Breve Historia Da Lit. Erico, Por Gilmar
Breve Historia Da Lit. Erico, Por Gilmar
Breve Historia Da Lit. Erico, Por Gilmar
-eRICO VERISSIMO
Nasceu em Cruz Alta em 17 de dezembro de 1905. Filho de Sebastião
Verissimo da Fonseca e Abegahy Lopes Verissimo. Casou-se com Mafalda Halfen Volpe e
tiveram dois filhos: Clarissa e Luís Fernando Veríssimo. Quando jovem estudou no colégio
Cruzeiro do Sul em Porto Alegre. De volta à cidade natal, trabalhou em banco e tornou-se
sócio de uma farmácia.
Desde cedo, dedicou-se a leituras, principalmente, de Shakesperare e
Machado de Assis, influenciando muito em suas obras.
Em 1930 estreou com Ladrão de Gado na Revista Globo, na qual
ingressou como redator. Foi, também, escriturário do departamento editorial da Livraria do
Globo. Em 1932, com a publicação de Fantoches (livro de contos) tornou-se profissional.
Em 1934, com Música ao Longe, ganhou o Prêmio Machado de Assis e em 1935, com
artesãos, padres e soldados. Entre eles havia uma porção de velhacos, de aventureiros
ambiciosos e criminosos condenados ao exílio; não trouxeram mulheres e, então, começou
a miscigenação com as mulheres indígenas.”
Os primeiros a chegarem foram os judeus portugueses que fugiam da
Inquisição; fundaram muitos povoados e iniciaram a agricultura no Brasil. O país foi dividido
em capitanias que eram dadas a fidalgos arruinados como feudos para governá-las com
os seus capitães. Duas delas progrediram: Pernambuco e São Vicente porque os europeus
começaram a consumir o açúcar dos senhores de engenho. Foi preciso, então,
trabalhadores; os índios eram muito descansados e queriam viver livremente como antes.
Então, os senhores de engenho buscaram na África os negros: a escravidão causou horror,
desgraça e sofrimento porque os senhores pareciam não terem problemas morais.Os filhos
estudavam Direito em Portugal.
O cruzamento entre o português e o negro produziu o mulato: o do índio com
o negro, o cafuso; e do português com o índio, o mameluco. No Brasil, a Língua Portuguesa
se enriqueceu com palavras indígenas e com palavras africanas. Os jesuítas espanhóis
eram pacientes, bravos e resistiam a tudo; aprenderam a língua dos nativos e, às vezes,
enfrentavam os senhores de engenho intercedendo pelos pobres selvagens. Entre eles,
um jovem e pequeno que se chamava José de Anchieta: arriscava-se entre tribos e
canibais e escrevia doces e puros poemas à Virgem Maria, na praia. Era tão sincero, que,
com sangue frio e simplicidade de espírito escrevia poesia de caráter ingênuo em meio a
uma luta tão incrível.
Pero Vaz de Caminha escreveu o primeiro documento ao rei de Portugal, D.
Manuel. Foi uma carta, onde descreveu “a nudez das mulheres indígenas; é um misto de
condor e cinismo, zombaria e sinceridade.” Escreveu que nessa terra “em se plantando
tudo dá” Em se plantando -esse era o problema. “Os índios eram pachorrentos e Os
mestiços também.”
Os índios eram sensuais e descansados, imaginativos e brincalhões. Os
negros trouxeram para o cadinho a música lamentosa e o senso de ritmo de suas almas
sofridas, seu terror cósmico e todos os fantasmas da jângal africana. Os “escurinhos”
exerceram grande influência na sociedade colonial brasileira.”
A poesia popular tem duas tendências: uma melancólica, outra folgazã. As
palavras que se encontram na poesia brasileira são: destino, dor, amor, tristeza, azar,
sofrimento e lágrimas. Às vezes, a nota predominante nos versos populares do Brasil é de
alegria e irreverência. Um dos personagens mais pitorescos do folclore português e
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O “idioma brasileiro”a essa altura já tinha cinco mil palavras a mais que o português
original. A cultura também era imitativa: Recife e Olinda vivia no luxo e dissipação da corte
de Lisboa.
Houve a invasão holandesa: saquearam a terra e o povo, enviando à Holanda
as riquezas que podiam. Mas o líder holandês Maurício de Nassau achava esta política
imprudente, ele tinha visão de futuro, era tolerante e lúcido, sabia que o melhor era
conquistar com gentilezas e medidas políticas sensatas. Portugueses, índios, negros,
aventureiros, mesmo contra o interesse português, lutaram e venceram os holandeses,
chamando-os de “filhos do demônio.”
Frei Vicente de Salvador escreveu uma história do Brasil na qual ventilou
anseio de liberdade e denunciou Portugual por planejar o roubo das riquezas do brasil. O
seu livro foi publicado no fim do século XVIII. Pe. Antônio Vieira foi um grande pregador
religioso, com seus sermões eloqüentes e com humor sarcástico, peças insuperáveis de
oratória. Mas era um político “ardiloso, indigno de confiança. Ao tempo do domínio
holandês tentou desencorajar os compatriotas de sua luta e convencer Portugal a aceitar o
invasor holandês.” Botelho de Oliveira escreveu A ilha de Maré, poemas com um longo
inventário das belezas naturais da Bahia.
Gregório de Matos Guerra foi a figura mais importante da literatura
brasileira no séc. XVII por sua qualidade combativa de seus escritos e à natureza peculiar
de seu espírito, mostrando as qualidades e defeitos da raça em formação. Como poeta era
tanto satírico quanto lírico e moralista. “Foi a primeira voz nativa a ser ouvida na literatura
brasileira, o primeiro escritor a usar alguma gíria nacional em sua poesia e a traduzir em
linguagem poética algo do sentimento do povo.(...) O jabuti, a pequena tartaruga das
fábulas indígenas, tocava flauta. Gregório tocava violão. A diferença entre entre
essas duas personagens incríveis é que o bichinho era calmo e amante da paz,
enquanto o tocador de violão era inquieto e rixento. As pessoas o chamavam de
“boca do inferno”Todos o temiam. Contudo, às vezes Gregório cessava de ironias,
agressão e pilherias e tornava-se lírico.” É o primeiro representante da alma
brasileira.
3- O preço do açúcar caiu e muitos donos de usinas faliram. De todas as
partes do país vastos contingentes humanos- brancos, mulatos, mestiços, mamelucos-
foram para as regiões do ouro, Minas Gerais - Vila Rica que possuía ao seu redor mais de
cem mil habitantes. A capital administrativa passou para o Rio de Janeiro. Em Vila Rica
houve concentração de capital que financiaria mais tarde enormes plantações de café e a
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indústria de São Paulo. A renascença provocou em todo o mundo a criação das academias
literárias. No Brasil, várias delas foram criadas.
A figura literária mais interessante da época foi Antônio José da Silva, o
Judeu. Ele viveu em Portugal, era satirista, escrevia peças teatrais encenadas em Lisboa:
suas comédias eram irônicas e denunciavam a nobreza portuguesa- era crítica social na
comédia de costume. Veio a Revolução Francesa e a “liberdade”. Os poetas voltaram-se
para o nobre selvagem, louvaram os pastores es sua vida rústica na simplicidade da
natureza. Voltaram tembém para a Grécia antiga cujos habitantes cultivam a música e a
poesia. Em Vila Rica, viveu um pobre homenzinho aleijado, Antônio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho, que esculpia na pedra, com martelo e cinzel amarrados em seus pulsos já que
não tinha mãos, santos e anjos, deixando no rosto dessas imagens as marcas de sua alma
sofrida. Em Vila Rica havia ódio, fome de ouro e violência. Portugal mantinha soldados,
fiscais, coletores de impostos causando ódio nos brasileiros. Alguns poetas tinham lido os
enciclopedistas franceses e deixaram-se embalar por um sonho nobre: libertar seu país do
jogo português. Os poetas conspiraram, mas sem a ajuda do povo: perderam. Seu cabeça,
um bravo homem, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi condenado à morte.
Literariamente, apareceu a Escola Mineira: Santa Rita Durão que escreveu Caramuru,
poema narrativo enfadonho e convencional imitando Camões; o assunto era a História do
Brasil. Basílio da Gama escreveu a luta dos índios contra os portugueses nas missões
jesuíticas, O Uraguai, poema mais importante escrito durante todo o período colonial; não
seguir a estrutura camoniana. Cláudio M. da Costa com seus versos eram técnicos. Silva
Alvarenga, cujos versos são de transição para o Romantismo. Tomás Antônio Gonzaga
escreveu liras de amor à Maria Dorotéia de Seixas, por quem se apaixonou à primeira vista:
ele era o pastor Dirceu e ela a Marília; a obra, Marília de Dirceu. Poucos dias antes do
casamento, Tomás foi julgado e degredado para a África. “Seus versos são doces, singelos
e inspirados.” Tempos antes da conspiração apareceu um livro satírico anônimo - Cartas
Chilenas- poema retratando com sarcasmo feroz o governador da província. “Os escritores
do séc. XVIII começaram a tomar consciência do social e a olhar da janela de suas torres
de marfim para o povo e seus problemas.”
Um acontecimento vai transformar a vida do país, a vinda de dom João de
Portugal com sua corte inteira para o Rio de Janeiro porque fugiam de um sujeito baixote
que, naquela época, tentava conquistar o mundo, Napoleão Bonaparte.
4- No início do séc. XIX, Portugal estava em péssima situação. Napoleão
ornedou que invadisse o pa[is e aprisionasse a Família Real. D. João resolveu fugir para o
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Brasil com a corte inteira. Chegando ao país, D.João implantou a primeira imprensa - A
Imprensa Régia - uma corte de justiça, uma biblioteca pública, o Banco do Brasil. O
comércio floresceu e o dinheiro circulava com maior intensidade. A Imprensa Régia
publicou o primeiro de seus livros: Marília de Dirceu, de Tomás A. Gonzaga. Os escritores
brasileiros produziam ensaios e artigos referentes a problemas políticos, filosóficos e
econômicos. Muitos escritores, tendo seus jornais, publicavam textos prenunciando o
Romantismo, dando razão aos seus sentimentos e anseio de liberdade. Entre eles, Frei
José Bonifácio foi muito importante. Agora, as pessoas tornavam-se patrioltas.
Logo o rei D.João VI voltou à sua terra e deixou aqui seu filho, D. Pedro I
que era sentimental, impulsivo e romântico. O rei ordenou que D.Pedro voltasse a Portugal,
as ele não lhe obedeceu; no dia 7 de setembro de 1922, proclamou a Independência. O
império napoleôncio acabava e a burguesia descobria o Romantismo que abrigava todo
o tipo de alma e de sonho e afirmava que todos os homens eram bons.Os poetas e
prosadores tinham permissão para contar aos seus leitores tudo sobre seus sofrimentos,
dúvidas e paixões. Os primeiros poemas românticos a serem escritos pro um brasileiros
foram os que José Bonifácio enviou da Europa, onde se encontrava exilado. No entanto,
Gonçalves de Magalhães introduziu a escola com Suspiros Poéticos e Saudades.
O poeta mais significativo da primeira fase foi Gonçalves Dias. Sua Canção
do Exílio é um dos poemas mais populares do Romantismo brasileiro. O mais ingênuo de
todos foi Casimirio de Abreu. Fagundes Varela bebia demais. Os poetas apreciavam um
sentimento que mais tarde Machado de Assis descrevia como a “volúpia do aborrecimento.
A maior figura do Romantismo foi Castro Alves, o primeiro dos nossos poetas conscientes
do social. Ele não se ocupava só com a tristeza, com a amor. Tinha compreensão humana
e compaixão; voltava os olhos às feridas crônicas e fez de si o paladino do abolicionismo;
ele pode ser encarado como o elo entre o Romantismo e o Realismo: em vários de seus
poemas antecipou as reivindicações proletárias que viviam anos mais tarde.O Romance
iniciou no Brasil com Joaquim Manuel de Macedo que fez enredos simples e tolos, com
personagens sãos maus ou bons demais e os enredos têm sempre um final feliz. José de
Alencar tinha um talento notável. Escreveu Iracema, mas sua obra mais famosa foi O
Guarani. Bernardo Guimarães era um romancista sentimental e seu livro A escrava
Isaura é a única contribuição em prosa do Romantismo à causa da Abolição.
No Brasil, a “ovelha negra”da era romântica, no campo do romance, foi
Manuel Antônio de Almeida que escreveu Memórias de um sargento de milícias.
Nossos autores eram poucos e muito brilhantes. Certos representantes na Assembléia,
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conseguiram, depois de muitas derrotas, derrotar a cidade bárbara, mas “Canudos não se
rendeu”.
Enquanto muitos literatos se mostravam despreocupados com os problemas
nacionais e Rui Barbosa dizia com orgulho que tinha achado quarenta sinônimos para a
palavra “prostituta”, Euclides da Cunha, em 1902, publicou Os Sertões: um estudo muito
sério e profundo do interior - sua fauna, flora, geografia, clima, geologia e etnologia - junto
com um relato honesto e vigoroso da campanha de Canudos. Seu impacto atordoou
críticos, políticos, militares, artistas, literatos e leitores comuns. Milhares liam Os Sertões;
muitos pulavam as duas primeiras partes - A Terra e O Homem- porque eram carregadas
de termos técnicos, mas se encantavam com a terceira: A Luta. Sua prosa era nervosa,
impaciente, quase feroz, mas por vezes adquire uma tranqüilidade disciplinada e até fria,
mas sempre precisa e correta. Os Sertões foi um marco importante porque inaugurou uma
nova era na literatura brasileira porque deu início a um tipo de literatura regional cujos
heróis eram gente do interior e cujas paisagens eram nativas, como “nativos eram, também,
seus problemas, conflitos e paixões.” Afonso Arinos escreveu um livro de contos chamado
Pelo Sertão; Coelho Neto, um chamado sertão e Domingos Olímpio, um romance
chamado Luzia Homem. No Rio Grande do Sul, apareceram Alcides Maia ( mais
acadêmico) e Simões Lopes Neto ( fiel à gente e à vida do campo onde seus contos e
lendas tinham uma beleza não sofisticada). Monteiro Lobato, em são Paulo, escreveu
contos sobre os caipiras e sua vida simples. Graça Aranha escreveu Canaã, o precursor
do romance de idéias no Brasil.
8- As primeiras décadas da história do Brasil produziu muitos escritores:
alguns muito bons e outros muito ruins. Contar histórias é sempre exagerar as coisas e as
pessoas para o bem de sua história. Depois da primeira grande guerra, muitos escritores
brasileiros se comportaram como se nada houvesse ocorrido na Europa e no mundo.
viviam num mundo de quimera. O regime republicano encontrara o país unificado e dotado
de ferrovias, escolas, academias, parques industriais e muitos melhoramentos. As
plantações de café em São Paulo prosperaram. O Brasil começou a fase urbana de sua
história. Havia muitos partidos políticos por todo o país, aumentando, também, a
burocracia. Os governantes pediam empréstimos ao exterior a juros muito altos. Havia
muitos afilhados e protegidos e seus prestígios eram calculados de acordo com suas
capacidades de distribuir favores. As eleições eram de quatro em quatro anos e quando o
presidente estava para deixar o cargo, nomeava seu próprio sucessor para continuar a
máquina de favores. Na teoria, o país possuía um regime democrático, mas as eleições em
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geral eram fraudadas e a vitória era impossível aos partidos de oposição. Três grandes
estados disputavam a supremacia: São Paulo - ricos e empreendedores-, Rio Grande do
Sul - camaradas durões- e Minas Gerais - políticos ardilosos. Havia tanto jogo político que
os líderes não tinham tempo para os reais problemas da nação. Ainda bem que o povo
brasileiro tem um excelente senso de humor, um olho aguçado para o cômico e certa
tolerância ao pessimismo. A atitude dos intelectuais brasileiros era de pessimismo; haviam
participado da guerra apenas pelos jornais.
Nessa época, vivia no Brasil, no interior de São Paulo plantando café, um
advogado que não gostava da profissão; baixo, irrequieto, de rosto osssudo e bronzeado,
sobrancelhas grossas e negras, olhos escuros e chispantes: era o José Bento Monteiro
Lobato. Um dia, preocupado com os incêndios no interior, escreveu uma carta para o jornal
O Estado de São Paulo. A carta foi tão recebida que tempos mais tarde deu origem ao um
famoso livro, Urupês. Nele há o retrato de um caipira, Jeca tatu, saudado por Rui Barbosa
como o “protótipo do homem brasileiro.” Um triste símbolo. Lobato dizia que o Jeca Tatu
era preguiçoso e apático só porque o governo não lhe concedia a mínima atenção. Jeca era
analfabeto; não tinha assistência médica - vivia como um proscrito. Jeca tatu era
impenetrável ao progresso e à evolução; estava sempre de cócoras, fumando seu
cachimbo de barro. Passaram a Independência, a Abolição e a república e ele de cócoras.
ele odiava o trabalho. Vendia na feira aquilo que a natureza derramava por conta na sua
chácara abandonada. Na época de eleição, vestia-se com o seu domingueiro e votava, no
governo. Lobato dizia: “Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na
realidade! Só ele não fala, não canta, não ri, não ama. Só ele, no meio de tanta vida,
não vive...” Monteiro Lobato criou a Revista do Brasil e uma editora e ajudou muitos
escritores de sua época. Lobato tinha muito de humorista e não raro seu humor se tingia de
sarcasmo. Era franco e incisivo. Zombava dos políticos e nunca lhes dava confiança. Para
criticar, usava seu personagem, Mr. Slang, um inglês, que falava com seu jeito esquisito e
irônico.
9- Em 1922, alguns artistas e intelectuais mantiveram famosos encontros - A
Semana de Arte Moderna- onde poetas, prosadores, pintores e músicos decidiram
assentar as bases de uma nova arte, mais expressiva de seu país e de seu tempo. Diziam:
“(...) Somos filhos de uma terra nova e rica e devemos ser alegres e fortes!
Escrevamos uma literatura que seja brasileira de verdade, que cheire à nossa terra e
represente com maior fidelidade os sonhos de nosso povo!”. Mário de Andrade e
Oswald de Andrade foram os líderes. Esse era irriquieto, imaginativo, gaiato e ousado;
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escreveu o livro de poesia Pau Brasil. Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema
“No meio do caminho”, um clássico da escola modernista. A fase inicial do movimento foi
puramente destrutiva: contra os parnasianos, escreviam poemas sem metro e sem rima.
Conta a Academia Brasileira de Letras, criaram o movimento antropófago e diziam que
iriam devorar os quarenta membros da Academia. Os poetas e romancistas tinham
aprendido que “a língua é só um meio de expressão e não um fim em si mesma e que a
verdadeira poesia não depende unicamente da pura beleza das palavras.” Manuel
Bandeira aderiu à Semana e se tornou o “São Batista do Modernismo”com sua obra Ritmo
Dissoluto; Guilherme de Almeida assimilou bem as novas regras e Cassiano Ricardo
lançou Vamos caçar papagaios: uma espécie de tela selvagem, pintada em cores vivas e
exuberantes, cheia de animais e flores tropicais vermelhas. Jorge de Lima escreveu Essa
negra Fulô, um poema folclórico bem brasileiro. Graça Aranha, em 1924, rompeu com a
Academia chamando os colegas de um bando de velhos com mentes fossilizadas e que
suas idéias e seus gostos e padrões literários eram antiquados e gastos; bradou dizendo
que o mundo pertencia aos jovens e que a Academia tinha de mudar seus métodos ou
morrer: foi aplaudido pelos jovens convidados e carregado nos ombros. Igualmente o foi
Coelho Neto, porém pelos acadêmicos como um “símbolo vivo do passadismo.” Ronald de
Carvalho e Raul Bopp apareciam com vigor: o primeiro com Epigramas irônicos e o
segundo com Cobra Norato, poemas cósmicos e folclóricos sobre a selva amazônica.
Os artistas agora estavam cônscios de sua responsabilidade social. No
modernismo apareceram três direções: a primeira com os socialistas Mário e Oswald de
Andrade dando ênfase no fator econômico na vida social; a segunda com o neocatolicismo,
de centro, nas obras de Jackson Figueiredo e Tristão de Ataíde que diziam que a crise
estava na falta de fé e a terceira, de direita, de Plínio Salgado, criador do partido
Integralista.
Luís Carlos Prestes, um engenheiro militar, bom estudante e bom soldado,
baixo, magro, trigueiro e taciturno, de rosto bastante triste, mas sereno comandou uma
rebelião contra o governo brasileiro. O seu plano nacional fracassou, mas, em Santo
Ângelo começou uma marcha revolucionária do Rio Grande à Bahia, mais de oito mil
quilômetros. Ele era o “Cavaleiro da Esperança”. No final, perdeu e se exilou, enveredando
pelos ensinamentos do comunismo soviético. Em 1930, Getúlio Vargas tornou-se
presidente e convidou Prestes para ser seu companheiro, mas esse não aceitou porque
não era mudando a pessoa que tudo iria mudar. Com Getúlio, começou a República Nova :
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Cecília gostam de cantar a respeito de meninos enfermos e pequenos reis. Seus poemas
estão cheios de representantes da fauna e flora do mar e da flora e da fauna dos céus.
É na literatura de ficção que os atuais problemas e os aspectos regional e
nacionais afloram. Os anos 30 foram muito conturbados com a revolução de 30, com a
Constitucionalista, com a luta do forte de Capacabana, com a luta entre os comunistas -
“Pão, Terra e Liberdade.”- e os integralistas - “Deus, Pátria e Família.” Em 1937, Getúlio
Vargas faria uma eleição para presidente. Todos se organizaram; um grupo lançou o
ficcionista José Américo de Almeida. Getúlio instituiu o Estado Novo dizendo que combatia
os comunistas e os integralistas. Esses tentaram o golpe e fracassaram. Começou a
ditadura e com ela a censura que é fatal para a literatura.
12- Tem-se dito que o verdadeiro romance brasileiro seria o que fosse capaz
de abranger toda a paisagem geográfica e humana nacional. Mas isso seria impossível em
um só escritor, mas é possível em vários. O Brasil tem suas peculiaridades regionais, é
uma concha de retalhos. A região amazônica é uma terra de pesadelo para além da
descrição. tem um tipo de beleza primitiva e trágica. A alma de seus habitantes oscila febril
entre dois horrores fascinantes: a selva e o rio. A natureza parece ser a personagem
central dos contos e romances do Amazonas. Viana Moog escreveu sobre O Ciclo do Ouro
Negro. É um escritor sofisticado, de mentalidade européia, que dá em prosa límpida suas
impressões de uma terra e povo primitivos.
O Nordeste [e uma região intrigante e expressiva do Brasil. Compreende
cerca de quatro estados da costa setentrional. É principalmente agrícola; o açúcar e o ciclo
da cana-de-açúcar e pelo seu ciclo se pode traçar em paralelo a história social dessa
região. Há em Pernambuco a cidade de Recife, “a Veneza brasileira.” E Olinda conta a
história dos colonizadores portugueses e dos invasores holandeses. Gilberto Freyre fala da
influência dos portugueses, do negro, dos índios na sociedade nordestina: o folclore, a
história, a arte, a culinária, a vida rural e urbana. José Lins do Rego traça um painel do ciclo
da cana-de-açúcar através de sua memória: seu estilo é muito pessoal; é um hábil escritor
que tem o poder de nos fazer acreditar em tudo o que conta. José Américo de Almeida, em
1928, publicou A Bagaceira, descrevendo pobres almas assoladas pela seca, que as faz
parecerem cadáveres ambulantes. Rachel de Queiroz, antes de completar 20 anos,
publicou O Quinze, sobre a seca de 19l5, livro destituído de intrigas e bastante seco. No
Nordeste tem-se no prefeito e chefe político da cidade o título de coronel; outra figura
importante é o pároco católico. Tem-se, também, a pobreza, a miséria, a fome, a injustiça, a
prostituição, a ganância, o ódio, a inveja, o amor. Graciliano Ramos, um dos mais sólidos
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