Moda Sob Medida Uma Perspectiva Do Slow Fashion

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9º Colóquio de Moda – Fortaleza(CE) - 2013

MODA SOB MEDIDA UMA PERSPECTIVA DO SLOW FASHION


SETS TAILORED A PERSPECTIVE OF SLOW FASHION

Dilara Rubia Pereira


Faculdade de Tecnologia SENAI Antoine Skaf - Brasil
[email protected]

Márcia Ferreira Nogueira


Faculdade de Tecnologia SENAI Antoine Skaf – Brasil
[email protected]

Resumo

O slow fashion é um conceito atual que busca produzir moda de forma consciente, sem afetar em
demasia o meio ambiente procurando respeitar aspectos sociais e econômicos. Este estudo relaciona
a mais antiga maneira de se fazer moda, a roupa feita por encomenda, com o mais novo conceito de
sustentabilidade na moda. Através da busca de novos caminhos que façam do design, confecção e
consumo a seguir para uma vertente mais justa e responsável com o planeta e seus pertencentes.

Palavras chave: Slow Fashion; conscientização; roupa por encomenda.

Abstract

Slow fashion is a current concept that seeks to produce sets of consciously, without affecting too
much the environment looking for respect social and economic aspects. This study relates the oldest
way to make sets, clothes made to order, with the newest concept of sustainability in fashion. Through
the search for new ways to make the design, production and consumption to a more fair and
responsible to the planet and their belonging.

Key words: Slow Fashion; awareness; custom clothing.

Introdução

Este trabalho buscou realizar um estudo sobre o slow fashion, na perspectiva


do segmento de moda sob medida, a partir de pesquisa bibliográfica, entrevistas não
estruturadas e observação participante. Em meio a um enorme e concorrido
mercado de moda fugaz, descartável, alucinante, que é o do fast fashion, surgem
algumas práticas que seguem contra a corrente do padrão estabelecido e dão novas
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oportunidades a pessoas que buscam o novo através do mais antigo conceito da


moda: a roupa sob medida, feita por encomenda. E ainda carregam como bônus a
construção de um sistema sustentável, pois com esta forma de consumo nada é
produzido em demasia, apenas o que será consumido, não há excesso de resíduo, o
que contribui ao meio ambiente e, normalmente, no âmbito social, o valor pago à
mão de obra é bem mais justo que o do sistema fast fashion, configurando o fair
trade.

O objetivo da pesquisa foi o de identificar e destacar como o design,


confecção e venda de roupa sob medida, com consumo por encomenda, torna o
mercado de moda sustentável e mais justo, tanto com o meio em que vivemos,
quanto com as pessoas que dela vivem. Para tal, utilizou-se por metodologia revisão
teórica para a compreensão do conceito slow fashion a ser desenvolvido e
identificação do estado da arte da temática. Aprofundou-se sobre o fenômeno da
roupa sob medida, através da observação do fenômeno e entrevistas não
estruturadas. Com isso, puderam-se discutir os dados e tecer análises para o
fortalecimento da produção de roupa sob medida, como slow fashion e fair trade.

1. Fast Fashion x Slow Fashion

1.1. Fast Fashion

No presente sistema vigente atuante do mercado, segundo Hoffmann (2011),


o fast fashion, um fenômeno atual, surgido na década de 90 na Europa e que tem
crescido muito, já se encontrando sedimentado no mercado mundial e brasileiro.
Para a autora, este sistema procura, ainda, incrementar o consumo através da
fabricação de produtos o mais próximo possível do momento de venda, reduzindo
assim, o risco da demanda. Para Hoffmann, o fast fashion caracteriza marcas de
roupas que visam a produção rápida e contínua das peças, renovando-se
semanalmente ou mesmo diariamente a coleção. Para ela, este aspecto leva a
necessidade de equilíbrio, em curto prazo, entre a produção e o volume
comercializado, ocasionado pelo consumo rápido. Pessoa (2012) complementa que
neste sistema desenfreado, onde o importante é gerar maior lucratividade para as
empresas que aderiram a esse movimento, o consumidor busca estar inteirado
sobre as tendências, mas não ficam atentos sobre se estes produtos têm ou não
qualidade ou ainda se possuem maior ou menor durabilidade. Um exemplo da pouca
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qualidade é que numa rápida pesquisa a grandes magazines, como a Riachuelo e a


C&A, que compõem o universo do fast fashion, encontram-se peças que seguem as
últimas tendências apresentadas nos recentes desfiles das grandes grifes ou ainda,
como parece ser uma boa estratégia de marketing, parcerias com renomados
designers de moda que dão seu toque pessoal e seu nome atrelado às etiquetas nas
peças vendidas nas araras, porém, frequentemente utilizando tecidos baratos, com
composição basicamente em poliéster, seja em tecidos planos ou malhas.

1.2. Slow Fashion

Sempre que há um sistema vigente dominante, paralelamente surgem outras


formas de pensar e agir, para contrapor ou mesmo encontrar soluções para
problemas gerados pelo atual sistema. Este conceito do “lento” teve início no setor
alimentício, em 1986, na Itália, como explica Fletcher (2011). Após décadas de
dominação do fast food, simbolizado pela empresa McDonald’s, com cardápio
homogêneo em todo o mundo, exceto na Índia, onde a carne bovina não é
consumida, o movimento slow food surgiu para retomar o prazer de comer algo
tradicionalmente local, com produtos da região e apreciá-los verdadeiramente, sem
a pressa do cotidiano. Assim, como esclarece ainda Fletcher, inspirado no slow food
e como antítese do fast fashion surgiu o slow fashion. Neste sistema, não há
lançamentos constantes, pois as peças são perenes, com modelagens
cuidadosamente acertadas, com design atemporal que persistem por mais de uma
estação, produzidos com tecidos nobres, naturais ou eco inteligentes, são, portanto,
duráveis e de alta qualidade. Alguns conceitos como aproveitar a mão de obra local,
matérias primas e aspectos culturais da região, concentrar-se em uma logística que
seja consciente com gastos de energia e gás carbônico são essenciais. Esse
movimento ganha cada vez mais adeptos no exterior por conta da crise econômica e
ambiental, pois os gastos financeiros e perdas ambientais passaram a ter grande
importância para o consumidor que passou a pensar mais na hora de comprar e
assim, adquirir produtos que valham realmente o investimento, pela qualidade e
conceito. É fundamental que a tradução do slow fashion não seja feita ao pé da letra,
pois está além de descrever a velocidade das ações e sim de ter uma visão de
mundo consciente de todo o processo que a cadeia do vestuário representa e tentar
minimizar o máximo possível seus danos. Assim sendo, geralmente o produto slow
fashion carrega alguns preceitos e é caracterizado como moda sustentável, pois
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procura utilizar insumos ecológicos e agir eticamente com seus trabalhadores –


definição para mercado justo ou fair trade.

2.1. Fair trade, Ecodesign e Design Ético no Slow Fashion

O slow fashion é também descrito como moda verde, pois trabalha com
conceitos éticos, em seus âmbitos econômico, ambiental e social. Na parte
econômica, um aspecto fundamental é a garantia do comércio justo, denominado
“Fairtrade”, que como explica Lee (2009), é um certificado, um selo validado por
multi-stakeholder, que fixa um preço mínimo baseado no custo real da produção
sustentável com a cobrança de uma taxa extra para garantir projetos sociais ou
ambientais que permitam a continuidade da produção. Já o termo “fair trade”,
separado e com letra minúscula, significa que a empresa garante que seus produtos
sejam feitos por trabalhadores pagos justamente ainda que não haja monitoramento,
porém muitas geram seu próprio controle e contratam auditorias para conseguir
propagar seu trabalho ético aos quatro ventos. Desta forma investe-se
adequadamente no trabalhador o que por consequência transforma e movimenta a
comunidade onde este vive.

Comércio justo denota parceria de comércio baseada no diálogo, no


respeito e na transparência; almeja maior equidade no comércio
internacional e, para isso, proporciona melhores condições de
negociação para trabalhadores e produtores marginalizados,
garantindo seus direitos. (FLETCHER, 2011:183).
No que se refere ao ambiental, o “Ecodesign” - que muitas vezes é chamado
de design ecológico, design verde, eco friendly design, como define Piccoli (2012) –
caracteriza produtos projetados responsavelmente desde a produção, sempre sem
excessos, planejamento adequado dos materiais utilizados até a metodologia do
descarte. Produtos do ecodesign devem, entre outras premissas, ser eficientes e
terem maior durabilidade, serem atemporais e reduzir a energia gasta na logística.
Para Piccoli, melhor que seja produzido nacionalmente, que propicie a geração de
renda para a comunidade que a produz, que geralmente a produz em menor
quantidade e melhor qualidade, o que pode aumentar seu preço, mas diminui
consideravelmente seu impacto no planeta. Pazmino (2007) deixa claro que um
produto do ecodesign não é um artesanato feito de sucata ou de reciclagem, mas
uma peça que foi pensada em seus aspectos estéticos, funcionais, ergonômicos,
com ciclo de vida longo de forma que diminua o impacto ao meio ambiente.
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Já o design ético fundamentado por Inácio (2004) constitui-se de uma


orientação moral, formada pela tríade: consciência, responsabilidade e liberdade. O
autor separa a ética no design em três níveis de atuação, sendo eles a ética micro,
macro e molar. No nível micro, as criações são de nível pessoal, ligadas a sua
profissão. No nível macro foca-se na comunidade. Já o molar está inserido no
mundo, englobando os níveis macro e o micro, onde todos estão interligados, sem
poder existir um sem os outros. Assim o design ético carrega uma perspectiva global
a partir de pequenas ações com o objetivo de atingir uma escala mundial, tendo
como alvo as realidades dos países periféricos, focando a sustentabilidade,
buscando resolver questões de uma ética global, com participação dos cidadãos de
um mundo globalizado.

Desta forma vemos o quanto o movimento slow fashion carrega todos estes
conceitos em busca de uma moda pautada na justiça econômica e social, consciente
com o ambiente em que se instala, produz e distribui, seja local e planetária, sempre
priorizando a ética.

3. Roupas sob medida, numa perspectiva do Slow Fashion

Todas as características pertencentes ao slow fashion são praticadas quando


analisamos a roupa feita sob medida, encomendada a uma costureira. Atualmente,
como é cada vez mais raro encontrar uma profissional dedicada e experiente, o valor
pago, por peça de menor complexidade, referente à mão de obra à costureira sob
medida é de seis a trinta vezes maior que o pago à costureiros de produção. O
consumo de peças sob medida é considerado um luxo pela pouca disponibilidade e
dificuldade de acesso, pois como a profissional possui pedidos anteriores, uma peça
encomendada hoje deverá ser entregue em uma semana ou um mês, dependendo
do modelo e da fila de espera.

Para Morais (2011), o slow fashion permeia a qualidade e a durabilidade das


peças oferecendo ao consumidor produtos atemporais e de acabamentos
impecáveis, despertando-o para uma ótica de exclusividade. Geralmente
encomenda-se uma peça sob medida escolhendo bem o tecido adequado à ocasião
e ao modelo. Como é uma peça que demandará tempo maior que uma peça pronta,
o investimento no tecido é feito com critérios de qualidade e nobreza tendo em sua
composição, quase sempre, de fibras naturais, como seda, linho, lã, algodão, ou
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ainda, artificiais como a viscose. O investimento no tecido e no tempo de espera da


roupa, que terá modelagem e medidas personalizadas, matéria prima e aviamentos
escolhidos pelo cliente, traduz-se na atemporalidade do design da peça, pois
costumeiramente, para roupas sob medida, a escolha do modelo muitas vezes
privilegia cortes clássicos, como alfaiataria, ou ainda, se fogem da forma minimalista
e a encomenda passa a ser uma peça com modelagem diferenciada, em ambos os
casos, estas peças criam um vínculo emotivo e de pertencimento tão intrínseco que
estas peças permanecem em uso por muito mais tempo do que as peças compradas
em lojas fast fashion, assim “entender os aspectos físicos, estilísticos e emocionais
da durabilidade de uma peça com relação a um tipo de usuário permite satisfazer
plenamente suas necessidades materiais e simbólicas” (FLETCHER 2011:86).

3.1. Aspecto Social

Pelo o aspecto social, as roupas feitas sob medida são, em sua maioria,
produzidas por costureiras domésticas e, geralmente, o ateliê funciona numa
extensão de sua casa, e a empreendedora consegue, ao longo da sua vida, conciliar
a vida profissional com os cuidados familiares. Em situações como esta, como
aponta Almeida (2002), a costureira doméstica assume uma atividade lucrativa e
que harmoniza e equilibra suas atividades econômicas e familiares, como cuidar da
casa e dos filhos. Geralmente essa atividade está arraigada há gerações, mulheres
criadas por suas mães que trabalharam em casa com “costura para fora”. E assim
apreendem o ofício e dão continuidade ao exercício da atividade, apesar de que hoje
em dia está cada vez mais raro encontrar pessoas que saibam fazer uma peça
completa, pois hoje as costureiras, intituladas como profissionais do mercado de
moda, são pessoas que trabalham em facções com produção, costuram apenas
uma parte da peça. No entanto, dificilmente uma boa costureira deixará sua clientela
para trabalhar como costureira ou mesmo piloteira numa confecção, pois, com diz
Almeida:

O trabalho para elas significa a possibilidade de se realizarem


pessoalmente através da valorização de seu trabalho e a liberdade
sentida no ato de criar. Além de essa atividade propiciar autonomia,
constitui-se numa fonte de renda para suprir as necessidades.
Percebe-se, portanto, que ser costureira é uma atividade prazerosa,
sem qualquer imposição alheia sobre o grau de compromisso e
responsabilidade assumidos. (ALMEIDA, 2002:88).
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3.2. Aspecto Econômico

Já no âmbito econômico, segundo caracteriza o SEBRAE (2012), costureiras


de roupas sob medida são empreendedoras individuais, grupo pertencente a um dos
setores mais dinâmicos e com maior potencial para a geração de trabalho e renda
no século XXI, a Economia Criativa. Entende-se como Economia Criativa, segundo o
relatório “Creative Economy Report” da UNESCO (2008) um conceito, ainda em
construção, com base na criatividade que gera crescimento e desenvolvimento
econômico. Ela pode promover ganhos de geração de renda, criação de emprego e
de exportação, bem como promover a inclusão social, a diversidade cultural e o
desenvolvimento humano. Abrange aspectos econômicos, culturais e sociais,
interage com a tecnologia e com a propriedade intelectual. É um conjunto de
atividades econômicas baseadas no conhecimento com dimensão no
desenvolvimento e nas ligações transversais em macro e micro níveis para a
economia global. É um desenvolvimento viável que demanda respostas políticas
inovadoras, multidisciplinares e ação interministerial. Cattani (1997) reforça que a
atividade exercida no espaço doméstico e diretamente comercializado ao
consumidor faz com que o trabalhador tenha autonomia sobre seu tempo e ritmo de
trabalho, controle sobre as técnicas e procedimento de sua elaboração e
determinação de preço. Interessante verificar que a atividade está tornando-se um
luxo pelo acesso restrito a uma boa costureira. O valor pago a uma peça produzida,
sob medida, à uma costureira é muito maior que o pagamento por peça a uma
costureira de facção, o que por si só já configura o fair trade. Assim, dificilmente se
encontra uma profissional com tempo ocioso. A costura sob medida está se
tornando tão valiosa, tão significativa, que se encontram no mercado, ateliês
especializados em passar estes ensinamentos que se antes era de mãe para filha
transformou-se em um empreendimento lucrativo.

3.3. Aspecto Ambiental

O terceiro pilar é o aspecto ambiental, pois as roupas sob medida são


produzidas buscando o menor consumo de tecido, aproveitando os menores
pedaços. Não há toneladas de descarte dos resíduos como o do sistema fast
fashion. A compra dos insumos é direcionada para a produção de uma peça
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encomendada, não restando margem para sobras e desperdícios. Não gera estoque
e, portanto, não entra em liquidação, pois o consumo é imediato, o cliente adquire
uma peça única, exclusiva. Desta forma o consumidor dificilmente irá se desfazer
facilmente desta peça, ergonomicamente moldada para si, normalmente produzida
com tecidos nobres, especiais, escolhidos especialmente para determinada ocasião
e gosto pessoal. Assim, desde o início da produção, onde se consome somente o
necessário pra produzir uma peça, gerando pouco resíduo e diminuindo as chances
de descarte da peça pronta pela sua exclusividade, qualidade e valor agregado,
diminui consideravelmente o impacto ambiental. Produzir de forma consciente é
ideia compartilhada por Ferreira (2012) que alerta sobre a produção de forma
excessiva realizada pelo mercado vigente de moda e após, frequentemente, não se
consegue escoar todos os produtos. Acredita que produzir fast fashion, roupa com
pouca qualidade, feita para vestir duas ou três vezes e logo ser descartada, não vale
o investimento e o impacto ambiental que exerce. A autora acredita que a moda
artesanal é mais amiga do ambiente, por serem mais duráveis, e que, mesmo após
algum uso, mantêm a qualidade e pode ser adaptada ou complementada,
conferindo-lhe assim um new look.

Desta forma, o slow fashion representa o movimento verde, segundo Pessoa


(2012) em matéria para a revista Costura Perfeita, que fez surgir um consumidor
mais consciente, que pensa bem antes de adquirir, que prefere produtos de
qualidade e durabilidade, que utiliza mão de obra justa, fibras naturais e sustentáveis
que podem ser descartadas no meio ambiente com menor impacto. Esse movimento
verde também denominado Economia Verde, abriga o comércio justo, o eco fashion,
o design ético, o eco design, dentre outras tendências de moda e consumo que são
mais amigas do meio em que vivemos tanto localmente quanto mundialmente.

Discussão dos Dados


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Fi
gura1 : Processo da encomenda de roupa sob medida

Para entender o processo de roupa sob encomenda, consultou-se a


costureira Neeme Sales, 59 anos que atende por hora marcada em seu ateliê. Como
estratégia de conforto e exclusividade oferece o atendimento na casa da cliente,
porém deixa claro que o atendimento em seu ateliê é o mais recomendado, pois
neste espaço há inúmeras revistas, acesso à internet, que podem servir como
referência e alguns cortes de tecidos nobres, como seda, linho, lã, viscose javanesa,
todos em cores básicas como cinza, preto, azul, branco ou ainda que seguem as
últimas tendências, como o bordô, verde musgo, além de estampados disponíveis
para a escolha das clientes.

No ateliê, foi falado sobre a ocasião em que será utilizada a peça no evento
de moda sustentável no SESI Cria Moda Sustentável. A ideia é combinar um modelo
prático, versátil, chique e atemporal com um tecido nobre, natural e sustentável. O
resultado foi a escolha de um macacão. Cada detalhe da peça formou uma única
mistura de várias referências, tanto das revistas de moda disponíveis no ateliê,
buscas na internet, quanto detalhes de gosto pessoal.
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Definido o modelo, chega a vez da escolha do tecido. Conforme explica o site


Linho.org (2013), ele é considerado um dos tecidos mais sustentáveis do mundo,
unindo aspectos ecológicos com conforto, durabilidade e versatilidade.

Medidas aferidas, a costureira acertou o prazo para entrega em duas


semanas, pois havia outras entregas a ser entregues. Foi marcada a primeira prova
em dez dias. Esta etapa é primordial para ajustar a peça conforme o corpo da
cliente, antes de terminá-la por completo. No final deste primeiro encontro foi
acertado o custo da mão de obra em R$150,00.

Após dez dias foi realizada a primeira prova. Ajustes solicitados e realizados,
após três dias a peça foi entregue resultando uma peça completamente única e feita
especialmente para o corpo da cliente sob medida.

Considerações Finais

A encomenda de uma roupa feita sob medida é uma das formas mais antigas
de se trabalhar um novíssimo conceito, o slow fashion. Não só por ser uma forma
mais lenta de produção, mas por conter os conceitos de uma moda sustentável,
como a aquisição de materiais calculados apenas para a produção da peça
encomendada, sem resultar em grandes sobras, pois geralmente a costureira
compra e utiliza integralmente o tecido. Geralmente utilizam-se tecidos naturais, de
fácil decomposição no meio ambiente para quando houver o descarte, que costuma
ser muito mais demorado que de uma peça fast fashion, pois foi produzida a partir
de escolhas, seja de um modelo único, de um tecido específico, com as medidas do
corpo. Só estes fatores já diminuem o impacto no meio ambiente.

A roupa sob medida, encomendada a uma costureira, valoriza seu trabalho,


pois o preço pago por peça é muito maior ao valor recebido pelos costureiros do
sistema fast fashion. O cliente rastreia a forma de produção, garante que a peça não
foi feita por adultos e crianças que trabalham para sobreviver minimamente, apenas
em troca de um colchão no chão e comida sem armazenamento adequado, como
acontece no atual sistema vigente, que “fecha os olhos” para continuar produzindo
peças extremamente baratas. Só no quesito trabalho, a roupa sob medida configura
justiça social e econômica, que junto com o processo de menor impacto ambiental,
completa a tríade da sustentabilidade, além de transpor o ato de apenas obter e
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possuir uma peça, mas de fazer parte fisicamente e emocionalmente a esta roupa e
vice-versa.

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SEBRAE. Empreendedor Individual na economia criativa. SEBRAE, 2012.


Disponível em: http://www.sebrae.com.br/setor/economia-criativa/gestao-
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Acesso em 13 mar 2013.

UNESCO. Criative Economy Report .2008. Disponível em:


http://unctad.org/en/Docs /ditc20082cer en.pdf. Acesso em 08 mai 2013.

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