PEDAGOGIA MOD3 VOL4 PSICOLOGIA E EDUCACAOIIMoodle PDF
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Santa Cruz
Reitor
Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos
Vice-reitora
Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro
Pró-reitora de Graduação
Profª. Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa
Ministério da
Educação
Ficha Catalográfica
ISBN: 978-785-7455-227-9
Inclui bibliografias.
CDD 370.15
Coordenação UAB – UESC
Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado
Elaboração de Conteúdo
Profª. Drª. Karina Pereira Pinto
Instrucional Design
Profª. Msc. Marileide dos Santos de Olivera
Profª. Msc. Cibele Cristina Barbosa Costa
PEDAGOGIA
Profª. Msc. Cláudia Celeste Lima Costa Menezes
Revisão
Profª. Msc. Sylvia Maria Campos Teixeira
Coordenação de Design
EAD - UESC
Diagramação
Jamile A. de Mattos Chagouri Ocké
João Luiz Cardeal Craveiro
Capa
Sheylla Tomás Silva
PARA ORIENTAR SEUS ESTUDOS
UNIDADE I
1 PRIMEIRAS PALAVRAS............................................................................................................... 19
2 RETOMANDO ALGUMAS QUESTÕES.............................................................................................. 20
3 COMPREENSÃO CRÍTICA DOS SISTEMAS TEÓRICOS SOBRE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM..... 23
4 A ESCOLHA DA ABORDAGEM EM PSICOLOGIA E A PRÁTICA PEDAGÓGICA........................................ 28
4.1 Como escolher uma abordagem?...................................................................................... 31
ATIVIDADES............................................................................................................................ 35
RESUMINDO............................................................................................................................ 35
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................... 36
UNIDADE II
1 PRIMEIRAS PALAVRAS............................................................................................................... 41
2 TEORIAS COMPORTAMENTAIS..................................................................................................... 42
2.1 Pressupostos teóricos...................................................................................................... 42
2.1.1 O Condicionamento Clássico de Ivan Pavlov..................................................................... 43
2.1.2 O Behaviorismo Radical de Frederic Skinner.................................................................... 45
3 TEORIA PSICANALÍTICA DE FREUD.............................................................................................. 52
3.1 Pressupostos teóricos...................................................................................................... 53
3.1.1 Transferência como condição de aprendizagem................................................................ 56
3.1.2 O professor e o Ideal do Eu .......................................................................................... 61
ATIVIDADES............................................................................................................................ 65
RESUMINDO............................................................................................................................ 65
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................... 66
UNIDADE III
1 PRIMEIRAS PALAVRAS............................................................................................................... 73
2 PSICOLOGIA GENÉTICA DE JEAN PIAGET..................................................................................... 74
2.1 Pressupostos teóricos...................................................................................................... 75
2.2 Tema para reflexão: A importância da interação social para o desenvolvimento do
conhecimento lógico-matemático................................................................................... 84
3 PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA DE VYGOTSKY............................................................................. 88
3.1 Pressupostos teóricos...................................................................................................... 89
3.2 Tema para reflexão: Autoconceito e preconceito no cotidiano escolar..................................... 98
4 PIAGET E VYGOTSKY: DIFERENÇAS............................................................................................ 104
ATIVIDADES.......................................................................................................................... 107
RESUMINDO.......................................................................................................................... 107
REFERÊNCIAS........................................................................................................................ 108
UNIDADE IV
Considerações Finais
Anexos
PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO II
Ementa
Contribuições das principais teorias psicológicas
para a compreensão do processo ensino-aprendi-
zagem: comportamentalismo e interacionismo. A
construção do conhecimento, as teorias da apren-
dizagem e a prática pedagógica. Fatores sócio-am-
bientais e interpessoais da aprendizagem escolar.
O sujeito como aprendente no contexto da socie-
dade tecnológica.
Agradecimento
Objetivos
Ao final da unidade o(a) aluno(a) deverá:
1
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO
Unidade
1 PRIMEIRAS PALAVRAS
UESC Pedagogia 19
Psicologia e Educação II Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimento
1
dos pelo regime da ditadura militar (1964-1985). Este fato trouxe mo e Eugenia: discursos
consequências para a Psicologia como ciência e profissão, pro- que não envelhecem”,
Unidade
de Maria Lúcia Boarini e
duzindo no imaginário social a representação da Psicologia como Oswaldo H. Yamamoto.
ciência que “soluciona problemas” e adéqua pessoas às normas
Disponível em: http://
sociais (PINTO, 2010a). www.cocsite.coc.fiocruz.
br/psi/pdf/higienismo_
eugenia.pdf
UESC Pedagogia 21
Psicologia e Educação II Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimento
1
3 COMPREENSÃO CRÍTICA DOS SISTEMAS TEÓRICOS
Unidade
SOBRE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
Abordagem Características
Ambientalismo • concebe que o papel do ambiente é muito mais importante do que a maturação
biológica.
UESC Pedagogia 23
Psicologia e Educação II Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimento
• afirma que é preciso pensar o ser humano em sua totalidade, e não dividido
em partes.
1
que uma linha teórica, pode ser considerada uma abordagem da
Psicologia, pois, a partir da Teoria psicanalítica de Freud, vários
Unidade
teóricos propuseram teorias de base psicanalítica, como Jacques
Lacan, Carl Gustav Jung, Melanie Klein, Donald Winnicott, dentre
outros. Conforme a concepção de homem presente nas diversas
linhas teóricas da Psicanálise, teremos proposições sobre desen-
volvimento e aprendizagem diferentes.
Teoria/
Proposição Teóricos e Tendências atuais
abordagem
UESC Pedagogia 25
Psicologia e Educação II Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimento
- Equilibração
Mudanças qualitativas no pensamen-
Psicologia Genética - Esquemas de ação
to entre a primeira infância e a ado-
de Piaget - Interação
lescência
- Autonomia
- Aprendizagem significativa
Teoria da Aprendizagem como um processo de - Conceito inclusor
Cognitiva
Aprendizagem modificação do conhecimento a partir
- Inclusão obliteradora
Verbal Significativa da relação que os conceitos estabele-
de Ausubel cem entre si - Assimilação cognitiva
- Hierarquias conceituais
Teoria do
Os seres humanos são processadores
Processamento de - Esquemas de conhecimento
de símbolos
Informações
- Mediação
Teoria O contexto sociocultural de uma
- Internalização
Sociocultural de criança tem impacto importante no
Vygotsky seu desenvolvimento - Zona de Desenvolvimento
Proximal
Fontes: PAPALIA; OLDS (2000); COLL-SALVADOR et al (2000); CASTRO (2001); MAHONEY; ALMEIDA (2005); NERI (2001).
1
zem contribuições mais específicas para compreendermos os proces-
sos de desenvolvimento e aprendizagem escolares e não escolares.
Unidade
Ao longo do estudo das teorias, vocês verão que cada uma
compreende os sujeitos e seus processos de uma forma. É impor-
tante ressaltar que nenhuma teoria é mais importante que a outra.
As teorias selecionadas para este material de estudo não são as úni-
cas que existem, e também não podem ser consideradas as mais
importantes. Elas foram selecionadas, pois apresentam, atualmente,
muitas pesquisas e estudos no âmbito da Psicologia e Educação, tra-
zendo muitas contribuições para as práticas pedagógicas escolares e
não escolares. Outro critério que utilizei para a seleção das teorias é
a grande diversidade de visões de mundo e de concepções de homem
de cada perspectiva. Acredito que é muito importante para o estu-
dante de Pedagogia o contato com uma ampla diversidade de teorias,
não para que ele utilize um pouquinho de cada uma, mas para que
saiba ESCOLHER qual perspectiva teórica utilizará como embasamen-
to de sua prática pedagógica. Discutiremos esta questão com mais
detalhe no tópico 4.
No Quadro 4, apresento um breve resumo das teorias e abor-
dagens que serão estudadas nas unidades II, III e IV deste material
de estudo de Psicologia e Educação II. Preste atenção às proposições
de cada teoria. Algumas se aproximam e, até, dialogam, enquanto
outras se distanciam muito.
- Consciente, Pré-consciente e
Freud elabora a teoria psicanalítica a partir da Inconsciente
escuta de seus pacientes. A Psicanálise propõe
- Sonhos, Atos Falhos e Sintomas
que processos inconscientes ocorrem simultane-
Teoria Psicanalítica - Eu, Isso e Supereu
amente ao desenvolvimento biológico e social e
de Freud
que o estudo deles é fundamental para compre- - Sexualidade
endermos o comportamento, as subjetividades
- Transferência
e os sintomas humanos.
- Ideal do Eu
UESC Pedagogia 27
Psicologia e Educação II Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimento
- Autogestão e Autoanálise
As diferentes escolas que compõem a aborda-
- Demanda
gem da Análise Institucional se reúnem em tor-
no da proposta de propiciar, apoiar e deflagrar - Instituição, Instituído e Instituinte
Análise Institucional nas comunidades, nos coletivos e conjuntos de - Atravessamento e
(Lourau, Deleuze e pessoas, processos de auto-análise e de auto- Transversalidade
Guattari) gestão. Com a Análise Institucional, de repente,
- Produção de Subjetividades
não estamos mais em uma instituição, não trata-
- Desejo
mos mais a instituição, mas somos, por exemplo,
atravessados pela instituição. - Subjetividades assujeitadas e
Subjetividades singularizadas
1
Unidade
ATENÇÃO
UESC Pedagogia 29
Psicologia e Educação II Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimento
1
ressantes que ilustram a busca pelo “senso de normalidade”:
Unidade
• Relato 1. Desabafo de mãe: “Estava lendo a carteirinha de va-
cinação e lá dizia que a criança levanta a cabecinha com qua-
tro meses. Meu filho com dois meses está tentando levantar. É
para deixar?” (apud PEREIRA; SOUZA, 2001, p. 31).
• Concepção de homem
De uma forma bem simplificada, podemos fazer algumas dis-
tinções entre as diferentes concepções de homem. Há abordagens
que consideram o homem de forma determinista, ou seja, sua vida
é determinada por questões que escapam à sua possibilidade de es- Figura 4
UAB/UESC
UESC Pedagogia 31
Psicologia e Educação II Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimento
1
vamos pensar a partir de um exemplo:
Unidade
Situação: uma criança está apresentando dificuldades em realizar suas
tarefas escolares em sala de aula.
Sujeito: professor que baseia sua prática pedagógica em uma determina-
da abordagem ou linha teórica da Psicologia.
Relação sujeito-situação: de acordo com a perspectiva teórica que o
professor escolher para basear sua prática pedagógica, ele terá um enten-
dimento específico sobre a situação que presencia, e sua intervenção se
dará de determinada forma.
Análise da implicação: vamos imaginar, de forma bastante simplificada,
duas situações distintas. (a) Um professor que baseia sua prática pedagó-
gica na abordagem comportamental, (b) e outro professor que baseia sua
prática pedagógica na teoria sócio-histórica de Vygotsky.
UESC Pedagogia 33
Psicologia e Educação II Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimento
1
2. Qual a importância de analisar as implicações das abordagens da
Psicologia para a prática pedagógica do professor?
Unidade
RESUMINDO
6 RESUMINDO
Nesta unidade, fizemos uma breve recapitulação dos principais
aspectos que foram estudados em Psicologia e Educação I, especial-
mente relativos à noção de desenvolvimento humano, à compreensão
da Psicologia como uma ciência datada, ao conceito de subjetividade,
às teorias dos Ciclos de Vida e Life Span, e uma compreensão não
preconceituosa sobre família.
Vimos que as definições de desenvolvimento e aprendizagem
dependem, sempre, da corrente teórica a qual estão referidas, e fi-
zemos um breve passeio por três grandes abordagens tradicionais da
Psicologia da Educação: o Inatismo, o Ambientalismo e o Interacionis-
mo.
Foram apresentadas as teorias que compõem o material de
estudo de Psicologia e Educação II, que trazem contribuições mais
específicas para compreendermos os processos de desenvolvimento
e aprendizagem escolares e não escolares, ressaltando que nenhuma
teoria é mais importante que a outra.
Retomamos a noção de “senso de normalidade” para enfatizar
que as subjetividades se constituem, em grande parte, a partir das
expectativas que depositam em nós. Vimos como é importante estu-
darmos muito bem as teorias da Psicologia, pois nossa escolha teórica
subsidiará nossa prática pedagógica, construindo o sujeito a partir
da relação professor-teoria-prática-aluno. Desta forma, a escolha da
abordagem que servirá de base para nossa prática pedagógica é fun-
damental, pois cada abordagem possui uma concepção de homem,
um modo de compreender como o homem se relaciona com o mundo
e traz uma implicação para a prática pedagógica.
UESC Pedagogia 35
Psicologia e Educação II Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimento
REFERÊNCIAS
7 REFERÊNCIAS
CATHARINO, Tânia. Psicologia na Educação: contribuições da Análise
Institucional. In: MACIEL, Ira Maria (Org). Psicologia e Educação:
novos caminhos para a formação. Rio de Janeiro: Ciência Moderna,
2001, p. 35-54.
Objetivos
Ao final da unidade o(a) aluno(a) deverá:
2
Unidade1
1 PRIMEIRAS PALAVRAS
UESC Pedagogia 41
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
2 TEORIAS COMPORTAMENTAIS
2
teorias da aprendizagem, pois Pavlov analisou as conexões existentes
Unidade1
entre estímulos ambientais neutros e a atividade fisiológica (respos-
ta), descobrindo que os chamados comportamentos involuntários po-
dem ser controlados por condições ambientais. Vamos exemplificar:
ao ouvirmos um carro frear bruscamente, nosso coração palpita com
mais intensidade. Qual a relação entre o estímulo ambiental neutro
(carro freando bruscamente) e nossa reação fisiológica (coração pal-
pitar mais intensamente)? Pavlov estudou como o estímulo ambiental
pode desencadear reações involuntárias (não temos controle volun-
tário sobre as batidas de nosso coração).
Segundo Eduard Marti Sala e Javier Onrubia Goñi (2000a):
UESC Pedagogia 43
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
ATENÇÃO
Reflexo Condicionado
posta incondicionada –
quando lhe é oferecida alguma comida – estímulo incondicionado –, porém
não diante do som do sininho; no processo de condicionamento, soa-se
o sininho repetidas vezes, simultaneamente ao apresentar a comida; de-
pois desse processo, o cachorro aprende a salivar, respondendo ao som
do sininho – resposta condicionada a um estímulo condicionado – mesmo
antes que lhe seja dado qualquer comida” (MARTI SALA; ONRUBIA GOÑI,
2000a, p. 216).
2
Unidade1
FILME RECOMENDADO
Para ilustrar os estudos de Pavlov com bom humor, recomendamos o curta-metragem de animação
Pavloviana, de Alexandre Bersot.
FICHA TÉCNICA:
Título: Pavloviana
Diretor: Alexandre Bersot; Gênero: Animação;
Ano: 2004; Duração: 9 min.
Sinopse: Condicionado desde feto, toda vez que
Otho ouve um apito ou um som estridente sente
uma fome incontrolável.
Disponível em <http://www.youtube.com/watch
?v=v6eU9pMDedQ>
UESC Pedagogia 45
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
VOCÊ SABIA?
Nunca me adaptei à vida de estudante. Ingressei numa
“A designação ‘Behavio- fraternidade acadêmica sem saber do que se tratava. Não
rismo Radical’ foi cunhada
era bom nos esportes e sofria muito quando as minhas
por Skinner para se referir
à filosofia da análise expe- canelas eram atingidas no hóquei sobre o gelo ou quando
rimental do comportamen- melhores jogadores de basquete faziam tabela na
to. O termo ‘radical’ vem minha cabeça… Num artigo que escrevi no final do meu
de raiz, no sentido em que ano de calouro, reclamei de que o colégio me obrigava
designaria uma proposta
a cumprir exigências desnecessárias (uma delas era a
que se atém ao estudo do
presença diária na capela) e que quase nenhum interesse
comportamento a partir do
próprio comportamento, intelectual era demonstrado pela maioria dos alunos. No
sem o recurso explicativo meu último ano, eu era um rebelde declarado (SKINNER
a qualquer outra entidade” apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1992, p. 279).
(CANÇADO; SOARES; CIRI-
NO, 2007, p. 188)
Sua crítica às exigências desnecessárias, impostas pelo meio
escolar, somada à compreensão sobre a importância dos processos
escolares, faz Skinner dedicar-se aos estudos sobre aprendizagem.
O contato inicial de Skinner com a Psicologia se deu através de lei-
turas de textos de Watson e Pavlov (MACIEL; SÁ, 2001). Foi influen-
ciado pelas proposições teóricas destes autores, mas suas reflexões
ganharam um caráter diferenciado:
2
efeito resultante desta ação. O condicionamento operante não ne-
Unidade1
cessita de nenhum estímulo externo observável, pois a ação do or-
ganismo é, primeiramente, espontânea. Esta ação espontânea, no
entanto, vai gerar consequências que se tornam estímulos que ser-
virão para manter, ou não, aquela ação. Daí o nome “operante”, pois
significa que o organismo vai “operar”, “agir” sobre o meio.
SAIBA MAIS
Caixa de Skinner
UESC Pedagogia 47
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
2
por exemplo, aprender a identificar pelo nome
Unidade1
uma determinada letra sem utilizar qualquer outra
letra. Essa conexão funcional entre os estímulos
discrimitativos e as respostas é obtida quando se
reforça sistematicamente a resposta diante desses
estímulos e não se reforça diante de outros.
A generalização, por sua vez, é o processo pelo qual
é possível transferir a aprendizagem efetuada por
um estímulo contextual concreto a outros estímulos
similares – por exemplo, identificar uma letra não
somente quando é manuscrita caligraficamente,
mas também quando diferentes pessoas escrevem
ou quando estiver escrita de maneiras diferentes (p.
217 – grifos no original).
UESC Pedagogia 49
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
2
- Condicionamento operante
Unidade1
- Reforço
- Discriminação e Generalização
FILME RECOMENDADO
Recomendo o filme Laranja Mecânica para refletir um pouco sobre os limites éticos que
devem permear algumas proposições behavioristas sobre condicionamento.
FICHA TÉCNICA:
Título: Laranja Mecânica
Direção: Stanley Kubrick; Gênero: Ficção Científica; Ano:
1971; Duração: 138 min
Sinopse: No futuro, Alex (Malcolm McDowell), líder de uma
gangue de delinquentes, cai nas mãos da polícia. Preso, ele
foi usado em experimento destinado a refrear os impulsos
destrutivos: seria condicionado de forma obrigatória a ter
aversão a qualquer tipo de violência. Mas Alex acaba se tor-
nando impotente para lidar com a violência que o cerca. Por
fora, torna-se uma simples laranja – natural e orgânica –,
mas por dentro, age como uma estrutura mecânica, uma
máquina manipulada pelo Estado.
UESC Pedagogia 51
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
2
CONSCIENTE, PRÉ-CONSCIENTE e INCONSCIENTE. Freud comparou
Unidade1
o sistema mental a um iceberg: a consciência seria sua parte visível
e o inconsciente a parte submersa.
UESC Pedagogia 53
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
2
ATENÇÃO
Está no inconsciente tudo aquilo que o EU não sabe que exis-
Unidade1
O Eu apresenta intensa
te, tudo aquilo que foi recalcado, suprimido com base em concepções resistência, repugnância
morais internalizadas pelo indivíduo. Somos possuidores de um uni- àquelas ideias que con-
trariam os seus valores
verso de desejos que desconhecemos. Tudo o que pensamos e que- morais ou àquelas que
abalam a profunda au-
remos é apenas uma parte do que realmente somos. Grande parte de
toestima que tem por si
nós encontra-se oculta em nosso inconsciente, reprimida pelo nosso mesmo – o famoso nar-
cisismo.
Supereu.
Os dois conceitos que representam os alicerces da teoria freu-
diana e que causaram maior impacto na compreensão do ser humano
e, consequentemente, acusaram maior resistência, são: o Incons-
ciente e a Sexualidade.
A concepção do funcionamento psíquico proposta pela Psica-
nálise traduz uma concepção de ser humano que rompe com o ra-
cionalismo. Mostra que não somos donos da verdade que julgamos
conhecer a respeito de nossas motivações, nossos gostos, amores
e ódios. As escolhas conscientes são influenciadas ou determinadas
pelo inconsciente.
FILME RECOMENDADO
Para complementar seus estudos, recomendamos o filme Freud, além da alma, de John Huston.
FICHA TÉCNICA:
Título: Freud, além da alma
Direção: John Huston;
Gênero: Drama/Biografia; Ano: 1962; Duração: 139 min.
Sinopse: Huston realiza uma pseudo-biografia do psicanalista vienense Sig-
mund Freud (1856-1939), mas descrevendo apenas um período de cinco
anos (a partir de 1885) da vida do médico. Nessa época, a maioria dos co-
legas de Freud se recusava a tratar dos casos de histeria por acreditar que
tudo não passava de fingimento dos pacientes para chamar atenção. Mas
Freud não achava isso e passou a aplicar a técnica da hipnose, que viria a
se tornar uma prática no tratamento psiquiátrico.
UESC Pedagogia 55
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
2
em relação a eles [...] bem podia ter tido suas
Unidade1
inconveniências para os interessados. Estávamos,
desde o princípio, igualmente inclinados a amá-los
e a odiá-los, a criticá-los e a respeitá-los (FREUD,
1914, v. XIII, p. 286).
UESC Pedagogia 57
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
Conceito de Transferência
ATENÇÃO
de sua vida. Ela pode posteriormente desenvolvê-las e transformá-las
em certas direções, mas não pode mais se livrar delas. As pessoas a
quem se acha assim ligada são os pais e os irmãos e as irmãs. Todas
as que vem a conhecer mais tarde tornaram-se figuras substitutas
desses primeiros objetos de seus sentimentos. [...]. Seus relaciona-
mentos posteriores são assim obrigados a arcar com uma espécie de
herança emocional, defrontam-se com simpatias e antipatias para
cuja produção esses próprios relacionamentos pouco contribuíram.
Todas as escolhas posteriores de amizade e amor seguem a base das
lembranças deixadas por esses primeiros protótipos” (FREUD, 1914,
v. XIII, p. 287).
2
fessores é pensar as duas vertentes da transferência: a positiva e a
Unidade1
negativa. Os professores são alvo destes dois tipos de transferência,
além daquela que é condição da aprendizagem. A admiração pelo
professor (transferência positiva) pode conduzir o aluno ao interesse
pela disciplina que está sendo ministrada, produzindo uma maior faci-
lidade no aprendizado. O inverso também é verdadeiro. A hostilidade
que o aluno pode nutrir pelo professor (transferência negativa) afasta
o interesse e dificulta a transmissão do conhecimento.
Em seus escritos técnicos, Freud dedica um deles ao tema do
amor transferencial. Ele inicia dizendo que todo principiante em Psi-
canálise se sente alarmado pelas dificuldades em interpretar as asso-
ciações do paciente e lidar com os sintomas. Contudo, logo aprende
a encarar estas dificuldades como insignificantes e fica convencido de
que os únicos obstáculos realmente sérios que tem de enfrentar resi-
dem em lidar com a transferência. Freud adverte ao analista iniciante
de que ele deve reconhecer que:
UESC Pedagogia 59
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
ATENÇÃO
da relação de autoridade – na nos-
sa sociedade é a autoridade paterna
que exerce dominantemente esse
papel – está a hostilidade daquele
que, aos olhos da criança, detém
todo o poder e satisfação possíveis.
Surge o desejo de suprimir esse ou-
tro para tomar posse desse lugar tão
privilegiado. Isto é, em síntese, o fa- Figura 11. Édipo e o Oráculo de Delfos.
Fonte:
moso Complexo de Édipo, de Freud. http://www.templodoconhecimento.
com/portal/modules/smartsection/item.
Os impulsos destrutivos pre-
2
php?itemid=22
Unidade1
transformados e substituídos por
uma identificação com o pai a partir
do amor ao que ele tem. Esta é a raiz
da formação do Ideal do Eu: amá-lo
para ser o que ele é e ter o que ele
tem.
UESC Pedagogia 61
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
PARA REFLETIR
FILMES RECOMENDADOS
FICHA TÉCNICA:
Título: Ao mestre, com carinho
Direção: James Clavell;
Gênero: Drama; Ano: 1967; Duração: 105 min.
Sinopse: Um jovem professor enfrenta alunos indisciplinados e desordei-
ros, neste filme clássico que refletiu alguns dos problemas e medos dos
adolescentes dos anos 60. Sidney Poitier tem uma de suas melhores atu-
ações como Mark Thackeray, um engenheiro desempregado que resolve
dar aulas em Londres, no bairro operário de East End. A classe, liderada
por Denhan, Pamela e Barbara, está determinada a destruir Thackeray
como fizeram com seu professor anterior, ao quebrar-lhe o espírito. Mas
Thackeray, acostumado às hostilidades, enfrenta o desafio tratando os
alunos como jovens adultos que em breve estarão se sustentando por
conta própria. Quando recebe um convite para voltar à engenharia, Tha-
ckeray deve decidir se pretende continuar a ser professor.
FICHA TÉCNICA:
Título: Clube do imperador
Direção: Michael Hoffman;
Gênero: Drama; Ano: 2002; Duração: 109 min.
Sinopse: William Hundert (Kevin Kline) é um professor apaixonado de
História Antiga e tem como objetivo ultrapassar a rotina acadêmica e
ensinar os alunos a viver. Respeitado pela diretoria de um colégio para
rapazes da alta sociedade norte-americana, ele é reconhecido entre todos
por ensinamentos como: “o caráter de um homem é o seu destino”. Mas
a calmaria estava com os dias contados. Recém-matriculado, Sedgewi-
ck Bell, filho de um influente senador, contesta cada um desses valores
transmitidos em aula.
2
Brasil Legal, Jô, Faustão, Programa Livre, Sandy & Jr.
Unidade1
(PACHECÃO, 2008, s/p.).
UESC Pedagogia 63
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
FILME RECOMENDADO
Para refletir sobre as questões atuais da educação, sugerimos que você assista ao documentário
Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim. Este documentário apresenta inúmeros testemunhos de
professores que se dizem impotentes, “invisíveis” e que se sentem despreparados para lidar com
os alunos que encontram na sala de aula. Por que será que isso acontece?
FICHA TÉCNICA:
Título: Pro Dia Nascer Feliz
Direção: João Jardim;
Gênero: Documentário; Ano: 2006; Duração: 88 min.
Sinopse: Definido pelo próprio diretor como “um diário de obser-
vação da vida do adolescente no Brasil em seis escolas”, Pro Dia
Nascer Feliz flagra o dia-a-dia e adentra a subjetividade de alunas
e professores de Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. As en-
trevistas são intercaladas com sequências de observação do am-
biente das escolas - meio, por sinal, bem pouco frequentado pelo
documentário. Sem exercer interferência direta, a câmera flagra
salas de aula, esquadrinha corredores, pátios e banheiros, teste-
munha uma reunião de conselho de classe (onde os professores
decidem o destino curricular dos alunos “difíceis”) e momentos de
relativa intimidade pessoal.
2
Unidade1
RESUMINDO
UESC Pedagogia 65
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
REFERÊNCIAS
2
ções e Orientações. In: FREUD, Sigmund. Obras Completas. Edição
Unidade1
Standard Brasileira, v. XXII. 2 ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987. p.
167-191.
SOUZA JR., Eustáquio José de; LOPES, Manuela Gomes; CIRINO, Sér-
gio Dias. A reflexologia soviética: Séchenov, Pavlov e Bechterew. In:
JACÓ-VILELA, Ana Maria; FERREIRA, Arthur Arruda Leal; PORTUGAL,
Francisco Teixeira (Orgs.). História da Psicologia: rumos e percur-
sos. Rio de Janeiro: Nau, 2007. p. 169-178.
UESC Pedagogia 67
Psicologia e Educação II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação
FILMES E CURTA-METRAGENS:
Objetivos
Ao final da unidade o(a) aluno(a) deverá:
3
Unidade
1 PRIMEIRAS PALAVRAS
UESC Pedagogia 73
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
Figura 12. Jean Piaget. um período em que as principais teorias da aprendizagem ligadas ao
Fonte: www.findagrave. comportamentalismo sofriam um esgotamento em sua ênfase educa-
com/cgi-bin/fg.cgi?page
tiva baseada “na instrução direta, na transmissão do conhecimento e
em uma certa passividade do aluno” (p. 249).
3
crianças, salientando que estas só ‘erravam’ porque
de classes (encontrar a
as respostas eram analisadas a partir do ponto de
parte comum de duas
vista do adulto. Na verdade as respostas infantis
Unidade
entidades), apresenta-
seguiam uma lógica própria (DAVIS; OLIVEIRA, vam para as crianças
2002, p. 37) normais, até 12 anos,
dificuldades insuspeita-
das pelo adulto” (PIA-
A questão que orientará toda teoria de Piaget, portanto, é: GET apud MACIEL; SÁ,
2001, p. 86).
como a lógica infantil se transforma em lógica adulta?
UESC Pedagogia 75
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
Esquemas de Ação
ATENÇÃO
maneira, o que é comum às diversas repetições ou aplicações da mes-
ma ação” (PIAGET apud MARTI SALA; JAVIER ONRUBIA GOÑI, 2000b,
p. 251 – grifo no original).
3
Um exemplo que podemos dar de esque-
ma de ação é o ato de reunir coisas: uma criança
Unidade
utiliza um esquema de ação de reunião quando
separa figuras geométricas; um estudante uni-
versitário também utiliza seus esquemas de ação
de reunião quando organiza seus materiais em
pastas, por disciplinas. Trata-se do mesmo princí-
pio de reunião, estabelecido através da interação
com a realidade.
Figura 13. Fonte <http://
Os esquemas passam por uma gradação, de acordo com o elianeportopead.pbworks.com/w/
page/10137487/MATEMATIZANDO>
UESC Pedagogia 77
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
• Assimilação:
[...] através dele o organismo – sem alterar suas
estruturas – desenvolve ações destinadas a atribuir
significações, a partir da sua experiência anterior,
aos elementos do ambiente com os quais interage
(DAVIS; OLIVEIRA, 2002, p. 38).
• Acomodação:
[...] o organismo tenta reestabelecer um equilíbrio
superior com o meio ambiente [...]. Agora o
organismo é impelido a se modificar, a se transformar
para se ajustar às demandas impostas pelo ambiente
(DAVIS; OLIVEIRA, 2002, p. 38).
3
pel muito importante nos processos de aprendizagem. Vejamos como
nas palavras de Piaget (1976) a explicação sobre os desequilíbrios:
Unidade
[...] mede-se pela possibilidade de superá-los, quer
dizer, sair deles. A fonte real do progresso deve, pois,
ser procurada na reequilibração, naturalmente não no
sentido de um retorno à forma anterior de equilíbrio,
cuja insuficiência é responsável pelo conflito ao
qual essa equilibração provisória chegou, mas de
uma melhora da forma precedente. Entretanto,
sem o desequilíbrio não teria havido reequilibração
majorante (PIAGET, 1976, p. 19).
UESC Pedagogia 79
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
PARA REFLETIR
Que tal abrirmos um Fórum de discussão na Plataforma Moodle para
discutirmos o significado de Erro para as duas teorias?
- Inteligência prática
“Esquemas de
- O bebê começa a ser capaz de re- ação, conceitos “Da indiferenciação
solver problemas práticos cada vez sensório-motores, eu-mundo exterior
mais complexos início da constru- ao reconhecimento
Sensório-motor 0 a 2 anos
ção das categorias dos objetos e pes-
- A evolução dos esquemas permite de objeto, espaço, soas, sentimentos
que o mundo vá sendo organizado tempo e causalida- derivados da ação”
(espacialmente, temporalmente, de”
causalmente)
3
- Inteligência operatória (baseada “Sentimentos de
em um conjunto de operações ló- “Aquisição da ca- respeito mútuo e
gicas)
Unidade
pacidade de per- de justiça (distribu-
ceber e a reversi- tiva e retributiva),
- Pensamento mais lógico e racio-
Operatório bilidade das opera- moral da coope-
nal
6 a 11 anos ções, explicações ração (correlata à
Concreto causais, noções de lógica da reversi-
- As operações permitem organizar
permanência de bilidade), apareci-
a realidade de uma maneira mais
substância, peso e mento da vontade
estável (conservações)
volume” como regulação da
- Reversibilidade ação”
Fontes: Marti Sala e Onrubia Goñi (2000b, p. 252); Campos e Nepomuceno (2007, p. 252).
UESC Pedagogia 81
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
alerta importante: é preciso tomar cuidado com o uso que será dado
a tal formulação teórica. Maciel e Sá (2001) também enfatizam esta
questão, afirmando que tal teoria “pode servir como mais um rótulo
de fracasso escolar” (p. 90). Vejamos como Marti Sala e Onrubia Goñi
(2000b) explicam este cuidado que devemos tomar:
3
de ensinar a todos simultaneamente. Para tal, ao mine a solidariedade e
planejarmos uma atividade de ensino, é conveniente o respeito. O professor
Unidade
conhecer os procedimentos mediante os quais os deixa de ocupar o papel
alunos vão se apropriando progressivamente dos de grande árbitro e a
prática da auto-avaliação
conteúdos escolares para que possamos intervir
e da avaliação pelo gru-
eficazmente em sua aquisição (CARVALHO, 2005, p. po passa a ser constru-
52-53). ída no dia-a-dia escolar.
Isto porque pensar em
exercício da cidadania,
Desta forma, a Psicologia Genética vem contribuir para a prá- hoje, requer de nós o
esforço de conviver com
tica pedagógica no sentido de criar possibilidades para que o profes-
todas as diferenças que
sor conheça melhor os processos de aprendizagem de seus alunos. os outros cidadãos nos
apontam, para que jun-
Eis uma das grandes contribuições de Piaget para a compreensão
tos possamos construir
da criança e do jovem, e também para os processos pedagógicos: um país menos injusto
e desigual para tantos”
conceder lugar de importância ao ponto de vista das crianças e dos (MACIEL; SÁ, 2001, p.
jovens nos processos de desenvolvimento e aprendizagem. 104).
UESC Pedagogia 83
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
3
Figura 17. Extraída de Kamii (1995) organizar a realidade de
uma maneira mais estável
Unidade
(conservações).
UESC Pedagogia 85
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
a opinião da criança.
Primeiramente o experimentador perguntava à criança se os
trilhos desalinhados eram do mesmo tamanho ou não. Ao responder
que um era mais comprido que o outro, o experimentador perguntava
para o par da criança (adulto), o que ele achava. A resposta sempre
era diferente, fato que levava o experimentador a apontar as discor-
dâncias e pedir que chegassem a um acordo. Vejamos nas palavras
de Kamii (1995), como o experimento se desenrola:
3
•
trocaram pontos de vista com um adulto avançaram muito
Unidade
mais que aquelas deixadas sozinhas com os materiais e as
próprias questões” (KAMII, 1995, p. 64);
• A partir da teoria construtivista de Piaget, Kamii (1995)
explica: as crianças que estiveram com os adultos “[...]
foram confrontadas com respostas que contradiziam as
delas mesmas, ainda que no mesmo nível cognitivo. As-
sim, quando elas tentavam conciliar as contradições, aca-
bavam por coordenar diferentes pontos de vista e cons-
truir uma relação num nível mais elevado incluindo os
pontos de vista opostos” (KAMII, 1995, p. 65);
UESC Pedagogia 87
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
SAIBA MAIS
“A psicologia soviética
Vygotsky elaborou uma teoria da Psicologia voltada para re-
tem sido muito pouco flexões acerca do desenvolvimento humano, a partir de uma abor-
conhecida no continente
latino-americano entre dagem marxista, qualitativa e interdisciplinar. Atualmente, no Bra-
outras coisas, porque no sil, seu trabalho é bastante divulgado e valorizado, mas ficou prati-
período da Guerra Fria
todos os governos dos camente desconhecido no ocidente até finais dos anos 1960/1970,
países da América Latina, devido a barreiras culturais e linguísticas e também por questões
com exceção de Cuba,
seguiam as posições do ideológicas de ordem internacional. Seu primeiro livro traduzido no
governo norte-america-
ocidente foi “Pensamento e Linguagem”, publicado nos Estados Uni-
no, o que implicava con-
siderar como subversão dos em 1962 (MARTI SALA e ONRUBIA GOÑI, 2000c; OLIVEIRA,
ideológica qualquer tipo
1997).
de produção artística,
científica ou cultural pro- Atualmente, a Psicologia sócio-histórica de Vygotsky carac-
cedente daquele país.
[...] A psicologia sovi-
teriza-se como uma Psicologia em expansão, pois incorpora novos
ética usa o Marxismo e problemas e questões de âmbito teórico e prático, além de receber
suas variantes como fun-
damento filosófico. Este aprofundamento e reformulações eventualmente necessárias em
fato esteve relacionado relação a algumas de suas proposições originais (MARTI SALA; ON-
intrinsecamente com
as formas que tomava RUBIA GOÑI, 2000c).
o marxismo na direção Tal qual a Psicologia Genética de Piaget, a Psicologia de
política soviética” (REY,
2007, p. 349-350). Vygotsky também recebe a denominação de Interacionista. Trata-
se, no entanto, de outro tipo de interacionismo, que ficou mais co-
nhecido como Sociointeracionismo, pois, além de considerar o in-
divíduo ativo em seus processos de desenvolvimento e aprendiza-
gem, este se constitui necessariamente em um ambiente histórico e
social.
Para Vygotsky o desenvolvimento não se dá de forma linear,
com mudanças qualitativas periódicas. Na época em que desenvol-
3
parte da natureza de cada pessoa?
• Como os signos culturais interferem no processo de de-
Unidade
senvolvimento dos indivíduos?
• Como o professor pode contribuir para que o aluno domi-
ne progressivamente os instrumentos culturais?
UESC Pedagogia 89
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
Mediação
3
mem e o mundo a sua volta, ampliando as possibilidades de transfor-
mação da natureza. São, em geral, voltados para um objetivo espe-
Unidade
cífico, carregando consigo as funções para a qual foram criados. Por
exemplo: para beber água, o homem se utiliza de copo, uma concha
ou um vasilhame fundo. É mais fácil beber água assim do que direta-
mente da fonte. O copo, neste caso, é um instrumento utilizado para
intermediar o homem e a natureza.
Os animais também se utilizam de instrumentos: os chipan-
zés, por exemplo, utilizam varas ou galhos para alcançar alimentos
distantes; sobem em caixas ou pedras para atingir frutas pendura-
das no teto. Há, no entanto, uma diferença fundamental entre o uso
dos instrumentos mediadores pelo homem e pelos animais: segundo
Vygotsky, os animais não produzem deliberadamente um instrumen-
to que servirá, também, para uso futuro, isto é, eles não guardam o
instrumento com aquela função e o transmitem a outros membros de
seu grupo social. Os animais “são capazes de transformar o ambiente
num momento específico, mas não desenvolvem sua relação com o
meio num processo histórico-cultural, como o homem” (OLIVEIRA,
1997, p. 29).
Os SIGNOS têm uma função semelhante ao uso dos instru-
mentos, mas diferenciam-se destes por atuarem como meios auxi-
UESC Pedagogia 91
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
3
64).
Unidade
Processo de internalização
UESC Pedagogia 93
ATENÇÃO Em sua Psicologia sócio-histórica, Vygotsky buscou, de dife-
“Qualquer função no rentes maneiras, chamar a atenção para o permanente estado de
desenvolvimento cultu- movimento e mudança dos processos psicológicos. Tal estado de per-
ral da criança aparece
duas vezes, ou em dois manente movimento e mudança fica bem caracterizado através do
planos. Primeiro, ela
conceito de ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL. A zona de de-
aparece no plano social
e, depois, no plano psi- senvolvimento proximal, muitas vezes chamada pela sigla ZDP, é a
cológico. Primeiro, apa-
diferença entre o nível que a pessoa é capaz de fazer alguma coisa
rece entre as pessoas
como uma categoria in- com a ajuda dos outros (Nível de desenvolvimento potencial) e o ní-
terpsicológica, e depois
dentro da criança como
vel de tarefas que consegue fazer sozinha (Nível de desenvolvimento
uma categoria intrap- real).
sicológica. [...] Não é
necessário dizer que a
internalização transfor-
ma o próprio processo
e muda sua estrutura
e funções” (VYGOTSKY,
1994, p. 163).
Vejamos no Quadro 6 explicações sobre os conceitos:
Fontes Oliveira (1997, p. 59-60); Marti Sala e Onrubia Goñi (2000c, p. 260-261); Maciel (2001, p. 69-70).
A relação entre os níveis de desenvolvimento real e potencial
é complexa, dinâmica, dialética e seus processos não estão limitados
à infância, mas estendem-se por toda a vida das pessoas. A interação
é de fundamental importância nesses processos, pois possibilita que
pessoas mais experientes atuem como mediadores no nível de desen-
volvimento potencial, possibilitando o alcance do nível de desenvolvi-
mento real.
Segundo Marti Sala e Onrubia Goñi (2000c):
3
O brincar e a imaginação
Unidade
“Definir o brinquedo como uma atividade que dá prazer à criança é in-
correto por duas razões. Primeiro, muitas atividades dão á criança experiências
de prazer muito mais intensas do que o brinquedo, como, por exemplo, chupar
SAIBA MAIS
chupeta [...]. E, segundo, existem jogos nos quais a própria atividade não é
agradável, como, por exemplo, [...] jogos que só dão prazer à criança se ela
considera o resultado interessante. [...].
A criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e ima-
ginário onde os desejos não realizáveis poder ser realizados, e esse mundo é
o que chamamos de brinquedo. A imaginação é um processo psicológico novo
para a criança; representa uma forma especificamente humana de atividade
consciente, não está presente na consciência de crianças muito pequenas e
está totalmente ausente em animais. Como todas as funções da consciência,
ela surge originalmente da ação. O velho adágio de que o brincar da criança é
imaginação em ação deve ser invertido; podemos dizer que a imaginação, nos
adolescentes e nas crianças em idade pré-escolar, é o brinquedo sem ação.
[...] Não existe brinquedo sem regras. A situação imaginária de qual-
quer forma de brinquedo já contém regras de comportamento, embora possa
não ser um jogo com regras formais estabelecidas a priori. A criança imagina-se
como mãe e a boneca como criança, e, dessa forma, deve obedecer as regras
do comportamento maternal. [...] Crianças pequenas podem fazer coincidir a
situação de brinquedo e a realidade. [...] O que na vida real passa despercebido
pela criança torna-se uma regra de comportamento no brinquedo.
[...] A noção de que uma criança pode se comportar em uma situação
imaginária sem regras é simplesmente incorreta. Se a criança está representan-
do o papel de mãe, então ela obedece as regras de comportamento maternal. O
papel que a criança representa e a relação dela com um objeto (se o objeto tem
seu significado modificado) originar-se-ão sempre das regras.
[...] É enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma
criança” (VYGOTSKY, 1994, p. 121-126).
UESC Pedagogia 95
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
FILME RECOMENDADO
Para ilustrar e enriquecer seus estudos, recomendo o curta de animação O menino que viu o ice-
berg, de Paul Driessen. Neste belo curta, temos a oportunidade de experenciar realidade e imagi-
nação simultaneamente. A noção de imaginação, apresentada no curta, se aproxima bastante do
conceito de Vygotsky, na qual na imaginação também há regras.
FICHA TÉCNICA:
Título: O menino que viu o iceberg
Direção: Paul Driessen;
Gênero: Animação; Ano: 2000; Duração: 9 min.
Sinopse: Trata-se de um curta de animação belís-
simo sobre um menino que viu o Iceberg. O curta
conta a história de um menino com uma imagina-
ção muito fértil. Devido à sua imaginação, ninguém
lhe dá crédito quando ele presencia algo realmen-
te sério. O filme apresenta, simultaneamente, dois
mundos - realidade e fantasia. A técnica utilizada é
tinta sobre papel.
Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v
=4qyUIPQ8yvo>
LEITURA RECOMENDADA
3
ela cabe transformar os processos elementares em processos psico-
lógicos superiores através da ação mediadora do professor.
Unidade
O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal propõe que
o professor atue como um interlocutor que está em permanente di-
álogo com os estudantes, introduzindo novos olhares, novas catego-
rias, novas conceituações dos fenômenos observados no mundo físico
e social (MACIEL, 2001).
A promoção da interação entre os pares no ambiente escolar
favorece, portanto, a criação de “zonas de construção” (cf. MACIEL,
2001), que são múltiplas ZDPs presentes no cotidiano escolar e que
se iniciam com o trabalho do professor em sala de aula, mas se es-
tendem para além deste, abrangendo todos os espaços e tempos do
cotidiano escolar.
UESC Pedagogia 97
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
FILME RECOMENDADO
O curta-metragem As coisas que moram nas coisas, de Bel Bechara e Sandro Serpa, apresenta a
riqueza do brincar para a vida da criança, explorando as possibilidades de ressignificação da reali-
dade através da brincadeira.
FICHA TÉCNICA:
Título: As Coisas que Moram nas Coisas
Direção: Bel Bechara, Sandro Serpa; Gênero: Ficção; Ano: 2006; Duração: 14 min.
Sinopse: Enquanto acompanham sua família formada por catadores de lixo, três crianças atribuem
novos significados aos objetos descartados pela cidade, inventando brincadeiras e pontos de vista.
Disponível em: http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=4798
3
autoimagem forem baixos, possivelmente nossa autoestima
também será baixa.
Unidade
Oliveira, no entanto, afirma que estes três con-
ceitos estão muito interligados entre si, e nem sempre
é possível separar um do outro quando buscamos com-
preender uma criança. Desta forma, na pesquisa reali-
zada, os três conceitos serão sintetizados na noção de
autoconceito. Ivone Oliveira (1993) explica o objetivo
da pesquisa:
Figura 24. Extraída de: http://daia-
netrisch.blogspot.com/2010/08/
Com o objetivo de aprofundar a reflexão sobre a velhice.html
UESC Pedagogia 99
Psicologia e Educação II Abordagens interacionistas em Psicologia e Educação
tude ressaltados.
Ivone Oliveira (1993) faz algumas perguntas
para que reflitamos sobre Alc:
3
é parecido comigo? O que é parecido na classe?) e as ANTUNES, Deborah Christina; ZUIN, Antô-
não-identificações (O que é diferente na classe?), per- nio Álvaro Soares. Do bullying ao precon-
Unidade
ceito: os desafios da barbárie à educação.
cebemos, pelas respostas de Alc, uma referência cons- Psicologia & Sociedade, v. 20, n.1, p.
tante à sua negritude. Alc escreve: “Eu sou preta e te- 33-42, 2008. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
nho o cabelo duro. Os meninos tiram sarro de mim só 71822008000100004&script=sci_arttext
porque eu sou preta” (OLIVEIRA, 1993, p. 159). Ivone
Oliveira explica:
FILME RECOMENDADO
Filme recomendado
Que tal refletirmos um pouco mais sobre preconceito e racismo? O curta-metragem O Xadrez das
Cores, de Marco Schiavon, traz algumas questões muito interessantes para nossa reflexão. Vamos
assistir?
FICHA TÉCNICA:
Título: O Xadrez das Cores
Direção: Marco Schiavon;
Gênero: Ficção; Ano: 2004; Duração: 22 min.
Sinopse: Cida, uma mulher negra de quarenta anos, vai
trabalhar para Maria, uma velha de oitenta anos, viúva e
sem filhos, que é extremamente racista. A relação entre as
duas mulheres começa tumultuada, com Maria tripudiando
em cima de Cida por ela ser negra. Cida atura a tudo em
silêncio, por precisar do dinheiro, até que decide se vingar
através de um jogo de xadrez.
Disponível em: http://www.portacurtas.com.br/pop_160.
asp?Cod=2932&exib=5937
3
As últimas considerações de Ivone Martins de Oliveira (1993)
Unidade
são importantíssimas: não podemos dizer, a partir do nosso ponto de
vista, o significado de algo ou de alguma situação vivenciada em sala
de aula. Se quisermos de fato “compreender os sentidos” de determi-
nada situação para nossos alunos, precisamos investigar qual “signifi-
cado tem para esses alunos” a situação específica que eles vivenciam.
A partir da perspectiva da Psicologia sócio-histórica de
Vygotsky, é preciso, portanto, considerar:
Vygotsky Piaget
Apresenta um estruturalismo fraco, no sentido de
Insistiu na constituição de sistemas estruturais como a
que defendeu um estudo inter-relacionado e não
chave do desenvolvimento da inteligência.
reducionista das funções e processos psicológicos.
Postula uma trajetória de desenvolvimento “de fora Postula uma trajetória de desenvolvimento “de dentro
para dentro” do indivíduo. para fora” do indivíduo.
Constituição dos conhecimentos explicada pela Explicação sobre aquisição do conhecimento a partir da
‘internalização’ da cultura equilibração dos sistemas de conhecimento
3
O aprendizado orienta o desenvolvimento O desenvolvimento dirige as aprendizagens
Unidade
Sobre a “fala egocêntrica” na criança: é o discurso
da criança quando dialoga alto consigo própria. A
criança primeiramente utiliza a fala socializada, com
Sobre a “fala egocêntrica” na criança: para Piaget, a
a função de comunicar. Com o desenvolvimento é
função da fala egocêntrica é exatamente oposta àquela
que ela passa a ser capaz de utilizar a linguagem
proposta por Vygotsky. Ela seria uma transição entre
como instrumento de pensamento, com a função
estados mentais individuais não verbais, de um lado, e
de adaptação pessoal. Isto é, a internalização do
o discurso socializado e o pensamento lógico, de outro.
discurso é um processo gradual. A “fala egocêntrica’ é
um fenômeno relevante para o momento de transição
entre o discurso socializado e o discurso interior.
Fonte: Castorina (2002, p. 11-13); Oliveira (1997, p. 53); Silva (2002, p. 58); Vygotsky (1994, p. 123).
LEITURA RECOMENDADA
Quer saber mais sobre o debate entre as teorias de Piaget e de Vygotsky? Recomendo a leitura
do livro: CASTORINA, José Antônio; FERREIRO, Emília; LERNER, Délia; OLIVEIRA, Marta Kohl de
(Orgs.). Piaget-Vygotsky. Novas contribuições para o debate. São Paulo: Ática, 2002.
O livro é composto por vários artigos, de autores diferentes, que trazem contribuições muito im-
portantes para este debate que não se encerra no quadro apresentado neste material de estudo
de Psicologia e Educação II.
RESUMINDO
3
Vimos, nesta unidade, duas perspectivas teóricas bastante
Unidade
distintas sobre desenvolvimento e aprendizagem: a Psicologia gené-
tica de Piaget e a Psicologia sócio-histórica de Vygotsky.
Através do estudo dos principais conceitos das respectivas te-
orias foi possível ampliar os nossos conhecimentos e explorarmos
duas pesquisas de fundamental importância para a prática pedagó-
gica: o estudo de Constance Kamii sobre a importância da interação
social para o desenvolvimento do conhecimento lógico-matemático
da criança, e a pesquisa de Ivone Martins de Oliveira sobre autocon-
ceito e preconceito no cotidiano escolar. As duas pesquisas ilustram
bem alguns conceitos das teorias abordadas nesta unidade e ampliam
nossos temas de debate sobre desenvolvimento e aprendizagem.
Para finalizar, foram estudados brevemente alguns pontos de
divergência entre as duas perspectivas teóricas, remetendo às ques-
tões estudadas na primeira unidade deste material de estudo de Psi-
cologia e Educação II: cada teoria possui uma concepção de homem,
um modo de compreender a relação do homem com o mundo e traz
implicações para nossa prática pedagógica.
REFERÊNCIAS
3
Moderna, 2001. p. 81-110.
Unidade
SILVA, Daniele Nunes Henrique. Como brincam as crianças surdas.
São Paulo: Plexus, 2002.
Filmes e curta-metragens:
Objetivos
Ao final da unidade o(a) aluno(a) deverá:
1 PRIMEIRAS PALAVRAS
Aqui, quando a gente vai a uma escola, sabe o que vai encon-
trar: salas de aulas, em cada sala um professor, o professor ensinan-
do, explicando a matéria prevista nos programas oficiais, as crianças
aprendendo. A intervalos regulares soa uma campainha – sabe-se
então que vai haver uma mudança – muda-se de matéria, frequen-
temente muda-se de professor, pois há professores de matemática,
de geografia, de ciências etc., cada um ensinando a disciplina de sua
especialidade. Já falei sobre isso na crônica passada: as linhas de
montagem.
É preciso imaginar o delicioso ‘portuguesh’ que se fala em
Portugal para sentir a música segura e tranquila da fala da menina.
‘Nósh não têmosh, como nas outrash escolash (daqui para frente es-
creverei do jeito normal...) salas de aulas. Não temos classes separa-
das, 1º ano, 2º ano, 3º ano... Também não temos aulas, em que um
professor ensina a matéria. Aprendemos assim: formamos pequenos
grupos com interesse comum por um assunto, reunimo-nos com uma
professora e ela, conosco, estabelece um programa de trabalho de
15 dias, dando-nos orientação sobre o que deveremos pesquisar e os
locais onde pesquisar. Usamos muito os recursos da Internet. Ao final
dos 15 dias nos reunimos de novo e avaliamos o que aprendemos. Se
o que aprendemos foi adequado, aquele grupo se dissolve, forma-se
um outro para estudar outro assunto’.
Ditas essas palavras ela abriu a porta e, ao entrar, o que vi
me causou espanto. Era uma sala enorme, enorme mesmo, sem divi-
sões, cheia de mesinhas baixas, próprias para as crianças. As crianças
trabalhavam nos seus projetos, cada uma de uma forma. Moviam-se
algumas pela sala, na maior ordem, tranquilamente. Ninguém
corria. Ninguém falava em voz alta. Em lugares assim normal-
mente se ouve um zumbido, parecido com o zumbido de abe-
lhas. Nem isso se ouvia. Notei, entre as crianças, algumas com
síndrome de Down que também trabalhavam. As professoras
4
ATENÇÃO
cessos pelos quais algumas categorias são criadas pelo pensamen-
to humano. Estas categorias, que são criadas sócio-historicamente,
ganham autonomia e passam a ser vistas, equivocadamente, como
“verdades naturais”. Como exemplo, podemos relembrar os estudos
realizados em Psicologia e Educação I sobre “família”. Sua acepção
naturalizada é que uma família saudável é composta por pai, mãe
e filhos morando em uma mesma casa. Ao desnaturalizarmos a ca-
tegoria família, podemos compreender que a “família composta por
pai, mãe e filhos morando na mesma casa” nada mais é do que uma
construção histórica marcada por um discurso de elite que instituiu
um modelo de “família saudável” – a família nuclear burguesa. Des-
naturalizando esta noção equivocada, podemos ver que as famílias
se organizam de várias formas, e o que importa é a qualidade das
relações, não a estrutura da família.
são feitas;
12. estas prescrições para a solução dos “problemas” da criança
são sempre individuais e baseados em uma grande culpabili-
zação da família e do “meio” em que a criança está inserida,
ou mesmo a culpabilização da professora que, em seus pro-
cessos de ensino, foi incapaz de fazer a criança aprender em
50 minutos;
13. a escola, os processos políticos que envolvem a constituição
das teorias, o capitalismo, a organização dos tempos e espa-
com/2008/05/caleidoscpio.html
buscando aplainamentos forçados, opta justamente por des-
Você sabe o que é um caleidos-
Unidade
Foucault, Poder e
Trata-se de um conceito fundamental, mas de difícil com-
Estado preensão, pois Foucault propõe uma leitura sobre o poder comple-
É importante destacar que, tamente diferente da forma como estamos habituados a pensá-lo.
apesar do Estado, para
Foucault, receber um tra-
Normalmente pensamos que o poder é algo “ruim” ou “bom”, e
tamento diferente das aná- que está nas mãos de alguém. Para Foucault, como já vimos, o po-
lises tradicionais, ele não
pode ser negligenciado. A der não está em lugar nenhum, e sim na relação entre as pessoas,
análise das relações de po- e ele se exerce através de nossas práticas. Assim, não é o Estado
der impõe um deslocamen-
to do papel do Estado, fa- que detém o poder, mas todos nós quando, através de nossas prá-
zendo com que perca o pri- ticas, o colocamos em ação.
vilégio de ser o centro e o
foco das relações políticas,
pois o poder preexiste ao O que faz com que o poder se mantenha e que
Estado e também se colo- seja aceito é simplesmente que ele não pesa só
ca fora dele, não podendo,
como uma força que diz não, mas que de fato ele
muitas vezes, ser explicado
em termos de lei, soberania
permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma
ou proibição (MAIA, 1995). saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo
De acordo com Roberto como uma rede produtiva que atravessa todo o
Machado (1999), há uma corpo social muito mais do que uma instância
certa “autonomia da perife- negativa que tem por função reprimir (FOUCAULT,
ria com relação ao centro”
1999a, p. 8).
(p. 12), significando que
pode haver transformações
em determinados níveis da
rede social que não neces-
O poder deve ser considerado também por sua positivi-
sariamente estão ligadas ao dade, por sua capacidade de gerir a vida das pessoas de forma a
Estado (MACHADO, 1999,
p. 12). Os movimentos so- controlá-las, aperfeiçoando, gradual e continuamente, suas po-
ciais estão aí para nos mos- tencialidades, extraindo das pessoas, ao mesmo tempo, uma ren-
trar como isso é possível.
tabilidade econômica máxima, através do aumento da capacidade
para o trabalho, e uma força política mínima, diminuindo a capaci-
dade de revolta.
Foucault (1999d) fala de uma relação específica de poder
sobre os homens que incide sobre seus corpos de forma minucio-
sa, através de uma tecnologia própria de controle: a DISCIPLINA
ou o PODER DISCIPLINAR.
ATENÇÃO
não se reduz à noção de disciplina que estamos acostumados a ouvir nas
escolas, ao referir-se ao comportamento de alunos (aluno disciplinado ou
indisciplinado), ou a disciplina que se refere à organização de conteúdos
específicos (Português, Matemática, História, Geografia etc.).
O conceito de disciplina para Foucault é bastante complexo e se
refere à incidência do poder sobre o corpo das pessoas, moldando-os de
forma que sejam economicamente produtivos e politicamente passivos, ou
seja, corpos dóceis, para usar um termo caro a Foucault.
Vejamos um trecho do livro Vigiar e Punir (FOUCAULT, 1999d):
de penas que são da ordem do exercício, corretivas, que têm que ser
muitas vezes repetidas, tendo também um caráter de gratificação-
Unidade
sanção.
Essas micropenalidades perpétuas operam uma diferenciação
dos indivíduos, avaliando-os através de uma suposta verdade:
PARA REFLETIR
que se organiza de
uma forma diferen-
te, criativa, esta é
sempre destinada à
Educação Infantil, e
nunca ao ensino fun-
damental, ao ensino
médio ou à Educação
de Jovens e Adultos?
Figura 35.
Fonte: http://germinai.wordpress.com/2009/02/16/arquitetura-escolar-e-aprendizagem-criativa/
As autoras iniciam seu artigo afirmando que a prática de Fonte: http://www.crprj.org.br/ publi-
cacoes/jornal/jornal20-educacao .pdf
patologização do não-aprender nas escolas não é novidade.
Desde o início do século XX, vemos estes processos ocorrerem,
tornando-se, atualmente, algo muito comum – e questionável –,
especialmente pelo incentivo da indústria farmacêutica, que vem
produzindo novos psicofármacos voltados para o público infantil.
Patologização: é um
Zanella et al (2007) aponta que esta situação vem se agra- termo pejorativo usa-
vando a cada dia que passa: do para caracterizar, de
forma crítica, o ato de
transformar uma carac-
Um agravante, nesse movimento, é a medicalização terística comum da vida
humana em doença, de-
das crianças, prática que tem sido cada vez mais re- sordem ou desajuste.
corrente no tratamento das diferenças nas aprendi-
zagens em contextos escolares. Em participação de
uma das autoras no Fórum de Saúde Mental para
Crianças e Adolescentes da Secretaria de Saúde do
Estado do Rio de Janeiro, que reúne profissionais de
diversas especialidades, tivemos oportunidade de
ouvir relatos desses profissionais sobre a ‘quantidade
absurda de crianças sendo medicalizadas numa faixa
etária cada vez mais baixa, atingindo de zero a um
ano’ (ZANELLA et al, 2007, p. 103).
4
Figura 39
Fonte: http://psicologiadospsicologos.
blogspot.com/2009_12_01_archive.
Atualmente, qualquer agitação, agressividade ou dificuldade
Unidade
html
LEITURA RECOMENDADA
Maria Aparecida Affonso Moysés (2001), médica pediatra, realizou um detalhado estu-
do sobre crianças que não aprendiam nas escolas da cidade de São Paulo, sendo, por
isso, rotuladas como portadoras de alguma doença. Em seu livro, a autora puxa “os fios
que tramam as formas de pensar a criança, a escola, os processos de aprendizagem
em nossa sociedade”. Seu livro analisa “os modos pelos quais estas crianças, normais
até entrarem em uma escola excludente, são tornadas reféns de doenças inexistentes,
de fracassos que não são seus, sendo por fim aprisionadas em instituições invisíveis”
(MOYSÉS, 2001, [orelha]).
Andréa Zanella et. al. (2007) ressalta que a escola, por seu
importante papel em nossa sociedade, precisa ponderar melhor as
situações que ocorrem em seu cotidiano, “não patologizando simples
dificuldades de aprendizagem e não penalizando pequenos deslizes
de comportamento” (ZANELLA et.al., 2007, p. 104), pois esta atitude
só contribuirá para que as crianças recebam rótulos negativos para
seu desenvolvimento e aprendizado.
Desenvolvimento:
• Peça para que quatro voluntários se apresentem para
participar da dinâmica.
• Avise que na testa de cada um será colada uma etiqueta
(rótulo), sem que seu possuidor, entretanto, saiba o que
está escrito.
• Com os rótulos nas testas, os voluntários circulam por
cinco minutos entre os outros participantes, que são
orientados para que os tratem exatamente como o ró-
tulo.
• Ao final do tempo, solicitar que os voluntários exponham
como se sentiram, sendo tratados de acordo com um
rótulo que eles não sabem qual é. Peça para que eles
adivinhem o rótulo que receberam.
• Ao final da atividade, todos os participantes devem de-
bater as dificuldades que os muitos rótulos que recebe-
mos impõem às nossas relações, fazendo-nos agir com
base em estereótipos e preconceitos.
para:
• compreender “como se instituem e naturalizam modos de ser”,
que fazem com que as crianças sejam vistas como, realmente,
problemáticas;
• e também para criar “a possibilidade de invenção coletiva de
outras práticas no âmbito da educação dessas crianças” (ZA-
NELLA et al, 2007, p. 104).
História de Roberto
4
Unidade
LEITURA RECOMENDADA
SAIBA MAIS
nos dias 10 e 11 de novembro de 2006, o “II Seminário de Psicologia
e Direitos Humanos – Medicalização da vida”. As palestras do evento
foram filmadas e estão disponíveis no site do Conselho Regional de
Psicologia de São Paulo.
Vejamos o texto de apresentação do seminário:
Vídeos disponíveis:
Fonte: <http://www.fcm.unicamp.br/
fcm/sites/default/files/images/user2/
dislexia.jpg>
Você pode ler o Manifesto e as propostas do Fórum em ANEXO 1.
3 ANÁLISE INSTITUCIONAL
• AUTOANÁLISE:
• AUTOGESTÃO:
29).
ATENÇÃO
sino, que por sua vez são uma realização da instituição da educa-
ção. Mas acontece que uma escola não só alfabetiza, não só instrui,
não só educa dentro dos objetivos manifestos do organizado e do
instituído, senão que, de alguma forma, ela também prepara força
de trabalho (alienado), ou seja, uma escola é também uma fábrica.
Por outro lado, uma escola, de acordo com a concepção de ensino
que ela tenha, também consegue manter os alunos presos durante
seis a oito horas por dia e, além de ensiná-los a ler e escrever, o que
fundamentalmente lhes ensina é a obedecer e o que basicamente
lhes transmite é um sistema de prêmios e punições, especialmente
de punições. Neste sentido é que uma escola é também um cárcere.
Mas, além disso, o que a escola ensina é uma série de valores do
que deve ser construído, do que deve ser destruído, ensina formas
de exercício de agressividade. Então, vocês estão vendo como uma
escola, a nível do instituído, do organizado, a nível da função, a ní-
vel da reprodução, ela está atravessada pelas outras organizações.
Existe uma estreita colaboração na tarefa de reproduzir o que está,
As mesmas interpenetrações que acontecem nas escolas, ob-
servamos também na PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES ou nos MO-
DOS DE SUBJETIVAÇÃO. Para a Análise Institucional, o que acontece
na economia, na política, na cultura, no mercado de trabalho, no meio
social, é indissociável do psiquismo dos homens.
O desejo é inconsciente e é constituído a partir das O desejo é inconsciente. Mas, este inconscien-
vivências subjetivas, circunscritas social e histori- te não está submetido apenas por um recalque
camente, dentro das quais os indivíduos constroem psíquico, mas está submetido por um recalque
significados para suas ações, fazem escolhas, con- complexo que é simultaneamente político, libidi-
cebem a si próprios. nal, semiótico etc.
A pergunta da Análise Institucional é: se o desejo é reali-
zável, isto é, pode ser satisfeito, por que os indivíduos não cedem
sempre à satisfação de seu desejo? Por que as pessoas não rompem
com regras sociais? A resposta é que os indivíduos sucumbem ao
discurso institucional. Não de forma passiva, nem tampouco volun-
tária, mas porque este discurso institucional satisfaz certos desejos
inconscientes. E cada sujeito será submetido a um certo processo
de subjetivação. Por mais que existam semelhanças entre os sujei-
tos, o que importa para a Análise Institucional são as diferenças,
“a singularidade de cada sujeito produzido em cada lugar, a cada
momento” (BAREMBLITT, 2002, p. 50). E, portanto, interessa saber
como cada sujeito vai lidar com os atravessamentos e transversa-
lidades institucionais, assujeitando-se aos processos instituídos ou
singularizando-se através dos instituintes.
Felix Guattari e Suely Rolnik (1996) nos explicam que os
sujeitos oscilam entre dois modos extremos de viver suas subjetivi-
dades:
• SUBJETIVIDADES ASSUJEITADAS:
Produz-se “uma relação de alienação e opressão na
4
• SUBJETIVIDADES SINGULARIZADAS:
Produz-se “uma relação de expressão e criação, na
qual o sujeito se reapropria dos componentes da sub-
jetividade, produzindo um processo que eu chamaria
de singularização” (GUATTARI; ROLNIK, 1996, p. 33).
ATENÇÃO
“Essa cultura de massa produz, exatamente, indivíduos; indi-
víduos normalizados, articulados uns aos outros segundo sistemas
hierárquicos, sistemas de valores, sistemas de submissão - não
sistemas de submissão visíveis e explícitos, como na etologia ani-
mal, ou como nas sociedades arcaicas ou pré-capitalistas, mas sis-
temas de submissão muito mais dissimulados. E eu diria que esses
sistemas são ‘interiorizados’ ou ‘internalizados’ de acordo com a
expressão que esteve muito em voga numa certa época, e que
implica uma ideia de subjetividade como algo a ser preenchido. Ao
contrário, o que há é simplesmente uma produção de subjetivida-
de. Não somente uma produção da subjetividade individualizada -
subjetividade dos indivíduos - mas uma produção de subjetividade
social, uma produção da subjetividade que se pode encontrar em
todos os níveis da produção e do consumo. E mais ainda: uma
produção da subjetividade inconsciente. A meu ver, essa grande
fábrica, essa grande máquina capitalística produz inclusive aqui-
lo que acontece conosco quando sonhamos, quando devaneamos,
quando fantasiamos, quando nos apaixonamos e assim por diante.
Em todo caso, ela pretende garantir uma função hegemônica em
todos esses campos.
4
A partir da leitura do boxe “Produção de Subjetividade Capi-
talística e Processo de Singularização”, cabe a nós, educadores, nos
perguntarmos: que alunos queremos formar? Gilles Deleuze (2008)
compreende “pensamento como processo de subjetivação” (p. 120).
Logo, que tipo de pensamentos estamos possibilitando aos nossos
alunos através de nossas práticas pedagógicas? Walter Omar Kohan
(2007), rementendo-se a Deleuze, afirma que:
cação propicia, também, como afirma Jacques Ardoi- A importância das micromudanças
para a Análise Institucional
no e René Lourau (2003), a formação de uma:
“Para os institucionalistas não
existe, como vocês sabem, uma separação
[...] mudança qualitativa do olhar radical entre vida econômica, vida política,
que os alunos, os formandos, os vida do desejo inconsciente, vida biológi-
ca e natural; o que existe são imanências
professores e os formadores podem
– isto é, a coextensão [...]. Dentro desta
doravante dirigir a suas condições concepção de vida social como uma rede,
(de trabalho, de existência, de em que os processos são imanentes um
cidadania), a partir das ações de ao outro, pode-se distinguir o molar, que,
sensibilização e de conscientização dito de uma maneira simples, é aquilo que
é grande, que é evidente, que tem formas
que contribuem, entre eles, para o
objetais ou formas discursivas, visíveis e
desenvolvimento do espírito crítico. enunciáveis. Por outra parte temos o mo-
São estes os efeitos que podem ser lecular, que é o que na física se costuma
atribuídos à Análise Institucional chamar micro, por oposição a macro [...].
(ARDOINO; LOURAU, 2003, p. 38). O institucionalismo afirma que as
grandes mudanças históricas, as macro-
mudanças, são sempre resultados de pe-
Para finalizar, cabe nos perguntarmos: o que quenas micromudanças e que os grandes
poderes que vigoram na sociedade são
é ensinar? O que é aprender? O que significa proces- apenas formas resultantes de pequenas
so ensino-aprendizagem? Ensinar é passar adiante potências que se chocam e se conectam em
espaços microscópicos da sociedade. [...].
certo conteúdo e certos valores, é transmitir o que O macro é o lugar da reprodução e o micro
é o lugar da produção [...]. Esta diferencia-
algum dia alguém definiu como importante? Apren-
ção é importante porque, em geral, o ins-
der é reconhecer cognitivamente e repetir o que foi titucionalismo confia em analisar e propi-
ciar as mudanças locais, as transformações
ensinado? Será que apenas estas possibilidades re-
microscópicas, as conexões circunstanciais,
produtoras do social se apresentam para nós? É claro porque espera delas efeitos à distância que,
ao generalizarem-se, resultam nas grandes
que não! Através da, pela, na e para a Análise Ins- metamorfoses [...]. O institucionalismo
titucional, podemos pensar os processos de ensino- pensa que as pequenas conexões locais são
o lugar do instituinte, e entendê-lo assim
aprendizagem como espaços-tempos de afetação, está restritamente relacionado com as es-
em que o professor, após muito preparo/dedicação, tratégias de intervenção nos âmbitos, nos
espaços de atuação que o institucionalismo
alcança alguns minutos de inspiração inventiva ca- vai tentar propiciar. Eles são os pequenos
pazes de afetar as potencialidades criativas de seus lugares intersciciais da vida natural-social-
técnica e subjetiva e não os grandes blocos
alunos, produzindo efeitos de afirmação da vida e representativos dos territórios constituídos”
(BAREMBLITT, 2002, P. 45-46).
modos de subjetivação singularizados. E, como tudo
na vida, estes espaços-tempos são provisórios, fini-
4
SAIBA MAIS
“A Análise Institucional Socioanalítica, corrente desenvolvida na Fran-
ça durante as décadas de 60/70, vai então formular a idéia de uma
pesquisa-intervenção que visava interrogar os diversos sentidos crista-
lizados nas instituições. Tratava-se de produzir evidências que visibili-
zassem o jogo de interesses e de poder encontrados no campo de in-
vestigação. Sua metodologia estava baseada, portanto, numa argüição
que desmanchasse os territórios constituídos e convocasse a criação de
outras instituições. [...].
A intervenção estará associada à construção e/ou utilização de ‘ANA-
LISADORES’, conceito-ferramenta formulado por Guattari, no contexto
da Psicoterapia Institucional, que veio a ser incorporado pela Socioanáli-
se. Os ANALISADORES seriam acontecimentos - no sentido daquilo que
produz rupturas, que catalisa fluxos, que produz análise, que decompõe.
Eles assinalam as múltiplas relações que compõem o campo tanto em
seu nível de intervenção quanto em seu nível de análise. O nível de
intervenção se caracteriza pela definição de um território a partir da en-
comenda endereçada a alguém, em geral a um especialista. Isto inclui
não apenas como o pedido é formulado, mas também o encargo social
que lhe é inseparável, isto é, os processos historicamente produzidos de
legitimação do exercício de uma tal função. Já o nível de análise aponta
para as virtualidades presentes a partir da intervenção, dominantemen-
te submetidas ao encargo social, às vezes delineando linhas de fuga.
Esta nova posição de análise se caracteriza, portanto, por um proces-
so de desnaturalização permanente das instituições, incluindo a própria
instituição da análise (aqui entendida como atividade de um ‘analisa-
dor’) e a da pesquisa. É neste sentido que a implicação do pesquisador,
já anunciada na pesquisa-ação, se modifica. [...]. A noção de impli-
cação, trabalhada pelos analistas institucionais, não se resume a uma
questão de vontade, de decisão consciente do pesquisador. Ela inclui
uma análise do sistema de lugares, o assinalamento do lugar que ocupa
o pesquisador, daquele que ele busca ocupar e do que lhe é designado
ocupar, enquanto especialista, com os riscos que isto implica. Melhor
seria dizer, então, análise das implicações, posto que implicado sem-
pre se está. Aquilo para o que as correntes institucionalistas chamam
a atenção é a necessidade da análise das implicações com as institui-
ções em jogo numa determinada situação. A recusa da neutralidade do
analista/pesquisador procura romper, dessa forma, as barreiras entre
sujeito que conhece e objeto a ser conhecido. [...].
Na proposta da Análise Institucional, gênese teórica e social são indis-
sociáveis. Aí o momento da pesquisa é o momento da produção teórica
e, sobretudo, de produção do objeto e daquele que conhece; o momento
da pesquisa é momento de intervenção, já que sempre se está implica-
do. [...].
Na pesquisa-intervenção, [...] em qualquer de seus momentos, todo
conhecer é um fazer” (PASSOS; BARROS, 2000, p. 73-74).
SAIBA MAIS
também na inclusão de crianças surdas. Vamos ver o que as autoras nos contam sobre
o trabalho que realizaram?
“Nos anos de experiência docente com turmas de Educação Infantil, desenvolvi
uma metodologia que envolvia conceitos e práticas sobre As Três Ecologias de Félix
Guatarri (1998). As atividades pedagógicas desenvolvidas eram variadas: músicas,
histórias, saídas de campo, entre outras que, ao longo do tempo, percebi que tornaram
a metodologia na sala de aula muito mais coesa e lógica, partindo do micro para o ma-
cro, ampliando a visão das crianças aos poucos, sem atropelos e no tempo delas [...].
Em 2004, durante um curso de capacitação para professores na área da sur-
dez, comecei a conhecer e manter contato com o ‘mundo surdo’. Aprofundando meus
estudos sobre o tema, percebi algumas lacunas na construção da identidade surda
destas crianças, visto que a maioria são filhas de pais ouvintes, tornando seu primeiro
contato com a língua oral, que não é a sua natural. Devido a esse e outros fatores,
interessei-me por conhecer como acontece a construção de uma identidade surda des-
sas crianças. Durante as observações na turma onde eu iria fazer o estágio de docência
para o referido curso, percebi uma realidade dura e difícil: eram quatro alunos surdos
provenientes de famílias ouvintes que não conheciam a Língua de Sinais, portanto,
ocorria uma comunicação muito precária ou inexistente entre pais e filhos. [...].
O Surdo tem em sua história marcas de opressão e domínio por parte da maio-
ria ouvinte. Muitas situações como essas ocorrem devido à falta de autonomia destes
indivíduos, que vivem à sombra e dependência dos ouvintes, sem nem reconhecerem-
se como são. É impossível pensar uma educação ecológica sabendo que ainda existem
pessoas que vivem sob domínio e poder de outros por causa de suas precárias oportu-
nidades de formação de uma identidade própria, sendo expostos a situações que vão
de encontro com sua natureza. [...].
A articulação d’As Três Ecologias com a construção da identidade surda é muito
oportuna. Não me refiro aqui a uma identidade qualquer, pois identidades todos nós
temos, todos nós nos constituímos. Mas refiro-me à construção de uma identidade
que realmente tornará o surdo autor da sua própria história, não mais necessitando
comparar-se ou apoiar-se nos ouvintes. [...].
Através da análise da construção de uma identidade surda à luz d’As Três
Ecologias, os surdos primeiro vão reconhecer-se como são: alguém que possui uma
maneira de perceber o mundo de maneira diferente, através do canal visual. De posse
4
tornando a relação com eles menos comparativa, mas vivendo-a a partir da ótica da
diferença, sendo respeitados pela sua cultura própria” (TERRA; SCHMIDT, 2009, p.
1-2).
TERRA, Cristiane Lima; SCHMIDT, Elisabeth Brandão. As três ecologias como prática na
sala de aula: contribuições para a construção da identidade do sujeito surdo. Anais do
XVIII Congresso de Iniciação Científica/XI Encontro de Pós-Graduação/I Mostra
Científica da Universidade Federal de Pelotas, outubro de 2009. Disponível em: http://
www.ufpel.edu.br/cic/2009/cd/pdf/CH/CH_01533.pdf. Acesso em: set. 2010.
Era pós-mídia
Miranda (2007), referindo-se a Guattari, ressalta que a TV pode
ser suporte de reprodução social ou de criação/invenção de novas
ATENÇÃO
demonstra aprovação e interesse pelo projeto, dizendo não acreditar A análise aqui apresen-
que a escola é apenas sala de aula. No entanto, em suas atitudes, tada sobre o Projeto de
Extensão TVEZ: Educa-
ela enfatiza a hierarquia e o lugar do não-saber dos alunos, reifican- ção para o uso crítico da
do o lugar da escola na produção de “corpos dóceis” (cf. FOUCAULT, mídia refere-se ao seu
primeiro ano de funcio-
1999d) e subjetividades assujeitadas (cf. GUATTARI; ROLNIK, 1996). namento. Que tal conhe-
Nas duas experiências relatadas - TV Maxambomba e TVEZ -, cer os trabalhos que vêm
sendo realizados atual-
as escolas cedem espaço, mas não se engajam. Alunos se envolvem mente? Acesse a web site
para conhecer mais de
e se apropriam de suportes midiáticos, mas não encontram espaço
perto essa interessante
para circulação do material produzido. O que vemos é que a escola experiência!
FILME RECOMENDADO
FILME RECOMENDADO
Filme recomendado
Http 404 é o código que aparece na internet quando o servidor não consegue achar o que o clien-
te está procurando. Marc Doyle-Aymonin, Alexandre Meziat e Pretto Lopes realizaram um curta-
metragem chamado Http 404 para brincar com esta situação. Será que somos nós que não nos
encontramos no mundo virtual? Assista a este divertido curta e descubra!
Título: Http_404
Direção: Marc Doyle-Aymonin, Otriunviratto (Alexandre Meziat, Pretto
Lopes); Gênero: Ficção; Ano: 2006; Duração: 2 min.
Sinopse: João caminha pela internet à procura da comunidade que irá
aceitá-lo como membro.
Disponível em: http://www.youtube.com/user/marcdoyleaymonin#p/
a/u/0/T3QJMl2gtMg
ATIVIDADES
RESUMINDO
DELEUZE, Gilles. A vida como obra de arte. In: DELEUZE, Gilles. Con-
versações. São Paulo: Editora 34, 2008. p. 118-126.
Filmes e curta-metragens:
4
Unidade
LEITURA RECOMENDADA
Neste artigo Rita Pereira trabalha com três autores que não foram abordados neste material
de estudo de Psicologia e Educação – Walter Benjamin, Mikhail Bakhtin e Oliviero Toscani –
mas que têm sido muito utilizados, atualmente, por pesquisadores na área da Psicologia do
Desenvolvimento e da Aprendizagem, pelas ricas contribuições que trazem para este campo
do conhecimento. O artigo de Rita Pereira tem como principal aspecto abordado a relação
entre criança e publicidade televisiva. Para desenvolver este tema, a autora lança mão de
algumas questões que estudamos em Psicologia e Educação I e outras questões que não
foram abordadas. Vamos ler o artigo?
Você sabia que nem tudo que lemos na internet tem validade
acadêmica? A internet é um espaço livre no qual qualquer pessoa
pode publicar o que pensa. Desta forma, às vezes encontramos pu-
blicações que se referem a teorias e autores que já ouvimos falar,
VOCÊ SABIA?
mas estes textos foram escritos e publicados sem um estudo apro-
fundado, baseando-se muito mais na opinião de quem escreve do
que em critérios de validação sobre a teoria que está sendo apresen-
tada. Desta forma, é preciso tomar muito cuidado com os sites que
visitamos e as informações que obtemos através da internet.
Você sabe como buscar artigos acadêmicos na internet?
Procure sempre verificar a fonte das informações que são pu-
blicadas nos websites: Fazem parte de alguma revista acadêmica?
Estão publicados em websites de sociedades voltadas para o estudo
de algum autor ou teoria? Seus autores estão inseridos em grupos
de pesquisa?
Buscar novos conhecimentos através de artigos acadêmicos é
importante, pois estes são avaliados por outros pesquisadores que
tratam dos assuntos propostos. É o que chamamos de Comissão
Editorial e Pareceristas Acadêmicos, que validam as ideias defendi-
das pelos autores.
Uma boa fonte para atualização de seus estudos é o website
scielo: www.scielo.br
Neste site você faz a busca sobre o que quer estudar, por as-
sunto, título ou autor, e há uma ampla gama de artigos, de todas as
áreas que você possa imaginar, disponíveis para consulta e estudo.
Que tal acessar o scielo para buscar alguma informação com-
plementar aos seus estudos sobre Psicologia e Educação?
ANEXO 1
UESC Pedagogia
Psicologia e Educação II
UESC Pedagogia
Psicologia e Educação II
ANEXO 2
RESUMO
Este estudo tem como foco principal a relação estabelecida entre
criança e publicidade televisiva. A perspectiva teórica e metodológica
é baseada nas idéias de Walter Benjamin, Mikhail Bakhtin e Oliviero
Toscani. O objetivo é entender o contexto social e cultural mais amplo
no qual essa questão é mantida sob permanente tensão, em especial
em razão de algumas mudanças que o marcam acentuadamente:
a emergência de novos agrupamentos familiares que, por diferirem
dos arranjos nucleares tradicionais, demandam um reordenamento
das relações criança-adulto; a desterritorialização do capitalismo e
sua concentração no consumo; a fragmentação da vida cotidiana; a
construção de uma política de vídeo e a inversão sofrida nos âmbi-
tos públicos e privados; o lugar central hoje ocupado pela mídia e a
constatação de que há uma hegemonia das tecnologias eletrônicas e
virtuais nos processos de comunicação, bem como a pulverização dos
espaços de saber. Nesse contexto, os meios audiovisuais— entre eles
a televisão — têm compartilhado cada vez mais com a família e com
a escola sua função educativa, ocasionando para ambas um grande
desconforto: faz-se necessário, mais do que nunca, repensar o lugar
social que ocupam.
Anexos
Este estudo tem por objetivo investigar a relação entre a
criança e a publicidade televisiva, entendendo que essa relação se
apresenta como um desvio metodológico (Benjamin, 1984) para a
UESC Pedagogia
Psicologia e Educação II
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interação” (1976, p.6, trad. Cristóvão Tezza, para uso didático). Tal
reivindicação deveu-se ao fato de que as clássicas análises sobre a
arte operavam tendo como ponto de partida o isolamento de seus
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Notas:
Como citar: