Hermenêutica Literária

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HERMENÊUTICA LITERÁRIA

Platão, Crátilo: “Procuremos examinar o significado do nome de Hermes


[...] Pois bem, [...] ele parece relacionar-se com o discurso (logos); as
características de intérprete (hermeneus), de mensageiro, de desenvolto no
furto, de enganador com palavras e de hábil comerciante, todas essas
atividades relacionam-se com o poder do discurso”.

Friedrich Schleiermacher, Hermenêutica: “Cada criança acede ao


significado verbal apenas por meio da hermenêutica.”
“Sucede, muitas vezes, que, numa conversa, me surpreendo realizando
operações hermenêuticas, quando não me contento com um grau
corriqueiro de compreensão, mas me esforço em descobrir como o amigo
faz a passagem de um pensamento para o outro, ou quando procuro ver de
que opiniões, julgamentos e aspirações depende que ele se manifeste,
acerca de certo objeto, desta maneira e não de outra.”

Hans-Georg Gadamer, Verdade e Método: “A antecipação de sentido, na


qual está entendido o todo, chega a uma compreensão explícita através do
fato de que as partes que se determinam a partir do todo determinam, por
sua vez, a esse todo”.
“O movimento da compreensão vai constantemente do todo à parte e desta
ao todo. A tarefa é ampliar a unidade do sentido compreendido em círculos
concêntricos. O critério correspondente para a correção da compreensão é
sempre a concordância de cada particularidade com o todo. Quando não há
tal concordância, isso significa que a compreensão malogrou”.
“Compreender não é compreender melhor, nem saber mais, no sentido
objetivo, em virtude de conceitos mais claros, nem no da superioridade
básica que o consciente possui com respeito ao inconsciente da produção.
Bastaria dizer que, quando se logra compreender, compreende-se de um
modo diferente”.

Peter Szondi: Introdução à hermenêutica literária: “Hermenêutica literária


é a doutrina da exegese, interpretatio, de obras literárias.” Sensus litteralis
na interpretação hermenêutica (o que as palavras afirmam numa passagem):
Hermenêutica da linguagem de Homero, que já não era, para os atenienses
do período clássico ou para os alexandrinos, um livro imediatamente
compreensível. Hermeneuta como tradutor, intérprete, ou mediador que, à
base de seus conhecimentos linguísticos, torna compreensível o não
compreendido, o não mais compreensível. Sensus spiritualis, o “querer
dizer”: Hermenêutica alegórica do Antigo Testamento no Cristianismo: 4.º
Capítulo da Epístola de Paulo aos Gálatas (Gal., 4, 21-31).

Alfredo Bosi, “A Interpretação da Obra Literária” (Céu, inferno): “Se os


sinais gráficos que desenham a superfície do texto fossem transparentes, se
o olho que neles batesse visse de chofre o sentido ali presente, então não
haveria forma simbólica, nem se faria necessário esse trabalho tenaz que se
chama interpretação”.
“Cabe ao intérprete decifrar essa relação de abertura e fechamento, tantas
vezes misteriosa, que a palavra escrita entretém com o não-escrito”.
Paul Ricoeur, “Qu’est-ce qu’un texte?” (apud A. Bosi, “A Interpretação da
Obra Literária”): “O dizer da hermenêutica é um re-dizer, que reativa o
dizer do texto.”

*
Baudelaire sobre um bom quadro: Un bon tableau, fidèle et égal au rêve
qui l’a enfanté, doit être produit comme un monde. De même que la
création, telle que nous la voyons, est le résultat de plusieurs créations
dont les précédentes sont toujours complétées par la suivante ; ainsi un
tableau conduit harmoniquement consiste en une série de tableaux
superposés, chaque nouvelle couche donnant au rêve plus de réalité et le
faisant monter d’un degré vers la perfection.

René Wellek e Austin Warren, Teoria da Literatura: “O ponto de partida


natural e sensato do trabalho de investigação literária é a interpretação e
análise das obras literárias em si próprias. Afinal, na verdade, apenas estas
justificam todo o nosso interesse pela vida de um autor, pelo seu ambiente
social e por todo o processo da literatura.”
The natural and sensible starting point for work in literary scholarship is
the interpretation and analysis of the works of literature themselves.

Brecht: “É completamente equivocado contemplar a crítica como algo


morto, não produtivo, vetusto. [...] Na verdade, a postura crítica é a única
produtiva, digna do ser humano. Ela significa trabalho conjunto, um
caminhar adiante, significa vida. Fruição artística verdadeira sem postura
crítica é impossível”.

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