Linguistica II

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Pinto luis

Situação linguística antes e depois da colonização


Licenciatura em ensino de Portugues

Instituto superior de Ciência de Educação a Distancia


Nampula
2019
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Pinto luís

Situação linguística antes e depois da colonização


Licenciatura em ensino de Portugues

Trabalho de carácter avaliativo da cadeira


dr: de PPG a ser entregue ao respectivo
docente da cadeira de Linguistica II
ensino de Portugues1º ano

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância


Nampula
2019
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Índice
Introdução..................................................................................................................................3

Situação linguística antes e depois da colonização....................................................................4

Presença de Língua Portuguesa em Moçambique......................................................................5

A variação linguística.................................................................................................................7

Modificação fonética e fonológica.............................................................................................7

Modificação morfológica...........................................................................................................8

Modificação sintáctica...............................................................................................................8

Variação lexical..........................................................................................................................8

Variação estilística - pragmática................................................................................................9

Variedades geográficas ou variação diatópica...........................................................................9

Variação estilística - pragmática................................................................................................9

Variação distrática......................................................................................................................9

Mudança diamésica..................................................................................................................10

Modificação diacrónica............................................................................................................10

O professor moçambicano diante as modificação....................................................................10

Características do léxico presente nos livros escolares............................................................10

Conclusão.................................................................................................................................13

Bibliografia..............................................................................................................................14
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Introdução
O trabalho subordina-se com o tema: Variação Linguística em Moçambique estudo mostra a
existência de dialectos distribuídos de forma desigual naquele país (Cintra, 1971). Em
Moçambique, não há dialectos, mas uma variedade do português que se distancia do
português europeu linguisticamente falando. É necessário evidenciar, portanto, que o
português falado/escrito em Moçambique difere-se do que é escrito/falado em outros países
da lusofonia.
O objectivo deste trabalho é de explicar as condições sócio-históricas que comparticiparam
na formação do PM. Assim, ao se considerar que o PM é uma variedade que resulta de
contextos sociolinguísticos e da diversidade cultural, questiona-se: como surgiu o PM e quais
as suas características? Dessa forma, a pesquisa tem por objectivo discutir a situação do PM
tendo em conta as variáveis sociais; explicar as características léxico-semânticas e sintáticas.
Nesse sentido, a pesquisa é relevante porque desperta a necessidade de afirmação própria da
variedade moçambicana, bem como da redução do preconceito linguístico que aflige o
sistema educativo do país.
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Situação linguística antes e depois da colonização


Inicialmente (seção 1), discute-se como apareceu o português em Moçambique
e qual a política linguística colonial que comparticipou na formação da
variedade moçambicana, assim como a influência das Línguas Bantu moçambicanas
(doravante, LBm).
África possui quatro grandes famílias de línguas: (a) Níger Congo formado por 1,436 línguas;
(b) Afro-asiático com 371 línguas; (c) Nilo-sahariano com 196 línguas e (d) khoisan com
cerca de 35 línguas (Heine; Nurse, 2000).
É dentro da família Níger-congo em que se encontram as línguas bantu, que constituem um
grupo de línguas localizadas geograficamente na África Ocidental, Central e se estende até a
região Austral do continente com características linguísticas comuns. Usando o método
comparativo, o linguista Guthrie (1948) percebeu que as semelhanças consistiam em: (a) o
uso extensivo de prefixos; (b) cada substantivo pertence a uma classe; (c) cada idioma pode
ter dez ou mais classes; (d) a classe é indicada por um prefixo no substantivo, como também
em adjectivos e verbos que concordam com aquele; e (e) o plural é indicado por uma
mudança de prefixo.

Presença de Língua Portuguesa em Moçambique


A presença da LP em Moçambique e em todos os Países Africanos de língua Oficial
Portuguesa (PALOP) está intimamente ligada à colonização. O primeiro colonizador
português Vasco da Gama chegou à Moçambique em 1497 e a primeira povoação portuguesa
se fundou em 1530, na região de Sena (região central de Moçambique). É importante
sublinhar que antes da chegada dos portugueses, os árabes já estabeleciam relações
comerciais com africanos, em particular com os moçambicanos da região norte, divulgando
também a sua religião, o islã, bem como a língua árabe utilizada de forma obrigatória na
prática da fé.
Moçambique, fala-se kimwani, shimaconde, ciyawo, emakhuwa, echuabu, cinyanja,
cinyungwe, cisena, cibalke, cimanyika, cindau, ciwute, gitonga, citshwa, cicopi, xichangana,
xirhonga (Ngunga, Faquir, 2011) e outras línguas cuja padronização ortográfica não foi
realizada, mas que são faladas por grupos populacionais espalhados pelo país e localizados
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geograficamente em regiões rurais e isoladas. Existem línguas fronteiriças faladas em


Moçambique e em países vizinhos tais como o nindi (da Tanzânia), o nsenga (da Zâmbia), o
shona e o kunda (do Zimbábue) e outras citadas por Timbane (2013b). Em Moçambique,
também se falam algumas línguas de origem asiática vindas com emigrantes e povos que se
instalaram nas principais capitais de Moçambique e desenvolveram atividades comerciais.
São elas: língua gujarati, língua memane, língua hindu, língua urdo e língua árabe (Timbane,
2014).
As línguas estrangeiras modernas (inglês e francês) também são faladas no território
motivadas pelo fenômeno da globalização em que Moçambique se encontra envolvido. O
país faz fronteira com seis países anglófonos e, por isso, é interessante conhecer a língua do
“vizinho” para melhor estabelecer relações de amizade e de solidariedade. A maioria destas
LBm são internacionais, quer dizer, são faladas também em vários países africanos. Podem-
se citar exemplos de swahili que, para além de ser falado em Moçambique, é falado por cerca
de 50 milhões pessoas localizadas geograficamente no Quênia, Tanzânia, Uganda,
Republica Democrática do Congo, Ruanda, Burundi, Somália Zâmbia, Partes de Madagascar
e Comores, segundo Moshi (2006). Isso significa que as fronteiras linguísticas são diferentes
das fronteiras políticas. Para além das línguas aqui citadas, acrescenta-se a língua de sinais
que poucas vezes tem sido referenciada em pesquisas sobre as línguas de Moçambique.
As LB faladas em Moçambique e em Angola eram chamadas preconceituosamente por
pretoguês, língua do cão, landim, dialeto, língua dos pretos, etc. “Todo dialeto é uma língua,
mas toda língua não é um dialeto” (Haugen, 2001, p.100). Essa atitude preconceituosa
valorizou a LP e cada vez mais se consolidava o mito que defendia que “quem falasse
português era civilizado ou assimilado”, ou seja, todo africano que (a) tivesse abandonado
inteiramente os usos e costumes daquela raça; (b) que falasse, lesse e escrevesse em língua
portuguesa; (c) que adoptasse a monogamia; (d) que exercesse profissão, arte ou ofício
compatíveis com a civilização europeia. Como o Estado Português não tinha capacidade nem
efectivo suficiente para controlar a colónia, delegou as missões católicas e suíças para
sensibilizar aos moçambicanos de modo que se tornassem pacíficos com relação ao sistema.
Todas as línguas africanas eram consideradas dialetos1 pela ideologia colonial, termo
preconceituoso porque todas as línguas africanas têm as mesmas competências que outra
língua qualquer, quer dizer, têm uma gramática, um léxico, uma morfologia, uma sintaxe
próprio.
Segundo BAGNO (2011:380) “o emprego do termo dialecto, fora dos estudos científicos,
sempre tem sido carregado de preconceito racial e/ou cultural. Nesse emprego, dialecto é
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uma forma errada, feia, ruim, pobre ou atrasada de se falar uma língua. Também é uma
maneira de distinguir as línguas dos povos civilizados, brancos, das formas supostamente
primitivas de falar dos povos selvagens. Essa separação é tão poderosa que se enraizou no
inconsciente da maioria das pessoas. Inclusive das que declararam fazer um trabalho
politicamente correcto”.
Essa ideologia puramente colonial se enraizou em África e em todos os países que sofreram a
colonização. Na citação acima, grifamos alguns adjectivos que eram/são atribuídos às línguas
africanas: erradas, feia, ruim, pobre, atrasada, entre outros.

A variação linguística
Estudos recentes discordam que PE é o “padrão mais certo” defendendo que a variante
moçambicana tem características próprias a nível: fonético, morfológico, sintáctico,
semântico e lexical fato comprovado pelos estudos recentes de Dias (2009), Gonçalves (2012,
2005a,b, 1996), Vilela (1995), Ngunga (2012), Timbane (2012) e muitos outros.
Com isso pretende-se dizer que um “dialeto” não é uma língua, pois esse termo traz uma
sensação de preconceituosa, uma sensação de inferioridade. Marco Bagno no seu livro Não é
errado falar assim: Em defesa do português brasileiro dá exemplo do Cineasta moçambicano
que considera as LB moçambicanas por “dialeto.
O termo “dialeto” renega a princípio o estatuto de ser língua e fica com pouca consideração.
Assim, “a mudança que se observa numa língua no decorrer do tempo tem paralelo na
mudança dos conceitos de vida de uma sociedade, na mudança das artes, da filosofia e da
ciência e, até, na mudança da própria natureza.” (MATEUS, 2005, p.18).
Os estudos provam que o PM é uma variante diferente do PE e precisa ser mais aprofundado
procurando cada vez mais espaço da sua afirmação legal- a padronização. “Falar de uma
variedade é apenas reconhecer a existência de um ou de vários conjuntos de diferenças, de
uma ou de várias variedade e recusar estabelecer entre essas variedades numa hierarquia.”
(GARMADI, 1983, p.29). Esses fenómenos linguísticos são causados pelo contacto entre
línguas, pelo surgimento de realidades sociais, culturais, políticas e económicas bem
diferentes ou mesmo pela diferença de classes sociais. Entendemos por variação linguística a
forma como uma determinada comunidade linguística se diferencia de outra, sistemática e
coerentemente tendo em conta os contextos sociais. A variação se manifesta em diversos
níveis:
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Modificação fonética e fonológica


Em Moçambique muitas formas de variação fonético - fonológica são resultado da influência
das línguas maternas de origem bantu espalhadas um pouco pelo país. É através da variação
fonética que percebemos se o falante nasceu no norte ou no sul do país.

Modificação morfológica
Sabe-se que a fala pode variar segundo a idade, o grau de escolaridade, as redes sociais, local
de residência, etc. Este fenómeno não só acontece em Moçambique, pois estudos de Scherre e
Naro (1998, p.1) mostram que “diferentemente do português de Portugal, o português
vernacular do Brasil apresenta variação sistemática nos processos de concordância de
número, exibindo variantes explícitas e variantes zero (0) de plural em elementos verbais e
nominais.” Vejamos outros exemplos das preposições no PM apresentados por Gonçalves
(2001, p.983). As preposições destacadas são usadas de forma diferente no PM se
compararmos com PE que entendida como a Norma-Padrão:
 Veio cedo na escola (PE=à)
 A mamã volta em casa às 15h (PE=para)
 Visitei no banco hoje (PE= o banco)

Modificação sintáctica
Mostram que há vários casos de variação se compararmos com o PE. É importante deixar
claro que a referência para todas as análises é o PE.
PM: Eles elogiaram a uma pessoa.
 PE: Eles bateram uma pessoa
 PM: bateram-lhe muito.
 PE: bateram-na muito.

Variação lexical
No caso de Moçambique, quando uma unidade lexical for inexistentes no português, os
falantes vão buscar do acervo das suas LB para completar o espaço em branco ou vazio. As
unidades lexicais: matapa (folhas de mandioqueira ou prato feito com folhas de
mandioqueira), kwassa-kwassa (dança tradicional africana), mamba (cobra perigosa e
venenos), matorritorri (cocada), nembo (seiva viscosa que é usada para apanhar pássaros),
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ntchuva (jogo tradicional no qual o jogador move pedrinhas colocadas em filas de covas)
refletem a realidade local. Estas unidades lexicais provêm da língua xichangana3 para
enriquecer o léxico português. Estas variações lexicais são causadas por razões culturais,
sociais e geográficas. As crianças brincam do mesmo jeito, as regras são iguais e o que muda
é simplesmente o nome.
Há que considerar muitos rituais tradicionais que não têm equivalência em português.
Mendes (2010:149): tinlholo: ossículos utilizados pelos curandeiros na adivinhação; uputsu:
bebida tradicional, confeccionada à base de mapira; ciputu: Rito de iniciação feminino
makhuwa; jando: rito de iniciação masculina yao.
Gonçalves (2005:47-72) explica quando fala sobre os Falsos sucessos no processamento do
input na aquisição de L2: papel da ambiguidade na gênese do Português de Moçambique.

Variação estilística - pragmática


Esta variação é inerentes as diferentes formas de falar entre diferentes idades (jovens vs
adultos) ou entre grupos sociais distintos ou entre áreas profissionais específicas.
Exemplo:
“Oi pessoal, mbora-lá tchilar para não nholar!”
“Tcheca-lá antes de bazarmos. Esse gai-gai pode tchunar as cenas e ficarmos
a mbunhar!”.

Variedades geográficas ou variação diatópica


A palavra “diatópica provem do grego dia=através de + topos=lugar. As variações
geográficas seriam aquelas que estão ligadas aos diferentes lugares onde a língua é falada.
São as diferenças que uma mesma língua apresenta na dimensão do espaço, quando é falada
em diferentes regiões de um mesmo país ou em diferentes países.

Variação estilística - pragmática


Esta variação é inerentes as diferentes formas de falar entre diferentes idades (jovens vs
adultos) ou entre grupos sociais distintos ou entre áreas profissionais específicas.
Exemplo: “E aí malta, tá-se bem?”
“oi pessoal, mbora-lá tchilar para não nholar!”
“Tcheca-lá antes de bazarmos. Esse gai-gai pode tchunar as cenas e ficarmos
a mbunhar!”.
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Variação distrática
É uma variação que se encontra quando se comparam diferentes estratos de uma população.
No Brasil, há vários estudos que mostram as diferenças na da população escolarizada e
analfabeta. Castilho (apud ILARI; BASSO, 2009:176) dá exemplos de:
 Negação redundante com indefinidos negativos. (ex. Ninguém não sabia)
 Perda de –s da desinência da 1ª pessoa plural. (ex. Nóis cantamo, nóis cantemo)
 Redução das formas verbais. (ex. Eu falo, você/ele/ela/nós/a gente/ vocês/eles/elas
fala). As formas verbais no presente do indicativo são “falo” e “fala”. Isso é
simplificação/redução. Esta simplificação gramatical é também observada em crioulos
de qualquer base.
 Uso dos pronomes do caso recto na posição de objecto (ex. Eu vi ele, a mulher xingou
eu).

Mudança diamésica
A variação se centraliza na comparação entre a língua falada e língua escrita.
Para PRETI, na “dinâmica lexical encontramos na gíria, um contínuo processo criativo dos
grupos sociais, em busca de efeitos expressivos para a linguagem do dia-a-dia.” No Brasil,
“as pessoas dizem coisas como né, ocêis, disséro, téquinico, pensando que dizem não é,
vocês, disseram, técnico.” (ILARI; BASSO, 2009:181).

Modificação diacrónica
É através do estudo da variação diacrónica que percebemos que as línguas que falamos hoje
são resultados longos anos ou épocas diferentes. Em muitos estudos o estudo da variação e da
mudança se faz com a observação da fala e de textos escritos antigos.

O professor moçambicano diante as modificação


A diferença na relação à PE e o PM, pois “não existe comunidade linguística alguma em que
todos falem do mesmo modo e porque, por outro lado, a variação é o reflexo de diferenças
sociais, como origem geográfica e classe social, e de circunstâncias da comunicação”.
(CAMACHO, 2011:35).
Portugal onde seria referência tem vários “dialectos” espalhados pelo país, fato que ilustra
que nenhuma língua é falada de forma homogénea.
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Características do léxico presente nos livros escolares


Moçambique tem enfrentado sérios problemas: primeiro, o tipo de ensino (alunos com LP
como língua materna usam o mesmo livro com aqueles que têm a LP como língua segunda);
segundo, os conteúdos (seguem a norma europeia e não toleram nenhuma variação).
Ao analisarmos os livros de 1ª a 7ª classe constatamos que há estrangeirismos e empréstimos
vindos das LB bem como da língua inglesa. Os textos são adaptados para que se aproximem
ao PE o que é, ao nosso ver, uma tentativa de “apagar” a realidade sociolinguística
moçambicana. Há uma tentativa da parte dos autores de apagar estrangeirismos e
empréstimos linguísticos presentes nos textos dos escritores moçambicanos. Por vezes essas
tentativas são fracassadas.
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Conclusão
A realidade eminente e o importante é continuarmos a pesquisar e a descrever esta variedade
de forma a melhor lidarmos com o ensino do português nas escolas moçambicanas. É
importante sublinhar que a língua portuguesa ainda é obstáculo no progresso da educação
moçambicana. Por isso, algumas vozes defendem uma educação bilingue a fim de se
ultrapassar tais dificuldades.
Voltando para o PM, é importante mostrar que cada linguista precisa dar seu contributo para
que a variedade seja reconhecida pelas autoridades que gerem a política e o planejamento
linguístico.
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Bibliografia
CALVET, Louis-Jean. As políticas linguísticas. São Paulo: Parábola, 2007.
Camacho, Roberto. Norma culta e variedades linguísticas. Caderno de formação: formação
de professores didáctica geral. v.11. São Paulo: Cultura Académica, 2011. P.34-49.
GUTHRIE, Malcolm. The classification of the bantu languages. London: OUP, 1948.
HAUGEN, E. Dialecto, língua, nação. In: Bagno, Marcos. (Org.) Norma linguística. São
Paulo: Layola, 2001. Pag. 97-114.
HEINE, Bernd; Nurse, Derek. African languages: an introduction. Cambridge: CUP, 2000.
Introdução à linguística: domínios e fronteiras. v.1. São Paulo: Cortez, 2001. p. 21-48.
MALIK, Khalid. Relatório de desenvolvimento humano. New York: PNUD, 2013.

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