Resenha Critica Quilombolas (Silva)

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Resenha sobre: Terras Quilombolas no Brasil: Das Técnicas de Dominação

Colonial ao Reconhecimento Democrático-Constitucional.

Aluna: Paula Cristina E. Guedes

A Revista Brasileira de Sociologia do Direito publicou o artigo Terras


Quilombolas no Brasil: Das Técnicas de Dominação Colonial ao Reconhecimento
Democrático-Constitucional escrito por Eduardo Faria Silva, Daniele Regina Pontes e
Giovanna Bonilha Milano, ambos Doutores em Direito pela Universidade Federal do
Paraná. Dessa forma o artigo passa a ser dividido em uma introdução, seis tópicos e uma
conclusão. Assim o objetivo do artigo é analisar os impactos do colonialismo e da
colonialidade do poder sobre as terras quilombolas, que receberam reconhecimento
constitucional em 1988.

Em seu artigo os autores abordam que o termo colonialismo expressa uma relação
jurídico-política determinada por administrações coloniais concretas, onde existe um
verdadeiro vínculo hierárquico de subordinação entre a metrópole e a periferia. O vínculo
foi imposto pelos colonizadores quando universalizaram seus pensamentos e práticas
coloniais para todos os continentes por meio de navegações.

A colonização de territórios, o extermínio de povos, a escravidão, a hierarquia de


etnias, a extração de matérias-primas, a exploração de minérios, a devastação da natureza
e a taxação a favor das metrópoles são materializações decorrentes da subordinação
jurídica-política de as colônias. Todos os eventos descritos são expressões e
características determinadas pelo colonialismo e que permitiram a acumulação primária
de capital pelas metrópoles europeias para a construção de seus Estados-nação.

Através desse exposto é possível perceber que o processo de colonização nos


territórios passa a introduzir uma unidade linguística e além disso esse processo passa a
trazer uma exploração desenfreada dos recursos naturais e uma opressão de costumes
nacionais. Dessa forma Grosfoguel (2009 p.395) afirma que “As situações coloniais
designam a "opressão/exploração cultural, política, sexual e econômica de grupos étnicos/
racializados subordinados por parte de grupos étnico-raciais dominantes, com ou sem a
existência de administrações coloniais".
Dessa forma os autores afirmam que quando se falam sobre títulos quilombolas,
deve-se partir do pressuposto epistêmico que se baseia em uma forma diferente de pensar
e agir. Caso contrário, serão aplicados os mesmos princípios e critérios que lentamente
levaram à cegueira branca eurocêntrica moderna e colonial na sociedade. Mediante a isso
sempre que ouvimos falar sobre colonização imediatamente nos lembramos da
colonização do Brasil que foi realizada a partir da exploração, povoamento, extermínio e
conquista de povos indígenas e novas terras.

É nessa obscura condição de realidade que se baseia uma das mais importantes
teorias dogmáticas clássicas reconhecidas pelo direito brasileiro. A Lei de Terras nº 601,
de 18 de setembro de 1850, aprofundou a distinção entre a apropriação tradicional e
efetiva dos bens e a apropriação inventada e preservada no ideal colonial. Nessa
perspectiva, os efeitos do colonialismo são visíveis, pois a lei de terras foi publicada no
Brasil 28 anos após o fim do colonialismo clássico português.

O quadro imposto pelo padrão colonial sufocaria qualquer possibilidade de


reconhecimento da apropriação de bens que resultasse na posse tradicional. A legalidade
legalmente construída de apropriação de terras no Brasil foi definida e padronizada.
Certamente não haveria reconhecimento de posse sem comprovação de propriedade:
houve uma verdadeira inversão cognitiva na apropriação de bens.

Embora tenha sido um passo importante na regulamentação da questão fundiária,


a Lei de Terras teve poucas consequências práticas, exceto pela dificuldade criada para o
acesso à terra pelos setores mais pobres da população e pelos imigrantes, que os obrigam
a trabalhar em grandes fazendas de café.

Nesse contexto, as terras indígenas e quilombolas poderiam ser suprimidas,


transformadas e traduzidas em dimensões territoriais adequadas pelos colonizadores, sem
que esse processo fosse considerado ilegítimo. O mito de origem garantia a legalidade da
terra para quem apresentasse títulos de propriedade, o que, via de regra, segundo Ihering,
seria garantido pela dimensão possessória da apropriação.

É partindo desse pressuposto que em um determinado momento sem liberdade e


sem-terra, os negros continuaram sendo a resistência e a fuga para a constituição de
comunidades quilombolas em áreas de difícil acesso, o que dificultou sua localização e
aprisionamento. Nesses espaços, os negros tiveram liberdade e puderam criar seus laços
culturais com a terra, forjando assim o conceito de quilombo.
É importante ressaltar que o tratamento violento e as péssimas condições de
sobrevivência oferecidas pela casa, levaram os escravos negros a buscar uma nova forma
de vida que não era essa. Para muitos não foi fácil fugir, diante de uma violência pior,
mas para aqueles que fugiram, tentaram se reconstruir formando famílias e pequenas
comunidades.

Em primeiro lugar os autores afirmam que o fim da escravidão não se traduziu em


garantia do direito de propriedade para as comunidades da terra, excluindo os negros dos
direitos derivados da tese de Ihering. Em segundo lugar, o raciocínio da propriedade foi
construído de acordo com o modelo privado e individual, enquanto as penas restantes
foram estruturadas de acordo com a perspectiva dos direitos territoriais coletivos.

A trajetória histórica que permeou as Constituições brasileiras até 1988 foi


marcada pela invisibilidade dos negros e pelas garantias vinculadas às terras
tradicionalmente ocupadas ao longo dos séculos. O processo político-legal colonial
descartou a existência de grupos etno-racializados como sujeitos de direitos ativos e em
igualdade de condições para terem suas culturas protegidas.

O Brasil, considerado um dos países mais miscigenados do mundo, traz em sua


essência a máscara cruel da invisibilidade racial. O velho discurso de negação do racismo
continua com base em preconceitos arraigados que insistem em afastar, ainda que
sutilmente, este ou aquele diferente: seja pelo tipo de cabelo, posição social ou cor da
pele. Assim, pode-se dizer que entre brancos e negros/pobres e ricos, as consequências
da escravidão continuam a manchar a trajetória de todos os homens que não aprenderam
a viver com a diferença.

Pelo exposto é possível perceber a imagem que os colonos fizeram do negro,


sequestrando-o de sua terra natal e obrigando-o a trabalhar como escravo, além de se
declarar dono e/ou senhor daqueles, até então, homens livres. Essa postura permitiu as
mais diversas atrocidades de homens contra homens já testemunhadas no Brasil e marcou
a primeira e mais significativa forma de desenredar as diferentes.

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