09 - Homens de Wyoming 09 - (Irmãos Grier 3) - Wyoming Heart - ARF

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Caro leitor,

Cort Grier apareceu pela primeira vez em Homem da lei.* Sua segunda aparição
substancial foi em Inabalável, onde ele flertou com minha heroína.
Já nessa época eu pensei que ele era um personagem complexo e quis escrever
sobre ele. Então aqui está a sua história.
Ele vai para o rancho do primo no Wyoming, fingindo ser um cowboy pobre. Lá
ele conhece a amiga do primo, que o odeia à primeira vista quando ele a ridiculariza por
gostar de tricotar e de ler romances. Ele não sabe que ela é uma escritora de sucesso que
faz as pesquisas para os seus livros saindo em campo com um grupo de comando
mercenário.
Espere fogos de artifício quando eles descobrirem a verdade um sobre o outro,
LOL.
Gostei muito de escrever este livro, embora deva confessar que ele enveredou por
caminhos que não imaginei. Espero que você goste!
Sua maior fã,

Diana Palmer.

* HT 35 - Homem da lei(Garon e Grace) - Apesar da autora afirmar que Cort Grier apareceu nesse livro, na versão que eu li só há
uma leve referência sobre a visita dele, do pai e irmãos a Garon, nada mais. Ele aparece no livro do Cash, Renegado HT 29, mas
muito rapidamente também em uma visita com o pai e os outros irmãos. E realmente seu maior destaque foi no livro Inabalável.
WYOMING HEART
Cort Grier não é um fazendeiro comum. Apesar de sua vasta riqueza, ele ainda
trabalha a terra com as próprias mãos, ao contrário de sua perturbadora nova vizinha,
Mina Michaels.
Bonita e impetuosa Mina enfurece e encanta Cort, despertando sentimentos que
ele pensava estarem enterrados há muito tempo. Mas ele sabe que se apaixonar por uma
garota da cidade pode levar apenas a um coração partido...
Escritora de sucesso Mina dificilmente esperava conhecer um homem como os de
seus livros. Mas Cort, malicioso e bonito, é um herói alfa, desde sua veia teimosa até a
maneira feroz como esse cowboy determinado protege seu coração.
Quando um beijo ardente leva a outro, Mina poderá convencer Cort a abrir seu
mundo para ela, agora e para todo o sempre?

CAPÍTULO UM
Cort Grier estava desiludido com a vida. Possuía um enorme rancho de criação de
gado Santa Gertrudis no oeste do Texas. Estava com trinta e três anos agora, na flor da
idade e queria ter uma família. Seu pai se casou novamente e mudou-se para Vermont.
Seus irmãos, exceto o segundo mais novo, estavam todos casados e com família. Ele
queria formar uma família só sua. Mas toda mulher que ele pensou ser a certa para isso,
acabou por estar interesada apenas em seu dinheiro. A última, uma cantora, riu quando
ele mencionou crianças. Ela estava no seu melhor momento na carreira, disse a ele, era
uma estrela em ascensão. De jeito nenhum ela desistiria disso para morar em algum
rancho fedorento no Texas e começar a ter bebês. E não estava certa de que algum dia
iria querer um filho.
E assim por diante. As mulheres tinham sido um prazer permitido por muitos anos
e, apesar de não ser playboy, teve sua parcela de amantes bonitas e cultas. O problema
era que, depois de algum tempo, todas pareciam, pensavam e soavam iguais. Talvez
estivesse cansado. Certamente, a idade não tinha feito muito por sua natureza
basicamente cínica. Ele encontrou mais prazer nestes dias administrando o rancho do
que acompanhando alguma debutante em El Paso.
A fazenda era o pomo da discórdia com as possíveis noivas. Cada uma delas se
entusiasmava com seus vastos rebanhos de gado Santa Gertrudis, até que realmente
visitavam o rancho e descobriam que o gado era empoeirado e fedorento. Na verdade,
os vaqueiros que trabalhavam com eles também eram. Uma namorada tinha realmente
desmaiado quando viu um dos trabalhadores ajudar um bezerro a nascer.
Nenhuma de suas manoradas gostou da ideia de morar tão longe da cidade,
especialmente próximo ao gado fedorento, ao feno e ao barulho dos equipamentos do
rancho. A Park Avenue, em Nova York, as teria agradado muito mais. Talvez alguns
diamantes da Tiffany e uma roupa que algum estilista apresentou durante a Fashion
Week. Mas gado? Não, elas disseram. Nunca.
Cort nunca gostou do tipo de mulher "garota da porta ao lado".* Na verdade, não
havia moças ao lado quando ele era mais jovem. A maioria dos fazendeiros próximo de
onde ele morava tinha filhos. Muitos filhos. Nenhuma mulher no grupo.
A questão era, ele lembrou a si mesmo, que o tipo de mulher que gostaria de viver
em um rancho provavelmente seria uma mulher que cresceu em um rancho. Alguém que
gostava do ar livre, dos animais e não se importava com os inconvenientes. Ele
provavelmente não deveria estar à procura de uma noiva nos bairros de classe alta das
grandes cidades. Ele deveria procurar mais perto de casa. Se houvesse alguém mais
perto de casa para procurar.
Ele teve um breve encontro com uma bela jovem na Geórgia, durante uma visita a
Connor Sinclair, um multimilionário que tinha uma casa no lago. O nome da mulher era
Emma, e seu senso de humor o interessou imediatamente. Foi uma das poucas vezes em
que ele prestou atenção ao que uma mulher dizia ao invés da sua aparência. Emma era a
assistente pessoal de Connor, mas havia mais do que negócios ali, se ele não estivesse
enganado. Connor separou Cort de Emma com precisão cirúrgica e se assegurou de que
não houvesse mais oportunidades para ele conhecê-la. Poucos meses depois, ele ouviu
de seu irmão Cash Grier, que era chefe de polícia no leste do Texas, que Connor se
casou com Emma e eles tiveram um filho. Ele realmente pensou em voltar para o norte
da Geórgia e cortejá-la, apesar de seu chefe irrascível. Isso não era mais possível. Ele
comparou Emma com as meninas com diamantes nos olhos e mãos gananciosas que
passaram por sua vida. E se sentiu de repente vazio. Sozinho. O rancho sempre foi o
centro sua existência, mas já não era suficiente. Ele tinha caído em uma rotina. E
precisava sair.
* A garota da porta ao lado - É basicamente alguém doce, tímida, modesta e de beleza discreta. A garota que você cresceu
conhecendo desde a infância. Geralmente alguém que morava perto o suficiente para você ir andando ou  de bicicleta até a casa dela
para brincar. Seu amor por ela é inocente, assim como ela. Você sempre a considerou uma melhor amiga, é a garota que você
sempre admirou de longe e tinha receio de se aproximar, temendo que qualquer projeção erótica em relação a ela estragasse a
imagem decente, pura e quase o ideal feminino virginal que você faz dela . Intocada por outros homens e com uma natureza tão
doce que quase o assusta pensar nela em situações sexuais explícitas. Quase.  Ela é a garota perfeita para você, e estava bem debaixo
do seu nariz o tempo todo.
Então Cort decidiu que precisava de férias. Ele ligou para o primo em Catelow,
Wyoming, Bart Riddle e se convidou para ajudar trabalhando no rancho incógnito. Ele
explicou a situação para seu divertido primo, que lhe disse para vir. Se ele queria
arruinar sua saúde, cavando buracos e perseguindo o gado, seria bem-vindo.
Ele também tinha outro primo no condado de Carne, Wyoming, Cody Banks, que
era o xerife local, mas Banks morava na cidade e não possuía um rancho. Cort queria
manter as mãos ocupadas. Mas tinha planos de visitar Cody enquanto estivesse na
cidade.
Bart o encontrou no aeroporto, um sorriso divertido em seus olhos escuros
enquanto apertavam as mãos.
─ Você possui uma das maiores fazendas do Texas e quer vir aqui e ser um cowboy? -
Perguntou Bart.
─ É o seguinte... - Cort começou a explicar ao sair do aeroporto. ─ estou cansado de ser
um sinal de dólar ambulante para as mulheres.
─ Oh, se esse fosse o meu único problema. - Bart suspirou. E enfiou as mãos nos bolsos
da calça jeans. ─ Eu sou mais velho que você, não sou nenhum modelo, gasto como um
louco e não sou educado. Ele riu. ─ Acho que vou morar sozinho em uma casa cheia de
cães e gatos até morrer.
Cort olhou para ele, sua mala em uma mão e uma maleta na outra.
── O que aconteceu com a veterinária local com quem você estava circulando?
Ele fez uma careta.
─ Ela se mudou para o Arizona. Com o novo marido. - Ele acrescentou.
─ Sinto muito..
Bart deu de ombros.
─ Fortunas de guerra.* - Disse ele. ─ Eu estou desistindo de mulheres. Bem, nem todas
elas. - Acrescentou ele. ─ Eu tenho uma que é apenas uma amiga. Mais ou menos como
uma irmãzinha. - Ele sorriu. ─ Ela é escritora.
─ Temos muitos escritores nos EUA. - Ponderou Cort. ─ Esperançosos. Não
publicados.
─ Esta é muito publicada. Seu último livro está na lista de bestsellers do USA Today.
─ Não é ruim. Que tal a lista do New York Times?
Ele balançou a cabeça.
─ Mas ainda é cedo. Ela tem talento.
─ O que ela escreve?
─ Romances.
Cort fez uma careta.
─ Coisas piegas, pegajosos, melosas.
─ Não exatamente. - Eles chegaram a grande caminhonete preta de Bart. ─ Suba a
bordo. Acho que isso nos levará para casa. Quase, em todo caso.
Cort fez uma careta.
─ O que você faz com essa coisa, conduz o gado? - Ele perguntou, observando os
amassados e arranhões.
─ Vai em todos os lugares. Eu tenho outro que parece um pouco melhor, mas está na
oficina. Teve uma avaria.
Cort guardou a bagagem no porta-malas e subiu ao lado do primo, fechou a porta
e colocou o cinto de segurança.
─ Que tipo de avaria?
─ Uma chave de rodas bateu acidentalmente na porta do passageiro.
Cort piscou e olhou para seu primo, que corou.
─ Como é?
Os lábios de Bart fizeram uma linha fina quando ele ligou o caminhão, engatou a
marcha e saiu do estacionamento do aeroporto.
─ Essa é uma longa história.
─ Vou esperar prendendo a respiração para ouvi-la. - Respondeu Cort com uma risada.

***
*Fortunas da guerra (Fortunes of war) - É um fenômeno desconhecido e imprevisível que faz com que mude o resultado de um
evento, por mais planejado que ele seja. 
Ele olhou pela janela para a paisagem que passava. O Wyoming era muito mais
verde do que a região do Texas de Cort, onde havia areia, deserto, montanhas com picos
pontiagudos e sal. O rancho ficava em uma área que recebia um pouco mais de chuva
do que os arredores, de modo que pelo menos o pasto tinha uma boa aparência. Mas
Catelow parecia ter mais do que sua cota de chuva. Os pastos por onde passavam eram
exuberantes.
─ Bom pasto. - Ele comentou.
Bart riu.
─ Pasto caro. - Ele corrigiu. ─ Não recebemos muita chuva aqui. Dependemos da neve
derretida e não tivemos tanta neve nos últimos anos como gostaríamos. Mas se você
tiver dinheiro suficiente, poderá cuidar de seu gado. Esse cara... - Ele indicou o rancho
na frente do qual estavam passando. ─ tem milhões. Ele tem fazendas aqui, em
Montana, e até mesmo uma grande propriedade na Austrália. O nome dele é Jack
McGuire.
─ Eu o conheço. - Respondeu Cort. ─ Nós nos conhecemos em uma convenção de gado
em Denver há cerca de três anos.
─ Ele é um cara legal. Sempre tentando ajudar as pessoas. - Ele suspirou. ─ Eu acho
que se você tem dinheiro suficiente, pode ter pastagens boas e fazer caridade também.
Eu não saberia.
Os olhos escuros de Cort sorriram.
─ Você está indo bem. - Ele retornou.
Bart encolheu os ombros.
─ Bem, eu sei trabalhar em um rancho. Simplesmente não consigo me concentrar em
orçamentos e faturamento.
─ Você precisa se casar com uma contadora.
─ Oh, sorte se isso pudesse acontecer.
─ Nunca se sabe.
─ Eu tenho que parar na cidade e pegar alguns suprimentos a caminho de casa, você não
está com pressa, está? - Bart perguntou.
─ De modo algum.
─ Não levará um minuto. Eu só preciso de alguns blocos de sal.
─ Eu vou esperar no caminhão, a menos que você precise de ajuda para carregá-los...
Bart sacudiu a cabeça.
─ Os Callisters assumiram a loja de ração. McGuire é o dono, mas eles a arrendaram e a
administram. Eles têm alguns homens fortes que ajudam com os suprimentos.
─ Callisters. Callisters de Montana? - Perguntou Cort.
─ Eles mesmos. O filho mais novo, John, se casou com uma garota local, Sassy, que
costumava trabalhar na loja de ração. Eles têm um filho. Gil, irmão de John, sua esposa
e filhos ainda moram na sede do rancho em Montana.
─ Aquilo não é um rancho, é um império. - Cort riu.
─ Com certeza é. Sem mencionar que a esposa de Gil é afilhada de K.C. Kantor.
─ O milionário que fez seu dinheiro como mercenário, lutando em guerras por toda a
África. - Recordou Cort.
─ É uma família interessante. E aqui estamos nós. - Ele acrescentou, parando em frente
a uma loja de ração, perto da rua principal que atravessava Catelow. ─ Eu volto logo.
Cort suspirou enquanto olhava ao redor. Ele morava em uma pequena comunidade
perto de El Paso, que se parecia muito com essa, exceto que não havia tantas árvores
verdes e nem abetos gigantes como os da cidade. Pinheiros Lodgepole, ele lembrou do
que lu sobre Catelow.
Ele precisava esticar as longas pernas. Colocou seu Stetson sobre o cabelo preto,
inclinado sobre um olho castanho claro, saiu do caminhão e caminhou até a calçada. Ele
atraiu os olhares até das mulheres mais velhas. Era alto e esguio, mas poderosamente
constituído, com pernas longas, quadris estreitos e ombros largos, um físico que teria
dado inveja aos galãs de cinema. Era bonito também. Ele tinha um jeito de olhar para
uma mulher que a fazia se sentir a única no planeta. E quando queria, podia ser
encantador.
Ele olhou para baixo até suas caras botas de couro manufaturadas, cobertas de
poeira e restos de excremento de gado. Elas precisavam de polimento. Ele as havia
usado no pasto para olhar um touro doente pouco antes de partir para Catelow.
Desleixado, ele pensou. Ele deveria ter colocado botas limpas.
─ Eu nunca pensei que teríamos nossa própria loja aqui mesmo na cidade. - Uma
mulher jovem de cabelos castanhos com reflexos loiros em um coque apertado estava
dizendo para uma mulher um pouco mais alta enquanto desciam pela calçada. ─ Todos
os tipos de fios exóticos, perfeitos para tricotar...
─ Tricô. - Cort zombou.
A mulher comum olhou para ele com grandes olhos castanhos em um rosto
agradável, mas não realmente bonito. Ela não usava maquiagem. Vergonha, ele pensou,
ela poderia melhorar se tentasse parecer atraente. Bela boca, queixo arredondado, pele
bonita. Mas se vestia como uma mendiga, e aquele cabelo preso não era nada atraente.
Os olhos castanhos escuros estavam claramente nele, enquanto sua dona percorria
com o olhar, um longo caminho pelo corpo esguio e musculoso até o rosto magro e
bronzeado sob o chapéu de cowboy de cor creme.
─ Se eu tivesse botas tão asquerosas quanto as suas... - Ela disse em um tom suave, mas
mordaz. ─ não seria tão insultante sobre a escolha de hobbies de outra pessoa.
As sobrancelhas dele arquearam.
─ Você balança, também? - Ele perguntou gentilmente.
Ela franziu a testa.
─ Balançar?
─ Combina com tricô. Cadeiras? Cadeiras de balanço? - Ele provocou.
O olhar furioso piorou.
─ Eu não me sento em uma cadeira de balanço para tricotar!
─ Você pode fazer isso de pé?
O olhar, somado ao sugestivo tom aveludado, trouxe um rubor escarlate as
bochechas dela. Ela começou a revidar com algo ainda pior quando foi interrompida por
alguém chamando o seu nome.
─ Mina!
Ela virou. Bart vinha pela calçada sorrindo.
─ Ei, garota! - Ele brincou.
Ela riu. Isso mudou todo o seu rosto. Ela parecia muito mais interessante agora
para o vaqueiro alto que a insultou.
─ Oi, Bart. - Ela respondeu. ─ Eu não vejo você desde o piquenique da igreja!
─ Eu estou evitando aparecer. Você entende, para que todas as mulheres não
envergonhem a si mesmas por me assediarem.
A morena ao lado da que estava conversando com Bart riu.
Bart olhou para ela com um sorriso.
─ Você pode rir. - Ele retrucou. ─ Eu sei que os homens a perseguem. Eu os vi fazerem
isso, morena linda.
Ela riu novamente.
─ Pare com isso, ou eu vou dizer ao meu marido que você está flertando comigo.
Ele ergueu as duas mãos.
─ Oh, não, por favor, não. - Ele disse rapidamente. ─ Eu não preciso de John Callister
me procurando com sua espingarda.
─ Ele não ousaria. - Replicou Sassy Callister. ─ Ele precisa de um novo touro
reprodutor e gosta da aparência dos seus.
─ Eu sei. - Ele sorriu. ─ Agradeça a ele pela preferência, antecipadamente. Oh,
desculpe, esqueci de apresentá-los. Este é meu primo do Texas, Cort Grier.
─ Prazer em conhecê-lo. - Disse Sassy com um sorriso e um aceno de cabeça.
A outra mulher não sorriu ou acenou com a cabeça.
─ Esta é Sassy Callister. - Bart apresentou a morena. ─ E esta é Mina Michaels. -
Acrescentou, indicando a mulher com os furiosos olhos castanhos.
Nem Cort nem Mina falaram. Eles se encararam ainda mais.
Bart pigarreou.
─ Bem, é melhor irmos para o rancho. Cort acabou de chegar do Texas e acho que ele
precisa descansar um pouco.
─ Tudo isso se abanando. Então está com os braços cansados. - Perguntou Mina.
Ele a fulminou com o olhar.
─ Você não está cansada de todo aquele tricô? - Ele retrucou. E lhe deu um olhar duro,
observando sua falta de maquiagem e o vestido deselegante. ─ Eu acho que uma
mulher com uma aparência tão lamentável quanto a sua tem muito tempo para tricotar,
por falta de uma vida social.
Ela pisou em sua bota tão forte quanto pode.
Ele xingou e a fulminou com o olhar.
─ Isso é uma agressão. - Ela disse amavelmente, gotejando sarcasmo. ─ Eu vou me
entregar à polícia agora mesmo!
Cort abriu a boca para responder e sua expressão indicava que seria algo
venenoso.
Bart, que conhecia muito bem o temperamento do primo, o segurou pelo braço e
quase o arrastou.
─ Nós temos de ir agora. Até logo.

***
─ Você não deveria tê-la salvado. - Cort murmurou quando eles voltaram para a
caminhonete de Bart. Suas altas maçãs do rosto estavam coradas de raiva. ─ Que
maldita mulher desagradável e feia! Eu deveria tê-la prendido por agressão. Isso teria
removido aquele sorriso do rosto dela, não teria? - Ele adicionou. Seu pé estava um
pouco dolorido. Ela também estava usando botas, ele lembrou de repente. Estranho,
uma mulher da cidade usá-las. Talvez elas estivessem na moda. Por outro lado, que
importância daria para moda uma mulher tão pouco atraente?
─ Calma, ela não é tão ruim...
─ Eu preferiria que nunca mais falássemos dela. - Ele interrompeu e deu ao primo um
olhar que dizia que estava falando sério. ─ A outra mulher, a simpática... - Enfatizou. ─
você disse que ela é casada com John Callister?
Bart queria contar a ele sobre Mina, sobre o passado dela, mas percebeu que não
chegaria a lugar nenhum. Pelo menos não agora.
─ Sim. Sassy é bem conhecida aqui na comunidade. A mãe dela teve câncer, mas John a
colocou em tratamento e ela continua bem. A família adotou uma menininha filha de
um dos cowboys que trabalhava para elas e que morreu, e ela também mora com a mãe
adotiva. É uma boa família.
─ A Sra. Callister parece agradável.
─ Ela é. E Mina...
─ Por favor. - Cort o interrompeu. Ele respirou fundo. ─ Isso foi todo aborrecimento
que eu posso aguentar em um dia. E a maldita mulher tricota, você pode acreditar? Eu
me pergunto se ela sabe qual século é esse?
Bart segurou a língua. Ele podia ter respondido a essa observação, mas era bom
guardar a resposta para mais tarde.
─ Que tal uma boa xícara de café preto forte? - Ele perguntou evitando responder.
─ Isso soa bem.
Bart sorriu.
─ Eu esbanjei em um quilo de café Jamaican Blue Mountain.* - Ele olhou para seu
primo, que sorria de orelha a orelha. ─ Sim, eu sei. - Acrescentou com uma risada. ─ É
o seu favorito.
─ E você acabou de se tornar meu primo preferido. - Retrucou Cort, rindo.
─ Nenhuma surpresa. - Foi a resposta arrastada.

***
Eles se sentaram ao redor da pequena mesa da cozinha mordiscando uma pizza e
tomando o delicioso café que Bart tinha preparado para eles.
─ Isso é muito bom. - Disse Cort, olhando em volta para a cozinha moderna e limpa,
com suas cortinas azuis e eletrodomésticos.
* Café Jamaican Blue Mountain - Considerado um dos cafés mais caros do mundo, o café jamaicano é cultivado na montanha Blue
Mountain, a montanha mais alta da Jamaica, com 7.402 pés. É cultivado na Jamaica desde 1728, quando o café foi introduzido pela
primeira vez na ilha. Este café Arábico suave é doce, sem aditivos, naturalmente alcalino e contém vitaminas e nutrientes, tornando-
o benéfico para o consumo diário. Ao contrário da maioria da ilha, a Blue Mountain experimenta seu próprio micro-clima de
temperaturas significativamente mais baixas e chuva da tarde confiável, os ingredientes perfeitos para as flores de café vermelho
rubi crescerem.

─ Eu adoro cozinhar. - Disse o outro homem. ─ Então, tenho praticamente todos os


utensílios conhecidos nas artes culinárias.
─ Eu não posso ferver água. - Cort suspirou. ─ Houve uma notável falta de mulheres
em nossas vidas depois que nosso pai expulsou nossa madrasta modelo.
─ Eu me lembro. - Disse Bart. Ele balançou a cabeça. ─ Incrível como um homem tão
inteligente quanto seu pai pode deixar uma mulher assim envolvê-lo totalmente.
─ Eu acho que o amor pode ser bastante inoportuno. - Ele tocou a xícara de café. ─
Nosso pai afastou meu irmão Cash, tão duramente, que mesmo depois que a nossa
madrasta foi embora, Cash não falava com ele. Ele não falava com Garon, Parker ou eu
também, porque nós ficamos do lado da mulher mercenária. - Ele se mexeu na cadeira.
─ Nós vivemos e aprendemos. Garon foi até Jacobsville, onde Cash é chefe de polícia e
fez as pazes com ele. O resto de nós o seguiu. Ainda estamos cautelosos um com o
outro, mas estamos progredindo.
─ Cash é uma lenda na aplicação da lei. - Apontou Bart. ─ Pergunte ao nosso primo
Cody Banks. - Ele riu. ─ Cash foi Texas Ranger por um tempo, até que ele bateu no
oficial comandante em exercício.
─ Lendário, meu irmão. - Concordou Cort, tentando não se sentir diminuído na
comparação. Cash tinha feito coisas que o resto deles jamais sonhou. Ele foi um
assassino do governo, um mercenário, um militar, um Texas Ranger, um especialista em
cibernética no Departamento de polícia de San Antonio. E por fim, se casou com uma
das atrizes e modelos mais famosas da América, Tippy Moore, a Pirilampo da Georgia.
Cash e Tippy tinham uma filha e um filho bebê, e vê-los juntos era uma experiência.
Depois de todos esses anos, eles ainda eram como recém-casados.
─ Você está quieto. - Comentou Bart.
Cort sorriu.
─ Eu estava pensando na esposa e nos filhos de Cash. Tippy realmente é linda, mesmo
sem maquiagem, vestindo jeans e uma camiseta em casa. Deus, ele é um homem de
sorte!
─ Sim ele é. Eu vi fotos dela. Mulher linda. - Ele tomou um gole de café. ─ Como é a
esposa de Garon?
─ Calma. - Disse Cort, mas com um sorriso. ─ Ela é gentil, acolhedora e uma mãe
maravilhosa para o filho deles. Ela quase morreu para tê-lo. - Ele acrescentou
suavemente. ─ Ela estava com uma válvula cardíaca ruim e não contou a ninguém,
muito menos a Garon. Ele ficou quase louco quando descobriu. Eles se casaram porque
ela estava grávida, mas Cash disse que precisou embebedar Garon o suficiente para
fazê-lo desmaiar enquanto Grace estava em cirurgia e depois na UTI. Eles não sabiam
se ela acordaria da operação. A gravidez foi uma grande complicação, e Garon tinha
acabado de salvá-la de um serial killer que a estava mantendo como refém com uma
faca na garganta. - Ele balançou a cabeça. ─ Garon disse que pagou pelos pecados que
não havia cometido durante aquelas horas no hospital.
Bart fez uma careta.
─ Pobre rapaz.
─ Nosso pai é um libertino. - Disse Cort. ─ Bem, ele era. Ele esteve em Pensacola* há
alguns meses, perseguindo uma viúva que gostava de motocicletas, quando uma ex-
repórter de jornal tropeçou nele e o derrubou. Aparentemente ele se apaixonou
instantaneamente. Ele se casou com ela duas semanas depois e eles se mudaram para
Vermont, para ficar perto da família dela.
─ Ora, ora!
─ Parker diz que não vai se casar por anos e anos. Ele tem duas namoradas. E espera
que elas nunca se encontrem. - Ele acrescentou com uma risada.
─ E você? - Bart sondou.
Cort respirou fundo e terminou o café.
─ Eu não sei. - Ele disse depois de um minuto. ─ Eu tive a minha cota de mulheres
bonitas e ricas. Todas elas tinham uma coisa em comum.
*Pensacola é uma cidade localizada no estado americano da Flórida, no condado de Escambia, do qual é sede. Foi incorporada em
1822.

─ Elas não suportavam a ideia de uma vida em um rancho de gado isolado e


malcheiroso, não importa o quão rico seu dono fosse. - Bart adivinhou, e suspirou. ─
Essa também tem sido a minha sina. Não que eu seja tão rico. Estou apenas bem. Mas as
mulheres que vieram para cá nunca mais voltaram. - Ele franziu a testa. ─ Bem, isso
não é bem verdade. Uma fez. Mas ela é como a irmã que eu perdi quando era menino. -
Acrescentou com um sorriso triste. ─ Não há faísca, nem romance. Ela é legal e eu
gosto dela.
─ Talvez seja o que eu preciso. - Disse Cort, sarcasticamente. ─ Alguém para ser minha
amiga e ouvir minhas reclamações quando os impostos chegarem.
─ Milagres acontecem todos os dias.
─ É o que dizem.

***

Cort sonhou naquela noite. Ele estava se esquivando dos mísseis, coberto de
poeira, deitado de bruços atrás de uma parede, o coração batendo acelerado enquanto
esperava para ver se ia morrer ou não. Ele estava de volta ao Iraque, treze anos atrás, no
exército, lutando contra insurgentes.
Ao lado dele, um soldado mais novo estava rezando. Perto dali, outro xingava
quando cada bomba caía.
─ Eu odeio mísseis! - O soldado que estava xingando gritou.
─ Não gosto muito deles também. - Respondeu Cort. ─ Onde está o nosso franco-
atirador? Precisamos acabar com essa situação.
─ McDaniel? Ele recebeu alguns estilhaços no peito. - Ele respondeu, indicando uma
forma debaixo de um cobertor. ─ Pobre rapaz.
Os lábios de Cort fizeram uma linha fina.
─ Onde está o fuzil dele?
O soldado o achou e o entregou a Cort.
─ Esse vai ser um tiro difícil. - Disse o homem solenemente. ─ Ele está em um terreno
alto e tem muita cobertura. - Ele indicou a posição, onde o movimento mal podia ser
visto entre algumas árvores na penumbra do crepúsculo.
Cort carregou o fuzil de alto impacto.
─ Sem problema.
Ele se esgueirou ao lado de sua posição, indo muito devagar, sem emitir nenhum
som. Ele era um caçador. Todo outono, levava para casa pelo menos dois veados para a
mesa de jantar. Ele amava ensopado de carne de veado. Ninguém o fazia como
Chiquita, apelido Chaca que cozinhava para os homens desde que Cort era um
garotinho.
Quando ele encontrou um lugar que lhe dava uma boa visão do lançador e o seu
operador, ele se agachou e descansou a culatra do fuzil no muro que corria ao redor do
perímetro da fortaleza bombardeada onde ele e os outros soldados tinham assentado
acampamento.
Ele respirou devagar, apontou deliberadamente para o lugar em que ele tinha
certeza de que o atirador estava. Então, segundos depois, houve um tênue brilho de luz
refletindo no metal. Cort sorriu quando puxou o gatilho.
Não houve mais ataques. Cort não tinha visto o resultado do tiro, mas estava certo
de ter ferido o soldado inimigo. Ele colocou o fuzil no chão e respirou profundamente.
─ Belo tiro. - Disse o outro soldado.
Ele sorriu.
─ Obrigado. Eu odeio ser bombardeado quando estou tentando dormir.
─ Nem me fale!
A conversa e suas ações foram reais. Mas o sonho de repente se transformou em
um pesadelo. Havia uma mulher próximo. Ele não podia vê-la, mas a ouvia gritar. Ela
estava implorando para alguém parar, para deixá-la sozinha. Cort procurou por ela, mas
tudo o que ele podia ouvir era a voz dela à distância.
─ Eu nunca vou casar! - Ela estava gritando. ─ Nenhum homem jamais terá poder sobre
mim novamente!
Ele queria dizer à mulher nas sombras que, a menos que ela vivesse em uma
caverna, alguém teria poder sobre ela. Um chefe. Um amigo teimoso. Médicos.
Advogados. O poder vinha e ia. Isso nunca terminava. Mas ele não conseguia encontrá-
la.
Ela estava chorando baixinho.
─ Eles disseram que ficaria melhor com o tempo, mas não melhora. Nunca vai
melhorar!
─ O que poderia melhorar? - Ele perguntou.
─ A vida.
Ele abriu os olhos e o teto estava acima dele. O teto de Bart. A casa de Bart. Ele
se sentou na cama e levantou os joelhos para que tivesse um lugar para descansar a
testa. O sonho parecia muito real. A mulher soou como se estivesse sendo torturada. Ele
se perguntou por que sua voz soava tão familiar. Ele se perguntou quem a machucou.
Bem, ele raciocinou, era só um sonho, afinal. Ele deitou-se e voltou a dormir.

***
Eles estavam trabalhando no rancho, marcando bezerros, quando um dos
vaqueiros de tempo parcial de Bart chegou.
─ Vai haver uma festa para a sua amiga escritora. - Disse o vaqueiro a Bart. ─ E escuta
essa, a festa vai ser na mansão Simpson. O quanto isso é ilustre? Quando ela estava na
escola, as crianças da família que moravam lá costumavam jogar pedras nela quando ela
ia em direção ao ponto de ônibus da escola.
─ Ela teve uma vida difícil. - Bart concordou baixinho. ─ É bom vê-la obter um pouco
de reconhecimento, finalmente.
─ Que tipo de festa é essa? - Perguntou Cort.
O cowboy riu.
─ O tipo em que qualquer pessoa é bem-vinda. - Ele respondeu. ─ Então eu acho que
vou limpar minhas botas e ver se consigo encontrar uma muda limpa de roupa, para me
mostrar para as mulheres solteiras presentes!
─ Boa sorte com isso, McAllister. - Bart riu. ─ Seria melhor colocar notas de cinquenta
dólares em sua camisa e tentar encontrar alguém no shopping. Você é um desastre
quando se trata de mulheres.
─ Eu notei. - O cowboy suspirou. ─ Mas, dizem que milagres acontecem todos os dias.
Eu estou esperando pelo meu com as duas mãos estendidas!
─ Postura desconfortável. - Bart retrucou.
─ O que é um pouco de desconforto em busca do amor? - O cowboy disse com uma
risada.
─ Quando é essa festa fabulosa? - Bart perguntou.
─ Sábado à noite.
─ Eu vou levar meu primo. - Bart disse a ele, indicando Cort. ─ Sair à noite vai fazer
bem a ele.
─ Não vai me fazer bem. - Disse McAllister em um tom triste. ─ Ele é mais bonito do
que o resto de nós juntos. Acho que as lindas damas vão nos atropelar para chegar até
ele. - Ele apontou para Cort, que riu ruidosamente.

***

Mina Michaels, entretanto, não estava rindo. Ela estava temerosa com a
aproximação de uma festa que estava sendo forçada a ir. A maioria das pessoas não a
reconhecia como uma escritora, por que ela escrevia sob o pseudônimo de Willow
Shane. Os anfitriões, os Simpsons, eram pessoas gentis que liam seus livros, então ela
se sentia obrigada a ir. Além disso, muitos dos cidadãos locais que tinham sido tão
gentis com ela estariam presentes. Sua vida tinha sido difícil. Estava melhor agora que
morava sozinha no rancho que foi do pai. Ele deixou sua mãe quando ela tinha nove
anos, e a mãe arranjou um namorado rico que manteve as coisas no rancho depois.
O namorado rico, no entanto, acabou se cansando de Anthea Michaels. Ela
encontrou um homem casado, o seduziu e depois o chantageou para mantê-la. Os
homens iam e vinham em casa o tempo todo em que Mina estava crescendo. Ela via
coisas que reviravam seu estômago. Sua mãe achava hilário que ela ficasse chocada. Ela
repreendia Mina sobre sua moral estúpida e suas raras idas à igreja, quando Mina
conseguia pegar uma carona.
Apesar do namorado que pagava as contas, sua mãe dormia com muitos outros
homens, incluindo um garoto por quem Mina estava apaixonada. Ela chorou por dias. O
garoto ficou com vergonha depois para falar com Mina e, é claro, todas as crianças da
escola sabiam o que sua mãe havia feito. Sua mãe a repreendeu sobre isso durante dias.
Ela achava divertido ter tirado a chance de Mina de viver um amor adolescente.
O primo Rogan Michaels assumiu a responsabilidade pelo rancho logo depois que
o pai de Mina partiu. Ele contratou e demitiu cowboys e manteve o gado saudável. Mas
não deu a Anthea um centavo para manter seu estilo de vida. Ele deu dinheiro a ela para
gastar com Mina. Claro, Mina nunca viu um centavo dele, ou mesmo soube sobre ele,
até que Anthea estivesse morta e enterrada.
A esposa do namorado casado de Anthea finalmente descobriu sobre o caso e
ameaçou deixá-lo. Ao que tudo indicava o dinheiro era dela, e o marido estava tirando
da conta de poupança para dar a Anthea. Então esse foi o fim daquela mina de ouro.
Mas logo depois, sua mãe trouxe para casa um homem que prometeu ajudar a
pagar as contas. Ele acabou não sendo apenas um mentiroso, mas um alcoólatra
violento. Sua mãe parecia obcecada por ele. Mina o odiou à primeira vista. Ele passava
os fins de semana consumindo uísque e comprimidos. E depois passou a beber todos os
dias ao invés de só nos finais de semana, e sua mãe tentou vender o gado, até que o
primo Rogan descobriu e a ameaçou com processos judiciais e acusações de tentativa de
roubo. Então Anthea rapidamente decidiu não seguir esse plano.
Ela também começou a beber muito e a se trancar no quarto com seu novo
hóspede na maioria das noites e, às vezes, durante todo o final de semana. Ela era louca
pelo bêbado, cujo nome era Henry. Ele não trabalhava, mas fez um bom trabalho em
transformar a vida de Mina em um inferno. Ela reclamou dele, apenas uma vez, com a
mãe. Henry a espancou e a desafiou a se atrever a chamar a polícia. Mina, toda
machucada e com dor, aceitou o desafio, sentindo que sua vida não podia ficar pior do
que já era. Ela estava com dezesseis anos, ferida e morrendo de medo de Henry. Então,
um ajudante do xerife, recém-chegado à comunidade, tinha atendido a chamada de
Mina.
A mãe o recebeu. E jurou que Mina havia caído das escadas e colocado a culpa no
pobre Henry. Ela disse que sua filha adolescente não gostava do seu namorado. E
acrescentou que Mina o xingava e o ameaçava de prisão por acusações falsas o tempo
todo. Anthea chorou e soou tão convincente que o ajudante do xerife acreditou nela e foi
embora. Depois disso, Mina viveu um inferno. Henry deixou mais hematomas, junto
com algumas lacerações por causa da fivela do cinto. Anthea não disse uma palavra. Ela
se serviu e a Henry de outra bebida.
Cody Banks, o xerife, leu o relatório do auxiliar. Não acreditou na explicação de
Anthea. E manteve Mina sob vigilância. Mas não conseguiu pegar o namorado da mãe
dela no ato, e a mãe de Mina não iria testemunhar, de qualquer maneira. Então, seria a
palavra de Mina contra a de Henry, e a mãe de Mina já havia espalhado pela cidade que
Mina era uma grande mentirosa.
A vida foi muito difícil. Mina não se entrosava bem na escola porque era tímida,
retraída e amedrontada. Sua vida em casa era ainda pior. Sua válvula de escape era
escrever, um segredo que ela compartilhava com pouquíssimas pessoas. Desde os treze
anos escrever tinha sido sua obsessão. O primo Rogan a tinha encorajado. Sua mãe
nunca soube.
Ela não namorava, então era ridicularizada pelas outras garotas. Apenas uma
delas, Sassy, era gentil com ela. Por isso ela e Sassy eram tão boas amigas. Bart
conheceu Mina quando a mãe dela conseguiu um emprego pra ela depois da escola no
restaurante local como garçonete, para ajudá-la a ter dinheiro, porque a mãe e o
namorado bêbado viviam chapados demais para trabalhar. Apesar do primo Rogan
gerenciar o rancho, não haveria comida, nem utilidades sem dinheiro. Sua mãe fez
ameaças quando Mina protestou que não queria trabalhar como garçonete. Eram
ameaças repugnantes, e Henry sorria para ela enquanto elas eram feitas. Ela não
protestou novamente. Henry gostava de tentar acariciá-la quando a mãe não estava
olhando. Não que a mãe tivesse se importado. Durante toda a sua vida ela odiou Mina.
E Mina nunca soube o porquê.
O pequeno salário de Mina pagava os mantimentos, a conta de energia e a água,
sem sobrar nada. Mina rangia os dentes e estudava muito para se formar e sair de casa o
mais rápido possível. Ela teria se colocado sob a caridade do primo Rogan, mas ele
passou dois anos na Austrália, em companhia do magnata do gado local, McGuire,
trabalhando em sua grande fazenda de gado lá. Ele contratou um homem para atuar
como capataz da fazenda em sua ausência, mas o homem era frio como o gelo e Mina
ficava tão nervosa com ele quanto tinha ficado com Henry.
Bart era amável com ela. Ele tomou o lugar do irmão que ela não tinha. Ele era
encorajador e otimista. E a lembrava que ela tinha quase idade suficiente para se formar
e então, se afastar da mãe e do terrível namorado dela. Ele a ajudaria, acrescentou, de
qualquer maneira que pudesse. Isso realmente havia tocado Mina, cuja vida tinha sido
um tormento diário.
Então, quando Mina completou dezoito anos, poucos dias antes de se formar no
ensino médio, o namorado da mãe, totalmente chapado, levou sua mãe até um bar local
na região para comprar mais bebidas. No caminho, em alta velocidade, ele bateu o carro
em um poste telefônico e matou os dois instantaneamente. Mina se sentiu culpada pelo
alívio que a dominou. Ela e a mãe nunca foram muito próximas, e desde que Henry foi
morar com elas, nada deu certo.
Bart a ajudou a organizar o funeral e a encontrar um advogado para auxiliá-la com
a administração da propriedade. Felizmente, o primo Rogan, tinha voltado da Austrália
na mesma época, e ele era uma fortaleza. Ele ficou indignado quando ouviu o que Mina
tinha passado, e lamentou não ter estado perto o suficiente para ajudá-la. Ele cuidou de
tudo e deu a Mina um computador e dinheiro suficiente para manter o rancho
funcionando enquanto ela fazia o que sonhou toda a sua vida: escrever livros. Ele leu
alguns de seus trabalhos. E estava convencido de que ela faria sucesso. Ele foi a
primeira pessoa que realmente acreditou nisso. Bem, ele e Bart.
A vida de Mina melhorou depois dos funerais. Ela tinha lembranças horríveis
sobre os últimos anos miseráveis, mas deu um passo de cada vez e seguiu em frente,
apesar de sua dor.
Seu primo tinha um rancho próprio, muito maior que o de Bart, e ele manteve o
rancho Michaels por vários anos, com homens e dinheiro que a mãe cruel de Mina não
conseguiu tocar. Os homens que ele tinha no rancho obedeciam a ele, não a Anthea,
então o rancho permaneceu solvente. Mina aprendeu com ele a comprar e vender gado
quando estava na adolescência. Ela usou esse conhecimento depois da formatura para
ajudar nas despesas. Os cowboys foram pacientes com ela e a ensinaram a manter o
rancho funcionando na ausência do primo Rogan. Um deles, um caubói mais velho
chamado Bill McAllister, era seu capataz de meio expediente. Ela aprendeu muito com
ele. Ele trabalhou em fazendas em todo o Oeste e conhecia maneiras de fazer coisas que
economizavam ambos, tempo e dinheiro. Seu amigo Bart era um dos seus outros
empregadores. O pequeno lucro que ela conseguiu com seus esforços foi mais do que
suficiente para pagar os serviços públicos, as contas de mercearia e até mesmo sobrou
um pouco mais para gastar em roupas. Ela adorava gado.
Mas o que Mina queria fazer mais do que qualquer outra coisa no mundo era ser
escritora. Ela adorava romances. E também era louca por soldados da fortuna e pessoas
na aplicação da lei. Ela encontrou uma maneira de combinar essas preferências e
colocá-las em um livro. O primeiro que tentou vender não foi bem aceito. Ela o
reescreveu e tentou novamente, inclinando o livro mais para o romance do que para a
ficção pura. E fez sua primeira venda.
Dois anos depois de sua formatura, Mina estava vendendo romances e recebendo
elogios de revisores e leitores. Sua atitude à moda antiga, a maneira de vida de cidade
pequena, junto com as cenas de ação realistas lhe proporcionou uma voz única que foi
bem aceita por seu público leitor. Uma amiga deu uma cópia do seu livro ao líder de um
grupo de mercenários, o que o fez querer conhecê-la. O grupo a adotou e ensinou tudo
sobre operações secretas a ela, inclusive passou a levá-la à missões com eles. Ela
alcançou um realismo em seus romances que os fez se destacarem especialmente
quando seu modo de pesquisa era conhecido.
Era como um sonho se tornando realidade, especialmente considerando como sua
vida tinha sido. Seu primo Rogan estava orgulhoso dela. Bart, também.
Então agora, aos vinte e quatro anos, Mina estava vendendo romances para uma
grande editora e integrando as listas de bestsellers. Seu último romance, sobre um
traficante de armas que se reformou, havia entrado para a lista de bestsellers do USA
Today. Ela esperava que ele entrasse em outras listas também. Os críticos haviam sido
receptivos. Seu futuro era brilhante.
Era apenas o seu passado que a assombrava. Aquele vaqueiro horrível que estava
com Bart a deixava com raiva toda vez que pensava nele. Ele era bonito, atraente e
parecia saber mais sobre as mulheres do que ela. Ele a deixou desconfortável, porque
ela sabia que seria um presa fácil para um homem assim se ele se aproximasse. Então
ela iria evitá-lo como a peste. Porque ela nunca deixaria um homem entrar em sua vida.
Ela sabia como eram os homens por aqueles que sua mãe trazia para casa,
especialmente Henry. Ela sabia que quando os homens bebiam, se tornavam perigosos.
Ela já estava farta de homens perigosos. Bem, exceto seus tutores, ela refletiu.

CAPÍTULO DOIS
─ Mas você não pode ir a uma festa assim. - Lamentou Sassy enquanto estudava Mina.
─ Você simplesmente não pode! Mina, haverá pessoas da sociedade de todo a região na
festa. Você tem que parecer com uma futura autora de sucesso!
Mina mordeu o lábio inferior. Ela estava usando um vestido preto simples, muito
modesto, com sapatos pretos. Mas o cabelo estava preso e ela não usava maquiagem.
─ Sassy...
─ Olha, deixe-me melhorar você. Só um pouco. Por favor? Eu trouxe meu estojo de
maquiagem comigo... - Ela parou e pareceu arrependida.
─ Você planejou isso. Você não deu uma simples passada por aqui. - Acusou Mina, mas
gentilmente.
─ Sim, eu planejei. - Sassy confessou. ─ Eu não quero que você seja o alvo das fofocas.
E você também não quer isso. - Acrescentou ela com firmeza. ─ "Willow Shane" tem
que parecer bem para seus leitores!
Mina pareceu chateada.
─ Eu acredito que tive fofocas suficientes para durar a vida toda. - Ela concordou. ─
Bem, eu suponho...
Ela parou porque houve uma batida forte na porta da frente.
Ela foi atender. Havia um vaqueiro mais velho ali, um que trabalhava no rancho
em meio período como seu capataz. Mina o compartilhava com Bart, que tinha o mesmo
tipo de problemas financeiros que ela. Nenhum deles podia pagar um capataz em tempo
integral, mas Bill era perfeito para o trabalho. Ela sorriu.
─ Oi, Bill, o que é?
Ele estava com o chapéu na mão. E fez uma careta.
─ Desculpe interromper. Oh, oi, Sra. Callister. - Ele disse, acenando para Sassy, que
retribuiu o cumprimento. ─ Temos uma cerca no chão. - Continuou ele. ─ Maldição... o
touro danado passou por ela para chegar a outro touro. Eles tiveram uma briga muito
ruim e o jovem touro está machucado. Talvez tenha que ser eutanaziado. Preciso de
permissão para pedir os materiais para a cerca e ligar para o veterinário para examinar
nosso touro.
─ Você tem permissão para ambos. Diga a eles que eu disse que estava tudo bem. - Ela
fez uma careta. ─ Foi o velho Charlie, não foi? - Ela perguntou com um suspiro. ─ Esse
será o segundo jovem touro que ele ataca. Receio que esta seja a última vez. Não
podemos manter um touro tão agressivo. Ele também já dá mostras da idade que tem.
Ele suspirou.
─ Eu tinha medo que você dissesse isso, Srta. Michaels. Você está certa. É que, bem, eu
meio que me apeguei ao velho Charlie...
─ Então leve-o para casa com você. - Disse ela de repente. ─ Você tem várias vacas e
perdeu seu touro. Você pode ficar com Charlie. Isso resolverá o meu problema e o seu
também.
O rosto dele se iluminou como se estivesse encarando a luz do sol.
─ Srta. Michaels, essa é a coisa mais gentil... obrigado! - Ele hesitou. Conhecia a
situação financeira dela. O touro era um Black Angus de raça pura, de uma linhagem
conhecida. ─ Você poderia vendê-lo por uma boa quantia de dinheiro...
Ela sorriu. E seu rosto se transformou. Era bonita quando sorria, mas raramente
fazia isso.
─ Bill, se eu o vender, estarei colocando em risco o gado de outros pobres fazendeiro. E
se o novo dono ficasse com raiva e o vendesse como gado de corte?
Bill fez uma careta.
─ Então não vamos fazer isso. Leve Charlie para sua casa com você e obrigada.
Resolvido, faça os trabalhadores começarem com a cerca. Eu tenho que ir a uma festa
em minha homenagem. - Ela disse com uma careta. ─ A Sra. Simpson a está dando. Ela
leu meu livro mais recente, SPECTRE, o que está na lista de bestsellers do USA Today e
quer me apresentar a algumas pessoas.
─ Eu também fui convidado. - Disse Bill, corando. ─ Acho que vou aparecer mais tarde
quando consertar a cerca. E eu trago o trailer de Charlie pela manhã, se estiver tudo
bem.
─ Tudo certo. Vejo você na festa, então.
─ Ninguém vai dançar comigo, mas eu vou tomar ponche e comer sanduíches de
qualquer maneira. - Ele riu.
─ Eu vou dançar com você, Bill. - Disse ela gentilmente.
Ele corou mais.
─ Isso seria gentil da sua parte. Caso contrário, acho que seria apenas um solitário.
─ Eu também. - Ela riu. ─ Mas você será o único homem com quem vou dançar.
─ Então agora eu estou realmente lisonjeado. - Bill conhecia o passado dela. A maioria
das pessoas locais conhecia. Ela não se importava que Bill soubesse. Ele tinha um
coração generoso. Uma pena nunca ter encontrado outra mulher para apreciá-lo. Ele
perdeu a esposa e a filha tragicamente. Às vezes bebia e Mina ia buscá-lo para levá-lo
em segurança para casa. Ele a seguia para fora de um bar como um cordeirinho.
─ A festa começa às sete. - Acrescentou quando Bill começou a sair. ─ Se os meninos
ainda não tiverem terminado, deixe-os fazendo o trabalho e vá até a casa da Sra.
Simpson, ok? Randy e Kit estão trabalhando hoje e são confiáveis.
Ele se animou.
─ OK. Mais uma vez obrigado. - Ele tirou o chapéu e saiu da varanda, as esporas
tilintando.
Sassy voltou-se para Mina.
─ Ok, covarde. - Disse Sassy. ─ Sente-se e vamos melhorar você. Você pode atrair um
jovem simpático.
─ Eu não quero um homem, jovem ou velho. - Disse Mina em voz baixa enquanto se
sentava em uma cadeira e deixava Sassy trabalhar nela. ─ Eu não quero um homem.
-Ela cruzou os braços sobre o peito como se sentisse um calafrio.
─ Nem todos os homens são como o namorado de sua mãe. - Disse Sassy gentilmente.
─ Ou como aquele homem horrível que tentou me apalpar quando eu trabalhava na loja
de ração local.
─ Mas de que maneira saber como eles serão de portas fechadas? - Mina perguntou
infeliz. ─ Henry gritava. Ele sempre gritava antes de me bater. Eu tinha tantas
contusões. Eu sempre tive que usar mangas compridas, saias ou calças compridas na
escola para que os machucados não aparecessem. E ele dizia que me mataria se eu
contasse.
Sassy colocou uma mão gentil no ombro dela.
─ Você deveria ter conversado com aquele psicólogo da cidade.
─ Não posso falar sobre assuntos particulares com pessoas que não conheço. - Mina
disse, infeliz. ─ Eu simplesmente não posso.
Sassy respirou fundo. Ela não sabia mais o que dizer. Então voltou a trabalhar na
amiga.
O resultado foi impressionante. Mina parecia uma mulher diferente, mesmo com
apenas um toque de maquiagem e o cabelo comprido solto em volta dos ombros nus e
bronzeados. Ela parecia Delicada. Frágil. Adorável.
─ Você vai partir corações hoje à noite. - Disse Sassy com um sorriso.
─ Não de propósito. Você vai?
─ Sim. John também. E algumas outras pessoas locais.
Os olhos de Mina brilharam.
─ Bart vai também, mas vai trazer aquele amigo. Eu não gosto do homem. Ele é rude e
arrogante, e olha para mim como se pudesse ver minha roupa de baixo... - Ela parou e
engoliu em seco. Não pretendia deixar isso escapar.
─ Ele é mulherengo - Disse Sassy, confirmando suas suspeitas. ─ Eu não o conheço,
mas John sim. Ele o conheceu em alguma convenção de gado a que esteve antes de nos
casarmos. Ele diz que o homem coleta mulheres como um carro coleta pólen na
primavera.
─ Eu imaginei. - Disse Mina, a observação sobre Cort Grier em uma convenção de gado
passando por cima de sua cabeça. Ela estava se olhando no espelho. Exceto por seus
grandes olhos castanhos, que exibiam uma expressão de tristeza permanente, ela parecia
quase bonita. E estava chocada. Ela nunca perdeu tempo para fazer maquiagem. Não
queria incentivar nenhum namorado da mãe, pelo menos um dos quais tentou convencer
a mãe a deixar Mina fazer um ménage com eles. Sua mãe riu e deu a Mina um sorriso
irônico. Mina havia se escondido no bosque até o homem sair. Foi uma das muitas
experiências que a assombraram.
─ Bart fará com que ele se comporte. - Prometeu Sassy.
Ela suspirou profundamente.
─ Eu tenho que ir? - Ela perguntou miseravelmente.
─ Sim.
─ OK. Então vou para a guilhotina.
Sassy riu.
─ Não vai ser tão ruim assim. Realmente. Você pode realmente se divertir.
─ Eu posso aprender a voar.
─ Desmancha-prazer.
─ Prefiro cuidar do meu novo cavalo. - Ela sorriu amplamente. ─ Ele é um palomino. E
é absolutamente lindo! Chamei-o de Sand. - Os olhos dela eram sonhadores. ─ Seu
último dono morreu. Eles disseram que ele estava infeliz, mas quando ele me viu no
leilão, foi até a cerca e abaixou a cabeça. Eu sabia que ele era meu. Eu não podia pagar,
mas o primo Rogan o comprou para mim no meu aniversário.
Sassy riu.
─ Seu primo é um dos homens mais sexy que eu já vi, e um dos maiores odiadores de
mulheres. - Ela balançou a cabeça. ─ Você não acha que tem sorte de ser sua prima de
primeiro grau? Ele gosta dos parentes.
─ Ele odiava minha mãe. - Assinalou Mina . ─ Na verdade, a mãe dele também. -
Acrescentou. ─ Elas eram irmãs, mas nunca se falavam. Tia Sallie morreu de câncer
anos atrás, e o tio Fred a seguiu no ano seguinte, quando ele levou um coice na cabeça
de um cavalo que ele estava tentando tratar. Eu sou a única parente que restou a Rogan.
─ É assim com a minha família também. - Confidenciou Sassy. ─ Somos apenas minha
mãe, Selene e eu.
─ Ela ainda quer ser piloto de caça quando crescer? - Mina perguntou com um sorriso
gentil.
─ Sim. Ela estuda todos os livros que encontra sobre o Raptors. F-22. - Acrescentou
quando Mina a olhou. ─ Ela sabe tudo sobre eles.
─ Ela será uma piloto incrível.
─Oh, sim.
Mina olhou para o espelho novamente.
─ Como você fez isso? - Ela perguntou fascinada.
─ Eu mostro outra hora. É melhor recomeçar ou você vai se atrasar. Eu tenho que ir lá
em casa casa e pegar John.
─ Então eu vejo você lá.
Sassy assentiu.
─ E não fique nervosa. A maioria dessas pessoas viveu aqui a vida toda, assim como
você.
─ Eu nunca frequentei esses círculos. - Disse Mina. ─ Alta sociedade, quero dizer. Eu
sou apenas uma vaqueira.
─ Você é uma escritora famosa, Willow Shane. - Brincou ela. ─ Ficando mais famosa a
cada dia. E SPECTRE está indo direto ao topo, guarde as minhas palavras. Adoro seus
livros, mas este último é surpreendente!
─ Obrigada. Você pode ter quantos quiser. - Mina riu. ─ Recebo caixas de cópias
gratuitas.
─ Você é gentil, mas precisa me deixar comprar meus próprios exemplares para ganhar
direitos autorais. - Ela provocou.
Mina apenas balançou a cabeça.
─ O dinheiro nunca me importou, a não ser no tempo que minha mãe me obrigou a
trabalhar como garçonete, para que ela e Henry tivessem dinheiro para comer. Se não
fosse pelo primo Rogan, o rancho inteiro teria ido a leilão. Ele adorava meu pai. Partiu
seu coração quando papai deixou minha mãe por outra mulher.
─ Você alguma vez teve notícias dele? - Sassy perguntou.
─ Não. - Mina respirou fundo. ─ Mamãe disse que escreveu e disse a ele que eu nunca
mais queria vê-lo ou falar com ele, que eu o odiava. - Ela olhou para as mãos. ─ Eu
disse isso. Ele me deixou à mercê dela e nunca olhou para trás. Eu entendi por que ele
não ficou. Mas ele me jogou para os leões. Não posso perdoá-lo por isso. - O rosto dela
ficou tenso. ─ Ela me odiou a vida toda. Ainda não sei por que.
─ Nunca é sensato olhar muito de perto para o passado. - Aconselhou Sassy. ─ Você
será fabulosamente rica e famosa, e posso dizer que a conheci quando você era uma
criança magra na terceira série!
Mina riu.
─ Sim, você pode! Espero que esteja certa sobre essa previsão. Eu realmente não quero
ser fabulosamente rica, mas eu adoraria que o livro estivesse no topo da lista do New
York Times, só pelos caras. Eles foram tão bons para mim.
─ Você e esses soldados. - Ela riu, balançando a cabeça. ─ Não consigo imaginá-la
correndo pela floresta em roupas camufladas carregando um rifle automático.
─ Na verdade, é uma .45 automática. - Corrigiu Mina. ─ Levei uma eternidade para
aprender a usá-la, mas os caras foram persistentes. Passei horas e horas no campo de
tiro.
─ Você tem sorte de não levar um tiro nessas missões.
─ Eu levei, mas apenas uma vez, e cicatrizou muito bem. - Respondeu Mina com um
sorriso.
Sassy revirou os olhos.
─ Lembre-se, você será mais famosa viva do que morta.
─ Vou contar aos caras.- Ela suspirou. ─ Eu realmente adoraria ver SPECTRE chegar
ao topo. - Acrescentou. ─ Eu o dediquei à minha equipe, você sabe. Bem, apenas o
primeiro nome de cada um deles. Eles ainda ficam incógnitos em muitos lugares, então
eu tive que limitar o que disse sobre eles.
─ Eles parecem ser um bom grupo de rapazes.
─ O melhor.
─ Ok, pronto. - Disse Sassy enquanto terminava com o pincel. ─ E não toque no seu
cabelo quando eu sair pela porta. Deixe-o solto, como está.
Mina fez uma careta.
─ Parece, bem, lascivo... não é?
─ Você tem um cabelo lindo. Não há nada de lascivo nisso. Ou sobre seu vestido muito
conservador. Pare de se preocupar! Você é a Cinderela, e hoje é o grande baile!
Mina sorriu brandamente.
─ Com a minha sorte, a grande bola vai rolar sobre o meu pé e quebrá-lo.
Sassy apenas fez uma careta e a deixou lá.

***
A mansão onde a festa estava sendo realizada brilhava com a iluminação. Era na
parte rica de Catelow, onde moravam os cidadãos endinheirados. Uma enorme casa de
dois andares com fachada plana* de cerca de oito metros, emoldurada por pinheiros
lodgepole e montanhas à distância, era o tipo de casa em que os personagens de Mina
teriam morado.
Ela entregou as chaves do seu pequeno VW ao manobrista, fazendo uma careta ao
notar o novo Jaguar XJL que parou logo atrás dele. Bem, ela não era rica. E também não
lamentava. Seu pequeno carro podia parecer deslocado aqui. Mas, o mesmo se podia
dizer dela.
Em seu vestido preto, um item de promoção de uma loja de roupas, ela chamaria
atenção. Essa multidão usava alta costura, e as mulheres que ela viu ao entrar pela porta
certamente não compraram seus vestidos de pronta entrega.
Ela nunca viu vestidos tão bonitos. E se sentiu deselegante em comparação. Mas
então, ela viu algumas outras mulheres que estavam vestidas como ela. Que atencioso
dos cidadãos proeminentes convidarem os trabalhadores pobres, ela pensou
perversamente e sorriu enquanto descia a fila de convidados. Ela não conhecia um único
rosto, mas uma mulher alta e elegantemente vestida veio falar com ela.
─ Você é Willow Shane. - A mulher disse gentilmente, usando o pseudônimo de Mina.
─ Eu sou Pam Simpson, sua anfitriã. Eu já li a cópia do SPECTRE que você deu ao Bart
três vezes! Ele foi tão gentil me emprestando. Está chegando ao topo da lista do New
York Times, eu sei disso! Comprei cópias para todos os meus amigos!
Mina corou.
─ Muito obrigada. Fico feliz por você ter gostado.
─ O realismo. Uau! Você realmente participa das missões com um grupo de
mercenários para fazer a pesquisa?
─ Eu realmente participo. - Confessou Mina. ─ É uma aventura contínua.
─ Bem, eu adoro o jeito como você escreve. E eu estou tão orgulhosa por ter vindo!
Você deve receber convites de todos, mas escolheu vir aqui.
Mina riu. Ela ainda estava se acostumando com seu pseudônimo. Poucas pessoas
sabiam disso, mesmo ao redor de Catelow.
─ Muito obrigada por dar esta festa para mim.
─ O prazer é todo meu. Eu queria exibir você. - Pam confessou e riu. ─ Seus livros são
tão cheios de humor e aventura. Eu os adoro. Você é tão talentosa! Este novo livro é o
melhor de todos. Espere que ele alcançará o topo das listas nacionais de bestsellers!
─ Assim você me envaidece- Mina a advertiu, corando. ─ Você não deve fazer isso.
Vou me tornar arrogante e intratável.
Pam riu com puro deleite.
─ Nunca! Venha, e deixe-me apresentá-la a algumas pessoas. Muitos de nós somos seus
leitores, incluindo pelo menos um dos maridos. Ele caça no outono. E leva seus livros
com ele para ler enquanto espera sozinho horas para que veados ou alces apareçam!
─ Que lisonjeiro. - Disse Mina, e foi sincera.
─ E não deveria dizer... - Acrescentou Pam, abaixando a voz. - mas pelo menos um
marido usou seu último livro para subornar a esposa. Ele o comprou em uma livraria e
trouxe para casa. Ela disse que teria feito qualquer coisa para consegui-lo. - Ela riu. ─ E
cá entre nós, eu acredito que ela fez!
─ Oh meu Deus. - Mina caiu na gargalhada.
─ E lá está minha amiga Mary. - Ela indicou uma morena em pé, ao lado das outras
perto da mesa de bebidas. ─ Ela está morrendo de vontade de conhecê-la!

***
Mina tinha sido apresentada a muitas pessoas, sua cabeça estava girando com os
nomes. Mas ela, Sassy e John, marido de Sassy, foram para um canto para conversar
sobre gado depois que o primeiro arroubo pela presença de Mina passou com sua
anfitriã e convidados. Eles não bebiam, o que os diferenciava de alguns dos outros
convidados, que passavam pelo estoque de bebidas de seus anfitriões como água.

* sobrado com fachada plana.


─ Eu dei a Bill o meu touro mais velho. - Disse Mina. ─ Ele atravessou a cerca e
machucou um jovem touro novamente. Ele o feriu tão seriamente que talvez ele tenha
que ser eutanaziado. As opções eram dá-lo ou vendê-lo como gado de corte, e acho que
o pobre Bill teria usado luto por um ano. Ele ama aquele velho touro.
─ Boa solução. - John Callister riu. ─ Um touro que odeia a concorrência é muito
perigoso para se ter por aí. - Ele acrescentou mais sombriamente.
─ Sim, e é por isso que Bill o está levando.
Sassy foi à mesa de bebidas para pegar uma ginger ale para ela e para o marido,
depois que Mina recusou. Ela parecia mau-humorada.
─ O que está afligindo você? - John perguntou com um sorriso terno.
─ Aquela mulher... Merridan. - Disse Sassy, bruscamente, olhando para uma morena de
cabelo preto curto e elegante, usando um vestido que mostrava quase tudo o que ela
tinha. ─ Ela passou por dois maridos e agora está flertando com o marido de Daisy
Harrington. Ele está adorando isso e Daisy foi em direção ao banheiro com lágrimas
escorrendo pelo rosto.
─ Todo cesto de maçã tem uma podre em algum lugar. - Disse John. ─ Mas no caso de
você se perguntar, eu sou imune. - Acrescentou com um sorriso malicioso e inclinou-se
para roçar os lábios sobre o nariz empinado de Sassy.
Ela franziu o nariz para ele e riu.
─ Eu sei disso.
Para Mina, que conhecia muito bem mulheres como Ida Merridan, essa atitude
coquete e sedutora era nojenta. Que funcionasse tão bem com os homens era
incompreensível. Eles não percebiam que era apenas uma encenação? Sua mãe era
exatamente assim, prometia o paraíso, mas o preço era alto. Ida estava coberta de
diamantes e rubis, e Mina podia apostar que ela não pagou por nenhum deles.
Ela estava flertando com um homem mais velho, vestido com o que parecia um
terno de grife. Suas longas unhas vermelhas brincavam em seu peito, como sangue
contra o branco ofuscante de sua camisa. Ele estava corado e sorrindo, obviamente
lisonjeado pelas atenções de uma mulher com metade da idade dele, mais bonita do que
qualquer outra mulher na sala.
Mina estava pensando que a mulher era realmente linda. Ida tinha cabelos negros,
cortados curtos, como um gorro de duende em torno de seus traços delicados. Tinha
olhos azuis e uma boca bonita e carnuda. Sua aparência era perfeita, exibida em um
vestido que provavelmente custou mais do que todo o patrimônio líquido de Mina, um
vestido tubo* com detalhes em cristal que abraçava todas as suas curvas, um decote
profundo, mas profundo o suficiente para ser decente em sociedade.
Obviamente, ela pensou, a mulher nunca tinha sido caçada por homens quando
estava na adolescência. Só de pensar em como uma fila interminável de homens de sua
mãe se aproximou dela a deixava doente. Um ou dois foram realmente gentis. O resto...
Ela tomou um gole de refrigerante e suspirou. E desejou encontrar uma desculpa
para ir para casa. Ela se sentia tão deslocada quanto um lenço de algodão em um bazar
de seda.
─ Ei, Srta. Mina. - Bill chamou por trás dela.
Ela se virou, animada.
─ Oi. - Ela respondeu. ─ Consertou a cerca?
─ Sim. - Disse ele. E olhou em volta para a deslumbrante variedade de convidados e
estremeceu. ─ Não sabia que haveria tantas pessoas chiques. - Disse ele em voz baixa.
─ Não se preocupe. - Ela retrucou. ─ Belas penas tornam os pássaros exóticos, mas são
os passarinhos cinzas que se destacam.
─ Agora isso faz eu me sentir melhor. - Disse ele com um sorriso. Ele olhou para a pista
de dança, onde as pessoas estavam se arrastando ao som que a banda ao vivo estava
tocando. ─ Isso é um ritmo dois pra lá, dois pra cá. O único que eu sei dançar. - Ele
acrescentou com um olhar significativo para Mina. ─ Você prometeu. - Ele lembrou a
ela.

*Vestido tubo

─ Sim, eu prometi. Não podemos ser tímidos. - Ela brincou. E largou o refrigerante. ─
Espero me lembrar de como se dança. Eu assisti uma competição de dança uma vez.
Ele a levou para a pista de dança.
─ Você não foi ao baile da escola?
Ela balançou a cabeça.
─ Eu era muito tímida. Eu nem sequer olhava para os meninos. - Ela fez uma careta,
lembrando-se do porquê.
Ele dançava bem.
─ Sua mãe era uma dor de cabeça. - Ele murmurou.
─ Ela era. Mas muitas pessoas têm infâncias ruins e sobrevivem a elas. - Ela sorriu. ─
Consegui uma carreira como escritora para minha própria recompensa.Valeu a pena.
Bem, quase.
─ Os tempos difíceis tornam as pessoas fortes. - Ele concordou. ─ Atualmente esse não
é um mundo fácil de se viver.
─ Exatamente o que eu penso. - Ela suspirou. ─ O que o veterinário disse sobre o nosso
jovem touro ferido?
─ Disse que ele vai se recuperar. Me senti melhor por ele não ter que ser sacrificado,
como o outro.
─ Eu também. - Disse ela, e sorriu.
─ Ali está Bart. - Disse ele, olhando por cima do ombro dela. E suspirou. ─ Ele está
com aquele cara bonito.
O coração dela pulou. Ela odiava quando ele fazia isso. Seus olhos castanhos
voltaram-se para os recém-chegados. Bart estava bonito de terno. Seu primo, no entanto,
estava absolutamente devastador. E sabia disso também. Aquele sorriso insolente e
arrogante dizia tudo. Os olhos castanhos claros dele percorreram a sala até que
encontraram Mina. Uma sobrancelha dele arqueou.
─ Eu o surpreendi. - Ela disse a Bill enquanto dançavam.
─ O que?
─ O hóspede venenoso de Bart. Ele está me encarando.
─ Não é nenhuma surpresa, Srta. Mina. Você parece realmente bonita.
─ Eu prefiro que uma cobra venenosa me ache bonita. - Ela murmurou baixinho quando
Bart e seu primo Cort entraram na pista de dança em direção a Mina e Bill.
─ Então você conseguiu. - Disse Bart com um grande sorriso. ─ Você está linda, Mina.
- Acrescentou ele gentilmente.
Ela sorriu.
─ Obrigada. Eu tinha um pouco de tempo livre, então tirei as cortinas da sala e fiz esse
conjunto legal.
Os olhos castanhos claros de Cort a percorreram de cima a baixo.
─ Nada mal, para um vestido caseiro. - Disse ele com indiferença.
Ela corou. Ele a fez se sentir pobre e barata. O vestido era pronta entrega, mas ele
fez parecer que ela o tinha costurado à mão e muito mal.
─ Foi uma piada. Eu não costuro. - Ela disse friamente.
─ Não. Você tricota. Não é? - O sorriso dele era arrogante e frio.
Ela não podia chutá-lo. Mas, realmente queria.
─ Que tal me dar a vez, Bill? - Bart perguntou quando a música parou.
─ Claro, Sr. Riddle. - O homem mais velho respondeu com um sorriso. ─ Obrigado,
Srta. Mina. - Acrescentou, fazendo meia reverência antes de se misturar à multidão.
─ Eu nunca dancei muito, sabe disso, Bart. - Ela vacilou.
─ Vamos tentar ir adiante juntos.
─ E eu pensei que essa festa seria chata. - Murmurou Cort. Seus olhos estavam focados
na mesa de refrescos. Ou melhor, na pessoa que estava parada ao lado dela. Ida
Merridan estava olhando para Cort, sorrindo como um tigre olhando um pedaço de
carne suculenta. ─ Quem é a moça linda? - Ele perguntou a Bart, com um olhar
presunçoso e desdenhoso para Mina antes que seus olhos voltassem para a morena.
─ Aquela é Ida Merridan. - Bart disse a ele. ─ Ela se divorciou do segundo marido.
Ele contraiu os lábios sensuais.
─ Que tipo de idiota se divorcia de uma mulher que tem essa aparência? - Cort se
perguntou.
─ Homens que podem ver além da maquiagem. - Ironizou Mina. ─ Mas então, seria
preciso um homem perspicaz para perceber isso. - Ela sorriu recatadamente.
Cort a fulminou com o olhar.
─ Pelo menos ela não se veste como uma mulher da época da Terceira Cruzada.* -
Disse ele em um tom suave e cortante, seus olhos menosprezando o vestido muito
convencional de Mina.
Ela apenas olhou para ele e sorriu, com o coração partido pelo sarcasmo que era
tão fácil para ele.
─ Oh, eu não tenho um bom advogado de divórcio, muito menos um ex-marido rico,
então dificilmente posso aspirar a um guarda-roupa como o dela.
─ Você dificilmente poderia aspirar um homem, ponto. - Ele respondeu, virando-se para
ir embora.
─ Cort, pelo amor de Deus... - Começou Bart.
Mina colocou a mão no braço dele.
─ Seu primo tem direito a própria opinião. - Disse ela. ─ Ele gosta de trituradores de
salsicha.
Cort olhou para ela, confuso.
─ Você entenderá depois que a Sra. Merridan passar você por um. Divirta-se. - Ela
voltou-se para Bart, ignorando Cort. ─ Eu preciso perguntar a você algo sobre meus
impostos. - Ela começou.
Cort xingou baixinho e atravessou a sala até a divorciada. Ele nem olhou para trás.

***
─ Ele está mais mordaz do que costumava ser. - Disse ele a Mina. ─ Eu sinto muito.
Não o teria trazido para a festa se tivesse percebido como ele se comportaria em relação
a você. Não quero que sua noite especial seja arruinada.
─ Como se ele pudesse. - Disse, fingindo não se importar. Ela sorriu. ─ Estou me
divertindo.
 ─ Bem... - Ele respirou fundo e olhou para Cort, que estava puxando a divorciada para
a pista de dança. ─ estou feliz.
Eles estavam tocando uma música latina agora. Bart parou e levou Mina para fora
da pista. Nenhum deles sabia dançar o ritmo. Cort, aparentemente, sabia. Ele conduziu
Ida no ritmo e suspiros subiram das convidadas enquanto ele dançava um samba com
sua parceira. Ele era bom. Ele ria enquanto se movia ao ritmo da música. A divorciada
ria também. Ela tinha estrelas nos olhos. Ou diamantes, o que era mais provável, Mina
pensou maliciosamente. Ela ficaria tão decepcionada quando descobrisse que seu
parceiro era apenas um cowboy que trabalhava. Isso fez Mina se sentir melhor. Bem,
um pouco melhor, pelo menos.
─ E os seus impostos? - Bart perguntou enquanto se sentavam na sala de estar entre
vários outros convidados.
─ Não é realmente isso. Só não tenho certeza se fiz a coisa certa sobre o meu touro.
Ele franziu o cenho.
─ Que touro?
─ O velho Charlie. Ele atacou outro dos meus touros jovens e o machucou tanto que ele
quase teve que ser sacrificado. Eu dei Charlie para Bill. Tive medo de vendê-lo, e ele
fazer a mesma coisa com os touros de outro fazendeiro. Ele é agressivo.
─ Bill ama o velho animal. E ele só tem um punhado de vacas fêmeas. Vai ficar tudo
bem. Charlie não ataca pessoas. Bem, não com frequência, apenas quando ele é afastado
das vacas no final do verão. E Bill pode lidar com ele. Ele trabalha com gado há anos.
Ela olhou para ele.
─ Qualquer um pode ser ferido. Eu me sentiria responsável se algo acontecesse com
Bill.
Ele deu um tapinha na mão dela.
─ Não se preocupe com ele. Tudo vai ficar bem. Isso foi generoso da sua parte. Você
poderia vender Charlie por uma boa quantia de dinheiro.
* A Terceira Cruzada (1189-1192), pregada pelo Papa Gregório VIII após a tomada de Jerusalém por Saladino em 1187, foi
denominada Cruzada dos Reis. É assim denominada pela participação dos três principais soberanos europeus da época: Filipe
Augusto (França), Frederico Barba Ruiva (Sacro Império Romano Germânico) e Ricardo Coração de Leão (Inglaterra), constituindo
a maior força cruzada já agrupada desde 1095. 
Ela fez uma careta.
─ Eu vou assinar um novo contrato no próximo mês. Será dez vezes mais do que o
preço que eu poderia ter vendido Charlie.
Ele riu.
─ Parabéns! Eu lhe disse que esse seu talento a faria rica um dia.
─ Rica. Ainda não. Mas muito melhor do que já estive. O primo Rogan disse que
preciso comprar pelo menos dois touros novos e algumas novilhas na venda de
produção que os Terrances farão no próximo mês. - Ela olhou para ele. ─ Quer ir
comigo? Eu poderia precisar de alguns conselhos.
Ele riu.
─ Eu adoraria. Só me avise.
Ela olhou para a pista de dança. Estava tocando um blues agora, e Ida estava
agarrada a Cort Grier como uma hera. A maneira como ele a segurava deixou Mina
desconfortável. Até uma inocente podia ver a experiência na maneira como ele olhava
para a mulher em seus braços, na maneira como seu corpo se fundia ao dela.
─ Quanto tempo seu primo vai ficar? - Ela perguntou rigidamente.
Ele suspirou.
─ Talvez não por muito tempo.
Isso não era encorajador. Ela mudou de assunto.

***
Alguns minutos depois, enquanto Mina se despedia e pegava o casaco, Cort parou
ao lado de Bart.
─ Você se importa se eu levar Ida ao rancho comigo? - Ele perguntou tranquilamente.
Bart ficou rígido e olhou para o primo.
─ Sim eu me importo. Essa mulher tem a moral de um gato de rua. Não a quero em
minha casa.
As sobrancelhas de Cort se arquearam.
─ Como é?
─ Você é um mulherengo, primo. Faça o que quiser, desde que não me envolva. Não
aprovo esse tipo de comportamento e não o aceito. Muito menos em minha propriedade.
Cort olhou para o primo como se ele tivesse enlouquecido.
─ Todo mundo faz isso. - Ele começou hesitante.
─ Eu não faço. - Bart parecia realmente intimidador. ─ Muitas pessoas por aqui também
não. Somos uma comunidade que frequenta a igreja, na sua maioria.
─ Isso não é um pouco atrasado? - Cort o repreendeu suavemente.
─ Me desculpe por estar fora de sintonia com a sociedade onde tudo é permitido com a
qual você está acostumado. Eu não lido com mulheres rodadas.
Cort levou um minuto para entender isso. Ele teve que reprimir o riso.
─ Mulheres rodadas.
─ Malditamente bem rodada, pela aparência. - Disse Bart. Ele olhou para Cort. ─
Existem três motéis na cidade. Sinta-se à vontade.
Cort suspirou, deu de ombros e voltou para a divorciada.
Mina voltou com o casaco nos ombros, depois de agradecer a Pam pela festa e se
despedir de alguns leitores. Ela ficou surpresa com o olhar indignado de Bart.
─ Está tudo bem? - Ela perguntou, hesitante.
Ele se repreendeu mentalmente e forçou um sorriso.
─ Claro que está. Vou segui-la até sua casa, só por precaução.
Ela colocou uma pequena mão na manga dele.
─ Você não precisa fazer isso.
Ele apenas sorriu para ela.
─ Você é minha melhor amiga. - Ele disse suavemente. ─ Claro que tenho que fazer
isso.
Ela retribuiu o sorriso.
Cort os fuzilou com o olhar. Já era a afirmação de Bart que a mulher comum que
estava com ele era apenas uma amiga. Isso parecia muito mais do que amizade.
─ Esta festa não deveria ser em homenagem a alguma autora que Pam Simpson
conhece? - Ida perguntou enquanto eles se moviam em direção à porta da frente. ─
Willow Shane, que escreveu esse novo livro SPECTRE?
─ Sei lá. - Disse Cort.
Eles se moveram logo à frente de Bart e Mina no pequeno grupo saindo pela porta
da frente.
─ A dança foi divertida, de qualquer maneira. - Disse Ida, quase ronronando. ─ Vem
para casa comigo? - Perguntou ela para Cort.
─ Você pode apostar. - Ele falou, certificando-se de que seu irritado primo e aquela
mulher maldosa ao lado dele ouvissem cada palavra.
Ele segurou a mão de Ida enquanto saíam pela porta. E não olhou para trás.
─ Ele queria levá-la para casa no rancho. - Disse Bart quando alcançaram carro dela. ─
Eu disse não a ele.
Ela olhou para Bart.
─ O mundo segue em frente, mas nós não, não é mesmo?
Ele sorriu.
─ Eu acho que não. Cort não é como nós. Ele é mais... bem, mais mundano.
─ Acho que os cowboys são populares. - Ela respondeu. ─ Tivemos um que tinha uma
garota em cada cidade de rodeio. - Ela riu.
Cort não era cowboy, mas Bart não queria estragar seu disfarce. Afinal, Cort veio
aqui para fugir de sua vida. Não que parecesse isso hoje à noite. Ele era mulherengo e
provou isso na primeira reunião em que participou. Talvez ele estivesse acostumado a
fazer as coisas casualmente. Bart não estava.
─ Vejo você em breve. - Disse ela a Bart. ─ Foi uma boa festa. Eu conheci um caçador
que lê meus livros na floresta. - Acrescentou ela, rindo.
─ Imagino que ajude a passar o tempo enquanto ele espera por um grande cervo. -
Brincou ele. ─ Dirija com cuidado.
─ Eu vou. Obrigada por me acompanhar até em casa. - Acrescentou ela, tentando não
imaginar Cort sozinho com aquela mulher bonita e pegajosa. Isso a incomodou, e ela
não sabia o porquê. E não queria se incomodar com isso.
─ Não precisa agradecer.
Ela entrou no carro e foi embora, com Bart logo atrás dela.

CAPÍTULO TRÊS
Cort tomou uma bebida com a alegre divorciada, mas não tentou seduzi-la quando
ficaram sozinhos. Ele não sabia o porquê, o que o deixou irritado. As mulheres eram um
prazer permitido e ele nunca recusou a oferta de uma noite apaixonada.
Esta mulher era demasiadamente sedutora, mas havia uma frieza nos olhos acima
daquele sorriso doce que o fez hesitar. Era como olhar dentro dos seus próprios olhos.
Ele tinha um leve desprezo pela maioria das mulheres. Elas estavam dispostas a fazer
quase qualquer coisa pelas vantagens que ele podia oferecer. Ele estava cansado. Ela
parecia sentir o mesmo.
─ Ouvi dizer que você se divorciou de dois maridos. - Disse ele depois de um minuto.
Ela deu de ombros, deslizando em uma cadeira perto da dele com um copo de
conhaque nas mãos. Depois de entregar um copo para Cort.
─ Sim. O primeiro era gay, mas eu não sabia. Ele queria parecer convencional pelo bem
de sua imagem corporativa. O segundo era um sádico que me fez acreditar que eu era a
mulher mais amada do mundo. Eu casei com ele e fiquei cara a cara com horror quando
ficamos a sós. Ele me feriu emocional e fisicamente. Fugi dele e o fiz ser preso por
agressão e lesão corporal e depois me divorciei. Quase houve um terceiro... - Ela sorriu
tristemente. E tomou um gole do copo. ─ Ele era um jornalista que gostava de correr
riscos e de lugares perigosos. - Ela olhou para os sapatos. ─ Ele era gentil, atencioso e
acho que poderia tê-lo amado. Mas eu não podia viver com o terror, então nunca o
deixei se aproximar. Eu fui covarde.
Ele levantou uma sobrancelha.
─ Você o amava.
─ Eu poderia tê-lo amado, acho. - Ela olhou para os olhos castanhos claros em um rosto
duro e intransigente. ─ Mas você nunca amou ninguém. - Disse ela, analisando-o com
precisão. ─ Você ama as mulheres, plural. Você ama o sabor, a sensação e a alegria da
conquista. Mas no dia seguinte, você pode ir embora sem ser tentado a olhar para trás.
Ambas as sobrancelhas dele arquearam.
─ Maldição. - Ele disse suavemente.
Ela sorriu maliciosamente, com os olhos pálidos concentrados no rosto dele.
─ Você é uma pessoa triste, solitária e perdida. - Ela suspirou. ─ Como eu.
O que começou como um possível caso de uma noite estava rapidamente se
transformando em outra coisa, algo totalmente inesperado.
─ Você vê profundamente. - Ele respondeu depois de um minuto, e com relutância.
Ela assentiu.
─ Passei por muita coisa na minha vida. Isso me ensinou a viver o momento. Eu não
penso no futuro. nunca.
Ele tomou um gole de conhaque. Ele era idêntico. Depois de sua passagem pelo
Oriente Médio, depois do que passou, ele vivia apenas o presente. Ele foi afetado. E
nunca mais seria o jovem idealista e patriótico que vestiu um uniforme militar e foi para
o exterior em combate. Sua visão de mundo havia mudado.
─ Você nem se lembra como são, lembra? - Ela perguntou, tirando-o de suas memórias.
─ Como são o que? - Ele perguntou confuso.
─ As mulheres que teve. - Ela disse simplesmente.
─ Todas elas se misturam. - Ele franziu a testa. ─ É assim para você?
Ela balançou a cabeça.
─ Eu não durmo com todo mundo.
Os olhos dele se arregalaram.
─ Então o que diabos eu estou fazendo aqui?
Ela sorriu.
─ Mantendo as aparências. Vivendo de acordo com a imagem que seu primo tem de
você. Desencorajando aquela jovem mulher de vestido simples.
Ele apertou os lábios e soltou um assobio.
─ Eu me visto como uma mulher à espreita de um homem. Eu paquero. Eu seduzo.
Todos pensam que sou mercenária, que seduzi uma dúzia de homens pelo que eles têm.
- Ela riu. ─ Eu herdei do meu primeiro marido. Ele tinha milhões e milhões de dólares e
nenhum herdeiro.
─ Aquele que era gay. - Ele lembrou.
Ela assentiu, com os olhos tristes.
─ O amante o trocou por um homem mais jovem e mais aventureiro. Ele pediu ao
advogado para fazer um testamento e me deixou como única beneficiária, certificou-se
de que seus funcionários estivessem seguros. Uma semana depois, ele subiu até o último
andar superior do prédio da sede da empresa em Nova York e se jogou de lá. - Ela
respirou fundo. ─ Eu não sabia sobre o amante. Ele era bastante discreto. Na verdade,
pensei que havia algo muito errado comigo, porque ele nunca quis me tocar. - Ela riu. ─
Ele me deixou uma longa carta, me agradecendo por casar e ser gentil com ele. E contou
sobre o amante. - Ela apertou os lábios. ─ Depois que ele morreu, o amante entrou com
uma ação e tentou obter uma "compensação pelas atenções do meu marido."
Os olhos dele brilharam.
─ O que você fez?
─ Eu coloquei os advogados da empresa em cima dele. Foi brutal. Ele acabou com o
que merecia... nada. E além disso, ele até teve que pagar as custas judiciais. - Os olhos
dela escureceram. ─ Ouvi dizer que ele foi para Acapulco exercer sua profissão e foi
vítima de um gângster. Coitadinho.
─ Você gostava do seu marido.
Ela assentiu.
─ Ele era uma boa pessoa. - Ela olhou para ele. ─ As pessoas são o que são. - Disse ela
com um sorriso triste. ─ Acho que não temos o direito de dizer a ninguém como viver.
 ─ Amém. - Ele concordou, e levantou o copo. Ela levantou o dela também. Ele largou
o copo e riu. ─ Bem, de um sobrevivente para outro, foi uma noite agradável.
─ Para mim também. - Ela se levantou e sorriu para ele. ─ Desculpe se estraguei seus
planos.
Ele encolheu os ombros.
─ Acho que estou ficando velho. Eu realmente não me importo.
─ Não me entregue, por favor. - Disse ela. ─ Eu gosto de ser a bruxa sedutora residente.
A maioria dos homens foge como o inferno da imagem que apresento. - Ela riu. ─ Eles
temem não estarem à altura e eu contar sobre eles para outras pessoas!
Ele riu também.
─ Sem problema. Só não fale de mim.
─ Oh, você só vai receber elogios. O amante mais incrível de todos os tempos, um
monumento à humanidade, homens em todos os lugares deveriam ter ciúmes!
─ Não faça isso. - Ele riu. ─ Nunca vou estar a altura dessa imagem.
─ Vou modificá-la apenas um pouco.
─ Obrigado pelo conhaque. E a companhia.
─ Eu gostei também. - Ela o estudou em silêncio. ─ Você é um dos Griers de perto de
El Paso, no Texas. Você cria gado Santa Gertrudis de raça pura.
Ele assentiu.
─ Mas você está brincando de ser um cowboy.
Ele encolheu os ombros.
─ Eu cansei de ser um talão de cheques ambulante.
─ Eu conheço esse sentimento também. Se você ficar entediado, venha. Eu jogo xadrez
razoavelmente.
Seus olhos castanhos claros brilharam.
─ Eu também.
Ela parou para anotar seu número em um pedaço de papel.
─ Não está na lista.
Ele deu a ela o número do celular.
─ Entrarei em contato.
Ela sorriu.
─ Mas apenas amigos.
─ Apenas amigos. - Prometeu.

***

Bart ainda estava acordado quando Cort parou à porta da frente e desligou o
motor. Ele sentiu um pouco de vergonha do que havia perguntado a seu primo sobre
trazer Ida para casa com ele. Bart não era mulherengo e não se movia com os tempos.
Cort nunca deveria tê-lo deixado desconfortável sobre suas crenças.
Ele estava hesitante quando entrou na sala de estar. Isso era atípico.
─ Escute... - Ele disse a Bart. ─ eu sinto muito. Sobre o que perguntei.
Bart não era uma pessoa de guardar ressentimentos. Ele apenas deu de ombros.
─ Gosto não se discute. - Disse ele, citando seu falecido pai. ─ Sua vida privada não é
da minha conta. Contanto que você não tente trazê-la para cá. - Ele acrescentou com um
sorriso.
─ Justo. - Ele se sentou lentamente. ─ Acho que estou ficando velho. Hoje em dia, as
mulheres não têm nenhum mistério para mim.
─ Até a feliz divorciada? - Bart perguntou com uma risada.
Ele balançou a cabeça.
─ Ela não é o que parece.
─ Isso acontece muito por aqui. - Respondeu Bart, pensando em sua amiga Mina.
O rosto dele ficou tenso.
─ Essa sua "amiga" é irritante. - Ele murmurou. ─ O que diabos ela estava fazendo em
uma festa da alta sociedade em primeiro lugar? Aposto dinheiro de verdade que o
vestido dela saiu do cesto de pechinchas em alguma loja de roupas.
Bart quase disse a ele. Quase. Mas era divertido ver seu primo fazer suposições.
Quando ele soubesse a verdade seria hilário.
─ Ah, eles convidaram toda a comunidade. - Disse ele.
─ Disseram que a festa deveria ser para alguma autora em ascensão. - Cort retrucou. ─
Mas não fui apresentado.
─ Havia muitas pessoas. - Bart disse rapidamente. ─ Eu apenas fiquei em um canto com
os Callisters e Mina. - Sua boca puxou para baixo de um lado. ─ Nenhum de nós bebe.
─ Você não sabe o que perdeu. - Cort riu. ─ Eles tinham alguns licores finos.
─ Eu gosto do meu cérebro funcional.
─ Eu também, mas uma bebida ocasional ajuda a dar a ele umas breves férias. - Brincou
seu primo.
Bart riu. E levantou.
─ Bem, eu estou indo para a cama. Não sou muito fã de festas e tenho um homem que
vem pela manhã examinar meus touros de um ano para ver se ele sente vontade de
gastar algum dinheiro.
─ Seu gado é excelente. - Disse Cort. ─ Gosto do seu programa de criação.
─ Bem, não está de acordo com os padrões dos Grier. - Bart disse com um sorriso. ─
mas eu consigo o suficiente para manter o rancho funcionando, mesmo que eu crie
Black Angus em vez de Santa Gertrudes.
─ Tudo o que você precisa é de uma esposa e de alguns filhos para herdar o lugar
quando você se for.
─ Bem que eu queria. - Disse ele, suspirando. ─ Essa sua "amiga" parece gostar
bastante de você. - Ele retrucou com uma careta.
─ Eu já disse, não há faísca. - Bart respondeu com um sorriso triste. ─ É como dançar
com uma irmã. Nada como eu me sentia com a mulher que se casou e se mudou. Eu não
tenho sorte com as mulheres. - Ele balançou a cabeça. ─ Acho que alguns de nós
simplesmente não estão destinados a ajudar a povoar o planeta. Talvez isso não seja
uma coisa ruim. Até amanhã.
─ Sim. Até amanhã.
Cort entrou no quarto de hóspedes e se despiu. Ele não estava com sono. Na
verdade, odiava dormir, porque os sonhos vinham. Em todos, ele estava de volta à
guerra, de volta ao horror, ao sangue, à carnificina. Ele puxou o cobertor e virou.
Talvez, apenas talvez, hoje à noite ele conseguisse dormir sem sonhar.

***

Mina ficou quieta enquanto o veterinário local, Ted Bailey, verificava os pontos
que deu em seu jovem touro.
Ele se levantou e sorriu.
─ Ele vai ficar bem, Srta. Michaels. - Disse ele depois de um minuto. ─ Nenhuma
evidência de infecção e parece estar cicatrizando bem. Mas eu o observaria por mais
alguns dias, da mesma forma.
─ Eu farei isso. Obrigada, Dr. Bailey.
─ De nada. - Ele apertou a mão dela e foi até a caminhonete. Ela o seguiu para fora
depois de outro olhar para seu jovem touro. Estava agradecida pelo Velho Charlie não
ter causado nenhum dano pior a ele.
Bill McAllister tinha acabado de colocar Charlie em seu trailer de cavalos, com
uma pequena ajuda de seus outros cowboys de meio período e algumas tentativas. O
velho touro odiava reboques. Ele lutou contra as cordas e os cowboys, mas eles
conseguiram colocá-lo no trailer sem que ninguém se machucasse.
─ Bem, isso foi uma aventura. - Bill riu.
─ Eu percebi. - Disse Mina com um sorriso. ─ Obrigada pela ajuda, pessoal. - Disse ela
aos funcionários de meio período, que assentiram e voltaram ao trabalho.
─ Vou levar Charlie para casa e deixá-lo no pasto, depois volto. Mais uma vez
obrigado, Srta. Mina.
─ Oh, de nada. - Ela disse com um sorriso caloroso. ─ Estou feliz por não precisarmos
eutanaziá-lo. Ele está aqui há um tempo. Desde que me formei no ensino médio, na
verdade. - Seu rosto ficou tenso com a lembrança do que havia acontecido antes da sua
formatura.
─ Você tem um bom plantel de touros e mais alguns previstos. - Disse Bill
imediatamente, esperando eliminar a expressão do rosto dela. Ele sorriu. ─ Você terá
fazendeiros perambulando por aqui aos montes, esperando comprá-los no dia da venda.
Ela fez uma careta.
─ Minha operação não é grande o suficiente para os dias de venda, receio. - Disse ela. ─
Bart e eu nos juntamos e vamos fazer no rancho dele. Ele vai tirar Dan Carruthers da
aposentadoria para cozinhar bifes no dia. Dan tem uma receita secreta de tempero. - Ela
acrescentou com um sorriso. ─ Estou atrás há anos.
─ Ela será enterrada com ele. - Bill previu. Houve um barulho alto no trailer do cavalo.
─ É melhor eu ir embora. Volto em breve.
─ Até logo. - Ela disse.
Ela o viu partir. Tinha terminado um capítulo de seu novo livro naquela manhã e
precisava de um pouco de ar fresco. Ela selou Sand, montou, vestida de jeans, botas e
uma camisa de lã xadrez vermelha sob uma jaqueta de couro, um chapéu de caubói por
sobre os cabelos soltos. Ela pretendia prendê-lo, mas a chegada de Bill com o reboque
do cavalo a interrompeu. De qualquer maneira, não importava, ela considerou, porque
ninguém a veria, exceto seus funcionários em meio período, e mesmo assim à distância.
Ela cavalgou ao longo da linha da cerca, através dos pinheiros Lodgepole, em
direção ao limite que compartilhava com o rancho de Bart Riddle. Eles possuíam a
mesma raça de gado, Black Angus, para que não houvesse preocupação com
cruzamentos se um touro passasse por uma cerca caída. Além disso, era a estação errada
para a reprodução. Suas vacas e as de Bart logo teriam os bezerros, bem a tempo do
pastoreio na primavera. Enquanto andava, procurou estacas que precisavam ser
substituídas. Ela as anotou em seu iPhone com GPS, para que pudesse dizer aos
funcionários em tempo parcial onde encontrá-las.
O primo Rogan disse que ela precisava de pelo menos um homem em tempo
integral no rancho, e ela concordou. Mas seria caro contratar alguém, e ela não confiaria
seus touros de raça pura a alguém que conhecia apenas por um anúncio de jornal ou
revista. Todavia, ela podia pagar por um agora, com o dinheiro do novo contrato e o que
obteria, esperançosamente, com sua produção de touros de um ano.
Talvez Bart conhecesse alguém local que seria um bom empregado. Ela queria
alguém de confiança.
Estava um dia bonito, mesmo frio, meados de março e suas vacas estariam
parindo em breve, aproveitariam a grama da primavera, que esperançosamente, chegaria
até os tornozelos depois que a neve derretesse. O tempo estava ficando mais quente. Ela
podia ver a neve derretendo onde o sol a atingia, embora ainda estivesse cobrindo o
chão na sombra. Neve no Wyoming não era nada incomum, inclusive até abril ou maio.
Mas tinha sido um inverno bastante quente, mesmo assim.
Ela chegou a um portão que ficava na divisa entre a terra dela e a de Bart.
Desmontou para abri-lo, levou Sand através dele e o fechou novamente. As pessoas que
deixavam os portões abertos eram severamente punidas no país dos ranchos. O gado
desgarrado podia ser dispendioso, principalmente se eles invadissem uma rodovia e
causassem acidentes.
Ela olhou em volta à procura de Bart. Ele deveria estar mostrando tudo a um
fazendeiro visitante, esperando vender alguns touros jovens. Ela não queria interrompê-
lo, mas era fim da manhã e ele provavelmente já havia terminado o negócio. O
convidaria para almoçar. Ela fez uma salada de atum e colocou na geladeira. E poderia
oferecer sanduíches e café.
Então ela se lembrou do hóspede dele. Bem, o homem horrível tinha ido para casa
com a alegre divorciada na noite anterior. Ele podia ter ficado para o almoço. Estranho,
como doía pensar nele com a deslumbrante mulher. Ele era cínico, sarcástico e
desagradável, então por que ela deveria se importar se ele dormia por aí?
Ela virou Sand na direção da casa de Bart. No caminho, encontrou um bezerro
sozinho, deitado na neve.
Ela desceu e deixou as rédeas de Sand soltas enquanto procurava ferimentos na
pequena criatura. Havia lobos no território que às vezes caçavam bezerros desgarrados.
O resultado podia ser horrível, porque às vezes os bezerros eram deixados vivos após o
ataque.
Enquanto estava abaixada, ouviu cascos batendo no chão e outros cascos,
galopando. Ela ignorou os dois enquanto suas experientes mãos enluvadas deslizavam
sobre a pequena criatura, procurando ferimentos. Ele se mexeu e olhou para ela no
momento em que uma vaca com chifres foi desviada por um homem a cavalo.
─ Afaste-se dele! - Ele gritou.
Chocada com seu tom e sua habilidade com o cavalo, ela se afastou em direção a
Sand. O bezerro ficou de pé e correu, berrando, até a vaca, obviamente sua mãe. Ela deu
aos humanos um bufo desagradável e partiu, depois de uma investida que o cavaleiro
desviou habilmente.
Ela ainda estava tentando acalmar sua respiração quando o cavaleiro desmontou
abruptamente e caminhou em sua direção.
─ O que diabos você estava pensando? - Ele rugiu, erguendo a voz com raiva. ─ A vaca
ia atacá-la, sua idiota!
Ela estremeceu e se afastou dele, mantendo o rosto pálido abaixado. O homem era
o hóspede horrível de Bart, seu primo do Texas.
Ela se afastou ainda mais. Seus olhos estavam arregalados de medo, mas ela não
estava vendo Cort Grier. Estava vendo Henry, ouvindo Henry, esperando o punho dele
acertá-la, esperando o cinto descer. Ela já estava sentindo a dor, porque gritos sempre
traziam de volta as horríveis lembranças de sua infância, dos homens que sua mãe
levava para casa...
Cort parou quando percebeu o quão assustada ela estava. E fez uma careta. Ele
nunca viu uma mulher reagir assim. E se perguntou quem ela era. Com a cabeça baixa
sobre o peito, os braços cruzados sobre o rosto, ele não a reconheceu. Quem era ela e o
que estava fazendo no rancho do seu primo?
─ Está tudo bem. - Disse ele, num tom de voz suave que ela nunca ouviu antes. Ele se
aproximou dela lentamente. ─ Eu nunca bati em uma mulher na minha vida. -
Acrescentou ele gentilmente.
Ela respirou fundo uma vez, depois outra vez. Os braços desceram. Ela mordeu o
lábio inferior, ainda nervosa com ele e incapaz de disfarçar.
─ Não há nada a temer. - Disse ele calmamente.
Ela olhou para ele por baixo da aba do chapéu, o rosto ainda pálido, os grandes
olhos castanhos arregalados com resquícios de medo.
Ele franziu a testa quando de repente a reconheceu. Esta era a amiga de Bart, a
mulher da cidade que pisou no seu pé, a mulher com o vestido de festa de liquidação da
noite passada. Ela estava usando botas e montando um cavalo, um belo palomino que
obviamente era dela.
─Você é a amiga de Bart. - Disse ele, sem se aproximar. Ela ainda parecia intimidada
por ele.
Ela assentiu. E engoliu em seco. Sua fraqueza era aparente para seu pior inimigo.
Ela estava constrangida e envergonhada. E engoliu em seco novamente.
Ele a estudou em silêncio, as rédeas de seu cavalo seguras levemente em uma
mão.
─ O que você estava fazendo aqui? - Ele perguntou tardiamente.
Ela teve que tentar duas vezes para fazer sua voz embargada funcionar.
─ Eu vi o bezerro deitado... - Ela conseguiu dizer. ─ e estava procurando ferimentos.
Temos lobos por aqui. Às vezes eles atacam nossos rebanhos quando não encontram
mais nada para caçar.
─ O bezerro foi separado da mãe porque estávamos checando o rebanho e ele se
dispersou. - Ele explicou.
Ela olhou para ele, ainda pálida, mas um pouco desafiadora.
─ E só agora eu sei disso, não é? - Ela perguntou.
Ele se aproximou mais. Ela não se afastou, mas parecia nervosa. Parecia frágil,
vulnerável, com seus longos cabelos castanhos loiros soltos ao redor dos ombros sob o
chapéu de cowboy. Era um chapéu gasto, como as botas manchadas e deformadas.
─ Você conhece sobre gado. - Disse ele depois de um minuto.
Ela assentiu.
─ Eu sou dona do rancho ao lado. - Disse ela. ─ Eu tenho touros de raça pura, assim
como Bart. Fazemos vendas de produção em conjunto. Eu estava indo falar com ele
sobre isso.
Ele ainda estava chocado com o comportamento inesperado dela quando gritou. E
se sentiu culpado. Algo aconteceu com ela, algo ruim. Ela, não apenas tinha medo de
vozes altas, mas parecia esperar que a violência as acompanhasse.
─ Você não viu a vaca avançando pra cima de você. - Disse ele depois de um minuto. ─
Eu não tinha certeza de que poderia pará-la a tempo. Eu perdi a cabeça. Sinto muito.
Ela não esperava o pedido de desculpas. Isso transformou o rosto duro e teimoso
em algo menos antagônico. Ela passou de um pé para o outro.
─ Eu nem a vi. Deveria ter percebido que o bezerro estava apenas separado dela. Eu
pensei que ele estava machucado.
Ele sorriu. Era um sorriso genuíno, não o sarcástico do primeiro encontro deles.
─ Então você tricota e cria gado.
Ela olhou furiosa para ele.
─ E uso vestidos baratos. Sim. Eu não gosto de me arrumar.
Ele encolheu os ombros.
─ Nem eu, de verdade. - Disse ele. ─ Estou mais em casa com o gado do que com
pessoas.
Ela sorriu timidamente.
─ Eu também. O gado é geralmente melhor do que as pessoas.
Ele riu.
─ Isso é uma indireta para mim?
Ela corou.
─ Na verdade não. Eu estava pensando em... outra pessoa.
Ele levantou o chapéu dela um pouco para que todo o rosto estivesse à vista.
─ Alguém gritou e bateu em você. - Ele disse abruptamente, e a viu estremecer e
morder o lábio inferior. ─ Um homem.
Ela se afastou um passo.
─ É história antiga. Eu preciso falar com Bart.
Ele queria prosseguir com a conversa. Ela o perturbava.
─ Tudo bem. - Ele disse em vez disso.
Ela se virou e voltou para Sand, batendo levemente em seu pescoço enquanto
pegava as rédeas e pulava na sela com facilidade.
─ Ele é lindo. - Disse ele, indicando sua montaria.
Ela sorriu.
─ Seu dono morreu e ele estava triste. Eles o tinham no celeiro de venda. Ele me viu,
correu até a cerca e abaixou a cabeça contra a minha. Eu sabia que ele me pertencia.
Meu primo me deu de presente de aniversário.
─ Seu primo?
Ela assentiu.
─ Rogan Michaels. Ele é dono de uma fazenda de gado na Austrália com Jake McGuire,
que também tem um rancho nos arredores de Catelow. - Ela riu baixinho. ─ Os ranchos
deles fazem o meu e o de Bart parecerem ranchos de hobby.*
Ele conhecia Rogan Michaels. Ambos possuíam ações de um empreendimento de
petróleo em Oklahoma.
─ Ele está por aqui? - Ele perguntou despreocupadamente.
─ Não. O primo Rogan é inquieto. - Disse ela, suspirando. ─ Ele voltou para a
Austrália. Ele odeia neve. Sua fazenda de gado, bem, dele e do Sr. McGuire, faz
fronteira com o deserto. Sem neve.
─ Eu gosto de neve. - Ele comentou, seus olhos deslizando sobre os pastos brancos. ─
Onde eu moro, é como o deserto a maior parte do ano. Ocasionalmente, nevamos.
Nunca o suficiente para nos incomodar.
─ Você trabalha em uma fazenda lá? - Ela perguntou.
* Rancho de hobby - É uma pequena propriedade ou pequena fazenda que é mantida sem a expectativa de ser a principal fonte de
renda. Alguns são apenas para fornecer um terreno recreativo e talvez alguns cavalos para os filhos da família. 

Ele assentiu, seu Stetson inclinado sobre um olho.


─ Trabalho com gado puro-sangue Santa Gertrudis em uma fazenda no oeste do Texas.
Ela olhou para ele.
─ Bart tem outro primo que é xerife do nosso condado. - Disse ela.
─ Cody Banks. - Disse ele. ─ Ele tem outro primo em San Antonio que é Texas Ranger.
─ Meu bisavô era xerife U.S. Marshal. - Disse ela. ─ E meu pai era policial em
Catelow, quando eu era pequena. - Disse ela tensa.
Ele franziu a testa.
─ Ele ainda está vivo?
Ela riu secamente.
─ Quem sabe? Eu não o vejo desde os nove anos. Ele fugiu com outra mulher. Não
tenho certeza de que minha mãe tenha notado que ele se foi.
Ela estava tão tensa quanto uma corda esticada.
─ Você não gosta de sua mãe. - Comentou.
─ Minha mãe morreu no ano em que me formei no ensino médio. - Era declarou.
─ De alguma doença?
─ Você pode chamar assim. - Disse ela calmamente. ─ O namorado dela estava bêbado.
Ele se chocou com um poste telefônico. Eles morreram instantaneamente.
Namorado. Ele estava tendo uma fria sensação sobre a vida dela, seu passado.
Bêbado. O namorado bebia? Ele era violento quando bebia? Isso podia explicar o
comportamento anterior dela. Ele se sentiu culpado por ter mencionado isso.
─ Meu pai se casou com uma modelo. - Disse ele, enquanto cavalgavam em direção à
casa de Bart. ─ Ela só queria o que ele tinha, bem, era um pequeno rancho. - Ele
mentiu. ─ E ela pensou que ele era rico. Ela conseguiu afastar o filho mais velho dele,
meu irmão, e não nos falamos por anos. Nesse meio tempo, papai descobriu que ela o
traía, e se divorciou... - Ele riu. ─ e curtiu a vida. Nós tínhamos mulheres em todo o
lugar.
Isso explicava sua atitude leviana em relação às mulheres, o que a lembrava da
alegre divorciada com quem ele havia ido para casa na noite anterior. Ela se sentiu
menos à vontade com ele.
─ Ele está casado agora. - Acrescentou. ─ Uma ex-repórter de jornal esbarrou nele e ele
se apaixonou perdidamente. Ele se mudou para Vermont com ela, para ficar perto da
família dela. O irmão dela morreu recentemente de câncer e ela queria estar perto de
seus parentes enquanto eles superam a dor.
─ Isso é triste. - Disse ela. ─ Ninguém na minha família teve câncer. Meu avô morreu
na arena de rodeios, atingido por um touro. Meu outro avô comprava e vendia gado e
morreu de velhice. Impossível saber.
─ Verdade.
Eles estavam no portão que levava à casa de Bart e, ao alcançá-lo, viram Bart
vindo em sua direção a pé, sorrindo.
─ Eu conheço esse sorriso. - Cort riu. ─ Você vendeu um touro, não foi?
─ Vendi dois. - Bart respondeu com um sorriso. ─ Eu posso pagar os impostos!
─ Eu também. - Disse Mina, sorrindo. ─ Bem, se pudermos fazer uma venda de
produção juntos no final do mês. - Acrescentou ela quando Bart abriu o portão e ela e
Cort passaram. ─ Não posso me dar ao luxo de fazer isso sozinha. Além disso... -
Acrescentou ela com um suspiro. ─ sou muito tímida para convidar alguém de fora para
olhar os bezerros.
─ Falando nisso... - Interrompeu Cort. - Ela quase foi chifrada no pasto por uma mãe
zangada quando se inclinou para verificar um bezerro deitado.
─ Oh, meu Deus! - Explodiu Bart. ─ Você está bem? - Ele perguntou rapidamente, seus
olhos a examinando.
─ Estou bem. Seu primo realmente sabe andar a cavalo. - Acrescentou ela com elogios
relutantes. ─ Ele me salvou. Eu pensei que o bezerro estava ferido e parei para checá-lo.
─ Obrigado, mas não arrisque sua vida. - Acrescentou. ─ Você sabe que eu não tenho
gado desgarrado por aqui.
Ela fez uma careta.
─ Eu sei. Eu só não estava pensando. Acabamos de embarcar o velho Charlie para Bill
levá-lo para para a casa dele. Ele era um touro terrível, mas eu já sinto falta dele.
─ Você sempre pode ir até o pasto de Bill e visitá-lo quando quiser. - Disse Bart.
Ela assentiu.
─ Velho Charlie? - Cort perguntou.
Eles desmontaram.
─ Ele é o meu touro mais velho. - Ela disse a ele. ─ Ele machucou tanto um dos meus
touros jovens que ele teve que ser eutanaziado. E tornou a fazer o mesmo com outro
touro jovem agora só que os ferimentos foram menores e ele vai ficar bem. Não pude
mantê-lo e não queria vendê-lo para alguém que pudesse ter a mesma má sorte. Bill não
tinha um touro. Então eu dei Charlie a ele.
Ele a estava observando com verdadeiro interesse. Ela melhorou com um contato
mais próximo. Ele sorriu devagar. Uma mulher que conhecia gado, que podia andar a
cavalo. Ele nunca imaginaria que essa pequena mulher briguenta fizesse mais do que
tricotar.
Bart interceptou esse olhar e cerrou os dentes. Cort era mulherengo. Mina era
solitária, com boas razões para não confiar nos homens. Era um desastre procurando um
lugar para acontecer, mas ele não sabia como impedi-lo. Mina não gostava de Cort, mas
admirava a maneira como ele impediu a mamãe vaca de atacá-la.
Algo aconteceu além disso. Ele sabia disso pela maneira como os dois pareciam.
E tiraria isso de Cort mais tarde, decidiu.
─ Quer entrar e almoçar com a gente? - Bart perguntou.
Ela decidiu esquecer o convite para a salada de atum, porque realmente não queria
sentar e tentar comer com Cort, e também precisava convidá-lo por educação.
─ Obrigada. - Disse ela. ─ Mas tenho coisas para fazer em casa. Eu só queria perguntar
sobre a venda da produção.
─ Vou reunir algumas informações e envio uma mensagem para você mais tarde. Tudo
bem?
Ela assentiu.
─ Vou ter quatro crias de Michaels Red Diamond. - Disse ela. ─ E seis de Michaels
Charles Rex.
─ Bezerros de Charlie? - Bart perguntou.
Ela sorriu.
─ Quatro deles são de Charlie. Agora que Bill tem alguns Black Angus de raça pura,
talvez ele possa vender bezerros junto conosco no próximo ano.
Ele riu.
─ Conhecendo Bill, ele provavelmente dará nomes a todos, colocará coleiras e
comprará brinquedos para eles. Duvido que ele venda um único.
Ela riu.
─ Provavelmente.
─ É Bill McAllister, quem trabalha para você? - Cort perguntou ao primo.
─ Sim, é. Mina e eu o compartilhamos, em meio período. Nenhum de nós pode
realmente pagar ajuda em tempo integral.
─ O primo Rogan diz que tenho que ter uma mão em tempo integral no rancho. -
Retrucou Mina com resignação. ─ Então eu preciso que você me recomende alguém.
Não vou ter um homem estranho em minha casa. - Acrescentou ela com firmeza.
─ Eu sei disso. - Disse Bart gentilmente. ─ Eu vou encontrar alguém para você. Se não
puder, pedirei uma recomendação a Jake McGuire ou John Callister.
─ Isso seria gentil da sua parte. Sei como fazer quase tudo no rancho, mas não tenho
tempo para fazê-lo todos os dias. - Ela franziu o cenho. ─ Eu odeio ter alguém por aí o
dia todo.
─ Vou garantir que seja alguém que não a interrompa. - Ele apertou os lábios. ─ Como
você deve se lembrar, eu quase fui atingido no rosto por uma bota quando fiz isso
daquela vez. - Ele se lembrou de tê-la interrompido no meio de uma cena que ela estava
escrevendo.
─ Eu não sabia que era você. - Disse ela, defendendo-se. ─ Eu pensei que era Kit, e ele
sabe se esquivar. - Ela balançou a cabeça. ─ Ele é como uma força da natureza. Você
não pode fazê-lo entender que precisa ficar quieto, ele continua falando até você
responder.
Cort não entendeu coisa alguma do que estava ouvindo. O que alguém
interromperia que faria com que a mulher jogasse uma bota nele?
─ Eu vou para casa. - Disse ela com um sorriso. ─ Mas acho que vou pegar a estrada da
frente para casa, caso a ma vaca mãe ainda esteja por perto no pasto.
Ele riu.
─ OK. Vou abrir o portão para você.
Cort a estudou em silêncio enquanto ela montava.
─ Seja cuidadosa. Temos cavalos que disparam quando carros passam por eles na
estrada.
─ Sand* não se incomoda com nada. - Assegurou ela, sorrindo enquanto afagava o
pescoço do cavalo. ─ Ele é sempre calmo.
─ Sand? - Ele perguntou.
─ Bem, ele é amarelo, não é? - Ela perguntou. ─ Como a areia do deserto.
Deserto. Areia. O rosto dele endureceu. Treze anos e ainda era ontem.
─ Como areia do deserto. - Disse ele, e se virou.
Os olhos dela o seguiram, curiosos sobre sua mudança abrupta de expressão, mas
Bart a chamou. Ela virou Sand e foi em direção ao portão.
─ Vou mandar uma mensagem para você. - Ele repetiu.
Ela sorriu.
─ Estarei esperando. Obrigada Bart. Eu estou muito agradecida.
─ Não tem problema. Temos que ficar juntos ou nós dois vamos à falência.
─ E é verdade, não é? - Ela riu. ─ Até logo!

CAPÍTULO QUATRO
Bart havia enviado um de seus funcionários de meio período a Catelow para pegar
um balde de frango e biscoitos. Ele sabia cozinhar, mas tinha sido um longo dia e ele
queria alguma coisa que ele mesmo não precisasse fazer. Ele e Cort sentaram à mesa e
comeram.
─ O que aconteceu no pasto? - Bart perguntou enquanto bebia o café.
Cort terminou o último pedaço de frango e pegou sua xícara de café.
─ Ela estava examinando o bezerro quando a mãe a atacou. Ela não a ouviu ou viu.
Deus! Eu nunca pensei que chegaria até ela a tempo! Eu mal consegui. Bloqueei a vaca
e gritei com ela. - Ele fez uma careta. ─ Eu nunca vi uma mulher reagir daquela maneira
a uma voz alta.
─ Você não conhece o passado de Mina. - Disse Bart em voz baixa. ─ A mãe adorava
homens. Plural. Ela foi amante de um homem rico por um tempo. E o chantageou,
ameaçando contar tudo à esposa dele. Bem, a esposa dele descobriu e era ela quem tinha
todo o dinheiro. Então, depois disso, a mãe de Mina pegou qualquer homem que
estivesse disposto a pagar as contas. Eles vinham e iam, e havia muitos deles.
Cort tomou um gole de café, o rosto solene.
─ Acho que um deles bateu nela.
Bart assentiu.
─ Sim. Ela não fala muito sobre isso, mas acho que foi mais de um. Outro queria fazer
um mènage com ela e a mãe, e ela se escondeu na floresta a noite toda.
Cort estremeceu.
─ Minha mãe era uma santa. - Ele disse suavemente. ─ Eu pouco me lembro dela, mas
papai falava muito sobre ela. Ela o amava muito. Nunca houve outro homem.
─ A mãe de Mina não era assim. O último homem com quem ela morou foi Henry. Ele
era alcoólatra e, quando ficava bêbado o suficiente, era violento. Ele espancou Mina,
gravemente. Ela ligou para o xerife, mas quando o auxiliar chegou, a mãe dela mentiu e
disse que Mina caiu da escada e culpou o pobre Henry, que nunca levantou um dedo
para ela. O auxiliar foi embora sem prendê-lo. Cody Banks, nosso primo que é o xerife,
não acreditou na mãe dela e tentou pegar Henry em flagrante. Nunca conseguiu.
Quando Mina tinha dezoito anos, Henry e a mãe dela morreram a caminho de um bar,
em um acidente de carro. Ela herdou o rancho, mas as memórias são bastante ruins. Ela
não namora.
*Sand - Areia

─ Agora eu entendo o porquê. - Disse ele. ─ Ela tem medo de que um homem com
quem ela se envolva possa ser exatamente como o namorado bêbado da mãe.
─ É por isso.
Cort estava lembrando o sonho que teve, da mulher sombria chorando, assustada,
dizendo que nunca confiaria em um homem. Que estranho, ele pensou. Era quase como
se ele tivesse algum tipo de vínculo mental com uma mulher que ele nem conhecia.
─ Todos nós, em Catelow, sabemos sobre Mina. A mãe dela era sórdida. - Ele olhou
com raiva. ─ Havia um garoto, quando Mina tinha dezesseis anos. Ela era louca por
ele. Ele também gostava dela. Ele a convidou para sair e foi à casa dela buscá-la. A mãe
dela foi pra cima dele. No dia seguinte, ela atraiu o garoto para o carro dela depois da
escola e o seduziu.
─ Oh, meu Deus! - Cort disse com raiva.
─ Ele estava muito envergonhado para encarar Mina. Isso também circulou pela escola.
Então lá se foi o único gostinho real de romance dela. - Ele balançou a cabeça. ─ Ela
teve uma vida infernal.
─ A mãe dela deveria ter sido processada por abuso infantil. Seduzindo um adolescente!
- Ele zombou.
─ Ela deveria ter sido processada pelo que fez com Mina. - Ele concordou. ─ Ela odiava
sua única filha. Eu nunca entendi o porquê. Mina também não. Ela sofreu depois que o
pai foi embora. Anos e anos de puro inferno até que a mãe finalmente morreu.
─ E eu pensei que tinha problemas, com a modelo do meu pai.
As sobrancelhas de Bart se ergueram.
─ Como assim?
─ Ela me odiava. Bem, ela odiava todos nós, crianças. Éramos quatro. Ela brincava
conosco, fingia que era louca por nós, até que fez papai a cobrir com diamantes, ações e
títulos e se casar com ela. Então as garras surgiram. - Ele suspirou, lembrando. ─ Cash a
odiou desde o começo. Ele viu através da sua encenação. Nós não, e isso o afastou da
família. Cash ficou com o pior porque ele era o favorito do papai. Na verdade, acho que
Cash deveria herdar o rancho, mas depois de todo o drama e afastamento, Cash disse
que nunca voltaria ao oeste do Texas, mesmo depois que papai viu o que ela realmente
era e se divorciou. Garon ingressou no FBI e morou em todo o país. Parker está em
Montana, com o Departamento de jogo e pesca. Isso me deixou, herdar Latigo. Papai
disse que, se eu não aprendesse a administrar o rancho, todo o lugar iria para leilão.
Então eu aprendi a administrar o rancho.
Bart ficou surpreso.
─ Você não queria?
O sorriso de Cort era cansado.
─ Eu queria ser mercenário, como Cash. Ele vivia uma vida mais emocionante do que
qualquer outra pessoa que eu conhecia. Parecia romântico. Você sabe, um matador,
como nos velhos filmes de caubói. - Seu sorriso desapareceu. ─ Só que não é assim.
Entrei para o exército porque me sentia patriota. Parecia nobre, defender o país, ir para
o Iraque, combater insurgentes. - Ele se recostou na cadeira. ─ Eu aprendi o que Cash já
sabia. Que tirar uma vida não é tão simples quanto parece nos filmes. Que ver seus
amigos, que estão com você desde o começo, estraçalhados por um IED, morrendo no
meio de uma frase ao seu lado de um ataque de um franco atirador, essas coisas são
realmente suavizadas, mesmo nos filmes mais realistas. Na vida real... - Ele acrescentou
friamente. ─ elas não são românticas. Quando saí do exército, voltei para casa e me
joguei de coração e de alma na fazenda. Eu entendi por que Cash era tão sozinho, por
que ele nunca se misturou conosco, com ninguém. Quando Garon abriu as portas para
nós com ele, fui a Jacobsville visitá-lo. Conversamos muito. - Ele tomou mais um café.
─ Eu o entendi então. Garon também, que passou anos com a equipe de resgate de
reféns do FBI. Todos nós matamos e quase fomos mortos. É um clube muito exclusivo.
Nenhuma pessoa sensata gostaria de pertencer. - Acrescentou.
Bart assentiu.
─ Eu estive no Afeganistão. - Disse ele depois de um minuto. ─ Passei toda o meu
período de serviço dormindo no chão com uma pedra como travesseiro, esquivando-me
dos atiradores de elite, escondendo-me dos insurgentes que estavam nos perseguindo.
Quando voltei para casa, estava tão nervoso que pulava de susto se o cano de descarga
de um carro estourasse.
Cort inclinou a cabeça.
─ Eu não sabia que você tinha ido para o exterior.
─ Não conversamos muito, a não ser nos últimos dois anos. - Lembrou o primo.
─ Isso é verdade. Imagine encontrar alguém em uma convenção de gado e descobrir
que é seu parente. - Cort riu. ─ Isso vai entrar para a história. Nós éramos como irmãos
quando voltamos para casa. Pense em todos os anos em que sentimos falta de amigos,
porque nunca nos conhecemos.
─ Você veio ver Cody uma ou duas vezes, mas foi enquanto eu estava no exterior. -
Disse Bart.
─ Sim, foi. Pobre Cody. - Acrescentou ele em voz baixa. ─ Ele ainda não superou a
morte da esposa.
─ Ela era uma boa médica, dizem. - Bart respondeu. ─ Acho que ele a lamentará pelo
resto da vida. Ele não namora ninguém. Vive com aquele cachorro que ela deu a ele no
ano em que morreu.
─ Bem, ficar sozinho não é tão ruim. - Respondeu Cort. ─ Eu tenho o rancho só para
mim, exceto pelas raras visitas de meus irmãos. Até papai costumava estar fora em
busca de uma mulher a maior parte do tempo. Éramos apenas o gado e eu.
─ É assim aqui. Só o gado e eu. - Bart sorriu. ─ Você está certo. Não é tão ruim. Eles
não reclamam. Não querem que eu compre coisas para eles. Nem fazem beicinho
quando eu os ignoro por um dia inteiro.
Cort jogou a cabeça para trás e rugiu de rir.
─ Eu nunca pensei assim. - Confessou.
─ Pense agora. - Bart completou.

***
Naquela noite, Mina teve sonhos. Pesadelos. Eles voltaram com uma vingança,
provavelmente por causa do que aconteceu no pasto do seu amigo com o bezerro. Ela se
levantou às três da manhã e fez café.
A casa estava vazia. No rancho tinham alguns gatos que moravam no celeiro para
afastar os ratos, mas ela não tinha um animal de estimação dentro de casa. Ela pensou
em conseguir um cachorro, mas eles exigiam muita atenção e ela viajava de vez em
quando para promover seus livros. Isso implicaria em aprisionar um animal de
estimação por longos períodos de tempo. Então ia acariciar os gatos do celeiro quando
estava particularmente se sentindo sozinha. Só não fazia isso às três da manhã, no
escuro.
Ela se sentou à mesa da cozinha e tomou um gole de café. Aquele homem, Cort,
gritou com ela e trouxe de volta lembranças terríveis. Ele se arrependeu depois.
Finalmente, ela se deu conta que ele estava com medo de não poder salvá-la do ataque
da mãe vaca. Imagine só, ela pensou consigo mesma com um leve sorriso. Ele
realmente teve medo por ela, depois de todos os insultos que trocaram.
No entanto, ela não podia ser afável com ele. Esse era o caminho para o desastre.
Só porque ele a salvou de ser chifrada isso não o transformava em um objeto de sonhos
românticos.
Ele era apenas um cowboy, e ela sabia por experiência própria que muitos eram
nômades, nunca se estabeleciam. Eles gostavam de diversidade não apenas no trabalho,
mas também com as mulheres. Cort tinha uma maneira muito sensual de olhar para uma
mulher, e não era preciso muita imaginação para saber que ele era experiente. Ele
passou a noite com a alegre divorciada, o que o maculou aos seus olhos. Todo mundo
conhecia a reputação da mulher. Ela era uma devoradora de homens. Bem, Cort era um
mulherengo, pelo que seu primo disse. Talvez fossem um casal perfeito, o homem
insensível e a mulher promíscua.
Isso a magoou. Não devia. Ela não estava interessada no cowboy que trabalhava
para Bart. Ela precisava parar de pensar nele. Havia uma maneira, pelo menos. Ela
levou o café quente para a mesa na sala e ligou o computador. Quando o mundo estava
sobre seus ombros, escrever era sua salvação. Ela viveu em seu mundo de fantasia por
anos, escapando de sua mãe e dos namorados bêbados que ela levava para casa. Era um
lugar brilhante e bonito, onde viviam seus heróis e heroínas, e nenhuma maldade era
permitida lá.
Ela sorriu quando abriu o capítulo em que estava trabalhando e começou a digitar.
Ela sempre se perguntava de onde as palavras vinham. E não tinha ideia do que os
personagens fariam até começar a escrever, e então eles contavam sua própria história.
Era um processo fascinante e delicioso que nunca deixou de intrigá-la. Ela não tentava
entendê-lo. Simplesmente o aceitava.

***

Ela foi convidada para a casa dos Simpsons no final da semana por Pam Simpson,
que foi quem organizou a festa para ela.
─ Você simplesmente tem que vir. - Disse ela a Mina animadamente. ─ Um dos seus
maiores fãs acaba de chegar da Austrália e quer conhecê-la. Ele lê seus livros enquanto
cuida das vacas primíparas até que elas dêem à luz! Ele diz que vai fazer isso na fazenda
de Catelow durante algum tempo. Bem, você sabe que seu primo Rogan é parceiro dele,
e Rogan ainda está na Austrália gerenciando a fazenda de lá.
─ Sim eu sei. É o senhor McGuire? - Ela perguntou em voz alta. ─ Acho que o conheci
há muito tempo. Quando minha mãe estava viva. - Acrescentou ela em voz baixa. Ela
não disse a Pam que sua mãe havia se jogado para McGuire, que era anos mais novo, e
ele a rejeitou. Seu nome nunca foi mencionado em casa depois disso.
─ É. - Disse Pam. ─ Jake McGuire. Ele é muito agradável. O cozinheiro preparou uma
refeição especial, apenas em homenagem a ele. Bem, em sua também. Então você tem
que vir almoçar.
Mina riu.
─ Está bem então. Isso vai me salvar de ter que cozinhar. Não que eu não goste, mas há
muitas sobras quando você está cozinhando apenas para uma pessoa.
─ Eu posso imaginar. Então, contamos com você.
─ Que horas?
─ Onze em ponto.
─ Estarei lá.
***
Mina não via Jake McGuire há muito tempo. E ficou um pouco intimidada por
ele. Afinal, ele era um multimilionário e ela estava apenas começando a deixar sua
marca como autora.
Ele estava acostumado a mulheres sofisticadas e que usavam alta costura. Tudo o
que Mina tinha eram roupas de pronta entrega. Mas ia usar o melhor vestido que tinha.
Ela colocou o seu vestido mais bonito, de primavera, confeccionado em tom pastel
floral* com decote em V, mangas largas, cinturado e comprimento médio. Deixou o
cabelo solto e experimentou levemente a maquiagem que Sassy Callister lhe deu. E,
pensou, não parecia assim tão má.
Jake obviamente a achou muito bonita, porque ele apenas a encarou, sorrindo,
quando Pam os apresentou.
Ele era bonito. Muito bonito. Alto e bronzeado, com cabelos escuros e olhos
prateados claros, e um físico que deixaria um peão de rodeio vaidoso. Estranho que um
homem com essa aparência e rico não fosse casado. Talvez ele fosse romântico e
quisesse um relacionamento de conto de fadas que tanto homens quanto mulheres
sonhavam.
─ Nós nos conhecemos há muito tempo. - Começou Mina, hesitante.
─ Não, não nos conhecemos. Estamos nos conhecendo agora. - Ele disse gentilmente e
sorriu. ─ Aqueles dias passados e terríveis já terminaram.
Ela soltou um suspiro.
─ Sim, graças a Deus. - Respondeu ela, agradecida por Pam ter entrado na cozinha para
verificar o andamento do almoço. ─ Minha mãe foi minha pior inimiga, a maior parte
da minha vida.
─ Eu sei disso. Mas ela se foi. Você está segura agora.
A maneira como ele disse isso a fez se sentir acolhida e reconfortada. Ela sorriu
para ele.
─ Obrigada. Por não me culpar, pelo que ela fez. - Acrescentou
─ Como alguém pode culpá-la? - Ele perguntou. O rosto tenso. ─ Todos nós sabíamos o
que ela era. Rogan ficou furioso quando percebeu o que ela tentou fazer com você, o
que deixou o namorado bêbado fazer. A Austrália é muito longe. Não recebemos
nenhuma notícia de casa!
─ O primo Rogan manteve o rancho solvente, pelo menos. - Disse ela. ─ Não sei o que
eu teria feito se ele não tivesse administrado o rancho. Ele comprou um computador pra
mim e manteve as contas pagas até que eu aprendesse a comprar e vender gado, e
especialmente até começar a vender livros. Ele era meu maior fã. E sempre acreditou
que meus livros pudessem ser publicados.
─ Eu também. - Ele respondeu. - Seu primo me contou sobre SPECTRE. Comprei uma
cópia e fui fisgado! Eu nunca imaginei que uma mulher poderia escrever em um estilo
praticamente masculino sobre mercenários, policiais e soldados. Você até conhece sobre
armas.
Ela sorriu.
─ Eu conheço um grupo de mercenários que me adotou há alguns anos. - Confessou. ─
De vez em quando eles me levam nas missões, para que eu tenha uma noção real sobre
o que estou escrevendo. Foi assim que surgiu a ideia para o SPECTRE. Eu o dediquei
aos caras.
─ Eu estava me perguntando sobre a dedicatória. - Ele provocou.
Ela riu.
─ Eu também pedi informações ao primo de Bart, Cody. Ele é xerife do Condado de
Carne há muitos anos.
─ Ele é, de fato. É um bom homem também. Que pena o que aconteceu com a esposa
dele.
─ Sim, foi. Ele tentou me ajudar, antes de minha mãe morrer. Ele simplesmente não
conseguiu nada contra Henry que pudesse usar para afastá-lo. - O rosto dela endureceu.
─ Henry era um aproveitador.
─ Eu posso pensar em alguns adjetivos melhores. - Ele sorriu para ela. ─ No entanto,
você superou isso. O que não nos mata...
─ Nos fortalece. - Ela terminou e riu. ─ O slogan favorito do primo Rogan. - Lembrou.
─ E verdadeiro.
─ O almoço está pronto. - Pam chamou da sala de jantar. ─ Venham!

***

O almoço estava delicioso. O cozinheiro fez uma quiche de bacon e ovos com
frutas frescas e um molho de sementes de papoula, seguido de cerejas flambadas como
sobremesa.
─ Não me lembro de quando tive comida melhor. - Disse Jake enquanto tomava sua
última xícara de café.
─ Nem eu. - Acrescentou Mina, sorrindo para Pam. ─ Estava delicioso!
─ Estou feliz que você tenha gostado. - Disse Pam. Ela arqueou as sobrancelhas. ─
Estava delicioso o suficiente para você me dizer sobre o que será o novo livro que está
escrevendo?
Mina riu.
─ Você sabe que nunca falo sobre meus livros enquanto os escrevo. Eu tenho medo que
de azar!
Pam suspirou.
─ Eu sabia que você diria isso.
─ Posso dizer que o herói é um mercenário e o cenário é o Texas. - Mina disse.
─ Uau! - Pam franziu a testa.
─ Por que não no Wyoming?
─ Bem, eu sou daqui. - Disse Mina. ─ E o Texas é um dos meus estados favoritos.- Ela
suspirou. ─ Zane Gray* escreveu sobre o Texas. Eu acho que tenho todos os livros dele.
*Zane Grey - Pearl Zane Grey foi um dentista e escritor norte-americano, mais conhecido por seus populares romances de aventura
e histórias associados com o gênero faroeste.

─ Eu também. - Disse Jake. ─ Eu cresci com caubóis. Acho que é por isso que fiquei
tão feliz em herdar o rancho do meu pai.
─ O rancho do seu pai estava uma bagunça. - Pam disse com um brilho nos olhos. ─
Sem dinheiro e praticamente falido. Você o transformou em um negócio viável e fez
uma fortuna com ele.
─ Com pretóleo e minerais, principalmente. - Confessou rindo. ─ Adoro gado, mas os
produtos derivados do subsolo me enriqueceram.
─ Eu preciso que um magnata do petróleo olhe embaixo do carro velho do meu marido.
- Disse Pam com uma expressão séria. ─ Aposto que ele encontraria uma fonte
abundante.
Todos riram.
***
Jake saiu com Mina depois que eles se despediram da anfitriã. Mina comparou seu
pequeno carro econômico com o grande e novo Mercedes de Jake e fez uma careta
interiormente. Isso certamente indicava a diferença em seu status econômico.
─ Esse é um dos novos Mercedes. - Observou ela. ─ Eu o vi na internet.
Ele riu.
─ O que eu realmente queria era aquele que acende por dentro. O Maybach.* Mas eu
precisava de um carro naquele momento e eles disseram que demoraria uns dois meses
antes que eu pudesse pegar o Maybach. Então, eu comprei o melhor Mercedes que eles
tinham no lote. Não é ruim. Um verdadeiro campeão nas estradas... Quando a polícia do
estado não está olhando. - Acrescentou com um sorriso.
─ Então, é rápido? - Ela brincou, e seus grandes olhos castanhos brilhavam.
Ele olhou para eles com verdadeiro interesse.
─ Sim.
Ela sorriu. Ela gostava dele. Infelizmente, não era o tipo de sentimento que queria,
e percebeu isso muito rapidamente. Ela era bonita e meiga. Mas não sentia o mesmo que
ele. Ele apertou os lábios e reconheceu isso. Então ignorou. Sabia que ela não estava
vendo ninguém no local. Isso significava que ele tinha uma chance com ela. E não ia
desperdiçá-la.
─ Que tal um bom bife na sexta-feira da semana que vem? - Ele perguntou.
Ela hesitou, mas apenas brevemente.
─ Isso seria legal. Há um bom restaurante na cidade...
─ Aqui não. Em Billings.
Ela piscou.
─ Montana?
Ele assentiu.
─ Melhor bife de todo noroeste. - Acrescentou com um sorriso.
─ Mas é uma longa viagem. - Ela começou. ─ Estamos a mais de 200 quilômetros ao
sul de Billings!
─ Eu tenho meu próprio jatinho. - Disse ele tranquilamente. ─ Podemos pousar no
aeroporto de Billings próximo aos Rimrocks* e terei uma limusine esperando para nos
levar ao restaurante.
Seus lábios se separaram em um suspiro chocado. A despesa seria monstruosa. E
então ela disse isso.
─ Eu sou rico. - Ele a lembrou com um sorriso malicioso. ─ Não há sentido em ser rico
se eu não puder aproveitar enquanto ainda estou vivo. Eu gosto de um bom bife. O
melhor em todo o território está em Billings. Vou trazê-la para casa à meia-noite. -
Acrescentou. ─ Eu prometo.
*Os Rimrocks são formações geológicas de arenito.
*Mercedes Maych - A cor azul são das luzes internas.

Ela soltou a respiração que estava segurando.


─ Bem...
─Vamos. Diga sim. Estou cansado da minha própria companhia.
Ela buscou pelos olhos dele.
─ Você poderia conseguir qualquer pessoa, qualquer mulher, que você quisesse...
─ Eu não tenho muitos amigos... - Disse ele, enfatizando a última palavra para
tranquilizá-la. ─ também. - Ele a viu relaxar, viu o olhar preocupado em seu rosto
eclipsar em um sorriso.
─ Bem, ok, então. - Disse ela finalmente.
Seu coração pulou. E ele riu.
─ Tudo bem. - Ela concordar em ser amiga dele, já era alguma coisa. Ele poderia
esperar por mais, depois.
─ Então, eu vou buscá-la por volta das cinco. Tudo bem?
Ela sorriu.
─ OK. O que eu visto?
─ Jeans e uma blusa. E uma jaqueta. Fica frio à noite.
As sobrancelhas dela arquearam.
─ Não é elegante?
─ Na verdade não, e eu odeio ternos. - Ele murmurou, embora estivesse vestindo um.
Um bom, ela observou.
─ Eu queria impressioná-la com meu guarda-roupa moderno. - Ele disse
descaradamente, e sorriu quando ela começou a rir.
─ Estou impressionada. - Disse ela quando conseguiu conter o riso.
─ Bom. Terei isso em mente para passeios futuros. - Disse ele. E franziu o cenho
levemente.
─ Você não tem uma sessão de autógrafos chegando em Manhattan? - Ele se perguntou.
Ela fez uma careta.
─ Sim eu tenho. É um longo caminho até Nova York. - Ela começou.
─ Vou levá-la até lá, a qualquer hora que você queira. - Disse ele imediatamente. ─
Garanto que é melhor do que um voo comercial, comprimido como sardinha em lata,
comendo amendoim em vez de uma boa refeição.
─ Estou convencida. Se não for um incômodo. - Acrescentou ela rapidamente.
Ele balançou a mão.
─ Tenho interesses comerciais em Nova York. - Disse ele tranquilamente. ─ Preciso
fazer uma viagem para conversar com um dos meus consultores de investimentos. Eu
posso combinar negócios com prazer. Que tipo de espetáculo você gosta? Teatro, ópera,
concertos sinfônicos, balé?
Os olhos dela se iluminaram.
─ Balé?
Ele riu.
─ Verei o que está em cartaz enquanto estivermos na cidade. Apenas me avise com uma
semana de antecedência.
─ Eu certamente farei isso, e muito obrigada por me oferecer uma carona. - Ela fez uma
careta. ─ Eu odeio voar.
─ Você vai adorar o jatinho. - Prometeu. ─ Vejo você na próxima sexta-feira.
Ela sorriu calorosamente.
─ Sim.
Ela subiu em seu pequeno carro, acenou e partiu.

***
─ Ouvi dizer que você vai jantar com aquele sujeito McGuire. - Brincou Bill, enquanto
assistiam um dos funcionários de meio período de Mina trabalhando com um potro no
curral.
Ela ficou boquiaberta.
─ Falei com ele ontem e não contei a ninguém.
─ É Catelow. - Disse ele. ─ Cidade pequena, orelhas grandes. E sua anfitriã também
não pode ficar com a boca fechada. - Ele acrescentou com uma risada. ─ Brincar de
casamenteira, a fez se sentir bem, eu ouvi dizer.
─ Não se trata disso. - Ela disse suavemente. ─ Jake é uma pessoa fantástica, mas não
me sinto assim por ele.
─ Que vergonha. - Ele disse com um suspiro. ─ Ele é multimilionário.
─ Dinheiro é o resultado quando fazemos um trabalho que amamos. - Disse ela
calmamente. ─ Não ligo para quanto tenho, desde que eu possa pagar as contas. Nós
estamos indo bem por aqui. - Ela acrescentou com orgulho. ─ O primo Rogan não
precisará nos suplementar em alguns meses.
─ Não, ele não precisará, da maneira que o seu livro está vendendo. - Disse Bill com
orgulho discreto. ─ Você está a caminho da fama.
Ela torceu o nariz.
─ Desde que seja uma fama distante, eu não me importo. Detestaria ser uma daquelas
pessoas que estão nas capas de revistas e nas primeiraas páginas os jornais o tempo
todo, e então são reconhecidas em todos os lugares que vão. Seria como morar ao ar
livre na cidade, com pessoas assistindo tudo o que você faz. Eu ficaria louca. Adoro isso
aqui. - Ela olhou para as imponentes montanhas distantes com seus picos cobertos de
neve, as colinas mais próximas ao rancho que se encurvavam graciosamente no
horizonte. ─ Este deve ser o lugar mais bonito da Terra.
─ Eu concordo. - Disse ele. E franziu a testa. ─ Jake McGuire é um grande partido. -
Ele disse.
─ Dinheiro não é tudo. Estou esperando por um homem que eu possa amar.
─ Sim, Srta. Mina, mas você não namora ninguém. - Ele retrucou gentilmente. ─ Nunca
vai encontrar um marido assim.
─ Não tenho certeza se quero um.
Ele voltou sua atenção para o curral.
─ Recebi uma ligação de seu primo Rogan hoje cedo.
─ Ele estava me procurando? Eu desliguei meu telefone enquanto estava nos
Simpsons...
─ De certa forma.
─ De certa forma?
─ Ele ouviu falar de seu pai. - Disse ele.
O rosto dela ficou tenso. Uma vez, quando sua mãe estava viva e ela era mais
jovem, queria muito manter contato com o pai. Mas a mãe disse a ele que Mina o odiava
por abandoná-la e nunca mais queria falar com ele. Com o passar dos anos, no entanto,
e as agressões dos incessantes amantes de sua mãe, a mentira se tornou verdade. Seu pai
a abandonou, a deixou ser atormentada pela mãe. Ela o culpou, porque seu abandono
provocou a maior parte de sua dor.
─ Não quero saber dele. - Disse ela sem rodeios. ─ Nunca mais.
Ele hesitou por apenas um minuto.
─ Tem certeza? Faz quinze anos.
Ela mordeu o lábio inferior.
─ Tem algo que ele quer lhe dizer. - Ele disse finalmente.
─ Ele pode me escrever uma carta.
Ele balançou sua cabeça.
─ Ele quer ver você. Ele está em Billings.
O coração dela pulou.
─ Você deveria pensar sobre isso. - Disse Bill gentilmente. ─ Quando ele se foi, não
havia mais ninguém que soubesse nada sobre o seu passado. Sobre seus antepassados.
Eu sei que sua mãe nunca falou sobre os pais dela ou os dele. A história é importante.
Ela sabia disso. E hesitou. Odiava até mesmo a memória dos últimos anos, odiava
a angústia que sua mãe lhe causou.
─ Pode ser sua última chance, descobrir por que sua mãe era tão má com você. - Ele
completou. ─ Ele é a única pessoa viva que sabe.
Ela respirou fundo.
─ Ok, eu vou pensar sobre isso.
Ele sorriu.
─ Vou contar ao seu primo.

***
Ela pensou mais um pouco no pedido. Mas depois de uma noite sem dormir,
revivendo pesadelos antigos, decidiu que Bill estava errado. Ela não precisava ver o pai.
Era tentador dizer a ele ao que a sujeitou fugindo com outra mulher. Só isso poderia
ajudá-la a deixar o passado para trás. Mas ela não conseguia fazê-lo. A dor era muito
profunda, mesmo depois de quinze anos. Ela mal conseguia se lembrar de como era a
aparência de seu pai. Seu trabalho como policial o mantinha afastado a maior parte do
tempo, e havia lembranças duras no caminho depois que ele foi embora. Ela não tinha
certeza de que o reconheceria se o visse na rua. E depois, ela também não queria.
Então, ela ligou para o primo Rogan e contou a ele sobre sua decisão.
─ Eu entendo como você se sente. - Disse ele, sua voz profundamente suave e
tranquilizadora. ─ Mas as pessoas não são boas ou más, querida. - Acrescentou
suavemente. ─ Elas tomam decisões erradas e agem de acordo com elas. Foi o que seu
pai fez. Sua ornamental mulher o deixou no segundo mês em que estavam juntos. Ele
tentou obter a sua custódia, mas sua mãe conseguiu um advogado e o ameaçou com
mentiras que o transformariam em um monstro. Ele poderia ter sido preso se persistisse.
Ele abandonou sua mãe. Nunca a abandonou.
Ela ficou quieta. E não respondeu a ele.
Ele suspirou.
─ Ok querida. A decisão é sua. - Rogan sempre gostou dele, mas não a pressionou. ─
Como vão as coisas com você?
─ Jake McGuire vai me levar no jatinho para jantar em Billings na próxima sexta-feira.
- Disse ela.
─ Bem, quem diria? - Ele perguntou, rindo. ─ Eu me perguntei se ele poderia tentar vê-
la. Ele adora seus livros. Ele tem todos os três e tinha certeza de que o mais novo seria
um bestseller. Ele é seu maior fã.
Ela riu.
─ Ele é um homem muito agradável.
─ Oh céus.
─ Eu não gosto de homens. Bem, a maioria dos homens. - Ela corrigiu. ─ Eu gosto de
você, Jake e Bart. - A voz dela esfriou. ─ Não gosto do primo de Bart.
─ Que primo?
─ Um cowboy do Texas. - Disse ela. ─ Ele é o pior inimigo que já tive. Ele é frio,
temperamental e... impossível!
Rogan estava mordendo a língua tentando não dizer o que pensava. Ele nunca viu
Mina, conhecida por suas boas maneiras, tão irritada com qualquer homem.
─ Um cowboy? - Ele perguntou.
─ Uma dor no... Sim, um cowboy. - Ela hesitou. ─ Ele adora animais, pelo menos.
─ Isso já é alguma coisa.
─ Mas eu não gosto dele. De modo algum. Talvez ele volte para casa em breve. Bart e
eu vamos fazer uma venda conjunta de produção. Temos uma safra muito boa. Você
deveria vir vê-la.
─ Quando a neve for embora. - Disse ele rapidamente. ─ Eu odeio neve. A Austrália é
muito legal. Quente e seca. Assim como eu gosto do clima.
Ela suspirou.
─ Eu adoro neve.
─ Faça bom proveito. Cuide-se.
─ Eu vou.
─ Você ainda é minha prima favorita. - Ele brincou.
─ E você é o meu. - Disse ela, e era verdade.

***

Na tarde seguinte ela cavalgava próximo à cerca, e lá estava o hóspede de Bart,


curvado sobre uma vaca que parecia estar morta há algum tempo. Ele tinha um pequeno
bezerro nos braços. Ela parou o cavalo e ficou observando.
Ele aconchegou a coisinha nos braços e sorriu.
─ Você ficará bem, amiguinho. - Ele disse suavemente. ─ Vamos colocá-lo no celeiro e
lhe dar mamadeiras até que você esteja pronto para enfrentar o mundo.
Ele se virou e viu Mina. Ela não sabia dizer qual era a expressão dele, porque o
chapéu largo protegia o rosto do sol.
─ Você está indo na direção de Bart? - Ele perguntou.
─ Eu posso, se precisar. - Respondeu ela.
─ OK. Você pode levar este pequeno com você? Esta pode não ser a única vaca que foi
atacada. Eu preciso rastrear o matador.
─ Claro que posso levá-lo de volta para você. - Ela estava preocupada. ─ Poderia ser
um lobo? - Ela se preocupou.
─ Poderia. Ou um coiote. Ou até mesmo uns disparos idiotas onde não deveria. Tirei um
rifle de um dos meus... nossos próprios homens em casa, no rancho onde trabalho. - Ele
disse, corrigindo o deslize tão suavemente que ela não percebeu. ─ Ele estava atirando
em um alvo que colocou de frente para a casa. E nem sabia que uma bala de rifle pode
percorrer uma milha antes de atingir algo.
─ Eu mesma já vi uma ou duas pessoas assim. Aqui, pode me dar. - Ela estendeu os
braços e ele colocou a pequena criatura neles. O bezerro berrou por um minuto, mas
então relaxou nos braços quentes de Mina e se aconchegou contra ela. Ela acariciou a
cabecinha e o focinho e sorriu para ele com ternura.
Cort sentiu seu coração disparar enquanto olhava para ela. Ela poderia estar cem
anos fora de época, segurando um bezerro sobre o cavalo, como uma mulher pioneira
faria no passado distante.
Ele sorriu.
─ Você parece em casa a cavalo. - Disse ele calmamente.
Ela riu.
─ Ando em um desde criança. Mas Sand... - Ela deu um tapinha no pescoço de seu
cavalo palomino. - É o meu favorito, de todos os cavalos que já tive.
─ Eu tenho um árabe preto como carvão. - Disse ele. ─ Eu o chamo de Valeroso.
─ Valente. - Ela traduziu distraidamente. ─ Você fala espanhol?
Ele assentiu.
─ Temos muitos cowboys que vêm do México ou mesmo de Yucatán. Muitos são
maias, mas também falam espanhol. - Ele riu. ─ Muitos de nós já temos problemas
suficientes para falar um idioma, mas eles já vêm aqui falando dois. Inglês é o terceiro
deles.
─ Pessoas inteligentes. - Disse ela, sorrindo.
─ De fato eles são.
O bezerro estava ficando inquieto em seu colo.
─ É melhor levá-lo ao celeiro. Você pode dizer o que matou a mãe dele pela maneira
como ela morreu?
─ Nem tanto. - Ele respondeu. ─ Poderia ter sido um lobo ou um cachorro grande,
talvez um bando de cães vadios. Eu não acho que foi uma pessoa. A carne estava
rasgada, não cortada.
Ela assentiu. E inclinou a cabeça.
─ Você pode rastrear?
Ele riu.
─ Eu posso rastrear. Eu caço veados a cada outono. Adoro ensopado de carne de veado.
─ Eu também. Eu vou com o primo Rogan, quando ele está em casa. Ele mesmo é um
bom rastreador.
Seus lábios sensuais se contraíram. Havia um brilho estranho em seus olhos
castanhos claros.
─ McGuire caça? - Ele perguntou abruptamente.

CAPITULO CINCO
Mina foi pega de surpresa. A pergunta, repentina, foi inesperada. Ela corou
levemente. Obviamente, ele ouviu dizer que ela e McGuire haviam almoçado na casa
dos Simpsons.
─ Eu... bem, não sei se ele caça. - Ela gaguejou. ─ Muitos fazendeiros o fazem.
Ele assentiu.
─ Ele é milionário. - Disse ele. E seus olhos entrecerraram. ─ Essa é a questão? - Ele
adicionou em um tom suave, mas gelado. ─ Seu rancho precisa de muitas coisas e você
está operando no vermelho. McGuire poderia consertar isso, não?
─ Você está insinuando algo muito ofensivo para nós dois. - Disse ela bruscamente. ─ E
caso você tenha esquecido, meu primo Rogan também é rico!
─ Não tão rico quanto McGuire, pelo que ouvi. - Ele retrucou, imperturbável. ─ O
primo Rogan não possui um jato particular.
O rosto dela ficou vermelho de vergonha e raiva misturadas.
─ Muitos homens ricos têm.
─ E como você sabe disso? - Ele se perguntou em voz alta.
Ela o examinou com os olhos frios, notando as calças gastas, as botas sujas, e o
chapéu surrado.
─ Como você sabe o que os homens ricos fazem, também? - Ela perguntou
sarcasticamente. ─ Você não parece viajar com a classe alta.
Estranhamente, ele não se insultou. Apenas sorriu. Ela não tinha como saber que
ele, quando mais jovem, viajava com a classe alta. Era bem conhecido entre os
pecuaristas. E tinha um dos maiores ranchos do oeste do Texas. Latigo era conhecido
em todo lugar, não apenas pela estratégia inovadora de criação de Cort e seus touros
premiados, mas também por sua história. Foi fundada pelos Culhanes, o pai e seus três
filhos, que passaram para seus filhos e netos. Os netos lutaram tanto pela posse da
propriedade que a perderam, a fazenda teve que ser vendida para pagar as custas dos
processos que se acumularam.
O pai de Cort, Vince Grier, comprou a propriedade e se mudou para lá com sua
própria família, sua esposa e quatro filhos. Pouco a pouco, ele transformou Latigo na
propriedade que é hoje. Os Griers não tinham apenas gado, eles possuíam investimentos
imobiliários em todo o mundo e ações em petróleo e gás que valiam mais do que o
rancho. Cort costumava pensar que os Culhanes ficariam orgulhosos de ver que seu
legado não havia sido perdido. Mesmo se ele continuasse com o nome de outra família.
─ Viajo de vez em quando pelo circuito de rodeios. - Disse ele. Não era mentira. Ele
participou de muitos rodeios quando era adolescente, antes de se juntar ao exército e ir
para a guerra. ─ Muitos fazendeiros ricos vêm assistir.
Ela não podia argumentar sobre isso. Sabia que o primo Rogan adorava rodeio e
quase nunca perdia um. Catelow sediava um rodeio no verão. Muitas outras cidades
também.
─ Acho que sim. - Respondeu. Ela não estava ansiosa para ir, apesar dos raros
movimentos do bezerro, enquanto ele descansava entre seu colo e o pomo da sela. Ela
deu um tapinha no bezerro distraidamente.
─ Você deveria ir. - Disse ele, porque queria que ela ficasse também, e não era
prudente. Ele estava fingindo ser quem não era. E não queria que ela soubesse a verdade
sobre seu status. Ainda não. Deixe-a pensar que ele era um cowboy itinerante.
─ Eu vou. - Ela deu a ele um último sorriso melancólico e seguiu em direção ao celeiro
de Bart.
Ele a observou até que ela sumiu de vista. E desejou saber o porquê.

***
Bart desceu até o celeiro e pegou o bezerro em seus braços. Ele o levou para uma
baia limpa e o colocou gentilmente sobre o feno. Já havia comida e água no local. Os
pecuaristas esperavam encontrar alguns bezerros abandonados durante a época de
partos.
─ O que aconteceu? - Ele perguntou voltando até onde ela estava.
─ Você terá que perguntar ao seu hóspede. - Disse ela, desmontando e seguindo-o até o
enorme celeiro. ─ Ele encontrou a coisinha. A mãe estava morta. Ele acha que pode ter
sido um lobo ou uma matilha de cães. E está rastreando-os.
Ele riu.
─ Ele é um excelente rastreador. - Ele disse a ela. ─ Uma vez, ele pegou um ladrão de
gado seguindo a trilha de uma ruptura na ferradura. Rastreou o homem até o caminhão
de transporte, puxou sua Ruger Vaquero .45* e disparou nos pneus. - Ele balançou a
cabeça. ─ Atirou no líder dos ladrões também.
Os olhos dela estavam arregalados.
─ Ele atirou em alguém!
─ Bem, o homem atirou nele primeiro. - Disse ele na defensiva.
O coração dela quase parou. O pensamento de Cort sendo ferido a fez se sentir
enjoada. Ela não conseguia entender o porquê. Nem o conhecia. E não queria conhecê-
lo. Ele fazia seus joelhos ficarem fracos.
─ Ele e o xerife do seu condado, no Texas, são bons amigos. - Disse ele. ─ E ele é bem
considerado pelos Rangers Especiais, eles são os Texas Rangers designados para
investigar casos de roubo de gado, relacionados a fazendas e ranchos. O homem que
atirou em Cort pegou 30 anos de prisão por roubar sessenta cabeças de gado.
─ Trinta anos! - Ela exclamou.
Ele assentiu.
─ O Texas é duro com ladrões de gado. Aqui no Wyoming, são dez anos, no máximo.
Mas no Texas, é um crime de terceiro grau, punível com dez anos de prisão por roubar
dez cabeças de gado. Sessenta cabeças, sessenta anos, deveria ter sido, mas o cara tinha
um bom advogado, então ele só pegou trinta anos.
─ Nunca roubarei nem uma cabeça de gado no Texas enquanto eu viver. - Disse ela,
colocando a mão sobre o coração. ─ Eu juro!
Ele riu.
─ Eu também.
─ Acho melhor eu voltar para casa. Estou presa no meio de um capítulo do próximo
livro. Eu pensei que sair ao ar livre poderia me ajudar a pensar.
─ Sem dúvida. Você vai levar a sério o Jake? - Ele perguntou, informalmente, e seus
olhos brilharam quando ele olhou para ela. ─ Podia ser pior.
─ Ele é muito agradável. - Ela começou.
Ele fez uma careta.
─ Ai. Agradável!
─ Bem, ele é.
Ele balançou a cabeça.
─ Ele tem todos os seus próprios dentes, sobretudo, e tem um jatinho particular. É podre
de rico, é proprietário de ranchos em todos os lugares e é muito bonito!
─ E ele é agradável.
Ele apenas balançou a cabeça.
Ela olhou para ele quando eles deixaram o celeiro.
─ Tem certeza de que seu primo não está em alguma lista de procurados em algum
lugar? - Ela perguntou.
─ Não que eu saiba. - Ele garantiu, e começou a rir. ─ Ele é um bom homem.
Temperamental, bastante impetuoso, e ele pode ser arrogante. Mas é firme e forte.
─ E se você o está oferecendo para mim, não, obrigada. - Disse ela com firmeza.
─ Eu posso perguntar por que não?
Ela se virou e olhou para ele.
─ Porque ele é um cowboy, Bart. - Ela respondeu. ─ Eu conheço cowboys. Estive perto
deles a vida toda. Eles bebem quando têm tempo livre. Têm uma garota em cada cidade
que pensam que é a única. Muitos deles são nômades. Não se estabelecem e nunca
amam apenas uma mulher. - Ela olhou por cima do pasto para as montanhas cobertas de
neve. ─ Um homem que trabalha na terra desfruta de sua própria companhia. - Disse ela
depois de um minuto. ─ Ele é um solitário. Homens assim... - Ela sorriu tristemente. ─
Bem, eles não se acomodam. Se acomodam?
Ele estava entre a cruz e a espada. O que poderia dizer que não estragasse o
disfarce de Cort?
─ Alguns deles sim. - Respondeu. ─ E Joe Stamper? Ele era mulherengo e se
estabeleceu com Martha. Eles têm três filhos. Ele é o capataz do rancho McGuire.
*Ruger Vaquero .45.

─ Eu esqueci de Joe.
─ Eu poderia lhe dar o nome de mais dois ou três outros que se casaram e
se tornaram bons maridos e pais. - Acrescentou.
Ela suspirou.
─ Suponho que sim. Mas casamento não é algo que eu quero, Bart. - Ela disse
tristemente. ─ Acho que tive uma visão bem detalhada do pior deles e isso distorceu
algo dentro de mim. Não acredito mais em finais felizes. A vida... - Acrescentou. ─ não
é um conto de fadas.
─ Isso depende. - Disse ele.
─ De que?
Ele olhou além dela para as montanhas que ela estava observando.
─ Depende das pessoas envolvidas. - Respondeu ele. ─ A vida é o que você faz dela.
─ Eu retiro o que disse. - Ela sorriu para ele. ─ Mas você não é casado.
─ Ela fugiu com outro homem. - Ele a lembrou.
─ Havia Sally... - Ela começou.
─ Ela se casou com um turista norueguês e foi para casa com ele.
Ela franziu a testa.
─ Agatha.
─ Mudou para a Califórnia e disse que a veríamos na televisão um dia. - Seus olhos
brilharam. ─ E a vimos, quando ela se envolveu com o ator casado que apareceu no
noticiário e disse que a culpa era de Agatha, ela o seduziu contra a vontade dele. Eu ri
tanto que quase arrebentei uma costela.
─ Pobre Agatha. - Ela concordou. ─ Nenhum estúdio de cinema a aceitaria depois disso.
─ Ela foi para Nova York e conseguiu um emprego como modelo. - Ele lembrou.
─ Ela estava em uma revista que folheei outro dia na farmácia. Ela parecia muito
bonita. E ela não era, você sabe disso. - Ela o lembrou. ─ Era apenas de aparência
mediana. É incrível o que eles podem fazer com maquiagem.
─ Nem me fale.
─ Ela pode voltar pra cá um dia. - Disse ela.
Ele suspirou.
─ Poderia. Mas ela disse que não queria passar a vida em uma fazenda, cheirando cocô
de vaca e alfafa do amanhecer ao anoitecer. - Ele olhou para ela. ─ Eu gosto do cheiro
de alfafa.
─ Eu também, Bart. - Ela deu um tapinha no ombro dele. ─ Talvez devêssemos formar
um clube. E apenas pessoas com amores perdidos poderiam participar.
─ Amores perdidos, hein? - Ele murmurou. ─ E onde está o seu?
Ela franziu a testa.
─ Certo. Eu não tenho um.
─ Ainda. - Disse ele, no momento em que Cort Grier chegou montado no cavalo baio,
que ele se apropriou durante sua visita ao primo.
─ Você encontrou o que matou a vaca? - Bart perguntou.
Cort assentiu, inclinando-se para a frente com as mãos cruzadas sobre o pomo da
sela, segurando as rédeas.
─ Um lobo.
─ Precisamos rastreá-lo...
─ Não, não precisamos. - Cort desmontou graciosamente e se juntou a eles, com as
rédeas presas nos dedos. ─ O lobo está morto também.
Bart e Mina o encararam.
─ O quê? - Ele leu bem as expressões. ─ Não, não fui eu. - Disse ele. ─ Alguém com
um rifle de precisão o matou. O tiro explodiu parte de sua caixa torácica. Tinha que ser
um projétil de ponta oca,* para causar tanto dano.
*Projétil de ponta oca ou bala dumdum, é um projétil que tem um buraco ou concavidade em sua ponta. Geralmente se destina a
causar a expansão da bala ao entrar em um alvo, e se fragmentar diminuindo assim a possibilidade de atravessá-lo completamente e
destruindo mais os tecidos atingidos.

─ Quem? - Bart perguntou.


Cort balançou a cabeça.
─ Não faço ideia.
─ Você tem certeza de que foi o lobo que matou a vaca de Bart? - Perguntou ela.
Ele assentiu.
─ Ele ainda tinha sangue no focinho. Provavelmente separado de sua alcateia, velho
demais e incapacitado para caçar qualquer coisa que pudesse correr rápido. Ele tinha um
ferimento grave na barriga, quase a extensão total da barriga, e não estava curado. Ele
provavelmente estava com uma dor terrível. A vaca tinha acabado de dar à luz e estava
fraca.
Mina suspirou.
─ A natureza é cruel. - Disse ela. ─ Mas é assim que as coisas acontecem em um
rancho. Alguns animais matam, outros morrem. - Ela olhou para cima. ─ A vontade de
Deus.
Cort riu.
─ O que é engraçado? - Ela perguntou.
─ Eu tive um professor de história na universidade que costumava dizer isso o tempo
todo. Ele dava palestras sobre deísmo.* Ele tentou colocar um mapa no quadro-negro
para apontar onde o deísmo teve seu início. E o quadro sempre caía. Finalmente, da
última vez, o quadro caiu na cabeça dele. Ele se virou para a turma e disse: "A vontade
de Deus", com a cara mais séria do mundo. Todos nós rimos.
Ela inclinou a cabeça, curiosa.
─ Você foi para a faculdade?
─ Apenas alguns cursos, quando eu estava no ensino médio. - Ele mentiu. ─ Eu adorava
história.
Ela sorriu.
─ Eu também. Napoleão. Scipio Africanus. Hannibal. Alexandre.
Ele franziu o cenho.
─ Os Conquistadores. - Disse ele. ─ História militar.
─ Oh sim. Eu faço cursos online. Esses são os meus favoritos. Eles eram inovadores e
também guerreiros. Eles usavam estratégias e táticas brilhantes para vencer batalhas.
Cort riu.
─ Que coincidência. - Ele murmurou.
─ Como assim? - Ela perguntou.
Ele não podia lhe responder isso e manter seu disfarce. Sua especialização foi em
história militar.
─ Eu gosto de Patton e Rommel.* - Disse ele em vez disso.
─ Segunda Guerra Mundial, o Teatro africano da Guerra.* - Disse ela, assentindo.
─ Você sabe sobre isso também?
─ Foi uma guerra de cavalheiros,* no norte da África. - Disse ela. ─ Um dos meus
antepassados morreu lá, lutando no Terceiro Exército de Patton.
─ Um dos meus também. - Disse Cort.

*O deísmo  é uma posição filosófica naturalista que acredita na criação do universo por uma inteligência superior (que pode ser
Deus, ou não), através da razão, do livre pensamento e da experiência pessoal, em vez dos elementos comuns das
religiões teístas como a revelação divina ou tradição. Em palavras mais simples: um deísta é aquele que está inclinado a afirmar a
existência de um princípio criador, mas não pratica nenhuma religião, não negando a realidade de um mundo completamente regido
pelas leis naturais e físicas. A interpretação de Deus pode variar para cada deísta.
*George Patton(comandante americano) e Erwin Rommel(comandante alemão) foram os comandantes de forças terrestres que mais
se destacaram. em um cenário que compreendia as grandes batalhas do norte da África, as invasões da Sicília e da Itália, os
desembarques na Normandia e o avanço através da França e da Bélgica até a Alemanha.   Eles foram decisivos na Segunda Guerra
Mundial (1939-1945). 
*O teatro africano da  Primeira Guerra Mundial descreve campanhas no Norte da África instigadas pelos
impérios Alemão e Otomano, rebeliões locais contra o domínio colonial europeu e campanhas aliadas contra as colônias alemãs
de Kamerun, Togolândia, Sudoeste Africano Alemão e África Oriental Alemã que foram combatidas pelas Schutztruppe alemãs
(tropas coloniais), movimentos de resistência locais e forças do Império Britânico, França, Bélgica e Portugal.

*Guerra dos cavalheiros - O termo se refere a uma conduta de combate, que se aplicava livremente do século XVII ao XIX.  Nas
quais as batalhas eram organizadas de maneira semelhante a um jogo de estratégia baseado em turnos , com lados opostos de
mosqueteiros caminhando pelo campo de batalha para formar linhas gigantes de fileiras totalmente expostas. Cada exército, em
seguida, revezava-se em explosões. Às vezes, um lado atacava suicidamente o outro com baionetas. A pé ou a cavalo. Mais tarde,
canhões foram usados como suporte de fogo. Geralmente, isso era considerado esportista pelos nobres que travavam essas guerras.
A prática começou a diminuir quando as pessoas perceberam que fazer isso era loucura. E basicamente parou logo que a Primeira
Guerra Mundial chegou.
Eles estavam se encarando sem perceber. A frequência cardíaca de Mina disparou
e sua respiração ficou presa na garganta. Cort estava sentindo algo semelhante e lutando
contra isso com unhas e dentes. Essa doce garota do interior nunca se encaixaria em seu
estilo de vida, mesmo que ele se interessasse por ela. Ele tinha que lembrar disso. Sim,
ele queria se casar. Mas era realista o suficiente para saber que tinha que ter uma
parceira com uma base em comum. No caso dele, teria que ser uma base rica.
Então ele desviou os olhos do rosto de Mina e virou-se para o primo.
─ Vou dar uma volta e ajudar seus homens a consertar aquela cerca quebrada perto da
estrada, tudo bem pra você? - Acrescentou, fazendo jus a sua imagem de caubói.
─ Certo. Eu tenho algumas ligações para fazer, então depois eu vou ajudar.
Cort riu.
─ Teremos terminado até lá.
─ Cara... - Bart murmurou. ─ vou sentir falta de todo esse trabalho divertido. Eu adoro
cavar buracos para colocar estacas e esticar cercas de arame.
─ Mentiroso. - Disse Mina em voz alta.
Ele apenas riu. Cort sorriu, mas não para Mina, e partiu sem outro olhar em sua
direção. Ela fingiu não perceber, é claro.
***
Bart queria dizer a Cort que Mina era a sua amiga escritora. Mas quanto mais ele
esperava, menos queria. Cort era mulherengo. Ele adorava mulheres, plural, e ainda
estava envolvido com Ida Merridan, a divorciada que ele conheceu na festa dos
Simpsons. Mina era ingênua e era óbvio para Bart que ela estava atraída por Cort.
No momento, Cort achava que Mina era apenas uma garota do campo com uma
pequena fazenda. Ele mencionou para Bart que ela nunca seria capaz de se manter nos
altos círculos sociais. Ele nem tinha certeza de que ela saberia quais talheres usar em um
restaurante chique.
Obviamente, ele acrescentou, ela não era o tipo de mulher com quem ele poderia
considerar se estabelecer. Ele queria se casar e ter uma família, murmurou. E estava em
dúvida agora de estar pronto para essa responsabilidade. Ele era livre para namorar
qualquer mulher que quisesse, não tinha restrições para viajar, e não estava preso ao
rancho, a menos que quisesse. Ele tinha todas as vantagens e nenhuma das
desvantagens. Em resumo, ele não queria desistir de sua liberdade por um casamento
que talvez nem desse certo.
─ Eu pensei que todos vocês estavam entusiasmados em se casar e ter filhos. - Brincou
Bart enquanto eles se sentavam na sala depois do jantar, bebendo outras xícaras de café.
─ Eu estava. - Ele respondeu sombriamente. ─ Então comecei a procurar a mulher
perfeita e descobri que todas estavam procurando o homem mais rico. - Ele deu a Bart
um olhar engraçado. ─ Uma mulher que coloca dinheiro antes de qualquer outra coisa
não vai querer se estabelecer com um marido e bebês que precisam ser trocados.
─ Boa observação.
Os olhos de Cort estavam tristes.
─ Minhas ilusões deixaram rastros de jatos decolando. - Disse ele. ─ Eu tinha certeza de
que seria fácil encontrar uma mulher legal que quisesse uma família. O problema era
que todas as mulheres que eu namorava me viam como um talão de cheques ambulante.
─ Você é rico.
─ Eu percebi. - Disse Cort, encarando o primo.
Bart sorriu.
─ Essa é minha grande vantagem. Eu não sou rico. Qualquer mulher que quisesse ficar
comigo não estaria visando diamantes e Ferraris.
Cort assentiu.
─ Acredite, isso é uma vantagem real.
─ Sexta-feira da semana que vem, à noite, haverá um baile no centro cívico da cidade.
Você vai? - Ele perguntou.
Cort enfiou as mãos nos bolsos.
─ Eu posso levar Ida.
Bart sentiu uma sensação de alívio, embora isso fosse marcar seu primo como um
homem com pouca moral em uma cidade do tamanho de Catelow. Todo mundo
conhecia Ida.
Cort notou a expressão de seu companheiro.
─ Ela não é exatamente o que parece. - Disse ele.
Bart apenas sorriu.
─ Não é o que as pessoas realmente são que importa em cidades pequenas, Cort. É o
que as pessoas pensam que elas são. Ida tem uma péssima reputação.
─ Não se preocupe. - Cort riu. ─ Ninguém vai dizer coisas ruins sobre você, porque eu
estou saindo com ela.
─ Eu sei disso.
Ele inclinou a cabeça e seus olhos se entrecerraram.
─ Sua vizinha. Ela tem um problema real com homens.
Bart assentiu com a cabeça.
─ Ela teve uma vida difícil. Pelo menos o primo mantinha o rancho funcionando. Sua
mãe tentou vendê-lo várias vezes por dinheiro vivo. Rogan a deteve.
─ Como era a mãe dela? - Ele perguntou.
Ele sorriu.
─ Como Ida, exceto que ela não tinha a aparência de Ida.
Ele fez uma careta.
─ Ela era divorciada?
─ O marido nunca se divorciou dela. Ele só foi embora. Uma socialite visitante se
apaixonou por seu uniforme e o seduziu até ele deixar Anthea. Então Anthea descontou
em Mina. Todos perdemos a conta de quantos homens foram morar com elas. Mina
costumava se esconder na floresta... bem, isso é passado.
─ Ela tem medo de homens.
─ Sim.
─ Sem encontros ardentes? - Cort perguntou com um leve sorriso.
─ Sem encontros. Ponto.
Ele fez uma careta.
─ Nunca?
─ Ela não quer correr o risco. - Bart disse a ele. ─ Ela disse que alguns namorados da
mãe pareciam bons até as portas se fechavam.
Ele estava lembrando o que Ida havia disse sobre seu segundo marido. Cort nunca
levantou a mão para uma mulher. Nem seu pai ou qualquer um de seus irmãos. Mas
houve um homem assim, um vizinho, cuja esposa correu gritando pela estrada,
sangrando e horrorizada. Um motorista parou e a levou até a cidade, até o escritório do
xerife. O marido havia sido detido, acusado e finalmente preso.
─ Acho que algumas pessoas são mais difíceis de conhecer do que outras. - Admitiu. ─
Mas não preciso bater em uma mulher para me sentir homem. E tenho uma opinião
muito baixa dos homens que o fazem.
─ O nosso primo Cody também. - Bart riu. ─ Ele recebeu uma ligação sobre um
problema doméstico, no sábado à noite, quando todos os seus auxiliares estavam
ocupados. Um menino de três anos tinha hematomas por todo o corpo. A mãe dele
estava sangrando, chorando e o marido estava bêbado, agressivo e tentou lutar com
Cody.
─ Isso deve ter sido interessante de ver. - Cort murmurou.
─ E foi mesmo. Cody fez o homem andar a cada passo do caminho para a cidade e
jogou todas as acusações em que pôde pensar sobre ele. Havia um defensor público
realmente ansioso que pensou que poderia vir aqui no tribunal e usar toda a sua
influência. - Ele assobiou. ─ Ele aprendeu algumas coisas, incluindo algumas palavras
novas que Cody ensinou a ele depois que o cliente do homem foi enviado para a cadeia
por cinco anos.
─ Dificilmente soa o suficiente. - Cort murmurou.
─ Eu não terminei. Ele pegou cinco anos em duas acusações. Mas parece que ele estava
em liberdade condicional por um assalto pelo qual cumpriu pena. Depois de cumprir os
cinco anos aqui, ele vai para Montana cumprir a violação da condicional. Cody se
assegurou disso.
Cort riu.
─ Nosso primo é um péssimo homem para se irritar.
─ Sim, ele é. - Ele inclinou a cabeça e sorriu para Cort. ─ Ele não é o único.
Cort apenas balançou a cabeça. Ele olhou para Bart com curiosidade.
─ Quantos anos tem Mina?
─ Vinte e quatro. - Ele disse. ─ Mas ela parece mais jovem, não é?
─ Muito mais jovem. - Ele ficou surpreso com a idade dela. Bart parecia pensar que ela
não tinha interesse em homens, mas ele não podia acreditar que uma mulher pudesse ser
inocente aos 24 anos. Certamente ela teve algumas experiências que Bart não sabia. Ele
riu para si mesmo. Mina Michaels provavelmente era tão experiente e cansada quanto
ele e não gostava de homens porque ela já teve sua cota deles. A inocência nos dias de
hoje era uma piada, ele estava absolutamente certo disso. E Mina, o que quer que fosse,
não era inocente

***

Mina estava entrevistando homens para o trabalho em tempo integral em seu


rancho. Ela não estava feliz por ter que fazer isso ou pelos próprios candidatos. Ela
tinha um investigador verificando os antecedentes dos candidatos. Dois foram demitidos
por roubar seus empregadores, embora os fazendeiros não pudessem provar isso. Outro
era procurado por não pagar pensão dos filhos.
Dos cinco candidatos, apenas um se destacou. Era um homem mais velho, com
cabelos grisalhos, finos e olhos castanhos escuros. Parecia nunca ter sorrido em sua
vida. Não estava vestindo roupas caras, mas estava bem vestido e muito limpo. Ele tinha
uma voz suave e uma personalidade agradável. E veio com várias referências de
fazendeiros que o empregaram. Nenhum foi desfavorável. E a coisa mais estranha é que
havia algo familiar nele, como se ela o tivesse visto em algum lugar. Mas ele era do
Arizona, ele disse, e ela nunca esteve lá.
Ela respirou fundo enquanto estudava o pedido de emprego. Levantou os olhos, de
repente e surpreendeu um olhar estranho e atento nos olhos dele.
─ Por que você quer esse emprego? - Ela perguntou com sua franqueza costumeira.
Ele sorriu tristemente.
─ Ninguém mais está contratando. - Ele disse simplesmente. ─ No início da primavera é
um mau momento para ficar desempregado, porque a maioria dos fazendeiros já
contratou as mãos extras necessárias para a parição. E aqui não é o Arizona. Eu queria
um lugar que não fosse tão quente. - Arizona, as referências dele eram de lá.
Ela olhou de volta para a folha de papel.
─ Que tipo de salário você espera? - Ela perguntou, e levantou os olhos para ele.
Ele abriu as mãos.
─ Qualquer que seja o salário atual aqui no Wyoming. - Ele disse simplesmente. ─ Eu
não tenho uma família para sustentar, não bebo, não fumo ou jogo. Eu só preciso
principalmente de um lugar para ficar e comida. - Ele sorriu. ─ Eu trabalharia duro. Eu
sempre trabalhei duro. Eu acho que um homem deve ganhar seu sustento.
Ela sorriu diante disso, notando o olhar curioso no rosto dele.
─ Bem, eu posso pagar o preço atual. - Disse ela depois de um minuto. ─ Não é uma
operação sofisticada, apenas um rancho de gado. Eu tenho dois cowboys de meio
período e um capataz de meio período, Bill...
─ McAllister. - Ele terminou por ela e sorriu. ─ Eu o conheci na cidade domingo. Nós
dois somos metodistas. Foi ele quem me falou sobre esse trabalho.
─ Bem. - Se Bill o colocou no caminho de Mina, ele deve ter visto algo de bom no
homem. Ela juntou as mãos sobre a mesa na frente dela. ─ Vamos fazer uma
experiência de um mês e ver se nos adaptamos? - Ela perguntou. ─ E tenho que lhe
dizer que não fico aqui uma boa parte do ano. Eu escrevo livros. Já sou bastante bem-
sucedida, então minha editora está organizando uma turnê, por todo o país, para
autografar livros, daqui a algumas semanas. Antes disso, tenho uma viagem de pesquisa
planejada. Você trabalhará principalmente para Bill até eu chegar em casa. E ele não vai
estar aqui o tempo todo. - Ela acrescentou.
Ele encolheu os ombros.
─ Eu sou proativo. - Disse ele. ─ Vejo o que precisa ser feito e faço. - Ele hesitou. ─ Há
apenas uma coisa. Você se incomoda com cachorros?
As sobrancelhas dela arquearam. Ela só teve um quando seu pai ainda estava em
casa. Era um pastor alemão, um enorme e lindo vermelho e preto chamado Duke. O
cachorro tinha ido com o pai, há muitos anos.
─ Acho que não. - Disse ela finalmente. ─ Desde que ele não coma os bezerros.
Ele riu.
─ Ele é um garoto doce. Nunca incomoda os outros animais. De fato, ele tem uma
aversão real por carne crua. Ele gosta de carne cozida.
─ Meu Deus! - Ela riu. ─ De que raça ele é?
Ele encolheu os ombros.
─ Heinz 57,* se você entende o que significa. Há husky nele, e alguns border collie
também, eu acho. O nome dele é Sagebrush.*
Ela sentiu uma história aí.
─ Sagebrush?
Ele sorriu.
─ Eu o encontrei em um monte de artemísia, meio faminto, quase desmamado. Eu
nunca soube o que aconteceu com a mãe ou os outros filhotes, se havia mais algum. O
levei para casa, dei banho, o levei ao veterinário para tomar as vacinas. Ele está comigo
desde então.
Ela ficou intrigada.
─ Eu realmente gostaria de conhecê-lo.
─ Certo. Venha para fora. Deixei-o na caminhonete, para o caso de você recusar.
Ela parou na porta.
─ E o que você teria feito se eu dissesse que não o aceitava?
Ele suspirou.
─ Eu ainda estaria procurando um emprego.
Ela sorriu. Isso dizia muito sobre o homem. Ela abriu a porta. Sagebrush era
grande. Ele devia pesar uns 40 quilos. Mas era amigável, meigo e parecia nunca saber o
que era um estranho. Ele tinha uma cabeça grande e pêlo como um husky, e até grandes
olhos azuis. O resto dele tinha pêlo preto e branco. E patas enormes.
─ Eu tive bezerros menores que ele. - Mina riu.
─ Eu também. - Confessou. ─ Eu não esperava que ele crescesse tanto.
─ Ele parece muito saudável. E não está acima do peso. - Acrescentou, estudando o
cachorro.
─ O veterinário disse que o tamanho o predispunha à displasia de quadril.* Eu não
quero me arriscar, então garanto que ele tenha o suficiente para comer, mas não muito.
Um homem que era tão bom para um cão vadio seria igualmente bom para as
pessoas. Bill McAllister tomou uma boa decisão, enviando-o para Mina. Ela teria que se
lembrar de agradecer a ele.
Um caminhão chegou antes que ela pudesse dizer ao candidato o que ele precisava
fazer. Era Bill McAllister. Ele desceu e se juntou a eles, sorrindo.
─ Vejo que você encontrou. - Disse ele ao homem mais jovem.
Ele riu.
─ Eu encontrei. Muitíssimo obrigado. Ela acabou de me contratar. - Ele acrescentou,
indicando Mina. ─ Vou trabalhar duro.
─ Eu sei que vai.
─ Ok, então, Bill, se você puder levar o Senhor... - Ela parou, piscou, corou. Ela nem
perguntou o nome do homem e não olhou para essa parte no pedido de emprego.
─ Jerry Fender. - Disse ele, estendendo a mão. Ele tinha certeza de que ela não
reconheceria o sobrenome. Era legalmente seu agora. Há muitos anos.
* Heinz 57 é uma alusão ao slogan histórico de publicidade "57 Variedades de Pickles" da HJ Heinz Company . Seria o nosso
SRD(Sem Raça Definida), mais popularmente conhecido como vira-lata.
*Sagebrush - Artemísia, vegetação, pradaria.
*A displasia de quadril é uma doença óssea, hereditária e degenerativa que consiste na má formação da articulação coxofemoral,
que une o acetábulo do quadril a cabeça femoral. Ou seja, durante a formação do cachorro o quadril se desloca ligeiramente ou
excessivamente para as laterais, impedindo o movimento correto desta região. Com o tempo isto vai se agravando e causando dores.
Aos poucos o pet vai tendo dificuldades de realizar suas atividades, podendo até ficar imobilizado.  Afeta, na maioria das vezes,
cães de raças grandes ou gigantes, principalmente se o cão não tiver recebido cálcio e minerais ao longo do seu crescimento.
Apesar de a doença aparecer principalmente por causas genéticas, existem fatores que podem favorecer seu desenvolvimento. É o
caso da má alimentação, obesidade, alterações hormonais e exercícios físicos em excesso. Duas raças pequenas, em especial são
propensas a essa doença: Buldogue inglês e francês.
─ Mina Michaels. - Ela respondeu, apertando a mão dele. ─ Espero que você goste
daqui. Bill, você pode acomodá-lo? E Sagebrush pode dormir no alojamento com ele. -
Ela olhou para Jerry e sorriu. ─ Você terá o alojamento para si. - Acrescentou. ─ Meus
outros caras, incluindo Bill, trabalham em meio período.
Ele inclinou a cabeça.
─ Sagebrush não se importa de dormir do lado de fora...
Ela balançou a cabeça com a sugestão.
─ Ele é um bom cachorro. - Disse ela. ─ Será bom ter um no local. Nós não temos um
cachorro desde... - Ela parou, lembrando. O olhar em seu rosto era triste. O novo
homem fez uma careta e se virou.
─ Ok, então. - Disse ele, interrompendo-a. ─ Se você tem certeza de que não se importa,
eu vou dar um banho nele.
Ela riu.
─ Trato feito. Ele com certeza tem muito pelo.
─ Esse é o husky nele. - Disse Jerry, curvando-se para afagar o pelo do cachorro.
Engraçado, Mina estava pensando, como aquele simples gesto provocava
lembranças de um tempo passado, quando seu pai tinha amado tanto Duke. Ela voltou-
se para a casa. O novo homem era estranhamente familiar, mas ela tinha certeza de que
nunca o havia conhecido antes. De qualquer maneira, não importava, desde que ele
fizesse um bom trabalho.

***
─ Ela é legal. - Jerry disse a Bill quando se mudou para o alojamento com seu cachorro.
─ Ela é. Um dia, ela estará no topo da lista de bestsellers do New York Times. - Bill
previu. ─ Ela sabe realmente escrever. Eles fizeram festas para ela o mês todo,
apresentando-a às melhores famílias.
─ Os ricos, eu presumo? - Jerry respondeu, e não muito entusiasmado.
─ Na maioria das vezes. Ela tem um amigo. Jake McGuire. Ele é dono de um dos
maiores ranchos da redondeza e gosta de Mina. Mas ela não gosta muito de homens. -
Ele balançou a cabeça. ─ Por causa do que ela passou em casa. - Acrescentou,
estremecendo. ─ Os amantes da mãe vinham e iam. Um espancou Mina, outro a fez se
esconder na floresta a noite toda. Ela teve uma vida infernal.
O outro homem engoliu em seco.
─ Ela parece ter se saído muito bem.
─ Ela é forte e persistente. - Ele riu. ─ Você deveria ler o último livro dela, SPECTRE.
Ela foi rastejando de bruços pelas selvas com uma AK-47 com esse grupo de
mercenários que a adotou para pesquisar a maldita coisa. Ela adora mercenários e
policiais. - Ele balançou a cabeça. ─ Está, rapidamente, se tornando um bestseller.
─ Bom Deus! - Ele exclamou e riu. ─ Vou ter que dar uma olhada.
─ Você não será capaz de largar. - Prometeu o homem mais velho. Jerry apenas sorriu.

***
Mina almoçou com Bart no restaurante local alguns dias depois.
─ Como é o seu novo contratado? - Ele perguntou.
Ela riu.
─ Bem, como você sabe sobre isso?
─ Bill. - Ele retrucou. ─ Ele diz que você tem um verdadeiro campeão lá.
─ Ouvi dizer que ele vai à igreja com Bill.
Bart a estudou.
─ Você não põe os pés em uma igreja há anos.
O rosto dela se fechou.
Ele suspirou.
─ OK. Não me fale.
─ Ouvi dizer que seu hóspede está acompanhando a feliz divorciada. - Disse ela depois
de um minuto. ─ Ele vai levá-la ao baile na quinta à noite?
─ Ele não disse. Você vai? - Ele perguntou.
Ela sorriu.
─ Eu não sei. Provavelmente não. Na próxima sexta-feira, Jake me levará à Billings
para comer o que ele diz ser o melhor bife a oeste do rio Mississippi. Se eu for ao baile,
ficarei muito cansada no dia seguinte para sair com Jake.
─ Jake é um cara legal.
─ Eu acho que sim. - Disse ela com um suspiro. ─ Mas eu não me sinto assim por ele.
-Ela olhou para Bart. ─ Está ficando sério, entre seu primo e Ida?
─ Não faço ideia. Ele diz que ela tem qualidades ocultas.
Ela olhou para cima e franziu os lábios.
─ Ah, aposto que sim.
O jeito como ela disse isso fez Bart se dobrar de tanto rir. Assim que ele começou
a responder, Cort entrou pela porta com Ida.

CAPITULO SEIS
O coração de Mina batia alucinadamente. Ela colocou as duas mãos em volta da
xícara de café e segurou firme. Ela não se importava se Cort namorasse aquela mulher
exuberante. Ele não pertencia a ela. Era arrogante, dominador e ela não o queria, mesmo
se ele estivesse interessado nela.
Mas seus olhos se voltaram involuntariamente para a mulher, que estava linda
com uma blusa xadrez comum e jeans azul. Mina daria tudo para ser tão bonita. Mas a
mulher tinha a moral de um gato de rua, lembrou a si mesma. Assim como a mãe de
Mina.
Cort viu Bart e sua amiga na mesa dos fundos e foi direto para eles com Ida ao seu
lado.
Mina trincou os dentes com tanta força que se preocupou em ter quebrado um.
─ Se importa se nos juntarmos a você? - Cort perguntou simplesmente. ─ Estamos a
caminho da loja de equipamentos. Eu preciso de um novo par de luvas.
─ Mas eu estou morrendo de fome, então ele se ofereceu para me alimentar. - Ida
acrescentou com um olhar afetuoso para Cort, que retribuiu atenciosamente.
─ Claro. - Disse Bart, e não olhou para Mina porque sabia qual seria a expressão dela. ─
Sentem-se. Já terminamos, mas as mesas estão escassas no momento. - Acrescentou
com um sorriso, observando que estavam todas ocupadas. ─ Parece que todo mundo no
Wyoming sabe onde está a melhor comida.
─ Nem brinque. - Disse Cort, puxando uma cadeira para Ida antes de se sentar. ─ Este
lugar tem um ótimo cozinheiro.
─ O Sheraton em Billings também. - Bart observou com um sorriso para Mina. ─ Jake
McGuire vai levar Mina para jantar no sábado.
─ Essa é uma longa viagem. - Observou Ida.
─ Oh, ele tem um jato particular. - Disse Bart simplesmente. ─ Não há distância quando
você está voando.
Isso era algo que Cort já sabia. Seu próprio rancho tinha um jato, junto com dois
aviões de apoio que eles usavam para o ajuntamento do gado e pilotos que levavam a
família para qualquer lugar que precisassem ir a negócios. Ou prazer.
─ Isso deve ser legal. - Disse Ida com um olhar tímido para Mina. ─ Todo mundo diz
que o Sr. McGuire tem um bom coração.
─ Ele tem. - Disse Mina tensa. Ela não disse outra palavra. Ida fez uma careta e Cort a
fulminou com o olhar.
Bart, sentindo o desastre pendente, olhou atentamente para o relógio.
─ Nós temos que ir.
─ Eu tenho um homem vindo para olhar um dos meus jovens touros. - Na verdade ele
não tinha, mas ia ligar para alguém para que fizesse isso, então Cort não o pegaria na
mentira. - Ele se levantou e esperou que Mina se juntasse a ele.
─ Vejo você em casa. - Bart disse a Cort.
Cort olhou para Ida e sorriu.
─ OK. Mas não espere acordado. - Acrescentou, sua voz profunda e sensual enquanto
olhava para Ida.
─ Eu não vou. - Disse Bart. Ele segurou o braço de Mina e quase a puxou para fora do
restaurante.
***
─ OK, o que foi tudo isso? - Ida perguntou quando os outros se foram.
Ele riu.
─ Apenas evitando problemas.
─ Mina não é moderna. - Disse ela, com os olhos curiosos. ─ Ela nunca perseguiria
você.
─ Eu estou me garantindo. Você se incomoda? - Ele perguntou.
Ela sorriu tristemente.
─ Não, claro que não.
─ Porque você acha que ela vai sair com McGuire? - Ele perguntou em seguida.
Ela piscou.
─ Bem, porque ela gosta dele, eu suponho.
─ Ele é podre de rico. - Ele retrucou. ─ Ainda mais rico que o primo dela, Rogan.
─ Os dois juntos não equivaleriam à metade do seu patrimônio líquido. - Ressaltou,
mantendo a voz baixa, para não ser ouvida.
─ Ninguém por aqui sabe disso. - Respondeu ele. E seu rosto ficou tenso. ─ Sou caçado
como um alce por mulheres há anos. Fiquei cansado, eu acho. Não me importo de
pagar, mas pra tudo há um limite. Eu queria ser amado por mim, não pela minha
carteira.
─ Eu tive o mesmo problema. - Ela confessou com um suspiro. ─ Então desenvolvi essa
reputação escandalosa que afasta a maioria dos homens. Com uma exceção aqui e ali. -
Ela refletiu, olhando para ele.
Ele riu.
─ Bem, eu tomei a reputação ao pé da letra, só no começo.
─ Eu percebi
Ele inclinou a cabeça e a estudou.
─ Você é realmente linda. - Comentou em voz baixa.
Ela sorriu.
─ Obrigada.
─ Você poderia se casar comigo. - Disse ele. ─ Pelo menos eu teria certeza de que não
seria pelo o que eu tenho.
Ela deslizou a mão sobre a dele na mesa.
─ Isso é muito lisonjeiro e agradeço a oferta. Mas chega de casamento. - Ela retirou a
mão. ─ Nunca mais. - Suas sobrancelhas arquearam. ─ E você está procurando por uma
esposa nos piores lugares. - Acrescentou. ─ Modelos, atrizes e debutantes não estão
procurando um homem que cava postes e cria bezerros.
Ele riu entredentes.
─ Imagino que não. - Ele teve uma imagem repentina de Mina no cavalo, segurando o
bezerro órfão em seu colo na sela. Isso aquecia um lugar dentro dele. ─ Mas a maioria
das mulheres nessa categoria não é rica. Algumas são predadoras e podem representar
bem. Estive com mulheres que juraram que eram virgens. - Ele deu-lhe um olhar
irônico. ─ E elas não eram.
─ Eu era, quando me casei pela primeira vez. - Disse ela. ─ Meu marido nunca me
tocou. Eu me senti absolutamente inútil como mulher. Depois que ele morreu e eu fiquei
rica com o que ele me deixou, me apaixonei por um homem que parecia o homem mais
forte e mais viril do mundo. Então casei com ele. - Ela estremeceu. ─ Eu realmente
nunca acreditei em todas as histórias que ouvia sobre homens brutais. Eu acredito agora.
- Ela disse friamente. ─ Eu acredito em cada palavra.
Ele balançou a cabeça.
─ Que pena que ainda não existem ações públicas para homens assim.
─ A cadeia é muito melhor. Meu ex-marido está morando em uma prisão estadual por
agressão e espancamento. Ele matou outro preso cinco meses depois de sua sentença,
agora nunca mais vai sair. - Ela sorriu, mas o sorriso era gelado e não alcançou seus
olhos. ─ Gosto de pensar que ele é companheiro de outro preso.
─ Mulher má. - Ele brincou.
Ela encolheu os ombros.
─ Eu não fui sempre assim.- Ela sorriu para ele. ─ Por quanto tempo você vai visitar o
seu primo?
─ Eu não sei. Algumas semanas, talvez. Meu capataz é quase tão bom quanto eu em
gestão de ranchos e ele vai me ligar se houver algum problema que ele não possa
resolver. Não haverá. Meu pai está voltando com sua nova esposa para que ela possa
experimentar a vida no rancho. Ele sempre administrava o rancho enquanto eu estava
comercializando gado e tratando de negócios. Não espero que a nova esposa dure muito,
se ela vier com ele. Nenhuma de suas mulheres jamais aguentou gado e poeira.
Ela respirou fundo e esperou até a garçonete anotar os pedidos antes de falar.
─ Aposto que o estilo de vida de seu pai o afetou. Você não cresceu em um lar estável
com dois pais que se amavam.
─ Eu fiz, na verdade. Minha mãe era uma santa. Depois que ela morreu, papai pareceu
perder a cabeça. Ele ficou com a modelo por alguns anos, mas depois disso, ele
estabeleceu novos recordes de promiscuidade. Acho que talvez isso tenha me afetado.
─ Meus pais se casaram logo após o colegial. - Ela lembrou com um sorriso. ─ Eles se
amavam muito, e a mim. Ele teve um ataque cardíaco aos 35 anos e morreu no
consultório médico. Foi tão grande que nada o salvaria. Minha mãe sofreu e sofreu. Ela
continuou vivendo por mim, mas seu coração estava no túmulo com meu pai. Quando
eu fiz 21 anos, ela viajou em um cruzeiro e caiu ao mar. Eles nunca encontraram o
corpo.
Ele estremeceu.
─ Isso deve ter sido traumático.
Ela assentiu.
─ É muito pior quando as pessoas morrem assim. Você nunca realmente perde a
esperança de que talvez alguém os tenha encontrado, eles tenham perdido a memória,
coisas assim. ─ Ela olhou para cima. ─ Eu sei que ela se afogou. Eu simplesmente não
pude aceitar por um longo tempo. Finalmente, comprei uma dessas urnas para pessoas
que são cremadas. Coloquei suas joias favoritas e alguns cabelos de sua escova, um anel
que ela gostava, um enfeite de Natal e os fechei. Está na minha lareira. Então, tenho
algo dela perto de mim.
─ Esse é um tipo especial de memorial. - Disse ele. ─ Eu nunca teria pensado nisso.
─ Uma inovação. - Disse ela. E sorriu. ─ Isso ajudou a me adaptar à vida sem ela.
─ Enterramos minha mãe no cemitério de nossa igreja metodista local. Coloco flores no
túmulo dela nos feriados e no aniversário dela, por mim e meus irmãos.
─ Eu faço isso pelo meu pai.
A garçonete voltou com o pedido.
─ Vamos ao baile na quinta à noite? - Ele perguntou.
Ela sorriu.
─ Vão fofocar sobre nós.
─ Bom. - Ele disse.
Ela apenas riu.

***

Jake McGuire chegou bem na hora de buscar Mina para seu encontro na sexta-
feira. Como ele disse, eles não se vestiram elegantemente. Mas ele usava jeans e botas
de grife, com uma camisa xadrez azul sob um casaco de couro preto, com um novíssimo
Stetson creme sobre os cabelos escuros. Ele poderia ter sido modelo para uma casa de
alta costura. Mas Mina era tímida demais para mencionar isso.
Ela usava calça e uma blusa branca simples sob um longo suéter que chegava aos
quadris. Não era caro, mas era uma roupa moderna. Ela colocou um colar e brincos de
pérolas cultivadas.* Elas foram um presente de formatura de seu primo Rogan.
─ Você parece muito bonita. - Jake disse, suspirando enquanto a olhava. ─ Gosto
quando você não prende o cabelo naquele coque.
*A pérola é o resultado de uma espécie de defesa de organismo do molusco a um invasor, um organismo externo que pode ser
desde um grão de areia até um parasita. Nem todas as ostras formam pérolas, somente as perlíferas que fazem parte das famílias
Pteriidae (de água salgada) e Unionidae (de água doce). No caso das pérolas cultivadas, um corpo estranho, mais especificamente
uma parte de outro molusco (nada de grão de areia), é injetado propositadamente na ostra e, então, o molusco se encarrega de cobri-
lo com camadas e mais camadas de nácar, até formar a pérola. Essa ação pode levar de 3 a 7 anos, dependendo do tamanho desejado
da pérola

Ela riu timidamente.


─ Eu provavelmente vou comê-lo também. Ele voa para a minha boca constantemente
quando a abro.
Ele se inclinou e colocou os fios castanhos-mel atrás das pequenas orelhas.
─ Pronto. - Ele disse com voz rouca.
Ela sorriu para ele, mas não sentiu coisa alguma, e ele percebeu isso. Ele se
afastou. E se forçou retribuir o sorriso.
─ Pronta para ir? - Ele perguntou.
Ela assentiu.
─ Ai sim. Nunca estive em um jato.
─ Nunca? - Ele perguntou.
─ Bem, não em um pequeno. - Ela especificou. ─ Eu tive que voar para Nova York para
conversar com meu agente e minha editora. Mas eu voei na classe turística.
Ele riu.
─ Isso será muito melhor que a turista. - Prometeu.
E foi. O jatinho tinha assentos e mesas fantásticos. Havia um pequeno quarto, um
banheiro e até televisão.
─ Isso é incrível. - Ela exclamou enquanto prendia o cinto de segurança em seu assento
para decolar. ─ Você roubou isso de um alienígena? - Ela perguntou com um sorriso
travesso.
Ele riu.
─ Não exatamente.
─ Tem tudo!
─ Bem, tudo, exceto uma aeromoça. - Ele murmurou. E se inclinou na direção dela. ─ O
que significa que teremos pacotinhos de amendoins durante o voo.
Ela começou a rir. Ele sorriu para si mesmo. Pelo menos ela gostava dele, pensou.
Ele poderia construir sobre isso.

***
Billills era uma grande cidade em expansão, com uma atmosfera de cidade
pequena. As pessoas no restaurante eram amigáveis e extrovertidas, e a comida era
incrivelmente boa.
─ Isso é incrível. - Exclamou Mina, saboreando o bife que pediu. ─ Eu nunca provei
carne tão boa! Nem mesmo a minha.
─ Eles têm uma reputação local. - Ele disse a ela. ─ Eu adoro comer aqui. Ei... -
Acrescentou ele com um sorriso. ─ poderíamos voar até Galveston para comer frutos do
mar durante um fim de semana.
Ela hesitou e apenas uma pitada de cor tocou suas bochechas. Ela não queria
ofendê-lo, mas não podia sair com um homem para um fim de semana.
─ Oh. Entendo. - Ele murmurou. E sorriu gentilmente. ─ Seria uma viagem de um dia.
Apenas ida e volta. Honestamente.
Ela soltou o ar que estava segurando.
─ Desculpe. - Disse ela. ─ Eu não sou moderna.
─ Querida, eu não me importo com isso. - Ele disse suavemente.
─ Nem eu.
Ela retribuiu o sorriso. Ele realmente era uma boa pessoa. E era bom ter um
homem sendo amigável. Nada como aquele animal de cowboy que trabalhava para Bart
e fazia o possível para afastá-la em todas as oportunidades. Mesmo agora, ele estava
rodando com a promíscua e feliz divorciada por toda Catelow. Ele a levou ao baile
ontem à noite e as pessoas já estavam fofocando sobre eles. Bart mencionou quando
telefonou para ela esta manhã para obter algumas estatísticas sobre seus bezerros. Ao
que tudo indica, a divorciada era boa na cama, Mina pensou sombriamente. Todo
mundo dizia isso.
─ O que há de errado? - Jake perguntou, preocupado com a expressão dela.
Ela corou.
─ Oh. Eu estava pensando em Charlie. - Ela mentiu. ─ Eu meio que sinto falta dele.
Ele piscou.
─ Charlie?
─ Meu touro. Bem, o touro que eu tive que dar.
─ Por que você teve que se livrar dele?
Ela contou a ele, relaxando mais enquanto contava a triste história. Pelo menos ela
desconversou sem mencionar Cort. E por que ela estava pensando nele e Ida era um
enigma. Ela nem gostava dele!

***
Jake voou com ela de volta para casa. Já era tarde quando a limusine que ele
contratou a deixou na porta da frente.
─ Eu me diverti muito. - Disse ela, segurando a bolsa na frente dela. ─ Obrigada.
─ Eu gostei também. - Ele deslizou as mãos nos bolsos e sorriu para ela. ─ Galveston,
no próximo fim de semana?
Ela riu.
─ Bem... ok.
Seu coração se elevou. Ele sorriu de orelha a orelha.
─ Então é um encontro. Venho buscá-la por volta das nove da manhã do próximo
sábado.
─ Estou ansiosa por isso.
─ Quando você tem que ir a Nova York?
Ela disse a ele.
─ Acho que daqui a quatro semanas, a menos que eles mudem de ideia. É para assinar
um novo contrato para quatro livros. - Disse ela. ─ Fazer algumas noites de autógrafos
locais. E uma turnê de mídia via satélite.
─ Uma o quê? - Ele perguntou.
─ Turnê de mídia via satélite. - Disse ela. ─ Um maquiador vem e trabalha em mim,
então eu sento em uma sala com o cara do som e o cinegrafista, e o cara na cabine faz as
conexões com as estações de televisão de todo o país. Os apresentadores me fazem
perguntas e eu tento respondê-las. Leva muito tempo.
─ Eu nunca ouvi falar de uma coisa dessas.
Ela sorriu.
─ Eu também não, até fazer a primeira. Mas agora não me importo muito. E eu posso
fazer perguntas para as pessoas na estação de televisão da qual transmitimos. Aprendo
todo tipo de coisas com histórias que eles me contam sobre outras pessoas com quem
trabalharam.
─ Parece fascinante.
─ Certamente é, para uma garota de cidade pequena que nunca esteve em lugar nenhum.
- Ela riu. ─ Continuo pensando que um dia vou acordar e tudo isso terá sido apenas um
sonho.
 ─ Não é um sonho. Sinceramente. - Ele verificou o Rolex e fez uma careta. ─ Detesto
correr, mas tenho uma teleconferência em breve.
─ A essa hora? - Ela perguntou, surpresa.
─ Eu faço negócios em todo o mundo. Em algumas lugares, é de manhã.
─ Eu não sabia.
─ A vida é um processo de aprendizado. - Ele brincou.
Ela sorriu para ele.
─ Eu que o diga!
─ Quando você tiver que ir para Nova York, eu voarei com você. - Disse ele.
Ela sorriu.
─ Seria muito gentil da sua parte.
─ Eu tenho segundas intenções. - Ele brincou. ─ Eu sei onde estão todos os bons
restaurantes em Manhattan.
Ela riu.
─ OK.
Ele sorriu levemente também e se inclinou para colocar sua boca na dela em um
beijo gentil e respeitoso.
─ Boa noite, doce mulher.
Ela corou.
─ Boa noite.
Ele suspirou. Ela não iria se apaixonar, mas já gostava dele. Era uma base, mais
ou menos, onde ele poderia construir.
─ Vejo você no próximo sábado. - Disse ele.
Ela assentiu.
─ Próximo sábado.
Ele lhe dirigiu um olhar longo, penetrante e voltou à limusine. Ela entrou. Ele
estava apaixonado. Ela percebeu. Mas realmente não podia sentir o mesmo por ele. E
não entendia o porquê. Ele era agradável, bonito, brilhante, rico mas não houve faísca,
nem pulso acelerado quando ele a tocou. Involuntariamente, sua mente foi para Cort
Grier e como se sentiu quando ele a olhou enquanto segurava o bezerrinho no colo. Seus
olhos castanhos claros eram firmes e curiosos. O coração dela pulou. Ela rangeu os
dentes. Não podia se dar ao luxo de se envolver com um vaqueiro errante que
provavelmente não ficaria no rancho de Bart por mais de algumas semanas. Ela também
não ia.
***

Ela estava fazendo uma torta na segunda de manhã quando ouviu alguém bater na
porta da frente. Irritada, porque suas mãos estavam cheias de farinha, ela foi atendê-la,
resmungando e limpando as mãos em um pano de prato ao mesmo tempo.
Ela abriu a porta e Cort Grier estava lá, com uma cesta de maçãs.
Ela apenas o olhou. Ele tinha estado com aquela linda divorciada na cidade sexta-
feira. O que ele estava fazendo aqui?
─ Bart enviou isso. - Ele disse secamente. ─ Ele disse que você gostaria de maçãs
frescas para fazer tortas com elas.
─ E ele espera conseguir uma, aposto.
Ele encolheu os ombros.
─ Ele diz que você é a melhor cozinheira em dois condados. - Seus olhos experientes,
entrecerrados e curiosos a percorreram de cima a baixo.
─ Posso por isso em algum lugar? - Ele perguntou.
─ Oh! - Ela abriu a porta para deixá-lo entrar com a cesta pesada. ─ Apenas a coloque
na cozinha, se você não se importar. Eu estava fazendo a decoração da torta...
Ele colocou a cesta no chão e olhou para a decoração ao redor da borda da massa
nos pratos.
─ Isso está bonito. - Ele disse involuntariamente.
Ela sorriu.
─ Aprendi assistindo a vídeos no YouTube. - Confessou. ─ É muito melhor do que os
livros de receitas, porque você pode ver todas as etapas do processo e acompanhar. Não
lembrava muito do que lia e não conseguia seguir as instruções. - Ela fez uma careta. ─
É por isso que geralmente faço chapéus e cachecóis quando tricoto. Eu tentei fazer um
par de meias uma vez seguindo um esquema. - Ela suspirou. ─ Bart os viu e perguntou
se eram capas de antenas.
Ele riu.
─ Ele faria isso.
─ Adoro fazer tricô e crochê... - Disse ela. ─ enquanto assisto televisão.
─ Não tenho muito tempo para a TV. - Respondeu ele.
─ Eu posso imaginar. Especialmente durante o ajuntamento do gado.* Há muito
trabalho.
Ele assentiu. Não ia dizer a ela que grande parte de seu trabalho era
administrativo. Ele ajudava os seus homens durante o ajuntamentodo gado, mas não era
realmente necessário.
─ Bart disse que você contratou um homem em tempo integral.
Ela sorriu.
─ Contratei. Ele tem experiência em trabalhar com o gado e veio com ótimas
referências. Eu gosto dele. Ele é um homem mais velho, tranquilo, sem dependentes.
* Roundup(ajuntamento) - É um processo que acontece na primavera e que consiste na reunião do gado com a finalidade de
desmame dos bezerros, marcação e classificação dos bezerros entre gado de corte e leiteiro para posterior venda.
─ Você confia nele? - Ele perguntou baixinho, e parecia realmente preocupado. ─
Quando os funcionários em tempo parcial vão para casa, você fica aqui sozinha com ele.
─ Ele não vai dormir na casa. - Protestou ela.
─ Não é isso que eu quero dizer. Você fez uma verificação de antecedentes?
Ela colocou as mãos nos quadris e olhou para ele.
─ Vou tratar disso com os meus advogados assim que eles resolverem a questão da
indenização por danos do meu novo iate.
Ele pensou por um minuto e depois riu.
─ Você é imprevisível. - Disse ele. ─ Quando penso que a conheço, você faz algo fora
do contexto.
─ Faz parte do meu charme fatal. - Disse ela sem sorrir.
Ele inclinou a cabeça e olhou para ela.
─ Falando em charme fatal... - Disse ele com uma ponta de ironia em sua voz profunda.
─ como foi o encontro com McGuire?
─ Como foi o encontro com a sua viúva? - Ela retrucou.
Ele arqueou uma sobrancelha. E sorriu muito lentamente.
─ Como você acha que foi? - Ele perguntou com uma pronúncia lenta, com um mundo
experiência sensual em seus olhos castanhos claros.
As maçãs do rosto de Mina ficaram coradas e ela abaixou o olhar para o peito
dele. Outro erro, porque o peito era era largo, másculo e salpicado de pelos grossos e
escuros que apareciam na parte de cima da camisa que estava desabotoada até abaixo de
sua clavícula.
Ele franziu a testa. Ela era tão diferente das mulheres que conhecia. Ela era
reservada. Bart mencionou que ela realmente não namorava ninguém. Ela ficava em
casa. Ele lembrou o que sabia da infância dela, seu trauma com os amantes da mãe. A
intimidade seria difícil para uma mulher que passou pelo que ela passou. Um parceiro
indiferente ou egoísta destruiria a pouca auto-estima que lhe restava.
Uma inocente, ele pensou, sua mente girando com ideias estranhas e inaceitáveis.
Ela não era linda. Mas aquele cabelo, aquele cabelo maravilhoso pendurado como uma
bandeira loiro-acastanhado em suas costas, aqueles seios pequenos e visíveis sob o
suéter que ela usava, seus quadris suavemente arredondados. Ele sentiu seu corpo
responder a essas imagens e lutou para mantê-lo sob controle.

***
─ Onde você conseguiu maçãs em março? - Ela perguntou quando o silêncio ficou
muito cheio de tensão.
─ Existe um mercado cheio de alimentos que acabou de abrir em Catelow. - Disse ele,
sua voz soando estranhamente tensa. ─ Bart foi fazer compras. Ele gosta de orgânicos.
─ Eu também. - Ela ouviu falar sobre o mercado. Teria que dar uma olhada. Ela se virou
e olhou para as bonitas maçãs vermelhas em seu pequeno cesto. ─ Essas estão bonitas. -
Disse ela.
Ele se aproximou por trás dela. Perto. Muito perto. Ela podia sentir o calor do
corpo grande, aspirar a leve fragrância que emanava dele.
Ela estava respirando estranhamente. Seu coração começou a acelerar. Ela estava
nervosa e não conseguia esconder. Ela nunca teve tal reação a um homem. Diziam que
ele era um mulherengo. Ele sabia?
Claro que ele sabia. Ele quase podia sentir o coração dela bater. Ela cheirava a
flores silvestres e farinha. Sem perceber o porquê, suas mãos grandes e magras
deslizaram pela cintura dela e a puxaram de encontro a seu corpo.
─ Quanto tempo leva para fazer uma torta assim? - Ele perguntou, só para ter o que
falar.
─ Não... não muito tempo. - Suas mãos pequenas tentaram afastar as dele, mas pararam
quando os dedos dele se espalharam sobre sua cintura e se moveram para segurá-la ali.
Involuntariamente, suas mãos deslizaram sobre as dele. Ela estava quase estremecendo
pelas fortes batidas do seu coração.
Sua boca tocou o pescoço dela. Seus lábios deslizaram sobre ele, através dos fios
macios dos longos cabelos. Estranho, como ele estava ávido por ela. Ele nunca brincou
com inocentes, nunca. Ele limitou sua procura a mulheres que estavam em sua própria
classe, modelos, debutantes, estrelas de cinema e até estrelas de esportes. Era uma
tragédia em formação, e ele sabia disso. Mas ela era tão malditamente doce. Ela o fazia
ansiar por coisas que ele nunca quis.
─ Sr... Sr... - Ela engoliu em seco. ─ Não me lembro do seu sobrenome.
─ Meu nome é Cort. - Ele sussurrou em seu ouvido. Suas grandes mãos se contraíram,
quentes e fortes ao redor da cintura dela, e a puxaram para mais perto. ─ Diga.
─ Cort. - Ela sussurrou trêmula. Isso estava errado. Ela tinha que parar agora, enquanto
podia. Ela se remexeu nas mãos dele.
Mas antes que ela pudesse protestar ou dizer uma palavra, seus olhos castanhos
claros encontraram os dela e os prenderam. As mãos dele foram para as costas dela e a
puxaram, muito gentilmente, até ela estar quase completamente colada ao seu corpo alto
e musculoso.
─ Eu... eu não posso .. - Ela tentou falar.
─Sim, você pode, Mina. - Ele sussurrou enquanto inclinava a cabeça. ─ Fácil. - Ele
murmurou quando sua boca tocou ternamente a dela e ela estremeceu em seus braços. ─
Lento e fácil. É como... dançar.
Ela queria afastá-lo. Realmente queria. Mas seu corpo doía pelo contato com o
dele. Ela se sentiu protegida. Inquieta. Excitada. Trêmula. E os lábios dele estavam
fazendo algo estranho aos dela. Não era como com Jake. Isso era excitante, o suave e
lento toque, o leve mordiscar de seus dentes, o som áspero de sua respiração enquanto o
contato o afetava.
Ao longo dos anos, houve apenas alguns beijos, mais recentemente com Jake. Mas
isso estava totalmente fora de sua experiência. Ele a fazia querer algo mais, mais
intenso, mais profundo, e ela se colocou na ponta dos pés para tentar convencer a boca
provocante a fazer o que ela queria.
Ele sorriu contra os lábios dela. Ele sabia como as mulheres reagiam. Sabia muito
bem. Ele era experiente nessa antiga arte. Seus lábios persuadiram os dela e suas mãos a
levantaram para um contato mais íntimo com ele. E então a provocação parou.
Sua boca desceu sobre a dela, dura e faminta, seus braços a enclausuraram, a
possuíram, enquanto o beijo se tornava mais íntimo a cada segundo.
Ela sentiu o corpo poderoso estremecer. Ele gemeu contra os lábios dela. Ela
estava perdida, instável, faminta por algo que não entendia.
Uma mão grande foi para a base da sua coluna e pressionou os quadris contra os
dele. Ele estremeceu, deixando-a sentir a repentina e crescente excitação do seu corpo
quando ele começou a intumescer.
Ela não era tão inocente a ponto de não perceber o que estava acontecendo com
ele. Ela estava quase entorpecida pelo prazer que os lábios dele estavam lhe
proporcionando, mas a mudança brusca do corpo dele a trouxe de volta à realidade. Ele
era um cowboy. Teve muitas mulheres. Ela sabia disso pela maneira que ele estava com
ela. Podia reconhecer a experiência, embora ela mesma tivesse muito pouca. Ela relaxou
a boca de sob o esmagamento da dele e tentou se afastar.
Ele estava todo dolorido. Excitado, tão acostumado com mulheres que o seguiam
impotentes para o quarto que não tinha experiência de parar antes da intimidade. Ela
estava se afastando. Seu cérebro lento finalmente percebeu que ela estava protestando
contra o controle que ele exercia sobre ela.
Ele levantou a cabeça. Confuso. Ela era poderosa, essa virgenzinha doce e
perfumada.
─ Sinto muito... - Ela sussurrou. ─ Mas...
Ele a deixou se afastar dos seus quadris, mas não a soltou. Seus olhos pálidos,
escurecidos pela paixão, procuraram os dela. O suave inchaço de sua boca, as pequenas
respirações ofegantes dela que ele podia sentir contra seus lábios, o leve tremor de seu
corpo lhe diziam coisas que ela mesma não faria.
Ele estremeceu levemente, indefeso em sua excitação enquanto lutava por
controle.
Ela o observou fascinada, embaraçada, um pouco envergonhada.
─ Sinto muito. - Ela sussurrou novamente, fazendo uma careta.
Então ela sabia que doía para os homens quando eles não podiam passar da fase
das carícias, ele pensou distraidamente. Ela era inocente?
─ Como você sabe disso? - Ele perguntou em um tom tenso.
─ Sei o que? - Ela perguntou.
─ Que dói no homem ter que parar subitamente.
Ela mordeu o lábio inferior e desviou o olhar.
Ele franziu a testa. Isso não parecia com nenhuma mulher experiente que ele já
tivesse conhecido.
─ Conte-me. - Ele disse calmamente.
Ela pressionou as mãos pequenas na maciez da camisa dele, sentindo os pelos e os
músculos espessos por baixo dela.
─ O namorado da mamãe. Henry. Ele tentou... - Ela reprimiu as lágrimas. ─ Eu estava
dormindo. A porta estava trancada, mas todas elas abriam com uma daquelas chaves
longas de aparência engraçada e ele tinha uma. Eu acordei com ele em cima de mim. Eu
o empurrei para longe, ele gemeu e disse que doía ter que parar e perguntou por que eu
não o deixava fazer o que queria? Afinal, minha mãe permitiu...
Ele a envolveu em seus braços e apenas a abraçou, acalentando-a.
─ Quantos anos você tinha?
Ela reprimiu um soluço.
─ Quinze.
─ Essa não foi a única vez, foi? - Ele perguntou, sua voz profunda e cortante. Furiosa.
─ Não. Mas aprendi a empurrar móveis pesados contra a porta. Isso o deixou louco.
Pouco tempo depois disso ele veio atrás de mim com o cinto e me espancou.
─ Querido Deus. - Ele sussurrou.
─ Liguei para o xerife e eles enviaram um auxiliar, mas minha mãe disse que eu odiava
Henry e inventava histórias sobre ele. Ela não deixou o policial me ver. Minhas costas
estavam cobertas de hematomas. - Ela sufocou outro soluço. ─ A única coisa boa... - Ela
disse em um tom miserável. ─ foi que mamãe o manteve afastado de mim, depois disso.
Bem, depois que ele se vingou por eu chamar a polícia. Eu fiquei realmente machucada
então. Eu perdi dois dias de escola.
Sua grande mão afagou os longos cabelos dela.
─ Coitadinha. - Ele resmungou, pressionando os lábios sobre a testa dela. ─ Que vida
infernal você teve.
─ Dizem que o que não nos mata nos fortalece. - Disse ela, com a voz vacilante. ─ Eu
acredito nisso.
─ Nenhuma criança deveria passar por isso. - Ele se afastou dela e olhou em seus olhos
úmidos. Ele se inclinou e beijou suavemente as lágrimas. O que só trouxe mais delas.
Ninguém nunca a confortou. Nem mesmo Bart, que sabia que ela não gostava de ser
tocada, mesmo por amigos.
─ Eu nunca tive a quem recorrer. - Ela sussurrou, inclinando a cabeça contra ele. ─ O
primo Rogan morava, praticamente, na Austrália. Só muito depois Bart se tornou meu
amigo. - Ela suspirou e encostou a bochecha no peito largo dele. ─ Eu nunca tive com
quem conversar, sobre o que aconteceu.
Os braços dele se apertaram. Ela sentiu os lábios dele nos seus cabelos.
─ Fui ao Iraque para salvar o mundo. - Ele sussurrou. ─ Mas o combate não é assim. É
sangrento, cruel e você perde amigos que morrem ao seu lado. - Os olhos dele se
fecharam. Ele nunca falou sobre isso, exceto com seus irmãos. ─ Passar por uma
experiência como essa muda alguma coisa dentro de você.
Ela se afastou e olhou nos olhos dele.
─ Você tem pesadelos, não é? - Ela perguntou, como se soubesse.
Ele hesitou. Então assentiu. Seu rosto estava duro, frio e tenso com a lembrança
da dor.
Ela estendeu a mão e ajeitou uma mecha de cabelo escuro que tinha caído sobre a
testa larga.
─ Eu também tenho pesadelos.
Ele sorriu ternamente.
─ A vida é difícil.
Ela retribuiu o sorriso.
─ "A noite está escura e cheia de pavor".* - Citou de sua série de televisão favorita.
* Para quem não identificou a série referida é Game of Thrones.
Ele riu.
─ Então é isso. Lobo ou leão? - Ele perguntou.
─ Lobo. Definitivamente lobo. Eu adoro o Fantasma. - Ela disse, referindo-se ao lobo
gigante que era o companheiro de um dos personagens principais da série. Ela inclinou
a cabeça. ─ E você?
Ele encolheu os ombros.
─ Urso.
Ela arregalou os olhos. Havia apenas uma facção que tinha um urso como
símbolo, e era chefiada por uma garotinha com um coração valente e uma atitude ruim.
─ Você está brincando!
Ele sorriu.
─ Ela é a oprimida. Nem tem cem homens lutando. Além disso... - Ele acrescentou com
uma risada. ─ ela tem mais coragem do que alguns dos soldados.
Ela sorriu.
─ Sim, ela tem.
Ele emoldurou o rosto dela em suas grandes mãos, as deslizou até seus longos e
sedosos cabelos. Ele suspirou.
─ Adorei o que fizemos. - Disse ele depois de um minuto. ─ Mas eu não estou
preparado.
Ela corou.
─ O que?
Ele sorriu maliciosamente.
─ Estou totalmente sem preservativos. - Disse ele sem rodeios, e riu quando ela corou
ainda mais. ─ E você provavelmente usa um cinto de castidade cheio de tachinhas.
─ Na verdade, tem pregos. - Ela respondeu.
Ele riu.
─ Ainda bem. Eu tenho pavor de virgens.
─ Você tem mesmo? - Ela perguntou e pareceu curiosa sobre a resposta.
Ele respirou fundo.
─ Quanto você sabe sobre o seu próprio corpo?
Ela limpou a garganta.
─ Eu sei o suficiente. A aula de saúde era muito específica.
─ Você aprendeu sobre... barreiras?
Ela corou.
─ Bem...
Ele se inclinou e roçou a boca sobre a dela.
─ Isso é o que me assusta. - Concluiu. ─ Só para você saber... - Ele levantou a cabeça,
mas seus olhos estavam sérios. ─ eu fico excitado quando toco em você. Realmente
excitado. Eu quase perdi o controle, antes que você se afastasse. - As mãos grandes dele
descansavam em seus ombros, e ele parecia muito mais velho que ela. ─ Já faz um
tempo desde que eu atendi minhas necessidades básicas. Então, precisamos esfriar.
Ela baixou os olhos para a camisa dele.
─ Eu não comecei isso.
─ Você não precisou. - Ele levantou o queixo e a estudou. ─ McGuire conseguiu o que
você me deu?
Ela ficou boquiaberta. Os olhos arregalados.
Ele pensou em McGuire e sua riqueza, e um pensamento irritante veio à sua mente
e se recusou a ser banido. Não o agradava vê-la perto do outro homem. Ele se perguntou
o que ela viu no outro homem. Se ela não mantinha uma relação com McGuire, por que
não mantinha? Ela estava amarrando o homem, por algum motivo oculto? Ela queria
deixá-lo faminto para que ele desse a ela o que queria? O pensamento não o
abandonava. Ele conhecia mulheres mercenárias. Elas vinham em todas as formas e
tamanhos, e algumas delas eram realmente boas atrizes. Podiam fingir inocência. Ele
não confiava nas mulheres. Nem mesmo nesta, que o atraía de uma maneira incomum.
Seus olhos pálidos ensombreceram.
─ McGuire poderia comprar e vender a maioria dos homens por aqui. E você tem um
pequenino rancho. Comparado com outros.
Ela se afastou e seus olhos escuros começaram a brilhar.
CAPITULO SETE
─ Essa é uma insinuação sórdida. - Disse ela rispidamente.
Ele franziu os lábios sensuais e levemente inchados enquanto a observava.
─ É, não é? Ele é rico e você não é. E você o está namorando.
Ela mordeu o lábio inferior, quase tirando sangue. Ela olhou para ele com olhos
magoados. Como podia acreditar que ela era mercenária?
A resposta era aquela que ele observou pessoalmente. Ele era mais rico que
McGuire, mas ela não sabia. Ela parecia e soava inocente. Mas ele já havia sido
enganado antes. Talvez ela soubesse sobre ele, soubesse a verdade e estivesse apenas
fazendo um jogo.
Seus pálidos olhos castanhos se entrecerraram.
─ Você era extremamente pobre enquanto crescia, não era? - Ele perguntou de repente.
Ela engoliu em seco e se afastou dele.
─ Sim.
Ele a olhou, observando sua boca macia, seus olhos hostis, sua postura rígida.
Estava confuso. Fazia muito tempo que não queria tanto uma mulher. E se ele fosse
sincero, dissesse a ela quem realmente era, lhe oferecesse coisas bonitas?
Ela respirou fundo, virou-se e voltou às suas tortas.
─ Caso você esteja se perguntando... - Ela disse com uma voz um pouco trêmula de
raiva. ─ não faço nada por dinheiro. Minha mãe fazia isso. Eu não.
Por que ele deveria se sentir culpado era um mistério. Mas ele se sentia. Ela não
podia estar inventando. Ele ouviu a verdade sobre o passado dela através de Bart. Ela
foi vítima do namorado da mãe de forma terrível. Então, por que ele a estava acusando
de ser mercenária? Talvez porque ele teve experiência com mulheres que não tinham
nada e queriam tudo.
Ele não queria que acontecesse novamente. Tinha que tirar as mãos dela e colocar
alguma distância entre eles. Ela era doce, receptiva e ele estava faminto. Muito faminto.
Fazia muito tempo. Bem, já fazia muito tempo para ele, corrigiu. E se houvesse a
chance dela realmente ser virgem...
Seu pulso acelerou só de pensar nisso. Ele nunca teve uma inocente. Ela o fazia
doer. E isso era desconfortável.
─ Há mais alguma coisa? - Ela perguntou laconicamente.
Ele foi até à mesa e apoiou o quadril nela enquanto a observava trabalhar. Suas
próprias mãos estavam enfiadas profundamente nos bolsos de seus jeans, por garantia.
O rosto dela estava virado, mas ele podia ver a mágoa expressa nele. Uma mulher
mercenária reagiria realmente assim?
─ Eu não confio em mulheres. - Disse ele sem rodeios. ─ Também não gosto muito
delas.
Ela olhou para ele, surpresa com a honestidade. E engoliu em seco.
─ Não gosto muito de homens. - Respondeu ela. E fez uma careta. ─ Há todo esse
alvoroço sobre como as mulheres podem fazer qualquer coisa. Mas quando Henry me
espancou com o cinto, tudo em que eu conseguia pensar era em quão grande ele era. Eu
estava com medo de lutar com ele, porque ele estava bêbado e pensei que isso o faria
usar o cinto ainda mais.
─ Há muitas coisas que as mulheres podem fazer. - Disse ele calmamente. ─ Mas
algumas não conseguem. Basicamente, uma mulher não consegue igualar a força da
parte superior do corpo de um homem. Isso a coloca em desvantagem se as coisas
ficarem físicas. Bem, se ela não teve treinamento em artes marciais ou combate corpo a
corpo. - Ele emendou.
─ Eu gostaria de algumas lições de artes marciais. - Disse ela. ─ Mas eu nunca tive o
dinheiro necessário. Tudo o que eu tinha era o que ganhava como garçonete, e minha
mãe ficava com tudo.
Ele fez uma careta.
─ Por que você não fugiu?
Ela se virou e olhou para ele.
─ Para onde eu teria ido? - Ela perguntou solenemente. ─ Mamãe convenceu as pessoas
por aqui de que eu era uma mentirosa. Ninguém teria acreditado em mim sobre Henry.
─ Bart teria.
Ela sorriu tristemente.
─ Henry era perigoso quando bebia e mantinha uma pistola carregada em casa. Não
estava disposta a arriscar a vida de Bart, nem para salvar a minha.
Ele respirou fundo. Ela parecia genuína. Teria sido difícil inventar tantas mentiras
sobre o passado.
─ Eu nunca me aproximei de bebidas. - Disse ele. ─ Bem, não até eu ir para o exterior.
-Ele suspirou. ─ Muitos homens bebem depois da guerra.
─ Incluindo você? - Ela perguntou, como se soubesse.
Ele desviou os olhos.
─ Por um tempo. - Confessou. ─ Eu tinha um amigo com quem fiz todo o treinamento
básico. Ele era um ótimo garoto. Cresceu no condado de Dade, Flórida, e o pai era
detetive lá. - Seu rosto ficou tenso. ─ Fomos destacados para o Iraque. Era nosso
primeiro dia lá. Um atirador de elite o atingiu. Ele estava ao meu lado num minuto e
morto no outro, com parte de sua cabeça faltando. Eu nunca tinha visto alguém ser
morto antes. - Acrescentou ele em voz baixa.
Ela estava ouvindo. Apenas ouvindo. seus olhos escuros estavam firmes no rosto
dele, cheios de simpatia.
─ Houve muito mais do que isso também, não houve? - Perguntou ela.
Seus dentes entrecerrados rangeram.
─ Muito mais.
─ Meu pai esteve no exército, em combate. - Disse ela, voltando sua atenção para a
farinha. ─ Eu o ouvi falar sobre isso com minha mãe, apenas uma vez. Ele disse que era
como ser condenado ao inferno.
─ Essa não é uma analogia ruim. - Ele suspirou. ─ Você nunca mais ouviu falar do seu
pai, depois que ele partiu?
Ela balançou a cabeça.
─ Eu não quero ter notícias dele. Ele foi embora sem me dizer uma única palavra, me
abandonou, por uma mulher que ele mal conhecia. Minha mãe teve muitos amantes
antes de terminar com Henry. - Acrescentou ela amargamente. ─ Eu não desejaria
minha infância ao meu pior inimigo.
─ Você é igual a mim. - Ele disse desatentamente. ─ Vivendo no passado e sem poder
seguir adiante.
Ela fez uma careta.
─ Talvez sim.
─ Você está apaixonada por McGuire? - Ele perguntou diretamente.
Ela prendeu a respiração, os olhos arregalados quando encontraram os dele.
─ Eu mal... eu nem o conheço. - Ela gaguejou.
─ Ele é um mulherengo. - Disse ele bruscamente. Ele sabia disso, porque McGuire
circulava nos mesmos ambientes sociais que ele. Ele ouviu histórias sobre o fazendeiro,
apesar de serem apenas conhecidos distantes.
─ Bem, olhe quem está falando. - Ela retrucou, olhando para ele enquanto voltava ao
trabalho, as mãos cobertas de massa. ─ Eu nunca conheci um cowboy que não tivesse
uma garota em cada cidades de rodeios!
Ele mordeu o lábio inferior para impedir as palavras. Ele não era apenas um
cowboy, mas a maior parte era verdadeira. Era o sujo falando do mal lavado.
─ As mulheres são um prazer permitido. - Disse ele lentamente. ─ Não tenho planos de
me casar, me estabelecer e começar a trocar fraldas. - Acrescentou. Era mentira, mas ele
não estava disposto a incentivar a pequena Srta. Muffet,* aqui. Ele tinha que se casar
com uma mulher de sua própria classe, não com uma vaqueira rústica que não
diferenciaria um garfo de sobremesa de uma faca de manteiga. Por que isso o
incomodava? Ela nem era o tipo dele. Ida era.
─ Eu também não quero me casar. - Ela confessou em voz baixa.
Ele franziu a testa.
─ Por que não? - Ele perguntou. ─ Você não quer filhos?
* Poema publicado pela primeira vez em 1805 cujos os principais temas são o medo e a inocência.

Ela estava quente por todo o lado, por apenas pensar neles quando ele estava tão
perto dela. O jeito que ela se sentiu em seus braços era assustador. Ela o queria. E não
sabia que era vulnerável.
Ele observou fascinado as bochechas dela. Se ela era realmente experiente, esse
rubor não era algo que poderia fingir.
─ As crianças são legais, eu acho. - Disse ela depois de um minuto. ─ Eu nunca estive
muito perto delas.
─ Dois dos meus irmãos têm crianças. - Disse ele calmamente. E sorriu, relembrando. ─
Não moro perto o suficiente para visitá-los com frequência, mas gosto da minha
sobrinha e dos meus sobrinhos.
─ Quantos irmãos você tem? - Ela perguntou.
─ Três. E eles estão todos na aplicação da lei.
Ela sorriu.
─ Eles são mais velhos que você?
─ Todos eles são. Você não tem irmãos, não é?
─ Era uma vida solitária, mesmo quando meu pai ainda estava em casa. Ele não estava
muito. A aplicação da lei chama você a qualquer hora.
Ele lembrou que o pai dela era policial.
─ Você deve saber, eu acho.
Ela assentiu.
─ Você gosta de cozinhar, não é? - Ele comentou quando ela terminou as tortas e as
cobriu com uma película transparente.
─ Muito.
─ Tricô e crochê, romances e culinária. - Ele murmurou. ─ Você sabe que século é
esse?
Ela se virou com as mãos enfarinhadas para olhá-lo.
─ É a minha vida e eu a vivo como eu quiser. Não faço comentários maliciosos sobre
você, faço? Quero dizer, você anda por aí com esterco de vaca o dia todo e limpa
estábulos. Como isso é melhor do que tricotar? Pelo menos o fio não fede!
Ele começou a rir.
Ela olhou para ele.
─ Agradeça a Bart pelas maçãs, por favor, e diga a ele que farei uma linda torta de maçã
amanhã.
─ Ele ficará muito feliz. Ele gosta de torta de maçã.
─ Eu sei.
Ele franziu as sobrancelhas.
─ Por que você não tem nada com ele? Ele tem um rancho próprio e é um homem bom,
firme e cumpridor da lei.
─ Ele é meu amigo. - Disse ela. ─ Não me sinto assim por ele.
─ E ele dificilmente está no mesmo patamar que McGuire, certo? - Ele persistiu. ─ Se
você se envolver com o McGuire, terá uma grande curva de aprendizado pela frente.
Não é como isso. - Ele percorreu a casa com o olhar. ─ Você teria que entreter os
convidados dele, saber organizar festas, vestir as roupas certas, usar os talheres certos à
mesa.
─ Você acha que sou idiota? - Ela perguntou horrorizada, porque estava a caminho do
tipo de vida que McGuire vivia. Não que ela fosse contar algo a esse vaqueiro!
Ele encolheu os ombros.
─ Eu acho que você pode aprender. Mas se você não cresce nesses círculos, não é tão
fácil se encaixar. - Acrescentou ele com leve altivez.
Seus lábios carnudos se contraíram enquanto ela o olhava furiosa. Ela sabia como
usar as roupas certas. aprendeu com uma maquiadora gentil no estúdio onde fez sua
primeira turnê de mídia via satélite. Isso a levou a uma loja de departamentos e roupas
que combinavam com seu corpo esbelto. Aprendeu a usar os talheres em um restaurante
chique simplesmente observando seu editor quando eles saíam para comer.
Organizar festas? Ela ainda não havia aprendido isso, mas era algo que Pam
Simpson certamente poderia lhe ensinar.
─ Sim, eu posso aprender. - Disse ela bruscamente. Mas não estava pensando em Jake
 McGuire e como se encaixar em sua vida. Ela estava pensando em sua carreira, a que
ela tinha que esse cowboy nem conhecia.
Ele parecia estranho enquanto a observava em silêncio por um longo momento.
Ela não era realmente uma mulher bonita. Tinha uma boa aparência, uma boca bonita e
aquele magnífico cabelo castanho e mel. Era o que havia dentro dela que a tornava
bonita. Ela possuía um coração bondoso. Ele mal se lembrava da mãe, mas era o que as
pessoas sempre diziam sobre ela, pessoas que a conheciam quando ela ainda estava
viva, que ela era bondosa.
─ Enfim, meu futuro não lhe diz respeito. - Disse ela rispidamente, virando-se. ─ Se
você for como a maioria dos cowboy por aqui, procurará por pastos mais verdes em
poucos meses. Bill McAllister é o único cowboy que eu já conheci que fixou residência.
─ Ele nunca se casou?
Ela suspirou.
─ Sim, ele casou, anos e anos atrás. Ela morreu de pneumonia. Ele nunca superou isso.
Ele riu baixinho.
─ O mundo está cheio de mulheres. - Disse ele. ─ Certamente ele poderia encontrar
outra pessoa.
Ela se virou, franzindo a testa.
─ Você nunca se apaixonou? - Ela perguntou, atordoada.
─ Na verdade não. - Disse ele, procurando os olhos dela. ─ No entanto, eu tive minha
parcela de amantes.
─ Não é a mesma coisa. - Ela retrucou.
─ E como você saberia disso? - Ele perguntou sarcasticamente.
Ela desviou os olhos.
─ Eu me apaixonei uma vez, aos dezesseis anos. - Disse ela calmamente. ─ Eu teria
morrido por ele. - Ela embrulhou outra torta em filme plástico. ─ Minha mãe percebeu o
quanto eu era louca por ele e o seduziu. Então, ela voltou para casa e me contou tudo
sobre isso, e riu enquanto fazia isso. Ele ficou tão envergonhado que nem conseguiu
mais falar comigo.
A raiva brilhou nos olhos castanhos claros dele.
─ Que maldade.
─ Essa era minha mãe. - Ela disse simplesmente. ─ Tudo o que me importava virava um
alvo. Eu nem sequer acariciava um gato de rua, porque sabia que se o fizesse, ela o
mataria ou faria com que um de seus amantes desaparecesse com ele.
Ele estremeceu.
─ Por quê? - Ele perguntou.
Ela suspirou.
─ Tenho me perguntando isso há anos e anos. - Confessou. ─ Eu não sei.
─ Ela era assim antes de seu pai partir?
Ela pensou em sua infância. Lembrou-se de sua mãe batendo nela, quando ela
estava apenas começando na escola primária. Lembrou-se de ser xingada e
menosprezada, sempre que estava sozinha com a mãe.
─ Sim. - Ela disse. ─ Toda a minha vida.
Ele franziu a testa. Não fazia sentido que um pai ou uma mãe fosse tão cruel com
uma criança desamparada. Ele se perguntou como ela era quando criança. E quase podia
vê-la em um vestido com babados, os longos cabelos caídos em volta dos ombros e um
arco afastando-o dos olhos. Ela teria sido uma criança preciosa. Estranho, como esse
pensamento o fez desejar ter sua própria garotinha...
─ Sua mãe se importava com você, não é? - Ela perguntou enquanto terminava a última
torta.
─ Ela amava todos nós. - Disse ele, lembrando com tristeza os últimos dias em que ela
esteve no hospital antes de morrer. Cash ficou com ela. Cort era jovem demais. Ele
suspirou. ─ Um dos meus irmãos mais velhos estava com ela no hospital. Papai não
suportava assistir. Ele saiu com a modelo com quem mais tarde se casou. Parece
insensível, talvez tenha sido. Mas ele amava nossa mãe. Eu sempre pensei que era uma
coisa defensiva, escondendo a cabeça na areia com outra mulher para evitar que a dor o
matasse.
─ Se eu tivesse um conjuge que amasse no hospital, é onde eu estaria, até o amargo fim.
- Disse ela, seus olhos escuros fixos nos dele.
─ Eu também. - Ele disse suavemente. ─ Meu pai não é como o resto de nós. Ele não
sente as coisas tão profundamente quanto nós. - Ele suspirou. ─ Ele nunca estava por
perto quando éramos crianças. - Ele parou a tempo de contar a ela sobre as corridas de
iate que seu pai adorava, a absessão dele por eventos esportivos, a reputação dele entre
as pessoas ricas.
─ Eu gostaria que minha mãe nunca tivesse estado por perto. - Disse ela com um sorriso
divertido. ─ Eu acredito que minha vida teria sido mais fácil se eu fosse órfã.
─ Você adora gado, não é?
Ela sorriu.
─ Sim eu adoro. Gado, cavalos, cães e gatos. É tão bom poder tê-los e não se preocupar
com algo de ruim acontecendo com eles. - Ela olhou para ele. ─ O primo Rogan disse à
minha mãe que se algum "acidente" acontecesse com o gado ou com os cavalos, ele
garantiria que as autoridades adequadas fossem contatadas e ela leria sobre si mesma
nos jornais. Foi a única vez que a vi realmente assustada.
─ Seu primo é uma figura. - Ele murmurou, e poderia ter mordido a língua por cometer
esse deslize. Ele não deveria conhecer o homem.
Mas a observação não foi percebida por ela.
─ Ele é. - Ela concordou. ─ Eu nem teria o rancho se ele não tivesse interferido.
─ Ele e McGuire são parceiros naquela fazenda de gado na Austrália, não são?
Ela assentiu.
─ O primo Rogan odeia neve. A fazenda fica perto do deserto, sempre quente. - Ela
disse rindo.
─ Eu gosto de neve. - Ele murmurou. ─ Não temos muita na parte do Texas em que fica
a minha casa.
─ Gosto até ter que dirigir. - Ela suspirou. ─ Eu também fiquei presa em valas muitas
vezes na minha vida porque nunca aprendi a dirigir direito.
─ Houve uma razão para isso?
Ela assentiu.
─ Minha mãe não podia dirigir, e eu andaria três quilômetros até a cidade antes de pedir
a qualquer um dos amantes dela que me ensinasse, especialmente Henry.
─ Eu pensei que eles davam aulas de direção no ensino médio.
─ Não, aqui não. Questões orçamentárias. - Acrescentou. Ela colocou as tortas de lado e
começou a pegar a cesta de maçãs.
─ Aqui. Deixe-me fazer isso. - Ele disse suavemente. Ele pegou a cesta do chão e a
colocou sobre a mesa.
─ Obrigada. - Disse ela com voz rouca. ─ Eu não sabia o quão pesado era.
Ele sorriu.
─ É pesado demais para uma nanica como você. - Disse ele com um sorriso.
Ela riu.
─ Eu não sou uma nanica.
─ Querida, comparada a mim, você é uma nanica. - Ele se aproximou, pegou-a pela
cintura. A puxou contra ele e se inclinou para passar a boca dura contra a dela quase
com ternura. ─ Você tem gosto de maçãs. - Ele sussurrou em seus lábios. ─ Verde.
Muito verde.
Ela se odiava porque não conseguia se afastar ou protestar. Ela olhou nos olhos
castanhos pálidos, impotente, enquanto ele brincava com sua boca.
─ É uma curva de aprendizado. - Ele sussurrou enquanto suas mãos magras
emolduravam o rosto dela. ─ Todos começamos como iniciantes.
Enquanto falava, ele começou a encaixar seus lábios sobre os dela, estimulando-os
a se separarem, roçando e acariciando até que ela estivesse rígida com uma avidez
inesperada. As mãos dela, ainda enfarinhadas, pressionavam a camisa de flanela azul
dele, sentindo os músculos e pelos macios e sedosos, enquanto ela permanecia parada,
fascinada, nos braços dele.
Ela sentiu a língua dele passando por baixo do seu lábio superior, deslizando
contra a pele quente e úmida com um movimento provocante. Isso a excitou. Ela ficou
na ponta dos pés para induzí-lo a aprofundar o contato, mas ele respirou fundo e
começou tudo de novo.
A respiração dele estava se tornando ofegante e rápida. Ela era deliciosa. Ele
nunca tinha beijado uma mulher com tanta delicadeza, tanta ternura. Ele não entendeu
por que queria que fosse assim. Talvez porque ela fosse tão inocente. As primeiras
vezes, ele pensou, deveriam ser ternas.
Ela o deixou beijá-la. Era tão doce senti-lo assim, sentir sua boca saboreando a
dela como um doce particularmente delicioso. Ela sorriu sob os lábios dele.
Ele respirou fundo.
─ Qual a graça? - Ele sussurrou.
─ Eu me sinto como uma sobremesa deliciosa. - Ela sussurrou em resposta, seus olhos
escuros brilhando quando encontraram os dele.
Ele também sorriu.
─ Você tem um sabor delicioso, virgenzinha. - Ele murmurou. enquanto tocava sua
boca novamente. Ele respirou fundo e suas mãos magras a agarraram pela cintura e a
afastaram, relutantemente.
─ Não estou acostumado a paradas repentinas. - Disse ele. ─ Passei muito da minha
vida me divertindo com mulheres que eu mal conhecia. - Ele procurou os olhos dela. ─
Eu não vou adicionar você aos entalhes na minha cama.
Ela corou e depois riu.
─ Ok. - Ela olhou para ele. ─ Obrigada. - Disse ela com uma leve careta. ─ Não sei o
suficiente para lidar com... com homens experientes.
─ Eu percebi. - Ele estava pensando em como seria fácil beijá-la até que ela se rendesse
fascinada e então carregá-la para a cama mais próxima. Por isso ele recuou um pouco.
Muitas mulheres fingiram inocência como um charme. Mas essa era um artigo genuíno.
Ele apostaria sua vida nisso. ─ Então vamos esfriar.
Ela assentiu.
─ Obrigada.
─ Prefiro jogá-la na cama mais próxima, é claro. - Confessou ele, sorrindo com o rubor
escarlate dela. ─ Você é um doce delicioso.
─ Eu lhe daria indigestão. - Ela brincou.
─ Acho que não. - Seu rosto ficou tenso. ─ Tenha cuidado com McGuire. -
Acrescentou. ─ Ele já correu o mundo algumas vezes. Homens sofisticados são
desonestos.
─ Ele não é assim. - Disse ela. Colocou algumas maçãs em uma tigela e encontrou uma
faca antes de se sentar em uma cadeira à mesa com a tigela no colo. ─ Ele realmente
gosta de mim. - Ela fez uma careta. ─ É preocupante.
Ele ficou intrigado. Ela não agia como uma mulher mercenária. McGuire era rico.
Mas ela não estava falando sobre a riqueza dele. Ela estava preocupada que ele gostasse
dela.
─ Você não gosta dele.
Ela olhou para cima.
─ Ah não. Eu gosto muito dele. - Ela mordeu o lábio inferior e sentiu o gosto de Cort lá.
Beijá-lo era viciante. Ela não olhou para ele. ─ É só que o que ele quer vai além do
tanto que gosto dele.
─ Solução fácil. Não saia com ele.
─ Bem... - Ela suspirou. ─ eu já prometi ir a Galveston com ele neste fim de semana.
─ Para passar o fim de semana? - Ele perguntou, zangado e francamente enciumado.
Ela riu.
─ Não... não... não. Eu hesitei, e ele disse que seria apenas uma viagem de um dia, ida e
volta. Ele prometeu.
Algo dentro dele relaxou, só um pouco.
─ Por que Galveston?
─ Frutos do mar. - Respondeu ela. E riu. ─ Ele parece conhecer todos os bons
restaurantes da cidade. Na verdade, ele também conhece os de Manhattan. Ele se
ofereceu para me levar lá daqui a quatro semanas. No entanto, essa será uma viagem de
negócios.
Ele não gostava de pensar nela com McGuire. Estar vulnerável o deixou irritado.
Ele teve muitas mulheres. E não conseguia entender por que se sentia diferente sobre
ela.
─ Entendo. - Ele disse depois de um minuto.
Ela começou a explicar por que era uma viagem de negócios. Ele não sabia sobre
a carreira dela. Talvez estivesse na hora de contar a ele.
─ Sobre Nova York... - Ela começou.
Ele olhou para o relógio e fez uma careta.
─ A reunião de Bart com alguém de publicidade sobre sua venda de produção. - Disse
ele abruptamente. ─ Ele quer que eu ajude com algumas ideias.
─ Por que você? - Ela perguntou, surpresa.
Porque ele era dono da maior fazenda do oeste do Texas e tinha vendas de
produção próprias a cada ano. E por isso era experiente em publicidade. De fato, a
venda de produção em Latigo era o motivo pelo qual ele não poderia ficar mais do que
algumas semanas. Estranho, como era desconfortável pensar em ir embora. Ela estava
se infiltrando sob a sua pele. Ele não gostava de ser vulnerável. Nunca esteve antes. Não
com uma mulher.
Levou um minuto para ele perceber que não havia respondido. Ele encolheu os
ombros.
─ Em casa, o chefe sempre pedia minha opinião sobre as propagandas. Eu namorei uma
executiva de uma agência de publicidade por alguns meses. - Acrescentou
involuntariamente.
Ela fez uma careta.
Ele poderia ter mordido a língua por aquele deslize. Como um vaqueiro comum,
que ela pensava que ele era, teria algo a ver com uma executiva de qualquer tipo? Não
era uma combinação comum.
─ Ela veio ao rancho por causa de uma venda de produção. Começamos a conversar e
encontramos muito em comum. - Ele improvisou. Na verdade, ele a conheceu em
Manhattan, em uma viagem de negócios, e eles ficaram juntos por uns dois ou três
meses, até que a paixão se esvaiu. A paixão sempre se esgotava, ele descobriu. As
mulheres em sua vida não tinham poder de permanência. Eles vinham e iam.
Principalmente elas iam.
─ Oh. - Disse ela, sem qualquer resposta sensata para dar. Ela não gostou dos
sentimentos de ciúmes que isso gerou nela. Ele andava com Ida, o que a magoava, e
agora ele estava falando sobre outra mulher. Bem, ele era experiente, e isso era
evidente. Provavelmente houve muitas mulheres. Ela se sentiu inadequada.
─ Não se preocupe. - Ele disse suavemente. ─ Não estou no mercado para uma mulher
que lê romances.
As sobrancelhas dela arquearam. Ela não perguntaria, ela jamais perguntaria!
─ Você tem uma visão cor de rosa da vida, querida. - Disse ele gentilmente, e fez o
termo parecer uma carícia verbal. ─ A minha é crua. Elas não se misturam.
Ela suspirou. E assentiu.
─ Como óleo e água.
─ Quase. - Ele se aproximou, se inclinou e roçou a boca suavemente na dela.
─ Vejo você por aí.
Ele saiu antes que ela pudesse se recuperar do carinho, do beijo e da insinuação de
que ele não viria aqui sozinho novamente. Deveria tê-la deixado feliz. Em vez disso, foi
realmente doloroso. Ele não queria se relacionar com uma inocente. Jake queria. Pobre
Jake, por quem ela não tinha esse tipo de sentimentos. Jake, que queria tanto que ela o
amasse.
A vida era complicada, pensou. Por isso, ela gostava de ler e escrever romances.
Havia muito poucos finais felizes na vida. Mas havia, em seus livros. Ela achava que
um romance deveria ser otimista, principalmente no final. Mesmo que houvesse alguns
momentos intensamente dramáticos entre os beijos. Ela se perguntou o que aquele
vaqueiro de olhos ferozes pensaria se soubesse como ela pesquisava seus romances. Isso
a fez rir.

***

Bart estava curioso com a expressão tensa no rosto do seu primo despreocupado
quando voltou da casa de Mina onde foi entregar as maçãs.
─ Você parece mau-humorado. - Ele observou.
─ Ela lê romances e sabe menos sobre homens do que eu sobre física teórica. - Ele
murmurou.
Os olhos de Bart se arregalaram.
─ Por favor, diga-me que você não está tentando adicionar minha melhor amiga à sua
lista de possíveis companheiras de cama.
─ Sem chance. - Ele disse secamente. ─ As virgens estão fora da minha lista de desejos.
Bart soltou o ar que estava segurando.
─ Desculpe. - Disse ele, quando Cort o olhou. ─ Mas eu sou meio protetor sobre ela.
─ Você está apaixonado por ela? - Cort perguntou.
As sobrancelhas de Bart arquearam.
─ Por Mina? - Ele perguntou horrorizado.
Cort fez uma careta.
─ Por que a expressão chocada?
Bart riu.
─ Ela e eu nos conhecemos há anos. Se fôssemos ter um envolvimento romântico, já
teria acontecido há muito tempo.
─ Suponho que sim.
Bart ficou intrigado com a atitude de seu primo em relação a Mina. Como Cort
sabia que ela era inocente? Ele estudou o outro homem disfarçadamente, notando seus
lábios inchados e chegou a uma conclusão interessante.
─ Ela mencionou como foi o encontro com Jake McGuire? - Bart perguntou.
Cort olhou para ele.
─ Ele a quer.
─ Isso foi direto.
─ Bem, ele quer. Mas não como eu quero as mulheres. - Ele acrescentou em voz baixa.
E suspirou. ─ Eu acho que ele está apaixonado por ela. Ela diz que não se sente da
mesma maneira com ele.
Cort não comentou sua desconfiança sobre os motivos dela para se encontrar com
o rico fazendeiro. Ele não estava convencido de que ela não estava resistindo a McGuire
para mantê-lo interessado. Ele era rico e ela não era. Ele não conseguiu esquecer isso.
Ela podia ser inocente. Na verdade, ele estava convencido de que ela era. Ela trocaria
essa inocência para conseguir McGuire como marido e adquirir a riqueza que lhe
faltava? O pensamento o perturbou.
─ O amor começa devagar e cresce. - Disse Bart, lembrando seu próprio coração
partido. ─ Eu sei como é isso. Perdi a única mulher que já amei para outro homem.
Cort virou-se surpreso.
─ Você nunca fala sobre isso.
─ Dói demais. - Respondeu Bart com um sorriso triste. Ele inclinou a cabeça e estudou
o outro homem. ─ Você nem sabe o que é amor. - Ele disse gentilmente. ─ Você acha
que são dois corpos compatíveis na cama.
Cort suspirou.
─ Bem, é tudo o que conheço sobre isso. - Confessou. ─ O tipo de mulher que atraio
não é a do lar. São modelos, atrizes ou debutantes. - Ele olhou para Bart. ─ Uma vez
tive um tipo de sentimento por uma debutante, mas o pai dela acabou com isso antes de
começar. Eu não faço parte do grupo do dinheiro velho. Eles se casam entre si. Sem
forasteiros.
─ Eu nunca seria capaz de conviver nesse tipo de círculo social. - Bart riu.
─ Nem Mina. - Disse ele surpreendentemente. Ele se virou para a janela e enfiou as
mãos nos bolsos. ─ Mesmo em Latigo, temos jantares e festas de negócios. Viajo por
todo o mundo a negócios, vou a conferências, encontro-me com autoridades. - Ele
suspirou. ─ Ela se veste como uma vaqueira. Duvido que ela tenha, até mesmo,
organizado um pequeno jantar.
─ Muitas mulheres nunca tiveram. Mas elas podem aprender.
Ele riu friamente.
─ Ela disse isso. - Ele voltou-se para Bart. ─ Ela não conseguiria lidar com Latigo ou
comigo. Então, eu não vou voltar lá. Você terá que carregar suas próprias maçãs da
próxima vez.
─ Isso é decente da sua parte. - Disse Bart.
─ É autoproteção. - Foi a resposta seca. ─ Quem sabe talvez até sobrevivência. Eu
cresci rico. Todas as pessoas com quem me associo são ricas. Eu nunca fui pobre. Nós
viemos de mundos diferentes. É melhor mantê-los separados.
─ Suponho que sim.
─ Mina disse que traria uma torta de maçã para você amanhã. - Acrescentou.
Bart riu.
─ Eu tinha esperança que ela fizesse isso quando mandei as maçãs. Ninguém faz uma
torta de maçã como Mina!

CAPÍTULO OITO

Cort dormiu até tarde na manhã seguinte. Bart estava terminando o bacon, ovos e
biscoitos feitos pelo cozinheiro do barracão, quando seu primo entrou na cozinha e se
serviu de uma xícara de café preto.
─ Pegue alguns ovos. - Bart ofereceu.
Cort fez uma careta.
─ Normalmente não tomo café da manhã. Onde você conseguiu tudo isso? - Ele
perguntou, porque Bart esteve comendo cereal todas as manhãs.
─ O barracão tem cozinheiro por algumas semanas. - Disse ele. ─ Até a venda da
produção. Temos que alimentar as pessoas que vêm comprar nossos touros.
─ Bom. Nós fazemos a mesma coisa em Latigo. - Cort respondeu. ─ A diferença é que
temos um cozinheiro permanente e um barracão cheio.
─ Considerando o tamanho de Latigo, não estou surpreso. - Bart riu. ─ Eu ouvi dizer
que você até mesmo leva uma carroça de suprimentos durante o ajuntamento.
─ Precisamos. - Explicou Cort. ─ O maldito rancho é tão grande que levaria metade do
dia para os trabalhadores voltarem ao barracão para cada refeição. Também temos
trabalhadores noturnos extras que precisam vigiar os rebanhos quando os bezerros
nascem e eles precisam ser alimentados em horários estranhos.
─ Acho que estou feliz por meu rancho não ser tão grande. - Bart sorriu.
─ Você ainda tem os problemas que tenho. - Foi a resposta divertida. ─ Apenas em uma
escala menor.
Bart o estudou.
─ Você está se arrastando esta manhã. Noite ruim?
Ele hesitou. Então assentiu.
─ Pesadelos com a guerra. - Disse ele calmamente. Cort não podia dizer a ele que seu
sonho especial tinha sido com Mina Michaels em sua cama. Ele acordou apertando,
atormentado um travesseiro, tão quente que se perguntou se teria queimado os lençóis.
Ele não conseguiu esquecer o gosto dela na sua memória. Ele disse que não iria vê-la
novamente. Agora se perguntava como poderia encontrar uma desculpa para voltar. Ela
o perturbava.
Ela era tão diferente das mulheres que passaram por sua vida. Ele estava
acostumado a brilho, perfume, roupas chamativas de alta costura, noites na cidade
andando de limusine com algumas das mulheres mais bonitas do mundo. Ele esteve na
primeira página dos jornais pelo menos uma vez quando uma estrela de cinema o
acusou de agressão. Ele foi ao tribunal. Ela estava mentindo e Cort conseguiu
testemunhas para provar que ele não estava. Em vez de seu bom nome ser arruinado, o
dela foi, e ela enfrentou não apenas a prisão, mas um processo de um milhão de dólares
movido em nome de Cort. O processo ainda estava correndo, e ele não sentia nenhuma
simpatia pela estrela, que se apresentou, ao vivo, pela televisão, em lágrimas pedindo o
seu perdão. As lágrimas eram de crocodilo, no entanto, como um apresentador astuto
mencionou durante sua transmissão. Cort desejou nunca ter conhecido a mulher. As
habilidades dela no quarto dificilmente valeram o aborrecimento que lhe causou. Não
porque sentia falta dela. Até que ela fizesse a acusação, ele já tinha esquecido como ela
era.
As mulheres de seu passado eram um borrão colorido de memória. Estavam o
mais longe possível da vida no rancho.
─ Pensamentos profundos? - Bart perguntou, interrompendo sua linha de pensamento.
Cort olhou para cima.
─ Eu estava pensando em Stella Hayes. - Disse ele.
─ Oh. A mulher que o acusou de agressão. - Ele riu. ─ Ouvimos falar disso até aqui. Ela
era tão superficial que ninguém acreditou nela. Bem feito, ela teve o que mereceu.
─ Ela ainda está pedindo que eu desista do processo. - Ele deu de ombros. ─ Eu não
preciso do dinheiro. Só quero ter certeza de que a reputação dela receba a atenção que
merece, para salvar outro pobre idiota de suas mentiras.
─ É triste o que ela fez. - Concordou Bart. ─ Quando as mulheres são realmente
atacadas, e muitas são, elas precisam enfrentar o ridículo por causa de mulheres como
Stella, que mentem para obter atenção. Vivemos em um mundo louco.
─ Louco e ruim.
─ E "a noite está escura e cheia de pavor" - Disse Bart, rindo.
Isso fez Cort sorrir.
─ Eu estava conversando com Mina sobre a série. Ela assiste também. - Ele franziu o
cenho levemente. ─ Não parece o tipo de programa que ela assistiria, parece? Quero
dizer, a linguagem, a nudez e o sangue.
Bart engasgou com o café. Ele se recuperou rapidamente e não deixou
transparecer como estava se divertido com a impressão de Cort sobre Mina. Se ele
soubesse o que aquela mulher havia feito nos últimos anos para pesquisar seus livros.
Ele quase uivou ao pensar em Mina ficando chocada com um programa de televisão.
Ele olhou para o primo e pensou novamente que havia feito a coisa certa, mantendo em
segredo a profissão de Mina. Um dia, Cort descobriria o que ela fazia e como. Seria um
choque.
Por outro lado, Mina não fazia ideia de que Cort valia milhões ou que ele era dono
da maior fazenda do oeste do Texas.
─ Ela vai para Galveston com Jake McGuire. - Cort murmurou. ─ Então ele a levará
para Nova York, para conhecer outro restaurante. Ou é o que ele diz. - Acrescentou
sombriamente. ─ Espero que ela não esteja sendo envolvida por ele. Ele gosta de
mulheres.
─ Você também. - Bart lembrou a ele. ─ E ele não está sendo visto pela cidade com a
alegre divorciada.
Cort fez uma careta.
─ Ela realmente não é o que as pessoas pensam dela. - Disse ele.
─ Tem acontecido muito isso por aqui ultimamente. - Respondeu Bart, e evitou seus
olhos.
 ─ Não, não estou brincando. - Disse Cort. ─ Ida não é uma mulher promíscua. Isso é
um mecanismo de defesa. Se ela ostenta sua reputação escandalosa, os homens a
deixam em paz. Eles temem não corresponder às expectativas dela. Ela evita
relacionamentos como a praga.
─ Ela sai com você. - Bart o lembrou.
Cort sorriu.
─ Somos amigos, e isso não é um eufemismo. Eu gosto dela. Eu não gosto da maioria
das mulheres.
─ Você gosta de Mina?
Cort parecia preocupado. Ele se mexeu na cadeira e completou o café da xícara
com o do bule que estava sobre a mesa. Ele tomou um gole antes de responder.
─ Ela é uma combinação estranha. - Disse ele. ─ Ela fica nervosa com os homens. Eu
posso entender por que ela é assim. A mãe dela deveria estar na prisão federal.
─ Muitos de nós por aqui sentimos isso. - Respondeu ele. ─ Cody se esforçou tanto para
conseguir algo que tirasse Mina da mãe. Ele nunca conseguiu.
─ O pai dela também era uma figura. - Ele murmurou. ─ Ele poderia ter tentado manter
contato com a filha. Temos todo tipo de maneiras de fazer isso, até mesmo o correio
tradicional, se for o caso.
─ Se ele tentasse, Anthea teria queimado todas as cartas que ele enviasse enquanto
Mina estava fora de casa.
─ Maldição!
─ Eu soube que ele tentou obter a custódia dela, mas Anthea inventou uma acusação
falsa, mais ou menos como sua estrela de cinema e o ameaçou com prisão se ele
tentasse levar Mina embora.
─ Ela não queria a filha. - Disse Cort, franzindo a testa.
─ Não. Mas também não queria que o marido a tivesse.
─ Eu nunca entendi como mulheres assim se safam tanto.
─ Eu também não.
Cort olhou para ele.
─ O que você acha do novo contratado de Mina? O homem que vai trabalhar em tempo
integral. Não me lembro do nome dele.
─ O nome dele é Jerry Fender. - Disse Bart, franzindo a testa. ─ McAllister e ele vão à
mesma igreja. Ele disse à Fender que o trabalho estava disponível, então Fender se
candidatou.
─ McAllister sabe se ele é confiável? - Cort perguntou. ─ Mina está lá sozinha com ele
à noite. - Lembrou a Bart.
─ Se Bill McAllister diz que ele é legal, ele é. - Respondeu Bart, surpreso com a
preocupação de seu primo por uma mulher de quem ele nem sequer gostava.
Cort suspirou.
─ Eu espero que sim. Ela é... inocente. - Ele disse finalmente, e o jeito como ele disse
parecia quase uma carícia. ─ É por isso que não gosto que ela ande com McGuire. Ele é
experiente demais para uma mocinha.
Bart começou a rir.
─ Você sabe que século é esse? A maioria das mulheres da idade de Mina esteve em
pelo menos um relacionamento sério, às vezes em muitos. As mulheres são espertas e
atrevidas, e muitas delas não gostam de homens.
─ Tristes notícias para as futuras gerações que não teremos. - Cort respondeu rindo.
─ Ah, não, teremos crianças. - Assegurou Bart. ─ As mulheres manterão os homens em
gaiolas para fins de reprodução.
─ Não no meu rancho. - Cort riu.
─ Nem no meu. - Ele suspirou. ─ Mas os caras da cidade não são como nós. Eles
comem tofu, quiche e conversam sobre opções de ações e as últimas tendências de
condicionamento físico. - Ele tomou um gole de café. ─ Você e eu somos retrocessos
para outra geração inteira. - Ele se inclinou para frente. ─ Somos vítimas de
masculinidade tóxica! - Ele agitou as duas mãos no ar e fez uma careta.
Cort começou a rir.
Bart apenas sorriu.

***

Mina estava com problemas. Ela nunca teve namorado. Bem, exceto pelo garoto
do ensino médio que sua mãe havia seduzido. Mas agora ela parecia ter dois. Jake
McGuire queria levá-la a lugares exóticos. Cort a queria em seus braços, mas não para
sempre.
Toda vez que ela se lembrava da sensação da boca dura em seus lábios, seus
joelhos estremeciam. Era uma lembrança que queimava em sua mente como uma bela
vela, iluminando-a, tornando o mundo alegre.
Ela sabia que Cort não tinha poder de permanência. Ele não ia se estabelecer em
Catelow, Wyoming, trabalhar para Bart e se casar com ela. Ele era um cowboy. Viajar
estava em sua própria natureza. Ele não tinha dinheiro. E nunca teria. Seria pobre a vida
toda. Mas estaria fazendo o que queria. Teria um tipo de liberdade que a maioria dos
homens nunca conheceria, vivendo da terra. Ela não podia se dar ao luxo de ser atraída
por ele. O corpo dela o queria. Dessa forma, seria um desastre. Ela não sabia nada sobre
controle de natalidade além do que havia aprendido nas aulas de saúde no ensino médio.
E era muito intensa para um caso. Cort poderia dormir com ela e ir embora. Seu tipo de
mulher era Ida Merridan, que era tão experiente quanto ele. Mas Mina nunca superaria a
intimidade com ele. Isso destruiria a vida dela.
Então, era melhor para os dois se ela desse um passo para trás e tratasse Cort
como um conhecido. Ela poderia se divertir com Jake McGuire, desde que ele
mantivesse isso sobre controle. Ela sabia que ele sentia algo por ela. Isso a deixou triste,
porque se eles namorassem por cem anos, ela nunca seria capaz de sentir o mesmo por
ele. Ela lamentava. Ele era um bom homem.
Enquanto ele soubesse que ela estava procurando apenas amizade, eles poderiam
se divertir indo a lugares juntos. Ela gostava muito da companhia dele. Contanto que ele
não tentasse levar a sério, ela ficaria bem.

***
Jake foi buscá-la na manhã de sábado e eles voaram para Galveston. Ele pediu
desculpas, mas tinha uma reunião de negócios mais cedo na manhã seguinte e tinha que
voltar a tempo para isso. Ela se ofereceu para adiar a viagem, mas ele recusou. E apenas
sorriu. Ela se sentiu lisonjeada por ele a colocar acima dos negócios.
Ele era cortês e respeitoso.
***
Ele encontrou um pequeno restaurante de frutos do mar no litoral da cidade. Foi
construído para que os barcos pudessem navegar até o píer e desembarcar em terra para
comer. Mina ficou fascinada com isso.
─ Como você o encontrou? - Ela perguntou quando eles estavam comendo ostras
delicadamente empanadas com molho coktail e batatas fritas artesanais. ─ Essas ostras
são deliciosas!
Ele riu.
─ Um amigo meu me indicou. Eu adoro comida.
Ela sorriu para ele. Não parecia que ele adorava comida. Ele era proporcional.
Sem gordura, em qualquer lugar.
Ele percebeu aquele olhar minucioso e sorriu.
─ Eu resolvo isso tudo trabalhando. - Disse ele, antecipando a pergunta. ─ Não sou do
tipo de sentar em uma mesa e deixar meus homens fazerem o trabalho duro.
Ela riu.
─ Eu não pensei que fosse.
─ Como administra um rancho e o seu trabalho também? - Ele quis saber.
Seus olhos castanhos escuros brilharam.
─ Eu não estava me saindo tão bem nisso. - Disse ela. ─ O primo Rogan insistiu que eu
precisava de um empregado em tempo integral, então contratei um; um cara chamado
Jerry Fender. Ele veio com boas referências. Além disso, ele vai à mesma igreja que Bill
McAllister e eu. Bill gosta dele.
Ele suspirou.
─ Mina, Bill gosta de todo mundo.
─ Verdade. Mas ele realmente é um bom juiz de caráter. Além disso... - Ela
acrescentou. ─ Fender tem um cachorro enorme e ele disse que, se eu não quisesse o
cachorro no barracão, ele dispensaria o trabalho e procuraria em outro lugar.
Isso chamou a atenção de Jake. As sobrancelhas escuras dele se ergueram.
─ Que tipo de cachorro é?
─ Tipo vira-lata. - Ela respondeu. ─ Grande, doce e fofinho.
─ Francamente... - Ele disse a ela. ─ eu levaria os instintos de um cachorro sobre as
pessoas mais a sério do que os de outro ser humano. Eles podem sentir a desonestidade.
Meu pastor alemão, Wolf, é meu melhor farejador de pessoal. - Ele riu. ─ Ele rosnou
para um homem que se ofereceu para trabalhar no rancho. Eu fiz uma rápida verificação
de antecedentes do homem, que acabou sendo um criminoso fugitivo. Cães são espertos.
─ Pastor alemão. - Disse ela, sorrindo gentilmente. ─ As pessoas dizem que são muito
inteligentes.
─ Inteligente. - Ele terminou suas batatas fritas e tomou um gole de café preto. ─ Ele é
esperto demais. Ele pode abrir portas, armários e uma vez ligou o fogão.
─ Meu Deus!
─ Eu tento mantê-lo fora da cozinha. - Ele começou a rir. ─ Senti falta da minha carteira
uma manhã quando me levantei. Eu olhei na sala e Wolf estava com a minha carteira
aberta e meus cartões de crédito espalhados no tapete. Eu me perguntei se ele planejava
fazer compras enquanto eu ainda estava dormindo.
Ela riu também.
─ Que cachorro encantador!
Ele apertou os lábios.
─ Quer conhecê-lo? Você poderia vir ao rancho um dia para almoçar.
Os olhos dela encontraram os dele. Ela mordeu o lábio inferior.
Ele deslizou uma mão grande sobre a dela.
─ Eu sei. Você não sente o mesmo que eu. - Ele disse calmamente. ─ Mas pelo menos
você gosta de mim, então já é alguma coisa. Talvez... - Acrescentou ele lentamente. ─
um dia você sinta algo mais.
Ela respirou fundo.
─ Isso não vai acontecer. Sinto muito, mas é melhor ser honesta sobre essas coisas.
Então, se você preferir não me levar para Nova York, eu entendo.
Ambas as sobrancelhas dele arquearam.
─ Oh não. - Ele brincou. ─ Você não vai se livrar de mim tão facilmente. Serei seu
segundo melhor amigo depois de Bart e ensinarei você sobre restaurantes.
Ela riu. Ele era incorrigível.
─ Tudo bem. - Disse ela.
Ele relaxou.
─ Ok. - Ele não estava desistindo. Mas sabia como fazer uma retirada estratégica. ─
Então, que tal experimentar a sobremesa da casa? É um waffle com morangos, creme de
leite e calda.
─ Parece maravilhoso. - Disse ela, aliviada por ele saber como as coisas estavam. ─ Eu
adoraria provar.
─ Você não vai se arrepender. - Respondeu ele, e sinalizou para uma garçonete que
passava para fazer o pedido.

***

Depois que terminaram de comer, sentaram-se no longo pátio que dava para o
Golfo do México e observaram as ondas deslizando preguiçosamente para a orla, e a
espuma branca quebrando na praia.
─ É lindo aqui. - Observou ela.
─ Eu adoro praias. - Respondeu ele. ─ Eu as coleciono. Até agora, a minha favorita está
em Cancun, no Caribe mexicano. É uma das paisagens mais lindas que eu já vi. Minha
segunda favorita é em Nassau, na beira da praia, onde você pode assistir pequenos
rebocadores guiando grandes transatlânticos* para fora do porto quando estão prontos
para partir. - Ele sorriu. ─ Estive em todo lugar.
─ Estou apenas começando a ir a algum lugar. - Comentou ela.
Ele riu com vontade.
─ Seus lugares favoritos, pelo que me lembro, estão em algumas das selvas mais
perigosas do mundo, carregando um AK.
Ela sorriu.
─ Bem, se você quer aprender como os mercenários fazem as coisas, é só pedir para ir
junto fazer coisas com eles.
─ Mercenários, USMarshals, agentes do FBI, policiais, Texas Rangers. - Ele citou. ─ E
uma vez, creio, um verdadeiro chefão, um eufemismo para a máfia, de Nova Jersey. -
Ele balançou a cabeça. ─ Você gosta de viver no limite, não gosta? - Ele acrescentou
seriamente.
Ela assentiu.
*

─ Eu nunca vivi uma vida realmente segura. Isso deturpa. Mas, realmente, o que
escrevo precisa de uma boa pesquisa. Eu gosto de viver o que estou escrevendo, na vida
real.
─ Pelo que me lembro, você levou uma bala quando um insurgente se aproximou
demais em uma dessas incursões.
─ Apenas de raspão. - Disse ela com um impressionante desprezo. ─ Quase nem
sangrou. - Ela sorriu, porque gostava de ter uma ferida de batalha. Ela levantou a manga
e mostrou a ele. Havia uma cicatriz profunda na parte superior do seu braço, evidência
de um ferimento de bala.
─ Isso parece um pouco mais sério do que uma ferida de raspão. - Retrucou ele. E sabia,
porque tinha suas próprias feridas da guerra no Oriente Médio.
Ela encolheu os ombros.
─ Uma pequena cirurgia, alguns dias no hospital e alguma fisioterapia. Mas não foi tão
ruim quanto parece.
Ele riu.
─ Vai enganar outro, garota. - Ele brincou. ─ Eu tenho minhas próprias feridas.
Conheço uma grave quando a vejo.
Ela fez uma careta.
─ Bem, eu não podia demonstrar fraqueza em relação aos caras, não é? Quem quer ser
considerado um covarde?
Ele sorriu para ela. Ela realmente era única.
Ela notou aquele olhar extasiado, mas sorriu de volta. Tinha tempo suficiente para
convencê-lo de que ela quis dizer o que disse sobre não querer um relacionamento sério.

***
Jake era uma boa companhia e ela gostava dele. Quando ele relaxou e parou de
encará-la como se ela fosse o Tosão de Ouro* ela relaxou também.
─ Me manda uma mensagem dois dias antes de ter que estar em Nova York. - Ele
lembrou quando a deixou à porta. ─ Quero ter certeza de não estar ocupado quando
você quiser ir.
─ Eu farei isso. - Ela prometeu. E sorriu para ele. ─ Eu me diverti. Muito obrigada.
─ Oh, eu me diverti também. - Ele disse, sorrindo. Se inclinou e beijou sua bochecha. ─
Boa noite linda.
─ Bajulador. - Ela brincou. ─ Boa noite.
Ele acenou quando voltou para a limusine.
Ela relaxou enquanto ele se afastava. Se ele pudesse ser apenas um amigo, ela não
se importaria de sair com ele quando quisesse.
Ela se virou para entrar e encontrou Jerry Fender subindo os degraus do outro lado
da varanda.
─ Boa noite. - Ele disse gentilmente. ─ Acabando de chegar em casa, chefe?
Ela sorriu, um pouco desconfortável.
─ Jake me levou até Galveston para comer frutos do mar. Algum problema?
─ Nenhum mesmo. - Respondeu ele. E sorriu quando seu cachorro veio saltando até a
varanda para perto dele. ─ Meu amigo e eu estávamos dando uma última volta no local
para garantir que tudo estivesse do jeito que deveria estar.
Ela se sentiu estranhamente segura com a maneira como ele disse isso.
─ Obrigada. - Ela disse a ele.
Ele encolheu os ombros.
─ Eu levo minhas responsabilidades a sério. Sou grato por ter um emprego. Assim
como meu amigo peludo, aqui. Eu o coloquei para trabalhar nos ajudando a pastorear o
gado.
Ela riu.
─ Bem!
─ Ele nasceu pra isso. - Disse ele. ─ Boa noite, Srta. Michaels. - Disse ele, e inclinou o
chapéu com cortesia. ─ Nós vamos deitar.
* O velo de ouro, tosão de ouro, velino ou velocino é na mitologia grega a lã de ouro do carneiro alado Crisómalo, um artefato
mágico que concede a quem o tem poder, prosperidade e cura.
─ Boa noite. - Ela disse atrás deles.
Ele levantou a mão. Sagebrush abanou o rabo.

***
Ela tinha acabado de entrar em casa quando seu celular tocou. Levou um minuto
para tirá-lo de sua grande bolsa.
─ Alô? - Ela disse enquanto o colocava no ouvido.
─ Então você finalmente está em casa.
Ela fez uma careta.
─ Quem é?
─ Cort. - Houve uma pausa, durante a qual o coração dela falhou uma batida. ─ Eu só
queria ter certeza de que você voltou bem. O tempo piorou. Voar pode ser perigoso
quando a neve cai.
Ela corou porque nem tinha notado a neve.
─ Oh. - Ela hesitou. ─ Eu realmente não tinha notado a neve.
Houve outra pausa.
─ Você não percebeu? - Ele perguntou, e sua voz era cortante a ponto de ser grosseira.
─ Francamente, primeiro Sr. Fender e agora você!
─ Sr. Fender?
Ela fez uma careta.
─ Ele estava na varanda quando chegamos. Ele disse que ele e seu cachorro estavam
apenas checando se tudo estava bem.
O Sr. Fender subiu um ponto na estima dele.
─ Está tarde.
─ Bem, sim. Sentamos em um banco do lado de fora do restaurante e observamos as
ondas por um tempo. Galveston é realmente bonita.
─ Sim, é. - Ele concordou. ─ Gosto de pescar em alto mar quando estou lá.
Ela sempre pensou que esse era um esporte para homens ricos, mas aparentemente
até cowboys podiam pagar. Ela se sentou na poltrona.
─ Você pegou algum que pudesse comer?
Ele riu.
─ Eu quebrei o recorde com um peixe-espada e o devolvi ao mar.
─ Você não o empalhou?
─ Não preciso de troféus para provar que sou homem. - Ele disse simplesmente. ─ Mas
há muitos que o fazem.
Ela sorriu.
─ Meu pai costumava caçar antes de nos deixar. Ele também nunca empalhou cabeças
de veado.
─ Você lembra dele?
Ela respirou fundo.
─ Eu tinha apenas nove anos quando ele foi embora. Lembro-me mais do uniforme do
que do rosto. Duvido que o reconhecesse se o encontrasse na rua. Não que eu queira. -
Ela acrescentou severamente. ─ O primo Rogan disse que ele estava em Billings e
queria que eu aceitasse falar com ele. Eu recusei.
─ Você não perdoa.
─ Não é algo tão ruim quanto como o que ele fez, me deixando à mercê da minha mãe. -
Disse ela bruscamente.
─ Eu também tenho dificuldade em superar as coisas. - Respondeu ele.
─ Quando as pessoas magoam você, é da natureza humana ficar ressentida com elas.
─ Isso é verdade. O que você comeu em Galveston?
Ela riu.
─ Ostras. Eu as adoro, fritas.
─ Eu também. Só que eu prefiro comê-las cruas, apenas com um pouco de molho
Tabasco.
─ Imagino que nós dois vamos morrer envenenados por mercúrio, se continuarmos
assim.
Ele começou a rir.
─ Talvez sim, mas que maneira de morrer!
Ela sorriu.
─ É verdade.
─ Eu vou deixar você ir. Eu só queria saber se você chegou em casa em segurança. - Ele
disse em um tom suave e rouco.
─ Cheguei em casa muito bem. - Ela fez uma pausa. ─ Obrigada. Por verificar.
Ele riu.
─ Sem problemas. Bart estava preocupado. Vejo você por aí, vaqueira. - Ele desligou e
ela sentiu seu coração afundar. Bart estava preocupado. Que idiota ela era, pensar que
Cort se importava de um jeito ou de outro. Ela se levantou da cadeira, apagou as luzes e
foi para a cama.

***
Cort amaldiçoou a si mesmo por essa mentira. Bart já estava dormindo. Cort tinha
andado de um lado para o outro, mas seu primo havia assegurado que Mina estava em
boas mãos. McGuire cuidaria bem dela, afirmou.
Mas Cort estava preocupado de qualquer maneira. Ele conhecia aviões. Ele voava
em aviões particulares há anos e sabia o que poderia dar errado num piscar de olhos. Ele
esteve em aviões que quase caíram. Ele não conseguiu se livrar da preocupação, embora
o motivo de ele sentir isso por uma mulher com quem não se importava fosse
perturbador. Eles não tinham nada em comum, exceto a angústia do passado. Ela era
uma vaqueira de cidade pequena que não sabia nada sobre o mundo em que ele vivia.
Ela nunca se encaixaria nos seus círculos.
Então, por que se importava?
Ele desejou saber. Ele desligou o abajur e foi dormir. Mas não dormiu.
Ao longe, grandes armas disparavam. Próximo, havia um agudo som de balas
zunindo. Seu amigo o cumprimentou justo quando outra bala zuniu e a cabeça do
homem explodiu em um jorro de sangue. Cort fechou os olhos e estremeceu. Ele se
perguntou se algum dia estaria livre da guerra em que lutou, há tanto tempo.

***
Mina estava plantando flores. E também estava trabalhando no próximo livro, em
sua cabeça. Era assim que ela avançava nas tramas, realizando tarefas mundanas que
não exigiam muito trabalho cerebral enquanto sua mente se envolvia em cenários
complicados. Alguns se encaixam, outros não. Quando ela começava a escrever no
computador, tudo se transformava em uma cena estruturada.
Ela ainda estava espantada com a rapidez com que seu romance, SPECTRE,
estava subindo nas listas dos mais vendidos. Seu agente telefonou no dia anterior para
lhe dizer com entusiasmo desenfreado que a SPECTRE estava subindo na lista de
bestsellers do New York Times e já havia chegado ao top dez da lista da Publishers
Weekly, uma coisa muito mais difícil de conseguir. Era um romance contemporâneo,
mas com tanto drama que até os homens o liam. A trama seguiu um grupo de
mercenários que estava tentando libertar a esposa de um famoso bilionário de um grupo
pequeno de terroristas, que procuravam uma maneira rápida de financiar seus objetivos.
Poucas pessoas que viam Mina em seu jardim jamais conectariam a tímida
vaqueira do Wyoming ao drama arrebatador, violento e apaixonado de seu romance.
Não que ela usasse seu próprio nome. Ela escrevia sob o pseudônimo de Willow Shane,
e apenas um punhado de pessoas sabia.
Bart era uma. A Sra. Simpson outra. Havia pessoas em Catelow que conheciam
Mina a vida toda e não tinham ideia do que ela realmente fazia para viver. Ela gostava
dessa maneira. Se a fama chegasse e parecia provável agora, ela não queria que sua
preciosa privacidade fosse invadida. O pseudônimo, esperava, garantiria isso.
Ela pensou no primo de Bart e riu interiormente, enquanto pensava em como ele
se sentiria quando descobrisse a que ela se dedicava. Eventualmente, ela tinha certeza,
Bart diria a ele. Agora, Bart estava se divertindo enquanto guardava o segredo. E Mina
também. Aquele caubói arrogante precisava de um pequeno choque em sua vida, ela
pensou, considerando o quão depreciativo ele tinha sido sobre o seu tricô e seus
romances.
Bem, tecnicamente, eram romances. Mas eram cheios de ação e suspense, e
SPECTRE havia sido comercializado como um romance de suspense, não na categoria
romance. Mina ficou tão orgulhosa quando soube disso. Ainda lhe dava uma enorme
emoção ir a sessão de autógrafos em livrarias e ver seus romances nas prateleiras.
Nunca cansaria disso.
Ela terminou de plantar as sementes das flores e mudou-se para outro terreno bem
cuidado para começar a plantar ervas.
Ela adorava cozinhar. E adorava ter ervas frescas para colocar na comida.
Portanto, era muito melhor cultivar a sua própria do que comprá-la na loja e não ter
ideia se eram realmente frescas.
─ Senhora, eu posso fazer isso por você, se você quiser. - Disse Fender atrás dela.
Ela se virou, os joelhos no brim azul sujos com a grama que rodeava a terra
fresca. Ela riu.
─ Obrigada, mas eu adoro plantar coisas.
─ Você nem está usando luvas. - Ele a repreendeu.
─ Oh, eu gosto de sentir a terra entre meus dedos. - Disse ela com um sorriso caloroso.
─ Isso me dá uma espécie de conexão com as coisas que planto. Eu gosto de pensar que
isso as faz crescer mais rápido. - Acrescentou ela, rindo.
─ OK. Só vim perguntar sobre o gado que você planeja vender na venda de produção. -
Ele disse. ─ Precisamos lavá-los e embelezá-los para isso?
Ela começou a rir, visões de bezerros vestidos com saias com babados encheram
sua cabeça.
─ Bem, eu acho que poderíamos lavá-los. - Disse ela quando parou de rir. ─ Mas sem
vestidos com babados ou calças curtas. Ok?
Ele riu.
─ OK.
─ É muito bom que faremos isso em breve. - Acrescentou. ─ Vou ficar presa em Nova
York por alguns dias no próximo mês.
─ Nova York? - Ele perguntou.
Ela assentiu.
─ Sim. Eu tenho uma reunião de negócios lá. O Sr. McGuire vai me levar de avião.
─ Não é da minha conta, mas é algo sobre o rancho? - Ele perguntou. ─ Quero dizer,
você não vai vender nem nada?
Ela sorriu.
─ Claro que não! É o meu legado. Não, são outros assuntos. Você não perderá seu
emprego tão cedo. Eu prometo.
Ele soltou um suspiro.
─ OK. Obrigado.
─ Enquanto isso, que tal fazer com que os funcionários de meio período limpem o
estábulo? Eu sei, eles preferem levar um tiro. Mas alguém tem que fazer isso, e eu não
tenho tempo.
─ Não há problema, Senhora. - Ele disse, e inclinou o chapéu. ─ Eu farei isso agora.
─ Obrigada. - Disse ela. E fez uma careta. ─ Onde está sua sombra peluda? - Ela
perguntou.
─ Sagebrush está ajudando a mover muitos novilhos para novas pastagens. Ele é
habilidoso como um cão de pastoreio. - Ele balançou a cabeça. ─ Ele gosta de me ajudar
a pastorear o gado, mas eu nunca percebi o quão bom ele era com os animais até que o
vi trabalhar. Talvez ele seja parte cão pastor. - Ele riu.
─ Mais como uma parte de border collie. * - Ela brincou.
─ Poderia ser. Eu voltarei ao trabalho.
Ela apenas assentiu e voltou ao trabalho.
*Border collie é uma raça canina do tipo collie desenvolvida na região da fronteira anglo-escocesa na Grã-Bretanha para o trabalho
de pastorear gado, em especial gado ovino.

CAPÍTULO NOVE
Cort esteve suspirando em torno da fazenda por dias. Bart não conseguiu
descobrir qual era o problema com ele. Ele não estava comendo como estava quando
chegou e andava inquieto. Ele saiu com Ida uma ou duas vezes, mas não demorou muito
tempo.
─ Há algo errado? - Bart perguntou finalmente, com preocupação aparente.
Cort respirou fundo.
─ Sua melhor amiga é o que está errado.
As sobrancelhas de Bart arquearam.
─ Vocês dois brigaram ou algo assim?
Cort sacudiu a cabeça negando.
─ Nada parecido com isso. Ela me incomoda, só isso.
─ Incomoda você como?
─ Ela estava verificando a vedação de uma cerca totalmente sozinha. Ela não carrega
uma arma e alguns animais podem pegá-la tão rapidamente que ela não teria tempo de
pegar um telefone celular para pedir ajuda.
Bart escondeu um sorriso.
─ Seus ajudantes do rancho cuidam dela.
─ Nem sempre. - Foi a resposta rude. ─ Tivemos um ataque de lobo a um bezerro e
depois a uma vaca parindo, lembra?
─ O lobo foi baleado, lembra? - Bart respondeu. ─ A propósito, eu tive que relatar isso
à agência estadual apropriada, eles vieram e recolheram amostras genéticas da carcaça.
Os lobos cinzentos estão fora da lista de espécies ameaçadas, mas o estado ainda quer
manter um grupo de reprodutores.
─ Alguma ideia de quem matou aquele lobo? - Perguntou Cort.
Bart balançou a cabeça.
─ Eu perguntei a todos os meus empregados. Ninguém, nem mesmo os que trabalham
meio período, sabiam nada sobre isso. Mina perguntou a seus cowboys. A mesma
resposta.
─ Curioso.
─ Muito.
─ O lobo se foi, melhor assim. Eles podem ser perigosos. - Disse Cort.
Bart apenas sorriu.
─ As pessoas também podem. Eu gosto de lobos. E nunca tive nenhum ataque ao gado
até que aquele bezerro foi abatido. Os lobos atacam principalmente veados, alces e
antílopes. Eu chamaria o pessoal da vida selvagem se algum dia um lobo agressivo
aparecesse, e eles o levariam. Detestaria matar algo tão majestoso, apesar de adorar meu
gado.
─ Não temos lobos cinzentos no meu rancho. - Disse Cort. E fez uma careta. ─ Mas
ouvi dizer que aqueles que você encontra no Wyoming podem pesar mais de 50 quilos e
correr até 75 quilômetros por hora. Uma mulher sozinha não poderia fugir de um,
mesmo a cavalo. - Cort fez uma careta. ─ Onde há um lobo, geralmente há outros. Eles
correm em bandos, não é?
─ Geralmente sim. As autoridades ainda alertam as pessoas para ficarem longe deles em
parques estaduais, mesmo onde estão protegidas. - Concordou Bart. ─ Um animal
selvagem é chamado assim porque é selvagem. Qualquer um deles atacará um humano
pelo motivo certo, e eles não são previsíveis.
Cort recostou-se na cadeira.
─ Mina nem carrega uma arma com ela, eu notei.
─ Ela não gosta de armas. - Bart acrescentou.
─ Atitude estranha, para uma rancheira.
─ Ela foi mais ou menos forçada a pecuária porque tinha que ter um lugar para morar e
não queria desistir de seu legado. Não é isso que ela planeja fazer com a vida dela.
─ O que ela planeja fazer? - Cort perguntou. ─ Passar o tempo tricotando e lendo
romances?
Essa atitude fez Bart querer jogar a verdade na cara dele. Mas era o segredo de
Mina, não o dele.
─ Cozinhar e cuidar da casa. - Cort murmurou. ─ Quem diabos faz isso? Eu nunca
namorei uma mulher que quisesse passar algum tempo na cozinha.
─ As mulheres com quem você namora não saberiam nem o que é uma cozinha. -
Brincou Bart. ─ Eles são mais adequadas para quartos.
Cort riu.
─ Acredito que sim. No entanto, eu tive a minha cota delas. Depois de um tempo, todas
têm o mesmo gosto, a mesma aparência, o mesmo som. - Ele suspirou. ─ Acho que
estou cansado.
─ Muito sucesso, muito cedo na vida. - Disse Bart filosoficamente.
─ Você provavelmente está certo. - Cort admitiu. ─ Eu cresci rico. Meu pai me ensinou
que as mulheres eram um prazer permitido e eu nunca esqueci. Ele passou por elas
como uma faca na manteiga, mesmo enquanto nossa mãe ainda estava viva, pelo que
meus irmãos mais velhos disseram. Ele enlouqueceu depois que encontrou nossa
madrasta na cama com seu melhor amigo. Ele disse que as mulheres modernas não
tinham moral, nem senso de justiça, e elas só tinham um uso. E nos ensinou qual era.
─ Isso é uma pena. - Disse Bart. ─ Existem algumas mulheres legais no mundo.
─ Como sua amiga. - Ele repreendeu.
─ Ela é muito legal. - Respondeu Bart. ─ Não é sofisticada, rica ou mimada. Ela é como
a garota da porta ao lado.
─ Livre-me desse tipo. - Cort riu. ─ Não desejo ser levado para o casamento porque
uma mulher ficou descuidada na cama comigo.
─ A solução prática é você mesmo levar proteção.
Ele encolheu os ombros.
─ Eu costumava levar. Mas atualmente a maioria das mulheres toma pílula, injeção ou o
que diabos elas usam hoje em dia. Eu nunca conheci alguém que não fosse fanático por
controle de natalidade. Todas elas tinham carreiras em mente, até as modelos.
─ Isso é uma vantagem.
─ É. Sem preocupações com surpresas inesperadas. - Ele retrucou. E olhou para Bart. ─
Você realmente é um neandertal, sabe disso.
Bart riu.
─ Eu acho que sim. Eu nunca me encaixaria naqueles altos círculos no qual você anda.
E realmente Cort, eu nem gostaria. Eu gosto da vida em cidade pequena. Você não.
Estamos em mundos separados.
─ Eu ainda morreria por você, primo. - Cort disse gentilmente.
Bart sorriu.
─ Eu morreria por você também.
─ Muito filosófico. Que tal uma cerveja e um jogo de bola?
─ Feito!

***

Bart e Cort acordaram muito cedo no dia da venda da produção. Mina também e
estava bem vestida com calças, botas e um suéter cinza perolado com botões que iam da
cintura até a garganta. Todos estavam abotoados e Cort continuava sentindo um desejo
incômodo de desabotoá-los. Ela tinha uma boa aparência, seios pequenos e firmes que o
deixavam faminto. O incomodava o fato de estar atraído por ela. Ela era completamente
o tipo errado de mulher para ele, e ele sabia disso, mas parecia não ter forças para se
afastar. Não conseguia tirar o gosto dela da cabeça. E sempre havia a ameaça de Jake
McGuire. O homem não era tão rico quanto Cort, mas Mina não sabia disso.
Ele percebeu que ela estava inibida com os compradores de fora da cidade. Bart
estava perto dela, mas quando mais pessoas chegaram para a venda, ela se viu sozinha e,
com um fazendeiro abusado, que deslizou o braço em volta dos seus ombros.
Mina estava tentando se afastar do fazendeiro visitante de uma maneira amável,
sem causar problemas. O homem era grande e opressor, como Henry tinha sido. Ele
tinha a mesma cor. Ela se sentiu acuada e assustada. E deveria dizer algo sobre aquela
mão itinerante. Ela já teria dito, para qualquer outro homem. Este a assustava. Mesmo
assim, ela estava se preparando para um confronto quando a ajuda veio de modo
inesperado.
Cort notou sua expressão acuada e a familiaridade indesejada do fazendeiro, e viu
tudo vermelho. Ele caminhou até o fazendeiro, removeu o braço ofensivo antes de Mina
abrir a boca.
─ Estamos vendendo gado. Não mulheres. - Disse Cort. E sorriu. Mas não era um
sorriso agradável, e seus olhos castanhos claros soltavam faíscas.
O homem o fulminou com o olhar.
─ Não é a jovem que deveria reclamar comigo se eu a ofendi? - Perguntou ele, altivo,
com os olhos fixos no traje de cowboy barato de Cort.
Cort inclinou a cabeça. Levantou o queixo. O sorriso foi substituído por um olhar
frio e brilhante. Desta vez, o fazendeiro visitante entendeu a mensagem e partiu fazendo
um som irritado. Ele foi em direção ao carro em vez da área de venda.
─ Perdemos uma venda. - Disse Mina suavemente. Mas não estava reclamando. Ela
olhou para Cort com um sorriso. ─ Obrigada. Eu estava prestes a protestar, mas você foi
mais rápido. - Ela suspirou. ─ Ele era um horror. Mas poderia ter comprado um dos
nossos touros.
Cort olhou em direção ao automóvel do homem.
─ Improvável. Ele está dirigindo um Lincoln* de três anos com um pneu careca. - Disse
ele. ─ Está vestindo um terno de pronta entrega de alguma loja masculina e botas que
provavelmente comprou no Walmart. Ele teria sorte de poder comprar um bife, carne de
primeira qualidade como a que você está vendendo aqui, nem pensar.
Ela ficou surpresa com a maneira como ele avaliou o outro homem. Não havia
notado essas coisas. Bem, ela ainda não sabia muito sobre roupas ou carros chiques.
─ Como você sabe quantos anos tem o carro? - Ela perguntou.
Ele riu.
─ O capataz do chefe dirige um igual. - Disse ele.
─ Oh! - Ela riu. ─ Bem, obrigada por me salvar.
─ Eu fui alguns segundos mais rápido que você. - Ele disse simplesmente, e sorriu para
ela. ─ Eu pude ver as nuvens de tempestade se acumulando em seu rosto.
Ela se abraçou.
─ Não tenho certeza disso. - Confessou. ─ Ele se parecia muito com Henry. -
Acrescentou, referindo-se ao antigo namorado de sua mãe. ─ Mesma constituição,
mesma cor... acho que ele me inibiu.
Ele se sentiu protetor. Não era um sentimento que associasse às mulheres. Não as
mulheres em sua vida, pelo menos.
─ O passado realmente não morre. Mesmo quando o personagem principal de um filme
aconselha a heroína a esquecê-lo. - Acrescentou ele ironicamente.
Mina riu.
─ Guerra nas Estrelas. - Ela disse rapidamente
Ele assentiu.
─ Eu vi os dois novos. Estou ansioso pelo próximo.
─ Eu também. - Ela disse.
─ Parece que compartilhamos um gosto comum por séries medievais de televisão e
filmes de ficção científica. - Observou ele.
Ela sorriu.
─ Eu adoro ficção científica. Também gosto de filmes de guerra.
─ Filmes de guerra. - Ele estava surpreso.
─ Mas os documentários sobre as grandes batalhas são meus favoritos. - Ela suspirou. ─
Adoro qualquer coisa sobre Alexandre, o Grande e Hannibal.
Ele balançou a cabeça.
─ Tricô, romances e guerra. Uma estranha combinação de hobbies. - Ele observou com
um sorriso.

*Lincoln

Ele não sabia nem a metade. Sua memória estava cheia de relatos em primeira
pessoa de homens que lutaram em alguns dos conflitos mais sangrentos da atualidade. E
não apenas soldados. Sua coleção de batalhas incluía as de homens e mulheres de várias
carreiras policiais.
─ Me fascina, as inovações que os homens desenvolveram para vencer batalhas.
Ele assentiu.
─ A mim também.
Ela lembrou que ele era um veterano de combate com algumas lembranças
horríveis.
─ Desculpe. - Disse ela tardiamente. ─ Não acho que seja um assunto agradável para
você.
Ele inclinou a cabeça.
─ Não gosto de lembrar do Oriente Médio. - Ele respondeu. ─ Mas sou bastante parcial
em relação à história militar.
Ela sorriu.
─ Eu também sou.
Bart viu o fazendeiro saindo às pressas. Terminou de conversar com um potencial
comprador e veio ver o que havia acontecido.
─ Um dos clientes saiu da linha com Mina. - Disse Cort calmamente. ─ Eu o mandei
embora.
─ Bom para você. - Respondeu Bart. ─ Aquele é Myron Settles. - Acrescentou. ─ Ele é
um comprador de segunda categoria para um confinamento em Oklahoma. Ninguém
gosta dele. Ele assediou a esposa de Ned Taylor, e Ned o derrubou no chão, em um
curral em Billings. - Ele riu. ─ Foi uma sensação. Infelizmente, não parece ter surtido
um efeito duradouro nele. - Acrescentou, o sorriso desaparecendo. ─ Desculpe por isso,
Mina.
─ Tudo bem. Não podemos escolher compradores. - Acrescentou.
─ É melhor circularmos. Mas se você tiver mais problemas... - Bart começou.
─ Eu posso lidar com a maioria deles. - Disse ela com um olhar tímido para Cort. ─
Este parecia demais com Henry. Obrigada. - Ela acrescentou, sua voz suave enquanto
falava com Cort. Ela corou e se virou antes que ele pudesse responder.
─ Doninha insolente.* - Cort murmurou depois que ela saiu, olhando para a estrada
onde o comprador abusado havia desaparecido. ─ Ele teria que pagar uma mulher para
ir para a cama com ele em primeiro lugar. Eu deveria tê-lo esmurrado. Ele assustou
Mina.
Bart teve que esconder um sorriso. Ele achou divertido ver seu primo mulherengo
defender a mesma mulher de quem se queixou por dias a fio quando chegou a Catelow.
─ Ela gosta de história militar. - Murmurou Cort. ─ E filmes de ficção científica. Ela é
um enigma.
─ Muitas mulheres gostam dessas coisas. - Respondeu Bart.
─ Não... no meu mundo, elas não gostam. - Disse Cort. E balançou a cabeça. ─ Acredito
que metade das mulheres com as quais saí nem sequer sabe quem foi Alexandre.
─ Isso seria um bom palpite.
─ Conhece algum desses outros compradores? - Cort acrescentou, olhando ao redor
para garantir que Mina não estivesse sendo incomodada.
─ Não todos. - Disse Bart.
─ Vou circular e ficar de olho no seu amigo ali. Só por precaução. - Disse Cort, e se
afastou, com as mãos nos bolsos da calça jeans.
Bart apenas sorriu para si mesmo e foi falar com outro comprador.

* Doninha

***
Eles venderam todos os seus bezerros em conjunto. Alguns deles seriam usados
para procriação. Outros seriam enviados para um confinamento, sob contrato de um
comprador que apareceu mais tarde. Mina estava ciente da vigilância de Cort e
agradecida por isso. Ele estava por perto quando ela falou com possíveis compradores,
cortês e amável, mas atento.
Depois que o churrasco foi servido e os convidados foram embora, ela fez uma
pausa para agradecer.
─ Normalmente, não preciso de alguém para me proteger. - Disse ela sorrindo. ─ Mas
obrigada por ficar de olho em mim. Às vezes é difícil ser mulher fazendeira.
─ Às vezes é difícil ser um cowboy. - Ele brincou. ─ Eu recebo minha cota de propostas
e de mulheres "amáveis".
Os lábios dela se separaram.
─ Sério? - Ela perguntou, e parecia genuinamente curiosa.
Ele riu.
─ Você não é experiente, é? - Ele perguntou suavemente.
Um pouco de cor avivou suas maçãs do rosto. Ela encolheu os ombros
timidamente.
─ Eu cresci em Catelow. Temos, o que, mil almas morando aqui? É como crescer em
um aquário. - Ela suspirou. ─ Todo mundo conhecia minha mãe e o que ela era. Mas
algumas pessoas acreditaram nas mentiras que ela contou sobre mim. Tem sido foi
difícil, ao longo do tempo, viver sob essas mentiras.
─ Meu pai é praticamente da mesma maneira. - Disse ele calmamente. ─ Ele estava
traindo minha mãe enquanto ela estava morrendo. - Seu rosto endureceu. ─ Ele nunca
ficou realmente fiel a mulher por muito tempo.
─ Quantos anos você tinha quando sua mãe morreu? - Ela perguntou gentilmente.
─ Eu tinha cinco anos. - Disse ele. ─ Não tinha idade suficiente para entender que a
morte era permanente. Disseram que mamãe foi morar com os anjos, e eu pensei que
isso significava que ela voltaria para visitar.
Ela teve uma triste imagem da vida dele. Ele realmente não conheceu a mãe, mas
acabou com uma madrasta que aparentemente não gostava de nenhum dos enteados e
que traiu seu pai.
─ Você não teve uma infância muito melhor do a minha. - Disse ela distraidamente.
Ele quase disse que a riqueza compensava parte disso, mas isso seria um erro. Ele
gostava de pensar que era apenas um cowboy. Ela foi a primeira mulher que já gostou
do homem em vez da carteira.
Ela não era bonita, mas havia uma qualidade nela que o atraía, como uma
mariposa para as chamas. Ida era linda, divertida e excitante. Mina era calma e tímida,
mas com profundezas ocultas. Ele queria saber quais eram essas profundezas. Ela o
intrigava.
─ Como você tem uma opinião tão ruim sobre os cowboys, acho que não gostaria de
sair com um de nós. - Ele pensou, observando o rubor nas bochechas dela aumentar.
Ela respirou fundo.
─ Você está me convidando para sair? - Ela perguntou. Era pura bravata. Ela iria
encolher-se em um canto mais tarde.
Ele riu.
─ Sim.
Os olhos dela arregalaram. Ela o olhou totalmente espantada.
─ Sério?
─ Por que você está tão surpresa?
─ Bem, eu não sou bonita. - Disse ela, gaguejando. ─ E não sou rica. Cheiro a estrume
de vaca a maior parte do tempo...
Ele riu alto.
─ Você está me descrevendo também, exceto a parte bonita. - Ele respondeu.
Ela sorriu.
─ Nesse caso, sim. Eu sairia com você.

O coração dele pulou. Ele não parou para considerar as implicações dessa reação.
─ Ótimo. O que você quer fazer?
─ Não há muito o que fazer em Catelow... - Ela começou.
─ Existe, em Lander. - Ele murmurou. ─ Há um cassino. Fica na Reserva Indígena
Wind River. Há muito o que ver e fazer lá, incluindo passeios pela região. Artes e
Ofícios. Trilhas de caminhada...
─ Parece adorável. - Disse ela. ─ Eu nunca estive dentro de um cassino na minha vida.
Mas o que realmente o que eu adoraria ver é a reserva.
─ Eu li muito sobre isso. - Disse ele. E tinha lido, durante um evento de negócios nas
proximidades. ─ É o lar das tribos Shoshone e Arapaho do norte.* Há muita história lá.
─ Suponho que seja muito cedo para qualquer um dos powwows.* - Disse ela
melancolicamente.
─ Receio que sim. Eles são mais para o final do ano.
─ Quando você quer ir? - Ela perguntou com voz rouca.
─ Bem, amanhã é Páscoa... - Ele começou.
Ela assentiu.
─ Eu vou à igreja na Páscoa.
Ele não frequentava a igreja, mas não não causaria problemas por isso.
─ Que tal no próximo sábado? - Ele perguntou. Hesitou e seu rosto ficou tenso. ─ Se
você não tiver nada marcado com Jake McGuire para esse dia.
─ Eu não tenho. - Ela disse rapidamente. Era muito mais tarde que Jake a levaria para
Nova York, mas ela não ia mencionatr isso. Era lisonjeiro que Cort prestasse atenção a
ela, especialmente porque era de conhecimento geral que ele estava saindo com Ida
Merridan. ─ Ida não se importa? - Ela deixou escapar.
Ele riu.
─ Nós somos amigos. Apenas amigos. Então, sábado que vem?
Ela sorriu.
─ OK.
─ Vou buscá-la por volta das nove da manhã e passaremos o dia. Que tal é isso?
Ela apenas assentiu, seu rosto quase brilhando de prazer. Ele não conseguia tirar
os olhos dela. Nenhuma mulher jamais olhou para ele dessa maneira em particular. Isso
o fez se iluminar por dentro. Ele sorriu e não conseguia parar.
─ Está bem então. É um encontro.

***

─ Bem, você está radiante. - Bart brincou enquanto ela se preparava para voltar para
casa.
─ Seu primo vai me levar para a Reserva de Wind Rivers no próximo sábado. - Ela
disse.
Ele franziu a testa.
─ Mina, eu não quero interferir. Mas Cort... bem, ele é um pouco mulherengo.
─ Eu sei. - Ela disse gentilmente. E fez um gesto estranho com o ombro. ─ Eu sei que
ele é. Mas faz muito tempo que... bem, eu nunca tive um encontro real.
─ Você saiu com Jake McGuire. - Ele a lembrou com um sorriso. ─ Duas vezes, de fato.
─ Sim, mas eu não... eu não... ele não é... - Ela lutou por palavras.
─ Mas você não está atraída por Jake e está por Cort. - Ele traduziu.
Ela ficou escarlate, ciente de que Cort estava olhando na direção deles e sorrindo
para ela. Ela estava visivelmente desconcertada.
─ Apenas vá com calma, ok? - Ele a aconselhou e sorriu. ─ Ele é um bom homem. Mas
ele gosta muito de mulher.
Ela riu.
─ Eu gosto muito dele. Mas não sou cega.
*Arapaho do norte - Povo Indígena que se separou em duas tribos em 1850: Arapaho do norte e do sul. Os Arapaho do norte tem
vivido desde 1878 na Reserva Wind River.
*Shoshone do norte - Povo indígena que se estabeleceu principalmente na Reserva Indígena de Wind River, no Wyoming, depois
que seu líder, Washakie , assinou o Tratado de Fort Bridger de 1868.
*Powwoms - É a reunião dos povos nativos da América do norte para dançar, cantar, socializar e homenagear a cultura dos povos
indígenas.
Ele riu também, mas sem humor. Ele teve que esconder o quão preocupado
realmente estava. Cort era perigoso para uma garota inocente, e era isso que Mina era.
Bem, se o pior acontecesse, pelo menos ele estaria lá para recolher os pedaços.

***
Mina foi à igreja na manhã seguinte e sentou-se ao lado de Bill McAllister e seu
novo funcionário em período integral, Jerry Fender. Eles ficaram conversando com o
pastor quando ela saiu, mas o deixaram e a acompanharam até o carro.
─ Bart diz que você vai ao cassino com o primo dele no próximo sábado. - Começou
Bill.
Ela corou e olhou para os dois.
─ Eu tenho vinte e quatro anos. Eu só realmente saí com um homem até agora. Não é
provável que Cort me jogue na beira da estrada com um bilhete na boca e me deixe lá.
Fender suspirou.
─ É a sua vida, patroa. - Ele disse gentilmente. ─ Mas o homem tem uma má reputação
localmente. Às vezes, as pessoas que têm má reputação assim podem prejudicar a
reputação de outras por apenas serem vistas com elas.
─ Eu não acredito em vocês dois. - Disse ela, exasperada.
─ Nós nos preocupamos. - Disse Bill gentilmente.
Fender apenas assentiu.
Ela franziu o cenho. Mas depois de um minuto, quando percebeu o quão
genuinamente preocupados eles estavam, se acalmou.
─ Não vou a nenhum quarto escuro com ele sozinha. - Disse ela em um sussurro. ─ E
eu não vou tomar uma única bebida no bar. Vamos visitar a Reserva, não participar de
nenhuma orgia.
Eles riram. A maneira como ela disse isso foi ultrajante.
Ela sorriu para eles.
─ Mas obrigada pela preocupação. - Acrescentou ela, e era verdade. ─ Vocês são muito
legais.
Eles agradeceram, tiraram o chapéu e foram para a caminhonete de Fender, onde
seu cachorro grande, Sagebrush, ocupava o banco do passageiro. Eles conversaram por
um minuto ou dois antes de Bill ir para o seu próprio carro. Quando Mina entrou em seu
carro, os dois já haviam partido.

***

Ela questionou pelo resto da semana sua decisão de sair com Cort. Sim, ele era
muito experiente. Sim, ele estava saindo com uma mulher local de má reputação. Sim,
sair com ele poderia prejudicar a reputação dela.
Mas ele a tratou com ternura e a protegeu. Ela recordou impotente daquela boca
dura e bonita pressionada com tanta avidez contra a sua. E estremeceu toda com a
lembrança. Ela teve tão pouca alegria em sua vida, fora de sua carreira. Seria pedir
demais passar uma noite inocente com um homem por quem ela estava fortemente
atraída?
Bart estava preocupado. Assim como seu capataz de meio período e seu mais
novo contratado. Eles se importarem tanto com seu bem-estar a fazia e sentir bem. Mas,
no final, cabia a ela tomar decisões que afetavam sua vida. E ela preferia morrer a se
recusar a sair com Cort.
O único problema que tinha no momento era o que vestir. Tinha alguns vestidos e
um conjunto bonitos, algumas calças e blusas que combinavam e estavam na moda. O
que uma mulher vestia em um cassino, um vestido de noite?
Então ela se lembrou do único concerto que assistiu em Nova York com um de
seus editores. As pessoas vestiam tudo, de veludo a jeans. Parecia ser uma questão de
gosto pessoal. Por isso, ela escolheu uma saia jeans longa que chegava até seus
tornozelos e a combinou com uma bonita blusa de algodão azul e branco com gola
pontuda. Deixou o cabelo solto e o escovou até brilhar. Colocou brincos e um bracelete
turquesa que a avó lhe deu, há muito tempo. Ela se olhou no espelho e sorriu. Bem, não
era de grande beleza, mas não parecia muito ruim, pensou.
Enquanto ela se olhava, houve uma batida forte na porta da frente.
Seu coração enlouqueceu quando ela quase correu para abrir a porta. E lá estava
ele, vestindo jeans que delineavam suas longas e poderosas pernas e uma camisa azul
que era quase idêntica a sua. Ela prendeu a respiração.
Ele também. Então riu.
─ Bem, as pessoas não podem dizer que não combinamos. - Ele brincou.
─ Não, elas não podem.
─ Tem tudo que você precisa? - Ele perguntou.
Ela deu um tapinha em sua pochete.
─ Bem aqui. - Ela fez uma careta. ─ Eu sei que elas estão fora de moda. Eu não ligo Eu
comprei essa aqui no México há alguns anos. É de couro curtido e eu a adoro. Eu odeio
bolsas. - Acrescentou ela. ─ Elas apenas atrapalham e você coloca coisas que nem
precisa nelas.
Ele sorriu.
─ É por isso que o jeans tem bolsos. - Comentou, tocando as chaves do carro.
Ela riu.
─ Teremos que ir no melhor caminhão de Bart. - A advertiu. Ele pensou em alugar uma
limusine com um motorista, mas realmente não queria se entregar tão cedo. Estava
gostando de ser visto apenas como mais um cowboy. Era revigorante.
─ Não me importo de andar de caminhões . - Disse ela. ─ Eu ando muito com Bill no
dele. Tem molas saindo dos assentos e um painel quebrado em dois de quando ele o
bateu e uma rachadura no pára-brisa. Ainda funciona. - Acrescentou ela rindo.
Que atitude. Nada parecia perturbá-la. Ele ficava mais encantado a cada minuto.
Ela não sabia quem ele era ou o que tinha, e era a pessoa mais honesta que ele já
conheceu. Ela não se importava com caminhões surrados. Que mudança em relação às
mulheres com as quais saía e que se queixavam de que os seus presentes não eram
suficientes, elas queriam mas do que diamantes, peles e ouro. Se ele estava cansado,
tinha boas razões para isso.
Ele dirigia bem, ela notou. Não muito rápido ou muito lento, e mantinha os olhos
na estrada. Não que houvesse muito tráfego. Ainda havia um pouco de neve nas
estradas, e ele era cauteloso. Mas era dia e os únicos trechos com neve ficavam em áreas
sombreadas por árvores que pairavam sobre a estrada.
─ Você e Bart venderam todos os seus touros jovens. - Observou ele com um sorriso. ─
Isso é uma proeza.
─ Eu sei! Nós dois ainda estamos abalados com isso.
─ Você também obteve bons preços por eles.
─ O motivo é triste. - Ela murmurou, com os olhos nas mãos fortes e magras ao volante.
─ Triste?
─ Bem, todas as inundações em estados próximos, onde o gado morreu aos milhares. -
Observou ela. ─ Algumas pessoas que compraram nossos touros vieram de lá. Muitos
lugares ainda estão inundados.
─ Eu sei. Dizem que apenas trinta por cento da safra de milho está sendo plantada este
ano. - Ele olhou para ela. ─ Os preços dos alimentos irão disparar.
─ Sim. E uma parte desse milho estava destinada ao combustível. - Acrescentou. ─
Como eles decidirão entre ração e combustível?
─ Vai ser um difícil ano para muitos produtores e criadores de gado. - Previu.
─ Eu sei. O clima está louco.
─ Você disse que nunca esteve em um cassino. McGuire não levou você a um?
Ela riu.
─ Não. Nós apenas fomos a restaurantes. Ele realmente sabe como encontrar a melhor
comida do mundo.
─ E você parece que nunca come. - Observou ele, olhando para a figura esbelta dela.
Ela suspirou.
─ Eu como, mas tenho que comer com cuidado. Eu tenho a tendência de ganhar peso na
época da Páscoa.
Ele franziu a testa.
─ Por quê?
Ela virou a cabeça na direção dele.
─ Ovos de Páscoa? Ovos de Páscoa de chocolate? Coelhinhos de chocolate?
─ Oh! - Ele começou a rir. ─ Entendi.
─ Você não gosta de chocolate?
Ele balançou sua cabeça.
─ É um dos meus gatilhos.
─ O que?
─ Tenho enxaqueca. - Disse ele. ─ Os médicos dizem que sempre há mais de uma coisa
que as desencadeia, mas chocolate, nozes e vinho tinto fazem isso comigo em um piscar
de olhos. Eu evito todos os três. E eu adoro o maldito vinho tinto. - Ele acrescentou com
um suspiro.
─ Eu tenho dores de cabeça, mas não assim. - Ela estremeceu. ─ Minha avó costumava
ter dessas. Ela foi a um fitoterapeuta que lhe prescreveu raiz de valeriana.
─ Eu tentei os métodos à base de plantas. Eles não funcionaram.
─ Existem preventivos agora, não existem?
Ele sorriu tristemente.
─ Sim, mas sou alérgico ao tipo mais antigo e quero ver mais alguns testes nos novos
antes de começar a usá-los.
─ Você é muito cauteloso.
─ Minha avó morreu de derrame. - Disse ele. ─ Sou cauteloso porque as enxaquecas
predispõem as pessoas ao derrame. - Ele notou a evidente preocupação dela. ─ Não na
minha idade. - Disse ele, e sorriu quando ela corou. ─ Mas obrigado pela preocupação.
─ Eles podem fazer todos os tipos de testes de DNA agora, para ver que tipo de doenças
ocorrem em sua composição genética. Eu pensei em fazer um. - Acrescentou. ─ Não sei
coisa alguma sobre a saúde do meu pai ou sobre sua família.
─ Seu primo disse que você deveria conversar com ele enquanto ele estava em Billings,
não é? - Ele perguntou, porque Rogan havia contado a Bart, que contou a Cort.
Ela não se perguntou como ele sabia disso. Ele estava certo, e a lembrança ainda a
incomodava. Ela voltou os olhos para a paisagem que passava.
─ Meu pai me jogou de cabeça no inferno e fugiu como um cachorro escaldado. Eu não
quero falar com ele.
Impulsivamente, a mão dele alcançou a dela e a segurou, reconfortante e forte.
─ Deixe o passado morrer. - Disse ele em tom de Guerra nas Estrelas.
Ela começou a rir, apesar de fechar os dedos nos dele com confiança e sentir todo
o seu corpo aquecer.
─ Tudo bem. - Disse ela. ─ Mas se você levantar um sabre de luz, vou pular pela janela.
─ Não há chance disso. - Disse ele. Ele poderia ter feito uma piada vulgar sobre o sabre
de luz com uma mulher experiente. Mas não com esta, que era como uma margarida em
um prado, bonita, encantadora e distante do glamour e do brilho do seu mundo. Ele
sorriu para ela e sentiu sua pequena mão estremecer sob a sua mão grande. Ele estava
entrando de cabeça e não se importava. Era viciante. Ele não ia pensar no passado hoje.
Mina, ao lado dele, estava pensando a mesma coisa. Ela se preocuparia se teria ou
não tomado a decisão certa mais tarde. Apesar da preocupação de seus amigos, ela
estava mais feliz neste momento, do que esteve em sua vida inteira, andando pela
estrada em uma caminhonete com um homem tão bonito que todo o seu corpo parecia
estar se aquecendo por dentro. Ele a estava levando para sair, quando podia conquistar
mulheres tão bonitas quanto Ida Merridan. Ela ainda não conseguia acreditar nisso.
─ Você disse que nunca esteve em um cassino antes. - Disse ele.
Ela riu.
─ Eu não estive. Na verdade, eu não dirijo muito. E especialmente não na neve. Eu
costumo cair em valas.
Ele riu.
─ Eu posso ter o mesmo problema. - Ele murmurou. ─ Entretanto, eu posso dirigir em
estradas lamacentas, então talvez isso não seja tão diferente.
─ Isso é o que dizem.
─ Eu não sabia que demoraria tanto tempo para chegar aqui. - Disse ele quando trinta
minutos se passaram e ainda faltava meia hora para chegar à reserva. ─ Vamos chegar
tarde em casa.
─ Não tenho medo do escuro. - Ela brincou.
─ Oh sim? Mas "a noite está escura e cheia de pavor". * - Ele entoou.
Ela fez uma careta para ele.
─ Só mais um mês até a última temporada dessa maravilhosa série. - Ela suspirou. ─
Acho que será como uma peça de Shakespeare. Todo mundo vai morrer no final.
─ Talvez sim. Mas tem sido uma ótima série para assistir.
─ Sim, tem. - Os dedos dela apertaram mais os dele.
O coração dele pulou. Ele sorriu. Nenhum encontro que teve foi tão divertido e
eles mal estavam começando.

CAPÍTULO DEZ
A Reserva de Wind River era enorme. Havia muitos turistas aqui, mesmo em
meados de março, com a neve ainda nas margens das estradas. O hotel e o cassino
atraíram pessoas de toda essa parte do Wyoming, incluindo os turistas que saíam do
Parque Nacional de Yellowstone.
Mina ficou fascinada com o artesanato. Ela começou a comprar um colar de prata
com a cabeça de um lobo, apenas para Cort tirá-lo delicadamente dos seus dedos e
pagar ele mesmo.
Ela tentou protestar, mas ele tirou o colar da embalagem, soltou o fecho e o
colocou no pescoço dela. A bonita cabeça de lobo, pequena, mas perfeita, encaixou na
cavidade de sua garganta. As mãos dele permaneceram nos ombros dela enquanto a
observava, sem sorrir.
─ Você gosta de lobos. - Disse ele calmamente.
─ Sim. Há uma razão.
─ Por causa da série de televisão que nós dois assistimos, e você gosta da família do
norte?
Ela balançou a cabeça negando.
─ Conte-me.
Ela olhou em volta desconfortavelmente.
Ele riu e segurou os dedos dela nos dele.
─ Vou encontrar um lugar mais reservado. - Ele a levou ao cassino e a levantou em um
tamborete alto. E fez os pedido ao barman.
─ Piña coladas? - Ela perguntou. ─ Mas olha só, nunca tomei uma bebida forte...
─ Estou aqui para protegê-la. - Disse ele gentilmente. ─ E uma bebida não vai afetá-la.
Confie em mim.
─ Aquela cobra no filme Mogli não disse isso? - Ela perguntou desconfiada, mas com
um sorriso.
Ele se inclinou na direção dela.
─ Eu sou muito mais perigoso do que qualquer cobra. - Ele sussurrou. E sorriu. ─ Mas
apenas por esta noite, vou abrir uma exceção e me comportar.
Ela retribuiu o sorriso.
─ Ok! - Ela tocou a prata fria do colar. ─ Obrigada. Por isso. Você não deveria.
Ele encolheu os ombros.
─ Eu gosto de ter algo que eu dei a você tocando a sua pele. - Disse ele, sua voz
profunda e suave como veludo.
Ela corou. Nenhum homem jamais havia falado com ela dessa maneira.
As bebidas chegaram. Ela ficou surpresa com o tamanho delas. Ela olhou para
Cort preocupada.
─ É basicamente suco de abacaxi e leite de coco. E um pouco de rum. - Ele acrescentou
com um sorriso. ─ Nada para se preocupar. Eles não colocam muito rum neles.
─ Bem... ok.
Ela tomou um gole e fez uma careta. O sabor era desagradável, e ela se perguntou
se não era por não estar acostumada a beber. Parecia muito forte. Mas ela tomou outro
gole e outro, e logo isso não a incomodou mais.
Cort os levou para uma mesa e eles pediram coquetel de camarão, bifes e salada.
Enquanto esperavam o pedido chegar, Cort fez círculos lentos nas costas de uma de suas
mãos enquanto olhava nos olhos dela.
* Novamente citação de Game of Thrones.
─ Por que lobos? - Ele perguntou abruptamente.
─ Meu avô tinha sangue Shoshone. - Disse ela. ─ Ele me ensinou sobre animais
totêmicos. Ele disse que o meu era um lobo. Que eu sempre seria protegida por eles, se
por acaso eu encontrasse com um.
─ E você encontrou?
Ela assentiu.
─ Foi pouco antes de minha mãe e o namorado dela saírem e morrerem no acidente.
Henry tentou me agarrar novamente e eu corri para a floresta para me esconder dele. Eu
sempre parecia estar me escondendo. - Ela acrescentou cansada, ciente da raiva no rosto
tenso dele. ─ Eu não quis ir tão fundo na floresta. Há cascavéis, ursos e outros
predadores, mas fiquei muito aflita e amedrontada. - Ela engoliu em seco. ─ Entrei em
uma clareira e havia um imenso lobo prateado. Ele era maior que um São Bernardo. Eu
sei que ele pesava mais de 40 quilos, talvez mais de 60. Eu nunca vi um lobo tão
grande. Ele não fez sequer um movimento em minha direção. Ele apenas ficou lá,
olhando para mim.
─ O que você fez? - Ele instigou.
─ Eu estava com medo de correr. A maioria dos predadores ataca quando a pessoa
demonstra medo. E um lobo pode correr a cerca de 80 km por hora. Não havia como eu
superá-lo. Então fiquei firme, esperando para morrer.
Ela fez uma pausa para tomar um gole da bebida.
─ Ele veio até mim, bem devagar, como se soubesse o quanto eu estava assustada.
Deus, ele era enorme! Seus olhos estavam quase no mesmo nível dos meus. Ele olhou
bem nos meus olhos, como se pudesse ver dentro da minha alma. Eu esperei com meu
coração acelerado, para ver se ele ia me comer. E então... - Ela engoliu em seco e olhou
em volta para se certificar de que ninguém estava perto o suficiente para ouvi-la. Ela se
inclinou para ele. ─ ele desapareceu. Como nevoeiro. Como fumaça. Ele estava lá, e tão
real quanto você. E então ele simplesmente... se foi. - Ela respirou fundo. ─ Isso me
abalou. Eu não tinha ideia do que tinha visto, se estava tendo alucinações, se era real.
Ou se eu estava enlouquecendo. - Acrescentou ela com uma risada fraca.
─ Seu animal totem. - Ele pensou baixinho, mas não estava tirando sarro dela.
─ Depois me lembrei do que meu avô havia me dito. Ele disse que um animal totem era
uma proteção e um aviso. No dia seguinte, Henry bateu o carro em uma árvore matando
ele e minha mãe.
Ele assobiou baixinho.
─ Isso é pesado.
Ela assentiu.
─ Você já o viu de novo?
─ Não. - Ela fez uma careta. ─ Quando encontramos os bezerros que haviam sido
atacados, o vivo e o morto, tive medo de que fosse um lobo e que tivesse que ser
caçado. Eu sabia que Bart iria prendê-lo. Mas temos outros vizinhos que não são tão
caridosos. E com certeza, alguém matou o velho lobo.
Ele assentiu.
─ Você entende como as coisas estão para os fazendeiros. - Ele disse suavemente. ─ Os
tempos estão difíceis. Fazendeiros e granjeiros estão falindo em todo o país. Você pode
suportar perder um bezerro de vez em quando, mas fica caro.
─ E você não pode deixar os lobos se alimentarem do seu gado. Eu sei.
─ Além disso, o velho lobo teria morrido de qualquer maneira, daquela ferida profunda
e irregular que percorria toda a barriga dele. Ela estava infectada.
─ Eu acho que o tiro de espingarda foi de misericórdia. - Ela admitiu.
─ Nós não temos lobos. - Ele pensou. ─ Mas temos algo pior. Ladrões.
─ Também tivemos alguns em Catelow. - Disse ela. E riu. ─ Mais recentemente, um
segurança que trabalha para Ren Colter pegou alguns deles com um caminhão de
transporte. Eles disseram que os ladrões estavam confessando para a polícia no minuto
em que chegaram e até pediram para serem levados às pressas para a cadeia.
Aparentemente, J. C. Calhoun é tão mau quanto as fofocas dizem que é. Não é tão mau
agora, é claro. Ele tem esposa, filha e um bebê novinho.
Ele riu.
─ Bom para ele. - O sorriso desapareceu. ─ Eu odeio ladrões.
─ Sim, Bart me contou sobre um desentendimento que você teve com alguns. - Ela
respondeu, e seus olhos brilhavam. ─ Eu acho que você e J.C. se dariam bem.
Ele riu.
─ Como você, agora? - Ele brincou.
A garçonete chegou com a comida e eles comeram em um agradável silêncio.
─ Esse é bom bife. - Observou ela.
─ Nada mal. - Ele concordou.
Ela terminou sua piña colada surpresa. Ela não esperava que o copo estivesse
vazio tão rápido. Era um copo enorme.
─ Quer outra? - Ele perguntou.
─ Melhor não. - Ela respondeu. E já estava se sentindo muito bem. Incomumente bem.
Ela suspirou e sorriu para ele.
Ele arqueou uma sobrancelha. E lembrou que ela nunca havia bebido.
Uma piña colada não deveria desinibi-la muito. Ela provavelmente estava apenas
relaxada. Mas ele pediu outra. Tinha sido uma semana longa. Ele estava ajudando os
cowboys de Bart com novas cercas e era um trabalho mais pesado do que estava
acostumado. Seus músculos doíam.
─ Eu nunca bebo em excesso. - Disse ele gentilmente quando notou sua reticência. Ele
sabia como ela deveria se sentir em relação aos alcoólatras, tendo sido vítima de um
deles por tanto tempo. ─ Se você come enquanto bebe, diminui o efeito. Além disso... -
Acrescentou, se esticando e estremecendo. ─ estou começando a pensar nisso como um
alívio para a dor. Eu tenho ajudado os caras a cavar postes.
─ Não diga mais nada. Eu ajudei a fazer isso no meu rancho. Eu tinha linimento...* -
Acrescentou ela. ─ mas não tinha ninguém para passar. Então tomei uma aspirina e
usei uma almofada térmica.
─ Eu odeio o cheiro de linimento. - Ele retrucou, fazendo uma careta. A bebida dele
chegou.
Ele a ergueu em um brinde.
─ Isso cheira muito melhor. - Ele acrescentou com uma risada.
Ela sorriu para ele. E se sentia mais leve que o ar, como se pudesse voar. E
também sentiu um impulso estranho. Ela olhou para Cort e se perguntou como ele seria
por baixo da camisa. Sentia vontade de tirar a própria blusa e esfregar seu corpo contra
o dele. Céus, ela estava enlouquecendo!
Ela corou e quase derrubou o copo.
─ Oh, o seu copo está vazio. Quer outro? - A garçonete perguntou, e tomou o seu
silêncio como concordância. ─ Volto logo.
─ Eu realmente não deveria. - Ela disse a Cort.
─A comida diminui o efeito. - Ele repetiu, sorrindo. ─ Viva perigosamente.
─ Eu tenho feito muito isso. - Ela murmurou.
Ele riu. Como... ele pensou, escolhendo um novo padrão de tricô ou fazendo uma
nova receita na cozinha? Mas ele não disse isso. Ele estava gostando muito da
companhia dela.

***
Ela terminou sua bebida junto com uma deliciosa fatia de cheesecake. E notou que
Cort estava comendo uma também. Era uma sobremesa que ela gostava.
Eles entraram no cassino depois e ela jogou em uma das máquinas caça-níqueis,
pelo menos até começar a ficar tonta. Ela caiu no chão de repente, logo depois de
começar uma nova rodada.
Cort estava apreensivo. Ele a apoiou contra o joelho.
─ O que há de errado? - Ele perguntou preocupado.
─ Acho que muitas dessas coisinhas de coco. - Ela disse, envergonhada por sua voz
estar arrastada. ─ Vocês estão todos embaçados. ─ Acrescentou ela, tentando focar o
rosto dele.
─ Caramba. - Ele disse para si mesmo. E sinalizou para uma das pessoas da segurança.
*Linimento é uma preparação farmacêutica tópica para aplicação na pele. Preparações deste tipo também são chamados de bálsamo.
Linimentos são de viscosidade semelhante à das loções, mas ao contrário de uma loção um linimento é aplicado com atrito, isto é,
um linimento sempre é esfregado. 

─ Você pode ficar com ela por apenas um minuto? Vou precisar de um quarto para que
ela possa se deitar por alguns minutos.
─ Claro. - Respondeu o homem.

***

Ela estava flutuando. Abriu os olhos e Cort estava sentado ao lado dela na maior
cama em que já esteve.
─ Eu desmaiei? - Ela perguntou. Sua fala ainda estava arrastada.
─ Sim. - Ele afastou os cabelos dela. ─ Você está bem?
─ Acho que sim. Mas não tenho certeza se quero beber rum novamente enquanto viver.
─ Foi minha culpa. - Disse ele. ─ Eu esqueci que você não está acostumada ao álcool.
─ Eu odeio. Henry estava sempre bêbado. Sempre tentando tirar minhas roupas. - Ela se
espreguiçou, seus olhos escuros no rosto de Cort. ─ Mas eu deixaria você tirar minhas
roupas. - Disse ela, sorrindo e um pouco confusa. ─ Puxa, você é tão bonito. Eu nunca
pensei que um homem com a sua aparência iria querer sair com alguém tão sem graça
quanto eu!
─ Você não é sem graça. - Disse ele, carrancudo. ─ Você tem um rosto bonito. - Ele
olhou para baixo. ─ E lindos seios pequenos. Fico faminto só de olhar para eles através
da blusa.
─ Você fica?
Ele ficou chocado por ter dito uma coisa dessas. Não deveria ter tomado tanto
álcool também. Tinha subido à sua cabeça. Ela estava subindo a sua cabeça.
─ Eu pensei que homens gostavam de mulheres com grandes... grandes... grandes seios.
- Disse ela, acertando na terceira tentativa.
─ Gosto de pequenos. - Respondeu ele. E foi para a cama ao lado dela. A mão magra foi
para os botões da blusa dela. ─ Não me deixe fazer isso.
Ela deitou-se com os braços ao lado da cabeça.
─ Tudo bem. - Ela concordou, sorrindo atordoada.
─ Você não está ajudando.
Ela se moveu preguiçosamente.
─ O que você quer que eu faça? - Ela perguntou.
─ Eu quero que você me pare.
Ela piscou quando ele abriu a blusa e alcançou o fecho do seu sutiã rendado.
─ Pare você de fazer o que?
─ Isso. - Disse ele, afastando os lados do sutiã. Ele prendeu a respiração. Ela era bonita.
Sua pele era sedosa, luminosa, perfeita. Seios pequenos e firmes com mamilos rosados e
duros. Era como se ele nunca tivesse visto uma mulher antes.
─ Sou muito pequena... - Ela começou.
─ Oh, bebê, você não é muito pequena. - Ele sussurrou, inclinando-se para ela. ─ Você
é do tamanho certo!
Sua boca desceu sobre o seio dela. E enquanto a língua dele estimulava o mamilo,
ele o sugou, de repente. Ela arqueou na cama com um gritinho rouco e segurou a cabeça
dele. Mas ela estava puxando, não empurrando.
─ Oh meu Deus! - Ela gemeu, ofegando.
Ela tornava tudo novo para ele. Ele estava tão inebriado quanto ela, fora de
controle e tendo sua melhor experiência. Ele estava com dezesseis anos novamente, com
sua primeira mulher. Era assim que se sentia.
─ Você tem gosto de doce. - Ele murmurou contra a pele macia.
Suas mãos grandes e magras deslizaram livrando-a facilmente, da blusa e do
sutiã.
─ Isso... não é como nos livros. - Ela conseguiu dizer, instável.
─ Não é? - Ele sussurrou enquanto se movia para o outro seio. ─ Como assim?
Ela estremeceu.
─ Eu não sabia que sentiria algo... assim. - Ela sussurrou com a voz entrecortada. ─ E
mal começamos.
Ela teria dito algo mais, mas os lábios dele subiram para cobrir os dela, suave,
devagar, avidamente, e enquanto ele a beijava, abriu a camisa. Segundos depois, ela
sentiu o peito nu contra seus seios. Ela gemeu tão excitada que qualquer esforço que ele
pudesse ter feito para desacelerar as coisas se transformou em fumaça.

***

Ele tinha tirado suas roupas com uma facilidade que deveria ter disparado um
sinal de alerta em seu cérebro, salvo que ele a mantinha ardendo o tempo todo. Sua
boca estava sobre ela, explorando-a, tentando-a, ensinando-a, em um silêncio ardente
que ia do prazer ao prazer maior, cada platô levando a outro mais intenso.
Ela estava vagamente consciente de que ele havia retirado as cobertas e os
travesseiros da cama e que havia mais pele nua do que antes agora em contato com a
sua. Ela pensou que deveria dizer algo, protestar, desacelerá-lo. Mas o que estava
sentindo era novo e excitante, e suas inibições haviam sido comprometidas há muito
tempo pela pouco familiar bebida.
Os lábios dele deslizaram por suas longas pernas, até o interior de suas coxas
macias. Involuntariamente, suas pernas se afastaram para lhe dar mais acesso. Uma mão
grande se moveu entre as pernas dela, pressionando o polegar em um lugar que a
chocou e a encantou ao mesmo tempo.
Ela fez um som, um pequeno protesto.
─ Deixe-me. - Ele sussurrou com voz rouca.
Então ela deixou. Seus quadris ergueram-se para a mão dele e ela estremeceu ao
sentir um gosto de prazer que era como segurar um fio desencapado nas mãos. Ela
gemeu baixinho.
Os lábios dele pressionaram com força sobre a barriga dela, enquanto os dedos,
lenta e ternamente, a invadiram. Ele a sentiu estremecer, apenas um pouco.
Ele se ergueu para poder encontrar os olhos dela enquanto continuava com as
carícias.
─ Não desvie o olhar. - Ele sussurrou.
Seus lábios se separaram em um arquejar silencioso quando ela percebeu o que ele
estava fazendo. Ela estremeceu novamente e suas unhas cravaram nos braços dele.
─ Eu nunca fiz nada tão emocionante na minha vida. - Disse ele bruscamente enquanto
a observava. ─ Meu Deus, é... é... além das palavras. - Ele sussurrou ao sentir a tênue
proteção do corpo dela desaparecer na ponta dos seus dedos. Ele corou quando olhou
diretamente nos olhos dela. ─ Oh, bebê. - Ele suspirou. ─ Bebê!
Ela estava tremendo. Não havia muita dor, mas ela estava começando a perceber o
que estava fazendo, quase. Justamente quando ela pensou que talvez isso não fosse uma
boa ideia, a mão dele se moveu novamente e ela gemeu e arqueou em direção a ele.
─ Aqui? - Ele perguntou suavemente, e repetiu o movimento.
─ Eu... eu... nunca... - Ela gaguejou.
─ Eu sei. - Eram apenas palavras, mas havia um mundo de emoção nelas. Ele se moveu
sobre ela, para que ela pudesse sentir a pressão dura de sua pele por todo o corpo. Ele
estremeceu, uma vez, quando sua boca deslizou ternamente sobre a dela e a acariciou.
Ainda assim, aquela mão experiente ensinava novas sensações a seu corpo, mantendo-a
encantada, enquanto ele se colocava entre suas longas pernas e ela sentia a pressão dele
em sua inocência.
Ela arregalou os olhos e seus dedos cravaram nos braços dele.
Ele respirou fundo, estremeceu e desceu, bem dentro do corpo dela. Ele parou e
eles se entreolharam.
Ela corou. Era tão íntimo. Ela não podia imaginar algo mais íntimo, inclusive
mais do que o que ele já havia feito com ela. Mas não estava brigando com ele. Ela
podia senti-lo, dentro dela, quente, duro e terno.
Ele empurrou um pouco mais. Ela engoliu em seco, mas não o empurrou nem
tentou fugir. Os olhos dela ainda estavam fixos nos dele.
─ Até o fim, desta vez. - Ele respirou, e seus quadris empurraram para baixo. Ele soltou
o ar que ficou preso em sua garganta. ─ Tudo bem? - Ele perguntou ternamente.
Ela estremeceu.
─ Tu... tudo bem.
Ele se acomodou completamente dentro dela e gemeu, fortemente, seus olhos
dilatados encontraram os olhos chocados dela.
─ Você está ... dentro de mim. - Ela sussurrou trêmula.
─ Profundamente. - Ele conseguiu dizer, trêmulo.
As mãos grandes dele emolduraram o rosto dela, em ambos os lados da cabeça, e
ele se inclinou para os lábios dela, sustentando o peso nos antebraços. Ele se moveu
devagar.
─ Faça o que você quiser fazer. - Ele sussurrou. ─ Qualquer coisa.
Os olhos dela procuraram os dele.
─ Qualquer coisa?
Ele sorriu ternamente.
─ Qualquer coisa. - A mão dele se moveu entre eles, e ele a tocou onde eles estavam
intimamente unidos. Ele a acariciou, observou os olhos dela dilatarem, sentiu o corpo
dela saltar sob o dele. - Ele riu baixinho. ─ Você me queima por dentro. Acho que
sonhei com você.
As mãos dela estavam no peito dele. Fascinada, ela as deslizou para a cintura dele
e ergueu os olhos, hesitante, para os dele.
─ Toque-me. - Ele sussurrou. ─ Vamos. Toque-me.
Ela deslizou as mãos até os dedos o encontrarem, onde ele a estava tocando.
Ele estremeceu e riu alto.
─ Aí sim. Eu gosto assim, bebê. Bem desse jeito!
─ Você gosta disso? - Ela sussurrou.
─ Eu adoro isso. Faça o que você quiser fazer.
Ela estava fascinada. Nunca encontrou nada parecido com isso em suas leituras ou
mesmo em seus próprios textos. Ela deslizou as mãos pelo corpo dele e o sentiu
estremer, ouviu-o rir enquanto a encorajava a ser aventureira. E o tempo todo, ele a
tocava, acariciava e sussurrava coisas eróticas, chocantes para ela.
O ardor os dominou rapidamente. Os quadris dele começaram a subir e descer, e
ela estremeceu com cada impulso lento e profundo, os olhos fixos nos dele.
─ Eu pensei que sabia tudo. - Ele conseguiu dizer, sua voz embargada quando o prazer
começou a dominá-lo. ─ Eu não sabia de nada!
Ela gemeu, arqueando quando ele se movia, seus olhos presos aos dele. Os dedos
dela cravando nos braços dele.
─ Não feche os olhos quando vier. - Ele sussurrou com voz rouca. ─ Quero ver você
quando sentir isso pela primeira vez. Eu quero observar você.
O pedido franco deveria tê-la chocado e envergonhado, mas ela ainda estava se
recuperando dos efeitos do álcool, desfrutando do primeiro verdadeiro prazer físico de
toda a sua vida. Ela estava além do constrangimento, no momento. Ela queria perguntar
se ele estava acostumado a assistir mulheres quando elas chegavam ao clímax, mas ele
se moveu de repente, inesperadamente, e ela gemeu.
Havia todo o tempo do mundo. Agora não havia nenhum. Ele desceu sobre ela,
seus olhos prendendo os dela o tempo todo, enquanto ela ofegava, se agarrava a ele e
implorava para que ele não parasse.
Ele moveu os quadris e as pernas, afastando as dela ainda mais enquanto o prazer
crescia e crescia. Ele desceu com força sobre ela, os joelhos dela ao lado de sua caixa
torácica, enquanto ele aumentava a pressão e o prazer, sussurro por sussurro, gemido
por gemido.
Ele se mexeu novamente e a sentiu estremecer.
─ Você está pronta? - Ele sussurrou com voz rouca e investiu nela com movimentos
rápidos, famintos e quase violentos.
Ela nem conseguia falar. Sua boca estava aberta enquanto ela resistia a tantas
onda de prazer que pensou que não iria sobreviver. Ela gritou, soluçou, seus olhos
dilataram, seu corpo convulsionou.
─ Sim. - Ele grunhiu. ─ Oh... Deus!
Seus dentes cerraram quando ele arqueou dentro dela e estremeceu uma e outra
vez, até que pensou que sua coluna quebraria. Na verdade, ele gemeu com a força de um
prazer que nunca havia experimentado em sua vida, com nenhuma de suas amantes.
Uma eternidade depois, ele desabou sobre o corpo úmido dela, ainda tremendo.
─ Você está bem? - Ele perguntou no ouvido dela, sua voz rouca e urgente. ─ Eu
machuquei você?
─ Não. - Ela ofegou. ─ Ah não. Não.
Ele recuperou o fôlego e estava prestes a lhe dizer como estava feliz quando
sentiu as lágrimas em sua bochecha.
Ele levantou a cabeça e estremeceu com a expressão no rosto dela. Ela estava
sóbria, demasiado cedo. Ela parecia ter cometido um pecado capital. E na mente dela,
ele pensou sombriamente, provavelmente tinha.
─ Oh... por favor... - Ela sussurrou, empurrando suavemente o peito dele. ─ Eu não
estou me sentindo bem!
Ele se retirou imediatamente e a observou saltar da cama e entrar no banheiro.
Ele pode ouvi-la vomitar.
Quase desossado de prazer, ele voltou a vestir suas roupas, para que ela não
ficasse mais envergonhada do que já estava.
Juntou as roupas dela e foi até a porta do banheiro.
─ Eu trouxe suas roupas. - Disse ele. ─ Você está bem?
A descarga foi acionada. Houve barulho de água corrente. Então uma fresta foi
aberta na porta. Ela não conseguiu olhar além do queixo dele. Ela passou uma mão pelo
vão da porta para pegar suas roupas.
─ Vista-se. - Ele disse calmamente. ─ Então conversaremos, ok?
Ela não respondeu. Levou suas roupas para dentro e fechou a porta.

***
Havia um frigobar no quarto. Ele pegou uma coca para ele e uma ginger ale para
ela. Provavelmente seria a única coisa que ela poderia manter no estômago. Ele sentiu
vergonha de si mesmo. Ela havia sido afetada pelo álcool e ele se aproveitou disso.
Bem, na verdade não. Ele também foi afetado pelo álcool. E nem conseguia lembrar
como eles terminaram neste quarto.
Enquanto ele estava tentando lembrar, ela saiu lentamente do banheiro e sentou-se
no sofá. Ele entregou o refrigerante para ela.
─ Obrigada. - Disse ela.
─ Nem me lembro como chegamos aqui. - Disse ele, empurrando seus cabelos úmidos
para trás. ─ Você desmaiou lá embaixo...
Ela assentiu.
Ele respirou fundo e tomou um gole de sua bebida.
─ Eu sinto muito. Eu não...
─ Eu também não. - Ela retrucou. E fez uma careta. ─ Nunca tomei um gole de bebida
na minha vida.
─ Eu sim. Mas não o suficiente para me afetar, até agora. - Ele a estudou em silêncio. ─
Você era virgem.
Ela corou intensamente e tomou outro gole de sua bebida, quase o suficiente para
sufocá-la, porque se lembrava bem demais de tê-la perdido da maneira mais erótica que
já havia imaginado.
Ele fez uma careta.
─ Acho que esta é uma memória que você prefere não ter. Desculpa.
─ Nós dois bebemos demais.
Ele assentiu.
─ Deveríamos voltar para casa. - Disse ela depois de um minuto.
Ele não precisava perguntar se ela estava tomando um anticoncepcional. Ele tinha
certeza que não. E como ele não estava acostumado a levar preservativo, não tinha nada
com ele. Mesmo que ele tivesse algum, os dois se envolveram rápido demais para que
ele sequer pensasse nisso.
Ótimo, ele pensou consigo mesmo, agora ela engravidará e usará isso até que a
criança se forme. Todo o dinheiro que ela nunca teve...
Ele parou abruptamente. Ela pensava que ele era um cowboy que trabalhava. Não
tinha ideia de quem ele era, realmente.
─ Você não precisa se preocupar com... nada. - Disse ela depois de um minuto.
─ Você está tomando alguma coisa? - Ele perguntou esperançoso.
Ela hesitou.
─ Sim. Estou... tomando alguma coisa. Ela estava. Vitaminas. Mas ele não precisava
saber. Ele voltaria para o Texas muito em breve e se ela engravidasse, ele nunca saberia.
Ela pensou em um bebê e se sentiu toda aquecida. Essa era uma complicação que ela
não precisava, mas sempre quis ter filhos. E não estava aborrecida com a possibilidade.
Mas um cowboy itinerante, bem, ele ficaria preocupado com a possibilidade dela querer
o salário dele ou algo assim. Ela não era assim, mas ele não sabia disso. E não precisava
saber disso.
─ Oh. - Estranho, que ele estivesse desapontado. Porque, nos ultimos tempos, ele esteve
pensando em bebês. Mina, com suas habilidades domésticas, poderia cuidar
naturalmente de um bebê. Ele pensou em constituir uma família, mas o tipo de mulher
com quem ele circulava não o predispunha à paternidade. Ele se tornou cínico, quando
mulher após mulher ria com o pensamento de engravidar.
─ Então você não precisa se preocupar com nada. - Disse Mina.
─ Eu não estou preocupado. - Ele disse gentilmente, e sorriu para ela. Era um tipo
diferente de sorriso dos que ele já havia dirigido a ela. Isso a fez se sentir aquecida,
protegida.
Ela tomou mais um gole do seu refrigerante.
─ Você está certa, no entanto. Deveríamos voltar para casa. Está muito tarde. - Ele se
levantou e ela o seguiu.

***
Ela esperou enquanto ele pagava a conta e depois entraram no caminhão para a
longa viagem para casa.
Ele pegou a mão macia e a segurou na dele enquanto dirigia.
─ Será que você vai se envergonhar se eu disser que nunca apreciei tanto uma mulher? -
Ela ofegou. ─ Acho que sim. - Disse ele.
─ Você já andou por aí. - Ela começou.
─ Sim. Por aí. Com mulheres sofisticadas e egoístas que queriam prazer, mas não
estavam dispostas a oferecê-lo sem muito incentivo. - O que significava, ele não disse a
ela, presentes caros. - Ele olhou para ela. ─ Você me deu sua inocência. Eu não sou
digno de um presente assim. - Acrescentou ele em voz baixa.
─ Eu estava bêbada. - Disse ela.
Ele riu.
─ Eu também estava bêbado. Isso não muda o que eu disse. Você foi feita para um tipo
completamente diferente de homem. Não eu.
Seu coração parou.
─ Nunca houve alguém com quem eu me sentisse assim antes. - Disse ela depois de um
minuto.
O orgulho brilhava nele.
─ Nem mesmo McGuire? - Ele perguntou, odiando seu próprio ciúme.
─ Não me sinto assim com Jake. Com ninguém.
Os dedos dele se curvaram nos dela. Ele estava sem palavras. Se sentia culpado e
vagamente envergonhado, mas ela estava enfrentando isso de cabeça erguida, sem
culpá-lo, sem lágrimas. Isso o fez se sentir ainda pior.
Ela virou a cabeça para ele e disse.
─ Eu sei que você gosta de ser livre. Cowboys nunca sossegam, nunca. Eles se movem
de um lugar para outro e apenas aproveitam onde estão. Portanto, não espero que você
comece a me fazer promessas, desculpas ou qualquer coisa. - Acrescentou. ─ Eu sou a
última pessoa que tentaria amarrá-lo.
Seu coração pulou.
─Muitas já tentaram. - Disse ele antes de pensar, e soava tão desiludido quanto se
sentia.
─ Isso não está certo. Você não deve deixar as pessoas usarem a culpa para obrigarem
você a fazer coisas.
─ Você é muito tolerante para uma mulher.
Ela sorriu.
─ Eu tive uma vida difícil. - Disse ela. ─ O ódio e a raiva se acumulam dentro de você,
como uma ferida e apodrecem. Eles destroem pessoas. Eu assisti isso destruir minha
mãe. Ela odiava meu pai. Ela me odiava. Ela bebia porque nos odiava muito e, no final,
isso a matou. Eu não quero acabar assim.
─ Você não é assim. - Disse ele.
─ Bem, eu meio que caí na cama com você. - Ela retrucou, corando.
─ Você estava embriagada. - Ele ressaltou.
─ Acho que sim. - Ela hesitou. ─ Você sabe muito sobre o que fazer com as mulheres. -
Acrescentou.
─ Suponho que choquei você.
Ela sorriu.
─ Chocou. - Ela sentiu o calor percorrer suas bochechas. ─ Eu não sabia...
─ Nem mesmo lendo todos aqueles romances tórridos? - Ele brincou.
─ Eles não eram nada como o que aconteceu. - Disse ela. ─ E eles tinham cenas sobre
como as pessoas se sentiam, mas, nossa, na vida real, é... - Ela engoliu em seco. ─ Eu
pensei que a primeira vez seria horrível.
─ Talvez às vezes. - Disse ele. ─ Homens podem ser cruéis. Alguns são insensíveis.
─ Você não é. Você foi... - Ela engoliu em seco novamente. ─ Desculpa. É difícil falar
sobre isso.
Seus dedos se contraíram gentilmente.
─ Você pode falar comigo sobre qualquer coisa.
E ela percebeu de repente que podia. Tudo mesmo.
─ Você não acha que eu sou como minha mãe? - Ela perguntou preocupada.
─ Querida, você não é promíscua. Aconteceu porque nós dois tínhamos bebido muito.
Dito isto, não me arrependo nem um segundo do que aconteceu. Você foi uma
experiência que nunca esquecerei enquanto viver.
─ Até que uma nova mulher apareça. - Ela riu.
Ele não respondeu imediatamente. Estava pensando em uma nova mulher, e com
horror absoluto. Ele não queria uma nova mulher. Foi uma revelação que o deixou
atônito.
─ Eu o ofendi? - Ela se preocupou.
─ Eu não estou ofendido.
─ Você está muito quieto.
─ Estou pensando. - Ele nunca considerou a abstinência. Não era nem uma palavra que
ele conhecia. Mas quando pensou sobre o que Mina e ele haviam feito naquele quarto de
hotel, não conseguia se imaginar fazendo isso com alguma alpinista social. Na verdade,
ele não podia imaginar fazer isso com qualquer outra mulher.

CAPÍTULO ONZE
Mina olhou para Cort com o coração nos olhos. Não era preciso ser um gênio para
perceber que ela estava apaixonada por ele.
Isso o chocou. Ele sabia que ela gostou de ir para a cama com ele. Foi a primeira
vez dela, e ele queria que as lembranças fossem boas. Mas supôs que duas piñas coladas
influenciaram a decisão dela de dormir com ele. Agora podia ver o verdadeiro motivo
pelo qual ela havia cedido, e não era completamente devido ao álcool. Os olhos dela
eram suaves, castanhos escuros e expressivos, quando encontraram os dele. Uma mulher
assim, com princípios, não ía para a cama com um homem só porque seus reflexos
estavam embotados. Ela faria isso apenas por amor.
Ele tocou o rosto dela gentilmente. Era desconcertante saber como ela se sentia.
As mulheres o adoravam há anos, pelo que podiam obter dele. Mas Mina estava louca
de medo por ele no posto de gasolina na noite anterior, quando parecia que Cort poderia
se machucar durante o assalto.*
Aquilo o fez sentir-se aquecido por dentro, como se todos os lugares gelados, que
os anos haviam enterrado dentro dele, estivessem descongelando. Era como a
primavera. Ele sorriu.
─ Você realmente parece adorável. - Ele sussurrou, e inclinou a cabeça.
* Em nenhuma página do livro original há referência sobre a cena em questão,então não sei a que assalto a autora se refere.

Ela ergueu a dela para a lenta e faminta descida de sua boca firme, agarrou-se a
ele quando ele ficou mais ávido e puxou seu corpo contra o dele. Ele a abraçou com
força, sua boca invasiva agora, terna, ardente. Ela gemeu baixinho com as sensações
que a atravessavam. Todos os seus sentidos estavam despertos e ela lembrou com
angústia o prazer que ele lhe ensinou na cama. Ela o queria agora, como nunca quis
alguém. Ela estava adormecida antes, sem desejo de intimidade. Mas com a experiência
veio o desejo, a necessidade dolorosa de pertencer. Ela se aproximou dele, sentindo o
corpo poderoso reagir quase instantaneamente à sensação dela contra ele.
Cort estava morrendo por ela. Ele mal podia conter a excitação quando a puxou
para mais perto à sombra do choupo. Foi um longo período de abstinência, mas sua
lembrança da noite anterior o estava deixando louco. Na cama, Mina era tudo o que ele
sempre quis. Mesmo fora dela, ela era uma surpresa constante, um deleite.
Ele gemeu. Seu corpo estava em agonia, e não havia lugar para onde eles
pudessem ir sem serem interrompidos, exceto um motel. Sua mente se rebelou ao pensar
em tratá-la da maneira que ele tratava as mulheres no passado. Ela era tão inocente!
Ele recuou, rangendo os dentes quando viu a expressão arrebatada dela.
Ela estava sentindo coisas semelhantes, tendo acabado de ser despertada para a
necessidade física.
─ Droga. - Ele murmurou.
As sobrancelhas dela arquearam.
─ Droga?
Seus lábios sensuais fizeram uma linha fina.
─ Não há uma alma à vista, mas se eu começar a despi-la, todos os cowboys do
condado vão cavalgar por aqui!
Ela ofegou.
─ Nós não poderíamos... - Ela começou.
Ele puxou os quadris dela para os dele e a olhou irônicamente enquanto ela
corava.
─ Nós com certeza poderíamos, se houvesse um lugar privado.
Ela corou. Os dedos dela desenharam padrões suaves na camisa dele, por baixo do
casaco do pastor.
─ Bem, na verdade, nós... não poderíamos. - Disse ela, e não conseguiu olhar para ele.
Ela não queria mencionar que andar a cavalo estava lhe dando alguns problemas,
embora ela quisesse ir com Cort demais para mencionar que estava desconfortável. Mas
dormir com ele seria doloroso.
Cort suspirou. Tinha sido sua primeira vez e o corpo dela estava reagindo a isso
de uma maneira que ele deveria ter percebido. Ela não disse, mas ele percebeu por seu
rosto envergonhado. Ele inclinou o rosto dela até os seus olhos.
─ Dolorida? - Ele perguntou gentilmente, e sem rancor.
Ela fez uma careta.
─ Desculpa.
Ele levou a cabeça dela ao peito e respirou fundo.
─ Não. Eu sinto muito. Eu devia ter compreendido o quanto isso está recente para você.
E não devia tê-la convidado para andar a cavalo.
─ Eu queria vir com você. - Disse ela com voz rouca.
Ele percebeu isso. E isso o tornou vaidoso. A mão grande dele acariciou os longos
cabelos grossos sobre os ombros dela.
─ É muito cedo. - Ele sorriu melancolicamente. ─ Mesmo que não fosse, aonde diabos
iríamos?
Ela riu também.
─ Acho que teria que ser um motel, porque não há privacidade aqui ou na minha casa.
─ Ou na de Bart. Não que ele aprove que eu leve você até lá. - Acrescentou.
O que a lembrou do que ouviu sobre Cort perguntar a Bart se ele poderia levar Ida
para passar a noite. Sua autoconfiança despencou. Ele estava saindo com Ida. Todo
mundo sabia que ela era promíscua. Cort achava que Mina também era assim?
Ela olhou para cima, a preocupação escurecendo seus olhos.
Ele balançou a cabeça.
─ Não vamos enveredar por aí. - Disse ele em voz baixa. ─ Eu a respeito muito.
Ela se sentiu exultante com a expressão protetora e possessiva dele. Ele acariciou
a bochecha dela.
─ Eu nunca fui de me envolver emocionalmente. - Disse ele, hesitante. ─ Quando se
tratava de muheres, era praticamente pegar e largar. Mas com você não é assim, Mina.
Ela procurou os olhos dele no silêncio, interrompido apenas pelo murmúrio do
riacho.
─ Você estava saindo com Ida. - Ela começou preocupada.
Ele colocou o longo indicador sobre os lábios macios.
─ Ida não é o que parece. E eu não dormi com ela, independentemente de como possa
parecer.
Ela ofegou.
─ Eu não perguntei...
─ Eu queria que você soubesse a verdade. - Disse ele, esquadrinhando o rosto dela. ─
As pessoas pensam o que querem pensar.
Ela mordeu o lábio inferior.
─ Eu acho que você sabe o que elas pensam.
Ele assentiu.
─ Ida incentiva as fofocas. Eu não gosto muito disso. As fofocas podem destruir vidas. -
Acrescentou ele em voz baixa.
─ Sim.
Ele acariciou os dedos dela sobre a camisa dele.
─ É melhor irmos antes que os cavalos decidam nos deixar aqui. - Ele murmurou.
Ela riu.
─ OK.

***

Os próximos dias foram mágicos. Mina estava apaixonada e cada vez mais
envolvida a medida que passava mais tempo com Cort e aprendia mais sobre ele. Ele
pegou emprestado o caminhão de Bart para levá-la ao Parque Nacional de Yellowstone
e assistirem o Old Faithful* entrar em erupção. Os animais grandes estavam por toda a
rodovia, onde muitos turistas paravam para fotografarem ou filmarem os carneiros
selvagens* e até um alce.
Mina riu, encantada.
─ Tivemos um alce que vinha até o estábulo quando tínhamos uma vaca leiteira. -
Comentou ela. ─ Eu acho que ele estava apaixonado.
─ O que aconteceu com ele? - Ele perguntou.
─ Ele quebrou uma cerca tentando chegar até ela, então tivemos que chamar a equipe de
vida selvagem para levá-lo para outro lugar. E logo depois, tive que vender a vaca e o
bezerro. - Ela fez uma careta. ─ Temos tempos difíceis ocasionalmente. Senti falta da
vaca, mas não da ordenha diária. Isso realmente machucava minhas mãos.
Ele riu.
─ Tentei ordenhar uma vaca uma vez. Nunca consegui tirar leite.
─ Há uma arte na ordenha. - Ela acrescentou. ─ Bill McAllister me ensinou como. Eu
acho que ele fez um pouco de tudo em sua vida.
─ Eu também acho. - Ele estava olhando para ela com curiosidade.
─ O que é? - Ela perguntou.
─ Isso. - Ele tocou o pingente de lobo em prata que comprou para ela. - Ele sorriu
ternamente. ─ Estou feliz que você tenha gostado.
─ Eu o adoro. - Disse ela, passando os dedos sobre a prata fria. ─ Eu sempre vou usá-lo.
O coração dele saltou. Um simples pingente de prata, e ela ficou radiante em tê-lo.
Uma de suas amantes havia tomado de sua mão, em um jantar, um reluzente anel com
diamante e o colocado sem sequer um obrigada.
─ Você não tem gostos caros. - Disse ele, pensando em voz alta.
*Old Faithful é um géiser localizado no Parque Nacional de Yellowstone, em Wyoming, nos Estados Unidos. 

* Carneiro selvagem
─ Na verdade não. - Ela concordou. ─ Percebi que muito dinheiro não deixa as pessoas
felizes ou compensam o que elas não têm. O primo Rogan mora sozinho. Ele não tem
ninguém, exceto eu, e passa a vida viajando.
─ Ele pode ser feliz fazendo isso.
Ela suspirou.
─ Eu acho que não.
─ Há muitas coisas que o dinheiro pode comprar. - Ele respondeu.
Ela olhou para ele com um sorriso travesso.
─ Até parece que nós saberíamos. - Ela riu.
Ele teve que rir. Não era verdade. Ele sabia exatamente o que o dinheiro podia
comprar.
Ela deslizou a mão na dele e ele relaxou. Estranho, ela lhe dava paz. Ele não
lembrava de já ter experimentado isso com uma mulher.
─ Mina. - Ele disse suavemente, e olhou para ela. ─ É abreviação de que?
─ Oh, isso é ridículo. Wilhelmina. - Ela disse a ele. ─ Foi ideia do meu pai. Eu recebi
o nome de uma de suas antepassadas.
─ Alguém alemão?
─ Eu não tenho certeza. Eu era muito nova quando ele foi embora. - O rosto dela ficou
tenso. ─ Abreviei para Mina quando ainda estava na escola primária. Tomei muitas
provocações por causa dele.
Os dedos dele se contraíram nos dela.
─ Meu primeiro nome é Cortrell. - Ele disse a ela. ─ Deus sabe de onde minha mãe o
tirou. Ainda assim, não é tão ruim quanto o de Cash. O nome verdadeiro dele é Cassius.
Ela riu.
─ De verdade?
Ele assentiu.
─ Ele abreviou para Cash quando começou na escola militar. Papai o mandou embora
quando ele tinha nove anos, logo depois que nossa mãe morreu.
─ Isso é horrível. - Ela disse suavemente.
Ele encolheu os ombros.
─ Ele não se dava bem com nossa madrasta. Ela disse a papai algo que o deixou furioso.
Ele empacotou as coisas de Cash e o mandou embora no mesmo dia. Cash nunca
superou isso. Ele e papai não se falaram até nosso irmão Garon ir vê-lo, pouco antes de
ele se estabelecer na mesma cidade.
─ Seu pai não parece um homem muito legal. Desculpa.
─ Ele não é um homem legal e não precisa se desculpar. - Ele colocou os dedos entre os
dela. ─ Ele foi um péssimo pai. Nunca se lembrava de aniversários ou nos dava muito
carinho. Ele estava fora a maior parte do tempo, então nossa governanta nos criou
depois que papai expulsou nossa madrasta por traí-lo.
Ela suspirou.
─ Acho que nós dois tivemos uma infância péssima.
─ A sua foi pior do que a minha, querida. - Ele disse suavemente, sorrindo diante da
reação dela ao carinho. ─ Eu fui negligenciado. Você teve algo muito pior.
Ela assentiu. E se aproximou do lado dele. Ele soltou a mão dela e passou o braço
em volta dela.
─ Serei uma mãe melhor do que a minha. - Disse ela calmamente.
─ Serei um pai melhor do que o meu. - Ele retrucou.
Ela respirou fundo.
─ Eu esqueci de contar a você. Tenho que sair da cidade neste fim de semana. Eu não
iria, mas prometi.
─ Onde você vai? - Ele perguntou.
─ Minha melhor amiga vai se casar. - Ela mentiu. ─ Prometi que seria sua dama de
honra.
─ Eu poderia levá-la. - Ele ofereceu.
─ Eu adoraria, mas ela mora em Miami.
Ele começou a rir.
─ OK. É um pouco longe para ir dirigindo. - Ele poderia ter lhe oferecido uma carona
no jato da família. Mas ela ainda não sabia sobre ele. E ele não estava ansioso para
contar a ela. Estava gostando de ser apenas um homem, com sua namorada ao seu lado.
─ Sentirei sua falta. - Acrescentou ele gentilmente.
Ela se aconchegou a ele, no momento em que o Old Faithful jorrou água e subiu
no ar.
─ Eu sentirei sua falta também. Mas é apenas por alguns dias.
O braço dele se contraiu.
─ OK.

***
Ela estava rastejando pelo mato na Nicarágua com seu pequeno grupo de
mercenários. Eles a adotaram dois anos antes, quando ela fez diversas perguntas a um
homem local, que havia se aposentado do serviço como mercenário, sobre as atividades
dos soldados mercenários. Então ele a apresentou aos cinco velhos camaradas. Eles
ficaram lisonjeados com a curiosidade dela, a tomaram sob sua proteção e começaram a
levá-la para as missões com eles através de várias selvas infestadas de insetos e cobras.
Eles a treinaran e agora ela podia lidar com equipamentos militares junto com eles. Ela
aprendeu sobre operações secretas desde o início, o que deu a seus livros um realismo
que muitos aventureiros de poltrona não conseguiam lidar.
Dan cuidava das comunicações. Reg era o especialista em demolição. Harlan era o
especialista em armas pesadas. Ry era o líder e planejador estratégico do grupo, com
Craddock como seu segundo em comando e especialista em armas pequenas. Mina era
um apoio com armas pequenas e era competente com uma .45 automática.
Nesta missão, eles estavam resgatando um menininho que havia sido sequestrado
por um parente pobre de uma família muito rica. Ele estava mantendo o menino para
pedir resgate, e os pais tinham medo das autoridades locais. O pai conhecia Ry e
telefonou para ele em busca de ajuda. Ele reuniu o grupo. Não era a missão que Mina
esperava para este fim de semana. Ela deveria observar os caras lidando com uma
limpeza militar de uma operação de combate recente. Em vez disso, ela estava na linha
de frente de um resgate. E nem hesitou. Era excitante. Ela adorava a descarga de
adrenalina ao participar de missões com esses caras. Eles eram como família.
Ry os manteve bem na extremidade da selva. Havia uma cabana ao longe. Se o
GPS deles estivesse certo, era onde a criança estava sendo mantida. Mina ficou
admirada com a capacidade de Ry de desenterrar informações das pessoas locais.
─ Crad, me diga o que você pode ver.
Craddock colocou o rifle no ombro e olhou através da mira telescópica. Houve
uma longa pausa.
─ Eu vejo um homem. As cortinas são grossas e protegem a sala. - Ele girou a arma. ─
O único abrigo é o de algumas árvores à direita da cabana. Terreno aberto até chegar lá.
─ Vamos precisar de uma distração. - Disse Ry imediatamente. Ele olhou para Mina e
sorriu. Ele era alto, com uma tez oliva clara, cabelos pretos e estranhos olhos azuis
pálidos. ─ Está preparada para um pouco de agitação, Bubbles? - Ele perguntou, usando
o apelido do grupo para ela.
Ela sorriu.
─ Sempre.
─ OK. Preciso que você atire naquele celeiro desmoronado à esquerda da cabana
quando eu contar.
─ Feito.
─ Reg, acho que algumas granadas podem fazer o trabalho.
─ Preciso estar mais perto do que isso. - Respondeu ele.
─ Me deixe fazê-lo. Eu tenho o traje ghillie. - Disse Craddock.
─ Não precisa pedir duas vezes. - Reg riu. ─ Eu odeio rastejar.
Craddock vestiu o traje ghillie e levou séculos para se posicionar. Ry sinalizou
para ele. Ele jogou a granada de atordoamento e o homem saiu correndo do prédio no
momento em que Ry sinalizou para Mina e ela começou a disparar com a .45
automática na direção do distante celeiro desmoronado.
Ry correu, sua semiautomática apontada, e gritou para o homem deitar no chão.
Minutos depois, eles tinham a criança assustada sob custódia e o sequestrador preso.
Mina riu com puro deleite.
─ Pelo menos você não levou um tiro desta vez. - Brincou Ry.
─ Ah, bem, é a vida. - Disse ela com um sorriso. ─ E que grande capítulo isso dará!
─ Quero ter vinte anos, ser loiro e bonito. - Disse Craddock a ela.
─ Quero ter vinte e cinco anos, ser fabulosamente rico, cheio de lindas morenas. - Reg
acrescentou.
Ela sorriu.
─ Eu prometo fazer o meu melhor!
Ela abraçou a criança assustada enquanto voltavam para o caminhão que usavam
para o transporte. Às vezes, ela pensou, as coisas mais imprevisíveis eram as mais
gratificantes. Era um lembrete de que você não podia escolher exatamente quais
experiências ter na vida.

***

Ela voltou a Catelow na quarta-feira, exatamente uma semana e alguns dias


antes de sua ida a Nova York. Ela não havia levado um tiro, mas precisou tomar quinino
antes, durante e após a viagem para garantir que não sofresse com a malária, que era
avassaladora nas áreas rurais da Nicarágua. Era quase impossível não ser picado pelos
mosquitos transmissores da doença, mesmo tomando todas as precauções. O pobre Reg
havia esquecido de tomar seu cico de medicamentos e estava com malária no momento
em que desceram do avião em Miami. Mina se sentiu culpada por ir embora tão rápido,
mas tinha que chegar em casa. Ninguém a culpou. Ela também perguntou a Ry se podia
entrar em contato com ele para falar sobre outra missão que eles foram sem ela. Ele
disse que sim, era só ligar para ele e deu a ela um novo número de telefone celular onde
poderia ser encontrado.
Ela sentiu falta de Cort. Eles estavam juntos quase todos os dias desde que
estiveram no cassino. Ela mal podia esperar para vê-lo quando chegasse em casa. Mas
ficou em choque quando ligou para Bart para pedir que Cort ligasse para ela. E sube que
Cort tinha ido embora.
─ Ele foi embora?! - Ela exclamou, arrasada.
─ Ele deixou uma carta para você. - Disse ele. ─ Quer que eu a leve correndo aí?
─ Você poderia? - Ela perguntou, sua mente ainda no limbo. ─ Estou escrevendo nossa
missão enquanto ainda está fresca na minha cabeça.
─ Eu quero ouvir sobre isso. - Ele respondeu com uma risada.
─ Você pode ouvir sobre isso tomando café. Eu vou fazer um novo bule!

***

Ela leu a carta enquanto Bart tomava café. Cort teve uma emergência em casa, ele
disse. Lamentava ter que ir enquanto ela estava fora da cidade, mas envolvia um parente
que estava com um grande problema e ele não podia dar as costas ao homem. Ele
voltaria em algumas semanas, prometeu.
Ela largou a carta. Dúvidas surgiram. Havia realmente um parente em apuros, ou
ele estava apenas se livrando de um caso de amor desconfortável que não queria mais?
─ Ele ficou arrasado com isso. - Bart disse suavemente, o que era verdade. Cort havia
ficado furioso. Ao que tudo indica seu pai e sua madrasta tiveram um desentendimento
e se separaram. Vic estava no rancho bêbado e dispersando os cowboys. Cort teve que
lidar com ele. Ele pediu a Bart para garantir que Mina soubesse que não foi por escolha
própria que ele se afastou.
Seus olhos escuros e desolados procuraram os dele.
─ Ele estava arrasado, ou estava apenas procurando uma saída?
Ele sorriu.
─ Ele é louco por você, não sabia? - Brincou ele. ─ Eu nunca ouvi tal linguagem. Ele
realmente não queria ir.
Ela relaxou um pouco. E sorriu.
─ OK.
─ Ele queria que você soubesse que voltaria assim que pudesse organizar as coisas em
casa.
Ela relaxou ainda mais.
─ Eu me sinto melhor.
Ele inclinou a cabeça.
─ O que você fez com os caras dessa vez?
─ Um resgate. - Ela respondeu. ─ Salvamos um garotinho de um sequestrador. Isso nem
sequer foi planejado, só fomos lá. Eu me senti tão bem.
─ Algum dia, você terá que falar com Cort sobre o que realmente faz na vida. - Ele
instigou. E não acrescentou que seu primo também teria que confessar a verdade.
Ela fez uma careta e tomou um gole de café preto.
─ Eu sei. Eu deveria ter dito a ele antes. Eu estava vivendo a imagem que ele fez de
mim. Doeu um pouco.
─ Eu sei. Mas seu novo livro está subindo nas listas. Já está na lista do Publishers
Weekly e na lista do New York Times.
Ela assentiu.
─ Minha agente me ligou hoje cedo para me dizer que ele estava em oitavo lugar. Ela
estava muito feliz. Ela diz que vai subir mais.
─ Você pode apostar que sim. As críticas na Amazon são impressionantes.
Ela sorriu.
─ É tão emocionante! Eu nunca sonhei que chegaria tão longe!
─ Eu sim. - Ele riu entredentes. ─ Você tem talento. Sem mencionar alguns parceiros
reais que tornam a pesquisa consistente. - Acrescentou. ─ Mal posso esperar para ver
como Cort reagirá a essa notícia.
─ Pode haver alguma confusão. - Ela suspirou. ─ Eu não levo uma vida convencional.
─ Você vai para Nova York no final da próxima semana. Isso é muita viagem.
Ela encolheu os ombros.
─ Estou acostumada com isso. A Nicarágua foi divertida. - Seus olhos escuros
brilharam. ─ Adoro fazer parte do grupo, sabia? É a coisa mais emocionante que já fiz. -
Ela riu. ─ Recebi pedidos da minha equipe sobre como eles querem ser retratados neste
novo capítulo.
─ Algo na linha de mudanças estéticas? - Ele brincou. ─ Alguns deles têm aparência
bastante rude.
─ Mas corações de ouro puro. - Respondeu ela.
─ Por falar em ouro, vou atrás de muitos novos filhotes de Angus. Quer vir e olhá-los
comigo? Você pode querer alguns para o seu próprio rebanho.
─ Pretende demorar muito?
─ Não. Vou na parte da manhã.
─ Então eu vou, mas apenas pela manhã. Tenho muito trabalho a fazer antes de partir na
próxima sexta-feira para Nova York. Eu tenho várias reuniões.
─ Vou me certificar de não demorarmos.
Ela mordeu o lábio inferior.
─ Você não mentiria para mim, sobre Cort não querer ir para casa, não é? - Ela
perguntou em um tom preocupado.
Seus olhos eram suaves e carinhosos.
─ Não sobre isso. - Disse ele. ─ Ele prometeu que voltaria em algumas semanas. Ele
sempre cumpre suas promessas. - Ele não acrescentou mais uma coisa, que Cort
também havia dito que ia contar a verdade a Mina quando voltasse. Ele tinha planos de
longo prazo com ela. Bart ficou encantado. Ela teve uma vida difícil. Estava na hora de
ter um pouco de felicidade.

***

Na sexta-feira seguinte, de manhã antes do sol nascer, ela embarcou no jato


particular de Jake McGuire no aeroporto de Catelow para a viagem a Nova York com as
malas prontas, bocejando.
─ Tomaremos café com bagels e cream cheese. - Ele brincou depois que levantaram
vôo. ─ Com fome?
─ Eu poderia comer um pônei. Não sei o que há de errado comigo... - acrescentou ela,
rindo. ─ estou cansada o tempo todo.
─ Ainda está tomando quinino? - Ele perguntou com preocupação óbvia.
Ela assentiu.
─ Eu não ousaria perder uma dose. Um de nossos caras estava com malária quando
descemos do avião em Miami. Liguei para Ry para checá-lo. Ele está bem, apenas
tentando superar a pior fase.
─ A malária não é divertida. - Disse ele. ─ Eu tive um ataque dela há muitos anos,
quando tive que fechar um acordo na Guatemala.
─ Eu nunca tive. - Disse ela. ─ E estou cruzando os dedos para nunca ter!
O comissário de bordo trouxe café e uma bandeja de bagels em uma bandeja de
prata, com um prato de cream cheese e uma faca.
Jake serviu café em xícaras de porcelana e lhe entregou uma.
─ Obrigada. - Disse ela. ─ Isso é realmente gentil da sua parte.
Ele riu.
─ Não tem problema algum. Já lhe disse, também tenho negócios em Manhattan.
─ Eu tenho medo da turnê por vídeo. - Ela confessou. ─ Pelo menos não é como estar
na frente de uma plateia. Somos apenas, eu, o cara do som, o cameraman e o produtor
no estúdio. - Ela riu. ─ É tão estranho não poder ver as pessoas que estão me
entrevistando, exceto por vídeo.
─ Eu posso imaginar. Como foi na Nicarágua? - Ele perguntou.
─ Quente - Ela respondeu. ─ Especialmente em roupas camufladas com uma pistola.
Mas os caras me treinaram muito bem. Eu não sou nem de perto a desajeitada que eu era
nos primeiros dias que eles me levaram nas missões.
Ele balançou sua cabeça.
─ Ainda não me conformo com o perigo em que você se coloca. Para eles issi faz parte
do trabalho, mas você já foi baleada uma vez.
─ Apenas um ferimento de raspão. - Ela lembrou e riu. ─ Eu quase não senti.
─ Você e sua insistência com o realismo. - Ele suspirou.
─ No próximo mês vou sair com uma equipe da SWAT em Dallas. - Ela disse a ele. ─
Um dos caras de Ry conhece um cara que vai me deixar acompanhá-los.
─ Você está abusando da sorte.
─ Vai valer a pena. - Disse ela, sorrindo para ele. ─ Esse realismo é o motivo pelo qual
estou vendendo tantos livros.
─ Eu suponho que sim. Mas ainda é perigoso.
─ A vida é perigosa. - Ela respondeu. ─ Você pode morrer de várias formas aqui nos
Estados Unidos sem se colocar em perigo.
─ É verdade. - Ele concordou. ─ Mais café?

***
A turnê por vídeo conferência acabou sendo muito divertida. Eles a filmaram nos
estúdios de uma das principais redes de televisão. A equipe tinha café e uma variedade
de pães esperando por ela. Eles discutiram sua última incursão no trabalho mercenário,
embora ela nunca tenha chamado ninguém de seu grupo pelo nome, para protegê-los.
Ela ainda estava preocupada que Cort a visse em uma das transmissões, mas era
improvável. Ele estava no oeste do Texas, e a única entrevista que ela estava fazendo
era em Dallas. Isso diminuiu o desconforto. Ela queria contar ela mesma a ele e teria
que fazer isso em breve. Se ele estava realmente planejando um futuro com ela, e Bart
pensava que sim, ela teria que falar com ele sobre sua verdadeira profissão. Ela esperava
que ele entendesse, e não se opusesse a ela rastejando pelas selvas com seus parceiros
de pesquisa.
Por outro lado, se ela estivesse grávida, isso complicaria as coisas. Isso
significaria o fim das missões, pelo menos por um tempo. Ela sorriu para si mesma
enquanto se perguntava se já havia uma vida minúscula crescendo dentro dela. Era
muito cedo para dizer.
***

Jake a levou para jantar no Four Seasons quando ela terminou a turnê por vídeo e
terminou a reunião com sua agente e seu editor. As vendas de livros estavam subindo, e
sua agente resolveu os detalhes do novo contrato com ela. Parecia bom. Suabagente
disse que haveria um adiantamento considerável e os royalties seriam bons. Ela estava
extremamente feliz, disse a Jake, sem mencionar Cort, ou a possibilidade de poder ir ao
Texas com ele em um futuro próximo, se estivesse grávida.
Ela se perguntou onde eles morariam. Geralmente havia um barracão para
cowboys solteiros, mas poderia haver uma pequena cabana que eles poderiam alugar do
patrão dele. Era muito cedo para se preocupar com isso, realmente. Ela ainda estava
preocupada com o que fazer com seu próprio rancho se deixasse Catelow.
Ela poderia contratar um administrador, talvez Fender, seu novo homem em
tempo integral. Ele parecia ser honesto e confiável, e estava provando ser um
trabalhador competente. Ela se permitiu sonhar com um futuro com Cort, com um bebê
nos braços e um casamento feliz. Certamente ele não se importaria com a profissão dela.
Afinal, as únicas coisas que ela precisava era um laptop e uma conexão à Internet para
seguir seu ofício. Ela poderia contar a ele sobre ser escritora sem contar a verdade sobre
como fazia suas pesquisa, até que ele se acostumasse com a ideia de sua profissão.
Certamente ele não se importaria.
─ Você está muito quieta. - Comentou Jake enquanto terminavam a sobremesa.
Ela riu.
─ Estou trabalhando. - Ela corou. ─ Desculpe, eu costumo organizar os detalhes em
minha mente antes de colocá-los em um programa de processamento de texto. Isso evita
ter que reescrevê-los.
Ele riu.
─ Ah, a vida de um escritor. - Ele brincou. ─ Você adora isso, não é?
─ Tem sido a minha vida, há muito tempo.
─ Eu percebi.
─ Eu não posso dizer o quanto eu aprecio o que você fez por mim, Jake. - Disse ela,
seus olhos escuros encontrando os dele. ─ Eu posso voar comercialmente, mas fico
nervosa com aviões, mesmo com os caras.
─ No que eles voam? - Ele perguntou em voz alta.
─ U antigo DC-3.* - Disse ela, balançando a cabeça. ─ É bem conservado e nos leva
aonde precisamos ir, mas fico constantemente surpresa dele ainda conseguir decolar.
─ Eles precisam de algo mais novo. - Disse ele.
Ela suspirou.
─ Eu mencionei isso. E eles disseram que o equipamento era muito mais importante.
Eles podem pedir emprestado o transporte aéreo, se necessário. Equipamento, é outra
coisa. - Ela sorriu. ─ Eles até fizeram um traje especial para mim. Eu o trouxe para casa,
junto com a .45 automática que eles me deram. - Ela assobiou. ─ Minhas mãos não são
grandes o suficiente para uma arma desse tamanho, mas estou melhorando com ela.
─ Um calibre menor pode ser mais adequado. - Ele se aventurou.
─ Pode ser, mas eu gosto da que tenho. - Ela não contou a ele o motivo real. Uma .45
podia derrubar um agressor, algo que um calibre menor não podia fazer. Se ela e o
grupo estivessem em uma situação realmente perigosa, como na última vez em que ela
levou um tiro, isso podia significar a diferença entre a vida e a morte.
Ele inclinou a cabeça e sorriu para a imagem que ela fazia em seu recatado vestido
preto, com os cabelos longos e bonitos ao redor dos ombros.
─ Você realmente é adorável. - Ele murmurou gentilmente.
Ela corou.
─ Obrigada.
Ele olhou para o seu café em vez de para ela.
─ Está ficando sério entre Cort Grier e você?
* DC3 - Avião fabricado entre os anos 30 a 50.

Ela sorriu e fez uma careta para ele.


─ Confidencial.
Ele começou a rir.
─ Ok, eu vou parar de bisbilhotar. Mas se não der certo, você deve me manter em
mente.
─ Você é um dos meus melhores amigos, você e Bart. - Disse ela gentilmente. ─ Isso
nunca vai mudar.
Ele tomou um gole de café.
─ Ok. - Ele disse finalmente. ─ Mas nunca vou perder a esperança.
***

Ele a levou de volta ao hotel. Mesmo tão tarde da noite, as ruas estavam cheias de
pessoas.
─ Eu adoro Manhattan. - Disse ela com um suspiro. ─ Tem que ser a cidade grande
mais bonita do mundo.
─ Sempre achei que sim. - Ele concordou.
─ As luzes são... são... - Ela parou de falar, seus olhos em uma pilha de tablóides em
máquinas perto do hotel. Ela estava olhando para a foto de alguém na primeira página,
chocada.
Porque lá, em cores vívidas, estava o homem que a seduziu com tanta ternura, que
disse que queria um filho com ela, que roubou seu coração.
Cort Grier estava na capa do tablóide. A manchete era arrasadora. "Milionário do
Texas e estrela de Hollywood falam sobre o feliz casamento."
Ela olhou para Jake com puro horror. Ela estava quase tremendo com a revelação.
Ele rangeu os dentes.
─ Você sabia! - Ela exclamou.
Ele mordeu o lábio inferior.
─ Você sabia. - Ela repetiu, parando sob a luz da rua enquanto as pessoas passavam a
caminho de teatros ou jantares tardios.
Ele enfiou as mãos nos bolsos.
─ Eu sabia. Nós sentamos em alguns dos mesmos comitês. Conheço Cort há anos.
─ Por que você não me contou? - Ela perguntou, enquanto as lágrimas rolavam
silenciosamente por suas bochechas.
─ Eu não podia. Seria como jogar sujo, vencer um rival dessa maneira. - Ele
acrescentou calmamentemente. ─ Eu mencionei isso para Bart. Ele disse que o primo
estava cansado de ser caçado por mulheres pelo que tinha. Ele só queria ser um cowboy
comum por um tempo.
─ Ele é um playboy. - Disse ela, quase engasgando com as palavras.
─ Bem, sim, eu acho que ele é. - Disse ele com óbvia relutância. ─ O nome dele tem
sido associado a estrelas de cinema, debutantes e, uma vez, a uma princesa. Ele vale
milhões. É dono de uma grande fazenda no oeste do Texas. Ele cria gado de raça pura
Santa Gertrudis e sua família investe em imóveis e petróleo.
Ela queria se sentar, mas não havia nada que pudesse fazer, além de colocar um pé
na frente do outro e seguir em direção ao hotel.
─ Eu realmente sinto muito. - Jake disse enquanto entrava ao lado dela.
─ Eu também.

***

Ela chorou até dormir. Na manhã seguinte, ela se levantou e começou a fazer café
em seu quarto de hotel quando uma repentina onda de náusea a levou correndo para o
banheiro, onde parecia que ela havia perdido as refeições de dois dias.
Ótimo, ela pensou enquanto dava descarga e lavava o rosto pálido. Que momento
maravilhoso para descobrir que ela provavelmente estava grávida, quando o homem
com quem ela planejara um futuro se tornou uma cobra de duas caras!
Ela se olhou no espelho.
─ Você é uma péssima juíza de caráter. - Disse ela à imagem. ─ E o que você vai fazer
agora?
Era uma boa pergunta. Um aborto, embora pudesse ser uma solução para a
maioria das mulheres, era impossível para ela. Ela não podia suportar desistir da
minúscula vida dentro dela, mesmo que nunca mais visse seu pai. Incrível, como ela
estava ansiosa por um bebê, mesmo sob essas circunstâncias.
Ela disse a Jake que precisava de mais um dia para finalizar algumas negociações
e, mais tarde, naquela manhã, foi a um centro médico e fez um exame de sangue. Ela
estava quase certa de estar grávida, embora eles lhe dissessem que às vezes isso poderia
ser um falso positivo. Seus sintomas, no entanto, praticamente confirmavam o
diagnóstico. Ela saiu para a calçada com a cabeça nas nuvens, envolvida em sonhos.
Ela não contou a Jake, por medo de que ele pudesse compartilhar as notícias antes
que ela estivesse pronta. Ela ainda teria que lidar com Cort e não tinha certeza de como
fazê-lo. Então ela voou de volta para Catelow com Jake, seu rosto tão solene como se
tivesse perdido um membro de sua família para a morte, ao mesmo tempo que a alegria
de sua gravidez brotou dentro dela.

CAPÍTULO DOZE

Cort estava furioso. Seu pai, bêbado e descontrolado, havia demitido uma das
melhores mãos do rancho. Cort teve que encontrar o homem e oferecer-lhe mais
benefícios para fazê-lo voltar. Ele não queria deixar Catelow em primeiro lugar. Deveria
ter tido mais duas semanas felizes conhecendo Mina. Ele queria se casar com ela,
estivesse ou não grávida. Nunca esteve tão louco por uma mulher em sua vida. E aqui
estava ele, em vez disso, cuidando de um homem que deveria ter idade suficiente para
se cuidar sozinho!
─ Qual é o seu problema? - Perguntou ele, exasperado, quando eles se sentaram para
jantar, servidos por cozinheira de longa data.
─ Ela me expulsou. - Disse Vic, sua voz ainda arrastada. ─ Eu preciso de outra bebida...
─ Só sobre o meu cadáver. - Cort retrucou. ─ Por que ela o expulsou?
─ Eu estava apenas flert... flertando com uma de suas amigas.
Os olhos castanhos pálidos de Cort se entrecerraram.
─ Apenas flertando?
O homem mais velho corou.
─ Não consigo ficar com apenas uma mulher. - Disse ele, beligerante. ─ Eu sempre
dormi com outras. Eu até disse a ela quando nos casamos.
─ Eu sei. - Cort disse friamente. ─ Você dormiu com outras, enquanto mamãe estava
morrendo.
Vic teve a decência de corar. Ele desviou os olhos.
─ Você não entende.
Cort riu friamente.
─ Eu entendo tudo muito bem. Você foi um péssimo pai. Acho que você foi ainda pior
como marido.
Vic ficou boquiaberto.
─ O que?
─ Oh, vamos lá. - Cort disse irritado. ─ Você nunca esteve por perto quando
precisávamos de você, especialmente depois que você se separou da madrasta do
inferno. O velho Larry e nossa governanta cuidavam de nós quando tínhamos problemas
na escola. Eles tratavam os machucados e conversavam com o diretor quando tínhamos
problemas. Eles organizavam o Dia de Ação de Graças e o Natal para nós enquanto
você estava por aí com mulheres. Deus, se eu for um pai como você, eu vou me matar!
Vic ficou rígido.
─ Eu não queria filhos. - Confessou.
─ Então você deveria ter aprendido sobre controle de natalidade! - Cort retrucou. ─ E
que vergonha admitir isso!
O homem mais velho corou novamente. E desviou os olhos. Ele se sentiu ainda
pior do que já estava. Ele odiava ouvir essas acusações de seu filho favorito. Ok, ele não
deveria ter favoritos, mas Cort ficou com ele no rancho muito tempo depois que seus
outros filhos se dispersaram aos quatro cantos.
─ Eu tinha vinte e um e sua mãe tinha dezoito quando nos casamos. - Vic disse. ─ Ela
era a mulher mais linda que eu já vi. Algumas semanas depois do casamento, ela ficou
grávida e eu me senti preso. Ela nunca mais olhou para mim da mesma maneira. Ela
adorava ter filhos. Todos vocês tinham a atenção. Eu não tinha nada. Eu a traía para me
vingar dela, mas ela nem percebeu ou se importou. - Seu rosto endureceu. ─ Então eu
encontrei alguém que se importava. Ou assim eu pensei. - Ele suspirou. ─ Eu não
aguentava ver sua mãe quando ela estava morrendo, porque eu sentia que era minha
culpa. Eu nunca estava por perto quando ela precisava de mim e só percebi isso tarde
demais. Eu a amava. Eu também não percebi isso. Casei com sua madrasta porque
estava de luto, não apenas por sua mãe, mas por Cash. Eu deixei as mentiras da sua
madrasta me fazerem expulsá-lo da minha vida, e ele me odiou. Não consegui fazê-lo
voltar. - Seus olhos se fecharam. ─ Então sua madrasta começou a me trair. Eu provei
do meu próprio veneno. - Ele se recostou na cadeira e seus olhos estavam sem vida. ─
Arruinei minha vida, Cort. - Ele disse calmamente. ─ Arruinei a sua também. - Ele
encontrou os olhos chocados do filho. ─ Arruinei a vida de todos os meus filhos. Parker
nem volta para casa a menos que precise. O Cash é amigável, mas não temos o
relacionamento que poderíamos ter. Garon tem uma família e nunca se interessou pelo
rancho. Então, somos só você e eu. E sua nova madrasta, em Vermont. Ela me pegou
com uma de suas amigas em uma situação comprometedora. Ela disse... - Ele hesitou e
seu rosto ficou tenso de dor. ─ que eu era o homem mais desprezível que ela já
conheceu e lamentava ter se casado comigo. Ela quer o divórcio. - Ele sorriu
tristemente. ─ Ela nem quer pensão alimentícia. Ela só quer que eu vá embora. - Ele
tomou um gole do café que nem queria. ─ Eu fui um idiota. Não sei o que fazer.
─ Pegue o seu iate e treine para as provas da Copa da América. - Sugeriu Cort
ironicamente. ─ Em algumas semanas, você esquecerá tudo. Você sempre faz isso.
Seus olhos tristes encontraram os de seu filho.
─ Parece apenas assim. Mas talvez você esteja certo. - Ele se levantou da mesa. ─ Sinto
muito por ter causado mais problemas.
─ Eu consertei as coisas. - Ele inclinou a cabeça. ─ Vou me casar.
Vic olhou para ele.
─ Com quem?
─ Uma doce e inocente fazendeira do Wyoming que adora tricotar e ler romances. Ela
quer filhos. Eu também.
─ Quer filhos, hein? - Ele perguntou. O sorriso dele era cínico. ─ Ela é pobre?
Cort assentiu.
─ Ela está se casando com você pelo seu dinheiro? - Vic perguntou sarcasticamente.
─ Ela acha que sou apenas um cowboy trabalhador que tem tantos problemas
financeiros quanto ela. - Disse Cort surpreendentemente. ─ Ela gosta de cozinhar
também.
Vic suspirou.
─ Assim como sua nova madrasta. Ela era repórter de jornal, mas agora é dona de casa.
Ela gosta de cultivar coisas. Oh inferno, eu estraguei tudo, pra valer! Ela nunca mais vai
falar comigo. Sinto muito pelo que fiz com ela, mas ela não me deixa falar. Ela disse
que só lamento ter sido pego, mas não é verdade.
─ Por que você a traiu? - Cort perguntou.
Ele fez uma careta.
─ Ela é unida com a família dela. - Disse ele friamente. ─ Tanto que eu mal tive tempo
com ela. Eu pensei que ela me queria pelo que eu tinha.
Cort inclinou a cabeça. Ele estava aprendendo coisas sobre o pai que ele nunca
imaginou. Vic precisava de muita atenção. Quando ele a perdia, começava a fazer coisas
para que suas esposas o notassem.
─ Como foi sua infância? - Cort perguntou abruptamente.
─ Inferno na terra. - Foi a resposta sucinta. ─ Meu pai era um bêbado, e me batia toda
vez que eu respondia a ele. Minha mãe era extremamente rica e nunca quis ter filhos.
Ela me puniu porque meu pai a engravidou e ela perdeu sua aparência perfeita. Ela
dormia com qualquer coisa que vestisse calças.
Cort ficou chocado.
─ Você nunca nos disse nada sobre isso.
Vic suspirou.
─ Eu nunca estive por perto para lhe dizer qualquer coisa. - Disse solenemente. E olhou
para o filho. ─ Eu sinto muito. Você está certo. Eu fui um péssimo pai. - Ele deu de
ombros. ─ Talvez eu pegue o iate e navegue. Se sua madrasta ligar, diga a ela... que eu
sinto muito e ela pode ter tudo o que quiser no acordo de divórcio.
─ Eu não vou estar aqui. - Respondeu Cort. E sorriu. ─ Estou voltando para Wyoming
para me casar.
Vic riu baixinho.
─ OK. Acho que vou ficar e conhecer sua nova esposa antes de sair para o mar.
─ Tente ficar sóbrio.
─ Farei o meu melhor.
─ E não demita mais ninguém. - Disse Cort com firmeza.
Vic levantou as mãos.
─ Eu estou mudado.
─ Claro que está. - Cort murmurou, mas ele não disse isso em voz alta.

***
Mina tinha chorado até dormir na primeira noite em que voltou para casa. Mas
chorar não ia ajudar a sua situação, então ela se levantou e se jogou no trabalho.
Escrever sempre foi o seu consolo. Quando o mundo caiu sobre ela, escrever a tirou do
seu sofrimento. Escrever era a única grande alegria de sua vida. Bem, isso e o bebê
crescendo em sua barriga. Isso era facilmente comparável a escrever, como a coisa mais
feliz que ela conhecia.
Ela estava trabalhando quando alguém bateu na porta da frente. Impaciente e
irritada com a interrupção, ela salvou o capítulo que estava escrevendo e foi até a porta
da frente.
Ela a abriu e lá estava Cort.
Ele esperava alegria naquele rosto bonito. E estava sorrindo, seus olhos castanhos
claros brilhando de felicidade enquanto estudava a figura elegante em jeans e um suéter
amarelo, com os belos cabelos castanhos alourados e sedosos ao redor dos ombros.
Mas ela não ficou feliz em vê-lo e deixou isso claro sem dizer uma palavra.
─ Como você está? - Ele perguntou.
─ Bem. E você?
Ela não abriu a porta nem um centímetro a mais e não o estava convidando para
entrar.
Os olhos dela estavam tão frios quanto os flocos de neve no quintal.
Ele fez uma careta.
─ Você não está feliz em me ver? Eu pensei que íamos conversar sobre o futuro.
Lamento, ter que ir tão de repente...
Ela inclinou a cabeça.
─ Mas você tinha um encontro quente em Manhattan. - Ela terminou para ele.
Ele piscou.
─ O que?
Ela sorriu. Era um sorriso frio.
─ A fofoca é que você vai se casar com a estrela que está trabalhando naquele novo
programa de televisão sobre os tempos medievais. Você estava realmente ótimo em um
smoking, a propósito. Caríssimo.
Ele podia sentir o sangue se esvaindo de seu rosto.
─ Bart disse a você. - Disse ele bruscamente.
─ Bart não me disse nada. Vi sua foto na primeira página de um tablóide quando estava
em Nova York. Com Jake McGuire. - Acrescentou ela deliberadamente.
Isso era demais para absorver ao mesmo tempo.
─ O que diabos você estava fazendo em Manhattan com McGuire? - Ele perguntou
beligerantemente.
Ele não tinha ideia do que ela fazia na vida e ela não ia compartilhar. Agora não.
─ Eu estava jantando no Four Seasons. - Ela respondeu, e era a verdade. ─ A comida é
realmente ótima. Jake me mima. - Ela acrescentou e suspirou.
Seu rosto endureceu quando ele olhou para ela.
─ Eu deveria ter lhe contado. Eu não sabia como.
─ Um milionário, brincando de cowboy, e eu me apaixonei por isso. O tablóide foi
muito esclarecedor. - Acrescentou, e era verdade, porque ela comprou um exemplar,
apesar de Jake tentar desencorajá-la. ─ Aparentemente, existem apenas poucas estrelas
de cinema com as quais você não dormiu.
Ele amaldiçoou baixinho.
─ Mina... - Ele abriu as mãos, desesperado por encontrar palavras que tirariam aquele
olhar depreciativo do rosto dela. ─ Posso entrar? Eu preciso falar com você.
Ela mordeu o lábio inferior. Ela o amava. E estava carregando o filho dele. Se o
deixasse entrar na casa, ela cairia novamente sob esse feitiço e não suportaria.
Ele entendeu aquele olhar no rosto dela. A esperança cresceu dentro dele. Ele
sorriu ternamente.
─ Você não acha que um homem pode mudar, se ele quiser?
Ela estava avaliando o sorriso e as palavras contra o relacionamento conhecido
dele com Ida, a mulher má de Catelow, e aquela estrela na primeira página do tablóide.
Ele se aproximou para que ela pudesse sentir o calor e o poder de seu corpo
esbelto.
─ Ok, é verdade. Eu tenho sido um mulherengo. Eu tive mulheres. Você já sabia disso.
Mas você não sabia quem eu era e gostou de mim assim mesmo. Gostou muito. Por que
você não acredita que funciona nos dois sentidos?
Ela estava vacilando.
─ Não houve ninguém desde o dia em que a conheci, quando você pisou no meu pé e
me desafiou a prendê-la. - Ele sorriu com a expressão dela. ─ Eu nunca minto. -
Acrescentou. ─ Eu não tentaria enganá-la de maneira alguma. Bart diz que você é muito
difícil de enganar.
─ Geralmente. - Ela admitiu.
─ Você faz um ótimo café. - Disse ele. ─ Podemos conversar tomando uma xícara, não
é? Eu prometo me comportar.
Ela respirou fundo, em conflito. E estremeceu.
─ Bem, acho que eu poderia fazer um café.
O coração dele acelerou. Ela não o estava mandando embora. Ele rejuveneceu.
Ela abriu a porta e o deixou entrar.

***
─ Você realmente faz um ótimo café. - Disse ele enquanto estavam bebendo sentados à
pequena mesa da cozinha. Ele fez uma careta. ─ Mesmo que seja descafeinado.
─ Obrigada. - Ela não podia lhe dizer por que estava bebendo um café descafeinado.
Podia não ser bom para o bebê continuar com seu forte hábito de cafeína. Incrível que
ela se sentisse tímida com ele, quando eles haviam sido íntimos.
Ele percebeu. E isso o fez se sentir aquecido por dentro. A única nuvem negra era
a amizade dela com McGuire. Ele não gostava que ela saísse com ele, mas não tinha
como impedir. A menos, é claro, que se casasse com ela.
─ Onde você realmente mora? - Ela perguntou.
─ Em Latigo. - Ele respondeu.
Ela ofegou. Jake mencionou que Cort possuía um grande rancho, mas ela não
sabia que era esse. Ela ouviu falar da enorme fazenda de criação de gado Santa
Gertrudis. A maioria dos fazendeiros tinha ouvido.
─ Esse é o maior rancho do oeste do Texas. - Disse ela.
Ele assentiu.
─ Eu o possuía junto com meus irmãos e meu pai, mas comprei a parte de todos eles. Eu
mesmo o estou administrando agora. Bem, meu pai está me ajudando desde que a
esposa o deixou na semana passada. - Ele murmurou.
 ─ Por que ela o deixou?
─ Ele a estava traindo. - Ele riu secamente. ─ Ele traiu minha mãe enquanto ela estava
morrendo. Ele traiu todas as suas companheiras. É o único modo de vida que ele
conhece.
Ela sentiu o rosto entorpecer. Dizem, olhem para o pai e esse será o filho daqui há
vinte anos.
Ele podia perceber a indecisão no rosto dela.
─ Nossa madrasta o traiu, então ele a expulsou. É a única vez que ele realmente provou
do próprio veneno. Até a semana passada, pelo menos. - Ele sorriu tristemente. ─ Sua
nova esposa é uma mulher íntegra e decente. Eu gostava dela.
─ Ele não a ama?
─ Querida, eu não acho que ele realmente saiba o que é amor. - Ele disse suavemente. ─
Talvez ele amasse nossa mãe, a princípio, mas isso desapareceu quando ela teve o
primeiro bebê e parou de dar todo o seu carinho a ele. - Ele estudou sua xícara de café.
─ Aparentemente, quando ele sente que não é o centro das atenções, ele faz tudo o que
pode pensar de errado para ser notado. Ele demitiu meu capataz. Eu levei um tempo
infernal convencendo-o a voltar. E papai ainda está no rancho. Eu realmente não posso
deixá-lo sozinho lá por muito tempo, ou vou ter que substituir todo mundo. Ele ficou
bêbado para afogar suas tristezas, e ele é um inferno quando bebe.
─ E eu pensei que tinha problemas com meu pequeno rebanho. - Ela murmurou. Tomou
um gole de café e olhou para ele por cima da borda da xícara. ─ Então você tem que ir
para casa em breve, eu acho. - Acrescentou ela, e tentou não parecer tão triste quanto se
sentia.
Ele procurou seus olhos escuros. Foi como voltar para casa.
─ Eu esperava que você fosse comigo. - Disse ele depois de um minuto. Seu coração
disparou. Era a primeira vez que ele tentava se comprometer em um relacionamento de
longo prazo e estava apreensivo. Isso não aparecia.
─ E ficar até você se cansar de mim, como de todas as outras? - Ela perguntou com um
longo suspiro.
─ Tente lembrar que os tablóides vivem de fofocas. Quanto mais chocante a história,
mais pessoas a compram. A verdadeira culpada foi a estrela. Sua série está terminando e
ela precisa de publicidade para conseguir outro emprego. - O sorriso dele era de puro
cinismo. ─ Eu nunca dormi com ela, Mina. - Acrescentou ele, sua voz profunda e muito
calma. ─ Ela era apenas alguém bonito para passear pela cidade enquanto eu estava lá. -
Ele abaixou os olhos. ─ Eu nunca pensei que você descobriria sobre isso.
─ Você teria me contado? - Ela perguntou, com um pouco do cinismo dele.
Ele respirou fundo.
─ Provavelmente. - Ele admitiu. ─ Mas não até você estar mais segura de mim do que
está agora. Você não sabe se acredita em mim ou não, não é?
─ Olha, eu moro em uma cidade pequena. Eu vivi aqui a minha vida toda. A única coisa
que eu realmente aprendi sobre homens durante todo esse tempo foi que não se pode
confiar neles. Talvez eu confie em Bart, mas esse é um tipo diferente de
relacionamento.
─ É. Bart é apenas um amigo. Mas você me ama. - Ele disse abruptamente, observando-
a corar.
Ela realmente queria negar. E não conseguiu.
─ Você gostaria de Latigo. - Disse ele, hesitantemente. ─ É grande e amplo. Estamos
cercados por milhares de acres de terra. Mas se você quiser viver na cidade, El Paso não
está tão longe. Inferno, nenhum lugar é tão longe. Nós possuímos um jato e dois
monomotores.
Ela estava enfraquecendo. Ele parecia que realmente a queria lá. Mas ele não
estava falando sobre casamento. Isso a preocupou.
Ele deslizou os dedos sobre os dela.
─ OK. O que é esse rosto triste?
Ela olhou para ele.
─ Isso causaria um escândalo...
As sobrancelhas dele arquearam.
─ Como assim?
─ Eu não sou moderna... - Ela começou, corando. ─ as pessoas por aqui são em sua
maioria conservadoras e ainda estou tentando conviver com a reputação de minha mãe.
─ Oh. - Seus olhos brilharam. ─ Entendo. Você acha que estou pedindo para você ir ao
Texas e viver em pecado comigo. - Ele brincou.
Ela ficou vermelha. E afastou a mão da dele.
─ Pare com isso!
Ele riu, mas seus olhos estavam gentis e ternos.
─ Na verdade, eu quero me redimir, pelo que aconteceu em Lander. - Acrescentou ele
em voz baixa. ─ Eu apressei as coisas. Eu me sinto culpado por isso. Você deveria ter o
vestido, o pastor, todo o serviço. Mas ainda há tempo. - Ele puxou uma caixa do bolso e
empurrou-a na direção dela.
Era uma caixa de joalheria. Ela olhou para ele com curioso interesse.
─ Abra. - Ele instigou.
Ela abriu a tampa e ofegou. Era um diamante amarelo, enorme, de pelo menos
dois quilates, engastado em ouro amarelo. Ao lado, havia uma aliança de casamento,
também cravejada de diamantes amarelos.
─ Eu pensei que precisava ser algo que contasse uma história. - Ele começou
lentamente. ─ Você brilha. Você é como a luz do sol. Tinha que ser diamante amarelo.
─ Este é um conjunto de casamento. - Disse ela, sua voz suave de assombro.
Ele assentiu.
─ Ele vem com um fazendeiro cansado e muito gado. - Ele deu de ombros. ─ Mas há
muito sentimento por trás disso.
Seus olhos castanhos brilhavam com o amor que ela sentia por ele.
─ Estou tendo um colapso nervoso por aqui. - Ele ressaltou. ─ Eu nunca propus
casamento na minha vida. Você consideraria acabar com o meu sofrimento?
Ela riu baixinho, levantou-se e sentou-se no colo dele.
─ OK.
Ela o beijou com ternura, e os braços dele se fecharam em torno dela, espelhando
as emoções que ela estava sentindo.
─ Isso é um sim? - Ele brincou.
Ela riu.
─ É um sim.
Ele a abraçou e a beijou com crescente avidez.
─ Tormento! - Ele acusou.
Ela sorriu sob sua boca devoradora.
─ Eu não sou um... um... oh Deus! - Ela pulou dos braços dele e correu para o banheiro.
Ela nem tomou café da manhã, então aparentemente o queijo e os biscoitos da
noite anterior estavam voltando.
Ele estava bem ao lado dela.
─ Devo ligar para um médico? Você está bem? - Ele perguntou, com verdadeira
preocupação.
Ela engoliu a náusea e descansou a cabeça no braço.
─ Eu estou bem. - Disse ela com voz rouca. Alguns segundos depois, ela se sentiu
confiante o suficiente para dar descarga e se levantar para lavar o rosto. Ele ficou atrás
dela, ainda preocupado e incapaz de esconder.
─ Mina, o que há de errado? - Ele persistiu.
Ela se virou e olhou para ele.
─ Aparentemente seu bebê não gosta de queijo e bolacha. - Disse ela em um tom
ofegante.
─ Meu... - O sangue se esvaiu do rosto dele e depois retornou imediatamente. Havia
alegria absoluta no brilho de seus olhos castanhos claros. ─ Você está grávida?
─ O médico que consultei acha que sim... Cort!
Ele a pegou nos braços, balançando-a, enquanto demonstrava a alegria mais
incrível que ele já sentiu em sua vida.
─ Grávida! E a primeira vez! - Ele a colocou gentilmente de pé, com o rosto exultante.
─ Bem, pelo menos eu não preciso perguntar se você está feliz. - Ela disse suavemente,
e o amor brilhava em seus olhos castanhos.
─ Oh, feliz nem chega perto de expressar isso. Eu quero dizer ao mundo... oh Deus, nós
não somos casados! - Ele explodiu.
─ Agora, Cort... - Ela começou.
Mas ele já estava ao telefone dando ordens. Uma hora depois, ela estava sendo
levada a bordo do jato Latigo, que tinha acabado de pousar no aeroporto de Catelow. O
operador da base fixa* estava conversando animadamente com o piloto, que estava
dando uma volta antes de elaborar o plano de vôo.
─ Nick voa para nós. - Ele disse a ela enquanto se amarravam em seus assentos no
luxuoso jato, que era ainda mais sofisticado que o de Jake McGuire. ─ Ele era piloto de
combate, mas não queria desistir de voar, então o pegamos. Ele é bom.
─ Mas para onde estamos indo? - Ela persistiu.
─ Las Vegas. - Disse ele. ─ Nós casamos. Então vamos para casa e planejamos um
grande e espalhafatoso casamento social. Você pode conhecer meus irmãos e suas
esposas. Bem, exceto Parker. Ele não é casado. - Ele franziu a testa. ─ Se meu pai não
ficar sóbrio até lá, vamos escondê-lo no armário até depois do casamento.
Ela riu, envolvida em seu entusiasmo.
─ Isso realmente não é convencional.
─ Convencional é para pessoas normais. - Ele a repreendeu. Ele se inclinou e a beijou
avidamente. ─ Você e um bebê. Eu ganhei no caça-níqueis e nem estamos ainda a
caminho de Las Vegas.
─ Serei o suficiente para você? - Ela se preocupou. ─ Quero dizer, essa estrela era tão
bonita.
─ Você é linda, sua idiotinha. - Ele a repreendeu. ─ Linda por dentro e por fora. Eu
nunca conheci alguém como você. - Ele se recostou na cadeira. ─ Você terá todo o
tempo que quiser para tricotar e ler romances. - Brincou ele. ─ Encontraremos um bom
gerente para cuidar de seu rancho no Wyoming. Podemos passar o verão lá, se você
quiser.
Tricô e leitura de romances. Ela fez uma careta, porque ainda tinha que dizer a ele
o que realmente fazia para viver. Tinha que ser honesta com ele. Ela abriu a boca, mas
Nick subiu a bordo com outro homem, provavelmente o co-piloto, e ainda um terceiro
homem. Ela sorriu e assentiu educadamente quando Cort a apresentou a eles.
─ Marlowe. - Ele indicou o homem com o piloto. ─ E esse é o Bib. Ele é nosso
comissário de bordo. Quer algo frio e com gás para beber? - Acrescentou.
─ Depois que decolarmos. - Disse ela.
Ele segurou a mão dela na dele.
─ Não se preocupe. Tudo vai ficar bem.
Ela realmente esperava que sim. Teria que esperar até que tivessem um momento
tranquilo para contar a Cort sobre sua profissão. Ela poderia fazer isso quando
voltassem a Catelow, porque precisava pegar o computador e o pen drive. Ela usava o
pen drive para fazer backup de seus arquivos, para o caso de o computador falhar.

***
Eles se casaram em uma pequena capela, com Mina em sua saia jeans e blusa
xadrez, e Cort em suas próprias roupas de cowboy. Ele deslizou a aliança no dedo dela e
a beijou quando o oficial os declarou casados. Lágrimas deslizaram pelas bochechas
dela. Realmente não acreditou na sinceridade de Cort quando ele disse que queria se
casar com ela, até que viu os anéis. Ele estava sorrindo de orelha a orelha, dificilmente a
aparência de um noivo relutante. Isso lhe deu esperança no futuro.
Eles voltaram para a limusine que ele contratou e ela sentou ao lado dele.
─ O que você gostaria de fazer? - Ele perguntou, sorrindo.
─ Isso vai parecer estranho.
─ Me teste.
Ela respirou fundo.
─ Eu gostaria de ir para casa. - Ela riu.
Os olhos dele brilharam para ela.
─ Puritana. - Ele acusou suavemente, mas com carinho. ─ Nenhuma curiosidade sobre o
lado picante da vida?
*Operador de base fixa - Fornece serviços aeronáuticos nos aeroportos, como abastecimento de combustível, hangar, amarração e
estacionamento, aluguel de aeronaves, manutenção de aeronaves, instrução de vôo e serviços similares.
Ela balançou a cabeça.
─ É tudo muito bonito. - Disse ela, estudando as luzes e marquises da cidade enquanto
passavam por elas. ─ Mas acho que um bezerro Black Baldy é a coisa mais bonita do
mundo.
Ele a puxou para perto e a beijou lentamente.
─ Eu também. Salvo que no meu caso, seria um bezerro de raça pura Santa Gertrudis.
─ Semântica. - Ela brincou.
Ele riu.
─ Está bem então. Casa. Nós empacotaremos suas coisas e depois seguiremos para o
sul, para Latigo.
Ela ofegou.
─ Mal posso esperar!
─ Está se sentindo bem?
Ela fez uma careta.
─ Apenas um pouco enjoada, mas o médico disse que isso era normal, até o fim do
primeiro trimestre. - Ela olhou para ele preocupada, porque eles eram recém-casados e
ela sabia que ele a queria.
─ Pare de olhar desse jeito. - Ele a repreendeu suavemente. ─ Eu não vou deixar você
sozinha e sair para caçar mulheres só porque você está doente. Eu não sou meu pai.
─ Ah, eu nunca pensaria isso. - Ela disse imediatamente. ─ Mas eu sei o que você deve
querer e me sinto tão mal com isso.
─ Querida, temos todo o tempo do mundo. - Disse ele suavemente, beijando o nariz
dela. ─ Além de tudo isso, eu vou ser pai. - Ele sorriu. ─ Droga, mal posso esperar para
contar ao meu pai e aos meus irmãos!
Ela riu.
─ Por quê?
─ Para ver a expressão em seus rostos no Skype. - Ele respondeu presunçosamente. ─
Eu era o estranho no ninho. Agora vai ser o Parker.
─ Estou ansiosa para conhecer sua família. - Ela hesitou. ─ Eles não acham que eu casei
com você porque é rico? - Ela se preocupou.
─ Você se apaixonou por um cowboy, Mina. - Ele a lembrou com ternura. ─ Não por
um barão do gado.
Os olhos dela suavizaram ao olhar para ele dele.
─ Você está certo. Eu me apaixonei perdidamente, ou nunca acabaria na cama com
você.
─ Eu descobri isso sozinho. - Ele respondeu solenemente. ─ É uma grande
responsabilidade.
Ela franziu a testa.
─ O que você quer dizer?
Os dedos dele se curvaram nos dela.
─ Eu tenho que cuidar bem de você. - Disse ele. ─ Sou responsável pela fazenda e pela
metade dos negócios há anos. Mas é outra coisa, ser responsável por uma pessoa. Por
uma família. - Enfatizou. ─ Será uma curva de aprendizado.
─ Para nós dois. - Ela lembrou a ele. ─ Eu moro sozinha há vários anos. Vai levar
tempo para nos acostumarmos um ao outro.
Ele assentiu. E sorriu.
─ Essa curva de aprendizado eu vou aproveitar. - Disse ele.
Ela retribuiu o soriso.
Mas ela estava com medo das revelações que tinha que fazer a ele. Ela cerrou os
dentes. Estava grávida enquanto rastejava pelas selvas da Nicarágua, correndo o risco de
ser baleada. Como ele reagiria, ao saber disso? E ainda havia a revelação sobre seu
grupo de pesquisa e sua ocupação mortal. Ela tinha medo de contar a ele, ainda mais
agora que sabia que estava grávida. Ela correu um enorme risco. Mas não sabia sobre o
bebê na época. Talvez isso ajudasse o seu caso. Ela esperava que sim.

***
Eles voltaram para o rancho e, enquanto ela fazia as malas, Cort telefonou para o
primo. Bart riu até suas costelas doerem.
─ Não acredito! - Ele disse a Cort. ─ Você, casado?
─ Casado. Mina e eu estamos muito felizes. Também há outra coisa, mas é preciso
mantê-la em segredo por um tempo.
─ Ela está grávida. - Bart adivinhou.
─ Sim. Sou o homem mais feliz do mundo. - Confessou. ─ Mina e um bebê. Que
combinação!
─ E está tudo bem pra você sobre o trabalho? - Bart perguntou suavemente, assumindo
que Mina havia dito a seu novo marido sobre o que ela fazia na vida.
─ Que trabalho? - Cort perguntou gentilmente.
─ Do rancho. - Bart alterou rapidamente. ─ Você vai colocar alguém no comando por
lá?
─ Sim. Fender. Você pode ficar de olho? - Cort perguntou. ─ Só para garantir que ele
faça as coisas do jeito que ela quer que sejam feitas?
─ Eu certamente posso!
─ Bom homem. Eu realmente gostei dele.
─ Posso falar com ela?
─ Claro. Mina? - Ele chamou.
Ela saiu do quarto, onde tinha acabado de fazer as malas. E sorriu para Cort
quando ele lhe entregou o telefone.
─ Oi, Bart, adivinha? - Ela brincou.
─ Você está casada. - Ele riu. ─ Estou surpreso. E feliz por você. Ele é um bom homem.
E cuidará de você.
Ela olhou para Cort, os olhos cheios de amor.
─ Eu vou cuidar dele também. - Disse ela suavemente.
Cort corou um pouco com a ideia de uma mulher querendo cuidar dele. Nunca
alguém quis. Ele estava emocionado.
─ Você não contou a ele, contou? - Bart perguntou.
─ Bem, não, ainda não.
Ele ouviu a hesitação na voz dela.
─ Não espere muito. - Ele a aconselhou. ─ Seu livro está em todas as listas e tem sua
foto na contracapa. Você tem leitores por todo o lado, até mesmo no Texas. Não deixe
que ele descubra da maneira mais difícil. OK?
─ Tudo bem. - Disse ela. ─ Fique atento a Fender, sim? - Ela acrescentou. - E se ele
encontrar alguma dificuldade, ligue para o primo Rogan. Ele saberá o que fazer.
─ Eu vou. Parabéns, minha amiga. - Ele disse. ─ Desejo a vocês toda a felicidade do
mundo. Diga a Cort.
─ Eu direi. Obrigada Bart. Nós entraremos em contato.
─ Eu vou cobrar isso.
Cort guardou o telefone. Ele estava sorrindo quando olhou para Mina.
─ Ok, Sra. Grier. Suas coisas estão empacotadas?
Ela sorriu.
─ Sim. E o meu computador.
Ele franziu a testa.
─ Temos computadores no rancho.
─ Eu realmente preciso do meu. - Ela ia contar a ele, mas mudou de ideia. ─ Eu... jogo.
- Disse ela. Era quase a verdade. Ela tinha Star Wars: The Old Republic em seu
computador, completo com seu ícone característico. Ela jogou um pouco ao longo dos
anos. Era uma desculpa boa o suficiente, por enquanto.
─ Oh, entendo. - Ele balançou a cabeça, rindo. ─ Você não para de me surpreender.
Minha esposa, a fazendeira, tricoteira e jogadora.
─ Eu também posso atirar com uma arma. - Ela deixou escapar.
─ No jogo, você quer dizer? - Ele perguntou.
Ela quase mordeu a língua quando forçou um sorriso.
─ Claro!
Ele riu.
─ Talvez eu precise aprender também no meu tempo livre. Não tenho muito disso
ultimamente, com o ajuntamento começando em Latigo. Também temos algumas
disputas trabalhistas em uma de nossas mineradoras. - Acrescentou com um olhar
preocupado. ─ Talvez eu tenha que ficar um pouco longe de casa. Vou tentar garantir
que não seja excessivo.
─ Tudo bem. - Disse ela. ─ Eu sempre posso... tricotar. - Disse ela, quase engasgando
com a palavra.
─ Justo. Vamos indo!

CAPÍTULO TREZE

A primeira visão que Mina teve de Latigo foi uma revelação. Não era como
alguém imaginaria uma casa de fazenda. A casa era enorme, de dois andares, feita de
madeira e pedra marrom, com um design que se misturava à paisagem. Havia um portão
de ferro forjado preto, que o motorista abriu automaticamente a partir de um painel de
controle sobre o para-brisa no grande Jaguar XJL que ele estava dirigindo, com Cort e
Mina no banco de trás. A entrada de automóveis pavimentada levava através de pastos
com cercas brancas a um enorme complexo onde ficava propriamente a casa, além de
uma garagem, casa de hóspedes, árvores e uma cerca privativa feita em pedra, que
cercava o complexo.
─ Este rancho é inacreditável. - Exclamou Mina.
Ele riu.
─ Trinta mil acres. - Disse ele. ─ Temos milhares de cabeças de gado de raça pura Santa
Gertrudis, nesta fazenda e outras em uma cidade próxima que compramos há alguns
anos, quando o proprietário precisou vender.
─ Suas montanhas não são o que eu esperava. - Confessou.
Ele riu.
─ Bem, elas não são as Tetons cobertas de neve. - Ele brincou. ─ Mas são montanhas,
da mesma forma. Temos quilômetros de pastagem melhorada aqui. Os estábulos e o
celeiro estão mais longe.
─ A casa é enorme.
─ Dez quartos, cada um com banheiro privativo, temos uma piscina olímpica interna,
um jardim de inverno com todo tipo de planta que você possa imaginar e uma cozinha
com câmara frigorífica. Pode parecer imponente. - Ele acrescentou quando o motorista
parou ao lado da porta da frente. ─ Mas é só uma casa.
─ Só uma casa. - Ela riu.
Havia um grande Mercedes dourado parado em frente aos degraus, estacionado
torto. O rosto de Cort ficou tenso.
─ Meu pai está aqui. - Ele disse secamente.
─ Vai dar tudo certo. - Disse ela, colocando a mão na dele. ─ Não se preocupe.
─ Ele pode ser insuportável quando bebe.
Ela apenas sorriu.
─ Eu nunca contei a você, mas Bill McAllister também pode. Eles costumavam vir me
buscar quando ele ficava louco no bar local. Eu o levava de volta para casa como um
cordeirinho.
─ Você não tem medo de pessoas que bebem? - Ele perguntou suavemente.
─ Eu tinha medo de Henry porque ele era violento e me odiava. - Disse ela. ─ Como
minha mãe. Mas isso não me incomoda muito quando sei o motivo. Bill perdeu sua
única filha em um acidente há alguns anos. - Acrescentou. ─ Ele bebe porque dói muito.
Eu acho que talvez seja o caso do seu pai também.
Ele respirou fundo.
─ Ele está triste desde que sua nova esposa o deixou. Mas ele não vai machucar você,
não me importo se ele é meu pai. - Ele disse com firmeza.
O coração dela se elevou. Ela gostou dele querendo protegê-la. Ele roçou a boca
contra a dela. Ela tocou sua bochecha e retribuiu o beijo.

***
O motorista abriu a porta traseira para eles. Cort saiu e ajudou Mina a sair. Ele
não soltou a mão dela enquanto se moviam para a varanda, que parecia contornar toda a
casa.
─ Deve ser o paraíso sentar-se aqui ao pôr do sol. - Observou ela, amando os móveis de
vime com suas almofadas escuras e o balanço da varanda.
─ Eu gostaria de ter tempo para fazer isso. - Ele respondeu enigmaticamente. ─ Entre. -
Ele hesitou quando xingamentos ecoaram da sala de estar. Seus lábios fizeram uma
linha fina. ─ Droga! Mina, seria melhor se você esperasse aqui... - Ele começou.
Ela o ignorou e foi direto para o corredor e, de lá, para a elegante sala de estar
com seu lustre de cristal, móveis vitorianos e uma grande lareira. Um homem de cabelos
brancos, alto como Cort, estava tentando pegar uma mesa que ele aparentemente
derrubou. Ele estava cambaleando.
Mina foi em frente e endireitou a mesa quando ele finalmente a colocou de volta
no lugar. Ela quase podia sentir a dor dele. Ela morava com alcoólatras há muito tempo,
mas este não a assustava. Lembrou-se do que Cort havia lhe dito sobre o pai. O homem
mais velho olhou para ela, seus cabelos prateados caindo sobre uma testa larga. Olhos
castanhos escuros encontraram os dela. Ele piscou.
─ Quem é você? - Ele perguntou beligerante.
─ Eu sou a esposa de Cort. - Ela disse suavemente.
Ele parecia desconcertado. Enquanto Cort observava, encantado, ela pegar a mão
do homem idoso.
─ Você não gostaria de se sentar? Você parece muito cansado.
─ Bem... bem, sim, estou cansado. Um pouco.
Ela o levou ao sofá e esperou enquanto ele se sentava. Ela se sentou na beira de
uma poltrona.
─ Você é a fazendeira do Wyoming. - Disse ele, com a fala arrastada.
Ela assentiu.
─ Mas é apenas um pequeno rancho. - Ela respondeu gentilmente. ─ Não é nada tão
grande quanto o seu e de Cort. - Ela balançou a cabeça e suspirou. ─ Parece que você
poderia andar o dia todo e nunca sair de Latigo. - Ela franziu a testa levemente. ─
Latigo. Essa é a tira de couro que aperta a cilha.* - Ela murmurou.
Ele riu.
─ Bem, a história do rancho está em um livro em algum lugar. - Ele acenou com a mão
na direção de uma estante que ia do chão ao teto em uma sala adjacente. ─ Mas diz a
lenda que o primeiro proprietário, um nobre espanhol, prendeu a mão nele enquanto
prendia a cilha e foi arrastado até o portão da frente. Ele tinha um grande senso de
humor, aparentemente, porque esse foi o nome que ele deu ao rancho. Latigo desde
então.
─ Eu gosto. - Disse ela.
Vic olhou em direção ao filho.
─ Você nunca disse que ela era bonita. - Ele o repreendeu.
Cort riu quando se juntou a eles.
─ Você nunca perguntou. - Ele levantou a voz.
─ Chaca, alguma chance de café e bolo?
Uma mulher pequena e morena enfiou a cabeça para fora da cozinha.
─ Você vê isso? - Ela perguntou, indicando um equipamento em uma mesa de apoio. ─
Isso é um interfone. Você aperta o botão e eu respondo.
─ É mais divertido apenas gritar. - Cort retrucou com um sorriso.
Ela levantou as mãos.
─ Você é o homem mais problemático... - Ela parou quando viu Mina. ─ Oh, me
desculpe. - Disse ela, hesitante, e foi para a sala, limpando as mãos molhadas no avental
longo e bordado que usava. ─ Eu sou Chiquita, mas todos na família me chamam de
Chaca, para abreviar. - Disse ela suavemente.
─ Mina. - Foi a resposta suave. Ela lhe estendeu a mão. ─ Estou muito feliz em
conhecê-la. Eu sou a esposa de Cort.
─ Esposa! - Chaca ficou boquiaberta. ─ Você se casou? Eu estou tão feliz! Eu nunca
pensei que você iria desistir dessas mulheres horríveis e me trazer alguém tão gentil!
─ Obviamente, você subestimou minha capacidade de atrair alguém tão gentil. - Ele riu.
*Cilha - Cinta larga, de couro ou de tecido reforçado, que cinge a barriga das cavalgaduras para apertar a sela ou a carga. Para nós é
látego não latigo.

─ Isso é obviamente verdade. - Chaca suspirou novamente e balançou a cabeça. ─


Bienvenidos. - Disse ela a Mina. ─ Vou trazer café e bolo imediatamente, para você e
Cort.
─ E por que não para mim também? - Vic exigiu saber.
─ Porque você quebrou minha melhor travessa de cristal esta manhã e eu não estou
falando com você. - Ela bufou e foi para a cozinha.
─ Eu sentei nela. - Vic murmurou, ciente dos olhares divertidos. ─ Bem, ela a deixou
em uma cadeira para limpar e não me disse, e eu meio que me sentei com força. Coisa
maldita. Poderia ter arruinado minhas calças novas.
Cort apenas balançou a cabeça.
─ Então você se casou. - Vic sorriu para Mina. ─ Você me lembra a mãe de Cort. -
Acrescentou suavemente. ─ Os cabelos dela eram como os seus e ela era doce e gentil.
─ Mina também gosta de tricotar. - Cort acrescentou, sorrindo para ela. ─ Ela é uma
pessoa caseira. Oh, há outra coisa. Em alguns meses, nós vamos fazer de você um avô.
─ Um avô. - Vic teve que lutar contra as lágrimas. ─ E este estará aqui onde eu posso
conhecê-lo. - Ele disse calmamente. ─ Eu sinto falta de ver meus outros netos. Eles
moram muito longe. E não visitam muito.
─ Você nunca passa muito tempo em casa. - Cort falou.
─ Bem, eu estarei, quando este chegar. - Ele franziu a testa para Mina. ─ Ele se casou
com você por causa do bebê?
Mina riu.
─ Ele não sabia sobre o bebê até depois de pedir.
─ Bem!
─ Foram os dois dias mais felizes da minha vida. - Confessou Cort. ─ Eu não tinha
certeza de que ela me aceitaria.
─ Homem bobo. - Disse Mina suavemente. ─ Eu o amei no minuto em que o conheci.
─ Ela pisou no meu pé e me desafiou a prendê-la. - Cort riu, contando sobre ela.
Ela corou.
─ Ele zombou de mim porque eu estava falando sobre o quanto eu gostava de tricotar.
─ Juro que nunca mais zombarei de você. - Disse Cort, com a mão sobre o peito.
─ Você está dizendo isso apenas porque não quer que eu pise no seu pé novamente. -
Ela brincou. Mas no fundo de sua mente estava sua profissão e o equívoco dele de que
ela passaria a vida de casados tricotando e criando filhos. Bem, ela poderia fazer as duas
coisas, é claro. Mas ela teria que depender mais de seu grupo de mercenários para sentar
e contar a ela sobre as missões, em vez de ir com eles. Tinha a sensação de que Cort não
entenderia se soubesse o que ela fazia desde que começou a escrever livros. E haveria
turnês inevitáveis para autografar livros em vários locais, incluindo livrarias
independentes, onde os leitores amavam seu trabalho. De fato, havia uma turnê
agendada para o mês seguinte. Como ela ia contar a ele?

***

O café e o bolo estavam deliciosos. O café parecia ter feito o pai de Cort recuperar
o juízo, ele estava quieto, cada vez mais calado e sóbrio. Ele pediu licença depois de
uma xícara e subiu para o quarto.
─ Ele precisa ligar para a esposa. - Comentou Mina.
─ Boa sorte em convencê-lo a fazer isso. - Cort murmurou. ─ Eu tentei. Ele disse que
ela foi bastante enfática em não querer que ele voltasse à vida dela, e já tinha consultado
um advogado para o divórcio. - Ele fez uma careta. ─ Quando ele for notificado, vai
enlouquecer.
─ Nós vamos lidar com isso. - Disse ela simplesmente.
Ele procurou os olhos dela.
─ Há algo que eu não mencionei... - Ele começou. ─ porque você não sabia quem eu
realmente era. Mas tenho reuniões de negócios em vários estados, a partir de amanhã.
Você ficará por um tempo sozinha. Não gosto de deixar você aqui com papai, no atual
estado dele.
─ Gosto de escrever poesia, além de jogar. - Disse ela. Bem, ela tinha feito isso, no
passado. ─ Então, eu passo muito tempo no meu computador. Vou apenas tricotar,
compor, jogar videogame e assistir o pôr do sol.
Ele riu.
─ Poesia, hein?
─ Sim. - Era uma mentira e provavelmente ia voltar e assombrá-la. Tinha que encontrar
uma maneira de dizer a ele o que fazia na vida. Seria difícil, se ela fosse totalmente
honesta. Ela pensaria em um jeito enquanto ele estivesse fora.
─ Estou feliz que você tenha hobbies para mantê-la ocupada. - Disse ele. E se recostou
no sofá, observando-a. ─ Você parece cansada.
─ Estou um pouco. - Ela confessou. ─ Foi uma longa viagem, mesmo em um
confortável jato particular. - Ela tocou sua barriga. ─ Não acho que o bebê goste de
voar.
Ele sorriu de orelha a orelha. O bebê elevou seu coração. Ele nunca imaginou
como seria ter uma esposa grávida. Ele estava descobrindo um homem de família
escondido nas profundezas do seu coração.
─ Ele terá que se acostumar. - Ele brincou. ─ Ele herdará Latigo um dia.
─ E meu pequeno rancho. - Ela respondeu.
─ E seu pequeno rancho. - Ele se levantou e se inclinou para beijá-la suavemente. ─
Vamos. Eu vou mostrar o seu quarto. Vou pedir que um dos cowboys traga suas malas
também.
***

O quarto dela era muito maior do que a sua casinha no Wyoming. O banheiro
tinha o dobro do tamanho do quarto dela. Ela ficou horrorizada com o luxo extremo
disso. Tudo era feito em tons de azul e bege, e a cama parecia grande o suficiente para
cinco pessoas.
─ Este era o quarto da minha mãe. - Disse Cort suavemente. ─ Vou colocar você aqui
temporariamente, porque vou ficar muito tempo fora nas próximas semanas. Sinto
muito. - Acrescentou. ─ As coisas se amontoaram enquanto eu estava fora. Agora eu
tenho que me atualizar.
Ela se virou e olhou para ele.
─ Está tudo bem. - Disse ela, sorrindo ternamente. ─ Eu adoro este quarto.
Ele se aproximou e a puxou contra ele para beijá-la com lábios suaves e ternos.
─ Eu vou dormir aqui com você hoje à noite. - Ele sussurrou. ─ Mas eu terei ido antes
que você acorde, lamento.
─ Para onde você tem que ir? - Ela perguntou.
─ Nova york. Chicago. Miami. Denver. Los Angeles. - Ele sorriu tristemente. ─ O gado
é o nosso principal interesse, mas possuímos interesses em mineração, petróleo e muitos
imóveis. É preciso muito trabalho para manter tudo solvente, e eu sou o homem chave.
Ela passou as mãos sobre o peito largo.
─ É um império. - Ela refletiu.
Ele assentiu.
─ É. Lamento que não tenhamos uma lua de mel, mas eu vou compensar você quando
colocar as coisas em ordem. Onde você gostaria de ir? França? Itália? Espanha?
Ela riu.
─ Deixe-me ter um pouco de tempo para me acostumar a estar aqui. - Disse ela. ─
Antes de irmos para lugares estrangeiros. - Na verdade, ela esteve em muitos lugares
estrangeiros, a maioria deles onde pessoas sãs nunca iam.
─ Podemos fazer isso. - Ele acariciou os dedos longos dela, descansando em seu peito.
─ Mina, você terá que aprender algumas coisas. Como organizar jantares de negócios,
coquetéis, coisas assim. E você vai precisar de roupas novas. - Ele estremeceu com a
expressão dela. ─ Eu não estou tentando falar mal. Honestamente, não estou. Você se
veste bem para alguém com um orçamento limitado. Mas você não tem um orçamento
aqui. Vou providenciar um cartão ouro e você pode voar até Dallas, até a Neiman
Marcus, para fazer compras. Você precisará de um guarda-roupa totalmente novo.
Ela mordeu o lábio inferior.
─ Não agora, não é? - Ela perguntou, quase implorando.
Ele soltou um suspiro. Ela estava cansada, e isso era um choque cultural. Ele
podia entender a reticência dela.
─ OK. Não agora. Vou dar um tempo para você se instalar antes de prosseguirmos, ok?
Você vai se acostumar com isso.
Ela lembrou o quanto ele estava bebendo na festa de Pam Simpson e isso a
perturbou. Ela sabia que muitas festas sociais envolviam bebida. Ela não tinha medo do
pai de Cort, ou Bill McAllister, quando bebiam, mas ficava nervosa com estranhos que
bebiam demais. Como ela poderia explicar isso a Cort?
Ela ia começar a tentar quando o telefone tocou. Ele o tirou do suporte. Foi uma
conversa curta, mas o preocupou.
─ Eu tenho que ir hoje. - Disse ele, fazendo uma careta quando viu a expressão de
Mina. ─ Querida, me desculpe. Há uma disputa trabalhista em uma empresa que
possuímos em Ohio. Eu tenho que ir negociar com o encarregado.
Ela respirou fundo.
─ Você é um magnata, então precisa fazer coisas de magnata. - Traduziu ela. E forçou
um sorriso. ─ Eu vou ficar bem. Você vai fazer o que precisa fazer. - Ela não disse a ele
que teria que viajar em algumas semanas. Ela ainda não sabia como.
─ Você é um amor. - Ele se inclinou e a beijou com avidez. ─ Maldição. - Ele
murmurou enquanto a afastava dele. ─ Sentirei demais a sua falta.
─ Eu sentirei sua falta também. Você pode me ligar de vez em quando?
─ Claro. - Ele alisou os cabelos dela para trás. ─ Vou lhe dar o número de Parker. Se
papai ficar fora de controle, você pode ligar para ele e ele voltará para casa e acertará o
que estiver errado.
─ OK. Mas acho que seu pai e eu, vamos nos dar bem . - Acrescentou.
Ele riu.
─ Essa é minha garota.

***
Ele se foi em uma hora, depois de um adeus apressado. As coisas de Mina
estavam colocadas ao seu redor no quarto de hóspedes. Primeiro ela desempacotou o
laptop e o colocou em uma pequena mesa perto da janela que dava para as montanhas
Davis, além do enorme vale completamente coberto de gado vermelho. Seria um bom
lugar para escrever, ela pensou.
Ela guardou as poucas roupas e fez uma careta, porque a maioria delas vinha de
lojas baratas. Tinha um único vestido bom que usou na festa de Pam, mas precisaria de
roupas novas não apenas para os interesses comerciais de Cort, mas também para os
seus. Tinha que se vestir como parte do papel de uma escritora de sucesso. E os caras,
ela se perguntou. Como Cort ia reagir aos seus amigos mercenários? Ela revirou os
olhos. Bem, um desastre de cada vez.
Ela desceu as escadas, o celular no bolso da calça bege que usava com um suéter
amarelo. Chaca fez um sinal para ela.
─ O grande señor... - Ela disse. ─ desmaiou em seu quarto. Ele provavelmente dormirá
o resto do dia. - Ela fez uma careta. ─ Então eu vou alimentá-lo quando ele vier. Mas
você gostaria de comer algo? Uma omelete, talvez, ou uma salada?
─ Uma omelete parece muito bom. Posso sentar na cozinha com você? - Acrescentou,
depois de olhar para a enorme e luxuosa sala de jantar. ─ Estou um pouco intimidada
com tudo isso. - Ela confessou com uma risada suave. ─ Eu moro em um pequeno
rancho no Wyoming. Não estou acostumada a coisas refinadas.
─ Nem eu, quando vim trabalhar aqui. - Chaca riu enquanto seguia em direção a uma
enorme cozinha com uma pequena mesa e cadeiras no canto. ─ Foi difícil me ajustar.
Minha gente vive mais perto da fronteira, em uma pequena vila chamada Malasuerte.
Tínhamos cinquenta pessoas e duas vacas leiteiras Jersey.* - Ela brincou.
Mina riu.
─ Eu tenho gado Black Angus no meu rancho. Assim como meu amigo, Bart, primo de
Cort.
*Jersey é uma raça de gado bovino da subespécie Bos taurus taurus e originária da Ilha de Jersey, no Canal da Mancha, entre a
França e a Inglaterra.

─ Você me surpreendeu quando se apresentou como a esposa de Cort. - Ela balançou a


cabeça. ─ Tantas mulheres deslumbrantes na vida dele, nenhuma delas com caráter ou
outro interesse, além de dinheiro. - Ela olhou para Mina. ─ E ele me traz uma mulher
calma e doce, cujos olhos não têm um traço de ganância.
Mina sorriu.
─ Eu não ligo para dinheiro. Se eu tiver o suficiente para pagar minhas contas, fico
feliz.
 ─ É o mesmo comigo.
─ Você é casada?
─ Ah, sim, há vinte anos. Meu marido é o capataz aqui, um trabalho de grande
responsabilidade. A família possui touros no valor de milhões e milhões de dólares.
Temos guardas de segurança em tempo integral aqui, e não apenas para os touros.
Tivemos problemas com drogas passando pela fronteira, no extremo sul da propriedade.
Não é frequente, mas as pessoas envolvidas não hesitam em matar alguém que
atrapalhe.
─ Deus do céu!
─ Nunca houve um problema de segurança aqui, em casa. - Chaca acrescentou
rapidamente. ─ E nós temos a patrulha de fronteira também. Essas pessoas são muito
boas no que fazem.
─ Isso me faz sentir melhor. - Disse Mina.
─ O bebê, você está feliz com ele?
Mina respirou fundo.
─ Muito feliz! - Ela disse. ─ Todo dia é como um milagre. Mal posso esperar para
realmente aparecer. - Ela sorriu. ─ Estou ansiosa para usar roupas de grávida. Acho que
isso parece idiota.
─ Parece uma mulher apaixonada que quer muito seu filho.
─ É como um sonho. Eu me apaixonei por um cowboy. Esperava morar em uma casa
pequena, lavar roupa e cozinhar...
─ Eu faço essas coisas por você. - Chaca disse com um sorriso. ─ Então você tem
tempo para sentar e sonhar com o bebê.
Ela riu.
─ Bem, eu escrevo muito. Então, eu vou ficar no meu quarto um pouco, especialmente
enquanto Cort estiver fora. Ele faz essas viagens com frequência?
Chaca parecia incomodada. Ela não respondeu, ocupando-se com a preparação da
omelete.
─ Chaca? - Mina insistiu.
Chaca tirou a omelete do fogão e a colocou em uma travessa. Desligou o
queimador antes de levar a travessa até a pequena mesa onde Mina estava.
─ Ele raramente está em casa. - Confessou ela, corando um pouco. ─ É uma grande
responsabilidade, o negócio. Quando o pai esteve em casa pela última vez, ele tirou
grande parte do fardo do senhor. Mas desde a conversa sobre o divórcio, Vic está
perdido. Ele não faz nada, então Cort tem agora que fazer tudo. É uma vergonha.
Quando Parker morava em casa, ele também ajudava nos negócios. - Ela terminou de
arrumar a mesa e serviu café em uma xícara para Mina. ─ É demais para um homem.
Eu gostaria de dizer isso a ele, mas eu só trabalho aqui.
─ Eu digo a ele. - Prometeu Mina.
─ Se ele apenas delegasse. - Chaca suspirou. ─ Ele tem pessoas competentes
administrando o negócio imobiliário, mas ele mesmo se força a se envolver em todas as
partes. Como esta greve. Ele tem negociadores e um gerente comercial que poderia
resolver isso sozinhos, mas ele não confia em ninguém para fazer isso, a não ser ele
próprio.
─ Vou ver o que posso fazer. - Prometeu Mina.
Chaca sorriu.
─ Vamos esperar mudanças, então. Aqui, coma sua omelete antes que esfrie.
─ O café está bom. - Disse Mina.
─ É descafeinado. - Foi a resposta irônica. ─ Cafeína não é boa para o bebê.
Mina apenas riu.

***
Victor saiu do quarto perto da hora de dormir. Mina estava no quarto de hóspedes
com a porta aberta, trabalhando no computador. Foi uma coincidência maravilhosa que
ela estivesse trabalhando em um livro ambientado no Texas, e aqui estava ela no melhor
lugar para pesquisá-lo. A vida, ela pensou, era interessante.
Ela estava no meio de um tiroteio entre ladrões e vaqueiros em um cenário atual
quando Vic parou na porta, franzindo a testa.
─ O que você está escrevendo? - Ele perguntou.
Ela não conseguia sair da cena que ele interrompeu. Ela se virou devagar, os olhos
vazios enquanto tentava passar da fantasia à realidade.
Ele entrou no quarto, as mãos nos bolsos, e franziu a testa quando notou o livro na
mesa dela.
─ Ei, eu li esse livro. - Disse ele, pegando a cópia de SPECTRE. ─ É realmente ótimo!
─ Obrigada. - Disse ela sem pensar. E então corou violentamente quando percebeu o
que havia feito.
Ele não notou a consternação dela. Estava olhando para a página do autor na aba
traseira, a que tinha uma foto de Mina.
─ Willow Shane. - Ele murmurou. E olhou para Mina com repentina compreensão. ─ É
você? - Ele perguntou.
Ela rangeu os dentes.
─ Sim. - Disse em voz baixa.
─ Bem! - Ele soltou um suspiro e riu. ─ Um dos meus filhos o comprou para a esposa e
ela enlouqueceu. Ela compartilhou com o clube de leitores e até enviou cópias para
amigos de todo o país.
─ Estou muito lisonjeada. - Disse ela, e foi sincera.
─ Então você é tricoteira, rancheira e escritora. - Ele sorriu. ─ Minha esposa sempre
quis escrever um livro. - Ele parou. ─ Ela é uma boa mulher. Melhor do que eu merecia.
Eu a traí porque ela prestou mais atenção à sua família do que a mim. O irmão dela
acabou de morrer de câncer e a família estava sofrendo. Eu fui um idiota. - Ele sorriu
tristemente. ─ Agora eu a perdi, e ela é a primeira mulher que realmente amei, exceto
minha primeira esposa.
Ela salvou o trabalho e se levantou.
─ Quer falar sobre isso? - Ela perguntou.
Ele encolheu os ombros.
─ Bem, sim.
─ Vamos lá para baixo. Chaca se foi, mas eu posso fazer café.
Ele sorriu.
─ OK.

***

Ele contou a ela tudo sobre a esposa, Sandra, e seu explosivo encontro.
─ Ela estava sentada à mesa na praia e eu tropecei na bolsa dela. - Ele lembrou, seus
olhos escuros ternos com a lembrança. ─ Ela me ajudou a levantar e pediu desculpas e
eu olhei nos olhos mais azuis que eu já vi. Eu me apaixonei imediatamente. Ela não
sabia que eu era rico. Mais ou menos como você, com meu filho. - Ele acrescentou com
um sorriso. ─ Ela se apaixonou por um homem de negócios. Nós nos casamos e eu a
trouxe para Latigo. Eu pensei que ela ia desmaiar. Ela trabalhou como repórter de jornal
em um pequeno jornal semanal, mas atuava como repórter de um dos maiores jornais de
Vermont, perto da casa dela. Ela era uma boa escritora. - Ele fez uma pausa. ─ Ela
queria escrever um romance, mas não achava que tinha talento.
─ Muitos de nós que escrevemos sentamos e continuamos com isso. - Ela disse
melancolicamente. ─ Nunca tive muito talento, mas fui persistente e tinha amigos que
acreditavam em mim. Eles me incentivaram a enviar um manuscrito para uma editora. -
Ela suspirou. ─ Demorou algumas tentativas, mas finalmente vendi um livro. SPECTRE
é, na verdade, meu quarto romance, mas é o que virou o centro das atenções. Está na
lista do USA Today e está subindo, e acabou de entrar na lista do New York Times. -
Ela olhou para ele preocupada. ─ Eu tenho que sair em turnê daqui a duas semanas...
─ Não tem problema, temos dois aviões e um jato - Ele brincou. ─ Podemos levá-la e
trazê-la.
─ Isso seria legal. Eu odeio voo comercial.
─ Eu também. É por isso que temos dois aviões e um jato. - Ele confidenciou com um
sorriso. Ele tomou um gole de café. Fez uma careta. E olhou para ela de repente. ─
Lembro de algo da capa do livro. Você realmente se arrastou por pântanos na América
Central com um grupo de mercenários para pesquisar SPECTRE? - Ele perguntou.
Ela assentiu.
─ O grupo me adotou após o meu primeiro livro. - Ela riu. ─ Eles me submeteram a um
curso de treinamento que você nem imaginaria. Então eles me equiparam e me levaram
nas missões. Acabei de voltar da Nicarágua. Nós resgatamos uma criança sequestrada.
Ainda estou tomando comprimidos de quinino para garantir que não sofra de malária.
 ─ Você sabia que estava grávida quando foi para a Nicarágua? - Ele perguntou
preocupado.
─ Não. - Ela confessou. E suspirou. ─ Falei com meu médico antes de deixarmos o
Wyoming. Nesta fase da gravidez, ele disse que eu deveria ficar bem. No entanto, vou
ter que encontrar um obstetra local. - Acrescentou.
─ Vamos fazer isso amanhã. - Disse ele. E sorriu. ─ E eu vou parar de beber. Por um
tempo, pelo menos.
Ela riu.
─ OK.
***
Era divertido estar com Vic. Quando ele não estava bebendo, era encantador. Ele
foi com ela, no Mercedes, consultar um amigo médico obstetra. Ele até ficou sentado e
esperou enquanto ela preenchia todos os formulários e era examinada pelo Dr. Truett.
─ Você está indo muito bem. - Disse Truett. ─ Apesar da sua aventura. - Acrescentou
com uma risada, depois que ela contou a ele sobre sua viagem de pesquisa. ─ Continue
com o quinino. Também estou adicionando uma receita de vitaminas pré-natais. Está
tendo náusea?
─ Só tenho um pouco. - Disse ela. ─ Passa muito rapidamente.
─ Se você tiver algum problema, venha me ver.
─ Eu virei.
─ E tente ficar longe das selvas, pelo menos até o bebê nascer. - Acrescentou ele,
ironicamente.
Ela riu.
─ Eu farei isso. Muito obrigada.

***

─ E então? - Vic perguntou quando eles estavam do lado de fora.


─ Ele disse que estou indo muito bem. - Respondeu ela. ─ E me deu uma receita de
vitaminas.
─ Vamos comprá-la no caminho de casa. - Disse ele.
─ É muito gentil da sua parte vir comigo. - Respondeu ela.
─ Sinto muito, Cort não pode estar aqui para fazer isso. - Ele respondeu tristemente. ─
Eu tenho sido uma peso para ele ultimamente. Vou voltar aos negócios da fazenda.
─ Isso ajudaria. - Disse ela. ─ Você precisa manter a mente ocupada, para não ter muito
tempo para ficar remoendo.
─ Eu não teria muito tempo para remoer se pudesse fazer Sandra me ouvir. - Ele
suspirou. ─ Eu realmente a quero de volta.
─ Dê tempo a ela. - Disse ela. ─ Você pode escrever uma carta para ela. - Ela sugeriu.
Ele apertou os lábios.
─ Eu não sou muito bom com palavras. Mas eu poderia mandar um poema para ela e
alguns emojis. - Ele riu.
─ Vale a pena tentar.
─ Suponho que sim.
Ela riu, lembrando-se do caçador na festa de Pam Simpson em Catelow.
─ O que é engraçado?
─ Eu estava lembrando de uma festa que a Sra. Simpson ofereceu para mim, na casa
dela. Um dos meus leitores é um caçador de cervos. Ele leva meus livros para a floresta
para ler enquanto espera pacientemente o cervo aparecer.
─ Sandra é uma das suas maiores fãs. - Ele murmurou. ─ Você se importaria de ser
usada como uma espécie de suborno?
Ela começou a rir.
─ Não. Eu não me importaria. Sinta-se à vontade.
─ Então eu farei isso, assim que chegarmos em casa!

***
Ela telefonou para Bart para ver como as coisas estavam indo em sua casa,
enquanto Vic subia as escadas para seu quarto para mandar uma mensagem para sua
esposa em Vermont.
─ Oi. - Disse ela. ─ Como vão as coisas?
─ Ótimas! Eu verifiquei com Fender. Seu rancho está seguro, sem problemas por lá.
Como estão as coisas em Latigo?
─ Boas. Acabei de ir a uma consulta com o obstetra com o pai de Cort. Ele é muito
legal.
─ Legal? Vic? - Bart se surpreendeu.
─ Bem, ele tem sido legal comigo. - Ela retrucou. ─ Ele está triste porque a esposa o
deixou.
─ Ele a estava traindo!
─ Ele me falou sobre isso. E me disse o por que também. Ele não é um homem mau. Só
tem problemas de insegurança.
─ Rapaz, há muito disso por aí. - Bart riu. ─ Bem, desde que ele seja legal com você,
isso é o que importa. Como está o Cort?
─ Eu não sei. Ele teve que resolver uma greve em alguma empresa, depois teve que ir a
muitos lugares resolver outros negócios. Pelo que entendi, ele quase nunca está em casa.
Sinto falta dele. Mas estou trabalhando no novo livro.
─ Já disse a ele? - Ele perguntou gentilmente.
─ Na verdade não. O pai dele leu SPECTRE. E me reconheceu pela contracapa.
─ Mina, você realmente precisa contar a Cort antes que ele descubra da maneira mais
difícil.
─ Eu sei. Eu deveria ter dito a ele há muito tempo. Eu simplesmente não sabia como.
Ele não vai ficar feliz com o meu grupo de mercenários, eu simplesmente sei disso.
Então, eu tenho adiado.
─ Ouça, esse livro está em todas as principais livrarias da América e está alcançando os
primeiros lugares. Quanto tempo você acha que vai demorar até que ele veja sua foto na
capa do livro e faça a conexão?
─ A foto não se parece muito comigo. - Disse ela.
─ Nos círculos que Cort frequenta, seu livro é muito lido. É um livro de capa dura caro.
─ Eu sei. Eu vou contar assim que ele chegar em casa. - Ela prometeu.
─ Faça isso. - Disse ele. ─ E cuide-se. Sinto sua falta.
Ela riu.
─ Também sinto sua falta, meu amigo. Falo com você em breve.
─ Ok.
Ela mal tinha acabado de desligar o telefone quando ele tocou novamente.
─ Alô? - Ela atendeu.
─ Oi! - Era Ry, o líder do seu grupo de mercenários. ─ Eu queria ver como você estava
no novo livro e se precisava de ajuda.
Ela riu.
─ Eu preciso, eu preciso!
─ Podemos chegar ao Wyoming...
─ Mas não estou no Wyoming. - Disse ela. ─ Estou casada, grávida e moro em uma
grande fazenda no oeste do Texas.
─ Uau! Parabéns! - Ele disse com genuíno prazer. ─ Então, que tal nos dizer como
chegar aonde você está? Porque temos novas histórias para compartilhar!
─ Combinado! - Ela respondeu.

CAPÍTULO CATORZE
Victor desceu as escadas esfregando as mãos e sorrindo.
O rosto de Mina se iluminou.
─ Não me diga. Funcionou!
─ Funcionou. - Ele riu. ─ Bonequinha, funcionou! Ela disse que faria qualquer coisa
para conhecê-la. Inclusive discutir uma segunda chance para o nosso casamento.
─ Oh, eu estou tão feliz. - Disse ela com um suspiro.
─ Eu também. Obrigado. - Ele acrescentou calorosamente.
─ De nada. Agora preciso de um favor. - Ela fez uma careta. ─ Você pode não gostar.
As sobrancelhas dele arquearam.
─ Peça.
─ Você sabe o grupo de mercenários com o qual eu saio, e estive na Nicarágua?
Ele assentiu.
─ Bem, obviamente, não posso rastejar pelas selvas grávida, mas preciso de algumas
informações sobre o contrabando de drogas para o livro em que estou trabalhando, e os
caras fizeram interceptações em outros países...
─ E eles querem vir falar com você. - Ele adivinhou. E riu da expressão dela. ─ Diga
para eles virem. Mas espere até Sandra chegar aqui. - Ele revirou os olhos. ─ Ela vai
ficar louca quando souber que eles estarão aqui. Ela costumava sair com agentes da
narcóticos, mercenários e ex-membros da máfia...
─ Você está brincando! - Mina exclamou alegremente.
─ Eu não estou. Você entenderá quando a conhecer.
─ Quando ela vem? - Perguntou Mina.
─ Depois de Amanhã.
─ Então vou mandar uma mensagem para Ry e dizer para ele vir com os caras depois de
amanhã. - Prometeu. ─ Vai ser muito divertido!
Ele balançou a cabeça.
─ Que mudança você já fez aqui.
Ela sorriu.
─ Obrigada. Eu adoro Latigo. Vou ser muito feliz aqui.

***
Dois dias depois, Vic entrou pela porta com sua esposa, Sandra, recém-chegada
do aeroporto de El Paso. Ela não era nada do que Mina esperava. Sandra era pequena e
magra, com olhos cor de âmbar, cabelos castanhos e um sorriso deslumbrante.
─ Willow Shane, e eu realmente posso falar com você! - Ela exclamou enquanto
abraçava Mina. ─ Eu não pude acreditar quando Vic me disse! E você tem um grupo de
mercenários para a pesquisa. Eu pensei que morreria de felicidade!
─ Estou tão feliz em conhecê-la. Ele... - Ela indicou Vic. ─ ficou muito triste sem você.
Ela virou os olhos para o marido e apertou os lábios.
─ Sim, bem, temos algumas coisas para resolver.
─ Um casal em casa teve esses problemas e foi a um psicólogo. - Disse Mina
gentilmente.
Vic suspirou.
─ Eu iria a um psicólogo hoje se Sandra me desse outra chance.
─ Você iria? - Sandra perguntou surpresa. ─ De verdade?
Ele assentiu. E encolheu os ombros.
─ Acho que tenho mais problemas do que imaginava. - Ele olhou para Mina e sorriu. ─
Parece que tive sorte com a nora, no entanto. Ela é uma maravilha.
─ Ela é minha autora favorita. - Respondeu Sandra. E tirou a jaqueta jeans. ─ Eu tenho
cerca de mil perguntas... oh, querida... - Sua voz parou quando ela viu o rosto de Mina.
─ Desculpe! - Mina se levantou e correu para o banheiro a tempo de perder o almoço.
Ela se limpou e voltou com uma toalha molhada, banhando o rosto no caminho.
─ Meu Deus, você tem um vírus ou algo assim? - Sandra perguntou preocupada.
─ Estou grávida. - Ela confessou e riu.
─ Mulher de sorte. - Sandra disse suavemente. ─ Estou muito velha para engravidar e
estava muita focada na carreira para querer, enquanto era jovem. Perdi o barco.
Mina colocou um braço em volta dela.
─ Você pode compartilhar o meu. Gostaria de ter o enjoo matinal ou a azia primeiro?
Sandra começou a rir e retribuiu o abraço.

***
Enquanto isso, Cort estava terminando as negociações com o sindicato para
finalizar um novo contrato e se sentindo culpado por deixar sua nova esposa sozinha
com seu pai em Latigo. Ele estava infeliz. Sentia falta de Mina. Queria ir para casa. Mas
houve uma reunião que ele teve que participar com alguns líderes empresariais de
Akron que estavam envolvidos nas empresas. Era em uma festa.
Antigamente, ele adorava se misturar com mulheres bonitas e sempre havia
mulheres bonitas, casadas ou solteiras; e de beber até que se sentisse agradavelmente
entorpecido. Mas agora o álcool e outras mulheres haviam perdido o apelo. Ele devia,
pensou, estar ficando velho.
Uma morena linda com quem ele teve um breve romance se agarrou a ele na festa
e ele percebeu tardiamente o flash de uma câmera de algum tipo. Mas ignorou. Alguém
estava sempre tirando fotos de outras pessoas, ou selfies, e a sala estava escura.
Um flash seria necessário. Ele se perguntou por que a maioria dos negócios a que
comparecia era realizada com tanta luz fraca. Provavelmente, ele disse com uma risada
silenciosa, desse modo alguns mulherengos passavam despercebidos.
Ele esperava que seu pai estivesse se comportando. Certamente, Mina poderia
ligar para Parker se precisasse de ajuda com ele. Mas ela parecia muito capaz de lidar
com Vic, mesmo quando ele estava bêbado. Foi uma revelação, vê-la fazer isso, com
seu passado traumático. Muita de sua vida foi devastada pelos abusos de pessoas
bêbadas, incluindo sua própria mãe.
Ele ligou para ela na noite anterior, apenas para se certificar de que ela estava
bem. Ela riu e disse que, exceto pelo enjoo matinal, as coisas estavam bem. Vic parou
de beber e estava conversando com a ex-mulher. Ela não acrescentou que Sandra estava
lá em Latigo ou que seu grupo de mercenários chegaria em breve. Ela não teve tempo,
porque ele foi interrompido por outra ligação comercial urgente e teve que desligar. Ele
estava impaciente consigo mesmo por isso. Não deveria tê-la interrompido. Bem, ele
logo chegaria em casa e compensaria sua ausência.

***
Ele viu uma das mulheres solteiras presentes tentando interessar um homem
casado muito rico, mas o homem se afastou. Seus olhos focaram em Cort e ela se moveu
em direção a ele como um predador furtivo. Ele riu para si mesmo. Esse tipo de mulher
não o atraía mais. Ele comparou esta linda serpente com sua doce e caseira esposa que
gostava de tricotar e de ler romances. Mina nunca faria algo assim. Ela nunca procuraria
outro homem. Ele se sentiu bem com isso. Ela era exatamente o que ele precisava, uma
esposa que ele poderia deixar sozinha quando necessário, sem ter que se preocupar se
ela o estava traindo.

***
Era bom ele não poder ver o que estava acontecendo em Latigo dois dias depois.
Mina e Sandra estavam sentadas na sala com cinco homens vestidos com roupas
descontraídas. Mas eles não eram pessoas descontraídos. Era o grupo de mercenários de
Mina, e a felicidade deles com o seu casamento e gravidez a fez se sentir muito bem.
Três deles tinham esposas e filhos.

***
─ Quando o bebê chegar... - Disse Ry com um sorriso. ─ ensinaremos a ele a arte da
camuflagem!
Mina riu.
─ Mal posso esperar.
─ Quero saber tudo sobre esse período que você mencionou no Congo. - Disse Sandra,
com um olhar de desculpas para Mina.
─ Eu também. - Mina riu. ─ Mas primeiro... - Disse ela, pegando o telefone celular e
acessando o bloco de notas. ─ preciso saber sobre o contrabando de drogas na fronteira
com o Texas e estratégias de combate.
─ Será um prazer. - Disse Ry. O rosto dele endureceu. ─ Um dos meus homens saiu
para trabalhar na Patrulha da Fronteira. Ele foi morto por um grupo de traficantes de
drogas. A maioria deles está bem armada e não tem nada a perder. Eles não se importam
em matar funcionários do governo, fazendeiros ou qualquer outra pessoa que atrapalhe
seu caminho.
Mina assentiu, já tendo pesquisado o máximo possível sobre contrabando na
internet. No entanto, não havia comparação com homens que sabiam disso por
experiência própria.
─ Estamos tendo problemas com traficantes de drogas agora. - Vic interrompeu, tendo
se juntado a eles com Chaca logo atrás, carregando uma bandeja com café e xícaras. ─
Obrigado, Chaca. - Acrescentou ele, quando ela deixou a bandeja, sorriu e os deixou.
─ Interessante. - Disse Ry. ─ Como assim?
─ Eles estão usando a fronteira sul de nossa fazenda como uma rota comercial, pode-se
dizer. - Respondeu Vic. ─ Temos boas informações de que eles fazem parte do Zetas.*
Camuflagem, equipamentos e armas militares, tudo. Um dos nossos cowboys foi
baleado em minha própria terra.
Ry apertou os lábios e seus olhos começaram a brilhar. Ele olhou para seus
homens e viu o mesmo entusiasmo em seus rostos. ─ É com esse tipo de coisa que
realmente gostamos de intervir. - Disse ele a Vic. ─ Pense em nós como um grupo ex-
militar em uma missão secreta pro bono.* Ninguém saberá, exceto nós.
Vic assobiou baixinho.
─ Meu filho realmente não gostaria disso.
─ Seu filho realmente não precisa saber. - Ry riu.
Mina gemeu interiormente. Isso seria mais uma coisa que ela teria que explicar
para Cort. Mas se isso ajudasse a resolver o problema...
─ E não, você não pode vir conosco desta vez. - Disse Ry a Mina com firmeza.
Ela fez uma careta para ele.
─ E eu? - Sandra perguntou animadamente. ─ Eu fui a uma operação da SWAT uma
vez. E posso atirar com uma automática .45.
─ Nem pensar. - Vic disse imediatamente, e deu a ela um olhar intenso. ─ Eu não vou
deixar você se arriscar. Por nada.
Sandra corou um pouco e sorriu.
─ Bem, talvez eu espere ouvir sobre tudo isso quando vocês voltarem. - Ela disse a eles.
─ Não se mate. - Disse Mina com firmeza. ─ Vai ser muito ruim para o meu livro. - Ela
disse sorrindo.
─ Ok. - Disse Ry, retribuindo o sorriso.
─ Oh, as pessoas que você conhece. - Disse Sandra com um suspiro, depois que Vic
chamou seu capataz para mostrar aos homens onde os invasores estavam lhe causando
mais problemas. Era uma fazenda enorme. Mesmo com a cerca, era impossível observar
a fronteira noite e dia. Bem, para os fazendeiros. Ry tinha uma solução para isso. Ele e
seus homens montaram câmeras remotas em lugares imprevisíveis e sentaram-se para
esperar pelos resultados.
Na terceira noite na residência, houve uma súbita onda de atividade na fronteira.
Ry e seus homens, já com roupas de camuflagem cor de areia, juntaram suas armas com
rostos sérios e saíram para enfrentar a ameaça.

*Los Zetas - É uma organização criminosa do México, um dos mais conhecidos cartéis do país. O grupo foi formado em 1999 por
desertores da tropa de elite do exército mexicano, atuando inicialmente como braço armado do Cartel do Golfo contra as incursões
do rival Cartel de Sinaloa até 2010, ano em que ocorre a ruptura e sua ascensão como organização independente, provocando uma
intensa rivalidade com seus antigos empregadores.  A organização faz uso de armamentos e equipamentos sofisticados, bem como
o emprego de estratégia militar de alta complexidade em suas operações. O cartel é reconhecido como o mais violento de todos por
cometer atrocidades como mutilação, decapitação, tortura, esquartejamento e exposição de suas vítimas em vias públicas como
forma de intimidar seus adversários e opositores. Além do tráfico de drogas, a organização também inclui em suas atividades
criminosas assassinatos, sequestros e extorsões de estrangeiros. 

* Pro bono é a forma reduzida da locução em língua latina pro bono publico, que significa "pelo bem público" ou "em benefício do
público". Trata-se de uma forma de trabalho voluntário que, ao contrário do voluntariado tradicional, requer habilitação profissional,
embora não seja remunerado. 
Mina e Sandra monitoraram a investida por uma rede de monitores com visão
noturna e áudio que Ry e os caras haviam instalado em um quarto de hóspedes.

***
Cort estava em mais uma festa de negócios, conversando sobre um acordo
comercial com alguns homens do Japão. Aparentemente, a anfitriã era outra fã de
Willow Shane, porque tinha uma cópia de SPECTRE em uma mesa de centro, assim
como a esposa de outro empresário que ele tinha conhecido dias antes.
─ Ela é uma autora maravilhosa. - Disse a mulher para uma mulher perto de Cort. ─ Ela
realmente participa das missões na selva com esse grupo de mercenários. Ela pode usar
qualquer tipo de arma que existe e é faixa-marrom no Tae Kwon Do. Além de tudo isso,
ela administra uma fazenda própria em algum lugar no noroeste.
─ Incrível. - Foi a resposta. ─ Eu adoraria conhecê-la.
─ Mas você pode. - Disse a outra mulher. ─ Ela vai autografar os livros na Silver
Bookmark, aqui na cidade em algumas semanas em uma turnê!
─ Ela vai? Vou anotar na minha agenda.
─ Mal posso esperar. - Foi a resposta. As mulheres se afastaram e Cort balançou a
cabeça. Ele teve sorte de se casar com uma mulher que só queria tricotar e criar bebês,
não uma autora desvairada que arriscava sua vida por uma história e saía em turnê para
vender livros. Ele se perguntou se a misteriosa Willow Shane ainda tinha uma vida
familiar. E ela era fazendeira? Como diabos ela podia administrar uma fazenda e estar
na estrada o tempo todo, ele se perguntou.
Bem, não era problema dele. Ele olhou para o relógio. Estava pronto para voltar
ao hotel e fazer as malas. Com alguma sorte, salvo outros problemas, poderia voar para
casa de manhã. Ele sentia falta de Mina. E se lembrou da longa e doce sessão na cama e
esperou ansiosamente por mais delas.
Claro, havia o enjoo matinal. Ele sabia que ela estava passando por momentos
difíceis agora. Mas ele poderia abraçá-la a noite toda, mesmo que ela não estivesse
disposta a ter intimidade. Ele pensou no bebê e sorriu. Que feliz diferença Mina já havia
feito em sua vida. Ele sentiu pena do pai, que jogou fora sua própria chance de
felicidade com a repórter de Vermont. Talvez um dia o homem mais velho parasse de
ser um mulherengo e realmente se acalmasse. Ele não sabia o que estava perdendo.

***
Mina estava colada na cadeira em frente a rede de monitores no quarto de
hóspedes, com Sandra sentada em uma cadeira ao lado dela. Nenhuma das duas
mulheres queria perder o embate. Seria grandioso, elas sabiam disso.
─ Isso é tão emocionante. - Confidenciou Sandra. ─ Não sou repórter há vários anos.
Sinto falta disso terrivelmente. É difícil desistir dessas doses de adrenalina.
─ Eu sei exatamente o que você quer dizer. - Ela suspirou. ─ Eu vou ficar presa em casa
no futuro imediato. Eu realmente não posso sair com os caras enquanto estiver grávida.
Sandra deu um tapinha na mão dela.
─ Isso é quase tão bom. - Disse ela, indicando os monitores. ─ Veja!
Enquanto ela falava, um pequeno grupo de homens em equipamento militar,
segurando o que pareciam armas automáticas, passou pelas câmeras. Havia visão
noturna e som, então o que eles diziam era audível. Eles estavam falando em espanhol,
em voz concisa e raivosa. Felizmente, eles não estavam falando rápido como algumas
pessoas, de modo que Mina entendeu quase todas as palavras. O que ela ouviu gelou seu
sangue.
─ Eles estão conversando sobre a casa da fazenda. - Disse ela a Sandra, e seu rosto
ficou pálido. ─ Dois deles querem resgate!
─ Seus caras estão lá fora. Eles vão acabar com eles. - Começou Sandra.
─ Você não percebe. - Disse Mina com urgência. ─ Existem dois grupos! Um não está
associado aos traficantes. São dois homens que se separaram dos outros e só querem
reféns. É um grande rancho e eles sabem que pessoas ricas vivem aqui. Eles acham que
é dinheiro fácil, comparado ao tráfico de drogas!
Enquanto falava, ouviu a porta da frente abrir violentamente. Mina correu para o
armário e desembalou sua .45. Ela pegou o carregador o colocou na arma e engatilhou.
Ela esperava que um dos caras do grupo estivesse monitorando o áudio dessas câmeras,
para que soubessem que Mina e os outros estavam em perigo. Mas ela não podia contar
em ser resgatada.
─ Fique atrás de mim. - Ela disse a Sandra, e de repente era outra pessoa. Ela era
Willow Shane até os dentes.
Sandra não discutiu. Ela fez o que lhe foi dito.
Mina foi sorrateiramente para a porta. Ela queria falar com Vic, que havia entrado
no quarto para assistir TV e pedir para ele não se mover. Ela olhou por cima do ombro e
viu Sandra mandando, furiosa, uma mensagem de texto. Sandra olhou para cima e
assentiu. Mina assentiu também. Obviamente, as mulheres tiveram o mesmo
pensamento.
Houve uma discussão em voz baixa sobre quem permaneceria no andar de baixo e
quem procuraria alguém para fazer de refém. Esta era uma casa grande e rica. Quem
morasse aqui pagaria, e pagaria bem, por quem quer que fosse sequestrado. Eles soavam
como se estivessem drogados, Mina percebeu. Isso tornaria tudo mais difícil. Realmente
não se podia argumentar com alguém cujo cérebros estava de férias. A mão dela apertou
a .45. Sua boca estava seca. Suas mãos estavam úmidas. Ela riu interiormente daqueles
sinais visíveis de medo. Mas o medo era apenas um sintoma. Precisava de controle,
aprendeu isso com os caras. Ela se aproximou da porta.
Passos soaram no tapete macio. Ela fechou os olhos e ouviu. Apenas uma pessoa,
ela supôs. Apenas uma.
O homem estava tentando andar furtivamente, mas não estava funcionando. Mina
o ouviu. Ela tinha que agir antes que Vic decidisse ceder aos seus instintos de proteção e
saísse do quarto. Provavelmente seria fatal.
Então ela saiu para o corredor em uma postura atlética, pernas afastadas, joelhos
flexionados, apontando para o alvo, ombros à frente dos quadris. Era perfeito para
controlar o coice e os disparos rápidos, se necessário. O alvo era um homem pequeno e
uniformizado, com um sorriso no rosto.
─ Ah, então você tem uma arma. - Disse ele em inglês com sotaque. ─ Eu também
tenho uma. Deixe-me mostrar como é fácil atirar com ela! - Ele levantou a pistola e
seus olhos sinalizaram que ele pretendia atirar nela.
Ela atirou no joelho dele antes que ele pudesse puxar o gatilho. Ele gritou
roucamente, mas antes que ele pudesse levantar a arma, ela pulou para frente e chutou a
arma da mão dele.
─ ¡Alto! - Ela disse. ─ Si le gusta continuar con su vida, no mueve. ─ Seus olhos, por
cima do cano da arma, estavam frios como gelo.
O homem caído, obviamente sem pressa de morrer, obedeceu a ordem e ficou
imóvel, gemendo. Sandra quase bateu palmas.
Vic saiu para o corredor, chocado quando viu o homem no chão e Mina em pé
sobre ele ao lado de Sandra.
Quando ele começou a falar, o segundo homem subiu as escadas correndo com a
arma apontada, mas ele não teve a chance de usá-la. Uma bala o encontrou primeiro. Ele
parou, deu meia volta e rolou os degraus gemendo.
Ry entrou pela porta, quase ofegante. Foi uma viagem muito apressada de volta e
ele correu todo o caminho desde o caminhão na entrada até as escadas.
─ Vocês estão bem? - Ele perguntou imediatamente. Mina riu, sentindo-se fraca. ─ Sim,
mas há um cara de costas aqui em cima que não está se sentindo tão bem.
─ Eu tenho outros três no caminhão. - Disse Ry. ─ Vamos chamar a Patrulha da
Fronteira e dar a eles esses cinco de presente.
─ É melhor chamar uma ambulância para esse. - Ela disse a Ry. ─ Acho que ele vai
precisar de muitos reparos importantes na rótula.
Ry assentiu.
─ Este também vai precisar de um médico. - Disse ele, indicando o homem que gemia
ao pé da escada. ─ Melhor ligar para o escritório do xerife também. Não toque em nada.
Eles terão que processar a cena do crime para poder prestar queixa. Você precisará fazer
uma declaração também.
Ela assentiu, deixando a pistola pender ao seu lado.
─ Puxa, fico feliz que você tenha me submetido ao curso de treinamento. - Disse ela. ─
Eu poderia estar morta.
─ Eles geralmente não matam pessoas que planejam sequestrar até receber o dinheiro. -
Ele retrucou.
─ Sim, bem, esse idiota está chapado e eu não tinha certeza de que ele não tinha outros
propósitos em mente para mim. - Acrescentou ela com um olhar gelado para o homem
de costas no chão.
O homem ferido estava gemendo.
─ Eu preciso de um médico. - Disse ele.
Ry estava pressionando números no celular.
─ Vou precisar de credenciais. - Disse ele, e olhou para Vic.
─ Contratei vocês dois dias atrás para me ajudar com um problema com o tráfico de
drogas. - Ele disse imediatamente, com olhos escuros brilhando. ─ Incrível, a rapidez
com que vocês resolveram essa parte.
Ry riu.
─ Não é tão incrível. Somos um pouco mais experientes do que esses caras.
─ Percebi.
Mina recostou-se na parede, ainda segurando a .45.
─ Isso dará um capítulo incrível se eu mudar alguns nomes. - Disse ela lentamente.
Sandra, que tinha ido para os braços de Vic no minuto em que ele saiu para o
corredor, estava sorrindo.
─ Eu leio primeiro. - Disse ela.
Mina sorriu para ela.
─ Claro que sim. - Ela riu. Engoliu em seco, ficou verde e entregou a pistola a Vic. ─
Desculpe. - Ela disse, e correu para o banheiro.

***
O xerife chegou junto com a patrulha da fronteira e a ambulância. Ao mesmo
tempo que uma limusine chegava com um homem, cujo horror era imediatamente
aparente para o motorista, que viu o rosto de Cort Grier no espelho retrovisor por um
instante, antes de o passageiro abrir a porta e correr em direção à casa.
O primeiro pensamento de Cort foi que algo havia acontecido com Mina. Mas ele
passou por um homem de aparência morena em uma maca e outro sendo atendido por
dois paramédicos robustos em uma segunda maca.
Quando ele entrou na casa, havia nove homens em pé na sala de estar. Três deles
estavam de uniforme. Cinco outros estavam em roupas casuais, mas pareciam pertencer
a uniformes militares, apenas pelo porte. O último homem era Vic, que estava com o
braço em volta de Sandra enquanto os homens de uniformes e os homens sem
uniformes falavam.
Havia sangue por todo o chão no corredor.
─ O que aconteceu? - Cort exigiu saber ansiosamente.
Várias pessoas começaram a falar ao mesmo tempo, mas ele olhou para cima e lá
estava Mina, em um longo pulôver com uma blusa por baixo, parecendo pálida e
indisposta.
Ele ignorou as pessoas falando, contornou o sangue e correu para tomá-la em seus
braços e abraçá-la bem apertado.
─ Meu Deus, tem sangue no chão! Você está bem? - Ele perguntou.
─ Estou bem. Realmente. - Ela disse sem fôlego, retribuindo o abraço. ─ Eu não sabia
que você chegaria em casa tão cedo.
Ele se afastou e olhou para ela preocupado, procurando qualquer evidência de que
a violência a tivesse atingido.
─ Você tem certeza de que está bem? - Ele perguntou novamente.
Ela conseguiu sorrir.
─ Sim.
─ Quem são os homens nas macas do lado de fora? - Ele perguntou.
─ Eles acharam que o tráfico de drogas era um trabalho muito duro, então entraram aqui
procurando reféns. Eu peguei o do andar de cima. Ry pegou o daqui de baixo. Tivemos
que ligar para o escritório do xerife e para a Patrulha da Fronteira, porque Ry e seus
homens mantinham sob custódia os traficantes de drogas.
O xerife, um homem alto, de cabelos brancos, bigode e olhos escuros, juntou-se a
eles na escada. Uma equipe de peritos forenses havia acabado de entrar pela porta, e o
delegado estava mostrando a eles onde coletar evidências.
─ Você pegou um ? - Cort perguntou lentamente, perdido.
─ Oi, Cort. - Disse Darly Coolidge, parando para apertar a mão dele. ─ Você estava
aqui quando tudo isso estava acontecendo?
─ Não, acabei de chegar de uma reunião de negócios. - disse Cort inexpressivamente. ─
Eu não estou entendendo nada disso! - Ele olhou para Mina. ─ Você atirou em um
homem? Eu não sabia que você tinha uma arma!
─ Eu tenho um ACP Colt .45. - Ela disse a ele. ─ Bem, o xerife está com ela agora. É
evidência em um tiroteio.
─ E precisamos de uma declaração sua, se você se sentir bem para isso, Sra. Grier. - Ele
acrescentou com um sorriso.
Ela retribuiu o sorriso.
─ Estou bem agora. Só tenho enjôos matinais periódicos, geralmente à noite. - Ela riu.
─ Você tem uma .45 automática. - Cort ainda estava tentando processar as informações.
Ela assentiu.
─ Fale sobre viver seus romances. - O xerife riu, balançando a cabeça. ─ Desça quando
estiver pronta. - Acrescentou para Mina, que sorriu e assentiu.
─ Tudo bem. - Disse Cort, os pálidos olhos castanhos brilhando enquanto encarava a
esposa. ─ O que está acontecendo?
Ela fez uma careta.
─ É uma história longa. Não poderíamos sentar, tomar um café enquanto eu tento
explicar?
Ele estava cansado, confuso e pouco à vontade com estranhos se arrastando por
toda a sua casa. Vic e Sandra pareciam estar vivendo o melhor momento de suas vidas.
Cort atraiu Mina para o seu lado e a acompanhou ao redor do sangue até a sala de
estar.
─ Cort! Que aventura você perdeu! - Exclamou Sandra, parando para abraçá-lo. ─
Ainda não consigo acreditar com quem você se casou. Honestamente, Willow Shane, de
todas as pessoas, e seu livro alcançou o quarto lugar na lista de bestsellers do New York
Times! Ou alcançará, na próxima semana. O agente dela é avisado com antecedência
das publicações.
Willow Shane. SPECTRE. Sua cabeça parecia girar em câmera lenta em direção a
sua esposa, que adorava tricotar e ler romances. Ela estava corando e parecendo muito
desconfortável. Bart tinha uma amiga que era uma escritora de sucesso. Houve uma
festa para ela em Catelow. Willow Shane. A capa do livro dizia que ela fazia incurssões
com um grupo de mercenários, que podia disparar uma arma e tinha uma faixa alta em
uma arte marcial coreana. Ele apenas olhou boquiaberto para ela.
O delegado havia tomado as declarações dos mercenários e estava conversando
com o xerife. Vic e Ry se juntaram a Mina.
─ Bem, será uma história contar aos seus netos. - Vic riu enquanto abraçava o filho. ─
Que noite! Capturamos os traficantes de drogas que usam nossa fronteira sul como via
expressa e dois pretensos sequestradores estão a caminho de uma longa sentença sob
acusações federais. Que noite! - Ele repetiu, rindo enquanto puxava Sandra para perto.
─ Vocês dois estão juntos novamente? - Cort perguntou. Sua mente estava girando
como um pião. ─ Eu a subornei. - Disse Vic. Ele sorriu. ─ Com sua esposa.
─ Com minha esposa?
─ Mina é sua autora favorita. Eu disse a Sandra que se ela me desse uma segunda
chance, eu a apresentaria. Os caras foram um bônus. - Ele indicou Ry e os outros, que
acabavam de se juntar a eles.
─ Vocês seriam o seu grupo de mercenários. - Cort disse calmamente, seu olhar
entrecerrado sobre o líder.
Ry deu de ombros.
─ Ela queria escrever ficção que parecesse autêntica, então a treinamos. - Acrescentou
com um sorriso. ─ Ela foi uma excelente aluna. - Ele não acrescentou nada sobre a
última missão, por medo de piorar uma situação já ruim. Obviamente, o novo marido de
Mina estava sofrendo alguns choques hoje à noite.
─ Estou trabalhando em um novo livro. - Disse Mina a Cort, com expressão
esperançosa. ─ Como não posso participar de missões com eles, eles estão me
esclarecendo sobre a apreensão de drogas.
─ Missões. Apreensão de drogas. Sequestradores. Sangue no chão. - Sua voz profunda e
zangada estava ganhando velocidade e volume. ─ Você nunca me disse o que fazia para
viver!
Mina fez uma careta.
─ Eu não sabia exatamente como dizer. Quanto mais eu adiava, mais difícil ficava.
Sob a aba larga do Stetson, seus olhos brilhavam de raiva.
─ Você poderia ter sido morta!
─ Eu só fui ferida uma vez e mal deixou uma cicatriz. - Ela retrucou, e depois mordeu a
língua quando viu a expressão dele.
Ry assobiou baixinho.
─ Mina, acho que os meninos e eu iremos junto com o xerife para dar declarações
formais. Manteremos contato.
─ Obrigada pelo que vocês fizeram. - Ela retrucou.
─ Muito obrigado. - Vic acrescentou, e apertou a mão de Ry. ─ Eu não vou esquecer
você.
Ry sorriu.
─ Se você precisar de nós, estaremos por perto. Cuide desse bebê, Mina. - Ele
acrescentou com um sorriso na direção dela.
─ Eu vou. Vou mandar uma foto para você quando ele nascer. E talvez eu precise de um
pouco mais de informação. - Acrescentou ela sem olhar para o marido taciturno.
─ Me mande uma mensagem. Vamos, rapazes. - Ry levantou a mão e saiu da linha de
fogo.

***
Cort estava fumegando. Ele não se atreveu a abalar Mina mais do que ela já estava
abalada, então ele entrou em seu próprio quarto e fechou a porta. Sua esposa era uma
escritora famosa. Ela esteve em tiroteios. Estava nas listas de bestsellers. Saía com um
grupo de mercenários. E o deixou pensar que era uma pequena fazendeira tímida e
introvertida que gostava de tricotar.
Ele queria uivar para a lua. Nunca nada o atingiu tão forte.
Segredos. Eles eram recém-casados e ela guardava segredos.
Houve uma batida na porta e antes que ele pudesse mandar a pessoa ir embora,
seu pai entrou.
Cort estava sem chapéu, sem paletó e com a camisa desabotoada. E parecia
indignado.
─ Podemos conversar? - Vic perguntou calmamente.
Cort respirou fundo.
─ Eu vi esse livro maldito em todos os lugares... - Ele murmurou. ─ nas duas últimas
festas que participei. Ela é famosa!
─ Muito famosa. - Vic concordou. E sorriu gentilmente. ─ Ela fez Sandra me perdoar.
Acho que vou a um psicólogo para descobrir por que quero trair todo mundo. Mina é
especial, estou falando sério. Ela provavelmente estava com medo de falar com você
sobre o que ela faz. Você ficou tão feliz em rotulá-la como uma pessoa caseira que
tricotava. - Ele balançou a cabeça. ─ Ela é cem vezes mais complexa do que aquela
pequena fazendeira do Wyoming que você pensou que ela fosse.
─ Complexa. - Ele fez um som áspero e pegou o uísque que tinha servido para si
mesmo. ─ Eu tive uma noite infernal. - Ele murmurou. ─ Eu preciso dormir um pouco
antes de tentar lidar com tudo isso.
─ Isso foi exatamente o que Mina disse. - Vic concordou.
Ele respirou fundo.
─ Ela foi em missões com os mercenários. - Seu coração parou. Ele olhou para Vic. ─
Recentemente? - Ele perguntou.
Vic se moveu inquieto.
─ Ela ainda está tomando comprimidos de quinino para prevenir a malária. Ela foi com
o grupo à Nicarágua e ajudou a resgatar uma criança sequestrada.
─ Oh meu Deus. - Cort explodiu. ─ Ela está grávida!
─ Sim, mas ela não sabia disso na época. Levei-a ao Dr. Truett e ele disse que ela está
bem. O bebê também.
─ Qualquer coisa poderia ter acontecido com ela. - Exclamou Cort. ─ Eu pensei que ela
queria ter filhos e criá-los. Eu não sabia que ela vinha com toda uma maldita carreira!
─ Disse o homem que nunca está em casa. - Vic murmurou meio sem fôlego.
Cort olhou furiosamente para ele.
─ Bem, é verdade. - Vic insistiu. ─ Você poderia ter delegado essa bagunça do
sindicato e sabe disso, Cort.
O outro homem mudou de pé e tomou um gole de bebida.
─ O casamento não é tão fácil quanto parece. - Continuou Vic. ─ Olhe para mim. Eu
falhei miseravelmente. Pelo menos até agora. Acho que tenho uma chance de salvar
meu casamento. - Ele apertou os lábios. ─ Você pode tentar salvar o seu. Acredito que
Mina esteja fazendo as malas agora para voltar para Wyoming.
O coração de Cort pulou. Mas apenas por alguns segundos, ele pensou como seria
se ela fosse para casa. Ele estaria livre novamente, para perseguir mulheres bonitas, para
viver a vida de um playboy. Ele queria isso de verdade?

CAPÍTULO QUINZE
Mina estava se sentindo miseravel. Cort olhou para ela como se a desprezasse. Ela
deveria ter tentado ser honesta com ele. Ela provocou isso para si mesma. Sabia disso,
mas não ajudava. Cort estava furioso, e ele estava certo em estar. Ela deveria ter dito a
ele no começo quem realmente era, não deixar que ele descobrisse isso de uma maneira
traumática, como fez esta noite.
Ela colocou as últimas roupas na mala e a fechou suavemente. Bem, ela tinha um
rancho para voltar e o doce bebê repousando confortavelmente em seu ventre. Muitas
mulheres tinham muito menos.
Ela se sentou em sua poltrona e pegou o celular enquanto esperava a casa ficar
silenciosa para que pudesse ligar para um táxi para levá-la ao aeroporto. Ela teria que
conseguir uma passagem. Ela estava procurando um site para comprar uma quando se
deparou com uma notícia em um jornal digital que lia.
Os olhos dela arderam. Era uma fotografia do seu marido novinho em folha, com
o braço em volta de uma morena linda de morrer em uma festa. Ele estava bebendo o
que parecia uísque em um copo bojudo, e seu sorriso era tão brilhante como se tivesse
ganhado o prêmio Nobel. Ela quase jogou o telefone do outro lado do quarto. Seu
marido! Ela convenceu Sandra a perdoar o marido mulherengo, só para em uma
reviravolta perceber que estava no mesmo barco! E ela pensou, perdoar, inferno!
Ela pegou um vaso feio na cômoda do quarto e saiu pela porta com ele, a fúria
deixando seu rosto vermelho. Ela desceu as escadas e procurou Cort. E o encontrou em
pé atrás de uma cadeira conversando com o pai e Sandra.
─ Víbora! - Disse Mina furiosa. E jogou o vaso na direção dele.
Ele o pegou com facilidade e o colocou sobre a mesinha antes de ir em direção a
ela.
─ Do que você está falando? - Ele exigiu saber com alguma indignação. Certamente ele
era a parte ofendida aqui!
─ Isso! - Ela pegou a notícia no celular e mostrou a ele. ─ Explique isso!
Sua boca se abriu. Suas maçãs do rosto se coloriram de um vermelho intenso.
Ela olhou para Sandra.
─ Agora eu sei como você se sentiu! - Ela disse à outra mulher. ─ Ele está casado há
apenas alguns dias e já está galinhando em jantares de negócios!
─ Eu não estava! - Cort tentou se defender.
─ Você estava com o braço em volta dela!
─ Eu não! - Ele respondeu. ─ Olhe aqui. Olhe atentamente para essa foto. - Ele
acrescentou friamente. ─ Meu braço estava por trás dela. Eu estava pegando minha
bebida na mesa!
Ela olhou para a foto. A deixou furiosa ao ver que ele estava certo. Ele realmente
não estava com o braço em volta da mulher. Apenas parecia assim. Mas a manchete era
condenatória: Milionário do Texas corteja princesa do petróleo.
─ Oh sim? - Mina retrucou. ─ Bem, a manchete com certeza é explícita!
─ Ela é casada. - Ele disse beligerante.
─ Você também é!
Vic se levantou.
─ Ok, agora. - Disse ele, interpondo-se entre eles. ─ Escutem. Ela tinha uma carreira e
não contou a você. - Disse ele a Cort. ─ Enquanto ele... - falou com Mina, indicando
Cort. ─ aparentemente estava saindo com outras mulheres em jantares de negócios.
Pronto. Acabou. Você conhece a carreira de Mina agora. - Disse ele a Cort. ─ E você... -
Ele indicou Mina. ─ sabe que ele não a estava traindo. Foi apenas uma manchete e a
tentativa de algum jornalista de causar problemas. Tudo está às claras. Vocês dois têm
que fazer as pazes. Ela está grávida. - Ele lembrou Cort gentilmente. E sorriu. ─ E desta
vez, vou conhecer meu neto, porque vocês dois estarão aqui. Eu também. Sandra e eu
conversamos sobre isso. Ela acha que preciso assumir alguma responsabilidade por
Latigo e pelos negócios, para que você não precise viajar muito, Cort. Agora que a
família dela está superando a dor, ela está disposta a morar aqui.
─ Estou sim. - Disse Sandra. E sorriu para Mina. ─ Eu posso sondar Willow Shane
sobre enredos e coisas assim, e posso sair com seus amigos mercenários. Isso é muito
excitante!
─ Excitante. - Cort soltou um suspiro. Ele olhou para o pai. E olhou para Mina. ─
Talvez eu deva fazer as malas e voltar a viajar.
─ Por quê? - Vic perguntou.
─ Ela arriscou própria vida e a de nosso bebê, rastejando através de uma selva com um
monte de homens estranhos carregando uma .45 automática! - Cort exclamou,
apontando para ela. ─ O líder do grupo de mercenários disse que ela realmente atirou
em um cara! Além disso, ela foi ferida durante uma missão que foi com eles!
─ Eu não estava grávida quando fui para a Nicarágua. - Disse Mina. ─ Bem, eu estava,
mas não sabia que estava! E como você acha que posso pesquisar um livro sobre
mercenários, equipe da SWAT ou federais sem falar com eles?
─ Você pode falar com eles na sala de estar! - Cort respondeu. ─ Ou nos escritórios
deles! Você não tem que atuar em situações de combate. Você poderia ser morta!
Mina olhou para ele. Ele realmente se importava. Estava sendo hostil porque tinha
medo por ela e não sabia como admitir isso sem parecer fraco. Isso diminuiu a sua raiva.
Ela se aproximou e passou as mãos sobre o peito dele.
─ Estou cansada. - Ela disse suavemente e encostou a bochecha contra o peito dele. ─ E
com sono.
As mãos dele, relutantemente, foram para os longos cabelos dela e o acariaram. A
fragilidade inesperada dela cortou suas defesas como uma faca quente na manteiga, e
ele suspirou.
─ Você teve uma noite difícil. - Disse ele gentilmente. ─ E eu tenho sido um tolo. Eu
sinto muito.
Ela sorriu.
─ Eu deveria ter lhe contado tudo. Eu também sinto muito.
─ Isso faz de nós três. - Acrescentou Vic, abraçando Sandra. ─ Mas tivemos muita sorte
que o grupo de Mina estivessem por aqui hoje à noite. Ela poderia ter sido sequestrada,
junto com Sandra e eu. - Ele riu. ─ Mina atirou em um dos homens que a estava
ameaçando e a Sandra. Ela o acertou na rótula. Um tiro e tanto.
Mina corou e riu suavemente.
─ Eu não gosto de matar pessoas. Na verdade, eu nunca matei ninguém. Eu estava
morrendo de medo quando aquele homem subiu as escadas e vi como ele estava
drogado. Homens nessa condição são incontroláveis. Ele teria atirado em mim.
─ O xerife concorda. - Cort confessou. ─ O seu amigo Ry também. Ele disse que os
homens estavam totalmente drogados e enlouquecidos por dinheiro.
─ Não é tão ruim quanto parece. - Disse Mina, aconchegando-se mais perto de Cort. ─
Pode-se limpar o sangue do carpete. De verdade.
Ele caiu na gargalhada.
─ Tudo bem. - Disse ele. ─ Mas não haverá mais tiroteios ao lado dos quartos no andar
de cima. - Cort disse com firmeza enquanto pressionava um beijo na testa dela.
─ Certo. - Ela disse suavemente. Hesitou e um sorriso travesso surgiu em seu rosto. ─
Tudo bem se for embaixo, então?
─ Eu vou trancá-la em um armário. - Ele ameaçou.
Ela riu.
─ Vou abrir a fechadura e sair. Esse ladrão que eu conheço me ensinou como invadir
qualquer casa... uh... oh.
─ Você conhece um ladrão? - Sandra exclamou. ─ Pode me apresentar!
Cort compartilhou um sorriso resignado com o pai sobre a cabeça de Mina.
─ Oh Deus, no que nós nos metemos? - Ele gemeu.
Vic riu.
─ Alguns momentos emocionantes, eu arriscaria dizer. - Ele fez uma pausa. ─ Ei, não é
tão ruim. Se tivermos mais incursões na fronteira sul, sabemos para quem ligar, certo?
Cort suspirou.
─ Certo.
Mina levantou a cabeça e olhou para ele com puro deleite.
─ Eles vão ensinar o bebê a fazer missões secretas. - Disse ela deliberadamente.
─ Eu vou... - Ele começou.
Ela o beijou, parando as palavras. Ele hesitou apenas por alguns segundos antes de
retribuir o beijo. Ele levantou a cabeça.
─ Não até que eles estejam no ensino médio. - Disse ele com firmeza.
─ Eles? - Ela perguntou.
Ele deu de ombros e sorriu.
─ Eu tenho três irmãos. Famílias numerosas são legais.
Ela apertou os lábios.
─ Bem, acho que alguns, sortidos, não seria tão ruim. E eu posso tricotar. Eles terão
suéteres exclusivos, se eu puder aprender a seguir um esquema, é isso.
─ Eu sei seguir esquemas e tricotar. - Disse Sandra surpreendentemente. ─ Eu ensino a
você!
─ Trato feito. - Mina riu.

***

Cort levou Mina para o seu quarto, malas e tudo. Ela estava esgotada pela
violência da noite. Ele a despiu gentilmente e deslizou uma das bonitas novas camisolas
por cima da cabeça dela.
─ Eu gosto disso. - Ele murmurou, tocando a peça de seda e renda amarela pálida.
─ Foi por isso que eu a comprei. - Ela brincou, sorrindo para ele. ─ Eu imaginei que
você poderia gostar.
Ele suspirou.
─ Minha esposa, a escritora dos mercenários. - Ele balançou a cabeça. ─ Bem, isso
explica algumas coisas. Embora eu vá socar Bart por não me contar.
─ Pedi para ele não contar. - Confessou. ─ No começo, era porque eu não gostava de
você, e achei que seria divertido contar a você quando me fosse conveniente. Mas
depois me apaixonei por você e não sabia como lhe contar.
Ele enrolou uma longa mecha do cabelo dela em volta dos dedos.
─ Eu não sabia como lhe dizer que era o dono da maior fazenda do oeste do Texas,
enquanto estávamos nos conhecendo. Eu tinha medo que você recuasse se soubesse que
eu tinha dinheiro.
─ Eu poderia ter feito isso. - Ela admitiu.
─ E eu poderia ter recuado se soubesse quem você realmente era. - Ele confessou.
─ Estou no quarto lugar na lista do New York Times. - Disse ela. ─ Eu vou ser muito
rica, na velocidade com que meus livros estão vendendo. - Ela fez uma careta. ─ Isso é
outra coisa que eu deveria ter contado, sou obrigada a sair em turnê daqui a duas
semanas. Também não sabia como ia lhe dizer isso.
─ Eu vou com você. - Disse ele simplesmente, e sorriu para o rosto surpreso dela. ─
Posso trabalhar no laptop enquanto você autografa. Não precisamos nos separar.
─ Eu adoraria isso. - Disse ela com um sentimento genuíno.
Ele sorriu devagar.
─ Eu também. - Ele deslizou a mão magra sobre a barriga dela. ─ Eu adoro isso. - Disse
ele em voz baixa. ─ Nunca pensei em mim como um homem de família. - Acrescentou.
─ Eu curtia a vida porque realmente não queria me estabelecer. Mas quando você
apareceu, toda a minha atitude mudou.
─ E quanto a Ida? - Ela perguntou de repente.
Ele suspirou.
─ O primeiro marido dela era gay e ela não sabia. Ele se matou e deixou uma fortuna
para ela. Ela sofreu abusos terríveis com o segundo marido. Como não queria arriscar
um terceiro, desenvolveu uma reputação ruim para afastar os homens. Ela me pediu
para não entregá-la e eu não a entreguei.
Ela relaxou.
─ Eu tinha minhas dúvidas. - Disse ela. ─ Ela é tão bonita. Eu nunca pensei que poderia
competir com uma mulher assim.
─ Você é linda para mim, Mina. - Disse ele calmamente. ─ É o que está dentro de você
que a torna bonita. Nem consigo descrever o que é. Mas estou muito feliz que você
tenha encontrado algo em mim para amar.
Ela se aconchegou a ele.
─ Você tem mais boas qualidades do que imagina. - Ela bocejou. ─ Espero que nosso
filho se pareça com você.
─ Ele pode ser ela. - Ele ressaltou.
─ Você tem três irmãos. - Ela retrucou.
─ Você tem razão.
─ Mas amaremos o que tivermos. - Ela se afastou, preocupada. ─ Você realmente não
se importa, não é? Quero dizer, é um grande passo se acostumar com o casamento. É
muito cedo para um bebê?
Ele balançou a cabeça e não havia um traço de dúvida ou reticência em seu rosto
magro. Ele tocou a bochecha dela gentilmente.
─ Vic e Sandra vão adorar participar de todo o processo. Eu também. - Acrescentou ele,
rindo. ─ Estou ansioso por cada minuto.
─ Nenhum arrependimento? - Ela perguntou.
─ Apenas um. - Ele respondeu. ─ Gostaria de não ter levado você para Lander. Você
deveria ter tido uma noite de núpcias adequada.
─ Eu não me importo. - Ela respondeu, e foi sincera. ─ Pela maneira como me sentia
em relação a você, isso foi muito natural. - Ela corou um pouco. ─ Foi a experiência
mais incrível de toda a minha vida.
Ele apertou os lábios e olhou para os seios empinados, um pouco mais cheios por
causa da gravidez.
─ Quer ver se conseguimos outra experiência incrível? Ou você precisa mais dormir?
Ela balançou a cabeça.
─ Eu não estou mais com sono.
Ele riu.
─ Nem eu.
As mãos dela foram para a gravata dele. Ela a removeu, desabotoou a camisa e a
afastou do peito largo e de pelos crespos. Ela removeu o cinto. Mas suas mãos
hesitaram.
─ Covarde. - Ele brincou.
─ Fala sério, sou nova nisso. - Ela o repreendeu.
Ele a pegou nos braços e a depositou gentilmente debaixo das cobertas.
─ Justo. Eu farei o resto.
Ele tirou o resto de suas roupas e se juntou a ela na cama, e ela o recebeu de
braços abertos.
Foi uma festa dos sentidos. Não houve um centímetro no corpo macio dela que ele
não tocou com as mãos e a boca nos minutos quentes que se seguiram.
Ela prendeu a respiração quando as deliciosas sensações a inundaram, levantando-
se para encontrar seus lábios, faminta por mais.
─ Você está ficando melhor nisso. - Ele sussurrou contra um pequeno mamilo
endurecido.
─ Vou ficar ainda melhor à medida que avançarmos. - Disse ela, e ofegou quando ele
encontrou um local muito sensível com as mãos.
─ A perspectiva é arrepiante. - Ele provocou com voz rouca.
Ela tentou dizer a ele que era muito mais mais ardente do que a primeira vez, mas
de repente foi tomada por um lampejo de prazer tão intenso que ela gemeu.
─ Oh, você gosta disso, não é? - Ele sussurrou. ─ Que tal isso?
Ela gemeu de novo. O gemido áspero dela o excitou, e as provocações gentis
deram lugar a uma ânsia enorme.
─ Diga-me se eu for muito rude. - Ele disse enquanto se movia sobre ela.
─ Quando você foi rude? - Ela retrucou, estremecendo ao senti-lo se mover lenta e
sensualmente em seu corpo.
─ Estou faminto. - Ele sussurrou instável. ─ Eu não quero machucar você ou o bebê.
─ Você não vai. Ah, você não vai. Por favor, Cort, por favor, por favor!
Seus quadris pressionaram os dela no colchão em um ritmo rápido e suave que
rapidamente a levou ao êxtase, mas antes que ela pudesse relaxar, ele começou tudo de
novo. Cada movimento brusco de seu corpo a fazia estremecer de excitação. Ela olhou
nos olhos castanhos claros dele e sentiu começar a derreter sob ele.
─ Não foi... tão intenso antes. - Ela engasgou.
─ Nós não estávamos envolvidos antes. - Ele retrucou. E a beijou avidamente. ─ Eu te
amo. - Ele sussurrou rispidamente. ─ Eu nunca vou parar. Nunca... nunca... nunca!
Ele terminou com um gemido áspero, seguido por um estremecimento convulsivo
que levou o corpo trêmulo dela a outro clímax. Ela gemeu e suas unhas cravaram nas
costas largas enquanto se movia com ele cada vez mais forte, até que pensou que
poderia desmaiar com a força do prazer.
─ Oh... Deus... - Ele murmurou, e realmente convulsionou.
Ela enterrou o rosto na garganta quente e úmida dele e o seguiu a cada passo do
caminho, tremendo descontroladamente enquanto o seguia no fogo.

***

Muito tempo depois, ele saiu dela e deitou de costas, ainda trêmulo no rescaldo do
prazer.
 ─ Você tem certeza que eu não fui muito rude? - Ele sussurrou.
─ Tenho certeza. - Ela se aconchegou a ele, úmida de suor e pulsando de prazer. ─
Nunca senti nada assim, nem mesmo na primeira vez!
─ Nem eu. - Ele confessou. Ele ainda estava tentando recuperar o fôlego e seu coração
estava acelerado.
Ela se ergueu sobre o peito dele para poder olhá-loi nos olhos.
─ Você falou sério?
Ele acariciou a bochecha dela.
─ Sobre o que? - Ele perguntou com um sorriso indolente.
─ Sobre o que você disse.
─ Que eu amo você?
Ela assentiu.
Ele riu.
─ Por que mais eu me casaria com você? - Ele perguntou. ─ Se eu apenas quisesse sexo,
poderia tê-la seduzido e ido embora.
─ Eu pensei isso. - Ela respondeu com um sorriso tímido. ─ Quero dizer, foi bastante
intenso o que aconteceu em Lander, mas eu não tinha certeza de que você realmente
sentia algo mais que desejo.
─ Você foi me conquistando desde a primeira vez que a vi. - Ele retrucou. ─ As
mulheres que passaram pela minha vida não estavam interessadas em coisas como tricô
e romances. - Ele brincou.
Ela fez uma careta.
─ Eu posso imaginar no que elas estavam interessadas.
Ele assentiu.
─ Diamantes e casacos de peles. - Disse ele. ─ Elas não foram nada além de encontros
casuais. Eu nunca arrisquei meu coração. Não até chegar no Wyoming, desanimado e
cansado, me sentindo mais uma carteira ambulante do que um homem.
─ Jake McGuire me disse uma vez que também se sentia assim. Não me olhe assim. -
Ela o repreendeu. ─ Você sabe que eu só penso em Jake como um amigo. Se eu o
conhecesse há cem anos, ainda me sentiria assim.
Ele suspirou.
─ Eu não tinha tanto ciúmes dele quanto tinha de Bart, até que ele me disse que pensava
em você como uma irmã.
Ela sorriu.
─ Ele disse a verdade. Nós nunca tivemos nem mesmo um resquício de interesse um
pelo outro.
Ele se virou e estudou o rosto corado dela.
─ Ainda estou surpreso com o que você conseguiu fazer com papai e Sandra. - Disse
ele.
Ela riu.
─ Eles são muito parecidos. Seu pai só precisa de mais atenção do que ele pensa que
está recebendo. Se for a um psicólogo, acho que ele e Sandra podem resolver todos os
problemas. Ele realmente a ama. Isso transparece também.
─ Eu acho que sim.
─ Estou feliz pelos caras estarem aqui quando os traficantes atravessaram a fronteira. -
Disse ela. ─ Eu não poderia ter enfrentado dois pretensos sequestradores.
Ele fez uma careta.
─ Acho que seus amigos não são tão ruins.
Ela sorriu.
─ Você vai se acostumar com eles. Eu tenho que ter colaboradores para as pesquisas.
Ele suspirou.
─ Eu acho que sim.
─ Vou garantir que você receba uma compensação adequada. - Disse ela, colocando
uma perna nua e sedosa contra a dele.
O coração dele acelerou.
─ Você vai, hein?
─ Eu realmente vou. - Ela puxou o rosto dele para o dela e o beijou lentamente. ─ Eu
posso começar agora, se você quiser.
Ele retribuiu o sorriso.
─ Eu adoraria...
Foi a última coisa que ele disse por um longo tempo.

***
Cort voou até Catelow para ajudar Mina a empacotar o resto das coisas e levá-las
para Latigo. Algumas teriam que ser despachadas também.
Fender estava esperando por eles quando a limusine estacionou em frente à casa
da fazenda.
Ele sorriu.
─ Parabéns. - Disse ele, apertando a mão de Cort.
─ Obrigado.
─ Está tudo bem? - Mina perguntou enquanto Cort a ajudava a sair do carro.
─ Tudo indo bem. - Ele disse. ─ Tivemos um pequeno problema com lobos, mas Bart
chamou o resgate de vida selvagem e eles realocaram dois deles nas montanhas. - Ele
fez uma careta. ─ Ainda me sinto culpado por aquele lobo velho.
─ Qual lobo velho? - Mina perguntou.
─ Bem, eu estava esperando um emprego aqui e vi o lobo atacar uma vaca que tinha
acabado de parir. Eu o rastreei e atirei nele. Quando me aproximei, notei que ele estava
com um rasgo na barriga e a ferida não estava cicatrizada. Ele estava muito ferido. Eu
senti que atirar nele era um fim mais digno do que deixá-lo sofrendo.
Cort assentiu. Ele tinha contado a Mina sobre a condição do lobo.
─ Eu mencionei isso para ela e Bart. - Confessou.
─ Isso é muito importante pra mim. - Disse Mina à Fender. ─ Estou feliz em saber o
que aconteceu e por quê. Nós não sabíamos quem atirou.
─ Bem, entenda, eu não tinha certeza de como era a lei sobre lobos e não queria ter
problemas caso fosse ilegal.
─ Nós podemos atirar neles se for necessário, mas a morte deve ser relatada. De fato,
Bart relatou às autoridades competentes e não houve nenhuma ação judicial.
─ Que bom.
Mina sorriu para ele.
─ Espero que você fique aqui como capataz. - Disse ela. ─ Bill trabalhará em período
integral como administrador da fazenda, mas precisará de ajuda.
Fender sorriu.
─ Senhora, eu ficaria mais do que feliz em ficar. Este é um bom rancho.
─ Obrigada. - Ela disse a ele. ─ E se você precisar de ajuda e não puder me encontrar,
ligue para Bart.
─ Eu farei isso. Alguma coisa com a qual eu possa ajudar?
─ Preciso lhe dar uma lista das coisas que tenho que despachar para Latigo. - Disse ela.
─ Mas, por enquanto, estou apenas empacotando coisas pessoais.
─ Apenas me avise. Eu estarei por perto. - Ele prometeu.

***
─ E o seu pai? - Cort perguntou quando terminou de juntar as coisas e fazer uma lista
dos móveis que ela queria despachar para o Texas.
Ela se virou.
─ O que você quer dizer?
─ Seu primo disse que seu pai queria falar com você.
Ela hesitou. E respirou fundo.
─ Ainda não estou pronta. - Disse ela depois de um minuto. ─ Um dia, mas ainda não.
Ele tocou sua bochecha macia.
─ O que você quiser, querida.
Ela sorriu para ele.
─ Talvez quando o bebê chegar.
Ele retribuiu o sorriso.
─ Parece um bom momento.

***

Seu menininho nasceu no Natal, um mês adiatado, e recebeu o nome de Jeremiah


Riddle Grier, por seu avô materno e seu pai, cujo nome do meio era Riddle. Havia uma
multidão presente para o nascimento, incluindo todos os três irmãos de Cort e suas
famílias, junto com os mercenários e Bart.
Mina nunca tinha sido tão feliz. Ela e Cort estavam exultantes.

***

O batismo foi dois meses depois, seguido por um churrasco para os convidados.
Toda a família Grier voltou para assistir. Até o primo Rogan e Jake McGuire
apareceram.
Cort ficou tão satisfeito com o herdeiro que não protestou contra a lista de
convidados. Uma adição inesperada ao grupo foi Jerry Fender, que voou de Catelow até
Latigo para o evento, sem o seu cachorro Sagebrush, que ficou no rancho com Bill
McAllister.
Mina ficou surpresa ao vê-lo. Na verdade, ela tinha pedido que o primo Rogan
convidasse seu pai para o evento, tão encantada com sua nova vida que não estava mais
guardando o rancor que a dominou a maior parte de sua antiga vida.
O primo Rogan sorriu quando ela se juntou a ele enquanto Cort segurava o bebê e
o mostrava para Cash, Garon e Parker, seus irmãos.
─ O que é? - Perguntou seu primo.
─ Fender está aqui. - Respondeu ela. ─ Pensei que ele fosse ficar em Catelow para
cuidar do rancho com Bill McAllister. E cadê meu pai? Eu disse que você poderia
convidá-lo, mas ele não apareceu.
O primo Rogan pareceu culpado.
─ Bem, na verdade, Mina, seu pai está aqui.
Ela piscou. Olhou em volta para a multidão, mas não viu nenhuma pessoa que não
conhecesse.
─ Onde?
Ele a segurou pelos ombros e a virou lentamente na direção de Fender, que estava
de pé atrás dela, parecendo preocupado e apreensivo.
─ Aqui, Mina. - Respondeu Rogan.
Mina olhou para Fender e as imagens dispararam em sua mente. Ele estava
sempre cuidando dela, verificando se ela chegava em casa em segurança à noite, se
interessando com quem ela saía. Ele tinha um cachorro grande que amava. O pai dela
adorava cachorros.
O rosto dela empalideceu.
─ Sinto muito. - Disse Fender em voz baixa. ─ Você não queria me ver quando Rogan
lhe perguntou pela primeira vez, e eu tinha que tentar. Então me apresentei para
trabalhar no rancho. - Ele respirou fundo. ─ Eu tentei tanto conseguir a sua custódia. Eu
realmente queria você comigo. Sua mãe estava consumida pelo rancor e ódio para me
deixar perto de você. Eu apenas... desisti. Eu tinha medo que ela inventasse uma história
e me colocasse na prisão. Mas eu nunca deixei de amar você ou de tentar afastá-la dela.
Tentei várias vezes ao longo dos anos, através de advogados, obter a sua custódia. Eu
falhei a cada maldita vez.
─ Por que ela me odiava tanto? - Ela perguntou miseravelmente.
─ Porque você não era dela. - Disse ele categoricamente.
Ela ofegou.
─ O que?
─ Quando nos casamos, descobrimos que ela não podia ter filhos. Eu fui noivo de outra
mulher e ela ficou grávida. Ela estava morrendo e me implorou para cuidar de você. E
eu fiz, contra a vontade de sua mãe. Ela me odiou por isso, odiou você, odiou o mundo.
─ Então era por isso. - Disse Mina tristemente.
─ Era por isso. Você é minha filha, mas não é filha dela. A mulher que lhe deu à luz era
gentil, meiga, frágil e complacente. Sua mãe era extravagante e sedutora, e eu me
apaixonei por ela. Foi passageiro. Eu paguei por isso, sua mãe de verdade pagou e você
pagaram por isso. Foi um erro, e nós ainda estamos pagando por isso.
Mina sentiu um peso sair do seu coração. Ela finalmente entendeu.
─ Eu sinto muito... - Ela começou.
─ Sou eu quem deveria pedir desculpas. - Ele a interrompeu. ─ Foi minha culpa. Tudo
isso. Deixei sua mãe por uma paixão, apesar de não me arrepender, exceto por ter
perdido você. A mulher que você pensava ser sua mãe era uma mulher gananciosa, fria
e odiosa, que envenenava todas as vidas que tocava. Ela disse que se certificaria de que
eu nunca tivesse a sua custódia, não importava quais mentiras ela tivesse que contar. -
Ele engoliu em seco. ─ Se você quiser me demitir, eu entendo. Eu não vim aqui para
estragar o seu dia especial.
Ela apenas olhou para o pai. E não sabia o que dizer.
─ Gostaria de saber disso antes. - Disse ela finalmente.
Ele encolheu os ombros.
─ Você sabe agora. É o bastante. Gostaria de conhecê-la novamente. - Acrescentou. ─
Estou tão orgulhoso de você.
Ela conseguiu dar um sorriso fraco.
─ Eu também gostaria disso.
Ele assentiu. E sorriu.
─ Então, eu ainda tenho um emprego?
─ Pode apostar.
─ Então eu vou voltar para Catelow e fazê-lo.
Ela assentiu.
─ Você pode me escrever. Vou responder.
─ Eu farei isso. Obrigado... - Acrescentou ele com voz rouca. ─ por me dar uma
segunda chance.
─ Obrigado por esclarecer o mistério. Não era à toa que ela me odiava. Eu estava
envergonhada de não conseguir amá-la. Agora não tenho mais vergonha.
─ Não há razão para ter. Ela não era uma mulher digna de ser amada. - Ele hesitou. ─
Bem, até qualquer dia, Mina.
Ela riu.
─ Até. Papai.
Ele corou. Então sorriu.
─ Vou trabalhar duro para ganhar esse título. - Ele apertou a mão de Rogan e sorriu
mais uma vez para Mina antes de se virar e pedir que um dos cowboys do rancho o
levasse ao aeroporto, onde o jato particular de Rogan estava esperando para levá-lo ao
aeroporto de Catelow.
─ Acho que as coisas estão melhorando. - Disse Rogan.
Ela concordou, sorrindo.
─ Elas estão, de fato. Obrigada. - Ela acrescentou.
Ele encolheu os ombros.
─ De nada.
─ Você sabia que ele estava se candidatando ao emprego no meu rancho? -
Acrescentou.
─ Não. Isso foi ideia dele. Mas se eu soubesse, não o teria impedido. Ele ama você. Ele
está carregando a própria culpa por tempo suficiente.
─ Vou escrever para ele. As coisas vão se resolver. Elas só precisam de um pouco de
tempo. - Ela disse.
Ele sorriu.
─ Está certa. - Ele olhou para Cort. ─ Eu gosto do seu marido.
─ Eu o acho maravilhoso. - Ela retrucou.
─ Eu percebi. - Ele falou lentamente.
Ela riu. Seus olhos encontraram os do marido na distância que os separava. Ele
olhou para ela e sorriu também.
Naquele longo e doce olhar havia um encontro de corações tão sólido quanto a
terra em que Latigo estava. Cort abraçou seu primogênito e foi em direção a Mina
através da multidão de familiares e amigos. Ela o encontrou no meio do caminho.
─ Feliz? - Ele perguntou em um tom profundo e suave.
─ Tão feliz que eu mal posso aguentar. - Ela respondeu ofegante. A mão dela tocou o
tufo macio de cabelos pretos do filho. ─ Temos o mundo inteiro, não temos, Cort? -
Perguntou ela.
─ O mundo inteiro, e mais um pouco. - Ele concordou.
Ela olhou nos olhos dele e suspirou enquanto considerava o longo caminho que
percorreram para chegar a esse prazer mútuo.
Eu faria tudo de novo, ela pensou de repente. Eu passaria por todos os dias ruins
da minha vida, apenas por isso.
Apenas pelos olhos suaves de Cort olhando nos dela com amor, enquanto ele
segurava seu filho nos braços.

FIM
*****

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