Reabilitação Neuropsicológica Da Memória E Das Funções Executivas Após Anoxia Cerebral

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ISSN 1646-6977
Documento publicado em 11.09.2020

REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
DA MEMÓRIA E DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS
APÓS ANOXIA CEREBRAL

2020

Maria Ferros
Aluna de Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde - Universidade da Beira Interior - Portugal
Email: [email protected]

Luis Maia
PhD, docente de Neuropsicologia na Universidade da Beira Interior - Portugal
Email: [email protected] (autor correspondente)

RESUMO

Este artigo tem como tema a Reabilitação Neuropsicológica da memória e das funções
executivas após anoxia cerebral. Primeiramente, será apresentada um breve enquadramento da
reabilitação neuropsicológica, bem como sobre a anoxia cerebral. De seguida, serão abordados os
temas da memória e das funções executivas, fazendo uma pequena contextualização do conceito e
depois será abordado questões relacionadas com a reabilitação neuropsicológica nestas áreas. Por
último será feita uma síntese das ideias principais.

Palavras-chave: Reabilitação neuropsicológica, anóxia cerebral, memória, funções


executivas.

ABSTRACT

This article deals with the neuropsychological rehabilitation of memory and the functions
performed after cerebral anoxia. First, a neuropsychological rehabilitation framework will be
presented, as well as a cerebral anoxia. Next, the topics of memory and executive functions will be
addressed, with a brief contextualization of the concept and then the question related to the

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neuropsychological rehabilitation of the areas will be addressed. Finally, a synthesis of the main
ideas will be made.

Palavras-chave: Neuropsychological rehabilitation, cerebral anoxia, memory, executive


functions.

RESUMEN

Este artículo trata sobre la rehabilitación neuropsicológica de la memoria y las funciones


realizadas después de la anoxia cerebral. Primero, se presentará un marco de rehabilitación
neuropsicológica, así como una anoxia cerebral. A continuación, se abordarán los temas de
memoria y funciones ejecutivas, con una breve contextualización del concepto y luego se abordará
la cuestión relacionada con la rehabilitación neuropsicológica de las áreas cerebrales implicadas.
Finalmente, se realizará una síntesis de las ideas principales.

Palavras-chave: Rehabilitación neuropsicológica, anoxia cerebral, memoria, funciones


ejecutivas.

Copyright © 2020.
This work is licensed under the Creative Commons Attribution International License 4.0.
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

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INTRODUÇÃO

A realização deste artigo baseou-se numa revisão bibliográfica, onde, a partir de várias bases
de dados, com enfase nas bases de dados das Ciências Sociais e Humanas, se obtiveram vários
artigos que permitiram ter uma noção válida e relevante nesta área e que estavam relacionados com
os temas de Reabilitação Neuropsicológica, Anoxia Cerebral, Memória e Funções Executivas.

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

De acordo com Otero e Scheitler (2001), a reabilitação neuropsicológica diz respeito à


aplicação de diversas técnicas de modo a que haja uma melhoria da adaptação social e do
desempenho intelectual de indivíduos que sofreram algum tipo de alteração no seu funcionamento
cognitivo, bem como uma melhoria na recuperação psicológica e física (Wilson, 1997 cit in
Prusokowski, Rinaldi, Frison, & Oliveira, 2012). Wilson (1996) afirma que a reabilitação
neuropsicológica não só tenta reabilitar os défices cognitivos como reabilitar alterações
comportamentais e emocionais.
Esta deve ser acompanhada por dois processos, um que a antecede, a avaliação, para que se
possa perceber que funções cognitivas se encontram a funcionar corretamente e as que estão a
funcionar incorretamente, e a alta, processo que sucede a reabilitação (Prusokowski, Rinaldi,
Frison, & Oliveira, 2012). Na mesma linha, de acordo com Prigatano (1997 cit in Ávila & Miotto,
2002), a reabilitação neuropsicológica envolve cinco componentes, nomeadamente a psicoterapia,
o estabelecimento de um bom ambiente terapêutico, a reabilitação cognitiva, o trabalho com os
familiares e o trabalho de ensino que é feito com os pacientes. A reabilitação neuropsicológica
deve ter em conta uma equipa multidisciplinar de modo a que se consigam perceber quais os
benefícios e as limitações do processo de reabilitação, a curto e a longo prazo (Ávila & Miotto,
2002).
Um dos principais fundamentos da neuropsicologia é a de que o cérebro não é um órgão
estático, isto é, é um órgão dinâmico e que pode ser alterado de forma a adaptar-se a diferentes
circunstâncias. A esta ideia deu-se o nome de plasticidade cerebral, e pode ser definida como a
capacidade morfológica que as células nervosas têm para se adaptarem a diferentes condições
ambientais (Haase & Lacerda, 2004). Deste modo, a plasticidade cerebral promove o
desenvolvimento neuronal de forma a que novas aprendizagens possam ser adquiridas, tendo por
base um outro processo, a generalização. Este último consiste na passagem de tarefas motoras,

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cognitivas e físicas específicas para tarefas que o indivíduo precisa de realizar no seu dia-a-dia
(Otero & Shceitler).

A plasticidade cerebral e a regeneração cerebral como resposta a lesões neurológicas e


práticas de diferentes atividades têm sido demonstradas em vários estudos (Biernaskie & Corbett,
2001). A plasticidade é uma das características mais proeminentes do sistema nervoso central e
denota várias capacidades, como a habilidade de se adaptar a mudanças no ambiente e armazenar
informação na memória associada à aprendizagem (Johnston, 2004). Procedimentos de reabilitação
cognitiva induzem mudanças plásticas nas estruturas cerebrais responsáveis pelo controlo de
diferentes funções (Kim, Yoo, Ko, Park, Kim, & Na, 2008).
Evidencias recentes indicam que a neurogénese persiste para além do período fetal e até à
idade adulta em certas áreas do cérebro, incluindo a zona subventricular dos ventrículos laterais e
da zona subgranular do giro denteado do hipocampo (Toni et al., 2008). Em ratos no período
neonatal com hipoxia-isquémica experimental, verificou-se que a neurogénese persistiu na zona
subventricular durante meses após a lesão e continua a popular o córtex cerebral com novos
neurónios (Yang, Covey, Bitel, Ni, Jonakait & Levison, 2007).

Para Ostrosky-Solis & Gutiérrez, (2006; Sohlberg & Mateer, 2009 cit in Prusokowski,
Rinaldi, Frison, & Oliveira, 2012), podemos dividir as técnicas de reabilitação das funções
cognitivas em três grupos: técnicas de restauração, que se caracterizam pela ideia de que a cognição
pode ser fortalecida da mesma forma que um músculo, isto é, para se fortalecer a função
mnemônica utilizam-se exercícios de memória; técnicas de reorganização, que pressupõem que as
funções que foram comprometidas podem ser substituídas por outras que não tenham sido afetadas;
e técnicas de compensação comportamental, onde se implementam apoios externos de modo a
ajudar o indivíduos nas suas dificuldades (por exemplo, lembretes, alarmes, entre outros).

Assim, antes de se iniciar algum programa de reabilitação é importante que haja um perfil
cognitivo do paciente de forma a que se percebe claramente quais os seus défices e quais são as
áreas cognitivas que ainda se encontram preservadas (Ávila & Miotto, 2002).

Anoxia Cerebral
Um dos primeiros estudos sobre anoxia cerebral surgiu em 1945, por Fletcher, “personality
disintegration incident to anoxia: observations with nitrous oxide anaesthesia” (Caine & Watson,
2000). Este autor reportou oito casos de anoxia derivados de intoxicação por monóxido de carbono,
e notou que existiam défices persistentes no julgamento, perda de insight, apatia, indiferença e falta
de descanso, para além de défices na atenção e memória presentes em todos os casos. Na mesma
linha, também Steegman (1951 cit in Caine & Watson, 2000) considerou o comportamento infantil

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e “idiota” e as mudanças emocionais peculiares como os principais défices nos casos de anoxia
cerebral.

Apesar do cérebro receber uma porção significativa do débito cardíaco, cerca de 15%, o
cérebro não consegue armazená-lo (Kuroiwa & Okeda, 1994). Quando o fluxo de oxigénio é
interrompido, um conjunto de mecanismos homeostáticos e vasculares são ativados, de modo a
manterem o abastecimento de oxigénio (Strandgaard & Paulson, 1984). Esta autorregulação
permite manter o fluxo sanguíneo cerebral contra uma abruta mudança da pressão sanguínea dentro
de uma determinada extensão e permite também manter o fornecimento e utilização do oxigénio
apesar das mudanças do fornecimento (Cohen, 1976; Michael, 1973 cit in Caine & Watson, 2000).
A hipoxia e a anoxia referem-se a uma diminuição dos níveis de oxigénio num determinado
tecido. A anoxia refere-se a uma diminuição dos níveis de oxigénio para níveis que não são
tolerados pelas células, e considera-se que elas sofrem danos irreversíveis quando a anoxia passa
dos 5 minutos. A anoxia é o resultado de uma paragem cardiorrespiratória ou da impossibilidade
de respirar, como num afogamento ou obstrução das vias aéreas (asfixia). A hipoxia tem como
causas principais a diminuição dos níveis de oxigénio dentro dos limites tolerados pelas células,
quer pela diminuição dos elementos transportadores de oxigénio, quer por uma diminuição do
volume sanguíneo – enfarte, anemia ou hemorragia, ou ainda por respirar um ar pobre em oxigénio
(Guzman, 1983).
Caine e Watson, em 2000, definiram anoxia como a redução no fornecimento e utilização do
oxigénio e dos substratos metabólicos, independentemente do evento precipitante.

Causas e consequências
Os mecanismos pelos quais a anoxia é produzida são diversos e complexos. Comprometem
uma cascada de alterações dependentes do tempo nas funções, metabolismos e morfologias
neuronais (Haddad & Jiang, 1993). Os danos da hipoxia nos neurónios centrais são produzidos
agudamente pela libertação de neurotransmissores excitatórios, que levam a um influxo de sódio,
inchaço das células e lesão das células (Rothman & Olney, 1986). Danos a longo prazo estão
relacionados não só com um aumento da excitabilidade neuronal (Choi, 1990 cit in Caine &
Watson, 2000) que resultam num influxo de cálcio (Haddad & Jiang, 1993) como à formação de
radicais livres de oxigénio. Estas últimas são moléculas instáveis que devido à sua configuração,
que envolve um número ímpar de eletrões, são extremamente reativos e passíveis de transformar
muitas moléculas, causando assim, lesões celulares (Haddad & Jiang, 1993).

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Algumas das causas da anoxia cerebral, verificadas no estudo de Wilson, em 1996, foram, o
monóxido de carbono, a paragem cardíaca, o acidente anestésico, o afogamento, o enforcamento e
a paragem respiratória após uma embolia pulmonar.
Por várias décadas a anoxia cerebral tem sido identificada principalmente como uma das
causas significativas da síndrome mnésica isolada (Medalia, Merriam, & Ehrenreich, 1991). As
sequelas neuropsicológicas de uma lesão hipoxia-isquémica que têm sido reportadas, referem
abranger perturbações da memória, incluindo síndrome mnésica, défices executivos variados,
mudanças na personalidade e no comportamento, défices visoespaciais e danos na linguagem
expressiva. Graves défices cognitivos e perturbações da memória isolados são as sequelas
neuropsicológicas mais comumente reportadas (Peskine, Rosso, Picq, Caron, & Pradat-Diehl,
2010). Outros défices que também podem ser identificados referem-se a agnosia apercetiva (Farah,
1990 cit in Wilson, 1996), défices visuais (Barat, et al., 1989 cit in Wilson, 1996), e défices
cognitivos variados (Parkin, Miller & Vincent, 1987).

Verificou-se, também, que a anoxia causa distúrbios executivos (Tiainen et al., 2007) e
supostamente, vulnerabilidades nos gânglios basais (Vendrame & Azizi, 2007). O estudo de Caine
e Watson (2000) demonstrou que o córtex cerebral de bacias hidrográficas e os gânglios basais
foram mais frequentemente danificados que o hipocampo.

Como já referido, a memória e as funções executivas podem sofrer alterações depois de uma
anoxia cerebral. Por isso torna-se necessário intervir nestas duas áreas em pacientes que sofreram
anoxia cerebral, e é importante perceber de que forma é que se poderá dar a intervenção. Posto
isto, esta segunda parte do trabalho ira incidir sobres estas duas funções cerebrais e sobre as formas
encontradas na literatura que permitem realizar uma reabilitação neuropsicológica.

Memória
Tendo em conta o tempo, a memória pode ser classificada como memória de curto prazo e
memória de longo prazo. A primeira refere-se à memória que armazena uma determinada
quantidade de informação por um pequeno período de tempo, a segunda, refere-se à memória que
armazena informação por grandes períodos de tempo, desde minutos a anos (Prusokowski, Rinaldi,
Frison, & Oliveira, 2012).

Também pode ser classificada em declarativa ou explícita, e não declarativa ou implícita. A


primeira diz respeito ao conhecimento que pode ser explicado, ou verbalmente relatado, e pode
ainda dividir-se em episódica (determinado evento) e semântica (conhecimento sobre o mundo que
nos rodeia). A segunda requere outros tipos de aprendizagem, e diz respeito ao desenvolvimento

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de outras habilidades, como por exemplo, andar de bicicleta ou ler e escrever (Oliveira & Bueno,
1993).

Após lesões cerebrais adquiridas os défices mnemônicos são os mais frequentes das sequelas
(Noreña et al., 2010). Assim, para que sejam aplicadas as melhores e as estratégias mais adequadas
é necessário que o neuropsicólogo tenha um conhecimento acerca dos sistemas de memória e que
os consiga classificar.

As perturbações da memória em pacientes que sofreram anoxia têm captado a atenção dos
investigadores (Medalia, Merriam, & Ehrenreich, 1991) e foram explicados por uma suposta
vulnerabilidade seletiva do hipocampo à anoxia (Peskine, Rosso, Picq, Caron & Pradat-Diehl,
2010). A anoxia severa pode resultar em morte das células neuronais, resultando numa
generalização (Hopkins, Waldram & Kesner, 2004) e/ou atrofia focada (Di Paola et al., 2008), com
a atrofia a ocorrer frequentemente no hipocampo. Uma redução de 40% do volume do hipocampo
reflete uma perda total dos neurónios piramidais do hipocampo e está associada com profundos
prejuízos da memória (Gold & Squire, 2005).
Danos no hipocampo resultam em prejuízos na memória declarativa (Bayley, Hopkins &
Squire, 2006). Apesar de poderem ocorrer prejuízos profundos da memória depois de uma lesão
cerebral provocada por anoxia (Manns, Hopkins & Squire, 2003), funções cognitivas como a
inteligência e a atenção permanecem intactas (Goodrich-Hunsaker & Hopkins, 2010).

Reabilitação Neuropsicológica da Memória


É importante salientar que existem várias formas de estimular o funcionamento da memória,
como por exemplo, na aprendizagem de uma sequencia de palavras podemos utilizar o método de
categorização semântica ou o método de categorização fonémica, de acordo com aquilo que
beneficiar mais o paciente (Ávila & Miotto, 2002), como por exemplo, perguntar se um gato é um
animal que vive no jardim zoológico, ou fazer com que a pessoa faça uma rima a uma determinada
palavra dada (Freire et al., 2011). Num estudo de Unverzagt e colaboradores, em 2007, verificou-
se uma melhoria dos resultados significativa na memória depois da utilização do treino da memória
através de estratégicas de nomeação de listas de palavras e de pequenas histórias (exemplo,
organização, visualização e associação).

Para Wilson (2011 cit in Prusokowski, Rinaldi, Frison, & Oliveira, 2012) existem duas
formas de reabilitação neuropsicológica da memória que se destacam, a recuperação espontânea
parcial e as estratégias de reabilitação cognitivas através de técnicas de substituição ou de
compensação das funções comprometidas.

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A fim de se reabilitar a memória é necessário, em primeiro lugar, verificar se o paciente ainda


mantém atenção suficiente num determinado estimulo ou tarefa dada. De seguida é também
importante verificar se o paciente consegue decifrar o estimulo dado, se conhece a palavra ou
objeto (estimulo verbal ou visual) ou se consegue categorizá-los num determinado grupo semântico
(Freire et al., 2011).
Um dos métodos mais utilizados na reabilitação da memória é o trabalho com as áreas
especificas da memória que não estão danificadas para que consigam compensar as áreas que estão
danificadas (Golstein & Beers, 1998 cit in Ávila e Miotto, 2002). Outros métodos que também são
utilizados trabalham as capacidades que ainda estão funcionais dentro de uma área da memória que
se encontra danificada. Independentemente do défice cognitivo apresentado pelo sujeito, há sempre
conservação de algumas capacidades funcionais (Wilson, 1996 cit in Ávila e Miotto, 2002).

O método do Treino Comportamental baseia-se no método de Análise do Comportamento


Aplicada, que por sua vez tem as suas bases no comportamentalismo, que envolve observação,
análise e explicação da associação entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem
(Skinner, 1988). Depois do comportamento ser analisado, um plano de ação pode ser
implementado para modificar um comportamento, o plano de ação é baseado no condicionamento
operante, que defende que um comportamento seguido de um estimulo reforçador resulta num
aumento da probabilidade desse comportamento voltar a acontecer no futuro (Lear, 2004 cit. in
Freire, et al., 2011).

Este treino envolve uma lista de estratégias que podem ser treinadas em casa, como o
relembrar-se, ao final do dia, de eventos que ocorreram ao longo do dia, ou no dia seguinte de
manhã; depois de se relembrar desses eventos deve escrevê-los num caderno, sempre que possível;
receber nova informação, isto é, ler um pequeno texto informativo, como um artigo de jornal, ou
receber uma síntese de notícias sobre algum evento ou sobre a família; planear as atividades da
manhã seguinte, ou o próximo dia ou semana, sempre que possível; falar sobre eventos passados
que foram esquecidos ou que não estão bem contextualizados após a lesão; seguir não só as
atividades programadas para o dia como as atividades da vida diária, com atividades que envolvam
a atenção, a memória, a linguagem e as funções executivas; e ter uma abordagem medicamentosa
adequada (Freire et al, 2011).

Em suma, existem alguns métodos e técnicas que podem ajudar no processo de reabilitação
neuropsicológica da memória em indivíduos que sofreram anoxia, e que podem ser também
utilizadas em qualquer tipo de lesão cerebral, adequando-se sempre a técnica ao sujeito.

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Funções Executivas
As funções executivas consistem nos processos cognitivos responsáveis pela capacidade de
realizar um comportamento que seja orientado para um determinado objetivo e pela realização de
ações auto-organizadas e voluntárias (Burgess, Alderman, Evans, Emslie & Wilson, 1998). Por
outras palavras, as funções executivas são responsáveis pela identificação de objetivos, realização
e gestão de ações que tenham uma finalidade (Prusokowski, Rinaldi, Frison & Oliveira, 2012). E
são necessárias para que haja um comportamento independente, dirigido e propositado, e incluem
processos de iniciação, planeamento, ação intencional, volição, inibição, flexibilidade bem como
automonitorização e autorregulação (Stuss, 2011). Estas funções estão bastante relacionadas com
as atividades do lobo frontal, fazendo, algumas, parte das mesmas, como é o caso da tomada de
decisão, da resolução de problemas, entre outras (Evans, 2008 cit in Prusokowski, Rinaldi, Frison,
& Oliveira, 2012).
De acordo com Miyake e colaboradores (2000), pode dizer-se que as funções executivas são
constituídas por três principais habilidades, sendo elas a inibição, a memória de trabalho e a
flexibilidade cognitiva. Através da integração destas principais habilidades, surgem outras
habilidades, tais como, o planeamento, a resolução de problemas e de raciocínio, a tomada de
decisão, que podem ser consideradas como funções executivas complexas (Diamond, 2013).

A inibição diz respeito à capacidade que o indivíduo tem de controlar os seus


comportamentos inapropriados, que é denominado como inibição de resposta ou autocontrolo. Esta
função executiva complexa está envolvida no controlo dos processos atencionais e de pensamentos,
uma vez que permite a inibição da atenção para estímulos que não sejam relevantes – atenção
seletiva, e pode chamar-se de controlo de interferência. Esta função é bastante importante no dia a
dia pois permite que o sujeito controle os seus processos cognitivos, comportamentais e
emocionais. Assim, é possível ao individuo, a capacidade de inibição dos impulsos, dos
comportamentos desadequados, das respostas automáticas, e de estímulos insignificantes, para que
consiga avaliar e pensar antes de realizar uma resposta ao meio (Diamond, 2013).
Relativamente à memória de trabalho, esta pode ser definida como a capacidade de manter a
informação no pensamento por um determinado tempo, e à de manusear essa informação
mentalmente. Esta função permite que o sujeito consiga relacionar ideias, fazer uma integração das
novas informações com outras que já estavam armazenadas na memória de longo prazo e relembrar
sequências ou como é que determinado acontecimento se sucedeu. Ou seja, é uma habilidade que
se relaciona com a memória sequencial, e com a capacidade de projetar sequencias de ações a
realizar no futuro, algo que se torna muito importante na organização e no planeamento de
comportamentos mais complexos (Diamond, 2013).

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A ultima habilidade referida por Diamond (2013) é a flexibilidade cognitiva que se refere à
capacidade que o individuo tem de se adaptar às necessidades do ambiente e de adequar o seu
comportamento a novas normas. Esta habilidade necessita da capacidade de mudança do foco da
atenção e da perspetiva, e tem sido associada à criatividade. Deste modo, esta habilidade permite
que o sujeito resolva um determinado problema através de uma nova perspetiva e assim consiga
obter um novo leque de alternativas, sem que fique preso a padrões comportamentais estabelecidos
previamente (Diamond, 2013).
Disfunção executiva é comum após uma lesão cerebral (Novakovic-Agopian et al., 2011), e
pode interromper a habilidade de usar eficazmente as funções intactas ou estratégias
compensatórias, enfraquecer a autogestão eficiente (Lewis, Babbage & Leathem, 2011), dificultar
o processo de reabilitação (Robertson & Murre, 1999), e está também associada a resultados,
psicossociais e vocacionais, a longo prazo, negativos (Draper & Ponsford, 2008). Deste modo,
técnicas que permitam reduzir a disfunção executiva podem ter um impacto significativo nos
resultados funcionais (Manly & Murphy, 2012).
Alguns dos sintomas de comprometimento das funções executivas comuns são a falta de
insight, a apatia, a dificuldade de planeamento, a dificuldade de tomada de decisão, e a
despreocupação com as normas sociais (Hamdan & Pereira, n.d.).

Reabilitação Neuropsicológica das Funções Executivas


A reabilitação neuropsicológica das funções executivas deve promover uma organização das
ações face a um dado objetivo, o uso da estratégia mais adequada, a antecipação pelo individuo
das consequências de uma dada ação, o controlo de uma ação que foi executada, inibição de
respostas desadequadas, adequar a ação tendo em conta os erros que foram cometidos, e encontrar
uma alternativa (Majolino, 2000 cit in Santos, 2004).
As técnicas utilizadas na reabilitação neuropsicológica das funções executivas podem-se
agrupar em técnicas de restauração, de reorganização e de compensação comportamental (Evans,
2008 cit in Prusokowski, Rinaldi, Frison, & Oliveira, 2012). Uma das técnicas de restauração
usadas é o treino de resolução de problemas uma vez que através de um exercício prático o sujeito
aprende como analisar problemas, estruturar e elaborar soluções, e avaliar resultados de forma mais
adequada. No que diz respeito às técnicas de reorganização, mais concretamente, estratégias
internas, o sujeito aprende de forma gradual rotinas mentais utilizando a internalização e
automatização de uma lista externa. As técnicas de compensação comportamental são aquelas que
ajudam o sujeito a organizar as suas atividades, podendo recorrer a agendas, alarmes ou diários
(Ostrosky-Solis & Gutiérrez, 2006; Sohlber & Mateer, 2009 cit in Prusokowski, Rinaldi, Frison,
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Uma abordagem proposta por Diamond e Lee (2011) afirma que as artes marciais e as
práticas de contemplação mental – mindfulness – podem ser utilizadas como forma de intervenção
nas funções executivas, uma vez que as artes marciais desenvolvem o autocontrolo e a disciplina,
e por isso ajuda a desenvolver um controlo top-down da atenção.

A utilização do Goal Management Training (GMT) em pacientes com lesões cerebrais


adquiridas, foi associada a uma melhoria da performance em tarefas de papel e lápis que
correspondem a situações que costumam ser problemáticas para estes pacientes. As fases deste
treino incluíam definições verbais de processos de gestão de objetivos, exemplos concretos de falha
nestes processos, e atividades ilustrativas (Levine et al., 2000).
Rath, Simon, Langenbahn, Sherr e Diller (2003) avaliaram a eficácia de um tratamento
inovador focado no tratamento de défices de resolução de problemas, dividindo os seus
participantes em dois grupos. O primeiro grupo recebeu o tratamento convencional que consistia
em exercícios de grupo com o intuito de melhorar as capacidades cognitivas e suporte para lidarem
com as reações emocionais e mudanças após a lesão. O segundo grupo recebeu a intervenção de
resolução de problemas que se focava no desenvolvimento de estratégias de autorregulação
emocional, como a base de manutenção de uma orientação para o problema eficaz, juntamente com
uma componente de “pensamento claro” que incluía treino cognitivo-comportamental das
capacidades de resolução de problemas, um processo sistemático para analisar problemas da vida
real, e um role-play de exemplos de problemas da vida real. O que se verificou foi que apenas o
grupo que recebeu o treino para resolução de problemas beneficiou de efeitos no funcionamento
executivo.

De acordo com Marlowe (2000) através do uso do modelo que utiliza sucessivas
aproximações para ensinar o “pensamento executivo”, o sujeito pode conseguir gerar e responder
a questões usando estratégias de pensamento adaptativo. Esta abordagem divide a tarefa em fases
de resolução de problemas, incluindo assim, a identificação do objetivo a ser cumprido, a
identificação das estratégias possíveis para cumprir o objetivo, a formulação de um plano de ação
com as melhores estratégias para atingir o objetivo, o desenvolvimento de uma sequência de modo
a cumprir o plano, a identificação dos respetivos materiais necessários, a iniciação da tarefa, a
monitorização do processo e modificação da abordagem, se necessário, e a conclusão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de reabilitação neuropsicológica está assente em vários processos, tais como a


plasticidade cerebral e a neurogénese. Posto isto destaca-se a importância de se fazer uma avaliação

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neuropsicológica detalhada antes de todos os programas de reabilitação para que este possa ser
adequado aos défices apresentados por cada individuo, já que o mesmo tipo de lesão pode provocar
diferentes sequelas.
A anoxia cerebral caracteriza-se por uma interrupção de transmissão de oxigénio para as
células do sistema nervoso central, o que em muitos casos provoca a sua morte por completo, e
noutros apenas provoca uma perda de funcionalidade. Esta temática tem como consequências
alguns défices cognitivos, nomeadamente na linguagem, na personalidade, no comportamento, e
mais comumente, na memória e nas funções executivas.

Relativamente à memória podemos dizer que pode adotar diferentes nomenclaturas


dependendo do critério que estivermos a utilizar, mas de modo geral, caracteriza-se pela
capacidade de armazenamento de novas informações, e a capacidade de relembrar informações
que já foram adquiridas previamente. Uma vez que um défice na memória tem graves
consequências no dia a dia das pessoas, torna-se importante, sempre que seja possível, reabilitá-la.
Existem algumas formas que ajudam a reabilitar a memória, ou seja, a deixá-la mais funcional, tais
como, utilização de diferentes métodos de categorização das palavras, o método de treino
comportamental, entre outros.
No que diz respeito às funções executivas elas podem ser definidas como a capacidade de se
realizar um comportamento com uma determinada funcionalidade, envolvendo assim vários
processos, como o planeamento, a iniciação, a tomada de decisão, a resolução de problemas, bem
como outros que já foram referidos. Todos estes processos são utilizados no nosso dia a dia por
isso torna-se importante que estejam no seu melhor funcionamento. Em casos de lesões cerebrais,
as funções executivas podem ser afetadas e por isso tem que haver todo um trabalho para que elas
consigam ficar o mais funcionais possível. Assim, relativamente a técnicas de reabilitação
neuropsicológica nesta área, evidencia-se a utilização de programas que promovam a resolução de
problemas, o pensamento executivo e o estabelecimento de objetivos.

Em suma, o processo de reabilitação neuropsicológica é bastante importante em situações de


lesões cerebrais, e quanto mais cedo se iniciar mais favorável serão os resultados. Praticamente
todas as lesões cerebrais, e neste caso a anoxia, tem sequelas que podem causar algum
disfuncionamento no individuo. Este disfuncionamento pode em muitos casos ser alterado, se
realmente existir um programa de reabilitação neuropsicológica que seja adequado para os défices
apresentados e que tenha em consideração quais os défices que poderão ser recuperados totalmente
ou parcialmente, e aqueles que não poderão ser recuperados uma vez que a lesão foi demasiado
grave. Nestes casos torna-se importante trabalhar com as outras áreas funcionais do individuo para
que ele tenha o melhor funcionamento possível.

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