Linguistica II
Linguistica II
Linguistica II
Pinto luís
Índice
Introdução..................................................................................................................................3
A variação linguística.................................................................................................................7
Modificação morfológica...........................................................................................................8
Modificação sintáctica...............................................................................................................8
Variação lexical..........................................................................................................................8
Variação distrática......................................................................................................................9
Mudança diamésica..................................................................................................................10
Modificação diacrónica............................................................................................................10
Conclusão.................................................................................................................................13
Bibliografia..............................................................................................................................14
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Introdução
O trabalho subordina-se com o tema: Variação Linguística em Moçambique estudo mostra a
existência de dialectos distribuídos de forma desigual naquele país (Cintra, 1971). Em
Moçambique, não há dialectos, mas uma variedade do português que se distancia do
português europeu linguisticamente falando. É necessário evidenciar, portanto, que o
português falado/escrito em Moçambique difere-se do que é escrito/falado em outros países
da lusofonia.
O objectivo deste trabalho é de explicar as condições sócio-históricas que comparticiparam
na formação do PM. Assim, ao se considerar que o PM é uma variedade que resulta de
contextos sociolinguísticos e da diversidade cultural, questiona-se: como surgiu o PM e quais
as suas características? Dessa forma, a pesquisa tem por objectivo discutir a situação do PM
tendo em conta as variáveis sociais; explicar as características léxico-semânticas e sintáticas.
Nesse sentido, a pesquisa é relevante porque desperta a necessidade de afirmação própria da
variedade moçambicana, bem como da redução do preconceito linguístico que aflige o
sistema educativo do país.
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uma forma errada, feia, ruim, pobre ou atrasada de se falar uma língua. Também é uma
maneira de distinguir as línguas dos povos civilizados, brancos, das formas supostamente
primitivas de falar dos povos selvagens. Essa separação é tão poderosa que se enraizou no
inconsciente da maioria das pessoas. Inclusive das que declararam fazer um trabalho
politicamente correcto”.
Essa ideologia puramente colonial se enraizou em África e em todos os países que sofreram a
colonização. Na citação acima, grifamos alguns adjectivos que eram/são atribuídos às línguas
africanas: erradas, feia, ruim, pobre, atrasada, entre outros.
A variação linguística
Estudos recentes discordam que PE é o “padrão mais certo” defendendo que a variante
moçambicana tem características próprias a nível: fonético, morfológico, sintáctico,
semântico e lexical fato comprovado pelos estudos recentes de Dias (2009), Gonçalves (2012,
2005a,b, 1996), Vilela (1995), Ngunga (2012), Timbane (2012) e muitos outros.
Com isso pretende-se dizer que um “dialeto” não é uma língua, pois esse termo traz uma
sensação de preconceituosa, uma sensação de inferioridade. Marco Bagno no seu livro Não é
errado falar assim: Em defesa do português brasileiro dá exemplo do Cineasta moçambicano
que considera as LB moçambicanas por “dialeto.
O termo “dialeto” renega a princípio o estatuto de ser língua e fica com pouca consideração.
Assim, “a mudança que se observa numa língua no decorrer do tempo tem paralelo na
mudança dos conceitos de vida de uma sociedade, na mudança das artes, da filosofia e da
ciência e, até, na mudança da própria natureza.” (MATEUS, 2005, p.18).
Os estudos provam que o PM é uma variante diferente do PE e precisa ser mais aprofundado
procurando cada vez mais espaço da sua afirmação legal- a padronização. “Falar de uma
variedade é apenas reconhecer a existência de um ou de vários conjuntos de diferenças, de
uma ou de várias variedade e recusar estabelecer entre essas variedades numa hierarquia.”
(GARMADI, 1983, p.29). Esses fenómenos linguísticos são causados pelo contacto entre
línguas, pelo surgimento de realidades sociais, culturais, políticas e económicas bem
diferentes ou mesmo pela diferença de classes sociais. Entendemos por variação linguística a
forma como uma determinada comunidade linguística se diferencia de outra, sistemática e
coerentemente tendo em conta os contextos sociais. A variação se manifesta em diversos
níveis:
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Modificação morfológica
Sabe-se que a fala pode variar segundo a idade, o grau de escolaridade, as redes sociais, local
de residência, etc. Este fenómeno não só acontece em Moçambique, pois estudos de Scherre e
Naro (1998, p.1) mostram que “diferentemente do português de Portugal, o português
vernacular do Brasil apresenta variação sistemática nos processos de concordância de
número, exibindo variantes explícitas e variantes zero (0) de plural em elementos verbais e
nominais.” Vejamos outros exemplos das preposições no PM apresentados por Gonçalves
(2001, p.983). As preposições destacadas são usadas de forma diferente no PM se
compararmos com PE que entendida como a Norma-Padrão:
Veio cedo na escola (PE=à)
A mamã volta em casa às 15h (PE=para)
Visitei no banco hoje (PE= o banco)
Modificação sintáctica
Mostram que há vários casos de variação se compararmos com o PE. É importante deixar
claro que a referência para todas as análises é o PE.
PM: Eles elogiaram a uma pessoa.
PE: Eles bateram uma pessoa
PM: bateram-lhe muito.
PE: bateram-na muito.
Variação lexical
No caso de Moçambique, quando uma unidade lexical for inexistentes no português, os
falantes vão buscar do acervo das suas LB para completar o espaço em branco ou vazio. As
unidades lexicais: matapa (folhas de mandioqueira ou prato feito com folhas de
mandioqueira), kwassa-kwassa (dança tradicional africana), mamba (cobra perigosa e
venenos), matorritorri (cocada), nembo (seiva viscosa que é usada para apanhar pássaros),
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ntchuva (jogo tradicional no qual o jogador move pedrinhas colocadas em filas de covas)
refletem a realidade local. Estas unidades lexicais provêm da língua xichangana3 para
enriquecer o léxico português. Estas variações lexicais são causadas por razões culturais,
sociais e geográficas. As crianças brincam do mesmo jeito, as regras são iguais e o que muda
é simplesmente o nome.
Há que considerar muitos rituais tradicionais que não têm equivalência em português.
Mendes (2010:149): tinlholo: ossículos utilizados pelos curandeiros na adivinhação; uputsu:
bebida tradicional, confeccionada à base de mapira; ciputu: Rito de iniciação feminino
makhuwa; jando: rito de iniciação masculina yao.
Gonçalves (2005:47-72) explica quando fala sobre os Falsos sucessos no processamento do
input na aquisição de L2: papel da ambiguidade na gênese do Português de Moçambique.
Variação distrática
É uma variação que se encontra quando se comparam diferentes estratos de uma população.
No Brasil, há vários estudos que mostram as diferenças na da população escolarizada e
analfabeta. Castilho (apud ILARI; BASSO, 2009:176) dá exemplos de:
Negação redundante com indefinidos negativos. (ex. Ninguém não sabia)
Perda de –s da desinência da 1ª pessoa plural. (ex. Nóis cantamo, nóis cantemo)
Redução das formas verbais. (ex. Eu falo, você/ele/ela/nós/a gente/ vocês/eles/elas
fala). As formas verbais no presente do indicativo são “falo” e “fala”. Isso é
simplificação/redução. Esta simplificação gramatical é também observada em crioulos
de qualquer base.
Uso dos pronomes do caso recto na posição de objecto (ex. Eu vi ele, a mulher xingou
eu).
Mudança diamésica
A variação se centraliza na comparação entre a língua falada e língua escrita.
Para PRETI, na “dinâmica lexical encontramos na gíria, um contínuo processo criativo dos
grupos sociais, em busca de efeitos expressivos para a linguagem do dia-a-dia.” No Brasil,
“as pessoas dizem coisas como né, ocêis, disséro, téquinico, pensando que dizem não é,
vocês, disseram, técnico.” (ILARI; BASSO, 2009:181).
Modificação diacrónica
É através do estudo da variação diacrónica que percebemos que as línguas que falamos hoje
são resultados longos anos ou épocas diferentes. Em muitos estudos o estudo da variação e da
mudança se faz com a observação da fala e de textos escritos antigos.
Conclusão
A realidade eminente e o importante é continuarmos a pesquisar e a descrever esta variedade
de forma a melhor lidarmos com o ensino do português nas escolas moçambicanas. É
importante sublinhar que a língua portuguesa ainda é obstáculo no progresso da educação
moçambicana. Por isso, algumas vozes defendem uma educação bilingue a fim de se
ultrapassar tais dificuldades.
Voltando para o PM, é importante mostrar que cada linguista precisa dar seu contributo para
que a variedade seja reconhecida pelas autoridades que gerem a política e o planejamento
linguístico.
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Bibliografia
CALVET, Louis-Jean. As políticas linguísticas. São Paulo: Parábola, 2007.
Camacho, Roberto. Norma culta e variedades linguísticas. Caderno de formação: formação
de professores didáctica geral. v.11. São Paulo: Cultura Académica, 2011. P.34-49.
GUTHRIE, Malcolm. The classification of the bantu languages. London: OUP, 1948.
HAUGEN, E. Dialecto, língua, nação. In: Bagno, Marcos. (Org.) Norma linguística. São
Paulo: Layola, 2001. Pag. 97-114.
HEINE, Bernd; Nurse, Derek. African languages: an introduction. Cambridge: CUP, 2000.
Introdução à linguística: domínios e fronteiras. v.1. São Paulo: Cortez, 2001. p. 21-48.
MALIK, Khalid. Relatório de desenvolvimento humano. New York: PNUD, 2013.