Sequência Didática Autobiografia - (Parte 2) - A Escrita Do Eu

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Orientações

As atividades desta oficina deverão ser postadas na sala virtual de Língua


Portuguesa I - Oficina 2.
Vínculo: ​http://uncavim20.unc.edu.ar/course/view.php?id=1959&section=2

Você deverá baixar o PDF da Oficina e poderá trabalhar em suporte papel, caso
queira, mas as atividades deverão ser todas digitais, via plataforma.

Em cada atividade há um link (vínculo) que leva diretamente ao fórum


correspondente.

Bom trabalho!

Prof. Richard Brunel Matias

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Língua Portuguesa I - Faculdade de Línguas - UNC
Oficina 2 - A escrita do “eu” - ​página ​2
SEQUÊNCIA DIDÁTICA​:
AUTOBIOGRAFIA

Oficina 2
Definido os parâmetros do contexto de produção de minha autobiografia

As boas-vindas à segunda Oficina pensada para que você desenvolva


capacidades de linguagem para a produção de uma excelente autobiografia. Ao
finalizar a oficina você deverá ser capaz de:

● Construir uma definição do gênero textual autobiografia;


● Diferenciar o gênero autobiografia da biografia e de outros próximos;
● Internalizar o valor social da autobiografia e estimular-se para a produção de
sua própria autobiografia;
● Definir os parâmetros do contexto de produção de sua autobiografia;
● Organizar o conteúdo temático, fazendo um levantamento dos episódios que
comporão sua autobiografia;

Para citar esta Oficina.

Brunel Matias, R. (2020). ​Definido os parâmetros do contexto de produção de


minha autobiografia. A escrita do “eu”. ​Lengua Portuguesa I -
Profesorado de Portugués - 2020. Facultad de Lenguas. UNC. Córdoba.

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Oficina 2 - A escrita do “eu” - ​página ​3
A ESCRITA DO EU

A ​memória ​é responsável pelas nossas lembranças, ela


será o ​alicerce ​de nossa autobiografia

Como autor/autora de sua autobiografia você vai escrever sobre a sua vida
de acordo com o conhecimento que tem de si mesmo/a, da sua história; uma
história que está presente em sua memória e pode resultar do entrecruzamento de
muitas outras histórias.

1. Como reconstruir o nosso passado?


Devemos treinar a nossa memória para capturar tanto o monumental como o
mais microscópico, ou seja, ir do mais significativo ao mais banal. No momento na
escrita, tudo será necessário. Não pense nos momentos mais importantes, mas
naqueles mais significativos.

2. A ficção presente
Como você já trabalhou na Oficina 1, a ficção unirá os pedaços de um
quebra-cabeça, pois a memória fragmenta a história. Ou seja, você vai conseguir
lembrar de muitos episódios significativos, talvez um deles seja até um divisor de
águas em sua vida, seja o momento “charneira” de sua existência. Segundo Josso
(2010) o momento charneira é uma passagem entre duas etapas de vida, um
divisor de águas. São acontecimentos que separam, dividem e articulam as etapas
da vida. Há um antes e um depois disso. Um exemplo claro é o nascimento de um
filho, a morte de um ser querido, a mudança a outro país, a cura de uma doença, o
prêmio de uma loteria, etc… Tal como afirma Silveira (2015)

Durante a vida de uma pessoa, há várias circunstâncias em que ​o contínuo


se rompe​, onde há uma mudança, uma passagem de uma etapa para a
outra da vida o que JOSSO (2010) chama de momento charneira, uma
espécie de dobradiça, que faz o papel de articulação entre os momentos de
vida. São situações tão fortes e significativas, que podem mudar o rumo da
história do sujeito.

Você deverá recordar as cenas dos acontecimentos, não apenas os


acontecimentos em si. Por exemplo, se você recorda o nascimento de um/uma
filho/a ou de um/uma irmão/irmã, este é o acontecimento. Porém, você deve fazer
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o esforço para recriar a cena, as sensações, as ações, deve reativar a memória
sensorial daquele momento, ous seja, sentir os cheiros, os sabores, as
recordações visuais, auditivas e também táteis. ​As generalizações como “foi um
momento muito lindo”, “foi o momento mais emocionante da minha vida” são
uma solução antiliterária e cômoda. ​Por isso, ​escrever uma autobiografia é mais
difícil do que escrever uma história totalmente imaginada. ​A realidade dos
fatos vividos nos desafiam, ou seja, quase nos impedem de manipulá-los para
transformá-los em matéria literária. Mesmo assim, cabe recordar que a memória,
as nossas lembranças, são apenas um elemento nutriente, não conseguem
abarcar tudo e é justamente aí, onde a memória não alcança, que a ​imaginação e
a criatividade ​cumprem o papel de enriquecer e condimentar o real. Além desses
dois fatores, também incidem a ​sua capacidade de expressar suas ideias através
de situações concretas, e das ações e reações dos personagens (​habilidade
dramática), ​sua capacidade de organizar informações para criar uma experiência
de leitura interessante (​habilidade narrativa), sua capacidade de manipular a
linguagem para expressar suas ideias com precisão e beleza (​habilidade
linguística) e sua capacidade de encantar e envolver o leitor na narrativa
(​sensibilidade artística).

Atividade 1 ​(Ir ao fórum na sala virtual e fazer a atividade)


Vamos fazer de conta que um/uma de seus colegas decide falar de seu pai e de
sua irmã em sua autobiografia. Seguramente deverá trabalhar com a descrição
desses dois personagens. A modo de exemplo, vamos nos inspirar em Machado
de Assis, um dos maiores literatas do Brasil. Leia os primeiros parágrafos da obra
“O pai” e diga como Machado explora a habilidade dramática, narrativa,
lingüística e sua sensibilidade artística para construir no leitor a imagem do pai e
da filha. (Cabe recordar que o texto a seguir é ficção pura)

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Machado de Assis
Vida e obra

Um dos maiores escritores da


literatura brasileira

Para conhecer mais


sobre este ilustre escritor brasileiro

Ir ao site

Assista ao vídeo Mestres da Literatura,


dedicado a Machado de Assis

O pai
Machado de Assis

O pai vivia de hortelão; a filha vivia da costura;


ambos viviam de uma esperança no futuro e
de uma reparação do passado.
Tinha cinqüenta anos o pai. Os cabelos
brancos caíam-lhe em flocos da cabeça como
uma cascata e davam realce ao rosto severo,
enérgico, mas ao mesmo tempo cheio de uma
dor profunda e resignada. Os anos o tinham
curvado um pouco; mas era esse o único
vestígio do tempo. Os cabelos brancos e
algumas rugas da cara tinham-lhe aparecido
em poucos dias, não gradualmente, por uma
transformação rápida, como se ali passasse
um vento maldito e destruidor.
Os olhos profundos, serenos, perscrutadores,
pousavam em alguém como se foram os olhos
da consciência; e ninguém os sofria por muito

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Oficina 2 - A escrita do “eu” - ​página ​6
tempo, tal era a magia deles.
Tinha a franqueza, sem ter a intimidade; não
oferecia a casa a ninguém nem ia à casa
alheia em ocasião alguma. Tinha fé nos
homens, mas não a fé da credulidade cega;
era uma fé que examinava, perscrutava,
esmerilhava, não se fiava nas aparências, não
se deixava fascinar pelos primeiros aspectos;
quando acreditava em um homem tinha-lhe
analisado o coração.
E, ainda assim, ninguém poderia contar a
glória de lhe haver atravessado a soleira da
porta. Dali para dentro não era já o mundo; era
um lugar de penitência e de trabalho, onde
nenhum olhar estranho podia penetrar; e, se
nem o olhar, muito menos o pé.
Duas criaturas únicas viviam ali, naquele
ermo, contentes uma da outra, vivendo uma
pela outra, aliadas ambas no serviço de um
juramento de honra, de um dever de
consciência: o pai e a filha.
A filha estava no verdor dos anos; vinte
contava; vinte flores a julgar pela beleza e pela
graça que a distinguiam; vinte lágrimas a
julgar pela tristeza e pela resignação que de
toda a sua figura ressumbrava.
Triste e resignada, como era, tinha no rosto
impressa a consciência de uma missão que
desempenhava; a coragem de um dever que
cumpria. O trabalho ainda não pudera murchar
a flor da beleza nem diminuir-lhe a
exuberância da vida; mas via-se que o olhar
dela reproduzia um cuidado exclusivo, e que,
nesse cuidado, deixava correr os dias sem se
lhe dar nem da vida nem da beleza.

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Oficina 2 - A escrita do “eu” - ​página ​7
Atividade 2
Descreva sua pessoa, o/a personagem principal de sua autobiografia, em forma
objetiva e subjetiva. Recorde que ​a ​descrição objetiva é feita de forma
imparcial, ou seja, é uma tentativa de demonstrar apenas aquilo que se vê da
forma mais realista possível, sem acrescentar qualquer juízo de valor, Já na
descrição subjetiva o aspecto opinativo não é só contemplado, mas muito
valorizado. ​T​rata-se de uma descrição mais próxima das impressões captadas.
Torna-se nítido o envolvimento do observador com o objeto/pessoa descrito/a.
(Ir ao fórum na sala virtual e fazer a atividade)

Descrição objetiva Descrição subjetiva

Qual das duas você empregaria para sua autobiografia?


Justifique sua resposta.

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Atividade 3
Agora descreva os dias de quarentena aqui na Argentina, também de modo
objetivo e subjetivo.
(Ir ao fórum na sala virtual e fazer a atividade)

Descrição objetiva Descrição subjetiva

Pense em como seria a descrição dos ambientes, dos cenários, dos lugares
em sua autobiografia e como uma combinação de descrição objetiva e
subjetiva poderia encantar o/a seu/sua leitor/a.

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Oficina 2 - A escrita do “eu” - ​página ​9
Primeira síntese

1. ​Tenha presente que a memória das experiências pessoais é quem vai


alimentar a realidade mais literária de sua autobiografia.

2. ​Você deve selecionar e combinar todos os registros das memória, tudo, do


mais monumental ao mais simples, do mais banal ao mais significativo. Isso
servirá como fonte de inspiração. Por isso, com lápis e papel na mão, anotar e
anotar. Deixar sua mente entrar na retrospecção daquilo que você deseja contar
de sua vida, daquilo que deseja compartilhar com o destinatário de sua
autobiografia.

3. Através de ficção é que você vai costurar os fragmentos que a memória extrai
de sua história pessoal. Usando técnicas narrativas e as habilidades já
mencionadas.

4. ​Como autobiógrafo/a você deverá trabalhar com a construção das cenas que
contêm elementos da realidade, mas deve recordar que isso requer também a
construção de tempo, espaço e personagem que permita avançar no relato que
irá produzir.

5. O recordar significa “voltar a trazer ao coração”, portanto, escrever a partir das


“recordações pessoais” é como escutar a memória do coração. A autobiografia
traz temas mais íntimos e pessoais, além de outros também externos.

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Oficina 2 - A escrita do “eu” - ​página ​10
3. Diferenciando gêneros textuais

3.1. Etimologia
A palavra ​autobiografia ​provém do grego ​αυτoς ​(autós = «propio»), ​βiος (biós =
«vida») e ​γράφειν​ (grafeim = «escritura»)

3.2. Singularidades

Embora a autobiografia esteja relacionada com outros gêneros afins como a


biografia, a memória literária e o diário íntimo, entre outros, existem claras
diferenças entre eles que você precisa saber para melhor produzir seu texto:

BIOGRAFIA X AUTOBIOGRAFIA
Diferencia-se da biografía dado que na biografia não ocorre identidade entre o
narrador e o protagonista do relato, o que é próprio da autobiografia. (Vamos ver
isso mais adiante, quando falarmos de ​pacto autobiográfico)

MEMÓRIA LITERÁRIA X AUTOBIOGRAFIA


​ a
Enquanto à Memória Literária, o foco está mais nos fatos externos da vida, n
autobiografia dá-se maior importância à vida íntima do narrador​, a ​ o
desenvolvimento de sua personalidade ao longo de sua vida.

DIÁRIO ÍNTIMO X AUTOBIOGRAFIA


Com relação ao diário íntimo a diferença fundamental tem a ver com a perspectiva
temporal. ​A autobiografia é construída retrospectivamente a partir da memória
do autor, com um lapso de tempo importante entre o tempo da narração e o
tempo dos fatos narrados ​(o mundo criado é disjunto). No diário íntimo, contudo,
o tiempo da narração é paralelo ou se sincroniza com os fatos. Escreve-se a diário.

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Atividade 4
Leia os textos selecionados e classifique-os quanto ao tipo de gênero textual que
são, justificando sua resposta. ​(Ir à sala virtual e fazer a atividade)

Texto 1

Fonte:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2014_
unespar-campomourao_port_pdp_viviani_aparecida_pitoli.pdf

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Texto 2

Aristóteles (384-322 a.C.) foi um importante filósofo grego. Um dos pensadores


com maior influência na cultura ocidental. Foi discípulo do filósofo Platão.
Elaborou um sistema filosófico que abordou sobre praticamente todos os
assuntos existentes, como a geometria, física, metafísica, botânica, zoologia,
astronomia, medicina, psicologia, ética, drama, poesia, retórica, matemática e
principalmente lógica.
Aristóteles nasceu em Estagira, na Macedônia, colônia grega, no ano de 384 a.C.
Filho de Nicômaco, médico do rei Amintas III, recebeu sólida formação em
Ciências Naturais.
Fonte: ​https://www.ebiografia.com/aristoteles/

Texto 3
Eu introduzia em minha cabeça, pelos olhos, palavras venenosas, infinitamente
mais ricas do que eu pensava; uma força estranha recompunha em mim, pelo
discurso, histórias de loucos furiosos que não me concerniam, uma tristeza atroz,
a ruína de uma vida: não ia eu contaminar-me, morrer envenenado? Absorvendo
o Verbo, absorvido pela imagem, eu só me salvava, em suma, pela
incompatibilidade desses dois perigos simultâneos. Ao cair do dia, perdido numa
selva de palavras, estremecendo ao menor ruído, tomando os estalos do
assoalho por interjeições, acreditava descobrir a linguagem em estado natural,
sem os homens. Com que covarde alívio, com que ilusão, reencontrava a
banalidade familial quando minha mãe entrava e acendia a luz exclamando: ‘Meu
pobre benzinho, assim você arranca os olhos!’ Esgazeado, eu saltava em pé,
gritava,corria bancava o palhaço. Mas até mesmo nessa infância reconquistada,
eu me amofinava: de que falam os livros? Quem os escreve? Por quê? Revelei
minhas inquietações ao meu avô, que, depois de refletir, julgou chegada a hora
de me libertar e o fez tão bem que me marcou
Sartre, em “As palavras”

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4. O valor social de uma autobiografia

Pudemos muito conhecer sobre as vivências nas guerras, sobre as


evacuações de imigrantes e sobre o serviço militar de crianças através de
biografias, autobiografias e diários. Muitas vezes, através das entrevistas orais,
gestam-se verdadeiras autobiografias. Assim, do ponto de vista da psicologia, as
autobiografias orais ou relatos de vida são para alguns autores (Mc Adams, 1988;
Riessman, 1993; 2001; Coffey y Attkinson, 1996) uma porta aberta com
depoimentos presenciais através de aproximações pessoais que dão respostas
inalcançáveis por outros métodos para perguntar sobre ​motivações de ações
particulares​. Chega a ser meio ideal que permite revelar as regras informais do
grupo e os atritos nas relações pessoais e de trabalho, os padrões de vida da
comunidade e o sistema de apego. A entrevista autobiográfica oral ou os relatos de
vida nos informam sobre a realidade psicológica e social das pessoas (Sparkes,
1994).

Atividade 5
Assista à entrevista realizada com Andor Stern, o único brasileiro ainda
sobrevivente do holocausto, realizada pela BBC e anote regras informais do
grupo, atritos nas relações pessoais e de trabalho, padrões de vida da
comunidade e tente descrever o sistema de apego, sempre quando a informação
estiver presente. ​(Ir à sala virtual e fazer a atividade)

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5. O contexto de produção de sua autobiografia

Entendemos como contexto de produção o conjunto de parâmetros (fatores) que


tendem a exercer certa influência na organização do texto. Segundo Bronckart
(2004), esses parâmetros podem ser agrupados em dois mundos: um físico e o
outro sociosubjetivo.

Contexto físico de produção

O lugar de produção​: o lugar físico onde o texto é produzido. Em casa, na escola,


na sala de aula, etc. É lógico que dependendo do lugar de produção o texto sofrera
modificações. Não é a mesma coisa escrever em casa e na sala de aula, por
exemplo.

O momento de produção​: a extensão de tempo durante a qual o texto é


produzido. Uma coisa é ter que escrever uma autobiografia em um exame e dispor
de tão só 1h30 e outra é poder escrevê-la passando por um processo que pode
levar até mais de um mês ou uma 15 ou 20 horas de instrução através de uma
sequência didática.

O produtor ou locutor​: é a pessoa ou a máquina que produz fisicamente o texto,


seja ele oral ou escrito.

O receptor​: a ou as pessoas que são suscetíveis de perceber ou receber


concretamente o texto. Qualquer pessoa que tenha acesso ao texto, qualquer leitor
eventual.

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Contexto sócio-subjetivo

O lugar social de produção​: no quadro de qual formação social , de que


instituição, ou, mais geralmente, de que mundo de interação o texto é produzido:
escola, família, meio de comunicação social, forças armadas, indústria, escritório
de advocacia, comércio, política, interações informais, literária, pedagógica,
acadêmica, etc… O texto que você vai produzir encontra-se na formação social
literária.

A posição social do emissor​: é o papel social que o emissor assume na


interação, ou seja, ​o enunciador​. Docente, escritor, estudante, médico, pai, mãe,
filho, amigo, rival, etc…

A posição social do receptor​: ​é o papel social que o enunciador atribui ao


receptor do texto, portanto ao seu ​destinatário​. Para quem você realmente vai
escrever a sua autobiografia? Docente, escritor, estudante, médico, pai, mãe, filho,
amigo, rival, etc…

Finalidade/objetivo​: qual é, do ponto de vista do enunciador, o efeito ou os efeitos


que o texto é suscetível de produzir no destinatário?

5.1. Vamos ao nosso projeto de escrita

Enunciador/a​: você vai escrever sua autobiografia no papel de estudante da


cadeira de Língua Portuguesa I. Isso implica que assumirá sempre este papel, não
o de um/a literata com vasta experiência na escrita de textos cuja função estética
seja a primordial.

Destinatários/as​: quando escrevemos um texto como a autobiografia podemos ter


dois pontos de vistas. Ou escrevemos para os nossos familiares ou escrevemos
para o público em geral. Quando se escreve para familiares, sejam eles nossos
pais, o/a cônjuge, os filhos e filhas, etc., é importante dar a conhecer aspectos da
vida que nunca foram públicos, nem sequer às pessoas de maior confiança na
família. Já, se você for escrever a um público geral, aberto, é preferível escrever
sobre acontecimentos de interesse social, sobre acontecimentos aparentemente
irrelevantes de índole pessoal privada. Cabe recordar que ao escolher o
público-alvo como leitores em geral, sua autobiografia será uma exposição pública

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Oficina 2 - A escrita do “eu” - ​página ​16
da própria vida e contrasta-se sempre tudo aquilo que você disser com os dados
da realidade.

Atividade 6 ​(ir à sala virtual e fazer a atividade)


Assista às indicações da editora Laura Bacellar e descubra um pouco mais sobre
como dirigir melhor o seu texto a um destinatário específico. Cabe recordar que
Laura Bacellar vai falar da produção de um livro e você não vai escrever um livro,
mas algumas páginas sobre sua vida; 12 páginas, apenas.

Depois de ter lido sobre o destinatário e de ter assistido ao bate-papo com


Bacellar, comente sobre os destinatários de sua autobiografia, nós, a turma de
Língua Portuguesa I, justificando sua resposta. (Glossário em Moodle)

6. Conteúdo

Segundo Lejeune (2008), o texto da autobiografia

...deve ser principalmente ​uma narrativa​, mas sabe-se a importância


do discurso na narração autobiográfica; a perspectiva, principalmente
retrospectiva: isto não exclui nem sessões de auto-retrato, nem diário
da obra ou do presente contemporâneo da redação, nem construções

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temporais muito complexas; ​o assunto deve ser principalmente vida
individual​, a gênese da personalidade: ​mas a crônica e a história
social ou política podem também ocupar um certo espaço​.
Trata-se de uma questão de proporção ou, antes, de hierarquia:
estabelecem-se naturalmente transições com os outros gêneros da
literatura íntima (memórias, diário, ensaio) e uma certa latitude é dada
ao classificador no exame de casos particulares (p. 15).

Atividade 7
Foco no conteúdo

1. Escreva uma lista de pelo menos ​oito acontecimentos significativos de sua


vida que gostaria de desenvolver em sua autobiografia.

2. Dado que escrever uma autobiografia é tentar apreender sua pessoa por
inteiro, cabe relembrar e fazer uma síntese do seu eu. Por isso, sua autobiografia
deve abranger sua vida em sua totalidade e em sua gênese, ou seja os oito fatos
deverão dar a possibilidade de falar de você desde o seu nascimento até agora,
com seu ingresso à Faculdade de Línguas.

3. ​Uma das funções da autobiografia é testemunhar uma existência toda. Sua


autobiografia terá quatro capítulos e cada um destes três páginas. Então você
pode trabalhar dois fatos de sua vida por capítulo. Recorde o que disse Lejeune
(2008), você pode também trazer acontecimentos relacionados com a história
social e política a seu texto, desde que não diluam o foco, que é contar sobre sua
vida. Por exemplo: eu vivi como adolescente o impeachment de Fernando Collor
de Mello, um dos presidentes destituídos do poder por corrupção nos anos 90.
Pintávamos as caras de preto e saíamos fazendo passeatas pelas ruas. À época,
eu morava em Curitiba (poderia em minha autobiografia falar um pouco sobre os
caras-pintadas daquele momento.., mas sempre quando bem relacionado com
minha vida)

4. As imagens, os aromas, as músicas, os sons, as sensações e as conversas


fazem sua memória se despertar. Vale a pena, antes de iniciar esta atividade,
resgatar fotos, falar com conhecidos e amigos, fazer uma reflexão sobre que
episódios de sua vida vão compor sua autobiografia. (Crie uma pastinha para

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Oficina 2 - A escrita do “eu” - ​página ​18
guardar digitalmente o que puder, fazendo um acervo sobre você)

5. Em seguida, partilhe na sala virtual a atividade. Lembre-se de que seu texto


será público, não será um diário íntimo. Mas antes de começar a fazer a
atividade há um período de reflexão mais ou menos extenso no qual você,
futuro/a narrador/a se detém para pensar sobre o que, concretamente, vai dizer e
como começar a fazê-lo.

Bom trabalho!

Bibliografia básica usada para a produção desta Oficina

Mateo, C. M. (sem data). Capítulo 4. La autobiografia. Disponível em:


http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:BU2JVu0LrKsJ:www.sc.ehu.es/pt
wmamac/Capi_libro/50c.pdf+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=ar​ Consultado no dia 02/04/2020.

Carneiro, H. S. e Barreiros, P. N. (2017). Conhece-te a ti mesmo: o gênero autobiografia como recurso


para desenvolver capacidades de linguagem, um estudo de caso. Revista VEREDAS –
INTERACIONISMO SOCIODISCURSIVO – 2017/1, p. 488 – 506 - PPG LÍNGUÍSTICA/UFJF
– JUIZ DE FORA (MG) - ISSN: 1982-2243 Disponível em:
https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:3ndmREGL66UJ:https://periodico
s.ufjf.br/index.php/veredas/article/view/28017+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=ar Consultado
no dia 02/04/2020
Schutt, D. (2020). Ficção em tópicos. Disponível no site ​https://ficcao.emtopicos.com/
Páez, E. (2020). Como escribir una autobiografia. (Vídeo de Youtube).
https://www.youtube.com/watch?v=GJ0bMSr5-P0

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