Profissionais Da Educação Social: Desafios Contemporâneos
Profissionais Da Educação Social: Desafios Contemporâneos
Profissionais Da Educação Social: Desafios Contemporâneos
Ana Camões1
Cindy Vaz2
Renata Machado3
Susana Sá4 6
Resumo: A formação dos profissionais socioeducativos poderá ser a resposta para as novas
exigências sociais e profissionais. Assim, a formação contínua é instigante, motivadora, e
prepara-os para um conjunto mais alargado de funções e tarefas altamente especializadas que
requerem um desempenho em contextos cada vez mais complexos. A investigação recaiu nos
educadores sociais, com recurso à técnica da entrevista semiestruturada. A amostra foi
composta por três profissionais socioeducativos, na área da Educação Social, da região Norte
de Portugal. A análise de conteúdo foi elaborada com o software webQDA. Concluíu-se que há
práticas de formação contínua, ainda que os programas existentes sejam escassos. Mesmo
assim, consideram a formação contínua muito relevante para a sua prática profissional, mas
alegam que a mesma não é ainda valorizada no âmbito profissional.
1
Doutora e mestre em Ciências da Educação, com especialização em Pedagogia Social, pela Universidade Católica
Portuguesa. Pós-graduada em Direito das Crianças e dos Jovens em Perigo, bem como na área da Organização e
Gestão da Formação. Formadora certificada, Mediadora de Cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA) e
formadora acreditada pelo Conselho Científico-pedagógico da Formação Contínua. É Professora Assistente e
Coordenadora da Licenciatura em Educação Social, no IESF- Portugal. https://orcid.org/0000-0003-1554-0678.
Email: [email protected].
2
Mestre e doutoranda em Ciências da Educação, com especialização em Pedagogia Social, pela Universidade
Católica Portuguesa. Licenciada em Educação Social pela Universidade Portucalense. É Professora Assistente da
Licenciatura em Educação Social, no IESF - Portugal. https://orcid.org/0000-0001-8789-2045. Email:
[email protected].
3
Mestre e doutoranda em Ciências da Educação, com especialização em Pedagogia Social, pela Universidade
Católica Portuguesa. Licenciada em Educação Social pela Universidade Portucalense. Formadora acreditada pelo
Conselho Científico-pedagógico da Formação Contínua. É Professora Assistente da Licenciatura em Educação
Social, no IESF – Portugal. https://orcid.org/0000-0003-3554-182X. Email: [email protected].
4
Pós-doutorada, Doutora e Mestre em Educação pela Universidade do Minho. Licenciada em Ensino de Física e
Química pela Universidade do Minho. Professora Adjunta no Instituto de Estudos Superiores de Fafe (IESF).
Investigadora do Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação (CIDI) - IESF – Portugal. Investigadora da
Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade. Avaliadora externa do IGEC- Inspeção Geral do Ensino
e Ciência, Perita da equipa de verificação EQAVET, Portugal. https://orcid.org/0000-0003-1339-5745. Email:
[email protected]
Recebido em 10/11/2020
Aprovado em 17/11/2020
HUMANIDADES & TECNOLOGIA (FINOM) - ISSN: 1809-1628. vol. 27- out/dez. 2020
Palavras-chave: Educação Social, Educadores Sociais, Formação Contínua.
Abstract: The training of socio-educational professionals may be the answer to the new social
and professional requirements. Thus, continuous training is thought-provoking, motivating, and
prepares them for a broader set of highly specialized functions and tasks that require
performance in increasingly complex contexts. The investigation fell on social educators, using
the semi-structured interview technique. The sample consisted of three socio-educational
professionals, in the area of Social Education, from the North of Portugal. The content analysis 7
was carried out with the webQDA software. It was concluded that there are practices of
continuous training, even though the existing programs are scarce. Even so, they consider
continuous training very relevant to their professional practice but claim that it is not yet valued
in the professional sphere.
Introdução
Formação contínua
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detentores de conhecimentos e domínio de alguns instrumentos teóricos
e técnicos das ciências sociais e educativas, que lhes permite
compreender e estudar os fenómenos socioeducativos com uma
preocupação de autenticidade, compreensão e rigor metodológico
(CAMÕES, 2018, p.55).
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Sendo este profissional, responsável pelo seu percurso formativo, cabe-lhe também, a
responsabilidade de fazer escolhas formativas para que possa ser mais e melhor na sua práxis,
Educador Social
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conhecimento e de recursos de vida” (MACHADO, 2008, pp. 32-33), torna-se primordial que
este profissional reconheça as suas competências, as suas habilidades, os seus conhecimentos,
bem como as suas limitações e as suas necessidades de modo a ultrapassar as suas dificuldades
e atuar, de modo eficaz, nos diversos campos de ação. "Os contextos de intervenção
sociocomunitária promovidos numa lógica de aprendizagem ao longo da vida, (...), constituem
um campo privilegiado para o desenvolvimento profissional dos educadores sociais" (VAZ,
2010, p.85). Contudo, são campos de atuação que exigem uma multiplicidade de saberes que 10
sustentam o seu trabalho e a sua própria identidade profissional,
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consequências que marcam a nossa contemporaneidade, levantam novos desafios aos
educadores sociais, que impelem a repensar em estratégias e metolodogias diferenciadoras de
ação, bem como a readaptar a intervenção socioeducativa. Os novos modelos interventivos,
devem incluir alternativas sociopedagógicas, socioculturais, sociopolíticas e socioeconómicas
(GONÇALVES; LOPES; SANTOS, 2020).
Metodologia 11
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principais referentes a Matriz da investigação e as Questões e Objetivos acima mencionados.
Desta forma, procurou-se igualmente garantir a consistência necessária relativamente à
formulação de questões consideradas críticas e/ou fundamentais, para não se comprometer os
objetivos centrais do estudo.
Quivy e Campenhoudt (2005) catalogaram três tipos de pessoas que podem ser
entrevistadas e em coerência, optamos por escolher a terceira categoria defendida pelos autores
que consideram “interlocutores úteis: os que constituem “o público a que o estudo diz 12
directamente respeito (…)” (QUIVY; CAMPENHOUDT, 2005, p.72). No nosso caso, esse
público foi constituído dois educadores sociais no cargo de direção técnica e um docente e
dirigente associativo.
De notar, que todos os participantes são Educadores Sociais. Curioso, também é que
quem tem mais anos de serviço é também quem possui mais habilitações académicas, como se
pode verificar na Tabela 1 que passamos a apresentar:
(Fonte: autores)
Por fim, importa também realçar os procedimentos tidos a fim de respeitar as questões
éticas. A entrevista a cada um dos educadores sociais teve início após consentimento escrito de
cada um; o primeiro contacto foi efetuado por e-mail, dando conta da nossa finalidade e objetivos
do estudo. No que concerne às entrevistas semiestruturadas procedemos, previamente, a
contactos com cada um, solicitando a entrevista, informando dos nossos objetivos e solicitando
autorização para a gravação áudio.
Com a finalidade de manter o sigilo dos contextos estudados, o anonimato de todos os
seus participantes, bem como a confidencialidade das declarações dos diretores, procedemos à
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sua codificação. Os respetivos instrumentos de recolha e o tratamento de dados foram objeto de
análise detalhada.
Tendo principiado com uma “leitura flutuante” (BARDIN, 2004), a fim de estabelecer
um primeiro contacto com os documentos, seguiram-se posteriores leituras – dada a riqueza e
extensão do corpus analisado. Após esta fase, começaram a emergir as grandes categorias, de
forma indutiva, conforme os objetivos pré-estabelecidos, o quadro teórico e o resultado das
entrevistas. Tendo sido possível a sua replicação pelas três entrevistas, encontrámos 13
categorias: programas de formação contínua; práticas de formação contínua; perceção dos
profissionais
Com a ajuda do software webQDA, incluíram-se os dados das entrevistas nas fontes,
seguida das codificações, onde se construiu a árvore de categorias com as dimensões e
subcategorias e, por último, o questionamento, onde se questionaram os dados para dar resposta
à questão de investigação (SÁ; ALVES, 2017).
Resultados e Discussão
Segundo Bell (2010), “os dados em estado bruto, provenientes de inquéritos, esquemas,
de entrevistas, listas, etc., têm de ser registados, analisados e interpretados. (…) O trabalho do
investigador consiste em procurar continuamente semelhanças e diferenças, agrupamentos,
modelos e questões de importância significativa.” (BELL, 2010, p.183). Foi seguindo esta linha
de pensamento que procedemos à análise e interpretação dos dados.
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No entanto, quando questionados se os planos de formação contínua, direcionados
especificamente para os educadores sociais, respondem às necessidades dos profissionais, os
participantes referem que sim, contudo deveriam ser mais específicos, tal defende Vieira
(2011). Referem também que a formação ainda não é valorizada como deveria ser, como se
poderá verificar em algumas respostas que se passa a citar:
14
“Acho que poderiam responder mais. Falta abrir novas perspetivas de
intervenção” (E1/Q2.2).
“Penso que sim. Todavia, a frequência destas formações é pouco
valorizada e reconhecida: depende mais do investimento do profissional
na sua reciclagem profissional do que propriamente no “peso” que essas
formações têm no CV.” (E2/Q2.2).
“Sim, mas podiam às vezes serem mais específicos para a intervenção
do educador social” (E3/Q2.2).
Tendo em conta todo o quadro anteriormente trabalhado, pode-se começar por afirmar
que existem programas existentes no âmbito da formação contínua para os educadores sociais,
ainda que escassos. Que os mesmos, deveriam ser mais específicos de modo a responder mais,
às necessidades dos profissionais.
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interesses, a questão financeira e disponibilidade de horários. Pode-se verificar nas seguintes
respostas:
Dos três sujeitos entrevistados, todos afirmam frequentar formação contínua, fazem-no
em instituições de ensino superior e associações profissionais.
Também ficou bem claro, que há práticas de formação contínua por parte dos
profissionais que o fazem em instituições académicas nas associações profissionais de acordo
com Vaz (2010) .
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permanente reciclagem. Só desta forma é que a Educação Social
consegue responder à rápida transformação de saberes.” (E2/Q4.1).
“A relevância é a mesma que para outras profissões, nomeadamente de
âmbito social. Quando se trabalha com pessoas e com contextos
psicossociais, é premente a continua atualização, pois a sociedade é um
espaço sempre em mutação.” E3/Q4.1).
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Neste sentido, defendem um plano de formação contínua, devidamente legislado
obrigatório, por outro lado acham que será utópico legislar algo do género.
Ficou claro que consideram a formação contínua muito relevante para a sua prática
profissional, no entanto consideram que a mesma não é ainda valorizada (referindo a falta de
interesse) no seio dos profissionais, e apontam questões monetárias, ausência de trabalho na
área de formação e falta de sensibilidade às exigências do Mercado, como razões para tal
desvalorização.
Apontam como medidas, para que o desenvolvimento profissional dos educadores
sociais seja valorizado, a acreditação da formação contínua e a criação da Ordem Profissional,
como instrumento regulador e formativo obrigatório para quem quer exercer a profissão.
Considerações finais
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modo a apoiar a melhoria e a valorização do seu desempenho. A formação contínua constitui-
se como um papel fundamental na atualização permanente de conhecimentos exigida pelo
contínuo progresso científico e tecnológico. Os programas na área da educação contínua têm
de ir ao encontro das necessidades de atualização de conhecimentos e de desenvolvimento de
novas competências por parte de múltiplos agentes sociais e económicos.
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REFERÊNCIAS
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Profedições, 2005.
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Universidade Católica Portuguesa, 2018.
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