Lei Tura
Lei Tura
Lei Tura
uk
Provided by ReCiL - Repositório Científico Lusófona
Instituto de Educação
Lisboa
2014
José Carlos Alves do Nascimento - A Prática da Leitura no Ensino Fundamental: Uma Abordagem à Luz
das Novas Concepções do Ensino de Língua Portuguesa
DEDICATÓRIA
À minha querida filha, Sofia, que tem como principal atividade de lazer a leitura. Que
esta obra sirva para você refletir sobre o ato de ler, quando tiver maturidade suficiente para
realizar esta leitura.
1.
AGRADECIMENTOS
A Deus,
Por nunca me deixar fraquejar diante dos obstáculos deste percurso;
À Universidade Lusófona,
Por me dar a oportunidade de realizar um sonho antigo: cursar o mestrado. Sou extremamente
grato a todos que fazem a instituição;
RESUMO
O presente trabalho de investigação discorre sobre a prática da leitura numa turma do 5º ano do
ensino fundamental do Colégio Estadual Manuel Bonfim, na cidade Arauá/SE. O objetivo
central é analisar como se dá a prática de leitura em sala de aula, tomando-se como premissa
norteadora as novas concepções do ensino de Língua Portuguesa. A fundamentação do processo
investigativo tem como suporte, entre outros autores, Bakhtin (1981,1997,1999, 2002); Chartier
(2001); Parâmetros Curriculares Nacionais [PCNs] de Língua Portuguesa (1997,1998); Koch
(2008, 2012). O processo metodológico pauta-se na consulta bibliográfica e na pesquisa de
campo, tendo como instrumentos investigativos o questionário e a observação direta. Ao cotejar
o enquadramento teórico com os dados coletados, evidencia-se que o ensino da leitura, pelas
estratégias desenvolvidas pelo professor em sala de aula, não atende às exigências para a
formação de um leitor competente, conforme preconizam as novas diretrizes do ensino de
Língua Portuguesa. Isso porque não se admite mais a formação de um leitor apenas
decodificador, passivo, que tem uma participação nula no ato da recepção do texto. Tudo leva a
crer, então, que os quadros teóricos não são operacionalizados nas práticas de sala de aula.
Palavras-chave: Leitura, Aluno, Professor, Escola
ABSTRACT
This present research work talks about the reading’s practice in the class of stage 5th of the
elementary school of the Colégio Estadual Manuel Bonfim, in Arauá city, in Sergipe state. The
central objective is analyze how is the reading’s practice in the classroom, taking as guiding
premise the new conceptions of teaching of Portuguese language. The reasoning in the
investigative process is based, among other authors, Bakhitin (1981, 1997, 1999, 2002); Cartier
(2001), Parâmetros Currculares Nacionais [PCNs] de Língua Portuguesa (1997, 1998); Koch
(2008, 2012). The methodological process is guided bibliographic research and field research,
taking as investigative tools the questionnaire and direct observation. To compare the theoretical
framing data collected, it is shown that the teaching of reading, strategies developed by teacher
in the classroom doesn’t meet the requirement for the formation of the competent reader, as
advocated in the new guidelines of the Portuguese language teaching. This because isn’t
admitted more the formation of the reader decoder only, passive, having no participation in the
act of receiving of the text. It seems likely, then, that the theoretical frameworks aren’t
operationalized in the practice of classroom.
Keywords: reading, student, teacher, school
ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
ÍNDICE GERAL
INTRODUÇÃO.................................................................................. 12
CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO ................ 14
1.1 Conceito de Sociedade ................................................................ 16
1.1.1 Conceito de Linguagem ...................................................................... 17
INTRODUÇÃO
Nos anos 60 e, especificamente nos 70, no Brasil, surgiram propostas para reformular o
ensino de Língua Portuguesa, uma vez que já havia uma preocupação com o pouco domínio da
leitura e da escrita pelos alunos no Brasil. A esse pouco domínio dessas duas atividades era
atribuído o insucesso escolar. À época, pensava-se que, com a valorização do potencial criativo
do aluno, resolver-se-ia a situação, dado que se tornariam competentes na comunicação e na
expressão. É, por isso, que, nesse período, a disciplina Língua Portuguesa passa a ser
denominada de Comunicação e Expressão. (Parâmetros Curriculares Nacionais [PCNs], 1998)
Os anos 80 do século XX vão marcar o início de uma nova era no ensino de Língua
Portuguesa. Vários estudos são realizados no campo da Linguística e eles apontam que o ensino
tradicional de língua precisa passar por mudanças radicais para que seja verdadeiramente
eficiente. Essas pesquisas enfocam o estudo da língua numa perspectiva mais complexa,
extrapolando o campo da Linguística, como atesta o excerto abaixo:
Na década de 80, difundiram-se pesquisas sobre a língua escrita com fundamentos
linguísticos e psicolinguísticos, com reflexos positivos na alfabetização, e estudos que
evidenciaram ser a escrita e a leitura mais que a decifração de códigos e sons, pois é
uma atividade que se orienta pela busca de significados. (Salto para o Futuro –
Educação de Jovens e Adultos, 1999, p. 14)
Dada a descrição acima, até a década de 70 do século passado, a condição para fazer
parte do mundo da escrita era apenas ter o domínio da decifração de códigos, já que, se o
indivíduo soubesse decifrar, significava que sabia ler. Os estudos no início da década de 80
comprovaram que essa concepção era equivocada e que ler, na verdadeira acepção da palavra,
não pode equivaler apenas a decifrar códigos. Ler significa interagir, questionar, encontrar
sentido na essência da leitura conforme o perfil intelectual do leitor.
A partir desse período, intensificaram-se as discussões acerca de uma nova concepção
de leitura com foco no leitor como sujeito autônomo frente ao texto. Ultimamente, diversos
trabalhos vêm sendo produzidos nesse sentido, evidenciando-se a importância da formação de
um leitor competente como condição para sua participação social.
Numa sociedade letrada em que a leitura e a escrita estão onipresentes, torna-se
imprescindível que o indivíduo domine essas duas práticas, sob pena de viver alienado dentro
dela. Fica difícil vislumbrar um futuro mais promissor se ele não puder desenvolver com
competência a sua capacidade de ler, não somente no sentido de decifrar, mas sim, no sentido de
ser um leitor na mais completa acepção da palavra.
Apesar de a leitura ser tão importante para a vida do indivíduo, a grande maioria dos
estudantes brasileiros apresenta extremas dificuldades para ler, dado que “os índices de
aproveitamento escolar das crianças e dos jovens que frequentam os colégios brasileiros são
muito baixos” (Zilberman, 2010, p. 98).
E o mais grave é que essa deficiência em leitura acaba por afetar o desempenho do
aluno em todo o seu processo ensino-aprendizagem, como frisa bem isso Kleiman (2012, p. 7):
“o ensino de leitura é fundamental para dar solução a problemas relacionados ao pouco
aproveitamento escolar: ao fracasso na formação de leitores podemos atribuir o fracasso geral do
aluno no primeiro e segundo graus1”.
Os resultados das avaliações externas de Língua Portuguesa aplicadas pelo Ministério
da Educação (MEC), que se fundamentam essencialmente no grau de competência leitora dos
alunos, demonstram quão baixo é o nível deles nesse quesito. Segundo a organização da Prova
Brasil/Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), uma dessas avaliações
aplicadas por esse Ministério, “a ideia é avaliar se o aluno tem a capacidade de fazer uma leitura
crítica” (Gisele Gama Andrade2, citada por Paulina, 2009, p. 12). Ora, como os resultados são
pífios, deduz-se que os alunos não estão aptos a realizarem uma leitura um pouco mais profunda
do que aquela que se restringe apenas à superficialidade do texto.
As pesquisas realizadas para avaliar a competência leitora dos estudantes brasileiros no
ensino fundamental também sempre indicam aspectos bastante negativos nesse sentido. As
conclusões a que chegam tais pesquisas são bastante desanimadoras, tendo em vista que o tempo
passa, e a política de leitura adotada pela tradição escolar parece continuar a mesma.
Esse despreparo dos alunos em ler de forma crítica é surpreendente na medida em que,
nos dias de hoje, dispõe-se de um acervo significativo de estudos linguísticos que demonstra
como formar leitores competentes. Além disso, grande parte dos professores, nos últimos anos,
teve acesso a cursos de graduação em Pedagogia e Letras e também a cursos de formação
continuada na área da Linguística.
A preocupação com essa situação e a curiosidade em saber por que ela ocorre foi o que
motivou a iniciativa para a elaboração desta pesquisa, que tem como tema A Prática da Leitura
no Ensino Fundamental: Uma Abordagem à Luz das Novas Concepções do Ensino de
Língua Portuguesa. As referências bibliográficas que deram suporte à abordagem são: Bakhtin
1
Denominações do ensino fundamental e do ensino médio, respectivamente, antes da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996).
2
Consultora da Abaquar Consultores e Editores Associados, organizadora dos estudos de Língua Portuguesa
realizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
(1981, 1997, 1999, 2002); Mangueneau (1997, 2008); Chartier (2001); PCNs3 (1997,1998);
Koch (2008, 2012); Antunes (2003); Kleiman (1993, 2002, 2012); Zilberman
(2010); Perrenoud (2000) e várias outras.
O presente trabalho de pesquisa estrutura-se em duas partes. A primeira parte foi
subdividida em dois capítulos, que correspondem ao enquadramento teórico e ao contexto
metodológico da pesquisa; a segunda parte é constituída exclusivamente por um capítulo, o qual
se destina à coleta de dados e à análise dos resultados.
No primeiro capítulo, reservado ao enquadramento teórico, busca-se, inicialmente,
conceituar todos os fenômenos que são intrínsecos à linguagem, como uma estratégia para dar
precisão aos aspectos abordados. Em seguida, passa-se a discorrer sobre as concepções de
língua, discurso e leitura, destacando-se, em especial, a concepção de leitura com foco na
interação autor-texto-leitor. Também, neste capítulo, discute-se a importância da biblioteca
escolar para viabilizar políticas de leitura inovadoras no contexto escolar.
No segundo capítulo, descreve-se o contexto metodológico da pesquisa, com ênfase nos
aspectos imprescindíveis para a execução de um estudo científico. Nele, definem-se a
problemática de estudo, a pergunta de partida, os objetivos, as hipóteses, a caracterização da
pesquisa e os instrumentos de coleta de dados. É profícuo ressaltar que o objeto de estudo é uma
turma do 5º ano (4ª série) do Colégio Estadual Manuel Bonfim, no município de Arauá/SE.
E, por fim, no último capítulo, expõem-se os dados coletados e promove-se uma
discussão fundamentada nas referências consultadas. Nessa discussão, vários aspectos
relacionados à prática da leitura em sala de aula são evidenciados, sobretudo aqueles que
envolvem as estratégias de ensino e o material didático. Após toda essa abordagem, apresenta-se
a conclusão a que chegou todo esse processo de investigação.
3
Referencial de qualidade para a educação no ensino fundamental em todo o Brasil.
A sociedade tem suma importância para o homem, tendo em vista que foi através da
convivência social que ele conseguiu sobreviver e domar parte da natureza. Seria improvável que
o homem sobrevivesse até os dias atuais se não procurasse se associar a seus pares para enfrentar
os desafios impostos pelos fenômenos naturais. Existem muitas ideias para conceituar o
fenômeno que é a sociedade, a depender do que se entende por tal expressão.
Kruppa (1994, p. 21) opina que “a sociedade é toda ela uma situação educativa, dado
que a vivência entre os homens é condição da educação. A ação desenvolvida entre os homens os
educa e, ao interagirem, educando-se entre si, os homens formam a sociedade.” Por esse ponto
de vista, a sociedade é produto da educação, a entender-se educação como a adaptação do
indivíduo à convivência social. Não seria possível, então, formar-se uma sociedade sem a prática
educativa. A interação, nesse caso, é um fator preponderante, posto que é o agente responsável
pelo intercâmbio cultural entre os indivíduos.
Freyre (2009, p. 145) atribui à sociedade o conceito abaixo:
No sentido específico, uma sociedade humana significa, em Sociologia, qualquer
grupo humano relativamente permanente como diz o professor Hankins, unido por
tradição de origem comum e de destino comum e capaz de conduzir a seu modo os
processos de perpetuação da raça - o que implica em alguma forma de vida e de
organização de família - e de conservação de usos e técnicas - o que implica cultura,
no sentido sociológico.
Esse conceito de sociedade proposto por Freyre, a partir de uma perspectiva
sociológica, coloca em evidência a importância das tradições como elo que une os membros de
uma sociedade e, consequentemente, proporciona as interações sociais entre os mesmos.
Pressupõe-se que, para que exista a sociedade, é necessário existir toda uma organização social,
composta por vários subgrupos que se intercomplementam.
Nesse sentido, a organização familiar e a cultura tornam-se os principais elementos para
proporcionar a existência e a permanência da sociedade. A primeira, pelo poder de continuação
da vida humana; a segunda, pelo poder de proporcionar aos membros da sociedade meios para a
sua sobrevivência.
Levy4, citado por Morrish (1975, p. 43), descreve a sociedade como: “um grupo de
seres humanos que compartilham de um sistema autossuficiente de ação, o qual é capaz de
existir mais tempo do que o período de vida de um indivíduo, sendo o grupo recrutado, pelo
menos em parte, pela reprodução sexual dos seus membros.” Esse conceito de sociedade coloca
4
Filósofo francês da cultura virtual contemporânea.
a pré-existência dela ao indivíduo como condição para que ela continue a existir. E essa
continuação da sua existência é garantida pela reprodução sexual, porque à medida que vão
perecendo alguns dos seus membros, outros vão surgindo. Assim nessa sequência da ordem
natural da vida, a sociedade vai sempre se renovando.
Ao analisar os conceitos apresentados, conclui-se que a sociedade é resultado de uma
complexa rede de elementos que se somam para legitimar a sua existência como organismo de
coesão entre as instituições e o homem.
Desde os seus primórdios, o homem buscou viver em grupo, não só porque é sociável
por natureza, como também porque era a única maneira de sobreviver e, consequentemente,
garantir a continuação de sua existência na Terra. A linguagem foi o elo que o aproximou a seu
semelhante, proporcionando as condições necessárias para a formação dos grupos sociais. Sendo
assim, caso não houvesse a mediação da linguagem para que o homem procurasse viver em
grupo, a convivência social não poderia existir.
Benveniste (2006, p. 93) define a relação entre linguagem e sociedade do seguinte
modo:
[...] cada uma destas duas entidades, linguagem e sociedade, implica a outra. Pareceria
que se pudesse e mesmo que se devesse estudá-las em conjunto, descobri-las em
conjunto, uma vez que em conjunto nasceram. Pareceria também que se pudesse e
mesmo que se devesse encontrar de uma a outra, da língua à sociedade, correlações
precisas e constantes, uma vez que uma e outra nasceram da mesma necessidade.
Essa descrição sobre a relação entre linguagem e sociedade deixa patente que ambas se
confundem numa mesma instituição, são interdependentes e uma funciona como extensão da
outra. A relação de reciprocidade é que dá o sustentáculo para que elas tenham existência,
interpenetrem-se e formem um conjunto de diversos substratos que são produtos dessa dualidade.
As relações estabelecidas na sociedade são originárias da linguagem, e essas relações,
por sua vez, originam também linguagem, assim, em um processo de intercâmbio social e
linguístico, tais instituições perpetuam sua existência. Elas mantêm uma relação intrínseca que
permite formar uma cadeia de conexões linguístico-social dinâmica em prol das relações
humanas. A linguagem espelha a sociedade, e a sociedade espelha a linguagem.
Nesse sentido, a linguagem não é apenas mais uma ferramenta da sociedade a serviço da
comunicação, uma vez que ela incorpora a própria sociedade com todas as suas esferas.
Corroborando com a tese do autor acima citado, Bakhtin (1981, p. 95) assim
dimensiona a linguagem:
[...] Na realidade, não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades
ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis,
etc. A palavra está sempre carregada de conteúdo ou de um sentido ideológico ou
modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade
humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua.
De acordo com a concepção bakhtiniana, os enunciados da língua estão em todos os
meios sociais e são eles que mediatizam as interações verbais. A língua se torna complexa
justamente por esse aspecto na medida em que, a depender das situações de uso, faculta aos seus
usuários utilizá-la da maneira que lhe aprouver, surgindo, desse modo, uma infinidade de
variações linguísticas em suas várias instâncias. No entanto, mesmo a sofrer tantas oscilações,
ela é o elo que une um povo.
Azeredo (2007, p. 35- 36) se refere à língua do seguinte modo:
Uma língua não existe por si, mas para seus falantes e em virtude do uso que eles
fazem dela. A língua é uma instituição social, uma criação histórica e coletiva.
Ordinariamente, os indivíduos a adquirem e a aceitam como ‘uma coisa natural’, e
limitam-se a servir-se dela pelo resto da vida. A aquisição de uma língua –
especialmente da língua materna – não se resume, porém, à aprendizagem de um meio
de comunicação. Com a língua, aprendemos também – e sobretudo – uma certa
maneira de conhecer o mundo, de entender a realidade no que ela tem de significativo
para as nossas relações com as outras pessoas.
Depreende-se pela abordagem acima que o elemento cultural mais importante para a
identificação de um povo é a língua, através dela é que se produz a cultura de uma nação. É
também a primeira instituição social com a qual o falante estabelece seus primeiros contatos com
o mundo exterior, permitindo-lhe, assim, inter-relacionar-se com os membros da sua comunidade
linguística e adaptar-se às regras de convivência social.
Uma prova do valor inestimável da língua pode ser dada pelo fato de várias civilizações
desaparecerem, mas, graças às marcas que foram deixadas por ela, é possível hoje conhecer a
cultura dessas civilizações. Por isso, os signos linguísticos não se prestam apenas para codificar e
decodificar mensagens nas situações triviais em que são usados, mas sim, constituem uma
entidade que funciona como sustentáculo de uma sociedade num determinado momento histórico
e proporciona a outras sociedades futuras usufruir de seus conhecimentos.
Nos últimos anos, há uma preocupação dos linguistas em aprofundar os estudos sobre a
análise do discurso, dada a importância das práticas discursivas nos atos de comunicação. Mas o
que é mesmo discurso? Como conceituá-lo?
Maingueneau (2008, p. 15) atribui ao discurso a seguinte acepção: “[...] entenderemos
por discurso uma dispersão de textos, cujo modo de inscrição histórica permite definir como um
espaço de regularidades enunciativas.” O discurso é concebido pelo autor como um processo de
Conforme essa definição, depreende-se que por trás das práticas discursivas há sempre
uma realidade linguística, social e histórica que fornece a ‘matéria-prima’ disponível para
viabilizá-las. No momento em que se inicia o discurso, seus interlocutores acionam seus
mecanismos intelectuais para expor suas ideias, fundamentados no contexto de significação.
Orlandi (2012, p. 77) segue essa mesma linha de raciocínio ao tentar definir o discurso: “a
formação discursiva se define como aquilo que numa formação ideológica dada - isto é, a partir
de uma posição dada em uma conjuntura sócio-histórica dada - determina o que pode e deve ser
dito.”
Todos os conceitos abordados confluem para uma conclusão: as práticas discursivas não
podem ocorrer independentemente do contexto em que são realizadas. Os discursos não
acontecem no vácuo, sem um pano de fundo que possibilite a partilha de conhecimentos, pois
seria impossível ocorrer a interlocução exclusivamente com os recursos linguísticos sem o
auxílio dos aspectos sociais e históricos de um determinado contexto.
cotidiano escolar. O aluno, por sua vez, mesmo iniciante no aprendizado da língua, não é mero
receptor da mensagem, pelo contrário, sua participação, agora, é na condição de sujeito dentro da
tríade locutor/mensagem/interlocutor.
Bakhtin (1981, p. 123), ao estabelecer uma discussão sobre a constituição da língua,
reitera o que afirma a abordagem anterior:
[...] a verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de
formas linguísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato
psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal,
realizada pela enunciação ou pelas enunciações. A interação verbal constitui, assim, a
realização fundamental da linguagem [...]
Como se pode comprovar acima, o fragmento, a exemplo da abordagem anterior,
destaca a importância do caráter social da língua e das interações verbais para a prática
discursiva. Essa concepção se contrapõe a outras concepções anteriores de língua no ensino de
Língua Portuguesa, que tinham como pressuposto fundamental a sua instrumentalidade, ou seja,
a língua focada sob uma perspectiva de independência do contexto social.
O autor ressalta também a importância do dialogismo na linguagem, dando a
compreender que ela não se realiza apenas com o locutor, e sim, com o locutor e com o
interlocutor. A interlocução, desse modo, será fator determinante para que o processo de
enunciação proporcione a interação verbal.
Mas o que seria a enunciação? Bakhtin (1981, p. 112) define a enunciação como “o
produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não haja um
interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual
pertence o locutor.”
Infere-se que a enunciação é a materialização da linguagem que, por sua vez, está
subordinada à existência de um interlocutor (ainda que imaginário) e de uma situação social.
Esses dois elementos proporcionam as condições necessárias para que haja a interação verbal e,
com isso, a linguagem produza sentido. Isso quer dizer que quem produz discurso, produz para
alguém e esse alguém deve compartilhar conhecimentos comuns com quem o produziu, a
palavra não é dirigida para o vazio. Frise-se que a palavra, nessa acepção, não é aquela separada
do contexto social, ela depende das circunstâncias sociais nas quais é produzida.
Assim sendo, não é suficiente apenas a existência da língua e da sociedade para que um
discurso se concretize, mas é necessária também a existência de certas condições sócio-históricas
que proporcionem a sua realização. Sobre tal fenômeno, Maingueneau (1997, p. 30) a ele refere
nominando-o como um contrato, isto é, uma espécie de convenção entre os indivíduos para que
aconteçam as atividades interativas verbais, observe-se,
A leitura tem importância fundamental para a vida do ser humano nas civilizações
grafocêntricas. Desde a infância, o indivíduo é obrigado a conviver com essa atividade
intelectual que estará omnipresente durante toda a sua vida, quer seja no contato direto com ela,
quer seja na sua convivência social nesse mundo letrado.
Numa perspectiva científica, a leitura é focada sob diferentes ângulos, dependendo do
que se entende pelo ato de ler. Consoante Koch (2008), existem três concepções de leitura, a
saber: a leitura com foco no autor, a leitura com foco no texto e a leitura com foco na interação
autor-texto-leitor.
A leitura com foco no autor “é entendida como a atividade de captação das ideias do
autor, sem que se leve em conta as experiências e os conhecimentos do leitor, a interação autor-
texto-leitor com propósitos constituídos sociocognitivo-interacionalmente” (Koch, 2008, p. 214).
Nessa concepção, o autor é sujeito soberano do texto, e o leitor é apenas um elemento passivo
que não exerce nenhuma influência sobre ele e também não pode interferir de forma subjetiva,
porque deve ser fidedigno às ideias de quem escreve.
A leitura com foco no texto “é vista como uma atividade que exige do leitor o foco no
texto, em sua linearidade, uma vez que tudo está dito no texto” (Koch, 2008, p. 214). De acordo
com essa concepção, a atividade de ler independe das experiências de vida do leitor, cabendo a
ele apenas o papel de mero reprodutor das ideias contidas no texto. A partir dessa visão de
leitura, essa atividade se restringe apenas a um código a ser decifrado.
A terceira concepção de leitura, com foco na interação autor-texto-leitor, contrapõe-se
às duas anteriores, pois, segundo Koch (2008, p. 215),
É uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se
realiza, evidentemente, com base nos elementos linguísticos presentes na superfície
textual e na sua forma de organização, mas que requer a mobilização de um vasto
conjunto de saberes no interior do evento comunicativo.
Conforme essa concepção, a leitura não se reduz apenas à captação das ideias do autor
nem também ao código linguístico. Ela envolve uma série de elementos linguísticos e
extralinguísticos que proporciona condições de o texto ser lido com vários sentidos, isto é, a
interação entre o autor, o texto e o leitor é condição ‘sine qua non’ para que a leitura se realize.
Essa última concepção de leitura concebe o ato de ler como uma atividade interativa em
que o leitor tem um papel ativo diante do autor e do texto e, consequentemente, tem plena
liberdade de atribuir vários sentidos ao que lê.
E, compactuando com essa concepção, observe-se abaixo como é conceituada a leitura
pelos PCNs (1998, pp. 69-70), documento oficial que foi muito importante na consolidação das
novas concepções de língua e discurso no ensino de Língua Portuguesa:
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e
interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto,
sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair
informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma
atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem
as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita
controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de
compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas.
Como fica evidenciado acima, o aludido documento dá um conceito de leitura bastante
abrangente. O ato de ler é descrito como uma atividade interativa que requer um conjunto de
procedimentos inter-relacionados permitindo, assim, ao leitor realizar uma leitura proficiente.
Por esse prisma, não basta apenas ao leitor dominar as técnicas de leitura tradicionais, que são
pautadas mais na extração de informações, mas sim, dispor de todo um aparato linguístico que
lhe possibilite penetrar no dinamismo do texto.
O pensamento de Antunes (2003, p. 67) em relação ao conceito de leitura é bem
semelhante ao dos PCNs de Língua Portuguesa, e a autora ainda acrescenta um elemento novo, a
escrita, com a qual o ato de ler mantém uma relação intrínseca. Segundo ela:
A atividade da leitura completa a atividade da produção escrita. É, por isso, uma
atividade de interação entre sujeitos e supõe muito mais que a simples decodificação
dos sinais gráficos. O leitor, como um dos sujeitos da interação, atua
participativamente, buscando recuperar; buscando interpretar e compreender o
conteúdo e as intenções pretendidas pelo autor.
Depreende-se que a leitura, além de ser um processo de interação verbal, também é um
complemento da escrita. O código a ser interpretado não se encerra em si mesmo, vez que é o
encontro entre dois sujeitos, locutor e interlocutor e, nesse encontro, o leitor é ativo, sendo sua
participação fundamental para desvelar o verdadeiro sentido do texto.
Conforme essa visão, a verdadeira leitura é aquela em que o leitor não se satisfaz com a
superficialidade do texto, mas sim, imerge nas acepções mais profundas dele. Na condição de
sujeito, ele não deve se contentar apenas com uma leitura única, pelo contrário, deve levantar
diversas possibilidades de leitura sobre a intenção de quem escreveu o texto e ter perspicácia
suficiente para descobrir o seu verdadeiro sentido.
Matêncio (1994, p. 42) também segue uma linha de raciocínio análoga à da autora
citada anteriormente. Para ela,
A leitura, assim como a escrita, é uma atividade realizada de forma visual, por
movimento de globos oculares. Ao longo desse processo, os olhos não se fixam em
cada uma das palavras, como fariam pressupor as atividades de leitura na escola, mas
identificam um conjunto de palavras. Por outro lado, o leitor não é passivo frente ao
texto, mesmo que a escola o oriente nessa conduta: os sentidos que ele estabelece na
leitura são vinculados aos seus conhecimentos da atividade, da estrutura textual e de
mundo; ao longo desse processo ele cria, confirma ou rebate suas hipóteses acerca do
que ali lhe é exposto.
Evidencia-se que a leitura, a exemplo da escrita, não é uma atividade fragmentada,
composta por signos isolados que são decifrados de forma ordenada para, posteriormente,
construir um todo com sentido, como dá a entender as práticas escolares de leitura. Mesmo que a
escola não reconheça, o leitor é um ser ativo que depende essencialmente de seu conhecimento
de mundo e de escrita para ler o texto e, consequentemente, conferir significação à sua leitura.
Koch & Elias (2012, p. 22) conceituam esse conhecimento de mundo, também
denominado por essas autoras como conhecimento enciclopédico, como aquele que “refere-se a
conhecimentos gerais sobre o mundo – uma espécie de thesaurus5 mental – bem como a
conhecimentos alusivos a vivências pessoais e eventos espácio-temporalmente situados,
permitindo a produção de sentidos”.
Lajolo (1982, p. 59), como as referências já citadas, conceitua a leitura como uma
atividade que está muito além da decifração de signos linguísticos:
Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir
do texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os
outros textos significativos para cada um reconhecer nele o tipo de leitura que seu
autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se
contra ela, propondo outra não prevista.
Como fica patente na concepção de leitura da autora, o ato de ler é altamente
dependente da competência do leitor porque essa competência lhe faculta a possibilidade de
realizar suas inferências textuais e intertextuais. Tais inferências dão condições a ele para que
seja autônomo diante das ideias do texto e, frente a isso, possa aceitar ou rejeitar as intenções do
seu autor. Portanto, a leitura, por essa ótica, está subordinada ao grau de conhecimento do leitor
e também à sua capacidade de interpretar e de inter-relacionar as ideias dos textos.
Chartier et al. (2001, p. 108) associa o ato da leitura à competência do leitor:
Ler é dar sentido de conjunto, uma globalização e uma articulação aos sentidos
produzidos pelas sequências. Não é encontrar o sentido desejado pelo autor, o que
5
Thesaurus é um instrumento que reúne termos escolhidos a partir de uma estrutura conceitual previamente
estabelecida e destinados à indexação e à recuperação de documentos e informações num determinado campo do
saber. O que é o thesaurus? Acessado em 25 de julho de 2014 em http://portal.inep.gov.br
1.4.1 A Intertextualidade
Um dos aspectos mais importantes do estudo do texto são as suas relações intertextuais
ou a intertextualidade. A intertextualidade é considerada pelos autores abaixo citados como um
dos requisitos essenciais para que o texto adquira significação.
Prestes (1999, p. 40) afirma que “quando o produtor de um texto repete expressões,
enunciados ou trechos de outros textos, ou então o estilo de certo autor ou de certo tipo de
discurso, temos a intertextualidade.” Esse conceito de intertextualidade considera apenas as
referências explícitas que um texto faz a outro. Esse tipo de intertextualidade é muito explorado
nas produções literárias, em que um texto recorre a outro com a finalidade reafirmar, inverter,
contestar ou deformar o seu sentido. (Fiorin & Savioli, 1999, p. 19)
Koch (2012, p. 86) aprofunda esse conceito e afirma que “a intertextualidade ocorre
quando, em um texto, está inserido outro texto (intertexto) anteriormente produzido, que faz
parte da memória social de uma coletividade.” Entende-se que um texto não pode ser produzido
sem que se recorra a outros textos que, por sua vez, já foram produzidos a partir de textos
anteriores. Então, nessa sucessão de produção e reprodução, os textos, mesmo se diversificando,
continuam a conservar em seu bojo, quer sejam de forma, quer sejam de conteúdo, marcas de
outros textos.
Maingueneau (2008, p. 77) define a intertextualidade como as “relações intertextuais
que a competência discursiva define como legítimas”, ou seja, um discurso somente recorre a
outro quando há uma relação interdiscursiva que legitime a sua existência. Maingueneau (2008)
também faz uma distinção entre intertextualidade interna e intertextualidade externa. A primeira
se caracteriza quando um discurso se remete a outro dentro da mesma esfera do conhecimento; a
segunda, quando um discurso se remete a outro de uma esfera de conhecimento diverso.
Azeredo (2007, p. 25- 26) assim explica o seu conceito de intertextualidade:
Nenhum texto veicula informações cem por cento inéditas, assim como nenhum texto
é cem por cento novo no formato, ou gênero pelo qual essas informações são
veiculadas. Qualquer texto lembra, retoma ou evoca, implícita ou explicitamente,
outro texto ou parte de algum texto. A essa propriedade, que é também uma espécie de
conhecimento compartilhado – só que numa dimensão social e histórica -, chamamos
intertextualidade, um importante suporte de coerência.
Conforme a reflexão acima, todos os textos que são produzidos mantêm vínculos com
outros textos, sendo impossível ser totalmente autêntica sua produção. Ao produzir um texto, o
produtor, de uma forma ou de outra, vale-se de elementos de outras produções. Mesmo que ele
não admita recorrer a outras produções textuais, não há possibilidade de escapar às influências da
realidade sócio-histórica em que está inserido, o que se caracteriza como intertextualidade. É a
partir dessa premissa que Bakhtin (1999, p. 113) assegura que a palavra é “uma espécie de ponte
lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra, apoia-se
sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor.”
Sendo assim, a intertextualidade é pressuposto essencial para qualquer produção textual,
não esquecendo que também no ato da recepção esse fenômeno da linguagem atua como fator
determinante para a compreensão do texto. Então, pode-se afirmar categoricamente que a
produção textual e recepção são determinadas pelas relações intertextuais.
São inegáveis as vantagens que a leitura proporciona ao leitor, como bem esclarece
Antunes (2003, p. 70):
A atividade da leitura favorece, num primeiro plano, a ampliação dos repertórios de
informação do leitor. Na verdade, por ela, o leitor pode incorporar novas ideias, novos
conceitos, novos dados, novas e diferentes informações acerca das coisas, das pessoas,
dos acontecimentos, do mundo em geral. Nesse sentido, a leitura escolar dos textos de
outras disciplinas representa uma oportunidade bastante significativa de aquisição de
novas informações. Como se sabe, informações de um texto de geografia ou de
história podem ser bastante relevantes para apoiar os argumentos apresentados num
comentário, por exemplo.
Fica óbvio acima que a atividade da leitura proporciona ao leitor a oportunidade de
enriquecer seu universo de conhecimentos de um modo geral, porque quanto mais leituras ele
fizer, mais conhecimentos adquirirá. Acresça-se que, como o excerto acima destaca, os textos
não precisam ser necessariamente apenas da disciplina Língua Portuguesa. As demais disciplinas
que compõem a grade curricular podem contribuir com seus textos em virtude de
proporcionarem aos alunos a aquisição de mais ideias para defenderem seus pontos de vista.
Acerca da relação entre leitor e texto, assim discorre Antunes (2003, p. 78):
[...] O sentido de um texto não está apenas no texto, não está apenas no leitor. Está no
texto e no leitor, pois está em todo o material linguístico que o constitui e em todo o
conhecimento anterior que o leitor já tem do objeto de que trata o texto. É por isso que
não se pode ver no texto o que lá não está nem se pode ver apenas o que lá está sobre a
página. A leitura tem, assim, a dinâmica de qualquer outro encontro: seu sentido é de
agora e é de antes.
escrita, a comunicação só se estabelece por meio de textos, mesmo que tenham extensão e/ou
finalidades diferentes. Por isso, não tem sentido afirmar que a escola não trabalha com textos
porque, se assim for entendido, reduz-se sua função a uma mera atividade que apenas é realizada
por exigências do sistema escolar.
Koch (2008, p. 217) esclarece que, a depender da relação que se estabelece entre leitor e
texto, um texto escrito também dá margem a várias interpretações,
A pluralidade de leituras e de sentido pode ser maior ou menor dependendo, por um
lado, do texto, do modo como foi construído, do que foi explicitamente revelado, e do
que foi implicitamente sugerido; por outro lado, da ativação por parte do leitor, de
conhecimentos de natureza vária, bem como de seus objetivos e de sua atitude perante
o texto.
Assim, considerar o leitor e seus conhecimentos e que esses conhecimentos são
diferentes de um leitor para outro implica, necessariamente, aceitar uma pluralidade de
leituras e de sentidos em relação a um mesmo texto.
Um texto pode oferecer um leque de opções de leitura e a cada uma delas pode ser
atribuído pelo leitor um sentido diferente. A depender da estrutura do texto, ele pode trazer ideias
óbvias, como também pode trazer em seu bojo ideias sem clareza e, com isso, apenas insinuar,
deixando o leitor ao seu bel-prazer para, através de seu raciocínio, chegar as suas inferências.
Além disso, o repertório intelectual conta muito, pois essa diversidade de leituras está
subordinada ao seu poder de interpretação juntamente aos seus conhecimentos acumulados, que
são decisivos para a pluralidade de leituras. Nesse sentido, um mesmo texto pode ser lido
distintamente por leitores de graus de conhecimentos diferentes e, de acordo com o ponto de
vista de cada um, podem chegar a conclusões diferentes.
No entanto, a autora supracitada adverte que o texto, mesmo oferecendo uma gama de
possibilidades de leitura, não pode ser lido arbitrariamente, de qualquer maneira, já que “o
sentido não está apenas no leitor, nem no texto, mas na interação autor-texto-leitor. Por isso, é de
fundamental importância que o leitor considere na e para a produção de sentido as sinalizações
do texto, além dos conhecimentos que possui” (Koch, 2008, p. 217).
Orlandi (2012, p. 49) considera a recepção da leitura até mais importante do que a
produção do texto, uma vez que assim argumenta:
[...] se pode dizer que a leitura é o momento crítico da constituição do texto, o
momento privilegiado do processo de interação verbal, uma vez que é nele que se
desencadeia o processo de significação. No momento em que se realiza o processo da
leitura, se configurará o espaço da discursividade em que se instaura um modo de
significação específico.
Não é na produção do texto que se manifesta sua plurissignificação, mas no ato da
leitura. É através da leitura reflexiva que se manifestam os vários sentidos de um texto, produto
da interação verbal que vai proporcionar ao leitor quantas leituras forem possíveis. A partir dessa
perspectiva, deve-se levar em consideração os conhecimentos acumulados pelo leitor, fato que
distingue a competência interpretativa entre os diversos leitores.
Santos (2009, p. 130), baseada nos estudos da estética da recepção, teoria que privilegia
o papel do leitor frente ao texto, afirma: “Com a valorização do papel do receptor durante as
atividades de leitura, o texto passa por uma abertura de análise, eximindo-se do leitor a culpa e a
frustração em não ter atingido conclusões até então ditas como corretas.” Isso significa que,
antes desses estudos, o receptor do texto tinha apenas um papel passivo, visto que tudo que se
poderia extrair do texto estaria somente na produção dele.
Essa concepção de leitor anulava totalmente o seu poder de interpretação, ficando,
assim, à mercê do texto, sem a oportunidade de também opinar, comprovar que nem tudo que
está no texto pode ser restrito à sua produção.
Faulstich (2008, p. 23) esclarece o que se deve considerar para que haja o entendimento
de um texto: “Entender um texto é compreender claramente as ideias expressas pelo autor para,
então, interpretar e extrapolar essas ideias. Nesse momento o leitor deve ajustar as informações
contidas no contexto em análise às que ele possui em seu arquivo de conhecimento.”
Entender um texto não se resume apenas a um ato de recepção de forma estática pelo
leitor, contentando-se unicamente com as ideias de quem o produziu. Há o entendimento de um
texto quando o leitor tem ciência daquilo que está a ler e, assessorado por outras leituras, ser
capaz de extrapolar as ideias contidas nele. Nesse processo, o leitor aciona todo o seu repositório
cognitivo disponível para contestar, discernir, inferir, reconstruir e, por fim, construir.
Zilberman (2010, p. 45)) associa a aprendizagem da leitura à habilidade do leitor em
atribuir sentido a ela:
A leitura implica aprendizagem se o texto foi aceito como alteridade com a qual um
sujeito dialoga e perante a qual se posiciona. A leitura implica aprendizagem quando a
subjetividade do leitor é acatada e quando o leitor, ele mesmo, aceita-se como o eu
que perde e ganha sua identidade no confronto com o texto. Que nem todos os leitores
admitem as regras desse processo [...]; que instituições como a escola ainda não
descobriram como trabalhar com esse jogo entre identidade-alteridade, mostra a
trajetória da leitura no ensino da língua portuguesa.
A leitura só pode ser considerada legítima quando o leitor é o sujeito da relação entre
ele e o texto, quando a sua habilidade intelectual é mobilizada a fim de que, de forma autônoma
e consciente, atribua significação ao que leu. Nesse processo, ele pode estabelecer várias linhas
de leitura, já que tal processo tem para o leitor um caráter idiossincrático, independente e ativo.
Essa concepção de leitura garante ao aluno uma formação sólida, consciente do conhecimento
que o texto escrito pode proporcionar e, por outro lado, dos ardis que esse mesmo texto pode
trazer em suas entrelinhas.
sempre para a não relação com o inesperado, o múltiplo, o diferente. No entanto, esta
relação deveria fazer parte do processo de aprendizagem. Não estamos com isso
propondo que se entregue o projeto pedagógico ao espontaneísmo das relações já
estabelecidas pelo aluno. Mas tampouco aceitamos a imposição (onipresente) do
controle total exercido pela autoridade escolar. O que se propõe é uma relação
dialética entre aprendiz e professor na construção do objeto de conhecimento, no caso
presente, a leitura.
A relação que se estabelece nas práticas de leitura adotadas pela escola é a da
verticalidade entre o conhecimento do professor e o conhecimento do aluno. É como se houvesse
uma leitura única do texto e só o professor dominasse aquela representação textual que guia a
interpretação do aluno. Ao aluno não é dada a voz para que ele chegue às suas próprias
conclusões sobre o que leu, pelo contrário, a ele só é dado o direito de percorrer o caminho, mas
o ponto de chegada já está pré-determinado pelo professor.
Isso não quer dizer também, pela abordagem de Orlandi, que aqui está a se defender a
total permissividade nos projetos pedagógicos de leitura, mas sim, defende-se que exista mais
flexibilidade na relação entre professor e aluno; que o leitor, mesmo na condição de discípulo,
tenha suas opiniões respeitadas; que o professor, mesmo como autoridade máxima da sala de
aula, não se valha disso para impor a sua leitura. Assim, pode-se formar um leitor crítico, com
ideias próprias e, desse modo, ser capaz de ter o domínio sobre a leitura.
Silva (2003, p. 30) assim discorre sobre formação de um leitor crítico:
Ensinar a ler criticamente significa, antes de tudo, dinamizar situações em que o aluno
perceba, com objetividade, os dois lados de uma mesma moeda ou, se quiser, os
múltiplos lugares ideológico-discursivos que orientam as vozes dos escritores na
produção de textos.
A primeira condição para formar um leitor crítico é conscientizá-lo de que a leitura não
é una, ela pode apresentar nuances que desmitificam a ideia de que o leitor não tem nenhuma
influência no ato da recepção do texto. De posse dessa realidade, o aluno já percebe que ele
também é importante na atribuição de sentido ao texto, não sendo apenas um simples receptor
das ideias do escritor. A partir desse pressuposto, de forma paulatina, suas concepções
equivocadas sobre leitura, geralmente consolidadas nos primeiros anos do ensino fundamental,
podem mudar e, consequentemente, transformar-se-á em outro leitor.
Segundo Kleiman (1993, p. 49) “a leitura é uma atividade de procura do passado, de
lembranças e conhecimentos do leitor. O que orienta o ato de ler é a direção, elaboração do
pensamento e sua imagem de mundo.” Essa afirmação quer dizer que a leitura da palavra
mantém uma relação simbiótica com a visão de mundo do leitor, pois diante de uma leitura pode-
se remeter a outras leituras já passadas. No ato de ler há toda uma rede de ideias que se entrelaça
à medida que se vai explorando o texto. Sendo assim, é inconcebível desvincular a palavra
escrita da palavra do mundo.
Freire (2000, p. 15) faz uma abordagem interessante sobre a leitura do mundo:
Mas, é importante dizer, a “leitura” do meu mundo, que me foi fundamental, não fez
de mim um menino antecipado em homem, um racionalista de calças curtas. A
curiosidade do menino não iria distorcer-se pelo simples fato de ser exercida, no que
fui mais ajudado do que desajudado por meus pais. E foi com eles, precisamente, em
certo momento dessa rica experiência de compreensão do meu mundo imediato, sem
que tal compreensão tivesse significado malquerenças ao que ele tinha de
encantadoramente misterioso, que eu comecei a ser introduzido na leitura da palavra.
Fica evidente que, para o autor, a leitura do mundo é muito mais importante que a
leitura da palavra, pois se entende que é a palavra que está inserida no mundo e não vice-versa.
O acesso à leitura propriamente dita se dá por uma leitura anterior, que é mais profunda e mais
concreta, que faz parte da realidade imediata, proporcionando ao leitor, assim, a imersão no
mundo letrado.
Zappone (2001, p. 47) reforça o comentário acima ao analisar a concepção de leitura
freireana:
Sua concepção de leitura está ancorada numa premissa que poderia ser chamada de
sócio-política. A leitura para ele seria uma interpretação crítica e, de certa forma,
personalizada do que se lê, pois o leitor levaria em conta todo o seu conhecimento
prévio, sua experiência de vida e de leituras anteriores e, acima de tudo, a sua
realidade. Sua concepção de leitura, portanto, supõe para o leitor uma posição de
sujeito no processo de atribuição de significado e não de mero receptor das ideias
veiculadas pelo texto e pelo autor.
Vê-se que a concepção de leitura de Paulo Freire tem um viés político, que pode ser
justificado pela sua posição de não aceitar que a escrita seja tratada como uma prática neutra,
independente das ideologias e do controle social no contexto em que está inserida. Nesse sentido,
jamais o leitor pode deixar de ocupar a sua posição de sujeito em sua relação com a leitura
porque seria o mesmo que renegar sua identidade e sua história de vida.
Ainda, de acordo com Kleiman (1993, p. 49):
Ler é interagir, o ato de ler não se dá linearmente como um processo contínuo,
tranquilo e sem interrupções. Ao contrário, é uma operação mental complexa, marcada
por tensões, porque envolve ativamente a pessoa que lê, não é fácil, exige esforço
mental e físico.
Engana-se quem pensa que a leitura é um processo simples, essa atividade intelectual
requer previsões, especulações, dúvidas, inferências, negações, enfim uma série de elementos
que se entrecruzam na mente do leitor. A mobilização desses elementos, por sua vez, implica um
trabalho árduo e sofrível, tanto em relação ao aspecto físico, como em relação ao intelectual.
Mas é justamente por ser um processo complexo que a leitura se torna um bem
inestimável para o indivíduo, pois o seu domínio pode significar libertação e participação social.
Bezerra (2010, p. 67) afirma que todo professor deve estar plenamente consciente da
importância da leitura para todas as áreas de conhecimento que constituem o currículo escolar:
A leitura como meio de ensino implica o reconhecimento de que, independentemente
da área de conhecimento específico de cada professor, a aprendizagem dos diversos
conteúdos implica necessariamente o trabalho com a leitura e a compreensão de
textos. Nesse sentido, todo professor deve, primeiro, constituir-se a si próprio como
leitor proficiente, sob pena de não dispor das condições minimamente necessárias ao
ensino de seu objeto de conhecimento.
O óbvio, mas, para isso, os professores ainda não se atentaram é que as atividades de
leitura devem ser desenvolvidas em quaisquer das disciplinas que fazem parte do currículo
escolar. Além disso, essas atividades devem ser articuladas de modo que elas não fiquem
limitadas apenas à pedagogia tradicional de leitura, em que o texto, geralmente, é usado
simplesmente como pretexto.
É necessário um trabalho interdisciplinar. A harmonização dos conteúdos das diversas
áreas é de extrema importância, considerando-se que uma proposta dessa natureza requer
concepções e processos metodológicos consistentes por parte de todo o corpo docente da escola.
Os PCNs (1997, p. 48) chamam a atenção quanto ao papel do professor nos projetos de
leitura:
Em se tratando da área de Língua Portuguesa, o professor também terá outro papel
fundamental: o de modelo. Além de ser aquele que ensina conteúdos, é alguém que
pode ensinar o valor que tem, demonstrando o valor que tem para si. Se é usuário da
escrita de fato, se tem boa e prazerosa relação com a leitura, se gosta verdadeiramente
de escrever, funcionará como um excelente modelo para seus alunos. Isso é
especialmente importante quando eles provêm de comunidades pouco letradas, onde
não participam de atos de leitura e escrita junto com adultos experientes. Nesse caso,
muito provavelmente, o professor será a única referência.
O professor não deve ser apenas um espectador nessas atividades, ele também deve se
envolver nas situações de leitura, sendo coparticipante e, com isso, mostrando o valor da leitura
para os seus alunos. Ele não pode propor uma atividade de leitura ou de escrita e ficar apenas na
condição de um fiscal, a observar quem está envolvido nas atividades e quem não está. Pelo
contrário, sua postura deve ser também de leitor ou de escritor, uma vez que esse procedimento
serve como exemplo para os alunos, pois eles gostam de ver o professor seduzido pelo que faz.
Ressalte-se também que esse momento na sala de aula pode ser único e especial, muitos
alunos das classes populares têm a oportunidade de interagir e adquirir um conhecimento mais
aprofundado é unicamente na escola, por isso, o papel do professor ser tão fundamental.
Em pesquisa realizada por Kramer (2001, p. 52) para saber o grau de comprometimento
do professor com a leitura, eis um dos seus principais questionamentos: “Como pode um
professor que não gosta de ler e de escrever, que não sente prazer em desvendar os sentidos de
um texto, tornar seus alunos pessoas que gostem de ler e escrever?”. A autora não entende como
um professor não gosta de ler e de escrever e, paradoxalmente, é lhe dada a incumbência de
ensinar essas práticas aos seus alunos para torná-los leitores. Isso é o que se pode denominar
literalmente de contrassenso, posto que “toda a retórica pedagogista se funda sobre esse
argumento: podemos ensinar mal o que não se conhece bem. Talvez seja verdadeiro. Mas há
outra verdade, essa incontestável: jamais poderemos ensinar bem o que conhecemos mal.”
(Zilberman, 2010, p. 106)
Bezerra (2012, p. 71) faz uma avaliação crítica da formação do professor e do aluno
quanto à aprendizagem da leitura:
Pode-se argumentar no sentido de que os alunos, e mesmo os professores, foram
formados dentro dessa tradição que consagra determinados tipos de práticas, como a
cópia e a identificação de informações explícitas no texto – uma habilidade que requer
tão-somente a mobilização do conhecimento acerca do código da língua – como
centrais no processo de ensino, prejudicando ou inviabilizando a aprendizagem dos
procedimentos complexos aos quais recorremos para ler.
Essa é uma das razões pelas quais, segundo a autora, os alunos apresentam um
rendimento baixíssimo na leitura: as atividades de leitura propostas a eles, em sua maioria, têm
como principal objetivo a repetição do que está no texto. A partir dessa constatação, não se pode
esperar muito quanto ao progresso dos mesmos na competência leitora, tendo em vista que são
vítimas de um ciclo vicioso no qual o professor lhes ensina da mesma forma que foi ensinado.
Paulino et al. (2001, p. 28) critica severamente tal proposta de prática de leitura e assim
expõe seu ponto de vista:
No âmbito escolar, em que as atividades de leitura fazem parte de um projeto de
ensino, de uma pedagogia, a leitura mostra-se como uma técnica e uma prática que
não podem se esgotar na decodificação dos signos escritos ou nos limites impostos
pela frase. A partir do momento em que o leitor e a leitura são vistos como elementos
integrantes da produção de sentido, o circuito texto/leitor deixa de ser pensado como
uma direção de mão única, em que as significações saltariam do texto e o leitor
permaneceria preso irremediavelmente às malhas das letras.
com a formação do leitor competente. Nesses ambientes, o conceito de leitura ainda está preso às
amarras da pedagogia tradicional, cuja finalidade para formar o leitor é fazer com que ele seja
hábil na arte de reproduzir.
Quando, ao contrário, tem-se um projeto de ensino arrojado, inovador, distinto daqueles
que têm como proposta principal a prática da leitura pela leitura, aí sim, pode-se vislumbrar a
formação de um leitor consciente e capaz de dialogar com o texto, já que ambos são
indissociáveis. Em tal diálogo, o leitor exerce primazia sobre o texto porque penetra em seus
meandros e, à medida que vai penetrando, o caminho de leitura se ramifica e, com isso, depende
dele a direção a seguir.
Silva (2005, p. 75), em sua dissertação de mestrado, chega a essa conclusão:
[...] mesmo quando os professores reconhecem a importância da leitura e da prática
(sic) para a aprendizagem dos conteúdos de suas disciplinas, utilizam como argumento
para não se envolverem em questões sobre o letramento a necessidade de trabalhar o
conteúdo específico de sua disciplina. Acredito, no entanto, que esses argumentos
escondem a questão principal: a falta de uma reflexão aprofundada sobre a linguagem,
leitura e escrita, e sobre seus usos e funções nos diferentes espaços em que é utilizada.
Sem essa reflexão, os professores possivelmente sentem-se inseguros, pois não sabem
o que significa efetivamente ler e, portanto, também não sabem como desenvolver
práticas de leitura eficazes em suas aulas.
Segundo tal estudo, existem professores que têm conhecimento da importância do
domínio da leitura pelo aluno. Eles podem até ter vontade de desenvolver a prática, o problema
está na falta de preparo para esse desafio. É um desafio porque, para desenvolver uma prática de
leitura producente, é indispensável que haja uma mudança radical, partindo-se daquelas práticas
tradicionais que são desenvolvidas sob o rótulo de leitura para um trabalho focado na leitura
como produto da interação verbal.
Observe-se esta apreciação feita por Zappone (2001, p. 201), em sua tese de doutorado,
sobre o modelo do aluno leitor no cotidiano escolar:
Relacionado a uma concepção mais estruturalista de linguagem e de texto, o aluno
leitor é capaz de identificar e apreender as ideias contidas no texto. Assim, quanto
mais capazes de reproduzir o conteúdo referencial de um texto, melhores leitores serão
os alunos. Esta imagem de aluno é estática, pois ele pouco ou quase nunca pode
interferir no sentido do texto, pois este já é dado, indiferentemente das circunstâncias
em que seja feita a leitura. Algumas atividades, como questionários atestam o
direcionamento dado pelo professor para a referencialidade e para a literariedade do
texto e deixam entrever esta imagem de aluno em questão.
que pode levantar uma série de possibilidades de leitura, sua atuação é circunscrita apenas ao
código escrito.
Esse é o modelo de aluno leitor que a escola ainda considera como o leitor ideal, que
não contesta, que não se rebela contra o sentido do texto, que não tem direito de expor suas
incertezas diante do que lê.
Pela constatação do trabalho de pesquisa de Zappone (2001, p. 205), não existe na
escola uma harmonia de ideias para uma implementação de política de leitura com objetivos
definidos para uma mesma finalidade. Assim o aluno fica na situação abaixo descrita:
O leitor escolar adapta-se à expectativa de leitura criada em sua sala de aula e passa a
desenvolver maneiras de ler específicas para cada disciplina ou de acordo com a
concepção de leitura de cada professor. Ele busca sempre alcançar os resultados
esperados para cada situação de ensino onde a leitura seja requisitada. Assim, a boa
leitura, na aula de Ciências, por exemplo, será aquela capaz de reproduzir os
conteúdos da unidade; na aula de Literatura, a reprodução das características de obras
e autores.
É evidente que não há uma política de leitura interdisciplinar que norteie o trabalho
pedagógico para que sejam auferidos resultados similares. Pelo contrário, prevalece a
intradisciplinaridade, em que cada docente se preocupa apenas com os conteúdos de sua
disciplina e conduz o processo de leitura conforme sua concepção, sem se preocupar se aquele
processo metodológico é mais apropriado para formar o aluno leitor.
Nesse sentido, essa política de leitura tem de ser repensada urgentemente, sob pena de
continuar formando analfabetos funcionais.
O fragmento acima deixa claro que a escola deve tomar para si a responsabilidade de
levar a produção cultural aos alunos das classes menos desfavorecidas da sociedade, já que, para
esses alunos, a escola é o principal elo que pode aproximá-los tanto da leitura como também da
escrita. Nesse caso, professor e professora devem estar bem cientes da sua responsabilidade:
mediar esse processo de aprendizagem que depende essencialmente da atuação deles.
Feitosa (2008, p. 28) chama atenção para a responsabilidade da escola no que concerne
à aprendizagem da leitura e também da escrita pelos alunos:
Nesse contexto, a escola, enquanto instituição social considerada democrática por
excelência, torna-se o local privilegiado para viabilizar as condições propícias ao
ensino e aprendizagem das práticas leitora e escritora, em especial, àqueles que têm
menos oportunidade de vivenciar situações cotidianas de leitura e escrita, a fim de que
essa carência não constitua um obstáculo ao progresso educacional dessas crianças e
jovens e ao consequente exercício da cidadania.
A autora considera a escola como a instituição que pode alçar o aluno à condição de
participante ativo na sociedade, devido ao seu suposto status de promotora da equidade social.
Sabe-se que, na maioria dos lares brasileiros, as crianças e os jovens não são incentivados a ler, o
que já lhes impinge uma desvantagem para sua vida escolar. Então, só resta a eles a escola para
que não sejam penalizados.
Além de acolhê-los, a escola tem de respeitar também a diversidade cultural dos seus
alunos. Não se pode impor a prática da escrita a uma determinada comunidade linguística se tal
prática não condiz com a sua cultura, fator decisivo para a aceitação ou não de uma dada
tecnologia. Nesse sentido, é oportuno aqui destacar uma conclusão de Orlandi et al. (2007) que
exemplifica o que foi afirmado acima: as línguas indígenas são por natureza orais, o que
contradiz a sua submissão ao uso escrito da língua portuguesa. A autora chegou a essa conclusão
porque existem políticas linguísticas no Brasil que tentam submeter tais línguas à prática da
escrita na escola, mas não obtêm o êxito desejado. Eis aí, então, o fator preponderante para tal
fracasso: as diferenças de cultura.
A preocupação de Lajolo (2001, p. 105) é no sentido do desinteresse das pessoas em ler
espontaneamente e assim se expressa:
O ato de ler foi de tal forma se afastando da prática individual que a tarefa que hoje se
solicita de profissionais da leitura, como professores, bibliotecários e animadores
culturais, é exorcizarem o risco da alienação, muito embora eles possam acabar
constituindo elo a mais na e agora inevitável cadeia de mediadores que se interpõem
entre o leitor e o significado do texto.
A leitura no plano ideal deveria ser de livre iniciativa por parte do leitor, sem a
intervenção de intermediários para se constituírem em um elo entre ele e o texto. A busca da
leitura deve ser espontânea, o verdadeiro leitor se orgulha das leituras realizadas e vive
incessantemente a procurar novas leituras, esse é o seu maior prazer. Quando, ao contrário, o
leitor é compelido a ler, perde-se toda a essencialidade do processo de leitura, o que a torna
uma atividade apenas mecânica.
Na atualidade, existem muitos projetos culturais que têm como principal objetivo
formar leitores, pois, nos últimos tempos, houve um retrocesso quanto às iniciativas individuais
de leitura. A atividade de leitura, devido às novas tecnologias perdeu espaço entre as crianças e
os jovens, tornando-se, assim, uma prática mais desenvolvida pelo público mais adulto.
Bamberger (2006, p. 10) compartilha da preocupação da autora acima citada acerca do
retrocesso da prática da leitura entre as crianças:
A leitura é dos meios mais eficazes de desenvolvimento sistemático da linguagem e da
personalidade. Trabalhar com a linguagem é trabalhar com o homem. Se psicólogos de
Viena descobriram que, atualmente, a aptidão das crianças vienenses para a linguagem
retrocedeu, ao passo que aumentou seu talento técnico, isto é algo que deve nos
inquietar como seres humanos, do ponto de vista da educação geral. Significa que o
elemento humanitário está enfraquecendo e a capacidade de compartilhar uma
experiência, por simpatia e valorização, está diminuindo.
A leitura tem importância capital na formação da personalidade do homem porque é
resultado da linguagem que, por sua vez, é um fenômeno inerente à condição humana. Por
conseguinte, à medida que o indivíduo ler e avança no domínio da linguagem, avança também na
sua formação como humano. Isso quer dizer que a existir uma não pré-disposição das crianças
em ler, consequentemente, haverá um comprometimento em sua personalidade e, futuramente,
poderão ser adultos que venham a ter problemas nas relações sociais.
Nesse sentido, Paulino et al. (2001, p. 35) vincula o domínio da leitura à condição da
convivência do indivíduo na sociedade:
Desde o momento em que aprendemos a ler, entramos no mundo da escrita e
subordinamo-nos às suas leis, reforçando nossa condição social, marcada pela
aquisição da linguagem. Não é sem razão que autores como Goody mostram que a
escrita liga-se ao controle, às leis sociais. Se sei ler, estou pronto para conhecer a lei,
não podendo mais desrespeitá-la impunemente. Por outro lado, estou pronto também
para me deixar seduzir pelo texto e pelos mundos que ele configura. Assim, como no
pacto com o diabo, sedução e repressão se instalam no próprio processo de
alfabetização e letramento.
homem nas sociedades letradas, pois ele depende dela para manter as relações sociais, como
também para sua realização pessoal.
Os PCNs (1998, p. 54), ao fazer uma crítica ao tratamento didático dado à leitura pela
escola, tece o seguinte comentário:
A leitura na escola tem sido fundamentalmente, um objeto de ensino. Para que possa
constituir também objeto de aprendizagem, é necessário que faça sentido para o aluno,
isto é, a atividade de leitura deve responder do seu ponto de vista, a objetivos de
realização imediata. Como se trata de uma prática social complexa, se a escola
pretende converter a leitura em objeto de aprendizagem deve preservar sua natureza e
sua complexidade de textos e de combinações entre eles. Significa trabalhar com a
diversidade de objetivos e modalidades que caracterizam a leitura, ou seja, os
diferentes ‘para quês’ – resolver um problema prático, informar-se, divertir-se,
estudar, escrever ou revisar o próprio texto – e com as diferentes formas de leitura em
função de diferentes objetivos e gêneros: ler buscando as informações relevantes, ou o
significado implícito nas entrelinhas, ou dados para a solução de um problema.
Entende-se, conforme o comentário acima, que a escola tem dado um tratamento
equivocado ao processo ensino-aprendizagem da leitura. Esse equívoco se explica pelo fato de a
prática da leitura ser focada a partir da didática do ‘como se ensina’ quando, na realidade, deve
ser focada também a partir da didática do ‘como se aprende’. Significa dizer que as propostas
pedagógicas de leitura não têm de atender apenas aos objetivos traçados pela escola para ela ser
ensinada, mas, necessariamente, têm de atender aos anseios do aluno, ou seja, é preciso que
tenha também um significado para ele.
Para Kleiman (2012, p. 42),
Ninguém gosta de fazer aquilo que é difícil demais, nem aquilo do qual não consegue
extrair o sentido. Essa é uma boa caracterização da tarefa de ler em sala de aula: para
uma grande maioria dos alunos ela é difícil demais, justamente porque ela não faz
sentido.
Como bem esclarece a autora à qual se fez referência acima, o grau de dificuldade do
aluno em ler está relacionado ao sentido que a leitura tem para ele. Se essa leitura não faz
sentido, é óbvio que essa tarefa se torne de extrema dificuldade. Como a escola ainda não
reconheceu esse equívoco, continua nesse contrassenso e, consequentemente, grande parte dos
alunos não se sente atraída para ler.
Kramer (2001, p. 150) não discorda de colocar o leitor no centro das produções de
leitura, mas faz a seguinte ressalva:
E qual o contexto escolar das atividades em que se institui a obrigação de ler neste ano
tal livro para qual dia? Em que contexto escolar podem se instituir práticas reais de
leitura? O pretexto da leitura querida, escolhida, procurada, conquistada é o da
liberdade; o subtexto da leitura-obrigação é a obediência. Entre uma e outra, múltiplas
formas de ação e criação de leitura. Superando dialeticamente uma e outra, é preciso
garantir condições de produção de leitura.
A autora chama a atenção para o fato de que nem sempre a liberdade de escolha para ler
é a melhor solução para tornar o aluno leitor. Se na escola não há condições de pôr em execução
práticas de leitura que realmente estejam comprometidas com uma proposta inovadora e que
também não atendam às expectativas dos alunos, a concepção da liberdade de leitura pode se
transformar em mais uma tentativa fracassada quanto ao desafio de fazer do aluno um autêntico
leitor.
Desse modo, Kramer considera as condições de produção de leitura como o bastião para
que se obtenha o êxito esperado, independentemente de que a proposta de leitura seja por
obrigação ou por livre escolha.
Feitosa (2008, p. 40) lança a seguinte problemática à escola no que tange ao seu desafio
para tornar a leitura uma prática com significação e atratividade para os jovens:
Alçar a leitura a uma escala de valores para que se torne uma prática cotidiana na vida
de nossos jovens e adolescentes impõe-nos mudanças de concepções na busca por
respostas a questões básicas que envolvem essa prática social, particularmente, no
âmbito da instituição escolar. O que é a leitura? Como ensiná-la? Qual a forma para
convertê-la em uma atividade significativa e prazerosa que extrapole os muros da
escola?
O pensamento acima exposto pela autora leva a entender que o problema em relação à
resistência dos jovens à leitura está no modo como a escola concebe e desenvolve sua política da
prática dessa atividade. A escola ainda não descobriu a verdadeira acepção da leitura e também
ainda não encontrou a forma mais adequada para ensiná-la e, nesse impasse, fica a problemática
em relação às reais possibilidades de envolver os jovens no mundo da leitura, tanto dentro da
escola quanto fora dela.
Feitosa (2008, p. 58), tendo como referência a concepção de leitura de Geraldi et al.
(2006),6 faz a seguinte apreciação:
(...) ler pelo simples prazer de ler não é uma atividade exclusiva do texto literário, já
que podemos ir a outros textos, dependendo de nossos interesses, de forma gratuita,
desinteressada, para satisfação própria, quando, por exemplo, lemos um jornal pelo
prazer de informar-nos, um panfleto de viagem pela alegria de conhecer novos lugares
(...)
O prazer de ler não está, necessariamente, associado à leitura do texto literário. O prazer
da leitura está vinculado à iniciativa do leitor na busca pelo texto ideal, independentemente de
seu gênero. Há pessoas que não leem literatura, no entanto, são leitores assíduos de outros
gêneros textuais. Até mesmo um dicionário pode proporcionar prazer ao leitor, depende de seu
objetivo. Caso o objetivo seja atingido, obviamente, é prazer realizado.
6
Geraldi, J. V. et al. (2006). O texto na sala de aula. 4ª edição: São Paulo: Ática.
E, para que a escola obtenha êxito na sedução do aluno pela leitura, é essencial que essa
instituição priorize o trabalho com a diversidade de textos, das mais variadas espécies e com os
mais variados objetivos. Dessa maneira, a escola pode ter proficiência nesse desafio, já que “uma
prática de leitura que não desperte e cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica
eficiente.” (PCNs, 1998, p. 58)
Mas Paulino et al. (2001, p. 30) chamam a atenção para o seguinte:
Não basta fazer circular os textos em sua diversidade na escola, é preciso também
aparelhar os alunos para sua recepção. Para isso, faz-se necessário explicitar as
diferentes estratégias de composição textual, que resultam em diferentes tipos de
texto: informativos, opinativos, didáticos, literários, entre outros. Mais que discutir a
validade de tais classificações, importa analisar os textos em sua composição,
observando o contexto de sua produção, circulação e consumo. Não se pode ler um
poema como se lê uma crônica ou uma notícia de jornal, embora esses textos possam
estar em constante interação.
Fazer circular textos diversos no ambiente escolar não é garantia por si somente de que
o trabalho didático no ensino de língua traga bons resultados. De nada importa pôr em prática
uma estratégia de ensino inovadora e eficaz, se o mentor de tal estratégia não mudar também sua
postura frente a ela. E o trabalho com a diversidade textual envolve muitos aspectos inerentes à
língua, o que requer um trabalho bem orientado para que os objetivos pré-estabelecidos sejam
atingidos.
Um dos pressupostos para o desenvolvimento de tal prática é o conhecimento prévio de
que o texto não se encerra apenas no seu código linguístico. Ao ter consciência disso, as
possibilidades de exploração e extrapolação do texto são inúmeras, o que proporciona aos alunos
a oportunidade de conhecer os diversos elementos que estão envolvidos na produção de um
texto.
Beltran (1989, p. 120) assim descreve a metodologia adotada pelo professor para
trabalhar a leitura na escola:
É comum o professor preocupar-se apenas com a quantidade de leitura, sem atentar
para a qualidade. A leitura feita segundo essa metodologia de quantidade torna-se
muito estanque. Cada aluno lê, faz seu relatório de leitura para o professor, mas
não são criadas condições próprias para a discussão das leituras efetuadas, em que
cada um poderá expor suas opiniões sobre o livro lido. Torna-se uma atividade
isolada de leitura, que não atende às finalidades.
O autor do trecho destacado tece uma crítica à atitude da escola em priorizar a
quantidade em detrimento da qualidade da leitura. Segundo ainda o autor, ao aluno não são dadas
oportunidades reais de apresentar suas ideias, seus pontos de vista, o que, consequentemente, faz
da leitura na escola uma atividade desinteressante e contraproducente.
Sobre a leitura na escola, Prestes (1999, p. 15) concorda com a crítica do autor anterior:
A leitura praticada pela escola é, desse modo, caracterizada como uma atividade que
atende apenas às formalidades didáticas, com objetivos estanques bem definidos e sem nenhum
dinamismo. Geralmente, as estratégias de seu ensino fundamentam-se exclusivamente em propor
atividades que não proporcionam ao aluno desenvolver sua criatividade, mas sim, reproduzir o
que foi lido.
Ferrarezi (2007, p. 51) tece uma crítica incisiva aos métodos utilizados pela escola para
ensinar o aluno a ler:
[...] a escola usa a leitura contra o aluno, não a favor dele. Desde os primeiros dias na
escola, que coincidentemente ocorrem numa das fases de formação psicológicas mais
delicadas das crianças, elas percebem que a leitura é um conhecimento que ainda não
detêm e que é usado contra elas nos procedimentos corriqueiros da escola.
A escola, nesse caso, já inicia o processo de formação do leitor de forma equivocada, a
penalizar as crianças antes mesmo de elas saberem a verdadeira utilidade da leitura. É por isso,
que a maioria das crianças cria aversão à leitura e lê mais por imposição da escola do que por sua
própria iniciativa, tornando-se futuramente maus leitores.
Lajolo (1993, p. 108) afirma que
A prática de leitura patrocinada pela escola precisa ocorrer num espaço de maior
liberdade possível [...] a leitura só se torna livre quando respeita, pelo menos em
momentos iniciais do aprendizado, o prazer e a aversão de cada leitor em relação a
cada livro.
Compreende-se que, nos primeiros encontros entre os pequenos leitores e as leituras,
deve já haver certo cuidado para que esses encontros se iniciem de modo agradável para que
aconteçam outros encontros. Portanto, é importante que os pequenos leitores nesses momentos se
sintam à vontade diante das leituras, tenham suas preferências em relação a elas, porque essas
situações podem ser decisivas para formação ou não de futuros leitores.
Kleiman (1993, p. 16) também não poupa críticas à metodologia das práticas de leitura
desenvolvidas pela escola: “As práticas desmotivadoras, perversas até, pelas consequências
nefastas que trazem, provêm, basicamente, de concepções erradas sobre a natureza do texto e da
leitura, e, portanto, da linguagem.”
Pela reflexão da autora, os problemas no ensino da leitura advêm da concepção
equivocada da escola sobre o que é o ensino de língua portuguesa, desenvolvido ainda com
práticas obsoletas que não atraem os alunos para as atividades didáticas relacionadas ao estudo
da linguagem. A escola ainda não entendeu que os tempos mudaram, os alunos na era da
tecnologia são outros e, consequentemente, as exigências do ensino-aprendizagem também são
outras.
Desse modo, cabe àqueles que estão à frente do ensino da leitura proporcionar as
condições necessárias às crianças e aos jovens para que eles, por vontade própria, busquem a sua
realização no ato de ler.
Entende-se que, para a leitura fazer sentido para o leitor, é essencial que ele tenha o
domínio dessa prática, isto é, que conte com todos os requisitos necessários a fim de tirar o maior
proveito dela. Nesse sentido, cabe à escola formar um leitor competente, formação essa que pode
ser assim definida pelos PCNs (1997, p. 54):
Formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que lê; que
possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos
implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e outros textos já lidos; que
saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto; que consiga justificar e
validar a sua leitura a partir da localização de elementos discursivos.
aprendiz. Conforme essa tese, o papel do professor é apenas intermediar a relação entre o aluno e
o texto, ele é apenas um parceiro nesse processo e tanto um quanto o outro podem chegar a
conclusões distintas sobre uma mesma leitura que realizaram.
Paulinho et al. (2001, p. 29) apresenta as características do leitor ideal, fundamentado
numa concepção de leitura interativa:
Importa perguntar, pois, qual o papel da escola na formação do leitor. Não o leitor
obediente, que preenche devidamente fichas de livros ou reproduz com propriedade
enunciados textuais. Mas o leitor que, instigado pelo que lê, produz sentido, dialoga
com o texto, com os intertextos e com o contexto, ativando sua biblioteca interna,
jamais em repouso. Um leitor que, paradoxalmente, é capaz de se safar até mesmo das
camisas-de-força impostas pela escola e pela sociedade, na medida em que produz
sentidos que fogem ao controle inerente à leitura e à sua metodologia.
O autor caracteriza como o bom leitor aquele que em sua leitura é capaz de encontrar
significado nela, capaz de interagir com o texto e, nessa interação, emaranhar-se em suas ideias.
O leitor competente não é aquele que considera o texto sob uma perspectiva de um produto
acabado, mas sim, aquele que, ao entrar em contato com o texto, já tenha consciência de que
naquele momento vai iniciar-se, na verdade, a sua construção. Além disso, o autor ainda coloca
como condição para a formação do leitor a sua capacidade de manter o domínio sobre a leitura
além dos muros da escola.
Então, se a escola pretende formar leitores na mais completa acepção da palavra,
necessariamente tem de implementar uma política de leitura que tenha o indivíduo como um ser
autônomo, ‘senhor’ da palavra no ato de ler.
1.4.5.1.1 Conceito
7
Historiador e jornalista neerlandês.
O poeta Ezra Pound8, citado por Nicola (1993, p. 63), dá a seguinte conceituação de
literatura:
Literatura é a linguagem carregada de significado. Grande literatura é
simplesmente a linguagem carregada de significado até o máximo grau possível. A
literatura não existe no vácuo. Os escritores, como tais, têm uma função social
definida, exatamente proporcional à sua competência como escritores. Essa é a sua
principal utilidade.
A literatura vista por esse ângulo é eminentemente plurissêmica, sua essência está na
carga semântica que os escritores atribuem às palavras, sem a qual, o texto não adquire a
literariedade. A linguagem literária extrapola a semântica convencional e lança a palavra em
outras dimensões, desafiando o leitor a descobrir o conteúdo da mensagem pela sua perspicácia
de leitura.
O que dá sentido ao texto literário é a sua capacidade de interligar aquilo que está no
plano da abstração àquilo que está no plano da realidade. E, para isso, é imprescindível a
habilidade dos escritores em fazer o uso devido das palavras, de forma que essas palavras
ganhem conotações que levem o leitor às suas reflexões e, consequentemente, às suas inferências
sobre o texto lido. Caso os escritores não consigam atingir esse objetivo, não se pode considerar
que estão a fazer literatura.
Para Silva (1988, p. 29), uma definição que poderia atender à complexidade que o termo
‘literatura’ requer atualmente, seria “o conjunto de propriedades específicas da arte que se
designa por literatura.” Entende-se que essas propriedades específicas seriam as características
que distinguiriam a arte literária das outras artes, visto que há uma série dessas características
que, de certa maneira, repetem-se ao longo da produção literária ocidental. No entanto, fica clara
a lacuna deixada por essa definição porque as tais propriedades não ficam tão explícitas para que
se detecte a literariedade em uma obra.
Eagleton (1997, p. 13) nem mesmo ousa conceituar literatura e assim se expressa:
“nenhuma obra, e nenhuma avaliação atual dela, pode ser simplesmente estendida a novos
grupos de pessoas sem que, nesse processo, sofra modificações, talvez quase imperceptíveis. E é
essa uma das razões pelas quais o ato de se classificar como literatura seja extremamente
instável.” O autor não conceitua literatura, apenas condiciona o fenômeno da literariedade a
conceitos de valor numa sociedade em uma determinada época. Por essa ótica, os critérios para
que se julgue se uma obra é ou não literária, não são universais nem atemporais, mas sim,
mutáveis, flexíveis, instáveis, porque os valores se alteram conforme mude a visão de mundo das
pessoas.
8
Crítico literário americano.
importantes de seu processo de construção, ou seja, os recursos utilizados pelo autor para dar
sentido à linguagem literária. A crítica do excerto acima alerta para o perigo de o aluno ser
apenas um leitor medíocre, caso a escola negligencie o verdadeiro objetivo do estudo da
literatura.
Mas se a escola trabalhar a leitura literária de forma apropriada, o aluno perceberá
paulatinamente, que ela é relevante para o seu desenvolvimento cognitivo e para sua formação
como cidadão. Ele notará também que esse tipo leitura é importante para que se conheça a
sociedade de cada época, os seus valores culturais, as suas tradições, e o leitor se reconheça a si
mesmo dentro do contexto social de que faz parte.
Zilberman (2010, p. 148), através do comentário abaixo, destaca a importância da leitura
literária:
Que a leitura é importante, todos sabemos: a leitura ajuda o indivíduo a se posicionar
no mundo, a compreender a si mesmo e à sua circunstância, a ter suas próprias ideias.
Mas a leitura da literatura é ainda mais importante: ela colabora para o fortalecimento
do imaginário de uma pessoa, e é com a imaginação que solucionamos problemas.
Com efeito, resolvem-se dificuldades quando recorremos à criatividade, que, aliada à
inteligência, oferece alternativas de ação.
Sob essa perspectiva, o texto literário representa a vivência, os conflitos, as tensões, que
são característicos de uma sociedade. Então, a leitura do texto literário possibilita ao leitor
relacionar o individual ao social e, a partir dessa relação, situar-se dentro do contexto social em
que vive.
9
Bakhtin, M. (2002). A pessoa que fala no romance. In. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance.
Trad. Aurora Fornoni Bernardini, José Pereira Júnior, Helena Spryndis Nazário e Homero Freitas de Andrade. São
Paulo: Hucitec.
Azeredo (2007, p. 86) vincula a significação da leitura dos textos literários à capacidade
de ler do leitor:
É sabido que os textos, em particular os literários, prestam-se a diferentes leituras
segundo as experiências individuais, culturais e históricas de seus leitores. A
atribuição de sentido realizada na leitura está sujeita às projeções do leitor. Isto não
quer dizer que as leituras sejam arbitrárias. As ressonâncias de experiências pessoais
que encontramos em certos textos certamente não são um critério de valoração
literária, mas é claro que um texto incapaz de mexer com o leitor, de alcançar alguma
empatia com ele, teria o mesmo efeito de uma declaração de amor a um rochedo.
A vivência de cada leitor é a condição principal para que a leitura adquira significação,
por isso, sua visão de mundo se reflete na interpretação do texto literário. As atribuições de
sentido ao texto são proporcionais ao seu conhecimento e, através disso, ele chega as suas
inferências. É no momento dessa leitura que o leitor se reporta a outras leituras já feitas e essas,
somadas a suas experiências de vida, dão-lhe condições de realizar uma interpretação mais
consciente do texto.
Mota (1990, p. 28) compartilha dessa mesma opinião e destaca o caráter metafórico da
linguagem como o fator responsável pela pluralidade de leituras que o leitor possa fazer:
O caráter metafórico da linguagem literária encerra uma gama diversificada de
significações, admitindo diferentes interpretações segundo os sentidos que a
mensagem e as indagações da obra literária suscitam ao leitor. O caráter polissêmico
da linguagem literária possibilita que cada leitor seja respeitado a partir de sua
capacidade recepcional de atribuir sentido ao texto lido, conforme sua visão de
mundo.
explorá-los. Desde textos simples aos mais complexos, pode-se extrair deles não somente dados
explícitos, mas também se pode explorar uma série de elementos tanto implícitos ao texto quanto
outros relacionados aos mecanismos de linguagem utilizados no processo de construção literária.
Conforme os aspectos discutidos a respeito dos textos literários, é evidente que eles têm
muita importância para a formação do aluno, sobretudo no que se refere à área de estudo da
língua. O trabalho didático com esse gênero textual pode promover várias situações de ensino
proveitosas e interessantes, só depende da condução das atividades por aqueles que são os
maiores responsáveis pela aprendizagem dos alunos: os professores.
Nos últimos anos, vem se corporificando uma proposta de ensino de língua baseada na
noção de gênero do discurso, os chamados gêneros textuais. Segundo Landeira (2009, p. 4-5),
“gêneros textuais são modelos comunicativos que nos possibilitam gerar expectativas e previsões
para compreender um texto e, assim, interagir com o outro.” Esses textos são produtos culturais
que exercem determinada função na sociedade e cada um tem uma estrutura própria que o
distingue de outro. Desse modo, uma conta de luz, um carnê, um texto publicitário, um e-mail,
uma tirinha, entre outros que fazem parte das práticas sociais, devem ser explorados pela escola.
A partir dessa proposta, espera-se que o aluno, ao lidar com uma diversidade de textos
que tenham um sentido concreto em sua vida, desenvolva suas habilidades linguísticas e, com
isso, torne-se um leitor e ‘escritor’ competente.
Conforme os PCNs (1998, p. 21),
Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função das intenções
comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as quais geram
usos sociais que os determinam. Os gêneros são, portanto, determinados
historicamente, constituindo formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis
na cultura. São caracterizados por três elementos:
.conteúdo temático: o que é ou pode tornar-se dizível por meio do gênero;
.construção composicional: estrutura particular dos textos pertencentes ao gênero;
.estilo: configurações específicas das unidades de linguagem derivadas, sobretudo, da
posição enunciativa do locutor; conjuntos particulares de sequências que compõem o
texto etc.
Todo gênero textual tem sua própria estrutura, justamente para atender às exigências da
situação em que é produzido. Cada um deles é construído conforme convenções linguístico-
sociais pré-estabelecidas que lhe dão características próprias, a depender de suas situações de
uso.
Segundo Bakhtin (1997, p. 281), existem dois gêneros do discurso:
apenas a narração, a descrição e a dissertação. Nessa nova perspectiva, esse trabalho deve
contemplar também aquelas produções discursivas que são derivadas das práticas sociais e que
têm significação para o aluno posto que “entender a leitura como prática social implica expandir
os seus domínios e associá-la a diferentes formas de inserção do indivíduo na sociedade”
(Zappone, 2001, p. 31).
Santos et al. (2006, p. 28) assegura que “o texto não é uma entidade abstrata sem
qualquer marca de identidade. Os textos não são todos iguais, não só porque têm conteúdos
diferentes, mas porque se configuram como gêneros textuais diversos.” Depreende-se que cada
texto que circula na sociedade cumpre uma determinada função. A depender da sua função, sua
estrutura e seus propósitos, eles divergem uns dos outros. Sua razão de existir tem um sentido,
por isso a sua diversidade é justamente para atender aos objetivos a que eles especificamente se
propõem.
Kato (1985, p. 57) comunga da mesma opinião do autor anterior, a considerar “[...] o
texto não apenas como unidade formal, mas, sobretudo, como uma unidade funcional, isto é,
uma unidade de comunicação.” Confirma-se mais uma vez que o texto tem uma utilidade prática
que fica à disposição dos membros da sociedade nas situações discursivas cotidianas,
funcionando, desse modo, como canal para estabelecer as práticas comunicativas necessárias à
coexistência humana nas sociedades letradas.
As conclusões do estudo de Batista (2010, p. 40) apontam que a escola ainda não se
apercebeu de seu equívoco, pois
[...] a escola, geralmente, trabalha com textos não autênticos, normalmente escritos
para os livros didáticos e que não fazem parte do dia a dia do aluno. O intuito, nesses
casos, é utilizar palavras e/ou frases isoladas com o objetivo principal de ensinar a
gramática normativa. Mesmo quando os professores utilizam textos autênticos em sala
de aula (reproduções de matérias jornalísticas, livros e documentos, por exemplo)
limitam-se a utilizá-los como ferramentas exclusivamente metalinguísticas e não como
objetos sociais.
As conclusões da autora são pertinentes, elas explicam, em parte, porque mesmo com
tantas propostas de inovação na área da leitura, não há resultados significativos que possam gerar
maiores perspectivas em relação ao seu domínio pelo aluno. O texto não é explorado de forma
adequada, restringindo-se a sua exploração a estudos metalinguísticos, que não têm significado
algum para o aluno e só fazem afastá-lo ainda mais do ensino de língua.
Em reportagem da revista Nova Escola, Paulina (2007, p. 53) ressalta que há uma
constatação de uma pesquisa que ilustra bem a situação do trabalho com texto em sala de aula
realizado pelo professor:
A biblioteca é um espaço que já deveria ter ser seu lugar no momento em que se projeta
a planta da escola, assim como não há escola sem sala de aula, não deveria haver escola sem
biblioteca. Uma biblioteca escolar não é um apêndice da escola, ela é a própria escola, pois é lá
que os alunos podem encontrar tudo aquilo de que precisam para sua formação acadêmica e
cidadã através de suas leituras. Esse espaço é um laboratório para os alunos produzirem
conhecimento através de pesquisas bem orientadas por professores e bibliotecários que tenham
formação adequada para acompanhá-los.
Ribeiro (1994, p. 14) reforça esse comentário inicial sobre a importância da biblioteca
escolar:
[...] a biblioteca possibilita acesso à leitura e às informações para dar respostas e
suscitar perguntas aos educandos, configurando-se numa instituição cuja tarefa centra-
se na formação não só do educando, como também no apoio informacional ao pessoal
docente para atender a essas premissas. A biblioteca precisa ser entendida como um
espaço demonstrativo onde interajam alunos, professores e informação. Esse espaço
democrático pode ser circunscrito a duas funções: a função educativa e a formação
cultural do indivíduo.
Apesar de sua importância incontestável, grande parte das escolas brasileiras não dispõe
de uma biblioteca e são pouquíssimas aquelas que contam com os equipamentos adequados e
com profissionais capacitados para mediarem a relação entre a leitura e o aluno leitor.
Observe-se o que constatou Fernandes (2012, p. 42):
O primeiro Plano Nacional de Educação (PNE) previa que em cinco anos todas as
escolas deveriam possuir uma biblioteca. De 2000, quando ele foi aprovado, para
2005, os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP) mostram que, em vez de ampliação, houve a redução de 52.783 para 48.479
estabelecimentos com espaços dessa natureza.
Esse é um dado preocupante porque comprova que não se atribui a devida importância à
biblioteca escolar, mesmo com o PNE a demonstrar que toda escola, quer seja grande, quer seja
pequena, tem de dispor de uma biblioteca para respaldar as atividades de alunos e professores no
cotidiano escolar. Como fazer do Brasil um país de leitores, se os espaços para formá-los estão a
decrescer?
Mesmo que uma biblioteca bem estruturada e aconchegante não seja necessariamente
garantia para atrair futuros leitores, não se pode negar que um ambiente dessa natureza chama a
atenção dos alunos porque eles percebem que tal ambiente tem importância, consequentemente,
os leitores daquele ambiente são também importantes. Isso pode inflar seu ego e motivá-los a
visitá-la.
Conforme Bamberger (2006, p. 50), “se há uma biblioteca e um bom bibliotecário
comprometido com sua função como educador, poderá criar condições para que os alunos se
interessem”. Uma biblioteca, além de ser bem estruturada, precisa de um bibliotecário a sua
altura. Um profissional capacitado a sua frente, que desenvolva projetos de leitura e pesquisa
compatíveis com as carências dos alunos, é de valor inestimável para o processo ensino-
aprendizagem, pois de nada vale uma biblioteca bem estruturada, mas que não tenha alguém que
saiba conduzir as atividades de leitura.
Uma biblioteca nessas condições seria o primeiro passo para fisgar leitores. Ainda que a
escola não pudesse dispor desse espaço de leitura com tal exigência de estruturação, a simples
existência de um por si só, na pior das hipóteses, já seria alguma coisa.
Todavia, a denúncia de Fernandes (2012, p. 43) ainda traz mais pessimismo:
Em geral, entre garantir a construção de uma sala de aula ou outra destinada a livros,
muitos gestores ficam com a primeira opção. Com isso, diminuem a pressão social por
vagas e ampliam a arrecadação de recursos com o aumento das matrículas. Enquanto o
novo espaço significa mais verba, a biblioteca gera mais gastos. O investimento não
acaba com a instalação. É preciso fazer a manutenção do mobiliário, ampliar
constantemente o acervo, contratar profissionais qualificados e formar os professores
para incorporar a leitura no planejamento anual.
Os gestores públicos, em sua maioria, não veem a implantação de bibliotecas como
investimento, e sim, como custos. Essa aberração de privilegiar os interesses políticos em
detrimento do incentivo à pesquisa e à cultura prejudica, e muito, o desenvolvimento da
educação, já que a existência de uma biblioteca escolar, aparelhada devidamente, é garantia de
mais produção cultural.
Silva10 (1999), citado por Alonso (2007, p. 32), coloca a biblioteca na condição de fonte
de conhecimento para que os alunos enfrentem a situação da ditadura cultural a que são
diariamente submetidos na escola:
A imposição de um arbitrário cultural (Bordieu & Passeron, 1975) aos alunos, por
meio de conteúdos, práticas, textos etc., é uma das dimensões mais evidentes do
autoritarismo escolar. O contato frequente com a biblioteca escolar representa, para
o educando, a possibilidade de se apropriar de um conhecimento que possibilite
desvelar e questionar esse arbítrio, embora o acervo disponível na biblioteca
também seja, de certa forma, parte daquele arbitrário cultural. De qualquer modo,
há sempre lugar para a alternativa, para a controvérsia e para a diferença nos
meandros de uma biblioteca, seja ela escolar ou não.
A escola é o veículo cultural, por excelência, que reproduz a ideologia dominante para
alienar os seus alunos. Os conteúdos escolares cumprem a função de moldá-los a pensarem de
acordo com a ideologia burguesa porque a escola moderna é de origem burguesa. Assim, essa
instituição coloca uma espécie de camisa-de-força neles, impedindo-os de forjarem concepções
mais revolucionárias e expressarem-nas, transformando-os em reprodutores do paradigma
cultural do pensamento único.
Boaventura, em entrevista concedida a Tavares, reafirma que o conhecimento deve ser
pluralista, e não único. Deve coexistir uma diversidade de saberes para responder aos desafios
impostos à humanidade para que se construa um mundo mais equitativo e justo. Nesse sentido,
10
Silva, Tomaz Tadeu. (1999). Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte,
Autêntica.
nenhum saber deve prevalecer em detrimento do outro, isso desde o saber do senso comum até
aquele eminentemente científico. A essa harmonia de saberes dá-se o nome de Ecologia dos
Saberes. (Tavares, 2007)
É justamente nesse contexto que a biblioteca pode assumir um papel de extrema
importância para que os alunos, através de suas leituras, possam saber que não existe, única e
exclusivamente, um princípio epistemológico, isto é, uma única forma com que se constrói o
conhecimento. O conhecimento pode ser construído em qualquer sociedade, em qualquer
contexto, em qualquer cultura, o que desconstrói, assim, o mito das verdades absolutas.
Bamberger (2006, p. 36) destaca a importância de levar em consideração o tipo de leitor
para que ele seja incentivado a visitar a biblioteca:
A diversidade dos tipos de leitor entre os jovens deve ser levada em conta na
biblioteca da escola. Cumpre proporcionar felicidade à criança à sua própria
maneira, dentro dos limites do bom-gosto. O direito que tem a criança ao material
de leitura que se ajusta aos seus gostos e à sua natureza deve ser mais do que nunca
enfatizado numa era em que tudo nos empurra para a cultura de massa.
Cada aluno tem sua preferência de leitura. Mesmo que os alunos sejam do mesmo sexo
e da mesma faixa etária, eles têm gostos diferentes sobre leituras. Isso quer dizer que uma obra
produzida, tendo como público alvo determinados alunos de uma mesma faixa etária, não
assegura que ela tenha uma boa aceitação pela maioria desses alunos, pois as preferências deles
podem estar vinculadas à questão do gênero textual. Assim, um aluno pode encontrar prazer em
ler um romance; outro, poesia; outro, comédia; e, assim, sucessivamente.
Antunes et al. (2002, p. 105-106) descreve abaixo como deve se estabelecer os
primeiros contatos entre os pequenos leitores e as leituras:
A iniciação à leitura tem por objetivo desenvolver na criança o prazer e o gosto de ler.
Escolher os livros, manuseá-los, trocar por outro que lhe interesse mais, inculcando-
lhe enfim, o prazer de estar com os livros, o hábito de ler. Mas quando dão os
primeiros passos para a biblioteca, as crianças estão longe de ter todas a mesma
aptidão para a leitura, os mesmos gostos e a mesma capacidade; e não progridem todas
no mesmo ritmo. O importante será, pois, orientá-las, já que a prática é a melhor
escola, deixá-las, desde cedo, procurar, folhear e comparar, para habituá-las ao
manuseio dos livros.
A iniciação à leitura exige que se conheça cada criança, seus gostos, suas necessidades
e suas aptidões, assim como os livros de sua preferência. Estes deverão ser tão
variados quanto possível no gênero e no assunto, e serão necessários tanto livros de
figuras, obras de ficção, livros de documentação e obras de referência, como jornais,
periódicos e folhetos. É deixando a criança procurar livremente, examinar, comparar,
pegar, rejeitar, que lhe permitimos alargar o horizonte e aprender a escolher bem as
leituras.
A biblioteca escolar pode proporcionar várias situações de aprendizagem que as salas de
aula tradicionais geralmente não proporcionam, como o respeito ao ritmo de aprendizado de cada
selecionados, produzidos com uma linguagem mais livre e espontânea para envolvê-los em suas
malhas.
Por isso, é primordial que as escolas mantenham sempre suas bibliotecas não somente
em constante atividade, mas também que sejam adequadamente aparelhadas e desenvolvam
projetos de ensino consistentes que estimulem as crianças e os jovens a frequentá-la
assiduamente.
Na realidade, em linguagem (e, logo , em leitura) não há grau zero, assim como não há
grau dez. na dicotomia entre método de ensino e processo de aprendizagem, a escola
se coloca como se o aluno não tivesse já instalado um processo de aprendizagem e ao
propor, dentro de suas perspectivas e funções, um método de ensino, coloca o aluno
no grau zero e o professor no grau dez. No entanto, assim como não se para de
aprender a ler num momento dado (grau dez), também não há possibilidade de se
reconhecer um momento em que se começa do nada (grau zero). Então, o que a escola
faz, ao supor o grau zero, é utilizar um conhecimento prévio, que o aluno tem, sem
explicitar essa utilização. Dessa forma esse conhecimento é, ao mesmo tempo, suposto
e recusado, ou seja, desvalorizado. Isto resulta em uma relação coercitiva do método
de ensino sobre o processo de aprendizagem. (Orlandi, 2012, p. 52).
2.1 Problemática do Estudo
Segundo Flick (2005, p. 49), “as questões da investigação não surgem do nada: em
muitos casos têm origem naquilo que o investigador é, na sua história pessoal ou no seu contexto
social.” Partindo dessa premissa, esta proposta de pesquisa surgiu exatamente da experiência
pessoal e profissional do pesquisador, experiência essa que o motivou estudar a problemática que
será abordada abaixo.
De acordo com Dionne e Laville (1999, p. 85), “a fase de estabelecimento e de
clarificação da problemática e do próprio problema é frequentemente considerada como a fase
crucial da pesquisa. É ela que serve para definir e guiar as operações posteriores, como uma
espécie de piloto automático, uma vez que tenha sido bem planejada.” Nesse sentido, é oportuno
trazer à tona a problemática da investigação e esclarecer o contexto em que a tal problemática se
apresenta.
Os estudantes no Brasil concluem o ensino fundamental muito aquém do desejado no
quesito leitura, pois, demonstram muita dificuldade na hora em que são solicitados a interpretar
um simples texto. Segundo pesquisa do Instituto Paulo Montenegro (IPM), vinculado ao Instituto
Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), (2009), o analfabetismo funcional11 atinge
um percentual de 22% entre os jovens que concluíram o ensino fundamental (8ª série ou 9º ano).
E a situação se complica ainda mais quando se constata que a escola não está obtendo êxito para
despertar o interesse dos alunos pela leitura, pois “os brasileiros não estão sendo seduzidos para
11
É considerada analfabeta funcional a pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever um enunciado simples, como um
bilhete, por exemplo, ainda não tem as habilidades de leitura, escrita e cálculo necessárias para participar da vida
social em suas diversas dimensões: no âmbito comunitário, no universo do trabalho e da política, por exemplo. O
que significa analfabetismo funcional. Acessado em 08 de novembro de 2013 em http://www.ipm.org.br
a leitura, e 61% das crianças e dos jovens em idade escolar dizem ler apenas por obrigação”
(Fernandes, 2012, p. 42).
Kleiman (2012) classifica a leitura como o instrumento mais eficaz para que o aluno
obtenha êxito em todos os componentes curriculares. Desse modo, caso ele mostre deficiência na
leitura, é bem provável que aconteça o mesmo em outras áreas de conhecimento.
Como é responsabilidade da escola proporcionar condições apropriadas para que os
alunos desenvolvam sua competência para ler, fica a comprovação de que essa instituição está a
fracassar nessa missão de extrema importância para o sucesso escolar deles. De acordo com os
PCNs (1998, p. 55), esse fracasso da escola se deve à adoção de concepções equivocadas sobre o
aprendizado da leitura, as quais já são adotadas lá na base, ou seja, quando os alunos têm seus
primeiros contatos com a leitura. Diante disso,
É preciso superar algumas concepções sobre o aprendizado inicial da leitura. A
principal delas é a de que ler é simplesmente decodificar, converter letras em sons,
sendo a compreensão consequência natural dessa ação. Por conta desta concepção
equivocada a escola vem produzindo grande quantidade de leitores capazes de
decodificar qualquer texto, mas com enormes dificuldades para compreender o que
tentam ler.
E o que mais chama a atenção é que, a partir da década de 80 do século passado,
iniciou-se uma vasta produção de estudos na área do ensino de língua, com destaque para a
importância da leitura para o aprendizado escolar de maneira geral, e, mesmo assim, a
proficiência dos alunos em leitura, à exceção de uma minoria, não se efetivou. A partir desse
descompasso, é premente que se busquem as explicações para tal fenômeno que está sendo
submetido a esse estudo.
O estudo concentrar-se-á na cidade Arauá, um dos 75 municípios do estado de
Sergipe/Brasil. Esse município localiza-se na região centro-sul de Sergipe, distante da capital 99
Km, sendo considerado de médio porte. Sua extensão territorial é de 198, 746 Km2 e conta com
uma população de 10.796 habitantes.
A economia do município tem como base a agropecuária. Na agricultura, há produção
de laranja, limão, mandioca, manga, maracujá, abacaxi e tangerina; quanto à pecuária, há a
criação de bovinos, suínos, equinos, ovinos e galináceos. Existe apenas uma indústria no
município, que produz laticínios. O comércio é pequeno, resumindo-se na comercialização de
produtos básicos para a população. A fonte de renda dos habitantes da área urbana é basicamente
a prefeitura municipal da cidade, que emprega um número significativo de pessoas. A população
rural vive basicamente da agropecuária, produzindo e comercializando produtos típicos do setor.
Para Dionne e Laville (1999, p. 106), “a função de uma boa pergunta é ajudar o
pesquisador a progredir em sua pesquisa; ela lhe fornece um fio condutor para o desenrolar de
seu trabalho, guia-o nas operações futuras.” Uma pergunta, então, bem formulada é um dos
alicerces para que todos os elementos envolvidos no processo de investigação tenham coerência
no desenvolvimento do trabalho científico.
Assim sendo, optou-se pela seguinte pergunta de partida: Como melhorar o
desempenho dos alunos do 5º ano do ensino fundamental em leitura, levando-se em
consideração as novas concepções que norteiam o ensino de Língua Portuguesa nos
programas vigentes?
2.3 Objetivos
Os objetivos de uma pesquisa devem ter clareza e ser bem definidos para viabilizar a
condução da investigação e, consequentemente, obter os resultados pré-estabelecidos. O objetivo
geral está atrelado ao tema do trabalho, enquanto os objetivos específicos se prendem à
demonstração a que se propõe a pesquisa. (Andrade, 2009)
2.3.3 Hipóteses
Andrade (2009, p. 131) define hipótese como “uma solução provisória que se propõe
para o problema formulado. Trata-se de solução provisória porque o desenvolvimento da
pesquisa determinará uma validade: pode ser confirmada ou rejeitada.”
As hipóteses norteiam o investigador na busca de explicações sobre o objeto a ser
investigado, constituindo-se, assim, em pressupostos teóricos ainda não verificáveis. São linhas
especulativas que, embora subsidiem e sejam relevantes para o investigador no seu trabalho,
podem, na conclusão desse trabalho, confirmarem-se ou não.
As hipóteses levantadas acerca do problema em questão são:
No que diz respeito aos fins, a investigação é de caráter explicativo, já que “tem como
principal objetivo tornar algo inteligível, justificar-lhe os motivos, visa, portanto, quais fatores
contribuem de alguma forma, para a ocorrência de determinado fenômeno (Chaves, 2003, p. 64).
Em relação aos meios, a investigação terá duas fases para atingir os seus fins. A primeira é a fase
da pesquisa bibliográfica, que “é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material
publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas [...]” (Chaves, 2003, p. 65). A segunda é
a fase da pesquisa de campo, que é a investigação empírica realizada no local onde ocorre ou
ocorreu o fenômeno a que se propõe explicá-lo. (Chaves, 2003, p.65) O processo investigativo é
de caráter descritivo misto, pois serão utilizados instrumentos quantitativos e qualitativos. Tais
instrumentos fornecerão o suporte para que se possa realizar o estudo analítico entre o conteúdo
coletado e o referencial teórico construído.
O método de abordagem utilizado é o hipotético-dedutivo, na medida em que a pesquisa
parte da percepção das dificuldades do aluno no domínio da leitura e formula suas hipóteses.
Consoante Cervo et al. (2007, p. 31), “observar é aplicar atentamente os sentidos físicos
a um objeto para dele obter um conhecimento claro e preciso”. Fica claro por essa afirmação
que, por meio da observação, podem-se adquirir conhecimentos mais consistentes sobre o
fenômeno estudado. A condição de estar a lidar com esse fenômeno diretamente possibilita ao
investigador uma percepção mais ativa e fidedigna daquilo que ele se propôs a investigar.
Gil (2006, p. 110) tem uma opinião semelhante à de Cervo ao explicar que “a
observação apresenta como principal vantagem, em relação a outras técnicas, a de que os fatos
são percebidos diretamente, sem qualquer intermediação”. Além disso, é um instrumento que
pode proporcionar mais credibilidade à investigação porque, segundo Bell (1993, p. 141), “a
observação directa pode ser mais fiável do que o que as pessoas dizem em muitos casos. Pode
ser particularmente útil descobrir se as pessoas fazem o que dizem fazer ou se se comportam da
forma como afirmam comportar-se”.
A observação direta em sala de aula será um dos dois instrumentos que serão utilizados
nesta pesquisa. Tal observação consistirá em examinar se as estratégias de ensino de leitura
desenvolvidas pelos professores estão em conformidade com o que recomendam as referências
que dão fundamentação a este estudo.
2.5.2 Questionário
Gil (2006, p. 128) define questionário “como a técnica de investigação composta por
um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por
objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações
vivenciadas etc”. O questionário é um dos instrumentos mais utilizados pelos pesquisadores para
a coleta de dados, sua utilidade decorre, em grande parte, devido ao seu caráter objetivo,
prestando-se ao estudo de uma infinidade de assuntos que podem ser explorados por meio dele.
Ademais, “os pesquisados se sentem mais livres para exprimir opiniões que temem ser
desaprovadas ou que poderiam colocá-los em dificuldades” (Goldenberg, 2005, p. 87).
No entanto, Bell (1997, p. 99) adverte que se o pesquisador for usar o inquérito como
instrumento de coleta de dados, “deverá conceber um bom inquérito que lhe dê a informação
necessária que, por um lado, seja aceite pelos indivíduos e, por outro, não lhe levante problemas
A leitura, como prática social, é sempre um meio, nunca um fim. Ler é resposta a um
objetivo, a uma necessidade pessoal. Fora da escola, não se lê só para aprender a ler,
não se lê de uma única forma, não se decodifica palavra por palavra, não se responde a
perguntas de verificação do entendimento preenchendo fichas exaustivas, não se faz
desenho sobre o que mais se gostou e raramente se lê em voz alta. Isso não significa
que na escola não se possa eventualmente responder a perguntas sobre a leitura, de vez
em quando desenhar o que o texto sugere, ou ler em voz alta quando necessário. No
entanto, uma prática constante de leitura não significa a repetição infindável dessas
atividades escolares. (PCNs, 1997, p. 57).
Não há opções de leitura para que os alunos escolham o que querem ler. Geralmente, é
apenas uma mesma obra que, quando há em quantidade suficiente na biblioteca da escola, é
distribuída para todos os alunos da classe. Apenas alguns fazem a leitura e se interessam em
participar da aula, enquanto os demais ficam sem ter o que fazer e, com isso, acabam por
atrapalhar o trabalho que a professora está desenvolvendo.
O ideal seria que os alunos fossem sensibilizados para ler e atribuíssem sentido à sua
leitura, pois é o sentido “que nos orienta em nossa relação com o mundo e com os seres e objetos
que o povoam” (Azeredo, 2007, p. 71). Ao atribuir sentido ao texto, eles estarão tornando-se
leitores autônomos, mesmo que a sua compreensão possa divergir bastante das ideias do texto.
Na verdade, as divergências fazem parte do processo, porque cada leitor é uno e, nessa condição,
tem total liberdade para divagar nas entrelinhas do texto.
É por isso que nas situações em que existam diferentes compreensões de um mesmo
texto, a decisão para atribuir o sentido a ele deve ser coletiva, sempre a depender da
argumentação dos alunos, cabendo ao professor conduzir a discussão para que se chegue a um
consenso. (PCNs, 1997)
Ferraz (2008, p. 23) enfatiza que:
Ao dar voz a seus alunos, permitindo que eles comentem sobre a história, apresentem
suas impressões sobre o texto e estabeleçam relações, o professor dá condições para
que eles percebam que a leitura de cada leitor é única e pessoal, independente da
intenção real do autor, desde que a interpretação seja autorizada pelo próprio texto.
A estratégia de conceder autoridade ao aluno para que ele chegue as suas inferências
textuais é um modo democrático de trabalho com a leitura. As inferências ocorrem quando o
receptor recorre ao seu conhecimento de mundo para estabelecer uma relação entre os elementos
do texto como forma de compreendê-lo e interpretá-lo, embora essa relação não seja expressa
(Prestes, 1999, p. 30). Em relação às inferências textuais, o contexto verbal é um fator decisivo
na elaboração delas, na medida em que as partes de um texto mantêm uma relação intrínseca
entre antecedentes e consequentes (Koch, 2008, p. 30).
Ao participar da leitura do texto como coautor da produção, o aluno passa a desenvolver
a consciência de que ele é também sujeito ativo nesse processo, uma vez que sua participação é
levada em consideração para a compreensão do texto. Conforme Solé (1998, p. 72), “quem lê
deve ser capaz de interrogar-se sobre sua própria compreensão, estabelecer relações entre o que
lê e o que faz parte do seu acervo pessoal, questionar seu conhecimento [...]”
Orlandi (2012, p. 116) afirma que “não há leituras previstas por um texto em geral,
como se o texto fosse fechado em si mesmo e autossuficiente. Há leituras previstas para ele.” A
cada leitura, as possibilidades de significação do texto se ampliam o que implica sempre uma
renovação de leituras.
Kleiman (2012, p. 76) ressalta que “a característica mais saliente do leitor proficiente é
sua flexibilidade na leitura, ele não tem apenas um procedimento para chegar aonde ele quer, ele
tem vários possíveis, e se um não der certo, outros serão ensaiados.” Muitas vezes, o leitor
depara-se com leituras complexas que exigem alto grau de reflexão para entendê-las, então, é
mister que ele se utilize de toda sua versatilidade para chegar a conclusões coerentes.
Outro problema, este, gravíssimo, constatado na pesquisa de campo é que alguns
alunos, apesar de já estarem no 5º ano, 4ª série, do ensino fundamental, ano de conclusão da
primeira etapa desse nível de ensino, praticamente não sabem ler. Eles leem soletrando, com
enorme dificuldade para decifrar a escrita das palavras.
A romancista francesa Danièle Sallenave12, citada por Zilberman (2010, p. 105), ao
fazer um estudo na França com jovens, especificamente aqueles descendentes de africanos ou de
imigrantes africanos, tentando descobrir a razão por que não gostavam de ler, chegou ao seguinte
diagnóstico: “muitos alunos não gostam de ler, porque não aprenderam a ler bem. Eles leem
muito lentamente, têm as maiores dificuldades de deciframento, como desejamos que eles não se
aborreçam?” Esse diagnóstico pode muito bem ser aplicado à realidade dos alunos submetidos à
pesquisa, pois eles estão muito aquém das competências exigidas pelo (SAEB) Sistema de
Avaliação da Educação Básica para essa etapa de ensino.
12
Sallenave, D. (2009). Nous, on n’aine pas live. Paris: Gallimard.
No entanto, isso não quer dizer que não seja imprescindível saber selecionar os textos.
Pelo contrário, os textos devem ser selecionados cuidadosamente, e o seu planejamento para
serem explorados deve ser coerente com os objetivos propostos para a formação do leitor
competente e também deve ter uma abrangência interdisciplinar.
É importante também lembrar que o professor, ao disponibilizar uma grande variedade e
diversidade de textos, possibilita o aluno a ter contato com diferentes abordagens, distintos
pontos de vista. Isso enriquece o ‘fazer’ pedagógico, na medida em que o aluno tem a
oportunidade de aprender que os textos podem trazer diferentes concepções de mundo e, mesmo
com ideias divergentes, eles mantêm permanentemente uma relação interdiscursiva. Esse contato
com leituras diversas contribui decisivamente para o amadurecimento da capacidade leitora do
aluno à proporção que a sociedade constrói sua pluralidade. (PLE, 2006)
Diante disso, o professor não se deve dar por satisfeito apenas com um tipo de texto que
atenda somente às necessidades dos conteúdos relativos ao ensino da Língua Portuguesa. Pelo
contrário, a leitura de quaisquer outros textos das várias disciplinas pode fazer parte da aula de
Língua Portuguesa, podendo ser explorados da forma que o professor achar mais conveniente,
apenas com uma ressalva: que proporcione ao aluno o aprimoramento da sua competência
leitora.
No que concerne à diversidade textual, a professora mostrou boa vontade, dedicação e
esforço para implementar seu plano de trabalho em relação à leitura, entretanto, faltam-lhe
subsídios teóricos para que esse trabalho obtenha o êxito almejado. Sua abordagem na condução
das atividades didáticas em relação à leitura mostrou-se superficial e carente de conhecimentos
mais técnicos e mais consistentes para a execução do seu trabalho.
Ela tentou até diversificar os textos explorados em sala de aula, todavia não conseguiu
explorá-los adequadamente, como também não conseguiu chamar a atenção dos alunos para que
o trabalho fluísse. Além disso, existe a dificuldade de recursos didáticos nesse sentido, pois
alguns textos tiveram de ser escritos na lousa, perdendo-se um preciosíssimo tempo, embora isso
não justifique o não aprofundamento dos aspectos linguísticos do texto.
Então, a soma da carência de recursos técnicos da professora à falta de recursos
didáticos acaba por fazer com que as atividades com a diversidade textual não tenham grande
proveito como estratégia de leitura.
Uma das propostas dos novos estudos sobre o ensino de língua é justamente sugerir à
escola a trabalhar o texto na perspectiva de gênero. Ao trabalhar com os diversos gêneros
textuais em sala de aula, a escola estará trazendo a realidade externa para fazer parte de sua
rotina, fato que, por si só, já dá sentido ao trabalho pedagógico na medida em que alia a teoria à
prática.
A obra PLE (2006, p. 25) confirma as palavras acima:
[...] os gêneros, como formas historicamente cristalizadas nas práticas sociais, fazem a
mediação entre a prática social, ela própria e as atividades de linguagem dos
indivíduos. Os locutores sempre reconhecem um evento comunicativo, uma prática de
linguagem, como instância de um gênero.
Não se concebe mais o professor se contentar apenas com materiais didáticos
burocráticos, que não fazem nenhum sentido para o aluno, produto de uma pedagogia
ultrapassada que não mais dá conta das novas exigências do processo ensino-aprendizagem. E é
oportuno lembrar que “hoje, a situação mudou muito. Há uma grande gama de materiais
didáticos, em vários suportes, que podem ser utilizados pelo professor em sua sala de aula. Esses
materiais, bem empregados, podem enriquecer muito o ensino.” (PLE, 2006, p. 170)
Queiroz (2010, p. 24) destaca a importância dos gêneros textuais como recurso didático
para serem explorados em sala de aula:
Entre as particularidades dos gêneros como objetos de ensino-aprendizagem é
conferido destaque ao seguinte fato: a didatização de um permite a configuração de
novos, os chamados gêneros escolarizados. Este ponto de vista baseia-se no fato de
que, ao se tornarem objetos a serem ensinados, eles já não se apresentam com o
mesmo aspecto.
Há uma infinidade de gêneros textuais que circulam na sociedade. Esses gêneros são
fontes autênticas e podem tornar-se fontes riquíssimas de conhecimento conforme a estratégia de
exploração adotada pelo professor. Na medida em que esses gêneros já fazem parte da
conjuntura social em que o aluno está inserido, as condições de aprendizagem são bem mais
viáveis do que aquelas em que os textos são praticamente ‘artificiais’.
Segundo ainda Queiroz (2010, p. 30) sobre os gêneros textuais,
Como implicação pedagógica para o trabalho do professor com a leitura em sala de
aula, temos a utilização de textos autênticos e diversificados que tornem possível a
reconstrução do texto por meio de uma leitura global que despertem a atenção do
aluno para as diferenças lexicais, estruturais, entre outras.
Além do caráter de autenticidade dos gêneros, há também a possibilidade de se trabalhar
com a alteridade, fator importantíssimo quando do trabalho com o texto. O contato do aluno com
os diversos gêneros lhe proporciona mais conhecimentos teóricos, porque o prático ele já tem
sobre muitos deles. É justamente essa familiaridade do aluno com o gênero que facilitará o
desenvolvimento do trabalho pedagógico em sala de aula.
A professora, cujas aulas foram observadas, demonstrou certo conhecimento acerca da
importância do trabalho com os gêneros textuais em sala de aula, mas o modo de explorá-los não
foi o mais indicado. Talvez esse equívoco aconteça justamente porque ela tem como referência o
modo como os gêneros textuais são explorados no livro didático de português.
A título de ilustração, descreve-se aqui uma situação em que a professora tinha tudo nas
mãos para realizar um trabalho eficaz, mas devido a sua falta de recursos técnicos para a
exploração do texto, findou por perder esta oportunidade. Em determinada aula, ela levou para
sala de aula dois gêneros textuais, uma bula de remédio e uma receita de bolo. Em vez de
promover uma discussão sobre os elementos mais amplos dos textos – como situação da
produção e estrutura composicional desses dois gêneros textuais – e fazer uma análise linguística
de ambos, a professora se prendeu apenas às informações da bula e ao estudo apenas dos verbos
na receita.
Na verdade, os textos foram utilizados apenas como pretexto para ensinar conteúdos
gramaticais, deixando-se, assim, de se realizar um trabalho producente de análise linguística.
Em conformidade com as ideias de Santos et al. (2006, p. 74), a análise linguística
Não equivale ao que se tem chamado de gramática contextualizada, expressão que
aparece no discurso de alguns professores como uma prática de ensino de português.
Esse termo, muitas vezes, encobre o uso do texto como pretexto para análises
gramaticais convencionais.
A análise linguística não deve ser confundida com o ensino de conteúdos gramaticais.
Se o professor se vale do texto para apenas ensinar gramática, então está a haver um sério
equívoco porque, pelas novas propostas de ensino de língua, o objetivo maior do estudo textual é
proporcionar condições para que o aluno dialogue com o texto. Quando o professor negligencia
essa premissa, não pode haver perspectivas para a formação de bons leitores.
Uma das recomendações dos PCNs (1998, p. 60) com relação à prática de análise
linguística é o “reconhecimento do universo discursivo dentro do qual cada texto e gêneros de
texto se inserem, considerando as intenções do enunciador, os interlocutores, os procedimentos
narrativos, descritivos, expositivos, argumentativos e conversacionais que privilegiam, e a
intertextualidade (explícita ou não).”
Com relação ao Livro Didático de Português (LDP) adotado pela escola, tal instrumento
de apoio deixa muito a desejar quando do trabalho com os gêneros textuais. Essa obra tem como
dados bibliográficos: título: Aprender juntos língua portuguesa; ano 5º; autor: Adson
Vasconcelos; editora: Edições SM; edição: 3ª; ano de publicação: 2011.
Na página 199 desse livro, há uma proposta de trabalho de interpretação textual com o
gênero ‘propaganda’. O teor do texto que interessa à análise será transcrito abaixo a fim de que
se faça uma apreciação acerca da proposta da exploração textual:
Atente-se agora para a atividade proposta para explorar o referido gênero textual:
O texto publicitário tem todos os requisitos necessários para se colocar em prática uma
atividade proveitosa sobre gênero textual. Primeiro, porque esse gênero textual está onipresente
na sociedade moderna, sobretudo no meio midiático; segundo, porque ele oferece uma gama de
possibilidades para o trabalho com a análise linguística.
Entretanto, o LDP ignorou tais aspectos e se restringiu apenas a usar a velha estratégia
de usar o texto exclusivamente como ‘pano de fundo’ para o ensino da gramática. No caso da
interpretação acima, toda a essência do texto foi preterida em prol do ensino apenas de
advérbios.
Santos et al. (2006, p. 76) rejeita tenazmente essa postura equivocada e esclarece que:
Quanto ao trabalho com os gêneros especificamente, focaliza-se não mais a análise da
estrutura das frases, mas a análise da função social dos gêneros; não mais a fixação
das regras em exercícios repetitivos, e sim a reflexão sobre a adequação do registro à
situação de comunicação em que o gênero se insere.
A proposta da atividade do LDP foge completamente às novas concepções sobre o
trabalho com gênero textual. Nem há a preocupação de ao menos propor uma questão sobre a
função que o gênero propaganda desempenha na sociedade, como também as estratégias
Teresinha de Jesus
de uma queda foi ao chão.
Acudiram três cavalheiros,
todos três de chapéu na mão.
Evidencia-se mais uma vez que o texto serviu apenas para a gramática, especificamente
para trabalhar o conteúdo ‘numeral’. A cantiga de roda faz parte das manifestações folclóricas do
Brasil e, por isso, haveria a possibilidade do LDP explorar vários aspectos em relação a esse
fenômeno folclórico. A título de exemplo, poder-se-ia levantar várias questões sobre a cantiga de
roda, como, a sua origem, a sua tradição oral, a sua composição, o seu ritmo, etc.
Todavia, o LDP optou por preterir todas as possibilidades de explorar a cantiga dentro
da concepção de gênero textual, desperdiçando toda uma oportunidade de grande utilidade
didática.
Nesse sentido, o desenvolvimento das atividades didáticas acerca dos gêneros textuais
não atende aos requisitos dos pressupostos para as atividades de leitura e escrita, fato que impede
que o trabalho na perspectiva de gêneros não traga resultados concretos em sala de aula.
Cachorros e gatos13
O cachorro lambe o dono
com seus olhos de mel,
derramando tudo o que encontra
pelo meio do caminho:
um vaso de barro,
uma lata, o vizinho.
13
Roseana Murray
Pode-se perceber, acima, que o texto literário acaba por não cumprir sua função se o
professor se ativer apenas a questões gramaticais. O autor do livro sequer abordou a estrutura
desse tipo de texto, como versos, estrofes, rimas, o que seria o mínimo aceitável. Mais uma vez a
reflexão sobre o tema do texto foi preterida, e toda a abordagem sobre ele incidiu sobre o plano
gramatical. É impossível que os alunos sejam estimulados a tomar gosto pela literatura a partir
de uma estratégia que, nem ao menos, desafia o aluno a refletir sobre a linguagem literária.
Essa realidade descrita acima ratifica o que declara a obra PLE (2006, p. 150): “de fato,
quando ingressamos na escola, dificilmente somos estimulados a ouvir e ler poemas. O texto
serve de trampolim, na maioria das vezes, para o estudo de vocabulário, regras gramaticais e de
estilo.”
O fundamental na leitura literária é não romper a magia entre os leitores e os desafios
impostos pela linguagem, já que é nessa relação entre ambos que vão surgir várias leituras e
somente os leitores terão autoridade para atribuir-lhe a significação mais coerente. Quando se
rompe esse momento mágico, o texto literário deixa de ter significação. (PLE, 2006)
Ainda que grande parte dos textos literários se assemelhe na forma aos demais, eles
também apresentam características peculiares no aspecto linguístico. Sua construção está
condicionada ao poder de manipulação das palavras pelo autor que, por sua vez, está submetido
às suas exigências nos aspectos de sensibilidade e estética. (PCNs, 1998)
A habilidade do autor em lidar com as palavras é um dos segredos da composição
verbal da produção literária. É justamente nesse aspecto que estão as nuances que dão sentido ao
texto, como tão bem observa Fiorin & Savioli (1999, p. 351): “no texto literário, o escritor não
apenas procura dizer o mundo, mas recriá-lo nas palavras, de modo que, nele, importa não
apenas o que se diz, mas o modo como se diz.”
Todo esse trabalho com os aspectos composicionais e formais da literatura são muito
importantes, mas, antes de tudo, conforme Meirelles (2010, p. 48), deve-se lembrar de que:
[...] é preciso compreender que, antes de analisar e refletir sobre os aspectos formais
da literatura (história, linguagem etc), os estudantes têm de gostar de ler. E isso só se
faz de uma maneira: lendo, lendo, lendo. Porém, ninguém nasce sabendo. Cabe à
escola dar acesso às obras e ensinar os chamados comportamentos leitores [...]
A lua cheia14
A lua mais que redonda
hoje está cheia.
Tem a cara inchada
como quem sofre
de dor de dente.
a-) Que adjetivos dos dois primeiros versos foram necessários para que você imaginasse e
desenhasse a Lua do modo como o poeta a descreveu?
b-) Por que os adjetivos dos dois primeiros versos estão no feminino e não no masculino?
14
José Antônio Dávila
c-) Se o poema fosse sobre o Sol, como ficariam os adjetivos que aparecem nos dois primeiros
versos?
d-) Que adjetivo há no terceiro verso?
e-) Se no terceiro verso a palavra cara fosse substituída por rosto, que alteração precisaria ser
feita no adjetivo?
f-) Para reforçar o aspecto arredondado da Lua cheia, que comparação o poeta faz?
A professora conta com parcos recursos para desenvolver suas estratégias de leitura. O
principal instrumento didático é o LDP, cujos dados bibliográficos já foram anteriormente
descritos.
O livro está dividido em quatro unidades, e cada uma dessas unidades é constituída de
três capítulos que, por sua vez, são divididos em seções. As seções estão divididas em subseções.
Duas delas merecem aqui ser destacadas como objeto de análise, porque evidenciam como a
leitura é trabalhada nesse LDP, são elas: hora da leitura e linha e entrelinha.
Transcreve-se abaixo um excerto do texto a ser lido na subseção hora da leitura, p. 12:
O mandachuva15
O piloto, maior autoridade a bordo, era responsável pela definição do rumo, tomada a
partir da posição dos astros. Sua opinião sobre a rota a ser tomada prevalecia até sobre a do
comandante (...)
Observe-se agora uma das questões da proposta para trabalhar a subseção linha e
entrelinha:
1-) O sentido de mandachuva é líder, chefe, indivíduo influente. Por que o piloto era o
mandachuva a bordo?
Ora, entende-se que entrelinha é aquilo que vem subtendido no texto, algo que não está
explícito e que só poderá vir à tona se o leitor tiver a competência de ir desvelá-lo. Pela
formulação da questão do LDP, não se encontra nada parecido com o que foi descrito acima
sobre entrelinha, pois a questão sequer pede ao leitor que deduza, pelo contexto, o significado de
mandachuva. Pelo contrário, já dá o significado da expressão pronto. Quanto à pergunta, resta
apenas ao aluno transcrever as informações sobre a responsabilidade do mandachuva a bordo.
O aluno, em nenhum momento, foi instigado a penetrar nas entrelinhas do texto,
restringindo-se o seu papel, assim, a um mero reprodutor de informações para prestar contas de
sua atividade. Uma prática de leitura dessa natureza, que não leve o aluno à reflexão, não pode
fazer dele um leitor ativo e consciente de sua participação na produção do texto.
Os textos do livro não parecem interessantes para os alunos, já que eles não
demonstraram nenhum entusiasmo em lê-los. Ao se fazer uma análise cuidadosa do LDP,
percebeu-se que seus textos seguem a metodologia tradicional, ou seja, em sua maioria, são
textos escritos exclusivamente para livros didáticos, realmente não estimulam ninguém a ler, e a
maior parte deles resume-se em textos descritivos, informativos e tirinhas.
Nessa fase, Beltran (1989) afirma que o aluno quer ação, movimento, suspense,
mistério. Então por que não começar com revistas em quadrinhos ou livrinhos de narrativas
curtas? A partir daí ele pode desenvolver o gosto pela leitura. Com o decorrer do tempo, o
professor pode adotar leituras mais aprofundadas, inclusive a literária.
A proposta de compreensão textual baseia-se também na metodologia tradicional, com
perguntas óbvias, bastando ao aluno apenas a tarefa de localizar as respostas e transcrevê-las. As
15
Ricardo Prado
tirinhas são usadas essencialmente para o trabalho com a gramática, ficando a exploração do
sentido do texto relegado a um plano secundário, quando não ignorado.
Eis a reprodução do diálogo de uma tira contida no LDP, p. 180, diálogo esse que se
estabelece entre O Menino Maluquinho 16e sua mãe. Logo abaixo estão as questões formuladas
para a compreensão textual:
Não é preciso uma análise mais aprofundada para constatar que a tira acima foi usada
puramente para ensinar o uso do por que, preterindo-se, assim, o que seria essencial para que o
texto ganhasse sentido para o aluno. Por que não provocar os alunos a discutir o que é o amor?
Por que não discutir os vários tipos de amor? Como fica evidenciado, perde-se, no caso em
questão, a oportunidade da reflexão sobre a essência do texto, ou seja, as ideias do autor e do
receptor foram completamente anuladas.
Esta é outra reprodução de um diálogo de uma tirinha que se encontra na página 247 do
LDP, cujo protagonista é novamente O Menino Maluquinho17. Para fins de melhor
compreensão, descreve-se, primeiro, a situação e, logo após, o diálogo e a proposta de estudo de
texto.
16
Ziraldo
17
Ziraldo
d-) No segundo quadrinho, a vírgula serviu para separar itens de uma lista. Que tipo de itens
formaram essa lista?
e-) Que palavras da língua inglesa aparecem na tira?
crianças, refletindo quase sempre formas ligadas ao padrão de vida de uma pretensa
classe média.
Embora seja inegável que o LDP tenha melhorado bastante nos últimos anos, alguns
aspectos da pedagogia tradicional ainda são intocáveis. Um deles é que o ‘bom livro’ de
português tem de conter, obrigatoriamente, a parte gramatical, pois se criou o estereótipo de que
quem sabe português é quem sabe gramática. Tal concepção ultrapassada termina por fazer com
que vários projetos inovadores do ensino de língua, que privilegiam a realidade da maioria das
crianças, encontrem resistência de serem postos em prática porque grande parte dos professores
ainda está presa à pedagogia tradicional do LDP.
Demo (1998, p. 45) mostra-se extremamente preocupado com a dimensão pedagógica
que o material didático direcionado pelo sistema atingiu no cotidiano escolar:
[...] será muito importante evitar que o professor se torne apenas usuário de material
didático alheio, decaindo na condição de mero porta-voz. Se isto suceder, o material
didático realiza exatamente o contrário do que deveria realizar, porque em vez de
instigar o questionamento reconstrutivo, consolida a condição de objeto de ensino. A
finalidade específica de todo material didático é abrir a cabeça, provocar a
criatividade, mostrar pistas em termos de argumentação e raciocínio, instigar ao
questionamento e à reconstrução. Neste sentido, é instrumento, não a última e única
palavra.
É notório que se superdimensionou o papel do material didático destinado ao trabalho
escolar. Os livros didáticos, muitas vezes, são usados como verdadeiros manuais que ditam o que
é ‘certo’ ou ‘errado’, reduzindo o professor à condição de mero adestrador e o aluno, à de mero
adestrado. Orlandi (2012, p. 115) ratifica as palavras acima: “muitas vezes, a leitura ideal do
professor é fornecida pelo livro didático. A autoridade imediata, nesse caso, é o autor do livro
didático adotado que, por sua vez, pode-se ter modelado no crítico.”
O aluno realiza as tarefas mecanicamente, transportando trechos do texto para cada
pergunta. O tempo que deveria ser usado para a exploração e a extrapolação do texto fica
destinado a uma atividade improdutiva, que não atende às reais necessidades do aluno no
processo ensino-aprendizagem.
Outra agravante é que alguns alunos conseguem o livro do professor, bastando apenas a
eles somente transcrever as respostas. O que se pode esperar de uma estratégia de leitura desta,
ou seja, mandar que o aluno responda às questões que já tem suas respostas padronizadas? Pode-
se dizer que houve exercício de raciocínio lógico? Existe aprendizagem? Conclui-se que, caso o
livro didático não seja usado adequadamente, acaba comprometendo o aprendizado do aluno.
Sua capacidade de criar é tolhida e, consequentemente, fica condicionado a apenas estereotipar.
E para que isso não aconteça, Demo (1998, p. 21) sugere que “quando só existe o livro didático,
é preciso pelo menos fazer o aluno procurar nele o que interessa, usando-o mais como fonte de
pesquisa, do que como manual ou receita.”
Mas esse mito da hegemonia do livro didático foi criado mais pelo comodismo do
professor do que pela importância dele. É compreensível que, diante das carências que assolam
as escolas brasileiras, fica difícil para o professor contar com o apoio da escola para ter ao seu
dispor mais material didático. No entanto, isso não justifica que ele não busque alternativas para
desenvolver sua prática didática.
A obra PLE (2006, 106) coloca escola, planejamento e professor em primeiro plano
quando da escolha do material didático:
[...] podemos dizer que só o planejamento escolar e o planejamento pessoal de cada
professor, na medida em que incluam uma discussão sistemática sobre os materiais
didáticos, podem nos dizer, a cada momento e a cada situação, qual é o material (mais)
adequado, quais são os parâmetros e os procedimentos apropriados para uma escolha
qualificada, e que valores pedagógicos definem e favorecem o uso crítico.
Santos et al. (2006, p. 47) esclarece que: “De fato, não podemos negar que há
diversidade textual nos livros didáticos de português. No entanto, é importante salientar que
apenas a presença de textos em gêneros diversos no LDP não garante a formação de um leitor
crítico e autônomo.” É preciso que o professor esteja apto a fazer uma análise do livro didático e,
consequentemente, do tratamento que é dado aos textos, pois não basta que haja textos de vários
gêneros nesse instrumento didático se a exploração deles é apenas superficial e limita-se apenas
aos ditames da pedagogia tradicional.
Ao fazer uma análise sobre a produção de material didático destinado ao trabalho com o
ensino de língua no Brasil, Azeredo et al. (2008, p. 84) chega à seguinte conclusão:
É importante investir na produção de material didático que, em geral, tem estado sob a
tutela do mercado editorial pouco afeito à experimentação. Criar linhas de pesquisa
para possibilitar a elaboração de materiais mais compatíveis com o que se sabe hoje
sobre linguagem e seu funcionamento parece-me ser uma tarefa que a universidade
não pode mais negligenciar, principalmente se considerarmos a enorme carência que
marca a educação básica no Brasil.
Deve-se considerar também que o material didático produzido para ser trabalhado em
sala de aula não atende às exigências das diferentes realidades brasileiras. Devido à dimensão
continental do nosso país, existem as diversidades regionais, sejam essas no campo social ou no
campo cultural. É verdade que há autonomia para cada escola escolher seu livro didático, mas,
como, geralmente, os livros didáticos são produzidos no sul, eles são adequados para a realidade
de lá. Isso já cria sérios obstáculos para a aprendizagem dos alunos do norte do País.
Sendo assim, as opções para a escolha do livro didático não atendem às exigências das
peculiaridades regionais e locais, o que contraria uma premissa da obra PLE (2006, p. 102):
Durante o período de observação das aulas, percebeu-se que os alunos, na maior parte
do tempo, permanecem dispersos, entretendo-se em conversas paralelas, sem que se concentrem
na leitura proposta pela professora. Alguns deles, devido a sua dificuldade de leitura, leem muito
devagar, o que causa impaciência nos colegas, que acabam por desistir de acompanhar a leitura.
Impacientes, inquietos, aqueles que desistem de acompanhar a leitura mediada pela
professora passam a atrapalhar o trabalho dela, ficando ela sem alternativa para controlar a sala
de aula, impotente diante daquela situação constrangedora. Não há como haver progresso diante
de tal situação, visto que uma das condições para que a prática da leitura tenha êxito é justamente
a atenção e a concentração do leitor.
Mas não é por isso que o educador tenha de desistir de fazer seus alunos leitores,
existem vários meios de levá-los ao mundo da leitura. Para isso, é necessário que o educador
mostre persistência e confiança naquilo que acredita, desafiando a curiosidade deles e colocando-
se ao seu dispor para ajudá-los no que for preciso. Cabe ao educador também orientá-los para as
‘armadilhas’ reservadas pela leitura, como também deixá-los à vontade para que cheguem onde a
capacidade intelectual deles permita chegar. (Abreu, Paula & Rocha, 2011, p. 4).
O leitor tem a expectativa de que o texto lhe diga alguma coisa que valha a pena, que o
motive a continuar a leitura e, a partir de seu envolvimento nela, inter-relacionar as suas
vivências à mensagem do texto (Koch, 2008). É justamente a quebra dessa expectativa que faz
com que o leitor não seja seduzido pela leitura e, ao invés de aceitá-la, passa a repudiá-la.
Kleiman (2012, p. 23) atribui o desinteresse dos alunos às práticas equivocadas de
leitura:
As práticas desmotivadoras, perversas até, pelas consequências nefastas que trazem,
provêm, basicamente, de concepções erradas sobre a natureza do texto e da leitura, e,
portanto, da linguagem. Elas são práticas sustentadas por um entendimento limitado e
incoerente do que seja ensinar português, entendimento este tradicionalmente
legitimado tanto dentro como fora da escola.
O estímulo do aluno pela leitura é condicionado pela sua aceitabilidade e essa, por sua
vez, depende da identificação do aluno com o texto. Se esse pressuposto não for levado em
consideração pelo professor, são poucas as possibilidades de o aluno demonstrar interesse pelo
ato de ler.
Acerca do interesse do aluno pela leitura, Solé (1998, p. 91) dá a seguinte orientação:
Um fator que sem dúvida contribui para o interesse da leitura de um determinado
material consiste em que este possa oferecer ao aluno certos desafios. Assim, parece
mais adequado utilizar textos não conhecidos, embora sua temática ou conteúdo
deveriam ser mais ou menos familiares ao leitor; em uma palavra, trata-se de conhecer
e levar em conta o conhecimento prévio das crianças com relação ao texto em questão
e de oferecer a ajuda necessária para que possam construir um significado adequado
sobre ele – o que não deveria ser interpretado como explicar o texto, ou seus termos
mais complexos, de forma sistemática.
Nesse sentido, Solé (1998, p. 104) adverte que a participação do professor deve ser
prudencial:
Por fim, frente à leitura na escola, parece necessário que o professor se pergunte com
que bagagem as crianças poderão abordá-la, prevendo que esta bagagem não será
homogênea. Esta bagagem condiciona enormemente a interpretação que se constrói e
não se refere apenas aos conceitos e sistemas conceituais dos alunos; também está
constituída pelos seus interesses, expectativas, vivências... por todos os aspectos mais
relacionados ao âmbito afetivo e que intervêm na atribuição de sentido ao que se lê.
O professor tem de estar ciente de que o ensino da leitura deve ser adequado às
peculiaridades de cada aluno, o que significa dizer que devem ser respeitados princípios não
somente relacionados à faixa etária, como também ao ritmo de aprendizagem. É preciso haver
certos cuidados quanto a esses aspectos porque a leitura é algo eminentemente pessoal e afetivo,
fato que leva o professor a ter bastante trabalho na identificação das dificuldades de cada aluno.
A prática comum de trabalho com a leitura, constatada pela pesquisa, é aquela feita por
indicação do professor, em que o aluno é obrigado a prestar contas do que leu para ser avaliado.
O professor é quem determina o que o aluno vai ler, exige-se dele que leia, mas não são lhe
dadas possibilidades reais para ler, como a disponibilização de textos de temas diversos para que
ele tenha o direito de escolha. Essa prática não pode garantir êxito, porque o aluno, muitas vezes,
lê por obrigação e não pelo prazer de ler.
Ao ler pelo simples motivo de que irá ser cobrado após sua leitura, ele se torna o objeto
dela, destituído de qualquer direito que lhe permita rebelar-se diante do conteúdo do texto,
tornando-se nula e passiva a sua participação. Consoante Solé (1998, p. 72), “ler é sobretudo
uma atividade voluntária e prazerosa, e quando ensinamos a ler devemos levar isso em conta.”
Assim, se há passividade diante do texto, isso faz com que o aluno não atribua
significado ao que leu. A leitura é, nesse sentido, realizada para tão-somente cumprir uma
obrigação que é imposta pela escola. Pode-se afirmar que esta estratégia de leitura não é mais
que é um processo de decifração de signos linguísticos.
Sobre este processo mecânico da prática da leitura, Franco (2008, p. 55) traça um
prognóstico bastante pessimista: “(...) enquanto perdurar nas escolas brasileiras uma prática de
leitura baseada no que o autor quis dizer, restrita ao texto pelo texto, não haverá uma formação
consistente do brasileiro enquanto leitor de textos escritos. Continuar-se-á fortemente ligado à
tradição da oralidade.”
Kleiman (2012, p. 34) repudia veementemente essa prática de leitura, pois, segundo sua
concepção:
A leitura é, no entanto, justamente o contrário: são os elementos relevantes ou
representativos os que contam, em função do significado do texto, a experiência do
leitor é indispensável para construir o sentido, não há leituras autorizadas num sentido
absoluto, mas apenas reconstruções de significados, algumas mais e outras menos
adequadas, segundo os objetivos e intenções do leitor.
Sendo assim, não se concebe que haja uma prática de leitura autêntica se o leitor ocupa
apenas a mera posição de receptor passivo diante do texto, posto que, é através dele que todos os
elementos indispensáveis no processo de leitura são acionados.
Koch (2008, p. 219) concorda plenamente com a concepção de Kleiman e descreve a
relação entre leitor e leitura nos seguintes termos:
[...] a leitura é uma atividade que solicita intensa participação do leitor, pois, se o autor
apresenta um texto lacunoso ou incompleto, por pressupor a inserção do que foi dito
em esquemas cognitivos compartilhados, é preciso que o leitor o complete,
produzindo uma série de inferências.
A biblioteca do Colégio Estadual Manuel Bonfim não tem uma estrutura física
adequada para atender o seu público leitor. A primeira impressão é de um depósito de livros,
pois, falta-lhe organização para ter a aparência de uma biblioteca, sem falar que apresenta
deficiência de ventilação e iluminação, o que pode causar danos irreparáveis ao acervo. A
biblioteca dispõe de estantes e armários em condições razoáveis para armazenar seu acervo. O
seu mobiliário para acomodar os alunos encontra-se em bom estado de conservação, mas o
problema é que não respeita a sua faixa etária, tendo em vista que as cadeiras e as mesas têm um
mesmo padrão para o público adulto e o público infantil.
Conforme ressalta Mota (1990, p. 52), “as instalações, nesse espaço, devem ser
adequadas, especialmente no que se refere ao equipamento, à ventilação e à iluminação, no
sentido de possibilitar a conservação do acervo e a comodidade do leitor.”
Não existe ao menos, atualmente, um funcionário para manter a biblioteca aberta, o que,
na pior das hipóteses, já seria alguma coisa. E quando há funcionário, confirma-se o que diz Bari
& Vergueiro (2010, p. 5): “geralmente, essas responsabilidades são entregues de forma precária
a funcionários escolares sem formação adequada, ou a responsabilidade por elas é delegada aos
educadores, como atividade complementar.”
Caso o professor queira visitá-la, terá que a abrir e procurar às cegas sua fonte de
pesquisa, pois os livros sequer encontram-se catalogados. Pelo contrário, encontram-se
desordenados, dificultando bastante a localização de uma obra. Esse descaso para com um
espaço tão importante da escola vai de encontro às ideias de Mota (1990, p. 51-52) quando assim
discorre: “[...] é necessário que a biblioteca disponha de um espaço amplo que comporte as
obras, o local de leitura e pesquisa e uma área de circulação, de forma que o usuário, tendo fácil
acesso ao material, possa ler, pesquisar e trocar informações.”
Acresça-se que a biblioteca escolar, para cumprir seu papel como uma instituição que se
presta em despertar o gosto pela leitura em seus futuros usuários, não basta apenas viabilizar o
acesso do aluno ao seu acervo. É necessário também que esse aluno aprenda a usufruir dos
serviços que a biblioteca oferece de maneira autônoma e consciente, ou seja, ele deve conhecer o
bastante para encontrar o que busca sem o auxílio de outrem.
Lembre-se também de que “o aluno não precisa saber ler para começar a frequentar a
biblioteca da escola” (Ferraz, 2008, p. 47). Mesmo sem o aluno saber ainda ler, é importante que
o professor leve-o à biblioteca para que ele ganhe intimidade com ela, que aprenda a apreciá-la e
a visitá-la, pois, com certeza, futuramente, ele será um assíduo frequentador.
Por ser um espaço de tão grande relevância, o comentário de Villa (2012, p. 14) em sua
dissertação de mestrado é extremamente preocupante:
Infelizmente, alguns professores usam a biblioteca como forma de castigo para os
alunos que não se comportam em sala de aula [...] Se a biblioteca escolar é o local
onde o fazer educativo se faz presente, como pode um professor usá-la como forma
de punição? [...]
Não é à toa, então, que os alunos demonstrem insatisfação quando o professor se propõe
a visitar a biblioteca da escola. A ‘cultura’ que se construiu em torno dela explica por que ela não
é um lugar atrativo, agradável e prazeroso para eles, mas sim, um espaço onde prevalece a
pedagogia do medo, da intimidação e da obrigação. Como esperar que os alunos sintam-se
seduzidos por um ambiente desse? Qual o conceito de leitura que os alunos vão criar diante de
tal realidade? É preciso que os educadores reflitam sobre essas indagações que envolvem a
relação leitura/biblioteca escolar.
Em um estudo realizado sobre o funcionamento das bibliotecas escolares em Portugal,
Balça & Fonseca (2012) postulam que a relação entre docentes e biblioteca escolar deve ser
necessária. Tal postulado é justificado por uma série de benefícios que a biblioteca escolar pode
proporcionar aos alunos, entre eles, a aquisição da compreensão leitora, principal condição para
o seu sucesso educativo.
O acervo da biblioteca do colégio, em geral, até que não é tão mísero assim, podem-se
encontrar enciclopédias, livros didáticos, paradidáticos, obras literárias18, dicionários e vídeos
interessantes, que podem subsidiar o professor nas atividades didáticas, também há mapas e
gravuras. Faltam-lhe apenas periódicos, jornais, folhetos e filmes.
O acervo infanto-juvenil não oferece muitas opções de leitura. Esse acervo se resume a
poucos títulos, quando deveria oferecer uma grande variedade porque a maior parte do público
leitor da escola é formada de crianças e adolescentes. Justamente na fase em que o indivíduo
tem maiores possibilidades de despertar o gosto pela leitura, a biblioteca da escola não lhe
proporciona o mínimo, isto é, livros adequados para o seu gosto. “É importante que a biblioteca
tenha livros para atender ao gosto de seus usuários e que sejam adequados ao seu nível
intelectual.” (Antunes et al., 2002, p. 70)
Na condição de um espaço que tem como objetivo proporcionar o acesso à cultura, a
biblioteca escolar deve oferecer um serviço digno da função que lhe é atribuída. É necessário que
ela tenha um acervo que atraia toda espécie de público leitor, que tenha bibliotecários e/ou
dinamizadores competentes a fim de multiplicar sempre esse público. A inexistência de um rico
18
Romances e livros de poesia
acervo e desses profissionais na biblioteca escolar compromete o ensino, na medida em que esse
espaço cultural da escola é fundamental para a formação escolar e cidadã do corpo discente da
instituição de ensino.
Nesta secção, o objetivo da abordagem é analisar e discutir o que foi coletado junto aos
alunos por meio da aplicação de um questionário com perguntas abertas. Como já foi esclarecido
na parte metodológica, a turma em que o questionário foi aplicado tem 18 alunos na faixa etária
entre 9 e 12 anos. O questionário foi elaborado com 14 questões abertas sobre o tema da leitura,
as quais serão analisadas no decorrer da abordagem tendo como base as ideias expostas no
enquadramento teórico. As perguntas do questionário foram transformadas em tópicos que
resumem o conteúdo delas.
tendo em vista que, mesmo não sendo ele que vá colocar o livro nas mãos dos alunos, depende
dele a aproximação entre o aluno e o texto.
B – A Importância da Leitura
Sobre a importância da leitura, novamente os inquiridos responderam que sim e
justificaram sua resposta desse modo: ajuda a escrever; ajuda as pessoas a identificar as
letras; porque tira conclusões.
Os alunos têm consciência de que a leitura é importante para eles, e esse já é um dos
primeiros passos para formar leitores. Somando-se o gosto pela leitura e a consciência de sua
importância, tem-se aí dois requisitos preponderantes para se colocar em execução uma proposta
de leitura promissora que pode aliar o interesse dos alunos aos objetivos da proposta.
C – A Iniciativa para a Leitura
Perguntados se faziam a leitura por exigência do professor ou de forma espontânea,
todos responderam que faziam por vontade própria. Essa resposta é animadora porque eles têm
iniciativa para buscar a leitura, além disso, está coerente com as respostas das duas questões
anteriores, em que disseram que gostam de ler e que esse ato é importante.
D – A Fonte dos Textos Trabalhados em Sala de Aula
Inquiridos sobre qual a fonte dos textos trabalhados em Língua Portuguesa, todos os
alunos responderam que a única fonte é o LDP. Isso confirma o que foi percebido em sala de
aula quando do período de observação. O livro didático é que capitaneia as atividades de leitura,
ele é a fonte principal de que se extraem os textos.
E – Os Textos Trabalhados em Sala de Aula e o Interesse dos Alunos por Eles
Ao serem indagados se os textos trabalhados são interessantes, houve unanimidade nas
respostas, todos responderam de modo afirmativo. Mas apenas um dos indagados justificou sua
resposta ao ressaltar que, através dela, eles conhecem mais o mundo da leitura.
Essa resposta dos alunos contradiz o que foi observado durante o período da pesquisa de
campo, visto que a maior parte deles dava pouca atenção nos momentos de leitura. É por isso,
que a observação direta pode dar mais possibilidades de se conhecer a verdadeira realidade do
objeto de estudo.
F – A Abordagem dos Gêneros Textuais
Ao serem interrogados se já tinham ouvido falar em gêneros textuais, todos os
inquiridos afirmaram que nunca tinham ouvido falar deles. Essa resposta dos alunos ratifica o
que foi notado no decorrer do período de observação, a professora trabalhou com gêneros
textuais, mas, em nenhum momento, ela falou que o trabalho era com gêneros textuais.
maior parte dos alunos não sabe mudar para a terceira pessoa o que, literalmente, constitui-se em
uma cópia.
J – A Relação do Aluno com o Livro
Quando perguntados se já tinham lido um livro, todos afirmaram que já tinham lido,
pelo menos um. Tal resposta indica que os alunos podem ser estimulados a serem leitores
assíduos, isso dependerá das opções de leitura oferecidas a eles. Conclui-se, então, que, se
houver opções de leitura, existe a possibilidade até de os alunos preterirem outras formas de
lazer, como os aparelhos eletrônicos, e ficar com o livro.
K – A Leitura como uma Atividade de Lazer
Inquiridos se tinham alguma atividade de lazer mais importante que a leitura, 33%
responderam que não; 67% responderam que sim e citaram a internet, a televisão e o vídeo
game.
É óbvio que na contemporaneidade há diversas formas de lazer proporcionadas pela
tecnologia, principalmente aparelhos eletrônicos, que concorrem com a leitura. Entretanto, nem
por isso, todos os alunos abandonam a leitura completamente. Os percentuais acima provam que
parte dos alunos ainda tem a leitura como uma atividade de lazer importante.
L – Projeto de Leitura na Escola
Acerca da participação em projeto de leitura, todos responderam que, até o momento, não
tinham participado de nenhum. Essa constatação é preocupante, posto que na observação
verificou-se, realmente, que as atividades de leitura são planejadas de forma independente por
cada professor, sem um planejamento coletivo que busque conciliar os objetivos em prol de um
trabalho coletivo.
O Referencial curricular nacional para a educação infantil (1998, p. 57) define projetos
como “conjuntos de atividades que trabalham com conhecimentos específicos construídos a
partir de um dos eixos de trabalho que se organizam ao redor de um problema para resolver ou
um produto final que se quer obter.”
Nada mais apropriado, então, que a prática da leitura seja desenvolvida por meio de
projetos. Um projeto de leitura bem planejado, que contemple os aspectos interdisciplinares
através de um trabalho coletivo, é uma excelente estratégia para colocar em prática atividades de
leitura. Por meio dele, podem-se traçar objetivos, desenvolver novas estratégias de leitura e
avaliar os seus resultados ao final de sua implementação.
Caso os resultados ao seu final não sejam os esperados, pode-se tomá-lo como ponto de
partida e rever tudo aquilo que não deu certo e, novamente, colocá-lo em prática.
3.3 A Prática da Leitura em Sala de Aula X A Competência Leitora Exigida pelo Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB)/Prova Brasil
número possível de textos a fim de que os alunos tenham conhecimento da função que cada um
desempenha nas práticas de escrita.
Se os alunos não conhecem a diversidade de textos que circula socialmente, eles não
podem identificá-los no momento em que essa habilidade lhes for exigida. Então, não há como
os alunos terem êxito neste descritor, já que o seu aprendizado sobre ele é mínimo.
É pertinente lembrar também que não basta apenas explorar o gênero textual sem que
explore na mesma proporção o seu contexto de produção porque, consoante abordagem de
Franco (2008, p. 54),
A leitura de textos escritos passa por componentes contextuais e pelos componentes
textuais, não podendo ser dissociados, pois o primeiro define o que é considerado
texto pelo leitor, além de fornecer parâmetros para interpretá-lo, e o segundo define as
relações e propriedades internas e intertextuais do texto.
Se a leitura dos alunos se prende apenas ao que está na superfície do texto, eles não
podem realizar uma leitura por inferências. Deduz-se que é por causa disso que os alunos
mostrem tanta dificuldade nas questões em que se exige o mínimo de raciocínio para entendê-las.
3 – Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato:
O leitor, conforme esse descritor, deve ser capaz de distinguir um fato narrado de uma
opinião do narrador sobre esse fato. Pelo que se observou durante as aulas, não se trabalhou com
a leitura para que os alunos desenvolvam essa habilidade, isto é, ter a perspicácia de estabelecer
a separação entre aspectos objetivos e subjetivos no texto.
Mais uma vez destaca-se a importância do trabalho com a diversidade textual, embora
essa diversidade por si só não seja o suficiente. O conhecimento e a habilidade do professor são
sempre determinantes para que o trabalho pedagógico seja eficaz.
4- Inferir o sentido de uma palavra ou expressão:
Nesse descritor, exige-se do aluno que realize inferências para chegar ao verdadeiro
sentido da palavra ou expressão que ele desconheça.
Conforme foi observado, essa estratégia não é adotada pela professora, pois qualquer
palavra ou expressão ignorada pelos alunos eram esclarecidas, sem a necessidade de eles
descobrirem o seu sentido por si próprios.
5 – Interpretar texto com o auxílio de material gráfico diverso (propagandas,
quadrinhos, fotos, gráficos, etc.)
Por meio desse descritor, avalia-se a habilidade do aluno em atribuir sentido ao texto,
tendo como recursos interpretativos elementos verbais e não verbais. De acordo com o que foi
observado, a professora não desenvolveu nenhuma proposta de atividade de leitura que
coadunasse linguagem verbal e linguagem não-verbal.
Essa é uma atividade que não pode faltar no planejamento do professor, pois não se faz
leitura apenas por meio de palavras, mas também se faz através de imagens.
6 – Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato
ou ao mesmo tema:
Através desse descritor, é requerida do aluno a habilidade de reconhecer opiniões
diferenciadas sobre um tema, acontecimento ou pessoa, em um mesmo texto ou em textos
diferentes. Essa proposta de leitura não foi colocada em prática pela professora. Apesar de no
livro didático haver seções que exploravam o mesmo tema, não se explorou a intertextualidade,
perdendo-se, desse modo, profícua ocasião para se estabelecer relações entre os textos.
Evidencia-se que há uma discrepância entre as propostas de leitura do SAEB/Prova
Brasil e a prática da leitura em sala de aula. A explicação do baixo aproveitamento dos alunos
nessa prova, então, está nessas divergências entre o que se ensina em sala de aula e aquilo que é
cobrado deles nessa avaliação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
quando lhe for solicitada. Esse comodismo traz problemas sérios para sua formação cidadã, uma
vez que uma das condições para que o indivíduo exerça sua cidadania justamente é o domínio da
língua.
E, para que o leitor não seja condicionado a esse comodismo, uma das primeiras
providências a ser tomada pelo professor é não se contentar apenas que o aluno realize uma
leitura superficial do texto. Pelo contrário, cabe a ele estimular os alunos a adentrar nas
entrelinhas do texto, pois o seu significado pode estar na sua camada mais profunda. Através de
tal providência, estará a proporcionar ao aluno condições para ele estabelecer uma relação
dialógica com o texto, um dos requisitos essenciais para a formação do autêntico leitor.
Convém ressaltar que, antes de quaisquer outras medidas a serem tomadas para a
formação do leitor, o professor deve ter a habilidade suficiente para sensibilizar seus alunos a
despertarem o prazer em ler. O gosto dos alunos pela leitura, então, é uma fase preambular a fim
de que eles possam desenvolver suas potencialidades e, consequentemente, possam chegar às
competências almejadas.
Pelo que foi constatado na pesquisa, os alunos têm gosto pela leitura. Isso demonstra
que faltam estratégias de ensino eficazes que lhes proporcionem condições apropriadas para se
transformarem em leitores competentes. Uma dessas estratégias seria o desenvolvimento do
trabalho didático a partir da disponibilização da diversidade textual para os alunos. Como já se
frisou na abordagem do texto, os alunos precisam ter, necessariamente, à sua disposição diversos
textos para ter seu direito de escolha.
Cada leitor se identifica com determinado texto, e esse direito dele deve ser respeitado
pelo professor. A resistência de muitos alunos em ler pode se explicar justamente por não se
levar em conta tal aspecto, pois não há como realizar uma leitura espontaneamente sem que tal
leitura se mostre interessante ao leitor. Por isso, é importante colocar várias obras à disposição
do aluno, pois há a possibilidade de que ele se identifique com alguma. E é importante lembrar
que nos programas da escola não há leituras obrigatórias, o aluno pode cursar todo o ensino
fundamental sem que tenha lido um único livro.
O material didático utilizado em sala de aula para desenvolver o trabalho com a leitura
reduz-se praticamente ao LDP, principal instrumento de apoio que fornece todo o
direcionamento das atividades ao professor. Os textos que circulam nas aulas são, na sua
maioria, extraídos dele, textos esses que nem sempre correspondem aos anseios dos alunos e,
muito menos, estão adequados à sua realidade. Há, geralmente, uma leitura oficial previamente
Nunca é demais lembrar que uma biblioteca escolar bem equipada e com profissionais
competentes é fundamental, pois pode atrair os alunos e torná-los verdadeiros leitores. Uma
política de leitura adotada pela escola, sem que se leve em consideração o envolvimento da
biblioteca nela, não pode ter ambiciosas perspectivas para seduzir os estudantes para o universo
leitor. Então, a partir do momento em que a escola relega esse espaço cultural, ela também relega
a formação do aluno leitor.
Um fato que chamou a atenção no processo de investigação foi a afirmação dos
inquiridos de que a família os incentiva a ler. A ideia do senso comum é que as deficiências
apresentadas pelos alunos na leitura se devem exatamente à omissão dos pais em incentivá-los.
Essa ideia não é comprovada cientificamente e pode ser um modo de a escola imputar à família
um problema que ela não tem competência o suficiente para resolver.
Evidencie-se também que, nos últimos anos, tem havido muitas campanhas publicitárias
veiculadas pela mídia com o objetivo de enfatizar a importância da leitura para aprendizagem do
aluno. Não é de se estranhar, então, que os pais se sensibilizaram e procuram incentivar os filhos
nesse sentido. Talvez a explicação para essa afirmativa dos alunos seja resultado dessas
campanhas.
No que concerne à prova que avalia a competência leitora dos estudantes da educação
básica no Brasil, o SAEB/Prova Brasil, constatou-se que há uma distância abissal entre as
habilidades exigidas dos alunos por esse exame e a prática da leitura em sala de aula. Esse
descompasso evidente entre teoria e prática traz graves consequências para os alunos, que
aprendem de um modo e são avaliados de outro modo totalmente diferente. Tal assimetria só
pode conduzir os alunos a um caminho: o insucesso escolar.
Então, se não houver uma mudança de postura por parte do professor nesse sentido, o
problema continuará e, consequentemente, teremos, cada vez mais, não leitores competentes,
mas sim, decodificadores. A proposta de leitura da turma apresenta lacunas inaceitáveis para
quem almeja um ensino de língua mais dinâmico e produtivo, por conseguinte, vários aspectos
devem ser revistos.
A prática de leitura, de um modo geral, requer urgentemente um processo de inovação,
visto que, a cada dia, a sociedade torna-se mais exigente nesse sentido. Não há mais como
continuar com um ensino de língua tradicional, retrógrado, numa época em que a criatividade e a
competência são requisitos essenciais para se viver numa sociedade letrada.
Para uma proposta de leitura mais significativa, faz-se mister promover uma mudança
radical nas estratégias, preterir aquelas que já se mostraram ineficazes e priorizar aquelas que
realmente podem surtir o efeito desejado. Destarte, somente o professor poderá ser capaz de
mudar essa situação, isto é, transformar o conceito comum de leitura na escola em um autêntico
instrumento de ensino-aprendizagem. Eis o desafio!
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NOTAS
QUESTIONÁRIO
Nome do inquirido:___________________________________________________________
Idade:____________ Sexo:____________ Ano:____________
R:_________________________________________________________________________
5-) Os textos que são trabalhados nas aulas de Língua Portuguesa pelo seu professor são
apenas os do livro didático?
R:_________________________________________________________________________
6-) Você já ouviu falar em gêneros textuais nas aulas de Língua Portuguesa?
R:_________________________________________________________________________
7-) Você já foi levado à biblioteca da escola por seu professor? Caso sua resposta seja
afirmativa, que atividade o professor propôs que fizesse lá?
R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
8-) É importante uma biblioteca na escola? Por quê?
R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
9-) Você tem dificuldade de interpretar um texto? Se sua resposta foi sim, cite essa
dificuldade.
R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
10-) Você já leu um livro?
R:_________________________________________________________________________
11-) Você tem alguma(s) atividade(s) de lazer que julga mais importante(s) que a leitura? Se
tem, qual (is)?
R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
12-) Você já participou de algum projeto de leitura na escola?
R:_________________________________________________________________________
13-) Em casa, seus pais incentivam você a ler?
R:_________________________________________________________________________
14-) Você tem livros literários em casa (romance, poesia)? Se os tem, já os leu?
R:_________________________________________________________________________
Procedimentos de leitura
D1 Localizar informações explícitas em um texto
D3 Inferir o sentido de uma palavra ou expressão
D4 Inferir uma informação implícita em um texto
D6 Identificar o tema de um texto
D11 Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato
Variação linguística
D10 Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto