TCC - Rayssa Santos
TCC - Rayssa Santos
TCC - Rayssa Santos
CENTRO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE TEORIA DA ARTE E MÚSICA
VITÓRIA – ES
JULHO DE 2022
Rayssa dos Santos Silva Naka
VITÓRIA – ES
JULHO DE 2022
RAYSSA DOS SANTOS SILVA NAKA
Comissão Examinadora
________________________________
Prof. Dr. Antonio Celso Ribeiro
Universidade Federal do Espírito Santo
________________________________
Prof. Dra.Mirna Azevedo Costa
Universidade Federal do Espírito Santo
_________________________________
Prof. Me. Darcy Alcantara Neto
Universidade Federal do Espírito Santo
Agradecimentos
Ao meu orientador prof. Dr. Antonio Celso por compartilhar sua sabedoria com
paciência e dedicação, fundamentais para que este trabalho fosse concluído com
sucesso.
Aos professores Me. Darcy Alcantara Neto e Dra. Mirna Azevedo Costa, membros da
Banca Examinadora, por terem atendido ao convite, dispondo de seu tempo e
conhecimento para análise do trabalho.
Aos meus filhos, responsáveis pela leveza e transformação das trilhas da minha vida.
Aos meus queridos amigos Crysleyson e Plácido pelo suporte técnico não apenas
neste trabalho, mas também pelo incentivo e amizade que ajudaram a amenizar os
momentos difíceis com bom humor ao longo do curso.
Resumo
produzida pelo movimento organizado das moléculas que compõem o ar. Fonte: “Som e Acústica:
ondas sonoras”. Universidade de São Paulo (USP). Disponível em:
https://www.ifsc.usp.br/~donoso/fisica_arquitetura/12_som_acustica_1.pdf. Acesso em: 20 de maio de
2022.
8
se expressa, amplia o vocabulário, aprende a se concentrar, canta, brinca, relaciona-
se consigo e com o outro.
Segundo Gainza 3 (1988, p. 26) a música é um elemento de fundamental
importância, pois movimenta, mobiliza e, por isso, contribui para a transformação e o
desenvolvimento. Em “Estudos de Pedagogia Musical “Gainza 4 observa que a
música e o som, enquanto energia, estimula o movimento interno e externo no
homem, impulsionando-no a ação e promovem nele uma multiplicidade de condutas
de diferente qualidade e grau.
O tema desse trabalho foi inspirado a partir da experiência pessoal de compor
música para os meus filhos: cantigas de ninar, canções para passar um ensinamento
ou apenas para brincar com eles. Com interesse em me aprofundar sobre como
compor músicas infantis, busquei investigar como se dá o processo composicional
das canções voltadas a esse público. A partir disso, busquei como referencial de
análise peças do “1º Caderno – Heitor Villa-Lobos Guia Prático para a Educação
Artística e Musical 1º Volume”, e nove canções de outros países. Para análise e
comparação do material apresentado utilizamos os conceitos de Dialogismo e
Intertextualidade aventados por vários autores, entre eles: Bakhtin, Kristeva, Straus,
Lópes-Cano, Fiorin, etc e em especial o conceito de intertextualidade emprestado à
música por Peter Burkholder. Este trabalho apresenta como produto final cinco
composições destinadas ao público infantil, que dialogam intertextualmente com as
canções analisadas considerando os seguintes elementos musicais: tessitura,
melodia, ritmo, textura, letra e forma.
3 CHIOCHETA, Lucilene Fagundes; REIS, Marcos Adelmo dos. Música na educação infantil.
Disponível em: http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/wp-content/uploads/2016/03/TCC-Lucilene-Fagundes-
Chiochetta.pdf Acesso em: 22 de maio de 2022.
4 GAINZA, Violeta Hemsy. Estudos de pedagogia musical. Summus Editora Editorial LTDA: São
3 Justificativa
Neste projeto será realizada uma revisão de literatura para analisar algumas
canções folclóricas apresentadas no Guia Prático (Heitor Villa-Lobos – Guia Prático
para a Educação Artística e Musical – 1º volume, 1º Caderno) e compará-las com
canções infantis tradicionais de determinados países. O objetivo da pesquisa será
descritivo com caráter exploratório e abordagem qualitativa. Para abordar o tema da
Intertextualidade serão utilizadas referências conceituais e bibliográficas
apresentadas em teses, artigos e dissertações acadêmicas observando, em especial,
alguns conceitos levantados por Straus e Bakhtin. Serão abordadas ferramentas
gerais de composição que inclui análise intervalar, perfil melódico, fraseologia e
repetição rítmico/melódica. Também analisaremos a classificação de rimas em
versos das canções, pois a rima, sendo um fenômeno universal, é encontrada em
muitas canções deste trabalho, inclusive em peças estrangeiras.
5COPLAND, Aaron. What to listen for music (Como ouvir (e entender) música). Brasil: Artenova, 1974
p.9.Disponível em:https://www.hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/Copland-
Como_ouvir_entender_musica.pdf. Acesso em 25 de Novembro de 2021.
11
O segundo tipo, o construtivo, seria exemplificado por Beethoven. De
acordo com o autor, neste caso o compositor começa a trabalhar a partir de um tema
já escolhido.
6 Dialogismo e Intertextualidade
12
Para abordar a intertextualidade é preciso lançar-se ao conceito de
Dialogismo de Mikhail Bakhtin6. Conforme teorizou o filósofo, a orientação dialógica
é naturalmente um fenômeno próprio a todo discurso. Trata-se da orientação natural
de qualquer discurso vivo. Em todos os seus caminhos até o objeto, em todas as
direções, o discurso se encontra com o discurso do outro e não pode deixar de
participar com ele de uma interação viva e tensa7. (Bakhtin, 1988, p.88)
Apenas o Adão mítico que chegou com a primeira palavra num mundo
virgem, ainda não desacreditado, somente este Adão podia realmente evitar
por completo esta mútua orientação dialógica do discurso alheio para o
objeto. Para o discurso humano, concreto e histórico, isso não é possível.
(FiORIN, 2018, p.21)
6Mikhail Mikhailovich Bakhtin foi um pensador e filósofo, além de teórico de artes e cultura da Europa.
Considerado um dos maiores estudiosos da linguagem humana, suas obras sobre diversos temas
influenciaram uma infinidade de pensadores de diversas áreas como: crítica da religião,
estruturalismo,semiótica e marxismo.Uma das principais obras de Bakhtin é “Marxismo e Filosofia da
Linguagem”. Fonte: https://www.infoescola.com/biografias/mikhail-bakhtin/. Acesso em 10 de janeiro
de 2022.
7apud MAGALHÃES, L, O. José Luiz Fiorin - Introdução ao pensamento de Bakthin. Lócus: Revista
13
p.144). Nesse sentido, Bakhtin11, conceitua que todo texto é construído como um
mosaico de citações; todo texto é a absorção e transformação de um outro.
Em seu artigo “Texto literário, texto cultural, intertextualidade”, Anselmo Peres
Alós (2006, p.1) observa que a literatura se produz como constante diálogo entre
textos e culturas, constituindo-se a partir de permanentes processos de retomadas,
empréstimos e trocas. Ele completa que, Mikhail Bakhtin, ao estudar o romance do
século XIX, estabeleceu a noção de dialogismo - diálogo ao mesmo tempo interno e
externo à obra - que estabelece relações com as diferentes vozes internas e com os
diferentes textos sociais (ALÓS, 2006, p.1). De modo semelhante, Carvalho12 (2018,
p.17) afirma que o dialogismo pode ser entendido como um espaço de interação
entre o eu e o tu ou entre o eu e o outro. O termo “outro” diz respeito ao mundo
social no qual cada sujeito está inserido, significando que nenhum sentido se
constrói sozinho, mas comporta sempre a perspectiva de outra voz. Ou seja, tanto o
sujeito como o discurso resultam da interação social estabelecida com diferentes
segmentos em um mesmo ou em diferentes âmbitos sociais.
Bakhtin13 afirma que o autor não é aquele que apenas manipula o texto, mas
quem avalia outros pontos de vista e os incorpora no seu próprio, resultando em
uma relação dialógica: “A aproximação e o diálogo entre textos é, então, como a
mãos de cavalo. Millenium, 46-A. Número Especial temático sobre Literatura, [s. l.], p. 262, Novembro
2014. Disponível em: https://repositorio.ipv.pt/bitstream/10400.19/2705/1/16.pdf. Acesso em 25 de
novembro de 2021.
14
consciência humana, formada por exterioridades, pontos de vistas de outrem, que se
encontram”. (GIACOMOLLI 2014, p.262). A autora explica que quando se lê um texto
não lemos apenas palavras; mas também “lemos” a sociedade na qual este está
inserindo. Assim sendo, a “linguagem literária transporta uma dualidade de
significado e dialoga com outros textos e com o contexto histórico” (Giacomolli, 2014,
p.262).
Concordando com Kristeva14, Manfrinato e Dudeque (2013), nenhum texto é
gerado do zero: “os textos preexistentes sempre influenciam os novos textos” .
Paralelo a isso, Fiorin15 (1994, p. 30) diz que “a intertextualidade é o processo
de incorporação de um texto em outro, seja para reproduzir o sentido incorporado,
seja para transformá-lo”.
Para Tania Franco Carvalhal16 a intertextualidade, como propriedade descrita,
tornou-se um procedimento imprescindível à investigação das relações entre os
diversos textos:
Tornou-se chave para a leitura e um modo de problematizá-la. Como
sinônimo das relações que um texto mantém com um corpus textual pré ou
coexistente, a intertextualidade passou a orientar a interpretação, que não
pode mais desconhecer os desdobramentos de significados e vai entrelaçá-
los como a própria origem etimológica da palavra esclarece: texere, isto é,
tecer, tramar. Daí “intertexto”, que significa ‘tecer no, misturar tecendo’ e, de
forma figurada, entrelaçar, reunir, combinar (RUPRECHT 17, 1984). O texto
permite a leitura de intertextos, ou seja, do “conjunto de textos que se pode
aproximar daquele que temos sob os olhos, o conjunto de textos que
encontramos na memória de uma dada passagem’, como definiu Riffaterre
(1979)”. (CARVALHAL, 2006, p.128)
Desta forma tal conceito tem contribuído para os estudos de literatura , uma
vez que “modificou as leituras dos modos de apropriação, de absorções e de
transformações textuais, alterou o entendimento da “migração” de elementos
literários, revertendo as tradicionais noções de “fontes” e “influências” (CARVALHAL,
p.129).
15
Esse processo de “incorporação” de um texto em outro, no nosso caso, será
analisado em canções infantis de diferentes países com línguas, culturas e
geografias distintas: Argentina, Bolívia, Peru, Brasil, Austrália, China e Japão.
Hipotetizamos que a leitura do nosso intertexto (música) poderá permitir a
criação de uma nova canção a partir do “conjunto de textos que se pode aproximar
daquele que temos sob os olhos, o conjunto de textos que encontramos na memória
de uma dada passagem”, segundo a definição de Riffaterre18.
16
O compositor, ao estudar as obras de seus antepassados, reage a esses
trabalhos reinterpretando-os, ou seja, ele usa o material compositivo neles
contidos, segundo uma visão própria, o que implica em transformação
desse material, em tratamento individualizado, segundo seu poder criativo,
sua originalidade. Em decorrência desse processo transformador, a
influência se torna um objeto difícil de ser observado. (BARRENECHEA,
2003, 125)
22 O livro “Angústia da Influência” é a obra mais estudada de Harold Bloom. A expressão, cunhada por
ele, já havia aparecido antes de 1973 no livro “The ringers of the tower”. Bloom foi um audaz defensor
da poesia romântica em um período em que o New Criticism imperava em Yale, seu âmbito
profissional, o que promoveu uma série de calorosos confrontos. Bloom foi considerado pertencente a
um grupo de intelectuais que surgia neste período: Os desconstrutores de Yale. Juntamente com
Geoffrey Hartman, Paul de Man e J. Hillis Miller apresentou uma visão ao mesmo tempo anti-
essencialista e antiformalista da literatura. CASTRO, Daniel Fraga de. A complexidade da Angústia da
Influência de Harold Bloom. Disponível em:
https://editora.pucrs.br/anais/XISemanaDeLetras/pdf/danielfraga.pdf. Acesso em 26 de abril de 2022.
17
mesmo tempo atraente e nova... A riqueza e o peso da tradição o forçaram
a seguir o “duro caminho” de mudar e a desenvolver a linguagem musical. 23
(STRAUS, 1990, p.8)
jovem de Johann Sebastian Bach. Compôs numerosas obras orquestrais e de câmara, além de
várias óperas. Viveu um bom tempo de sua vida na Inglaterra, motivo pelo qual ficou conhecido como
"o Bach Londrino" ou "o Bach Inglês". Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Christian_Bach .
27 TRANCHEFORT, F. Op. cit., p.616
18
Figura 1: BACH, J.C.Violino Sonata in D - dur. Op.16 nº1
Fonte: IMSLP28
Fonte: IMSLP.29
uma dezena de obras dramáticas e de várias páginas de música sacra e música instrumental.
20
influência na poesia. Neste caso, a intertextualidade é tratada como um processo de
aprimoramento do artista.
32 PUPIA 2021, 9. Intertextualidade na Sinfonia n.8 (1950) de Heitor Villa-Lobos. Tese de Doutorado.
Departamento de Música da Universidade Federal do Paraná, 2021, p. 14. Disponível em:
https://www.academia.edu/49800713/Intertextualidade_na_Sinfonia_n_8_1950_de_Heitor_Villa_Lobo
s. Acesso em 29 de março de 2022.
33 PUPIA, A.S, Op. cit.,. p.9 e 10.
22
Figura 3: Hommage a J.S.B
Fonte: Mikrokosmos34
Fonte: IMSLP35
histórico (STRAUS, 1990, p. 12) apud BARBOSA; BARRENECHEA (2003,127). Disponível em:
24
Outro exemplo de Influência por Ansiedade é a composição “Reimagining
Vivaldi39” de Max Richter. Ele estrutura a sua obra a partir do ciclo de Concerti
Grossi – “As Quatro Estações” do compositor do período barroco italiano Antonio
Vivaldi, mas quebra uma série de paradigmas ao fazer um releitura através de
desconstrução e reconstrução da obra original), atualizando a música de Vivaldi para
os dias atuais. Observamos ainda que Richter utiliza a estratégia composicional da
fragmentação e collage em sua peça, uma vez que elementos que estavam juntos
na obra original de Vivaldi são separados e “colados” em sua releitura.
Fonte: IMSLP40
25
Figura 6: RICHTER, Max. Vivaldi - The Four Seasons - Spring 1
Fonte: Nkoda41
26
Assim o que importa na montagem não são as características dos elementos
isolados, pois:
[...] através de sua união não parece a simples soma de um plano mais
outro plano – mas o produto. Parece um produto – em vez de uma soma
das partes – porque em toda justaposição deste tipo o resultado é
qualitativamente diferente de cada elemento considerado isoladamente.
EISENSTEIN44, 2002, p.16).
Ilustrando melhor o que seria este produto, Eisenstein cita a união das células:
escucha digital. Musikeon Books, Barcelona, 2018. In: PUPIA, Adailton Sergio. “Intertextualidade na
sinfonia nº8 (1950) de Heitor Villa-Lobos”. Tese de Doutorado. Departamento de Música da
Universidade Federal do Paraná, 2021, p. 14. Disponível em:
https://www.academia.edu/49800713/Intertextualidade_na_Sinfonia_n_8_1950_de_Heitor_Villa_Lobo
s. Acesso em 29 de março de 2022.
47Apud PUPIA, Adailton Sergio, Op. cit., p.14.
27
organizada ou reescrita por seu autor ou outro compositor por diversos motivos,
caracterizando a transformação de um original. A alteração pode ser realizada de
forma substitutiva (correção de erros) ou acumulativa (nova versão).
O teórico aborda cinco tipos de intertextualidade: citação, paródia,
transformação de um original, tópica e alusão.
A citação seria o caso mais evidente de intertextualidade, ocorrendo quando
o compositor se refere a outra obra de si mesmo (nesse caso, auto-citação) ou de
outro compositor:
Para que aconteça a citação, a referência intertextual deve ser forte e clara
(na maior parte do tempo, a citação contrasta com o restante da música);
deve ser realizada sobre uma obra reconhecível e específica, embora o seu
nome ou autor seja desconhecido; deve haver intencionalidade,
reconhecida e dosada, pois, do contrário, se incidiria plágio e deve existir
certa literalidade entre a obra original e sua citação, pois a forte
transformação de um original se torna outro caso de intertextualidade.
(LÓPEZ-CANO, 2007, p. 31) apud PUPIA (2021,13 e 14)
Brasiliana (v. 13). 2003, p. 2-12. : In: PUPIA, Adailton Sergio. Intertextualidade na bachianas
brasileira n.2 de Heitor Villa-Lobos. Dissertação de Mestrado. Departamento de Artes e Música da
Universidade Federal do Paraná, 2017, p. 16. Disponível em:
https://www.academia.edu/38167875/Intertextualidade_na_Bachianas_Brasileiras_N_2_de_Heitor_Vill
a_Lobos . Acesso em 10 de dezembro de 2021.
28
intertextual em obras de compositores brasileiros contemporâneos. O estudo tem
como objetivo “mostrar e avaliar motivações e propósitos diversos no uso da
apropriação intelectual, tais como a expressão ideológica e o recurso estilístico”
(NOGUEIRA, 2003, p. 2).
Nogueira tem como referencial a teoria de Affonso Romano Sant’Anna 50 ,
apresentada em seu livro Paródia, Paráfrase & Cia, de 2007. Nogueira utiliza as
quatro categorias intertextuais oferecidas por Sant’Anna, correlacionando-as com as
obras analisadas. Estes quatro tipos de intertextos se situam entre o hibridismo e a
fusão estilística, havendo “diversos graus de integração ou desvio de sentido ou
estilo entre um texto e intertextos atuantes, resultantes do propósito da semelhança
ou da diferença” (NOGUEIRA51, 2003, p. 3):
7 A intenção do compositor
50 SANT’ANNA, Afonso Romano de. Paródia, paráfrase & Cia. São Paulo: Ática, 2007. In: PUPIA,
Adailton Sergio. Intertextualidade na bachianas brasileira n.2 de Heitor Villa-Lobos. Dissertação de
Mestrado. Departamento de Artes e Música da Universidade Federal do Paraná, 2017, p. 16.
Disponível em:
https://www.academia.edu/38167875/Intertextualidade_na_Bachianas_Brasileiras_N_2_de_Heitor_Vill
a_Lobos> . Acesso em 10 de dezembro de 2021.
51 SANT’ANNA, Op. cit., p.16.
52 JACQUES, Edgar F. The Composer's Intention. Fonte: Proceedings of the Musical Association, 18th
Jacques comenta que Mozart, por conta de sua aptidão especial, teria um
cérebro que funcionava mais ou menos automaticamente, uma vez que ele escrevia
o que a sua imaginação ouvia.
Por outro lado, o teórico aponta que haveria outra classe de compositores que
produziria de forma mais “consciente”, como Beethoven, por exemplo.
53A expressão francesa 'et voilá tout' se traduz literalmente como “e eis tudo” é corresponde
superficialmente à interjeição de surpresa "pá pum" . (Antonio Celso Ribeiro).
30
Para Jacques é evidente que não é impossível que Mozart possa ter
composto sua música sob a influência de sentimentos ou Ideias; na verdade, porém
é possível pensar de outra forma quando ouve-se suas melhores obras. “Mas Mozart
parece ter estar inconsciente disso ou por ter considerado isso como um problema
isso iria cuidar de si mesmo”, afirma Jacques.
Beethoven tinha uma imagem, fazia o rabisco e compunha inspirado naquilo.
Mozart geralmente ouvia a música inteirinha na cabeça dele e escrevia tudo. Sobre
Haydn, considerado o pai da Sinfonia Clássica, Jacques afirma que ele é mais
legitimamente o precursor de Beethoven:
(...). Lemos que, quando estava para compor, ele imaginava um pequeno
romance que poderia lhe fornecer sentimentos e cores musicais; e, ainda,
que quando disposto à ternura e à melancolia, anotava temas para adágios
e andantes, e quando de bom humor, temas para árias e minuetos.
(JACQUES, 1891,p. 41)
Quando uma criança bem pequena atua como receptora de sons, reclama –
chorando ou tapandos os ouvidos – se a altura ou intensidade desses sons
ultrapassar o limiar de saturação de seu sistema receptor (Sabe-se que o
som, nos limites extremos de seus parâmetros, irrita – por evocar
sensações limítrofes... A necessidade de permanecer – como regra geral –
dentro do nível ótimo de recepção de alturas, intensidade e timbres,
estende-se ao longe da primeira infância, a tal ponto que consideramos
sumamente nocivo acostumar prematuramente as crianças a aceitarem
situações sonoras de caráter extremo (o volume, o timbre, a intensidade
etc.), como seria o caso de certos exemplos de música contemporânea –
erutida e popular – que deveriam der classificadas de “não indicadas” para
crianças pequenas, anciãos e enfermos, porque tendem a dessensibilizar o
sistema defensivo natural que todo indivíduo tem em seus sentidos e que
lhe adverte sobre situações anormais ou de perigo. (GAINZA,1982,23).
9. Canções
9.1 “Cai, cai, balão”
57 BARBOSA, Maria Clara; BARBOZA Sérgio; LAGO, Manoel Aranha Corrêa. Heitor Villa-Lobos
(estudo folclórico musical) Guia prático para a Educação Artística e Musical. 1º Caderno. Funarte: Rio
de Janeiro. 2009, p. 21.
33
Figura 7: Cai, cai, balão
58 Fonte: BARBOSA, Maria Clara et al. Heitor Villa-Lobos, Guia Prático para a Educação Artística e
Musical – 1º Volume, 1º Caderno.
59 Andamento Moderadamente rápido (112–120 bpm). Fonte: https://mosaicmusicinstruction.com/wp-
content/uploads/2018/07/basic-tempo-markings.pdf
34
que ‘aceleram’ a mudança de registro ou do perfil melódico. Essa peça faz uso de
procedimento simétrico, ocorrendo uma modificação rítmica da melodia e inversão
do seu conteúdo motívico.
Além de proporcionar entretenimento e diversão, esta canção pode ser
usada como instrumento pedagógico-educacional e de sociabilidade para a criança,
uma vez que contribui para o conhecimento e permanência de uma das tradições
brasileiras mais celebradas que são as festas juninas.
Observamos que o desenho intervalar da frase “Cai cai balão” é
descendente, concordando com a ideia de um balão que está caindo. De forma
lúdica, a criança abaixa, gira, levanta etc, acompanha com o corpo tudo o que está
proposto na partitura sem precisar ter conhecimento dela. A criança faz os
movimentos de abaixar, levantar, chachoalhar para o lado, tocar a própria mão etc.
seguindo uma coerência entre texto, melodia e ritmo. Tais movimentos realizados na
brincadeira estimulam a sua orientação espacial. Assim, a criança aprende a
localizar o que está a sua frente ou atrás, acima ou abaixo, perto ou longe de outro
colega desenvolvendo a noção em relação ao seu próprio corpo e interage
socialmente. Outro elemento que observamos na letra dessa canção é a rima,
fundamental para o aprendizado, pois estimula a memória auditiva, que está ligada a
consciência fonológica60.
60 A consciência fonológica pode ser entendida como um conjunto de habilidades que vão desde a
simples percepção global do tamanho da palavra e de semelhanças fonológicas entre as palavras até
a segmentação e manipulação de sílabas e fonemas (Bryant &Bradley, 1985). Scielo. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pee/a/Zs83Yfc4wRLFPgp5ZbQLFBb/?lang=pt#:~:text=A%20consci%C3%AAnc
ia%20fonol%C3%B3gica%20pode%20ser,(Bryant%20%26Bradley%2C%201985). Acesso em 20 de
maio de 2022.
61 MAFFIOLETTI, L. A. . A dimensão lúdica da música na infância. In: XIV Encontro Nacional de
Didática e Prática de Ensino, 2008, Porto Alegre, RS. Trajetórias e processos de ensinar e aprender:
sujeitos, currículos e cultura. Porto Alegre, RS : EDIPUCRS, 2008. Disponível em:
https://www.researchgate.net/profile/Leda-
Maffioletti/publication/322633982_A_DIMENSAO_LUDICA_DA_MUSICA_NA_INFANCIA/links/5f31d2
afa6fdcccc43beed41/A-DIMENSAO-LUDICA-DA-MUSICA-NA-INFANCIA.pdf> Acesso em 23 de maio
de 2022.
35
A rima desta canção é simples, pois apresenta uma sequência de repetição
similar entre os versos.
62 BARBOSA, Maria Clara et al. Heitor Villa-Lobos, Guia Prático para a Educação Artística e Musical –
1º Volume, 1º Caderno.
63 Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=3cDsvBPn-mQ&ab_channel=GalinhaPintadinha . Acesso
em 13 de junho de 2022.
36
menor e maior, 4ª justa e aumentada. A forma da peça é bipartida com estrutura “A –
A1” e sua rima alternada (abcb).
. “A canoa virou” não tem constrastes melódicos como na canção anallisada
anteriormente. A primeira frase, o antecendente, é formada pelo motivo; a segunda
frase, o consequente, se baseia fortemente na estrutura do antecedente.
A textura melódica da peça é monódica, mas o arranjo apresentado por Villa-
Lobos é polifônico. Neste caso, a voz superior canta a melodia principal e a voz
inferior, à guisa de acompanhamento, reproduz onomatopeicamente o barulho dos
remos: ‘schxê’ ‘schxê’, criando uma ambientação sonora das águas a partir dessa
figura de linguagem, além de reforçar a ideia de que “fulana não soube remar”.
A peça dialoga com a canção “A canoa virou”. Uma vez que apresentam
semelhanças entre si podem ser classificadas na Teoria da “Influência como
Generosidade” e ao conceito de citação intertextual. As duas canções possuem
padrão motívico similar, assim como a melodia e o mesmo tipo de ritmo com
pequenas variações e letras/versões diferentes. Relembrando o conceito de López-
Cano64 “a citação é forte e clara e contrasta com o restante da música que acontece
quando o compositor se refere a outra obra de si mesmo (nesse caso, auto-citação)
ou de outro compositor”. Vale ressaltar que a forma da “Fui no Itororó65” tem parte
“B”, diferentemente de “A Canoa virou”, que possui a estrutura “A – A1”, sendo,
portanto, uma canção estrófica. Em relação ao posicionamento dos versos, a rima é
alternada (aabcb). Nessa canção aplica-se a estratégia composicional da
motivização, uma vez que ela repete o conteúdo motívico da obra “A canoa virou” e
acrescenta uma nova parte contrastante.
Fonte: Pinterest66
66Fonte:https://www.google.com.br/search?q=fui+no+itoror%C3%B3+partitura&tbm=isch&ved=2ahUK
Ewjj4PiUosL4AhXJuZUCHW-kBl8Q2-
cCegQIABAA&oq=fui+no+itoror%C3%B3+partitura&gs_lcp=CgNpbWcQAzoECCMQJzoGCAAQHhAH
OgQIABAYOgQIABAeOgYIABAeEAVQlARY0xVgziVoAHAAeACAAe4BiAGiDZIBBjAuMTAuMZgBAKA
BAaoBC2d3cy13aXotaW1nwAEB&sclient=img&ei=Aa2zYqPcJsnz1sQP78ia-
AU&bih=694&biw=1517#imgrc=-3gaYrPsjPrfDM. Acesso em 10 de abril de 2022.
38
9.4 A gatinha parda I
39
gatinha?” o ritmo é escrito com colcheia pontuada e semicolcheia em intervalos de
2ª maior ascendente, sugerindo, provavelmente, o senso de urgência em encontrá-la.
No final da frase “parda” aparecem mínimas com salto de 3ª menor descendente e
são utillizadas notas mais longas possivelmente para descrever com mais atenção
uma característica da gata. Há um salto de 5ª justa para começar a letra de “Em
janeiro me fugiu”. O salto mais longo aqui serve para enfatizar o lamento do dono.
Na parte “Você sabe? Você sabe? Você viu?” As perguntas repetidas em sequência
possuem o mesmo padrão ritmico de colcheias e desenho melódico descendente.
As perguntas em movimento descendente podem sugerir que o dono está
desanimado ou desesperançoso sobre a possibilidade de reencontrar sua gatinha.
Aqui as colcheias sem pontução predominam. A forma desta canção também é
bipartida: “A – A1”.
41
frisar a fala da gata “Nhan”, diferenciando-se um pouco da primeira que utiliza a
onomatopéia “Miau” para começar e depois “Nan”. As duas canções dialogam entre
si e se complementam. Uma começa a contar a história e a outra dá um possível
desfecho para a situação.
Observamos que essas músicas analisadas têm forma estrófica, que é uma
estrutura de fácil assimilação e entendimento para as crianças. Entre essas duas
canções “A gatinha parda – I” e “A gatinha parda – II” encontramos a estratégia
composicional da motivização, pois o conteúdo motívico da peça 1 é apresentado
novamente na segunda música de forma mais intensificada.
43
Ao falarmos sobre a Intertextualidade nas canções infantis percebemos que o
processo de “incorporação” ou diálogo de um texto/canção em outro dá-se de
diversas maneiras: observamos os motivos, repetições, formas, melodias, ritmo,
variações, letra etc. Vimos que no Caderno Villa Lobos 1 muitas canções são
anônimas e fazem referência às tradições culturais brasileiras. Da mesma forma
canções infantis de outros países também dialogam entre si e se enquadram nos
conceitos de Intertextualidade apresentados neste trabalho.
Neste sentido, vamos citar e analisar os padrões rítmicos, melódicos, textura,
tessitura e texto (quando houver) destas músicas e buscar a intertextualidade entre
elas com as canções do Caderno 1 Villa- Lobos.
Compreendemos que há um padrão nessas canções analisadas.
Predominam-se tessituras que não ultrapassam uma oitava, adequando-se à
extensão vocal da criança; melodias curtas, repetitivas e simples, ou seja, fáceis de
serem assimiladas; e também o uso de Onomatopéias – figura de linguagem
utilizada na formação de uma palavra que traz um som natural a ela associada,
proporcionando os “efeitos” que ajudam na representação do imaginário e
vocabulário infantil. Também encontramos a questão da ludicidade nas peças, letras
com rimas e ausência de modulações melódicas.
44
Figura 14: Bolo, bolo, bolo
Transcrição 72fonética
“Ugah73, ugah, ugah (a)
Bmagal narrugah (a)
Nistovevah col haiom (b)
Ad ieshar nimtsah maqom (b)
Leshêvet, lacom (b)
Leshêvet, lacom (b)
Leshêvet velacom (b)
A letra e o ritmo desta canção hebraica mostram que ela é uma brincadeira
musical. A tessitura é de 7ª menor, favorecendo as atividades corporais que a
mesma propõe. Na melodia são apresentados desenhos intervalares de 2ª maior
descendente e ascendente e alguns saltos de 3ª maior e menor ascendente, 4ª justa
descendente, 5ª justa ascendente. O compasso é um binário simples, a melodia é
repetitiva, adequada à proposta de passar um ensinamento específico através da
letra ou de simplesmente contar uma história. Predominam as seguintes figuras
72 Tradução:
Bolo, bolo, bolo
Num círculo circulamos
E andamos o dia inteiro
Até encontrarmos um lugar para
Sentar, levantar.”(3x)
73
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=PXPNzjUCaJU&ab_channel=Rokdim . Acesso em 13 de
junho de 2022.
45
rítmicas: mínima, semínima e colcheia. A forma dela é um rondó: Aa Bb Coda. Esta
peça faz uso dos procedimentos simétrico e de compressão. O conteúdo motívico é
repetido, porém com modificação e inversão do mesmo, utilizando ainda a
diminuição do padrão rítmico, onde cada nota tem o seu valor reduzido.
A canção “Bolo, Bolo, Bolo” apresenta intertextualidade com a cantiga
espanhola “Ya lloviendo está”. Ambas possuem motivo melódico e rítmico
semelhantes, mas com letras diferentes. Além da questão rítmica com a canção
hebraica “Bolo, Bolo” , “Ya lloviendo está – Já está chovendo” dialoga com canções
do Caderno 1 Villa Lobos pelo uso de onomatopéias como “ping, pang” que
remetem ao som de chuva, ao uso de intervalos com tessitura de 3ª maior e textura
monódica. O desenho intervalar predominante é de 2ª menor descendente. Uma
canção curta, simples e com tessitura adequada para a criança cantar e de estrutura
estrófica “A – A1”. Essa canção apresenta rimas interporladas (aba). Quando
comparamos “Ya lloviendo está” com “Bolo Bolo Bolo” observamos a técnica da
motivização de uma em relação a outra, observando a modificação rítmica por
aumentação em seu padrão rítmico.
Fonte: Pinterest74
74Fonte:https://www.google.com.br/search?q=ya+lloviendo+esta&tbm=isch&ved=2ahUKEwiBpIGcosL
4AhWUTbgEHasRDGEQ2-
cCegQIABAA&oq=ya+lloviend&gs_lcp=CgNpbWcQARgAMgQIABAeMgQIABAeMgQIABAeMgQIABA
eMgQIABAeMgQIABAeMgQIABAeMgQIABAeMgQIABAeMgQIABAeOgsIABCABBCxAxCDAToICAAQ
sQMQgwE6CAgAEIAEELEDOgUIABCABDoGCAAQHhAFOgYIABAKEBg6BAgAEBM6BggAEB4QCF
D6CFjNNWD9QGgFcAB4AIABiQKIAfcWkgEGMC4xNC4zmAEAoAEBqgELZ3dzLXdpei1pbWfAAQE&
46
11.2. Oyfn Pripetshik
Fonte: Wikipedia76
sclient=img&ei=EK2zYoHcG5Sb4dUPq6OwiAY&bih=694&biw=1517#imgrc=IY3-PUemPtynyM .
Acesso em 15 de junho de 2022.
75 Oyfn Pripetshik uma canção composta por Mark Warshawsky (1848-1907) . A canção é sobre um
rabi ensinando aos seus jovens estudantes o alef-beit (alfabeto hebraico A língua iídiche é derivada
do alto alemão, historicamente falada pelos judeus Ashkenazi. O idioma terá tido origem durante o
século IX na Europa Central, fornecendo à nascente comunidade Ashkenazi um vernáculo de base
alemão fundido com elementos retirados do hebraico e aramaico, bem como - mais tarde - línguas
eslavas e vestígios de línguas românicas. Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_i%C3%ADdiche .
76 Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Oyfn_Pripetshik . Acesso em 10 de março de 2022.
77 Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=UUF-jHyEuNg&ab_channel=albertdiner . Acesso em 13
de junho de 2022.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Oyfn_Pripetshik .
47
“Oyfn 78pripetchik brent a fayerl, (a)
Un in shtub iz heys, (b)
Un der rebe lernt kleyne kinderlekh, (c)
Dem alef-beys. (b)
Refrão:
Refrão:
Vejam, crianças, lembrem-se, queridos,
O que vocês aprendem aqui;
Repitam e repitam mais uma vez,
Komets-alef: o!
48
Un vi fil geveyn. (b)
79
BARBOSA, Maria Clara et al. Op.cit.
80 BARBOSA, Maria Clara et al. Op.cit., p 22.
49
As duas peças apresentam o mesmo material e se apresentam como
cantigas. Ambas apresentam contrastes com frases suspensivas e conclusivas e
repetições. A “Oyfn Pripetshik” é uma canção mais singela e tem como objetivo
apresentar um ensinamento e “A cantiga de ninar” tem como objetivo acalmar (por
meio da melodia) a criança para dormir.
11.4 Kookaburra
81 Tradução: kookaburra pousou no pé de eucalipto ele é o feliz rei do galho, ria kooganurra, ria, a sua
vida deve ser muito boa. kookaburra pousou no galho, e come todas as frutinhas que ele vê. Pare,
kookaburra, pare, deixe algumas para mim. kookaburra pousou no galho, e conta todos os macacos
que vê. Pare kookaburra, pare, aquilo não é ele, aquilo sou eu.
82 Entre o tipo de dança mais difundida na Europa Medieval destaca-se a “dança de roda”. Dois
fatores que provavelmente contribuíram para a popularização deste estilo de dança foram a
simplicidade de seus passos, onde tanto homens e mulheres dançam em roda e de mãos dadas,
como a simbologia e o valor mágico do círculo.” Fonte: https://www.aphc.com.br/2017/11/16/oficina-
de-dancas-circulares-medievais-e-
celtas/#:~:text=Entre%20o%20tipo%20de%20dan%C3%A7a,o%20valor%20m%C3%A1gico%20do%
20c%C3%ADrculo . Acesso em 27 de junho de 2022.
50
Figura 18: Kookaburra
Fonte: Musicalion83
51
11.5 O pato nada no lago
52
11.6 Shabondoma
88 https://www.youtube.com/watch?v=mNNUTvJwTK0&ab_channel=GuadalupeVicent. Acesso em 10
de maio de 2022.
89 Fonte: https://www.descomplicandoamusica.com/escala-pentatonica/ . Acesso em 20 de maio de
2022.
54
Figura 22: Canción para la bañar la luna
55
11.8 Pequeña Luna
56
Figura 24: Escala chinesa
Fonte: Mamalisa94
57
A canção boliviana95 apresenta tessitura de 6ª menor e apenas duas figuras
rítimicas: semínima e colcheia. A forma musical dela é estrófica, sendo uma canção
para a criança dançar, pular e brincar. Além de apresentar uma letra que sugere a
dança, a peça lembra o gênero Valsa por causa do compasso binário composto. O
desenho intervalar é de 2ª menor e maior ascendente e descendente com eventuais
saltos de 3ª maior descendente e 5ª justa ascendente, sendo uma música simples,
curta e de fácil assimilação com rima emparelhada.
Fonte: Mamalisa
96Tradução:
Eu quero vê-la dançar
Pular e brincar
Andar pelos ares
E se mover com muita graciosidade
Deixem-na só, sozinha e só.
58
“Os pollitos dicen 97 ” é uma canção peruana que apresenta tessitura de 7ª
menor e padrão rítimico de semínima e colcheia. Observa-se que a frase é iniciada
com salto ascendente de 4ª justa, seguidos por intervalos de 2ª maiores e menores
e saltos de 3ª menor para imitar o “pio” dos pintinhos. Na segunda frase o desenho
melódico contrasta começando descendente em “quando eles têm frio. Ocorre ainda
um salto de 5ª justa ascendente, seguidos por graus conjuntos que caminham até a
conclusão da frase na sua tonalidade. A textura é monódica e sua forma é: A – A1” . A
canção apresenta rimas alternadas e emparelhadas.
11.10 Os pintinhos
60
12 Análise das composições autorais
12.1 “Bādī”
61
A cantiga “Bādī” conta a história de um passarinho filhote para ilustrar a
relação afetiva entre mãe e filho. Assim como a criança começa a descobrir o mundo
externo, mas volta para o aconchego da mãe diariamente, o passarinho é
dependente da mãe até começar a voar. A música apresenta uma letra relativamente
longa, pois conta o cotidiano do pássaro desde o seu despertar até o descanso
noturno. Contudo, a letra e a melodia são repetitivas e apresentam rimas simples e
emparelhadas que possibilitam que a criança memorize também a letra e que não
apenas a escute como uma canção para dormir. Essa música pode ser utilizada para
estimular a imaginação infantil, apresentando uma narrativa com várias coisas que
acontecem no dia a dia do passarinho (sair, brincar, contemplar a natureza, voltar
para o colo/ninho), além de proporcionar a identificação da própria criança com o
personagem da história cantada.
O desenho melódico começa com graus conjuntos descendentes e saltos de
3ª maior e menor ascendentes. No contraste “Passarinho, o sol tão alto aquece o
coração...”, a música começa com salto de 5ª justa ascendente, seguido por 4ª justa
descendente. Basicamente predominam duas figuras rítmicas: colcheia e
semicolcheia e o compasso é um quaternário simples, sua tessitura é de 7m e a
forma dela é A-b-a. A estrutura da canção é relativamente simétrica e sua rima é
emparelhada (aabb). A música “Bādī” dialoga com “Os pollitos dicen” que também
tem tessitura de 7ª menor e padrão rítmico de semínima e colcheia. Assim como a
canção sobre os pintinhos narra o cuidado da mãe com os filhotes, Badi também
aborda o cuidado e a afetividade entre mãe e filho, principalmente na infância.
62
12.2 Pule 1,2,3!
63
“Se você já viu um urso da floresta, (a)
Então pule de um pé só e coloque a mão na testa. (a)
12.3 Pi(pocando)
101
Exercício oral que consiste em articular, com rapidez e sem enganos, frases ou sequências de pala
vras com segmentos difíceis de pronunciar, como, por exemplo três tristes tigres. Fonte:
https://dicionario.priberam.org/traval%C3%ADngua . Acesso em 9 de maio de 2022
64
A ideia é imitar uma pipoqueira, utilizando onomatopéias e trabalhar a
separação das sílabas. A criança é levada a imaginar rapidamente as novas “figuras”
que vão se formando a partir das sílabas que sobram e formam uma nova palavra
ou frase, como por exemplo “Ja NE LA sem o “Nela” fica o “JÁ vou pipocar”. Também
citamos o “pipoca” sem o Pi” fica o “poca” de pocar, considerada uma expressão
típica do povo capixaba. O desenho melódico da parte A apresenta salto de 4ª justa
ascendente, seguido por 3ª menor e maior descendente. Há saltos de 5ª justa
ascendente. Na parte B o desenho melódico começa com salto de 4ª justa, porém
utiliza mais graus conjuntos do que na primeira parte. A sua tessitura é de 7ª menor,
com textura monódica. O ritmo faz uso de semínimas, colcheias e semicolcheias em
andamento Andante Moderato (92 bpm). Um dos objetivos desta brincadeira musical
é ajudar a criança a desenvolver um vocabulário mais amplo e auxiliar no
desenvolvimento da articulação das palavras.
65
12.4 Flor de Cerejeira
102 A flor de cerejeira, ou flor de sakura, como é conhecida no Japão, simboliza pureza, brevidade da
vida e felicidade. Fonte: https://www.dicionariodesimbolos.com.br/flor-cerejeira/
103 Na cultura japonesa, além de representar vida longa, o tsuru simboliza fidelidade, paz e poder de
cura
66
12.5 Indiozinho feliz
A música “Indiozinho feliz!” pode ser cantada com divisão para dois grupos
infantis. Um canta a melodia e o outro fala as expressões “Nariz!, Feliz! Uhula! Um,
dois, três!”. Ela apresenta tessitura de 9ª maior e forma AB e rimas simples e
emparelhadas.
Começa com salto de 3ª menor descendente, graus conjuntos e salto de 8ª
justa na parte que as crianças falam “1,2,3”. No início da parte B é apresentada uma
sequência de graus conjuntos ascendentes, seguida por salto de 6ª maior. A canção
pode ser utilizada na educação infantil com o intuito de conscientizar as crianças
sobre a importância e o respeito pela contribuição dos povos indígenas para com a
sociedade e a preservação ambiental, conceitos abordados de forma mais
direcionada no Dia do Índio (19 de abril). Para acompanhar a canção podem ser
utilizados instrumentos musicais como o pau de chuva, flauta, maracá, tambor etc de
preferência feitos com material reciclado e confeccionados pelas próprias crianças.
67
(Beleza!) – fazer sinal de positivo com o dedo polegar (b)
Eu toco o pau de chuva (c)
(Uhula) – Tocar o pau de chuva no ritmo (c)
Vamos contar até 3 (d)
(1,2,3) – Contar rapidamente com os dedos (d)
68
com a canção “Bolo, bolo, bolo” e “Baila Sola”, cujos temas em comum são as
brincadeiras infantis, a liberdade, a alegria e a brincadeira em círculos. Além disso,
dialogamos com a canção “Cai cai balão” que trabalha a coordenação motora e
orientação espacial da criança.
Flor de Cerejeira foi composta utilizando a escala pentatônica. A música faz
alusão à cultura hipônica, ao citar um símbolo de beleza, renovação e do feminino
no Japão: a flor de cerejeira (Sakura). O pássaro Tsuru, que é citado bailando, faz
parte das lendas desse povo, sendo considerada uma ave sagrada, que traz boa
sorte e longevidade. Além dos nomes que remetem às tradições da região, a rítmica
com valores curtos, a tessitura pequena e a escala pentatônica estabelecem uma
relação intertextual interessante com a cultura japonesa.
Compomos essas canções dialogando com as peças brasileiras e
estrangeiras apresentadas na pesquisa. As relações intertextuais que surgiram entre
as canções são classificadas dentro Teoria da Influência como Generosidade,
estando presente no desenho rítmico, melódico, na forma, tessitura, textura e
também nas letras.
69
13 CONCLUSÃO
70
REFERÊNCIAS
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Educação Artística e Musical – Estudo Folclórico Musical. Rio de Janeiro: ABM:
Funarte, 2009.
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S.A,1974.Disponível
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Universidade Católica de Santos. Disponível em:
https://www.academia.edu/33491358/M%C3%89TODOS_DE_PR%C3%89_INICIA%
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C3%87%C3%83O_DE_PIANO_PARA_CRIAN%C3%87AS_EM_IDADE_PR%C3%8
9_ESCOLAR . Acesso em 2 de dezembro de 2021.
SANT’ANNA, Afonso Romano de. Paródia, paráfrase & Cia. São Paulo: Ática, 2007.
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78
ANEXOS
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83