Ivan Junqueira Simbolismo

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“Por derradeiro amigos de minha alma, por

derradeiro, a última, a melhor lição da minha


experiência. De quanto no mundo tenho visto,
o resumo se abrange nestas sete palavras:
Não há justiça onde não haja Deus.”
(Oração aos moços, discurso aos
bacharelandos de 1920 da
Faculdade de Direito de São Paulo.)
Da inquietação religiosa
de Rui Barbosa
J o ão d e Sc a n t im b u r g o

R ui Barbosa fez de sua vida um compromisso indissolúvel


com a liberdade e a verdade. Desde muito jovem, cultuou a
liberdade como um ídolo, e até os seus últimos dias, na Oração aos mo-
João de
Scantimburgo
é jornalista,
ensaísta,
ços exorta os afilhados da Faculdade de Direito (de São Paulo) a se historiador,
manterem firmes no plano da verdade. Liberdade e verdade são da autor de Tratado
geral do Brasil,
esfera da moral, constituindo o fundamento da fidelidade religiosa.
Introdução à
Destaco a verdade como signo da inquietação que fez Rui baldear-se filosofia de Maurice
do frontal desafio à conciliação com a Igreja. Lentamente, o indo- Blondel, No limiar
de novo humanismo.
brável apóstolo gravitou da heresia de O papa e o Concílio à Oração aos
moços, da negação do primado de Pedro e da infalibilidade do papa à
quase total conversão aos sacramentos da Santa Madre. Alma inqui-
eta no temporal e no espiritual, Rui erigiu a verdade como a senhoria
máxima de sua vida, e a defendeu com denodo, até mesmo apaixona-
damente. Creio que a verdade foi a força irresistível graças a cujo
pólo fulgurante, Rui se encaminhou para a Igreja. Rui sempre foi ca-
tólico. Não chegou a ser, como deve ser entendida a filiação à Igreja,
pela freqüência dos sacramentos.

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Jo ão de Sc anti mbu r g o

Procurei captar e fixar os grandes lances do drama religioso de


Rui. Nesse périplo encontrei-o opondo-se tenazmente à Igreja, ao
papado, aos dogmas, quando revelou incompreensão acerca do pa-
pel que o soberano pontífice desempenha no pastoreio do rebanho
dos fiéis. Em sua mocidade, fase da vida na qual despontou, im-
petuosa, a fibra do polemista, Rui não demonstrou interesse em co-
nhecer a Igreja, como instituição divina, e a missão que o Cristo lhe
cometeu. Ao contrário, seu primeiro trabalho, a tradução, com ex-
tenso prefácio, de O papa e o Concílio, refutou sua formação religiosa
no lar, mas desvendou a conquista de sua inteligência pelas idéias do
século, o agnosticismo, o naturalismo, o positivismo, o deísmo, que
tanto combateram a Igreja, identificada no papado e nos sacramen-
tos, negados e ofendidos até com veemência. Sobressai, no entanto,
da incansável atividade de Rui a sua inquietação religiosa.
Durante largo período de sua vida, não associou a Igreja à verda-
de. Não era, portanto, nessa fase da juventude e evolução para a ma-
turidade, crente no Depósito da Revelação, como o proclamou sem-
pre a Santa Madre. Na sua formação atuou, durante anos, o indivi-
dualismo emanado da Reforma. Sua obstinada recusa em aceitar a
infalibilidade procedia do livre exame protestante. Suas convicções
políticas, confessadamente liberais, revelavam o timbre do romantis-
mo político do século XIX. Seu moralismo intransigente bebeu nu-
trientes no jansenismo, ainda que nunca o revelasse, mas que está pa-
tente em sua vida. Para Rui, apóstolo da verdade, no Evangelho en-
contrava-se a resposta à sua inquietação religiosa, mas sem a ação vi-
cariante da Igreja. Rui se bastava, ou considerava bastar-se com os li-
vros santos nas mãos. Se o papado escamoteara a verdade, impu-
nha-se verberá-lo. Se a história da Igreja indigitava nódoas e impure-
zas, não aceitava que devesse atribuir suas imperfeições ao tributo
que todos pagamos ao pecado original, mas à instituição. Não ocor-
reu a Rui que a Igreja elevou à glória dos altares a galeria de seus san-

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Da in qu i etaç ão reli gi o sa de Ru i B a r bo s a

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Jo ão de Sc anti mbu r g o

tos e que uma simples e inculta mulher, Catarina de Siena, antes dele
apostrofara contra vícios o papa, com palavras fulminantes de ira
que não é maldade, como ele mesmo lembrou, citando o padre Ma-
nuel Bernardes. O apóstolo da verdade acabaria acalmando a sua in-
quietação religiosa se melhor tivesse conhecido a Igreja.
O papa e o Concílio revelou uma formidável erudição histórica sobre
a Igreja, uma acumulação de conhecimentos quase inverossímil em
jovem de vinte e seis anos. Mas, como procuramos expor, Rui não se
deixou ou resistiu ou se opôs à assimilação de sua privilegiada inteli-
gência pela doutrina da Igreja, como, até então, havia sido ela ensina-
da pelos padres, doutores e os papas. Daí a sua inquietação religiosa,
a hierarquia, a infalibilidade, a Imaculada Conceição e, em geral, os
dogmas. O apóstolo da verdade aceitava o Cristo, mas não aceitava o
seu Corpo Místico. Pode-se imaginar, à distância, em alma sensível,
em inteligência sequiosa da verdade, o que foi o seu drama íntimo,
os debates internos entre a sua abertura para o século e a herança ca-
tólica recebida no lar. O apóstolo da verdade lia assiduamente os
Evangelhos. Sabia, portanto, que o Cristo disse: “E conhecereis a
Verdade, e a Verdade vos libertará” (João, 8-12). E a sua pergunta
patética: “Se eu vos digo a verdade, porque não me vedes?” (João,
8-46). Mas, sobretudo, a soberana afirmação do Cristo: “Eu sou o
caminho, e a verdade, e a vida: ninguém vem ao Pai senão por mim”
(João, 14-6).
Rui não queria aceitar o Cristo da Igreja Romana, mas foi esse o
Cristo que fundou a Igreja Romana. Não houve, portanto, na vida
de Rui o embate da fé com a dúvida, mas da inquietude religiosa
com a Igreja visível, docente, a mãe e mestra dos povos, constituída
por Jesus Cristo para que, no decorrer dos séculos, todos quantos vi-
essem ao seu seio e aos seus braços encontrassem a salvação na pleni-
tude de uma vida mais elevada (João XXII, Mater et Magistra, I). Só
nos seus últimos dias, já no vestíbulo da morte, deu mostras de acei-

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Da in qu i etaç ão reli gi o sa de Ru i B a r bo s a

tar o magistério da Santa Madre Igreja e, pacificado, passou pela


porta estreita. Sabia o apóstolo da verdade “que estreita é a porta, e
que apertado o caminho, que guia para a vida; e que poucos são os
que acertam com ele” (Mat., 7-14). Rui acertou, mas faltou-lhe
tempo para conhecer a resplandecente casa do Pai da Bondade, ain-
da nos seus dias. Esse o sinal da inquietação religiosa de sua inteli-
gência fora de série, não pouco intoxicada pelos males do século,
pelo despreparo filosófico que não lhe permitiria fazer a triagem dos
erros que se infiltraram na civilização do século XXIII em diante,
em suma por uma doutrina religiosa que tem resposta para todas as
dúvidas.
Pode-se imaginar Rui nas madrugadas silenciosas de sua casa,
quando, antemanhã, como disse na Oração aos moços, ia ler e meditar,
ou quando rezava no seu genuflexório doméstico, procurando com-
preender o mistério, e não o compreendia, senão pela fé que a razão
não recusa. No fim da vida aproximou-se, e só não entrou em vida
na Igreja por ter parado no seu umbral. Mas a mão de Deus, certa-
mente, o tirou para dentro.

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Piedade, desenho de Cornélio Pena.
Reproduzido por Andrade Murici em seu
Panorama do movimento simbolista brasileiro (1952).
Simbolismo: origens e
irradição internacional
I v an Ju nq u e ir a

O que é um símbolo? Como, por quê e a partir de quando o


homem começou a se valer dos símbolos para expressar-se
no âmbito do sistema da língua? Parece-me que tais perguntas são
Conferência proferida
na Academia
Brasileira de Letras,
em 18 de setembro de
cruciais ao abordarmos a questão do simbolismo literário, que, na 2001, na abertura do
verdade, é tão antigo quanto a própria origem da linguagem. Do gre- ciclo O Simbolismo
e a poesia do século
go symbolon, que significa também “marca, sinal de reconhecimento, XX.
signo ou contra-senha”, o símbolo é, em sentido lato, um objeto, na- Ivan Junqueira é
tural ou cultural, que, por convenção, representa outro em relação ao poeta, ensaísta e
tradutor. Sua obra
qual é heterogêneo. Em primeiro lugar, o símbolo constitui um ob- poética está em Poemas
jeto natural, ou seja, produzido pela natureza, como o peixe, que reunidos (1999).
simboliza o Cristo, ou a coruja, que representa a filosofia, ou cultu- Traduziu, entre outras
obras, os Quatro
ral, isto é, produzido pelo trabalho humano, como o cetro, que sim- quartetos, Poesia e
boliza a realeza, ou a bandeira, que representa o país, a nação. Em se- Ensaios, de T. S. Eliot,
gundo lugar, o símbolo é um objeto que, por convenção e não por As flores do mal, de
Baudelaire, e Poemas
natureza, representa outro. Compreende-se assim que o símbolo não reunidos, de Dylan
é fruto da natureza, mas de uma convenção, tácita ou expressa, que Thomas.

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Ivan Ju nqu ei ra

se estabelece entre os homens. Todo símbolo, por ser convencional,


corresponde ao momento cultural e histórico em que foi criado. Em
terceiro lugar, finalmente, o símbolo é heterogêneo em relação à rea-
lidade ou objeto simbolizado.
Por isso, o peixe não simboliza o peixe, mas Cristo, como a coruja
não simboliza a coruja, mas a filosofia. Tome-se o caso daquele pri-
meiro objeto natural, por exemplo. Para que o peixe possa represen-
tar Cristo simbolicamente, é preciso que nada tenha em comum com
essa realidade, em relação à qual deve ser heterogêneo. E tal raciocí-
nio vale também para a simbologia da coruja, ou qualquer outra que
fosse aqui evocada.
A representação simbólica tem origem no domínio do religioso, pois
em nenhum outro é maior a heterogeneidade entre o símbolo e o que se
pretende simbolizar. As religiões orientais, que constituem o primeiro
momento na história do conceito de Deus, são simbólicas por excelên-
cia, o mesmo ocorrendo com o politeísmo greco-latino que se lhes se-
gue historicamente. E simbólico é também o cristianismo, que assinala
o terceiro momento na história do conceito de Deus, entendendo-o
como unidade e multiplicidade. Caberia aqui acrescentar que, ao con-
trário do que propunha a metafísica aristotélica, com seu conceito inte-
lectual de motor imóvel, o Deus cristão não é uma idéia, mas o próprio
Cristo, encarnação da segunda pessoa da Santíssima Trindade, Deus e
homem a um só tempo. Assim, o Cristo não é o símbolo de Deus, mas o
próprio Deus sob as espécies humanas. Por isso é que a iconografia cris-
tã consiste na reprodução da imagem do Cristo, que não pode ser sím-
bolo do divino, posto que é a própria divindade.
A evolução do simbolismo estético ou artístico envolve também
três momentos principais que, de um modo geral, coincidem com a
evolução do simbolismo religioso. O primeiro corresponde à arte
simbólica, o segundo à arte clássica e o terceiro à arte cristã ou ro-
mântica. Em sentido amplo, a arte deve ser definida como a encarna-

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Simbol ismo: o ri gens e i rradi ç ão i ntern a c i o n a l

ção sensível da idéia. A idéia, que equivale a um conteúdo espiritual,


portanto infinito, assume na arte uma forma sensível, finita, que a li-
mita no tempo e no espaço. O objeto criado pela arte é, por isso
mesmo, espiritual e sensível na forma ou na representação material.
Conseqüentemente, o ideal da arte só poderá ser o da superação des-
sa antinomia que lhe dá origem e na qual consiste. Em outras pala-
vras, esse ideal corresponde à adequação entre a forma e o conteúdo,
entre a significação espiritual e a representação sensível, que muitas
vezes, como querem alguns, constituem uma coisa só e inseparável, à
semelhança de uma túnica inconsútil.
A arte simbólica é, por isso mesmo, a que mais se afasta desse ide-
al, ou da essência da própria arte. É que o conteúdo, ainda indeter-
minado, não inclui em si mesmo a forma adequada, que permanece
heterogênea em relação a ele. A arte clássica, ao contrário, caracteri-
za-se pela adequação entre a idéia e a manifestação sensível, a forma
e o conteúdo. O conteúdo recebe a forma que lhe é correspondente,
exteriorizando-se tal como é em si mesmo. O terceiro momento a
que nos referimos é o da arte cristã ou romântica, que, de certo
modo, equivale a um retorno à arte simbólica, embora em nível su-
perior de consciência. Em resumo, pode-se dizer que, na arte simbó-
lica, o conteúdo procura pela forma sem encontrá-la, ao contrário
do que ocorre na arte clássica, quando os dois elementos se harmo-
nizam. Já na arte romântica, que é aqui a que nos interessa, o conteú-
do, após ter coincidido com a forma, revela-se inadequado com rela-
ção a ela, transbordando de seus limites. Essa é razão pela qual o
conteúdo da arte romântica é a interioridade absoluta, a infinita sub-
jetividade da idéia, que não poderia exprimir-se livremente na forma
sensível, plástica, em que se achava contida. Na arte romântica, a
idéia do infinito desprende-se do sensível e, tanto pelo conteúdo
quanto pela expressão, ultrapassa a arte clássica, já que consiste na
superação do natural ou do sensível espiritual.

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Ivan Ju nqu ei ra

 O Simbolismo na literatura
São essas as raízes conceituais que informam o movimento esté-
tico que se desencadeou, sobretudo nos domínios da poesia, nos
círculos artísticos e literários franceses durante as duas últimas dé-
cadas do século XIX como reação à impassibilidade e à rigidez das
fórmulas parnasianas e, de certo modo, à crueza do romance natu-
ralista. Em sentido amplo, o Simbolismo caracterizou-se pelo sub-
jetivismo expressivo, com intensa utilização de uma linguagem
amiúde hermética, pelo gosto das impressões vagas e fluidas, eva-
nescentes, antes musicalmente sugeridas do que expressas, pelo
cultivo de sentimentos místicos e das artes esotéricas. Pode-se di-
zer ainda que, no plano social e filosófico, o Simbolismo constitu-
iu uma réplica ao positivismo científico-mecanicista e ao realismo
objetivo que dominaram a segunda metade do século XIX. Os
principais representantes da primeira fase do movimento, sob in-
fluência direta de Baudelaire e Edgar Allan Poe, propugnavam a si-
multaneidade da criação poética e da criação cósmica, reclamando
para o artista a condição de intérprete de uma simbologia univer-
sal, de idéias que se manifestariam através das aparências sensíveis
de cada objeto da realidade fenomênica.
Para os poetas do grupo, as relações essencialmente misteriosas
entre a exterioridade física do mundo e seu substrato espiritual se-
riam apreendidas por uma espécie de intuição sensível, expressa por
alusões ou sugestões, e não pela razão lógica. O Simbolismo declara-
va-se inimigo “de l’enseignement, de la déclamation, de la fausse
sensibilité, de la description objective...”. Por isso mesmo, e por
tudo mais – a força que conferia à fluidez dos sentimentos e da
expressão, o interesse que devotava às formas mais esdrúxulas da
religiosidade e do esoterismo, a quase indiferença que exibia em re-
lação à razão e ao discurso lógico, ao esprit de clarté francês –, o novo

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Simbol ismo: o ri gens e i rradi ç ão i ntern a c i o n a l

movimento foi acusado de antiintelectualista, bárbaro e evasionista.


Basicamente, porém, o Simbolismo – ao menos o Simbolismo orto-
doxo que floresceu de 1880 a 1900 – pretendia apenas dizer que a
poesia, ao desprezar os símbolos, se havia perdido a si própria, e os
criadores da nova doutrina se dispunham a resgatá-la.
Do ponto de vista estético-formal, parece não haver dúvidas de
que o Simbolismo trouxe inestimáveis contribuições à evolução da
poesia. A poesia modernista, por exemplo, encampou quase todas as
suas conquistas, e poetas como Paul Valéry, Rainer Maria Rilke,
William Butler Yeats e mesmo Guillaume Apollinaire nasceram do
Simbolismo. Entre aquelas conquistas, figura a que renovou a métri-
ca através do verso livre e do abandono dos processos rímico-rítmi-
cos tradicionais, cuja rigidez e frieza foram tão defendidas pelos par-
nasianos. Muito se enfatizou, também, o emprego de vocábulos ra-
ros, preciosos ou arcaicos, sempre que o exigissem as necessidades
expressivas e formais. A estrutura do discurso verbal foi igualmente
renovada através da prática de um estilo elíptico, do intenso jogo
metafórico, dos desvios sintáticos, da pontuação rítmica e até da dis-
posição gráfica do poema.
Atenção toda especial foi dada à pesquisa da palavra exata, musical-
mente integrada à emoção que se desejava exprimir. E a um tal ponto
chegou essa preocupação musical dos simbolistas que Paul Verlaine,
em um dos versos de sua Art poétique, escreveu: “De la musique avant
toute chose”. E se a música, a começar por Richard Wagner, influen-
ciou os simbolistas, estes também exerceram o seu fascínio sobre di-
versos compositores da época, em particular os impressionistas Clau-
de Debussy (Pelléas et Mélisande, 1902; Prélude à l’après-midi d’un faune,
1891; La cathédrale engloutie, 1910; os prelúdios, o quarteto de cordas);
Maurice Ravel (Gaspard de la Nuit, 1908); Emmanuel Chabrier (Gwen-
doline, 1886) e Ernest Reyer (Sigurd, 1883), além de outros, entre os
quais Gabriel Fauré, Henri Duparc e Ernest Chausson.

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Ivan Ju nqu ei ra

 Informação estético-filosófica
Ao desafiarem as duas correntes de pensamento dominantes na
segunda metade do século XIX, o mecanicismo cientificista e o po-
sitivismo, os simbolistas já haviam mobilizado as principais fontes
de sua informação estética e filosófica. Não se trata aqui de precur-
sores do movimento, mas dos elementos que o informaram, como é
o caso da arte dos pintores pré-rafaelitas ingleses (Dante Gabriel
Rossetti, também poeta, William Holman Hunt, John Everett
Millais, William Dyce e o crítico de arte John Ruskin), dos
neo-românticos ingleses (em especial o esteticista Walter Horacio
Pater), dos românticos alemães (Novalis, os irmãos Schlegel) e do
drama musical de Wagner, com sua atmosfera mágica e lendária.
Na própria França, esse ideário estético beneficiou-se da pintura de
Puvis de Chavannes, Gustave Moreau, Félicien Rops, Odilon Redon
e Eugène Carrière. A vagueza cromática, o esteticismo, o hieratismo
oriental, o satanismo e o hermetismo desses artistas muito contri-
buíram para a formação do ambiente simbolista, em particular o que
caracterizou o Decadentismo. Poder-se-iam acrescentar ainda talvez
outros nomes, como os do norte-americano James Whistler, do suíço
Arnold Böcklin, do alemão Franz von Stuck, mas estes, como alguns
dos anteriormente referidos, já são, a rigor, pintores simbolistas.
Em sua busca da espiritualidade e das idéias que se moviam sob as
aparências exteriores do mundo, os simbolistas se avizinharam de al-
gumas das teses do idealismo transcendental alemão, sobretudo das
de Arthur Schopenhauer, buscando assim fundamentar o pessimis-
mo que foi um dos traços dominantes dos decadentistas. Mas a in-
formação filosófica heterodoxa do Simbolismo não hesitou também
em arrolar o pensamento poético e assistemático de Nietzsche, com
seu poder de sugestão e seu tom às vezes hermético, seu verbo im-
pregnado de uma carga simbólica universal, irresistível como a músi-
ca de Tristan und Isolde, de Tannhäuser, de Lohengrin.

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 Misticismo, esoterismo e hermetismo


Uma das características básicas da arte simbolista foi o papel re-
presentado pelo inconsciente na vida afetiva, o que levou os poetas
do movimento a buscarem motivação no misticismo e nas doutrinas
esotéricas. Entre os místicos e ocultistas a que recorreram os simbo-
listas, figuram com maior insistência: o místico flamengo medieval
Ruysbroeck, o Admirável, cujas obras foram traduzidas pelo simbo-
lista belga Maurice Maeterlink; o neoplatonismo; os compiladores
dos princípios e práticas da tradição órfico-pitagórica e dos mitos de
Hermes Trismegisto; e toda a espécie de autores esotéricos, teosofis-
tas, cabalistas, ocultistas, rosa-crucianos, neo-alquímicos, etc., entre
os quais Fabre d’Olivet, Stanislas de Guaita, Jules Bois, Saint-Yves
d’Alveydre, Papus, Eliphas Lévi, o “filósofo desconhecido” Saint-
Martin e o “grão-mestre da Rosa-Cruz estética” Joséphin Péladan, o
sâr Péladan.
Outro aspecto inconfundível do movimento – e que deu origem
a inúmeros escândalos, motivando ainda violenta reação da crítica
tradicionalista –, foi o hermetismo. Em Portugal e no Brasil, os
simbolistas chegaram a receber por isso a designação pejorativa de
“nefelibatas”. Mas esse hermetismo, ao menos na maioria dos ca-
sos, não constituiu uma atitude. Ao pesquisarem uma expressão
nova, na qual a musicalidade do verso, o significado simbólico das
palavras e os signos cabalísticos desempenhavam funções impor-
tantes, muitos poetas da escola tornaram-se, em conseqüência,
obscuros, inacessíveis e difíceis, herança esta que foi preservada até
mesmo pelos pós-simbolistas, como Rilke, Valéry, Yeats. Além
disso, o jogo metafórico e as violentações sintáticas de que se servi-
ram os simbolistas contribuíram para tornar ainda mais hermética
a arte por eles praticada.
Assim se explica a falta de clarté que os contemporâneos do movi-
mento jamais puderam aceitar. Mallarmé, acima de qualquer outro,

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Ivan Ju nqu ei ra

foi mestre consumado do hermetismo. Sua poesia cifrada e enigmá-


tica ganhou muito nas mãos de hábeis exegetas, que pretenderam
distinguir, sob a intricada trama simbólica dos poemas do autor, até
mesmo sistemas filosóficos. Modernamente, porém, a crítica vem
encarando de modo diverso o problema do hermetismo, chegando
mesmo a afirmar, como o fez Edouard Noulet em seus Études littérai-
res (1944), que o verdadeiro hermetismo não existe. Segundo esse
autor, o que se desenvolve é um processo, ou vários, de ressuscitar
vocábulos já desgastados pelo uso utilitário da linguagem através do
fascínio e da força de uma mensagem nova.
A essa tese, contudo, opõe-se outra, segundo a qual nenhuma for-
ma de arte, e a poesia obviamente aí se enquadra, poderia jamais
prescindir do símbolo para ser realmente autêntica. Mas essa tese es-
camoteia o papel histórico do Simbolismo, um dos maiores movi-
mentos literários de que se tem notícia no Ocidente. É que toda a
poesia posterior ao esgotamento das matrizes românticas (isto é, o
Parnasianismo) desprezou o símbolo, renunciando assim à sua
própria condição de poesia. E o Simbolismo restituiu à poesia suas
verdadeiras dimensões. A obra dos pós-simbolistas testemunha
esse papel histórico.

 Decadentismo
Além do evasionismo, dos processos da “arte pela arte” (a poésie
pure que floresceria depois, tão esplendidamente, com Valéry, o
maior dos discípulos de Mallarmé) e do anti-retoricismo, é preciso
registrar o decadentismo que caracterizou certa poesia e prosa sim-
bolistas, os quais se sentiam como testemunhas de um universo em
decadência, de um fin de siècle que seria, também, o fim do mundo. E
pode-se afirmar que esse sentimento de decadência impregnou
quase todos os primeiros simbolistas, anunciando-se com Verlaine

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Simbol ismo: o ri gens e i rradi ç ão i ntern a c i o n a l

e atingindo seu apogeu com Ola Hansson, Tristan Corbière, Mau-


rice Rollinat e, sobretudo, Joris Karl Huysmans, no romance À re-
bours (1884). E nem mesmo Mallarmé haveria de escapar a tal sen-
timento.
Em termos filosóficos, o Decadentismo pode ser identificado
com o antiintelectualismo “bárbaro” a que depois se referiu Char-
les Maurras. O próprio Apollinaire, aliás, rejeitou-o, negando ao
Simbolismo uma expressão capaz de atender às exigências da soci-
edade moderna. Mas o Decadentismo foi apenas um dos momen-
tos, e efêmeros, do Simbolismo, tendo recebido o veto posterior
dos representantes do movimento. O Decadentismo, fruto do eva-
sionismo, foi, em última análise, uma fuga da realidade social da
época, uma falência espiritual generalizada. E essa falência, ao aba-
lar os alicerces do intelectualismo francês, deixou apreensivos os
filhos da raison.

 Histórico
Oficialmente, o Simbolismo teve início com a publicação, a 18 de
setembro de 1886, no suplemento literário de Le Figaro, do manifes-
to de Jean Moréas, poeta francês nascido na Grécia com o nome de
Yánnis Papadiamantópoulos. O manifesto de 1886 afirma a trans-
cendência do real e declara que o Simbolismo, em sua radical oposi-
ção ao positivismo, ao Realismo e ao Naturalismo, é um movimento
idealista e transcendente, contrário às descrições objetivas, à ciência
positiva, ao intelectualismo e à rigidez formal parnasiana. Moréas (e
logo depois todos os demais simbolistas) postula uma linguagem e
um ritmo capazes de apenas sugerir os estados afetivos e as idéias
cósmicas através da orquestração de converter a realidade em pathos
onírico mediante o jogo metafórico, as ressonâncias musicais e as
variações cromáticas.

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Ivan Ju nqu ei ra

Mas a origem do Simbolismo – do Simbolismo propriamente


dito, que vai de 1880 a 1900 ou 1910 – é anterior à primeira leva
do movimento, quando apareceram os decadentistas; e isso não só
porque muitos de seus colaboradores pertencessem ao Parnasse
Contemporain (1866-1876), como também porque um dos traços
mais característicos do novo movimento fosse justamente o culti-
vo daquela émotion intime tão ao gosto do Parnasianismo. E nesse
sentido – como em muitos outros, aliás –, o Simbolismo teve pre-
cursores, alguns deles bem anteriores a Edgar Allan Poe ou Char-
les Baudelaire.

 Precursores
A utilização explícita do símbolo na poesia francesa da segunda
metade do século XIX já se insinua, e de modo inequívoco, no sone-
to das “Correspondances”, de Baudelaire, geralmente tomado como
ponto de partida para o estabelecimento dos cânones estéticos e
conteudísticos do Simbolismo. Mas o autor das Fleurs du mal (1857)
deve algo, no que respeita às suas próprias convenções, à doutrina
poética de Poe, que, como outros, já preludia, ainda que de forma
não tão flagrante, o advento da arte simbolista. Aqui, aliás, torna-se
imperativo advertir que o emprego de símbolos em arte e literatura
não constitui invenção ou privilégio dos poetas da nova escola. Em
verdade, o símbolo existiu desde o momento em que o primeiro ar-
tista realizou uma obra criativa, e aí estão para prová-lo os signos
pictográficos da pré-histórica caverna de Altamira.
O fato de situar Baudelaire como precursor do Simbolismo já
implica uma série de dificuldades. Há quem considere, inclusive,
que Baudelaire foi o maior dos simbolistas, pois em sua poesia
não estariam apenas esboçadas, mas até mesmo cristalizadas, as
diretrizes fundamentais do movimento. De fato, a poesia de Bau-

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Simbol ismo: o ri gens e i rradi ç ão i ntern a c i o n a l

delaire é intensamente simbólica, e o soneto das “Correspondan-


ces” talvez signifique mais, do ponto de vista da concretização do
ideário estético simbolista, do que o manifesto de Jean Moréas e
o hermetismo de Mallarmé. Outro dado sintomático das afinida-
des profundas de Baudelaire com o Simbolismo reside na singu-
laridade de que quatro dos principais autores que serviram de
base à informação estética do movimento – Novalis, Poe, Wag-
ner e o místico sueco Emanuel Swedenborg – eram também da
preferência de Baudelaire.
Precursor apenas ou poeta maior do Simbolismo, o fato é que
Baudelaire exerceria influência decisiva para o triunfo do movimen-
to, pois dele provêm, em linha quase direta, os três outros poetas li-
gados ao movimento na França: Rimbaud, Verlaine e Mallarmé. É
indiscutível, também, o progonismo do crítico e prosador católico
Jules Barbey d’Aurevilly, um dos primeiros a iniciar a reação da crí-
tica tradicionalista (ou espiritualista) contra o Naturalismo. Mais
importante, porém, é o aristocrata Auguste Villiers de L’Isle Adam,
em cuja obra (particularmente na novela Axel, publicada postuma-
mente em 1890) estão presentes quase todos aqueles elementos da
poética de Baudelaire e da dramaturgia wagneriana, além do esteti-
cismo, do misticismo e do evasionismo que caracterizam a primeira
leva simbolista.
Há que lembrar, nessa segunda metade do século XIX, a contri-
buição precursora representada pela estética de Walter Horacio Pa-
ter e Oscar Wilde, aos quais os simbolistas atribuem papel relevante
na gênese da infra-estrutura de seu ideário. Muitos são, aliás, os que
pretendem ver como precursores do Simbolismo (e não se lhes pode
negar crédito) alguns outros autores da literatura inglesa, como os
românticos John Keats e Percy Bysshe Shelley, o estilista virtuose
Thomas de Quincey, o wagneriano e musicalíssimo Charles Alger-
non Swinburne, o estranho e genial Samuel Taylor Coleridge e o vi-

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Ivan Ju nqu ei ra

sionário William Blake, cujas obras teriam contribuído para a for-


mação da atmosfera místico-idealista que envolve grande parte da
produção simbolista entre 1880 e 1895.
Anterior a Baudelaire, a Villiers de L’Isle Adam e a Barbey
d’Aurevilly, o nome de Gérard de Nerval não pode faltar a nenhum
levantamento progônico do Simbolismo. É possível, inclusive, que
Nerval seja o maior de todos os verdadeiros precursores da poesia
simbolista. Isso quanto ao seu hermetismo, sua linguagem carregada
de símbolos, seu visionarismo onírico e fantástico, suas afinidades
com a poesia romântica alemã, com tudo aquilo que feria a tradicio-
nal clarté francesa, com o para-além-da-razão-lógica que o levou à
loucura e, finalmente, ao suicídio. Não obstante, Nerval foi esqueci-
do como precursor do Simbolismo, assim como o foi por diversas
histórias convencionais da literatura francesa.
Dentre os poetas franceses cujas obras se situam entre 1857,
ano de lançamento das Fleurs du mal, e 1880, quando já se manifes-
tava abertamente o Simbolismo, há que citar ainda dois precurso-
res: Lautréamont e Rimbaud. O Verlaine pré-simbolista, que per-
tence também a esse período, é antes parnasiano. A transição verla-
iniana é por demais rápida para que se possa defini-lo como pre-
cursor. Sua poesia, ao tornar-se simbolista, não insinua afinidades
com o novo movimento: antes, e por completo, lhe pertence. Os
casos de Lautréamont e Rimbaud, todavia, não encerram menos
dificuldades. A obra de Lautréamont, no que tem de precursora, é
com maior razão reivindicada pelos surrealistas e dadaístas, ao passo
que a de Rimbaud é um caso à parte e, por suas proposições e con-
seqüências, um cul-de-sac para aqueles que pretenderam imitar ou
seguir o poeta.
Isso não impede, porém, que o satanismo de Lautréamont – que
não possui raízes luciferianas ou místicas, mas românticas – esteja
próximo do Simbolismo, no que ele tem de esotérico e visionário. É

170
Simbol ismo: o ri gens e i rradi ç ão i ntern a c i o n a l

importante também para os simbolistas (como seria depois para os


surrealistas e dadaístas) o papel representado pelo subconsciente na
estranha prosa poética do autor dos Chants de Maldoror (1869). Mas o
aspecto progônico de Lautréamont, no que se refere à poesia simbo-
lista das duas últimas décadas do século XIX, permanece ainda con-
troverso e mal esclarecido, o que já não ocorre, de modo algum, com
a obra de Rimbaud, que foi simbolista e cuja influência só pode ser
comparada à de Baudelaire.
Mas o Rimbaud pré-simbolista cintila apenas, e muito rapida-
mente, nos poemas da primeira fase à qual pertence o soneto “Les
voyelles”, que constituiu uma reelaboração dos princípios alógi-
co- sugestivos das “correspondências” de Baudelaire, e outras pe-
ças igualmente batizadas de “baudelairianas”, como é o caso de
“Les chercheuses de poux”. Já no primeiro verso das “Voyelles”
lê-se: “A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu...”. E é aí que resi-
de o fundamento da alquimia verbal do autor, suas alucinações
sensoriais, capazes de converter a palavra em concreção cromá-
tica, plástico- visual. Vogais e consoantes que se entrelaçam, cor
e som, no vórtice desordenado de todos os sentidos, de todas as
sensações.
Esse Rimbaud não é somente um pré-simbolista, mas um elo sem
o qual não haveria a evolução da poesia de Baudelaire para a do Sim-
bolismo. Sem Rimbaud, o Simbolismo não existiria. Mas os líderes
do movimento quiseram ir muito longe, encampando toda a produ-
ção posterior do poeta como subsídio à sua causa. E nisso se equivo-
caram. Les illuminations (1873-1875) e Une saison en enfer (1873) não
são poesia pré-simbolista nem simbolista. O que essas constelações
de poemas em prosa antecipam já não é o Simbolismo, mas sim toda
a poesia moderna, desde o pós-simbolismo dos primeiros modernis-
tas e do Surrealismo até florações da poesia que já pertencem à déca-
da de 1920.

171
Ivan Ju nqu ei ra

A grande lição de Rimbaud morre com ele, com seu inexplicável e


súbito mutismo, no estranho silêncio que assume logo depois de
completar 17 anos de idade, poeta no qual Claudel vislumbrou a
“afasia do místico”, diante do divino e do inefável. A lição de Rim-
baud morre com ele porque a qualquer um que o pretendesse imitar
ou seguir estaria sempre reservado o mesmo e paradoxal destino: não
escrever mais. Nesse sentido, Rimbaud foi muito mais longe que
Baudelaire, ou mesmo Lautréamont, que proclamou o fim da poe-
sia. Rimbaud não proclamou nada. Ao contrário, emudeceu. Une
saison en enfer e Les illuminations antecipam esse desenlace. Como tal,
nada têm a ver com o Simbolismo.

 O Simbolismo francês de 1880


Um dos traços mais salientes do Simbolismo francês – e, de res-
to, das demais literaturas européias – foi sua profunda heterogene-
idade. Pode-se mesmo dizer que houve vários simbolismos, quase
tantos quantos eram os poetas simbolistas. Isto, é claro, torna mui-
to difícil qualquer tentativa de distribuição setorial dos autores,
embora seja viável referir algumas tendências mais comuns, em tor-
no das quais se agrupava determinado número de poetas. A corren-
te do l’art pour l’art, por exemplo, seria um desses pólos, ao redor do
qual se aglutinaram as obras de Mallarmé e de seus seguidores ime-
diatos, bem como, já no século XX, a poésie pure do pós-simbolista
Paul Valéry.
Uma segunda corrente foi a da poesia intimista, à qual se filiaram
os poetas egressos do Parnasianismo, como Verlaine e quase todos os
verlainianos, em sua maioria decadentistas (Tristan Corbière, Mauri-
ce Rollinat, Albert Samain), marcados pelo misticismo, o pessimismo
e o evasionismo. Finalmente, cumpre ainda assinalar a existência de
uma terceira corrente, menos caraterística que as anteriores, a que per-

172
Simbol ismo: o ri gens e i rradi ç ão i ntern a c i o n a l

tenciam os adeptos da rebelião antiintelectualista, do “assalto à clarté”,


cujo ponto de partida está na obra de Lautréamont. A tais correntes
ou tendências se poderiam acrescentar alguns poucos casos isolados,
como os de Jules Laforgue ou Charles Guérin. Esse era o panorama
geral da poesia francesa ao iniciar-se a penúltima década do século
XIX, quando o Parnasianismo já agonizava, embora fossem visíveis
alguns de seus vestígios nos poetas da corrente intimista.

 Mallarmé e os mallarmeanos
O núcleo do Simbolismo francês reside, sem dúvida, na obra de
Mallarmé; e sua influência já se manifesta antes de 1880, com a pu-
blicação, quatro anos antes, do Prélude à l’après-midi d’un faune, que
Anatole France acusou, na época, de pouco claro. Com Mallarmé
tem início também o hermetismo, a poesia pura da chamada “torre
de marfim”, onde se reuniam os evasionistas e os experimentalistas
do verso e do verbo. O hermetismo de Mallarmé deu origem a uma
febril atividade exegética por parte de seus admiradores. Sucedi-
am-se as interpretações da obra mallarmeana, cuja fortuna deve mui-
to ao talento de seus comentadores. Tais interpretações chegavam às
vezes ao absurdo de atribuir ao hermetismo do poeta veladas inten-
ções filosóficas, sobretudo de linhagem hegeliana.
Mas o autor de Un coup de dès jamais n’abolira le hasard (1914) prova-
velmente sequer chegou a cogitar de pretensões dessa ordem. Mal-
larmé foi, acima de tudo, um consumado artista do verso, cujas po-
tencialidades rítmicas e musicais explorou à exaustão. Mais do que
isso: Mallarmé foi um poeta de palavras, que, como ele mesmo diz,
cedeu “l’initiative aux mots”. Está aí, talvez, a origem da avassalado-
ra influência que haveria de exercer sobre todo o movimento simbo-
lista. Por outro lado, a atividade exegética em torno da obra mallar-
meana de modo algum caiu no vazio. Terá servido, na pior das hipó-

173
Ivan Ju nqu ei ra

teses, para reavivar um fecundíssimo debate sobre vários conceitos e


princípios estéticos de toda a literatura.
A estrutura do verso de Mallarmé, de musicalidade clássica e fria,
o seu poder de sugestão (“Nomear um objeto” – diz ele em Divagati-
ons – “é suprimir três quartas partes do gozo de um poema, que é fei-
to da felicidade de adivinhar pouco a pouco: sugeri-lo, eis o ideal”) e
a trama metafórica que o “hermetizava”, constituem um dos pontos
mais altos do Simbolismo. O lirismo mallarmeano – avesso à
retórica, à eloqüência, à anedota e à discursividade dos românticos
– devolveu à poesia sua condição essencial e contribuiu para que a
palavra recuperasse não apenas seu significado simbólico, mas tam-
bém seu sentido lingüístico absoluto. Seus poemas são quase música
de câmara, partituras verbais aprogramáticas, tal o despojamento
que os desveste de toda carga didática ou discursiva.
Mallarmé foi muito mais do que apenas um simbolista cronolo-
gicamente periodizável, e toda a poesia moderna leva a sua marca
até Valéry e T. S. Eliot, os italianos Ungaretti e Montale, até os re-
centes movimentos da poesia concreta, cujos arautos nele vêem um
prógono e um mestre. Mas o hermetismo de Mallarmé – que não é
um problema apenas de sua poesia, e sim, afinal, de toda arte – le-
gou à poesia contemporânea (ou, mais do que isso, à própria men-
talidade contemporânea) um de seus mais sombrios impasses – o
da incomunicabilidade, tema recorrente e quase obsedante das
obras de poetas tão distintos entre si como, por exemplo, T. S. Eli-
ot, Juan Ramón Jiménez, Salvatore Quasimodo ou Carlos Drum-
mond de Andrade.

 Irradiação internacional
O período que vai de 1900 a 1910 assinala a agonia do Simbo-
lismo francês, apesar das atividades propagandísticas de um Paul

174
Simbol ismo: o ri gens e i rradi ç ão i ntern a c i o n a l

Fort, que muito contribuiu para a divulgação do teatro de inten-


ções simbolistas, ou do aparecimento episódico de obras de algum
epígono isolado, como é o caso do abade Louis Le Cardonnel. Isto
não impediu, todavia, que o Simbolismo constituísse um movi-
mento intensamente centrípeto, conquanto haja sido um fenôme-
no literário tipicamente francês. Foi extensa e profunda a irradia-
ção do Simbolismo em quase toda a Europa, a começar pela que se
manifesta na literatura belga de expressão francesa, onde avultam
os nomes de Charles Van Lerberghe, Albert Giraud, George Ro-
denbach e, sobretudo, Maurice Maeterlinck e Émile Verhaeren.
Semelhante efeito é o que se nota na Holanda, onde merecem des-
taque Willem Kloos, Albert Verwey e os flamengos Prosper Van
Langendonck e Karel Van de Woestijne, este último o maior poeta
belga da expressão holandesa.
No que toca à Inglaterra e à Irlanda, há que se sublinhar que o
Simbolismo na literatura de língua inglesa tem suas raízes nas obras
dos pré-rafaelitas, em particular Dante Gabriel Rossetti, no esteti-
cismo de Walter Horacio Pater, George Moore e Oscar Wilde, e na
musicalidade dos versos de Charles Swinburne. Nenhum deles, en-
tretanto, pode ser considerado simbolista em sentido estrito. Na
verdade, o Simbolismo inglês só irrompe na última década do século
XIX, com os artistas e escritores que se reuniram no Rhymer’s Club,
de Londres, entre os quais se encontravam o crítico Arthur Symons
e os poetas Ernest Dowson, Lionel Johnson e aquele que viria a ser
um dos maiores nomes do pós-Simbolismo, o irlandês William Bu-
tler Yeats. O ideário estético proposto por Symons só seria integral-
mente cumprido por Francis Thompson, cuja obra está impregnada
da poesia de Verlaine, Keats e Shelley. Na Irlanda merecem destaque
Fiona MacLeod, William Russell e James Stephens.
As origens do Simbolismo de língua alemã remontam, a rigor, à
época romântica, à filosofia do idealismo transcendental e ao dra-

175
Ivan Ju nqu ei ra

ma wagneriano. De um ponto de vista mais imediato, foi muito


importante o pioneirismo do crítico Hermann Bahr, inimigo do
Naturalismo, que, em 1893, lançou em Viena a revista Die Zeit. Os
decadentistas vienenses da época formaram um grupo que reuniu
Hugo von Hofmannsthal, Peter Altenberg e Rainer Maria Rilke,
que, à semelhança do irlandês Yeats, é antes pós-simbolista e se
tornará modernista. A esse grupo também pertenceu Arthur
Schnitzler, cuja extensa e diversificada obra literária caminha do
Naturalismo para o Decadentismo, mitigado por ironia cínica e
melancólica.
O Decadentismo austríaco encontraria ainda grandes represen-
tantes em Leopold Andrian, autor do Garten der Erkenntnis (1895), e
Richard Beer-Hofmann. Mas o grande nome da decadência austría-
ca é Hugo von Hofmannsthal, aristocrata de gosto refinado e cujo
talento maleável lhe permitiu compor dramas líricos, tragédias políti-
cas, comédias, libretos operísticos e, sobretudo, as melhores poesias lí-
ricas do Simbolismo de língua alemã (1899). Os melhores simbolis-
tas na própria Alemanha são: Max Dauthendey; Alfred Mombert;
Wilhelm von Scholz, autor de obra poética altamente reflexiva,
como se pode ver em Der Spiegel (1902); Christian Morgenstern; e,
afinal, o mais célebre dentre todos: Stefan George, ao redor do qual
passaram a girar diversos poetas-satélites, como Karl Wolfskehl,
Ludwig Klages e muitos outros. Stefan George, que alguns colocam
ao lado de Mallarmé e Verlaine, começou com obras extremamente
preciosistas, mas já em Das Jahr der Seele (1897) seu lirismo alcança
grandes momentos. Toda a obra posterior de George está caracteri-
zada por um senso muito agudo da arquitetura poemática, atingindo
níveis formais raras vezes logrados por toda a poesia alemã, apesar
de sua incomovível frieza.
O Simbolismo encontrou também alguns cultores nas literaturas
da Escandinávia, entre os quais os suecos Verner von Heidenstam,

176
Simbol ismo: o ri gens e i rradi ç ão i ntern a c i o n a l

Gustaf Fröding e Selma Langerlöf. Na Dinamarca, dois baudelairia-


nos, Viggo Stuckenberg e Sophus Claussen, acrescentam também
sua parcela de contribuição ao movimento. E o crítico dinamarquês
Georg Brandes, embora defensor intransigente do Naturalismo,
tornou-se importantíssimo para o movimento simbolista, pois foi
o introdutor, na Europa, do teatro parcialmente simbolista de Ibsen
e da filosofia de Nietzsche.
O grande precursor do intenso Simbolismo russo é o contista e
dramaturgo Anton Pavlovitch Tchekhov, cujo realismo é quase
sempre simbólico e, não raro, decadentista, incapaz de uma formula-
ção ideológica para fazer frente àquilo que mais odiava: as injustiças
sociais do czarismo. É também precursor o filósofo Vladimir Solo-
viev por seu misticismo e seu cristianismo eslavófilo, de flagrante fi-
liação dostoievskiana. E já são simbolistas os poetas Konstantin
Dmitrievitch Balmont e Valeri Briussov, cujas obras antecipam o
Modernismo da década de 1910.
O primeiro nome da literatura italiana moderna, que principia
com a reação ao nacionalismo carducciano, é o de Gabriele
D’Annunzio, poeta, dramaturgo e prosador de veleidades simbolis-
tas, mas que não pode ser incluído no Simbolismo. O que ocorre é
que, para romper com a tradição clássica, cujas raízes remontavam a
Giacomo Leopardi, D’Annunzio viu-se obrigado a recorrer ao De-
cadentismo francês e começou a compor poemas à maneira dos sim-
bolistas. Na verdade, simbolistas estritos são os poetas ditos creposcu-
lari, influenciados pelo decadentismo de Verlaine e Laforgue, como
Sergio Corazzini, Marino Moretti e Guido Gozzano.
O Simbolismo hispano-americano antecedeu o da Espanha,
absorvida então pelos ideais não apenas estéticos, mas também polí-
ticos, da Geração de 1898. Antecipa-o o herói nacional cubano José
Martí, com seus Versos sencillos (1891). Outro cubano, Julian del Ca-
sal, interessou-se também pelo novo movimento; ele e o decadentis-

177
Ivan Ju nqu ei ra

ta colombiano José Asunción Silva já são precursores do chamado


Modernismo hispânico.
O grande simbolista hispano-americano é o nicaragüense Rubén
Darío, que se chamava a si próprio de “modernista”, denominação
extensiva ao movimento por ele criado. A poesia de Darío aglutinava
elementos do Parnasianismo e do Romantismo, mediante hábil
montagem um pouco artificial. Mas Darío foi popularíssimo, e con-
tinua a sê-lo em toda a América Latina, que ainda lê Azul (1888),
Prosas profanas (1896), Cantos de vida y esperanza (1905), El Canto errante
(1907), Poema del otoño (1910), etc.
No México, os maiores nomes do Modernismo são Manuel
Gutiérrez Nájera, Enrique González Martínez, Salvador Diáz
Mirón e Amado Nervo, o mais popular dentre todos, que foi ro-
mântico, simbolista e modernista a um só tempo, compondo
obras como Poemas (1901), Serenidad (1914), Elevación (1916), Ple-
nitud (1918). José María Eguren domina o Simbolismo peruano,
que deve tudo às suas Simbólicas (1911), La canción de las figuras
(1916), Poesías (1929), etc. É bastante significativa, no Uruguai,
a obra do estranho Julio Herrera y Reissig, dono de uma lingua-
gem densamente simbólica e quase surrealista, preciosa e gongó-
rica, em Los parques abandonados (1908), La torre de las esfinges (1909),
Los pianos crepusculares (1910).
Alguns outros grandes nomes da literatura latino-americana
estiveram, de uma ou de outra forma, ligados ao Simbolismo,
como, entre outros, os argentinos Ricardo Güiraldes, autor do
celebrado Don Segundo Sombra (1926), e Leopoldo Lugones, com
Montañas de oro (1897), Lunario sentimental (1909), Odas seculares
(1910) e El libro fiel (1912). Dos demais, não devem ser esqueci-
dos o venezuelano Rufino Blanco Fombona, o boliviano Ricardo
Jaimes Freyre, o chileno Francisco Contreras e o guatemalteco
Rafael Arévalo Martínez.

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Simbol ismo: o ri gens e i rradi ç ão i ntern a c i o n a l

Os membros e descendentes da Geração de 1898, na Espanha,


herdaram o novo estilo simbolista dos poetas hispano-ameri-
canos. Em verdade, não dispunham eles de uma forma poética
que condissesse com o espírito revolucionário de suas idéias lite-
rárias, políticas e sociais, que abalaram as tradições reacionárias
da Espanha do século XIX. A solução foi recorrer à conquista de
seus irmãos de sangue e de língua, particularmente a Darío. O
Simbolismo tardio dos poetas espanhóis explica-se também pelo
fato de que a revolução literária e intelectual de 1898 proclamava
justamente o contrário do Decadentismo francês e europeu, cla-
mando por uma nova Espanha, uma nova literatura e um novo
ideal político. Por isso mesmo, o Simbolismo é pouco ou nada
decadentista nas obras de Unamuno, Antonio Machado e Ra-
món del Valle-Inclán. E esteticista só foi mesmo o crítico Azo-
rín. O que se pode chamar de “decadentismo de Unamuno” é pu-
ramente pessoal, nada tendo de programático ou mesmo nacio-
nal. Sua grande descoberta, em termos de nacionalidade e univer-
salidade, é o Quijote, verdadeiro antípoda da decadência européia
do fim do século. Valle-Inclán, por sua vez, já é modernista,
como o foram Manuel Machado e, no início, Antonio Machado,
este um dos maiores poetas da língua.
O esteticismo de Azorín, todavia, está mais próximo do espírito
simbolista, muito embora também ele não seja um decadentista.
Suas obras Los pueblos (1905), La ruta de Don Quijote (1905), Castilla
(1912), Clásicos y modernos (1913), Al margen de los clásicos (1915) bus-
cam, inclusive, atenuar os males da decadência. Ainda na Espanha,
vincularam-se ao Simbolismo: Emilio Carrère, decadentista verlaini-
ano em El caballero de la muerte (1909), Del amor, del dolor y del misterio
(1915), La copa de Verlaine (1919); e Eduardo Marquina, também já
modernista em Eglogas (1902) e Elegias (1905). E simbolista foi, em
seus inícios, Juan Ramón Jiménez.

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 Em Portugal e no Brasil
O Simbolismo português, já preludiado pela poesia “metafísi-
ca” e de grave espiritualidade de Antero de Quental, tem início
com Antônio Nobre, um baudelairiano intimista e extremamente
pessoal, autor do Só (1892) e de Despedidas (1902). Nobre tem
também muito de romântico, e algo da tristeza desolada de La-
forgue. Sua influência foi muito grande em Portugal e no Brasil.
Mas, em geral, a paternidade do Simbolismo português costuma
ser atribuída a Eugênio de Castro. Duas obras desse poeta, Oaris-
tos (1890) e Horas (1891), são anteriores ao Só. Mas a poesia do
autor de Silva (1894) não provém dos grandes mestres do Simbo-
lismo francês, e sim dos decadentistas menores, tanto da França
como da Bélgica.
Historicamente, a contribuição de Eugênio de Castro – o único
poeta português da época realmente lido pela Europa inteira – é
muito importante. Castro, um esteticista que renovou o gosto literá-
rio em seu país, é dono de uma linguagem puríssima e decantada,
menos idiomática que a de Nobre, mas que, em obras posteriores (O
rei Galaor, 1899; Depois da ceifa, 1901; O anel de Polícrates, 1907), reatou
relações com o classicismo da tradição portuguesa. O outro grande
nome do Simbolismo em Portugal é Camilo Pessanha, autor de um
único livro, Clepsidra (1920), de imagens altamente sugestivas e deli-
cada musicalidade. Pessanha, que viveu solitário na colônia chinesa
de Macau, está mais próximo do Modernismo do que Nobre ou Eu-
gênio de Castro.
Ainda em Portugal, outros poetas, conquanto de menor expres-
são, cederam ao impacto do Simbolismo, que foi sentido até mesmo
por um verbalista como Guerra Junqueiro, quando renunciou à retó-
rica hugoana para escrever Os simples (1892). O próprio Cesário
Verde, em seu Livro (public. póstuma, 1887), parece estar marcado

180
Simbol ismo: o ri gens e i rradi ç ão i ntern a c i o n a l

pela poesia de Baudelaire. Também poetas da estatura de Mário de


Sá-Carneiro e Florbela Espanca, no Livro de mágoas (1919), Livro de
Soror Saudade (1923) e em Charneca em flor (public. póstuma, 1931),
traem a influência do Simbolismo. E a primeira fase de Fernando
Pessoa é também simbolista, assim como foram simbolistas João
Barreira (Gouaches, 1892), Antônio Feijó (Sol de inverno, 1922), Júlio
Brandão (O livro de Aglais, 1892), Antônio de Oliveira Soares (Azul,
1890) e outros.
O Simbolismo brasileiro, embora oposto ao Parnasianismo, foi,
contudo, por este último rapidamente absorvido, e quando tentou re-
vigorar-se, após o declínio neoparnasiano, viu-se marginalizado pelos
primeiros modernistas. Na literatura brasileira, aliás, ao contrário da
européia e da hispano-americana, o Simbolismo, além de efêmero, an-
tecede o Neoparnasianismo, que a crítica e o gosto popular consagra-
ram. Assim, o movimento simbolista passou a ser considerado um
“corpo estranho” na literatura brasileira, como observa Andrade Mu-
rici em seu Panorama do movimento simbolista brasileiro (1952, v. 1, p. 16).
Nem por isso, todavia, deixou de produzir alguns grandes talentos,
como tampouco de marcar a obra de diversos autores do século XX,
desde Augusto dos Anjos até Cecília Meireles.
Os precursores são José Francisco da Rocha Pombo, José Joa-
quim de Medeiros e Albuquerque, Domingos do Nascimento e
Venceslau Queirós, todos de importância literária reduzidíssima.
Mas já é simbolista, parcialmente, B. Lopes, autor de Cromos (1881),
Brasões (1895), etc., que depois voltou ao Parnasianismo. O primeiro
grande simbolista brasileiro – e também o maior poeta de todo o
movimento – é João da Cruz e Sousa, poeta negro de autênticas
emoções, que se rebelou contra a sintaxe tradicional portuguesa e in-
troduziu no Brasil as conquistas estilísticas da escola francesa. Sua
obra inclui os versos de Broquéis (1893), Faróis (1900) e Últimos sonetos
(1905), além da prosa poética de Missal (1893) e Evocações (1898).

181
Ivan Ju nqu ei ra

O outro grande simbolista é Alphonsus de Guimaraens, poeta


intimista, dominado pelo sentimento da morte e por um suave mis-
ticismo, mas que pecou por algum preciosismo. Suas obras mais
expressivas são Dona Mística (1899), Kiriale (1902) e Pastoral aos crentes
do amor e da morte (1923). Dos demais poetas simbolistas, merecem
registro: Emiliano Pernetta, Mário Pederneiras, Pedro Militão
Kilkerry, Murilo Araújo, Cassiano Machado Tavares Bastos, Gon-
çalo Jácome, Emílio Kemp, Adalberto Guerra Duval, João Itiberê da
Cunha, Euclides Bandeira, Antero Bloem, Durval de Morais, Álvaro
Reis, Marcelo Gama, Felipe d’Oliveira, Homero Prates, Ronald de
Carvalho, Euricles de Matos, Ernâni Rosas, Max Vasconcelos e
Eduardo Guimaraens; alguns se passaram depois para o Neoparna-
sianismo ou evoluíram para o Modernismo.
A prosa simbolista encontrou seus maiores cultores em Gonzaga
Duque, Carlos D. Fernandes, Arthur Lobo e Álvaro Moreyra. O grande
crítico e propagandista do movimento é Nestor Vítor, seguido de Sa-
turnino de Meireles e Manuel Azevedo da Silveira Neto. Não foi pro-
priamente simbolista o grande e originalíssimo poeta Augusto dos
Anjos, autor do Eu (1912), mas certa influência do Simbolismo é in-
confundível em seus versos. E há, finalmente, o caso da poetisa Cecília
Meireles, uma das mais finas sensibilidades da poesia brasileira, que,
durante muito tempo, permaneceu simbolista dentro do Modernismo.
O Simbolismo transcendeu imensamente os limites de suas
atividades programáticas, dando origem à grande poesia pós-
simbolista, que, a rigor, já pertence ao Modernismo. Seus repre-
sentantes, porém, guardam muito da lição de Mallarmé, Baudela-
ire, Rimbaud, Maeterlinck e outros expoentes simbolistas. Essa
herança é particularmente visível na alta poesia de Paul Valéry,
discípulo de Mallarmé, de Rainer Maria Rilke, de T. S. Eliot, de
William Butler Yeats, de Juan Rámon Jiménez e de Paul Claudel,
entre tantos outros.

182
Simbol ismo: o ri gens e i rradi ç ão i ntern a c i o n a l

Ficcionistas como Marcel Proust e James Joyce, os dois maio-


res mestres do romance moderno, também pagam tributo à esté-
tica e ao estilo simbolistas, o mesmo ocorrendo com Maurice
Barrès, Alain Fournier, Thomas Mann, Knut Hamsun e vários
poetas da literatura norte-americana moderna. Isso vem confir-
mar a inestimável importância histórica do Simbolismo, que
abriu as portas à renovação modernista. Obras como Le cimetière
marin de Valéry, ou as Duineser Elegien, de Rilke, ou ainda The Wild
Swans at Coole, de Yeats, provam quanto o Modernismo deve à
poesia pós-simbolista.

183
Anísio Teixeira, diretor
da Instrução Pública no
Rio de Janeiro e secretário
da Educação na Bahia,
onde criou, em Salvador,
a Escola-Parque.
Anísio Teixeira: filosofia
e ação do educador
J o saph a t M a r in h o

 Frustração compreensível Colaboração às


comemorações
A vida cria frustrações invencíveis, mesmo nas horas maiores de do centenário de
justiça e reparação. Como a existência da espécie é incomparável nascimento de
Anísio Teixeira,
com a de cada ser humano, os fatos ocorrem e se sucedem, multi- a convite do
plicam-se e se renovam além de nossas ambições pessoais. Temos Conselho
aspirações, materiais ou espirituais, que preencheriam o vazio de Nacional de
Educação, em
nossas vaidades, ou, mesmo, de nossos anseios legítimos, e não as solenidade no
alcançamos. O destino tem dessas tiranias. Em razão do passar in- dia 6.6.2000,
cessante das gerações, polêmicas umas e outras adormecidas, de em Brasília.
Josaphat
suas conquistas e de suas vicissitudes, há sempre no seio delas indi-
Marinho é
víduos cujas esperanças se esvaem, como as visões do deserto. senador da
Todos, aqui, decerto, os que hoje integram o Conselho Nacional República.
de Educação – que me distinguiu com o convite para participar des-
te ato de justiça e a que manifesto vivo agradecimento –, e os que,
como eu, ontem formaram o Conselho Federal de Educação, uns e
outros, e talvez muitos dos que nos assistem, gostaríamos de ter sido
pares de Anísio Teixeira no colegiado ilustre.

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Jo saphat Mari nho

Conhecendo seu pensamento fecundo por meio de livros, confe-


rências, exposições de motivos, ou retratado em obras e serviços que
criou, estimaríamos, no entanto, experimentar o convívio cordial e
enriquecedor, simples e empolgante, como forma de completar a
cultura para melhor interpretar os fenômenos da coexistência, so-
bretudo no domínio da educação.
Se não tivemos essa fortuna, se nenhum de nós a experimentou, fi-
caram as lembranças de seus companheiros de plenário. Resumiria a
imagem resplandecente em trecho de bela página de Josué Montello:

A inteligência de Anísio Teixeira, se se realizava esplendidamente no


corpo-a-corpo com a folha de papel em branco, na reclusão de um gabinete
de trabalho, era ainda mais viva, mais brilhante, mais luminosa, nas surpre-
sas de um debate.
.....................................................................................................................................
Anísio, nessas ocasiões, não precisava pedir silêncio aos circunstantes.
O silêncio vinha por si, abrindo espaço imediato à palavra do orador. A fi-
gura pequena, miúda mesmo, com algo de adolescente no seu todo franzi-
no, como que atuava por explosões sucessivas.
.....................................................................................................................................
De repente, a propósito de um artigo de lei ou de conclusão de um pare-
cer, Anísio levantava uma objeção. Do outro lado do plenário, o velho
Almeida Júnior, sempre com o reparo ferino na ponta da língua, observa-
va-o por cima dos óculos. Os demais companheiros redobravam de aten-
ção... E Anísio a discorrer, possuído pelo seu assunto. Ele não meditava
para falar: a própria fluência verbal era em si o ato de pensar, com a palavra
gerando a frase ajustada à lógica de uma estupenda ordenação expositiva.
Era como se estivéssemos diante da forja incandescente a abrir-se em faís-
cas. E tudo aquilo era novo, com a força da criação definitiva.
(Jornal do Brasil, 12.09.78).

Eis, traçado a pena de artista, o débil perfil físico do espírito ro-


busto.

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 Compensação
Se não pude, a seu lado, aplaudi-lo no Conselho, tive, antes, uma
oportunidade compensadora. Conheci-o na intimidade e na planí-
cie, sem nenhum cargo público, quando excluído pela ditadura Var-
gas da formação do pensamento nacional. Era, então, nos anos 40,
simples comerciante de minérios. A informalidade no trato e a agu-
deza de espírito refletiam a dimensão do homem superior: de inteli-
gência peregrina, culto, genuinamente democrata. Preocupado em
acompanhar as mudanças da sociedade, vivia sempre em dúvida, não
a dúvida de quem vacila sobre a estrada a seguir, mas a de quem se
perguntava e indagava aos outros se a realidade vivida era a ideal ou
justa, ou se novos horizontes seriam rasgados.
Parece que prenunciava, nessas perquirições, “a longa revolução
de nosso tempo”, produto, em magna parte, da ciência e da tecnolo-
gia, como veio a examinar, depois de 1945, em duas conferências
magistrais, em que revelou mais “perplexidades” que “conclusões”.
Ao invés de fixar dogmas, situava os contrastes, para desenvolver o
esforço de reduzi-los a formas civilizadas de convívio livre e criativo.
Não queria a padronização da cultura, antes o confronto de inteli-
gências diversificadas e diferentemente formadas. Empolgava-o a
divergência fundamentada, que descobre equívocos, aponta exage-
ros, aperfeiçoa conceitos, conduz a revê-los, ou a inovar com objeti-
vidade. Alargando e aprofundando análises, não incidia em abstra-
ções. Para ele, “fins inaplicáveis não são fins, mas fantasias. Os fins
são verdadeiramente fins quando os conhecemos de tal modo que
deles se desprendem os meios de sua realização”. E invocando Dewey,
matriz de suas reflexões desde a mocidade, rematou: “Os meios são
frações de fins” (Educação progressiva – Uma introdução à filosofia da educa-
ção, Cia. Editora Nacional, 1933, p. 21). Pensava e dialogava para al-
cançar a objetividade.

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Jo saphat Mari nho

 Alma de educador
Era um espírito lastreado na filosofia social, como fonte de inter-
pretação dos fenômenos da vida, conjugando a especulação, a obser-
vação e a experiência. Desse complexo de fatores extraía a matéria-
prima de seus estudos sobre a educação como problema político.
Não temia, ao contrário cultivava, a presença do dado filosófico no
seu pensamento. “Nos dias de hoje – escreveu, note-se bem, em
1933 – nos dias de hoje, quando a ciência vai refazendo o mundo e a
onda de transformação alcança as peças mais delicadas da existência
humana, só quem vive à margem da vida, sem interesses, sem posi-
ção, sem amores e sem ódio, pode julgar que dispensa uma filoso-
fia.” (Educação progressiva, ed. cit., p. 176.)
Não a dispensou até o fim de seus dias, apesar das injustiças sofri-
das. Quando suspeitado, insidiosamente, em 1935, de orientação
extremista, de índole comunista, repeliu a maldade, e pedindo de-
missão do cargo de Secretário de Educação e Cultura do prefeito
Pedro Ernesto, no antigo Distrito Federal, objetou com firmeza:
“Se, porém, os educadores, os que descrêem da violência e acreditam
que só as idéias e o seu livre cultivo e debate, é que operam, pacifica-
mente, as transformações necessárias, se até esses são suspeitados e
feridos e malsinados nos seus esforços – que outra alternativa se abre
para a pacificação e a conciliação dos espíritos?” (Educação para a de-
mocracia, 2a ed., Edit. UFRJ, 1997, p. 34.).
Exercendo, com o restabelecimento da ordem democrática, ou-
tros cargos na direção do ensino, manteve a mesma determinação,
fiel a princípios filosóficos. Criador de serviços e obras – que serão
decerto apreciados por especialistas – jamais restringiu suas ativida-
des a realizações materiais. Estas eram sempre um desdobramento
ou uma concretização de idéias amadurecidas, com que impregnava
a administração educacional de valores permanentes. Quando, por

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exemplo, instalou em Salvador, no Centro Educacional Carneiro


Ribeiro, a Escola-Parque, essencial para ele não era o edifício con-
digno, que fez construir, mas assegurar aos filhos do bairro proletá-
rio o direito à educação adequada, com as oportunidades ao alcance
do Estado. A finalidade social da educação marcava-lhe a ação admi-
nistrativa. O espírito condicionava as realizações materiais.

 Filósofo da educação
O feixe crescente de idéias que iluminava a ação de Anísio Teixeira
fê-lo um filósofo da educação. O poder de penetração de sua inteligên-
cia levou-o, desde cedo, a ver que o conhecimento não se completa, pro-
longa-se e se renova, dia a dia, com as transformações da sociedade. De
modo singular ele percebeu, como na observação de Leo Strauss, que “a
filosofia é, essencialmente, não a posse da verdade, mas a pesquisa da
verdade” (Qu’est ce que la philosophie politique?, PUF, 1959, trad. do inglês
por Olivier Sedeyn, p. 17). Por isso mesmo, quanto mais estudou e in-
vestigou maior foi o seu empenho em alargar o saber, para melhor inter-
pretar as variações da educação, em face da evolução geral.
Desde moço, não via apenas a superfície das coisas. Divisava a
profundidade delas. Tendo estudado nos Estados Unidos ainda jo-
vem, não se impressionou com o poder econômico, nem com os ar-
ranha-céus, e observou que assim também refletiam os americanos.
O que lhe tocou a sensibilidade, escreveu em 1929, foi “a grande
tradição nacional de democracia”, evolvendo do “direito de ter um
voto” para “significar o direito de cada indivíduo de encontrar
oportunidade para, na medida de suas forças, se encontrar plena-
mente no campo econômico ou no campo social” (“O espírito de-
mocrático da civilização americana”, in Revista de Cultura Jurídica, no 3,
1929, Bahia, p. 659-668, cit. p. 663). Trouxe, desta sorte, a convic-
ção das vantagens do processo democrático, titubeante entre nós.

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A superveniência do governo ditatorial, em 1930, não lhe modi-


ficou o ideário em crescimento. Pensando, ou agindo, em cargo de
administração do ensino, suas idéias se foram consolidando. Se con-
siderou sempre a educação problema político, não admitiu sua su-
bordinação a inspirações partidárias. Para ele, a autonomia da escola
constituía pressuposto de sua função social de formação da persona-
lidade e de habilitação do indivíduo a conquistar oportunidades
iguais na sociedade, segundo os requisitos de aptidão. Para desen-
volver essa tarefa, a escola precisava ser imune a imposições defor-
madoras, o que exigia um sistema de ensino fundado em leis robus-
tas e executado por um magistério independente, nos moldes do que
propôs à Constituinte baiana de 1947.
Já no seu livro Educação progressiva, de 1933, com o subtítulo “Uma
introdução à filosofia da educação”, assinalou que “à medida que se
alargam os problemas comuns, mais vivamente sentida será a falta de
uma filosofia que nos dê um programa de ação e de conduta” (Educa-
ção progressiva, Cia. Editora Nacional, 1933, p. 177) – o que implica
repulsa a fatores circunstanciais e desarticulados. Em nenhum aspec-
to, porém, seu pensamento filosófico sobreexcedeu em ênfase ao
com que fixou o papel da Universidade “na sociedade moderna,
uma instituição característica e indispensável, sem a qual não chega a
existir um povo” (Educação para a democracia, ed. cit., p. 122).
Ocorria uma progressão constante no aperfeiçoamento espiritual
de Anísio Teixeira. Se a escola pública foi um ponto cardeal de suas
preocupações, não envelhecia com a sucessão dos anos: ampliava a
ânsia de pesquisa e de conhecimento. Não desprezando o passado
útil, buscava sempre as clareiras do futuro renovador.
Nem tudo que defendeu vingou e nem tudo que previu aconte-
ceu. Na sóbria e exata “apresentação” da nova edição de Educação para
a democracia, o professor Luiz Antônio Cunha pondera que esse livro
“está marcado por uma concepção muito otimista a respeito da ca-

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pacidade da escola na mudança da sociedade”. Contudo, reconhece,


igualmente, que “suas idéias foram reprimidas não pela força de ou-
tras idéias, mas pela força daqueles que as temiam” (Educação para a
democracia, ed. cit., pp. 15 e 21). Temeram-no ao longo de sua prega-
ção incansável, mesmo na democracia, ao passo que ele, como pensa-
dor sem preconceitos, discutia todas as idéias e inovações.
Ao analisar, em 1967, “a longa revolução do nosso tempo”, fa-
lando a professorandos da Bahia, não traiu os deveres do espírito
científico. Não difundiu nenhum dogmatismo. Foi o mestre racio-
cinando, não o partidário tentando persuadir. Mas o mestre não se
manteve neutro diante da injustiça. Denunciou as desigualdades,
inclusive as estabelecidas por “processos declaratórios” do gover-
no. Acusou que não se fazia a mudança socialista porque parecia
“subversiva”, ameaçando os “privilegiados”, e “a capitalista é inde-
sejável, porque desencoraja os que ainda não são privilegiados”.
Observou, contudo: “O processo terá, um dia, de chegar a termo”
(“A longa revolução do nosso tempo”, 1969, in Revista de Informação
Legislativa, abril a junho de 1968, pp. 45-62). Enquanto esse dia
não chegava, continuou a estudar e lutar, no intento de atualização
e reforma. Em verdade, esse dia não chegou, para que ele o visse
nascer. Não nasceu ainda.

 Idéias sobreviventes
Tanto ensinou e combateu, entretanto, que suas idéias continuam
a projetar-se no tempo. Realça o professor Luiz Antônio Cunha, na
“apresentação” já referida, que “ler e reler Educação para a democracia é
um meio de conhecer a educação brasileira em suas mudanças e per-
sistências” (Educação para a democracia, ed. cit., p. 27). E, na edição de
19 de março deste ano, do Jornal do Brasil, a pesquisadora Clarice Nu-
nes sublinhou a presença permanente de Anísio Teixeira na discus-

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são de todos os problemas educacionais. “Isso é impressionante –


frisa – porque tudo que se fala em educação acaba remetendo a ele:
financiamento, formação de professores, reformas de instrução,
pós-graduação.” Assim é porque ele pensou para o futuro, que agora
nos reúne em seu louvor e em sua reparação. Não houvesse pensado
com tamanha dimensão e tal intensidade, não seria lembrado e invo-
cado com atualidade tão palpitante.

 Última lição
Mas ele nos deixou uma última lição, como estímulo à renovação
dos conhecimentos e como testemunho de compreensão do dever
do mestre. É a conferência intitulada “Cultura e tecnologia”, profe-
rida em 1970 – morreria em março de 1971 – para os alunos do
curso de Teoria e Prática de Microfilmagem, do Instituto de Docu-
mentação da Fundação Getúlio Vargas. O texto tem o conteúdo do
trabalho de pesquisa, o estilo lógico do professor, o sentido de apre-
ciação universal do filósofo. Resume a evolução da cultura ou das
culturas, fixando a importância da “cultura tipográfica” e conside-
rando “o microfilme como descoberta equivalente à do livro” – por-
que “universaliza o acesso do homem de qualquer nação ao saber to-
tal da espécie, tanto ao saber antigo quanto ao moderno, e quanto ao
de hoje”.
É a mensagem derradeira do educador, a uma assembléia de alu-
nos, e não a um corpo de figuras eminentes. Não corresponde ao tes-
tamento do seu saber porque nessa conferência abre a perspectiva do
“dia em que, além do mercado, que é a dinâmica da procura e oferta,
as nações desenvolvidas compreenderão que a cultura é riqueza fon-
te, riqueza matriz, que deve ser paga e promovida, como é a defesa
nacional, por princípios diferentes dos do mercado e comércio. A
biblioteca será então bem comum, como a água e a luz, e o microfil-

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me, o recurso novo que a fará tão rica e abundante quanto a dos paí-
ses desenvolvidos”. E se referia “a algo como televisão por assinatu-
ra”. O juízo percuciente vislumbrava a esteira do desenvolvimento
da informática.

 Criador de esperanças
Era o talento rasgando sempre outros horizontes, para o conheci-
mento e a felicidade da criança e do homem.
Diante desse vigor de inteligência criadora, parece que Anísio
Teixeira, retomando aos 70 anos o curso de sua vida fulgurante,
repetia a mensagem de confiança de Sartre: “Eu morrerei na espe-
rança.”
As gerações que lhe sobrevivem, agradecidas pelo bem que trans-
mitiu à sociedade e à cultura, hão de prolongar suas esperanças.

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