Antropologia Bíblica

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APRESENTAÇÃO

leitura atenta da Palavra de Deus revela-nos dois aspec-


A tos que são essenciais: o conhecimento da própria Pala-
vra e a necessidade de ensiná-la aos povos da terra. Em
Provérbios está registrado que bem-aventurado é homem que
acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento. (...) Os
seus caminhos são caminhos de delícias e todas as suas veredas,
paz. É árvore da vida para os que a seguram, e bem-aventurados
são todos os que a retêm. O caminho de Deus para o homem é
seguro; leva à felicidade e à paz. Porém, é preciso que o homem
conheça, verdadeiramente, esse caminho. Há uma relação estrei-
ta entre os aspectos evidenciados e um pressupõe o outro. Se o
homem adquire conhecimento da Palavra, necessariamente, ele
será compelido a transmiti-lo. Se ele não o adquiriu é, tão so-
mente, impossível ensiná-lo. Podemos observar, essa relação, na
vida de Esdras. Sacerdote abençoado, cheio de Espírito de Deus,
dispôs o seu coração a buscar o conhecimento da Lei de Deus, a
obedecê-la e a ensiná-la. A observação da vida de Jesus, da sua
conduta, também, não nos deixa dúvida acerca do que está sen-
do descrito. A expressão e começou a ensinar é, extremamente,
abundante nos Evangelhos. Jesus tinha clareza do seu ministério.
Ele sabia, exatamente, o que lhe competia fazer e tinha prazer
nisso. Dedicou Sua vida à obra de Deus. As suas palavras e as
suas ações demonstram com clareza a sua disposição de cumprir
o propósito de Deus: a minha comida é fazer a vontade daquele
que me enviou e realizar a sua obra (Jo 4.34). Antes de voltar ao
céu, Jesus deixou claro que seus discípulos continuariam a obra
que Ele começara a fazer: assim como o Pai me enviou, também
eu vos envio a vós (Jo 20.21). Muitos dos seus discípulos enten-
deram bem Sua vontade e prosseguiram a obra de Deus.

É em função desse entendimento que esse curso veio à existên-


cia. O conhecimento da Palavra de Deus pode ser alcançado,
mediante seus estudos. Esse curso tem a pretensão de evidenciar
os aspectos mais relevantes e profundos acerca da obra
missionária. Depois de ter adquirido o conhecimento, é preciso
transmiti-lo a todos os povos. Esse curso tem, também, a preten-
são de conclamar aqueles que já ouviram a chamada de Deus
para evangelizar os povos até os confins da terra; pois essa é a
essência da obra de Deus: a salvação das almas que estão perdi-
das, que ainda não encontraram o Salvador da Humanidade. Nós
só glorificamos a Deus, na terra, se cumprirmos a obra que Ele
nos ordenou. Não há nada tão claro quanto a vontade Dele para
nós: ... e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em
toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra (At 1.8).
Através do Projeto Um Milhão de ASAS você pode contri-
buir para a evangelização dos povos africanos. Esse Projeto tra-
balha, desde 1997, na evangelização da África. Já alcançou dois
países: Moçambique e Senegal, onde se encontram quatro casais
de missionários. No primeiro país, o projeto tem missionários em
Beira, onde, em julho de 02, houve a pré-inauguração de um
templo, e em Maputo. No segundo, o projeto já adquiriu um ter-
reno. A sede desse Projeto fica na rua 7, Qda. 61, Lt. 11 – Setor
Santos Dumont. Telefone: (62) 294-5544 – E-Mail:
[email protected]. Conheça esse projeto, torne-se um
sócio dele e faça parte dos que livram os que estão destinados à
morte, e salvam os que cambaleiam para a matança (Pv 24.11).
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................ 3

CAPÍTULO I .................................................................................... 9
CONCEITUAÇÃO DE ANTROPOLOGIA E DE CULTURA ...................... 9

CAPÍTULO II ................................................................................. 17
A CULTURA DOS CONTEMPORÂNEOS DOS HEBREUS ..................... 17

CAPÍTULO III ................................................................................ 25


A CULTURA DOS HEBREUS ................................................................... 25

CAPÍTULO IV ................................................................................ 31
A COMUNICAÇÃO DA MENSAGEM CRISTÃ ........................................ 31
CAPÍTULO I
CONCEITUAÇÃO DE
ANTROPOLOGIA E DE CULTURA

A cultura de um povo influencia no seu comportamento so-


cial, ou seja, os valores adquiridos dentro de uma determinada
comunidade moldam o comportamento individual dos compo-
nentes da comunidade. A cultura dos povos não é homogênea;
pelo contrário, a humanidade, de acordo com os estudos antro-
pológicos, é marcada por uma grande diversidade cultural. Essa
diversidade, desde a Antiguidade, é um desafio para os estudio-
sos porque eles querem entender e explicar o porquê das diferen-
ças de comportamento entre os homens. Para se ter uma ideia da
distinção entre as várias culturas apresentaremos alguns exemplos:
no Japão, o suicídio sempre é considerado com uma forma de
ritual (harakiri); na França, os hábitos culinários incluem comidas
muito sofisticadas feitas com rãs, escargots; na Califórnia, os ciga-
nos consideram a obesidade como um indicador de virilidade; na
Europa e no Brasil, o nudismo nas praias é aceitável; enquanto
que nos países islâmicos as mulheres não podem descobrir seus
rostos.
10 Antropologia Bíblica

A explicação acerca das características de um povo não pode


ser dada nem pelo determinismo geográfico, nem pelo biológico,
conforme eram os estudos de geógrafos no final do século XIX e XX.
A cultura, o comportamento dos indivíduos, depende do apren-
dizado. Qualquer criança normal pode ser educada em qualquer
cultura; daí elas terão o comportamento que lhe ensinarem. A dife-
rença entre o comportamento de meninos e de meninas é em decor-
rência de uma educação diferenciada e não, simplesmente, pelo fato
de serem de sexos diferentes. Segundo a posição da Antropologia
moderna, a cultura age seletivamente, e não casualmente, sobre o
seu meio ambiente. A força decisiva de permanência de comporta-
mento está na própria cultura e na história da cultura. A compreen-
são dessas questões sob o ponto de vista antropológico reforça a im-
portância que Deus sempre deu ao ensinamento de Sua Lei. Conhe-
cedor de todas as coisas sempre soube que o caráter de um indivíduo
é formado na sua infância; portanto, desde a tenra idade, a criança
deve ser ensinada segundo os preceitos de Deus, vivenciados pelos
pais.
O termo cultura, em seu aspecto mais amplo, significa todo o
complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costu-
mes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo
homem como membro de uma sociedade. (TYLOR, século XIX). A
definição de comportamento aprendido norteou o conceito de
cultura no século XX. Portanto, a explicação da diversidade como
resultado da desigualdade de estágios existentes no processo de
evolução dos povos foi, totalmente, superada. Cada cultura segue
Antropologia Bíblica 11

os caminhos em função dos diferentes eventos históricos pelos


quais passou. O fato de um povo viver de acordo com regras e nor-
mas1 , segundo os ensinamentos da comunidade a que pertence, ca-
racteriza a sua identidade; porém, à medida que permite receber in-
fluências de outras comunidades, perde os traços que o caracterizam.
A percepção desse fato é essencial para compreendermos o porquê
Deus sempre quis formar um povo com um comportamento molda-
do por uma Lei dada, especificamente, por Ele; é por isso que Deus
não permitia ao povo de Israel viver conforme o costume dos povos
e nem permite à igreja viver conforme os preceitos da sociedade. O
povo de Deus vive conforme seus ensinamentos.
A cultura de um povo é como uma lente através da qual enxer-
ga o mundo. O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem
moral e valorativa e os diferentes comportamentos sociais são produ-
tos de uma herança cultural, e, são esses elementos, que distinguem
os povos uns dos outros; é, por isso, que os homens que servem a
Deus só são identificados como tais se tiverem comportamentos e
costumes que condizem com os estabelecidos por Deus. Todo indiví-
duo é identificado por uma série de características, tais como o modo
de agir, de vestir-se, de caminhar de correr, etc. Tudo isso, depende
de um aprendizado e este consiste na cópia de padrões que fazem
parte da herança cultural do grupo2 . Um esquema pode evidenci-
1
Conjunto de mecanismos de controle, instrução que governa o comportamento dos homens.
2
Algumas pessoas se sentem ofendidas quando não são cumprimentadas com a paz do Senhor;
fica entendido, então, que não se trata de discriminação, mas de uma não identificação como
alguém que serve a Deus. O povo de Deus tem seu padrão de comportamento; portanto, as
pessoas que fazem parte dele são identificadas se, e somente se, vivem de acordo com as regras
e normas; se já não vivem é porque já perderam a identidade, os traços que as caracterizavam.
12 Antropologia Bíblica

ar melhor essas afirmações3 :

AS CAMADAS DA CULTURA
ARTEFATOS MATERIAIS
COMPORTAMENTO OBSERVÁVEL
INSTITUIÇÕES
(Casamento, instrução, lei, etc.)

VALORES

IDEOLOGIA,
COSMOLOGIA,
COSMOVISÃO

Para que haja uma socialização adequada dentro de um


mesmo grupo é necessário que os indivíduos conheçam as regras
que norteiam a convivência; pois, um povo que quer manter sua
identidade cultural não aceita empréstimos culturais, ou seja, não
aceita influência de outros modos de comportamentos, seja no
modo de agir, no de vestir-se, no de pensar, etc. Essa afirmação
pode ser comprovada pelos judeus. Ao longo da história da hu-
manidade, vários povos perderam sua identidade cultural. Os gran-

3
HESSELGRAVE, J. David. A Comunicação Transcultural do Evangelho. Vol 1, p. 88.
SP: Vida Nova, 1994.
Antropologia Bíblica 13

des impérios que surgiram foram determinantes para fazer desa-


parecer os traços culturais dos povos que foram dominados. Po-
rém, os judeus, dominados pelos babilônios, pelos medo-persas,
pelos gregos, pelos romanos, pelos egípcios e pelos sírios, preser-
varam seus costumes.
Se a cultura determina o comportamento do homem, ou seja,
se suas ações são de acordo com o padrão cultural, e este é trans-
mitido socialmente, fica fácil entender que o comportamento dos
crentes é desenvolvido pelo que lhes foi transmitido, diretamente,
por Deus, através da Sua Palavra; como a Lei do Senhor é a ex-
pressão do Seu caráter e da Sua santidade fica evidente que o
caráter desenvolvido no homem, pelo aprendizado da Lei divina,
deve ser, pelo menos, semelhante ao de Deus. Por isso, Deus,
querendo ser conhecido pelos homens e compartilhar suas ideias
com eles, escolheu Abraão, formou a nação de Israel e deu-lhe
uma Lei para nortear todos os aspectos de sua vida. Como a igreja
assumiu o lugar do povo de Israel para levar o conhecimento de
Deus a todas as nações, ela deve ter conhecimento e consciência
de que, independente do comportamento do povo de determina-
das regiões que ela irá levar o evangelho, o comportamento, regi-
do pela Lei de Deus, deve ser ensinado e, mais cedo ou mais
tarde, ele deve ser dominante. Não há o que se falar sobre respei-
to aos traços culturais distintos porque o povo de Deus tem uma
Lei e o seu comportamento tem que ser moldado por ela. Segun-
do discursos humanos, deve-se preservar o relativismo cultural
para preservar a beleza e a riqueza das culturas distintas. Ainda,
14 Antropologia Bíblica

segundo esses discursos, a não consideração das culturas distintas


revela a intolerância, o racismo, o preconceito. Entretanto, esses dis-
cursos nada mais revelam do que a cegueira espiritual dos seus pro-
dutores.
O estudo da antropologia abrange, pelo menos, duas tarefas
básicas: reconstruir a história de povos ou de regiões particulares e
comparar a vida social de diferentes povos cujo desenvolvimento
segue as mesmas leis4 . É essa ciência, então, que tem a preocupação
de descobrir e compreender a origem dos traços culturais dos povos.
Esses traços culturais são observados a partir das funções vitais do
homem: alimentação, sono, atividade sexual e, também, das
tecnologias, modos de organização econômica, padrões de agrupa-
mento social, organização política, crenças e práticas religiosas. Em-
bora essas práticas sejam universais, inerentes a qualquer agrupa-
mento humano, o modo de satisfação e de realização dessas ativida-
des varia de cultura para cultura. Nesse caso, o homem é o resultado
do meio cultural em que foi socializado; ele reflete o conhecimento e
a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o antecede-
ram.
Com base nesses conhecimentos, se refletirmos sobre a Pala-
vra de Deus, ficaremos estarrecidos com as ações de Deus, pois as
entenderemos com uma profundidade bem maior. Por exemplo, na
ocasião da destruição de Sodoma e Gomorra, Deus disse que não
ocultaria nada do que faria a Abraão porque ele seria uma grande e
poderosa nação e, também, porque eu o tenho conhecido, que ele
4
BOAS, Franz. Apud LARAIA.
Antropologia Bíblica 15

há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guar-
dem o caminho do Senhor, para agirem com justiça e juízo... além
disso, como Abraão seria pai de uma grande nação, precisava ver a
destruição de povos que se opunham obstinadamente à vontade de
Deus para testificar e ensinar aos seus filhos o que Deus faz com as
nações que adotam costumes e hábitos contrários à Palavra de Deus5
(Gn 18.17-19). Depois disso, compreendemos porque há tanta refe-
rência ao Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Os filhos (os netos
estão incluídos) de Abraão foram ordenados no caminho do Senhor
e, por isso, o povo de Israel foi o reflexo das gerações que o antecede-
ram. Outro exemplo que podemos destacar, para que não haja dúvi-
das acerca do desejo de Deus de ver nossos filhos sendo ordenados
segundo os seus mandamentos, é o de Deuteronômio 6. 6,7: e estas
palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a
teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo
caminho, e deitando-te, e levantando-se.
A cultura de um povo pode ser definida como o conjunto de
mecanismos de controle, de planos, de receitas, de regras, de instru-
ções que governam o comportamento. Fica muito fácil de compreen-
der porque Deus disse que a Sua Palavra é mandamento sobre man-
damento, mandamento e mais mandamento, regra sobre regra, re-
gra e mais regra: um pouco aqui, um pouco ali; para que vão, e
caiam para trás, e se quebrantem, e se enlacem, e sejam presos.
(Is 28.13)

5
A igreja é considerada, por Deus, uma nação. Ex 19.6 e I Pe 2.9.
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ATIVIDADES DE APOIO

1. A cultura de um povo influencia no seu


comportamento social? Explique.

2. Como é possível explicar acerca das


características de um povo? Como elas são
formadas?

3. O que significa o termo cultura?

4. Qual é a relação entre a cultura de um povo


e a Lei de Deus?

5. Quais são as tarefas básicas da Antropologia?


Antropologia Bíblica 17

CAPÍTULO II
A CULTURA DOS
CONTEMPORÂNEOS DOS HEBREUS

O período de tempo designado de pré-história era pouco


conhecido até os últimos 150 anos. A ausência de documentação
era um dos fatores primordiais desse desconhecimento. Não há
dúvidas que a Bíblia é uma grande fonte de registros de reinos
passados que desapareceram. Estudos arqueológicos, a partir do
século XIX, confirmaram uma série de afirmações bíblicas que, até
então, não estavam registradas em outro lugar. Estudos sobre o pas-
sado têm demonstrado, cada vez mais, que os povos antigos eram
tão inteligentes e dotados de razão como os modernos. Isso pode
ser evidenciado pelo desenvolvimento da escrita6 , pelos sumérios;
estudo do movimento das estrelas, pelos babilônios e pelo desen-
volvimento da aritmética.
Até o 4º milênio a.C., a maioria dos povos da Europa e do
Oriente Médio vivia em pequenos bandos migratórios; eram caça-
dores e coletadores. O estabelecimento de comunidades perma-
nentes só se deu durante o período patriarcal, registrado em Gn 4-
9. Nesse período se desenvolveu a domesticação de animais sel-
6
Escreviam com estilete de caniços sobre tábuas de barro; essas tábuas eram cozidas em fornos.
18 Antropologia Bíblica

vagens; a agricultura7 e a irrigação.


Nas comunidades agrícolas, muito cedo, se desenvolveram
rituais religiosos. Ansiosos por uma boa colheita, os povos antigos
atribuíam o sucesso dela aos deuses e deusas da agricultura. Em
Gn 10 e 11, está registrado o crescimento desses cultos e o fortale-
cimento do poder político em torno do templo. A união de cren-
ças favorecia a instituição de um governo comum. Dentro desse
contexto, era muito comum a troca de costumes religiosos. Não
havia uma normatização para definir padrões de comportamento
na adoração aos deuses. Os sumérios, cuja capital era Ur, cidade
de Abraão, em 2500 a.C., fundaram vários estados, cada um com
sua religião8 .
A cidade de Ugarite9 foi o centro da língua e da religião
Cananeia. As práticas dos cananeus devem ser conhecidas, pois
foram com esses povos, além de outros como os babilônios e os
egípcios que os hebreus entraram em contato. Como eram
adoradores de deuses falsos, Deus os advertira: não faças concer-
to com os seus vizinhos, Ex 34.12. Apesar das advertências, a Bí-
blia registra que, por várias ocasiões, o povo de Deus adorou deu-
ses pagãos.
Na Antiguidade, a religião era mais predominante do que
no mundo moderno. O indivíduo cultuava deuses pertencentes

7
A Bíblia registra que Noé foi um lavrador, Gn 9.20.
8
Gn 10: Quis, Cuxe, Babel, Ereque e Acade.
9
Dela só encontraram ruínas; porém foi ricamente estudada. O mundo dos cananeus, antes da
chegada dos israelitas, foi desvendado pelos estudiosos e os relatos bíblicos se tornaram respeitáveis
entre os estudiosos. Localizava-se na costa do Líbano.
Antropologia Bíblica 19

aos lugares que habitava; se mudasse, deveria demonstrar reve-


rência às divindades de outros locais; não havia dificuldades para
adorarem deuses distintos; muitas vezes, uma religião absorvia
outra, sem prejuízo algum. A religião foi, predominantemente,
politeísta, ou seja, os povos reconheciam vários deuses como
verdadeiros. As diversas culturas possuíam, também, diversos
deuses.
A criação desses deuses estava diretamente relacionada aos
fenômenos naturais: sol, lua, mar, rio. Como o homem não podia
controlar a força da natureza, buscava recursos na adoração de
deuses falsos. Um grande exemplo disso são as cheias do rio Nilo,
no Egito. Ele era considerado uma benção ou uma maldição, con-
forme o desígnio dos deuses. Quando haviam as cheias e as terras
eram bem regadas e, posteriormente, havia boa colheita era
benção; caso contrário, maldição. Os povos pagãos não enxerga-
vam um domínio central, Deus, sobre todo Universo; por isso,
adoravam ídolos. Os israelitas foram proibidos de tais práticas,
porém a praticaram; por esse motivo foram levados cativos II Rs
25.1-6.
Outra peculiaridade dos deuses pagãos era serem
antropomórficos, ou seja, eram muito semelhantes aos seres hu-
manos, tinham as mesmas necessidades, as mesmas fraquezas, as
mesmas imperfeições. Por causa da fúria dos deuses, era preciso
sacrificar animais e, também, seres humanos para acalmá-los; além
disso, precisavam oferecer alimentos e bebidas para que ficassem
satisfeitos (Is 57.5,6; Jr 7.18). Os reis decadentes de Judá faziam
20 Antropologia Bíblica

tais sacrifícios quando desejavam, ansiosamente, vencer as guer-


ras (I Rs 21. 25, 26).

Para se ter uma ideia da diversidade de deuses que eram


cultuados, daremos alguns exemplos. Os principais eram os se-
guintes: Rê ou Rá, Hórus ou Osíris eram deuses egípcios; Enlil,
Enki/Ea ou Marduque eram sumérios e acadianos; El e Baal eram
cananeus10 ; Zeus era grego; Júpiter era romano. Os povos que
adoravam esses deuses edificavam templos para eles e faziam suas
liturgias. Ideias abstratas como Justiça e Retidão, também, eram
consideradas deusas. No Egito, Maat era a deusa que personifica-
va a Verdade e a Justiça; era a força cósmica da harmonia e da
estabilidade; entre os cananeus, Sedeque e Mishor é que repre-
sentavam essas ideias. Entre esses povos era comum a prática de
rituais obscenos para buscar harmonia entre sexo e natureza.

Entre os mesopotâmios, os heteus, os persas, os cananeus,


os gregos e os romanos era inconcebível a ideia da existência de
um Deus Único. Foi em meio a essa miscelânea de crenças e de
deuses que Deus chamou Abraão para sair da terra de Ur e ir para
a de Canaã. Portanto, Israel era um povo muito diferente dos seus
vizinhos; cria num Deus Único, criador de todo Universo.

Entre os mesopotâmios, povo de Abraão, era comum a cren-


ça nas adivinhações: tentativa de interpretação da vontade dos
deuses. Para isso, tinham algumas técnicas tais como a observa-
10
Baal era o deus da fertilidade; cada comunidade tinha o seu próprio Baal, Ex 14.2; Nm 25.5;
Jz 3.3.
Antropologia Bíblica 21

ção da forma do fígado de ovelhas e bodes, para reis e ricos; ob-


servação das gotas de azeite caídas num copo d’água; a observa-
ção das formas da fumaça do incenso. Querendo saber a vontade
dos deuses, a observação desses elementos fazia com que o futu-
ro fosse predito. Além disso, os sonhos eram interpretados. Dessas
práticas surge a astrologia. Deus proibiu Israel de fazer qualquer
dessas práticas, Dt 18.10; Lv 20.6; Ez 13. 6-8. Tudo isso, para Deus,
era insulto e abominação.

Entre os pagãos, jamais poderiam existir profetas que censu-


rassem os reis. Entre os israelitas essa prática era, absolutamente,
comum; era a forma que Deus usava para mudar o caminho iní-
quo dos governantes. Entre eles, também, existiam dias de sorte e
dias de azar. O grande evento deles era a festa de Ano Novo. Acre-
ditavam, também, que a palavra falada por alguns homens tinha
poder11 . O casamento entre irmãos era comum entre os egípcios;
acreditavam que essa prática purificava o sangue. A prática do
homossexualismo e da prostituição era comum entre os sacerdo-
tes e sacerdotisas; apesar disso, eram considerados santos.

Por causa de todas essas práticas, Deus proibiu, terminante-


mente, o contato do seu povo com os vizinhos. Ele e os seus pro-
fetas desafiaram Israel a viver acima das culturas circunvizinhas, a
separar-se delas e ser para elas uma testemunha e um desafio. O
desafio feito a Israel é o mesmo feito à igreja. A prática dos povos,

11
Se estivermos bem atentos, perceberemos que muitas práticas dos pagãos contemporâneos
dos israelitas, que irritavam a Deus, estão muito presentes em nosso meio.
22 Antropologia Bíblica

hoje, não é menos abominável a Deus do que a dos antigos. Se o


grande desafio da igreja é alcançar todos os povos e nações da
terra, então, todos os povos e nações devem ser alcançados para
viverem segundo os padrões definidos por Deus; cristianizar o
mundo, como ocorreu durante o Império Romano, não é o inte-
resse de Deus; seu interesse é ver povos transformados pelo co-
nhecimento do evangelho genuíno.
Antropologia Bíblica 23

ATIVIDADES DE APOIO

1. Por que os estudos arqueológicos, a partir do


século XIX, contribuíram com os estudos
teológicos?

2. Qual é a relação existente entre as


comunidades agrícolas da Antiguidade e os
rituais religiosos?

3. Como eram as práticas religiosas dos


cananeus, dos egípcios e dos babilônios?

4. Explique por que Deus proibiu o


relacionamento mais intenso entre o seu
povo e os seus vizinhos.

5. Como era, de forma geral, a cultura na qual


Abraão estava inserido?
CAPÍTULO III
A CULTURA DOS HEBREUS

A cultura dos hebreus, em todos os seus aspectos: moral,


civil e cerimonial foi, terminantemente, moldada pelos elementos
divinos da Lei de Deus. Deus os livrou das mãos dos egípcios e os
separou para Ele. Em Êxodo 19.5 está registrado que se diligente-
mente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu concerto, então,
sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos (...) E
vós me sereis reino sacerdotal e povo santo. E, em Levítico 18.3,
4 está registrado: não fareis segundo as obras da terra do Egito,
em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã,
para a qual eu vos levo, nem andareis nos seus estatutos. Fareis
conforme os meus juízos e os meus estatutos guardareis...

Para agradar a Deus, então, era preciso conhecer a Lei que


foi dada ao povo, através de Moisés. Evidenciaremos, principal-
mente, os aspectos da Lei de Deus que se opõem aos da cultura
dos povos que foram contemporâneos dos hebreus.

Os pagãos adoravam vários deuses e vários lugares para a


adoração deles; mas Deus disse: não terás outros deuses diante
26 Antropologia Bíblica

de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma se-


melhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra,
nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as
servirás; porque eu, o Senhor, teu Deus, sou Deus zeloso... Ex 20.
3-5. Os deuses pagãos eram antropomórficos, o Deus de Israel,
em nada, tem imperfeições; é santo: Santos sereis, porque eu, o
Senhor, vosso Deus, sou santo, Lv 19.2. Deus estabeleceu as re-
gras para o construção do Tabernáculo; ali seria adorado. Em hi-
pótese alguma, aceita práticas imorais como rituais da adoração.
Condena, também, a prática de adivinhações ou qualquer prática
supersticiosa.

Através da Lei, Deus foi cercando o homem para que este


pudesse chegar ao patamar desejado por Deus. A Lei é o que
impede o desvio do homem para a direita ou para a esquerda; é a
linha que assinala o caminho que chega a Deus; é a barreira que
impede o homem de pecar; segundo Paulo, a Lei é o aio que
conduz a Cristo. Na realidade, Jesus á a expressão da vontade de
Deus; é a Palavra que foi corporificada; é a essência de Deus; por
isso, a nova aliança de Deus com os homens deve ser entendida a
partir da essência da Lei de Moisés. Essas alianças têm a mesma
natureza. A descrição do Tabernáculo é a descrição daquilo que
estava por vir, Hb 9.23; Jo 3.12. Ele foi a concretização de algo
que apontava para o futuro. Na realidade ninguém seria salvo pelo
cumprimento da lei; ela apenas impunha limites ao homem. A
relação entre Jesus e o Tabernáculo é, extremamente, clara; espe-
Antropologia Bíblica 27

cialmente, quando o evangelho de João é observado. O


tabernáculo tinha apenas uma porta para entrada: Jesus é a única
porta para o Reino de Deus: eu sou a porta... Jo 10.9; logo estava
o altar do holocausto: eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo, Jo 1.29; depois o lavatório: ...uma fonte de água... Jo
4. 12, 14; no lugar santo ficavam o candelabro de ouro: eu sou a
luz do mundo... Jo 9.5; a mesa dos pães: eu sou o pão da vida, Jo
6.35; o altar do incenso e o véu que separava o lugar santo do
santíssimo lugar, onde estava a arca da aliança. Quando Jesus
morreu, o véu do templo foi rasgado para que o pecador pudesse
se achegar a Deus: eu sou o caminho, Jo 14.6; eu e o Pai somos
um, Jo 10.30. O Tabernáculo, assim como as festas de Israel e as
práticas cerimoniais, têm um significado espiritual muito profun-
do porque apontam para Jesus Cristo; Ele é o nosso propiciatório;
o nosso mediador; o nosso sustento; o nosso guia; o nosso purifi-
cador; o nosso redentor.

Se a nova aliança tem a mesma natureza da Lei mosaica,


precisamos entender que Deus, também, quer que a igreja tenha
um comportamento diferente dos povos que não fazem parte dela.
Só assim, verão que o povo de Deus é um povo diferente e de-
monstra a glória do Senhor, aqui, na terra.

A cultura dos hebreus foi estabelecida, criada e indicada por


Deus. Se observarmos bem, veremos que ela foi apontada para
resgatar os aspectos éticos que hoje lutamos tanto por eles. Na-
quela cultura havia regras desde o tratamento dispensado aos es-
28 Antropologia Bíblica

cravos, por exemplo, estes, no sétimo ano de servidão, seriam for-


ros, de graça, até o comportamento do rei no palácio. Ainda trata
das regras sobre alimentação, vestuário, negócios, governo, etc.
Nada poderia ser feito fora do padrão estabelecido, pois poderia,
o judeu, ofender a Deus. Além disso, uma prática de outra nação
poderia ser uma idolatria ou prática de feitiçaria.

É importante observar que o que havia de bom e ético entre


as nações foi permitido a Israel praticar. Assim a cultura do povo de
Deus foi estabelecida pela coletânea de modos de viver das nações
pagãs; modos que foram conservados desde a origem, ou seja, an-
tes da queda do homem. Na dispensação da consciência, o ho-
mem já tinha conhecimento do bem e do mal; portanto, ele não era
ignorante acerca da vontade de Deus; além disso, a escolha sempre
foi dele; mas Deus, sempre o advertiu na escolha: eis que hoje eu
ponho diante de vós a benção e a maldição...Dt 11. 26-28.

Tais costumes ou culturas foram impregnados na mente do


homem e Deus o dotou de consciência para discernir o bem do
mal, haja vista que, logo após a queda, viram Adão e Eva que
estavam nus. Deus lhes perguntou quem havia lhes mostrado que
estavam nus. Obviamente Deus sabia que fora a própria consci-
ência deles. Logo, a partir dali, nasceu o costume universal da
vestimenta para tapar a nudez ou vergonha. Portanto, qualquer
vestuário que expõe a nudez do homem, seja em países desen-
volvidos ou em países em desenvolvimento é uma quebra da cul-
tura bíblica universal.
Antropologia Bíblica 29

Deus, na sua sabedoria, prevê todas as coisas; por isso fez


distinção entre os trajes de homem e de mulher para que houves-
se distinção entre macho e fêmea; indicou a dieta alimentar para
que o homem não se tornasse glutão, mantivesse a saúde e con-
servasse o templo do Espírito Santo. Proibiu a bebida fermentada
para que o homem não perdesse a lucidez; Deus sempre soube
acerca da sua ausência de disciplina. Deus não estipulou regras
quanto aos calçados, pois isto não implica nos aspectos da nudez,
do comportamento e do relacionamento com o próximo12 .

12
Porém, o homem deve manter o bom senso na escolha dos seus calçados, pois os que são
lançados, muitas vezes, não combinam com o padrão sóbrio que, os que servem a Deus, devem
conservar.
30 Antropologia Bíblica

ATIVIDADES DE APOIO

1. Quais são os aspectos da cultura dos hebreus


tratados na Lei de Deus?

2. Cite alguns aspectos distintos entre a cultura


dos hebreus e a dos seus vizinhos.

3. Qual é a relação entre a formação do povo


de Israel, quanto a conduta, e a formação da
igreja?
Antropologia Bíblica 31

CAPÍTULO IV
A COMUNICAÇÃO DA MENSAGEM CRISTÃ

O exemplo do povo de Israel evidencia que, independente


da cultura de um povo, os aspectos que não condizem com o pa-
drão de santidade de Deus devem ser transformados. Portanto,
fica claro que o missionário, detentor da mensagem divina, entra-
rá em contato com povos de costumes muito diversos dos seus e
isso implicará num grau de dificuldade para a pregação do evan-
gelho. Além da dificuldade de compreensão de outras línguas, o
missionário, também, terá a dificuldade de compreender os pro-
blemas do povo dentro de um outro universo cultural. A obra
missionária, então, terá o grande desafio de comunicar a mensa-
gem do evangelho aos povos do mundo; para isso, o missionário
terá de transpor as barreiras culturais.
Um aspecto importante que deve ser discutido, dentro desse
contexto, é o da comunicação humana: capacidade específica do
homem. Embora os animais tenham sinais que transmitem algu-
mas ideias, eles são muito limitados. A comunicação humana, além
de ser mais complexa, é ilimitada; porém é preciso que os ho-
mens que se comunicam tenham em mente os mesmos códi-
gos linguísticos, por exemplo, a língua em comum. Além disso,
32 Antropologia Bíblica

o entendimento das normas de conduta de um povo, também,


devem ser conhecidas. O que se vê, então, é que uma comunica-
ção eficaz depende da língua e do conhecimento cultural. Evi-
dentemente, muito da concepção de mundo do homem está im-
pregnada na própria língua; por exemplo, o tempo no mundo
ocidental é linear e cronológico; o tempo é imprescindível, a bol-
sa de valores pode tomar outro rumo num espaço de tempo de 30
min. Portanto, as línguas ocidentais incorporam em suas estrutu-
ras as dimensões de tempo: presente, passado e futuro. Há línguas
indígenas e orientais que não marcam os aspectos temporais, pois
para eles o tempo não é linear, mas cíclico. Aprender uma língua
significa aprender mais do que apenas frases da língua; significa
aprender verdadeiras informações sobre a cultura da qual faz parte.
A dificuldade de comunicação entre os homens se concreti-
zou após o advento da torre de Babel. A Bíblia registra que toda a
terra era de uma mesma língua e de uma mesma fala, Gn 11. 1.
Portanto, a comunicação humana, nesse tempo, não encontrava
nenhuma dificuldade. Todavia, ao invés de o homem utilizar todo
esse potencial comunicativo para promover a paz, utilizou para
promover a rebelião. Por causa disso, Deus teve que interferir no
curso da história e dificultar a comunicação entre os homens. A
comunicação entre os homens e Deus já havia sido prejudicada
com a queda de Adão e Eva.
O verdadeiro relacionamento entre Deus e os homens deve
ser restaurado para que a verdadeira comunicação ocorra. A Bí-
blia deixa claro que, quando o relacionamento é perfeito, há a
Antropologia Bíblica 33

restauração do diálogo. Portanto, o texto que se opõe ao de Gn 11


é o de At 2. Queda e Redenção; Babel e Pentecoste são fatores
ocultos por trás da linguagem e da comunicação. O missionário
deve promover a reconciliação do homem com Deus; segundo a
Bíblia, ele é o embaixador do Reino de Deus aqui na terra:

E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou


consigo mesmo por Jesus Cristo e nos deu o minis-
tério da reconciliação, isto é, Deus estava em Cristo
reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando
os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconci-
liação. De sorte que somos embaixadores da parte
de Cristo, como se Deus por nós rogasse...(II Co 5.
18-20).

O missionário precisa conhecer a Bíblia na sua essência e,


portanto, toda a vontade de Deus para os homens e, posterior-
mente, precisa ter formas de expressão da Bíblia que sejam efica-
zes. Um esquema ilustra bem essa afirmação13 :

A COMUNICAÇÃO
DECODIFICAÇÃO
CODIFICAÇÃO

Emissor Mensagem Receptor

13
HESSELGRAVE, J. David. A Comunicação Transcultural do Evangelho. SP: Vida
Nova, 1994.
34 Antropologia Bíblica

A figura acima mostra um esquema resumido do processo


de comunicação. O missionário é o emissor; a mensagem é a da
salvação e o receptor é o povo para o qual a mensagem será pre-
gada. A mensagem, para alcançar seu objetivo, precisa ser clara e
simples. Fica claro, então, o quanto a língua e a cultura são obstá-
culos para essa clareza e simplicidade. A comunicação, para ser
eficaz, precisa ser centrada no receptor. Isso fica claro quando le-
mos atentamente a ordem deixada, por Jesus, para nós: ide, ensinai
todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos
tenho mandado... Mt 28. 19, 20. O missionário, além de pregar o
evangelho, precisa ensinar os ensinamentos que dele fazem parte
e, além de ensinar, precisa ensinar os povos a guardar no coração
os ensinamentos e, obedecê-los. Segundo David Berlo,

Nosso propósito básico na comunicação é nos tor-


nar um agente de influência que aja sobre os outros,
sobre nosso meio ambiente físico e sobre nós mes-
mos, e nos tornar um agente determinador que par-
ticipe da decisão de como as coisas são. Em resumo,
nós nos comunicamos para influenciar – para atuar
como propósito. (BERLO, David. Apud
HESSELGRAVE, J. David.).

As dificuldades para a pregação do evangelho já não são


mais físicas. A distância geográfica é facilmente vencida pelos efi-
cazes meios de transporte. Os mares, as montanhas e os desertos,
também, já não são dificuldades difíceis de serem vencidas. O gran-
Antropologia Bíblica 35

de desafio é a comunicação transcultural. Essa nem mesmo os


avanços tecnológicos conseguem resolver. A comunicação
transcultural é, hoje, o desafio não só do missionário, mas do ci-
dadão do mundo que não quer perder o contato com os aconteci-
mentos mundiais.

O missionário enfrenta sistemas culturais distintos. No seu


dia a dia, lida com pessoas que são enraizadas nesse sistema cul-
tural diferente. É importante, então, que o missionário tenha um
bom entendimento cultural da sua cultura e da do seu receptor,
pois há comportamentos que são divinamente prescritos como
certos ou errados; estes são inaceitáveis; porém há uma relativida-
de cultural que deve ser entendida e respeitada. Por exemplo,
hábitos honestos, como o costume de receber convidados e como
o respeito pela família de um morto, devem ser, inclusive, apren-
didos por aqueles que, ainda, não os possuem. Mas imaginemos
um missionário que entre em contato com um povo que tenha os
seguintes costumes14 :

• a primogênita de uma família é vendida quando criança


e, a partir dos onze anos de idade, o homem que a com-
prou vai buscá-la para ela se tornar sua mulher (escrava);

• os curandeiros, segundo a crença dos moçambicanos,


especialmente os que vivem no centro-norte do país, con-
seguem viver anos debaixo d’água e, quando aparecem,
trazem consigo mensagens proféticas, como por exemplo,
36 Antropologia Bíblica

quem será o próximo presidente do país;

• os curandeiros se transformam em leão; segundo a cren-


ça, certa ocasião, os moçambicanos atiraram em um leão
e, quando se aproximaram para ver o animal, se depara-
ram com um homem;

• os homens podem se casar com várias mulheres e viver


com todas em uma só casa. A primeira mulher tem auto-
ridade sobre as outras;

• é comum entre as famílias africanas a consagração dos


filhos aos demônios, especialmente as filhas;

• acreditam que o curandeiro, depois da morte, pode se


transformar em crocodilo15 ;

• as mulheres viúvas devem cruzar os braços para trás e


nunca levantar o rosto; não podem comer comida quen-
te, só fria; devem vestir, apenas, roupas pretas; tudo isso
em sinal de tristeza pela perda do marido;

• são feitos serviços nos curandeiros para que as mulheres


grávidas não tenham seus bebês no tempo certo; algu-
mas ficam grávidas de 11 a 12 meses.

14
Esses relatos foram feitos por Júnior Petrillo, 1º missionário enviado pelo projeto Um Milhão
de ASAS, viveu em Moçambique por um período de, mais ou menos, um ano e dois meses e por
Filomena Raquel Nhabete, moçambicana que, atualmente, reside no Brasil e trabalha, também,
no Projeto.
Antropologia Bíblica 37

Um missionário disposto a ir ao campo missionário deve


conhecer essas realidades e ter consciência de que esses aspectos
culturais devem ser transformados. O missionário deve ser visto
como um agente de transformação. Existe uma cultura celestial
que deve fazer parte da vida do povo; a própria vida do missioná-
rio já fora transformada, pois dentro de seu universo cultural, tam-
bém, havia práticas que não são toleradas por Deus. Essa ideia
pode ser mais bem representada no esquema abaixo16 :

E M R

A “CULTURA DA BÍBLIA”

E M R E M R
E = emissor
M = mensagem
R = receptor
A CULTURA DO MISSIONÁRIO A CULTURA DO RECEPTOR

15
O povo conta que há um crocodilo que controla um rio em Moçambique, e, o povo, para
atravessá-lo, deve pagar um certa quantia em dinheiro.
16
HESSELGRAVE, J. David. A Comunicação Transcultural do Evangelho. Vol. 1., p. 92
SP: Vida Nova, 1994.
38 Antropologia Bíblica

Segundo as explicações de Hesselgrave, o próprio missio-


nário é um cidadão de uma cultura bem diferente, quer sua ori-
gem seja Londres, Chicago, Goiânia ou Brasília. Ele foi instruído
na sua cultura e aprendeu a língua, a cosmovisão e o sistema de
valores do seu povo. A cultura do missionário é a cultura dentro
do quadrado, representado no esquema acima.

O missionário foi enviado a um povo ainda em outra cultura


com suas próprias particularidades. Essa é a cultura receptora ou
a cultura alvo, representada pelo círculo. Em relação a essa cultu-
ra, o missionário tem objetivos a curto e a longo prazo. A mensa-
gem de Cristo precisa ser pregada e a cultura precisa ser transfor-
mada. O missionário precisa ser um homem equilibrado, que sai-
ba lidar com situações adversas, difíceis de serem contornadas,
pois a mudança não se dá de um momento para outro; elas acon-
tecerão de forma gradual em alguns aspectos mais difíceis de se-
rem transformados.

A cultura representada pelo triângulo é a cultura superior,


divina, ela é a forma que promove a transformação cultural, atra-
vés do missionário, pois nenhuma mudança tão radical não seria
tão eficiente se não fosse a operação do Espírito Santo para con-
vencer o homem do pecado, da justiça e do juízo.

Toda cultura traz em si elementos de obediência a Deus e


elementos de rebelião satânica. A queda do homem no jardim do
Éden é que provocou esse desajuste; porém cabe ao missionário
a tarefa de ajustar o comportamento dos homens aos padrões san-
Antropologia Bíblica 39

tos de Deus. Segundo Lausane,

A cultura deve sempre ser testada e julgada pelas


Escrituras (Mc 7.8, 9, 13). Por ser o homem criatura
de Deus, algo de sua cultura é rico em beleza e bon-
dade (Mt 7. 11; Gn 4.21, 22). Por ser decaído, toda
ela é contaminada com o pecado e parte dela é de-
moníaca. O evangelho não pressupõe a superiorida-
de de nenhuma cultura sobre a outra, mas avalia
todas as culturas de acordo com o seu critério de
verdade e justiça, insistindo nos absolutos morais de
cada cultura.(LAUSANE.Apud HESSALGRAVE, J.
David).
A cultura dos povos deve ser transformada porque dentro
da estrutura de vida não-cristã, os hábitos e as práticas servem a
tendências idólatras e afastam o indivíduo de Deus. A vida cristã,
ao contrário, o traz de volta ao caminho de Deus.
As dificuldades enfrentadas pelos missionários serão
marcadas pela distância entre o seu modo de vida e o modo de
vida dos povos que está entrando em contato, ou seja, quanto
maior for a diferença, maior será a dificuldade. A comunicação
transcultural, segundo Hesselgrave, deve ser compreendida den-
tro de sete dimensões: as cosmovisões: formas de ver o mundo; os
processos cognitivos: formas de pensar; as formas linguísticas: for-
mas de expressar as ideias; os padrões de comportamento: formas
de agir; as estruturas sociais: formas de interagir; a influência da
mídia: formas de transmitir a mensagem e as fontes de motivação:
formas de decidir.
40 Antropologia Bíblica

Uma vez que os missionários tenham abraçado a responsa-


bilidade de levar a mensagem cristã a todos os povos da terra, a
responsabilidade de atingir a compreensão cultural e de iniciar o
processo de contextualização da Palavra de Deus recai sobre eles.
As parábolas descritas por Jesus demonstram o quanto Ele estava
atento à cultura do povo para o qual ensinava. Portanto, as aplica-
ções da Palavra devem ser feitas, pelos missionários, de acordo
com o estilo de vida do povo. Fazendo isso, pode descansar, pois
o restante é obra do Espírito Santo de Deus, pois é Ele que con-
vence o homem acerca das coisas de Deus.

As dificuldades enfrentadas pelos missionários, conforme


vimos, são proporcionais à distância cultural existente entre a sua
cultura e a do povo que está evangelizando, ou seja, quanto mais
o povo tem um comportamento do dos missionários mais difícil
será a adaptação; isso não deve ser desalentador; ao contrário,
isso deve ser visto como um grande desafio para o missionário
que tem uma chamada de Deus. A carta escrita por Paulo e envi-
ada a Tito demonstra esses aspectos. Tudo indica que os cretenses
eram um povo extremamente rebelde, porém, Paulo exorta Tito a
não levar esse fato em consideração; antes, pelo contrário, ele
deveria ensinar a Palavra de Deus e exigir o cumprimento dos
mandamentos do Senhor. A carta enviada a Tito não pode deixar
de ser mencionada; especialmente porque, nos dias atuais, há um
discurso dominante que afirma que os líderes não devem exigir
mudanças muito intensas dos membros, principalmente, se eles
pertencerem a grupos culturais distintos. Pessoas que fazem esse
tipo de afirmação demonstram que, simplesmente, nunca leram a
Antropologia Bíblica 41

carta enviada a Tito e, se a leram, demonstram a obstinação que


têm em desconsiderar o que é o plano de Deus para todos os
povos, raças e nações.

Paulo deixou Tito em Creta para por as coisas em ordem na


igreja e, agora, insta-o a nomear presbíteros em cada cidade, dando
orientações sobre o tipo de pessoa exigida para essa função: aquele
que for irrepreensível, (1.5,9). Há contraste com os muitos subordi-
nados encontrados em Creta; Paulo alerta Tito contra eles: repre-
enda-os severamente, para que sejam sãos na fé (1.10,16). Ele pas-
sa a detalhar o que deve ser ensinado aos homens mais velhos:
sejam sóbrios (2.2); às mulheres mais velhas: sejam sérias no seu
viver e ensinem as mais novas a serem prudentes, a amarem seus
maridos (2.3,5); aos homens mais novos: sejam moderados, (2.6,8)
e aos escravos, que se sujeitem a seu senhor, (2.9,10). Todos os
crentes devem viver corretamente, aguardando a manifestação da
glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo (2.11,15).
Deve-se obedecer às pessoas em posição de autoridade: admoes-
ta-os a que se sujeitem aos principados e potestades (3.1,2). Há um
contraste entre a maneira como as pessoas viviam antes de se torna-
rem cristãs e a vida de bondade que se segue à obra salvífica de
Cristo nelas. Observe o texto: porque também nós éramos insensa-
tos, desobedientes, extraviados (...), mas segundo a sua misericór-
dia nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do
Espírito Santo. (3.12,15). Também, devem evitar divisões tolas
(3.9,11). A carta conclui com algumas instruções sobre vários indi-
víduos e, então, encerra com saudações (3.12,15).
42 Antropologia Bíblica

Essa carta traz algo do que podemos chamar de função


civilizadora do cristianismo. Tito, claramente, estava incumbido
de uma igreja bastante nova numa situação bem pouco promisso-
ra. Ainda não haviam sido designados presbíteros, e Tito devia
fazê-lo. Em Creta, onde Tito se achava, havia possibilidade de um
candidato ao cargo de presbítero ter filhos não convertidos ou fi-
lhos acusados de libertinagem e de insubmissão (1.6). O próprio
presbítero deve ser alguém não orgulhoso, não briguento, não
apegado ao vinho, não violento, nem ávido por lucro desonesto
(1.7). Ele teria de atuar numa comunidade da qual um de seus
próprios membros, seu próprio profeta, disse: Cretenses, sempre
mentirosos, feras malignas, glutões preguiçosos (1.12), um teste-
munho com que Paulo concorda. Ao que parece, mesmo nessa
situação, nem Paulo, nem Tito hesitaram por um só instante em
fundar a igreja. Na carta, é claro o testemunho de que a igreja
cristã não foi criada para atuar apenas nos ambientes amenos e
respeitáveis da classe média. Paulo explica que as mulheres mais
velhas não devem ser viciadas em vinho (2.3) as mais novas de-
vem amar seus maridos e filhos (2.4); os escravos não devem rou-
bar seus senhores (2.10); as pessoas devem respeitar as autorida-
des, fazer o que é bom e não difamar os outros (3.1,2). É surpre-
endente encontrar orientações como essas dirigidas a um grupo
de cristãos. Isso mostra que esses cretenses eram casos não pro-
missores e que Paulo esperava que, assim mesmo, eles apresen-
tassem qualidades de um caráter cristão. Além do mais, o evange-
lho deve ser levado a pessoas assim, mesmo tendo forte oposição
Antropologia Bíblica 43

de mestres rivais. Alguns destes têm sucesso, e estão arruinando


famílias inteiras (1.11). Seus objetivos são apenas seu ganho de-
sonesto. Mas essa carta deixa claro que a força e a natureza da
oposição não fazem diferença alguma. Os mestres cristãos devem
perseverar em sua tarefa de evangelização e de liderança dos con-
vertidos para um estilo de vida que dê glória a Deus.

Paulo não assume nenhuma posição de superioridade, mas


diz que deve tudo à benignidade de Deus, nosso Salvador e, es-
pecificamente, ao que Deus tem feito em Cristo (3.3-7). Ele apre-
senta aos cretenses o mais elevado padrão, porquanto a graça de
Deus se manifestou salvadora a todos os homens (2.11). A carta
deixa claro que a vereda cristã implica em instar as pessoas a não
procurarem vitórias por seus próprios esforços, mas a depende-
rem da graça de Deus. Essa graça educa (2.12); ela ensina pesso-
as como os cretenses, e qualquer outro grupo.

As cartas enviadas a Timóteo, também, deixam evidente a


firmeza que deve ter um líder. Paulo exorta Timóteo a perseverar
naquilo que aprendeu e, além disso, exorta-o a ensinar a Palavra
ao povo. A primeira advertência do apóstolo Paulo a Timóteo diz
respeito aos falsos mestres da lei que promoviam controvérsias
em vez de fazerem progredir o trabalho de Deus: como te roguei
(...) para advertires a alguns que não ensinem outra doutrina (v.
3). Explica que a lei de Moisés é boa, usada legitimamente e apli-
cada aos infratores, aos ímpios e aos pecadores e nunca aos jus-
tos: a lei não é feita para os justos, mas para os injustos e obstina-
44 Antropologia Bíblica

dos, para os ímpios e pecadores, para os profanos...(v. 9-11). Logo


após, dá ações de graças pela maneira como a misericórdia e a
graça de Deus estiveram operando nele (1.12,17). A primeira epís-
tola enviada a Timóteo tem o propósito de ajudá-lo a combater o
bom combate, conservando a fé e a boa consciência (v. 19).

Os aspectos que envolvem a comunicação entre o missio-


nário e o povo que ele está evangelizado são bem mais amplos
do que a pregação evangelística inicial. O missionário deve ter
consciência que a transformação cultural só ocorrerá se a Palavra
de Deus for ensinada e muito bem ensinada. Sobre esse ponto, J
I. Parcker faz a seguinte afirmação:

Em outras palavras, é mediante o ensino que o pre-


gador do evangelho cumpre o seu ministério. Ensi-
nar o evangelho é a sua primeira responsabilidade:
reduzi-lo ao essencial, analisá-lo ponto a ponto, fi-
xar seu sentido por definição positiva e negativa, de-
monstrar como cada parte da mensagem está liga-
da com o resto – e continuar a explicá-lo até estar
plenamente seguro de que seus ouvintes o entende-
ram. Por conseguinte, quando Paulo pregava o evan-
gelho, formal ou informalmente, nas sinagogas ou
nas ruas, para os judeus ou para os gentios, para
uma multidão ou para uma única pessoa, o que ele
fazia era ensinar – chamando a atenção, cativando
o interesse, estabelecendo os fatos, explicando a sua
significação, solucionando dificuldades, responden-
do a objeções e mostrando como a mensagem está
ligada à vida. O modo comum de Lucas descrever o
Antropologia Bíblica 45

ministério evangelístico de Paulo é dizer que ele dis-


cutia (...) ou ensinava ou persuadia (...). E o próprio
Paulo se refere ao seu ministério entre os gentios como,
basicamente, uma tarefa de instrução: A mim... foi
dada esta graça de anunciar entre os gentios...
as riquezas incompreensíveis de Cristo. E de-
monstrar a todos qual seja a dispensação do
ministério. Torna-se claro, segundo o ponto de vis-
ta de Paulo, que sua tarefa básica e fundamental
como pregador do evangelho era transmitir conheci-
mento – fazer a verdade do evangelho fixar nas men-
tes dos homens. Para ele, o ensino da verdade era a
atividade evangelística básica; para ele, por conse-
guinte, o único método correto de evangelização era
o método do ensino.

Esse é o entendimento que um missionário deve ter quando


decide ir ao campo missionário. Se não houver um ensino profun-
do e autêntico da Palavra de Deus, nenhuma mudança ocorrerá.
Não havendo mudanças não há o que se falar em novas criaturas
transformadas pelo Espírito Santo e nem em novo nascimento.
Não havendo nada disso, a pregação do evangelho é em vão
porque a ordem de Jesus inclui pregar e fazer discípulos.

As dificuldades enfrentadas nas missões transculturais têm


feito muitos pastores desistirem da grande comissão. Para justifica-
rem a omissão e o descaso com a obra de Deus argumentam que,
em nosso país, há muitas pessoas que ainda precisam ser
evangelizadas. Parece claro que a leitura do livro de Atos foi dei-
xada de lado, pois esse livro demonstra os objetivos básicos que
46 Antropologia Bíblica

Deus tinha, quando despertou Lucas a elaborar este primeiro tra-


tado acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a
ensinar (1.1). Deus pretendia que os discípulos de Jesus compre-
endessem que a obra que Ele começara, ou seja, a implantação
do Seu Reino na terra, deveria ter continuidade, mas agora, atra-
vés da operação do Espírito Santo na vida dos discípulos.

Jesus, antes de subir aos céus, já havia expressado a grande


vontade do Pai: a expansão do evangelho até aos confins de terra
(1.8). Também demonstrou que o cumprimento dessa vontade
dependeria, totalmente, da própria atuação de Deus, pois a obra
do Espírito Santo é uma providência Dele para que a igreja pro-
clame o Evangelho, dando prosseguimento à obra que Jesus ini-
ciara.

O versículo 8, do capítulo 1, nos revela toda a estrutura des-


se livro. Vejamos, o versículo diz o seguinte: mas recebereis a vir-
tude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis teste-
munhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e
até aos confins da terra. Se observarmos o livro, veremos que, nos
capítulos 1 e 2, os discípulos recebem poder para testemunhar.
Posteriormente, dão testemunho em Jerusalém (capítulos 3-7).
Depois, na Judeia e Samaria (8-12) e, finalmente, até aos confins
da terra (13-28).
Antropologia Bíblica 47

ATIVIDADES DE APOIO

1. Qual é o grande desafio da obra missionária?

2. Quando e por quê teve início a dificuldade de


comunicação entre os homens?

3. Quais são os grandes obstáculos que


dificultam a perfeita comunicação entre os
povos?

4. Por que se pode afirmar que o missionário é


um agente de transformação cultural?

5. Qual é a relação que se pode estabelecer


entre a cultura celestial, a do missionário e a
do povo que será evangelizado?

6. Quais são as sete dimensões da comunicação


transcultural?

7. O que a carta enviada a Tito deixa claro


acerca da evangelização dos povos?
48 Antropologia Bíblica

8. Por que o ensino da Palavra de Deus deve


ser o principal objetivo do missionário?

9. Todas as culturas possuem elementos que


são contrários aos ensinamentos da Palavra
de Deus. Explique por quê.

10. É importante o missionário conhecer a


cultura do povo que ele vai evangelizar?
Explique por quê.
Antropologia Bíblica 49

BIBLIOGRAFIA

BÍCEGO, Valdir. Manual de Evangelismo. RJ: CPAD, 1990.

HESSELGRAVE, J. David. A Comunicação Transcultural do


Evangelho. SP: Vida Nova, 1994.

LARAIA, B. Roque de. Cultura. Um Conceito Antropológi-


co. RJ: Jorge Zahar, 1989.

PACKER, I. J. et alli. O Mundo do Antigo Testamento. SP:


Vida, 1984.

PETERS, W. George. Teologia Bíblica de Missões. RJ: CPAD,


2000.

TENNEY, C. Merril et alli. Vida Cotidiana nos Tempos Bíbli-


cos. SP: Vida, s/d.
54 Antropologia Bíblica

1. A cultura de um povo influencia no seu comportamento


social. Sobre esse assunto, marque C ou E, após,
marque a sequência CORRETA.

( ) O comportamento social dos povos é muito parecido;


ou seja, os hábitos adquiridos pelos povos são
praticamente homogêneos.

( ) Os estudiosos sempre tiveram interesse de


compreender o porquê de tantos comportamentos
distintos.

( ) O determinismo geográfico é uma boa explicação


para os distintos comportamentos sociais.

( ) O comportamento social de um povo depende do


aprendizado ao longo da vida.

A sequência correta é:
a) ( ) E-C-C-C
b) ( ) E-C-C-E
c) ( ) C-C-E-C
d) ( ) E-C-E-C

2. A compreensão do significado do termo cultura


demonstra porque Deus sempre deu tanta importância
ao ensinamento de Sua Lei. Sobre esse assunto,
marque C ou E, após, marque a sequência CORRETA.

( ) Deus sempre soube que o caráter de um indivíduo é


Antropologia Bíblica 55

formado na infância; por isso, desde cedo a criança


deve ser instruída acerca do caminho de Deus.

( ) O termo cultura significa todo conhecimento, crença,


arte, moral, leis, costumes ou quaisquer outras
habilidades adquiridas pelo homem ao longo de sua
formação.

( ) Cada cultura segue os caminhos em função dos


diferentes eventos históricos pelos quais passou.

( ) O que caracteriza a identidade de um povo é o fato


de ele viver de acordo com as regras e as normas de
sua comunidade.

A sequência correta é:
a) ( ) C-C-C-C
b) ( ) E-C-C-E
c) ( ) C-C-E-C
d) ( ) E-C-E-C

3. Ainda sobre a cultura de um povo, marque C ou E, após,


marque a sequência CORRETA.

( ) A cultura de um povo funciona como uma lente. O


mundo é enxergado através dela.

( ) O povo de Deus é identificado somente quando ele


procede de acordo com os costumes estabelecidos
por Deus.
56 Antropologia Bíblica

( ) As camadas da cultura podem ser as seguintes:


cosmovisão, cosmologia, ideologia, valores,
instituições, etc.

( ) Para uma convivência saudável é preciso que os


indivíduos que formam o grupo conheçam bem as
regras que fazem parte do grupo.

A sequência correta é:
a) ( ) C-E-C-C
b) ( ) E-C-C-E
c) ( ) C-C-C-C
d) ( ) C-C-E-C

4. Ainda sobre a cultura de um povo, marque C ou E, após,


marque a sequência CORRETA.

( ) A cultura do povo de Deus é transmitida diretamente


por Deus, através da Sua Palavra.

( ) Deus escolheu Abraão. Formou uma nação, e lhe deu


uma Lei, através de Moisés, para nortear a vida do
povo.

( ) A igreja assumiu o lugar do povo de Israel e, portanto,


deve ter um comportamento que lhe é peculiar.

( ) Segundo discursos humanos, as culturas distintas


devem ser preservadas por causa da beleza e da
riqueza que possuem.
Antropologia Bíblica 57

A sequência correta é:
a) ( ) C-C-C-E
b) ( ) E-C-C-E
c) ( ) C-C-C-C
d) ( ) C-E-C-C

5. Os povos vizinhos dos hebreus tinham culturas que,


em muitos aspectos, não condiziam com o padrão
estabelecido por Deus. Sobre essas culturas, marque
a alternativa ERRADA.

a) ( ) Até o 4º milênio a.C., a maioria dos povos da Europa


e do Oriente Médio vivia em pequenos bandos
migratórios.

b) ( ) Os rituais religiosos se desenvolveram dentro das


comunidades agrícolas.

c) ( ) A relação entre crenças e governo era muito comum.


Isso ocasiona o fortalecimento do poder político em
torno do templo.

d) ( ) Os sumérios fundaram vários estados, mas todos


possuíam um único Deus.

6. Ainda sobre a cultura dos vizinhos dos hebreus, marque


C ou E, após, marque a sequência CORRETA.

( ) A cidade de Ugarite foi o centro da língua e da religião


Cananeia. Deus proibiu o contato dos hebreus com
58 Antropologia Bíblica

os cananeus, pois estes eram adoradores de falsos


deuses.

( ) O culto aos deuses estava relacionado aos lugares


em que o povo habitava. Sempre que mudava,
mudavam os deuses que eram adorados.

( ) A criação dos deuses estava diretamente relacionada


aos fenômenos da natureza. Essa era uma tentativa
de dominar os fenômenos naturais.

( ) Os povos pagãos não enxergavam o domínio central


de Deus: o criador de todo o Universo.

A sequência correta é:
a) ( ) C-C-C-E
b) ( ) E-C-C-C
c) ( ) C-C-E-C
d) ( ) C-C-C-C

7. Sobre os deuses pagãos, marque C ou E, após, marque


a sequência CORRETA.

( ) Eram antropomórficos.

( ) Exigiam sacrifícios de animais e, também, de seres


humanos.

( ) Para ficarem satisfeitos, necessitavam de comida e


de bebida.
Antropologia Bíblica 59

( ) Ideias abstratas como Justiça e Retidão eram


consideradas, também, como deusas.

A sequência correta é:
a) ( ) C-C-C-C
b) ( ) C-C-C-E
c) ( ) C-C-E-C
d) ( ) E-C-E-C

8. Sobre os mesopotâmios, marque C ou E, após, marque


a sequência CORRETA.
( ) Eram o povo de Abraão e, entre eles, era comum a
prática de adivinhação.
( ) A observação da forma do fígado de ovelhas e bodes
era uma das técnicas de predição do futuro.
( ) Deus não exigiu de Abraão que ele se apartasse do
seu povo.
( ) Se Abraão permanecesse entre o seu povo, Deus
não teria feito objeção de ele permanecer nas práticas
religiosas do seu povo.

A sequência correta é:
a) ( ) C-C-C-C
b) ( ) E-C-C-E
c) ( ) C-C-E-E
d) ( ) E-C-E-C
60 Antropologia Bíblica

9. A cultura do povo de Israel foi, em todos os seus


aspectos, moldada pelos elementos divinos da Lei de
Deus. Sobre a cultura desse povo, marque C ou E, após,
marque a sequência CORRETA.
( ) Deus livrou o seu povo das mãos dos egípcios e os
separou para Ele.
( ) A Lei de Deus registra a proibição do contato com
os povos vizinhos dos hebreus.
( ) Ao contrário dos deuses pagãos, o Deus de Israel é,
em tudo, perfeito.
( ) Deus nunca aceitou práticas imorais como rituais de
adoração.
A sequência correta é:
a) ( ) C-C-E-C
b) ( ) E-C-C-C
c) ( ) C-C-E-C
d) ( ) C-C-C-C
10. Ainda sobre a cultura do povo de Deus, marque a
alternativa ERRADA.
a) ( ) A Lei imposta por Deus para moldar o
comportamento dos seus filhos é a linha que assinala
o caminho que chega a Deus.
b) ( ) Depois da nova aliança que Deus fez com o homem,
os aspectos essenciais da Lei de Moisés devem ser
desconsiderados.
Antropologia Bíblica 61

c) ( ) A Lei de Moisés orientava e proibia as práticas de


feitiçaria.

d) ( ) A igreja deve ter um comportamento que a distingue


de outras associações mundanas; caso contrário, o
povo de Deus não é identificado como povo de Deus.

11. Ainda sobre a cultura do povo de Deus, marque C ou


E, após, marque a sequência CORRETA.

( ) A Lei de Deus trata das regras acerca do tratamento


dispensado aos escravos.

( ) Aspectos como alimentação, vestuário e negócios


são considerados, por Deus, irrelevantes e, por isso,
não são tratados na Lei de Deus.

( ) Deus aboliu todo e qualquer costume próprio das


nações pagãs.

( ) A cultura do povo de Deus foi estabelecida pela


coletânea de modos de viver saudáveis das nações
pagãs.

A sequência correta é:
a) ( ) C-C-C-C
b) ( ) C-E-E-C
c) ( ) C-C-E-C
d) ( ) C-C-E-E
62 Antropologia Bíblica

12. A comunicação da mensagem do evangelho é a


essência da obra missionária. Sobre esse assunto,
marque C ou E, após, marque a sequência CORRETA.

( ) O missionário é o detentor da mensagem divina e,


por isso, não enfrenta dificuldades para pregar o
evangelho a todos os povos, visto que a mensagem
divina é universal.

( ) O missionário, para pregar a mensagem do


evangelho, deve transpor as barreiras culturais.

( ) Para que haja comunicação entre os homens é


preciso que eles tenham em mente os mesmos
códigos linguísticos.

( ) O entendimento das normas de conduta de um povo,


desde que o homem conheça bem a língua dele, não
é importante na comunicação.

A sequência correta é:
a) ( ) E-C-C-C
b) ( ) E-C-C-E
c) ( ) C-C-E-C
d) ( ) E-C-E-C

13. Sobre a dificuldade de comunicação entre os homens


entre si e Deus e o restabelecimento da verdadeira
comunicação, marque C ou E, após, marque a
sequência CORRETA.
Antropologia Bíblica 63

( ) A dificuldade de comunicação entre os homens teve


início após o advento da torre de Babel.

( ) O homem utilizou seu potencial comunicativo para


promover a rebelião.

( ) Se o relacionamento entre Deus e os homens for


restabelecido, a verdadeira comunicação ocorrerá.

( ) Queda e Redenção; Babel e Pentecoste são fatores


ocultos por trás da linguagem e da comunicação.

A sequência correta é:
a) ( ) C-C-C-C
b) ( ) E-C-C-E
c) ( ) C-C-E-C
d) ( ) E-C-E-C

14. Ainda sobre a comunicação do evangelho, marque C


ou E, após, marque a sequência CORRETA.

( ) A distância geográfica continua sendo o grande


obstáculo para a comunicação do evangelho.

( ) Para que o missionário tenha uma boa comunicação


com o povo que irá evangelizar é preciso que tenha
um bom entendimento da cultura do seu receptor.

( ) O grande objetivo da comunicação do evangelho é a


transformação dos aspectos culturais que se opõem
à Lei de Deus.
64 Antropologia Bíblica

( ) Logo que a mensagem é comunicada há a


transformação da cultura do povo.

A sequência correta é:
a) ( ) E-C-C-C
b) ( ) E-E-C-E
c) ( ) C-C-E-C
d) ( ) E-C-C-E

15. Sobre as sete dimensões da comunicação transcultural,


marque C ou E.

( ) As cosmovisões dizem respeito ao modo de agir dos


indivíduos.

( ) As formas linguísticas dizem respeito às formas de


pensamento do povo.

( ) Os padrões de comportamento dizem respeito à


forma de agir das pessoas.

( ) As estruturas sociais dizem respeito às formas de


interação entre os membros da sociedade.

A sequência correta é:
a) ( ) E-C-C-E
b) ( ) E-E-C-C
c) ( ) C-C-E-C
d) ( ) E-C-E-E

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