Dissertação - Edval - Rodrigues de Viveiros
Dissertação - Edval - Rodrigues de Viveiros
Dissertação - Edval - Rodrigues de Viveiros
Bauru
Abril de 2007
2
Bauru
Abril de 2007
2
3
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, a Jesus e ao Espírito Santo por Vossa luz
Aos meus pais, Dirce de Oliveira Viveiros e Sebastião Rodrigues de Viveiros pelo amor e
À minha esposa querida e amada, fiel companheira, Edilene Bachega Rodrigues de Viveiros,
pelo amor, carinho e paciência para comigo em todos estes anos, me apoiando nos momentos
difíceis nesta caminhada, e ainda me trazendo a felicidade e alegria de que tanto necessito.
3
4
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Renato Eugênio da Silva Diniz, por sua generosidade, confiança e
abertura.
Ao mestre Roberto Nardi por ter me inspirado não somente o prazer pelo Ensino de Ciências,
Aos amigos Maria Amélia Monteiro, João Mianutti, Sérgio Camargo e Airton Acácio
À amiga e inestimável colaboradora Professora Sílvia Regina Quijada Aros Zuliane, sem a
4
RESUMO
ABSTRACT
Through the theoretical references of the Johnson-Laird‟s Mental Models Theory and
Vergnaud‟s Conceptual Theory we tried to obtain the mental models and conceptual fields
inside of the process of the teachers' initial formation. For so much we analyzed daily
classroom written by students of the last year of Licentiate's degree in Chemistry of the São
Paulo University State “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) of Bauru.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 08
7
INTRODUÇÃO
autoformação que acredito ter se iniciado não exatamente quando da decisão formal de
atravessando. Por esta razão dissemos acima que esta dissertação não foi finalizada, no
sentido de que todo este processo jamais se encerra no indivíduo que verdadeiramente dedica-
Parte das inquietações e perguntas aqui suscitadas ocorreram desde a época em que me
área de Educação, e, contudo partes destas dúvidas ainda persistiram mesmo após alguns anos
de prática como docente que já atuou e ainda atua desde as séries iniciais em Ciências até o
Ensino Superior. Esse itinerário incluiu ainda um período razoável de tempo em que
Biologia, Ciências e Matemática) da Rede Pública do Estado de São Paulo, por ocasião de
Educação.
não foram diretamente relacionadas com a área da Educação propriamente dita. Tais
contribuindo inclusive para que hoje nossa postura estivesse identificada com o que se poderia
denominar “transdisciplinar”. Mesmo desconhecendo esta terminologia até bem pouco tempo,
9
mas praticando-a na maioria das vezes durante nossa práxis de vida, hoje vemos como tal
experiência (se é que podemos reduzir um conceito tão profundo e amplo apenas com esta
palavra) foi decisiva para todo este processo de autoformação. Já dentro da pós-graduação,
nosso contato com o tema se deu precisamente quando cursamos a disciplina intitulada
posteriormente de um seminário.
Em virtude do estudo desta obra iniciou-se o interesse pelo tema que emerge como
inicial. Por este motivo estamos particularmente interessados em estudar e obter alguns
elementos que nos ajudarão a esclarecer como a formação inicial contribui para que este
forma mais ampla e abrangente possível, que não é apenas o saber puramente científico,
que forma uma tessitura e uma trama tão bem tecida na vida e na existência do professor
enquanto indivíduo, muito mais do que apenas como um profissional. O conhecimento que,
9
10
É neste ponto, dentro do processo de formação inicial, que se insere este trabalho,
professores, onde emerge questões como: (1) Quais as possibilidades de relação que o
influência que a universidade exerce sobre este processo? (4) Quais os mecanismos mentais e
conceituais que o futuro professor utiliza para se articular, organizar, construir ou reconstruir
conhecimento. Sua resposta não poderá ser encontrada exclusivamente nas páginas deste
trabalho, visto que somente o processo futuro da história docente particular e individual de
cada professor é que dará conta de respondê-la. Contudo, principalmente quando abordarmos
para nos perguntarmos se a Educação atual é parte do sistema social, ou seja, é determinada
por este ou, pelo contrário, se aquela é quem determina ou influencia as práticas sociais.
10
11
com o conhecimento. Para tentar respondê-la deveremos adotar a perspectiva da teoria dos
modelos mentais e dos campos conceituais, que nos fornecerão o aporte de base
Sendo assim, os problemas sobre o qual a pesquisa se debruça são os seguintes: 1º:
cognitivos?
3º: É possível estabelecer uma associação ou relação direta entre os modelos mentais e
conceituais de futuros professores em relação a sua (futura) atividade docente, tendo em vista
11
12
pela identificação e categorização dos esquemas, modelos mentais e dos campos conceituais
pretendemos construir uma base epistemológica que nos possibilite obter elementos para
sugerir e até prever ações de natureza educacional que estejam dentro de uma perspectiva
suas dificuldades e avanços, tendências e perspectivas. No entanto, nosso olhar estará voltado
conhecimento é algo complexo e que, por conseguinte, o trabalho com este conhecimento
sobre alguns conceitos de Gaston Bachelard e de Edgar Morin, que serão inicialmente
apresentados neste capítulo, mas que deverão ser oportunamente retomados e discutidos nos
capítulos subseqüentes..
procurando compreender as implicações que este conceito vem tomando na Educação. Logo
após isto passamos para um nível de abordagem mais elaborada em relação ao conhecimento,
no âmbito educacional.
12
13
utilizamos como referenciais teóricos para a interpretação dos dados obtidos pelo processo de
mentais e campos conceituais dos sujeitos de nossa pesquisa. Através da identificação destes
pudemos chegar através desta pesquisa e, indo mais além, também procuramos fazer algumas
julgamos ser pertinentes e que possam trazer uma contribuição para a área de ensino de
Ciências.
13
14
CAPÍTULO 1
CONSIDERAÇÕES
multiplicidade de implicações que o mesmo possui, tendo em vista o fato de se considerar que
Sendo assim, num primeiro momento não bastaria isolá-lo de outros fatores
intrínsecos ao qual este tema está intimamente relacionado. Um investigador incauto, agindo
crer que tal temática devesse apenas se concentrar na questão pura e simples relacionada ao
conhecimento.
Ao abordar este tema, Morin irá dizer que alguma reforma que se pretenda
1
O conceito de complexidade aqui utilizado será aquele definido por Edgar Morin, que será apresentado em
detalhes no próximo capítulo.
14
15
exigidos de uma Educação para a era planetária, onde o professor é protagonista e não apenas
objeto. Morin vai dizer que o caráter funcional e profissional do ensino reduz o professor a
um funcionário e a um mero especialista. O ensino deveria deixar de ser apenas uma função,
uma especialização ou uma profissão e deveria voltar a se tornar uma tarefa política por
excelência, uma missão de transmissão de estratégias para a vida, transmissão esta que
necessita da competência, mas, além disso, requer uma técnica e uma arte. “A missão supõe,
Para que isto seja possível na prática, segue Morin, é necessário que seja realizada
uma ação institucional que, atuando nos diferentes espaços educativos e de acordo com os
diferentes níveis de aprendizagem, consiga operacionalizar o que define como seis eixos
(i) Conservador/revolucionante;
subdesenvolvimento;
2
A racionalidade técnica aqui mencionada possui o sentido de “ilusão racionalizadora”: a Educação do futuro
deve primar pelo “princípio de incerteza racional”. Isto significa dizer que a racionalidade necessita ser
autocrítica, não apenas teórica e nem apenas crítica. Ainda que Morin (2002) tenha tratado do que chama “os
erros da razão” em “Os sete saberes necessários à Educação do Futuro”, a diferenciação entre racionalidade e
racionalização foi melhor explicitada pelo próprio autor na “Enciclopedia Multimediale delle Scienze
filosofiche”, sob o título “Razionalità e complessità” [conforme Morin (1991)].
15
16
planetário da humanidade;
paradigmas apresentados por Morin em “Os setes saberes necessários à Educação do Futuro”:
compreensão; a ética do gênero humano (MORIN, 2002). Este livro foi escrito por Morin por
solicitação da UNESCO em 1999, da mesma maneira como essa entidade em 1996, por
intermédio da Comissão Mundial para a Educação do Século 21, presidida por Jacques
conceito nasce a partir do momento que Bachelard identifica a presença de diversas correntes
que pudesse não unificar, mas senão fornecer uma visão mais completa desta multiplicidade
Mas todo este caos pode ordenar-se se considerarmos que uma só filosofia não pode
explicar tudo e se quisermos dar uma ordem às filosofias. Por outras palavras, cada
filosofia fornece apenas uma banda do espectro nocional, e é necessário agrupar
todas as filosofias para termos o espectro nocional completo de um conhecimento
particular. (BACHELARD, 1976, p. 66).
3
O “Relatório Delors” foi publicado com o nome de Educação: Um tesouro a descobrir.
16
17
discursivo. Na verdade, o que Bachelard busca é algo além da filosofia em si, ele busca o que
cada uma destas filosofias possui de mental e de psicanalítico dentro de cada indivíduo. E a
decorrência disto é que o indivíduo, de fato, manifesta em maior ou menor grau de cada uma
fenômeno.
determinando diferentes visões ou interpretações sobre a Educação para o indivíduo. Isto nos
Bachelard, um único indivíduo (no caso um professor) deverá apresentar maior ou menor
parcela de cada uma das escolas filosóficas no conjunto de seu perfil. Ou seja, nenhum
características4.
uma importância no mínimo dupla: do ponto de vista da pesquisa em Educação para a ciência
poderia nos fornecer dados relevantes para uma possível caracterização de uma amostra de
outro lado, o conceito também poderia ser útil dentro da própria prática docente e em
4
Quando abordarmos a questão dos Modelos Mentais segundo a teoria de Johnson-Laird, e também a teoria dos
Campos Conceituais de Gérard Vergnaud, verificaremos que o conceito de perfil epistemológico assemelha-se a
estas interpretações, já que ofereceria uma interpretação mais completa do que apenas considerar um único
modelo mental ou campo conceitual como expressão da realidade de um indivíduo.
17
18
qualquer nível do ensino, subsidiando a ação docente para uma atitude reflexiva, aspecto este
tais como: para que, por que, a quem interessa e de quem é a responsabilidade, como se
muito diferente segundo cada caso respectivo ao indivíduo em questão. Assim, para estas
mesmas perguntas, teríamos respostas muito diversas dependendo se seu interlocutor fosse o
como se processa, deverão nortear nossa discussão sobre a temática formação de professores.
Mas para que nossa exposição tenha a necessária profundidade que pretendemos, a
dividiremos em dois grandes aspectos que estão intimamente e diretamente relacionados, aos
para que, por que, a quem interessa e de quem é a responsabilidade, estarão mais
propriamente sendo tratadas dentro do aspecto que chamamos de conjuntural. Por outro lado,
a questão como se processa (a formação de professores) será considerada dentro do olhar que
possíveis respostas ou interpretações para tal pergunta não serão nem definitivas e tão pouco
absolutas.
5
Segundo a LDB, a “Educação básica” é formada pela Educação infantil, ensino fundamental e ensino médio
(BRASIL, 1999(b), p. 43).
18
19
epistemológica voltado para o aspecto que definimos como pedagógico. Em ambos os casos, a
maneira absolutamente crítica tanto sobre a própria ciência em si como também em relação à
Educação. Segundo Hilton Japiassu, neste novo tipo de epistemologia, definido como
mostrando que a verdadeira significação da ciência não reside mais no saber enquanto tal, mas
no poder que ele efetivamente confere (JAPIASSU, 1979). E o que dizer disto em relação à
6
O conceito de epistemologia será desenvolvido oportunamente neste trabalho.
19
20
conjunturas que, na maioria das vezes, chegam a estar fora do âmbito do controle dos próprios
professores. Torna-se necessário que o tema seja analisado dentro da dimensão conjuntural na
Para Morin os aspectos individual e social não estão e não são considerados
individual e social, mas sob o olhar da Educação, em uma de suas obras que se tornou talvez a
mais conhecida de todas: “Os sete saberes necessários à Educação do futuro” (MORIN,
2002).
Neste trabalho o autor coloca em relevo muitos problemas que inclusive o próprio
Bachelard já havia advertido anteriormente, como por exemplo, num dos paradigmas que
Morin denomina “as cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão” irá propor que o
os riscos permanentes do erro e da ilusão, presentes tanto no psiquismo como na cultura que
conduzem ao erro ou à ilusão. Assim, o erro e a ilusão podem estar presentes tanto no
indivíduo (erros mentais e intelectuais) como na ciência e na cultura (erros da razão, cegueiras
20
21
Morin fala em “erros intelectuais”, que seriam aqueles que advêm das teorias,
doutrinas e ideologias. No que se refere, por exemplo, às teorias científicas (que dão base e
sustentação ao discurso acadêmico), o que ocorre muitas vezes é que estas “resistem à
agressão das teorias inimigas ou dos argumentos contrários” (ibid., 2002, p.22). O problema é
que, na grande maioria das vezes, na situação escolar, estes embates que ocorrem entre
diferentes teorias científicas não são explicitados no contexto da Educação escolar formal, o
que pode fazer com que seja passada uma idéia caricatural e absolutamente continuista da
o fato de que neste caso, algum ponto de vista ou teoria acaba se fazendo impor sobre as
demais, acomodando ou até nem mesmo mencionando ou não fazendo sequer transparecer a
Este tipo de fenômeno foi estudado pelo sócio-lingüista britânico Basil Bernstein.
Segundo ele, o processo de comunicação social neste caso se dá através de um tipo específico
uma relação mútua, cujo objetivo é sua transmissão e aquisição de forma seletiva, deslocando
21
22
discurso de um grupo dominante e, ainda, em favor deste mesmo grupo dominante. Mas ainda
modifica a natureza original do texto (no sentido geral do termo) a partir do momento em que
este texto é transferido de um contexto a outro. O problema é que, na maioria das vezes, esta
de Morin uma interpretação semelhante feita pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, a
principalmente em sua obra “Les Héritiers” (BOURDIEU, 1964). Este autor defende,
generalização defendido por Bourdieu, não podemos deixar de dar crédito ao fato de que em
muitos casos a herança cultural proveniente de sua classe social, trazida pelo aluno, determina
em grande proporção a atitude deste aluno frente ao ambiente escolar, ou ao seu próprio
processo de escolarização. É mais patente identificar naqueles indivíduos que trazem esta
herança cultural de uma maneira mais estruturada e estabelecida uma predisposição maior
para aceitar o processo de escolarização formal. Por outro lado, isto se contrapõe a um
7
Código, na acepção de Bernstein “é definido como um princípio regulativo, tacitamente adquirido, que
seleciona e integra significados relevantes, formas de sua realização e contextos evocadores” (BERNSTEIN,
1996, p. 300).
22
23
dizer, de acesso aos códigos culturais demonstrados por muitos alunos provindos de classe
sociais menos abastadas. Estamos falando em códigos culturais, não em níveis cognitivos.
dentro de uma abordagem epistemológica do conhecimento. Para isto, buscou estreitar laços
diretos entre a origem da razão humana e o aspecto social (BOURDIEU, 2001). Neste sentido,
os códigos culturais podem ser determinantes na relação que o aluno estabelece com a escola,
ao aluno. Em toda esta idéia, três conceitos de Bourdieu estão intimamente relacionados:
Destes três conceitos, o habitus ocupa uma posição de epicentro dentro de todo o
noosfera9. O imprinting é precisamente aquilo que marca o indivíduo, formando como que
8
Morin utiliza o termo imprinting que, segundo ele, foi proposto por Konrad Lorenz (MORIN, 2002, p.28)
9
Esta noção de noosfera é atribuída ao filósofo francês Teilhard de Chardin.
23
24
o indivíduo desde seu nascimento, através mesmo da cultura familiar e, em seguida, através
da cultura escolar e, inclusive, prosseguindo na universidade (se for o caso) e ainda na vida
profissional. A noção de noosfera é o que compõem no Homem as coisas de seu espírito, que
se manifesta, por exemplo, nos mitos, nas fantasias formadas por nossos sonhos e nossa
situação escolar poderíamos entender que alguns destes símbolos se prestam a este papel: a
livro didático, do computador, da avaliação, etc. Finalmente, o campo é aquilo que configura
as relações sociais propriamente ditas. Os agentes que fazem parte de cada campo (por
desempenham as funções inerentes a suas respectivas funções. E isto é dado por relações
objetivas de hierarquia de posições, tradições, história, a instituição escola em si, através das
quais faz com que o indivíduo aja de acordo com as possibilidades existentes dentro deste
campo: é isto que define o habitus. O habitus opera como uma força conservadora dentro da
como exemplo um quadro elaborado por Krasilchik (2000). Nele a autora mostrou a
época ou período histórico, sob o qual, muitas vezes, se inserem os programas e políticas
24
25
consequentemente, alunos.
Parece tornar-se agora mais claro e óbvio a asserção de Bourdieu de que o aluno
chega à escola impregnado de todo um habitus proveniente do meio social do qual este aluno
é originário. Do mesmo modo, podemos também pensar num habitus presente nos alunos em
suas respectivas licenciaturas e cursos de formação inicial de professores. E isto nos leva
25
26
Resumindo o que vimos até agora. Bourdieu parte de uma análise puramente
sociológica para tentar oferecer uma interpretação sobre algumas problemáticas da Educação.
Adotando uma posição histórica e, portanto, continuista, fundando uma teoria da reprodução
gênese e a origem dos elementos que compõem a trama complexa de relações que fazem parte
de todo este processo. Talvez isto se justifique exatamente porque Bourdieu esteve pouco
querer incluir traços ou elementos relacionados com aspectos cognitivos e, portanto, próximos
do campo da psicologia.
adotando um estruturalismo algumas vezes até não assumido, com uma constelação de
processo de transmissão cultural. Uma das forças deste modelo e motivo de simpatia frente
ideológico por parte do Estado, momento em que este cria o discurso pedagógico oficial.
O que ambos os modelos tem de comum em relação aos nossos referenciais teóricos é
transmissão cultural. Dentro deste controle insere-se a Educação, seus agentes, suas
instituições, seus discursos. Talvez uma Educação que estivesse menos susceptível a estes
mecanismos poderia se constituir num modelo mais humano, rumo a uma ética planetária,
tanto por Bachelard quanto por Morin. Para Bachelard, no entanto, o foco de seu trabalho
26
27
abrangente, menos específico, mas, nem por isto, menos profundo ou mais superficial. Muito
pelo contrário, tenta responder simultaneamente questões relativas tanto ao campo mais
conhecimento, que nem Bernstein nem Bourdieu levaram em consideração. Para isto, Morin
irá enfatizar que o conhecedor deveria se integrar ao conhecimento, e que isto deveria ser um
princípio adquiriu importância a partir do momento em que Morin irá dedicar um volume
obra intitulada “O Método”10. Para isto, indica como metodologia a auto-observação, a auto-
respectivamente. Mas para que tudo isto possa ser factível de ser realizado na prática, é
preciso que tal processo seja realizado dentro de um paradigma que permita o conhecimento
complexo (MORIN, 2002). E isto somente pode ser obtido a partir do momento em que se
abre mão da relação dicotômica entre sujeito e objeto (ou sujeito e conhecimento),
professores. A princípio poderíamos rapidamente responder esta questão dizendo: “para que
10
O Conhecimento do Conhecimento, Porto Alegre: Sulina, 2002.
27
28
os professores estejam mais capacitados”, ou, “para que os professores estejam melhores
formados”, e ainda, “para que os professores dêem aulas melhores”. Se formos levados
Bachelard (1991) denomina “experiência primeira”. Portanto, procuremos ser mais profundos.
Vemos que por detrás destas respostas simplistas existe uma visão profundamente
É óbvio que os críticos a esta noção simplista e apriorista, de forma alguma estão
inferindo que o professor não deva efetivamente dominar conteúdos, tanto em sua formação
Segundo Villani (1984) esta noção está atrelada a um modelo de ensino onde o
Santos reforçou a idéia de que a universidade brasileira está rumando para um processo de
mercantilização, ditado principalmente pela política do Banco Mundial. Com isto, caberia ao
estado investir apenas na Educação básica, já que a universidade estaria se direcionando tão
somente para atender às necessidades do processo de globalização que atinge todos os países
com sua discutível qualidade em seus serviços. Segundo o sociólogo, da mesma maneira
como está ocorrendo em Portugal, o Banco Mundial recomenda que o Brasil diminua seu
28
29
investimento nas instituições de ensino superior, ou seja, diminua o custo por aluno (custo
este que se relaciona diretamente com os salários dos professores) (SANTOS, 2005). Nesta
reflexão e de mudança.
professores”, uma indagação muito profunda e que possui muitos reflexos e conseqüências,
que até pode ser mascarada por diversos matizes ou tons de discursos aparentemente muito
nomeá-los como: governo, comunidade (incluindo os pais dos alunos), alunos, professores
poderíamos estender ainda mais nossa análise, pois seria cabível nos perguntarmos se existem
diferenças filosóficas, ideológicas, ou diferenças até nos papéis e nos autores e atores em
ambas as modalidades, e se tais papéis diferem num e noutro sistema (o privado e o particular,
professores.
quem interessa” a ação docente. Aqui, a ação (docente) é direcionada a “formar” o aluno, tal
qual também, ele, o professor, também foi “formado”. Assim procedendo, devemos passar
29
30
utilizados na escola, para responder aquela pergunta. Constataremos de forma muito curiosa a
Química no Ensino Médio, mencionemos a notável contribuição que Lopes11 (2002 e 2005)
traz para elucidar as imbricadas relações que estão por detrás de tal questão quando analisa a
do que na universidade;
11
Em Lopes (2002) encontraremos uma discussão sobre os conceitos de discurso pedagógico e
recontextualização de Bernstein para o caso dos PCN.
30
31
gênese disto se origina e reside em algum agente que detém um poder, mas se expressa
didáticos, em todos os níveis e graus. E dentro deste contexto se inserem os PCN, ditando em
grande medida o que deveria fazer a escola e o professor para tornar seu aluno apto ou
Isto é muito forte e não é nada sutil, considerando que muitas vezes oculta e dissimula
ainda sob o pretexto talvez nobre de inserir o aluno advindo da escola pública no mercado de
trabalho formal.
muito distintos, dependendo do tipo ou natureza da instituição que fornece esta ou aquela
formação.
O que talvez valha a pena mencionar é que uma possível solução conciliadora às
perguntas que fizemos: “para que, por que, a quem interessa e de quem é a responsabilidade
31
32
“parceria oficial”. Contrapondo-se a esta forma ainda de controle do estado, segundo Foerste
“parceria colaborativa”. Esta relação entre universidade e escola, ainda que apresente diversas
dificuldades, parece ser bastante profícua, ainda mais porque dá um significado mais
e Boing (2004) irão concluir que o estabelecimento de parceria entre universidade e escola
pode ser uma das principais estratégias para a própria valorização da profissão docente. Isto
ambos os papéis sejam exercidos pelos dois tipos de professores, e não apenas pelo primeiro.
Contudo, esta relação de parceria deve ser tomada com extremo cuidado. Ao
mencionar uma pesquisa desenvolvida nos Estados Unidos por Popkewitz (1994), Lüdke,
Moreira e Cunha (1999) destacam que na maioria das vezes a intermediação entre a ciência,
que é promovida dentro da universidade pelo expert, acaba fazendo com que estes
32
33
A este mesmo respeito Chakur (2000) aponta a ocorrência do que chama de dois
e a interação entre pares. Segundo a autora, nestas condições, o professor apenas permanece
então que a pesquisa não pode depender das trocas casuais entre professores, com base apenas
em suas experiências individuais e trocas informais. Isto faria com que o repertório obtido não
abrangesse a validade necessária para sua transmissão em outros casos. Para isto, portanto,
sugere que o “público” (ou seja, os professores) seja cientificamente validado, organizado e
parceria, é importante destacar que a universidade não deveria e não poderia suplantar o papel
de reflexão que a própria escola deveria exercer em relação a si mesma. É imprudente que a
universidade pudesse ditar à escola o que esta deve fazer. É questionável a validade de
projetos e ações onde a universidade toma o lugar da escola, ou ainda, considera esta como
Tal atitude, muitas vezes, possui suas origens dentro da própria universidade, quando
33
34
acaba por induzir e tomar a frente nas iniciativas e processos de tomada de decisão que
caberiam mais às escolas; isto faz com que a comunidade não seja agente de sua
própria modificação.
no processo de pensar como no processo de executar estas ações que julga necessárias para
“ajudar” a escola, será que seria descabido perguntar: “o aluno da universidade está sendo
Nos últimos cinco anos (2000 até 2004), na área de pesquisa acadêmica em Educação
al, 2005).
Este fato denota claramente a relevância e a dimensão com que esta área vem sendo
34
35
considerada uma das áreas prioritárias em seus programas de ação política, social e cultural.
Neste sentido, vemos pesquisas englobando a maioria dos países em todos os continentes,
governamentais, observando, portanto que este tema não se limita apenas a uma preocupação
processo de sua própria capacitação docente profissional o que, no caso dos professores das
quer entre os próprios professores da escola em si, quer entre a escola e a universidade.
realizado na Inglaterra, Brasil, Canadá, Estados Unidos, França e Suíça francófona (TARDIF,
2001). Segundo o estudo constata-se que o sistema de parceria que se estabelece entre a
universidade e a escola (principalmente através dos seus respectivos professores) pode trazer
uma efetiva contribuição tanto para ambas as instituições quanto para seus profissionais.
Voltando a falar sobre a questão das parcerias, num sentido diametralmente oposto a
tais interpretações um tanto quanto viciadas que tais terminologias acabam trazendo, a
relevância do trabalho com formação de professores segundo uma visão colaborativa possui
uma dimensão muito maior do que apenas a questão da profissionalização em si. O âmbito e
35
36
alcance sociais que o trabalho com formação de professores atinge, com profundas e diretas
(ZABALA, 2002).
Já não se pode hoje, deter o olhar sobre este ou aquele país em particular, sem se
procurar ter uma visão mais geral, em termos planetários (MORIN, CIURANA e MOTTA,
2003). Não é por uma questão apenas técnica ou acadêmica, mas, antes de tudo, é de natureza
dentro deste trabalho. De qualquer forma, é oportuno já adiantarmos neste ponto do trabalho,
diálogo transdisciplinar, que se volta a noção de ética planetária (MORIN, 2002; MORIN,
pela paz internacional. Uma paz possível de se construir, também, pelas vias da Educação,
formal e ou informal, mas, sobretudo, por uma profunda discussão e reformulação no sistema
fundamental para se contribuir para uma cultura global da paz e da ética das relações
internacionais e interpessoais.
36
37
formação de professores trazendo como base o que vinha ocorrendo na Espanha, na França e
na Inglaterra, países estes que detêm uma influência considerável sobre o Brasil,
principalmente a França.
Segundo estes autores, na Europa, a profissão docente acha-se muito influenciada por
assemelha a mesma palavra proposta por Bachelard. Muito pelo contrário, a racionalização de
que os autores falam se refere tão e exclusivamente ao processo de especialização que tem
conduzido ao incremento do discurso dos experts acadêmicos que, via de regra, desqualifica o
saber dos professores. A este respeito mencionam uma palestra de Antonio Nóvoa12 em que o
mesmo ressalta o fato de que os experts tem normalizado aquilo que consideram como padrão
desenvolvido por estes. Esta atitude afronta diretamente a autonomia dos professores, que
acabam acatando estas diretrizes ditadas. O mesmo problema é apontado por Zeichner (1993),
para quem os professores não possuem autonomia profissional também em função de que são
ensino.
situação é diferente nos Estados Unidos, onde o grande investimento na área educacional faz
Fazendo uma rápida análise da obra de Torres (1998a e 1998b) sobre o papel que
12
Palestra ministrada em 13 de setembro de 1999, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
37
38
segundo estes autores, a visão desta instituição se direciona sobre a chamada relação custo-
técnica. Talvez a diretriz mais questionável que aquela instituição defende em relação aos
participação de professores neste processo de discussão. E mais outro fator, relacionado a este
último, é que sempre se produzem as reformas sem que anteriormente tenha procedido a uma
preparação prévia para os professores. Ou seja, primeiro se impõem uma reforma, de forma
destas reformas desenvolvidas por países do Primeiro Mundo, até mesmo o fato de que
Educación para América Latina y el Caribe (OREALC) e pelo Programa de Educación Básica
países da América Latina: Argentina, Chile, Uruguai, Bolívia, Paraguai, Peru, Colômbia,
destaca que a tendência mais relevante em todos eles é a “busca da passagem de um sistema
38
39
descontextualizadas e, pelo contrário, que as mesmas sejam dirigidas aos docentes em seus
próprios contextos, que estejam de acordo com as necessidades e demandas destes docentes,
objetivo de atender ao seu real interesse profissional. Parte deste problema está sendo
Com relação à questão da capacitação em serviço, o texto apenas menciona que em tal
situação tem-se conseguido sair da metodologia de ensino por transmissão, para metodologias
interesses meramente políticos. E, finalmente, o texto faz questão de salientar que os recursos
proporcionados pela tecnologia ainda não estão totalmente disponíveis na maioria destes
países, fator este que influencia diretamente o processo de formação docente, principalmente
39
40
epistemológicos
científica e sua relação com o conhecimento, relação esta tão estreita com o oficio docente.
especificamente na área de Ciências, também não podemos nos furtar de falar em Ciência. E
formado e, posteriormente, formando, nos remetemos ao lócus duplo desta ação, quais sejam:
a universidade e a escola, de uma forma simbiótica. De alguma forma, portanto, todas estas
universidade e escola.
proporcionar uma das mais gratificantes lições sobre o papel da Educação e da escola:
40
41
Mais ainda, há que se olhar para a relação aluno-professor se quisermos ir mais além
[...] para que a ciência objetiva seja plenamente educadora, é preciso que seu ensino
seja socialmente ativo. É um alto desprezo pela instituição o ato de instaurar, sem
recíproca, a inflexível relação professor-aluno. A nosso ver, o principio pedagógico
fundamental da atitude objetiva é: quem é ensinado deve ensinar (BACHELARD,
1996, p. 300).
Esta posição seria extrema se Bachelard não tivesse feito toda uma reflexão sobre o
A Escola, portanto, acaba sendo como que um campo de experimentação daquilo que se
iniciou na Ciência, prolongou-se até a Universidade e chegou até ela através de seus
professores. Isto nos remete ainda a questão da autoformação da qual o professor deveria se
ocupar. Gaston Pineau (Nicolescu, 2000; Paul e Pineau, 2005; Pineau, 2005) aprofunda e
Se pensarmos na maneira como a Ciência trata o conhecimento, veremos que, por esta
Tal discussão é profícua quando vemos que a mesma idéia se aplica à Educação e,
Por outro lado, quando estamos tratando do conhecimento que, a priori, é o objeto
41
42
conhecimento em relação aos alunos. Não estamos em absoluto aqui defendendo ser o
professor o foco principal do ensino, mas, por outro lado, estamos ressaltando o fato de que o
mediador do conhecimento.
pretende se colocar, deve ter certos cuidados quando tenta explicitar o conhecimento
científico. Durante este processo, o cientista pode ser “traído” por determinados obstáculos,
ao que Bachelard chama de obstáculos epistemológicos, que podem obscurecer sua visão
acurada do mundo científico. Estes obstáculos são: a observação primeira, o senso comum, o
É fácil perceber que vale a pena aprofundar um pouco sobre este conceito de
obstáculo epistemológico, tanto pelo fato de ser pertinente ao campo das ciências e, por
conseguinte, ao ensino desta mesma ciência. Pelo menos por dois motivos nossa motivação é
válida: de um lado, o sujeito da formação de professores está sendo “formado” sob a égide da
ciência; de outro lado, este mesmo sujeito, agora após ter “passado” pelo seu processo de
formação inicial, irá ele mesmo sujeitar outros sujeitos a outra “formação”. O elemento
13
A publicação original em francês data de 1938, sob o título “La Formation d‟esprit scientifique: contribuition à
une psychanalyse de la connaisssance”, Ed. Vrin.
42
43
ciências, não poderia e não deveria se furtar de uma discussão, de um aclaramento e até de um
enfrentamento e de um embate de idéias que este tema suscita. Então vejamos como
poderíamos interpretar alguns destes obstáculos frente a uma possível situação de formação
corresponderia a tudo aquilo que o indivíduo (cientista, professor, aluno ou homem comum)
considera como sendo uma idéia primeira, uma opinião imediata sobre determinado assunto.
opiniões, internas ou externas, que se apresentem logo de início para explicar ou dar conta de
interpretação do “erro” do aluno pelo professor pode trazer esta noção de observação
primeira. Ou seja, o professor, muitas vezes, interpreta aquilo que o aluno não fez como
deveria ter feito como sendo um erro. A avaliação então deve mudar num sentido em que não
Nesta mesma acepção encontramos trabalhos como o da professora Maria José M.P.
crítica à afirmação do óbvio (PÊCHEUX, 1990). Este autor se preocupa em analisar conceitos
metodologia sobre a figura do sujeito implícito ou oculto no discurso. Entretanto, Almeida vai
trabalho de Orlandi (1987), que conceitua o que chama de “discurso pedagógico”, como
43
44
sendo aquele discurso praticado principalmente nos ambientes escolares (formais). Este tipo
de discurso será caracterizado como um discurso do tipo autoritário (ORLANDI, 1996, 2003).
Dentro desta perspectiva, Almeida considera que o discurso não deve ser interpretado
apenas de forma literal. Para tanto, ressalta o papel que a ideologia e as condições de
então a conclusão sobre o que chama de “não transparência da linguagem” (um “mecanismo”
Esta noção foi empregada numa das mais importantes pesquisas na Área de Ensino de
Ciências no Brasil, desenvolvida pelo professor Roberto Nardi, intitulada “A área de ensino
a pesquisa buscou responder questão como “A que se deve o início da pesquisa em Ensino de
Ciências no Brasil?”. A dificuldade em se encontrar respostas para tal questão está no fato de
que as mesmas não estão naquilo que o discurso traz de óbvio: a não transparência da
explicações para os modos como ele produz sentidos, ou seja, determinar as condições de
14
Tese de Livre Docência, apresentada ao Departamento de Educação, Faculdade de Ciências, Universidade
Estadual Paulista, Bauru.
44
45
antiguidade, quanto os da atualidade). Este fato que sugere a utilização da História da Ciência
como uma maneira de suprir este obstáculo do senso comum (NARDI e CARVALHO, 1996).
Da mesma forma, como acreditam outros autores, uma outra maneira de se tentar preencher
O problema é que, muitas vezes, com o intuito de tornar a Ciência mais acessível, o
metáforas, transposições didáticas (não no sentido utilizado por Yves Chevallard), modelos e
(ANDRADE e FERRARI, 2002). Bachelard ilustra muito bem isto com diversos exemplos na
científico: o fluído elétrico sendo análogo a uma esponja; a eletricidade das pontas é como
arrancar o pelo do rabo de cavalo; a bomba hidráulica sendo análoga aos geradores elétricos.
Os professores de ciências imaginam que o espírito começa como uma aula, que é
sempre possível reconstruir uma cultura falha pela repetição da lição, que se pode
fazer entender uma demonstração repetindo-a ponto por ponto[...]não se trata,
portanto, de adquirir uma cultura experimental, mas sim de mudar de cultura
experimental, de derrubar os obstáculos já sedimentados pela vida cotidiana
(BACHELARD, 1996, p. 23).
Vamos apenas comentar mais um dos obstáculos, cuja natureza será de extrema
dificuldades se resolvem diante de uma visão geral do mundo, por simples referência a um
45
46
Este obstáculo poderia muito bem ser equivocadamente exemplificado por algum
qual tanto falaremos no decorrer deste trabalho, especialmente quando abordarmos a questão
neste caso em que tal palavra se referencia ao conceito de complexidade, não denota idéia de
argumentando-se que com isto pretende-se chegar mais facilmente a uma síntese do
conhecimento. Nesta idéia de “síntese” está implícita a idéia de “unidade”, coesão e holismo
conhecimento cuja natureza possui uma unidade e que, com isto, o aluno seria capaz de ter
uma compreensão maior sobre determinado tema. Chamamos a atenção para esta ilusão,
sejam realizados no ensino fundamental, médio ou superior. Neste sentido, o que estamos
enfatizando é que o caráter interdisciplinar não deveria jamais supor a priori a unitarização do
conhecimento, já que isto poderia conduzir a uma idéia simplista e reducionista daquilo que se
está pretendendo estudar. É óbvio, entretanto, que muitas vezes pretende-se compor um
46
47
que o aluno chegue a uma síntese do conhecimento. Esta síntese, no entanto, do ponto de vista
a ocorrer como parte de todo um processo complexo, cujos caminhos e meandros não se pode
de antemão ter certeza de que seja atingido. Portanto, neste caso, a “unidade” seria uma
conseqüência e não um princípio ou ponto de partida. Esta seria a concepção que Bachelard
epistemologia da prática educativa, que teve em John Dewey (1859-1952) seu grande
precursor, a partir do momento que coloca que a atividade reflexiva como uma forma
especializada de pensar.
No entanto, foi talvez Donald Schön o autor que mais se destacou em relação as idéias
atividade reflexiva a ferramenta necessária para reformular sempre esta mesma prática. Para
15
Donald Schön publicou o livro The reflective practitioner em 1983 e, em 1987, o livro Educating the
reflective practitioner.
47
48
conselheiro (coach), que será o responsável por conduzir a prática (practicum) em situação
real. Como este practicum vai se dando a medida que as situações vão ocorrendo, o aprendiz
constantemente realiza um processo de diálogo consigo mesmo (back talk). Esta seria uma
professor em outros autores (Imbernón, 1994; Shavelson & Stern, 1981; Zabalza, 1994), que
identificam os saberes que o professor adquire durante sua atuação profissional (NÓVOA,
função de que muitas vezes não se proporcionava condições para a prática de tal reflexão,
além de que dava margem a se considerar que este processo de reflexão era algo realizado
individualmente, enquanto, na verdade, não era esta a idéia original de Schön. Isabel Alarcão
(ALARCÃO, 1996).
Contudo, salienta que “ser reflexivo” não é tarefa fácil, exige determinação,
Paulo Freire o que é ser reflexivo: “a formação é um fazer permanente ... que se refaz
constantemente na ação. Para se ser, tem de se estar sendo” (ALARCÃO, 1996, p. 186-187).
48
49
conhecimento prático e pensamento prático não são suficientemente claros e que, por isto,
propõe que tais concepções possam ser compreendidas sob a luz de algumas proposições
(VERGNAUD, 1990).
própria do professor enquanto sujeito (que pode ser o professor) que age sobre um
determinado objeto (o conhecimento escolar ou científico). Esta ação provoca uma reação, e o
sujeito modifica constantemente sua relação com o objeto, num processo contínuo de
construção e reconstrução (BECKER, 1993). Segundo este autor a maioria dos professores
que aquilo que se considera “prática” não é estritamente fruto de um processo de auto-
Talvez o cerne disto esteja no fato de que a maioria dos indivíduos estabeleça uma
separação entre a realidade e o si mesmo, ou seja, uma dicotomia entre o sujeito e o objeto.
desenvolvermos nesta pesquisa, não fazemos a separação entre sujeito (no caso, o professor) e
objeto (no caso, o conhecimento), pois, ambos, formam um todo indissociáveis. Não
tentativa de colocar ambos os termos como se fossem pólos opostos e contrários numa relação
dialética. A este respeito, bem nos adverte Jantsch e Bianchetti (1995) quando também
49
50
interdisciplinaridade. Para estes autores, a polaridade não deveria existir quando tratamos de
uma epistemologia de natureza intrinsecamente interdisciplinar, pois, nesta situação, não faz
sentido fazer a distinção entre sujeito e objeto, já que isto poderia nos levar a uma visão
Também não acreditamos que a adoção unilateral voltada ao aspecto histórico possa
Outra escola, digamos assim, foi o chamado “movimento pela pesquisa”. Este
professor. Citemos apenas alguns destes pesquisadores, em diferentes países e a sua maneira:
Perrenoud (1993) na Suíça , Charlot (2002) na França , Tardif et all (1991), Tardif (2000,
2002) no Canadá, Zeichner (1998) e Elliott (1989) na Inglaterra, Erickson (1989) nos Estados
Unidos.
50
51
CAPÍTULO 2
Neste capítulo enfatizaremos um aspecto que, embora a maioria dos autores que
Isto porque o pano de fundo de toda discussão que se faz a respeito de interdisciplinaridade e
relação com o sujeito que eventualmente dela participam. A grosso modo, conhecimento
Dizemos “grosso modo”, pois, estritamente falando, torna-se muitas vezes difícil e
51
52
Para que tal análise seja feita, recorreremos à noção epistemológica que Bachelard (1971)
constroem. E isto tanto no plano das relações interpessoais das quais este sujeito participa
como também em relação ao aporte epistemológico interno que este sujeito estabelece com
escolar? Será que ocorreria algum tipo de “erro lógico” ao se adotar uma visão disciplinar e
52
53
fator afetivo envolvido nas relações interpessoais que se estabelecem entre os indivíduos nas
situações de trabalho coletivo, uma vez que este tipo de trabalho envolve um forte processo de
Estas são perguntas que provavelmente não nos caberá responder todas aqui. Nem
tampouco possamos encontrar respostas tão óbvias e rápidas para a maioria delas. Não porque
a quantidade de variáveis seja tão grande a ponto de não ser possível explicitar algum tipo de
experimento que pudesse efetivamente dar respostas acertadas. Contudo, o que estamos
querendo com isto é suscitar uma provocação, tendo como base estes questionamentos.
transdisciplinaridade.
utilizada tão somente para denotar um ramo ou área do conhecimento, ainda assim permanece
53
54
(1990), talvez uma das mais brilhantes páginas sobre o assunto. Segundo a autora a origem do
termo “disciplina” teria surgido somente a partir do século XIX, principalmente em função da
tanto pela recente demanda gerada pela indústria e, como conseqüência, pela necessidade de
se formar especialistas nas diversas áreas industriais e tecnológicas que foram surgindo. Para
a mesma (ibid, p. 22), no entanto, um fato novo e interessante surge a partir do momento em
simplesmente Wilhelm Humboldt. A razão disto foi que tal conceito trazia à tona a questão
utilizado de forma geral ou simplesmente incluído em todas as disciplinas. Este fato teria
fazendo com que estas últimas se responsabilizassem pelo desenvolvimento das disciplinas
individualmente. Foi então em decorrência disto que teria se iniciado o estabelecimento das
54
55
disciplinas enquanto um “sistema de Wissenschaft” (do alemão “ciência”). Com isto, houve
Isto pode nos parecer um paradoxo, na medida em que, ao mesmo tempo, a ciência
disciplinas científicas e, por outro lado, haver a necessidade de um diálogo entre estas
mesmas disciplinas para se resolver problemas comuns. Talvez, de fato, não ocorra nenhum
intenção dos próprios cientistas pudesse ser a de não se perder a noção de unidade do
generalizado possa sim ser algo que apenas trate os fatos de forma simplificada,
permanecendo apenas no senso comum, mesmo para as mentes menos incautas e treinadas
como a dos cientistas. Para isto, Bachelard não poupa críticas nem mesmo a Goethe, a quem,
55
56
Para Bachelard, o processo de especialização faz com que a própria Ciência evolua, já
que através da especialização pode-se chegar àquilo que denomina de “segunda aproximação
eventualmente contraditórias entre determinado conceito. Isto faz com que, por exemplo, as
culturas onde tal processo de especialização seja mais desenvolvido, sejam “mais abertas às
e conceitos. A especialização amplia, pois, uma cultura geral sobre determinada área ou em
campo da Ciência seja um fenômeno da mais alta lide em termos de uma cultura científica e,
especializada valoriza o conhecimento e a cultura geral como um todo, muito mais do que
56
57
E, pense o que pensar a crítica filosófica, um verdadeiro sábio nunca está instalado
na sua especialidade. É forte na sua especialidade, o que quer dizer que se situa entre
os mais bem armados para descobrir fenômenos novos nessa especialidade. A sua
cultura é, pois, uma história de constantes reformas. (ibid., 1971, p. 154).
ditado por alguém ou por algum sistema (cultural, filosófico, doutrinário, escolástico, etc.).
Ainda que, posteriormente, possa ter ocorrido uma dissociação ou derivação do termo e outros
conceitos tenham emergido a partir daí, fica evidente que a idéia por detrás do conceito de
disciplina denota o ato de aprender. Isto nos será particularmente útil, a partir do instante em
transdisciplinaridade.
Ciência não seja algo tão temerário quanto se pensa a priori, e que inclusive tal posição
57
58
diversifica uma idéia através de uma multiplicidade de mentes, possivelmente com pontos de
vista diferenciados, por vezes até opostos, paradoxais e contraditórios: “em todos os reinos da
1971, p. 154).
do conhecimento” (leia-se “especialização”). Talvez o que deveria ser colocado sob suspeita é
conhecimento.
conhecimento possa ser mais válida para a situação escolar acadêmica, em virtude de que isto
possa dificultar o processo de aprendizagem do aluno, ou, ainda antes, o próprio processo de
ensino por parte do professor, de conteúdos tão dispersos e aparentemente desconexos. Neste
caso talvez fosse pertinente e válida a crítica ao aporte metodológico puramente disciplinar.
58
59
Torna-se necessário desde o inicio esclarecer que o sentido da crítica disciplinar que se
faz geralmente, está sendo aplicada à campos essencialmente distintos, embora inter-
verdade, cabe uma diferenciação numa e noutra situação. E isto traz já de início na maioria
tomando como exemplo uma discussão ocorrida aqui mesmo no Brasil. Mais precisamente, na
última Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada
em julho de 2006 (de 16 a 21 de julho, na Universidade Federal de Santa Catarina), que teve
59
60
Ribeiro, disse que algumas áreas da pós-graduação são fortemente interdisciplinares, como
por exemplo, o direito, a administração e as ciências sociais aplicadas. “Em certas áreas a
formação deve ser dentro dela própria. Enquanto em outras, pode ser positivo o intercâmbio
pela rica contribuição que possa ser dada”. Segundo Ribeiro, a formação multidisciplinar ou
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) tem criado políticas para apoiar pesquisas
interdisciplinares, afirmando que somente no ano de 2005 a Capes apoiou mais de 50 eventos
inter e multidisciplinares.
Contudo, esta simpatia pela interdisciplinaridade parece não ter sido um consenso,
pelo menos entre os palestrantes daquele evento. Por exemplo, um “problema” (talvez até
foi criada a comissão dentro da CAPES, para 176 solicitações em 2006. Na análise de Nobre:
2006).
60
61
atualmente:
professor Dimas Floriani (da Universidade Federal do Paraná, e consultor ad hoc da Capes
primeiro é preciso saber o que é Matemática, ou Sociologia, por exemplo, para depois poder
trocar com outras disciplinas”. Este necessário aporte disciplinar (inclusive dotado de um
rigor), aliás, também será defendido pelos teóricos da transdisciplinaridade (como Basarab
Nicolescu, Gaston Pineau, Patrick Paul e Américo Sommerman), conforme veremos quando
61
62
2.3 - Transdisciplinaridade
ser o mesmo caso, ou seja, parece difícil se conceber uma única abordagem, interpretação ou
visão transdisciplinar que seja capaz de ser aplicável a toda e qualquer situação, a toda e
indicativos para uma perspectiva teórica geral ou particular. Esta polissemia pode também ter
um lado positivo, afinal será que seria desejável se ter uma interpretação única sobre o
assunto? Contudo, o que parece ser mais conveniente é possuir alguns consensos conceituais,
62
63
16
uma citação feita por Jean Piaget num colóquio sobre interdisciplinaridade em 1970 , onde
este afirmou:
[...]à etapa das relações interdisciplinares, podemos esperar ver sucedê-la uma etapa
superior que seria „transdisciplinar‟, que não se contentaria em encontrar interações
ou reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas situaria essas ligações no
interior de um sistema total, sem fronteira estável entre essas disciplinas (WEILL,
D‟AMBRÓSIO e CREMA, 1993, p.30).
saber:
16
PIAGET, Jean. “L‟épistémologie des relations interdisciplinaires”. In: L‟interdisciplinarité – Problèmes
d‟enseignement et de recherche dans les universités, Nice, 1970. Actas do colóquio, OCDE, Paris, 1972.
63
64
em absoluto a disciplinaridade. Pelo contrário, para que ela seja praticada plenamente é
necessária uma profunda compreensão das particularidades de cada disciplina, suas bases, os
Por outro lado, a transdisciplinaridade não possui jamais a pretensão de tentar criar
uma nova disciplina, eliminando, pois as demais disciplinas. Seria no mínimo ingenuidade
crer que seria possível se eliminar as disciplinas, coisa que, a nosso ver, seria completamente
64
65
É esta “fé na solidariedade e continuidade do trabalho científico” que nos faz reforçar
democrático do saber, não apenas demarcado rigidamente por cada ramo do conhecimento
dentro de uma possível visão epistemológica de uma ciência emergente. Surge uma ecologia
diferentes disciplinas e ainda além das disciplinas (NICOLESCU, 1997; NICOLESCU, 2000;
A pergunta é: existe algo que possa estar ao mesmo tempo entre, através e além das
disciplinas? De forma clássica poderia se pensar que isto seria um absurdo, pois não teríamos
um objeto. A transdisciplinaridade, por outro lado, deve buscar o que há de comum entre,
através e além das disciplinas e, para isto, não pode priorizar esta ou aquela ciência mesmo
que sob o pretexto de, no caso da Física, ser uma ciência estruturada sobre axiomas,
65
66
tanto quanto central em relação ao conhecimento de determinadas leis naturais, por ser uma
ciência com critérios que considera suficientes para uma organização transdisciplinar,
conseqüência normal da síntese dialética provocada pela interdisciplinaridade, quando esta for
A este respeito, Nicolescu faz uma distinção necessária quanto também a própria
interdisciplinaridade:
Direito;
66
67
(NICOLESCU, 1997).
Bioinorgânica, deliberadamente ou não, talvez por força de seu método, já sinalizam pelo
poderíamos ter alguma dúvida se em tais casos estaríamos dentro de uma abordagem
adotada por Sommerman (2006), na qual tais exemplos se classificariam como sendo o caso
2006, p. 64).
Para isto é necessário, entre outras ações, não apenas mudanças curriculares de
para baixo, mas, acima de tudo, profundas discussões com os verdadeiros atores deste drama,
IRIBARRY, 2003).
67
68
Esta visão terá uma importância absolutamente didático-pedagógica. Para isto, em sua
currículo escolar” desenvolve quase que um manual, com exemplos práticos, concretos e
Assim sendo, o autor destaca que é possível que o enfoque globalizador se concretize
críticas, seria viável aplica-los em situação de sala de aula. Assim, menciona como principais
os seguintes métodos:
Educativa de Itália) tenta fazer com que as crianças construam o conhecimento através
p.197).
Diálogo Transcultural
69
70
torna-se necessário explicitar qual é exatamente a epistemologia que enfim adotaremos neste
levemos a termo nosso objetivo, discutiremos neste capítulo os três paradigmas que compõem
característica dos fenômenos físicos, mas, na verdade, vai se generalizar até o nível
sociológico, conforme veremos. Compreender o que está por detrás destes níveis de realidade
transdisciplinaridade.
Na Física Quântica fala-se em níveis de energia, que são entidades associadas a certas
comprimento) mais a dimensão temporal que conhecemos. Isto é também demonstrado pela
Teoria da Relatividade, mas é na Mecânica Quântica que tal questão aparece de uma maneira
evidente.
E somente para termos idéia da dificuldade teórica e experimental que isto implica,
Paul Dirac, logo na introdução de sua conhecida obra “Quantum Mechanics”, ao se referir à
luz, menciona o fato de que quando dois feixes de luz de diferentes cores se cruzam, nesta
70
71
região do cruzamento ocorre uma mistura de cores, porém, logo após cada feixe prossegue
com a mesma cor original. Dirac então diz que este é um problema que particularmente ele
não vai abordar naquele momento. Isto obviamente levaria o cientista a acirrar uma forte
discussão teórica que se travou entre os dois cientistas mais proeminentes da época que foram
Einstein e Bohr.
nível dos fenômenos biológicos e psicológicos. Teremos que abrir um parêntese neste
paradigma clássico mecânico de que a matéria deveria ser somente partícula ou somente onda.
Esta lógica dual, binária, era baseada na concepção dialética da matéria. Isto significa
que o conceito de partícula e o conceito de onda eram conceitos separados entre si, nunca
denomina a “lógica do terceiro excluído”. Ou seja, implica dizer que não existe um fenômeno
que unifique os fenômenos de partícula e de onda de forma simultânea, e ainda de tal forma
que um fenômeno esteja contido ou que gere seu aparente fenômeno oposto.
Outra questão que Lupasco (1962 e 1967) discute é que, sendo o universo que a Física
estuda composto de matéria, e esta sendo regida por uma lógica que implica na dualidade
onda-corpúsculo, tanto a matéria viva, os seres vivos e, incluindo-se aqui o ser humano em
toda sua complexidade biológica e psicológica, deveriam também ser capazes de envolver o
71
72
mesmo tipo de comportamento. Na verdade Lupasco trouxe uma discussão que aparentemente
mecânica clássica, newtoniana e cartesiana bastava uma interpretação linear, causal e binária
psicológica.
Por outro lado, a dualidade onda-corpúsculo traz a tona, pela primeira vez na historia
da ciência, a discussão de que os fenômenos naturais (não somente aqueles estudados pela
auto-contido (regressão ao infinito). Esta foi a demonstração que, por exemplo, Kurt Godel
utilizou para demonstrar que seria impossível reduzir um fenômeno físico a um processo
finito e portanto limitado dentro de uma cadeia sucessiva de eventos. Em outras palavras, isto
coloca fim praticamente a uma discussão sobre a questão de se determinar a existência de uma
lógica do terceiro incluído. Seria a condição onde determinado par de fenômenos dialéticos
possuem uma síntese, numa sucessão ad-infinitum, configurando, no entanto distintos, porém
adjacentes, níveis de realidade. Estes níveis de realidade são interfaces ou regiões topológicas
níveis ou estados, conforme mencionamos acima, onde são representados por grandezas
72
73
Esta concepção lógico-quântica trouxe a luz da teoria física o mesmo achado que Ilya
reações químicas associadas a eventos biológicos, que foi a base experimental para
contradizer o paradigma enunciado pela Segunda Lei da Termodinâmica, que trata da questão
entropia impunha uma condição fatídica de degradação dos sistemas inorgânicos e orgânicos
cosmológicas são sistemas fechados, muito pelo contrário. Talvez, neste ultimo caso, a
estruturas que compõem o sistema nervoso central e suas respectivas funções (das quais
participam o cérebro, com seus neurônios e sinapses, córtex e glândulas) e por fim,
funcionamento da mente humana não pode obedecer a uma estruturação do tipo binária
Por outro lado, aplicando o principio da lógica de Lupasco do terceiro incluído, vemos
que a estrutura cognitiva trabalha segundo uma estruturação cuja representação (talvez
73
74
grosseira e algo incorreta, mas que no momento poderia ser uma metáfora até certo ponto
estrutura do rizoma.
Esta estrutura de rizoma, ou rede, por outro lado, contrapõe-se a estrutura de árvore, já
que nesta, os pares lógicos estabelecem uma espécie de hierarquia causal e, portanto,
temporal.
encontra ontologicamente no mesmo nível de realidade destes. Porém, como também a nova
síntese entre A e B irá se encontrar num nível de realidade distinto, porém adjacente, ao nível
de A e B, este novo elemento C. Uma vez mais, este elemento C também poderá se contrapor
constituir efetivamente numa situação que configure um aumento de conhecimento, deve mais
uma vez estar num nível de realidade distinto do nível fenomenológico e ontológico de C e D.
interligando-se a outras estruturas, de modo a formar uma rede, onde efetivamente não possua
discussão a um ponto crucial e polemico: o diálogo transcultural. Este diálogo é o que irá nos
permitir falar de uma cultura da paz, onde cada sujeito (Homem pensante, sujeito
epistemológico de Piaget) possui livre trânsito em qualquer instância social e mundial. Para
transdisciplinaridade:
74
75
Ainda que estas premissas tenham sido formalizadas por Nicolescu, outros autores são
concordantes com tais princípios (Morin, Bertalanffy, Demo, Bachelard) no que se refere
profundidade que Lupasco teve ao desenvolver e aplicar a lógica do terceiro incluído: “no
entanto, nós não vamos tão longe como S. Lupasco. Ele não hesita em integrar o princípio da
Já o filósofo e físico Mário Bunge tentou algo semelhante ao que fez Basarab
A tentativa que Bunge faz em sua “Filosofia da Física” é, na verdade, a busca por um
sistema epistemológico unificado que envolva a física como um todo. Para isto vai buscar no
Matemática) a metodologia para se conseguir esta empreitada. Com esta proposta, entre
outros objetivos, Bunge tenta escapar da concepção de que a construção de teorias físicas
75
76
unificação.
Porém, no caso de Nicolescu, sua preocupação vai mais além da Física, ou mesmo da
Ciência, e engloba outras ciências, envolve a cultura e suas manifestações. Isto dá à sua forma
de interpretar a transdisciplinaridade uma dimensão muito mais rica do que apenas um olhar
experiência que não pode ser meramente reduzida a uma questão teórica, mas ela é rica em
ensinamentos para a nossa vida diária e para as nossas ações no mundo” (SOMMERMAN,
E isto somente poderá ser possível se: “nenhuma cultura constitui um lugar
2002). Isto pressupõe que o ser humano deve se inscrever dentro de uma consciência
através de seus vários documentos, programas e ações sociais que desenvolve na maioria dos
países vem colocando esta questão como uma de suas prioridades. O mesmo posicionamento
vem sendo tomado pela Comissão Européia (COMISSÃO EUROPÉIA, 2003 e 2004).
76
77
Siniscalco (2002), assim como Tardif (2001) e UNESCO (2004) mostram que, apesar de que
determinadas características especificas de cada país (em relação ao seu sistema educacional)
primeiro mundo se comparados com paises em desenvolvimento, como no caso do Brasil. Isto
revela que devemos voltar o nosso olhar para questões que estão entre as culturas, entre os
2002). As disciplinas não possuem uma natureza ontológica em si, já que nem a Realidade
nem os seres humanos necessitem das disciplinas, já que estas são criações puramente
artificiais feitas pelo próprio Homem. Isto faz com que, consequentemente, ao se fragmentar,
Por outro lado, numa extremidade talvez totalmente oposta, poderíamos aplicar o mesmo
demonstração de que as culturas não são objetos, mas sim sujeitos. Nesta condição, de sujeito
e não de objeto, as culturas não poderiam a priori ser algo que pudessem ser conhecidas,
como um objeto de inteligibilidade, mas sim elas mesmas serem fontes de conhecimento e de
autocompreensão. O pluralismo também não é relativismo cultural, já que este último afirma
que o sentido das coisas surge e se manifesta na relacionalidade radical. O pluralismo, por
outro lado, não pretende reduzir as diferentes culturas a uma unidade artificial. O pluralismo
77
78
busca “a unidade apesar das diferenças, a harmonia nas e por causa das diferenças, a coesão e
invariantes humanos seriam aspectos que estariam presentes em todas as culturas, na forma de
Sendo assim, o transcultural deveria nos levar sim a um intercultural, já que isto faria
com que as diferentes culturas pudessem chegar a ser mais completas em todas suas
científica aplicar-se-ia igualmente aos sistemas educacionais? Poderíamos pensar que muito
(OLIVEIRA, 2005). Mas, mesmo assim, conseguiríamos ao final estabelecer esta unidade
pirâmide do conhecimento, dos níveis básicos das séries iniciais do ensino infantil até o
ensino universitário e nas correspondentes pós graduações, assim como propõe, por exemplo
78
79
Todas estas questões tem sido objeto de diversos eventos principalmente a partir da
também nos parece ser o órgão que centraliza internacionalmente esta discussão. Muito
por Piaget no evento que mencionamos que, aliás, era um evento auspiciado pela UNESCO,
somente em 1994 foi realizado um evento específico sobre o tema, o “1º Congresso Mundial
embora outros eventos tenham ocorrido anteriormente (Congresso de Veneza de 1986 “La
escolhido Portugal a sede que em 1994 comportaria o evento de Arrábida. (UNESCO, 2006).
porém com finalidades bastante diversas (Domingues et al 1999; Domingues, 2004, 2005;
79
80
Fazenda, 2001). Numa linha mais interdisciplinar podemos mencionar, por exemplo, o
Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, que funciona como um grande
Estados Unidos como na Europa. Logo após a criação do IEA/USP, a Universidade Estadual
com escolas públicas municipais e estaduais, tanto visando a formação de professores como
voltado mais para a questão da pesquisa (DOMINGUES, 2004 e 2005). Um dos mais recentes
Universidade de São Paulo, mais precisamente na Escola do Futuro da USP, volta-se mais a
pesquisa, procurando porém ter um enfoque voltado a formação de professores. Através deste
80
81
que se insere dentro do contexto de pesquisa que estas duas instituições tem trabalhado
condições que ocorreria uma formação transdisciplinar. Para isto analisou-se uma formação
com um grupo de estudos composto por sujeitos oriundos de diversas instituições de ensino e
CETRANS. Faz-se necessário mencionar ainda que o CETRANS, desde o inicio de sua
(CIRET), com sede em Paris, como também com a UNESCO. Estas instituições, através de
todos estes anos, tem realizado inúmeros eventos no Brasil sobre o tema, bem como publicado
pesquisa de mestrado, desta vez tendo como autor Lênio Fernandes Levy (Núcleo Pedagógico
trabalho transdisciplinar com duplas de professores atuando junto a alunos de escola pública,
Mattos & Mattos, 2005) como em outros países tem trabalhado no sentido de alterações em
81
82
É bom ressaltarmos que o enfoque transdisciplinar deve passar por todas as instâncias
MONTRÉAL, 2003).
Institute of Technology Zurich” que desde 1987 introduziu em seus cursos o de “Ciência
Ambiental”, mas com uma abordagem transdisciplinar. A grande motivação para que esta
abordagem fosse privilegiada, foi a necessidade de reunir especialistas de diversas áreas para
O que se conclui de todas estas experiências é que atualmente existe uma preocupação
muito bem fundamentada, com objetivos concretos e uma ação e práxis direcionada
82
83
envolvendo tanto formação de professores quanto o trabalho direto com alunos nos mais
2.6 – Complexidade
convém revisarmos em que contexto o termo irá possuir sua existência mais significativa,
dentro da atual perspectiva educacional, que considera fundamental uma Educação que
Neste contexto, a escola deixa de ser apenas a fiel depositária dos saberes puramente
acadêmicos e passa a ser um espaço de convivência social, onde aqueles aspectos levantados
83
84
escolar é um desafio que é colocado na atualidade, da qual todos são igualmente responsáveis:
Educação, algo isolado do resto do mundo, como se não tivesse relação direta com este. Antes
de tudo é necessário que compreendamos que a escola e a Educação estão e são parte de um
contexto maior. Mas também é necessário que a escola produza uma autonomia, para que não
seja apenas cúmplice e mero espectador da ordem social vigente (BERNSTEIN, 1996). Para
1979).
O desafio que se coloca, portanto, não é o de apenas fazer com que a escola “ensine”,
no sentido estritamente pragmático do termo. O desafio não é o de fazer com que o papel de
envolve uma dimensão muito extensa e talvez até agora poucas vezes vivenciado dentro da
história da humanidade.
entanto, não pode e não deve ser algo que se ensine ou que se aprenda diretamente na escola.
Domenico de Masi, numa extensa e intrigante obra prima sobre a criatividade, vai nos ensinar
de apenas favorecer o desenvolvimento das individualidades. Mas, para isto, é necessário que
84
85
indivíduos, se estenda até os grupos sociais, na forma de algo que chama “ócio criativo”. O
ócio criativo é a possibilidade que tanto indivíduos quanto grupos têm de colocar em prática
seus processos criativos mais autênticos e profundos, sem a compulsão gerada pelos
De antemão o autor prefere adotar uma posição conciliadora entre basicamente os dois
grupos possuam as mínimas condições para isto. O que se busca, portanto, não é o
criatividade emergem com maior força através das relações. Por este motivo Bachelard
substitui o Cogito cartesiano pelo Cogitamus. “Um homem só é uma péssima companhia.
ponto de minimizar a ação externa . Não seria este o caso desejável para a escola, ou seja, o
de um possível isolamento.
Para isto é preciso reconhecer que estamos inseridos numa trama imbricada de
inicialmente reconhecer que vivemos num mundo complexo. É preciso que saibamos
85
86
E será esta idéia e conceito de complexidade que iremos enfatizar nesta seção, noção
definido por Edgar Morin (MORIN, 1988, 2002), conceito este que, segundo ele, traz
inicialmente duas grandes dificuldades. A primeira, diz o autor, refere-se à ausência de status
relaciona-se ao aspecto semântico, já que uma definição clara do termo poderia levar a uma
como resposta. Vai então identificar algumas propriedades fundamentais (as quais chama de
uma propriedade inerente aos sistemas naturais como um todo, físicos, biológicos,
absoluta, não se possui certeza sobre determinado fenômeno, o acaso não possui
físico-química.
86
87
em que um sistema constitui-se uma unidade, esta unidade é também ela mesma uma
é mais do que apenas a soma de suas partes. Por outro lado, a ação destas mesmas
partes gera este todo, ao mesmo tempo em que é gerado e organizado por ela. Os
políticos, as minorias sociais, etc.), de tal forma a produzir um efeito sobre a sociedade
como um todo ou, no caso biológico, sobre o organismo ou corpo como um todo. Este
processo interativo do micro para o macro e do macro para o micro recorre a idéia do
conceito foi desenvolvido por Maturana e Varela, através do termo “autopoiese” (do
da Química, Ilya Prigogine irá falar em “estrutura dissipativas”, que seriam estruturas
87
88
e estrutura.
pode haver verdade que não possa ser expressa de forma clara e nítida.
“neutro” não existe mais. O observador existe dentro de uma cultura que o influencia,
qual Morin atribui o que chamou de “paradigma da complexidade”. Por suas palavras enuncia
complexidade como:
[...] o que foi tecido junto: de fato, há complexidade quando elementos diferentes
são inseparáveis constitutivos do todo (como o econômico, o político, o sociológico,
o psicológico, o afetivo, o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo e
inter-retroativo entre o objeto do conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, as
partes entre si. Por isso, a complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade
(MORIN, 2002, p.38).
O que Morin (1991) pretendia era se contrapor ao que ele definiu como “paradigma da
crescente nas disciplinas científicas fragmenta não apenas o conhecimento em si, mas,
88
89
ao seu todo;
reduzidos a uma lógica mecânica que exclui tudo aquilo que não seja quantificável ou
mensurável como, por exemplo, emoções, sentimentos, como também aquilo que é
imprevisto e novo;
chegar-se ao múltiplo.
como:
89
90
pensamento consciente.
surgimento de parte da busca por novos paradigmas muito provavelmente a partir de um texto
não mencionado na maioria das bibliografias citadas sobre este autor, que data de 1974,
intitulado “La Complexité”. Este texto foi escrito especificamente para um evento promovido
pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), sob o
nome “Colloque sur les interrelations entre la Biologie, les Sciences Sociales et la Société”,
por Morin no texto são doutos clássicos, verdadeiros ícones em suas respectivas áreas, como
por exemplo: John von Neumann, Heinz von Foerster, Norbert Wiener, Walter Maurice
entropia. No entanto, os resultados a que chegara Ilya Prigogine (físico russo, ganhador do
Prêmio Nobel de Química em 1977), a respeito das chamadas “estruturas dissipativas”, iriam
90
91
colocar em dúvida o paradigma até então sustentado pela física termodinâmica a respeito da
tendência natural dos sistemas em se degradarem até exaurir sua energia. Aqui surge a
importante quebra deste importante paradigma, fato este que será ocorrente através deste
trabalho de Morin.
químicos, pois se aprofunda em questões específicas dos fundamentos destas áreas, segue
como que tecendo os fios paradigmáticos e epistemológicos destas ciências para chegar até o
campo da sociologia e da antropologia humana. Para que isto seja possível, estabelece uma
relação direta entre o grau ou nível de complexidade dos seres biológicos, partindo dos seres
mais simples e chegando até o ser humano, aplicando então a idéia de complexidade do e no
daquelas grandes ciências para dar conta do fenômeno da complexidade. Vai além, chegando
à conclusão de que é necessário encontrar uma lógica que transpasse o sistema dialético
hegeliano. Discute então a necessidade de uma lógica que ao estabelecer relações entre
opostos, não exclua tais opostos. A este respeito, é absolutamente claro que Morin conhecia
tal como ocorre com a lógica de Fuzzy, não seriam suficientes para explicar a complexidade
91
92
O sistema homo é constituído por uma relação entre três termos relativamente
identificáveis: indivíduo, sociedade, espécie. Ou, a distinção entre estes três termos é
imprecisa, porque um destes termos é sempre (função) do outro, e não se pode
verdadeiramente isolá-los; mais ainda, não se pode determinar qual é o “centro”, a
“verdade”, a “finalidade” entre estes três termos: o indivíduo está ao “serviço” da
espécie, da sociedade? A sociedade está ao “serviço” do indivíduo, da espécie.
Somente a escolha filosófica nos permite dar a proeminência a um destes termos
(MORIN, 1974, p. 14-15).
Esta questão foi tratada com maior detalhe por Morin em “Le Paradigme Perdu”
português a tradução apareceria somente no ano de 2003). De início, Morin conclui que não é
possível se chegar a uma resposta sobre as questões acima colocadas, questões, aliás,
(MORIN, 2003). Tentar encontrar uma resposta sobre qual destas ciências influenciaria
originalmente a outra nos levaria a uma tautologia lógica ad infinitum. Portanto, a Ciência não
reorganizadora do saber, pela qual as contradições são superadas como ilusões de oposição”
propósito de evidenciar que o conceito de complexidade que busca não se identifica com
aquelas ciências até então consideradas bases para a ciência moderna (física, matemática,
D‟une part elle nous incite, comme nous l‟avons déjà dit, à élaborer une théorie de
l‟auto-organisation, de complexité superiure à la cybernétique et à la théorie des
systèmes. D‟autre part, elle nous contraint à un cracking logique, et nous entraine à
une révaluation et un enrichissement de notre logique (MORIN, 1974, p.15).
Foi exatamente em Morin que a lógica aristotélica foi colocada em dúvida, já que, por
este sistema lógico trabalhar sobre silogismos, dedução e indução, torna-se tautológica. É a
Outra característica da lógica dos seres vivos é que, diferentemente dos sistemas
sistemas artificiais.
uma amostra de gás dentro de um recipiente, poderíamos utilizar a idéia de que a ordem vem
da desordem (order from desorder). Neste caso, o tratamento matemático seria puramente
93
94
estatístico. Diferentemente, no caso dos seres vivos, o que ocorre é que os sistemas celulares
aparentemente utilizam estados onde a matéria está sob “ruído” (noise em inglês, bruit em
francês), para se organizar. O fato de que nos organismos vivos a ordem seja gerada a partir
do ruído, implica em dizer qual a maneira segundo a qual tais organismos se desenvolvem. O
princípio “order from noise” (ordem do ruído) é atribuído ao filósofo alemão Gottard
chamado princípio do tertium non datur (terceiro excluído). Provavelmente, algumas das
idéias sobre esta lógica de Gunther, que também trabalhou com cibernética, pode ter sofrido
alguma influência em virtude de seus trabalhos com o biólogo chileno Humberto Maturana no
e Francisco Varela.
Um dos mais importantes trabalhos que influenciou as bases teóricas que Morin se
A idéia principal que Morin se apropria desta teoria, é com relação à maneira como
(relativos à forma) a partir de sua embriogênese. Estas características podem ser previstas
94
95
Morin irá cunhar mais um termo, ao dizer que “a vida é um sistema enantiomorfo”
A importância que isto terá para fundamentar ainda mais o conceito moriniano de
complexidade, reside no fato de que tal conceito possui uma base essencialmente e
Finalmente, Morin irá concluir seu texto dizendo que a condição de conceber a
arborescente” certamente invoca a imagem de uma árvore ramificada. Esta alusão é, aliás,
“estrutura fractal”, presente desde estruturas neurônicas, folhas de árvores até galáxias
(ROSNAY, 2004).
constituiria a posteriori a base segundo a qual este mesmo conceito seria generalizado às áreas
95
96
A relevância das idéias advogadas por Morin vão ganhando consistência cada vez
maior, principalmente dentro dos documentos que a UNESCO publica a partir deste período
até os dias de hoje, mesmo naqueles onde não se contou com a participação direta de Morin
em sua elaboração.
Paris (UNESCO, 1976), o conceito de complexidade não foi diretamente mencionado, ainda
96
97
CAPÍTULO 3
EPISTEMOLOGIA
procurando enfocar a aplicação destes conceitos mais diretamente à área da Educação. Neste
capítulo pretendemos ser mais específicos, atacando com maior profundidade o aspecto
principalmente no que diz respeito a sua aplicabilidade na área educacional e, mais ainda, no
ensino de Ciências. Contudo, neste enfoque nos voltaremos às diferentes possibilidades que a
professores de Ciências.
segundo alguns autores (Klein, 1990 Nicolescu, 1997 UNESCO, 1986 Nicolescu, 2000
Zabala, 2002) , quando esta concepção é aplicada ao campo educacional, faz emergir “novos
caso da relação transdisciplinar esta construção de saberes não deveria ocorrer, já que a
18
É absolutamente claro para nós a diferenciação que existe entre a produção de saberes no contexto científico,
de um lado, e a (re)construção de saberes que ocorre dentro do contexto escolar.
97
98
muitas vezes, até por uma questão de confusão conceitual, algumas situações escolares que
p. 64).
nível do ensino fundamental e médio, quer seja no âmbito do ensino universitário), devemos
necessariamente nos remeter a como estes saberes e conhecimentos são e estão articulados,
uma possível compreensão de como se dá este processo. Isto acontece dentro de um conjunto
bastante complexo e amplo do qual faz parte a cultura como um todo, incluindo-se todas as
culturais, muito embora possa considerar-se que a análise epistemológica deva apenas se
Mas será que as Ciências Humanas não constituem um campo proibitivo para a
reflexão epistemológica, talvez como possam pensar alguns? A este respeito Japiassu (1981)
irá dizer que a Ciência “[...]é um processo histórico dependente, não do ser, mas do devir. E é
exatamente por isso que não temos o direito de negar às Ciências Humanas sua existência e
sua legitimidade” (Japiassu, 1981, p. 104). De fato, se cabe às Ciências Humanas o status que
lhe é devido de ciência, então será passível sim da análise e reflexão epistemológica,
98
99
cenário situa-se a Educação, compondo uma das principais áreas dentro das Ciências
Humanas. E, mais ainda, como é o nosso caso de interesse específico de estudo, enquadra-se o
Ensino de Ciências que, embora traga toda a herança natural dos respectivos campos
específicos das suas disciplinas (Física, Química ou Biologia), faz parte consubstancialmente
da área da Educação.
tão polêmico e vasto como é a epistemologia, devemos antecipadamente deixar claro que
tivemos também que fazer uma opção teórica epistemológica para este trabalho, que fosse o
mais coerente possível com o seu todo. Neste sentido, conforme já mencionamos na
introdução, nossa opção teórica recai sobre as abordagens epistemológicas desenvolvidas por
Gaston Bachelard e Edgar Morin. Embora tais abordagens sejam obviamente distintas e
principalmente em O Novo Espírito Científico19, obra de Gaston Bachelard que, logo em sua
2002). Posteriormente, Dominique Lecourt (1969), publicaria uma série de textos extraídos de
mais de duas dezenas de trabalhos de Bachelard onde o tema central seria a epistemologia,
cuja tradução para a língua luso-portuguesa foi publicada somente em 1971 sob o titulo “A
Epistemologia” (Bachelard, 1971). Através desta obra constata-se que, na verdade, o tema
19
Do original em francês “Le nouvel esprit scientifique (Presses Universitaires de France), publicado em 1934.
99
100
(episteme) (Japiassu, 1979, p. 24). Para o sociólogo Boaventura de Souza Santos, a reflexão
Falar sobre o que é epistemologia talvez seja uma das tarefas mais difíceis dentro da
filosofia e das ciências. Alguns autores acreditam que esta tarefa cabe essencialmente ao
filósofo (por exemplo Peirce, Husserl ou Cassirer). Para outros a epistemologia surge a partir
da própria atividade científica, seu papel então seria atribuído principalmente ao cientista, já
que este é a pessoa por excelência capaz de analisar e refletir sobre sua própria atividade
cientifica. Seria este o caso provavelmente de Albert Einstein, Werner Heinserberg, Niels
Granger; e também com abordagens mais teoréticas e especulativas, como é o caso do próprio
100
101
três períodos históricos distintos. Um primeiro momento marca uma disputa entre duas
posições opostas, a dos cépticos, de um lado, e outra aquela proposta por filósofos como
Aristóteles e Platão. A primeira era enviesada por aqueles que acreditavam que a ciência não
seria capaz de chegar a um conhecimento universal, posição esta diferente das abordagens
A partir do século XVIII se faz presente uma segunda fase, contudo mudando-se o
paradigma: agora não se trata de se perguntar se a ciência é ou não possível, mas, antes, de se
universal, como foi o caso da física de Newton, da qual fortemente se propôs a sistematizar
Já um terceiro período que chega até os dias atuais, a pergunta que se faz a filosofia é:
“o que é ciência”. Para responder a esta pergunta, Pombo (1998) identifica que existe dois
descritivo. No primeiro modo a pergunta recai mais sobre as condições de validade para
distinguir se um enunciado é ou não cientifico. O modo descritivo, por outro lado, pergunta-se
apenas “como é que a ciência funciona, quais os seus métodos e qual a natureza dos
processos em jogo, quais as relações que estabelece com outros tipos de conhecimento?”
(ibid., p.5).
101
102
à complexidade do conhecimento.
por demais artificial e limitado, Olga Pombo considera que a epistemologia de Bachelard
1998, p. 6). A visão continuista considera que a ciência progride através de rupturas e negação
vínculos ou semelhanças entre teorias adjacentes e, pelo contrário, busca sim as diferenças
que as separam.
Assim sendo, Bachelard desenvolve toda uma argumentação sobre esta idéia da
negação às teorias anteriores. É aquilo que chama de “filosofia do não”, através da qual os
cientistas não podem mais se valer de sistemas filosóficos estéreis, não permitindo que esta
mesma atividade aberta e, portanto, passível de constantes mudanças, adote qualquer tipo de
filosofia fechada e finalista. À filosofia não caberá o papel de reconciliação, senão que
102
103
chamadas continuítas20, onde a ciência e suas teorias evoluem num processo contínuo, sem
sobressaltos, já que cada teoria possui ou revela elementos das teorias anteriores. Isto faz com
que estas teorias vinculem-se umas às outras, como que tecendo um fio condutor através do
[...] uma das objeções mais naturais dos continuistas da cultura consiste em evocar a
continuidade da história. [...]as dialéticas ficam, assim, veladas sob uma sobrecarga
de acontecimentos menores. E. no que diz respeito aos problemas epistemológicos
que nos ocupam, não se beneficia da extrema sensibilidade dialética que caracteriza
a história das ciências. (BACHELARD, 1971, p. 193).
atenção para o fato de que esta mesma ideologia, por assim dizer, permeia o cotidiano da sala
de aula nos dias atuais, a partir do momento em que muitas vezes valoriza-se o conhecimento
de senso comum, não apenas dos alunos, mas também entre os próprios professores. Uma
sutil observação a este respeito é feita, por exemplo, no texto dos Parâmetros Curriculares
20
Sobre o termo “continuista” utilizado aqui, não confundir com a mesma palavra utilizada para designar a
posição filosófica que acreditava que o espaço e o tempo eram divisíveis infinitamente, posição esta que se
contrapunha à idéia dos “atomistas”, ou seja, que acreditavam na existência dos indivisíveis, embora ambas
possuam um significado semelhante e provavelmente devam sua origem a Platão e Aristóteles.
103
104
Ainda que este texto seja completamente vago ao que se quis dizer com “avanços,
constatou no ensino de Química à sua época (aqui talvez o “anacronismo” de que falamos há
pouco):
Sob tais condições, tanto naquela época quanto nos dias atuais, tornar-se-ia realmente
Se nos fizemos claros, o problema recai sobre o fato de que a adoção de uma posição
contínua, sem conflitos e erros, faz crer que não existem conflitos de idéias, que os cientistas
104
105
são sempre concordes em suas teorias. A idéia acima apresentada denota claramente a
concepção continuista da qual falava Bachelard, ainda mais que fundamenta seu argumento
e, principalmente, destituídos do sentido de uma razão crítica. Será que existe alguma
[...] no final do séc. XIX, afirma Lespiau 21, o estudante só encontrava na química
“um amontoado de fatos sem coesão”; tomava como axioma “essa frase tão repetida
ainda nos nossos dias (1920): a química é apenas uma questão de memória”. Ao sair
do liceu, ficava com a impressão de que esta ciência (?) não tinha qualquer valor
educativo (ibid.).
Para não sermos injustos, completaremos nosso raciocínio com outra citação contida
dos PCN, vemos que apesar de que estejam separadas por um lapso de quase um século, a
21
R. Lespiau, La molécule chimique, Paris, 1920, p.2.
22
Esperamos não parecermos contraditórios ao utilizarmos o mesmo texto (no caso os PCN) para
fundamentarmos argumentações contrárias. Na verdade, este fato é uma característica de tais tipos de textos ou
documentos institucionais, onde algumas vezes tem-se a impressão de uma falta de coerência entre os
referenciais teóricos de tal texto. A este respeito, Lopes (2002) vai dizer que os PCN foram estruturados a partir
de discursos completamente distintos e até contrários.
105
106
Vemos, portanto que esta concepção pedagógica possui suas raízes na visão filosófica
continuista, tão combatida à época pelo próprio Bachelard, como também o deveria ser nos
dias atuais.
Por outro lado, retomando um pouco mais agora sobre a filosofia descontinuista e sua
considera que a epistemologia é uma disciplina cujo foco não é em si analisar a ciência
acabada e constituída, mas, pelo contrário, investigar a construção em seu próprio processo,
descontinuístas.
específica escolar, este pensamento nos será bastante útil. Concomitantemente, tudo que se
seja, o próprio processo do pensamento desenvolvido pelo indivíduo, quer este conhecimento
106
107
seja aquele que a academia e os cientistas produzem, quer seja este conhecimento o que se
conhecimentos, tanto do ponto de vista lógico, quanto dos pontos de vista lingüístico,
sociológico, ideológico, etc. Daí seu caráter de disciplina interdisciplinar.” (JAPIASSU, 1979,
Bachelard quanto de Morin, projetam a epistemologia a uma dimensão poucas vezes vista
Para ambos, entretanto, a aventura do conhecimento não se restringe aos limites dos
portões e tratados acadêmicos. Muito pelo contrário, é na Educação, no sentido mais amplo
possível, que esta revolução do pensamento pode encontrar sua âncora mais segura:
“epistemologia do não”, mas com relação à própria atividade do pensamento que o indivíduo
se “detectar a mentira em si mesmo.” (MORIN, op.cit, p. 32). A atividade da razão, tanto para
Bachelard quanto para Morin será, portanto, sempre aberta e evolutiva, exigindo sempre a
107
108
sistematizado, que pode ser, por exemplo, representado através de modelos e teorias não deve
imutáveis. Antes, as teorias, representações ou modelos que tanto cientistas como professores
e alunos constroem da realidade não podem ser rígidos o bastante para impedir o avanço do
próprio pensamento.
Homem constrói da realidade não poderiam ser elas mesmas um motivo de aprisionamento da
ignorância (no sentido da adoção de pensamentos do tipo senso comum). Aliás, convém citar
na integra o que Morin dirá a respeito das teorias: “Necessitamos civilizar nossas teorias, ou
seja, desenvolver nova geração de teorias abertas, racionais, críticas, reflexivas, autocríticas,
“reformar” algum paradigma em especial, mas sim de criar algo que seja absolutamente
inédito.
Por tudo isto, considera que o papel fundamental que a Educação representa para
aquilo que chama de problema cognitivo: “[...] o dever principal da Educação é de armar cada
Se para Morin a cognição pode ser uma porta através da qual o indivíduo possui
acesso aos lugares mais íntimos de si mesmo, a Educação é o caminho que conduz até este
local. Mas isto é algo pessoal, individual, embora possa ser buscado socialmente, através das
108
109
relações que o indivíduo estabelece com o seu meio. De qualquer forma, mesmo neste caso,
racionalidade crítica não é algo trivial e deve ser incessantemente buscado. Para Bachelard:
da razão, e não apenas repetitiva, o conhecimento escolar jamais deveria ser algo como uma
retificando-se que o espírito chega à verdade. Não é por justaposições, mas sim por
retificações, críticas e polêmicas que a Razão descobre e faz a verdade. Desta maneira, a
109
110
1979, p. 69).
erro. O conhecimento científico não se produz per se e para si, mas está inserido num mundo
complexo de relações, e tal conhecimento quando se faz presente naquilo que conhecemos
como escola, já não é mais “aquele” mesmo conhecimento que foi produzido por “aquele”
cientista. Não se pode simplesmente isolar o conhecimento desde o lócus de onde é criado até
o lócus de onde será “ensinado”, sem antes inseri-lo intrinsecamente no meio ambiente onde
se fez e para onde se fará. Quando um cientista ou uma comunidade científica produzem um
conhecimento científico, tal conhecimento lhe escapa literalmente de suas intenções e passa a
respeito, Morin fala em “ecologia da ação” como algo que “[...] leva em consideração a
complexidade que ela supõe, ou seja, o aleatório, acaso, iniciativa, decisão, inesperado,
Podemos pensar então que a Educação deveria preservar em sua ação (ecológica) o
quais tenta fazer com que os alunos “aprendam”? Será que por detrás da boa intencionalidade,
na maioria das vezes compulsória, do professor em fazer com que o aluno “aprenda custe o
estratificações das representações, dos conceitos e dos teoremas? Por que não arriscar-se ao
Por que limitar-se aos entornos disciplinares, ao invés de “aventurar-se” pelas avenidas
desconhecidas do conhecimento?
23
O conceito de operação utilizado aqui possui um significado funcional muito semelhante ao mesmo conceito
que Gérard Vergnaud utilizará dentro de sua Teoria dos Campos Conceituais, conforme verificaremos no
capítulo 4 (referencial teórico da análise de dados).
110
111
Morin identifica estas fobias em três princípios, aos quais chama de circuitos: circuito
zona de risco da qual induz necessariamente um estado de precaução. Por outro lado, e como
também antagônica entre os fins e respectivos meios. Ou seja, sob determinadas condições,
fins nobres podem conduzir a resultados reprováveis. Pelo contrário, fins nefastos talvez nos
princípio da incerteza.
de alguns países terem sido elaborados por autoridades da área. Mas, não menos raro ainda é
constatar que os resultados de tais programas não conduzirem necessariamente aos fins a que
acabam por produzir exatamente o contrário daquilo que havia sido programado inicialmente.
Por tudo isto, tanto pela acepção bachelardiana de que o conhecimento não deve ser
tomado como um produto acabado e, portanto, inquestionável, quanto pela acepção moriniana
de que o conhecimento não é algo certo e imutável, uma vez mais encontramos um
111
112
fundar nossas concepções, a partir do momento em que conseguimos chegar à conclusão que
exercício sobre a construção deste mesmo conhecimento seja algo dinâmico, não-estável no
espaço e no tempo, sujeito a cisões, mas, ao mesmo tempo suficientemente capaz de efetuar
uma única disciplina acadêmico-científica pode ganhar maior poder argumentativo, a partir do
Se a epistemologia é uma ciência que não pretende ela mesma ser uma ciência, que
não pretende ditar regras, mas, antes, questionar a si mesma, então a transdisciplinaridade é a
necessário que uma epistemologia que se pretenda desenvolver a partir destas bases deva ser
essencialmente meta-epistemológica.
cabíveis neste caso, ao lançarem mãos ambos da idéia de que efetivamente não existe “o
112
113
CAPÍTULO 4
METODOLOGIA DA PESQUISA
4.1 Introdução
mesma, identidade esta que marca em definitivo os parâmetros segundo os quais a pesquisa
problemas e objetivos da pesquisa, como em relação aos sujeitos e aos objetos da pesquisa, e
da relação epistemológica que pretendemos chegar ao final, faz com que a mesma deva
possuir uma abordagem metodológica muito sui generis. Acrescenta-se a isto o fato de se
suas intenções, podemos dizer que uma das coisas importantes que ambas deveriam perseguir
seria um direcionamento mais para o caráter avaliativo do que para o caráter exploratório que,
SOUZA, 2005).
113
114
teórico e metodológico consistente e coerente, no qual o conteúdo específico das ciências está
sempre presente.
pesquisa em Educação em Ciências, este autor considera que a mesma deve se fundamentar
sobre uma base teórica epistemológica e sobre uma base metodológica, ambas interagindo
através das perguntas que a pesquisa procura responder. Para isto a pesquisa em Educação em
professores.
114
115
últimos anos.
entre ambos.
2002; GIL, 1996; BOGDAN e BIKLEN, 1994). Em relação aos seus objetivos, Gil (1996)
Neste contexto, embora esta pesquisa possua fortes preocupações com o aspecto exploratório,
já que procura investigar determinada questão com vistas a uma possível construção de
hipóteses, por outro lado direciona-se a buscar os elementos que contribuem para a ocorrência
de um determinado fenômeno.
mentais e nos campos conceituais, dados pelos esquemas que se desenvolvem a partir das
115
116
Segundo Dias (2000), outras características identificam ainda uma pesquisa segundo
um enfoque qualitativo:
coleta de dados;
condução da pesquisa;
Quantitativa Qualitativa
Paradigma Hipotético-dedutivo Holístico-interpretativo
Dados Representados numericamente Representados verbalmente
Quantitativos
Qualitativos
Estruturados e não valorativos
Com maior riqueza de detalhes
Papel do pesquisador Observador Interpretador da realidade
Positivista Interpretativa
Abordagem Experimental Não experimental
116
117
em 5 anos, no sistema semestral. O Anexo B nos mostra a grade curricular para a Licenciatura
sete disciplinas de Prática de Ensino sendo ministradas desde o 6º termo (3º ano) até o 8º
termo, somando 20 créditos totais. Nas Ciências Biológicas (que também é de 5 anos)
Supervisionado para a Química e Prática de Ensino, para a Física e Ciências Biológicas), elas
possuem características muito distintas entre si. A primeira delas é que no Estágio
Supervisionado o graduando não possui uma preparação prévia para exercer sua ação docente,
o que ocorre com mais ênfase na Prática de Ensino (na Física e nas Ciências Biológicas). Por
esta mesma razão, no Estágio Supervisionado (da Química) existirá uma lacuna teórico-
117
118
conceitual mais profunda que auxilie e subsidie a prática deste futuro professor, já que não
Fato comum entre estas três licenciaturas é a presença destas disciplinas mais voltadas
à prática docente surgindo somente no último ano dos respectivos cursos. Tal característica,
aliás, tem sido motivo de profundas discussões, propostas de reelaboração curricular, tanto da
2007).
função disto, tivemos o cuidado de não causar nenhum conflito em relação ao conteúdo
programático estabelecido pela docente, nem tão pouco no andamento da disciplina, embora
participativa. Assim sendo, logo que realizamos o contato com a docente, expondo nossa
necessidade e objetivos, os quais foram prontamente aceitos pela mesma, tomamos ciência da
mencionados.
118
119
conhecimento.
segundo diversos temas previamente escolhidos pela professora da disciplina, e ainda três
Uma das atividades exigidas pela professora da disciplina foi que os graduandos
com duração média de oito horas cada um deles. A aplicação destes minicursos também será
contudo, deixando em aberto sobre a eventual escolha de outros temas diferentes daqueles
Conservação de alimentos
119
120
Produção de álcool
Com exceção do primeiro grupo (Fatores que afetam a velocidade de uma reação),
semestre, dentro da referida disciplina, apresentamos na tabela 1, a seguir, uma síntese das
mesmas, relacionando cada situação com sua característica mais marcante, segundo uma
explicitadas:
120
121
quais estarão estruturados os invariantes operatórios que, conforme afirma Vergnaud (1990),
deve ser estipulado pelo pesquisador. Ou seja, utilizaremos estas cinco questões como sendo
121
122
parte de nosso campo conceitual, que emergirá a partir da análise dos diários de classe dos
sujeitos investigados.
Identificaremos cada situação didática com o código Sx, onde x representa um número
seqüencial.
122
123
cotidiano
Interdisciplinarid
ade e relação da
Química com
outras disciplinas
e conhecimentos
17/05 S7 Discussão dos Organização de Ensino,
alunos com a conteúdos, aprendizagem,
Discussão
docente da estratégia de avaliação,
minicursos
disciplina aula, elementos currículo,
necessários para contexto
uma aula
24/05 S8 Seminário Metodologias, Ensino,
proferido pelo abordagens sobre aprendizagem,
Multi, inter e
pesquisador o conhecimento avaliação,
transdisciplinarid
currículo,
ade Transdisciplinari contexto
dade: teoria,
pilares,
fundamentação
Aplicações
práticas da
Interdisciplinarid
ade e da
Transdisciplinari
dade na Química
Exemplo dos
Parâmetros
Curriculares
Nacionais e
PCN+ (Química,
Biologia e
Física)
31/05 S9 Discussão de texto Prática docente: Ensino,
realizada pela a pesquisa aprendizagem,
Metodologia
docente da durante a prática avaliação,
“Educar pela
disciplina docente currículo,
pesquisa”
contexto
Importância da
Educação através
da pesquisa no
Ensino de
Química
07/06 S10 Discussão entre Dúvidas, Ensino,
alunos, a docente inquietações aprendizagem,
Profissão docente:
da disciplina e o sobre a prática avaliação,
dilemas da
pesquisador a partir docente inicial currículo,
formação inicial
de questionamentos contexto
dos próprios alunos O papel da
universidade na
formação inicial:
as disciplinas
pedagógicas
Discussão sobre
estratégias de
ensino
123
124
Discussão sobre
os dilemas da
profissão
docente
Tabela 2 –Situações didáticas vivenciadas pelos sujeitos da pesquisa
Intervenção do pesquisador
tempo fazer com que pudéssemos realizar nosso processo de coleta de dados, porém,
algum tipo de problema conceitual entre nossa abordagem teórica e a respectiva metodologia
que a mesma estava aplicando com a turma. Contudo, logo constatamos que muito havia de
semelhante entre ambas as abordagens, já que o foco principal que a professora utilizou foi a
metacognição, com uma base construtivista muito forte, já que a preocupação da docente
sempre recaia em fazer com que os alunos de fato fossem gradativamente construindo
digamos, um campo conceitual em torno do qual ficasse evidenciado para os mesmos algumas
convite para que realizássemos algumas “palestras” ou seminários para a turma, o que, na
que, ao mesmo tempo em que seriam abordados alguns assuntos envolvendo aspectos da
124
125
conhecimento tendo como base a epistemologia. Para tanto, faríamos uso de duas ferramentas
Gowin. O segundo tema foi justamente uma explanação sobre o que é e como vem sendo
devemos destacar o fato de que a freqüência dos alunos durante as aulas era muito irregular,
fator este que fez com que nos organizássemos de uma forma que pudéssemos atingir nossos
propósitos.
processo de construção dos conceitos científicos. Para isto, no primeiro seminário enfocamos
alguns alunos afirmaram (tanto durante o seminário como em seus diários), até de maneira
enfática, que já haviam aprendido sobre o tema. Contudo, quando lhes foi solicitado que
tenha sido o seminário que suscitou mais questionamentos por parte dos alunos. Após
125
126
solicitamos que os alunos criassem em grupo este instrumento tendo como base o tema do
mini-curso do grupo. A partir deste momento houve uma dificuldade geral em com relação a
parte conceitual do “V de Gowin”, que envolve a explicitação das teorias, dos princípios, dos
teoremas e dos conceitos. Não era óbvio para os graduandos em que teoria ou qual teorema
para os graduandos, já que os expressaram até de maneira bastante detalhada através dos
mapas conceituais.
Estes textos estiveram à disposição dos graduandos para eventual consulta, sendo que
posteriormente foram fornecidos estes e outros materiais para pesquisa, inclusive compondo
parte do referencial teórico para algumas monografias de conclusão de curso que abordaram o
126
127
O principal instrumento de coleta de dados utilizados para esta análise constitui-se nos
conduta do indivíduo frente à classe de situações vivenciadas pelo mesmo. Segundo Zabalza
(1994, p.19) o uso do diário de classe justifica-se pelo fato de favorecer “...uma tarefa de
perspectivas”.
utilização dos diários enquanto recurso metodológico para a coleta de dados. O primeiro
caso estudado não acreditamos ter ocorrido esta artificialidade, em razão de que a elaboração
dos diários não foi uma ação compulsória por parte da professora da disciplina. Além disto, os
mesmos não foram utilizados como elementos exclusivos de avaliação. Muito pelo contrário,
são construídos, o que é denominado precaução técnica, estando ligado a como a elaboração
127
128
Zabalza destaca três parâmetros para a validação dos diários: “a que tipo de solicitação
passaram. Ou seja, o diário foi utilizado como instrumento de comunicação entre professor-
aluno no contexto onde foi produzido, conforme veremos a seguir. A produção deste
garantido o anonimato dos diários, permanecendo seus conteúdos somente no âmbito desta
investigação.
operatórios que nos fornecerão a referência para analisarmos precisamente a maneira pela
indiretamente com sua condição de futuros docentes. Através desta análise esperamos obter
informações suficientes para subsidiar algumas previsões, antecipações e metas frente a uma
transdisciplinar.
24
O conceito de esquema aqui utilizado corresponde ao conceito utilizado por Piaget e que foi igualmente
empregado por Vergnaud.
128
129
A análise dos dados foi realizada tomando-se como referenciais teóricos a Teoria dos
Vergnaud, por considerarmos as mesmas como construtos teóricos capazes de nos fornecer
Sem sermos reducionistas e separatistas, fica claro que temos dois elementos que se
dará sustentação para este propósito, qual seja a busca por referenciais teóricos que nos
forneçam uma leitura das representações mentais e conceituais dos sujeitos quando estes se
pesquisa, que é: existe uma relação direta entre estes modelos mentais e campos conceituais e
129
130
ou transdisciplinar?
Gérard Vergnaud e Philip Johnson-Laird, vem sendo estudada exaustivamente no Brasil por
Moreira (Greca e Moreira, 1996; Moreira, 1996, 2002), nos últimos anos podendo trazer
Laird (1983) quanto na teoria dos campos conceituais de Gérard Vergnaud (1990),
uma variável diretamente relacionada à estruturação tanto das representações mentais quanto
mas, por outro lado, levam em consideração também a importância das relações que o
individuo estabelece com o meio. Contudo, para procurarmos nos manter coerentes dentro de
130
131
nossas opções teóricas adotadas ao longo desta dissertação, não nos enveredaremos por
interacionistas. Deve ficar registrado, no entanto que esta possibilidade é factível de ser
ficou demonstrado por Moreira (2003), mas cujos propósitos seriam distintos daqueles que
Johnson-Laird foi considerada por Sousa e Moreira (2000). Esta “conciliação” envolve um
complexo dilema que também foge aos nossos propósitos para ser tratado neste trabalho,
porém sua menção é importante em função de que este tema traz certas controvérsias no meio
escrita. Os modelos mentais são construídos a partir de relações que o indivíduo estabelece
com o meio e, por esta razão, existe uma analogia entre as estruturas deste modelo e o estado
via os modelos mentais, e não por uma lógica particular. O que o indivíduo busca sempre é
naquela situação. Este teste tem por finalidade tentar falsear ou comprovar a validade do
modelo. Sendo assim, o indivíduo está buscando uma função dedutiva de raciocínio, pois ao
utilizar o modelo mental nestas situações não o faz apenas com o sentido de encontrar
131
132
Para Greca e Moreira (2002) a utilização da teoria dos modelos mentais tal como
que tanto os script, as redes semânticas e os esquemas de assimilação possuem certo grau de
instabilidade cognitiva, não sendo comparáveis com os modelos mentais. Neste sentido, seria
significa que tais construtos devam ser ignorados, mas, por outro lado, devem ser integrados
texto dos diários, como: se isto “então” aquilo; “portanto”, “logo”, mas também a estrutura
consideração não apenas a situação didática daquele dia em específico, mas sim a relação
entre todas as situações didáticas que configuraram o conjunto destas situações (num total de
10 situações didáticas).
organização e estruturação lógica que este autor propõe são: silogismos (JOHNSON-LAIRD e
BYRNE, 1996), conectivos lógicos do tipo “and” (e) e “or” (ou) (BYRNE e JOHNSON-
LAIRD, 1992) e ainda condicionais do tipo “modus ponens”, “ modus tollens”, “modus
132
133
são chamadas de inferências válidas, e a maioria dos problemas com esta estrutura não são
difíceis de serem solucionados. Já as duas últimas são chamadas de inferências inválidas, cuja
solução lógica é extremamente mais complexa de ser resolvida, quer sejam aplicáveis tanto a
Se P então Q.
P.
Então, Q.
O aluno estudou.
Se P, então Q.
Q é falso.
Então, P é falso.
133
134
Se P então Q.
Não P.
Então não Q.
Se P então Q.
Q.
Então P.
134
135
avança na interpretação da lógica e dos silogismos (na verdade até mesmo abandonando-a
quase que por completo), desenvolvendo sua própria interpretação para isto (JOHNSON-
Contudo, não é suficiente apenas detectar os modelos mentais, da mesma forma como
no passado ficava se detectando as concepções alternativas. Por outro lado, nesta proposta que
apresentamos aqui procuramos integrar as duas teorias, considerando a herança piagetiana dos
segundo lugar “consideramos que os esquemas são estruturas representacionais com certo
grau de estabilidade na memória de longo prazo, enquanto que os modelos mentais são
são construtos que o indivíduo utiliza dentro de uma relação espaço-temporal mais a curto
por um lado, no domínio que chama de físico e, por outro lado, no domínio que denomina de
mental para dar conta de explicar determinado fenômeno (MOREIRA, 1996). Os Modelos
normalmente para o indivíduo criar a representação mental da realidade em si, fazendo uso
135
136
para isto, dependendo do conhecimento e das informações que possui em relação àquela
objetos e coisas (tokens) de tal forma que estes elementos são dados por uma quantidade
de elementos, por apresentar estritamente e tão somente relações do tipo binárias (identidade e
não-identidade), como, por exemplo, certo e errado, verdadeiro e falso, bom e ruim, etc., e
ainda por terem uma notação para explicitarem se é incerto caso exista determinas
identidades.
contidos no próprio modelo mental monádico, mas ainda incluindo um conjunto de elementos
e de relações muito maior, como se fosse um conjunto de mapas (com relações do tipo
relações vão além do aspecto binário dual (identidade e não-identidade), já que admite um
grau ou nível de relação que extrapola a simples dualidade. Assim, utilizando um exemplo
são licenciados”. Contudo, o indivíduo cujo modelo mental estivesse mais identificado com o
tipo relacional, tentaria testar outras possibilidades, com o intuito de falsear ou de confirmar a
136
137
conclusão. Sendo assim, poderia concluir que “alguns pesquisadores são licenciados”.
Entretanto, esta conclusão deve ser testada e, eventualmente falseada, de tal maneira a se
premissas permanece apenas na relação binária identidade versus não identidade (ou seja,
tipo analógico-semânticas, ou seja, o indivíduo constrói seu modelo através de analogias com
tokens representando diretamente conjuntos. Neste modelo mental também pode-se incluir
complexidade, este modelo seria considerado o mais complexo. Para exemplificar o que
estrutura:
137
138
Todos P são Q,
Alguns P são Q,
e, não-P são Q.
É óbvio reconhecermos que para resolvermos enunciados dentro desta estrutura não
poderíamos, por exemplo, utilizar um modelo mental do tipo monádico. Esta abordagem
ou sentenças deste tipo pode apresentar nove possibilidades de predição (POLITZER, VAN
Portanto, estes quatro tipos de modelos mentais conceituais deverão formar a base
para nossa investigação sobre os modelos mentais advindos da análise dos referidos diários
elaborados pelos sujeitos da pesquisa. Por uma questão de facilitar a compreensão iremos
Com esta fundamentação teórica, a teoria dos Modelos Mentais aplicadas ao Ensino de
utilizados pelos indivíduos para tentar explicitar sua relação com o real. Em termos
Laird tem sido utilizada em ordem crescente pela Química, Matemática, Biologia e Física. Na
138
139
trabalhos publicados sobre o tema. Em Moreira (1996) é mencionado uma pesquisa nesta área
feito em relação ao estudo de átomos e moléculas, realizada por Harrison e Treagust (1996).
pesquisas em Física, Biologia e Química, em relação a Teoria dos Modelos Mentais, segundo
Johnson-Laird:
característica em relação a Física, já que ambas são ciências onde os modelos estão
aspecto imagístico dos modelos do que em relação a Física, ou seja, utiliza-se muito
26
Sobre o aspecto semiótico, uma pesquisa inédita de doutorado, que também envolve a Teoria dos Campos
Conceituais, está em andamento neste momento. A este respeito ver: Araújo Neto, Giordan e Pietrocola, 2005.
139
140
MOREIRA 1996).
Para que possamos seguir no sentido de responder às perguntas deste trabalho, foi
Vergnaud. No entanto, para compreendermos como Vergnaud utiliza alguns de seus conceitos
de Jean Piaget algumas idéias e conceitos a partir dos quais formaram base para a teoria dos
Até este momento neste trabalho nosso enfoque voltou-se essencialmente aos aspectos
140
141
entanto, no decorrer da evolução de sua obra ao longo de décadas, Morin vai explicitamente
acreditamos que precisamente quando se pretende fazer desta sua abordagem um efetivo
“método” parece apresentar algumas lacunas. Mas é compreensível e aceitável que isto possa
ser assim, em razão de que talvez não fosse esta a preocupação de Morin. De fato, o que nos
forneceu o referencial teórico moriniano até agora foi a fundamentação que pretendíamos para
e não fragmentária do conhecimento. Por outro lado, também através do referencial teórico
conseguinte, os modelos e as teorias devem ser repensadas não como verdades absolutas e
poderíamos deixar de mencionar o fato inexorável de que foi Jean Piaget quem mais se
aproximou deste perfil. Tal característica marcou toda epistemologia genética piagetiana
141
142
desde seus primeiros estudos e escritos. Porém, tal traço encontra-se mais evidente e explícito
em alguns trabalhos que realizou com outros estudiosos em sua última fase produtiva.
Concentremos-nos aqui num dos principais pesquisadores que trabalhou com Piaget nesta
fase, que foi o físico Rolando Garcia. Dois importantes trabalhos marcaram este período. O
e a construção do saber científico. A primeira etapa seria aquela que o sujeito estabelece uma
aproximando-se dele com seus próprios recursos sensoriais e motrizes. Numa segunda etapa,
outros sujeitos (pais, professores), que fornecem elementos como códigos e conceitos que
conhecimento, mas de uma maneira onde tais objetos geram modificações na estrutura de
conhecimento do sujeito à medida que este interage com aquele. Esta é a etapa denominada
DUARTE, 2004).
O que torna este trabalho pertinente de ser mencionado é o fato de que estas mesmas
142
143
trabalho.
O segundo trabalho bastante significativo que foi resultado da interação entre Piaget e
primorosa interpretação dos principais conceitos de Piaget, segundo uma epistemologia cujo
enfoque teórico é o da teoria da complexidade. Para que isto seja possível, Garcia utiliza-se de
teorias sistêmicas e não-lineares para construir toda uma argumentação que dê sustentação
não somente a conceitos isolados formulados por Piaget mas, principalmente, ao conjunto da
Contudo, em alguns pontos desta interpretação, este autor não nega sua formação de
tendo como base conceitos eminentemente daquela área. Em determinados momentos do livro
citado de Garcia, o autor fundamenta sua argumentação tendo como base os princípios
encontra-se no fato de que esta interpretação da realidade (que foi defendida principalmente
por Niels Bohr, Max Planck e Werner Heinserberg, em absoluta oposição ao pensamento de
Albert Einstein) faz uma discussão menos reducionista dos fenômenos naturais, colocando em
da energia e o princípio da incerteza. Uma das conseqüências desta visão reside no fato de que
através dela, existe uma relação indissociável entre o sujeito e o objeto, sendo que um
influenciaria o outro, mesmo que estes estivessem muito distantes entre si. Dentro desta
143
144
Um conhecimento sempre é algo de natureza complexa, ou seja, não pode, a priori, ser
realidade.
Em “Para onde vai a Educação”, Piaget aborda com especial ênfase o Ensino de
Ciências, advertindo para os eventuais desvios que se pode ter desta importante área da
necessidade de se possuir uma visão de ciência na forma de estrutura, dentro de uma visão
interdisciplinar.
desaparecer. Para isto, considera que haja mudanças também no processo de formação de
144
145
Para que isto seja possível, considera que duas condições sejam satisfeitas: a primeira
seria a união entre ensino e pesquisa; em segundo lugar, pesquisas desenvolvidas por equipes,
É por esta mesma linha de raciocínio que se conduz Becker (1997), ao tecer num
mesmo tecido aquilo que possuem em comum as obras de Piaget e Paulo Freire 27. Para isto,
uma complexidade inerente. Para Morin o conhecimento é algo indivisível e que, portanto,
27
A contribuição de Paulo Freire especificamente para um dos principais temas desta dissertação, que é a
transdisciplinaridade, não foi abordada em razão de que existe considerável literatura a este respeito já publicada
sobre o assunto, o que provavelmente pouca contribuição traria para nossas discussões.
145
146
não pode ser fragmentado, e advém da concepção sistêmica da realidade, que teve em Ludwig
(BERTALANFY, 1968), este autor irá formalizar os mecanismos pelos quais as estruturas
novamente que Morin possui um enfoque mais sociológico do termo complexidade, mas
mesmo assim, faz considerações do termo nos mais variados campos do conhecimento,
Neste sentido, Pedro Demo irá concordar epistemologicamente com Morin quando
faz com que o indivíduo tenha uma relação mais próxima com a lógica de funcionamento da
propiciar ambientes de aprendizagem que condizem mais com a estrutura cognitiva natural ou
biológica humana. Observamos que Piaget ao estabelecer esta associação entre a maneira e a
envolvidos.
146
147
O conhecimento é apenas uma forma que o ser humano desenvolve para se apropriar
da natureza. Para se chegar a este conhecimento, o homem possui várias formas, uma delas é
estritamente disciplinares a respeito de um objeto, o indivíduo deverá voltar seu olhar para
outros conhecimentos e valores além daqueles considerados científicos. Tais valores incluem,
por exemplo, a ética, o respeito, a solidariedade que, conseqüentemente, levam a uma idéia de
energias biológicas, psíquicas para o processo cognitivo, embora não implique dizer que a
afetividade seja o motivo de ser da cognição, mas apenas que ambas se inter-relacionam
mutuamente e simbioticamente.
Todo conteúdo afetivo traz uma carga emocional grande, e esta carga pode se
Ocorre que dependendo de como o indivíduo lida com esta catarse, poderá determinar em
grande escala indivíduos seu maior ou menor grau de desenvolvimento da aprendizagem, ou,
o individuo de alguma forma, tiver este processo de catarse bloqueado, reprimido ou mal
147
148
liberação de seu conteúdo catártico. Mas como o individuo sempre utiliza mecanismos de
dado momento esta energia pode se manifestar numa atitude do tipo indisciplina ou violência
qual Morin não pretendeu aprofundar, talvez até por uma questão de não pertinência de seu
foco de trabalho. No entanto, tanto num contexto como no outro o conceito de complexidade
possui um significado idêntico. Muito mais do que isto, o conceito de complexidade chega
a não mais ser privilégio nem da sociologia, da antropologia ou ainda da psicologia cognitiva.
O problema ou a limitação de Piaget para que sua interpretação possa ser considerada
através da chamada relação sujeito-objeto. Este fato talvez por demais reducionista
compromete uma interpretação mais sistêmica sobre a rede de elementos que compõem o
processo de aprendizagem sob o qual determinado indivíduo está submetido, já que são estes
elementos, dentro de diversas situações, é que poderiam configurar por final a aprendizagem
no indivíduo. Por esta razão, Gérard Vergnaud prefere falar em interação esquema-situação,
uma base disciplinar para uma base interdisciplinar, chegando finalmente a uma base
transdisciplinar. Para que isto fosse possível tivemos necessariamente que mudar nossa
fundamentação e base lógica. Ou seja, a partir do momento que reconhecemos que a realidade
148
149
simultaneamente funcionar tanto quanto método de análise do real como também como
simultaneamente tanto a análise quanto a construção de uma epistemologia cognitiva que nos
vimos que a interpretação de Gérard Vergnaud pode suscitar aspectos não totalmente
4.4.3 – A teoria dos campos conceituais de Gérard Vergnaud: uma nova fundamentação
epistemológica complexa
149
150
relação sujeito-objeto da qual falava Piaget. Para Vergnaud, por outro lado, deveria se falar
ainda possui regras; apesar disto, o esquema não é algo que possa ser estereotipado, porque a
Segundo Vergnaud, os conceitos não devem ser interpretados por si mesmos e, por
outro lado, possuem existência ou sentido a partir da análise de situações, através das quais se
situações. Para Moreira e Greca (2002) os campos conceituais podem formar parte da
p. 172).
que quando o indivíduo se vê em situações desta mesma classe ele já possui padrões de
150
151
condutas que podem ser acionados. Se isto não ocorrer é necessário que ocorra a acomodação,
o que não se dá imediatamente. Para que isto aconteça é preciso haver um mecanismo entre o
mundo e o novo esquema de assimilação que conduzirá até o processo da acomodação. Aqui
entra em cena a construção de modelos mentais (ou representações mentais), que estarão
recente. Sempre que o indivíduo estiver frente a uma situação semelhante, deverá construir
um modelo mental análogo ao que construiu para a nova situação. Contudo, na medida em
que vão surgindo situações similares, de tal forma a se constituírem uma classe de situações, o
sujeito não construirá mais modelos mentais semelhantes (já que supostamente ele os possui
na memória), mas sim acionará um esquema de assimilação com base nas representações ou
modelos mentais (instáveis, não totalmente finalizados) iniciais. Este processo é algo que se
dá de forma contínua, e provavelmente não ocorre de uma maneira linear (por mecanismos de
O esquema é aquilo que une a conduta e sua representação, pois a relação entre as
(S, I, R) onde:
151
152
I é o conjunto de invariantes, elementos que podem ser utilizados pelo sujeito para
etc.) que podem ser utilizadas para representar os invariantes, as situações e os procedimentos
nem tampouco entre invariantes e situações. Isto significa que não se pode reduzir o
significado nem aos significantes nem às situações. Um único conceito não se refere a um só
tipo de situação, e uma única situação não pode ser interpretada segundo apenas um único
conceito.
Outro aspecto importante para ser esclarecido, é ainda com relação ao conceito de
situação. Para Moreira (2002), o conceito de situação utilizado por Vergnaud não é o de
situação didática, mas sim o de tarefa. Na verdade discordamos disto, pois, na verdade,
Vergnaud faz apenas uma distinção ou restrição quanto ao uso do conceito de situação
O conceito de situação tem sido muito renovado por Guy Brousseau, que lhe tem
dado não somente um alcance didático que não tinha em Psicologia, senão também
uma significação na qual a dimensão afetiva e dramática intervém tanto como a
dimensão cognitiva...nós não tomamos aqui o conceito de “situação” com toda esta
significação; nos limitaremos ao sentido que lhe dá habitualmente o psicólogo: os
processos cognitivos e as respostas do sujeito são função das situações as quais são
confrontados (VERGNAUD, 1990, p. 149-150).
152
153
Posteriormente, tal restrição seria abolida através de uma tese orientada pelo próprio
cognitivo estrutural fornecido por Piaget, com o elemento afetivo (energético) da psicanálise
Para isto nos apoiamos sobre os trabalhos de Vergnaud que ultrapassa a concepção
piagetiana de “totalidade dinâmica organizada” considerando quatro categorias de
elementos: “os invariantes operatórios, as inferências ou cálculos, as regras de ação,
as predições ou antecipações [..] Esta aproximação analítica nos parece
particularmente rica e interessante por observar o entrelaçamento de elementos
afetivos emocionais e cognitivos que intervém que participam na dinâmica do
esquema. No interior de cada um dos elementos poderemos evidenciar diferentes
dinâmicas de entrelaçamento. Isto nos conduzirá a descrever o esquema como uma
totalidade afetivo-cognitivo dinâmica, com uma característica evolutiva em função
da experiência singular de cada sujeito. (MAURET, 1991, tradução nossa).
Ce qui est vrai des schèmes d‟action gestuelle est vrai aussi des schèmes de
raisonnement scientifique et technique, des schèmes d‟interaction sociale et
langagière, de l‟affectivité. L‟émotion elle-mème repose largement sur la
153
154
O grifo em itálico é nosso, pois fizemos questão de destacar esta fala: “Não existe
mais o afetivo sem o cognitivo, nem o cognitivo sem o afetivo. O conceito de esquema deverá
permitir integrar em uma única unidade funcional os dois aspectos da atividade que não são
Num artigo onde aborda a questão das competências tanto em alunos iniciantes como
equívocos, argumentação;
2006).
154
155
A mesma importância ao fator afetivo foi também considerada por Clerc e Demarcy
É importante dizer que para a análise dos modelos mentais relacionados aos campos
estruturação que Johnson-Laird propõe, já que Vergnaud (assim também como Johnson-
Laird) não prioriza somente a estrutura lógica do pensamento (o que não significa dizer que
Vergnaud prescinde desta). Insistimos em dizer que para Vergnaud é o conjunto das situações
que determinam como os conceitos e teoremas em ação surgem a partir da dinamicidade que
teorias, e um dos motivos pelos quais tal teoria é considerada uma evolução teórica para a
Isto deve ficar claro para que não nos equivoquemos considerando que a análise que
fizemos se prendeu estritamente à noção lógica implícita na teoria dos Modelos Mentais de
problemas de pesquisa. O que estamos querendo dizer com isto é que tais teorias devem
Isto significa que tanto a Teoria dos Modelos Mentais como a Teoria dos Campos Conceituais
155
156
Ao mesmo tempo, esperamos ainda que estas teorias sejam consistentes com os dois
conceitos de Bachelard que mais nos interessam neste trabalho: o conceito de obstáculos
Para que isto possa ser possível assumimos que a caracterização dos campos
conceituais, deve ser definida a priori pelo pesquisador, segundo o que propõe Vergnaud
(1990). Tal caracterização embora seja arbitrária, é função direta das condições e do contexto
complexidade, procuraremos então obter uma relação sinergética entre ambas as abordagens.
156
157
CAPÍTULO 5
Nosso foco de análise recai sobre os diários de classe redigidos pelos sujeitos da
grupo;
Análise dos textos e materiais produzidos pelos grupos para subsidiar os minicursos.
dos diários, que nos fornecerá os esquemas, os modelos mentais e os invariantes operatórios.
Para isto efetuaremos uma análise detalhada de quatro dos 14 diários analisados. Na
análise das vídeo-gravações dos minicursos e os materiais produzidos pelos grupos para os
minicursos) também serão analisados. Porém, esta última análise figura como um
complemento da análise dos diários, já que este material foi desenvolvido em grupo e não
individualmente. Esta análise é importante a partir do momento que verificamos que algumas
157
158
1º: Esquemas utilizados pelos sujeitos nas respectivas situações didáticas: estes
esquemas referem-se a maneira pela qual o indivíduo organiza seus invariantes operatórios
2º: Invariantes operatórios: conceitos e teoremas em ação que estão contidos nos
esquemas;
Para a análise que faremos dos diários respectivamente a cada sujeito, utilizaremos as
seguintes notações:
A, B...– Uma letra maiúscula do alfabeto é utilizada para identificar cada sujeito;
em minúsculo;
[...] - Denota um conectivo lógico do tipo “logo”, “portanto”, “conclui-se que”, que
iremos utilizar antes da enunciação de um teorema em ação, com o intuito de dar ênfase ao
fato de que se trata de um teorema e não um conceito. Tal conectivo surge tão somente da
158
159
sempre em relação ao próprio sujeito, encerrando a numeração logo que se encerre a síntese
da análise;
realizamos uma análise de todos os diários, cuja síntese relativa a cada sujeito em específico
encontra-se nas “Tabelas Síntese” no Anexo A. A partir disto fomos capazes de inferir os
categorização dos esquemas emergiu tão somente como resultado da relação que os sujeitos
5.1.1 - Esquemas
159
160
tipo de interação que cada sujeito estabeleceu com a produção de seus respectivos diários.
Esta categorização levou em consideração a maneira como cada sujeito se relacionou com os
temas tratados em cada situação didática apresentada (situações didáticas indicadas na Tabela
2, no Capítulo 4).
Esquema Característica
Descritivo O sujeito se atém à descrição pormenorizada (ou não) do ocorrido em sala de aula
sem emitir juízo de valor.
Justificativo Além de descrever, o sujeito justifica sua fala sem, entretanto fazer uma avaliação
pessoal.
Avaliador O sujeito avalia sob o ponto de vista pessoal as atividades desenvolvidas.
Questionador Há um questionamento das atividades e mesmo auto-questionamento presentes no
texto.
Reflexivo O sujeito produz reflexões acerca das situações vivenciadas podendo ou não
concordar e até sugerir alternativas para as propostas.
Tabela 4 – Categorização dos Esquemas
Esquemas
Sujeitos
Descritivo Justificativo Avaliativo Questionador Reflexivo
A X X X X
B X X
C X X X X X
D X X
E X X X
F X X X (inicial)
G X X X X X(inicial)
H X X X
I X X X
J X X X (inicial)
K X X X X (inicial)
160
161
L X X X
M X X X
N x x X
Totais 11 10 12 9 5
Tabela 5 – Perfil dos esquemas de cada sujeito
A obtenção desta categorização pretendeu fazer com que pudéssemos estabelecer uma
relação tanto com os modelos mentais como com os campos conceituais que serão obtidos na
seqüência.
A análise dos dados a seguir foi realizada tomando-se como referenciais teóricos a
de seu texto. Para isto, avaliamos como as idéias são articuladas, utilizando-se
161
162
Convém destacar que os modelos mentais são representações do real segundo uma
estrutura que está presente na memória de curto prazo do indivíduo. Sendo assim, tais
relaciona. Apesar disto, vamos procurar proceder a uma análise mais estática, em termos
temporais. Isto implica dizer que estamos considerando que os modelos mentais obtidos estão
desenvolveram.
modelos mentais obtidos, bem como a análise a respeito dos esquemas e dos invariantes
operatórios.
162
163
Menciona aspectos (conceitos, idéias, definições teóricas) que não possuem uma
relação causal bem estabelecida. Nesta categoria encontramos aqueles diários cuja relação
com o conhecimento parece se limitar apenas ao aspecto puramente descritivo e linear, sem
haver uma investigação mais profunda sobre as relações entre os conceitos envolvidos numa
estão um tanto quanto dissociadas umas das outras, denotando que ainda não formam uma
unidade entre eles, dando mais uma idéia de justaposição (em forma linear) de idéias e de
concepções baseadas algumas vezes num certo senso comum. Frequentemente, determinados
teoricamente coerentes, mas somente a análise de seu conjunto é que revela uma característica
funcional mecânica, seguindo uma linha temporal onde as idéias estão encadeadas de uma
maneira linear.
Exemplo: Sujeito N
Explicação do experimento
A teoria de mapas conceituais é fácil (C3)
S3 e S4
A construção prática de mapas conceituais é complicada (C4)
Uma atividade considerada “prática” (no caso a construção de mapas
Mapas conceituais/V Gowin conceituais) permite a discussão entre o grupo (C5)
A avaliação se limita em certo e errado (C6)
163
164
Discussão minicursos
Não compareceu
S8
Multi, inter e
transdisciplinaridade
Os professores do ensino médio são acomodados (C12)
S9
Os professores universitários dedicam-se mais à pesquisa do que à Educação
Metodologia “Educar pela (C13)
pesquisa” Os professores universitários não são acomodados porque realizam pesquisa
(T5)
Somente os professores universitários realizam pesquisa (T6)
Pretende sempre se atualizar profissionalmente[como decorrência de C12 e
T5](T7)
O professor pesquisador desperta mais o interesse dos alunos(C14)
Existia uma certeza: a de que iria falhar como professora (C15)
S10
As aulas proferidas pelos graduandos não serão unanimidade (C16)
Tais aulas não terão a total aprovação dos alunos (T8)
Profissão docente Tem a tranqüilidade agora de que pode “falhar”(T9)
164
165
bastante simplistas e, diríamos, até ingênuos. Isto se verifica já pelo primeiro conceito em
ação (C1) inferido, de que “O trabalho experimental é fácil de ser realizado”, a mesma idéia
novamente surge quando opina sobre os mapas conceituais dizendo que sua parte teórica é
fácil. Contudo, quando diz que estes tornam-se difíceis “na prática” é porque, muito
provavelmente, aquilo que chamou de “teoria” não esteja assim tão claro, apesar de que
assume que sim. Esta posição simplista (de primeira ordem, utilizando a terminologia de
Bachelard) irá surgir em C7: “Todos os métodos podem ser bons, se utilizados
diário lemos: “... cheguei à conclusão de que todos os métodos podem ser bons, se utilizados
filosofias”. Esta conclusão pode de fato estar ocultando uma falta de conhecimento mais
aprofundado sobre as reais diferenças que tais metodologias possuem entre si. Então, dizer
que o que foi dito seria o mesmo que falar que todas as “filosofias” ou “metodologias” são
idênticas, que não há diferenças entre elas, fato este que não se confirma nem na teoria nem
muito menos na prática. E esta conclusão deste sujeito implica ainda em desconhecer ou de
não estabelecer uma relação causal entre os demais aspectos que estão inter-relacionados
descrição de outro trecho do diário deste dia constataremos isto de forma cabal: “Se um
experimental, por que não fazê-lo? Se é preciso uma explicação detalhada, uma apresentação
bem feita do assunto, penso que uma aula tradicional não seria uma má escolha”. Este trecho
poderia implicar ainda outros teoremas em ação: “Um assunto fácil deve ser utilizado uma
165
166
metodologia experimental”. E ainda outro: “Um assunto mais difícil deve ser utilizado uma
metodologia tradicional”. Estes dois teoremas se relacionam da seguinte forma: “Uma aula
experimental não é algo detalhado, contrapondo-se a uma aula tradicional, que é bem feita”.
Existe então uma idéia mais uma vez simplista, de primeira ordem sobre o que é uma aula
experimental, equivalendo-a a algo banal, simples e fácil. Será que toda aula dita
“experimental” realmente se reduz a isto? Será que a idéia de “experimento” está sendo
será que não está implícito a idéia de experimentação apenas como demonstração?
Sobre a questão dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o conceito de que “Os
PCNs não estão sendo aplicados corretamente” (cuja transcrição do diário é: “Adoraria que os
PCN fossem aplicados corretamente...”) está implícito a idéia de que estes são uma base
segura e confiável. A pergunta que cabe então é: será que realmente podemos confiar nos
PCNs? Esta indagação também foi feita pela professora: “Só tenho um comentário seguido de
uma questão (como sempre): Se os PCN fazem o diagnóstico, ou seja, apresentam a situação
do ensino e apontam as soluções, por que nada acontece? Por que o ensino não muda?”. A
conceituação deste sujeito indica o que dissemos anteriormente sobre uma falta de
acomodados e que, segundo suas palavras do diário “...acabam ficando com aquele
caderninho amarelo velho, que às vezes até contém erros” implica numa generalização
conceitual muito perigosa e questionável: será que isto é uma regra para os
professores/profissionais que atuam neste nível de ensino? Será que realmente esta é a
realidade do ensino médio? Existe algum tipo de estatística que confirme esta afirmação?
Mesmo que esta afirmação e conceito estejam muito calcados no senso comum, outra
166
167
afirmação (não menos baseada no senso comum) se segue na seqüência do diário daquele dia:
“... já os segundos, tendem a se dedicar mais à pesquisa do que à própria Educação.” Pois
bem, então a situação para estes professores deveria ser considerada muito mais grave do que
os professores do ensino médio (utilizando o raciocínio deste sujeito). Primeiro porque, pelo
fato dos professores universitários estarem num ambiente mais propício para a descoberta,
como conseqüência poderia se esperar que tais resultados chegassem com mais facilidade aos
alunos e, assim sendo, o ensino praticado por estes deveria ser muito melhor. Por outro lado a
conclusão deste sujeito oculta ou exime o fato de que nenhum (ou a maioria) dos professores
universitários também não utiliza o “caderninho amarelo”. Ou seja, poderíamos enunciar tal
pensamento pelo seguinte conceito: “Todo professor de ensino médio está ultrapassado e todo
professor universitário está muito bem atualizado”. A condição de efetuar pesquisa pelo
professor universitário o “inocenta” ou o isenta, ou ainda diminui sua culpa por não praticar
ou não se dedicar ao ensino? Outro teorema pode ser obtido: “O professor do ensino médio
simplesmente ignora o fato de que pelo menos a experiência deste professor é também um
tipo de pesquisa. De outro lado, outro teorema poderia ser obtido: “A pesquisa é uma
estritamente assim, qualquer um destes teoremas seria algo extremamente preocupante, quer
Para que o teorema em ação T7: “O professor pesquisador desperta mais o interesse
dos alunos” fosse aplicável pelo sujeito da pesquisa, conforme ela mesma afirma no diário
“Espero ter disposição, interesse e possibilidade para estar sempre me atualizando” são
e possibilidade. Pois bem, então, aplicando estes parâmetros para o professor do ensino
167
168
interesse, se lhe faltar a “possibilidade”, como este faria então para se tornar um professor
pesquisador?
Finalmente, na aula cujo tema de base foi a questão da profissão docente, N assume
que não conseguiria ter êxito como professora e que, como conseqüência “iria falhar”: “Eu
tinha uma angústia, uma grande pressão, achando que não conseguiria e que fatalmente iria
falhar...”. Esta idéia de “falhar” esteve presente noutros momentos de seus diários (na análise
dos mapas conceituais, feita pelo pesquisador), denotando uma posição demais dicotômica
(certo, errado). Tal posição é contraditória por tudo que o próprio sujeito já havia
dizer: se N está na condição de uma graduanda em final de uma licenciatura, baseado em sua
argumentação de que quando o professor é bem informado e atualizado sua aula será boa,
portanto, nesta condição em que ela exatamente se encontra, sua aula (no minicurso) não
poderia de forma nenhuma ser uma aula ruim. O teorema em ação T8: “Tais aulas não terão a
total aprovação dos alunos” (que adveio da afirmação da professora da disciplina de que
“nossas aulas não serão unanimidade e que não “ganharemos” 100% dos alunos”) avaliza ou
referenda algum eventual deslize por parte de N na sua condição imediata e temporária de
docente. Por detrás deste teorema está implícito um conceito avaliativo (ou auto-avaliativo):
determinado professor é necessário que este professor se abstraia de si mesmo para se ter esta
noção. Isto nos pareceu algo muito positivo, já que demonstra um princípio meta-cognitivo
168
169
existe um grau muito tênue de relacionamento entre os conceitos, havendo, na maioria das
proposições são muito frágeis. Existem muitas premissas implícitas, o que nos leva a
primeiro diário lemos: “Cheguei atrasada nesta aula... [1] notei que a sala participava bastante
e por isso [2] conclui que o experimento chamou a atenção dos alunos e [3] boas conclusões
Podemos resumir desta forma seu modelo mental sobre Educação: todas as
metodologias são igualmente válidas, o que muda é apenas a forma como o professor
trabalha, e esta forma vai estar em função do tipo de aluno que o professor terá. Para isto, é
necessário que este professor esteja sempre pesquisando e utilizando metodologias como a
equivale dizer que estes parâmetros são idênticos, na maneira como seriam ensinados (e
intervenção do tipo experimental (que também poderia ser encarada como sendo uma de
tantas outras metodologias existentes) é fortemente defendida pelo sujeito N. Aliás, como já
dissemos, temos dúvida de que esta concepção de “experimental” seja, na verdade, apenas a
169
170
considerado pelo sujeito N somente quando observou a diferença entre os alunos e que, em
função disto, o professor deveria saber quando utilizar-se desta ou daquela metodologia. Esta
idéia parece interessante e coerente, contudo, isto não significa dizer que todas as
relacionamento entre eles. Geralmente expõem de forma bem simplificada modelos de ensino
dicotômica em relação a determinado conceito (por exemplo, a idéia de certo e errado, de erro
uma síntese através do reconhecimento das diferenças e semelhanças. Por isto, muitas vezes,
trabalha mais com o nível de relativização dos conhecimentos, ou seja, considera que este ou
aquele conceito pode ser aceito ou utilizado em tal ou tal situação. Na verdade, esta atitude
170
171
Sujeito F
S9 Não compareceu
Metodologia “Educar
pela pesquisa”
171
172
Embora este sujeito explicite diversos conceitos, na maioria das vezes parece que o faz
mais como uma espécie de lugar comum ou de jargões, já que em diversas situações é
“discussão” como sendo algo importante. É claro que esta característica é realmente
aprendizagem deva se dar fortemente em função deste tipo de interação (as discussões),
Manifesta uma acentuada dicotomia entre aspectos que considera “certo” ou “errado”,
conceituais e V de Gowin) se expressa nestes termos: “As atividades tiveram uma enorme
alunos iniciaram a aula lendo um texto sobre dois professores que tinham estilos de ministrar
aulas diferentes. Um deles era mais tradicional e o outro com uma maneira de dar aulas mais
modernas, onde as aulas eram dadas de forma experimental, lançando problemas aos alunos e
mostrando exemplos do cotidiano”. Neste período, identificamos dois conceitos (C5 e C6),
sendo que no conceito C6 o sujeito F acaba por conceituar o que considera um professor que
trabalha com uma aula num estilo moderno: aulas dadas de “forma experimental”, “lançando
problemas aos alunos e mostrando exemplos do cotidiano”. Aqui cabe perguntar: esta
172
173
de hipóteses? Parece que está mais identificado com a última forma, a problematização. É
verossímil que F considere esta possibilidade, pois já a havia expressado logo na primeira
situação (S1), através do conceito C1: “A problematização leva à discussão”, conceito este que
levam aos teoremas em ação T1 e T2. Vejamos nas palavras do diário como F se expressou:
“... a partir daí iniciou-se uma discussão entre os alunos e o professor no intuito de buscar
uma explicação para os acontecimentos do experimento (...) isso gerou uma busca pela
explicação dos acontecimentos, o que incentivou uma pesquisa com o objetivo de encontrar a
alunos do ensino médio”. Estas conclusões foram muito significativas para F porque irão
orientar seu modelo mental e seu campo conceitual ao longo das situações posteriores.
Na situação S8 expressa mais uma vez a dicotomia: “Isso foi extremamente importante,
pois seria necessário organizar o minicurso de forma moderna mostrando assim sua aplicação
no cotidiano dos alunos”. Aqui, a palavra “moderna” parece se contrapor à palavra “antiga”,
que estaria implícita. Além disto, sua premissa inicial poderia ser verdadeira, mas sua
conclusão é falsa. De fato, F não se aprofunda (pelo menos nos diários) em definir ou
não é realizada de uma maneira complexa, a ponto de sustentar uma discussão onde
suscitasse pontos de vista opostos, ambíguos ou contraditórios. Talvez por isto utilize
provavelmente como uma maneira indireta de estar de acordo com o tema da situação em
173
174
questão, pois, talvez não menos por acaso, em nenhum dos diários expressa qualquer opinião
contrária (ou ao menos diferente) em relação aos temas que foram tratados. Em resumo:
concorda com tudo. No último diário ( ), a professora da disciplina fez a seguinte observação
discussões no contexto da disciplina? Por que motivo elas foram encaminhadas e onde
queríamos chegar com elas? Elas provocaram desconforto em você? E nos colegas? Por
ou passividade?
Apesar do fato deste sujeito ter expressado diversos conceitos, transparecendo ser
capaz de estabelecer alguma relação entre eles, vemos que seu perfil identifica-se mais com o
modelo mental que caracterizamos como sendo do tipo “B” (semi-relacional). De fato F não
conceitos que identifica (pois na maioria das vezes se limita a apenas dizer que tal ou tal idéia
é “interessante”).
maior ênfase no âmbito disciplinar (uma ou duas áreas do conhecimento). Isto significa que
174
175
específico, não estabelecendo uma relação forte com outras áreas. Neste nível sua capacidade
de síntese é mais desenvolvida, pois consegue relacionar conceitos opostos e trabalhar com as
aparentes contradições de uma maneira menos conflituosa. Na verdade, consegue lidar com o
Sujeito C
Não compareceu
S2
Explicação do experimento
Diz que a elaboração do MC exige um conhecimento abrangente e
S3 e S4
não pontual, visto que os conceitos estão atrelados (C5)
Mapas conceituais/V Gowin
Destaca que é importante colocar os “termos ligantes” nos Mapas
Conceituais (C6)
A utilização dos Mapas Conceituais como uma alternativa de
avaliação, opondo-se à “famigerada avaliação tradicional” (C7)
O Mapa Conceitual é interessante para o professor perceber o
conhecimento dos alunos, principalmente no inicio do curso (T2)
Considera o Mapa Conceitual uma ferramenta de aprendizagem
(C8)
O V de Gowin facilita a elaboração de uma aula (C9)
O V de Gowin é um roteiro (C10)
O V de Gowin é um procedimento experimental de uma prática
laboratorial, um trabalho resumido – nada muito profundo e tudo
muito abrangente (T3)
A elaboração dos Mapas Conceituais e do V de Gowin exigem
uma busca por conceitos e aprendizado em grupo (T4)
[Consequentemente] É uma atividade prazerosa e construtiva (T5)
[Portanto] Conclui que os conceitos são retirados da teoria (T6)
A forma da professora Alba foi uma abordagem interessante pois
S5
175
176
O sujeito C representa expressa suas idéias de uma maneira bastante espontânea, com
uma fluência verbal e um estilo muito agradável de se ler. Estabelece uma relação dialógica
direta com a docente da disciplina, como se estivesse conversando com a mesma, e não
apenas relatando. É bastante clara e objetiva em suas conceituações, dando a impressão que
176
177
possui uma boa noção daquilo que diz, não poupando palavras para se expressar e ainda
(conceito C1), surge após uma frase sua: “Na vida há duas classes de indivíduos: os que
fazem experimentos e os que jamais o fazem”. Apesar desta sua conceituação otimista, não
já constatado em outros sujeitos analisados) sobre qual o seu conceito sobre experimento. Esta
dúvida possui razão de ser em função de que não vincula de maneira tão óbvia e imediata o
conceito de professor investigador à idéia de uma aula que utiliza experimentos. No entanto,
conforme explicitado em C2, cujo texto do diário é: “Acredito que seja um professor
encarar desafios que possam significar uma mudança radical também caracterizam o professor
investigador”.
Por outro lado, o fato de ter vinculado o conceito de que a experimentação é uma nova
rapidamente estabelecer uma associação entre duas situações didáticas que possuem
características comuns. Por esta razão sintetizamos sua idéia através de um teorema em ação.
segurança. Alguns conceitos merecem ser destacados. Possui claro o fato de que através dos
que os Mapas Conceituais deveriam ser utilizados como um instrumento de avaliação. Esta
compreensão do sujeito C denota realmente um nível bastante profundo deste instrumento não
177
178
apenas como algo para explicitar conceitos. Vai além dizendo que o Mapa Conceitual é uma
apenas um aspecto do Mapa Conceitual, mas vários deles. Uma fala sua vai denotar ainda
uma compreensão de natureza não dicotômica sobre a utilização do Mapa Conceitual: “Ficou
bem claro que não existe mapa conceitual errado, todos os mapas têm fundamentos corretos”.
Também sobre o V de Gowin sua percepção foi bastante precisa, embora não tenha
considerado que este instrumento seja algo tão inédito quanto dizem. Com suas palavras: “...e
acima de tudo percebi que o V de Gowin não é tudo isso que pintam (risos)”. Provavelmente
esta opinião seja justificada pelo fato de que C deva possuir grande familiaridade com
apenas uma conceituação, pois, em ambos, sua conclusão sobre os dois estilos diferentes das
duas professoras foi expresso manifestando não apenas a característica do professor em si,
mas também o resultado desta característica, que foi justamente a produção dos alunos. Ainda
em T8 conclui não ter havido o processo argumentativo pelos alunos. Ou seja, implicitamente
construir o conhecimento. De fato, sua concepção de aula é muito completa, pois em T9 e T10
reforça o domínio que possui das várias dimensões e parâmetros que uma aula deve conter e,
inclusive, indicando que o professor deva ser reflexivo e mudar em função desta reflexão,
caso perceba esta necessidade. Chega fazer a seguinte pergunta em seu diário relativo a S 9 :
“Qual a diferença entre professor investigador e professor reflexivo? Essa é minha pergunta à
você, professora”.
Na continuidade, em T11 e T12 vai mais uma vez explicitar conclusões (teoremas em
ação), o primeiro sobre o construtivismo e o segundo sobre avaliação. Aliás, em T12 avança
178
179
No teorema em ação T13, o sujeito C manifesta certa confusão conceitual, que aliás
nos faz questionar se sua conclusão um tanto quanto precipitada de que o V de Gowin é algo
tão trivial. Vejamos o que C escreve: “(...) Cada minicurso com seus experimentos, cada
experimento com suas teorias (ou seria conceitos??)”. Esta observação feita por C se deveu ao
fato de que durante a situação S4, que foi tratado sobre o V de Gowin, questionamos e
enfatizamos aos graduandos a respeito de tentarem ter claro sobre qual teoria determinado
conceito se refere, o que foi uma grande dificuldade para todos. Anteriormente, em seu diário
relativo à situação S4 teria dito: “O “V” epistemológico do meu grupo faltou a teoria, o
modelo teórico, princípios e leis (que são diferentes de conceitos). A partir disso, surgiu uma
discussão acerca do que é teoria e o que é conceito”. Percebe-se, portanto que não ficou
uma forma quantitativa mais acentuada do que em relação aos conceitos em ação. A razão
disto encontra-se precisamente no fato de que a mesma possui uma estruturação conceitual até
certo ponto bastante elaborada, motivo pelo qual os teoremas foram surgindo a medida que o
expresso de maneira inequívoca em todos os textos de seus diários. Não se tratou apenas de
alguém que possui facilidade em escrever ou de expor suas idéias, mas sim de alguém que
179
180
sabe argumentar e relacionar conceitos à medida que interage com situações aparentemente
outras) de uma maneira sistêmica, integrada e complexa, estabelecendo relações com distintas
áreas ou disciplinas. Geralmente, em quase todas as situações didáticas que este sujeito se
apresenta, acionará ou colocará em evidência uma forma de se relacionar com distintas áreas
didáticas. Sua capacidade de síntese é muito mais apurada, chegando muitas vezes até a se
precipitar em suas conclusões. O que parece ocorrer é que o modelo mental utilizado neste
caso quase sempre parece satisfazer funcionalmente o indivíduo, fazendo com que o mesmo
180
181
Sujeito D
181
182
Profissão docente
ação, e não como conceitos em ação. A razão de ser disto é que justamente no sujeito D a
currículo, contexto e avaliação) estejam previamente bem estabelecidos. Isto não quer dizer
que este sujeito não tenha o que aprender e que consequentemente não seja capaz de mudar.
Ocorre que possivelmente seu domínio teórico fortemente fundamentado fez com que a
medida que as situações foram sendo desenvolvidas, o sujeito fosse explicitando suas
conclusões, daí o motivo de termos identificado uma quantidade bastante grande de teoremas
182
183
em ação, até muito mais do que os próprios conceitos em ação. De fato, é esperado que isto
fosse desta maneira, contrastando com outro sujeito que teria uma conceituação mais
modesta.
De início já se posiciona sobre como deveria ser o professor: “O tentar ensinar exige
utilizando-se deste conceito (C1), analisará que embora isto seja fundamental, não é tudo, pois
comprovou que quando tiveram que explicar um fenômeno químico, não o conseguiram,
significativa e chamativa para que possa haver o interesse do aluno” (C2). Contudo, não se
satisfaz ainda com mais este conceito, e irá concluir que não basta que seja verificado os dois
conceitos anteriores (C1 e C2), mas que de fato “Aprender ciências é algo que os estudantes
devem fazer e não algo que se faça por eles”. Vemos que D cresceu em sua própria
conceitual. Isto é um exercício cognitivo que vai emergindo ao mesmo tempo em que o
sujeito D vai se confrontando com elementos da própria situação em que está focando, muito
embora não se limita apenas àquela situação em específico. Por este motivo, é absolutamente
aceitável a enunciação do teorema em ação T5, cuja letra do diário é: “Por isso, dizer que
existe método e teorias sobre o que fazer numa aula é se iludir e pensar que dar aula é fácil”.
Neste caso, tal conclusão adveio de um longo processo reflexivo, e não apenas de algum
183
184
professor (do indivíduo) a sua maneira de lecionar: “(...) tudo o que uma pessoa carrega e
aprende durante a vida, seus ideais, suas preocupações, etc., é que determina o que se quer
com o ato de ensinar e, consequentemente, qual será o tipo de aula dada”. Quando vai falar do
seu dia a dia para consequentemente utilizá-lo na situação de ensino. Esta idéia é um conceito
que está tentando criar, e mais adiante no mesmo diário relativo à situação S5, repetirá sua
idéia sobre este conceito: “Última coisa, tenho uma vontade absurda se saber como eu
aprendo para tentar usar esta idéia como um tipo de metodologia de ensino. To tentando
aprender !!!”. Observemos sua preocupação em que o professor seja coerente com aquilo que
Nacionais não deveriam ser a única fonte e, ainda mais, que a situação escolar poderia
também ser uma base de dados para o professor (C8). Esta conceituação é surpreendente,
porque reconhece implicitamente o valor que o repertório das experiências docentes pode
contribuir para o professor. Por detrás deste conceito também podemos concluir que a visão
sobre a profissão docente para o sujeito D é algo extremamente valoroso, ou seja, o professor
facilmente aplicáveis na atualidade. E aqui, uma vez mais (T17), concluindo o que havia
conceituado em C5 e C7, que “(...) como já disse em outras discussões, não estamos
acostumados com esta visão de mundo desfragmentada [fragmentada]. Não só no ensino, mas
como modo de ser como pessoa”. Implicitamente, portanto, neste sujeito, existe uma
184
185
através de uma esfera, já que não segue uma linha temporal linear e rigorosamente causal. Isto
não quer dizer que não desencadeie suas idéias de maneira organizada e estruturada, muito
longo, médio e curto prazo, ou seja, utiliza-se de seu repertório de aprendizagens anteriores
(quer estejam estas presentes num lapso mais próximo ou mais distante temporalmente),
associando-o à aprendizagens mais recentes. Em função disto, transita com certa facilidade na
maioria das situações didáticas em que se defrontou. É uma postura com um fundo meta-
cognitivo bastante acentuado, o que talvez possa lhe trazer dificuldades em determinados
momentos em que necessita ser mais “prático”, já que seu processo auto-reflexivo e auto-
crítico está sendo sempre requisitado, não se satisfazendo consigo mesmo nesta espécie de
espiral crítico-reflexiva.
conceitual
185
186
invariantes operatórios, feitas a priori pelo pesquisador. Assim sendo, adotamos dois
Moreira (1990), que menciona critérios para se caracterizar uma situação didática em
dentro de um determinado contexto, constituem ou caracterizam uma situação (no caso uma
científica, ou seja, surgem em função daquilo que a Ciência da Educação (incluindo-se suas
diversas áreas afins, como a Psicologia Cognitiva, a Pedagogia, etc.) considera como sendo
aceito cientificamente. Neste caso, este conjunto de parâmetros pode ser considerado um
concepção educativa. Isto porque tal representação poderia ser a interpretação feita apenas por
parte da comunidade científica, ou seja, tão somente por um conjunto de determinados autores
(2000). Conforme já visto no Capítulo 2, segundo este autor, para que se processe a
conceito de esquema de Vergnaud). Isto porque a complexidade, fenômeno que é inerente aos
186
187
afetivo) é um princípio ou lei natural (quer seja interpretada pela Física, pela Biologia, pela
Os esquemas obtidos por esta pesquisa através da interpretação dos diários, quais
sejam: descritivo, justificativo, avaliador, questionador e reflexivo estão em menor (nos casos
dos modelos mentais A e B) e maior (nos modelos mentais C e D) relação com os aspectos
referente do conceito); I é o conjunto de invariantes, elementos que podem ser utilizados pelo
diagramas, etc.) que podem ser utilizadas para representar os invariantes, as situações e os
procedimentos para se lidar com elas (é o significante do conceito), o que faremos agora é
ação) o mais próximo possível do que pudemos obter da análise dos diários.
Sendo assim, poderíamos integrar ambos referenciais (o dos modelos mentais e dos
campos conceituais) e obtermos como resultado o que Vergnaud conceitua como sendo
187
188
maneira pela qual o indivíduo se relaciona com o conhecimento, sem, no entanto sermos
Para isto, construímos uma tabela onde as colunas se relacionam com as situações
relacionam com o esquema da complexidade. Com isto obtemos uma matriz, que
complexo.
Como sabemos que os modelos mentais são construtos que o sujeito utiliza de maneira
mais imediata para tentar representar o real, agrupamos os quatro modelos mentais em dois
Situações
Esquemas
Ensino Aprendizagem Currículo Avaliação Contexto
Não é muito
clara a relação
As relações que
A aprendizagem com entre os
o indivíduo A avaliação não
pressupõe um diversos
estabelece com a O currículo é um envolve a
Complexidade mínimo de contextos
realidade são fim em si mesmo complexidade do
capacidades (universidade-
extremamente indivíduo
cognitivas escola-
triviais
comunidade-
mundo)
Consequentemen
Não é claro que
O ensino limita- te, a relação com
a aprendizagem O currículo é A avaliação não
se a um universo tais contextos
envolve o fechado em si leva em
Níveis de restrito de não se dá de
relacionamento mesmo, consideração a
realidade competências/ha maneira
com outros altamente diversidade e a
bilidades do integrada
níveis de disciplinar individualidade
aprendiz (interdisciplinar,
realidade
colaborativa)
Lógica do O ensino limita- A aprendizagem O currículo é A avaliação Há uma
terceiro se a aplicação não faz o auto-contido, possui uma valorização
188
189
Situações
Esquemas
Ensino Aprendizagem Currículo Avaliação Contexto
A avaliação é
A aprendizagem É necessário o
O currículo é um um processo
As relações que pressupõe o estabelecimento
meio, não extremamente
o indivíduo domínio de entre diversos
Complexidade exclusivo, de complexo
estabelece são múltiplas contextos num
apreensão do considera a
complexas capacidades mesmo nível
saber totalidade do
cognitivas hierárquico
indivíduo
Isto pressupõe
A aprendizagem uma equidade
O currículo
comporta A avaliação é entre os diversos
O ensino leva permite o inter-
distintas inclusiva, elementos que
Níveis de em consideração relacionamento
possibilidades da priorizando a participam
realidade diferentes com outras áreas
expressão da diversidade e a destes contextos
dimensões do ser do conhecimento
inteligência individualidade (por exemplo,
humano
humana professor e
aluno)
A aprendizagem Apesar de não se
não discrimina prescindir da
O ensino as múltiplas A avaliação é individualidade
O currículo
comporta o manifestações da individualizada, de cada agente
Lógica do permite o
diálogo entre inteligência levando-se em que participam
terceiro estabelecimento
diferentes criativa do consideração a dos diferentes
incluído de relações de
ciências, entre a individuo, nem especificidade de contextos, a
natureza global
arte e a religião tão pouco cada pessoa relação entre
hierarquiza estas eles é de
capacidades equidade.
Tabela 12 – Matriz epistemológico-conceitual – Modelos mentais γ e δ
189
190
epistemológico de Gowin cujo objetivo seria explicitar os conceitos que seriam aplicados nos
respectivos minicursos.
Por ter sido um instrumento cuja construção foi coletiva, não permitiria uma análise
individual, o que não era de fato nosso propósito. Pelo contrário, a intenção subjacente ao
oferecida pelo pesquisador aos graduandos, mais a confecção destes instrumentos, tivemos
explicitaram os conceitos:
que desenvolveriam nos minicursos. Não houve por parte de nenhuma equipe alguma
forma direta;
190
191
Sem exceção, todos os alunos demonstraram uma dificuldade muito grande quando foi
Este último dado foi importantíssimo na medida em que nos mostrou que apesar dos
funcional entre conceitos, teoremas, princípios e leis, e seu desenvolvimento com o intuito de
Da discussão que foi realizada com os graduandos a este respeito, inferimos que
esta dificuldade parece estar subjacente à própria maneira como os conteúdos de Química
lhes foram apresentadas durante a graduação. Para que pudéssemos tornar pertinente o
científicas, tivemos que tomar como referência algumas analogias com teorias e modelos
da Física.
Em primeiro lugar convém lembrar uma vez mais que a construção dos mapas
dizer que dos 14 sujeitos cujos diários de classe foram analisados, todos participaram da
191
192
de reconciliação integradora.
192
193
Este mapa distribui os conceitos de uma maneira menos linear quando trabalha
193
194
Embora este mapa tenha sido o mais linear de todos, chama atenção pelo fato de que
mesma, com as palavras: “são”, “alteração” e “inter-relação”. Além disto, esta última
são inter-relacionados. Esta interpretação foi muito interessante pois valoriza o fato de que
194
195
A construção dos “V de Gowin” trouxe questões que não puderam ser visualizadas
através dos mapas conceituais. Em primeiro lugar, possibilitaram que ficasse absolutamente
evidenciado para o grupo o que exatamente o minicurso deveria tentar atingir em termos de
fundamental e ou do ensino médio). Por exemplo, no grupo sobre “Fatores que afetam a
realizar experimentos facilita na compreensão da ciência”. Depois, uma seta indica para a
palavra “Construtivismo”, que leva a uma outra seta indicado para o seguinte texto: “Os
experimentos realizados irão demonstrar como podemos variar a velocidade da reação. Serão
seis variáveis: temperatura, pressão, superfície de contato, estado físico, orientação espacial e
dia-a-dia, estamos cercados de reações químicas das quais somente temos o que é de senso
comum, não sabendo ao certo o que realmente influencia as velocidades delas”. Mais adiante
podemos influenciar a velocidade da reação”. Pois bem, conforme iremos mencionar quando
tratarmos dos invariantes operatórios, observamos que nas construções acima emergem
científicos”. Um outro teorema seria: “As situações do cotidiano são uma importante
constata-se semelhantes conclusões a respeito dos teoremas que estão implícitos, cuja ênfase
necessário deixar claro que o termo “experimentação” aqui utilizado se refere tão a
195
196
que não estamos em absoluto questionando a validade ou a pertinência ou não deste tipo de
estratégia. Apenas estamos constatando um fato que se fará muito presente na forma de
sucinto demais, sendo que na parte do domínio conceitual o grupo se limitou tão somente a
enumerar os conceitos, não tecendo qualquer consideração sobre quais teorias, teoremas ou
questão ensino-aprendizagem foi explicitada, apenas uma menção de que a avaliação seria
“qualitativa”. Isto nos faz pensar que provavelmente o grupo não tenha compreendido de fato
grupos.
196
197
197
198
em vídeo duas situações didáticas: a primeira foi uma a situação S7 (Discussão sobre os
totalizando aproximadamente 20 horas, que é o que nos interessa para o momento. Utilizamos
a observação sistemática como método de análise para inferir nossas conclusões. Como nosso
problema principal envolve a questão dos modelos mentais e dos campos conceituais frente a
situações didáticas de determinado indivíduo, nos pautaremos aqui também sob esta
perspectiva.
198
199
Conservação de alimentos
Produção de álcool
Em linhas gerais todos os grupos (inclusive o grupo relativo ao tema “Fatores que
afetam a velocidade de uma reação”) tiveram uma preocupação muito grande em fazer com
que o tema abordado tivesse uma relação com o cotidiano. Aliás, isto foi uma preocupação
colocada pela própria docente da disciplina. Contudo, a turma reconheceu que alguns temas
poderiam ser mais difíceis de serem tratados do que outros. Os grupos elaboraram um plano
199
200
para aquilo que seria o conteúdo a ser desenvolvido. Todos os grupos adotaram a estratégia de
dividir o conteúdo a ser trabalhado no minicurso, cabendo a cada um da equipe expor aquele
assunto.
minicursos, que envolveu não somente o conteúdo em si a ser trabalhado, mas ainda fatores
como divulgação na escola onde seria ministrado cada um dos minicursos, confecção de
materiais para serem distribuídos durante a aula. Um problema que se impôs a todos foi o fato
de que os minicursos foram realizados no final de semana. Para isto os graduandos contaram
dentro do “Programa Escola da Família”. Isto fez com que os participantes dos minicursos
sido constituídos por um grupo considerado da terceira idade (compostos na maioria por
por exemplo, feijão e carne temperados ou não com diferentes condimentos. Assim sendo,
solicitaram aos participantes que cheirassem cada amostra, o que provocava diferentes
reações nas pessoas. A partir disto, perguntava-se o por que dos diferentes cheiros, se
dependia ou não do tipo de condimento utilizado. Não houve por parte do grupo uma
preocupação no desenvolvimento de uma abordagem teórica sobre o assunto, embora que foi
feita uma explanação sobre alguns princípios envolvidos nos diversos processos e técnicas de
alvo. Convém também destacar que nesta oportunidade, a própria professora da disciplina
200
201
esteve presente (como nos demais minicursos), porém teve uma participação bastante grande
durante vários momentos na explanação sobre o tema, muito provavelmente motivado pelo
participantes, de séries distintas. Convém destacar que este grupo utilizou uma estratégia
muito interessante de divulgação do minicurso, que foi a confecção de um cartaz muito bem
feito, onde se lia: “A Química do Álcool. Você vai aprender: como foi descoberto o álcool;
como é produzido o álcool (cachaça); o que é fermentação alcoólica; o que é uma bebida
destilada; quais as relações da produção de álcool com a química”. Ainda havia uma caixa
(aproximadamente 30) este material. É importante destacar também que a apostila foi
utilizando para isto todas ferramentas específicas que a tarefa requeria, ou seja: coluna de
utilizado apenas como uma demonstração, houve grande interesse dos participantes, em
função de que durante o tempo que decorreu a preparação do álcool, utilizando o caldo de
seja, a destilação. No dia anterior, o grupo havia preparado vários recipientes de vidro com
cana de açúcar, onde no gargalo do recipiente foi presa uma bexiga flexível. Com isto, devido
201
202
ao processo da fermentação, houve a liberação de gás, o que fazia com que a bexiga se
outro experimento, que foi a determinação do teor de álcool na gasolina. Para isto, prepararam
um roteiro com todo procedimento experimental descrito. Inclusive fizeram com que fosse
pimenta com água, pimenta com vinagre e pimenta com azeite, de forma isolada ou com uma
fatia de torrada. Esta estratégia agradou bastante o público, pois despertava o interesse em
saber a razão da diferença de sabor em cada situação. Aliás, neste momento da atividade, o
grupo soube aproveitar bem para fazer perguntas aos participantes sobre o porquê da
diferença no sabor, relacionando com o que havia sido falado na teoria. Quando ocorreu o fato
da pimenta provocar sensação de ardência, o grupo interveio perguntando como poderia ser
neutralizada esta sensação. Neste momento, uma vez mais, recorria-se ao que haviam
desenvolvido na teoria.
202
203
esquemas menos complexos na redação dos diários, tiveram uma grande desenvoltura
linguagem clara, objetiva e lúdica. Para este caso, identificaríamos a interação aluno-
estratégia de propiciar nos alunos uma discussão mais prolongada onde ocorresse e se
questionamento por parte do aluno. Mas isto não foi uma constante. Por esta razão
poderíamos dizer que os modelos mentais para caracterizar tal interação foram mais
Apesar do acima exposto, foi digno de notar que a maioria dos sujeitos que já atuam
maioria dos sujeitos que nunca tiveram nenhuma experiência docente. Aqui parece
haver uma sensível diferenciação entre sujeitos que poderíamos chamar de novatos em
203
204
O tema escolhido pelos grupos foi determinante para que fosse propiciada uma relação
Em função do item acima, o único grupo que abordou parte de seu tema de maneira
álcool;
Embora tivesse sido planejado por todos os grupos durante a fase de elaboração dos
esquemas.
204
205
teoremas em ação de uma maneira mais direta, muito provavelmente porque seu repertório
conceitual esteja mais bem estruturado através dos esquemas internos e, portanto, localizados
Constata-se que dos 7 sujeitos que apresentaram Modelo Mental do tipo Relacional
Complexo (δ), dois sujeitos (H e M), demonstraram um esquema onde não se evidenciou os
em que nestes sujeitos o esquema Avaliativo foi muito presente, fazendo com que os mesmos
fossem capazes de estabelecer relações com vários conceitos entre si, mesmo sem apresentar
palavras, não são apenas estes dois tipos de esquemas que podem configurar uma
mais profundamente os invariantes operatórios de cada sujeito para associá-los aos modelos
mentais correspondentes.
Por outro lado, o sujeito A, que apresentou um perfil com todos os esquemas, exceto o
Reflexivo, foi classificado como possuindo um modelo mental Linear (α). De fato, este
complexas entre os conceitos que possui. Ou seja, não basta apenas questionar por questionar,
mas sim ter uma visão mais abrangente dos fenômenos e conseguir relacioná-los entre si.
205
206
No entanto, este sujeito (A) assim como o sujeito F, teve um desempenho em sua
atuação docente durante o minicurso com notável fluência comunicativa. Isto contrastou com
outros sujeitos cujos modelos mentais e campos conceituais foram mais elaborados (exemplo:
sujeitos B, D, H , K e L).
elementos envolvidos.
regra isto parece ter sido uma constante. No entanto, conforme vimos acima, nos exemplos
exatamente o perfil do esquema do sujeito analisado. Além disto, todo o conjunto dos
3ª: Embora a primeira vista transpareça que a análise aqui efetuada possa ser em certa
medida um pouco estática temporalmente falando, percebe-se que em vários sujeitos houve
uma evolução nos esquemas, conforme se analisa os diários de classe dos mesmos. Ainda que
esta evolução tenha sido gradual e quase insignificante, consideramos que se as situações
tivessem se estendido por um lapso de tempo maior, poderíamos até ter chegado a outras
206
207
conclusões ou inferido resultados distintos. Isto demonstra que o indivíduo pode variar a
maneira como se organiza diante das situações através dos esquemas, evoluindo tanto em seu
mentais. Um exemplo disto pode ser constatado ao analisarmos a síntese do sujeito N, onde
vemos que um dois conceitos (C7) e (C8) evoluem para um teorema em ação (T2), mas
verdade, uma demonstração que o sujeito começa a dar de que começa a estabelecer relações
entre eventos, ainda que tal relação não implique necessariamente em conclusões verdadeiras.
Com o sujeito A parece ocorrer algo semelhante, mas o mesmo permaneceu na maioria das
situações sempre considerando tudo “interessante”, “válido”, opinando que “não existe o certo
ou o errado”. No entanto, esta aparente visão democrática demais oculte um certo despreparo
teórico deste sujeito que, entretanto, assume estar aberto sempre a aprender e mudar à medida
que exerça seu papel de professor com o decorrer do tempo, posição esta que assume
Teoria dos Modelos Mentais de Johnson-Laird possa ser um tanto quanto estática, já que diz
Contudo, tal interpretação se complementa e ganha uma dimensão dinâmica a partir de sua
correspondência com a Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud 28. Consideramos que
conceitual.
28
Tal questão foi detalhadamente abordada por Greca e Moreira (2002).
207
208
Neste sentido, uma pesquisa que fosse mais extensa, considerando uma quantidade
muito mais significativa de situações didáticas, poderia talvez nos fornecer uma riqueza maior
de elementos, o que de forma alguma implica dizer que os resultados aqui obtidos sejam
menos significativos. 29
naqueles sujeitos cujos esquemas, modelos mentais e invariantes operatórios são menos
6ª: É verossímil e justo se pensar que provavelmente um dos motivos pelos quais uma
grande parcela dos sujeitos analisados tenha apresentado uma estruturação mental e esquemas
elaborados de ensino, possa ter recebido uma grande influência do modelo didático-
7ª: O perfil da maioria dos sujeitos indicou uma tendência considerável em uma direção
29
A este respeito, Grings, Caballero e Moreira (2006) sugerem que se fale em “indicadores de invariantes
operatórios”, ao invés de “invariantes operatórios”.
208
209
era estritamente de natureza disciplinar. Contudo, é possível que fatores como o fato de que os
alunos daquela turma tiveram anteriormente algum tipo de contato através de disciplinas ou
Educação. Outro fator que poderia ser conjeturado é o fato de vários destes sujeitos já atuarem
8ª: Vários sujeitos onde a estruturação da representação mental (na forma de modelo mental),
dos invariantes operatórios e dos esquemas foi mais complexa (principalmente os sujeitos B e
sociais. Isto inclui a dimensão ética e a preocupação com o meio ambiente, colocando o
9ª: Nestes mesmos sujeitos existe uma forte tendência a um processo auto-reflexivo muito
intenso, sempre buscando não permanecer nas interpretações de primeira ordem (conforme o
conceito de Bachelard), ou seja, no senso comum. Esta tendência pode estar presente na
estruturação mais elaborada dos esquemas, dos invariantes operatórios e dos modelos mentais
nestes sujeitos. Esta tendência, consciente, também pode funcionar como um elemento para
dirimir os obstáculos epistemológicos destes sujeitos. Neste sentido, fica claro que uma
abordagem cujo esquema seja de natureza complexa frente a uma situação didática
209
210
determinada, possa contribuir para que estes obstáculos epistemológicos possam ser
minimizados.
10ª: A complexidade emerge como uma lei ou princípio natural de auto-regulação dos
indivíduo para novos conhecimentos e experiências, bem como um olhar para fora de si
mesmo (ou seja, para o outro) surge como conseqüência natural neste tipo de fenomenologia
210
211
CAPÍTULO 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As Teorias dos Campos Conceituais e dos Modelos Mentais podem nos oferecer
É necessário reconhecer, entretanto, que cada uma das ciências que compõem o
representam certa classe de situações idênticas para um mesmo conceito, por exemplo, o
A Teoria dos Modelos Mentais possui uma limitação que é o fato de ser algo estática,
ou seja, possibilita uma interpretação não muito dinâmica em relação aos processos de
211
212
conceituação do real, frente às distintas situações que formam os respectivos esquemas. Isto
porque esta teoria prioriza aspectos presentes na memória de curto prazo do indivíduo, cujos
conteúdos e organização podem variar. No entanto, tal teoria permite caracterizar a estrutura
epistemológica do indivíduo face a sua interação com o conhecimento, até certo ponto de uma
maneira hierarquizada. Esta hierarquização pode ser um recurso analítico bastante poderoso
se desejamos que este processo de categorização forneça subsídios para inferirmos possíveis
cognitivos.
Por outro lado, um dos grandes méritos da Teoria dos Campos Conceituais é permitir
(conceitos e teoremas em ação) é bastante complexa de ser efetuada, pois exige um conjunto
grande de situações que fundamentem estes elementos. No entanto esta teoria avança a partir
conseqüentemente enriquece o próprio objeto de análise, já que considera não apenas o sujeito
e o objeto isolados, mas, por outro lado, caminha em direção a um processo de natureza mais
complexa.
Isto porque ao considerar o conjunto das situações didáticas às quais o indivíduo está
212
213
assim os esquemas de ação. Portanto, ao mesmo tempo em que os conceitos e teoremas fazem
através dos modelos mentais), à medida que estes mesmos invariantes operatórios são
Além disto, em virtude de que o indivíduo está em constante evolução, seria mais coerente
Morin faz ressaltar um princípio ou lei natural, inerente aos organismos biológicos (da qual a
cognição humana está incluída), que é a lei da complexidade. Isto foi possível graças à
aplicação da Teoria dos Campos Conceituais, que nos forneceu justamente a estruturação que
o indivíduo utiliza para lidar com as situações, tornando invariantes seus esquemas de
operação cognitiva (dado através da obtenção dos esquemas). Como elemento intermediário
desta interpretação, a Teoria dos Modelos Mentais subsidia e nos faz compreender, através de
213
214
cognitiva humana. Não se trata em absoluto de um construto cognitivo novo, nem tão pouco
possibilidade de que os sujeitos desta pesquisa, mesmo que tendo sido formados dentro de
transdisciplinares.
mentais e conceituais α e β nos aponta não uma direção pessimista em virtude de que tais
δ, mas sim que esta visualização mostre que tais indivíduos estão em um momento dentro de
um processo maior que está em evolução. O importante é perceber que os elementos que
compõem esta matriz são dotados de uma plasticidade (ou flexibilidade cognitiva) muito
constatação em si tanto dos esquemas, dos modelos mentais ou dos campos conceituais e
invariantes operatórios obtidos. Assim, ao fazê-lo, acreditamos estar indo além da mera
constatação para sim buscar a ontogênese e a possível identificação dos processos evolutivos
214
215
Para tanto, consideramos que é necessário não apenas buscar formas de explicar ou de
considerar que muito antes disto está o conhecimento em si, em sua forma complexa e não-
felizmente) acabado.
No dizer de Morin, a Educação é uma atividade complexa e, para tanto, deveria ser
formação inicial do professor, de modo que isto possa acentuar características, mecanismos
A concepção espontânea sobre a Educação que estamos falando não é apenas e tão
somente aquela que esteja em desacordo com alguma teoria científica em específico, mas sim
que existe entre as variáveis que compõem o “fenômeno” Educação. E isto envolve
mesma forma, na visão com um conhecimento pragmático sobre Educação o indivíduo possui
uma noção e práxis utilitarista da própria Ciência: faz-se Ciência para a Ciência, e ensina-se
Ciência somente para a Ciência. Neste caso, a formação inicial não moldaria este futuro
215
216
Sobre este aspecto em particular recai o papel crucial que a universidade desempenha
em todo este processo, e isto envolve não somente o aspecto pedagógico de um determinado
curso (no caso, as licenciaturas), mas sim o conjunto destes cursos, principalmente estes que
docentes, plano de carreira, bem como infra-estrutura básica para funcionamento destes
cursos (como biblioteca, laboratórios didáticos, etc.) são fatores imprescindíveis de não se
olvidar.
Ainda a respeito deste assunto tão importante, vale destacar que as universidades
(como é o caso da UNESP) adotam uma política muito criticada e considerada por muitos
educacional. Isto nos remonta a uma pergunta que fizemos no Capítulo 1 (Orlandi, 1996) ao
municipal, estadual e até particular): “o aluno da universidade está sendo capacitado para sua
prática?”.
transdisciplinares não seriam as únicas nem as exclusivas formas de se fazer com que o
(futuro) professor tivesse uma visão crítica sobre a realidade e sobre sua prática docente.
216
217
de formação continuada, mas não como algo imutável e inacabado. De qualquer forma, talvez
isto não devesse se constituir em algo compulsório, o que, certamente, comprometeria todo o
ser proporcionadas durante a formação inicial dos futuros professores de Ciências, deveriam
haver a “reflexão na” e “sobre a ação”. O importante seria fugir do pensamento de senso
comum, dos jargões e das frases feitas. Das equações e demonstrações ou puramente das
oferecidas desde o início da graduação, e ainda podendo ser acompanhada por um professor
supervisor, tal como sugere Alarcão (1996), poderíamos ter uma análise do processo de
evolução epistemológica segundo tanto a Teoria dos Modelos Mentais como também dentro
sócio-ambientais como condição sine qua non para uma formação integral em Ciências. É
217
218
inconcebível que a Educação em Ciências nas licenciaturas em Física ou Química não tratem
com profundidade as questões da relação do Homem com o meio-ambiente, não como duas
coisas separadas, mas, sobretudo, como algo integrado. Isto é necessário ser dito, pois nos
parece que tal tarefa fica sempre e unicamente relegada ao ensino da Biologia.
Da mesma maneira, estas três ciências (Física, Química e Biologia) não podem
prescindir de estabelecer uma relação estreita com as áreas Sociais, Política e Econômica.
Principalmente quando sabemos que tais ciências (notadamente em sua vertente de pesquisa
de base e de aplicação tecnológica) são mais do que apenas partícipes da imbricada trama de
científico. Em outras palavras, não basta nos contentar que nosso país eventualmente se
integral do ser humano. Isto pressupõe adquirir valores que estão além e aquém dos
a formação complexa do espírito científico, na acepção mais pura que a expressão possa ter.
218
219
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS30
30
Baseada na NBR-6023 de ago. de 2002, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
219
220
BACHELARD, Gaston . Filosofia do Novo Espírito Científico. 2.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1976.
BERTALANFY, Ludwig Von. Teoria Geral dos Sistemas. Rio de Janeiro: Vozes, 1968.
220
221
221
222
222
223
COLL, Agustí N.. As culturas são disciplinas: existe o transcultural? In: Educação e
transdisciplinaridade II. Centro de Educação Transdisciplinar (CETRANS), São Paulo:
Triom, 2002.
223
224
DIAS, Maria da G.B.B. Dificuldades com Inferências Inválidas entre Adultos: Tentativa de
Superação. Psicologia: Reflexão e Crítica. v. 13, n. 3, Porto Alegre, 2000.
224
225
225
226
GIL, Antonio C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1996.
GRECA, Ileana M., MOREIRA, Marco A. Além da detecção de modelos mentais dos
estudantes. Uma proposta representacional integradora. Investigações em Ensino de
Ciências. v. 7, n. 1, 2002.
226
227
HANSMANN, R.; SCHOLZ, R. W.; CROTT, H. W.; MIEG, H. A.. Higher education in
environmental sciences: The effects of incorporating expert information in group discussions
of a transdisciplinary case study. Electronic Journal of Science Education, v. 7, 2003.
HARRISON, A.G., TREAGUST, D.F. Secondary students‟ mental models of atoms and
molecules: implications for teaching chemistry. Science Education, v. 80, n. 5, p. 509-534,
1996.
227
228
JOHNSON-LAIRD, Philip N.; BYRNE, Ruth M.J.. Mental models and syllogisms.
Behavioral and Brain Sciences, v.19, p. 543 – 546, 1996.
KLEIN. Julie T.. Interdisciplinarity: history, theory and practice. Detroit: Wayne State
University Press, 1990.
228
229
LAROCCA, Priscila; ROSSO, Ademir J.; SOUZA, Audrey P. de. A formulação dos objetivos
de pesquisa na pós-graduação em Educação: uma discussão necessária. Revista Brasileira de
Pós-Graduação, v. 2, n. 3, p. 118-133, Mar. 2005.
LOPES, Alice R.C.. Discursos curriculares na disciplina escolar Química. Revista Ciência e
Educação. v. 11, n. 2, p. 263-278, 2005.
LUPASCO, Stephane . Qu’est-ce qu’une structure? Paris: Christian Bourgois Editeur, 1967.
MATTOS, Sandra M.N. de; MATTOS, José R.L. de. Um currículo interdisciplinar em
busca da transdisciplinaridade. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Laboratório de
Pesquisas e Estudos Transdisciplinares. Disponível em:
<http://www.ufrrj.br/leptrans/leptextos.htm>. Acesso em: 25 de Outubro de 2005.
230
231
<http://rapes.unsl.edu.ar/Congresos_realizados/Congresos/IV%20Encuentro%20-%20Oct-
2004/eje4/01.htm>. Acesso em: 10 de Março de 2007.
MERCER, Hugo. Evaluación: reflexiones acerca del tema. Interface: Comunicação, Saúde,
Educação. Laboratório de Educação e Comunicação em Saúde, Departamento de Saúde
Pública, Faculdade de Medicina e Departamento de Educação, Instituto de Biociências,
Botucatu, UNESP. Fundação UNI. v.4, n.7, agosto, 2000. Disponível em:
< http://www.interface.org.br/revista7/debates2.pdf> . Acesso em: 12 de fevereiro de 2007.
MELLO, Guiomar N. Formação inicial de professores para a Educação básica: uma (re)visão
radical. Revista São Paulo em Perspectiva, v. 14, n. 1. São Paulo: SEADE, p. 98-110, Jan.-
Mar. 2000.
231
232
232
233
MORIN, Edgar . La Complexité. Colloque sur lês interrelations entre la biologie, les sciences
sociales et la societé. Organisation des Nations Unies pour l‟Education, la Science et la
Culture. SHC-74/CONF.801/4, Paris : UNESCO, 12 Mars 1974.
NARDI, Roberto. A área de ensino de Ciências no Brasil: fatores que determinaram sua
constituição e suas características, segundo pesquisadores brasileiros. 2005. 169p. Tese
(Livre Docência). Departamento de Educação, Faculdade de Ciências, Universidade Estadual
Paulista, Bauru, 2005(a).
233
234
NARDI, Roberto; ALMEIDA, Maria José M.P. de. Formação da Área de Ensino de
Ciências: Memórias de Pesquisadores no Brasil. Apresentado no II Encontro
Iberoamericano sobre Investigação Básica em Educação em Ciências, Burgos, Espanha, 2004.
NARDI, Roberto; CARVALHO, Ana M.P.de. Um estudo sobre a evolução das noções de
estudantes sobre espaço, forma e força gravitacional do planeta Terra. Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Investigações em Ensino de Ciências. v. 1, n. 2, Ago. 1996.
NOVAK, J.D.; GOWIN, D.B. Aprender a aprender. Lisboa: Plátano Edições Técnicas,
1995.
NOVAK, J.D.; GOWIN, D.B. Learning how to learn. Cambridge: Cambridge University
Press, 1994.
NÓVOA, Antonio. O passado e o presente dos professores. In: NÓVOA, A. (Org.). Profissão
professor. 2ed. Porto: Porto Editora, 1995.
234
235
OLIVEIRA, Alfredo Gontijo de. Propriedades emergentes nas ciências exatas: transposições
de conceitos, modelos e metodologias. In: DOMINGUES, Ivan. (Organizador).
Conhecimento e Transdisciplinaridade II: aspectos metodológicos. Belo Horizonte: Editora
da Universidade Federal de Minas Gerais, 2005.
235
236
PALMERO, Maria L.R., ACOSTA, Javier M., MOREIRA, Marco A. La teoria de los
modelos mentales de Jonhson-Laird y sus princípios: uma aplicación com modelos mentales
de célula en estudiantes del curso de orientacion universitaria. Investigações em Ensino de
Ciências. v. 6, n. 2, Dez. 2001.
236
237
PIAGET, Jean. Para onde vai a Educação? 5.ed. Rio de Janeiro: José Olympio
Editora/UNESCO, 1977.
PIAGET, Jean. The relation of affetivity to intelligence in the mental development of the
child. [transl. by Pitsa Hartocollis]. In Bulletin of the Menninger clinic. v. 26, n. 3. Three
lectures presented as a series to the Menninger school of psychiatry March 1961.
POLITZER, Guy; VAN DER HENST, Jean-Baptiste; DELLE LUCHE, Claire; NOVECK,
Ira. The Interpretation of Classically Quantified Sentences: A set-theoretic approach. Journal
of Cognitive Science. v. 30, n. 4, p. 691-723, 2006.
POPKEWITZ, T.S. Sociologia política de las reformas educativas. Madri: Morata, 1994.
PRIGOGINE, Ilya. As Leis do caos . Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo : Editora
da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2002.
SANTOS, Ana C.S. dos; SAMPAIO, Mauro M.; ALMEIDA, Nilma F. de; SANTOS, Akiko.
Transdisciplinaridade na Universidade. Laboratório de Estudos e Pesquisas
Transdisciplinares. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.ufrrj.br/leptrans/leptextos.htm> . Acesso em 15
de janeiro de 2007.
238
239
SCHÖN, Donald. Educating the reflective practitioner. San Francisco (Estados Unidos):
Jossey-Bass, 1987.
SCHÖN, Donald. The reflective practitioner. New York (Estados Unidos): Jossey-Bass,
1983.
SETTON, Maria da G.J. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea.
Revista Brasileira de Educação. n.20, Mai-Ago. 2002.
239
240
SOMMERMAN, Américo; MELLO, Maria F. de; BARROS, Vitória Mendonça de. (Orgs.).
Educação e transdisciplinaridade II. São Paulo: Triom, 2002.
SOUZA FILHO, Moacir P. de; VIVEIROS, Edval R.de; BOZELLI, Fernanda C.; NARDI,
Roberto; MACUL, Marcelo; Ronqui Júnio, Dorival. As tendências das pesquisas em Ensino
de Física nas publicações e nos eventos. Atas do V Encontro Nacional de Pesquisa em
Educação em Ciências. Londrina, 2005.
240
241
TARDIF, M.; LESSARD & LAHAYE. Os professores face ao saber: Esboço de uma
problemática do saber docente. Teoria & Educação, n. 4, Porto Alegre: Panônica, 1991.
TESCAROLO, Ricardo. A escola como sistema complexo. A ação, o poder e o sagrado. São
Paulo : Escrituras Editora, 2004.
TORRES, Rosa M. Tendências da formação docente nos anos 90. In: WARDE, M.J. (org.).
Novas políticas educacionais: Críticas e perspectivas. São Paulo: Programa de estudos pós-
graduados em Educação: História e filosofia da Educação. São Paulo: Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 1998(b).
241
242
242
243
VERGNAUD, Gérard. Les compétences, Bravo! Mais encore? Réflexions critiques pour
avancer. Disponível em: <http://perso.orange.fr/jacques.nimier/competences_vergnaud.htm> .
Acesso em 7 de novembro de 2006.
243
244
244
245
ANEXO A
Sujeito A
245
246
S2 Não compareceu
246
247
247
248
destes
Menciona que a aula superou suas expectativas,
principalmente pelo teor das discussões
Cita o que a professora falou sobre se praticar a
“transdisciplinaridade” de maneira sozinho, neste
S8 caso, deveria se encontrar um termo para se definir tal
situação
Destaca que seria importante nas escolas encontrar-se
a solução para os problemas conjuntamente, que esta
ação teria que acontecer dentro de um todo, não
apenas numa disciplina
Diz que ao invés de ficarem com “por que nãos”,
devem ir para os “por que sim”, ou seja, parar de se
justificarem, como fazem muitos dos professores que
S9 e S10 eles criticam e utilizar as metodologias aprendidas não
somente nesta disciplina mas também em outras da
Educação;
São eles, os professores, que possuem tudo em suas
mãos
Sujeito E
Atividade Síntese do diário
S1 Sua conclusão é a de que a pesquisa está ao
alcance dos alunos de Ensino Médio
248
249
S8 Não compareceu
Sujeito G
Situações Síntese do diário
S1 É interessante este tipo de aula, pois alunos vão
expondo suas experiências sobre o assunto
249
250
S2 Não compareceu
250
251
Sujeito H
Situações Síntese do diário
Conceitua o que é método investigativo: estratégia de
ensino, principalmente quando se utiliza um
experimento em química, relacionado com assuntos
do cotidiano
O experimento químico despertará grande interesse
S1 dos alunos, questionamento, observação e curiosidade
Busca-se alternativas para o ensino de química, com
metodologia adequada a realidade do aluno,
procurando aos poucos, com o trabalho participativo,
estimular o aluno a observação, visando a formação
do pensamento, onde o principio da química e saber
perceber, saber falar e interpretar as transformações
251
252
químicas.
Diz que a escola publica forma pensadores, cientistas
A escola particular forma para o mundo capitalista e
mercado de trabalho
Na universidade publica (como na UNESP) os
S2 professores ensinam a pensar, a lidar com certos
problemas para evoluírem mais
Apesar de que surgiram dificuldades e problemas na
universidade, durante o curso [não menciona quais
foram estes problemas]
O mapa conceitual serve para investigar e observar o
nível de aprendizagem do aluno, o conceito que o
aluno tem, o quanto precisa ser ensinado ao aluno, e
quais as dificuldades estão sendo encontradas:
S3 e S4
ferramenta de apoio para o processo de aprendizagem
Serve para refinar os objetivos de aprendizagem e
escolher técnicas de avaliação adequadas a
determinadas situações
Opina que através dos dois textos estudados, aquele
relativo à professora Alba é “mais eficiente”, pois
neste a professora utilizou “dinâmica de grupo”,
“debate”, “fez com que os alunos construíssem seu
próprio conhecimento”, “despertando o interesse em
S5 aprender”, “a professora era capaz de detectar o
conflito entre o que o aluno sabe e deve saber,
administrando o desafio à aprendizagem, sua
utilidade, a intervenção nas dificuldades e o
desenvolvimento da autonomia (teoria
construtivista)”.
Os professores se esquecem de utilizar os PCNs, não
visando a formação efetiva do aluno e do professor
Destaca que os PCNs enfatizam a
interdisciplinaridade (relacionar com a biologia,
física, historia) e isto serviria para ele saber lidar com
S6 o mundo que o cerca
A interdisciplinaridade faz com que o aluno
desmistifique o conhecimento cientifico, ao contrario
do que se faz nas escolas, enfatizando somente uso de
formulas, não utilizando o laboratório
As escolas não mostram como a química esta ligada
na sociedade e no mundo onde vivemos
A troca com os colegas foi importante
S7 Seu grupo fez um mapa conceitual do mini-curso, o
que os auxiliou, além do debate da turma da sala
S8 Não compareceu
S9 Não compareceu
252
253
Sujeito I
Situações Síntese do diário
Apesar de simples é complexo (parte teórica):
também acredita que possui base teórica/experimental
Os alunos não possuem conhecimentos (que eles, os
graduandos, possuem)
S1 Explicar com base no conhecimento dos alunos;
Explicar de forma experimental
Gostaria que as aulas fossem assim, pois seria mais
realista em relação a uma aula real
Sentiu como um professor se sente, tendo que explicar
algo de forma simples
Define “iniciativa”
Considera que pesquisar é importante pois ajuda na
autonomia (andar com as próprias pernas)
S2 Diz que o aluno da faculdade particular não é
estimulado a pesquisar
A universidade pública incentiva a pesquisa, mesmo
com recursos limitados
O conhecimento na universidade pública é
253
254
S9 Não compareceu
254
255
Sujeito J
Situações Síntese do diário
S1 Não compareceu
S2 Não compareceu
outro
Pode-se encontrar sempre um ponto de convergência
(PILARES DA TRANSDISCIPLINARIDADE)
Salienta o que disse a professora, que ninguém possui
respostas prontas, devendo-se incentivar as dúvidas e
troca de experiências
Menciona que alguns aspectos foram colocados pelos
alunos em relação a questão da escola publica e
S9 e S10
privada
Características dos professores na formação inicial:
falta de experiência para lidar com as necessidades
dos alunos, em relação à disciplinas de Educação
Cada um tem que “burilar” suas próprias respostas, de
acordo com: sua sensibilidade, conhecimento
Não se acomodar
Sujeito K
Situações Síntese do diário
Diz que, apesar de não querer lecionar, se o fizer será
uma professora “responsável e comprometida” com a
aprendizagem dos alunos
S1 É complicado o relacionamento interpessoal com os
alunos (o que lhe traz insegurança para lecionar)
Já possui em mente algumas teorias e o que precisa
fazer em sala de aula
Apesar da professora da disciplina ter abordado textos
nesta aula, o que mais interessou foi a parte prática da
aula
O uso da metodologia de dividir a sala em dois grupos
para defender as idéias contrárias possibilitou a
interligação dos conhecimentos dos alunos para
justificar suas opiniões
S2 Considera este tipo de aula e metodologia
interessante, pois o professor pode utilizá-la no
Ensino Médio, fazendo os alunos exporem seus
“conceitos pré-existentes”, aplicando-os e
relacionando-os com a teoria a ser aplicada. Ao
contrario, se o professor explicasse a teoria antes
poderia modificar ou inibir os pré-conceitos dos
alunos
Ambos os assuntos exigiram que eles precisaram
“testar” seus conhecimentos sobre os assuntos
Acha que tais recursos são interessantes, pois
possibilita que o professor perceba de imediato “se os
conceitos explicitados por ele durante a aula foram
S3 e S4
validos e claros, alem de poder explanar mais
conceitos sobre o assunto individualmente com o
aluno ou com o grupo...”
A aula foi utilizada para se corrigir os MC e o V de
Gowin foi importante, mas destaca que o que lhe
256
257
257
258
258
259
Sujeito L
Situações Síntese do diário
S1 Não compareceu
S2 Não compareceu
S3 e S4 Não compareceu
S5 Não compareceu
259
260
Sujeito M
Situações Síntese do diário
Nem todos os professores, tanto da rede publica
quanto da privada, estão preparados para isto
Ensinar o aluno aprender a aprender não é apenas
uma metodologia, e sim torna o aluno
investigativo, participativo, fazendo com que ele
S1 S2 seja um ser pensante e contribua par o
desenvolvimento da sociedade
Para que uma aula seja assim, o professor deve
estar preparado, e ainda conhecer a
individualidade de cada aluno, motivando o aluno
a buscar seu próprio conhecimento
O professor não pode dar respostas prontas,
instigando aluno, gerando conflitos
São ferramentas que podem deixar a aula mais
completa
S3 e S4 Tanto o MC quanto o V ajudaram a organizar as
idéias e tornar o tema dos mini-cursos mais
completo
Considera que o professor do texto, chamado de
Borja, teve uma melhor didática pois partiu dos
conceitos que os alunos já sabiam para desta
forma construir novos conhecimentos
A aula sobre construtivismo a despertou para o
fato de que como professores podem ensinar de
S5 forma significativa
Ser professor não é apenas dar coisas prontas,
regras, e sim fazer com que o aluno desperte para
o conhecimento, ajudar o aluno construir seus
conhecimentos, pois o aluno só aprende aquilo
que acha importante e o que busca para sanar suas
dúvidas
S5 Não compareceu
S7 Não compareceu
260
261
261