Aula 3 Preferências Função Utilidade

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Notas de Aula 3.

Preferências
Microeconomia

Anderson M. Teixeira

Economia

Março, 2018

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 1 / 26


Introdução

Anteriormente, estudamos o problema da escassez que um


consumidor enfrenta. Agora vamos estudar o objetivo do consumidor.
A maximização desse objetivo, sujeita à restrição orçamentária do
consumidor é conhecida como o problema (primal) do consumidor.
Para isso vamos denotar por X (contido em Rni ) o conjunto que
representa as cestas de bens disponı́veis para o consumidor.
Um elemento do conjunto X é denotado pelo vetor x = (x1 , x2 , ...xn )
onde xi é a quantidade do bem i na cesta x.
O conjunto de escolha do consumidor pode ser bem geral, e incluir
quantidades de bens impossı́veis de serem fabricadas e consumidadas.
Esse conjunto enumera apenas possibilidades que o consumidor
gostaria de consumir e não o que é realmente possı́vel de ser
consumido ( esse é o papel da restrição orçamentária).

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Relações

Agora vamos supor que cada consumidor/agente é capaz de ordenar


as várias cestas de consumo disponı́veis em ordem de preferências
Para quaisquer duas cestas x e y diferentes, o consumidor é
capaz de comparar essas cestas ou x é melhor que y ou y é
melhor que x
Chamamos essa relação de ”Preferência” e a representamos por  .
Escrever x  y significa: ”a cesta x é preferı́vel à cesta y”.
Podemos definir duas outras relações a partir da relação de
preferência <.

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Relações

Preferência estrita : x  y significa x  y e que não vale y  x


Indiferença :x ∼ y significa x  y e y  x

Logo, x  y significa que a cesta x e tão boa quanto a cesta y.


Já x  y significa que a cesta x é estritamente melhor do que a cesta
y.
E x ∼ y que as cestas x e y são indiferentes.

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Axiomas
Completeza : Para quaisquer cestas x e y em X, ou x  y ou y  x ou
ambos.
Reflexidade :Para qualquer cesta x em X, x  y
Transitividade :Para quaisquer cestas x, y e z, em X se x  y e y  z,
então x  z
O axioma da Completeza diz que o consumidor conhece todas as
cestas de bens disponı́veis e é sempre capaz de compará-las. Logo se
oferemos duas cestas de bens para um consumidor ele é sempre capaz
de dizer qual cesta prefere.
O axioma de Reflexidade é trivial e é condição matemática para
derivar uma função utilidade a partir das preferências. A cesta é tão
boa quanto ela mesmo. (Existam alguns experimentos que mostram
que uma cesta de bens pode não ser preferı́vel a essa mesma cesta
”empacotada” ou descrita de modo diferente).
O axioma de Transitividade é o mais elaborado e merece um
destaque.
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 5 / 26
O axioma da Transitividade

Apesar de intuitivo , ele é uma imposição forte sobre o


comportamento do consumidor. O axioma da transitividade é crucial
para a teoria do consumidor: sem ele, em geral, não é possı́vel dizer
qual é a cesta preferida pelo consumidor.
O melhor argumento em defesa da ”transitividade” das preferências é
de ordem normativa.
Preferências não-transitivas resultam na possibilidade de um ”dutch
book”: uma sequência de trocas que levam o consumidor a perder
tudo ou todo o seu dinheiro.
Quando uma relação binária x  y satisfaz Completeza/Completude
e Transitividade, nós dizemos que x  y é uma relação de preferência.
Note que uma relação binária completa sempre satisfaz Reflexidade.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 6 / 26


Outros axiomas muito usados

Monotonicidade : Se X > y (isto é, cada coordenada do vetor x que


representa a quantidade de um bem, é maior ou igual do que
a respectiva coordenada do vetor y), então x  y .
Convexidade : Se x e y são duas cestas tais que x ∼ y então
λx + (1 − λ)y  x, para todo λ ∈ [0, 1]
Convexidade estrita : Se x e y são duas cestas de bens tais que x ∼ y
então: λx + (1 − λ)y  x para todo λ ∈ [0, 1]
Continuidade : Os conjuntos x ∈ X , x  y e x ∈ X , y  x são fechados
para todo y ∈ X

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 7 / 26


O que significa esses axiomas?

O axioma da monotonicidade diz que mais é melhor.


O axioma da convexidade diz que as médias são melhores que os
extremos. Ou seja, uma combinação de duas cestas indiferentes entre
si é sempre tão boa quanto qualquer uma das cestas que forma a
combinação.
O axioma da convexidade estrita diz que a cesta média é
estritamente melhor do que as cestas que as formam.
O axioma da continuidade é mais técnico, mas vamos precisar na
próxima seção.

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Algumas observações adicionais dos axiomas

Cada axioma tem um significado e supõe algo sobre o comportamento


do consumidor.
Por exemplo o axioma de monotonicidade diz que o consumidor
prefere mais do que menos. Axiomas sobre preferências são portanto,
hipóteses sobre o comportamento do consumidor. Essas hipóteses
podem ser testadas natural ou experimentalmente.
Novamente, axiomas são ”hipóteses” em relação ao consumidor sem
levar em conta a realidade do que ele deseja. O consumidor pode
preferir um ”carro importado” a um ”carro nacional”, mas por não
ter dinheiro suficiente, tem que optar pelo nacional.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 9 / 26


Utilidades

Preferências são o objeto primitivo que caracteriza um consumidor.


Porém, do ponto de vista prático, preferências nem sempre são fáceis
de se manusear e de se obter inferências econômicas.
Agora, Funções Utilidades são objetos mais maleáveis e permitem
tirar conclusões que não seriam tão facilmente obtidas usando-se
Preferências diretas.

Definição: Função Utilidade


Uma função utilidade assinala para cada cesta em X um valor u(x) ∈ R.
Uma função utilidade nada mais é do que uma representação númerica das
cestas disponı́veis para o consumidor. Se para as cestas x e y temos que
u(x) > u(y ), então dizemos que a cesta x provê mais utilidade
(satisfação/bem-estar) para o consumidor.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 10 / 26


Teoria Cardinal e Ordinal: Função de Utilidade
Cobb-Douglas

Essa função é uma das mais utilizadas em economia.


Para o caso de dois bens é representada por u(x1 , x2 ) = X1α X21−α
onde α(0, 1)
Originalmente utilidade era um conceito cardinal. Por exemplo se
u(x) = 2u(y), então se dizia que a cesta x era duas vezes mais útil do
que a cesta y.
A grandeza do valor da utilidade tinha um significado preciso, e
suponha-se que se podia medir utilidade de cada pessoas em unidades
chamadas ”utis” e isso erá passı́vel de comparação

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 11 / 26


Teoria Cardinal e Ordinal: Função de Utilidade
Cobb-Douglas
Todavia, o conceito de utilidade cardinal sofre muitas crı́ticas.
O que significa dizer que uma cesta possui o dobro de utilidade da
outra?
Ex. Seria o o caso que o consumidor está disposto a pagar o dobro do
preço por ela?
Ou o ele estaria disposto a trabalhar o dobro de tempo para obtê-la,
por meio de um segundo emprego que não paga o mesmo que o
emprego original?.
Felizmente, a hipótese de ”cardinalidade” não é necessária na teoria
do consumidor.
A derivação dessa teoria utiliza a hipótese mais fraca de Ordinalidade,
de que o consumidor consegue ordenar as cestas de bens em termos
de preferência (não precisa saber o quanto a mais ele gosta de uma
cesta em relação a outra).
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 12 / 26
Teoria Cardinal e Ordinal

O conteúdo econômico de uma utilidade não está nela em si, mas sim
nas preferências que ela representa.

Definição
A função utilidade u representa o sistema de preferências  se para todo
x, y, tais que x  y então u(x) > u(y ). Nem todo o sistema de
preferências pode ser representado por uma função de utilidade. Exemplo
clássico é as Preferências Lexicográficas. Vamos detalhar posteriormente
esse tipo de função de utilidade.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 13 / 26


Teorema de Representação
Teorema de Representação
Se o sistema de preferências satisfaz os axiomas de ”Completeza”,
”Reflexidade”, ”Transitividade” e ”Continuidade”, então existe uma
função de utilidade u que representa esse sistema. Mais ainda, qualquer
transformação monotônica positiva dessa função de utilidade também
representa o mesmo sistema de preferências.

O teorema da representação deixa claro que não exigimos que o


consumidor compute um número para cada cesta de bens que
oferemos para ele, mas apenas que ele ordene as várias cestas de bens
de modo que satisfaça os axiomas necessários para que o teorema seja
válido.
Se ele é capaz de fazer essa ordenação que satisfaça os aixomas
enunciados no teorema, podemos então achar uma função de
utilidade que represente o sistema de preferências no sentido da
definição acima.
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 14 / 26
Teorema de Representação
O importante em uma função utilidade é o modo que ela
”ordena” as cestas de bens, e não o número especı́fico
associado a cada cesta.
Como o que importa é a ordenação dos bens, se uma utilidade
representa essas preferências, qualquer ”transformação monotônica
positiva dessa utilidade representará essas preferências.
suponha que u representa , ou seja:
x  y ⇔ u(x) > u(y ).
Se f é uma função crescente em todo o seu domı́nio (ou seja, uma
transformação monôtonica), então para todo a > b, temos que
f (a) > f (b). E portanto temos que:
   
x  y ⇔ u(x) > u(y ) ⇔ f u(x) > f u(y )
 
Logo, v (.) = u(.) também representa o mesmo sistema de
preferências que u representa.
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 15 / 26
Curvas de Indiferença

Uma curva de indiferença representa um conjunto de cestas


indiferentes entre si. Então, uma curva de indiferença contém todas
as combinações de cestas que dão ao mesmo nı́vel de satisfação ao
consumidor.
Em termos de preferências, podemos representar a curva de
indiferença de um bem x qualquer como:
I (x) = y ∈ X : y ∼ x
Se usarmos uma função de utilidade, curvas de indiferença são
definidas pelos conjuntos:
Escrever a função

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 16 / 26


Preferências bem-comportadas

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 17 / 26


Preferências bem-comportadas: propriedades ou axiomas
satisfeitos

Que propriedades ou axiomas as preferências que geram as curvas de


indiferença acima satisfazem?
Elas são ”completas, reflexivas e transitivas”.
Elas são monótonas (mais é melhor) e estritamente convexas
(qualquer combinação convexa entre duas cestas indiferentes é
estritamente melhor do que essas duas cestas (preferência pela
diversificação).
OBS - é o axioma da monotonicidade que faz com que a curva de
indiferença tenha inclinação negativa.
OBS - O axioma da convexidade estrita faz com as curvas de
indiferença sejam convexas em relação à origem.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 18 / 26


Preferências bem-comportadas

Observe que duas curvas de indiferença não podem se cruzar (essa


afirmação é consequência do axioma de transitividade das
preferências.
Observe que curvas de indiferença distintas representam nı́veis de
satisfação diferentes, se elas se cruzarem as cestas nessas curvas
seriam indiferentes entre si. Logo não seriam duas curvas de
indiferença distintas
No caso de preferências ”bom comportadas”, a reta orçamentária é
tangente a apenas uma curva de indiferença, em um único ponto.
Como veremos no próximo capı́tulo a função demanda é bem definida,
contı́nua nos preços e na renda e logo possui derivadas diferentes de
zero nos preços. O método de lagrange pode ser usado para resolver
o problema do consumidor e achar suas demandas por cada bem.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 19 / 26


Exceção: Preferências Lexicográficas
Uma relação de preferência bastante conhecida em microeconomia é a
preferências lexicográfica.
Suponha que X = R2 . Ou seja, os elementos X são vetores da forma
(x 1 , x 2 ), em que x 1 e x 2 são números reais. A relação lexicográfica
tem a seguinte definição:
Para quaisquer dois elementos (x 1 , x 2 ) e (y 1 , y 2 ) em X, (x 1 , x 2 )
x lex y se, e somente se, x 1 > y 1 , ou x 1 = y 1 e x 2 > y 2
Ou seja: Um agente com preferências lexicográficas, ao comparar
duas alternativas, primeiro olha para a primeira coordenada e vê se
alguma alternativa é estritamente melhor que a outra em relação a
esta coordenada. Se isto ocorre, o agente simplesmente escolhe a
alternativa que é melhor na primeira coordenada. Quando ocorre um
empate na primeira coordenada, o agente usa a segunda coordenada
como critério de desempate. E.g:
(2, 1) lex (1, 100) e (1, 100) lex (1, 50)

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 20 / 26


Exceção: Preferências Lexicográficas

A Preferência lexicográfica é reflexiva, completa e transitiva.


Ou seja é realmente uma preferência, entretanto ela não é contı́nua e
logo não é bem-commportada e não é uma função de utilidade.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 21 / 26


Taxa Marginal de Substituição

Seja X := R2+ e considere um agente com a função de utilidade


u : X −→ R. Suponha que o agente esteja de posse da cesta de
consumo (x ∗ , y ∗ ), o que lhe dá uma utilidade de u(x ∗ , y ∗ ).
Nós podemos perguntar, quantas unidades do bem y vale uma
unidade do bem x para o agente? Em outras palavras, se nós
retirarmos uma unidade de bem x do agente, quantas unidades do
bem y nos temos que lhe dar em trocar para que sua utilidade
permaneça a mesma?
Analogamente, supnha que o agente perca (ganhe) ∆x unidades do
bem x. Qual a quantidade ∆y do bem y que ele tem que ganhar
(perder) para que a sua utilidade fique aproximadamente constante?

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 22 / 26


Taxa Marginal de Substituição
Taxa Marginal de Substituição
A taxa marginal de Substituição (TMS) é a inclinação da vurva de
indifernça. Ela mede a taxa pela qual o consumidor está disposto a trocar
um bem pelo outro. Então, a TMS do bem x pelo bem y é o valor que o
consumidor atribui ao bem x em termos do bem y.

O postulado da ”substituição” diz que o consumidor está sempre


disposto a trocar um tanto de um bem por um tanto de outro bem,
de modo a manter o mesmo nı́vel de satisfação.
Esse postulado exclui preferências lexicográficas.
Se as preferências são monótonas, as curvas de indiferença são
negativamente inclinadas. Nesse caso a TMS é um número negativo.
Se o consumidor abre mão de um pouco de um bem, ele precisa
receber um pouco do outro bem para manter-se na mesma curva de
indiferença (lembre-se o axioma da Monotonicidade diz que mais é
melhor).
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 23 / 26
Taxa Marginal de Substituição

O consumidor ao abrir mão de um tanto de um bem, só continuará


com o mesmo nı́vel de satisfação que ele tinha antes se receber um
tanto do outro bem que compense essa perda.
Graficamente:
Matematicamente:

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 24 / 26


Taxa Marginal de Substituição

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 25 / 26


TMS de algumas funções de Utilidade

Utilidade Cobb-Douglas
Utilidade Linear ou Substitutos Perfeitos
Utilidade com um Bem Neutro
Utilidade de Leontieff ou Complementar
Para mais detalhe Lê o Varian Capı́tulos 3 Preferências e 4 - Utilidade

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 3. Preferências Março, 2018 26 / 26

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