145)of£cio no 253, de 13 de maio de 1866, do Diretor da Colônia ao Presi­
dente da Província de Santa Catarina, Dr. Adolpho de Barros Cavalcanti
de Albuquerque Lacerda. ..
68

Presidente da Provincia autorizou a entrega desse dinheiro, em

parcelas, adiantadamente.

Mesmo as obras de vital importancia para a colonia deixa­

vam de ser autorizadas pelo Governo Provincial. Até 1864 tudo


ainda faltava; não tinha escola, Igreja, hospital, botica e

nem casa para o Diretor da C o l o n i a . Muitas obras deixavam

de ser autorizadas pela falta absoluta de verbas. A escolari­


zação só vai ser lembrada em 1865. A Igreja, por sua vez, que
inicialmente era um barracão coberto de palha, o mesmo que ser
viu de hospedagem aos colonos, a sua construção só foi autori­
zada em abril de 1868. É a farmácia (ou botica) funcionava em
uma casa alugada.

A falta de recursos vindo dos poderes públicos refletia

diretamente no nível de vida dos colonos, fato esse que pode


ser comprovado pelas "dívidas coloniais". Observa-se, que a 13

de fevereiro de 1867, a dívida dos colonos pela compra de lo­


tes era de 2:906$250 réis^"*"^^. Na época, havia 22 colonos que
completaram o prazo de quatro anos, em que devia ser realizado
o pagamento do valor das terras, mais 22 colonos que venceram

o prazo de dois anos após o estabelecimento, e 49 colonos es­


tabelecidos antes dos dois anos. Além destes, outros 44 colo­
nos estavam principiando seus estabelecimentos, sem terem to­
mado posse efetiva, por não lhes ter sido passado o título
provisório. E, de acordo com o mesmo documento, até esta data,

os auxílios dados aos colonos eram num total de 2:553$720 réis.

Deixando a colónia, o Dr. Manoel António Marques de Fa-

(146)Relatório do Vice-Presidente da Província de Santa Catarina, o Comen­


dador Francisco José de Oliveira, 1864. p.23.
(147)of£cio no 07, de 13 de fevereiro de 1867, do Diretor da Colonia ao
Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Adolpho de Barros Ca­
valcanti de Albuquerque Lacerda.
69

ria, não foram pagar contas no valor de 241$500 réis, e seu su

cessor, Joaquim José de Souza Corcoroca, solicitou o respecti­

vo pagamento . A situação financeira da Colônia era tão

ruim que o próprio Presidente da Província sobre ela se manifestou

e reconheceu que a verba destinada ã Colônia não permité a exe

cução de obras de vital importância, "cano são a abertura e conser­

vação de caminhos vicinais e a medição de demarcação de lo­


tes. .. Os próprios colonos não sabendo bem os limites de seus lo­

tes, segundo o Diretor da Colônia, deixavam de fazer derruba­


das e plantações com receio de ultrapassar o limite. E o Presidente
concluiu, dizendo: "julgo, pois, ser de conveniência a decre-
(149 )
taçao de fundos para acudir-se momentosos reclamos"

Até 1873 as despesas com a colônia eram custeadas pela


Província, mas a partir de 1874 o Governo Imperial passou a

subvencionar as despesas da colônia, com uma verba de 300$000

réis mensais, acrescida de outra 800$000 réis anuais . Na

ocasião, o Governo Imperial exigiu a feitura de um orçamento de

despesa, o que importou em 12:520$000 réis, essa quantia se fa

zia necessária para acudir as maiores necessidades, as quais

eram: "vias de comunicação, medidas de lotes, e edifícios como

a Igreja e casas para residência do médico e c a p e l l ã o " .


Portanto, conclui-se que os problemas financeiros vão se
repetir continuada e indefinidamente no cotidiano da Colônia.

Evidencia-se, pelos números que inicialmente apresentamos, sem

(148)()f£cio s/n9, de 30 de junho de 1869, do Diretor da Colônia, Joaquim


José de Souza Corcoroca ao Presidente da Província de Santa Catarina,
Dr. Carlos Ferraz de Abreu.
(149) - - •
Relatorio do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Andre Cor­
deiro de Araújo Lima, 1870. p.17.
d-^Fala, dirigida ã Assembléia Legislativa da Província de Santa Catarina,
pelo Presidente da Província, o Exmo. Sr.Dr. João Tomé da Silva, 1874.
p.47.
(151)ofício s/n? de 24 de agosto de 1875, do Diretor da Colônia, Gaspar Xa­
vier Neves, ao Presidente da Província, Dr. João Capistrano Bandeira
de Mello Filho.
70

a menor dúvida, que houve uma parcimoniosa distribuição de re­

cursos, no período compreendido entre a sua fundação e emanci­


pação. Tal política financeira traz graves conseqüências inter

nas para o seu desenvolvimento social e econômico. Desta forma,

o seu pequeno desenvolvimento é antes fruto da iniciativa in­

dividual é da capacidade dos seus administradores, e não resul

tado de uma política governamental.

2.6.3. Vias de Comunicação e Isolamento


Um dos problemas cruciais para o desenvolvimento da Colô­

nia Nacional Angelina foi o seu isolamento em face das precá­


rias vias de comunicação. Não sendo possível escoar a produ­

ção, repercute no desenvolvimento econômico, bastante fraco


A Colônia' localizada longe de um centro consumidor, sem poder

desenvolver uma economia de mercado, sem tecnologia e capital,


não possibilita o desenvolvimento econômico, social e indus­
trial da sua área. Desta forma, apenas meia dúzia de comerci­

antes, estabelecidos ao longo de suas precárias vias, conse­


guiam adquirir com facilidade a produção agrícola da região a

preços baixos e desestimulantes. Esses poucos intermediários,


com seus carroções, passavam o produto para outro centro como

a Praia Comprida e a Capital, enquanto isso, muitos agriculto­

res eram obrigados a vender seus produtos a preços abaixo do

custo real. Muitos agricultores, oriundos de Angelina, abando­

navam a Colônia, ou ali permaneciam até morrerem sem terem co­

nhecido melhores e s t r a d a s ^ .

Pretendeu-se mostrar que sem boas vias de comunicação,li­

gando os centros produtores aos consumidores, não havia estímu

lo ã produtividade e valorização dos produtos agrícolas. Neste

PIAZZA, Walter F. Angelina: Um Caso de Colonização Nacional. Floria­


nópolis, 1973. p.253 e 259.
^1 5 3 ^SCMITT, Elezeãrio. Nossa Senhora de Angelina 1902-1977. Curitiba:
Imprensa. Paranaense, 1977. p.29.
71

aspecto, a Colonia Nacional Angelina, ainda, sofreu mais do

que suas contemporâneas. Vejamos, pois, como foi o desenvolvi­

mento de suas principais vias de comunicação, desde a criação

da Colônia e que permaneceram até os dias atuais, quais sejam:

a) Angelina - Florianópolis; b) Angelina - Lages, c) Angelina

- Tijucas
(154) .

2.6.3.1. Angelina - Florianópolis

Como vimos, pelos Mundéus, já bem antes de legalmente ser

fundada a Colônia, desciam os tropeiros lageanos vindos por

Bom Retiro, em demanda do litoral catarinense, através de São

Pedro de Alcântara e São José. Da sede da Colônia até São Jo­

sé, só havia uma estreita picada, que durante muitos anos, ser

ra abaixo, os tropeiros atravessavam o imenso sertão em busca

do comércio com as populações litorâneas ^ . Tendo-se em vi£

ta que o problema crucial do desenvolvimento das áreas coloni­

zadoras sempre foi o escoamento da produção, ao se pensar em

fundar a Colonia, desde o primeiro instante, a Colônia Nacio­

nal Angelina foi localizada à margem da "estrada velha de La­

ges". Mas, a ausência de satisfatórias vias de comunicação, on

de, durante os primeiros anos, Angelina se comunicava com a

Capital do Estado, ou com o seu Município, São José, através

de um simples caminho de pedras, valetas, atoleiros, que es-

Cabe, todavia, ressaltar que Angelina teve outros caminhos Vicinais,


como por exemplo, a sua ligação com a Colônia Santa Isabel, mas que
não tiveram grande influencia no seu desenvolvimento. Por isso, a nojs
sa análise contemplara^ apenas, as vias que dão saída a outros cen­
tros maiores, que de forma esquemática podem ser reduzidas a. três ,
vias: as duas que, atingindo respectivamente Rio Bonito e Rancho Quei^
mado, encontram a Florianópolis-Taquaras-Lages; a principal Angelina-
Florianópolis, através da Vargem dos Pinheiros, do Barro Branco, de
Santa Filomena, São Pedro de Alcânatara, Colônia Santa Tereza e San­
ta Ana, saindo em São José, onde toca a BR-101; e a terceira, que des_
cendo o morro do Garcia, atravessa Major Gercino, São João Batista,
dali em direção a opcional Tijucas (BR-101), ou a Nova Trento e Brus­
que, onde mais adiante liga o asfalto da Jorge Lacerda. Confira
SCHMITT, Op.cit., p.29.
SCHMITT, Elizeário. Nossa Senhora de Angelina - 1902-1977. Curitiba:
Impressora Paranaense, 1977. p.25-29.
72

condiam traiçoeiras armadilhas para os cascos dos animais, as

carroças e carros de boi, o que vai comprometer o desenvolvi­

mento da Colônia. Essa ruim estrada estava sempre necessitada

de roçadores e de homens que continuadamente trabalhavam na

sua manutenção. O isolamento do lugar não lhe permitiu o pro­

gresso, e, em conseqüência, os colonos somente â custa de mui­


tas dificuldades conseguiam descer até o mar os seus poucos

produtos agrícolas.

O interesse em fazer expandir as suas vias de comunicação

é uma aspiração presente já em 1861. Tinha-se em mente a aber­

tura de uma estrada até o lugar denominado "Taquaras", onde a

estrada velha de Lages encontra a nova; a abertura de caminhos


vicinais com a Colônia Santa Isabel, e com Tijucas Grande^"^.
Desta forma, pensavam as autoridades provinciais, em fazer da

Colônia, no futuro, um importante centro de comércio. A comu­

nicação com a Capital, pela estrada de São Pedro de Alcântara, seguia

em quase toda a sua extensão o vale do rio Maruhy, onde a es­

trada ã beira deste vale possuía os seus melhores trechos. Mas, para
se chegar até a Colônia, subindo do litoral, o viajante tinha

que passar por muitas dificuldades e perigos, onde se destaca

a última descida que leva ao fundo do vale, chamado, o morro

das quatorze voltas, conhecido por ser tortuoso e íngreme, for


mado de barrancos e atoleiros de horrendo aspecto ^^7) ^

^156^Relatõrio do Presidente da Província de Santa Catarina, Vicente Pires


da Mota, 1862. p.26.
(157)ReiatcJrio do Presidente da Província de Santa Catarina, Pedro Leitão
da Cunha, 1863. p.28. Cabe ainda dizer que o viajante, para chegar
à vila no fundo do vale, descendo o "Caminho das 14 voltas", tinha a
sua direita, o borbulhão contínuo das águas do arroio que, no futuro,
vai ser conhecido como o arroio do Morro da Gruta. Nos primeiros anos
abriu-se a estrada nova, atual estrada que leva a Angelina, abandonan
do-se as antigas "14 voltas", com aproximadamente 2 0 0 metros de altu—
ra. No entanto, coincidencia ou não, no lugar-das- antigas "14 voltas",
45 anos depois da fundação da Colônia, foram feitas outras 14 voltas
que levam os fiéis ao Morro da Gruta contemplando as estações da Via-
Sacra. Confira SCHMITT, Op.cit., p.5-25.
73

A lista de contratação para a abertura, melhoramentos e

conservação de estradas é interminável. Já em julho de 1862 foi

contratado, Adriano Machado da Luz, para abrir um caminho na

Colónia, desde o morador Pedro Waltrich, até o lugar denomina­

do "Barro B r a n c o " . Pelas informações que temos, esse tra­

balho se estendeu até o final do ano de 1863. No ano seguinte,


1864, fizeram-se na estrada nova da Colónia para São Pedro de
Alcântara e ao litoral, rumo â Capital, segundo dados que te­

mos: "528 braças e 3 palmos de extensão, com 20 palmos de lar­


gura, toda de cava de 8 a 14 palmos, com 3 pontilhões " ^ .
Ainda, em 1864, fizeram-se consertos nas estradas e caminhos,

como cavas, estivas e pontes arruinadas, entre os quais uma


para evitar as enchentes do rio Mundéus que inundava parte des
se caminho, na extensão de 30 palmos, além de outro caminho,
todo novo, na extensão de 54 braças e 6 p a l m o s ^ ^ . Cabe, to­
davia, observar que as medidas acima mencionadas, para a épo­

ca ^representavam muito, uma vez que, na maioria das vezes, o

trabalho era feito pelos colonos e tendo como ferramentas prin

cipais a enxada, a picareta e a foice.

0 ano de 1866 começou com um violento temporal, entre os


dias 29 a 31 de janeiro, que causaram muitos estragos nas es­

tradas e caminhos da Colónia. "O maior estrago foi na estrada

do morro de quatorze voltas, parte deste morro desmoronou, fi­

cando entulhada a e s t r a d a " . Na mesma estrada um outro tre

Registro de correspondência do Presidente da Província de Santa Catar_i


na, Vicente Pires da Mota, ao Diretor da Colonia Nacional Angelina, em
9 de julho de 1862.
(159)Reiat¿rio do Presidente da Província de Santa Catarina, o Doutor Ale­
xandre Rodrigues da Silva Chaves, 1865. p. 34.
(160)Reiat¿rio do Presidente da Província de Santa Catarina, Doutor Alexan­
dre Rodrigues da Silva Chaves, 1865. p.35.
(161)ofício no 242, de 06 de fevereiro de 1866, do Diretor da Colônia ao
Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Adolpho de Barros Ca­
valcanti d ’Albuquerque Lacerda.
74

cho também reclamava atenção da Colônia. Desta vez era um peda

ço de caminho que ficava além dos moradores do vale do rio Ma-

ruhy, entre o último morador, Pedro Waltrick, e o morro deno­

minado das Congonhas, numa extensão de 165 braças mais ou me-


nos ^ ^ ^ . Pelas informações que temos as maiores obras do Di­
retor, Othon Carlos Schlappal, consistiram em melhorar as es­
tradas, pois, em 186 6 , numa extensão de 9 léguas, seguindo da
Colônia em direção ã Capital, aquele trecho já tinha melhorado
consideravelmente.

Em seu Relatório do ano de 1867, o Presidente da Provín­

cia reconheceu a necessidade de se abrir na Colônia novos ca­

minhos que fizessem a ligação com mercados mais próximos que


o da Capital. Pois, até então, os colonos eram forçados a tra­
zer seus produtos ao mercado da cidade do Desterro, percorren­
do distâncias de 7 a 8 léguas de mau caminho, empregando ani­
mais que carregavam cinco arrobas. Os fretes do transporte e-

ram, geralmente, de 50 0 réis por arroba até a Praia Comprida,

e dali, em lancha, pára a Capital, mais 80 réis, de sorte que


o produtor pagava 2$900 réis de frete pela carga de um ani-
mal*163). E, no entender do Presidente a Colônia necessitava
de: 19) Conclusão e aperfeiçoamento do caminho previsto para

ligar Tijucas Grande ou Garcia, até o lugar denominado Major;


29) Abertura da antiga estrada de Lages, desde a Colônia até

o encontro com a nova, nas Taquaras; 39) Melhoramento da es­

trada entre a Colônia e a cidade de São José, passando por São

Pedro de Alcântara.

A partir de 1870 os cofres públicos passam por grandes

(162)q££cío no 257, datado do Desterro, a 8 de junho de 1866. Idem, Idem.


(163)Reiat¿rio do Presidente da Província de Santa Catarina, Adolpho de
Barros Cavalcanti de Alburquerque Lacerda, 1867. p.13 e 14.
75

dificuldades e se achavam esgotadas as verbas para muitas o-


bras de grande utilidade para a Colônia ^ a partir do

ano seguinte, 1871, os consertos e obras urgentes eram unica­


mente determinados pela Presidência da Província, cabendo,ape­

nas , ao Diretor da Colônia comunicar as obras e reparos mais

necessários. Ainda mais, toda e qualquer obra, "sõ seria feita

com plano e orçamento" , prévio, convidando-se os concor­


rentes a apresentar propostas fechadas, remetidas â Presidên­

cia da Província. Entretanto, muitos consertos deixaram de ser


feitos no trecho compreendido entre a Colônia e o Município

de São José.

-Ao final de 1875, começou a ser estudada uma proposta pe­


lo Agrimensor Frederico Von Schôler, com planta e orçamento de
uma estrada a partir da Várzea dos Pinheiros, até a Colônia,
(16 6 )
evitando o morro das quatorze voltas . Os trabalhos dessa
obra foram orçadas em 5:820$000 réis. Em maio do ano seguinte,
1876, foram iniciados aqueles trabalhos, e, em 1877, achava-se

pronta uma distância de 4.125 metros. Um dos maiores entraves

que muito prejudicou a Colônia Nacional Angelina até a sua

emancipação e durante muitos anos depois, até a quarta década

do nosso século, foi, sem dúvida, as suas precárias vias de

comunicação.■

A principal ligação de Angelina com a capital, continuou

a mesma, com pequenas alterações, é a que passa pela Vargem dos

(164)Registro correspondência do Presidente da Província de Santa Catar^


na, Francisco Ferreira Corrêa, ao Diretor da Colônia Nacional Angfelina,
em 30 de maio de 1870.
^^"^Registro de correspondência do Presidente da Província de Santa Catari^
na, Joaquim Bandeira de Gouvêa, ao Diretor da Colonia Nacional Angel i^
na, em 11 de março de 1871.
(166)Correspondência do Presidente da Província de Santa Catarina, ao Dire­
tor da Colônia Nacional Angelina, em 15 de novembro de 1875.
76

Pinheiros, Barro Branco, Santa Filomena, São Pedro de Alcânta­

ra, Colônia Santa Tereza, Santa Ana, saindo em São José tocan­

do a BR-101. Somente oito décadas apôs a sua fundação, quatro

no século passado e quatro neste, foi o tempo de espera, para


que Angelina tivesse melhores vias de comunicação. Por um fe­

liz acaso foram concretizados os planos do Governo do Estado


de construir em Angelina uma usina elétrica sobre o rio Gar­
cia. Como a execução de tal plano implicava em grande movimen^
tação de materiais e homens vindos do litoral, a estrada Ange-

lina-Florianópolis foi preparada para receber o tráfego mais


pesado. Porém, a espera foi longa, pois a Usina de Garcia, com
9.600 kws de potência, só foi inaugurada em 196 2, um ano após

a criação do Município de A n g e l i n a ^ ^ . Nessa época, o seu


desenvolvimento já estava comprometido definitivamente.

2.6.3.2. Angelina - Lages

Ao se localizar a Colônia próxima ã antiga estrada de La­

ges pretendeu fazer-se dela um importante centro de comércio.

Em função dessa idéia a estrada que fazia a ligação com L a g e s ,

jã no início, mereceu um cuidado especial na sua conservação.

Também, a abertura de uma estrada que fosse ao lugar denomina­

do "Taquaras", onde a estrada velha de Lages encontra a nova

poderia facilitar o Comércio da r e g i ã o . por essa razão,

desde o início, o Presidente da Província autorizou o Diretor

da Colônia a coordenar aqueles trabalhos que na sua maioria e-


/
ram feitos pelos colonos residentes próximos ao trecho da dita

estrada. Desta forma, os problemas com a estrada velha de La­

^1 6 7 ^SCHMITT, Elizeário. Nossa Senhora de Angelina - 1902-1977. Curitiba:


Impressora Paranaense, 1977. p.29.
^168^0 Mercantil, Jornal da Província de Santa Catharina, Anno II, n? 121,
Março de 1862. p.l.
77

ges são assuntos diários na administração da Colônia Nacional

Angelina. Como, por exemplo, foram entregues para o uso dos


trabalhadores, mantimentos, que se deterioram. Entretanto, o
pagamento oferecido pelo trabalho não interessava aos colonos,

visto ser um "jornal" de $500 réis por dia. E o Encarregado da

Direção da Colônia consultou a Presidência da Província pro­

pondo um pagamento de 50$000 réis, mensais, haja vista ser a


estrada de grande interesse para a Colônia(-^9)^

Assim, a partir de 8 de fevereiro de 1864, passaram os

gastos a ser mensais na abertura da estrada velha para Lages,


na importância de 50$000 réis. Conforme a autorização da Pre­

sidência da Província, da mesma data, é concedido um aumento

de 100$000 réis mensais nos gastos de tal obra. Relativamente


ao ano de 1864 foi gasta nessa estrada a importância de .....
331$250 réis^170^. Contudo, neste mesmo ano a estrada velha
para Lages achava-se já aberta para o trânsito dos tropeiros
que diariamente passavam por esta Colônia, numa extensão de
7.786 braças da sede da Colônia até T a q u a r a s , onde a es­

trada velha encontra a do Cubatão.

Mais tarde, quando assumiu a direção da Colônia o Dire­


tor, Joaquim José de Souza Corcoroca, em seu relatório, no fi­

nal do ano de 1869, achou a estrada intransitável. Desta vez,

novamente, os colonos prestaram seus serviços, mais que antes,

(169)0f£c£0 n9 123, de 8 de fevereiro de 1864, do Diretor da Colonia Nacio­


nal Angelina, ao 19 Vice-Presidente da Província de Santa Catarina, o
Comendador Francisco José d'Oliveira.
(170)offeio n9 172, de 05 de janeiro de 1865, do Encarregado da Direção da
Colônia Nacional Angelina ao Presidente da Província, Dr. Alexandre
Rodrigues da Silva Chaves.
^171^Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Alexandre
Rodrigues da Silva Chaves, 1865. p.34.
78

"animados (...), a convite do Diretor gratuitamente, com seis

dias de serviço" (172) , pagos por cada chefe de família. Mais

uma vez fica evidente a preocupação pela conservação dessa es­

trada pela vantagem e conveniência que traz a prosperidade dejs

ta colônia. Assim, com freqüência era roçada e consertada essa

estrada como única maneira de preservar a colônia dentro da ro


ta comercial. Mas, apesar do esforço, isso não foi possível e
o fracasso foi inevitável, abalando o comércio da região.

Todavia, bem sabemos, que a ligação de Angelina com Taqua


ras, na visão das autoridades governamentais era de maior con­
veniência, uma vez que os tropeiros ao se dirigirem ao Norte

da Província obrigatoriamente passariam pela Colônia, para de­


pois atingir Itajaí ou São José^"^^. Mas, infelizmente, essa

estrada, e com ela, conseqüentemente também a colônia, tiveram


o seu futuro ameaçado, quando, a estrada das Caldas da Impera­
triz, sobre Santo Amaro a Taquaras, foi aberta a tropas, dei­
xando a variante Angelina - Florianópolis bem menos usada. Es­

se fato comprometeu definitivamente o futuro da Colônia. Com

pequenas modificações a ligação ê a mesma que permanece atin­


gindo respectivamente Rio Bonito e Rancho Queimado, encontran­
do a rodovia Florianópolis - Taquaras - Lages. Portanto, Ange­
lina ficando definitivamente localizada fora da principal rota
econômica o seu desenvolvimento não foi aquele que se esperava.

Eis, aqui, outra razão para o seu fracasso.

^^^Anexo do Relatório do Vice-Presidente da Província de Santa Catarina,


Dr. Manoel do Nascimento da Fonseca Galvão, 1870. p.17.
^^"^Fala do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. João Tomé da
Silva, 1875. p.104.
79

2.6.3.3. Angelina - Tijucas

Ainda em 1862 o Presidente da Provincia de Santa Catarina

viu a necessidade de abrir um caminho em direção a Tijucas, a


fim de facilitar o transporte da produção que era crescen-

t e ^ ^ 4^. Dois anos depois, conforme dados de 1864, naquele ano


conclui-se 2.684 braças e 3 palmos, com 252 braças de caminho

de cava, e oito pontilhões. Somando este serviço com o dos anos


anteriores chega-se a um total de 8.814 braças e 3 palmos li­
neares de "Galvão", "Leitão da Cunha", "Chaves" e a comunica­
ção com o Alto Tijucas (-^5). Esse cainho também era de grande

interesse para a colônia, tendo em vista que por ali passaria

todo o transporte do gado comercializado com S. Pedro do Sul


e a vizinha província do Paraná, além do intercâmbio comercial

entre esta e aquela povoação.

Em 1867 conclui-se mais uma grande etapa do caminho que


dá acesso aos primeiros moradores do Alto Tijucas Grande, no
lugar chamado ribeirão do Major, cujo trabalho foi feito por
contrato com José Joaquim Soares de Abreu, numa extensão de
3.382 braças. Mas, o Diretor da Colônia ao receber a obra cons

tatou, após examinar os trabalhos, que a extensão da estrada


era somente de 3.202 braças, além disso, os trabalhos não ti­
nham ficado conforme o combinado. Inicialmente, o serviço im­

portava a quantia de 500$800 réis, porém com os problemas en­

contrados o Diretor propôs o pagamento de 400$000 réis Po

(174)c a b r a l 5 Osvaldo R. História de Santa Catarina. Florianópolis: Edite)


ra Laudes, 1970. p.237.
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Alexandre
Rodrigues da Silva Chaves, 1865. p.34.
Ofício n? 22, de 19 de maio de 1867, do Diretor da Colônia Nacional
Angelina ao Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Adolpho de
Barros Cavalcanti de Alburquerque Lacerda.
80

dia-se percorrer essa distância entre a sede da Colônia e os

moradores do Alto Tijucas em seis horas aproximadamente. Mas

já.se pensava em abrir o caminho mais adiante até atingir o es

tabelecimento dos Italianos (Nova Itália), para dali encontrar

a estrada dos moradores de Tijucas Grande que liga a estrada

para o Norte e Sul da Província. Naquele mesmo ano, 1867, o


Presidente da Província autorizou a fazer o caminjo do Major

até os "italianos", cujò traçado seria pela margem direita sem

precisar atravessar o rio Tijucas Grande. Esta estrada teria


a extensão de aproximadamente 3.500 b r a ç a s .

Entretanto, ao final de 1867 estava terminada a estrada


do Alto Tijucas Grande, desde o lugar do "Major" até o estabe­
lecimento dos "Italianos". Na verdade, a estrada aberta desde
o ribéirão dos Mundéus, até o estabelecimento dos Italianos,
no Alto Tijucas Grande, pelos relatórios da Presidência da Pro
(178 )
víncia teve a extensão de 32.504,45 metros' . Por outro la­
do, já se pensava em fazer a ligação dessa estrada com a Colô­

nia Príncipe D. Pedro, cujos trabalhos já vinham sendo execu­


tados naquela Colônia em direção ao Tijucas Grande. Assim,pois,

Angelina ficaria em relação direta com os colonos de Itajaí.

Mas, se por um lado, já havia a ligação com o Alto Tiju­

cas Grande, por outro lado, era necessário conservar essa es­
trada e ampliar essa comunicação, pois os lotes nessa direção
eram férteis e muito procurados (179) . Além do mais, em 1868,

portanto, um ano após, a picada aberta em direção ao referido

^ ^ O f í c i o n? 27, de 14 de junho de 1867, Idem, Idem. Confira também Ofí­


cio n9 29 de 15 de julho de 1867, Idem, Idem.
(178)Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Adolpho de
Barros Cavalcanti de Alburquerque Lacerda, 1868. p.23.
(179^Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Carlos Aii
gusto Ferraz de Abreu, 1869. p.23.
81

lugar já se achava completamente inutilizada. Em 1871 concluí­

ram-se 300 braças de caminho pela margem direita do Rio Garcia.

Achando-se por concluir o caminho de desvio do morro de Santa

Ana, contornando o rio Tijucas até o ribeirão do Major, limite


da Colônia* 180 *.

Assim, até a emancipação da Colônia estão sempre presen­


tes os pedidos de conservação e abertura dos caminhos colo­
niais. São muitos os pedidos por melhores caminhos que dessem

saída tanto para Biguaçu quanto para Tijucas, visto que nem
todos os colonos podiam procurar o mercado de São J o s é ^ 8^.Por
sua vez, a Colônia Angelina prolongava-se muito para o Norte

e sem uma boa comunicação naquela direção, certamente, teria


que retroceder ao Sul, em direção a São José, o que faria a
colônia ressentir-se por falta de um mercado mais próximo. En­

fim, só bem mais tarde, no nosso século, é que pode ser aberta
uma comunicação melhor, descendo o morro do Garcia, atravessan
do a cidade de Major Gercino até São João Batista, dali em di­
reção à opcional Tijucas (BR-101), ou a Nova Trento e Brusque,
atingindo em Gaspar o asfalto da Jorge Lacerda.

2.6.4. Problemas Médico-Sanitários

Durante os primeiros três anos, os habitantes da colônia

ficaram em completo abandono. Em junho, de 1864, o Encarregado

da Direção da Colônia, pediu a primeira relação de medicamen­

tos, orçada em 14$000 réis, para administrar aos colonos doen­

tes, o que lhe foi autorizado pelo Presidente da Província de

(180)Reiat¿rio do Vice-Presidente da Província de Santa Catarina, Guilherme


Cordeiro Coelho Cintra, 1872. p.38.
^ ® ^ F a l a do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Antonio de Al­
meida Oliveira, 1880. p.49.
82

/100)
Santa Catarina . E, era setembro do mesmo ano, chegaram

"três caixas de medicamentos", sendo que o seu transporte teve


(18 3 )
que ser pago pelo Diretor da Colônia .

Em 1865, o Diretor da Colônia faz dois pedidos, para com-,


prar medicamentos, um em fevereiro e outro em setembro, ambos
no valor de vinte mil réis, para tratar dos colonos doentes
As doenças mais comuns da época eram infecções gástricas, pul­
monares, sarampo, bexigas, câmeras de sangue, além de outras
de caráter epidêmico . No ano seguinte, 1866, as despesas

com medicamentos passaram para 33$250 réis, pois alguns colo­

nos foram atacados por bexigas.

0 primeiro médico-sanitário passa a ter maior importância


quando, em sua gestão, o Dr. Manoel Antônio Marques de Faria,
pressiona o Presidente da Província, para liberar dinhéiro pa­
ra a compra de medicamentos . Pois, em vista do estado de

pobreza dos colonos, e, por haver um médico na colônia, convi­

nha atender melhor os doentes. A Presidência da Província au­


torizou a compra de medicamentos; então, o Diretor da Colônia
propôs que fosse contratado um farmacéutico para fornecer aos

doentes os medicamentos por ele receitados, na sua condição

(182) Ofício n9 137, datado, na cidade de Desterro, a 6 de junho de 1864,do


Encarregado da Direção da Colônia, ao Presidente da Província de San­
ta Catarina, Dr. Alexandre Rodrigues da Silva Chaves.
(183)of£cios no 158, de 26 de setembro de 1864, do Encarregado da Direção
da Colônia ao Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Alexan-
dre Rodrigues da Silva Chaves.
(184)ofíc£os n9 181 de 24 de fevereiro de 1865, do Encarregado da Direção
da Colonia ao Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Alexan
dre Rodrigues da Silva Chaves.
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Alexandre
Rodrigues da Silva Chaves, 1865. p.12.
(186)0fício s/n?, de 21 de janeiro de 1869, do Diretor da Colônia, Dr. Ma­
noel Antônio Marques de Faria áo Departamento da Província de Santa
Catarina, Dr. Carlos Augusto Ferraz de Abreu.
83

/1 8 7 \
de médico, mediante uma quantia de 30$000 réis mensais .Mas

desta vez o farmacêutico não foi contratado.

Enquanto isso a Direção da Colônia tentava solucionar


os problemas da forma que melhor convinha. Os colonos, por sua

vez, sem assistência médica, sem uma botica para fornecer me­
dicamentos, quando adoeciam, morriam completamente desampara­
dos. Em março de 1875, o Diretor da Colônia, Gaspar Xavier Ne­

ves, solicita do Presidente da Província, para adquirir junto


ao Governo Imperial, uma botica completa, para, ao menos, se­
rem os colonos socorridos com alguns medicamentos.

Por Portaria de 26 de maio de 1875 foi o Doutor Martinho

Leocádio Cordeiro nomeado médico da Colônia, tendo entrado em


exercício em junho do mesmo ano. Entretanto, a sua nomeação e
chegada â Colônia significam novos problemas para a adminis­
tração daquela comunidade carente, porquanto, questões como
estas não tinham sido ainda analisadas: 19) Como fazer chegar

até a colônia a botica completa que fora doada pelo Governo


Geral? 29) Onde e como instalar essa botica? 39) Certamente
também seria necessária uma casa para residência do médico e
(188)
da sua família? Para a época tudo parecia muito difícil
Além disso, também, o médico, precisava de cavalgadura, para
visitas clínicas aos domicílios dos colonos doentes. Mas os

seus pedidos não pararam por aí, pois, o médico, ao que pare­

ce, era. muito exigente.

0 Diretor da Colônia pagou as despesas da condução da bo-

(187)ç)f£cio s/n9, de 02 de março de 1869, do Diretor da Colônia, Dr. Ma­


noel Antônio Marques de Faria ao Presidente da Província de Santa Ca­
tarina, Dr. Carlos Augusto Ferraz de Abreu.
(188)of£cío g/n9, de.26 de- junho de 1875, do Diretor da Colônia, Gaspar
Xavier Neves, ao Presidente da Província de Santa Catarina, o Tenente
Coronel Luiz Ferreira do Nascimento e Mello.
84

tica da Praia Comprida até a colonia, mandou reparar a casa de

residencia e entrou com o aluguel do mês de julho, atingindo a


- Í189)
importância de 75$300 réis . Aos poucos, todavia, as intri.
gas entre o Diretor da Colônia e o médico evidenciam-se nas
correspondências que o Diretor da Colônia manteve com a Presi­

dência da P r o v í n c i a . O médico é acusado pelo Diretor da


Colônia de cobrar da população, que na sua grande maioria é
pobre, de forma abusiva, pelo atendimento aos doentes. Em car­

ta a um cliente o médico explica que a cobrança pecuniária pe­


los serviços prestados é de sua propriedade, garantida pelo
Governo Imperial, do qual ele é funcionário de confiança ^ ,

A situação agrava-se ainda mais pela falta de um lugar


para a botica. Desta forma, vai, pouco a pouco, caindo o nível
das discussões, entre o Diretor e o Médico. Até que o Diretor
da Colônia reuniu documentação suficiente para incriminar o

médico, e, junto â Presidência da Província, entrou com sua


representação, eximindo-se de culpa e acusando o médico, Dr.
Martim Leocádio Cordeiro (192 ). O Diretor, em sua defesa, con­

testou dados do Mapa Estatístico dos enfermos da colônia,apre­


sentado pelo médico ã Presidência da Província e defendeu-se
das acusações que questionavam a validade da colônia enquanto

instrumento político-social e econômico, em documento do se­

guinte teor :

0 estabelecimento, a subsistincia e o destino dos colonos


se ressente da inépcia, indiferença, desprezo, inércia e

Ofício s/n9, de 02 de agosto de 1875, do Diretor da Colônia, Gaspar


Xavier Neves, ao Presidente da Província de Santa Catarina,, o Tenente
Coronel Luiz Ferreira do Nascimento e Mello.
(190)of£cio s/no de 02 de agosto de 1875, Idem, Idem.
^ ^ C a r t a de 19 de setembro de 1875, do Médico, Doutor Martim Leocádio
Cordeiro, ao Sr. Júlio Probst.
(192)0fício §/rx9, de 12 de outubro de 1875, do Diretor da Colônia, Gaspar
Xavier Neves ao Presidente, Doutor João Capistrano Bandeira de Mello
Filho.
85

inaptidão dos diretores que tem tido esta colônia, os


quais (com vantajosos ordenados, e outros proventos,re­
galias, e privilégios d'este cargo), dominando-os e hu­
milhando-os com ameaças e pelo terror, sem atender as
suas queixas e reclamações só tem visado o interesse
pecuniário, a supremacia e a arrogância que lhes pro­
porciona a administração de serviços materiais de es­
tradas, caminhos, picadas e outros fantasiados melhora­
mentos e o fornecimento de conduções, comestíveis e fer
ramentais aos recém-chegados, para depois abandoná-los
em suas situações, muitas vezes mal escolhidas, o que
os obriga a justas reclamações futuras.(193)

0 mesmo documento conclui dizendo que se a Colônia, tive£

se tido desde o início da sua fundação, em 1860, um merecido


diretor, o Governo teria conseguido para o Estado, as vanta­
gens que esperava, "sem ter sido preciso recorrer ã importação
de colonos europeus, com o fim e intenção de servirem eles de
modelo e estimulo aos brasileiros" (194) . Pois, o colono nacio­
nal, pode, perfeitamente, desempenhar o mesmo papel, desde que

auxiliado da mesma forma.

Em 23 de outubro de 1875, às 8 horas da manhã retirou-se


da Colônia Nacional Angelina o médico Dr. Martim Leocádio Cor-
- (195)
deiro, "sem a menor comunicação a esta Direção" . Quando
já estava longe, na Várzea Grande distrito da Freguesia de San
to Amaro do Cubatão, o médico enviou ao Diretor material que
u
estava em seu poder, menos a chave da casa em que residia (196>

Para substituir o Dr. Martim Leocádio Cordeiro, exonerado

por portaria do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras


Públicas, de 21 de outubro de 1875 (dois dias antes de sair da

(193)0f£cio s/n9,.de 22 de outubro de 1875, do Diretor da Colônia, Gaspar


Xavier Neves, ao Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. João
Capistrano Bandeira de Mello Filho.
(194)ofíci0i Op.cit.

(195)0fíc£o s/n9, de 23 de outubro de 1875, do Diretor da Colônia, _ Gaspar


Xavier Neves, ao Presidente da Província de Santa Catarina, João Ca­
pistrano Bandeira de Mello Filho.
(196)0fício s/no de 28 de outubro de 1875, Idem, Idem.
86

Colonia), foi nomeado o Dr. Antonio José Sarmento e Mello. Con

tratado, mediante o vencimento anual de 3:600$000 réis, em da­

ta de 5 de janeiro de 1876, aprovada essa contratação por Avi-

so de 21 de janeiro de 1876, do Governo Imperial (19 7 ). Na mes­


ma data, foi, também, contratado o farmacéutico Francisco José
Correia Beinhard, para prestar serviços de sua profissão e ser
vir como professor.

0 Dr. Antonio José Sarmento e Mello apresentou-se ã Dire­


ção da Colonia na manhã do dia 18 de janeiro de 1875, para ali
iniciar os seus t r a b a l h o s ^. jã, de início, solicitou remé-

dios para a farmácia, tais como: "mostarda em grão, óleo de


ricino, manná, ether sulphirico, senna, pomada, unguento de
basiliçao" (199) . Havendo, tambem, necessidade de uma residen­
cia para o médico e instalação para a botica, o Diretor da Co­
lonia, Gaspar Xavier Neves, mandou fazer uma casa com 7 metros
de frente, com 5,28 metros de fundos, coberta de palha, com os
cômodos necessários para o médico e a instalação da botica^00) ^

O médico, por determinação do Ministério da Agricultura,


Comércio e Obras Públicas, no cumprimento de seu ofício, por

intermédio da Direção da Colônia, remetia aos órgãos superio­


res o "mapa estatístico patológico das doenças tratadas"(201).

De forma insistente, pedia mais e mais medicamentos. Estava


muito atento às possibilidades de uma epidemia de varíola, pa­

ra o que requisitava: "algum fluído vacínico, que deveria vir

^ ^ F a l a do Presidente da Província de Santa Catarina, João Capistrano


Bandeira de Mello Filho, 1876. p.92.
(198)ofício s/n9, de 18 de janeiro, do Diretor da Colônia, Gaspar Xavier
Neves, ao Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. João Capis­
trano Bandeira de Mello Filho.
(199)of£cio s/n9, de 31 de janeiro de 1876, Idem, Idem.
(200)ofício s/n?, de 31 de janeiro de 1876, Idem, Idem.
(2 0 1 )0fício s/n9, de 27 de abril de 1876, Idem, Idem.
87

em tubos capilares, sendo preciso também, que venham algumas


lâminas e tubos vazios"(202)^

Eis que surge na Colônia, no ano de 1878, uma epidemia

de "câmaras de sangue", para a qual o médico requisita: "polpa


de tamarindos", "maná comum", "serpentina de Virgínia", "óleo
de rícino purificado", "óleo d'amendoas doces", "Tinctura The-
baica (concentrada)", "Tinctura de catto", "laudano líquido de
Sydenham", "Tinctura de camomila", "sementes de marmellos","mar
celia Gallega (nova)", "mostarda", "magnésia fluída de Mur

ray's", "assucar refinado de 1^ qualidade (em lata)", e "vinho

do porto" (203) . Sabe-se que os remedios


- - Colonia, po
chegaram a
rém a epidemia atingiu grandes proporções e grassava ã popula
ção. Mas, no início de 1879, a doença que fora trazida do Rio
de Janeiro através de um navio e atingindo diversos pontos da:

Província, já estava sob controle .

A 18 de fevereiro de 1879 o médico, Dr. Antônio José Sar

mento e Mello, deixou a Colônia Nacional Angelina, inconforman­


do, por haver o Governo Imperial reduzido a duzentos mil réis
a gratificação de trezentos mil réis mensais, que recebia pe­
los seus serviços^ 0 5 )^ A fevereiro de 1879, o farmacêu­

tico, José Corrêa Reinhardt, também, há havia deixado a Colô­

nia. Sendo que em 24 do mesmo mês foi contratado, Joaquim Cae­

tano da Silva, para exercer, cumulativamente, as funções de

(202)
Oficio s/n9, de 12 de agosto de 1876, Idem, Idem.
(203) Oficio s/n9 de 27 de março de 1878, do Diretor da Colonia,
- . Jose- CandjL
do Duarte Silva, ao Presidente da Provincia de Santa Catarina, . Dr.
Joaquim da Silva Ramalho.
(204)Reiat¿rio do Vice-Presidente da Provincia de Santa Catarina, Joaquim
José da Silva Ramalho, 1878. p.9.
(205)of£cio n9 48, de 18 de fevereiro de 1879, do Diretor da Colônia, Al^
berto d'Aquino Fonseca, ao Presidente da Província de Santa Catarina,
Dr. Joaquim da Silva Ramalho.
88

farmacêutico e professor p úblico*^^. E, pelo que sabemos, a

Colônia ficou sem médico. Pois as coisas se agravaram e o pró­


prio farmacêutico fazia as visitas médicas aos colonos, o que

lhe traz aumento considerável de trabalho, como também aumento

de despesas, fato que o levou a pedir equiparação de vencimen-


(207)
tos aos demais farmacéuticos das Colonias do Estado . Mas

o seu pedido foi indeferido.

(206)Reiat^rio do Vice-Presidente da Província de Santa Catarina, Antônio


D*Almeida Oliveira, 1879. p.25.
(207)of£cio no 7 9 ^ de 3 ¿e junho de 1879, do Diretor da Colonia, Alberto
d'Aquino Fonseca, ao Presidente da Província, Dr. Antônio de Almeida
Oliveira.
CAPÍTULO III

EVOLUÇÃO religiosa -a d m i n i s t r a t i v a de

ANGELINA 1882-1950

3.1. A Emancipação Política

Antes mesmo da emancipação da Colônia Nacional Angelina,


processam-se alguns atos administrativos que merecem destaque
pela sua importância. A integração da Colônia, na vida comum
da então Província de Santa Catarina, não é um ato isolado,mas
é fruto de medidas administrativas tomadas antes, durante e

depois da sua emancipação.

Já em 1867, o Diretor da Colônia, Carlos Othon Schlappal,

vê a necessidade da criação de uma subdelegacia de p o l í c i a .

E argumenta junto ao Presidente da Província de Santa Catarina

que tal ato é importante para a colônia, "visto achar-se esta

distante das autoridades policiais para recorrer as mesmas em

qualquer ocasiao precisa..." ( 2 ) . Apos o assunto ser submetido

a estudo foi criada a subdelegacia de polícia e cujo titular

^^Ofício n9 50, de 21 de novembro de 1867, do Diretor da Colônia ao Pre­


sidente da Província, Dr. Adolpho de Barros Cavalcanti -de Albuquer­
que Lacerda.
(2 ) ,. .
Oficio. Op.çit.
90

nomeado foi o colono Joaquim Francisco Silveira, que, em nada,

agradou o Diretor da Colonia (3 ) . Os limites marcados para o

distrito da subdelegacia de policia foram: pelo Este a Colonia

confinava com o distrito de São Pedro d 1Alcántara extremando

com os moradores Pedro Waltrich e Adriano Machado da Luz; pelo

Oeste limitava-se com os colonos de Santa Isabel no lugar de­

nominado as Taquaras; pelo sul também confinava a colonia com


os colonos de Santa Isabel, e pelo Norte com os moradores do
Alto Tijucas Grande, no lugar denominado Major.

No ano de 1874 passou a administração da colonia a ser su


bordinada ao Governo Imperial. Neste mesmo ano, pelo Decreto
n9 5.604, de 25 de abril foi instituído o registro civil na

forma de seu artigo 49 incumbia a Direção da Colonia de fazé-


lo (4 ) . Mas, a Cámara Municipal de Sao
~ José, que deveria provi­

denciar os livros próprios para tais registros, não . conseguiu

fazê-lo em tempo hábil.

Em 1880, o Governo Imperial, diante do razoável desen­

volvimento das Colônias e não querendo mais aumentar seus gas­


tos, traça diretrizes, nomeia comissões para fazer levantamen­

to da situação, com a finalidade de em um futuro bem próximo


emancipar todas as colônias do Estado. O Presidente da Provín­
cia de Santa Catarina justifica este ato dizendo que; os cen­

tros coloniais, "... construindo já povoações muito regulares,

tem se animado e progredido tanto, que o Governo Imperial jul-

gou em sua sabedoria (...) o dever de emancipa-las (5) . Desta

forma, entregando-as âs leis comuns do País, pouparia também


(3) . * .
Ofício s/n9, de 10 de março de 1871, do Diretor da Colonia, Joaquim Jose
de Souza Corcoroca, ao Presidente da Província, Dr. Joaquim Bandeira de
Gouvia.
^ O f í c i o s/n9, de 7 de janeiro de 1876, do Diretor da Colônia, Gaspar Xa­
vier Neves, ao Presidente da Província Dr. João Capistrano Bandeira de
Mello Filho.
CHAVES. Falla, 1£81. p.39.
91

as rendas dos Estados. A sua emancipação é fruto do Decreto n9

8.333, de 03 de dezembro de 1881.

Mais tarde, pelo Decreto n? 40,'de 10 de janeiro de 1891,


foi criado o Distrito de paz de Angelina, com os mesmos limi-
(6 i
tes do policial . Em 6 de junho do mesmo ano o juiz de Paz,

Frederico Schustel, pede que lhe sejam fornecidos os livros de


que tratou o artigo 49 do Decreto n9 9.886 de 7 de março de
1888, ou que lhe fossem devolvidos os livros entregues pelo

Estado, e que por emancipação da Colonia foram recolhidos no

arquivo da Thesouraria Geral (7)

O Município de São José, pela sua primitiva extensão, pe­

los núcleos coloniais que se desenvolveram em sua área, deu

origem aos municipios de: Palhoça, em 1894, Angelina, em 1961;


/O \
e Rancho Queimado, 1962 . A partir de então, passou a for-
mar-se o municipio de Angelina, desmembrado de São José, pela
Lei n9 781, de 07 de dezembro e instalado dia 30 do mesmo mês

do ano de 1961. Assim, pois, um século depois da fundação da


Colonia Nacional de Angelina é criado o Municipio.

3.2. Historia da Paróquia de Angelina

Em 1863, segundo o Presidente da Provincia Santa Catarina,

Pedro Leitão da Cunha, "a sede da Colonia contava apenas com

(6 )BOITEUX, José A. Dicionário Histórico e Geográfico do Estado de


Santa Catarina, p.18 e 19.
^ O f icio s/n9 de 06 de junho de 1891, do Juiz de Paz ao Palácio do Governo.
(8 -)0 Município de Palhoça foi criado em 24.04.1894, pela Lei n9 184; 0 Muni­
cipio de Angelina foi criado em 07.12.1961, pela Lei n9 781; e o Munici­
pio de Rancho Queimado foi criado em 08.11.1962, pela Lei n9 850, confira
CABRAL, Osvaldo R. Historia de Santa Catarina, Editora Laudes, 1970. p.
369, 237, 114 e 119.
92

duas ruins casas, das quais uma é um barracaão coberto de pa-


/9 )
lha, que serve de capella" . 0 barrcaao coberto de palha,com

pequenas reformas, serviu de capela provisória durante os pri­

meiros anos. 0 atendimento espiritual é dado pelo Vigário de


São Pedro de Alcântara, Roberto Bucker.

No ano seguinte, o Diretor da Colônia, Carlos Othon Schla

ppal, confirma os trabalhos do Vigário de São Pedro de Alcân


tara e reclama da grande distância entre aquela Freguesia e
esta Colônia, sendo o pároco obrigado, nessas ocasiões, a tra­
zer junto consigo todos os paramentos necessários ã celebra­

ção. Diante desse sacrifício o Diretor da Colônia aconselha


que "... seria de interesse para esta Colônia que o dito padre
recebesse gratificação pelo seu trabalho, e animado assim, po­

deria mais vezes visitar esta Colônia. . Ao mesmo tempo,


também lembra da necessidade de se comprar paramentos para a

capela que até então nada possuía.

Em 04 de maio de 1866, pela lei n9 575, é criado em Ange­


lina o cargo de "Capelão-Cura d'almas", ficando o Vigário de

São Pedro de Alcântara encarregado da "meia capelania", a par­


tir de 19 de outubro de 1866, com um vencimento de 25$000 réis

mensais . Antes, porém, o cargo que além da assistência es­

piritual também incluía a instrução primária ao sexo masculino

na Colônia, ficou vago por alguns meses. Pela insistência do

Diretor da Colônia, e pela gravidade do problema, o Padre Ro-

( 9 ) - . . *•' . • •~
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Pedro Leitão da
Cunha, 1863. p.28.
^10)"Relatório do estado da Colonia Nacional Angelina em 1864", manuscri­
to, sem numeração de página.
^^Coleção das Leis da Província de Santa Catarina, formuladas na sessão
do ano de 1866. p.36-37. Confira também o Registro de Correspondência
do Presidente da Província de Santa Catarina, Adolpho de Barros Caval­
canti d'Albuquerque Lacerda, ao Diretor da Colônia Nacional, em 21 de
agosto de 1866.
93

berto Bucker, da Freguesia de São Pedro de Alcântara, aceitou

a "meia capelania", visitando a colônia não mais que duas ve-


- (1 2 )
zes por mes .

As alfaias e paramentos para o culto da capela são manda­


dos vir da Europa por não "haver semelhantes objetos a venda
n'esta Província" (13 ) . Em fins de setembro de 1867 os objetos
já haviam chegado ã Província e são mandados para a "Capela Cu
rato da Colonia Nacional Angelina" (14) . Entretanto, o Presi­

dente da Província, Adolpho de Barros Cavalcanti de Albuquer­

que Lacerda, em seu Relatório, trata da necessidade "... indis^

pensável de edificar a cappela, pois que, além de ser pouco


decente, acha-se em mau estado o barracão em que se celebram
presentemente os atos do culto d i v i n o " . Fazia-se, portan
to, necessário que a Assembléia Provincial votasse as verbas

para a construção da capela, a fim de que o culto divino fosse

celebrado de forma mais decente.

A planta da obra da capela foi orçada em 4:838$000 réis^\

Em fevereiro de 1868, era remetida a "planta do projeto" para


a construção da capela e o seu respectivo orçamento, ao que, o

Presidente da Província, aprovou a planta e orçamento, porém,


o que é mais importante, faltava a Assembléia Provincial "de-

(1 2 ) .
Ofício n9 270, de 12 de agosto de 1866, do Diretor da Colonia ao Presi­
dente da Província, Dr. Adolpho de Barros Cavalcanti de Albuquerque La­
cerda.
(13) - .
Oficio n9 279, de 3 de outubro de 1866, do Diretor da Colonia ao Presi­
dente da Província, Dr. Adolpho de Barros Cavalcanti de Albuquerque La­
cerda.
(14) • ' •
Registro de Correspondencia do Vice-Presidente da Província Santa Cata­
rina, Francisco José de Oliveira, ao Diretor da Colônia Nacional Ange­
lina, em 28 de setembro de 1867.
d-’)Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Adolpho de Bar­
ros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda, 1867. p. 12.
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Adolpho de Bar­
ros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda, 1868. p.23.
94

cretar os necessários fundos" (17) . E, enfim, a Assembleia Pro­

vincial aprovou a construção da capela pela Lei Provincial


n9 605, de 30 de abril de 1868.

A construção da Igreja foi iniciada em julho de 1868. Os

relatos que dão conta do início da construção são bastante mi­


nuciosos. Foram empregados "cavoqueiros e broqueadores para
pedras, e 25 dias de carro para conduzir ao local da obra, os
quais (...) conduzirem 500 carradas de pedra aproximadamente

(...), assim mandei fazer um carretão para pedras de 125 pal-


/TO \
mos cúbicos" . Todavia, o mesmo relato dá conta do que já
foi feito, sendo que os alicerces contam "com oito palmos de

fundos, e cinco de largura, perfazendo o total de 9.640 palmos


cúbicos..." (19 ) . E acrescenta que as despesas com os trabalhos

mencionados montaram na quantia de 278$600 réis. E, ao final


do ano de 1868, o Presidente da Província, confirma a continua
ção dos trabalhos da capela e dá as medidas da planta: "85 pal­

mos de comprimento com 45 de largura tendo as paredes três pal.


mos de e s p e s s u r a " ^ E , pei0 seu balanço, da verba consigna­

da na Lei n9 605 de 30 de abril, orçada em 4:838$000, já ti­

nham gastos 2:000$000. Pela sua conclusão achava que os traba­


lhos deveriam continuar para não se perder os trabalhos á fei­

tos .

Em 1869, ao assumir a Direção da Colônia, Joaquim José de

Souza Corcoroca, lamenta que a construção da capela acha-se com

d^Ofício n9 69, de 05 de fevereiro de 1868, do Diretor da Colônia ao Pre^


sidente da Província de Santa Catarina, Dr. Adolpho de Barros Cavalcan
ti de Albuquerque Lacerda.
(1 R) . —
Ofício s/n9 de 19 de outubro de 1868, do Diretor da Colonia ao 19 Vi-
Presidente, Dr. Carlos da Cerqueira Pinto.
^^Ofício. Op.cit.
^^Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Carlos Au­
gusto Ferraz de Abreu, 1869. p.23.
95

(21)
apenas seis palmos de parede sobre o alicerca . Sabe-se,que

até o final daquele ano, 1869, a capela achava-se com os mes­

mos 6 palmos de parede sobre o alicerce, sendo que a obra fi-


(22)
cou aquele ano parada por falta de materiais . Mas, apesar

das dificuldades, José de Souza Corcoroca promete continuar a

obra.
?
Entretanto, o Diretor da Colonia reclama a presença de um

sacerdote efetivo, visto que o Vigário da Freguesia de São Pe­


dro de Alcántara visita a Colonia apenas urna vez por mês, de-
morando-se então 3 a 4 dias, pelo que recebe urna congrua de
(2 3 )
300$000 réis . Assim, a 21 de abril de 1870, o Padre Rober­
to Bucker pediu exoneração da capelania da Colonia, ao que, o

Diretor da Colonia solicitou ã Presidência da Província que


fosse nomeado outro, "a bem de prestar aqui aos colonos o pos-
(24 )
to espiritual de que carecem todos os dias"

Em março de 1871 a construção da capela já se achava com

13 palmos de altura de "grossa parede", onde deveriam ser prin


(25)
cipiadas "1 0 janelas com 12 palmos de alto e 6 de largo" ,

restando ainda 15 palmos para completar toda a sua altura para


receber o madeiramento e a cobertura. A despesa provável, dali

em diante, naquela obra, estava orçada na importância de ....


4:092$880 réis, sendo que 3:203$650 réis, foram gastos até

(21 )Oficio
, - •
s/n9, de 06 de julho de 1869, do Diretor da Colonia ao Presiden­
te da Província de Santa Catarina, Dr. Carlos Augusto Ferraz da Abreu.
( 22) - -
Anexo do Relatorio do Vice-Presidente da Província de Santa Catarina,Dr.
Manoel do Nascimento da Fonseca Galvão, 1870. p.18 e 19.
(23) - . - -
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Andre Cor­
deiro de Araujo Lima, 1870, p.18.
(24) , - •
Oficio s/n9, de 30 de maio de 1870, do Diretor da Colonia, Joaquim Jose
de Souza Corcoroca, ao Presidente da Província de Santa Catarina, Dr.
Francisco Ferreira Corria.
(25)
Ofício s/n9, de 24 de março de 1871, do Diretor da Colonia ao Presiden­
te da Província de Santa Catarina, Dr. Joaquim Bandeira de Gouvia.
96

abril de 1871, somente com a administração de Joaquim José de

Souza Corcoroca. Sendo que a discriminação das despesas por


semestre foi a seguinte: ( 2 6 )

1869 - junho a setembro 500$000

- outubro a dezembro 499$500


1870 - janeiro a março 499$500
- abril a junho 500$700

- julho a setembro 499$950

- outubro a dezembro 500$000


1871 - janeiro a março 204 $100

Total 3:203$650

Todavia, enquanto tardava sair a obra da Igreja também

eram grandes os clamores dos colonos pela falta de um pároco


(21)
efetivo residente na Colonia . Os casamentos e batizados,

bem como os demais socorros espirituais só eram encontrados nas

outras freguesias. Desde que o Padre Roberto Bucker fora exo­

nerado, em fins de março de 1870, nenhum outro padre passou pe


la Colônia. E, para tais fins, a freguesia mais próxima da

Colônia tinha uma .distância superior a 5 léguas, ligação essa


que era feita por péssimos caminhos, na maioria das vezes com

São Pedro de Alcântara.

No ano de 1874, coube, ao Engenheiro Carlos Moreira de

^^Ofício s/n9, de 11 de abril de 1871, do Diretor da Colônia ao Presiden


te da Província de Santa Catarina, Dr. Joaquim Bandeira de Gouvêa. Ob­
serva-se que ao findar o ano de 1871, a respeito da construção da ca­
pela, a situação é praticamente a mesma do mês de março daquele ano,
quando lê-se que: "A Capella em construção acha-se com 13 palmos de
altura de grossa parede sobre seu alicerce, de cujo respaldo deverão
ser principiados 1 0 janellas com 1 2 palmos de alto e 6 de largo, res­
tando ainda para o respaldo de sua completa altura a receber seu ma­
deiramento 15 palmos. Seu orçamento monta a quantia de R. 4:092$880 pa.
ra sua conclusão". Confira o Relatório da Província de Santa Catarina,
o Dr. Guilherme Cordeiro Coelho Cintra, 1872. p.4.
(27)
Relatorio. Op.cit., p , 6 e 7.
97

Abreu, a pedido da Presidência da Província, de fazer um novo


(28)
orçamento da igreja, que importou em 5:566$708 réis . Mas

nos anos que seguem, 1875 e 1876, o Diretor da Colônia volta a

pressionar a Presidência da Província, que solicita junto ao

Governo Imperial, através do Ministério da Agricultura, a li-

beraçao de recursos para aquela obra (29) . Por sua vez, no ano

de 1877, depois de muita espera, temos um depoimento mais ani­

mador, por onde sabe-se que: a obra da Igreja Matriz "está co­
berta, forrada, assoalhada e rebocadas todas as paredes de

fora, trabalhando-se actualmente na sua t o r r e " . De fato, a


obra segue em ritmo satisfatório.

Portanto, os problemas com a construção da Igreja persis­

tem até o fim da obra. Ora, são problemas com a compra de ti-

jolos "para nao parar" a obra da Igreja (31) ; seguem os proble-


(32)
mas com a condução da cal da "ponte do Imaruhy" , vem a ne-
cessidade "tijolos e ladrilhos" (33 ) , bem como a dificuldade de
se encontrar mão-de-obra (34 ) , em funçao dos baixos salarios pa

gos. Finalmente, em 28 de novembro de 1879, Adalberto Gil Ri­


bas apresenta proposta "para a pintura da Igreja", da Colônia

Nacional Angelina (35 ) . A o emancipar-se a Colonia


- estava pronta

(28)
Ofício s/n9, de 25 de setembro de 1874, do Agrimensor Carlos Moreira
de Abreu, ao Presidente da Província de Santa Catarina.
(29) , . - •
Oficio s/n9, de 7 de janeiro de 1876, do Diretor da Colonia, Gaspar Xá
vier Neves, ao Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. João Ca­
pistrano Bandeira de Mello Filho.
^ ^ F a l a do Presidente da Província de Santa Catarina, José Bento de Araú­
jo, 1877. p.17.
f-íi) _ .

Ofício n9 35, de 17 de janeiro de 1879, do Diretor da Colonia, Alber­


to d'Aquino Fonseca, ao Presidente da Província, Dr. Joaquim da Silva
Ramalho.
^^Ofício n9 37, de 22 de janeiro de 1879, Idem, Idem.
^33W í c i o n9 6 6 , de 23 de abril de 1879,do Diretor da Colônia,Alberto d'A
quino Fonseca,ao Presidente da Província, Dr.Antônio de Álmeira Olivei
sra.
^ sOfício n9 112, de 30 de agosto de 1872, Idem, Idem.
Ofício s/n9, de 28 de novembro de 1879, Idem, Idem.
98

a Igreja Matriz.

Como vimos, pois, o fato é que sobre a construção da pri­

meira Igreja de Angelina, que basicamente vai ser sua primeira


matriz, vieram cair todas as adversidades típicas de obras ofi.
ciais. Orçada pelo próprio Governo em 4:838$000, veio a custar
muito mais, pela falta de material, vindo do litoral, falta de

mão-de-obra, contratada em São José e, enfim, a própria buro­

cracia foi dilatando os prazos. Enquanto isso, o cargo de "Ca­


pe lão-cura d'almas" continuava a ser exercido esporadicamente
pelo pároco de São Pedro de Alcântara, a cuja jurisdição paro-
quial a ex-colônia continuava a pertencer (36) . A situação só
vai ser alterada em 1891, quando em Teresópolis (Queçaba), se
estabeleceram os Padres Franciscanos, que passaram a prestar

a assistência religiosa ao povo da capela de São Carlos Barro-

meu em Angelina.

3.2.1. Paróquia da Imaculada Conceição de Angelina

Como vimos, a partir de 1891, com o estabelecimento dos


Padres Franciscanos em Teresópolis, a pedido de Dom José de
Camargo Barros, Bispo do Paraná e de Santa Catarina, Angelina,

a partir de então, pertence eclesiásticamente ao curato de Te­

resópolis. Durante 30 anos, até a criação da Paróquia em 1921,

os Franciscanos de Teresópolis, ou de Santo Amaro da Impera-


(37)
triz, ou de Sao Jose, cuidaram da religião desse povo . A

^^SCHMITT, Elizeãrio. Nossa Senhora de Angelina, 1902-1977. Curitiba:


Impressora Paranaense, 1977. p.7.
Í17-) - . . .
Em SCHMITT, Elizeãrio. Nossa Senhora de Angelina 1902-1977. Curitiba:
Impressora Paranaense, 1977. p.8 . Ll-se que: a 8 de janeiro de 1899
Frei Bruchardo Sasse benzeu a Capela. E, a 3 de maio de 1902, o mesmo
padre benzeu a nova imagem de São Carlos Barromeu, doada por famílias
do lugar e de Florianópolis, entre os quais se encontram os nomes de
Carlos Hoepcke e do historiador José Bòiteux. Ignoram-se os motivos que
levaram a escolha como padroeiro o santo arcebispo de Milão, do seculo
99

paróquia de Angelina foi criada a 8 de abril de 1921, desmem­

brada da Paróquia de Santo Amaro, pelo decreto episcopal pro­

mulgado pelo segundo Bispo de Santa Catarina, Dom Joaquim Do-

mingues de Oliveira, que no mesmo ano (1921), sucedia o pri­


meiro Bispo de Florianópolis, Dom João Becker, nomeado Arcebijs

po de Porto Alegre (38 ) . Com a criação da paróquia de Angeli­


na os Padres Franciscanos passaram, então, ali a residir. O

primeiro vigário de Angelina foi Frei Gervãsio Kraemer, empojs

sado solenemente pelo então vigário de São Pedro de Alcântara


o cônego Francisco Giesberts, no dia 17 de abril de 1921. O
decreto de nomeação estabelece que a nova paróquia seja deno­
minada "da Imaculada Conceição de Angelina", embora o orago da
Igreja, agora Matriz, continuasse a ser São Carlos Barromeu,
mudando somente com a construção da nova matriz.

A primeira Canônica de Angelina foi uma casa adquirida


pelos frades franciscanos e a Mitra, uma casa particular, per­

to da Igreja. Depois de terem sido apresentadas várias plantas


as autoridades eclesiásticas abandonaram, por algum tempo, a

idéia de se construir logo a nova casa paroquial (39 ) . Ao ser


criada a nova paróquia, possuía esta quatro pequenas comunida­

des. Desde o primeiro momento da sua existência, a paróquia

de Angelina, em momento algum, deixou de ter sacerdotes resi­

dentes, que geralmente eram dois, passando para três quando


o colégio das Irmãs de Angelina começou a ter capelão residen­

te .

XVI. Encontra-se no artigo 39 da Lei Provincial n9 575, de 04 de maio


de 1866, que determinava que da capela "o orago será São Carlos Barrea
meu". E assim ficou durante mais de 80 anos.
(38) Anuário Eclesiástico da Arquidiocese de Florianópolis, 1951. p.29.
(39) . . . .
Congira, I Livro do Tombo da Paroquia de Angelina, p.23.
100

Mais tarde, passados 23 anos da criação da Paróquia, os

padres franciscanos, a 2 de julho de 1944, benzeram a pedra

fundamental da nova matriz. A essa cerimônia compareceram o

Arcebispo Dom Joaquim e o Interventor do Estado, Nereu Ramos.

Em setembro de 1946 começou a demolição da- antiga Igreja, e a

8 de outubro daquele ano foi iniciada a construção da nova


Igreja*4^ . Também, na festa de 8 de dezembro de 1946, a pedi­
do da paróquia de Angelina, o Arcebispo modificou o título da
Igreja, que assim como já anteriormente a paróquia, passou a

denominar-se de "Nossa Senhora da Imaculada Conceição", conti.

nuando São Carlos como segundo padroeiro principal.

A planta da igreja matriz de Angelina foi feita pelo Ar­

quiteto padre Vicente Schmitz, da congregação do Sagrado Cora­


ção de Jesus, o qual na época era vigário de Brusque-SC. Qua­
tro anos depois de benta a pedra fundamental, e ano meio de­

pois de colocada a pedra angular (08/12/1946), a igreja foi


inaugurada em 23 de maio de 1948, na festa da Santíssima Trin­

dade. 0 vigário que do princípio ao fim acompanhou a constru-


çao foi o Frei Joao Vianney Erdrich (41)

Em julho de 1949 foi iniciada a construção da nova casa

paroquial. Trata-se de uma casa espaçosa, de dois pavimentos,


sendo inaugurada, logo depois, a 25 de junho de 1950, ficandò

também responsável pela construção o Frei João Vianney. De fa­

to, como vimos, a história de Angelina tem a marca do sagrado.

Conferir no Arquivo Histórico e Eclesiástico da Arquidiocese de Floria­


nópolis, um Folheto intitulado: "Paróquia de Angelina", p.l.
SCHMITT, Elizeário. Nossa Senhora de Angelina 1902-1977. Curitiba:
Impressora Paranaense, 1977. p.20-21. As dimensões do templo são de
40 X 17 metros, possuindo duas naves laterais, separadas da nave princi^
pal por 1 2 colunas de cimento armado. Os 8 vitrais, representando os
principais passos da vida de Maria, saíram do atelie de Porto Alegre,
da Firma de Eduardo Peucker, executados pelo artista Martin Obermayer.
As duas torres da igreja matriz alcançam 35 metros de altura.
101

Os jovens de Angelina, até hoje, freqüentam todo esse ambien-

te religioso (42) . Em epoca mais recente, a paroquia de Angeli­


na, estende-se também sobre o município de Rancho Queimado,

compreendendo um território que totaliza 865 km2. Essas co­

munidades são marcadas por um ambiente rural, bastante conser­

vador, onde o catolicismo com suas práticas tradicionais per-


• 4. (43) .
manece intacto

3.2.2. A Gruta

A história da Gruta de Angelina tem origem na fé de frei

Zeno Wallbroehl, um profundo devoto de Nossa Senhora de Lour­

des. Em 1897 adoeceu gravemente, sendo tratado em Petrópolis,


Rio de Janeiro, por três médicos que não lhe deram muitas es­
peranças de vida. No hospital, ao tomar água de Lourdes, subi­

tamente, sentiu-se aliviado recuperando aos poucos a saúde.Co­


mo era devoto de Maria, prometeu, em gratidão, promover a de­
voção de Nossa Senhora de Lourdes, em Angelina, por onde pas­
sou anteriormente quando trabalhou em Santa Catarina. Frei Ze­

no, naquele mesmo ano de 1897, voltando a Angelina, em compa

nhia de amigos, conheceu melhor o lugar, e escolheu no alto


da montanha um paredão de pedra por onde as águas faziam a

sua primeira queda, em forma de cascata. Mandou abrir uma pi-

// ry\
0 Arcebispo de Florianópolis, Dom Afonso Niehwes, em visita pastoral
ã Paróquia, em 13 de março de 1975. diz: "Importante nesta paróquia,c£
mo nas outras do interior, é preparar a juventude para que tenha con­
dições de manter a fé e os bons costumes, quando se mudarem para a ci­
dade. A mudança repentina de ambiente perturba a maioria dos jovens, e
os desvia, ao menos temporariamente, dos caminhos da religião". Confi­
ra o Livro do Tombo II. p.60.
// \
A comunidade de Angelina sempre foi atendida espiritualmente pelos pa­
dres franciscanos. Por ela passaram diversos padres. A capela da Imacva
lado Coração de Maria, de Rancho Queimado (hoje Município), sempre pei:
tenceu eclesiásticamente a Paróquia de Angelina. Confira nos Anexos
7.1 a relação dos Vigários da Paróquia de Angelina, e 7.2, as suas Ca­
pelas.
102

cada até o lugar escolhido. Enquanto isso, também, mandou vir

da Europa uma imagem da Santa, igual ã de Lourdes na Fran-


(44)
ça .

A 14 de agosto de 1902, Angelina recebeu a primeira visi­

ta pastoral, feita por D. José de Camargo Barros, ocasião em

que benzeu a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, destinada ã

gruta (45) . A imagem com 1,95 cm de altura foi doada por frei
Zeno Wallbroehl. Como o lugar era de difícil acesso, essa ima­

gem, depois de haver chegado a Angelina, ficou durante cinco


anos na própria igreja do lugar. Mas, mesmo assim, após a bên­
ção da imagem, o Bispo Dom José, acompanhado pelos padres pre­

sentes e pelo povo, subiu o morro para ver o lugar. Na noite

de 15 de agosto de 1902, dia da grande festa, novamente todos


subiram solenemente o morro, e, a partir de então, Angelina
passou a ser considerada "Santuário de Devoção Mariana" .

Apesar do grande fervor religioso daquela comunidade, na

época, não se dispunha de recursos financeiros e técnicas su­

ficientes para abrir um caminho ao público que desse acesso ã-

qúele despenhadeiro. Era impossível uma subida mais cômoda que


não fosse em ziguezague. "Todo o tombador por onde despencam

as sucessivas pequenas cascatas era áspero, muito pedregoso,

semeado de bambus e cipoais, raízes grossas de grandes ãrvo-

(44) - . . . .
SCHMITT, Elizeano. Nossa Senhora de Angelina - 1902-1977. Curitiba:
Impressora Paranaense, 1977. p.10.
(45) - . - . . .
Anuario Eclesiástico da Arquidiocese de Flonanopolis, 1951. p. 29.
Sabe-se que a visita de D. José de Camargo Barros, Bispo do Paraná e
de Santa Catarina, ã ex-Clõnia Nacional Angelina, foi de 3 dias comply
tos. Em 15 de agosto de 1902, oficialmente, teve início em Angelina o
Santuário Mariano. E, portanto, em 15 de agosto de 1977 festeja-se o
seu Jubileu de ouro-e-prata (1902-1977). A mesma imagem vinda da Euro­
pa ainda hoje existe na Gruta. Também, sabe-se que durante os cinco
anos em que a imagem ficou na igreja o povo ia continuadamente ver o
lugar da gruta, o que leva alguns a afirmar que já havia uma pequena i
magem no local. Confira Elizeário Schmitt, Op.cit., p.9 e 10.
103

res, com dificílimo apoio para um trilho viavel..." (47) . Após

muito trabalho, empregando a força de homens e animais, abriu-

se um caminho, com alguns bueiros, mantida sempre a esquerda

das águas, muitas pessoas trabalharam gratuitamente, sob a di­

reção do Padre Josaphat Immenkoetter e do Padre Frei Burchardo


Sasse. Finalmente, estava pronto o caminho das 14 voltas, imi­

tando a ascensão ao Calvário, que recebeu mais tarde as esta­


ções da Via-Sacra.

Assim, somente a 15 de agosto de 1907, com a celebração

solene da Santa Missa, fez-se a transferência da imagem de No_s


sa Senhora de Lourdes, para um nicho de pedra, no alto da Gru­
ta . As 13 horas da tarde sai uma procissão com aproximada­

mente 1.500 pessoas, seguindo o Padre Frei Bruchardo Sasse,


Frei Xisto Meiwes e Frei Josaphat Immenkoetter, levando a ima­

gem de Nossa Senhora de Lourdes para a Gruta.

Mais uma vez a comunidade de Angelina, incentivada pelo

missionário Frei Bruchardo Sasse, planejou construir a Via-Sa


era. Os 14 blocos de gesso, importados de um ateliê da Alema­
nha, constituindo uma grande obra de arte, chegaram a Angeli­
na em setembro de 1909, porém só começaram a ser colocados em

novembro de 1 9 1 0 ^ ^ . Apresentam-se em nichos de cimento, so-

No dia 15 de agosto de 1907, depois de ter estado cinco anos completos


na Capela de São Carlos Borromeu, ao lado do Evangelho, fez-se a sole­
ne transferência da imagem. Pela manhã rezaram-se missas às 6:30 hs,
às 7:30 hs.e às 10 horas. A partir deste dia as romarias para a Gruta
não cessaram. A '¡primeira romaria que o Santuário Mariano de Angeli­
na recebeu veio de Santo Amaro da Imperatriz. Foi Frei Bruchardo Sasse
quem promoveu essa romaria a 5 de outubro de 1907, trazendo de Santo
Amaro uma peregrinação de 103 pessoas: 49 homens a pé e 54 a cavalo.
Confira Elizeãrio Schmitt. Op.cit., p.11 e 12.
SCHMITT, Op.cit., p.13, lê-se: "A Via-Sacra da Gruta de Angelina é a-
preciável obra de arte, em relevo de gesso sem pintura, com perfeição
absoluta de talha, saíde de um ateliêi da Alemanha, e vinda a Angelina
numa viagem de lances quase épicos. As estações, ao preço de 200$000
cada uma, fora o frete Alemanha-São Pedro de Alcântara, desta última
104

bre colunas do mesmo material, coroado cada nicho por um capi­

tel arrendondado, com apresentação tosca de lavor e ornamento.

0 mestre de pedreiro, Defendente Rampinelli, junto com mais al­


guns homens, foi o responsável pelo serviço de colocação da

Via-Sacra. Ele também foi encarregado pela construção da ponte


que dá acesso ã Gruta, sobre o Rio Mundéus, que leva a subida

do caminho da Gruta. A obra apresenta-se com largas defesas la­

terais, também de cimento, em forma de muro, no alto um arco de

ferro batido, fazendo conjunto também com um portão de ferro.

A festa de inauguração da Via-Sacra deu-se no dia 15 de

agosto de 1911. Mas, desde o dia 13 já começaram a afluir os


romeiros. No dia 14, às 18:00 horas, saiu uma procissão para a
Gruta, na qual tomaram parte os padres: Frei Domingos Schmitz,
Frei Xisto Meiwes e Augusto Schwierling, Vigário de Teresópo-

lis, acompanhados por mais de duas mil pessoas, rezando e ento­


ando cânticos a Nossa Senhora. No dia 15 foram celebradas três
missas na capela. Pela manhã, âs 9 horas, organizou-se uma so­

lene procissão em direção a Gruta, sendo no trajeto da mesma


bentas as estações, e rezando-se, oficialmente, pela primeira

vez, a T7- o
Via-Sacra (50)

Durante muitos anos todo esse ambiente de piedade se con­

servou sem grandes alterações. Nos últimos anos, a partir de


1950, com o melhoramento das vias de comunicação, tem aumenta­

do consideravelmente o número de romeiros que chegam ao lugar

principalmente de ônibus e de caminhão. Desta forma, criou-se,

no decorrer dos anos, toda uma infra-estrutura de construções

freguesia, por 27 kms, tiveram de ser transportados pelos colonos de An­


gelina e vizinhanças. Os 14 blocos tiveram de ser acondicionados em car­
ros de boi, ou trazidos, alguns deles, nas costas dos homens".
(5 0 )Ibid., p.13-14.
il
105

para dar atendimento ao público. A massa de féis é mais densa

nos dias 11 de fevereiro, 15 de agosto e, principalmente, 8 de

dezembro, onde as solenidades coletivas, no alto da gruta, re­

cebem um toque mais festivo . Para acompanhar a demanda a

Paróquia procurou ampliar suas instalações construindo exten­


sos galpões cobertos, um grande salão paroquial com dois pavi­
mentos, além de outras dependências necessárias â realização

das grandes festas religiosas.

Em época mais recente, em data não identificada, foi alargada a clarei^


ra existente em frente à Gruta, onde se encontra a 14? estação da Via-
Sacra. Pois, nas maiores celebrações religiosas a multidão se compri­
mia ladeira abaixo, até a 1 2 ? estação, sem condições de participar de
qualquer ato público. É bem provável que esta obra tenha acontecido na
década de 70, junto com a obra de alargamento do caminho de subida das
14 voltas. Pois, na década de 70, todo caminho foi melhorado, quando o
trajeto recebeu calçamento de lajotas em toda a sua largura e exten
são. Na mesma época, o Governo do Estado, fez a doação de lanternas e-
létricas para a iluminação a mercúrio de todo o percurso. Finalmente,
em 1975, construiu-se a nova ponte de concreto e pedra sobre o rio dos
Mundéus, que dá entrada ao caminho que leva, ã Gruta. Confira SCHMITT,
Op.cit., p .14 e 15.
CAPÍTULO IV

ESTRUTURA DA POPULAÇAO

O quarto capítulo trata de analisar a estrutura da popu­

lação de Angelina durante os séculos XIX e XX. Em primeiro lu­


gar, no estudo da "evolução populacional", calculou-se a taxa
de crescimento da população de Angelina, a fim de compará-la
com o crescimento da populaçao de Santa Catarina e do Brasil.

Também, conseguiu-se identificar a origem dos primeiros colo­


nos, a sua nacionalidade e estrutura social. Em segundo lugar,
no estudo da "característica demográfica", procurou-se fazer
lima análise da população por sexo, idade, estado civil, estru­

tura familiar e atividade produtiva.

4.1. Evolução Populacional

0 crescimento da população de Angelina foi bastante va­

riado. Entre 1861 a 1877 a Colônia recebeu em média 85 colonos

novos a cada ano. Esse período corresponde ao grande fluxo mi­

gratório de colonos nacionais que a área recebeu, pelo incen­


tivo da política migratória do Governo Imperial. Para esses de
107

zesseis anos iniciais encontrou-se os dados completos da popu­

lação, por total e por sexo, nas Falas e Relatórios da presi­


dência da Província de Santa Catarina.

O cálculo de crescimento da população de Angelina foi rea­


lizado com base nos dados dos anos de 1877, 1880, 1900, 1920,

1940 e 1950. Para determinar a população anual de Angelina,


para os anos que não se dispunha de dados, e o cálculo da taxa

de crescimento fez-se uso do "Método da Progressão Geométri­


ca", que permitiu a elaboração da tabela n9 1.

A tabela n9 1 mostra que o crescimento da Colônia Nacio­


nal Angelina foi maior no início da colonização, durante as
duas primeiras décadas da segunda metade do século XIX, perío­
do em que a área recebeu um grande número de colonos açoria­
nos. Depois, o crescimento da população mostrou uma tendência

de queda constante até o início desse século, quando voltou a


crescer novamente. Entre 1900 e 1920 a população apresentou,
realmente, um aumento significativo na taxa de crescimento,pa­

ra voltar a apresentar uma nova tendência de queda, a qual per

maneceu até o fim do período estudado.

A taxa de crescimento da população de Angelina entre 1877

a 1880 foi de 1,3% ao ano; entre 1880 a 1900, foi de 0,6%; en­

tre 1900 e 1920 foi de 5,5%; entre 1920 e 1940 foi de 0,6%;en
«

tre 1940 e 1950 foi de 1% ao ano.

O período de 1900 a 1920, onde o crescimento foi de 5,5%

ao ano, representa uma exceção, que, provavelmente, pode ser


explicada pelo fato de Angelina ter recebido um novo fluxo mi­

gratório de elementos de origem germânica, das áreas vizinhas.

Mas, passada essa onda migratória, a população voltou a cres­

cer em seu ritmo normal, um pouco abaixo de 1% ao ano.


108

TABELA NÇ 1

População total de Angelina - 1861-1950

ANOS HOMEM MULH. TOTAL ANOS HOMEM MULH. TOTAL ANOS HOMEM MULH. TOTAL
1861 65 4_2 107 1891 863 770 1633 1921 2599 2546 5145
1862 120 88 208 1892 858 775 1642 1922 2715 2561 5276
1863 115 103 218 1893 872 779 1651 1923 2631 2576 5207
1864 176 132 308 1894 877 783 1660 1924 2647 2591 5238
1865 283 223 506 1895 881 788 1669 1925 2663 2606 5269
1866 227 219 496 1896 887 792 1679 1926 2679 2621 5300
1867 433 351 784 1897 892 796 1688 1927 2695 2636 5331
1868 433 351 784 1898 896 801 1697 1928 2711 2651 5362
1869 394 350 744 1899 900 806 1706 1929 2727 2666 5393
1970 517 460 977 1900 919 815 1734 1930 2743 2681 5424
1871 587 513 1 1 0 0 1901 1006 893 1899 1931 2759 2696 5455
1872 533 471 1004 1902 1093 971 2064 1932 2775 2711 5486
1873 433 392 835 1903 1180 1049 2229 1933 2791 2726 5517
1874 624 531 1155 1904 1267 1127 2394 1934 2807 2741 5548
1875 738 653 1391 1905 135 4 1205 2559 1935 2823 2756 5579
1876 795 708 1503 1906 1441 1283 2724 1936 2839 2771 5610
1877 779 696 1475 1907 1528 1361 2889 1937 2855 2786 5641
1878 789 705 1494 1908 1615 1439 3054 1938 2871 2801 5672
1879 799 714 1513 1909 1702 1517 3219 1939 2887 2816 5703
1880 809 723 1532 1910 1789 1595 3384 1940 2851 2851 5702
1881 814 727 1541 1911 1876 1673 3549 1941 2880 2879 5759
1882 819 731 1550 1912 1963 1751 3714 1942 2908 2908 5816
1883 823 736 1559 1913 2050 1829 3879 1943 2937 2936 5873
1884 828 740 1568 1914 2137 1907 4044 1944 2965 2965 5930
1885 833 744 1577 1915 2224 1985 4209 1945 2994 2993 5987
1886 838 749 1587 1916 2311 2063 4374 1946 3022 3022 6044
1887 843 753 1596 1917 2398 2141 4539 1947 3051
3050 6101
1888 848 757 1605 1918 2485 2219 4704 1948 3079 3079 6158
1889 852 762 1614 1919 2575 2297 4868 1949 3108 3107 6215
1900 857 ! 766 1623 1920 2583 2531 5114 1950 3158 3193 6351

Fonte: Falas e Relatórios dos Presidentes da Província de San­


ta Catarina - 1861-1878.
Recenseamentos Gerais do Brasil de 1872, 1900, 1920,1940
e 1950.
Dados grifados são retirados das fontes.
109

CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO DE ANGELINA

GRÁFICO N9 1
110

A população de Angelina cresceu menos que a média nacio­

nal e, também, menos que a média de Santa Catarina.


As causas do seu baixo crescimento demográfico são facilmente

compreendidas quando comparadas com o crescimento econômico da

área, que também foi pequeno. O crescimento populacional ficou


condicionado âs restrições da sua atividade econômica, incapaz

de absorver toda a mão-de-obra que resultou do seu incremento


natural, o que, em alguns períodos, levou os colonos a abando­

narem a Colônia.

Assim, houve, nos períodos de baixo crescimento demográ­


fico, e também pequeno crescimento econômico, um êxodo para
áreas agrícolas de melhor rentabilidade ou para áreas urbanas,

onde teve maior absorção de mão-de-obra.

Por outro lado, a taxa de crescimento natural da popula­


ção de Angelina (que é a diferença entre a natalidade e a mor­
talidade) , sempre foi superior a 2% ao ano. Mas, mesmo assim,

devido âs constantes saídas de colonos da área, em geral, não

houve uma curva de crescimento demográfico ascendente, com ex­

ceção das duas primeiras décadas desse século. Obviamente, a


reprodução da população foi afetada pelos condicionantes eco­
nômicos que não contribuíram para o bem-estar das famílias.

Pois, uma população que não dispõe de produtos de alto inte­

resse comercial ou de exportação, onde a produção está centra­

lizada na agricultura de subsistência, vê-se reduzida a uma

renda "per capita" mínima.

Portanto, o crescimento demográfico da população de Ange­

lina tem sido meramente vegetativo.

Em Santa Catarina, de acordo com os primeiros censos,até

1940, a população cresceu menos que a média nacional. Mas,após


Ill

1940, o crescimento da população catarinense superou a média

nacional. A taxa anual de crescimento demográfico entre 1872 e

1890, foi de 0,583%; entre 1890 a 1900, foi de 1,22% ao ano;

entre 1900 e 1920, foi 0,6% ao ano; entre 1920 e 1940, foi de

2,05% ao ano; entre 194 0 e 1950, foi de 2,92% ao ano; entre


1950 a 1960, foi de 3,03% ao ano.

Ao mesmo tempo, em outras áreas do Estado de Santa Cata­


rina a população cresceu em índices próprios da explosão demo­

gráfica. Em Itajaí, entre 1840 e 1866, o coeficiente de cres­


cimento foi de 2,8% ao ano; entre 1866 e 1872 foi de 3,2% ao

ano; entre 1872 e 1900 foi 3,8% ao ano; entre 1900 é 1920 foi

3,3% ao ano e entre 1920 e 1940 foi de 3,8% ao a n o ^ .

A população na cidade do Desterro, no período que vai de


1804 a 1854, cresceu mais que Angelina e menos que Itajaí. En­

tre 1804 e 1810 a sua taxa de crescimento foi de 1,5% ao ano;


entre 1810 e 1831, foi 0,9% ao ano; entre 1831 a 1840, foi
(2 )
2,2% ao ano e entre 1841 a 1854 foi de 0,6% ao ano

No Paraná, segundo GONÇALVES <3 ) , o crescimento da popula­

ção pontagrossense, entre 1823- a 1879, apresentou-se conforme


a tendência nacional. Constatou-se que o segmento livre teve
um crescimento ascencional. Já os escravos apresentaram uma

ligeira regressão, pois estes sofreram na segunda metade do


século XIX os efeitos das Leis Euzébio de Queiroz e do Ventre

Livre.

^^FLORES, Maria Bernadete Ramos. História Demográfica de Itajaí: Uma Po­


pulação em Transição - 1966-1930, Florianópolis: UFSC, 1979. p.60.
(2 )
NIELSEN, Lawrence James. A Morte na Cidade do Desterro, 1804-1854: Ci­
fras, Causas e Conseqüências: in Revista do IHGSC, 3? fase (1): 29 sem.
1979. p.73.
(3)GONÇALVES, Maria Aparecida
. Cesar. - -
Estudo demográfico da Paroquia de Nos^
sa Senhora Sant'Ana de Ponta Grossa - 1823-1879. Curitiba: Universidade
Federal do Paraná, 1979. p.161.
112

No Brasil, de acordo com os censos demográficos, as taxas

anuais de crescimento sempre foram acima de 2% ao ano. No pe­


ríodo de 1872 a 1890, a taxa de crescimento foi de 2,01% ao

ano; entre 1890 a 1900, foi de 2,42% ao ano; entre 1900 e 1920,
foi de 2,18% ao ano; entre 1920 a 1940, foi de 2,05% ao ano;
entre 1940 a 1950, foi de 3,38% ao ano; entre 1950 a 1960, foi

de 3,00% ao ano; e entre 1960 a 1970, foi de 2,7% ao ano ^ .

O Brasil, como também os Estados Unidos, tem como aspecto

mais notável o registro de uma elevada taxa de crescimento da

população durante mais de um século. De um total de cerca de


3 milhões em 1800, a população brasileira expandiu-se para 10

milhões na época do primeiro censo, em 187 2. No século decorri,


do entre 1872 e 197 2 houve um aumento de dez vezes, passando a

100 milhões de habitantes, o que deixa implícita uma taxa mé­

dia de crescimento anual de 2,5%. Essa taxa só pode ser com­


parada com o crescimento registrado no mundo no surto populá­
is)
cional posterior a Segunda Guerra Mundial

O crescimento demográfico do Brasil, o mais vertiginoso


nos últimos cem anos no mundo, é o resultado da redução da ta­
xa de mortalidade. A taxa de mortalidade brasileira represen­

ta, hoje, apenas um terço do que era a um século, situando-se

já próxima ao nível dos países desenvolvidos. O Brasil, com

uma taxa de crescimento demográfica em torno de 2,5% ao ano,se

(4) .
MERRICK, W. Tomas, GRAHAM, H. Douglas. População e Desenvolvimento no
Brasil. Rio de Janeiro. Zahar Editores S.A., 1981. p. 16.
(5) r - •
BELTRÃO, Pedro Calderan. Demografia: Ciencia da Populaçao Analise e
Teoria, Porto Alegre; Ed. Sulina, 1972. p.55. Para o mesmo período dos
censos o crescimento migratório do Brasil foi de: 0,38%, 0,60%, 0,22%,
0,18%, 0,04%, 0,00% e 0,00% ao ano. E, o crescimento natural, durante o
mesmo período, foi de: 1,63%, 1,82%, 1,86%, 1,87%, 2,34%, 3,00% e 2,70%
ao ano. Verifica-se, pois, que o crescimento demográfico do Brasil não e
devido ao fluxo migratório, ou a qualquer aumento na fecundidade, mas sim
fruto da drástica redução na taxa de natalidade.
113

mantida, fará dobrar a população na próxima geração.

A média mundial de crescimento demográfico, atualmente,

está em torno de 2% ao a n o ^ . Mas, na maior parte do mundo,

verifica-se que há uma tendência de queda no crescimento da


população, sendo que já aconteceu o auge da aceleração demo­

gráfica, no decênio de 1950-60.

Todavia, apesar de contar-se com poucos estudos de histó­

ria demográfica, para aquilatar com maior precisão o cresci­


mento e prolificidade dos casais açorianos em terras catari­

nenses, sabe-se que nestas famílias são encontradas altas ta­

xas de natalidade. Acredita-se que o perigo permanente de per­


das familiares, aliado a necessidade de mão-de-obra, e a forte

influência da religião e da Igreja Católica nos padrões morais

e sociais da comunidade, foram fatores que contribuíram de


forma decisiva na sobrevivência e explosão numérica deste gru­
po humano.

Em Santo Antônio, na segunda metade do século XIX, a taxa


de natalidade era de 40,23 nascimentos por mil habitantes (7)

Para a população de Angelina, no século XIX, no período que


vai de 1860 a 1869, encontrou-se uma taxa de 43,29 nascimentos

para cada mil habitantes, com um número elevado de filhos.

0 problema da explosão demográfica da área de povoamento

açoriano é de tal grandiosidade, que, já em 183 3, o Presiden­

te da Província de Santa Catarina chama a atenção para a ques-

tão (8 ) . Mas a "solução" só foi encontrada em 1860, quando o

^BELTRÃO, Op. cit., p.53.


^^BARROS, Edy Alvares Cabral. A Freguesia de Nossa Senhora das Necessida­
des e Santo Antônio: 1841 a 1910: A sua Transição Demográfica. Florian£
polis, 1979. p.115.
^PIAZZA, Walter F. A Epopéia Açoriana, 1746-1756, Palestra Proferida no
II Congresso de Comunidades Açorianas, realizado em Angra do Heroísmo,A-
çores, in: Edição do Conselho Estadual de Curitiba, Florianópolis, 1987.
p .19.
114

Presidente da Provincia, Francisco Carlos de Araújo Brusque,

fundou a Colónia Nacional Angelina. 0 chamado excesso popula­

cional, assim considerado pelos governantes, da área situada

entre Laguna e São Francisco seria a base geopolítica de ocu­

pação do sertão catarinense.

0 levantamento dos nomes e sobrenomes desta área litorâ­


nea mostra a predominância do elemento de origem luso-açoriana.
A primeira leva de povoadores da Colónia Nacional Angelina,con
forme a análise onomástica, permitiu identificar os ancestrais

açorianos, imigrantes, aqui chegados no século XVIII. São co­


muns os Silva, os Amorim, os Vieira, os Pereira, os Fagundes,
os Moura, os Xavier, os Souza, os Garcia, os Oliveira e os

Soares; os Ferreira, os Duarte, os Coutinho e os Costa; os Fon

te, os Rosa, os Melo e os Dutra; os Cunha, os Cardoso, os Cor­

reia e os Aguiar; os Carvalho, os Carreirão, os Silveira, os


Gonçalves e os Pires; os Machado, os Mendes, os Gomes e tantos

outros (9)

Enfim, cabe dizer que a cultura dessa gente marcou pro­

fundamente o Estado de Santa Catarina. E, os resultados do po­


voamento açoriano, até hoje, permanecem quase inalterados, os
traços mais marcantes são de ordem: político-administrativa ,

cultural, social, religiosa; cuja base dessa sociedade é uma


família com características conservadoras e patriarcais, com­

posta por um elevado número de filhos .

Ao ser criada a Colónia Nacional Angelina, em 10 de de­

zembro de 1860, pelo Presidente da Província Francisco Carlos

de Araújo Brusque, visou-se aproveitar o excesso populacional


(g)
v ' PIAZZA, Op-icit., p.31.
FARIAS, Vilson Francisco de. Evolução Histórica-Demográfica de Enseada
de Brito, 1778-1906. Florianópolis: UFSC, 1980. p.12.
115

luso-brasileiro, sem terra, nas áreas litorâneas de Santa Cata

rina^11^. Desta forma, dava-se um melhor aproveitamento ao


braço nacional, cujas dificuldades de subsistência, no litoral

catarinense, eram motivo de preocupação das autoridades pro­


vinciais, fruto da má distribuição das "sesmarias" aos açoria­
nos e seus descendentes, desde a grande "Epopéia Açoriana" de

1748-1756, onde foram transportados mais de 6.000 açorianos e


( 12 )
madeirenses para o litoral sul-brasileiro . E m face a crise
da lavoura brasileira, carente de mão-de-obra, devido ã subs­

tituição do trabalho servil pelo assalariado, a política mi­


gratória, que até então dava prioridade ã migração estrangei­

ra, doravante, procura a solução para a crise na força do tra­

balho do contingente nacional.

Portanto, as primeiras levas de colonos foram de elemen­

tos essencialmente nacionais conforme preconizam as instruções


de 10 de dezembro de 1860. Os dados constantes na "Relação dos

Habitantes da Colônia Nacional Angelina, no fim do ano de 1864"


confirma a naturalidade dos habitantes. Tal análise demonstra,
desde logo, que foi uma área de expansão - "frente pioneira" -
como pretendeu seu idealizador, para o excedente das áreas de

colonização açoriana de Santa Catarina (São José, Camboriú ,


Ilha de Santa Catarina, Enseada de Brito, Campo de Massiambú)e

das áreas de expansão posterior (Santo Amaro do Cubatão), ou,


ainda, da área inicial da colonização alemã em Santa Catarina,

com mais de 30 anos de fixaçao (Sao Pedro de Alcantara), que

não ficou alheia ã penetração paulatina, do elemento alienígena.

PIAZZA, Walter F. Santa Catarina: Sua História. Florianópolis: Edi­


tora Lunardelli, 1983. p. 354.
PIAZZA, Walter F. A Epopéia Açoriana, 1748-1756. Palestra proferi­
da no II Congresso de Comunidades Açorianas, realizado em Angra do He­
roísmo, Açores. In Edição do Conselho Estadual de Cultura, Florianópo­
lis, 1987. p.15.
116

TABELA N9 2

Naturalidade dos primeiros colonos - 1864

NÚMEROS
NATURALIDADE
ABSOLUTO RELATIVO

Brasileiro adotivo 1 0 ,32

"Distrito da cidade de São José" 116 26,83


São Pedro de Alcânatara . 72 22,86
Santo Amaro do Cubatão 31 9,84

Colônia Nacional Angelina 23 7,30

"Cambriu" (Camboriú) 13 4,13

Cidade do Desterro 12 3,81

Campo de Massiambú 11 4,49

Ilha de Santa Catarina 8 2,54

N. Sra. da Lapa do Ribeirão 4 1,27

Enseada de "Brites" (Brito) 4 1,27

Laguna 2 0,63

Lages 2 0,63

Rio Grande do Sul 1 0,32

Minas Gerais 1 0,32

Brasileiro Naturalizado
Prússia 7 2,22
Alemanha 6 1,90

Portugal 1 0,32

TOTAL 315 1 0 0 ,0 0 %

Fonte: Relatório do Diretor da Colonia Nacional Angelina ao


Presidente da Provincia de Santa Catarina - 1864.
117

A tabela n9 2 mostrou a origem dos primeiros habitantes

da Colônia Nacional Angelina de áreas onde predominava o ele­


mento luso-brasileiro, descendente, principalmente, de açoria­

nos, num total de 94,22%. O estrangeiro, representado em 4,44%,

tem uma predominância do alemão (Prússia e Alemanha), talvez


em conseqüência das proximidades das colônias alemãs. A pre­

sença do elemento estrangeiro, como ver-se-ã no estudo da es­

trutura nacionalidade, começou a ser sentida a partir de 1866

com um percentual de 1,50%. Doravante cresce, paulatinamente,


até atingir 5,25% em 1872, decrescente nos anos seguintes, po­
rém, volta a crescer em ritmo acelerado em 1877, com 9,80%, jã

numa demonstração clara do "fracasso" da colonização nacional.

Assim, quanto ã origem dos primeiros colonos, a Colônia

teve dois períodos distintos: 19) No primeiro período que vai


de 1860-1865 a Colônia recebeu essencialmente o elemento na­
cional conforme preconizam as instruções de 10 de dezembro de

1860, como pretendeu o seu idealizador Francisco Carlos de


Araújo Brusque; 29) No segundo período que vai de 1866-1881, o
elemento estrangeiro, de origem Germânica, primeiro,, da Colô­

nia Santa Isabel e, depois, da Colônia São Pedro de Alcântara,


foi penetrando, devido:' â proximidade das duas Colonias, ãs
- (13)
condições topográficas e â falta dé comunicaçao . E, final­
mente, em agosto de 1873, a Colônia perdeu definitivamente o
seu caráter de "nacional", quando foram mandados preparar, à

custa do Estado, "prazos para o estabelecimento de colonos eu­

ropeus" .

(13)
Ofício n9 290, de 7 de dezembro de 1866, do Diretor da Colônia ao Pre­
sidente da Província de Santa Catarina, Dr. Adolpho de Barrós Cavalcan­
ti d'Albuquerque Lacerda.
(14) » - .
Oficio s/n, de 04 de agosto de 1875, do Diretor da Colonia, Gaspar Xa­
vier Neves, ao Presidente da Província de Santa Catarina, Ten.Cel. Luiz
Ferreira do Nascimento e Mello (orçamento de despesa anexo).
118

A origem dos primeiros colonos deve ser analisada dentro

do problema geopolitico proposto pelo Governo Imperial. Em pr^

meiro lugar, a fundação da Colonia foi, na realidade, um aten­


dimento ã necessidade de novas áreas para o excesso populacio­

nal da área luso-brasileira. Num estudo mais profundo ver-se-á

que tal problemática, teve início quando da ocupação do lito­


ral catarinense, desde os idos de 1748-1756, pelos açorianos e

madeirenses, seus descendentes, atingindo paulatinamente os


vales adjacentes, até que em 1860 chegaram às encostas do pla­

nalto. Em segundo lugar, o luso-brasileiro parecia ser o ele­


mento ideal para colonizar uma área de floresta tropical, o

que demonstra que a política migratória do Governo Imperial,


numa atitude discriminatória, protege a colonização estrangei­
ra distribuindo-lhes melhores terras. Pois, como se sabe, as

encostas aclíveis, desde que despidas da sua cobertura natu­


ral, produz intensa erosão, face à tropicalidade, aliado aos
altos índices de precipitação, existentes na área da Colô-

níci *

Entretanto, sabe-se que das experiências tentadas com na­

cionais a única que vicejou, na opinião de um de seus visita­


dores, em 1867, foi a Colônia Nacional Angelina. E, se não ob­

teve maior desenvolvimento, deve-se ã situação interna e à


(16)
falta de estímulo a esse tipo de colonização . O objeto de

comparação são as colônias "Cananéia", na Província de São


Paulo, que não teve a pujança de Angelina, nem populacional,

nem econômica; "Assunguy", na então Província do Paraná, e. as

demais na então Província de Santa Catarina. E, por fim, não

^1 5 ^PIAZZA, Walter F. Angelina: Um Caso de Colonização Nacional. Floria­


nópolis, 1973. p.239.
^^Documento do Dr. Ignácio da Cunha Galvão, Relatório sobre as Colonias
de São Paulo, Paraná e Santa Catarina: Rio de Janeiro, 1867. p.67.
119

se pode comparar a colonização nacional na Província de Santa

Catarina com a colonização de outras etnias sem considerar o

tratamento diferenciado dado ã colonização nacional, onde o

dinheiro público foi empregado parcimoniosamente, de forma a


não favorecer o seu desenvolvimento. Assim, sem boas vias de
comunicação, ligando os centros produtores aos consumidores,

não houve alento ã produtividade e valorização dos produtos


agrícolas. Entende-se, portanto, por que a Colônia Nacional
Angelina ficou muito aquém daquelas suas contemporâneas forma­
das com elementos étnicos diferentes.

4.1.1. Estrutura Social

Da análise da tabela n9 3 ressalta o pequeno número de

escravos existentes na Colônia Nacional Angelina. Apenas em


1875 e 1876 o percentual de escravos foi superior a 1% sobre o

total da população. Isso significa que o colono nacional tinha


baixo poder aquisitivo e que, evidentemente, era quase impos­
sível manter um escravo numa estrutura minifundiária voltada â
agricultura de subsistência. Por outro lado, esse baixo índice
de escravidão reflete a situação do País, que se encaminha pa­
ra a mão-de-obra assalariada, abrindo as portas para a imigra­

ção estrangeira.

De fato, a colonização substituiu, plenamente, na área de

Santa Catarina, o braço escravo ligado â agricultura, já por­

que a escravidão, nessa época, era mais valorizada nas áreas


monocultoras do café e do açúcar, sendo que o elemento coloni­

zador ainda não possuía condições econômicas para comprá-lo,

aliado ao sistema de pequena propriedade que era, facilmente,


120

TABELA N9 3

Estrutura social da população de Angelina, 1861-1877

NÜMEROS ABSOLUTOS NÚMEROS RELATIVOS


ANOS TOTAL
LIVRES ESCRAVOS LIVRES ESCRAVOS

1861 106 1 99,06 0,94 107


1862 207 1 99,51 0,49 208
1863 218 0 10 0 0 218
1864 308 0 100 0 308
1865 506 0 100 0 506

1866 494 2 99,59 0,41 496


1867 - - - - 784
1868 - - - - 784

1869 742 2 99,73 0,27 744

1870 971 6 99,38 0,62 977

1871 1093 7 99,36 0,64 1100


1872 998 6 99,40 0 ,60 1004

1873 830 5 99,40 0,60 835

1874 - - -' - 1155

1875 1372 19 98,63 1,37 1391

1876 1486 17 98,86 1,14 1503

1877 1462 13 99,11 0,89 1475

Fonte: Falas e Relatórios do Presidente da Província de Santa


Catarina - 1861-1878.
Ofícios do Chefe -de Polícia ao Presidente da Província de
Santa Catarina, 1861-1877.

trabalhada pelas famílias de elevado numero de membros (17)

Sabe-se, que em Santa Catarina, as concentrações de es-

PIAZZA, Walter F. Angelina: Um Caso de Colonização Nacional, Floria­


nópolis, 1972. p.246.
121

cravos foram maiores nas áreas urbanas, da orla atlântica, li­

gadas ãs atividades marítimas, ou ainda, nas áreas de pasto-


reiro. Poucas foram as propriedades agrícolas que possuíram
elevado número de escravos.

Após a abolição do tráfico, em 1850, o escravo catarinen­

se vai ser reexportado para as Províncias monocultoras, como São


Paulo e Rio da Prata, no Uruguai. A melhora nos preços do café
fazia com que a cultura se expandisse. Por outro lado, a gran­

de alta dos preços do algodão provocada pela Guerra de seces­


são nos EUA dera início a uma grande expansão da cultura da
fibra nos estados do Norte, restringindo-se, em conseqüência,o

tráfico de escravos para o Sul (18 )

De fato, na Província de Santa Catarina a escravidão ne­

gra não atingiu as mesmas proporções das áreas de plantação


cana-de-açúcar do Nordeste brasileiro. Em relação ao total da
população de Santa Catarina, no ano de 1872, os escravos re­

presentavam 8,9% da população, enquanto os mulatos e caboclos

são 15%, os brancos sao em torno de 70% (19 )

Em síntese, havia um pequeno número de escravos na Colô­

nia, menos de 1% da população total, sendo que a média da Pro­


víncia de Santa Catarina era em torno de 9%. As razões para a
redução da mão—de—obra são devido âs dificuldades encontradas
na sua importação, por problemas de altos preços, pela baixa
natalidade registrada entre eles, que não foi suficiente para

repor as perdas ocasionadas pela mortalidade. Enfim, a Funda­

ção da Colônia Nacional Angelina, visando à utilização da mão-

de-obra do elemento açoriano, entre outros motivos, foi para

^1 8 ^FURTAD0, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Editora Na­


cional, 1976. p.126.
^1 9 ^PIAZZA, Walter F. Santa Catarina: Sua História. Florianópolis: Edito­
ra Lunardelli, 1983. p.447.
122

fazer frente ã redução crescente da escravidão negra na época.

4.1.2. Estrutura por Nacionalidade e Religião

TABELA N9 4

Colônia Nacional de Angelina: Brasileiros e Estrangeiros


1866-1877

9. o
ANO BRASILEIRO ESTRANGEIRO TTYTÂT °
BRASILEIRO ESTRANGEIRO

1866 487 9 496 98,50 1,50


1867 - - 784 - -

1868 - - 784 - -

1869 711 33 744 95,50 4,50

1870 936 41 977 95,75 4,25

1871 1042 58 1100 94,75 5,25

1872 950 54 1004 94,75 5,25

1873 808 27 835 96,75 3,25

1874 1124 31 1155 97,25 2,75

1875 1282 109 1391 92,20 7 ,80

1876 1376 127 1503 91,50 8,50

1877 1330 145 1476 90 ,20 9,80

Fonte: Falas e Relatórios do Presidente da Província de Santa


Catarina, 1866--1877.

0 número de estrangeiros cresce, paulatinamente , na Coló—


nia Nacional Angelina . De 1,50 % em 1866 até chegar a 5,25%- em

1872, decrescendo nos anos de 1873, com 3,25% e 1874 , com

2,75%, para tomar novo impulso e alcançar em 1877, 9 ,80%, o

que demonstra que a área estava interessando ao elemento es­

trangeiro.
123

Os primeiros colonos estrangeiros, da Colonia Santa Isa­

bel, num grupo de mais de 30 famílias, pedem ao Diretor da Co­

lonia Nacional Angelina, permissão, para serem estabelecidos


na estrada que vai em direção ao Tijucas Grande^0) ^ Em ¿ezem_

bro de 1866, o Presidente da Provincia de Santa Catarina auto­

rizou ao Diretor da Colonia a aceitar os estrangeiros que para


lá se dirigissem, desde que estivessem em dia com a Fazenda
Provincial.

Assim, a proximidade entre as colonias, as condições to­

pográficas pouco favoráveis, a falta de comunicação e as ter­


ras estéreis são a causa principal da entrada (e saída) de
estrangeiros na Colonia.

Também é importante observar que, o que devia ser urna Co­

lonia "nacional", ou seja, fundada e estruturada para receber


elementos brasileiros, já em seus primeiros anos de existén-
( 21 )
cia, passou a admitir estrangeiros . Desta forma, contra-
riou-se o pensamento do idealizador da Colonia, Francisco Car­

los de Araújo Brusque, fato que comprova que os velhos precon­


ceitos, em relação ao luso-brasileiro, não foram totalmente
superados. Esse aumento significativo que o estrangeiro de­

monstra na estrutura populacional da Colônia, alcançando ex­

pressivos percentuais, fizeram com que ela perdesse o seu ca­

ráter de "nacional" no ano de 1873.

Ofício n9 290, de 7 de dezembro de 1866, do Diretor da Colônia ao Pre­


sidente da Província, Dr. Adolpho de Barros Cavalcanti d'Albuquerque
Lacerda.
(21 )Contrariando
. ~
as Instruções de 10 de dezembro de 1860, que em seu Arti­
go 19 diz que: "A Colônia será composta de famílias nacionais (grifo
nosso), que se propõem possuir terras com o fim effetivamente cultiva-
las..." passados seis anos para lá se dirigiram colonos estrangeiros
da Colônia Santa Isabel e de São Pedro de Alcantara, cada vez em maior
número, até que em 1873 a Colonia perdeu o seu carater "nacional". Con
fira as Instruções no Anexo 5.
124

Neste contexto os grupos imigrantes, açorianos e germâni­

cos, traziam consigo uma estrutura religiosa arraigada, cris­


tã, que em determinado momento é reforçada pela ação de mis­

sionários, quer católicos quer luteranos. Os sacerdotes cató­

licos representam, de certa forma, o "ultramontanismo"da Igre­

ja Católica, ainda em pleno século XIX, enfrentando a "Refor­


ma" e o "liberalismo", vigentes em seus países de origem. Os

luteranos, dissidentes, da Igreja Católica e perseguidos em


seus países de origem, encontram-se em franca expansão na Co­
lônia Nacional de Angelina.

Em Angelina, com a introdução gradativa do elemento ger­

mânico, aos poucos, a cultura original açoriana foi sendo es­


quecida. Depois do português, o idioma predominante sempre foi

o alemão. Até hoje, quase a totalidade da população fala em

casa a língua alemã.

Uma outra variável que está relacionada com a nacionalida


de dos habitantes da Colônia Nacional Angelina è a religião.

Durante os seus primeiros anos todos os habitantes eram cató­


licos, o que equivale a dizer que os nacionais eram católicos.
Mas, na medida em que os estrangeiros se fixam na Colônia,qua­

se que na mesma proporção aumenta o número dos não católicos,

que na sua maioria eram protestantes.

Em 1872 os não católicos representavam 2,10% da popula­

ção, dois anos depois, em 1874, já eram 6,24%, no ano seguin­

te, 1875, 12,08%, e em 1876, 12,91%, caindo para 11,08%, em

1877. Mas, é provável que o número de não católicos deve ter

crescido pelo menos até 1920, período no qual Angelina rece-


_ . (2 2 )
beu um grande número de imigrantes de origem germanica
(no) -
Sabe-se, pelos dados do censo demográfico, que, em 1980, Angelina pos­
suía um total de 6669 habitantes. Desse total 6609 eram brancos, 15
125

TABELA N9 5

Colônia Nacional de Angelina: Católicos e Não Católicos


1872-1878

CATÓ­ NÃO CA­ Q,


o
O.
~o

ANO LICO TÓLICO POPULAÇÃO


CATÓLICO NÃO CATÓLICO

1872 983 21 1004 97,90 2,10


1873 - - 835 - -

1874 1083 72 1155 93,76 6,24


1875 1223 168 1391 87,92 12,08
1876 1309 194 1503 87,09 12,91
1877 1301 174 1475 88,20 11,80

Fonte: Falas e Relatórios do Presidente da Província de Santa


Catarina, 1873-1878.

4.2. Características Demográficas

4.2.1. Estrutura por Sexo

A distribuição por sexo da população de Angelina vai ser

analisada no período de 1861 a 1950 e compreende a população

livre e escrava; principalmente de 1861 a 1888. A escolha por

uma análise englobando os dois segmentos sociais foi feita em


razão do reduzido impacto da população escrava no total, como

se viu anteriormente.

A tabela n? 6 mostra a distribuição de homens e mulheres

pela população total e a razão de masculinidade. Com base na

tabela elaborou*-se o gráfico n? 2.

pardos e 45 pretos. Quanto à religião, 4.770 eram católicos, o que equivale


a 71,52%, os protestantes eram 1.866, que corresponde a 27,98% e os outros
0,5% são da Assembléia de Deus, que recentemente se instalou no Município.
126

TABELA NÇ 6
Angelina: População por sexo - 1861-1950

ANO HOMENS TOTAL RAZÂO DE TAXA DE


MULHERES MASCULI­ MASCULINI­
NIDADE DADE
1861 65 42 107 154,76 60,74
1862 120 88 208 136,36 57,69
1863 115 103 218 111,65 52,75
1864 176 132 308 133,33 57,14
1865 283 223 506 126,90 55,92
1866 277 219 496 126,48 55,84
1867 433 351 784 123,36 55,22

1868 433 351 784 123,36 55 ,22

1869 394 350 744 112,57 52,95

1870 517 460 ' 977 112,39 52,91

1871 587 513 1100 114,42 53,36

1872 533 471 1004 113,16 53,08

1873 443 392 835 113,01 53,05

1874 624 531 1155 117,51 54,02

1875 738 653 1391 113,01 53,05

1876 795 708 1503 112,12 52,89

1877 779 696 1475 111,92 52,BI

1900 919 815 1734 112,76 52,99

1920 2583 2531 5114 102,05 50 ,50

1940 2851 2851 5702 100,00 50,00

1950 3158 3193 6351 98,90 49,72

Fonte : Falas e Relatórios do Presidente da Província de Santa


Catarina.
- Ofícios do Chefe de Polícia ao Presidente da Provín-
cia.
- Censos do Brasil, 1872, 1900, 1920, 1940 e 1950.
RAZÃO DE MASCULINIDADE DA POPULAÇÃO
DE ANGELINA - 1861 - 1950

Fonte: Tabola N9 6

GRÃFICO N9 2
128

Para o Brasil, as razões de sexo para o grupo etário de 0

a 4 anos forain respectivamente de 101,9; 102,2; 102,4; para

os censos de 1920 , 1940 e 1950 (23 ) .•Esses numéros nos permiti­

rão traçar um paralelo com a população de Angelina.

Em Angelina há uma predominância da população masculina;


apenas no censo do 1950 começa a haver mais mulheres que ho­
mens. No decorrer do século XIX, isto é de 1861 a 1877, há uma

nítida predominância dos homens. Esta situação decorre que,

primeiro os homens ficavam por algum tempo trabalhando na Co­

lônia para depois trazer a sua família. O seu trabalho consij;

tia em construir a sua casa ou fazer a sua primeira derrubada


para depois estabelecer-se definitivamente. Portanto, dos co­
lonos que iniciam seus estabelecimentos se diz que "habitam em

ranchos provisórios, cuidando de construir suas casas para en­


tão conduzir suas famílias" ^4) ^ q <je homens casados no

início do período sempre foi bem superior ao de mulheres casa­

das, como exemplo, em 1864, a Colônia tinha 65 homens casados

para 44 mulheres.

Maria Luiza Marcílio, em seu estudo sobre a população de


São Paulo, observou um fenômeno inverso. Ela percebeu que a

razão de masculinidade da população livre em seu estudo foi menor. Tal

fato, segundo seu trabalho, deve-se ao espírito empresarial dos paulistas,


que desde a época das bandeiras tân se deslocado para outras re­

giões. E conclui que: "todas estas expedições paulistas, foram

exclusivamente obra do elemento masculino da população que au-

(23)
Esta medida e, em geral, definida como o numero de homens que corres­
pondem a cem mulheres e é obtida dividindo-se o numero total de homens
pelo de mulheres e multiplicando-se por 1 0 0 ".
SANTOS, Jair L.F. Dinâmica da População, Teoria, Métodos e Técnicas de
Análise. São Paulo: T.A. Queiroz Editora, 1983. p.22.
(^^Reiatõrio do Presidente da Província de Santa Catarina, Alexandre Rodrji
gues da Silva Chaves, 1865. p.31.
129

sentava-se por longo tempo..." (25) . 0 fenomeno inverso perce­

be-se em Angelina onde o elemento masculino foi predominante no


povoamento e ocupação da antiga Colônia.

0 elemento masculino da Capital de São Paulo partiu tem­

porariamente em busca de empresas mais lucrativas. Mas, no ci­


clo do café, houve uma imigração de homens em direção às novas

vilas produtoras de café. Assim, nas zonas pioneiras do café


(do Vale do Paraíba), no recenseamento de 1886, encontrou-se
uma alta Razão de Masculinidade. Em Guaratinguetá temos a Ra­

zão de 146,87, em Pindamonnangaba 144,77, em São José dos Cam­

pos, 132,93, em Taubaté 112,58 homens para cada 100 mulhe-


r-oJ26*
res

Em Ubatuba, no segmento livre da população, nas décadas

de 1798, 1808, 1818, 1828, a média da razão da masculinidade


(incluindo os segmentos branco, preto e mulato), foi de 95,66,
(27)
77,66, 80,00, 99,00 homens para cada 100 mulheres . Isso
significa que a proporção de homens esteve sempre abaixo do nú

mero de mulheres.

A população de Ponta Grossa, no Paraná, no primeiro quar­

tel do século XIX, apresentou um maior número de mulheres.Mas,


por outro lado, na segunda metade do século, a presença mascu-
( 28 )
lina foi mais significativa . Assim, na primeira fase teria
havido a emigração do elemento masculino que por motivos eco­

nômicos foi para outras regiões; e, no segundo período, houve

^2 5 ^MARClLIO, Maria Luiza. A População de São Paulo: povoamento e popula­


ção, 1750-1850. São Paulo: Pioneira, 1973. p.110.
^2 6 WrCÍLIO, Op.cit., p. 111.
^2 7 ^MARCÍLI0, Maria Luiza. Caiçara: Terra e População: Estudo de Demogra­
fia histórica e da Historia Social de Ubatuba. São Paulo: Editora Paii
linas, 1986. p.145.
(2 8 ^GONÇALVES, Op.cit., p.73.
130

a fixação de novos contigentes masculinos que foram atraídos

de volta para a área.

Em Enseada de Brito, no período entre 1868 a 1907, a evo­

lução por sexo mostrou-se caracterizada por um maior número de

nascimentos do sexo masculino, na proporção de 105 homens para

cada 100 mulheres. Entre 1868 a 1877 registrou-se a razão de


90, entre 1878 a 1887, 106, entre 1888 a 1892, 116, entre 1898
(29 )
a 1907, 107 homêns para cada 100 mulheres . Essa pequena
vantagem do sexo masculino pode ser considerada normal, saben­
do-se, que em média, há entre 5 a 6% de nascimentos a mais a

favor dos homens.

Em Angelina, se em 1900, 1920, ainda há uma predominância

de homens, nota-se uma tendência declinante, atingindo um equi.


líbrio em 1940 e predomínio das mulheres em 1950 e que se acen

tuou nas décadas seguintes. É que a partir desse século come­


çou a haver uma emigração da população de Angelina, principal­
mente do elemento masculino, para as áreas urbanas em busca de

melhores condições de vida. Este êxodo é o resultado de uma


agricultura de subsistência que apresentou pouco desenvolvimen
to. O tradicionalismo nos métodos de produção e de transforma­
ção dos produtos primários pouco ou em quase nada se alteram

durante todo o período estudado.

De um modo geral, a tabela n9 7 confirmou a elevada Razão

Masculinidade da população da Colónia Nacional Angelina, no

ano de 1864. O número de homens foi superior ao número de mu­

lheres, com exceção das faixas etárias de 0-4, 25-29, 30-34 e

55-59 anos.

(29) - • - •
FARIAS, Vilson Francisco de. Evolução Histonca-Demograf ica de Ensea­
da de Brito, 1778-1906. Florianópolis: UFSC, 1980. p.183.
131

- TABELA N9 7
Angelina: Razão de Masculinidade por Idade - 1864.

ANO HOMENS MULHERES TOTAL RAZÂO MASCU­ TAXA MASCU-


LINA LINA

0-4 21 25 46 84,00 45,65


5-9 25 20 45 125,00 55,55
10-14 24 19 43 126,31 55,81
15-19 21 11 32 190,90 65,62
20-24 19 16 35 118,75 54,28
25-29 13 18 31 72,22 41,93
30-34 13 14 27 92,85 48,14

35-39 14 01 15 1400,00 92,33

40-44 06 06 12 100,00 50,00

45-49 09 06 15 150,00 60,00

50-54 09 04 13 225,00 69,23

55-59 01 02 03 50,00 33,33

60-64 03 01 04 300,00 75,00

Fonte: Relatório do Diretor da Colonia Nacional Angelina ao


Presidente da Provincia de Santa Catarina - 1864.

A faixa etária de 0-4 anos, que apresentou uma proporção

de 84 homens para 100 mulheres, demonstrou que a mortalidade


infantil masculina era bem elevada, nos primeiros anos de vida,
considerando que em média nascem mais homens que mulheres. Cer

tamente, essa mortalidade foi ocasionada pelas péssimas condi­

ções sanitárias de seus habitantes que, vivendo em situação de

extrema pobreza, não dispunham de assistência médica adequada.

Mas, nas faixas etárias compreendidas entre 5 a 24 anos há

uma predominância do sexo masculino. Ë provável que a vanta-


RAZÂO DE MASCULINIDADE DA POPULAÇÃO DA
COLÔNIA NACIONAL ANGELINA - 1864

Fonte: Tabela N9 7

GRÁFICO N?r3
133

gem masculina nessas faixas etárias tenha sido em função da

imigração maior do homem, que se dirigia â Colônia em busca de

trabalho. Como, também, ê provável, que nas faixas etárias en­

tre 25 a 29 e 30 e 34 as mulheres predominam na Colônia em

função de casamentos realizados com homens do lugar. Na faixa


etária entre 35 a 39 anos onde o elemento masculino novamente
é maioria, explica-se pela grande quantidade de mulheres que

morriam em função do parto.

4.2.2. Estrutura Etária

TABELA N9 8
Estrutura da População da Colônia Nacional Angelina, por
Idade e Sexo - 1864.

FAIXAS HOMENS MULHERES


ETÁRIAS TOTAL
O,
ABSOLUTO o ,
"o ABSOLUTO o

00-04 21 6,75 25 8,03 46


05-09 25 8,03 20 6,43 45
10-14 24 7,71 19 6,10 43
15-19 21 6,75 11 3,53 32
20-24 19 6,10 16 5,14 35
25-29 13 4,18 18 5,78 21
30-34 13 4,18 14 4,50 27
35-39 14 4,50 01 0,32 15
40-44 06 1,92 06 1,92 12
45-49 09 2,89 06 1,92 15
50-54 09 2,89 04 1,28 13
55-59 01 0,32 0 2
0,64 03
60-64 03 0,96 01 0,32 04

TOTAL 178 133 311

Fonte: Relatório do Diretor da Colônia Nacional Angelina ao


Presidente da Província de Santa Catarina - 1864.
134

Sabe-se que a composição etária de uma população é conse

qüência de outros fatores, tais como: natalidade, mortalidade,

migração, nupcialidade, fertilidade e força de trabalho.

Deve-se considerar, também, que são gerados mais homens


do que mulheres, numa proporção em torno de 5%. No decorrer da
vida, os homens morrem mais cedo do que as mulheres. Com isso,

em condições normais, a tendência é de haver um equilíbrio en­

tre os sexos na idade adulta e, nas idades mais avançadas, um


excesso da população feminina, uma vez que estas são mais lon­

gevas .

os países desenvolvidos, onde, em geral, há baixa mortal_i

dade e natalidade, a pirâmide populacional tem como caracte­


rística o estreitamento da base e o alargamento da zona média

e superior. Assim, pela forma da pirâmide de idade pode-se ter


uma idéia da tendência demográfica de uma população, a qual

está diretamente relacionada com os coeficientes de natalidade

e mortalidade.

Em países subdesenvolvidos, com número de nascimento pro­

gressivos, a base da pirâmide será mais larga que a sua zona


central e superior. Altos coeficientes de mortalidade no passa
do estreitam a zona média e superior da pirâmide, em relação â

base. Portanto, numa população com altos coeficientes de nata­

lidade e mortalidade, relativamente poucas pessoas alcançam a

idade de 65 anos, ao contrário das populações onde estes coe­

ficientes são baixos.

Analisando a pirâmide etária da população de Angelina, em

1864 , verifica-se que a sua base larga é o resultado de uma a2.


ta natalidade e o seu progressivo estreitamento nas primeiras

idades é o reflexo da alta mortalidade infantil e geral. Este


op Afico n <? 4

PIRAMIDE ETÁRIA DA POPULAÇÃO DA COLÔNIA


NACIONAL ANGELINA - 1864.

IDADES

60-G4

HOMENS MULHERES
55)-59

50-54

4 5-4 9

4 0 4.1
-

35-39

30-34

25-29

20-24

15-19

10-14

5-9

0-4
T **V T: -.rxrjirr
* è 'V *4% 2. % " 0% 2 %' 4-%íT 6% 8%

Fonte: Tabela n9 8
136

tipo de pirâmide indica que grande parte da população é consti

tuída de pessoas jovens, o que possibilita compreender a ne­

cessária existência de famílias numerosas e uma alta taxa de

fertilidade. Vê-se, conseqüentemente, que grande parte da po­

pulação morre em idade precoce, afetando o crescimento popula­


cional .

Há uma diferença acentuada entre a população masculina e


feminina na primeira faixa etária (de 0-4 anos). No lado mas­
culino o primeiro patamar é menor que as faixas etárias seguin

tes; sendo que tal fato não ocorre no lado feminino. A morta­

lidade masculina está concentrada na primeira faixa etária,en­


quanto que a mortalidade feminina vai decrescendo, progressi­
vamente, pelos patamares seguintes, o que demonstra que nos
primeiros anos da colonização o sexo masculino apresentou uma
mortalidade maior. Nas faixas etárias de 5-9 e 10-14 anos, on­
de a proporção entre os sexos foi maior do lado masculino, os

valores correspondem aos nascidos fora da área da Colônia Na­

cional Angelina.

Depois, nas faixas etárias entre 25-29 e 30-34 anos, as

mulheres voltam a predominar. No degrau seguinte, 35-39 anos,a


entrada que há no lado das mulheres, provavelmente ocorreu em

função das mortes provocadas pelo parto.

Também, como não existiam muitas pessoas idosas na Colô­

nia, pode-se supor que quase não havia uma entrada de pessoas

com mais de 50 anos, uma vez que o próprio governo não esti­

mulava o estabelecimento dessas pessoas pelo ônus que repre­

sentavam aos cofres provinciais. Pois, sabe-se pelas próprias


instruções, que, as famílias admitidas deveriam ser: "labono-

sás", dispostas a "possuir terras com o fim de effectivamente

cultival-as". Assim sendo, as mulheres com mais de 40 anos e


137

os homens com mais de 50 anos foram encontrados em menos núme­


ro .

Constatou-se, também, que entre os primeiros moradores da

Colônia Nacional Angelina, não há faixa etária acima de 64 a-


nos, sendo poucas as pessoas que alcançaram os 60 anos de ida­

de. A falta de pessoas com mais de 60 anos deriva, também, do


fato de que estas não estariam propensas a sair de suas áreas
de moradia e depois não constituíam "excesso populacional",mas
sim seus filhos e netos. Por outro lado, certamente, a expec­

tativa de vida não era muito alta, uma vez que eram poucas as

pessoas que chegavam a uma idade mais avançada. Pois, sabe-se,

que uma população com altos coeficientes de natalidade e mor­


talidade relativamente são poucas as pessoas com maior longe­

vidade .

A distribuição da população pelos três grupos etários(jo­


vens, adultos e velhos) permite uma análise em conjunto da pi­
râmide etária. Para fixar ordens de grandeza, pode-se observar

que, nas atuais populações, a proporção dos habitantes jovens


varia entre 20 a 50%, a população adulta entre 65 e 50%, e a

população velha entre 15 e 2 % ^ ^ .

Na Colônia Nacional Angelina, em 1864, para um total de

100 pessoas contava-se com:


- 53,37% entre 0-19 anos de idade,

- 45,33% entre 20-60 anos de idade,

- 1,28% acima de 60 anos de idade.

Conforme a classificação de Sundbarg, a população de An­


gelina, em 1864, caracteriza-se, pela distribuição percentual

^^BELTRÂO, Pedro Calderan. Demografia: Ciência da População: Análise e


Teoria. Porto Alegre: Ed. Sulina, 1972. p.83.
138

-
dos grupos etarios, como sendo do tipo Progressiva (31) . Pois,

em Angelina encontrou-se 43,08% da população no grupo etário


compreendido entre 0-15 anos; 50,48% no grupo etário de 15-50
anos e com mais de 50 anos 6,43% da po.pulação.

Portanto, da análise da pirâmide etária da população da

Colônia Angelina, no ano de 1864, compreendendo os três gru­

pos, conlui-se que: era grande o número de jovens; os adultos


tinham uma importância relativa; os velhos eram minoria.

Calculou-se também a razão de dependência da população

de Angelina no ano de 1864 (32) . Chegou-se a uma Razao de De­


pendência de 43,08% da população. O que significa um grande

prejuízo para a força de trabalho e, conseqüentemente, para a

capacidade de produção do grupo familiar. A população poten­


cialmente ativa carrega o peso dessa dependência e como conse­
qüência temos: a) exploração do trabalho do menor de 15 anos;
b) dificuldade de permanência do menor na escola; c) agravamen
to dos problemas nas áreas sociais e de saúde; d) menor capaci.

tação para o trabalho.

Analisando-se a variável idade, através da tabela n9 9 ,

constata-se, mais uma vez, que estamos diante de uma população

jovem. O fenômeno da população jovem é uma característica das

populações "tradicionais", antes de começar sua transição de-

(31) A população
~ progressiva e- aquela onde ha- altos coeficientes de natali­
dade e de mortalidade infantil, aliados a graves problemas sócio-econõ-
micos (atualmente, países subdesenvolvidos da África e da América do
Sul). A população estacionária apresenta um baixo coeficiente de natali_
dade decrescente (atualmente Japão). A população regressiva é aquela na
qual os coeficientes de mortalidade infantil e de natalidade há muito
tempo são muitos baixos (atualmente, França, Suécia, Dinamarca)" confi­
ra LAURENTI, Ruy. Estatística da Saúde. São Paulo: EPU, 1985. p.18.
(32) "A Razão de Dependencia
- é representada pela relaçao entre a soma do nu­
mero de habitantes com menos de 15 anos e o número de pessoas com; 65
anos ou mais, e o total de habitantes entre os 15 e 64 anos". LAURENTI,
Op.cit., p.19.
139

mográfica, como também dos países em via de desenvolvimento.De

acordo com os métodos elaborados por HENRY, pode-se deduzir que

essa população jovem comporta necessariamente uma forta natali.


dade e, tambem, uma alta fecundidade (33 )

TABELA N9 9

Estrutura por idade (em porcentagem) da população de


Angelina - 1863-1920

ANO + 14 anos % - 14 anos % TOTAL

1863 122 55,96 96 44,04 218


1864 133 43,18 175 56,82 308

1865 - • - - - 506

1866 224 45,16 272 54.,84 496

1867 290 37,94 311 62 ,06 784

1868 - - - - 784

1869 428 57,52 316 42,48 744

1870 555 56,80 422 43 ,20 977

1871 631 57,36 469 .42,64 1100


1872 534 53,18 470 46,82 1004

1873 449 53,77 386 46,23 835

1874 608 52,64 547 47,36 1155

1875 693 49,82 698 50,18 1391

1876 995 66,20 508 33,30 1503

1920 2574 50,33 2540 49,67 5114

Fonte: Falas e Relatórios do Presidente da Província de Santa


Catarina, 1863-1878. Censos de 1872, 1920.

(33)HENRY, Louis. - - - •
Técnicas de Analise em Demografia Histórica.
• •
Curitiba:
Universidade Federal do Paraná, 1977'. p.26 e 27.
140

Mas, por outro lado, essa divisão da população em dois

grandes grupos (+ 14 anos e - 14 anos) permite analisar a for­

ça de trabalho ativa da população. Assim, é considerado "popu­

lação em idade produtiva", ou potencialmente ativa, aquela su-


perior a 14 anos de idade (34)

Entretanto, sabe-se que no meio rural os filhos ajudam aos


pais nos trabalhos domésticos e da lavoura já bem antes dos 14

anos de idade. No Brasil, como acontece nos países menos desen


volvidos, dá-se a entrada prematura dos jovens na força de tra

balho e a saída tardia dos mais velhos, que, em geral, ocorre

devido ã mortalidade.

WHIPPLE, apresenta uma classificação, na qual a população

é considerada normal, quando 50% dos seus habitantes estão en­


tre 15 e 50 anos; são acessivas, qüando nessa faixa etária há
mais de 50% da população, e recessiva, quando há menos de
50%(35).

Na Colônia Nacional Angelina, pela tabela n9 9, verifica-


se que a razão de dependência, em média, sempre esteve acima
dos 40%. Segundo a classificação de Sundbarg, a população de

Angelina caracteriza-se como sendo do tipo Progressiva; e se­


gundo Whipple, seria normal. Desta forma, a população de Ange­
lina apresentou uma elevada razão de dependência, o que refle­
te desvantagem econômica, uma vez que se supõe que os menores

de 15 anos e as pessoas mais idosas contribuem muito pouco pa­

ra o processo econômico.

/*5/,\
"Ao se aceitar a idéia de que os indivíduos entre os 15 e 64 anos são
os mais aptos a participar da força de trabalho, pode-se então conside^
rá-los como população potencialmente ativa. Os indivíduos com menos
de 15 anos e o s de 65.anos, ou mais, são considerados dependentes".
LAURENTI, Op.cit., p.18.
(3 5 )Ibid., p.18.
141

4.2.3. Estrutura por Estado Civil

TABELA N9 10
Estrutura por estado civil (em percentagem) da população

de Angelina, 1863-1877

SOLTEIRO CASADO VI Ovo


ANO mnm
lUJLÜ7
JV-ti
ABSOLUTO % ABSOLUTO Q
*,
5 ABSOLUTO Q
”o.

1863 144 66,05 71 32,56 3 1,37 218


1864 194 62 ,98 109 35,38 5 1,62 308
1865 - - - - - - 506

1866 311 62,70 179 36,08 6 1,20 496


1867 501 63,90 274 34,94 9 1,14 784

1868 501 63,90 274 34,94 9 1/13 784

1869 450 60,48 282 37,90 12 1,61 744

1870 570 58,34 394 40 ,32 13 1,33 977

1871 616 55,09 486 43 ,37 16 1,43 1100


1872 672 66,93 316 31,47 16 1,59 1004

1873 574 68,74 246 29,46 15 1,79 835

1874 764 66,14 368 31,86 23 1,99 1155

1875 938 67,43 428 30,76 25 1,79 1391

1876 1023 68 ,06 456 30,33 24 1,59 1503

1877 1021 69 ,21 430 29,15 24 1,62 1475

Fonte : Falas e Relatórios do Presidente da Província de Santa


Catarina , 1864-1878

A estrutura por Estado Civil da população de Angelina per

mite indicar o número total dos casados, solteiros e viúvos,mas


f36 )
sem a distinção de sexo e idade . Pelos totais percebe-se
(36)As razões de não
«
se poder fazer uma análise do estado civil da popula­
ção de Angelina, por sexo e idade, decorrem do fato de que a documenta,
ção compulsada não contém esses dados de forma quantificada.
142

que a população escrava foi computada junto com a população lj.

vre.

Sabe-se que a distribuição de uma população por estado

civil, depende de uma variedade de fatores nos quais as variá­

veis idade e sexo têm influência marcada. Ou seja, esta repar­


tição depende da idade mínima no momento do casamento, das di­
ferenças dê casamentos, da proporção dos casados em segundas

ou mais núpcias, da viúvez, da mortalidade e migrações, além


(37)
de eventos extraordinarios, como as epidemias, por exemplo

Desta forma, a tabela apresentada não permite uma análise tão


ampla.

Os solteiros sempre foram maioria na Colônia Nacional An­


gelina. Os números apresentam uma pequena queda entre os sol­

teiros, exatamente, nos anos em que a Colônia, por problemas


internos, como troca do Diretor, recebia menos colonos. A pro­
pósito, observa-se uma diminuição no percentual de solteiros

entre os anos de 1869 a 1871. Por sua vez, o número de casa­


dos, em contrapartida, aumentava. Enquanto que o percentual de
viúvos sempre se manteve estável um pòuco acima de 1% da popu­

lação .

A população tal como se apresenta, segundo o seu estado

civil, é típica de uma comunidade extremamente jovem. Walter


Piazza, em seu estudo, também confirma a preponderância das fa
mílias jovens que iniciam a colonização, "especialmente jovens

que se preparam, fazendo a sua primeira lavoura, adquirindo seu


j ■ casas h (38)
lote, para depois

(37) - ~
MARCÍLIO, Maria Luiza. A Cidade de Sao Paulo: Povoamento e Populaçao,
1750-1850. São Paulo: Editora Pioneira, p.122 e 123.
^3 8 ^PIAZZA, Walter F. Angelina: Um Caso de Colonização Nacional. Floria­
nópolis, 1973. p.215.
143

Portanto, conclui-se que, entre os primeiros habitantes

da Colônia Nacional Angelina, sobretudo nos seus primeiros a-

nos, a grande maioria dos casais eram jovens, que se instala­

ram na Colônia, para ali iniciar a sua vida familiar. Cita-se,


como exemplo, o ano de 1864, onde sobre um total de 315 pes­

soas, 18 eram jovens que adquiriram o seu lote para depois


casar e 27 famílias eram jovens recém-casados (39)

4.2.4. A Constituição da Família na Colônia Nacional Angelina

1861-1864

0 estudo da estrutura da família, até hoje, apesar das


tentativas realizadas por alguns pesquisadores, ainda não pos­
sui um quadro teórico e metodológico único e definido. A abor­

dagem do tema é ampla, interdisciplinar, e compreende uma di­


versidade de aspectos, sendo que o tipo de união, também, va­

ria de acordo com a época e a sociedade. Adotou-se aqui, como

"modelo", o estudo realizado por SAMARA^*^ na população da


Cidade de São Paulo, no qual ela define seis tipos básicos de

domicílios.

Todavia, cabe observar que, a Colônia Nacional Angelina

possui algumas características próprias. É formada, inicial­

mente, por colonos nacionais, com famílias jovens e estrutruas


mais simples, ligadas à agricultura de subsistência, o que di­

minui o número de filhos ilegítimos e expostos.

Além disso, as Instruções baixas em 10 de dezembro de

1860, regulando a instalação e a administração da Colônia, de-

(39) . . •
Confira lista nominativa dos habitantes da Colonia Nacional Angelina
referente ao ano de 1864.
SAMARA, Eni de Mesquita. A Família Brasileira. Brasil: História Eco­
nômica e História Demográfica. S|o Paulo: IPE (Instituto de Pesquisas
Econômicas), 1986. p.189-203.
144

terminavam o "tipo ideal de família" pretendida pela adminis­

tração da Província de Santa Catarina. Em seu Artigo 29 as


Instruções determinam que a Colônia devia ser ocupada por fa­

mílias nacionais, "casadas, ou viúvas com filhos, laboriosas,


(41)
e de boa conduta civil e moral..." . Assim, com base nessas

QUADRO 2

Estrutura das famílias e domicílios: categorias e


classes

CATEGORIAS CLASSES

1) Singulares 1) indivíduo só.

2) Desconexas 2 a) indivíduo com escravos, agregados e ou­


tros ou composições várias com esses
elementos.
2 b) casal (idem).

2 c) fogos com chefe definido, mas ausente


(idem).

3) Nucleares 3a) casal.


3b) casal com filhos e netos ou composições
várias com esses elementos.

3b) indivíduo (idem).

4) Extensas 4) idem 3a, 3b e 3c, mais parentes.

5) Aumentadas 5a) indivíduo (com filhos, netos ou paren­


tes) mais agregados, escravos e outros,
ou composições várias com esses elemen­
tos , desde que incluíssem parte das
primeiras categorias e uma ou mais das
últimas.

v 5b) casal (idem).

6) Fraternos 6 a) domicílios sem chefe com vários elemen-


tos, parentes ou não.

6 b) idem, mais escravos e agregados, ou qua].


quer uma dessas categorias.

Fonte: SAMARA, Ervi de Mesquita. A Família Brasileira. Brasil:


Histórica Econômica e HistóriaDemográfica, p.191.

Confira as Instruções, Artigo 29 (no Anexo 5).


145

Instruções, cabia ao Diretor da Colônia fazer a seleção das

pessoas que pretendessem se instalar na área.

Com base numa lista nominativa realizada pelo primeiro


Diretor da Colônia, Carlos Othon Schlappal, entre 1861 a 1864,

chegou-se a um total de 72 fogos, os quais foram estudados a


(42) .
partir dos chefes de domicílios . A estrutura organizacio
nal dos domicílios, que posteriormente serão analisados, está

evidenciada na tabela abaixo.

TABELA N9 11

Estrutura das famílias e domicílios na Colónia Nacional


Angelina - 1861-1864.

ANOS 1861 1862 1863 1864


DOMICÍLIOS TOTAL Q
o,
” TOTAL o
"O TOTAL o
*.
6 TOTAL QO
,

1. Singulares - - 1 1,38 1 1,38 16 22,22


2. Desconexos 3 4,16 - - - — 2 2,77

3. Nucleares 16 22,22 6 8,33 8 1 1 ,1 1 12 16,66

4. Extensos 2 2,77 - - - - 2 2,77

5. Aumentados - - 3 4,16 - - - -

6 . Fraternos - - - - ■- - - -

TOTAL 21 29 ,15 10 13 ,87 9 12,49 32 44 ,42

Fonte: Lista nominativa dos habitantes da Colónia, contida no


Relatório do Diretor, Carlos Othon Schlappal, enviada
ao Presidente da Província de Santa Catarina - 1864.(43)

Os chefes de domicílios aqui considerados são os que encabeçam cada um


dos fogos da lista nominativa. Eles podem ser o casal, um homem ou uma
mulher, viúvo ou viúva, ou ainda um solteiro, vivendo só ou acompanhado.
Como, também, pode compreender os netos, ascendentes, parentes colate^
rais, domésticos e hóspedes, escravos e agregados, vivendo sob o mesmo
teto que o chefe.
(43)Cabe observar que conforme o documento usado os números
- diferem como e
o caso do ano de 1864. Segundo o Relatório do Presidente da Província de
Santa Catarina, Alexandre Rodrigues da Silva Chaves, a Colônia apresen­
tava-se com 308 habitantes. Enquanto que pela lista nominativa chegamos
146

Os domicilios singulares, com um total de 25%, apresenta­

ram um percentual elevado que, provavelmente, não corresponde


ã realidade familiar do colono açoriano. Pois, sabe-se que

que primeiro os homens passavam por algum tempo na Colônia,


sozinhos, construindo a sua casa e fazendo as suas roças, para

depois trazer a família e se estabelecer de forma definitiva.


Somente no ano de 1864 havia 15 famílias em princípio de seus
estabelecimento, as quais foram computadas como singulares,que

contribuíram com mais de 20% dessa cifra. Portanto, adicionan-

do-se essas famílias (que provavelmente seriam nucleares e não

singulares), chega-se, apenas, a um total de 4,16% de domicí­


lios singulares.

Assim, os indivíduos "sós", sem dúvida, eram uma minoria.

Os solteiros nessa situação, geralmente, estavam na Colônia

se preparando para o casamento; os viúvos, na sua maioria, não


pretendiam mais casar, e por fim, os casados eram separados
da família, porque tiveram seus casamentos desfeitos. Desta
forma, todos levavam uma vida celibatária.

Os domicílios desconexos, que perfazem 6,94% do total,mos

traram também moradores solitários, sem parentes, descenden­

tes, ascendentes ou colaterais sob o mesmo teto. Por vezes,es­


ses domicílios incorporavam agregados e escravos, já que não

havia uma relação direta de parentesco entre o núcleo central

e os demais componentes. Também, incluiu-se na categoria os

a um total de 315 habitantes. 0 mesmo Relatório do Presidente da Provín­


cia aponta que a Colonia tinha 71 fogões, com 176 homens e 132 mulheres,
sendo 110 homens solteiros e 84 mulheres; casados 65 homens e 44 mulhe­
res; viúvos 1 homem 4 mulheres. Os solteiros são: 42 homens maiores de 14
anos e 25 mulheres também maiores de 14 anos; sendo que os menores de 14
são 6 8 homens e 59 mulheres; nasceram durante o ano 13, entraram para a
Colônia 81 e saíram 1 e faleceram 3 crianças todas antes de completar meio
ano de vida. Neste mesmo ano a Colônia contava com 72 lotes distribuídos
já definitivo e 22 em princípio. Relatório do Presidente da Província de
Santa Catarina, Alexandre Rodrigues da Silva Chaves, 1865. p.31.
147

casais na mesma situação, com o fim de excluir desta classifi­

cação os chefes de domicílio com filhos, netos e parentes a p a ­


recendo apenas elementos ligados ao proprietário ou sua espo­

sa. Somando-se essa categoria aos chamdos "singulares" repre­


sentaram juntos um pouco mais de 1 1 %.

As famílias nucleares, num total de 58,33% da população,

incluíam o parentesco descendente em linha materna ou paterna.


As famílias nucleares podem ter o seu percentual aumentado,con

siderando que no ano de 1864, em torno de 20% dos domicílios


que foram computados como singulares (compreendendo os colonos

no início de seu estabelecimento), também seriam nucleares.

As famílias nucleares apresentavam composições variadas,

consistindo, entre outras, apenas do casal, ou então do casal


com filhos solteiros. Os viúvos com filhos solteiros, e os ce­
libatários, foram incluídos em domicílios desse tipo, que eram

uma minoria na Colônia Nacional Angelina. Entre 1861 a 1864,


apenas, 4,16% dos domicílios foram encabeçados por pessoas
viúvas, o que corresponde a uma população de 1,26% de viúvos.

Portanto, entre 1861 a 1864, eram mais comuns as famílias

com estruturas mais simples (nucleares e desconexas), com pou­

cos membros integrantes. Os casais em situação irregular e os


solteiros com filhos não foram incluídos nessa categoria, jã

que o casamento legalizado era uma imposição previstas nas


"Instruções", sem a qual o colono não era aceito. Desta forma,

as famílias nacionais, baseadas na estrutura patriarcal açoria

na, foram induzidas a optar por uniões legítimas. Assim, com

casamentos na sua maioria legalizados, diminui o concubinato


e as uniões ocasionais, não dando espaço aos filhos ilegítimos
148

(44 )
e aos pais solteiros . A proposito, encontrou-se um peque­

no percentual de filhos ilegítimos, apenas 1,63% sobre o to­

tal. Tal situação comprova que as normas morais relativas ao


casamento e organização da família eram levadas muito a sério
entre os colonos nacionais de Angelina.

As famílias extensas, num total de apenas 5,55%, tinham


construções semelhantes às nucleares, porém, apresentavam uma
estrutura doméstica diversificada, mais complexa, por incluir
membros subsidiários. Essas famílias, representando um desdo­
bramento da unidade conjugal, compostas por casais com filhos
casados e netos, foram incorporadas a essa ordenação, em fun­
ção dos critérios seletivos adotados e por serem pouco repre­

sentativas no cômputo geral dos fogos. Nessa categoria, foram

considerados apenas os parentes colaterais e ascendentes como


extensão do núcleo central. Foi pequeno o número de parentes
residentes nos fogos; excluídos os escravos e agregados, po­
diam fazer parte do domicílio extenso, parentes casados, com

suas próprias famílias, também denominado grupo familiar múl­

tiplo.

Os domicílios aumentados, num total de 4,16%, incluíam e£

cravos e agregados ou outros elementos não ligados por paren­


tesco ao proprietário ou a sua mulher. Esses domicílios dife­

rem dos desconexos por incorporarem, além de parentes, indiví­

duos completamente fora dessa relação. Os domicílios aumenta-

Observou-se apenas um caso dô homem separado da família, que conseguiu


se instalar como colono ’’nacional", contrariando, assim, as Instruções.
É o caso do senhor Manoel José Ferreira, de 52 anos de idade, natural
de São José, que por exceção não conhecida, tomou posse efetiva do lo­
te n<? 7 da linha Norte e fileira Este, em 13 de abril de 1862. Sobre
sua conduta o Diretor da Colônia observou que: "era colono regular". E
acrescenta: "vive separado da sua família, que se acha em São José,
contra as Instruções desta Colônia"..Confira: Relação dos habitantes
da Colônia, enviada pelo Diretor ao Presidente da Província de Santa
Catarina , 1865.
149

dos caracterizaram-se por uma feição mais complexa em relação

ao núcleo central, aparecendo, em geral, o casal com filhos,


genros, noras e netos, além de parentes ascendentes ou colate­
rais, escravos e agregados.

O padrão típico de "família brasileira" , com vários


integrantes e relações complexas entre seus membros, não che­

gou a representar 10% dos fogos analisados (somadas aqui as

famílias extensas e aumentadas). Alguns autores mais recente­

mente têm demonstrado, em especial no Sul do País, que a famí­

lia brasileira apresenta estruturas mais simplificadas, com


menor número de integrantes e, conseqüentemente, relações me­

nos complexas. O colono nacional, ligado ã pequena proprieda­


de, com lotes em torno de 62.500 braças quadradas, não podia

ter uma família tão grande quanto as verificadas em áreas de


grande latifúndio, como é o caso do Nordeste brasileiro.

Por fim, restam ainda os domicílios fraternos, assim cha­


mados por não apresentarem um núcleo central bem definido, que
seriam os agrupamentos de indivíduos ligados ou não por paren­
tesco, e que podiam ter escravos ou agregados, formando nú­

cleos esporádicos e de composição mal definida. Na Colônia Na­

cional Angelina, por ser exigida uma família bem constituída,

de preferência nuclear, não se encontrou nenhum domicílio com­

posto por fraternos.

SAMARA, em seu estudo sobre a população de São Paulo, no

ano de 1836, constatou que a estrutura das famílias apresen­

tou-se de forma variada. Para um total de 1.516 domicílios de-

tipo ideal de família brasileira descrita por Gilberto Freire, como


sinônimo de "patriarcal" ou "extensa", característica das áreas de ^la­
voura canavieira do Nordeste, não serve para caracterizar a família
brasileira de um modo geral, esquecendo as variações que ocorrem na sua
estrutura em função do tempo, espaço, e diferentes grupos sociais. FRKI
RE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Rio de Janeiro: José Olímpio,
1977, v.2. In: SAMARA, Op.cit., p.190.
150

terminou que 10,6% eram formados por famílias singulares, 27,7%

de desconexos, 34,5% de nucleares, 1,2% extensos, 25,2\ de gru

pos aumentados e 0,8% de domicílios fraternos .

Assim, também, na Colônia Nacional Angelina, com exceção


dos grupos fraternos, havia uma grande variedade na composição
dos núcleos domésticos. As famílias nacionais, reconstituídas

a partir de cada fogo, apresentaram desde a estrutura mais sim

pies até a mais complexa, com um predomínio visível das famí­


lias nucleares. A análise demonstrou que, sem dúvida, o colono

nacional buscou diferentes formas de organização familiar, di­


tadas pelas condições sócio-econômicas, pelos preceitos 'reli­

giosos e, sobretudo, pelas normas que regiam a instalação da


Colônia.

As normas que regiam a instalação da Colônia estavam previs­


tas .nas"Instruções" e cabia ao Diretor do estabelecimento fa­

zer cumprir a lei. Entre outras atribuições o Diretor devia


dar parte ãs autoridades policiais dos fatos criminosos ocor­

ridos no distrito da Colônia, fornecendo todos os esclareci­


mentos e informações possíveis. Mas, naqueles primeiros anos,

era quase comum para alguns colonos viver fora da lei, sabendo
que a Colônia era um bom esconderijo, por ficar longe das au­

toridades policiais. Assim, muitos colonos sob a alegação de


terem sido admitidos como "nacionais" procuravam se eximir do

serviço da guarda nacional. O fato foi tão notável a ponto do

Governo Provincial recomendar que a dispensa para tais casos


somente fosse fornecida para os colonos que, de fato, tivessem

comprado lotes de terra na forma das Instruções. Ao mesmo tem­

po, determina que devem ser incluídos no alistamento os "na­

cionais", residentes na Colônia, salvo se tiver alguma isenção

(46) T, , p.-
Ibid. ino
193.
151

prevista em lei. (47) .

Desta forma, o Dirétor do estabelecimento foi autorizado

a lançar fora da Colonia aqueles homens identificados como "fo

ra da lei", "viciosos", "desordeiros" e de "mau procedimen­


to" (48). Sabe-se, pois, que alguns colonos foram reconhecidos
como devedores com a justiça, pronunciados nos Artigos 128 e
- (49)
207 do Codigo Criminal . por isso, o próprio Diretor, com

freqüência, denunciava os colonos estabelecidos de forma ir­

regular ãs autoridades policiais mais próximas, como, também,

comunicava ao Presidente da Província a relação dos nomes das

pessoas condenadas pelo Código Criminal do Império Brasileiro.

A partir do estado civl dos chefes de domicílio foi pos­


sível analisar outras variáveis relacionadas à organização
familiar, especialmente aquelas que dizem respeito à legitimi­

dade ou não das uniões. Do total de 72 domicílios computados

(47) . - . - .
Registro de correspondencia do Presidente da Província Adolpho de Bar­
ros Cavalcanti d'Albuquerque Lacerda, ao Diretor da Colônia Nacional
Angelina, em 20 de outubro de 1865. Confira também correspondência do
Presidente da Província ao Diretor da Colônia, em 30 de julho de 1877.

^^Registro de Correspondência do Presidente da Província Vicente Pires


da Motta, ao Diretor da Colonia Nacional Angelina, em 5 de maio de
1862.

^ ^ E s t e é o caso dos colonos Quintino Jose da Rosa de 32 anos, Laurindo


José Ferreira de 28 anos, de José Bernardo Machado de 49 anos e de
Procino Rosa da Silva de 47 anos, todos natural de São José. A respei­
to deles o Diretor da Colônia observa: "Acham-se ocultos nessa Colônia,
como réo pronunciado nos art. 128 e 207 do Código Criminal". 0 Código
Criminal do Império Brasileiro estabelece: Art. 128 - Desobedecer ao
empregado público em acto de exercício de suas funções ou não cumprir
as suas ordens legais. Penas:da ferisão por seis dias a dous meses; i¿
to é, seis dias no grão mínimo, trinta e tres dias no médio e dous me­
ses no máximo. Art. 207 - Prometer ou protestar fazer mal a alguem por
meio de ameaças, ou seja de palavra ou por escrito, ou por qualquer oti
tro modo. Penas: de prisão por um a seis mezes; isto é, por um mez no
grão mínimo, por tres e meio no médio e por seis no máximo; e de multa
correspondente a duas terças partes do tempo em cada um dos grãos.Quan
do este crime for cometido contra corporações, as penas serão dobra­
das; que vim a ser: prisão por dous mezes no grão mínimo, por sete no
médio e por 1 2 no máximo; e a multa correspondente a duas terças par­
tes do tempo em cada um dos grãos.
152

61,11% eram de casados, apenas 1,38% de solteiros, 4,16% de

viúvos, 1,38% de divorciados e 31,94% não foram declarados, os

quais, provavelmente, na sua maioria seriam de casados.

Os casados, que eram maioria, geralmente viviam em famí­


lias do tipo nuclear (homem, mulher, filhos e demais dependen­
tes) , ligados por parentesco ascendente e colateral. Os sol­
teiros eram uma minoria, aqui foram separados dos indivíduos

"sós", que foram computados com estado civil não declarado,com

preendendo aqueles colonos no início de seu estabelecimento.Os

viúvos, por sua vez, viviam com os filhos, casados ou soltei­


ros, netos e parentes, também com outros elementos fora dessa
relação. Os divorciados, que também viviam "sós" (dos quais

encontrou-se apenas um caso), eram separados da família origi­

nal, numa tentativa de estabelecer um novo domicílio.

SAMARA, na população de São Paulo, no ano de 1836, em seu


estudo do estado civil dos chefes de domicílio, para um total
de 1.516 fogos computados, verificou que: 503 (33,2%) eram de
indivíduos solteiros; e 663 (43,7%) eram casados, 282 (18,6%)
de viúvos; enquanto que os divorciados representavam menos de
-,s (50) •
Xo

Em Angelina, também, é elevado o número de homens como ca

beça do domicílio; para um total de 72 domicílios, 69 (95,83%)

tinham os homens ã sua frente, enquanto que as mulheres apare­


cem como chefe apenas em 3 domicílios, que corresponde a 4,17%

do total. Ao contrário, em São Paulo, ê elevada a percentagem

de mulheres como cabeça de domicilio, sendo que os autores' a-

pontam para tal fato "a instabilidade da população masculina,

que se d eslocavacom freqüência, para outras regiões, por mo-

SAMARA, Op.cit., p . 197.


tivos econômicos" .

Por fim, ainda, resta analisar a variável idade do chefe

de domicílio, que é um outro dado importante dentro do estudo

da família. No total da população predominavam os chefes de

domicílio com menos de 41 anos de idade (57,7%). Os elementos


mais jovens, com menos de 21 anos de idade não foram encontra­
dos entre os homens casados, mas somente entre as mulheres.As­

sim, ao que parece, as primeiras núpcias não se realizavam tãò

cedo, ao menos entre os homens. De fato, as mulheres casavam


um pouco mais cedo que os homens, pois 63,82% das mulheres ca­

sadas tinham menos de 41 anos de idade.

Classificando os domicílios a partir das faixas etárias,

para o sexo masculino, obteve-se sobre o total 20,83% dos ho­


mens entre 21-30 anos; 38,88% entre 31-40 anos; 20,83% entre

41-50 anos; 13,88% entre 51-60 anos, e com mais de 60 anos ape

nas 1,38% dos domicílios. Para as faixas etárias do sexo femi­

nino obteve-se: 4,25% das mulheres com menos de 21 anos; 36,17%

entre 21-30 anos; 23,40% entre 31-40 anos; 23,40% entre 41-50

anos; 12,76% entre 51-60 anos, e com mais de 60 anos não se

encontrou ninguém do lado feminino.

Comparando as faixas etárias entre os dois sexos percebe-

se que, do lado masculino, a faixa etária com maior número de

indivíduos situou-se entre 31 e 40 anos, com um índice de


38,88%. Do lado feminino, comprovando que as mulheres casavam

mais cedo, a faixa etária com maior número de casos situou-se


entre 21 e 30 anos, com um índice de 36,17% de mulheres casa­

das .

<'5 1 '>SAMARA, Op.cit., p.197.


154

SAMARA, para a população de São Paulo, no ano de 1836,

constatou que predominavam os chefes de domicílios com mais

de 41 anos de idade, com um índice de 7 2,9%. Os elementos mais

jovens, com menos de 21 anos, apareceram em 48 casos, o que


dã um índice baixo, 3,2%. E na faixa etária entre 21 e 30 anos

encontrou-se 315 domicílios, o que corresponde a uma cifra de

20,77%{52).

O número de pessoas por domicílio, entre 1861 a 1864, foi


em média de 4,37%. Mas, provavelmente, essa média ê maior em

função de se ter encontrado um pequeno número de habitantes


por domicílio no ano de 1864, entre as famílias que ainda es­

tavam iniciando o seu estabelecimento. Isso pode ser comprova­

do quando se estabelece o número médio de habitantes para cada


ano desse período. Assim, tem-se em 1861 uma média de 6,90 ha­
bitantes por domicílio; em 1862 uma média de 5,3 habitantes ;em

1863 uma média de 4,0 habitantes; e em 1864 uma média de 2,53

habitantes, ano: que puxou a média para baixo.

Por outro lado, através de documentos oficiais, compro­

vou-se, também, que no grupo doméstico da comunidade de Ange­

lina, na segunda metade do século XIX, o número médio de pes­

soas por casa e por fogo foi elevado. Esses mesmos dados, na­

turalmente, também revelam uma elevada fecundidade entre ãs

famílias de Angelina.

Pela tabela n9 12 verificou-se que o número médio de ha­

bitantes, entre 1861-1873, por fogo, oscilou entre 3 e 6, o que

dá uma média de 5,23 habitantes para o período. Ao mesmo tempo,

o número médio de habitantes por casa oscilou entre 3 e 8 , o

que dá uma média de 5,35 habitantes para o mesmo período. Por-


(52)
SAMARA, Op.cit., p.200.
155

tanto, os dados indicam que entre os primeiros moradores da

Colonia Nacional Angelina, o número médio de pessoas por casa

e por fogo foi bastante elevado, sempre superior a 5 habitan­

tes .

TABELA N9 12
Número medio de habitantes de Angelina por fogo e por
casa - 1861-1873

POPUL. N9 DE N9 DE NÚMERO MÉDIO DE HABITANTES


ANO TOTAL FOGOS CASAS FOGO CASA

1861 107 29 13 3 ,68 8,23

1862 208 40 39 5,20 5,33

1863 218 39 - 5,58 -

1864 308 71 88 4,33 3,50


00
LO
00

1865 506 86 105 4,81

1866 496 99 105 5,01 4,72

1867 784 152 142 5,15 5,52

1872 1004 166 - 6,04 -

1873 835 134 - 6,23 -

Fonte: Falas e Relatórios do Presidente da Província de Santa


Catarina, 1861-1874.

A média de habitantes por fogo e por casa só não foi mais

elevada porque, há de se considerar que, essa alta fecundidade

também vinha acompanhada por uma alta taxa de mortalidade ge­


ral e.infantil, o que diminui rapidamente o número de membros
das famílias. Além do mais, sobretudo nos primeiros anos, a

grande maioria dos casais eram jovens, que se instalaram na

Colônia para ali começar a sua vida familiar.


156

Por outro lado, as famílias mais idosas tinham muitos fi­

lhos, como exemplo, temos o caso do Senhor Antônio Souza Fa­

gundes, de 44 anos, casado com Maria Luiza de Souza, de 40

anos, que tinham em 186 4, 12 filhos. Outro exemplo é José Iná­

cio de Souza, com apenas 32 anos, casado com Laurinda Rosa de


Jesus; de 41 anos, que em 1864 possuíam 9 filhos.

Na Enseada de Brito, entre 1778 e 1906, o número médio de


filhos por família manteve-se em torno de 4, sendo que a famí­

lia ideal (com 6 pessoas), foi meta a ser mantida no casamen­


to, ao longo do período. Na mesma Freguesia, constatou-se,tam­

bém, que o casamento ocorria para as mulheres em torno de 22


anos e para os homens aos 24, sendo que 40% da população tinha

menos de 18 anos (53 ) . 0 autor atribui ter contribuído para es­


sa Constante familiar a! elevada freqüência da mortalidade, que
constantemente eliminava parte da população, reduzindo a pos­

sibilidade de ocorrer uma explosão demográfica.

Em Itajaí, entre 1876 a 1930, o número médio de filhos os

cilou em torno de 5,52 e 3,75 por família. Ao mesmo tempo, a


idade média do casamento feminino altera-se de 19,5 anos, em
1876, para 22,2 anos, em 1930. 0 mesmo estudo constatou que,os

homens sempre se casaram mais tarde que as mulheres, em média


5 anos, e não houve grande alteração nas idades no casamento.

A idade modal para o casamento masculino oscilou entre 24 e 26

anos (54) .

Maria Luiza Marcílio, em seu estudo sobre a população de

Ubatuba, que trata dos Caiçaras — - agricultores e pescadores -

do litoral brasileiro, encontrou um número médio de pessoas por

FARIAS, Op.cit., p.95 e 202.


(54)
FLORES, Op.cit., p . 60.
157

fogo, para a primeira metade do século XIX, que oscilava entre

5 a 8 habitantes (55) . Segundo o seu estudo esse numero pode ser

considerado elevado, o que demonstra, ao mesmo tempo, uma ele­


vada fecundidade.

4.2.5. Estrutura por Atividade Produtiva

Para classificar a população ativa de Angelina segundo a


sua atividade produtiva reuniram-se os dados encontrados nas

Falas e Relatórios da Presidência da Província, bem como dados

extraídos de algumas correspondências dos Dirétores da Colônia


ao Presidente da Província. Os dados encontrados são referen­
tes ao século passado que vão de 1863, com exceção de alguns

anos, até 1877.

Na classificação dos resultados adotamos o critério se­

guido por Maria Luiza Marcílio, em seu estudo sobre a popula­


ção da cidade de São Paulo, que, por sua vez, adota os crité­

rios de Colin Clark, que distingue três categorias de ativi-


(56)
dades produtivas: primárias, secundárias e terciárias . En-

tende-se por atividade primária aquela que depende da utiliza­


ção direta dos recursos naturais. A atividade secundária é

aquela que não usa diretamente os recursos naturais e produz,

as manufaturas, em grande escala e de modo contínuo, bens tranjà

^■^MARCÍLIO, Maria Luiza. Caiçara: Terra e População: Estudo de Demogra­


fia Histórica e da História Social de Ubatuba. São Paulo: Paulinas:
CEDHAL, 1986. p. 139. Também, em Ubatuba a idade média ao casar era de
2 1 , 6 anos para os rapazes e de 2 0 , 8 para as moças, o que demonstra uma
idade relativamente baixa para o casamento. Ao contrário, nos séculos
XVI a XVIII a idade modal das mulheres no casamento se situa, em muitos
lugares, na França, na Inglaterra, nos Países Baixos, na Itália do Nor­
te e na Alemanha, entre 25 e 28 anos.
MARCÍLIO, Maria Luiza. A Cidade de São Paulo: Povoamento e População,
1750-1850. São Paulo: Editora Pioneira, 1873. p.129-132.
158

portáveis. O setor terciário, ou de atividades de serviço,

constitui a construção, os transportes e as comunicações;

o comércio e as finanças; os serviços profissionais, em ge-

ral, (57) .

A finalidade da Colônia não "era somente tirar a população


excedente do litoral catarinense, mas não existiam terras fa­
voráveis para o trabalho de muitas familias, sendo que na vi­
são do Governo Provincial fariam render economicamente áreas
despovoadas. Assim sendo, o incentivo era para a agricultura,

porém as dificuldades de sobrevivência fizeram surgir uma du­

plicação de atividade. As famílias que possuíam engenhos tam­


bém eram agricultoras.

Definidos os critérios de trabalho apresenta-se a estru­

tura por atividade produtiva da população de Angelina, na se­


gunda metade do século XIX.

Apesar das grandes lacunas deixadas pela falta de dados,


pois os documentos nem sempre trazem as informações de forma
quantificada, inicialmente, na Colônia Nacional Angelina, ve­
rificou-se a predominância do setor primário. A grande maioria

dos seus habitantes, conforme comprovou a documentação compul­


sada, dedicou-se ã agricultura, ou seja, eram pequenos lavra­
dores e criadores de animais domésticos. 0 trabalho do peque­

no agricultor era voltado a satisfazer as suas necessidades

imediatas arrancando da terra ou da natureza o sustento para

a sua sobrevivência. Era uma agricultura de subsistência. 0

^5 7 Wrc1LIO, Op.cit., 1873. p.134.


159

cultivo da terra consistia na derrubada e queimada da Mata A-

tlântica, através de instrumentos como o machado e a foice. A

velha enxada ajudava a manter a terra limpa. O terreno assim

preparado, nas encostas aclíveis, devido ã grande erosão do


solo, após as primeiras colheitas tornava-se improdutivo.

TABELA NÇ 13

Repartição da população de Angelina por atividade produ­


tiva - 1863-1877

1863 1864 1866 1867 1869 1871 1875 1876 1877

I - ATIVIDADES PRIMÁRIAS
Lavradores — - 97

II- ATIVIDADES SECUNDÁRIAS


Alambique - - - - - 03 - 02 -
Alfaiate — — — — - - - 01 01
Carpinteiros 02 04 04 - - - - - -
Construtores de Eng. - 02 - 04 - - - - -
Engenho de Açúcar — - - 01 03 09 - 24 25
Eng. Far. Fubá - - - - - 01 - - -
Eng. Far. Mandioca - - 04 09 20 26 - 24 25
Ferreiro - - - - - - - - 01
Marcineiros 01 01 -
Monjolo - - - 01 - - - — -
Oleiros 01 01 01 01 - - - 01 -
Sapateiros - - - - - - - 01 01
Tafonas — — — - - - - 03 -
Teares — - 09 09 07 — 07 — —

III - ATIVIDADES TERCIÁRIAS


Carro de boi — - - 01 - - - - -
Empregado Público “ — 01
"

Fonte: Falas e Relatórios dos Presidentes da Província de Santa


Catarina, 1876-1878. Correspondências dos Diretores da
Colônia aos Presidentes da Província de Santa Catarina.

Nos primeiros anos da criação da Colônia o pequeno agri­

cultor, desprovido de recursos, procurou sobreviver a qualquer

custo. Alguns dedicavam-se, além da roça, ã extração da erva-


160

-(58)
mate, que era abundante na região ; outros procuravam criar

algum gado
(59) . E os que ja tinham melhores condiçoes possuíam

engenhos de farinha de mandioca, engenhos de açúcar, teares ca

seiros, ou alambiques de cachaça, que, na classificação acima,

entraram como pertencentes âs atividades secundárias. Por sua

vez, a atividade terciária é inexpressiva, o que expressa o

tradicionalismo nos métodos de produção e de transformação dos

produtos primários, que não possibilitou comportar um maior

número de funcionários liberais, religiosos, civis, ou ligados

ao comércio, ao transporte e serviços em geral.

Também, desde o início, se experimentou várias espécies

de cultivo tais como: o a l g o d ã o ^ ^ , o tabaco^ o trigo, o

café, o linho, a cevada, a aveia e mais tarde até a vinha.Mas,

na maioria das vezes, os colonos obtiveram pouco sucesso. Por

isso, tiveram que apegar-se às culturas mais conhecidas para

sobreviver: "Os colonos d'esta colônia presentemente procuram

entregarem-se na cultura dos gêneros de primeira necessidade,

como feijão, milho, mandioca, batatas, com que procurão reme-

diar a sua pobreza..."


(62) . Assim, somente com o tempo, já

numa posição mais estável, poderiam voltar-se ao cultivo de

outros produtos, sem precisar pôr em risco a sua própria so­

brevivência.

A predominância da atividade primária na Colônia e o es­

forço empreendido pela direção junto aos colonos para elevar o

Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Pedro Leitão da


Cunha, 1863. p.28.
Relatório do Vice-Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco
José de Oliveira, 1864. p.22.
Ofício n9 162, de 20 de outubro de 1864, do Encarregado da Direção da
Colonia ao Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Alexandre Ro­
drigues da Silva Chaves. '
Ofício n9 163, de 20 de outubro de 1864, Idem, Idem.
^^Ofício, O p . cit.
161

seu nível de vida são testemunhados através dos documentos:

Os processos empregados na cultura são os usados de tempos


imemoráveis pelos nossos antepassados, sem que haja a
mais pequena alteração no espírito da rotina, que aindá
muito se acha arraigado em todos os lavradores que no ama­
nho dos terrenos quer no preparo dos productos, embora da
parte da Direção da Colônia haja o desejo de promover en­
tre lavradores o conhecimento dos últimos melhoramentos de
cultura e dos meios mechanicos que a sciencia atualmen­
te concorre (...) sendo, porém tudo isso improfícuo e sem
resultado de qualquer espécie... (63)

A tabela n? 14 resume as informações contidas na tabe­

la anterior, a qual serviu-se do ano de 1866, para ilustrar a

contribuição em percentagem de cada setor de produção, o que

está visualizado no gráfico n9 5.

TABELA N9 14
Repartição da população ativa por setor de produção
1866

VALORES
SETOR DE PRODUÇÃO RELATIVO
ABSOLUTO

Primário 97 87 ,00

Secundário 14 12,50

Terciário 01 0,50

Fonte Original: Falas e Relatórios do Presidente da Província


de Santa Catarina, 1867-1878.
Correspondências dos Diretores da Colônia aos Presiden­
tes da Província de Santa Catarina, 1863, 1877.

Observa-se, pela tabela acima, que 87% da população ativa

de Angelina, no ano de 1866, trabalhava nas atividades Primá­

rias, 12,5% nas atividades secundárias e apenas 0,50% nas ati­


vidades terciárias. Esses dados comprovam, o que a documenta-

Ofício s/n9, de 05 de setembro de 1872, do Diretor da Colonia, Joa­


quim José de Souza Corcoroca, ao Presidente da Província, Dr. Delfi-
no Pinheiro de Ulhoa Cintra Junior.
PRODUÇÃO DA COLÔNIA NACIONAL
An g e l i n a ^ 1866

LEGENDA

A- P R IMAR IÜ
B - S E C U N D A R 10
C - T E R C I h RIO

SETÜR DE P R O Ü LIÜ n U

Fonte: Tabela n9 14

GRÁFICO N9 5
163

ção também assinalou, que a grande maioria da população traba­


lhava na agricultura. Nas atividades secundárias, destaca-se

o grande número de engenhos, onde o máximo da técnica emprega­

da era a "força animal" e a "queda d ' á g u a " ^ ^ . Enquanto que


o setor terciário, de fato, é inexpressivo.

Em todas as sociedades agrícolas do passado verifica-se

que, principalmente devido â limitação das fontes de energia,


a grande massa populacional está impossibilitada de satisfazer
mais do que as necessidades elementares tais como: comida, ves

tuário, alimentação e mesmo estas em níveis insatisfatórios.

Além do mais, a maior parte dos recursos disponíveis são apli­


cados na agricultura. Assim, é a agricultura que absorve a
maior percentagem de capital e trabalho disponíveis.

Apesar das tentativas de "modernização", onde chegou a


haver a transformação dos produtos agrícolas como o milho e a

mandioca, através do emprego da "roda d'água" ao lado do "mo­

tor animal", contudo, a Colônia serviu apenas de laboratório

onde se faziam novas experiências. Os Presidentes da Província

de Santa Catarina, durante a segunda metade do século passado,


não encontraram nenhuma resistência local para levar às colô­

nias as suas idéias "modernizadoras". Pelo contrário, . conse­

guiram transformar a Administração em meio eficaz para tentar

"Na Colônia em fins de 1867, existiam: 1 engenho de farinha de mandio­


ca pertencente a Província "motor animal", e particulares: 1 engenho de
garinha de mandioca, movido por água como também destinado para moer
fubá, 7 engenhos de farinha de mandioca, "motor animaes", 4 ditos em
construção, 1 dito para açucar, 3 monjolos para socar milho e arroz, 1
carro com juntas de bois, teares para tecer pano de algodão e linho 9,
olaria 1, construtores de engenhos e carpinteiros 4. Além destas profis_
sões há muitos colonos que se empregam a fazer gamelas, peneiras, cor­
das, balaios, chapéus, para consumo e exportação da colonia e alguns co^
lonos fazem pão de milho, roscas e doces para venderem ao público". Re­
latório do Presidente da Província de Santa Catarina, Adolpho de Barros
Cavalcanti de Albuquerque Lacerda, 1868. Anexo D.
164

introduzir novas técnicas de plantio e produção'(65 ) . Mas, es­

sas experiências não perduraram como deviam e, por isso, a

Colônia Nacional Angelina não evoluiu muito além das socieda­


des agrícolas do passado.

PIAZZA, Walter F. Angelina: Um Caso de Colonização Nacional. Florianó


polis, 1973. p.253 e 256.
-CAPITULO V

DINÂMICA POPULACIONAL

5.1. As Grandes Linhas de Tendências

A partir dos registros paroquiais agregados pode-se ana­


lisar o comportamento da dinâmica populacional no que se refe­
re aos batismos e nascimentos, casamentos e óbitos. Estuda-se

o movimento anual e decenal da natalidade, dos batismos, casa­


mentos e óbitos, bem como as taxas de natalidade, nupcialidade
e mortalidade, para os séculos XIX e XX (com exceção para os
anos que não se dispõe de dados). Para tal estudo, os dados
levantados foram ordenados cronologicamente, mês a mês, em ca­

da ano civil, que possibilitaram estabelecer tabelas e gráfi­

cos mostrando as flutuações do movimento populacional (anexo

8).

As curvas que representam as séries cronológicas de bati­

zados, casamentos e óbitos, com seus pontos altos e baixos,evi.

denciam uma evolução a longo termo chamada tendência, que pode

ser melhor demonstrada substituindo-se as séries anuais por


166

séries de médias d e c e n a i s ^ . Desta forma, adotou-se o método

do corte de cada ordem de eventos por períodos de 10 anos ci­

vis. Os resultados obtidos, para as três séries de eventos,


são apresentados na tabela n9 15 e ilustrados no Gráfico n9 6.

TABELA N9 15

Média anual de batismos, casamentos e óbitos por


período de 10 anos

DECÊNIOS BATISMOS CASAMENTOS ÕBITOS

1860-1869 20,11 7,66 7,11


1865-1874 27,50 12,20 9,90

1870-1879 44,70 12,60 11,90

1890-1899 49,80 12,70 6,00

1895-1904 62,60 12,80 6,40

1900-1909 15,70
i—1
o
o

1905-1914
1925-1934 225,80

1930-1939 224,90
1935-1944 232,30 50,30

1940-1949 255,40 49,30 '

Fonte Original: Livros de registros dos batizados, casamentos


e óbitos do arquivo histõrico-eclesiãstico da
Cúria Metropolitana da Arquidiocese de Floria­
nópolis.

Com base na tabela e no gráfico passaremos à análise dos

eventos.

HENRY, Louis. Técnicas de Análise em Demografia Histórica, Curitiba:


Universidade Federal do Paraná, 1977. p.52. Obtém-se as médias dece­
nais através da divisão do total dos dados de uma década por dez.
MOVIMENTO DECENAL DOS EVENTOS VITAIS
SÉCULO XIX E XX:

o o G O O O O O O
VO r- 00 o\ O i—H <N ro
oc 00 00 00 en O'. en O'.
H r—1 r—i r-! r— i r—i r-! f-H r-í

Decenios

Fonte: Tabela n9 15

GRÁFICO N<? 6
168

5.1.1. Batismos : Nos anos compreendidos entre 1860 a 1879,

portanto, nos dois primeiros decênios do século passado, o nú­

mero de batismos cresceu bastante passando de 20,11 para 44,7 0,

chegando a duplicar a média da primeira década para a segunda.


Esse período corresponde aos primeiros anos de progresso da

Colônia, onde o Governo Imperial incentivou o estabelecimento


dos colonos nacionais e europeus no interior da Província de

Santa Catarina. Porém, com a emancipação da Colônia Nacional

Angelina, em 1881, o crescimento populacional passa a ser me­


nor. Chegando no fim do século passado com uma média de' 49,80
batizados por ano.

Quanto à evolução dos batizados no século XX, a tendência


de desaceleração se mantém até o final do período, o que mos­

tra que também houve uma desaceleração no crescimento da popu­

lação. Para a década de 1930 a 1939 a média de batizados por ano foi
de 224,90, e para a década de 1940 a 1949 a média foi de
255,40, o que significa um aumento muito pequeno. Essa ligeira
tendência de baixa no número de batizados é provável que seja
o resultado da emigração da população de Angelina para outras

áreas em busca de melhores condições de vida.

5.1.2. Casamentos : Durante as duas primeiras décadas, nos

anos compreendidos entre 1960 a 1879, a Colônia Nacional Ange­

lina mostrou um crescimento significativo na média anual de


casamentos, passando de 7,66 para 12,60 casamentos por ano. Ejs

ses dados, a exemplo dos batizados, representa o período de

início da colonização, onde muitos jovens se estabeleciam na

colônia, para depois casar. Entretanto, a partir do fim da se­

gunda década os casamentos mostram uma tendência de estabili­

zação, chegando, assim, no início desse século, com uma peque-


169

na tendencia de queda. Essa mesma tendencia de estabilização se

matém durante alguns anos desse século. Depois, deve ter havi­

do um pequeno crescimento na média de casamentos (que corres­

ponde aos anos que não se dispõe de dados), voltando a apre­

sentar uma nova tendência de queda na última década, onde a


média era de 49,30 casamentos por ano.

5.1.3. Óbitos : Os registros de óbitos cobrem apenas o sé­

culo passado, no período que vai de 1860 a 1899. Já para esse

século dispõe-se de dados completos, apenas, para os primeiros


quatro anos, o que significa que são insuficientes para mos­
trar a tendência geral de todo o período.

Os óbitos também mostraram um crescimento maior durante

os dois primeiros decênios do século passado. Porém, o cresci­

mento da média anual de óbitos, durante o século passado, sem­

pre foi menor que a média de crescimento verificada nos bati­

zados e casamentos. Após os dois primeiros decênios os óbitos

mostram uma tendência de queda que se mantém até o final do

século passado.

Em suma, a tendência geral dos batizados, casamentos e

óbitos é a de um crescimento maior nos primeiros decênios do

século passado, exatamente nos anos que correspondem ao iní­

cio da colonização. Desta forma, a partir de 1880, a média a-


nual dos três eventos cresce em ritmo menor, sendo que em al­

gumas décadas há até uma queda na curva de crescimento. Enfim,


as três variáveis (batizados, casamentos e óbitos) mostraram

haver uma certa correlação entre as três séries de eventos vi­

tais. Durante todo o período estudado não se tem notícias, á-


través da documentação compulsada, de grandes epidemias ou cr_i

se de subsistência. Assim, as flutuações que existem estão di-


170

retamente relacionadas com o crescimento, ou queda, na taxa de

crescimento da população, fruto da entrada e saída de colonos


da área.

5.2. Os Movimentos Sazonais de Batismos, Casamentos e óbitos

a) Nascimentos (batismos)

A Colônia Nacional Angelina, constituía uma comunidade

marcadamente católica. Sabe-se que em uma sociedade tradicio­


nal os preceitos religiosos exercem orientação segura e definjL
da sobre a finalidade do casamento e, também, sobre a decisão
do casal em assuntos que dizem respeito ã época apropriada pa­
ra o casamento, ao número ideal de filhos e aos métodos anti­
concepcionais. Com o advento da Industrialização, na medida em
que as sociedades tradicionais evoluem, a influência religiosa

passa a ser menor, ou pelo menos prevalece a decisão pessoal.

Alguns desses aspectos externos desta influência religiosa po­

dem ser avaliadas com o estudo do movimento sazonal tais como:


a prática de não casar e não conceber filhos nos períodos pe­

nitenciais do Advento e da Quaresma.

As leis da natureza, as quais regem as estações do ano,

parecem ter uma influência sobre a multiplicação da espécie hu

mana. Maria L. Marcílio, lembra que, para os países da zona

temperada, os da Europa em geral, durante a primavera, "um


(2 )
grande renovar manifesta-se também entre os homens" . Estu­

dos têm mostrado que no Antigo Regime Europeu há uma tendência

de aumento das concepções durante os meses de maio e junho

(2)
MARClLIO, Maria Luiza. A Cidade de São Paulo: Povoamento e Populaçao.
1750-1850. São Paulo: Pioneira, 1973. p.147 e 148.
171

(primavera) e uma diminuição em setembro e outubro(outono).Mas

a mesma autora alerta que no Brasil nem sempre acontece o mes­


mo, principalmente, nas regiões onde- o clima não define bem as
estações.

Mas a sazonalidade não é estudada somente em função da


influência da Igreja e do clima, mas também em função de ou­

tros fatores, tais como atividades econômicas (colheitas, épo­


ca da farinhada, plantio). Enfim, cada comunidade sofre as in­
fluências de acordo com a colonização, com a religiosidade po­
pular, com os mitos e crendices, bem como aqueles oriundo do

proprio calendário agrícola e litúrgico (3 ) .

A partir destas premissas passa-se a analisar os instru­

mentos dos eventos vitais de batismos, casamentos e óbitos da


população de Angelina. Dividiu-se o período em duas partes, sé
culo XIX e XX, com a finalidade de verificar se houve alguma
mudança no comportamento da população do primeiro para o se­
gundo período para o segundo período. No estudo do movimento

sazonal dos batizados já se estabeleceu a correlação com o mês


de concepção, o que permitiu obter no mesmo quadro, também, o
movimento sazonal das concepções. 0 estudo dos registros de ba
tizados da comunidade de Angelina está condensada nas tabelas
n9s 16 e 17, o que permitiu o estabelecimento dos gráficos 7 e

8.

(3)
Também, cabe observar que nos países latinos, em algumas comunidades, o
condicionamento às crenças supersticiosas desempenha um papel de funda­
mental importância no movimento sazonal da população. Cita-se, como
exemplo, o mes de agosto que é considerado de desgraças, infelicidade e
mau agouro para o casamento, mudanças de residência, ou qualquer outro
empreendimento de vulto. FLORES, Maria Bernadete Ramos. História Demo­
gráfica de Itajaí: Uma População em Transição - 1866-1930. Florianópo­
lis: UFSC, 1979. p.141.
172

5.2.1. Movimentos Sazonais de Batismo

TABELA N9 16

Movimento sazonal de batismo de Angelina, século XIX


(1863 - 1899)

Mês de concepção A M J j A S 0 N D J F M TOTAL

Mês de batismo J F M A M J J A S 0 N D

Números absolutos 55 16 29 56 42 29 54 78 83 54 42 53 591

Divisor 31 28,25 31 30 31 30 31 31 30 31 30 31

Números diários 1,77 0,56 0,93 1,86 1,35 0,96 1,74 2,51 2,76 1,74 1,4 1,70 19,28

Números proporcionais 110 35 58 116 84 60 108 156 172 108 87 106 1.200

Fonte: Livros de registros de batizados do arquivo histõrico-


eclesiástico da Cúria Metropolitana da Arquidiocese de
Florianópolis, 1863-1899.

TABELA N9 17
Movimento sazonal de batismo de Angelina século XX
(1900 - 1950)

Mês de concepção A M J J A S 0 N D J F M TOTAL

Mês de batismo J F M A M J J A S 0 N D

Números absolutos 591 447 559 420 509 558 626 509 587 645 538 475 6.465

Divisor 31 28,25 31 30 31 30 31 31 30 31 30 31

Números diários 19,06 15,82 18,03 14,00 16,41 18,6 20,19 16,41 19,56 20,83 17,93 15,32 212,16

Números proporcionais 108 90 102 79 93 105 114 93 111 118 101 86 1.200

Fonte: Livros de registros de batizado, do arquivo histõrico-


eclesiástico da Cúria Metropolitana da Arquidiocese de
Florianópolis, 1900-1950.
173

M O V IM E H T 0 S A 2 O IIA L DE B A TI S M O S SEC XI X

J F M A M J J A S .O N D NASC.

MESES

Fonte: Tabela n9.16

GRÁFICO N9.7
MOVI MENTO S A Z O N A L DE B A T I S M O S S E C
Por

A M. J J A S O N D ,J F M CONC
J F M A M. J J A S O N D "NASC

MESES

Fonto.: Tabola n9-17

GRÁFICO N3.8
175

No curso do século XIX, no período que vai de 1860 a 1899,


observam-se algumas flutuações bem pronunciadas, o que determi

na que houve sazonalidade. Os meses de maior ocorrência de ba­

tizados foram os de agosto e setembro, que correspondem aos

meses de concepção de novembro e dezembro. Os meses de menor


ocorrência de batizados foram os de fevereiro e março, que
correspondem aos meses de concepção de maio e junho.

Os dados indicam que no século XIX á influencia da Igreja


no que diz respeito às concepções e batizados não é marcante.
As influências econômicas e climáticas são mais expressivas.
Os meses de maio e junho, em que as concepções são menores,

correspondem ao inverno e, pelo que se sabe, as estações do


ano em Angelina são bem acentuadas. Por outro lado, os meses
de novembro e dezembro correspondem ã primavera, onde o desejo
(4)
natural de aumentar a prole manifesta-se entre os homens .Ao
lado da influência climática existe a necessidade econômica,
onde a sobrevivência de muitas famílias dependia do plantio e

da colheita da mandioca. Nos meses de maio e junho, que são de


baixa concepção, muitas famílias passavam a noite trabalhando
nos engenhos de farinha de mandioca que, particularmente, em

Angelina eram numerosos no século passado. Desta forma, as con


cepções no século passado apresentam sazonalidade mais em fun­

ção de fatores climáticos e econômicos do que em decorrência da


Quaresma, e do. Advento, tidos como períodos penitenciais pela

Igreja.

Para o século XX já há algumas alterações em alguns méses

quanto ao movimento sazonal. A curva máxima de batizados si­


tua-se entre os meses de julho a outubro, o que corresponde

(4)
v 'm ARCILIO. Op.cit., p . 148.
176

aos meses de concepção de outubro a janeiro. As mínimas encon­

tram-se em abril e dezembro, que correspondem às concepções


em julho e março.

Neste século, se há influência da Igreja, ela se manifes­


ta em março, quando as concepções foram menores, e levemente,
talvez, em novembro. Mas a grande tendência climática e econô­

mica verificada no século passado ela persiste no século atual.

Há um aumento significativo nas concepções durante o período


da primavera e se estende até o verão, em dezembro e janeiro.
Por outro lado, nos meses de inverno, de julho a agosto, época
também da "farinhada", as concepções são bem menores.

Traçando um paralelo com o estudo de Edy Barros sobre "A


Freguesia de Nossa Senhora das Necessidades e Santo Antônio",
no que diz respeito ãs concepções, os resultados quase que co­
incidem. A autora constatou que, no conjunto, março, não se
apresenta abaixo da maioria dos outros meses, o que revela que
a influência da Igreja não se faz sentir nesse indicador. E
conclui afirmando que: "as concepções mostram que sobre elas
nunca se verificou a influência da Igreja no grande período
estudado1 (5 ) . No entanto, não se pode generalizar atribuindo o
resultado como válido para a população de Santa Catarina, é
preciso esperar por outras pesquisas e outros levantamentos.De

qualquer forma, chega-se a uma primeira constatação, a saber,


que os movimentos sazonais de nascimentos ou de concepções,

verificados em paízes europeus, são diversos daqueles que se


í6 )
podem encontrar no Brasil

^ BARROS, Edy Álvares Cabral. A Freguesia de Nossa Senhora das Necessida.


des e Santo António: 1841 a 1910: A Sua Transição Demográfica. Floria­
nópolis, 1979. p. 107.
^ C o n f i r a MARCÍLIO. Op.cit., p . 154.
177

No Paraná, na Paróquia de Nossa Senhora Sant'Ana de Ponta

Grossa, no período entre 1823 a 1879, os estudos demonstraram

que os meses de janeiro, fevereiro e dezembro apresentaram os


maiores índices de batizados. Estes começaram a declinar em
abril alcançando os pontos mínimos em junho e outrubro. Para

GONÇALVES (7) o clima interferiu sobre a populaçao


~ dos Campos

Gerais de Curitiba e Ponta Grossa, promovendo durante o verão


maior número de batizados em conseqüência do aumento de nasci­

mentos.

Em Ubatuba, os meses de menor freqüência de batizados de

livres, entre 1786-1830, eram junho, março e dezembro, os dois


(8 V
últimos coincidindo com o tempo proibido,ou de penitência
Ao longo dos demais meses do ano os batizados estavam quase

sempre bem distribuídos.

Todavia, cabe ressaltar que se a influência da Igreja, em


Angelina, ainda é perceptível, até a primeira metade desse sé­
culo, é porque a comunidade ficou isolada, alheia ao progres­
so verificado em outras Colônias do Estado, já bem mais urbani.
zadas. Entretanto, Angelina, como sede de um grande Santuário,

a fé religiosa é posta acima das decisões familiares, no que


diz respeito às concepções e nucialidades. Porém, esperava-se

uma influência maior da Igreja Católica sobre as concepções.


Mas, como se verificou, a sazonalidade é mais em função de fa­
tores climáticos e econômicos.

GONÇALVES, Maria Aparecida Cesar. Estudo Demográfico da Paróquia de


Nossa Senhora Sant'Ana de Ponta Grossa - 1823-1879. Curitiba: Universi
dade Federal do Paraná, 1979. p.95.
(8)
MARClLIO, Maria Luiza. Caiçara: Terra e População: Estudo de Demogra­
fia Histórica e da História Social de Ubatuba. São Paulo: Edições Pau­
linas, 1986. p.206.
178

5.2.2. Movimentos Sazonais de Casamentos

b) Casamentos

Cabe ressaltar que os dados de que se dispõe para o sécu­


lo XIX que serviram de base para o estudo dos movimentos sazo­
nais dos casamentos representam apenas a década de 1890 a 1899.
Isso significa que qualquer que seja o resultado do estudo
jamais poderá representar todo o século passado. Enquanto que

os dados para o século XX já são bem mais completos e abrangem


todo o período. Os dados que são analisados encontram-se nas
tabelas n9s 18 e 19, que deram origem aos gráficos 9 e 10.

TABELA N9 18
Movimento sazonal de casamentos de Angelina século XIX
(1890 - 1899)

Mês do casamento J F M A M J J A S 0 N D TOTAL

Números absolutos 13 5 1 2 2 3 1 5 30 5 2 4 73

Divisor 31 28,25 31 30 31 30 31 31 30 31 30 31

Números diários 0,41 0,17 0,03 0,06 0,06 0,1 0,03 0,16 1 0 ,16 0,06 0,12 2,36

Números proporcio­
nais 208 86 15 31 31 51 15 15 509 81 31 61 1.200

Fonte: Livros de registros de casamentos do arquivo histórico


eclesiástico da Cúria Metropolitana da Arquidiocese de
Florianópolis, 1890-1899.
179

TABELA N9 19

Movimento sazonal de casamentos de Angelina século XX


(1900 - 1950).

Mês do casamento J F M A M J J A S 0 N D TOTAL

Números absolutos 71 60 41 106 124 134 124 57 117 78 66 34 1.012

Divisor 31 28,25 31 30 31 30. 31 31 30 31 30 31

Números diários 2,29 2,12 1,32 3,53 4,0 4,46 4,0 1,83 3,90 2,51 2 ,20 1,09 33,25

Números proporcio­
nais 83 77 48 127 144 161 144 66 141 91 79 39 1.200

Fonte: Livros de registros de casamentos dos arquivos histórjl


co eclesiástico da Cúria Metropolitana da Arquidiocese
de Florianópolis, 1900-1950.

Para o século XIX, apesar dos poucos dados analisados,

constata-se que as curvas são bem acentuadas, o que signifi­


ca que houve sazonalidade. Os meses com flutuações mais pro­
nunciadas são os de setembro e janeiro. Já os: meses com curvas
mais baixas que indicam as mínimas são março e julho.

Isso significa que a população de Angelina seguia os pre­

ceitos religiosos da Igreja Católica que desaconselha o casa­


mento durante os tempos "penitenciais", sobretudo da Quaresma.
Por isso, casavam-se menos nos meses de março e abril e no mês
de novembro. A maioria dos casamentos efetuava-se no decorrer

dos meses sem objeção canônica.

Os meses de grande incidência de casamentos situam-se em

setembro (mês da primavera) e janeiro (no verão). Além dos -fa­

tores de ordem climática essa escolha para a época do casamen­


to, certamente, também é conseqüência de fatores de ordem eco­
nômica que merecem um estudo mais profundo. Sabe-se que em ju­
lho quando o número de casamentos é pequeno é devido aos tra-
M CiV I M F H T 0 S ftZ 0 H A L. D E C A 3 A M E HT 0 S SEC X I X.

Por 1.200

0 J F M A M J J A S O N D
MESES

Fonte: Tabela N 9 -18

GRÁFICO N9 9
181

MESES

Fonte: Tabela N9 19

GRÁFICO NP.10

i
182

balhos nos Engenhos de Farinha. Quais seriam os outros fatores

de ordem econômica? Edy A.C. Barros, em seu estudo demográfi­


co sobre "A Freguesia de Nossa Senhora das Necessidades e San­

to Antônio", também constata a presença de fatores econômicos


influenciando na sazonalidade dos casamentos, mas não consegue
identificá-los ^ .

Em Itajaí, os fatores culturais, possivelmente, tenham si

do mais fortes que os econômicos, na direção das variações pe­


riódicas de casamentos. FLORES, ao estudar a sazonalidade dos

casamentos da população de Itajaí, traça um paralelo com a co­


munidade de Abranches, no Paraná, e a população de Crulai, na

França:

Até o mês de junho, a curva Itajaiense aproxima-se bastan­


te de Crulai. Aumenta em fevereiro (Abranches sofre uma l£
ve depressão), cai em março, cresce gradativamente em
abril, maio e junho, atingindo em Itajaí o segundo ponto
máximo. Em julho, o número de casamentos em Itajaí cai le­
vemente, enquanto que, em Crulai, continua subindo. Neste
ponto, Itajaí assemelha-se a Abranches. Junho e julho
constituem meses de alta nupcialidade nas três comunida­
des. Em agosto, as três curvas apresentam um enorme vazio.
A partir daí, há divergências entre as curvas. 0 ponto má­
ximo de crescimento, em Itajaí, é atingido em setembro; em
Crulai, em novembro e em Abranches, em maio. E, enquan­
to em Itajaí, dezembro corresponde ao terceiro ponto máxi­
mo de casamento, Crulai apresenta o menor índice e Abran­
ches, o segundo menor mês de casamentos.(9)

Em Ubatuba:, setembro era o mês de preferência para cele­

brar núpcias entre os caiçaras. Para os escravos, porém, o mês


de maior preferência era maio, seguido de junho e depois no­

vembro, que reflete a influência do calendário agrícola local.

Os caiçaras também tinham seus dias da semana preferidos para

celebrar a festa de suas núpcias; como ainda acreditavam nos

BARROS, Edy Álvares Cabral. A Freguesia de Nossa Senhora das Necessida


des e Santo Antônio: 1841 a 1910: A Sua Transição Demográfica. Floria­
nópolis, 1979. p.93.
^FLORES. Op.cit., p. 143.
183

dias de mau agouro (sexta-feira), cuja origem remonta ã cris­

tandade dos tempos medievais .

No Paraná, a concentração maior’dos casamentos ocorria nos


meses de janeiro, fevereiro e dezembro e a redução mais sensí­
vel ocorria em março. O comportamento em questão relaciona-se
com as restrições religiosas, que ficou mais evidente na Qua­
resma e menos no Advento .

Para a primeira metade do século XX, no que diz respei­


to ã influência da Igreja Católica, que desaconselha os casa­
mentos na Quaresma e no Advento, na comunidade de Angelina,
certamente, observava-se esse preceito. Os períodos de poucos
casamentos situavam-se exatamente nos meses de março e novem­
bro e agosto. Já os meses com grande quantidade de casamentos

eram maio, junho e julho.

Mas como explicar esses dados? 0 baixo número de casamen­

tos em março e novembro certamente é em função da influência


da Igreja Católica. Em agosto, ocorre em Angelina uma grande
festa religiosa, que aliada a fatores de ordem econômica, cer­
tamente contribui para uma menor incidência de casamentos nes­

se mês. Os preparativos para a grande festa de 15 de agosto são


precedidos por novenas, via-sacras o que, provavelmente, difi­

culta a realização do casamento nesse período. Os meses de


maio, junho e julho onde os casamentos eram em maior número co

incidem com um período de pouco trabalho na lavoura. Em suma,

pode-se dizer que há sazonalidade para os casamentos, neste sé

culo, verificada principalmente em função de fatores religio­

sos e econômicos.

^10)MARClLIO. Op.cit., p.191.


11 ^GONÇALVES. Op.cit., p.95 e 96.
184

Outros estudos de demografia histórica, como os de Maria

Luiza Marcílio e Edy Alvares Cabral Barros, chegaram às mesmas

conclusões. Marcílio, em seu estudo sobre São Paulo e Mogi das

Cruzes constatou uma certa similitude entre os movimentos sa-


zonais dessas comunidades com os países da Europa Católica ( 12 )
Edy Barros, em seu estudo sobre: "A Freguesia de Nossa Senhora
das Necessidades e Santo Antônio", constatou, também, um menor
número de casamentos em março e agosto. Isso significa que a

Quaresma não apresentava muitos casamentos, refletindo uma in­

fluência marcante da Igreja. Jã o fenômeno verificado em agos­


to, segundo a sua pesquisa, "talvez possa ser explicado por um

fator de origem economica que ainda nao se definiu" (13)

5.2.3. Movimentos Sazonais de Óbitos

c ) óbitos

Apesar de não se dispor de um número muito grande de re­


gistros de óbitos, os dados encontrados cobrem grande parte do
período estudado do século XIX e XX. Os resultados do estudo
estão condensados nas tabelas n?s 20 e 21 e ilustrados pelos

gráficos '11 e 12.

(1 o\
MARClLIO, Maria Luiza. A Cidade de Sao Paulo: Povoamento e Populaçao,
1750-1850. São Paulo: Pioneira, 1973. p.54.
v J BARROS. Op.cit., p.93.
185

TABELA N9 20

Movimento sazonal de óbitos de Angelina do século XIX


(1863 - 1899)

Mês do óbito J F M A M J A A S 0 N D TOTAL

Números abdolutos 16 8 13 13 2 7 6 7 6 2 4 4 88

Divisor 31 28,25 31 30 31 30 31 31 30 31 30 31

Números diários 0,51 0,28 0,41 0,43 0 ,06 0,23 0,19 0,23 0,2 0,06 0,13 0,12 2,84

Números proporcio­
nais 216 118 173 182 25 97 80 93 85 25 55 51 1.200

Fonte: Livros de registros de óbito do arquivo histórico ecle­


siástico da Cúria Metropolitana da Arquidiocese de Flo­
rianópolis, 1863-1899.

TABELA N9 21

Movimento sazonal de óbitos de Angelina do século XX


(1900 - 1944)

, Números absolutos 3 2 7 6 1 5 6 4 7 4 2 5 52

Média diária 0,09 0,07 0,22 0,2 0,03 0,16 0,19 0,12 0,23 0,12 0,06 0,16 1,62

Números proporcio­
nais 66 51 160 146 22 116 138 87 167 87 44 116 1.200

Fonte: Livro de registro de óbitos do arquivo histórico ecle­


siástico da Cúria Metropolitana da Arquidiocese de Fio
rianópolis, 1900-1944.
MOVI MENTO SAZONAL DE O B I T O S S E i
Por

MESES

Fonte: Tabela N 9 ,20

GRÁFICO N9..11
M O V I '1E H T 0 SAZONAL DE OBITOS SEC XX

Por 1.2 0 %
15 0
1c.' " \
A
/ \
c
1Ü Ô
75

50•

Pu-------- ---------1--------- L. _L
vV
Ò'
J F M A M J J A S O N'D
MESES

Fonte: Tabela N9 21

GRÁFICO N9-12
188

Poder-se-ia pensar que na população de Angelina, os meses

que mais se morria seriam os meses frios do inverno. Entretan­


to, tanto no século passado como no atual, a grande mortalida­
de situa-se no verão e início do outono.

Para o século XIX a grande mortalidade vai do mês de ja­

neiro a abril, sendo que a mínima, situa-se entre outubro e de

zembro. Já nesse século a máxima encontra-se nos meses dé mar­


ço e abril; portanto, fim do verão e início do outono; e a mí­

nima situa-se em novembro, fim da primavera. Desta forma, a


maior mortalidade está muito associada a fatores climáticos.

Em Itajaí, as crianças morriam com maior intensidade no

verão. A população do grupo entre 16 e 30 anos mostra uma cer­


ta resistência no inverno, porque, provavelmente, está menos
sujeita às epidemias e acidentes de trabalho. A faixa entre 31
e 50 anos de idade morria em qualquer estação do ano; e os ve­
nu
lhos •
perecem no inverno (14)

No Paraná o maior número de falecimentos da população li­

vre infantil ocorre de dezembro a maio e as incidências meno-


res verificam-se em junho e novembro (15 ) . Assim, nos meses de

verão, quando a temperatura alcança as médias máximas, as cri­


anças mais sensíveis ao calor morrem em maior número. O mesmo

comportamentos verifica-se nos meses de outono, quando nas suas


zonas mais frias, como é o caso dos Campos Gerais, a temperatu

ra começa a declinar em fevereiro, sendo que as geadas já são

freqüentes em abril e maio. Portanto, a interferência climáti­

ca é evidente.

Sabe-se que os problemas médico-sanitários da população

^1 4 ^FL0RES. Op.cit., p.161.


GONÇALVES. Op.cit., p.96.
189

de Angelina sempre foram graves, principalmente, no século pa£

sado, no início da colonização. As doenças mais comuns, segun­

do os documentos da época, eram infecções gástricas, pulmona­


res, sarampo, bexigas, câmaras de sangue, além de outras de ca
— ( 16 ï
ráter epidêmico . As doenças de caráter epidêmico, a que os
documentos se referem, geralmente eram a varíola e as epide­

mias de câmaras de sangue, como a que surgiu em 1878, que ra-

pidamente se alastrou pela Colonia (17) . Mas, de um modo geral,


não se encontram informações sobre elevado número de mortes
provocadas por doenças, ou pela fome. Certamente, o maior nú­
mero de mortes tem ocorrido mesmo em conseqüência dos graves
problemas médico-sanitários.

5.3. Taxas Brutas de Natalidade - Nupcialidade e Mortalidade

Conhecendo a evolução da população livre de Angelina e


os valores anuais dos eventos vitais (batizados, casamentos e
óbitos) estabeleceu-se as taxas brutas de natalidade ( 18 ) , nup­
cialidade e mortalidade , para cs séculos.XIX e XX, nos

anos em que os dados obtidos eram completos. As taxas foram

(16)
Relatório do Presidente da Província de Santa Catarina, Alexandre Ro­
drigues da Silva, Chaves, 1865. p.12.
^^Ofício s/n? de 27 de março de 1878, do Diretor da Colônia, José Cândi­
do Duarte Silva, ao Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Joa.
quim da Silva Ramalho. Confira o número 2.6.4 deste estudo, que trata
sobre os "Problemas médico-sanitários",da população de Angelina no sé­
culo passado.
( 18)
"A taxa bruta de natalidade é igual à relação entre o número de nasci­
mentos de um ano e a população média desse ano".
HENRY, Louis. Técnicas de Análise em Demografia Histórica. Curitiba:
Universidade Federal do Paraná, 1977. p.145.
(19)
"A taxa bruta de nupcialidade e igual a relaçao entre o numero de casa
mentos de um ano e a população média desse ano".
HENRY. Op.cit., p.146.
(2 0 )"a taxa bruta de mortalidade é igual à relação entre o número de óbi-
bitos de um ano e a população média desse ano". Ibidem, p.146.
190

calculadas abrangendo períodos de 10 anos, o que possibilita

verificar as mudanças de urna década para outra, bem como as va


riações dentro do período estudado. A taxa de natalidade foi
calculada com base nos registros de batismos paroquiais. Ainda

foram considerados todos os nascimentos, ou seja, filhos legí­

timos, naturais ou expostos. Para a efetuação dos cálculos ob­


teve-se os valores médios dos eventos vitais e da população pa

ra cada década. Para denominador, quando não se dispunha de

dados, foi tomada a estimativa da população para o ano media­


no considerado. O resultado assim obtido multiplicou-se por
1.000 para que se tivesse as taxas para cada 1.000 habitantes.

Após os cálculos assim determinados fez-se uso de compa­


rações com outros estudos já realizados em Santa Catarina, no
Brasil, na América e na Europa, a fim de poder estabelecer
relações mais amplas. Por fim, a natalidade, conjuntamente com
a mortalidade, permitiu determinar o crescimento vegetativo da
populaçao de Angelina (21) . A tabela n9 22 apresenta as taxas
brutas de natalidade, nupcialidade e mortalidade, que será ana
lisada posteriormente.

5.3.1. A Natalidade

De um modo geral a Taxa de Natalidade da população de An­

gelina apresenta-se elevada com algumas variações de uma déca­

da para a outra. A taxa mais elevada foi de 43,29 nascimentos


por cada mil habitantes, encontrada no século passado, no pe­

ríodo que vai de 1860 a 1869. Depois, a taxa bruta de natalida

de apresentou uma tendência de queda constante, onde atingiu

( 21) . _
0 crescimento de uma populaçao e definido como a diferença entre as ta­
xas brutas de natalidade e de mortalidade num período fixo. Confira SAN
TOS, Jair L. Ferreira. Dinâmica da População: Teoria, Métodos e Técn^
cas de Análise. São Paulo: T.A. Queiroz, 1980. p.72.
191

TABELA N9 22

Taxas brutas de natalidade, nupcialidade e mortalidade


por período de 10 anos

NASCI­ CASA­ POP.


DECÊNIOS T.B.N. T.B.C. Ob i t o s T.B.O.
MENTOS MENTOS MÉDIA
1860-1869 20 43,29 8 17,31 7 15,15 426
1865-1874 27 32,21 12 14,31 10 11,93 838
1870-1879 45 36,23 13 10,46 12 9,66 1242
1890-1899 50 29,90 13 7,77 6 3,58 1672
1895-1904 63 30,83 13 6,36 6 2,93 2043
1900-1909 - - 16 6,41 - - 2494
1925-1943 226 41,90 - - - - 5393
1930-1939 225 40,61 - - - - 5540
1935-1944 232 40,29 50 8,68 - - 5758
1940-1949 255 42,54 49 8,17 - - 5994

Fonte: Livros dos registros de batizados, casamentos e óbitos


do arquivo histórico-eclesiástico da Cúria Metropolita­
na da Arquidiocese de Florianópolis.

o seu índice mais baixo que foi de 29,90 nascimentos para ca­

da mil habitantes, na década de 1890 a 1899. Esse índice tal­

vez esteja subestimado pela falta de dados dos registros paro­


quiais. Mas, para o século XX, no período que vai de 1925 a
1950, onde os registros paroquiais são bem completos, a taxa

bruta de natalidade média sempre esteve acima de 40 nascimen­

tos por mil habitantes.

Em síntese, pode-se ressaltar que nas quatro últimas dé­

cadas do século XIX, a natalidade apresentou uma tendência de­

crescente, voltando a crescer novamente no século XX. Assim,

delineia-se uma curva com estabilidade inicial, seguida de de­


créscimo e estabilidade em nível mais baixo, porém, voltando a

crescer atingindo quase o nível do patamar inicial no final do

período estudado.
192

TAXAS BRUTAS DOS EVENTOS VITAIS E CRESCIMENTO


NATURAL. - SËC. XIX .'E XX '

NAT.
O O O O O o
V0 r-* O'. o •***
00 OÓ oo cn o\ cr.
r—i r-l H ri f-J iH

DECÊNIOS

Fonte: Tabela N9 22 e 23

GRÁFICO N9.13
193

Em Santa Catarina, a taxa de natalidade tem sido bastante

alta, apesar da taxa de mortalidade situar-se abaixo da média

nacional. A taxa média de natalidade, para cada mil habitan­

tes, entre 1872 a 1890 foi de 46,5; entre 1890 e 1900, 46,0;
entre 1900 e 1920, 45,0; entre 1920 e 1940, 44,0; entre 1940
e 1950, 43,5; entre 1950 e 1960, 41,5 nascimentos para cada
mil habitantes .

No Brasil, a avaliação da natalidade é feita a partir do


recenseamento de 1872, e as taxas são, freqüentemente, _ está­

veis e elevadas. Entre 1872 a 1890, as taxas anuais por mil

habitantes estavam por volta de 46,50; entre 1890 e 1900,46,00;


entre 1900 e 1920, 45,00; entre 1920 e 1940, 44,00; entre 1940

e 1950, 43,50; entre 1950 e 1960, 41,50; entre 1960 e 1970,


(23)
37,7 0 nascimentos para cada mil habitantes . Estas taxas sao

elevadíssimas se comparadas com às da Europa, que varia entre


14-25% e âs da América do Norte, 23,70% para cada mil habitan­
tes, pelos dados de 1960. Equipara-se ãs da América Latina, em

média 40%, e as da África e da Âsia, 40 e 45 nascimentos para

cada mil habitantes.

Em Itajaí, a taxa de natalidade entre 1866 a 1870 foi de


52,8; entre 1871 a 1875, 47,2; entre 1876 a 1880, 46,1; entre
1881 a 1885, 40,6; entre 1886 a 1890, 37,1; entre 1891 a 1895,

39,3; entre 1896 a 1900, 43,0; entre 1901 a 1905, 35,6; entre

1906 a 1910, 32,7; entre 1911 a 1915, 33,0; entre 1916 a 1920,

28,6; entre 1926 a 1930, 30 ,2 nascimentos para cadá mil habi-

(22 )
FLORES. Op.cit., p.104.
(23) . •
No Brasil, a taxa de natalidade varia de um Estado para outro. As mais
altas são da ordem de 44 a 48 por mil, encontradas nos estados do Cea­
rá, 48%, Piauí, 48%, Rio Grande do Norte, 47%, Paraíba, 47%, Amazonas,
47%, Sergipe, 47%, Bahia, 47%, Pernambuco e Mato Grosso, 43%. As mais
baixas são da ordem de 25 a 38 por mil: Guanabara, 25%, São Paulo e
Rio Grande do Sul, 38%. Confira FLORES. Op. cit., p.104.
194

(24 )
tantes . Em Itajaí, conforme se verificou, a natalidade so­

freu uma queda de 52,8, em 1866, para 30,2, nascimentos por


mil habitantes, em 1930.

Edy A.C. Barros, em seu estudo sobre "A Freguesia de Nos­

sa Senhora das Necesidades e Santo Antônio", para o século XIX,

nos períodos de 1841-45, 1854-68, 1874-78, 1884-88, encontrou


as seguintes taxas de natalidade: 43,55, 41,85, 40,23, 3 9,84 e

30,32 nascimentos para cada mil habitantes. Já para o século


XX, no período que vai de 1907 a 1911, encontrou a taxa de
29,18 nascimentos para cada mil habitantes (25 ) . Todavia, cabe

dizer que essas taxas estão muito próximas daquelas encontra­


das na população de Angelina, mostrando a mesma linha de ten­
dência decrescente durante o século passado.

Maria Luiza Marcílio, em seu estudo sobre "A Cidade de


São Paulo", para a primeira metade do século XIX, registrou una
taxa bruta média de Natalidade de 47,8 nascimentos para cada
(26í
mil habitantes . A mesma autora, em outro estudo, sobre a

população de Ubatuba, no século XIX, diz que: "a natalidade


geral de todos os habitantes da vila era bem elevada". E mais
adiante acrescenta que: "os índices eram sempre superiores a
(27 )
40 nascimentos para cada mil habitantes" . Tambem,.no mesmo

estudo verificou que a população escrava tinha uma taxa de na­

talidade bem mais baixa que a população livre.

(2 4 )Ibid., p . 109.
(25) .
BARROS, Edy Álvares Cabral. A Freguesia de Nossa Senhora das Necessi­
dades e Santo Antônio: 1841 a 1910: A Sua Transição Demográfica. Flo­
rianópolis, 1979. p.115 e 116.
^2 6 ^MARCÍLI0, Maria Luiza. A Cidade de São Paulo: Povoamento e População,
1750-1850. São Paulo: Pioneira, 1973. p.161.
^2 7 Wrc1LIO, Maria Luiza. Caiçara: Terra e População: estudo da demogra
fia histórica e da historia social de Ubatuba. Sao Paulo: Paulinas.
CEDHAL, 1986. p.156 e 157.
195

Portanto, diante dos índices apresentados, de um modo ge­

ral, a população de Angelina como das outras localidades cita­

das apresentam uma elevada taxa de natalidade. Sabe-se que na

ausência de limitações de nascimentos, a taxa de natalidade, a


nível de América Latina, está dentro dos índices esperados.Nos

países do Terceiro-Mundo, onde o casamento é geral e precoce,


a taxa de natalidade situa-se entre 45 a 55 nascimentos para
cada mil habitantes.

Para a Europa Ocidental nos séculos XVII e XVIII, segundo

Henry, a taxa de natalidade é mais baixa, situa-se entre 35 a


40 nascimentos para cada mil habitantes; sendo que ali o casa-
(28)
mento não é tão geral e ocorre mais tarde . Nos dias atuais,

as taxas de natalidade da maior parte dos países da Europa Oci

dental situam-se entre 15 a 20 nascimentos para cada mil habi­


tantes .

5.3.2. Nupcialidade

No seu sentido mais amplo, o estudo sobre a nupcialida


de abrange a análise de todos os fenômenos que intervêm na for
- (29)
maçao e dissolução das unioes entre os casais . No presente

estudo a variável a ser utilizada ê a taxa bruta de nupciali­

dade, que será relacionada com a natalidade e mortalidade p o s ­

sibilitando verificar as variações nas intensidades de casa­

mentos, durante o período estudado. A grande vantagem dessas

(28) - - •
HENRY, Louis. Técnicas de Análise em Demografia Histórica. Curitiba:
Universidade Federal do Paraná, 1977. p.146 e 147.
(29) - . •
As variaveis mais importantes que interferem na nupcialidade, de um
geral, são: 1 ) a intensidade da formação das uniões; 2 ) à época de seu
início, ã duração das mesmas ou a sua ruptura por viuvez, divórcio ou
simples separação; 3 ) a realização de novas uniões por parte das pes­
soas que sofrem uma ruptura de união; 4) por fim, o tipo de vínculo
que une o casal.
Confira SANTOS, Jair L.F. Dinâmica da População. Teoria, Métodos e
Técnicas de Análise. São Paulo: T.A. Queiroz, 1980. p.159.
196

taxas é que a simplicidade do seu cálculo torna possível a


construção de séries longas, que facilmente determinam a influ
ência de fatores sócio-econômicos e culturais sobré a formação
das uniões entre os casais.

Para a população da Colônia Nacional Angelina, na segunda


metade do século XIX, no período que vai de 1860 a 1869, en­
controu-se uma taxa de 17,31 casamentos para cada mil habitan­
tes. De fato, esta é uma taxa de nupcialidade bastante elevada

mas que vem comprovar o que foi dito, que: muitos jovens se

dirigiam à Colônia, adquiriam o seu lote para depois casar. A

taxa de nupcialidade, durante o século passado, apresentou uma


queda constante chegando no final com um índice dé 7,77 casa­
mentos para cada mil habitantes, na década de 1890-1899. Para
o início desse século não se dispõe de dados, mas, provavel­
mente, a taxa de nupcialidade deve ter voltado a subir. Pois,

para a década de 1940 a 1949 a taxa média bruta de nupcialida­


de foi de 8,17 casamentos para cada mil habitantes.

Assim sendo, a tendência da linha da taxa de nupcialida­


de, foi idêntica à da taxa de natalidade. Ou seja, apresentou
uma queda constante durante o século XIX, voltando a crescer
nesse século. Porém, se estabilizou novamente no fim do perío­
do estudado, quando apresentou uma nova tendência de queda.

Comparando com outros estudos chega-se ã conclusão que a

taxa de nupcialidade da população de Angelina, principalmente

no século passado, era bastante elevada. Maria Luiza Marcílio,


em seu estudo sobre a população da "Cidade de São Paulo", para

a primeira metade do século XIX, encontrou uma taxa de 7,5 ca­


samentos para cada mil habitantes . Em seu estudo sobre a

MARCÍLIO, Maria Luiza. A Cidade de São Paulo: Povoamento e População,


1750-1850. São Paulo: Pioneira, 1973. p.162.
197

população de Ubatuba, a mesma autora, encontrou uma taxa que

varia entre 7 a 9 casamentos para cada mil habitantes, durante


o mesmo período (31)

Em Itajaí, as taxas médias de nupcialidade por mil habi­

tantes, entre 1866 a 1930, foram relativamente baixas. Entre

1866 a 1870, 10,2; entre 1871 a 1875, 8,9; entre 1876 a 1880,
6,9; entre 1881 a 1885, 7,5; entre 1886 a 1890, 7,7; entre 1891
a 1895, 8,4; entre 1896 a 1900, 7,5; entre 1901 a 1905, 5,7;
entre 1906 a .1910, 4,8; entre 1911 a 1915, 4,7; entre 1916 a

1920, 4,6; entre 1921 a 1925, 5,7; entre 1926 a 1930, 5,6 casa
(32)
mentos para cada mil habitantes

As taxas brutas de nupcialidade para os países do tercei­

ro mundo não são bem conhecidas. Na Europa Ocidental ela é


mais fraca que na Europa Oriental; os valores extremos são em
torno de 5 na Irlanda, da ordem de 11 na URSS, por mil habi­
tantes. As taxas de nupcialidade mais comuns situam-se entre
7 a 8 casamentos para cada 1.000 habitantes. Para a França,an­

tes da Revolução, entre o período de 1740-1789, se pode citar


uma taxa de nupcialidade de 8/5 por cada mil habitantes. O que

significa que era mais alta do que a taxa encontrada hoje em


(33)
virtude da incidencia maior de recasamentos

Por fim, pode-se dizer que a celebração do casamento tem


seus ritmos, calendários, movimentos que se inserem na reli­
giosidade, tradição, costumes, sistemas de civilização, sempre

impregnados de uma simbologia própria. Além do que, seu volu­


me, intensidade, motivações não são iguais entre as categorias

(31) - . .
MARCILIO, Maria Luiza. Caiçara: Terra e Populaçao: rstudo de Demografia
Histórica e da História Social de Ubatuba. São Paulo: Paulinas, CEDKAL,
1986. p . 188.
(32)
v 'FLORES. Op.cit., p.87.
(33) . - . -
HENRY, Louis. Técnicas de Analise em Demografia Histórica. Curitiba:
Universidade Federal do Paraná, 1977. p.147.
198

(34 )
sociais da coletividade . 0 ser humano nao se aproxima ape­

nas através de imperativos biológicos, ele está inserido num

conjunto civilizatório, num contexto social e cultural do qual


sofre influencias, pressões, limitações e estímulos diversos.
O casamento, antes de ser um fato biológico, é um fenómeno

sócio-económico-cultural, que está em constante mutação.

5.3.3. Mortalidade

No presente estudo sobre a mortalidade partiu-se do pres­

suposto de que a mortalidade, na população de Angelina, em


termos gerais, era muito alta durante o período estudado. Essa

mortalidade seria o fator que impedia o crescimento da popula­

ção. E, como última hipótese, a taxa de mortalidade estava cam

do.... como em outras partes do mundo, mas essa queda verificada

não foi suficiente para melhorar a situação demográfica da po­


pulação. Sabe-se que desde remota antigüidade a morte e suas
causas têm preocupado a humanidade. Por outro lado, com a evo­
lução das ciências sociais, desdobriu-se que a mortalidade de
uma população e suas causas servem como bons índices para in­

dicar o bem-estar de uma sociedade e a sua capacidade de cres-

cer economicamente, culturalmente e politicamente (35)

Infelizmente, por falta de dados mais completos nos regi£

tros paroquiais, calculou-se a taxa bruta de mortalidade da

população de Angelina apenas para a segunda metade do século

XIX. Ainda, assim, a taxa encontrada para a última do período

é possível que esteja subestimada. Para o século passado, no

(34)
v 'm ARCILIO. Op.cit., p.185.
(35)
NIELSEN, Lawrence James. A Morte na Cidade do Desterro, 1804-1854: Ci^
fras, Causas e Conseqüências, in Revista do IHGSC, 3? fase, (1):29 sem.
1979. p.72.
199

periodo que vai de 1860 a 1869, encontrou-se uma taxa bruta

média de 15,15 mortes para cada mil habitantes. Doravante, a

mortalidade apresentou uma tendência de queda constante até o

final do século, sendo que na última década (1890-1899), a ta­


xa era de 3,58 mortes para cada mil habitantes.

Desta forma, pelo que os números apresentaram pode-se con


siderar que a mortalidade em Angelina só foi elevada durante
a primeira década do período estudado. As demais taxas encon­

tradas ficaram abaixo da expectativa. Se não são possíveis maio


res conclusões, mas ficou claro que durante a segunda metade
do século XIX, houve uma tendência de queda na mortalidade do
início ao fim do período estudado, que correspondia tendência
geral já observada em outros estudos, no mesmo período.

Comparando a mortalidade da população de Angelina com as


taxas encontradas em outras populações verifica-se que, de fa­

to, a taxa bruta média lá encontrada foi baixa. Maria Luiza


Marcílio, para a população de São Paulo, na primeira metade do

século XIX encontrou uma taxa bruta média de mortalidade de


/O£ \
46,0 mortos para cada mil habitantes . Em seu outro estudo

sobre a população de Ubatuba, durante o mesmo período, a taxa


média de mortalidade ficou em torno de 30 mortes por 1.000 ha-

bitantes (37 ) . De um modo geral, e preciso distinguir a morta­


lidade comum das grandes mortalidades devido âs epidemias gra­

ves e grandes fomes. Em Angelina, particularmente, não se tem

notícias de grandes mortalidades durante todo o período estu­

dado .

MARCÍLIO, Maria Luiza. A Cidade de São Paulo: Povoamento e População,


1750-1850. São Paulo: Pioneira, 1973. p.162.
^^MARCÍLIO, Maria Luiza. Caiçara: Terra e População: Estudo da Demogra­
fia Histórica e da História Social de Ubatuba. São Paulo: Paulinas:
CEDHAL, 1986. p.175.
200

No Brasil, a taxa de mortalidade entre 1891-1900 foi de

27,8%; entre 1901-1920, 26,4%; entre 1921-1940, 24,8%; entre

1941-1950, 16,6%; entre 1951-1960, 11,5%; entre 1961-1970; 9,43%;


/30 \ _
. Nota-se, pois, uma tendência constante de queda na morta

lidade brasileira, que cai de 27,8% em 1891 para9,43% em


1970, porém com um ritmo mais acelerado a partir de 1940.

A taxa média de mortalidade varia muito de um lugar para


outro. Classifica-se na categoria de país de fraca mortalidade

aquele que apresenta uma taxa inferior a 11%, na de média,


com taxa entre 11 a 14%. Assim, o Brasil, com uma taxa inferior
a 9% coloca-se, atualmente, no grupo de países de mortalidade

fraca.

As taxas de mortalidade no mundo contemporâneo estão em

torno de 9 a 15 óbitos por mil habitantes na maioria dos paí­


ses dos grandes continentes, com exceção dos países africanos,

onde as taxas atingem até 30 óbitos por mil habitantes. Entre­

tanto, constata-se uma acentuada queda na mortalidade, princi­


palmente, durante os últimos decênios, sendo que até os pri­
mordios do século passado as taxas estavam acima de 40 mortos
para cada mil habitantes. Os fatores determinantes dessa que­
da, especialmente nos países ocidentais, segundo a maioria dos
autores, são usualmente agrupados em quatro categorias: os fa­

tores sócio-econômicos, os fatores sanitários, os fatores po-


+
líticos '
e os progressos técnicos da medicina (39)
(38)
Sabe-se que, no Brasil, a taxa média de mortalidade varia muito de uma
região para outra, como também muda a cada censo. Cita-se como exemplo
o censo de 1960, nos diversos municípios das capitais dos Estados, onde
obteve-se a mortalidade mais alta em Maceió e Natal, com as taxas de
19,2% e 18,9%; e a mortalidade mais baixa em São Paulo e Guanabara com
8,3% e 11,3%. Confira HUGON, Paul. Demografia brasileira. São Paulo:
Atlas, Ed. da Universidade de São Paulo,.1973. p.127.
(39) SANTOS, Jàir L.F. Dinâmica
- - . -
da Populaçao. Tèoria, Métodos e Técnicas de
Análise. São Paulo: T.A. Queiroz, 1980. p.209.
201

No período pré-industrial, as altas taxas de mortalida­


de eram sujeitas as grandes e freqüentes flutuações advindas

de catástrofes como guerras, epidemias, fomes e escassez de a-

limentos. Mas com os avanços da medicina e da técnica, sobretu


do a partir de meados do século XIX, fizeram com que a mortali.

dade fosse caindo gradativamente. Atualmente, segundo alguns

estudiosos, os níveis de mortalidade geral dos países desen­


volvidos giram em torno de 7 a 9 óbitos por mil habitantes e
a mortalidade infantil gira em torno de 20 por mil, e a espe­

rança de vida ao nascer atinge, em média 70 anos . Assim, o


desenvolvimento das técnicas de saneamento e de prevenção de
doenças infecciosas foi o fator determinante da grande queda

no nível da mortalidade.

Conhecendo-se a taxa bruta média de natalidade e mortali­


dade, da população de Angelina, durante a segunda metade do

século XIX, foi possível determinar a taxa de crescimento na­


tural. A grande diferença entre a natalidade e mortalidade foi
responsável por uma elevadíssima taxa de crescimento da popu­

lação durante o século passado. Observe essa diferença na ta­


bela a seguir, cujos números serviram de base para o cálculo

do crescimento natural da população, em períodos decenais.

5.4. Taxa de Crescimento Natural

As taxas de crescimento natural da população de Angeli­

na durante o século passado sempre foram bem altas. A balança


entre os dois fenômenos vitais é sempre positiva e superior a

2%. Essa taxa elevada com pequenas variações durante o período

SANTOS. Op.cit., p.212.


202

TABELA N9 23

Taxa de crescimento natural da população de Angelina.

DECÊNIOS NASCIMENTOS MORTES CRESCIMENTO NATURAL

1860-1869 43,29 15,15 2,8


1865-1874 32,21 11,93 2,0

1870-1879 36,23 9,66 2,6


1890-1895 29,9 3,58 2,6
1895-1904 30,83 2,93 2,7

Fonte Original: Livros de registros dos batizados e óbitos, de


Angelina, do arquivo histórico-eclesiãstico da
Cúria Metropolitana da Arquidiocese de Floria­
nópolis.

foi possível devido a dois fatores: em primeiro lugar, entre

1860 a 1880, o forte crescimento da população de Angelina está


ligado, quase que exclusivamente, ã grande imigração de colo-
nos_t primeiro os nacionais, depois, os estrangeiros, que se

fixaram na área da antiga Colônia. Em segundo lugar, princi­


palmente entre o período de 1881 a 1899, o crescimento natural
da população de Angelina permaneceu elevado devido a uma redu­

ção constante na taxa de mortalidade.

Mas o que mais chama a atenção é o elevado crescimento


da população, sempre superior a 2%, talvez, sem precedentes em
estudos de demografia histórica no Brasil. O crescimento natu­

ral da população da Paróquia da Sé, durante a primeira metade


do século XIX foi de 0 , 1 8 % ^ ^ . Maria Luiza Marcílio, durante

o mesmo período, para a população de Ubatuba chegou a uma taxa


(42)
de crescimento superior a 1%, para a populaçao livre

^4 1 ^MARClLIO. Op.cit., p.162.


^ 2)MARCÍLIO. Op.cit., p.199.
203

Em Enseada de Brito, no período que vai de 1860 a 1899,

taxa Druta média de crescimento da população foi de 1,66% ao

ano. Para os primeiros anos desse século, entre 1900 a 1907, a

taxa bruta media de crescimenro foi de 0,60% ao ano (43) . Essa

população cresceu devido ao seu próprio potencial demográfico,

pois o crescimento vegetativo apresentado, correspondeu, em li


nhas gerais, ao crescimento da população no período. Assim,
constatou-se que a população cresceu regularmente nos primei­
ros anos, passando posteriormente, a apresentar ritmo bastante

lento de crescimento resultante da grande mortalidade ocorri­


da paralelamente.

A explosão demográfica atingiu o seu apogeu nos anos ses­

senta. Desde então, as taxas de natalidade começaram a dimi­


nuir em grande parte dos países subdesenvolvidos e, em conse­
qüência, o crescimento da população mundial está em fase de
desaceleração, ou seja, com seus índices sendo reduzidos. Atu­
almente, ele é de 1,7% ao ano, já que a taxa de natalidade mé-

dia e de 28% e a de mortalidade situa-se ao redor de 11% (44)

De fato, enquanto os países desenvolvidos mantêm taxas de

crescimento natural muito baixas, em geral inferiores a 1,5%


ao ano, os países subdesenvolvidos enfrentam altos índices de

incremento vegetativo, geralmente superiores a 2% ao ano e, em

alguns casos, maiores que 3%.

No Brasil, foi na década de 1950 que o país atingiu o apo

geu do seu ritmo de incremento populacional. Isso se deve ao

fato de que, em virtude da popularização da Medicina, da Hi-

//o\
FARIAS, Vilson Francisco de. Evolução Histórico-Demográfica de Enseada
de Brito, 1778-1907. Florianópolis: UFSC, 1980. p.114.
^^MOREIRA, Agor A.G. 0 Espaço Geográfico. São Paulo: Editora Ática S.A.,
1990. p . 131.
204

giene Social e das campanhas médico sanitárias, a mortalida

de caiu bruscamente, enquanto a natalidade continuou nos mes­

mos níveis anteriores. Com isso, as•últimas décadas indicam uma


desaceleração demográfica. A taxa de crescimento natural da po

pulação do Brasil de 1872 a 1890 foi 1,6%; entre 1891 a 1900,

1,9%; entre 1901 a 1920, 1,9%; entre 1921 a 1940, 1,9%; entre

1941 a 1950, 2,4%; entre 1951 a 1960, 3,0%, entre 1961 a 1970,
2,9%; entre 1971 a 1980, 2,5%; entre 1981 a 1990, 2,3% ao
ano (45) .

Sabe-se que todas as populações camponesas estudadas nas

regiões da Europa do Antigo Regime, tinham um crescimento bem


mais lento, inferior a 1%. As nossas populações do setor agrí­

cola tradicional, ligadas à agricultura de subsistência, apre­


sentam um padrão bem distinto do regime demográfico europeu.
Dentro de seu modo de produção, com grupos domésticos vivendo
do cultivo da terra, protegidos pelo clima favorável e pela

abundância da caça, pesca e frutos silvestres, estavam essas


populações defendidas contra as epidemias e a f o m e ^ ^ . Assim,
sem mortalidades de crise, apesar de forte, a mortalidade em
tempos normais mantinha-se constantemente em níveis próximos,

sem flutuações temporárias, resultando, na dureção de um pe­


ríodo mais longo, num crescimento natural elevado para a épo­

ca.

(45)
MOREIRA... Op.cit., p .1 3 7 .

(46)MARCÍLI0. Op.cit., p.199.


CONCLUSÕES

As razões da criação da Colónia Nacional Angelina devem

ser analisadas dentro do contexto histõrico-social da época,

com suas implicações no passado e no futuro da então Província


de Santa Catarina. Entre os anos de 1747 e 1756, para atender
a problemática social, ... conjuntural e econômica do arquipé­

lago dos Açores e das Ilhas da Madeira, foi organizado o trans


porte de mais de 6.000 açorianos e pouco mais de meia centena
de madeirenses, a fim de serem localizados nas proximidades do

litoral catarinense. A partir de então, teve início um grande


desenvolvimento demográfico da população luso-brasileira nas

proximidades do litoral catarinense, cujas dificuldades de sub


sistência foram se agravando, fruto da má distribuição das se£
marias, em cujos lotes dé terra praticava-se uma agricultura

de subsistência. As terras que aqui receberam eram desfavorá­

veis e diferentes daquelas de onde provinham os lotes eram pe­

quenos, de terra pouco fértil, que após a divisão da herança

muitas famílias ficaram com menos 20 braças de terra, o que,

naturalmente, levava os seus habitantes â pobreza.


206

Dessa forma, conclui-se que há duas razões principais que

levaram o Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco


Carlos de Araújo Brusque, a criar a Colônia Nacional Angelina:

1) o problema social do luso-brasileiro que habitava o litoral


catarinense: onde vivia uma multidão de indivíduos, desde o

município de Laguna até o de São Francisco, onerados de famí­


lias e privados de todas as comodidades, que, geopoliticamente,

seriam muito mais úteis para o Governo Provincial, habitando o


interior do sertão catarinense; 2) o problema da grave crise
de mão-de-obra na lavoura provocada pela substituição do tra­
balho servil pelo assalariado: a solução para o problema, por­

tanto, foi o uso da colonização nacional. Pois, sabe-se que a


política migratória do Governo Imperial numa atitude discrimi­

natória, até então, sempre deu prioridade ã migração estrange_i


ra. Mas, diante da grave crise da lavoura brasileira, agravada
pelas constantes queixas dos imigrantes alemães das fazendas

de café de São Paulo (que deram origem ao Rescrito Von der

Heydt de 03 de novembro de 1959, proibindo a imigração para o


Brasil), a saída encontrada, então, foi a colonização com ele­

mentos nacionais (luso-brasileiros).

A Colônia Nacional Angelina, apesar dos esforços do seu

idealizador, Francisco Carlos de Araújo Brusque e dos direto­


res que estiveram a sua frente, onde merece destaque o primei-r

ro Diretor Carlos Othon Schlappal, não se desenvolveu pelos

seguintes motivos:

a) Situação geográfica desfavorável, aliada ao desconhecimen­

to das condições climáticas, sendo que a primeira luta do ho­

mem foi contra os solos inférteis e a tropicalidade do ambien­

te. Sabendo-se da sua situação topográfica difícil, situada em


207

vale encaixado, sujeito ao desgaste das suas terras, não se to

mou nenhuma medida a nível de administração política, nem a

nível prático, no sentido de usar técnicas conservacionistas e


culturas que favorecessem a proteção do ambiente.

b) A sua localização próxima ã "antiga estrada de Lages", que


serviu a necessidade da economia regional, ligando o litoral e

o planalto; mas, passado algum tempo, percebeu-se que a insta­


lação da Colônia foi fora do eixo comercial, uma vez que se

vai usar mais a "estrada nova" de Lages. Desta forma, a Colô­


nia serviu, somente, para ocupar de forma estratégica e defi­
nitiva o lugar, de acordo com os interesses geopolíticos, das

autoridades migratórias, que pretendiam atrair o excesso popu­


lacional das áreas litorâneas para o interior da Província de

Santa Catarina.

c) A desigualdade no tratamento econômico dado â Colonização


"nacional", em benefício da Colonização estrangeira, por parte
da ação político-administrativa, da então Província, que pre­
feriu a colonização estrangeira ã nacional. Assim, os proble­
mas financeiros são uma constante na vida da Colônia, fruto da

parcimoniosa distribuição de recursos no período compreendi_

do entre a sua fundação e emancipação. Essa política financei­

ra discriminatória trouxe graves conseqüências internas para o

seu desenvolvimento social e econômico. Portanto, o seu peque­


no desenvolvimento é antes fruto da iniciativa individual e da

capacidade de seus administradores, do que o resultado de uma

política governamental bem sucedida.

d) 0 isolamento da área e a falta de boas vias de comunicação

para ligar os centros produtores aos consumidores, o que não

permitiu o desenvolvimento de uma "economia de mercado", face


208

ao pequeno capital e tecnologia empregados no desenvolvimento

econômico, social e industrial da Colônia. Desta forma, o seu

desenvolvimento ficou restrito a uma- produção de subsistência,

visando a implantação de um esquema de sobrevivência, baseado

em gêneros alimentícios, sem poder alcançar a exportação, ou


uma economia de mercado propriamente dita.

e) Os graves problemas médico-sanitãrios enfrentados pela po­

pulação, fruto do seu baixo nível social e economico, que ele­


vou a taxa de mortalidade da Colônia, principalmente, durante
as primeiras décadas e, também, fez com que muitos colonos

procurassem outras áreas com um nível de vida melhor.

Portanto, concordamos com a afirmação do PIAZZA quando

diz que:

Esta foi, pois, uma grande oportunidade que se perdeu,


no Brasil, para demonstrar, cabalmente, o valor do luso-
brasileiro, na tarefa não só de povoar, mas, especialmen
te, de criar as condições de desenvolvimento econÔmico-
social, através da rentabilidade da pequena propriedade
agricola (1).

A análise do comportamento demográfico comprovou que, de

fato, tratava-se de uma população "tradicional", dita "agrá­


ria", com uma estrutura familiar de numerosos filhos, com casa
mentos em idades precoces, com altas taxas de mortalidade in­

fantil e geral, vivendo da atividade primária, mas que com

a moderna divisão de trabalho e a nova estruturação da socie­

dade, principalmente, no fim da primeira metade desse século,

foi, gradativamente, mudando a sua maneira de viver. 0 estudo,

também, confirmou que o desenvolvimento econômico-social da


área teve influência direta sobre o comportamento demográfico

^ PIAZZA, Walter F. Angelina: Um Caso de Colonização Nacional. Florian£


polis: UFSC, 1977. p.261.
209

da população. Pois, o seu desenvolvimento econômico foi peque­

no, devido a sua localização geográfica — área de relevo aci­


dentado, solo pouco fértil, isolamento da região — aliado ã

política governamental de pouco apoio, que causou o abandono


da população, em conseqüência das dificuldades de comunicação

e transporte para os produtos agrícolas.

Nos anos iniciais da instalação da Colônia, as primeiras

levas de colonos foram de elementos essencialmente nacionais,


conforme preconizaram as instruções de 10 de dezembro de 1860.
Os dados constantes na "Relação dos Habitantes da Colônia Na­

cional Angelina, no fim de 1864", confirmam que a naturalida­


de e a origem üos primeiros habitantes são de elementos luso-

brasileiro, oriundos, na sua maior parte, do litoral da então


Província de Santa Catarina. Os números apontaram que 94,22% da
população total da Colônia, é de área luso-brasileira, enquan­
to que o restante da população; 0,64% é de outras províncias
e 4,4% de outros países. Tal análise demonstra, sobretudo, que

foi uma área de expansao, "frente pioneira", como pretendeu o

seu idealizador, para o excedente das áreas de colonizaçao aço


riana de Santa Catarina (São José, Camboriú, Ilha de Santa Ca­

tarina, Enseada de Brito, Campo de Massiambu) e das áreas de

expansão posterior (Santo Amaro do Cubatão).

Ao lado do colono nacional, em um segundo momento, o estu

do indicou o crescimento, paulatino, do numero de estrangeiros

que .se fixam na área da Colónia. Os números apontam que, no

ano de 1866, os estrangeiros são 1,50% da população total, au­

mentando para 5,25% em 1872, decrescendo nos anos de 187 3 para

3,25% e 1874, 2,75%, tomando um novo impulso em 1877, com

9,80%, portanto, numa demonstração clara que- a' área estava in-
210

teressando ao elemento alienígena e seus descendentes. Assim,

quanto ã origem e ã nacionalidade dos primeiros habitantes


identificou-se duas etapas principais, na ocupação da Colônia:

1) o primeiro período vai de 1860 a 1865, onde a Colônia rece­

beu essencialmente, o elemento nacional, de origem açoriana,

proveniente do litoral catarinense. 2) No segundo período, que

vai de 1866 a 1881, sentiu-se cada vez mais, a presença do ele

mento estrangeiro, de origem germânica; primeiro, da Colônia


Santa Isabel e, depois, da Colônia São Pedro de Alcântara, que
foi ocupando gradativamente a área. Os motivos da presença do

estrangeiro na Colônia explicam-se devido: à proximidade entre


as Colônias, ãs difíceis condições topográficas, ao isolamen­

to , e ã falta de comunicação da região.

Entretanto, o "fracasso" total da colonização nacional


deu-se, finalmente, em agosto de 1873, quando, a nível políti­
co, é tomada uma nova diretriz com relação â Colônia Nacional
Angelina, contrariando, definitivamente, as Instruções ini­

ciais. Essa nova orientação mandou preparar, ã custa do Esta­


do, numa atitude discriminatória, conforme comprovou a documen

tação compulsada, "prazos para o estabelecimento de colonos

Europeus". Assim, oficialmente, retirou-se da Colônia a sua


condição de "nacional", pois, como vimos, de fato, isso já vi­
nha acontecendo há muito tempo. Todavia, enquanto isso, os co­

lonos continuavam a solicitar ao Diretor da Colônia para serem

admitidos como colonos nacionais, porém, ao que parece, as pre

ferências tanto do Diretor da Colônia quanto do Presidente da

Província, já estavam totalmente voltadas ã colonização es­

trangeira.

A evolução populacional da área foi maior nas duas pri­

meiras décadas da colonização. Esse período coincide com o mo-


211

mento da política migratória do Governo Imperial, onde se in­

centivou o estabelecimento de colonos nacionais e estrangeiros


no interior da Província de Santa Catarina, mediante a promes­

sa de auxílio no seu assentamento. De fato, essa ajuda do Go­


verno Imperial, no caso específico da Colónia Nacional Angeli­

na, não foi além de pequenas quantias dispensadas para a com­

pra de "ferramentas arratórias", auxílio na "construção da


casa" e ajuda na "primeira derrubada". Pois, sabe-se através
de uma análise comparativa, que houve por parte da ação polí­
tico-administrativa desigualdade no tratamento econômico dado

ã colonização nacional, em benefício da colonização estrangei­


ra. Desta forma, conforme comprova a documentação compulsada,

os primeiros moradores da Colônia Nacional Angelina foram pri­


vadas de satisfazer as suas principais necessidades.

Mas, apesar da pobreza e dos graves problemas médico-

sanitários, a população de Angelina, principalmente durante a


segunda metade do século XIX, apresentou um elevado índice de

crescimento natural. A diferença entre a natalidade e a morta­


lidade sempre foi positiva, superior a 2%, o que demonstra,ini.

cialmente, o elevado índice de fecundidade e o grande número de

colonos nacionais e estrangeiros que se estabeleciam na área


da antiga Colônia. Contudo, passado o grande fluxo migratório
para a área, a partir de 1872, o seu crescimento populacional

foi menor. Disso, conclui-se, que o crescimento populacional


ficou condicionado às restrições de sua atividade econômica,

incapaz de absorver a mão-de-obra que resultou do incremento

natural. Assim, houve, conseqüentemente, um êxodo para áreas

agrícolas de melhor rentabilidade ou para áreas urbanas, onde

houve absorção de maiores contingentes de mão-de-obra. Nesse

caso, com relação ã antiga Colônia Nacional Angelina, situa-se


212

a....cidade de Florianópolis, como área catalizadora.

O estudo comparativo entre os sexos demonstrou um dese­

quilibrio constante a favor do sexo masculino durante a maior


parte do período estudado. Ou seja, foi alta a razão de mascu­

linidade da população de Angelina, principalmente no início da

colonização. Essa grande diferença entre os sexos, que alcan­


çou uma razão de masculinidade de atè 154,76% no início do pe­
ríodo e uma queda freqüente até o final do período, quando a-

tingiu a razão de 98,90%, em 1950, explica-se, pelo fato, de


que inicialmente os homens ficavam por algum tempo trabalhando
na Colônia para depois trazer as suas famílias. Durante esse
tempo construíam as suas casas, faziam suas primeiras derru­
badas, para depois se estabelecerem definitivamente. Por isso,
durante muito tempo, o número de homens casados foi superior

ao número de mulheres. Porém, o fenômeno se inverte por volta


de 1950, quando, então, começou a haver uma emigração da popu­
lação masculina de Angelina, para ãs áreas urbanas, em busca
de melhores condições de vida.

No estudo da estrutura etária da população de Angelina,

em 1864, a análise demonstrou haver, então, uma alta natali­


dade seguida de uma alta mortalidade infantil e geral. Os da­

dos confirmam que grande parte da população era formada por


pessoas jovens, o que possibilita compreender a necessária e-

xisténcia de famílias numerosas, fruto, também, de uma alta

taxa de fertilidade. Mas, porém, grande parte da população

morria em idades precoces, sendo que poucos eram os que alcan­

çavam os 65 anos de idade. O fenômeno da população jovem é uma


característica das populações do tipo em desenvolvimento, an­

tes de começar sua transição demográfica, como também dos paí­

ses em via de desenvolvimento.


213

A análise da estrutura domiciliar demonstrou que as nor­

mas morais relativas ao casamento e organização familiar eram

levadas muito a sério entre os colonos nacionais de Angelina.

No ano de 1864 encontrou-se um pequeno percentual de filhos


ilegítimas, ou seja, apenas 1,63% sobre o total da população.0

padrào típico de "família brasileira", com vários integrantes,


não chegou a representar 10% das famílias analisadas (somados
aqui as famílias extensas e aumentadas). Portanto, a estrutu­
ra familiar do colono açoriano era relativamente simples, com

relações sociais pouco complexas, uma vez que as famílias nu­


cleares eram mais de 58,33% da população.

Do estudo da população de Angelina por atividade produ­


tiva verifica-se que, a maior parte dos seus habitantes dedi-
cou-sè ã agricultura, ou seja, eram pequenos lavradores e cria

dores de animais domésticos. Através de uma agricultura de

subsistência, usando instrumentos como a enxada, o machado e a


foice, o pequeno agricultor, para satisfazer as suas necessi­
dades imediatas, arrancava da terra ou da natureza, o sustento
para a sua sobrevivência. Entretanto, o terreno assim cultiva­

do, na sua maior parte em encostas aclíveis, desde que despido


de sua cobertura florística natural, produz intensa erosão; fa
ce ã tropicalidade, aliado aos altos índices de precipitação

existentes na área da Colonia, o que, após algum tempo, torna

a terra improdutiva.

Mas, apesar das dificuldades da economia local, houve di­

versas tentativas de inovação, seja pelo aprimoramento das

técnicas, ou pelo uso de novas culturas. Assim, no processo de


transformação dos produtos agrícolas, como a mandioca e o mi­

lho, sente-se que houve uma "modernização"' com o emprego da

"roda d'água" ao lado de "motor animal", na industrialização de


214

produtos agrícolas. Além da agricultura, grande parte dos co­

lonos dedicava-se ã extração da erva-mate e ã criação de gado.

Contudo, junto ã atividade primária, alguns colonos trabalha­

vam a atividade secundária, que era representada por aqueles

com melhores condições de vida: os que possuíam engenhos de

farinha de mandioca, engenhos de açúcar, teares caseiros, ou


alambiques de cachaça. Por outro lado, a atividade terciária

revelou-se inexpressiva, o que demonstra o tradicionalismo nos


métodos de produção e de transformação dos produtos, que não
permitiu comportar um maior número de funcionários liberais,

religiosas, civis ou ligados ao comércio, ao transporte e ser­

viços em geral.

Entretanto, apesar da predominância do setor primário na


atividade produtiva da colônia, fez-se um enorme esforço por
parte dos seus dirigentes e dos colonos no sentido de melhorar
a sua produção. Foram experimentados diversos tipos de culti­

vo, sendo que na maioria das vezes obteve pouco sucesso, tais

como: algodão, trigo, linho, alho, cebola, fumo, café, cevada,


aveia e até o vinho. Por isso, para sobreviver, apegaram-se
ãs culturas mais conhecidas, como os gêneros de primeira ne­

cessidade: feijão, milho, mandioca, batatas, além da criação


de animais domésticos. Assim, pois, a Colônia serviu como la­

boratório onde se fizeram experiências com diversos tipos de

cultivo.

Enfim, conclui-se, apesar das diversas tentativas reali­

zadas a agricultura não se desenvolveu: 1) Por ser uma produ­

ção de subsistência, que visou ã implantação de um esquema de

sobrevivência básica, restrito a uma produção de gêneros ali­

mentícios, o que levou ao retardamento ou ã falta de desenvol­

vimento econômico, sem tentar alcançar a exportação, através


215

de uma produção em maior escala; 2) Pela falta, basicamente,

de vima economia de mercado, para fortalecer as bases econômi­

cas, criando o necessário capital, aliado a uma tecnologia a-


grícola ou industrial, capaz de se desenvolver e criar condi­

ções para o incremento social e econômico da área.

Ainda cabe observar que a mão-de-obra utilizada, na sua


grande maioria, era de elementos livres. Pois, era pequeno o
número de escravos existentes na Colônia Nacional Angelina,qua
se sempre inferior a 1¾. Esse baixo índice de escravidão re­

flete a situação do País, que se encaminha para a mão-de-obra


assalariada, dando prioridade ã colonização estrangeira, alia­

do ao baixo poder aquisitivo do colono nacional, que não tinha

condições de manter um escravo numa estrutura minifundiária

voltada â agricultura de subsistência. Também, a partir de


1850, o braço escravo é mais valorizado nas áreas monoculturas
do café e do açúcar, e, particularmente, em Santa Catarina, a

concentração de escravos foi maior nas áreas urbanas, da orla

atlântica, e nas regiões de pastoreio.

O estudo da "Dinâmica Populacional", nas suas grandes li­

nhas e tendências, realizado através dos eventos vitais - ba­


tizados, casamentos e óbitos - comprovou o que os documentos

já tinham assinalado que: houve um crescimento maior da popu­


lação nas duas primeiras décadas do início da colonização. Ê o

período que vai de 1860 a 1880 que corresponde, exatamente,


com a política do Governo Imperial, que procurou incentivar

tanto a colonização nacional quanto a estrangeira, facilitando

a fixação do colono no interior da Província de Santa Catari­

na. A partir de 1881, com a emancipação da Colônia Nacional

Angelina, e a sua integração no contexto político-administrati.


216

vo da então Província, a média anual dos eventos vitais cresce

em ritmo menor. Assim, as flutuações que existem na queda e

alimento dos eventos vitais são causadas pela entrada e saída

de colonos na área, que, por sua vez, influenciam diretamente


o crescimento da população.

De um modo geral, os movimentos sazonais de batizados,ca­


samentos e óbitos da população de Angelina, no século XIX e XX,

ocorreu mais em função de fatores climáticos e econômicos do


que em função da influência da Igreja Católica. Contudo, a in­
fluência da Igreja Católica sobre as concepções e casamentos

permanecem até o final da primeira metade desse século. Esse


fato, talvez, se explica por Angelina ser sede de um grande
santuário, onde a grande maioria da populaçào é católica, sen­

do que a fé religiosa é posta acima das decisões familiares,no

que diz respeito âs concepções e nupcialidades, nos períodos


considerados penitenciais - Quaresma e Advento. No todo, a in­

fluência da Igreja Católica é maior sobre os casamentos do que


sobre as concepções, porém os fatores climáticos e econômicos
são mais marcantes. Com relação ã mortalidade, durante o pe­
ríodo estudado, não se encontraram informações sobre o elevado
número de óbitos provocados por doenças, ou pela fome. A maio­

ria das mortes tem ocorrido, sobretudo, mais em função dos


graves problemas médico-sanitários enfrentados pela população.

Portanto, de um modo geral, conclui-se que as taxas bru­

tas médias de natalidade, nupcialidade e mortalidade, na popu­

laçào de Angelina, principalmente durante a segunda metade do

século XIX, foram bastante elevadas. Entretanto, mostraram uma

tendência de queda durante todo o período estudado. A taxa bru

ta média de natalidade encontrada, que em grande parte do pe­

ríodo situou-se acima de 40 nascimentos para cada mil habitan-


217

tes, ficou dentro dos índices esperados. Pois, sabe-se que na

ausência de limitação de nascimentos, a taxa de natalidade, a

nível de América Latina, onde o casamento é geral e precoce,os


índices encontrados, geralmente, situam-se entre 45 e 55 nas­
cimentos para cada mil habitantes. Por sua vez, a alta taxa

de nupcialidade encontrada, sobretudo, no período que corres­


ponde ao início da colonização de Angelina, vem comprovar uma

vez mais, que a população que para lá se dirigia era bastante


jovem. A mortalidade com uma taxa bruta média de 15,15 mortes

para cada mil habitantes, na primeira década do período, tam­


bém, pode ser considerada elevada. Mas, a partir de então, a-

presentou uma queda constante até o final do século XIX, sendo

que ficou abaixo da expectativa.

O estudo demográfico de Angelina mostra que, apesar das


tentativas de inovar quanto ao processo de colonização, a po­
pulação mostra um comportamento tradicional, no que se refere
ao casamento e ã natalidade. Reflete, assim, uma característi­

ca específica de uma comunidade fechada, alheia ao desenvolvi­

mento do restante do território catarinense e nacional.


FONTES

.1. Fontes Manuscritas

a) Registros paroquiais da Paróquia de São Pedro d 'Alcánta


ra - Arquivo Histórico Eclesiástico da Arquidiocese de
Florianópolis, 1854-1946.
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A.H.E.A.F., 1926-1950.
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1950

.Avisos do Ministério do império para Presidente da Província.


1825/35-1840/46-48/52-54/63-66/86=34vs.

. Avisos do Ministério do Império e Ministério Interior para


Presidente da Província. 1888/89=lv.

. Correspondências Presidente da Província para Inspetoria Es­


pecial de Terras e Colonização. 1887/89=6vs.

. Correspondências do Palácio do Governo para Inspetoria Espe­


cial de Terras e Colonização. 1890/1 v. Jan/Jun.

. Correspondências do Palácio do Governo para Inspetoria Espe­


cial de Terras e Colonização e Delegacia de Terras e Coloni­
zação. 1890=lv Jul/dez.

. Correspondências do Palácio do Governo para Delegacia de Ter­


ras e Colonização. 1890/91=lv.

. Correspondências do Palácio do Governo para Terras e Coloni­


zação e Obras Públicas. 1894/98=4vs.

. Correspondência Palácio do Governo para Obras Públicas. 1900/


901=2vs.
219

. Correspondência do Presidente da Província para Engenheiros.


1875/85 = 87/89=llvs.

. Correspondência do Presidente da Província para Engenheiros


e Terras e Colonização. 1886=2vs.

. Correspondência Palácio do Governo para Engenheiros. 1890/


98=5vs.

. Correspondência do Presidente da Província para Colónias.


187 5/81=12vs.

. Correspondências do Presidente da Província para Diretoria


de Instrução Pública. 1875/1889=12vs.

. Correspondências Arciprestes e Vigários para Presidente da


Província. 1831/1890=24vs.

. Correspondência do Presidente da: Província para Arciprestes


e Vigários. 1875/88=2vs.

. Correspondência do Presidente da Província para Guarda Nacio


nal. 1875/86=lv.

. Correspondências do Ministério da Agricultura para Presiden­


te da Província. 1861/89=21vs.

. Correspondência do Ministério da Agricultura para Palácio


do Governo. 1890/92-1909/15=5vs.

. Correspondências do Presidente da Província para Ministério


da Agricultura. 1875/89=28vs.

. Correspondências do Palácio do Governo para Ministério da


Agricultura. 1890/91-1909/15=3vs.

. Correspondências do Presidente da Província para Ministério


do Império. 1875/89=12vs.
220

. Correspondencias do Presidente da.Província para Chefe de


Policia. 1875/89=19vs.

. Correspondências do Palácio do Governo para Chefe de Polícia.


1890/93=5vs.

. Correspondências da Secretaria Geral dos Negócios do Estado


para Chefe de Polícia. 1894/1917=13vs.

. Correspondências do Presidente da Província para Autorida­


des Policiais. 1875/86=4vs.

. Minutas da Secretaria Geral dos Negócios do Estado e Secre­


taria do Interior e Justiça para Chefatura de Polícia. 1918/
19=lv.

. Ofícios Terras e Colonização para Presidente da Província.


1856/70=7vs. - APE, Florianópolis.

. Ofícios do, Inspetor Especial das Terras e Colonização para


Presidente da Província. 1885/89=9vs.

. Ofícios da Inspetoria Especial das Terras e Colonização para


o Palãcio do Governo. ’ 1890=Iv. Jan/raaio.

. Ofícios da Inspetoria Especial das Terras e Colonização e


Delegacia de Terras e Colonização para Palácio do Governo.
1890=lv. Jan/dez.

. Ofícios Delegacia de Terras e Colonização para Palácio do Go


verno. 1891/95=2vs.

. Ofícios Obras Públicas para Presidente da Província. 1888/92=


5vs.

. Ofícios Diretoria Terras e Colonização e Obras Públicas para


Palácio do Governo. 1893/98=7vs.

. Ofícios Diretora de Obras Públicas para Secretaria dos Negó­


cios do Interior. 1893/901=2vs.
221

Ofícios dos Engenheiros para Presidente da Província. 1830/


89=34vs.

Ofícios dos Engenheiros para Palácio do Governo. 1890/98=4vs.

Ofícios da Diretoria da Instrução Pública ao Presidente da


Província. 1855/74=14vs.

Ofícios da Diretoria Instrução Publica para Presidente da


Província. 1875/89=15vs.

Ofícios da Diretoria Instrução Pública para Palácio do Go­


verno. 1890/99=16vs.

Ofícios Ministério da Agricultura para Palácio do Governo.


1930/52=5vs.

Ofícios diversos ao Presidente da Província. 1748-1804-1831/


1889=46vs.

Ofícios Chefe de Polícia para Presidente Província. 1885/


80=59vs.

Ofícios Chefe de Polícia para Presidente Província. 1870/89=


60vs.

Ofícios Chefe de Polícia para Palácio do Governo. 1890/98=


17vs.

Ofícios Chefe de Polícia para Interior e Justiça e Diversos.


1899/901-1918/33=4lvs.

Ofícios Chefe de Polícia para Secretaria Geral dos Negócios


do Estado. 1902/1918=29vs.

Ofícios Delegado de Polícia para Presidente da Província.


1842/1889=17vs.

Ofícios Delegado de Polícia para Palácio do-Governo. 1890/


92=2vs.
Ofícios Subdelegados de Polícia para Presidente da Província.
1842/1889=18vs.

Ofícios Subdelegado de Polícia para Palácio do Governo.1890/


91=4vs.

Ofícios do Comissário e subcomissário de Polícia para Palá­


cio do Governo. 1892/1907=lv.

Registro do Presidente da Província para Terras e Coloniza­


ção. 1856/70=3vs.

Registro do Presidente da Província para Engenheiros. 1859/


75=3vs.

Registro Presidente da Província para Colônias. 1863/75=4vs.

Registro das Leis das Terras do Presidente da Província para


Diversos. 1854/70=lv.

Registro do Presidente da Província para Diretoria de Instru


çao Pública. 1854/7b=3vs.

Registro Presidente Província para Arciprestes e Vigários.


1860/75=lv.

Registro dos Despachos do Bispo. 1840/75=lv.

Registro Presidente Província para Guarda Nacional. 1835/


75=8vs.

Registro do Presidente da Província para Ministerio da Agri­


cultura. 1861/75=8vs.

Registro do Presidente da Província para Ministerio do Impé­


rio. Iü32/75=12vs.

Registro do Presidente da Província para Chefe de Polícia.


1859/75=4vs.
223

. Registro do Presidente da Província para Autoridades Poli­


ciais. 1843/75=5vs.

. Requerimentos de Terras e Colonização para Presidente da Pro


víncia. 1886/88=lp.

. Requerimentos dos Engenheiros e Obras Públicas para Presi­


dente da Provincia. 1887/8-1915=lp.

3. Fontes Impressas
a) Falas e Relatórios

ABREU, Carlos Augusto Ferraz de. Relatório apresentado á As­


sembléia Legislativa Provincial de Santa Catarina pelo Pre­
sidente no acto da abertura da sessão em 2 de abril de 1869.
Desterro,Tip. de J.J. Lopes, 187 7.
ARAÚJO, José Bento de. Fala com que o Exmo. Sr. Pr. abriu a
sessáo da 213 Legislatura da Assembléia Legislativa Provin­
cial de Santa Catarina em 6 de março de 1877. Desterro, Tip.
de J.J. Lopes, 1877.
ARAUJO, José Bento de. Relatório com que ao Exmo. Sr. Pr.Joa­
quim da Silva Ramalho 1? Vice-Presidente passou a adminis­
tração da Província de Santa Catarina o Exmo. Sr. Pr. ... em
14 de fevereiro de 1878. Pesterro, Tip. Regeneração, 1878.
BRUSQUE, Francisco Carlos de Araújo. Relatório do Presiden­
te da Província de Santa Catarina... apresentado à Assem­
bléia Legislativa Provincial na 13 sessão da 109 Legislatu-
ra. Rio de Janeiro, Tip. de Correio Mercantil, 1860.
BRUSQUE, Francisco Carlos de Araújo. Relatório do Presidente
da Província de Santa Catarina... apresentado à Assembléia
Legislativa Provincial na 23 sessão da 10? Legislatura. Rio
de Janeiro, Tip. de Pinheiro & Comp.,1861.
BRUSQUE, Francisco Carlos de Araújo. Relatório apresentado ao
Exmo. Vice-Presidente dai Província de Santa Catarina o Dou-
tor João José de Andrade Pinto pelo Presidente Doutor ...por
ocasião de passar-lhe a administração da mesma Província em
17 de abril de 1861. Desterro, Tip. de J.J. Lopes, 1861.
224

CHAVES, Alexandre Rodrigues da Silva. Relatório do Presidente


da Provincia de Santa Catarina o Doutor... apresentado ã As­
sembléia Legislativa Provincial na 23 sessão da 123 Legisla­
tura em 1? de margo de 1865. Santa Catarina, Tip. Catari­
nense, 1865.

CHAVES, João Rodrigues. Falia com que o Exmo. Snr. Doutor ...
abriu a segunda sessão da vigéssima segunda legislatura da
Assembléia Provincial de Santa Catarina em 2 de fevereiro de
1881. Desterro, Tip. e Lit. de Alex. Margarida, 1881.
CINTRA JÚNIOR, Delfino Pinheiro de Ulhos. Relatório com que
o Exmo. Sr. Doutor ... passou a administração da Província
de Santa Catarina ao Exmo. Sr. Doutor Manoel do Nascimento
da Fonseca Galvão, 29 Vice-Presidente da mesma em 23 de no­
vembro de 1872. Desterro, Tip., de J.J. Lopes, 1872.
CINTRA, Guilherme Cordeiro Coelho. Relatório do Vice-Presiden­
te da Província de Santa Catarina Pr. ... apresentado à As­
sembléia Legislativa Provincial em 25 de março de 1872. Des­
terro, Tip. de J.J. Lopes, 1872.
CORREA, Francisco Ferreira. Relatório apresentado pelo Presi­
dente da Provincia dé Santa Catarina o Exmo. Sr. Dr. ... ao
19 Vice-Presidente o Exmo. Sr. Pr. Manoel Vieira Tosta e es­
te ao Presidente o Exmo. Sr. Pr. Joaquim Bandeira de Gouvêa
no acto de passar-lhe á administração da mesma em 16 de ja­
neiro de 1871. Pesterro, Tip. de J.J. Lopes, 1871.
COUTINHO, João Francisco de Souza. Relatório apresentado ao
Exmo. Presidente da Província de Santa Catarina o Capitão
Tenente Pedro Leitão da Cunha pelo Vice-Presidente o Comen­
dador ... por ocasião de passar-lhe a administração da mesma
Província em 26 de dezembro de 1862. Pesterro, Tip. Comer­
cial, 1863.
COUTINHO, João José. Fala que o Presidente da Província de
Santa Catarina o Exmo. Sr. Pr. ... dirigido à Assembléia Le­
gislativa da iriesma Província, por ocasião da abertura da sua
sessão Ordinária em 19 de março de 1853. Desterro, Tip. do
Conservador, 1853.
COUTINHO, João José. Falà que o Presidente da^ Província de.
Santa Catarina o Exmo. Sr. Pr. -- dirigiu a Assembléia Le­
gislativa: da mesma: Província, por ocasião da abertura_____da
225

sua sessão ordinária em 19 de abril de 1854. Desterro, Tip.


do Correio Catarinense, 1854.

COUTINHO, João José. Fala que o Exmo. Sr. ... Presidente da


Província de Santa Catarina dirigido ã Assembléia Legislati­
va Provincial no acto d'abertura de sua sessão ordinária em
1? de março de 1855. Desterro, Tip. do Correio Catarinense,
1855.
COUTINHO, João José. Fala que o Presidente da Província____de
Santa Catarina Pr. ... dirigido à Assembléia Legislativa Pro­
vincial no acto d'abertura de sua sessão ordinária em 1? de
março de 1856. Rio de Janeiro, Tip. Universal, 1856.
COUTINHO, João José. Fala que o Presidente da Província____de
Santa Catarina Pr. ... dirigido à Assembléia Legislativa Pro­
vincial no acto d'abertura da sua sessão ordinária em 19 de
março de 1857. Rio de Janeiro, Tip. de J. Villeneuve & Cia.
1857.
COUTINHO, João José. Fala que o Presidente da Província____de
Santa Catarina Pr. ... dirigido à Assembléia Legislativa Pro­
vincial no acto da abertura da sua sessão ordinaria em 19 de
março de 1858. Santa Catarina, Tip. Catarinense, 1858.
COUTINHO, João José. Fala que o Presidente da Provincia de
--Santa Catarina Pr. ... dirigido ã Assembléia Legislativa Pro­
vincial no acto da abertura da sua sessão ordinária em 19 de
março de 1859. Santa Catarina, Tip. Catarinense, 1859.
COUTINHO, João José. Relatorio apresentado ao Exmo. Vice-Pre­
sidente da Província de Santa Catarina o Pr. Speridão Eley
de Barros Pimentel pelo Presidente o Pr. por ocasião de pas­
sar-lhe a administração da mesma Província em 23 de setembro
de 1859. Pesterro, Tip. de J.J. Lopes, 1859.
CUNHA, Pedro Leitão da. Relatório apresentado ao Exmo. 19 Vi­
ce-Presidente da Província de Santa Catarina o____Comendador
Francisco José P'Oliveira pelo E x m o . "Presidente... por oca­
sião de passar-lhe a administração da mesma Província em 19
de dezembro de 1863. Pesterro, Tip. Comercial, 1863.
FERREIRA, Pedro Affonso. Relatório com que o Exmo. Sr. Pr. ...
passou a administração da Província de Santa Catarina ao 49
Vice-Presidente Exmo. Sr1. Tenente Coronel Luiz Ferreira do
226

Nascimento e Mello no dia 8 de outubro de 1873. Desterro,


Tip. de J.J. Lopes, 1874.

GALVÂO, Ignacio da Cunha. Relatório apresentado ao Exmo. Pre­


sidente da Província de Santa Catarina o Conselheiro Vicente
Pires da Motta por seu antecessor o Doutor. ... por ocasião
de passar-lhe a administração da mesma Província em 17 de
novembro de 1861. Desterro, Tip. Desterrense, 1861.
GALVÂO, Manoel do Nascimento da Fonseca. Relatório apresenta­
do pelo 29 Vice-Presidente de Santa Catarina o Exmo. Sr. Dou­
tor. ... ao Presidente o Exmo. Sr. Doutor André_____Cordeiro
de Araújo Lima por ocasião de passar-lhe a administração da
mesma em 3 de janeiro de 1870. Desterro, Tip. de J.J. Lo­
pes, 1870. 20p. (anexo 2 p. com "Informações sobre a Colô­
nia Nacional Angelina", assinada por Joaquim José de Souza
Corcoroca).
GOUVÊA, Joaquim Bandeira de. Relatório que o Exmo. Sr. Presi­
dente da Província de Santa Catarina Pr. ... dirigido â As­
sembléia Legislativa Provincial no acto da abertura de sua
sessão ordinária em 26 de março de 1871. Desterro, Tip. de
Jornal "Província", 1871.
LACERDA, Adolpho de Barros Cavalcanti de Albuquerque. Relató­
rio apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Santa
Catarina na sua sessão ordinária pelo Presidente ... no ano
de 1867. Rio de Janeiro, Tip. Nacional, 1867.
LACERDA, Adolpho de Barros Cavalcanti de Albuquerque. Relató­
rio apresentado ã Assembléia Legislativa Provincial de Santa
Catarina na sua sessão ordinária e ao 1? Vice-Presidente Co­
mendador Francisco José de Oliveira, por ocasião de passar-
lhe a administração o Presidente ... no ano de 1868. Rio de
Janeiro, Tip. Nacional, 1868.
LIMA, André Cordeiro de Araújo. Relatório que o Presidente da
Província de Santa Catarina Pr. ... dirigido à____Assembléia
Legislativa Provincial no acto d'abertura de sua sessão or­
dinária em 25 de março de 1870. Desterro, Tip. de J.J. Lo­
pes, 1870.
MELLO FILHO, João Capistrano Bandeira de. Fala com que o Exmo.
Sr. Pr. ... abrlo a 13 sessão da 213 Legislatura da Assem­
bléia Legislativa da Província de Santa Catarina em 19____de
227

margo de 187 6. Desterro, Tip. de J.J. Lopes, 1876.

MELLO FILHO, João Capistrano Bandeira de. Relatório com que


ao Exmo. Sr. Pr. Alfredo d'Escragnolle Taunay passou ã admi­
nistração da Província de Santa Catarina o Exmo. Sr. Pr. ...
em 7 de julho de 187 6. Rio de Janeiro, Tip. Cinco de março,
1876.

MELLO, Luiz Ferreira do Nascimento. Ofício com que ao Exmo.


Sr. Tenente-Coronel Luiz Ferreira do Nascimento Mello passou
ã administração da Província de Santa Catarina o Doutor João
Thome da Silva em 23 de abril de 1875 e Relatório com que ao
Exmo. Sr. Pr. José Capistrano Bandeira de Mello Filho passou
ã administração o Exmo. Sr. Tenente-Coronel ... em 7 de agos­
to de 1875. Pesterro, Tip. de J.J. Lopes, 1875.

MOTA, Vicente Pires da. Relatório do Presidente da Província


de Santa Catarina o Conselheiro ... apresentado ã Assembléia
Legislativa Provincial na 13 Sessão da 113 Legislatura. Pes­
terro, Tip. Pesterrense, 1862.
NEVES, Joaquim Xavier. Relatório apresentado pelo 39____Vice-
Presidente da Província de Santa Catarina o Exmo. Sr. Coro-
nel ... ao 29 Vice-Presidente o Exmo. Sr. Doutor Manoel do
Nascimento da Fonseca Galvão por ocasião de passar-lhe a ad-
ministração da mesma em 22 de novembro de 1869. Pesterro,
Tip. de J.J. Lopes, 1870.
OLIVEIRA, Francisco José d'. Relatório do Vice-Presidente da
Província de Santa Catarina o Comendador ... apresentado ã
Assembléia Legislativa Provincial na 13 Sessão da 123 Legis­
latura . Santa Catarina.
OLIVEIRA, Antônio de Almeida. Fala com que o Exmo. Sr. Pou-
tor ... abriu a sessão extraordinária da Assembléia Provin­
cial de Santa Catarina em 2 de janeiro de 1880. Pesterro,
Tip. e Litogr. de Alex. Margarida, 1880.
OLIVEIRA, Francisco José de. Relatório apresentado ao Exmo.
Presidente da Província de Santa Catarina Pr. Adolpho_____ de
Barros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda pelo Vice-Presiden­
te o Tenente Coronel ... no acto de passar-lhe a administra­
ção da mesma província em 16 de agosto de 1865. Santa Cata­
rina, Tip. Catharinense, 1865.
228

OLIVEIRA, Francisco José de. Relatório apresentado ao Exmo.


Sr. Vice-Presidente da Província de Santa Catarina Comenda­
dor João Francisco de Souza Coutinho pelo Vice-Presidente o
Comendador ... no acto de passar-lhe a administração da mes­
ma Província em 04 de agosto de 1868. Desterro, Tip. de J.
J. Lopes, 1869.

PINTO, Carlos de Cerqueira. Relatório apresentado ao- limo, e


Exmo. Sr. Pr. Carlos Augusto Ferraz de Abreu Presidente da
Província de Santa Catarina pelo 19 Vice-Presidente Pr. ...
no acto de passar-lhe a administração da mesma Província em
11 de janeiro de 186 9. Pesterro, Tip. de J.J. Lopes, 1869.
PINTO, João José de Andrade. Relatório apresentado ao Exmo.
Presidente da Província de Santa Catarina o Pr. Ignacio da
Cunha Galvão pelo Vice-Presidente o Poutor ... por ocasião de
passar-lhe a administração da mesma Província em 26 de abril
de 1861. Pesterro, Tip. Catarinense, 1861.
RAMALHO, Joaquim da Silva. Relatório com que o Exmo. Sr. Pr.
Lourenço Cavalcanti de Albuquerque passou a administração da
Província de Santa Catarina o Exmo. Sr. Pr. ... 19 Vice-Pre­
sidente em 7 de maio de 1878. Pesterro, Tip. Regeneração,
1878.
ROCHA, Francisco José da. Relatório apresentado à Assembléia
Legislativa da Província de Santa Catarina na 13 sessão de
sua 263 Legislatura pelo Presidente Pr. ... em 21 de julho
de 1866. Pesterro, Tip. 1 do Conservador, 1886.
ROZA, Francisco Luiz da Gama. Falia com que o Exmo. Sr. Pr.
... abrio a primeira sessão da vigésima quinta legislatura
da Assembléia Legislativa Provincial de Santa Catarina em 5
de fevereiro de 1884. Pesterro, Tip. de J.J. Lopes, 1884.
SILVA, João Thomé da. Fala dirigida à Assembléia Legislativa
Provincial de Santa Catarina em 25 de março de 1874 pelo Ex­
mo. Sr. Presidente da Província Pr. ... Pesterro, Tip. de
J.J. Lopes, 1874.

SILVA, João Thomé da. Fala dirigida ã Assembléia Législatif


ya Provincial dé Santa Catarina em 21 de março de 1875, pelo
Exmo. Sr*. Presidente da Província Pr. ... Pesterro, Tip... de
J.J. Lopes, 1875.
229

TAUNAY, Alfredo D'Escragnolle. Relatório com que ao Exmo. Sr.


Dr. Herminio Francisco do Espirito Santo, 19 Vice-Presidente
passou a administração da Província de Santa Catarina o Dr.
... em 2 de janeiro de 1877. Desterro, Tip. de J.J. Lopes,
1877.
TOSTA, Manoel Vieira. Relatório apresentado pelo 19 Vice-Pre-
sidente de Santa Catarina o Exmo. Sr. Pr. ... ao Presidente
o Exmo. Sr. Pr. Francisco Ferreira Corrêa por ocasião_____ de
passar-lhe a administração da mesma em 18 de maio de 1870.
Pesterro, Tip. de J.J. Lopes, 1870.

b) Legislação Ordenada
Coleção das leis da Província de Santa Catarina formuladas na
sessão do ano de 1866. Desterro, Tip. de Joaquim Augusto do
Livramento, 1866.
Código Criminal do Império do Brasil. 2.ed. (ed. dirigida por
Araújo Figueiras Júnior). Rio de Janeiro, s/ed., 187 6.
Coleção das Leis do Império do Brasil. Rio de Janeiro, Tip.
Nacional (vários volumes).

c) Recenseamentos
Recenseamento Geral do Brasil; realizado em 19 de setembro de
1920. Rio de Janeiro, Tipografia da Estatística, 1929.
Recenseamento Geral de 1940; Censo Pemográfico do Estado de
Santa Catarina. Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geo-
gr fia e Estatística, 1940.
VI Recenseamento do Brasil; Censo Pemográfico (19 de julho de
1950). Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, 1952.
Censo Pemográfico de 1960; Santa Catarina. Rio de Janeiro,
Fundação IBGE, 1968.
Sinopse estatística de Santa Catarina. Rio de Janeiro, Funda­
ção IBGE, 1971.

d) Jornais
1. 0 Cruzeiro (Jornal político literário e noticioso). Ano I,
n9 3, Desterro, 08 de maio de 1860.
230

2. O Cruzeiro (Jornal político, literario e noticioso), Ano I,


n9 14, Desterro, 19 de abril de 1860.

3. Jornal "0 Argos da Provincia de Santa Catharina", Desterro,


n9 847, edição de 28 de abril de 1861.
4. Jornal "0 Argos da Provincia de Santa Catharina", Desterro,
n9 677, edição de 23 de março de 1861.
5. 0 Mercantil, Jornal da Provincia de Santa Catharina, Ano II,
n9 121, março de 1862.
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BARRETO, Maria Teresinha S. Os Poloneses do Alto Vale do Rio
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A N E X O S
237

ANEXOS

ANEXO 1

1. Instrumento da Pesquisa .......................... 239

1.1. Ficha de Batismo ............................ 239

1.2. Ficha de Casamento ........................... 23 9


1.3. Ficha de Óbito .............................. 23 9

ANEXO 2

2.1. Exemplo de Registro de Batismo ........... . 240


2.2. Exemplo de Registro de Casamento ............ 24 0
2.3. Exemplo de Registro de Óbito .............. . . 240

ANEXO 3

FICHA PARA O ESTUDO DO MOVIMENTO SAZONAL ............ 241

ANEXO 4

BIOGRAFIAS ................. .........................242


4.1. Francisco Carlos de Araújo Brusque .......... 242

4.2. Carlos Othon Schlappal ...................... 243

ANEXO 5

AS INSTRUÇÕES ....................................... 245

ANEXO 6

MAPA DEMONSTRATIVO DAS DESPESAS COM AS COLÔNIAS ..... 249

ANEXO 7

7.1. Vigários de Paróquia de Angelina ............ 2.50

7.2. Capelas ..................................... 250


238

ANEXO 8

Tabela I - Movimento Anual de Batismos, Casamentos e

Óbitos da População de Angelina .......... 251

ANEXO 9
FÓRMULAS DOS CÁLCULOS ESTATÍSTICOS .................. 252

ANEXO 10
MAPA DO MOVIMENTO DA POPULAÇÃO - Importação e Exporta­

ção - 1862-1866 ........... .......................... 254

ANEXO 11

TABELA GERAL DE DADOS ............................... 255

ANEXO 12
LOCALIDADES DO MUNICÍPIO DE ANGELINA ......... ....... 256

ANEXO 13

MUNICÍPIOS DO ESTADO DE SANTA CATARINA __ ______ ____ 257


239

ANEXO 1

1 . Instrumentos da Pesquisa
1.1. Ficha de Batismo 1.3. Ficha de Óbito

Lugar ______________________ Lugar


Data _______________________ Data ______________
Data Ñas ___________________ Nome ______________
Nome _______________________ Idade _____________
Leg ______ Nat ____ Exp ____ Pai ____________ _
Pai ________________________ Mãe _______________
Origem _____________________ Cemitério _________
Mãe ________________________ Vigário ___________
A.P. _______________________
A.M. _______________________
Vigário ____________________

1.2. Ficha de Casamento

Lugar _________________
Data __________________
Nome Noivo _________ _
Origem
Pai ___________________
Mãe ___________________
Vo ____________________

Nome Noiva ____________


Origem ________________
Pai ___________________
Mãe __ _____________ ■
Va ____________________
TESTEMUNHAS
1
2
240

ANEXO 2

2.1. Exemplo de Registro de Batismo

"Aos 21 de novembro de mil novecentos e trinta, no Rancho


de Táboas, o Rev. Frei Germano José Ficher O.F.M. batizou sole­
nemente a Francisco, nascido a 12 de outubro de mil novecentos
e trinta, filho legítimo de Domingos Perard e de Rosalina Bach,
foram padrinhos Wendelino Bach e Regina Perard" .

2.2. Exemplo de Registro de Casamento

"Aos 28 de julho de mil novecentos e trinta e oito, na Ma­


triz em presença do Rev, Frei Fabiano Wahing O.F.M. e das tes­
temunhas Leopoldo Koerich e José Lino Kretzer, depois de compe­
tente encaminhadas e três vezes proclamados receberam-se em ma­
trimônio Pedro Nicolau Kretzer e Irma Rosa Lehnkuhl, elle filho
legítimo de Nicolau Kretzer e de Maria Bunn, nascido em Angeli­
na com 25 annos de idade; ella filha legítima de Augusto Antô­
nio Lehnkuhl e de Matilde Clausen, nascida em Santo Amaro, com
24 annos de idade, ambos fregueses desta Parochia.
E para constar, lavrei em duplicado o presente, que as-
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signo .
O Vigário: Frei Taciano Stenzel O.F.M.

2.3. Exemplo de Registro de Óbito

"Em os doze de janeiro de mil oitocentos e sessenta e dois


falleceo o inocente menino de Anacleto Francisco da Rosa e de
Augusta Firmina de Souza, nomeado : Joaquino, em idade de três
dias. 0 corpo foi sepultado no semitério da Igreja Matriz; de
3
que se constar fiz este termo" .
Freguesia de São Pedro de Alcântara
Pe. Roberto Bucher

‘'"Registro de Batismo. Livro 1927-1930, n9 177.


2
Registro de Casamento. Livro 1936-1955, n9 46.
"^Registro de Óbito. Livro 1850-1888, n9 1.
241

ANEXO 3
FICHA PARA O ESTUDO DO MOVIMENTO SAZONAL

Paróquia
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AON
OUT
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AGO
JUL

a
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MAIO
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TOTAL
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242

ANEXO 4

BIOGRAFIAS

4.1. Francisco Carlos de Araujo Busque: Nasceu em Porto


Alegre, a 24 de maio de 1822, filho do Coronel de Milicias,
Francisco Vicente Brusque e de D. Delfina Carlota de Araujo Ri-
béiro. Seus antepassados eram os Brucchi, de Florença, de ori­
gem nobre e se estabeleceram em Portugal no século XVIII. Seu
pai,.Francisco Vicente Bruschi, veio para o Brasil, em 1808,
com a Familia Real (onde passou a ser conhecido como Brusque).
Bacharelou-se, pela Faculdade de Direito de São Paulo, em
1845. Formado, regressou a sua Província, onde ingressou na vi­
da política. Pelo Rio Grande do Sul foi deputado provincial nos
anos de 1848, 1854 e 185 6. Também exerceu mandatos de deputado
ã Assembléia Geral, como representante de sua Província natal
e do Amazonas, em sucessivos mandatos até 1875.
Foi nomeado, pelo Imperador Pedro II, para governar a Pro­
víncia de Santa Catarina, em lugar do Dr. João José Coutinho,
onde assumiu o cargo no dia 21 de outubro de 1859, no qual per­
maneceu até 17 de abril de 18 61. Cabe, entretanto, ressaltar
que apesar de ter criado a Colônia Nacional Angelina, os 18 me­
ses da sua administração, em Santa Catarina, ficaram assinala­
dos pela ação em favor da colonização com imigrantes europeus.
E, a sua saída deve-se ao fato de que, em abril de 1860, o Go­
verno Imperial toma a iniciativa de exonerar todos os Presi­
dentes de Província que fossem deputados e senadores. Como, nes
sa época, Francisco Carlos Araujo Brusque, ocupava uma cadei­
ra no Parlamento começou a sofrer pressões. Mas, apesar do ato
Imperial, o Presidente não transmitiu o cargo ao Vice-presiden­
te, conforme deveria. Somente em abril de 1861, quando o Impe­
rador Pedro II ofereceu-lhe a presidência da Província do Pará,
é que decidira deixar Santa Catarina.
Desta forma, no dia 17 de abril passou o Governo ao Vice-
presidente João José de Andrade Pinto. Aos 22 dias do mesmo mês,
acompanhado da família, embarcou para Porto Alegre. No entanto,
apesar das implicações e de curto espaço de tempo que esteve á
frente da Província, Araujo Brusque, foi respeitado pelas cor­
rentes políticas da época. Teve como colaborador o irmão José
de Araujo Brusque, que foi chefe de Polícia. Em 1860, coube a
243

ele instalar, junto com a Colonia Nacional de Angelina, mais


dois núcleos de colonização: Teresõpolis e Itajaí, e, depois,
Brusque .
Na Presidencia da Província do Pará permaneceu até o ano
de 1864. Neste mesmo ano passou a fazer parte do Gabinete de
Zacarias de Góes, como Ministro da Marinha, em substituição a
João Pedro Dias Vieira. Acumulou esta pasta com o Ministério
da Guerra, cujo titular José Mariano de Matos adoecera. Sua
participação na vida política do Império, foi até o ano de 1875,
quando retirou-se do Parlamento, para dedicar-se à advocada.
Veio a falecer, na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, no
dia 23 de setembro de 188 6. Foi casado com D. Cecilia Amália de
Azevedo Brusque, com o qual teve 7 filhos. Confira PIAZZA, Wal­
ter F. Angelina: Um? Caso de Colonização Nacional, Florianópo­
lis, 1973, p.34-36.

4.2. Carlos Othon Schlappal: É búlgaro de nascimento,


educou-se em Viena (Áustria), passou pela Alemanha de onde veio
para o Brasil, junto com alguns sábios belgas com o objetivo de,
aqui, realizar expedições científicas. Em 1850 exerceu o magis­
tério no Desterro, onde casou-se a 08/06/1854. Como Professor
de primeiras letras foi a Joinville, com um vencimento de
400$000 réis, por ano, que mais tarde passou a ser de 600$000
réis, por exprimir-se em duas línguas. Ficou como professor de
primeiras letras, em Joinville, até 1856.
Primeiramente, foi encarregado da escolha do local a ser
fundada a Colônia, depois demarcou os lotes, em seguida,"Encar­
regado da Direção", e, por fim, Diretor efetivo, a partir de
11 de janeiro de 1865, com um vencimento anual de 1:200$000
réis. Permaneceu ã frente da direção até 3 de novembro de 1868.
Mais tarde, junto com Antônio Florencio do Lago levantou,
em 1873, um mapa topográfico da cidade do Desterro. Por ato de
515 1877 foi encarregado, pela Presidência da Província de San­
ta Catarina, junto com o engenheiro Carlos Moreira de Abreu, de
fazer os estudos de uma estrada de rodagem entre São José e
Lages. Ainda, por portaria de 13/08/1877, foi nomeado para ve­
rificar a medição dos lotes existentes no vale do Braço do Nor­
te e Capivari. Por fim, por ato de 05/07/1879, foi autorizado
pela Presidência da Província a fazer a reabertura da estrada
244

que segue para os Campos de Lages pela serra do Maruhy. Veio


a falecer a 22 de setembro de 1883. Confira: PIAZZA, Walter F.
Op. cit., p.56-57.
245

ANEXO 5

AS INSTRUÇÕES

"O Presidente da Província de conformidade com o Aviso do


Ministerio do Imperio de 30 de Novembro de 1859, tendo resol­
vido mandar criar nas terras devolutas situadas nas margens do
ribeirão dos Mundeos, e próximos à antiga estrada de Lages,
uma colonia composta de familias nacionaes, que se denominará
Angelina, encarrega o agrimensor Otto Schlappal da medição, de­
marcação e distribuição dos prazos coloniaes sobre as seguin­
tes instruções:
Art. 19
A colonia será composta de famílias nacionaes, que se pro-
pozerem a possuir terras com o fim de effectivãmente culti-
val-as, e n'ellas residirem com morada habitual.
Art. 29
Serão admitidos como colonos, os nacionaes que forem casa­
dos, ou viuvos com filhos, laboriosos, e de boa conducta civil
e moral, que não possuirem terras de cultura, nem os meios de
adquiril-as a dinheiro de contado.
Art. 39
A colónia deverá abranger uma área de nove milhões de bra­
ças quadradas, medidas em terras devolutas, de ambas as mar­
gens do ribeirão dos Mundeos e de um e outro lado da antiga es­
trada de Lages.
Art. 49
Os prazos coloniaes serão de 62,500 braças quadradas e de­
marcadas pela maneira seguinte:
19 - A linha de frente será traçada paralelamente ao rio
deixando-se de permeio o espaço suficiente para abertura de uma
estrada de 10 braças de largura e com o resguardo suficiente
contra as inundações do rio.
29 - Serão abertas as linhas laterais n'uma extensão so­
mente de 20 braças,indicando-se, porém, na planta, qual a ‘ sua
direção e extensão total que devem ter, até encontrar a linha
dos fundos, que será também indicada, ficando reservada a de­
marcação completa destas linhas para quando se tiver concluido
os trabalhos mais urgentes, que -são prescriptos e assim resol­
ver o presidente da província.
246

39 Os prazos coloniaes terão cem braças de frente e os


fundos correspondentes.
Art. 59
Em lugar proprio e com as condições necessárias de aguadas,
madeiras, e terreno suficiente, e o mais próximo que for pos­
sível ã estrada geral, se reservará o espaço suficiente para
uma povoação, cujos terrenos serão distribuidos por aforamento
de conformidade com o artigo 77 do regulamento de 3 de junho
de 1855.
Art. 69
Sobre estas bases se prosseguirá na demarcação do terreno
destinado â colonia, que se poderá estender até a margem direi­
ta do rio Garcia, designando-se desde logo numericamente os
prazos coloniaes que forem traçados em cada linha.
Art. 79
No terreno escolhido para sede da colonia se fará cons­
truir desde já um barracão de 7p palmos de comprimento sobre
24 de largura, o qual será destinado para pouso dos colonos
ã sua primeira chegada, e para depósito das bagagens enquanto
não aprontarem os seus alojamentos na respectiva colonia.
Art. 89
Em cada uma das margens do ribeirão dos Mundeos, e seguin­
do as linhas de demarcação das frentes dos prazos coloniaes,
se abrirá urna cada larga com trilho de 30 palmos, que servirá
de comunicação com a sede da colonia.
Art. 99
Os colonos serão empossados dos lotes de terras em vista
de um titulo provisorio, que será passado pela delegacia de
terras em virtude de despacho ou ordem do presidente da provín­
cia. N'este título se especificarão as condições seguintes:
§ 19 - A venda das terras a preço de 1/2 real ã braça qua­
drada , e o prazo de quatro anos.
§ 29 - Pagamento em prestações iguaes, a contar do fim do
segundo ano de estabelecimento do colono.
§ 39 - Hipoteca das terras e benfeitorias que n'ellas fo­
rem construidas, até colectivo embolso da Fazenda Nacional.
Art. 10
Os pagamentos vencidos serão feitos na Thesouraria Geral,
à vista de uma guia passada pela delegacia das terras, na qual
se fará menção do nome do colono, numero do prazo, e importan-
247

cia do pagamento a fazer.


Realizada a entrada da importância relativa ao pagamento
vencido, se dará ao colono um conhecimento em forma, o qual se­
rá presente ao delegado das terras, para n'ella a nota - "Vis­
to", e fazer-se os assentamentos necessários, de modo que com
facilidade se conhecer quanto tem pago, e quando resta pagar
cada colono.
Art. 11
Se findo os primeiros seis mezes, contados da data da en­
trega das terras, não tiver o colono dado principio à cultura,
e levantado sua casa, ainda que provisoria, julgar-se-ha ter
abandonado o seu prazo colonial, e poderá ser entregue a outro
que o requerer.
Assim também se antes de realizar o pagamento integral do
lote de terras, o abandonar completamente, perderá o colono to­
do o direito às terras e às benfeitorias que existirem, resti­
tuindo-se-lhes somente a parte do preço que tiver pago effecti-
vamente.
Exceptuão-se os casos de molestia e de força maior; tanto
nesta hypothese como na do parágrafo anterior.
Art. 12
Logo que o colono tiver realizado integralmente o pagamen­
to do prazo colonial, se lhe passará o título definitivo de
propriedade, e ficará levantada a hipoteca que se reserva à Fa­
zenda Pública, para segurança de seu embolso, sobre o referido
prazo e benfeitorias n'elle construidas.
Art. 13
Os colonos são obrigados a conservar as estradas e cami­
nhos nas testadas de suas terras, em estado de darem franco e
seguro transito.
Quando esses serviços forem gravosos a um só, serão fei­
tos em comum pelos moradores mais visinhos que residirem den­
tro de 1/4 de legoa, a contar do logar do serviço. Os que se
recusarem a este trabalho sem motivo justificado, ficão sujei­
tos âs penas do crime de desobediência.
A direção e administração da colonia, enquando não for de
outro modo determinado, será exercida pelo agrimensor de con­
formidade com as instruções, e ordens que receber do presidente
da província.
248

Incumbe à Direção:
19 - Receber os imigrantes, e dar-lhes agasalho no barra­
cão para esse fim detinado.
29 - Fazer a entrega dos lotes de terras, em vista dos tí­
tulos provisórios, que apresentarem os colonos, devendo lavrar
em livro próprio, um termo que comprove esse acto, e fazer a
competente nota no referido título.
39 - Organizar a estatística da Colonia, quer em relação ao
movimento da população, quer a respeito da cultura, sua produ­
ção, indústria e artes.
49 - Velar na conservação dos caminhos, e estradas da co­
lonia, e dirigir os trabalhos que devem fazer os colonos, nas
testadas de suas terras, em conformidade do artigo 13.
59 - Aconselhar os colonos em seus trabalhos, a introdução
de melhoramentos na cultura que praticarem, ensinando-lhes a
maneira de obter o maior proveito possível de suas terras.
69 - Dar parte â autoridade policial que estiver mais pró­
xima dos factos criminosos, que ocorrerem no distrito da Colo­
nia, fornecendo-lhes todos os esclarecimentos e informações que
se possa conseguir.
79 - Visitar os estabelecimentos coloniais amiudadas ve­
zes, procurando informar-se do estado do colono, seus serviços
de lavoura, e dificuldades que tenhão encontrado, afim de dar
conta de tudo ao presidente da província.
89 - Enviar no princípio de cada mez um relatório sucin­
to, descrevendo o estado dos diversos serviços em andamento
na colonia, a despeza com ella feita por conta dos cofres pú­
blicos, e o mais que fõr necessário para conhecer-se o Pr°-
gresso que tiverão e os embaraços que convenha remover-se a
bem dos interesses coloniaes.
Art. 15
As despesas com a fundação desta colonia, demarcação de
prazos, abertura de caminhos e estabelecimentos de colonos, cor
resão de conta do cofre provincial, e serão pagos na Directo­
ría Geral da Fazenda segundo as ordens que lhe forem expedidas.
(ass.) Francisco Carlos de Araujo Brusque
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250

ANEXO 7

7.1 . Vigários da Paróquia de Angelina

19 - 1921 - 1929 Frei Gervásio Kraemer OFM


29 - 1929 - 1938 Frei Lucas Welling OFM
39 - 1938 - 1941 Frei Taciano Stenzel OFM
49 - 1941 - 1942 Frei Corbiniano Koesler OFM
59 - 1942 - 1945 Frei Adriano Koener OFM
69 - 1945 - 1951 Frei João Vianney Erdrich OFM
79 - 1951 - 1952 Frei Roberto Elbert OFM
89 - 1952 - 1959 Frei Flaviano Normann OFM
99 - 1959 - 1962 Frei Edmundo Piechoczeck OFM
109 - 1962 Frei Canisio Eberhardt OFM
119 - 1962 Frei Luciano Wagner OFM
129 - 1962 - 1967 Frei Columbano Gilberto OFM
139 - 1.968 - Frei Honorato Bruegmann OFM

7 .2. Capelas

1 - Senhor Bom Jesus - Morro Mineiro


2 - N. S. das Dores - Garcia
3 - São Sebastião - Betânia
4 - Santo Antônio - Rio Engano
5 - Santa Ana — Rio Fortuna
6 - São José - Barra Clara
7 - Santa Cruz - Rio São João
8 - São Francisco de Assis - Rio Novo
9 - São João Batista - III Linha
10 - Sagrado Coração de Jesus - Fartura
11 - São Pedro - Rancho de Tábuas
12 - Imaculado Coração de Maria - Rancho Queimado
13 - N. S. Aparecida - Rio Bonito
14 - S. Bonifácio - Taquaras
15 - N. S. Fátima - Invernadinha
16 - N. S. dos Anjos - Mato Francês

N.B. Abrange os territórios do Municipio de Angelina e Rancho


Queimado.
251

ANEXO 8

TABELA 1 - Movimento anual de batismos, casamentos e óbitos da


população de Angelina

ANOS BAT. CAS. ÕBIT. ANOS BAT. CAS. ÕBIT. ANOS BAT. CAS.

1860 — - 1900 67 18 4 1930 206


1861 10 2* 2* 1901 79 16 1 1931 237
1862 9 4* 2 1902 69 10 1 1932 249
1863 9 6* 3 1903 83 16 5 1933 216
1864 13 8* 3 1904 35 22 14 1934 195
1865 18 10* 8 1905 18 3 1935 245 50
1866 19 11 9 1906 14 2 1936 215 59
1867 42 8 . 12 1907 24 1 1937 228 53
1868 30* 10* 12* 1908 9 2 1938 215 61
1869 31 10 13 1909 10 1939 243 45
1870 33 14 6 1910 21 1940 222 38
1871 21 14 7 1911 14 15* 1941 244 47
1872 26 5 6 1912 14 13* 1942 230 62
1873 27* 13* 11* 1913 17 3 1943 231 44
1874 28 27 15 1914 20 13 1944 250 44
1875 74 15 24 1915 11 6 1945 250 46
1876' 53 6 15 1916 5 1946 279 56
1877 63 3 10 1917 5 1947 264 56
1878 61* 14* 12* 1918 18 1948 306 58
1879 61* 15* 13* 1919 4 1949 278 48
1920 1 1950 312 47
1890 9 1 8 1921 5
1891 31 6 1 1922 11
1892 56 8 2* ’ 1923 3
1893 53 5 4* 1924 1
1894 56 7 6* 1925 225*
1895 68 4 4 1926 230
1896 52 2 5 1927 212
1897 70 4 7 1928 251.
1898 51 6 11 ‘ 1929 237
1899 52 30 12

*Valor encontrado por uma estimativa através de cálculo.

FONTE: Livros de registro dos batizados, casamentos e óbitos que se encon­


tram no Arquivo Histórico-Eclesiástioo da Cúria Metropolitana da Ar­
quidiocese de Florianópolis. ---
252

ANEXO 9

FÓRMULAS DOS CÁLCULOS ESTATÍSTICOS

1. Fórmula do cálculo da taxa de crescimento:

P1 , , , log. PI - log Po
r = Po “ loçr- (ltr) = (T-X - TX ) ---

onde: Px = população no ano lx


Po = população no ano To
(l+r) = razão anual de crescimento
r = taxa anual de crescimento geométrico

2. Fórmula da Razão de Masculinidade: divide—se. o número de ho­


mens pelo de mulheres e multiplica-se por 100.

R = -S-
M X 100

Taxa de ma-culinidade: divide-se o número de homens pelo total


de homens e mulheres e multiplica-se por 100: TM = — x 100.

3. Fórmula da Razão de Dependencia: soma-se o número de pessoas


com idade inferior a 15 anos com o número de pessoas com 65
ou mais anos; divide-se pelo total de pessoas de 15 a 64
anos de idade, multiplicando-se o resultado por ano.

_ ~ , „ n9 pessoa + 15 anos + n? pessoas 65 anos ou mais anos n


Razao de Dependencia = - ^ de pess0as df 15 a 64 ares de idade---- x 1

4. Fórmula dos cálculos de Porcentagem: constituim-se numa re­


gra de tris simples.

x X x 100
Total

Fórmula para o cálculo de movimento sazonal: Constitui-se


de três operações básicas que determinam os: números abso­
lutos, diários e proporcionais:
a) Números absolutos: é a somatória mês a-mês e por ano dos
valores obtidos;
b) Números diários: Consiste em dividir os números absolu­
tos pelo divisor correspondente aos dias de cada mês;
253

c) Números proporcionais: multiplica-se os números diários


por 1.200 e divide-se pelo total dos números diários:

n9 diários x 1.200
Ex. : Total dos n9 diarios

Fórmulas para os cálculos das Taxas Brutas de Natalidade,Nu ]d


cialidade e Mortalidade: Têm-se que obter os valores médios
dos eventos vitais e da população, aos quais se aplicam as
fórmulas.
a) TBN = nÇ de nascimento no feríodo ----
populaçao total para o meio do período
,. _ Número de casamentos____________ . nnf)
‘ população total para o meio do período x

O) TBM = te óbitos----- 1000


' população total para o meio do período
254

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256
ANEXO 12
3. LOCALIDADES DO MUNICÍPIO DE ANGELINA

SÃO JOSÉ

LEOBERTO LEAL

Fonte: Documento da Prefeitura Municipal de Angelina.


257
ANEXO 13
MUNICÍPIOS DO ESTADO DE. SANTA CATARINA
___________ :__________________s_______________

VNI1N33UV

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