OCuidadodePessoascomHIV Ebook
OCuidadodePessoascomHIV Ebook
OCuidadodePessoascomHIV Ebook
pessoas com
HIV/aids na
Atenção Básica
Organizadoras
ISBN 978-85-7064-065-9
CDU 616.98:578.828
C966
UNIDADE
Contextualização
1
epidemiológica
e enfrentamento
da aids
Desejamos que você aproveite bem toda programação que foi elaborada
com muito carinho e dedicação pela equipe que pensou em cada um de
vocês que trabalha na Atenção Básica nos diversos recantos deste país.
Bons estudos!
4
AULA 1 - A SITUAÇÃO
EPIDEMIOLÓGICA DA AIDS
NO CONTEXTO ATUAL
O HIV E A AIDS
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids), bem como o Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV), são conhecidos em outros países de
língua portuguesa e espanhola como SIDA e VIH, respectivamente, utili-
zando como referência as palavras em sua língua nativa.
HIV = VIH
AIDS = SIDA
A aids é uma doença identificada no final do século XX, mais especifica-
mente no início da década de 1980, e tem apresentado diferentes desafios
desde a sua descoberta. No início do século XXI, ela continua desafiadora
e nos instigando a buscar novas formas de olhar para a saúde das pessoas
e para as relações que a sociedade estabelece com o HIV/aids.
5
Estágio da Doença Características
Linha do Tempo 1
6
As conquistas alcançadas historicamente no enfrentamento da epidemia
serão sempre ameaçadas por forças políticas com outros valores. A per-
sistência de uma boa análise social e humanista, uma resposta baseada
em direitos humanos e com a garantia da participação dos movimentos
sociais dispostos a lutar para proteger tais conquistas são o que pode
assegurar continuidade e sustentabilidade ampliada da resposta ao
HIV/aids no Brasil e no mundo.
<http://educacao.uol.com.br/biografias/henfil.htm>.
Acesso em: 13 dez. 2017.
7
A AIDS AINDA NÃO TEM CURA, MAS...
Ainda não alcançamos a cura efetiva da aids, mas cientistas de diversos
países estão trabalhando intensamente em busca de resultados. Diante
da impossibilidade atual de cura, é importante ressaltar que a pessoa
que vive com o HIV pode ter o vírus controlado e não progredir para o
estágio da doença aids, desde que esteja em tratamento, com cuidados
apropriados e carga viral suprimida. Quanto aos serviços, estes devem
oferecer testagem e diagnóstico, para que as pessoas com resultado
reagente possam entrar em tratamento o mais cedo possível.
Fonte: <https://www.youtube.com/
watch?v=DR7940CeQ2Q&feature=player_embedded>.
Acesso em: 13 dez. 2017.
Você já deve ter percebido que muitas coisas mudaram desde os anos
1980, em especial a partir de 1987, com a introdução do primeiro antirre-
troviral - o AZT (Zidovudina ou Azidotimidina). Desde então, o tratamen-
to para o HIV se ampliou em termos de acesso e de opções de fármacos,
o que tem repercutido positivamente na efetividade do tratamento e
resultado no aumento da expectativa e qualidade de vida das pessoas
vivendo com HIV/aids (PVHA).
8
de diferentes métodos como, por exemplo, o Teste Rápido com uso da
gota de sangue obtida por meio da punção digital e do fluido oral, obtido
pressionando a gengiva, por meio de um coletor.
9
O Ministério da Saúde do Brasil capacitou organizações não governa-
mentais para a aplicação do teste rápido por meio do fluido oral em
populações-chave, uma proposta arrojada de expansão do diagnóstico.
10
Figura 3 - Indicações para testagem para HIV.
11
CATEGORIA DEFINIÇÃO EXEMPLOS DE AÇÕES
12
No Brasil e no mundo, há uma imensa expectativa e aposta nas cha-
madas “novas tecnologias de prevenção” ou “tecnologias biomédicas”
de prevenção (DOURADO, 2015). Na Unidade 3, faremos uma discussão
ampliada sobre prevenção combinada.
Você deve já ter concluído, a partir da leitura feita até aqui, que, para
alcançarmos o fim de novas infecções pelo HIV e mortes relacionadas à
aids, faz-se necessário compreender que, atualmente, no Brasil, as estra-
tégias de prevenção são compostas pelo acesso regular e universal aos
insumos de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento para todos.
Estes componentes trazem benefícios para todas as pessoas e têm por
base a garantia dos direitos humanos. Para as PVHA, tais estratégias con-
tribuem para uma melhor qualidade de vida, a partir de benefícios indi-
viduais obtidos pelo tratamento adequado, que reduz as coinfecções,
outras comorbidades e mortalidade.
POPULAÇÕES-CHAVE
E POPULAÇÕES PRIORITÁRIAS
13
Figura 4 - Populações-chave.
14
AULA 2 - POLÍTICA DE
ENFRENTAMENTO DA
EPIDEMIA DA AIDS NO
MUNDO E NO BRASIL
A infecção pelo HIV constitui-se em uma pandemia, ou seja, está pre-
sente em todas as regiões do planeta e a Organização das Nações Uni-
das está intensamente mobilizada para seu enfrentamento. O Sistema
das Nações Unidas é composto por organismos que atuam interna-
cionalmente pelo bem-estar e segurança das populações e congrega
193 países que compartilham informações, políticas e estratégias para
enfrentar problemas que atingem todo o planeta. As instituições do
Sistema que estão mais diretamente à frente da resposta à epidemia
de HIV e aids no mundo são o Programa Conjunto das Nações Unidas
sobre HIV/aids (UNAIDS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
15
Figura 5 - O combate a aids como um dos Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
Fonte: <http://www.odmbrasil.gov.br/os-objetivos-de-desenvolvimento-do-milenio>
Acesso em: 15 jan. 2018.
• Até 2020, 90% de todas as • Até 2020, 90% de • Até 2020, 90% de
pessoas vivendo com HIV todas as pessoas com todas as pessoas
saberão que têm o vírus. infecção pelo HIV diag- recebendo terapia
nosticada receberão antirretroviral terão
terapia antirretroviral supressão viral.
ininterruptamente.
Fonte: <https://unaids.org.br/wp-content/uploads/2015/11/2015_11_20_UNAIDS_
TRATAMENTO_META_PT_v4_GB.pdf> Acesso em: 15 de jan. 2018.
16
As ações para alcançar estas metas devem estar imbricadas pelo tema
Zero Discriminação, também preconizado pelo UNAIDS.
17
DADOS DE INFECÇÃO POR HIV
A notificação de casos de infecção por HIV (casos não aids) passou a ser
obrigatória a partir de 2007. Antes disso, a obrigatoriedade da notifica-
ção era restrita a casos de infecção em gestantes, crianças e para todos
os casos de aids.
18
Figura 7 - Taxa de detecção de aids (/100.000 mil habitantes) segundo região
de residência por ano de diagnóstico. Brasil, 2006 a 2015.
20
A transmissão sexual é o principal modo de disseminação do vírus entre
indivíduos com 13 anos ou mais de idade. Entre os homens, observou-se
um predomínio da categoria de exposição heterossexual. No entanto,
há uma tendência de aumento na proporção de casos em homens que
fazem sexo com homens (HSH) nos últimos dez anos, a qual passou de
35,3% em 2006 para 45,4% em 2015. A proporção de usuários de drogas
injetáveis (UDI) vem diminuindo ao longo dos anos em todo o Brasil.
22
POLÍTICA BRASILEIRA
DE ENFRENTAMENTO DO HIV – AIDS
PRIMEIRA FASE
Olhar restrito ao infectado, impedindo a adoção de ações mais amplas
no campo da saúde, caracterizada por transmissão, principalmente em
homens que fazem sexo com homens, e por um nível de escolaridade
alto, perpassando um conceito de “grupo de risco”.
SEGUNDA FASE
Olhar se amplia sobre a exposição ao vírus, caracterizada pelo incremen-
to da transmissão em usuários de drogas injetáveis e por uma maior
disseminação entre as pessoas que têm prática heterossexual, perpas-
sando um conceito de “comportamento de risco”.
23
TERCEIRA FASE
Caracteriza a suscetibilidade das pessoas ao vírus, quando se acen-
tua uma maior disseminação entre os heterossexuais, principalmente
mulheres, um aumento percentual entre as pessoas de baixa escolarida-
de e a interiorização para municípios de médio e pequeno porte, exigin-
do aqui a adoção do conceito de “vulnerabilidade”.
QUARTA FASE
Reemergência da aids concentrada em populações-chave.
24
• ao contexto do indivíduo (produtor de maior ou menor susceptibilidade à
infecção e ao adoecimento);
25
As diretrizes e ações da Política se organizavam em três componentes
articulados entre si:
27
Conquistas e desafios no enfrentamento da epidemia de
HIV/aids no Brasil
Agora, como síntese de tudo o que vimos até aqui, convidamos você
a percorrer esses mais de 30 anos de epidemia assistindo ao vídeo
A história ilustrada da aids, fazendo uma reflexão sobre as conquistas
alcançadas até o momento e pensando em todo o caminho que temos
pela frente...
<https://www.youtube.com/watch?v=ShaCZ9b1MKs>
28
AULA 3 - A DESCENTRALIZAÇÃO
DA ATENÇÃO AO HIV E À AIDS:
O CUIDADO NA ATENÇÃO
BÁSICA
Como pudemos constatar, a Política de enfrentamento do HIV e aids vem
agregando e substituindo estratégias para dar conta dos diferentes per-
fis da epidemia ao longo dessas três décadas, alinhando-se com os prin-
cípios e diretrizes do SUS, suas estratégias e lógicas de financiamento.
29
O eixo de reorientação desse modelo é o conceito do cuidado, respon-
dendo a uma concepção de saúde centrada não somente na assistência
aos doentes, mas, sobretudo, na promoção da qualidade de vida e inter-
venção nos fatores que a colocam em risco, pela incorporação das ações
programáticas de uma forma mais abrangente e do desenvolvimento de
ações intersetoriais.
2. Qualificar os profissionais.
Vários métodos podem ser utilizados para a qualificação dos
profissionais da Atenção Básica no manejo da infecção pelo HIV.
30
5. Viabilizar o acesso aos antirretrovirais – ARV.
Para viabilizar o acesso aos antirretrovirais a pacientes que
estão em seguimento na Atenção Básica, pode-se a) utilizar
Unidades Dispensadoras de Medicamentos (UDM) já existentes
(nesse caso, é necessário que os formulários de dispensa-
ção de medicamentos estejam disponíveis nas unidades da
Atenção Básica e que os pacientes sejam encaminhados para
uma determinada UDM);
e b) Criar novas Unidades de Dispensação de Medicamentos
(UDM) nos serviços da Atenção Básica (nesse caso, cabe ao
gestor local estruturar a nova UDM de acordo com a Portaria
Conjunta nº 1, de 16 de janeiro de 2013; cadastrar a nova UDM
no SICLOM - responsabilidade do gestor estadual; estabelecer
fluxos de distribuição dos ARV para as novas UDM; disponi-
bilizar os formulários de dispensação de medicamentos nas
unidades da Atenção Básica).
A cartilha Cuidado integral às pessoas que vivem com HIV pela Atenção
Básica – Manual para a equipe multiprofissional traz recomendações sim-
ples, passíveis de serem prontamente aplicadas por profissionais das
equipes multiprofissionais da Atenção Básica no cuidado integral às
PVHA, tanto as que estão sendo acompanhadas nos SAE como as que
estão em seguimento na Atenção Básica. Essa cartilha é lançada com
vistas a fortalecer e estimular a inclusão da Atenção Básica no cuidado
compartilhado do HIV/aids com os serviços especializados, fortalecendo
vínculo das PVHA com o sistema de saúde (BRASIL, 2015b).
O Kit é composto por seis fascículos que articulam informações sobre diver-
sos aspectos da atenção ao HIV e à aids. Essa coletânea foi elaborada para
subsidiar ações de gestores e trabalhadores da saúde na perspectiva de
consolidar o cuidado do HIV/aids na Atenção Básica de forma comparti-
lhada com os demais pontos de atenção da Rede de Saúde, fornecendo
orientações gerais e técnicas, na forma de “5 passos” para: 1 e 2) elabora-
ção e implementação da linha de cuidado para as pessoas vivendo com
31
HIV/aids (PVHA) para profissionais de saúde e grupos locais; 3) prevenção
combinada do HIV/aids; 4) ações de vigilância e informações epidemiológi-
cas; 5) elaboração de planos de educação permanente; 6) monitoramento
e avaliação das ações. A Educação Permanente em Saúde é o fio condutor
nesse processo, pois promove a qualificação e a integração dos processos
de trabalho, bem como preconiza o protagonismo e a autonomia dos pro-
fissionais e gestores, por meio da criação ou do fortalecimento de espaços
de debate e de construção coletiva (BRASIL, 2017a).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Até aqui discutimos o que é o vírus do HIV e as diversas fases da infecção
por ele provocada e entendemos que a epidemia do HIV está presente
em todas as regiões do mundo, fazendo dela uma pandemia. O caráter
pandêmico do HIV e da aids necessita de uma resposta coordenada e
global, que vem sendo conduzida internacionalmente pela UNAIDS e pela
OMS, com desdobramentos em políticas nacionais e ações locais. Cada
um desses âmbitos da resposta tem sua importância equivalente e no
enfrentamento da epidemia não podemos prescindir de nenhuma delas.
32
Pensando assim, e com o intuito de ofertar o melhor e mais efetivo cui-
dado às PVHA, desde a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento,
a Atenção Básica se constitui no lugar privilegiado da coordenação do
cuidado à semelhança do que já ocorre com algumas outras doenças
crônicas. O foco do cuidado deverá ser sempre a pessoa que necessita
ser cuidada e a relação mais confortável que seja possível produzir entre
ela e equipes de saúde.
33
REFERÊNCIAS
AYRES, J. R. C. M. Sobre o risco: para compreender a epidemiologia.
São Paulo: Hucitec, 1997.
34
______. Ministério da Saúde. Orientações para utilização de teste
rápido DPP HIV com amostra de fluido oral. Brasília: Ministério da
Saúde, 2015c. Disponível em: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/
pluginfile.php/29038/mod_resource/content/2/dpp-fluido-final.pdf>.
Acesso em: 28 nov. 2017.
35
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. A ONU e a resposta à AIDS
no Brasil. Brasília-DF: Nações Unidas, 2013. Disponível em: <http://www.
renatodamatta.com/uploads/1/2/3/1/12315172/unaids_2_a_onu_e_a_
resposta__aids_no_brasil.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2017.
36
O cuidado de
pessoas com
HIV/aids na
Atenção Básica
UNIDADE
Acolhimento no
2
cuidado às pessoas
vivendo com HIV/
aids
38
AULA 1 – ACOLHIMENTO
NA ATENÇÃO BÁSICA NA
PERSPECTIVA DO CUIDADO ÀS
PESSOAS VIVENDO COM HIV/
AIDS (PVHA)
A primeira ideia que nos vem à mente quando recebemos uma visita em
nossa casa é a de acolher, proporcionar conforto e bem-estar à pessoa
que nos visita, porque é dessa maneira que gostamos de ser recebidos.
Na maioria das vezes, esse encontro se dá entre pessoas que convergem
em sentimentos e ideias que contribuem para produzir empatia.
Você já parou para pensar que nos serviços de saúde também ocorre um
encontro? E que esse encontro acontece entre o profissional, a equipe e
o usuário que traz consigo inúmeros elementos que podem dificultar ou
facilitar a construção de empatia? Como você pensa e age perante esse
encontro? Como se dão as relações no momento desse encontro? Você
está preparado para ele?
O QUE É ACOLHIMENTO?
Ainda é muito comum evidenciarmos, no cotidiano da Atenção Básica, o
entendimento de acolhimento como uma atividade cujo fim é a consul-
ta médica. Trata-se de uma concepção reduzida, focada na triagem da
demanda e organização da oferta do serviço médico.
39
nização e cuidado que implicam na capacidade de comunicação e enten-
dimento entre os que se relacionam (BRASIL, 2015a).
41
QUEM DEVE FAZER O ACOLHIMENTO À PVHA?
É atribuição comum a todos os profissionais da Atenção Básica participar
do acolhimento dos usuários com escuta qualificada, para avaliar e iden-
tificar as necessidades de intervenções de cuidado, proporcionando aten-
dimento humanizado, responsabilizando-se pela continuidade da atenção
e viabilizando o estabelecimento do vínculo (BRASIL, 2012).
42
Retenção é a relação entre o número de pessoas que foram
diagnosticadas soropositivas e o número de pessoas que estão
vinculadas ao serviço fazendo uso de TARV.
43
necessário, evitando a perda de referências e diminuindo os riscos de
iatrogenia, decorrentes do desconhecimento das histórias de vida e
da coordenação do cuidado (BRASIL, 2012).
44
Retornando ao caso de Juninho, analise o diálogo na Figura 2...
45
Figura 3 – Diálogo com a enfermeira sobre o cuidado na Atenção Básica.
46
Enquanto profissionais de saúde, não devemos utilizar o medo como
aliado para a adesão da pessoa ao tratamento.
47
Conhecer as caraterísticas da doença e entender claramente o objetivo da
terapia antirretroviral são os primeiros passos para que o usuário partici-
pe da decisão de iniciá-la, compreendendo que, a partir de então, deverá
assumir o cuidado de tomar os medicamentos de forma correta e conti-
nuada. Essa é a condição para atingir uma adequada supressão da repli-
cação viral e controle da infecção.
48
Por outro lado, os fatores que dificultam a adesão ao tratamento resultam
em frequentes adoecimentos, internações e podem levar à morte por aids.
Baixa escolaridade.
49
O vínculo estabelecido entre usuário e equipe, que é uma característica da
Atenção Básica, fornece um grande potencial de apoio aos usuários para
adesão não só ao tratamento, mas ao próprio serviço, garantindo a reten-
ção. Para tal, é importante oferecer alternativas de atendimento diversifi-
cadas e estabelecer fluxo diferenciado para pessoas com maiores dificul-
dades com horários flexíveis no atendimento, atenção diferenciada para
os diversos grupos populacionais e garantia de cuidado multidisciplinar.
Vale ainda salientar que, quando os usuários que não foram retidos aos
cuidados de saúde voltam para atendimento, o que normalmente acon-
tece em um estágio muito tardio da doença, pois a efetividade da terapia
antirretroviral já está comprometida e, muitas vezes, com eficácia redu-
zida. Essas lacunas enfraquecem o impacto da expansão do tratamento
do HIV do ponto de vista da saúde pública, uma vez que provoca a redu-
ção da proporção de pessoas vivendo com HIV que logram a supressão
da carga viral.
50
Uma forma de garantir alto índice de retenção é fazer o seguimento
dos resultados de modo sistemático ao longo de todo o processo de
tratamento do HIV. É fundamental que haja indicadores, integrados
aos sistemas de recompilação de dados, que possibilitem a avaliação
contínua das taxas de vinculação aos serviços de atenção, bem como a
de retenção dos pacientes.
51
O tratamento diretamente observado (TDO) refere-se à observação da
ingestão de medicamentos pelo paciente, a qual pode ser realizada por
profissionais de saúde ou outra pessoa, na residência do usuário ou no
serviço de saúde.
52
AULA 2 – VULNERABILIDADES
EM CONTEXTOS INDIVIDUAL,
FAMILIAR E SOCIAL
53
Nessa perspectiva, a vulnerabilidade se apresenta em três tipos de pla-
nos analíticos básicos:
• Vulnerabilidade individual
• Vulnerabilidade social
• Vulnerabilidade programática
VULNERABILIDADE INDIVIDUAL
Todo indivíduo é, em algum grau, vulnerável à infecção pelo HIV e suas con-
sequências, e essa vulnerabilidade pode mudar ao longo do tempo. Portan-
to, os indivíduos infectados pelo HIV têm seu potencial de adoecimento em
função inversa ao amparo social e ao acesso ao serviço de saúde.
54
VULNERABILIDADE SOCIAL
VULNERABILIDADE PROGRAMÁTICA
55
Vamos agora retomar o caso do jovem Pedro, de 18 anos,
discutido na Unidade 1. Ele compareceu à Unidade de Saúde
apreensivo por saber que um amigo estava hospitalizado com
provável diagnóstico de aids. Que vulnerabilidades podem ser
identificadas no caso?
56
No caso do jovem Juninho, usuário de drogas (Figura 2), em tratamento no
CAPSad, encaminhado para realização de Teste Rápido na AB, com resulta-
dos positivos para HIV, podemos visualizar os três tipos de vulnerabilidades:
57
manifestações do racismo nas instituições de saúde. Portanto, aprimo-
rar a qualidade dos sistemas de informação em saúde é fundamental
para combater o racismo institucional.
58
Tais situações repercutem na institucionalização dessas crianças e des-
ses adolescentes, no silêncio relativo ao diagnóstico dos seus membros,
no interior das famílias, na comunidade, nos serviços de saúde e na
escola/creche.
59
ACONSELHAMENTO
Aconselhar vem do verbo latino consiliare – reunião/unidade – ação de
duas ou mais pessoas voltadas à consideração de algo. O aconselhamen-
to enquanto prática foi desenvolvido no princípio do século XX, nos Esta-
dos Unidos, como um dispositivo da assistência social, oferecendo apoio
a problemas financeiros, oportunidades de expressão e alívio das tensões
e angústias. Entretanto, à medida que as suas técnicas se tornaram mais
elaboradas e a sua aplicação ampliada por meio da utilização de teorias
científicas, as definições de aconselhamento sofreram idênticas evolu-
ções, transformando-se em um ramo da psicologia (SCHEEFFER, 1993).
60
QUAIS SÃO OS OBJETIVOS DO ACONSELHAMENTO/
ORIENTAÇÃO?
ACONSELHAMENTO/ORIENTAÇÃO?
61
EM QUE MOMENTO DEVE OCORRER O
62
AULA 3 – O TESTE RÁPIDO (TR)
PARA HIV
63
Para abordar os conteúdos citados anteriormente, elencamos
algumas questões que facilitam o diálogo entre o profissional
e o usuário durante o pré-teste:
• Você já fez esse exame anteriormente?
• O que fez você decidir fazer o exame?
• Conhece a doença e como se transmite?
• Alguma vez pensou na possibilidade de o seu exame dar positivo?
• Qual o apoio emocional e social disponível a você (família,
parceiros, amigos, trabalho e outros)?
• Como você está se sentindo em relação à expectativa do
resultado?
• E se for negativo hoje, você acha que está livre do risco de
contrair o vírus?
• O que você acha que tem que fazer para não pegar HIV?
• Depois dessa conversa você está seguro que quer fazer o
teste agora?
• O seu exame foi negativo e isso quer dizer que no momento não há
detecção do vírus do HIV no seu organismo.
• Sabe como ter relações sexuais protegidas, sem risco de pegar HIV?
65
CONTEÚDOS QUE O PROFISSIONAL PRECISA
CONHECER PARA QUALIFICAR O DIÁLOGO EM
CASO DE TR POSITIVO
66
AFIRMAÇÕES QUE PRECISAM SER EXPRESSAS
PELO PROFISSIONAL NO PÓS-TESTE
(RESULTADO POSITIVO)
• O seu exame foi positivo ou reagente, e isso quer dizer que você tem o
vírus HIV circulando em seu organismo.
TESTE POSITIVO
• O que mais o aflige? O que está pensando? Quais são seus medos?
• Você sabe que precisa usar preservativo nas relações sexuais? E sabe o
porquê?
Se você atender um resultado positivo cujo pré-teste não tenha sido feito
por você ou não foi realizado, pode perguntar inicialmente:
67
Considerando que o TR para HIV faz parte da rotina do pré-natal,
convidamos você a refletir sobre o caso de Joana, a jovem que
se descobre soropositiva no pré-natal. Releia o caso “Da triste
revelação para o projeto de felicidade” que está no AVASUS e
procure, nos pontos a seguir, quais conteúdos foram abordados
durante o atendimento.
GESTANTES SOROPOSITIVAS:
Pré-teste Pós-teste
Reafirmar o caráter confidencial Informar que esse resul- Reafirmar o caráter con-
e voluntário da testagem. tado pode se dar pela fidencial e voluntário da
ausência de infecção, ou testagem.
por ela ser tão recente que
seu organismo não produ-
ziu anticorpos o suficiente
para ser detectada pelo
teste (janela imunológica).
69
Pré-teste Pós-teste
Informar sobre os riscos asso- Com os usuários de álcool Estabelecer cuidado inter-
ciados ao uso de substâncias e outras drogas, lembrar disciplinar e em rede.
psicoativas. que o uso de algumas
substâncias, mesmo lícitas,
pode alterar a percepção
de risco, prejudicando o
cuidado e a prevenção.
Reforçar sobre o não com-
partilhamento de objetos
para uso de drogas.
70
• Encaminhamento resolutivo dos casos para os serviços de referência
definidos na linha de cuidado local, sejam eles da Atenção Básica, sejam
da especializada, com estabelecimento de mecanismos/estratégias para
a vinculação e o cuidado compartilhado.
71
Como ocorre a infecção por sífilis? Quais os principais sinais
e sintomas? Há tratamento e cura? Tudo isso surge em uma
tempestade de emoções e questionamentos que precisam
ser esclarecidos por quem está realizando o atendimento. Por
outro lado, a equipe de saúde precisa: conhecer a linha do cui-
dado das pessoas com sífilis, estando atenta para reconhecer
as manifestações clínicas dessa doença; realizar teste rápido
treponêmico e teste não treponêmico (VDRL); interpretar os
resultados dos exames laboratoriais; instituir e administrar o
tratamento, inclusive assumindo a administração da penicilina
benzatina na Atenção Básica; notificar e investigar os casos;
buscar e cuidar das parcerias sexuais, bem como outras ações
que contribuam para o cuidado integral e controle da sífilis.
Você encontrará resposta para essas questões no Protocolo
Clínico e Diretrizes Terapêuticas para a Atenção Integral às Pessoas
com Infecções Sexualmente Transmissíveis (PCDT/IST), especial-
mente na página 90, que trata da sífilis adquirida e da sífilis
em gestante, situações mais comuns a serem atendidas na
Atenção Básica. Esse material pode ser consultado na biblio-
teca virtual do curso.
MAIS
• Quando o Teste Rápido for utilizado como triagem, nos casos reagen-
tes, uma amostra de sangue deverá ser coletada e encaminhada para
realização de um teste não treponêmico (VDRL).
72
Figura 5 – Interpretação dos testes utilizados para o diagnóstico da sífilis.
DIAGNÓSTICO DO HIV
A presença de pessoas infectadas com o HIV tem sido cada vez mais
comum na Atenção Básica. Há situações em que a investigação das IST-
-HIV é imprescindível; um exemplo claro é o pré-natal. O caso da jovem
Joana, 21 anos, que busca a USF para dar início ao acompanhamento do
pré-natal e é surpreendida com o diagnóstico de infecção pelo HIV, ilus-
tra bem essa situação, demonstrando a importância da realização do TR
como ferramenta para o diagnóstico precoce do HIV.
• gestantes;
73
• parcerias de pessoas vivendo com HIV/aids;
• profissionais do sexo;
74
Para a realização segura do TR para HIV, faz-se necessário:
• profissional capacitado para tal realização, na modalidade
presencial ou a distância. Se você ainda não foi treinado, reco-
mendamos o curso do Telelab disponível no endereço <https://
telelab.aids.gov.br/index.php/component/k2/item/769>.
• observar atentamente a data de validade estampada na parte
externa da embalagem de cada kit. Ao término da plataforma
de testagem, do reagente ou qualquer outro elemento do kit,
despreze todo o restante fora, em recipiente apropriado.
• descartar, após o término do uso da plataforma de testagem,
o reagente ou qualquer outro elemento do kit em recipiente
apropriado.
• conservar a plataforma de testagem no envelope lacrado até
o momento da utilização.
• durante o manuseio do kit, serão adotadas todas as precau-
ções que se aplicam aos procedimentos potencialmente infec-
tantes, tais como uso de Equipamento de Proteção Individual
– EPI (luvas de procedimento, máscara cirúrgica, óculos, avental
descartável, se disponível), higiene das mãos antes e após o
teste, uso de álcool 70% para antissepsia da pele e descarte
dos seus componentes em local apropriado.
75
INTERPRETAÇÃO DO TR PARA HIV
Como se faz a interpretação do TR para HIV? Existem três possibilidades
de resultados:
76
Algumas condições clínicas estão associadas a resultados falso reagen-
tes e devem ser lembradas quando estivermos diante de um paciente
que nega qualquer exposição ao HIV e identificarmos na anamnese as
seguintes possibilidades:
• artrite reumatoide;
• síndrome de Stevens-Johnson;
• anticorpo antimicrossomal;
• anticorpos HLA;
• tumores malignos;
• outras retroviroses;
77
AULA 4 – DIREITOS SEXUAIS
E DIREITOS REPRODUTIVOS
DAS PESSOAS QUE VIVEM COM
HIV/AIDS
Agora, convidamos você a discutir um pouco sobre direitos sexuais
e direitos reprodutivos das pessoas vivendo com HIV e aids, visando
fazer uma reflexão sobre o exercício da saúde reprodutiva nesse contex-
to, sem que isso signifique a negação das questões de direitos sexuais.
78
tos de autonomia e tenham acesso à saúde, com privacidade, informa-
ção adequada, livre escolha, confidencialidade e respeito.
E OS DIREITOS SEXUAIS?
Os direitos sexuais abarcam os direitos humanos já reconhecidos em
leis nacionais e documentos internacionais de direitos humanos, aqui
destacados:
79
• Enquanto profissional de saúde, você já se deparou com
alguma situação que envolva preconceito, tabu ou estigma?
• Você acredita que sua forma de pensar e sua visão de mundo
interferem na sua prática profissional? De que forma?
• Existe desinformação e desrespeito em relação a algum desses
direitos sexuais e reprodutivos no processo de trabalho em
saúde? A que você atribui essa situação?
A sexualidade é uma importante dimensão da vida, que envolve
aspectos biológicos, psíquicos, sociais, culturais e históricos.
Não se restringe à meta reprodutiva, sendo constitutiva das
relações amorosas e do laço afetivo entre as pessoas.
a) não tomar decisões pelo usuário, não impor escolhas e nem emitir
juízo de valor;
Sobre essa questão, Ayres (2004) nos diz que profissionais de saúde,
muitas vezes, atuam de modo normativo e prescritivo. Suas falas e orien-
tações não consideram os projetos de felicidade das pessoas.
81
Essa postura pode dificultar a adesão das pessoas vivendo com HIV/aids
às ações de prevenção ou ao tratamento com os antirretrovirais. Nem
sempre é oferecida por parte de profissionais de saúde uma oportunida-
de de escuta, diálogo e acolhimento aos usuários sobre a possibilidade
de uma vida sexual e reprodutiva saudável, que pode incluir ou não o
desejo de ter filhos.
82
DIALOGANDO SOBRE A REPRODUÇÃO ENTRE
CASAIS SORODISCORDANTES
83
Por último, reafirmar a importância de se despir de preconceitos e tabus
e investir na formação e capacitação permanente dos profissionais de
saúde, não apenas do ponto de vista clínico, mas entendendo o conceito
ampliado de saúde como direito à vida e à cidadania, é necessário para
o cuidado em saúde. É importante também apostar na integralidade da
atenção na perspectiva de construção da rede de atenção à saúde e inves-
tir na intersetorialidade das ações.
84
AULA 5 – BIOSSEGURANÇA:
SEGURANÇA PARA O
PROFISSIONAL E O PACIENTE
Agora, vamos conversar sobre biossegurança.
85
e da pessoa fonte da infecção. Assim, a partir da avaliação desses crité-
rios objetivos será possível definir se há ou não indicação de início da
profilaxia pós-exposição (PEP).
86
Ainda deixamos aqui outras recomendações importantes:
- Sêmen
- Fluidos vaginais
- Suor
- Lágrima
- Fezes
- Urina
87
- Vômitos
- Secreções nasais
88
Figura 6 – Fluxograma para indicação de PEP para HIV.
Para saber mais sobre PEP nos diferentes contextos, consulte o PCDT
Profilaxia pós-exposição (PEP) de risco à infecção pelo HIV, IST e Hepatites
virais, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017).
89
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, conversamos sobre a potência e a importância do acolhi-
mento às pessoas com vulnerabilidades para o HIV e outras IST na Aten-
ção Básica, trazendo para nós a responsabilidade e o prazer em fazer
aconselhamento e orientação, respeitando os direitos sexuais e repro-
dutivos das pessoas, com destaque para as PVHA.
A oferta de testagem para HIV, HBV, HCV e sífilis por Teste Rápido é uma
estratégia que amplia o acesso ao diagnóstico precoce desses agra-
vos, condição essencial para seu controle e tratamento, garantindo aos
pacientes qualidade de vida.
Até breve!
90
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA INTERDISCIPLINAR DE AIDS – ABIA. Casais
sorodiscordantes: dicas para uma vida saudável, segura e feliz. Rio de
Janeiro: ABIA, 2004.
91
______. Ministério da Saúde. Acolhimento à demanda espontânea.
Brasília: Ministério da Saúde, 2011. (Cadernos de Atenção Básica, 28, v. 1).
92
FREITAS, Marise Reis de; SOUZA, Elizabethe Cristina F. de; MELO, Celeste
Maria R. (Org.). HIV-AIDS: Histórias contadas na Atenção Básica. Natal:
EDUFRN, 2017.
PAIVA, V. et al. Sem o direito de Amar?: a vontade de ter filhos entre homens
(e mulheres) vivendo com o HIV. Psicol USP, v. 13, n. 2, p. 105-33, 2002.
93
SOUTO, Katia. Direitos sexuais e reprodutivos das pessoas vivendo com
HIV e AIDS. Saber Viver, n. 2, 2004. Disponível em: <http://saberviver.
org.br/publicacoes/direitos-sexuais-e-reprodutivos-das-pessoas-vivendo-
com-hiv-e-aids/>. Acesso em: 7 nov. 2016.
94
GLOSSÁRIO – UNIDADE 2
95
quente na fase invasiva das doenças infecciosas.
96
Falha terapêutica: conceitua-se falha terapêutica uma resposta subóti-
ma ou falta de resposta sustentada à terapia antirretroviral, sob critérios
virológicos, imunológicos e/ou clínicos. Quando o paciente, inicialmente,
respondeu bem ao tratamento, com máxima supressão viral, reconsti-
tuição imunológica e ausência de doenças associadas à infecção pelo
HIV, geralmente a falha virológica precede as demais.
97
o cliente, é o resgate da condição do cliente enquanto pessoa total com
corpo, mente, emoções, história pessoal e social.
98
Pré-teste: é a sessão de aconselhamento que antecede o teste e ajuda o
cliente a decidir se irá realizá-lo ou não.
99
Soropositividade: é a condição de um indivíduo portador de anticorpos
no sangue que provem a presença de um agente infeccioso. O termo é
mais usado para descrever a presença do vírus HIV, causador da Síndro-
me da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/aids) no sangue.
100
O cuidado de
pessoas com
HIV/aids na
Atenção Básica
UNIDADE
Cuidado
3
compartilhado às
PVHA na Atenção
Básica
102
AULA 1 – UM DIA NA ATENÇÃO
BÁSICA
Iniciamos com a situação de Maria, que está no Caso 4 – Por mim e pelos
meus filhos, no AVASUS. Na visita domiciliar desta semana, a enfermeira
percebeu que Maria, 42 anos, mostra-se emagrecida e triste.
103
ASSUMINDO O CUIDADO DA
PVHA
Você já viu na Unidade 2 que duas amostras reagentes TR1 e TR2 confirmam
o diagnóstico de infecção pelo HIV e o paciente deverá ser encaminhado
para realizar o Teste de Quantificação da Carga Viral (RNA HIV-1) e contagem
de linfócitos T-CD4+, conforme ilustrado na Figura 1 que está no AVASUS.
Figura 1
Uma vez que foi confirmada a infecção pelo HIV, como proceder com a
avaliação clínica de Maria?
AVALIAÇÃO INICIAL
Na avaliação clínica inicial, uma boa anamnese trará importantes subsí-
dios para a organização do cuidado e é importante que você considere
os aspectos descritos a seguir.
104
drogas ilícitas, sífilis e outras IST, uso de preservativo nas relações sexu-
ais. Uso de medicamentos, hábitos alimentares, tabagismo e etilismo,
prática de atividade física, vacinações, transtorno mental.
A infecção pelo HIV é sistêmica. O exame físico deve seguir uma sequên-
cia e o profissional deve estar atento para a presença de sinais clínicos
associados à aids.
• Peso e altura.
• Cálculo do índice de massa corpórea (IMC= Peso (kg)/ Altura (m2) (veja
o Quadro 1).
105
Figura 2 – Principais alterações de pele e gânglios relacionados ao HIV.
Fonte: Adaptado de Manual O manejo da infecção pelo HIV na atenção básica (disponí-
vel na biblioteca).
IMC Diagnóstico
106
Figura 3 – Candidíase oral, alterações periodontais, herpes labial, sarcoma de
Kaposi, papiloma.
Fonte: <http://maisro.com.br/wp-content/uploads/2017/01/candidiase.jpg>;
<http://slideplayer.com.br/slide/4209200/13/images/6/Patologia+Oral+Leucoplasia+Pi-
losa+Monil%C3%ADase+Oral+Candid%C3%ADase+Esof%C3%A1gica.jpg>;
<https://www.mdsaude.com/wp-content/uploads/2012/04/herpes-labial.jpg>;
<https://www.fotosantesedepois.com/wp-content/uploads/2011/05/Intraoral_Kapo-
si_sarcoma.jpg>; <http://3.bp.blogspot.com/_XLjtflyyvQc/TU7WnOXdG0I/AAAAAAAAAPg/
ghCxKeHqqMw/s1600/hpvboca.png>.
107
• Utilize o recurso do vínculo do médico de família, e demais profissio-
nais que realizam esse cuidado na APS, com cada pessoa sob sua res-
ponsabilidade. Importante desenvolver sentimentos como compaixão,
compreensão e paciência para acolher e respeitar os sentimentos expe-
rimentados pela PVHA frente a essa nova realidade, quais as suas expec-
tativas, ideias e como prevê sua funcionalidade daqui por diante.
Fonte: Adaptado de O Manejo da infecção pelo HIV na Atenção Básica (MS, 2015).
108
Exame Periodicidade Observações
Hemograma 3 a 6 meses Maior frequência em pacientes sinto-
máticos e/ou uso de mielotóxicos
AST, ALT, Cr, Ur, Na, K, Anual 3 a 6 meses se uso de TARV
(exame básico de urina)
Cálculo do clearance da Anual, em pacientes com 3 a 6 meses se uso de TARV com desta-
creatinina ou taxa de fil- maior risco de insuficiência que para o Tenofovir
tração glomerular renal (diabéticos, coinfecta-
dos com HCV, negros, hiper-
tensos)
tuberculose ativa
VDRL 6 meses
Lipidograma Anual
e homens após 50
anos)
Fundoscopia 6 meses, em indivíduos com Menor que 18,5
Fonte: Adaptado de O Manejo da infecção pelo HIV na Atenção Básica (MS, 2015, p. 12).
109
Agora, vamos ver os resultados dos exames de Maria solicitados
para a avaliação inicial.
Hemograma: Hb = 10g/dl; Hto = 32%; Leucócitos = 3800/
mm3, Seg = 51%, Eos = 2%, Linf = 18%; Plaquetas = 130.000/
mm3; CD4 = 240 células/mm3.
Carga viral HIV = 50.000 cópias.
ALT=36 U/L; AST=38 U/L ; Ur= 28mg%; Cr=0,8mg%; Na+=
138mEq/L; K+= 4,1mEq/L.
Sumário de urina (EAS): Normal.
Parasitológico de fezes = Negativo.
VDRL = Não reagente.
Toxoplasma IgG = Reagente.
Anti-HTLV I e II = Não reagentes; AgHBs = Não reagente; Anti
HBs = Reagente.
Sorologia para Chagas(ELISA) = Não reagente.
Triglicérides = 140mg/dL; HDL = 35mg/dL; VLDL = 102mg/dL.
Glicemia de jejum = 88mg/dL.
PT (PPD) = Não reator.
Rx tórax = Normal.
Veja que os exames de Maria não sinalizam para a presença
de comorbidades. Ela não é sintomática respiratória, tem um
Rx de tórax normal e o PT (PPD) é não reator. Sua avaliação
cardiovascular não evidencia risco aumentado.
110
AULA 2 – HISTÓRIA NATURAL
DA INFECÇÃO PELO HIV
A infecção pelo HIV é dividida em 3 fases: aguda, latência clínica ou assin-
tomática e síndrome da imunodeficiência adquirida (aids). Destaque-se
que essa classificação é útil para indivíduos não tratados, que levam em
média 10 anos entre o contágio e a aids.
111
Veja que os sinais e sintomas mencionados anteriormente são muito
semelhantes para muitas doenças virais agudas. Nesta situação, fique
sempre atento para considerar exposição recente ao vírus HIV e solici-
te o TR para HIV para confirmação. O TR pode ser negativo nesta fase,
devendo ser repetido após 2 a 4 semanas na suspeita de infecção aguda
pelo HIV.
112
O caso de Juninho ilustra uma infecção latente (leia a história Vida que
segue na HQ – Caso 3 que está na biblioteca virtual). Ele está assinto-
mático e seu TR para HIV foi reagente. Veja que seus exames mostram
uma discreta anemia e plaquetopenia, sem outras alterações, exceto
um PT (PPD) reator, que na ausência de sinais clínicos e/ou radiológi-
cos para tuberculose, indica infecção latente por M. tuberculosis e será
abordado posteriormente.
113
PT (PPD) = 5mm
Rx tórax = Normal
114
SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA
(AIDS)
115
Entenda por que utilizamos os níveis de LT-CD4+ e a carga viral
para estratificar e monitorar a evolução da infecção pelo HIV.
LT-CD4+ são as principais células-alvo do HIV, que são infec-
tadas e destruídas pelo vírus. Na infecção aguda ocorre uma
queda significativa do LT-CD4+, que se recupera parcialmente,
mas persiste em queda progressiva ao longo dos anos (linha
verde da Figura 4).
Carga viral – é a quantificação de partículas do vírus presente
no sangue, medida por métodos de biologia molecular. A carga
viral atinge os maiores níveis nas fases inicial (infecção aguda)
e tardia (aids).
Como você já pode presumir, a contagem de LT-CD4+ e a carga
viral são importantes marcadores de resposta adequada ao
tratamento antirretroviral, e são utilizados para monitorar o
seu sucesso.
A contagem de LT-CD4+ é o principal parâmetro para avaliar
a indicação de vacinas (calendário vacinal da criança, adulto e
idoso), bem como a urgência para início da TARV e profilaxia das
infecções oportunistas em indivíduos com diagnóstico tardio.
A carga viral determina a velocidade de destruição do
sistema imune.
O número de LT-CD4+ revela o grau de imunodeficiência.
116
Portanto, uma vez confirmado o diagnóstico de HIV, é necessário defi-
nir em que fase da infecção a pessoa se encontra. Isso tem importância
para a organização do cuidado da PVHA, bem como para a notificação ao
Sistema de Vigilância Epidemiológica.
117
E PARA CRIANÇAS, QUAIS SÃO OS CRITÉRIOS?
Definir aids em criança merece cuidados especiais, uma vez que ela pode
ser soropositiva ao nascimento e não estar infectada.
Optamos, então, por não abordar aids em crianças neste curso, mas
como você pode observar na Figura 6, os critérios para o diagnóstico de
aids em criança são distintos dos adultos.
118
CID 10
B20 – aids em adolescentes e adultos
B24 – aids em menores de 13 anos
119
É muito importante que a equipe explique sua condição clínica, faça uma
escuta ativa sobre o impacto do diagnóstico e suas expectativas quanto
ao tratamento, oriente sobre a necessidade de uso contínuo da tera-
pia antirretroviral e explique a necessidade do encaminhamento ao SAE
para início do tratamento e controle da doença.
120
Figura 7 – Infecções oportunistas em pacientes com aids.
Fonte: <http://www.radiologyassistant.nl/data/bin/a529ba8506ae14_1-PCP-1-week-la-
ter.jpg>; <https://radiopaedia.org/articles/pneumocystis-pneumonia>; <https://revistas.
pucsp.br/index.php/RFCMS/article/viewFile/250/pdf>; <http://estomatologiaonlinepb.
blogspot.com.br/2014/01/doencas-fungicas-candidose.html>; <https://emedicine.meds-
cape.com/article/279734-overview>. Acesso em: 31 jan. 2018.
Meningite criptocóccica
121
Recomendamos que você leia o texto Infecções oportunistas
relacionadas ao HIV (IOs), da Profa. Monica Bay, que se encon-
tra na biblioteca virtual. Optamos por dedicar um capítulo
especial para coinfecção tuberculose-HIV, em razão de sua
alta prevalência no Brasil.
122
Todos os questionamentos a seguir estão contemplados no referido texto.
Resposta: Sim. A isoniazida deve ser iniciada tão logo seja excluída tuber-
culose em atividade. A profilaxia deve ser mantida por 6 meses.
Esta é a fase mais delicada do cuidado das PVHA, sobre o qual faremos
uma conversa convidando-o a refletir sobre as potencialidades da AB
para o cuidado integral desta população.
123
AULA 3 – PREPARAÇÃO
DO PACIENTE PARA
O TRATAMENTO
ANTIRRETROVIRAL
O cuidado ao paciente com doenças crônicas é complexo. Com HIV/aids
não é diferente, sobretudo, pelas questões relativas ao estigma e precon-
ceito, que estão presentes em todos os espaços, inclusive nos serviços
de saúde. O indivíduo soropositivo isola-se da família, do trabalho e da
sociedade. Esta complexidade leva à necessidade da equipe e do pacien-
te compartilharem os problemas vivenciados por ele e as propostas de
solução, com vistas à elaboração de um projeto terapêutico singular.
ADESÃO
O principal desafio para o tratamento dos soropositivos é o caráter crô-
nico da infecção para a qual o indivíduo fará uso de medicamentos para
o resto da vida. Dessa maneira, a não adesão é uma das principais cau-
sas de falha terapêutica e sempre deve ser considerada diante de indiví-
duos em uso de TARV com carga viral detectável.
124
O vínculo estabelecido entre usuário e equipe é essencial para adesão
ao tratamento, garantindo a retenção. Para tal, é importante oferecer
alternativas de atendimentos diversificados, fluxo diferenciado, flexibi-
lidade de horário e atenção diferenciada com garantia da integralidade
do cuidado.
PREVENÇÃO COMBINADA
125
E, por falar em prevenção, você lembra que já comentamos sobre pre-
venção combinada na Unidade 1?
126
Para saber mais, consulte o Manual 5 passos para Prevenção
Combinada na Atenção Básica, no qual você encontrará ele-
mentos nos campos da gestão e assistência.
INTERVENÇÕES BIOMÉDICAS
Por muitos anos o discurso “Use camisinha!” foi dominante. Hoje, garan-
tir o livre acesso à ela tornou-se mais importante que o próprio discurso.
127
A livre oferta de preservativo consiste em disponibilizar o referido insu-
mo de forma aberta em salas de espera e/ou outros ambientes das Uni-
dades de Saúde, bem como em outros espaços sociais do território. Essa
prática se constitui em importante estratégia de prevenção e vem sendo
adotada em alguns serviços de saúde, permitindo ao próprio usuário
avaliar sua necessidade.
Fonte: <http://s2.glbimg.com/WQGkBClvW5jFjkvewVVabAoWyGA=/s.glbimg.com/jo/g1/f/
original/2013/06/06/dispensador_na_escola.jpg>; <http://static.catalogohospitalar.com.
br/img/produtos/44404/imagem-de-dispensador-preservativo-em-acrilico-2c3p_g.jpg>.
Acesso em: 31 jan. 2018.
GEL LUBRIFICANTE
Espera-se que a oferta do Teste Rápido para HIV na Atenção Básica per-
mita que todas as pessoas sexualmente ativas, independentemente de
sexo e de idade, tenham realizado pelo menos um teste de HIV na vida.
Este fato vai permitir que mais pessoas acessem o cuidado, precocemen-
te, sejam vinculadas ao serviço de saúde para aderir ao tratamento e,
posteriormente, consigam sua carga viral indetectável, tendo pouquíssi-
ma chance de transmitir o vírus.
130
Quer saber mais sobre a PEP? Consulte o Protocolo Clínico e
Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Pós-Exposição (PEP) de
Risco à Infecção pelo HIV, IST e Hepatites Virais do Ministério da
Saúde (MS), disponível em nossa biblioteca virtual. Disponível
em: <http://www.aids.gov.br/pt-br/profissionais-de-saude/
hiv/protocolos-clinicos-e-manuais>. Acesso em: 28 fev. 2018.
131
Contudo, para que essa estratégia seja eficaz, é necessário que a rede de
saúde remova as barreiras de acesso a essas populações, acolhendo-as
na sua integralidade e garantindo seus direitos à saúde de qualidade.
Veja o Infográfico 1 que está no AVASUS, ele contém uma breve caracte-
rização da PrEP.
Infográfico 1
O tratamento das IST não será abordado neste curso, mas vale destacar
que a ocorrência de outras IST aumenta a possibilidade de infecção pelo
HIV. Entre as IST, as úlceras genitais da sífilis, herpes genital e cancro
mole têm destaque na transmissão do HIV.
132
Você pode relembrar aspectos sobre a sífilis, incluindo apresen-
tação clínica e tratamento, na Unidade 2, quando discutimos
a testagem rápida para sífilis. Confira!
INTERVENÇÕES COMPORTAMENTAIS
As intervenções comportamentais prescindem de encontro, diálogo e
escuta entre os profissionais de saúde/usuário/grupos populacionais e
comunidade em geral.
O momento pré e pós-teste tem alto potencial para o diálogo sobre vul-
nerabilidade e risco. Na perspectiva da Prevenção Combinada, o aconse-
lhamento/diálogo/escuta/orientação pré e pós-teste é uma forte estraté-
gia de prevenção e pode envolver a abordagem sobre gestão individual
de riscos, contemplando o manejo das situações de vida, de forma a
permitir que as pessoas façam escolhas e adotem num dado momento,
período e contexto, uma combinação de estratégias de prevenção, mui-
tas vezes, parcialmente protetoras.
• uso do preservativo apenas nas relações anais, que têm maior risco
para adquirir IST e HIV, e não nas relações vaginais e orais.
INTERVENÇÕES ESTRUTURAIS
Movimentos desencadeados para reduzir preconceito, discriminação,
estigma ou qualquer outra forma de alienação dos Direitos Humanos e
garantias fundamentais à dignidade humana são considerados também
ações de PREVENÇÃO.
134
Voltemos para o caso de Maria. Queremos convidá-lo a elaborar um pla-
no de cuidados a ser desenvolvido pela equipe da AB enquanto aguarda
sua consulta no SAE. Vamos lá?
135
Vídeo 3 – A saúde mental
136
Ainda pensando no caso de Maria, vemos que o projeto terapêutico, ela-
borado pela equipe da AB, trouxe a ela segurança para iniciar o acompa-
nhamento no SAE. No entanto, quando a enfermeira da AB retornou à
sua casa, uma semana após a consulta ao especialista no SAE, a encon-
trou preocupada e queixosa, reclamando de náuseas, insegurança sobre
sua capacidade para voltar ao trabalho e dificuldades para dormir. Seu
médico emitiu um afastamento por 15 dias, mas ela está com medo de
perder o emprego, caso a patroa saiba de sua doença. A enfermeira
estabeleceu um diálogo atento à sua fragilidade momentânea, estimu-
lando-a a aceitar o apoio psicológico do SAE ou do NASF e orienta sobre
a necessidade de não interromper o uso da medicação. Informou que
ela pode obter informações relativas a direitos sociais e previdenciários
com a assistente social do SAE e, que se ela precisasse de ajuda, a assis-
tente social do NASF poderia apoiá-la também.
137
EXISTEM DIREITOS ESPECIAIS
PARA PESSOAS COM HIV?
Pela Constituição Brasileira, os portadores do HIV, assim como todo e
qualquer cidadão brasileiro, têm obrigações e direitos garantidos, entre
eles: dignidade humana e acesso à saúde pública e, por isso, estão ampa-
rados pela lei. O Brasil possui legislação específica dos grupos mais vul-
neráveis ao preconceito e à discriminação, como homossexuais, mulhe-
res, negros, crianças, idosos, portadores de doenças crônicas infecciosas
e de deficiência.
138
V - Ninguém tem o direito de restringir a liberdade ou os direitos
das pessoas pelo único motivo de serem portadoras do HIV/
aids, qualquer que seja sua raça, nacionalidade, religião, sexo
ou orientação sexual.
VI - Todo portador do vírus da aids tem direito à participação em
todos os aspectos da vida social. Toda ação que visar a recusar
aos portadores do HIV/aids um emprego, um alojamento, uma
assistência ou a privá-los disso, ou que tenda a restringi-los à
participação em atividades coletivas, escolares e militares, deve
ser considerada discriminatória e ser punida por lei.
VII - Todas as pessoas têm direito de receber sangue e hemo-
derivados, órgãos ou tecidos que tenham sido rigorosamente
testados para o HIV.
VIII - Ninguém poderá fazer referência à doença de alguém,
passada ou futura, ou ao resultado de seus testes para o HIV/
aids, sem o consentimento da pessoa envolvida. A privacidade
do portador do vírus deverá ser assegurada por todos os ser-
viços médicos e assistenciais.
IX - Ninguém será submetido aos testes de HIV/aids compulso-
riamente, em caso algum. Os testes de aids deverão ser usados
exclusivamente para fins diagnósticos, controle de transfusões
e transplantes, estudos epidemiológicos e nunca qualquer tipo
de controle de pessoas ou populações. Em todos os casos de
testes, os interessados deverão ser informados. Os resultados
deverão ser transmitidos por um profissional competente.
X - Todo portador do vírus tem direito a comunicar apenas às
pessoas que deseja seu estado de saúde e o resultado dos
seus testes.
XI - Toda pessoa com HIV/aids tem direito à continuação de sua
vida civil, profissional, sexual e afetiva. Nenhuma ação poderá
restringir seus direitos completos à cidadania.
139
Diversas outras leis foram regulamentadas nas três esferas de poder,
estendendo benefícios já existentes para portadores de outras patolo-
gias às PVHA, tornando efetivos esses direitos. Sobre os direitos sociais e
previdenciários, destacamos:
• auxílio-doença;
140
AULA 4 – MANEJO DA TARV
No retorno à UBS, a enfermeira discute a situação de Maria com a equipe,
destacando a presença de sintomas gastrointestinais e estado depressi-
vo após o início da TARV, sugerindo a necessidade de apoio psicológico.
• Quando indicar?
141
TERAPIA ANTIRRETROVIRAL (TARV)
Já vimos, anteriormente, que a TARV está indicada para todas as
pessoas infectadas pelo HIV, independentemente de sua condição
clínica, e isso tem como propósito:
• aumentar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida das PVHA;
142
Figura 9 – Ciclo replicativo do HIV1 com destaque para os locais de ação dos
antirretrovirais.
- Zidovudina (AZT)
- Lamivudina (3TC)
- Abacavir (ABC)
- Emtricitabina (FTC)
- Efavirenz (EFZ)
- Nevirapina (NVP)
- Etravirina (ETR)
143
3.Inibidores da protease:
- Ritonavir (RTV)
- Lopinavir (LPV)
- Amprenavir/ Fosamprenavir
- Darunavir/ritonavir (DRV/r)
- Tripanavir/ritonavir (TPV/r)
6.Inibidores da integrase:
- Dolutegravir (DTG)
- Raltegravir (RAL)
144
SITUAÇÃO 1: Adultos e crianças maiores de 12 anos e acima
de 40 Kg
Tenofovir-TDF (300 mg) + Lamivudina-3TC (300 mg) 2 em 1 +
Dolutegravir-DTG (50 mg) em dose única diária, de preferência
durante ou após uma refeição.
O caso de Maria ilustra bem a indicação deste esquema, con-
siderado como 1ª escolha para início da TARV.
O 3TC e o TDF são apresentados como comprimidos coformu-
lados 2 em 1 – 3TC (300 mg) + TDF (300 mg) ou individualmente
em comprimidos de 150 mg e 300 mg respectivamente. O DTG
é um inibidor da integrase, que é apresentado como compri-
mido de 50 mg.
O fato de ser tomado em uma dose diária facilita sua adesão,
além de ser bem tolerado.
Você já observou que o formulário para solicitação dos antirre-
trovirais traz uma orientação que facilita a prescrição (item 14)?
145
SITUAÇÃO 2: Gestante
O esquema recomendado para a gestante é o 2 em 1, consti-
tuído por Tenofovir-TDF (300 mg) + Lamivudina-3TC (300 mg)
1x ao dia + Raltegravir (400 mg) 2 vezes ao dia.
O caso de Joana ilustra bem a indicação desta associação de
ARV, na qual o Dolutegravir é substituído pelo Raltegravir, em
razão da falta de estudos controlados que comprovem segu-
rança do DTG na gravidez até o momento.
Tão logo ocorra o parto, o esquema deve ser alterado para
TDF+3TC+DTG (situação 1) e deve ser mantido para uso crônico.
No texto Assistência à gestante portadora do HIV, que está na
biblioteca virtual, você encontrará informações preciosas sobre
o cuidado à gestante com HIV.
146
Critérios de gravidade: Linfócitos TDC4 + < 100 cel/mm3.
Presença de outra infecção oportunista.
Necessidade de internação hospitalar/doença grave.
TB disseminada.
Jacira descobriu-se com HIV no momento em que seu diag-
nóstico de tuberculose se confirmava. Havia perdido muito
peso, apresentava candidíase oral e foi internada para início
do tratamento. Lembra-se de que a presença de candidíase
oral já caracteriza imunossupressão e doença avançada? Esta
situação é relativamente comum em nosso país com alta pre-
valência de TB, sobretudo, em populações vulneráveis como
usuários de drogas e apenados.
Veja que na história de Jacira, a TARV foi iniciada após 1 mês
do tratamento da tuberculose. Em casos graves como este,
recomenda-se iniciar a TARV mais cedo, cerca de 2 a 4 sema-
nas, se possível.
EFEITOS COLATERAIS
147
Por outro lado, o Tenofovir possui uma desvantagem que é a toxicidade
renal, que pode ser fator limitante para seu uso, sobretudo, em pacien-
tes diabéticos, hipertensos, idosos e naqueles em uso de medicamentos
potencialmente nefrotóxico (ver interações adiante).
148
O ritonavir atua como adjuvante farmacológico quando coformulado
aos inibidores de protease, proporcionando elevação da meia-vida e dos
níveis séricos do IP (efeito booster), conferindo-lhes maior segurança em
relação ao risco de mutações e resistência viral.
Tenofovir Toxicidade renal com elevação Realizar exame básico de urina, ureia,
da ureia e creatinina; disfunção creatinina e Clearance estimado da
TDF tubular proximal (glicosúria, cretinina a cada 3 meses.
fosfatúria, hipouricemia, hipe-
ruricuria, hipofosforemia,hipo- Consulta com o infectologista.
calemia e acidose metabólica);
diabetes insipidus.
149
Efavirenz Sintomas associados ao siste- Orientar o paciente sobre tais eventos
ma nervoso central: tonturas, e informar que, normalmente, desapa-
EFZ “sensação de embriaguez”, recem ao final das primeiras semanas
sonolência ou insônia, dificul- de tratamento.
dade de concentração; sonhos
vívidos e pesadelos; depressão. Álcool exacerba os sintomas neuroló-
gicos. Importante abordar sobre o uso
Prurido; exantema, geralmente de álcool e outras drogas, aconselhan-
maculopapular (1,7%), poden- do o paciente para não interromper o
do evoluir para formas graves, Efavirenz.
como a síndrome de Stevens-
-Johnson ou necrólise epidérmi-
ca tóxica.
Incomuns: hiperglicemia,au-
mento de enzimas hepáticas e
hiperamilasemia.
150
Quer saber mais sobre esse tema? Vá à biblioteca virtual e leia
o texto do farmacêutico Daniel Coelho com sua experiência no
cuidado às PVHA no SAE do Hospital Giselda Trigueiro-RN e as
possíveis interações medicamentosas da TARV.
151
FINALIZANDO
Ao longo desta Unidade, tivemos a oportunidade de revisar diversas
questões e acrescentar novos conhecimentos, fundamentais para qua-
lificar a assistência às PVHA, no cenário de atuação da Atenção Básica.
152
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
153
_____. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções
Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais.
Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção
pelo HIV em adultos. Brasília: Ministério da Saúde, 2015f.
155
GLOSSÁRIO – UNIDADE 3
Natural killer: são conhecidas desde a década de 1970 por sua capaci-
dade de matar células tumorais e infectadas por vírus sem sensibilização
prévia. Além disso, essas células têm conhecido papel antileucêmico. Fon-
te: <http://www.inca.gov.br/rbc/n_54/v03/pdf/revisao_4_pag_297a305.
pdf>. Acesso em: 31 jan. 2018.
156
Neuropatia: é um termo geral que se refere a doenças ou problemas no
funcionamento dos nervos (patologias). Nervos podem ser comprome-
tidos por problemas genéticos, infecções, toxinas, drogas, lesões físicas
ou mesmo por reações do próprio organismo. Neuropatias são classifi-
cadas de acordo com a causa e localização dos nervos que são afetados
ou pelas características da lesão.
UNIDADE
Cuidado
4
compartilhado às
PVHA nas redes de
atenção
APRESENTAÇÃO
159
AULA 1 – COMO
COMPARTILHAR O CUIDADO
ÀS PVHA
Por que compartilhar o cuidado? Com quem compartilhar?
Essas são perguntas que você pode fazer ao ler o título desta unidade.
Ou será que você, no seu dia a dia, já realiza esse cuidado compartilha-
do? Certamente que sim!
160
A Portaria GM/MS n. 4.279, de 30 de dezembro de 2010 (BRASIL, 2010a),
estabeleceu diretrizes para a organização da RAS no âmbito do SUS, e
o decreto 7.508, de 2011 (BRASIL, 2011), define Rede de Atenção à Saú-
de como o conjunto de ações e serviços de saúde articulados em níveis
de complexidade crescente, com a finalidade de garantir a integralidade
da assistência à saúde. Desse modo, as RAS estarão compreendidas no
âmbito de uma Região de Saúde, ou de várias delas, em consonância
com diretrizes pactuadas nas Comissões Intergestores Regionais (CIR)
ou estaduais (CIB).
a) Rede Cegonha
b) Rede de Urgência e Emergência (RUE)
c) Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para as pessoas com
sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decor-
rentes do uso de crack, álcool e outras drogas
d) Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiências (Viver Sem
Limites)
e) Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas
161
A estrutura operacional das RAS é composta pelo(s):
a) centro de comunicação, a APS;
b) pontos de atenção à saúde, secundários e terciários;
c) sistemas de apoio diagnóstico e terapêutico, de assistência
farmacêutica, de teleassistência e de informação em saúde;
d) sistemas logísticos (registro eletrônico em saúde, sistemas de
acesso regulado à atenção e sistemas de transporte em saúde);
e) sistema de governança da RAS (BRASIL, 2015b).
Ou seja, as RAS exigem todo o aparato tecnológico da estrutura
de serviços do sistema de saúde, tendo a Atenção Primária
como a coordenadora do cuidado produzido.
Para que a RAS cumpra seu papel, é imprescindível que a Atenção Primá-
ria à Saúde (APS) esteja organizada, coordenando o cuidado, responsá-
vel pelo fluxo do usuário na Rede de Atenção à Saúde.
162
4) A coordenação refere-se à capacidade de garantir a continuidade da aten-
ção, por meio da equipe de saúde, com o reconhecimento dos problemas
que requerem seguimento constante e se articula com a função de centro de
comunicação das RAS.
5) A focalização considera a família como o sujeito da atenção, o que exige intera-
ção da equipe de saúde com essa unidade social e o conhecimento integral de
seus problemas de saúde e das formas singulares de abordagem familiar.
163
Antes de apresentar o material produzido pelo Ministério da
Saúde sobre as linhas de produção de cuidado específicas para
PVHA, convidamos você a visitar o Caso 4 – Uma história a ser
compartilhada, da usuária Jacira, no AVASUS. Posteriormente
à leitura, reflita e registre suas respostas sobre as questões
relacionadas a seguir, de modo a subsidiar o exercício que
propomos adiante.
QUESTÕES
a) Quanto à situação de Jacira, que vulnerabilidades ela enfrenta?
Tente identificar as situações de vulnerabilidades quanto aos
tipos abordados durante o curso (individual, programática e
social).
b) Considerando a análise da situação de Jacira, identifique
quais ações podem ser realizadas na USF para atender suas
necessidades de cuidado.
c) Além das ações específicas ofertadas pela equipe da USF,
que outras iniciativas podem ser articuladas fora da Unidade?
d) Qual é o papel da equipe de Atenção Básica na produção
do cuidado à Jacira?
e) Que estratégias de articulação a equipe da USF pode desen-
cadear com outros pontos de atenção da rede para promover
o cuidado à Jacira?
f) Que outros serviços a equipe da USF identifica para assegurar
o cuidado integral à Jacira?
g) Quais os profissionais que são fundamentais para assegurar
esse cuidado à Jacira?
Agora que você já fez suas anotações reflexivas sobre o caso de Jacira,
pedimos que acesse a coletânea “HIV/AIDS na Atenção Básica: Material
para Profissionais de Saúde e Gestores” no link <http://www.aids.gov.
br/en/node/64662> para realizar a leitura do manual Cinco passos para
implementação da linha do cuidado para PVHA, especialmente o 2º e 4º
passo, e o manual Cinco passos para a construção da linha do cuidado
para PVHA, especialmente o 4º passo.
164
Se quiser saber mais sobre como qualificar o cuidado às PVHA,
recomendamos a leitura do material instrucional do Ministério
Cuidado integral às pessoas que vivem com HIV na Atenção Básica,
disponível na Biblioteca virtual de saúde ou diretamente no
link http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2016/cuidado-integral-
pessoas-que-vivem-com-hiv-pela-atencao-basica.
E agora que você exercitou como se daria o cuidado à Jacira
em sua Unidade de Saúde, convidamos à leitura sobre a cons-
trução de um Projeto Terapêutico Singular (PTS) por uma
equipe de saúde. Para tanto, veja a matéria Clínica Ampliada e
Compartilhada na Biblioteca virtual, ou clique no link a seguir:
http://www.redehumanizasus.net/sites/default/files/10_0379_
165
do HIV a partir de junho de 2014, quando esta passou a integrar a Lista
Nacional de Notificação Compulsória. Isso reforça a necessidade de arti-
cular as ações de vigilância às ações de atenção à saúde para se alcançar
êxito na integralidade da produção do cuidado.
DEFINIÇÃO DE CASO
AIDS criança: pacientes menores de 13 anos (CID – B24)
Critério CDC adaptado -> Evidência de diagnóstico de infecção
pelo HIV por teste sorológico (de triagem, confirmatório e Teste
Rápido) ou virológico, de acordo com idade atual da criança
+ Diagnóstico de, pelo menos, uma doença indicativa de imu-
nodeficiência de caráter moderado ou grave e/ou Contagem
de linfócitos T CD4+ menor do que o esperado para a idade
atual da criança (ver Ficha de notificação de aids em menores
de 13 anos).
AIDS adulto: pacientes maiores de 13 anos (CID – B24)
Critério CDC adaptado -> Evidência de diagnóstico de infecção
pelo HIV por teste sorológico (de triagem, confirmatório e
Teste Rápido) ou virológico + Evidência de imunodeficiência:
diagnóstico de, pelo menos, uma doença indicativa de aids
(ver Ficha de notificação de aids em maiores de 13 anos) e/ou
Contagem de linfócitos T CD4+ < 350 células/mm3.
Critério Rio de Janeiro/Caracas -> Evidência de diagnóstico de
infecção pelo HIV por teste sorológico (de triagem, confirmatório
e Teste Rápido) ou virológico + Somatório de, pelo menos, 10
pontos, de acordo com a escala de sinais, sintomas ou doen-
ças (ver Ficha de notificação de aids em maiores de 13 anos).
Gestante HIV (CID – Z21)
Entende-se por gestante HIV positiva aquela em que for detec-
tada a infecção por HIV ou as que já têm o diagnóstico con-
firmado como aids. Para tanto, não se espera a realização de
testes confirmatórios.
166
Para ter acesso às fichas, consulte o Portal do SINAN (http://portalsinan.
saude.gov.br); em seguida, clique em Doenças e agravos, cuja página exi-
be a relação de doenças e agravos de notificação compulsória por ordem
alfabética. Ao clicar em AIDS criança, por exemplo, você verá no item Ins-
trumentos para registro e análise, a Ficha de notificação/investigação,
o Instrucional de preenchimento e o Dicionário de dados.
167
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta Unidade 4, apresentamos o conteúdo para você refletir e apren-
der junto com sua equipe da Atenção Básica a coordenar o cuidado às
PVHA de forma articulada e integrada às Redes de Atenção à Saúde, as
RAS. Para isso, apresentamos alguns documentos que regulamentam as
RAS no nosso sistema de saúde, o SUS, e abordamos conceitos que nor-
teiam a Atenção Primária à Saúde. Apresentamos também alguns dis-
positivos da Política Nacional de Humanização da Gestão e da Atenção
que ajudam a refletir e produzir mudanças nos processos de trabalho na
perspectiva da produção do cuidado integral, como a Clínica Ampliada e
Compartilhada e o Projeto Terapêutico Singular (PTS).
Agora que o curso terminou, você terá mais condições de, junto com a
sua equipe, organizar melhor a forma de cuidar das PVHA em sua Unida-
de de Saúde. Estimulamos você a revisitar as histórias em quadrinhos e
refletir junto com sua equipe sobre esses casos, no sentido de qualificar
o cuidado às PVHA. Vamos lá? Você está pronto para promover o cuida-
do integral e compartilhado aos usuários que lhe esperam! Compartilhe
suas inquietações produzidas durante o curso com colegas de trabalho
para aquecer a rede de produção de cuidados no SUS.
168
REFERÊNCIAS
169
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departa-
mento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente
Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Cinco passos para
a implementação das linhas de cuidado para Pessoas Vivendo com
HIV/aids. Brasília: Ministério da Saúde, 2017b.
170
Apêndices
APÊNDICE A
DESAFIOS PARA MANTER
ADESÃO AO TRATAMENTO
ANTIRRETROVIRAL PARA
PESSOAS QUE VIVEM COM
HIV/AIDS
Carla Glenda Souza da Silva
Psicóloga, Ms. em Ciências da Saúde pela UFRN
172
Ao longo de 14 anos de experiência na área de atenção à PVHA, tive
oportunidade de vivenciar mudanças significativas no cenário brasileiro
na gestão da política de DST/HIV/aids e hepatites virais, a saber:
174
Melchior et al. (2007, p. 89-90) classificam as dificuldades referentes à
adesão ao tratamento de pacientes com HIV/aids em uso de antirretro-
virais da seguinte forma:
Exemplos: “[...] eu tinha que tomar escondido dos outros... (no trabalho)
acham que é câncer, mas ninguém pode saber” (mulher, idade não infor-
mada, baixa adesão, não informou o tempo de tratamento);
“não tomei porque bebi cerveja... não, eu não perguntei pro médico se
podia..., eu não costumo tomar cerveja, nada, mas fim de ano é uma
data especial. Então eu tenho medo de misturar, eu acabo deixando ele
[o medicamento] de lado se eu vou tomar alguma bebida alcoólica... essa
dúvida [da bebida] não tirei ainda” (mulher, 28 anos, alta adesão, um ano
e seis meses de tratamento).
Exemplos: “É, inclusive esse remédio aí, eu cheguei numa fase que eu
não conseguia nem olhar para ele, e ele é de geladeira, eu não conse-
guia, são seis comprimidos cada dose” (mulher, 30 anos, média adesão,
um ano e seis meses de tratamento);
“Aí, tu fala: já passou uma hora, mais aí se eu tomo já vai ficar perto da
outra dose. Aí eu já não tomo” (homem, 34 anos, alta adesão, quatro
anos de tratamento).
175
tituem, contudo, podem ser aperfeiçoadas. Isso porque o público-alvo
é variável, e necessita-se moldar tais estratégias às necessidades dos
usuários em aspectos como: nível socioeconômico, cultural, educacional
e cognitivo. É importante destacar também que, devido à necessidade
de adaptação ao contexto de vida do usuário, este deve ser estimulado
ao autocuidado e à responsabilidade com seu tratamento. Portanto, ele
precisa se perceber como protagonista da sua história.
176
mentos tidos como negativos no que tange à adesão ao tratamento, a
fim de possibilitar ao paciente decidir por sua realização ou não. Tra-
balha-se as atitudes a partir do fornecimento de informações gerais
sobre a relação comportamento-saúde e a disponibilização de infor-
mações gerais sobre as consequências materiais dos comportamen-
tos. Trabalha-se as normas subjetivas a partir de informações sobre o
comportamento dos outros, propiciando informações sobre a aprova-
ção dos outros (familiares e amigos quanto à tomada da medicação)
e proporcionando oportunidades para comparação social (compara-
ção com outros portadores do mesmo agravo). Trabalha-se a percep-
ção de controle comportamental, ou seja, utiliza-se argumentos que
visam ao reforço da autoeficácia1 e adesão. Nesse caso, estabelece-se
diálogo favorável para que o usuário exponha suas dúvidas quanto à
capacidade de ser responsável pelo seu tratamento e, a partir daí, se
reconstruir a ideia de autoeficácia e reforço, assim como se fornecem
instruções (dicas), a partir do conhecimento adquirido, de como os
pacientes podem ser capazes de manter-se aderentes ao tratamen-
to, tomando a medicação e/ou realizando atividades de autocuidado
(ROCHA et al., 2009; MOUTINHO; ROAZZI, 2010).
177
1) relativas ao paciente – visam proporcionar o conhecimento do
paciente em relação à aids e ao tratamento, além de trabalhar suas
percepções, atitudes e crenças;
178
REFERÊNCIAS
179
FERNANDES, Ana Paula M. et al. Lipodistrofia em Portadores do HIV. Jor-
nal Brasileiro de Aids. São Paulo, v. 6, n. 3, p. 97-99, maio/jun. 2005.
180
PADOIN, Stela M. M. Fatores associados à não adesão ao tratamento
antirretroviral em adultos acima de 50 anos que têm HIV/Aids. Jornal
Bras. Doenças Sexualmente Transmissíveis. v. 23, n. 4, p. 194-197,
2011.
181
APÊNDICE B
ACONSELHAMENTO
FARMACÊUTICO PARA USO DA
TARV
Daniel Coelho
Vamos dar uma olhada nas interações mais relatadas para os antir-
retrovirais de 1ª e 2ª linha?
182
Metformina, cimetidina, ranitidina, procainamida, flecainida, quinidina –
aumento das concentrações plasmáticas e maior risco de efeitos adversos.
Dolutegravir (DTG)
183
Fármacos contendo cátions polivalentes reduzem a absorção do DTG,
temos como exemplos – hidróxido de alumínio, carbonato de cálcio,
sulfato ferroso, polivitaminas. Sendo necessário seu uso, oriente para a
tomada do DTG 2 h antes ou 6 h após o medicamento contendo cátions
polivalentes.
Metformina – tem seu efeito e níveis séricos aumentados pelo DTG, por
redução do clearance renal. Cuidado para o ajuste de dose da metfor-
mina.
Lopinavir/Ritonavir (LPV/r)
DIAGNÓSTICO
A apresentação clínica da tuberculose em pacientes HIV positivos é
diretamente influenciada pelo grau de imunossupressão (contagem de
linfócitos T CD4). Devido à maior frequência de apresentações extra-
pulmonares e formas disseminadas em pessoas infectadas pelo HIV,
a investigação pode requerer a realização de procedimentos invasivos
para coleta de espécimes clínicos, como líquido pleural, líquor ou biópsia
de órgãos sólidos (por exemplo, linfonodos e pleura), quando indicado.
185
mões. Assim, a radiografia de tórax mostra infiltrado em lobos superio-
res com ou sem cavitação (PERLMAN et al., 1997) ou derrame pleural,
que pode ser mensurado pela ultrassonografia de tórax. Cabe ressaltar
que pacientes infectados pelo HIV com tuberculose pulmonar tendem a
apresentar mais comumente perda de peso e febre, assim como menos
tosse e hemoptise quando comparados àqueles não infectados pelo HIV
(WHO, 2004).
186
ponto de vista epidemiológico, já que os casos bacilíferos são os respon-
sáveis pela manutenção da cadeia de transmissão.
• tosse por tempo igual ou superior a duas semanas (em PVHIV, reco-
menda-se o período de duas semanas para definição de sintomático res-
piratório);
187
No momento da coleta e número de amostras, o diagnóstico deve ser
feito a partir de, pelo menos, duas amostras de escarro, sendo a primeira
geralmente coletada no momento da consulta, para aproveitar a presen-
ça do doente. Já a segunda amostra deve ser coletada no dia seguinte,
preferencialmente ao despertar. Esta, geralmente, é abundante porque
provém das secreções acumuladas na árvore brônquica durante a noite.
188
TRATAMENTO
A tuberculose é uma doença curável em 100% dos casos novos, que não
apresentam resistência aos medicamentos. A associação medicamen-
tosa adequada, as doses corretas e o uso por tempo suficiente são os
princípios básicos para o tratamento, evitando a persistência bacteriana
e o desenvolvimento de resistência aos fármacos e, assim, asseguran-
do a cura do paciente. Uma vez iniciado o tratamento, ele não deve ser
interrompido, salvo após uma rigorosa revisão clínica e laboratorial que
determine mudanças de diagnóstico (LOPES, 2006).
Fonte: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em
Adultos (2013, p. 157). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pro-
tocolo_clinico_manejo_hiv_adultos.pdf>.
189
2.1 REAÇÕES ADVERSAS
As reações adversas mais frequentes apresentadas pelos pacientes
em tratamento para TB são: mudança na coloração da urina (ocorre
em todos os pacientes, em maior ou menor grau), intolerância gástrica
(40%), alterações cutâneas (20%), icterícia (15%) e dores articulares (4%).
Essas reações são consideradas menores, não requerendo a suspensão
do tratamento. O quadro 2 resume as reações adversas menores asso-
ciadas aos respectivos fármacos.
190
Quadro 3 – Reações adversas maiores ao tratamento antiTB.
191
2.2 SEGUIMENTO
Os cuidados adotados no seguimento do paciente coinfectado seguem
as mesmas recomendações gerais de um paciente com tuberculose,
com destaque para os sinais e sintomas que caracterizam a síndrome de
reconstituição imune, conforme texto específico que você será convida-
do à leitura logo mais. São eles:
• Consultas mensais;
192
2.3 TRATAMENTO DIRETAMENTE OBSERVADO
(TDO)
193
(300mg+300mg+ 600mg) 1 vez ao dia.
• Tb disseminada.
Fonte: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em
Adultos (2013, p. 157). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pro-
tocolo_clinico_manejo_hiv_adultos.pdf>.
194
INFECÇÃO LATENTE
POR MYCOBACTERIUM
TUBERCULOSIS
Identificar e tratar a infecção latente por M. tuberculosis nas PVHA é uma
estratégia importante para redução da morbimortalidade por TB, tendo
em vista que a quimioprofilaxia da ILTB com isoniazida reduz em 60 a
90% o risco de adoecimento.
2) Pacientes apresentando cicatriz radiológica de TB, sem história prévia de trata-
mento, desde que afastada a possibilidade de doença ativa, independente do
resultado da prova tuberculínica.
196
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departa-
mento de Vigilância Epidemiológica. Manual de recomendações para o
controle da tuberculose no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
197
Apêndice A – Raio x tórax com cavitação em lobo superior esquerdo, tubercu-
lose pós-primária. Arquivo pessoal da autora.
198
APÊNDICE D
PRÁTICAS CORPORAIS E
ATIVIDADES FÍSICAS PARA
PESSOAS VIVENDO COM HIV E
AIDS
Themis Cristina Mesquita Soares
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, ocorreram múltiplos movimentos de fortalecimento
da Atenção Básica (AB) e da Promoção da Saúde (PS) no Sistema Único
de Saúde (SUS), assim como a ampliação das práticas corporais e ativi-
dades físicas como um eixo de ação na saúde pública brasileira (CARVA-
LHO; NOGUEIRA, 2016).
199
O desenvolvimento de estratégias de intervenção tem sido essencial
para reverter esse quadro e oportunizar melhor qualidade de vida para
as pessoas que vivem com HIV/aids (PVHA). A atividade física (exercício
físico) é considerada a terapêutica mais comumente usada, constituindo
um importante coadjuvante no tratamento e auxiliando na recuperação
das alterações corporais e distúrbios metabólicos causados pela lipodis-
trofia. (YARASHESKI et al., 2001).
201
Outros estudos também sugerem uma associação entre os benefícios
psicológicos, notadamente pelo seu impacto positivo, e melhorias em
aspectos cognitivos, como autoestima, imagem corporal, aumento das
percepções de controle, autoeficácia pessoal e melhoria da autoconfian-
ça (DUDGEON et al., 2004).
Sob outro olhar, Souza (2014) investigou o papel das práticas corporais
como elemento impulsionador da reestruturação da imagem corporal
das mulheres vivendo com aids, as quais têm o corpo marcado pela
doença e a vida marcada pela não aceitação de si mesmas. Essa rees-
truturação deu-se no encontro do corpo-sujeito que emergiu do tra-
balho corporal como arte e não como processo terapêutico. O estudo
teve uma duração investigativa de dois anos e foram distribuídos em
quatro dias destinados à musculação, práticas de consciência corpo-
ral e atividades aquáticas e/ou em contato com a natureza. O estudo
concluiu que práticas corporais, entendidas como um processo auto-
formativo e forma permanente de autocuidado, favorecem a reestru-
turação da imagem corporal levando-as a um nível de consciência de si
como presença no mundo.
202
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A integralidade da atenção, pensada em rede com foco na melhoria das
condições de vida e saúde da população é um esforço intersetorial e
as intervenções através das práticas corporais e atividades físicas aliada
ao tratamento de PVHA são consideradas positivas. Nessa perspectiva,
a intersetorialidade é compreendida no campo de práticas sociais e as
intervenções possuem um sentido articulador. O princípio da inclusão
busca romper com as abordagens verticais e evidenciam elementos de
que o desejo de se articular e interagir podem ativar novas formas de
construir práticas positivas para melhorar a condição de vida da popula-
ção (MENDES; PEZZATO; SACARDO, 2016).
203
REFERÊNCIAS
ANDRADE, L. O. M.; BARRETO, I. C. H. C.; BEZERRA, R. C. Atenção primária
à saúde e estratégia saúde da família. In: CAMPOS, G. W. S. et al. (Org.).
Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo, Rio de Janeiro: Hucitec, Abrasco,
2006. p. 783-836.
LIRA, V. A. Atividade física e a infecção pelo HIV: uma análise crítica. Rev
Bras Med Esporte. v. 5, p. 99-107, 1999.
205
MAIA, U. M. C. HIV AIDS: Percepção subjetiva de esforço, resposta afetiva
e estado de humor em sessão de exercício aeróbico. 2014. 95 f. Disser-
tação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Pro-
grama de Pós-graduação em Saúde e Sociedade, Mossoró, 2014.
207
APÊNDICE E
INFECÇÕES OPORTUNISTAS
RELACIONADAS AO HIV (IOS)
Mônica Bay
Médica Infectologista, Mestre em Saúde Coletiva, Coordenadora do ambulatório de
ensino em HIV/Aids da UFRN.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de candidíase oral é clínico, sendo a cultura de material
dessas regiões pouco útil em razão da presença do fungo como comen-
sal nas mucosas. Suspeita-se da presença de candidíase esofágica quan-
do o paciente apresenta disfagia ou odinofagia associada a candidíase
oral. A endoscopia digestiva alta (EDA) é indicada apenas para casos
que apresentam persistência de sintomas após tratamento antifúngico,
quando é necessário excluir outras causas de esofagite, como doença
citomegálica, ou outras causas de úlcera esofágica.
208
TRATAMENTO
Candidíase orofaríngea
Formas leves podem ser tratadas com fluconazol 100 mg/dia por 7 a 14
dias OU nistatina suspensão oral (5 ml, gargarejar e engolir 4 a 5 vezes
ao dia). O fluconazol é a medicação de escolha para formas mais graves
de candidíase, em razão da menor recidiva.
Candidíase esofágica
DIARREIA CRÔNICA
Quadros de diarreia crônica são achados comuns em pacientes HIV posi-
tivos que não fazem uso de TARV. Embora frequentemente de origem
multifatorial, dois protozoários merecem destaque como causadores de
diarreia nessa população, Cryptosporidiumparvum e Isospora belli. Ambos
são parasitas intracelulares intestinais, transmitidos através da ingestão
de água ou alimentos contaminados, sendo o Cryptosporidium também
transmitido por contato sexual oral-anal. Os pacientes apresentam qua-
dro severo de diarreia líquida, aquosa, acompanhada de cólicas abdomi-
nais, anorexia, vômitos, desidratação e náusea, podendo ocorrer febre.
Os sintomas podem ser cíclicos, com fases de melhora e piora, persistin-
do por meses, evoluindo para quadros graves de perda de peso e desi-
dratação com insuficiência renal. Essa apresentação é mais frequente
em pacientes com LT-CD4 < 100 células/mm3.
209
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é feito através da identificação de oocistos nas fezes, com
utilização de coloração de Ziehl-Nielsen modificada. Esse exame não é
realizado rotineiramente quando se solicita o parasitológico de fezes,
sendo necessário especificar a necessidade da pesquisa de Cryptospori-
dium e Isosopora ao laboratório no momento da solicitação. Podem ser
necessárias várias amostras de fezes.
TRATAMENTO
Para a criptosporidiose, a TARV com reconstituição imune é o único tra-
tamento efetivo em controlar a diarreia. Para isosporíase, utiliza-se sul-
fametoxazol + trimetroprima 800+160mg de 2 a 4 vezes ao dia, por 10
dias, podendo-se estender o tratamento por até 4 semanas. A profilaxia
secundária é recomendada na isosporíase com sulfametoxazol + trime-
troprima 800+160 mg 1 vez ao dia.
NEUROTOXOPLASMOSE (NTX)
A toxoplasmose é a causa mais comum de lesões neurológicas focais
com efeito de massa em pacientes infectados pelo HIV e LT-CD4+ inferior
a 200 células/mm3. É causada pelo protozoário Toxoplasma gondii e, em
geral, ocorre por reativação de infecção prévia em pacientes com sorolo-
gia IgG positiva. A apresentação clínica varia de acordo com a topografia
e quantidade de lesões cerebrais, usualmente cursando com cefaleia e
evolução insidiosa de sinais focais (dias ou semanas). Febre, convulsões
e alteração do estado mental podem estar presentes. Sinais focais como
hemiparesia, disfasia e outras alterações motoras são comuns, uma vez
que as lesões envolvem tipicamente gânglios da base.
DIAGNÓSTICO
Embora o diagnóstico definitivo de NTX envolva a detecção do agente
tecidual (taquizoítos) em biópsia cerebral, esta fica restrita aos casos que
não apresentaram melhora clínica ou em imagem de controle. Recomen-
da-se, portanto, que todas as PVHA que apresentem sinais clínicos
compatíveis e exame de imagem sugestivo de NTX sejam tratadas
empiricamente para essa infecção.
210
sua maior disponibilidade na rede. A ressonância nuclear magnética é
mais sensível para identificar lesões, especialmente quando localizadas
em fossa posterior. Sua utilização para diagnóstico de NTX é reserva-
da para casos que apresentem manifestações clínicas de lesões focais,
porém com TC de crânio normal (LEVY, 1990; LUFT, 1993).
TRATAMENTO
O tratamento de escolha consiste na associação de sulfadiazina 1.000
mg (peso < 60 kg) a 1.500 mg (peso ≥ 60 kg) a cada seis horas e pirime-
tamina 200 mg no primeiro dia, seguida de 50 mg/dia (peso < 60kg) a 75
mg/dia (peso ≥ 60 kg) + ácidofolínico 10 mg/dia por seis semanas. Após
esse período de tratamento, deve-se prescrever terapia de manutenção
(ver profilaxia secundária de toxoplasmose).
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico presuntivo de PCP baseia-se em dados clínicos, laborato-
riais e de imagem compatíveis com a infecção. O Quadro 1 reúne crité-
rios sugestivos de PCP.
212
6) Hipoxemia em repouso ou após esforço.
TRATAMENTO
A escolha do regime terapêutico é guiada pela gravidade clínica do
paciente. Assim, para fins terapêuticos, classifica-se a pneumonia em
leve a moderada ou grave.
213
A associação de corticosteroides ao tratamento de PCP moderada a gra-
ve apresentou redução importante na mortalidade. As indicações e for-
mas de uso da corticoterapia estão apresentadas a seguir:
CRIPTOCOCOSE
A criptococose é uma das infecções fúngicas sistêmicas mais comuns
no paciente imunodeprimido pelo HIV. A meningite é a principal forma
de acometimento pelo Cryptococcus neoformans e entre seus sintomas
mais comuns estão cefaleia e febre. Sinais meníngeos são observados
em menos da metade dos casos e, na presença de hipertensão intra-
craniana (HIC), vômitos, diplopia, confusão mental, coma e papiledema
podem estar presentes. Além disso, pode haver envolvimento pulmo-
nar (infiltrado pulmonar difuso ou nodular, derrame pleural) e cutâneo
com pápulas umbilicadas semelhantes às lesões de molusco contagioso.
Alguns fatores clínicos e laboratoriais associados com pior prognóstico
na meningite criptocócica estão listados no Quadro 2.
214
1) Contagem de leucócitos <20 células/μL no líquor.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico e tratamento precoces da meningite criptocócica são os
principais fatores relacionados à redução de mortalidade. Nesse contex-
to, a Punção lombar (PL) diagnóstica deve ser sempre realizada na sus-
peita clínica de meningite criptocócica e ausência de contraindicações ao
procedimento.
TRATAMENTO
O tratamento da meningite criptocócica é realizado em três fases:
3) Manutenção (até paciente assintomático e LT-CD4+ > 200 células/mm3 por pelo
menos seis meses): fluconazol VO 200 mg/dia.
215
A insuficiência renal é um dos principais eventos adversos relacionados
ao uso de anfotericina B desoxicolato e está, na maioria dos casos, asso-
ciada à hipocalemia. Deve ser monitorada com dosagem de creatinina,
ureia, sódio e potássio séricos pré-tratamento e duas vezes por semana
durante tratamento.
DOENÇA CITOMEGÁLICA
O citomegalovírus (CMV), assim como outros vírus da família Herpes
vírus, permanece em estado latente após a infecção primária. No contex-
to da infecção pelo HIV, o risco de reativação da doença se eleva quando
o LT-CD4+ atinge níveis inferiores a 100 células/mm3, sendo que aproxi-
madamente 80% dos casos são observados em pacientes com LT-CD4+
inferiores a 50 células/mm3. Assim, o diagnóstico precoce da infecção
pelo HIV e a adesão à TARV são importantes fatores para prevenção da
ocorrência de reativação da doença citomegálica.
216
CMV NO APARELHO DIGESTIVO
As manifestações clínicas de citomegalovirose do aparelho digestivo são
inespecíficas e podem se assemelhar a outras doenças oportunistas. Os
locais mais comumente acometidos são esôfago e cólon. Ademais, os
pacientes podem apresentar dor epigástrica, diarreia com presença de
sangue, emagrecimento e adenomegalias disseminadas. O diagnóstico
é sugerido pelo aspecto endoscópico de ulceração clássica da mucosa e
confirmado mediante biópsia identificando células com inclusão intra-
nuclear (“olhos de coruja”). Testes para detectar viremia do CMV (PCR ou
antigenemia) não são bons preditores de doença ativa ou recorrência
em PVHIV, e não se recomenda tratar viremia na ausência de evidência
de lesão orgânica.
TRATAMENTO
O tratamento de primeira escolha é a administração endovenosa de
ganciclovir 5 mg/kg a cada doze horas, por 14 a 21 dias. Alternativa-
mente, recomenda-se foscarnet 60 mg/kg a cada oito horas ou 90 mg/
kg a cada doze horas, por 14 a 21 dias. Após o término da fase de indu-
ção, recomenda-se terapia de manutenção com ganciclovir 5 mg/kg/dia
ou, alternativamente, foscarnet 90 mg/kg/dia. A interrupção da profilaxia
secundária deve ser considerada para pacientes com elevação sustenta-
da da contagem de LT-CD4+ > 100-150 células/mm³ durante pelo menos
seis meses de TARV.
HISTOPLASMOSE
A histoplasmose no Brasil é causada pelo fungo Histoplasma capsulatum,
cuja infecção se dá por inalação de esporos presentes no solo, particu-
larmente em ambientes ricos em fezes de aves e morcegos. A doença
pode ocorrer por infecção primária ou por reativação endógena e sua
apresentação clínica varia de acordo com o grau de comprometimento
imunológico (UNIS, 2004).
217
úlceras. O achado de pancitopenia é frequente, sendo menos comum o
comprometimento osteoarticular, gastrintestinal e do sistema nervoso
central (FERREIRA, 2009).
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico laboratorial é feito por cultivo micológico e/ou exame his-
topatológico de espécimes obtidos por raspado ou biópsia de lesões, lin-
fonodos ou medula óssea. Os métodos de coloração de Gomori/ Grocott
e isolamento em cultura apresentam boa precisão diagnóstica. Ressal-
ta-se que exames de cultura de sangue, amostras respiratórias e outros
tecidos, especialmente medula óssea, são padrão-ouro para o diagnósti-
co da histoplasmose. Esfregaço de sangue periférico e de medula óssea
podem mostrar pequenas leveduras no interior dos fagócitos quando
corados com Giemsa e testes sorológicos, como imunodifusão, revelam
anticorpos anti-H. capsulatum em cerca de 60% dos pacientes. A pesqui-
sa de antígenos na urina e a detecção molecular do fungo apresentam
elevada sensibilidade, custo alto e são pouco disponíveis no Brasil (WHE-
AT, 2007).
TRATAMENTO
A escolha do regime terapêutico deve ser orientada pela gravidade clíni-
ca. Assim, para fins de escolha do tratamento, classificam-se as formas
clínicas em leve a moderada ou moderada a grave.
Fases do tratamento
218
2) Consolidação (por pelo menos 12 meses): itraconazol 200 mg duas
vezes ao dia. Após 12 meses de consolidação, deve-se considerar mudan-
ça para a fase de manutenção (profilaxia secundária) em pacientes com
cura clínica e sem sinais radiológicos e sorológicos de doença ativa.
219
REFERÊNCIAS
LEVY, R. M. et al. The efficacy and clinical impact of brain imaging in neu-
rologically symptomatic AIDS patients: a prospective CT/MRI study. J.
Acquir. Immune Defic. Syndr., [S.l.], v. 3, p. 461, 1990.
LUFT, B. J. et al. Members of the ACTG 077p/ANRS 009 Study Team. Toxo-
plasmic encephalitis in patients with the acquired immunodeficiency
syndrome. N. Engl. J. Med., [S.l.], v. 329, p. 995, 1993.
220
PORTER, S. B.; SANDE, M. A. Toxoplasmosis of the central nervous system
in the acquired immunodeficiency syndrome. N. Engl. J. Med., [S.l.], v.
327, p. 1643, 1992.
221
APÊNDICE F
NUTRIÇÃO NO CONTEXTO DO
HIV/AIDS
Tatiane Andreza Lima da Silva
Nutricionista, linha de pesquisa no contexto de alterações metabólicas no HIV
DAVIDHZAR, R; DUNN, C. Nutrition and the client with AIDS. J Pract Nurs, USA,
v. 48, n. 1, p. 16-25, 1998.
222
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO ESTADO
NUTRICIONAL
223
No contexto da PVHA, devemos considerar tanto os fatores clássicos que
determinam o consumo alimentar (como renda e escolaridade), como
também a existência de características peculiares, por parte dos indiví-
duos infectados, como crenças, tabus ou desconhecimento do impacto
do vírus e os efeitos adversos ao tratamento em curto e em longo prazo,
uma vez que esses fatores podem contribuir para o desenvolvimento de
práticas alimentares inadequadas (BRASIL, 2006).
Em pessoas que vivem com HIV, além da observação clínica para a pre-
sença de sinais e sintomas associados à desnutrição, deve-se avaliar e
monitorar as mudanças corpóreas, como perda de gordura periférica
dos membros superiores e inferiores, diminuição da circunferência das
coxas, aumento das mamas em mulheres, perda de gordura nas laterais,
dobras nasolabiais e têmporas da face, por serem sinais da síndrome
lipodistrófica (SMIT; TANG, 2000).
224
A terapia antirretroviral, particularmente a com inibidor de protease (IP),
tem sido associada com alterações relacionadas à distribuição de gor-
dura corporal e a vários fatores de risco metabólicos (CARR, 2003). Entre
as alterações associadas ao vírus e às terapias antirretrovirais, as altera-
ções na distribuição de gordura corporal e no metabolismo glicêmico e
lipídico caracterizam a chamada Síndrome Lipodistrófica associada ao
HIV (SLHIV), a qual está relacionada a distúrbios metabólicos, como o
hipermetabolismo e a alteração na oxidação de substratos energéticos
(SAFRIN; GRUNFELD, 1999; VALENTE et al., 2005).
225
ção de hábitos adequados e estar pronto para escutar as dificuldades
enfrentadas pelo indivíduo para que, por meio do vínculo, ocorra a efe-
tiva adesão ao tratamento como um todo (BRASIL, 2006). A adesão é
um processo multifatorial que inclui aspectos físicos, sociais, culturais e
comportamentais que envolvem decisões compartilhadas entre as PVHA
e a equipe de saúde, devendo ser compreendida como a aceitação das
adaptações necessárias a essa nova condição de saúde no que diz res-
peito à administração correta dos medicamentos, à adoção de hábitos
alimentares saudáveis, à prática de exercícios físicos regulares, entre
outros (BRASIL, 2007).
226
REFERÊNCIAS
227
FISBERG, R. M.; MARCHIONI, D. M. L.; COLUCCI, A. C. A. Assessment of
food consumption and nutrient intake in clinical practice. Arq Bras Endo-
crinol Metab., v. 53, n. 5, p. 617-624, 2009.
FRANCISCI, D. et al. HIV type 1 infection, and not short-term HAART, indu-
ces endothelial dysfunction. AIDS, England, v. 23, n. 5, p. 589-596, 2009.
228
PAULA, E. P. et al. Considerações nutricionais para adultos com HIV/
Aids. Revista Matogrossense de Enfermagem, v. 1, n. 2, p. 148-165,
2010. Disponível em: <www.portaldeperiodicos.uned.edu.br/index.php/
REMENFE>. Acesso em: 02 mar. 2018.
RUDICH, Assaf et al. The HIV protease inhibitor nelfinavir induces insulin
resistance and increases basal lipolysis in 3T3-L1 adipocytes. Diabetes,
v. 50, n. 6, p. 1425-1431, 2001.
229
TRIANT, V. A. et al. Increased acute myocardial infarction rates and car-
diovascular risk factors among patients with human immunodeficiency
virus disease. J Clin Endocrinol Metab, v. 92, n. 7, p. 2506-2512, 2007.
230
APÊNDICE G
SÍNDROME INFLAMATÓRIA DA
RECONSTITUIÇÃO IMUNE
André Prudente
231
SURGIMENTO DE DOENÇAS NÃO
DIAGNOSTICADAS PREVIAMENTE
Fator de Risco
232
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO
O período em que as manifestações clínicas surgem é bastante variável.
Contudo, a grande maioria dos casos se manifesta em poucos dias a 6
meses após iniciar a TARV (WALKER et al., 2015). Os sinais e os sintomas
variam conforme a etiologia. O Quadro 2 mostra as principais causas e
suas apresentações clínicas.
233
O diagnóstico é eminentemente clínico e deve ser considerado todas as
vezes em que houver novos sinais/sintomas ou piora dos preexistentes.
Por vezes, o desafio é diferenciar efeitos colaterais dos medicamentos
em uso e quadro clínico de SIRI (MANZARDO et al., 2015).
MANEJO E PROGNÓSTICO
A mortalidade relacionada à SIRI varia conforme a manifestação clínica,
a agilidade no diagnóstico e a qualidade na assistência (WALKER et al.,
2015), sendo maior nas síndromes que acometem o sistema nervoso cen-
tral e menor nas apresentações cutâneas (LETANG et al., 2013; MÜLLER et
al., 2010). Quando o manejo é adequado, o prognóstico costuma ser bom.
235
HIV CLINICAL RESOURCE. New York State Department of Health AIDS
Institute. Antiretroviral Therapy: When to Initiate. Disponível em:
<http://www.hivguidelines.org/clinical-guidelines/adults/antiretroviral-
therapy/>. Acesso em: 15 set. 2016.
236
MÜLLER, M. et al. IeDEA Southern and Central Africa. Immune
reconstitution inflammatory syndrome in patients starting antiretroviral
therapy for HIV infection: a systematic review and meta-analysis.
Lancet Infect Dis., v. 10, n. 4, p. 251-261, 2010.
237
APÊNDICE H
ASSISTÊNCIA À GESTANTE
PORTADORA DE HIV
Lucia Calich
INTRODUÇÃO
O filho de uma mulher soropositiva para o HIV tem sem nenhuma medi-
da de proteção 25 a 30% de chance de aquisição do vírus.
Com a evolução dos estudos, a partir dessa época novas medidas foram
implantadas, proporcionando, com o apoio da equipe multidisciplinar
envolvida na assistência a essas gestantes, que a mulher que conseguir
aderir as medidas de prevenção recomendadas tenha hoje uma chance
de transmitir o vírus HIV para o seu filho durante a gravidez, parto e
puerpério inferior a 1%.
238
nor et al. (1994), algumas atualizações nessas ações de prevenção foram
implementadas no Brasil. Como parte desse processo, foi instituída, em
2011, a Rede Cegonha, estratégia que visa assegurar a todas as brasi-
leiras um atendimento adequado, seguro e humanizado pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), desde a confirmação da gravidez, passando pelo
pré-natal, parto e pós-parto, até a atenção infantil.
O vírus HIV pode ser transmitido para o feto durante toda a gestação,
porém, é sabido que no final da gestação e no parto o risco é mais eleva-
do. No puerpério, o HIV pode ser transmitido através do leite materno.
Como forma de minimizar os riscos da transmissão materno-infantil do
HIV, protocolos e regimes profiláticos têm sido estabelecidos com bene-
fícios comprovados, mas muitas vezes, são detectadas falhas em relação
a sua implementação e cumprimento.
2. MANEJO DA GESTANTE
239
nas ou com 30 dias se for referido comportamento de risco ou relação,
ou parceiro soropositivo para HIV. Se o primeiro teste for reagente e o
segundo não reagente, o resultado não é esclarecedor e deve ser cole-
tada amostra do sangue por veia periférica para realização de outros
exames, como Elisa e Western Blot. Se os dois testes rápidos forem rea-
gentes, a gestante será considerada como portadora do HIV.
240
junto com a equipe e a mulher gestante (BRASIL, 2018).
TRIMESTRE
EXAMES COMENTÁRIO
Inicial 1º 2º 3º
Hemograma X X X X
Tipagem sanguínea X X
Glicemia de jejum X X X X
Exame sumário de X X X X
urina e urocultura
242
Sorologia para Na primeira consulta, solicitar
Chagas dois métodos para detecção de
IgG conforme grupos de risco: 1)
pessoas residentes ou proceden-
tes de áreas de transmissão ativa
(vetorial ou oral); 2) pessoas que
habitam (ou tenham habitado) em
X áreas com presença de triatomí-
neo; 3) pessoas que tenham rece-
bido transfusão de sangue (hemo-
componentes) antes de 1992; 4)
filhos(as) de mães com doença de
Chagas; 5) pessoas com familiares
(outros que não a “mãe biológica”)
ou pessoas do convívio social que
tenham doença de Chagas.
243
VACINAÇÃO DA GESTANTE PORTADORA DO HIV
244
Integrase. Aumento de transaminases (TGO e TGP) tem sido relatada ao
uso de RAL em gestantes, reversível após suspensão (TAYLOR et al, 2011).
Contraindicação ao TDF:
AZT
TDF(300mg) + 3TC (300mg) dose única
Contraindicação ao RAL:
ATV/r
245
Medicação Eventos adversos Manejo
AZT
Anemia e neutropenia. O medicamento deve ser substituído
caso Hb < 10,0 g/dl/ou neutrófilos <
1.000 células/mm³.
Risco de toxicidade renal com Não iniciar TDF se doença renal pré-
elevação da ureia e creatinina. via, TFGe < 60ml/min ou insuficiên-
TDF cia renal. Usar com cautela se hiper-
Lesão renal aguda e Síndrome tensão não controlada, diabetes não
de Fanconi. tratada ou baixo peso corporal.
246
Náuseas, vômitos, diarreia, A ocorrência de icterícia pode afetar
exantema, cefaleia, tontura. a imagem e a autoestima do pacien-
te, devendo, portanto, ser cuidado-
samente avaliada e considerada a
suspensão do medicamento quando
houver desconforto para o paciente.
Em gestantes com carga viral (CV) com mais de 1000 cópias/ml após a
34ª semana de gestação ou CV desconhecida deverá ser programada a
interrupção da gestação por via alta na 38ª semana, para evitar o parto
prematuro e a rotura de membranas amnióticas com exposição do feto
ao HIV e consequente aumento do risco de transmissão vertical do HIV. As
gestantes com carga viral abaixo de 1000 cópias/ml após a 34ª semana de
gestação são elegíveis para realização do parto por indicação obstétrica.
247
USO DO AZT NO PARTO
O AZT por via endovenosa está indicado para todas as parturientes, exce-
to as que estiverem com a carga viral indetectável após a 34ª semana de
gestação. A medicação deve ser iniciada no início do trabalho de parto e
suspensa após o clampeamento do cordão umbilical.
40 kg 8 ml 36
50 kg 10 kg 37
60 kg 12 kg 37
70 kg 14 kg 38
80 kg 16 kg 39
90 kg 18 kg 39
40 kg 4 ml 35
50 kg 5 ml 35
60 kg 6 ml 35
70 kg 7 ml 36
80 kg 8 ml 36
90 kg 9 ml 36
Quadro 4 – Esquema posológico do AZT no parto
3. O PUERPÉRIO
A fórmula láctea infantil deve ser garantida pelo menos até a criança
completar 6 meses de idade, variando conforme a região, podendo ser
oferecida até 12 meses.
249
REFERÊNCIAS
250