ARTIGO Neurociencias

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FACULDADE IGUAÇU – FI

VALDIR APARECIDO VIANA

NEUROCIÊNCIAS E OS PROCESSOS COGNITIVOS

RIO DO PIRES – BA
2024
FACULDADE IGUAÇU – FI

VALDIR APARECIDO VIANA

NEUROCIÊNCIAS E OS PROCESSOS COGNITIVOS

Artigo Científico apresentado à Faculdade


Iguaçu como parte das exigências para
obtenção do título de Pós-Graduação em
Neuroriências.

RIO DO PIRES – BA
2024
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NEUROCIÊNCIAS E OS PROCESSOS COGNITIVOS

Valdir Aparecido Viana

RESUMO

O artigo explora a interseção entre a neurociência e os processos cognitivos,


abordando como a compreensão do funcionamento do cérebro pode ajudar a explicar
e aprimorar nossas capacidades mentais. Inicialmente, o artigo contextualiza a
importância dos processos cognitivos na vida cotidiana, destacando funções como
percepção, memória, linguagem, raciocínio, tomada de decisão e controle motor. Em
seguida, discute-se a abordagem da neurociência para estudar esses processos,
enfatizando técnicas como ressonância magnética funcional (fMRI),
eletroencefalografia (EEG) e estimulação magnética transcraniana (TMS). O texto
explora como essas técnicas permitem aos pesquisadores mapear a atividade
cerebral associada a diferentes processos cognitivos e identificar padrões de
conectividade entre regiões cerebrais. Além disso, discute-se a plasticidade cerebral
e como o cérebro pode se reorganizar em resposta a estímulos ambientais e
experiências. Outro ponto abordado é a relação entre as descobertas da neurociência
e a aplicação prática em campos como a educação, a saúde mental e a
neuroreabilitação. Por exemplo, o conhecimento sobre plasticidade cerebral pode
informar estratégias de ensino mais eficazes e intervenções para distúrbios
neurológicos. O artigo conclui ressaltando a importância contínua da pesquisa
interdisciplinar entre neurociência e ciências cognitivas para avançar nosso
entendimento dos processos mentais e melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Palavras-chave: Neurociências. Processos Cognitivos. Plasticidade Celebral.


Intervenções.

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, os avanços nas neurociências têm revolucionado nossa


compreensão dos processos cognitivos, abrindo novas perspectivas sobre como o
cérebro humano percebe, processa e responde ao mundo ao nosso redor. A
interseção entre a neurociência e os processos cognitivos tem sido um campo de
intensa pesquisa, alimentado pela crescente disponibilidade de tecnologias de
imagem cerebral e métodos de análise avançados. Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2016),
a aprendizagem consiste em um processo de aquisição, conservação e evocação do
conhecimento, e ocorre a partir de modificações do Sistema Nervoso Central, mais ou
menos pertinentes, quando o indivíduo é submetido a estímulos ou experiências que
se traduzem por modificações cerebrais.
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Os processos cognitivos, que abrangem uma gama complexa de funções


mentais, incluindo percepção, memória, linguagem, raciocínio, tomada de decisão e
controle motor, são essenciais para nossa vida cotidiana. Desde as tarefas simples
até os desafios mais complexos, nossa capacidade de pensar, aprender e interagir
com o mundo depende desses processos. Liberato e Silva (2015) afirmam que a
Neurociência é uma das disciplinas mais dinâmicas e revolucionárias das primeiras
décadas do século XXI. Novas informações, conceitos e tecnologias sobre ela surgem
vertiginosamente a cada dia.
A compreensão desses processos cognitivos há muito tempo intrigou filósofos,
psicólogos e cientistas. No entanto, é somente nas últimas décadas, com os avanços
tecnológicos e metodológicos na neurociência, que começamos a desvendar os
mistérios do cérebro humano de maneiras sem precedentes. De acordo com Guerra
(2015), as neurociências são ciências naturais que descobrem os princípios da
estrutura e do funcionamento neural, proporcionando a compreensão dos fenômenos
observado.
A aplicação de técnicas como ressonância magnética funcional (fMRI),
eletroencefalografia (EEG), tomografia por emissão de pósitrons (PET) e estimulação
magnética transcraniana (TMS) tem permitido aos pesquisadores mapear a atividade
cerebral com uma precisão sem precedentes. Essas ferramentas oferecem uma
janela única para o funcionamento interno do cérebro, revelando padrões de atividade
neural associados a diferentes estados mentais e processos cognitivos.
Além disso, a pesquisa em neurociência cognitiva tem demonstrado a incrível
plasticidade do cérebro humano - sua capacidade de se adaptar e reorganizar em
resposta a novas experiências, aprendizado e lesões. Essa plasticidade não apenas
nos permite nos adaptar a novos ambientes e desafios, mas também oferece
oportunidades emocionantes para intervenções terapêuticas e de reabilitação em
distúrbios neurológicos e lesões cerebrais. Conforme Rotta, Ohlweiller e Riesgo
(2016), a aprendizagem é um evento sináptico e, no seu transcurso, são produzidas
modificações celulares. Na aprendizagem, há uma etapa de aquisição e outra de
consolidação. A plasticidade cerebral atua na estrutura e no funcionamento do
cérebro, que também se modifica com as experiências e vivências dos indivíduos.
Neste artigo, exploraremos a interseção fascinante entre as neurociências e os
processos cognitivos, destacando as descobertas mais recentes e seu potencial
impacto em áreas como educação, saúde mental e neuroreabilitação. Ao
5

compreender melhor os mecanismos subjacentes aos processos cognitivos, podemos


não apenas ampliar nosso conhecimento do cérebro humano, mas também abrir
caminho para uma variedade de aplicações práticas que podem melhorar a qualidade
de vida das pessoas em todo o mundo.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 A INTERSEÇÃO ENTRE A NEUROCIÊNCIA E OS PROCESSOS COGNITIVOS

É um campo multidisciplinar que busca compreender como o cérebro humano


percebe, processa e responde às informações do ambiente, influenciando nossos
pensamentos, emoções e comportamentos. A Neurociência Cognitiva tem contribuído
para a clareza dos processos de aprendizagem e do debate acerca do
desenvolvimento cognitivo do ser humano, e tem progredido muito nos últimos anos
(KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2003).
A neurociência é o estudo do sistema nervoso, incluindo sua estrutura, função,
desenvolvimento, genética e patologia. Compreende-se por Neurociência Cognitiva a
ciência que busca entender como a função cerebral dá lugar às atividades mentais,
tais como a percepção, a memória e a linguagem, incluindo a consciência (SANTOS,
2018). Ela utiliza uma variedade de técnicas, desde imagens cerebrais até estudos
genéticos, para investigar como as células nervosas (neurônios) e suas conexões
(sinapses) funcionam em níveis moleculares, celulares, e de sistemas. Conforme
Cosenza e Guerra (2011), a maior parte do Sistema Nervoso é construída em suas
linhas gerais, ainda no período embrionário. A partir daí, desenvolve-se por toda a
vida.
Os processos cognitivos, por outro lado, referem-se às atividades mentais que
nos permitem adquirir, processar, armazenar e utilizar informações. Isso inclui
percepção, atenção, memória, linguagem, raciocínio, resolução de problemas e
tomada de decisões. Os processos cognitivos são fundamentais para a nossa
capacidade de interagir com o mundo ao nosso redor e desempenham um papel
central em nossa cognição e comportamento.
Explora como os padrões de atividade cerebral e a estrutura do cérebro se
relacionam com a percepção, o pensamento e o comportamento humano. Por
exemplo, a ressonância magnética funcional (fMRI) permite aos pesquisadores
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observar quais regiões do cérebro estão ativas durante tarefas cognitivas específicas,
como resolver problemas matemáticos ou processar informações emocionais.
Além disso, a neurociência cognitiva investiga como lesões cerebrais ou
distúrbios neurológicos podem afetar os processos cognitivos e como a plasticidade
cerebral pode facilitar a recuperação após danos cerebrais. Estudos nessa área
podem informar terapias e intervenções para melhorar a função cognitiva em pessoas
com lesões cerebrais ou distúrbios neurológicos.
Também é relevante para a compreensão de questões como o
desenvolvimento cognitivo ao longo da vida, os efeitos da aprendizagem e da
experiência na plasticidade cerebral, e as bases biológicas de transtornos mentais.
Essa compreensão pode ter importantes implicações para a melhoria da saúde
mental, o desenvolvimento de intervenções educacionais mais eficazes e o tratamento
de distúrbios neurológicos e psiquiátricos.

2.2 A IMPORTÂNCIA DOS PROCESSOS COGNITIVOS NA VIDA COTIDIANA

Os processos cognitivos desempenham um papel fundamental em todas as


facetas da vida cotidiana, permitindo-nos interagir com o mundo ao nosso redor, tomar
decisões, resolver problemas e nos comunicar efetivamente. Aqui está a importância
de algumas funções cognitivas específicas:
Percepção: A percepção nos permite interpretar e entender os estímulos
sensoriais que recebemos do ambiente, como luz, som, cheiro, tato e gosto. Ela nos
ajuda a identificar objetos, reconhecer rostos, interpretar emoções e navegar pelo
mundo ao nosso redor.
Memória: A memória é essencial para o aprendizado e a retenção de
informações ao longo do tempo. Ela nos permite lembrar de eventos passados,
experiências pessoais, conhecimentos acadêmicos e habilidades práticas. A memória
também desempenha um papel crucial na formação da identidade e na construção de
relações interpessoais.
Linguagem: A linguagem é a principal forma de comunicação entre os seres
humanos e nos permite expressar pensamentos, emoções, desejos e necessidades.
Ela também facilita a transmissão de conhecimento, cultura e tradições ao longo das
gerações.
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Raciocínio: O raciocínio envolve a capacidade de analisar informações, fazer


conexões, identificar padrões e chegar a conclusões lógicas. Ele nos ajuda a resolver
problemas complexos, tomar decisões racionais e avaliar argumentos de forma crítica.
Tomada de decisão: A tomada de decisão envolve a avaliação de diferentes
opções, considerando seus prós e contras, e escolhendo a melhor alternativa com
base em nossos objetivos e valores. Ela influencia todas as áreas da vida, desde
escolhas cotidianas até decisões importantes relacionadas à carreira,
relacionamentos e saúde.
Controle motor: O controle motor refere-se à coordenação dos movimentos do
corpo, desde atividades simples, como pegar um objeto, até habilidades complexas,
como tocar um instrumento musical ou praticar esportes. Ele é essencial para a
realização de tarefas físicas e a interação eficaz com o ambiente.
Os processos cognitivos são essenciais para nossa capacidade de pensar,
aprender, se adaptar e se comportar de maneira adequada em diferentes situações.
Eles são a base de nossa cognição e influenciam todos os aspectos de nossa vida
diária, desde as interações sociais até as atividades profissionais e o desenvolvimento
pessoal. A compreensão desses processos é crucial para promover o bem-estar
individual e o funcionamento eficaz da sociedade como um todo.

2.3 A ABORDAGEM DA NEUROCIÊNCIA PARA ESTUDAR OS PROCESSOS


COGNITIVOS

A neurociência emprega uma variedade de técnicas avançadas para estudar


os processos cognitivos e o funcionamento do cérebro humano. Entre as técnicas
mais importantes e amplamente utilizadas estão a ressonância magnética funcional
(fMRI), a eletroencefalografia (EEG) e a estimulação magnética transcraniana (TMS).
Ressonância Magnética Funcional (fMRI):
A fMRI é uma técnica de imagem cerebral que permite aos pesquisadores
mapear a atividade cerebral associada a diferentes estados mentais e processos
cognitivos.
Ela mede mudanças no fluxo sanguíneo cerebral, que estão correlacionadas
com a atividade neural.
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A fMRI é não invasiva e fornece uma resolução espacial relativamente alta,


permitindo a visualização das regiões cerebrais envolvidas em tarefas cognitivas
específicas.
Eletroencefalografia (EEG):
O EEG registra a atividade elétrica do cérebro por meio de eletrodos colocados
no couro cabeludo.
É uma técnica amplamente utilizada devido à sua alta resolução temporal,
permitindo a detecção de mudanças na atividade cerebral em milissegundos.
O EEG é frequentemente utilizado em estudos de percepção, atenção,
linguagem, memória e sono, entre outros processos cognitivos.
Estimulação Magnética Transcraniana (TMS):
A TMS é uma técnica não invasiva que utiliza campos magnéticos para induzir
correntes elétricas no cérebro.
Pode ser usada para estimular ou inibir áreas específicas do cérebro,
permitindo aos pesquisadores investigar o papel de regiões cerebrais específicas em
processos cognitivos.
A TMS é frequentemente empregada em estudos sobre aprendizado, memória,
controle motor e funções executivas.
Além dessas técnicas, a neurociência também se beneficia de outras
abordagens, como a tomografia por emissão de pósitrons (PET), a
magnetoencefalografia (MEG) e a neuroimagem por ressonância magnética estrutural
(sMRI), cada uma com suas próprias vantagens e aplicações específicas.
Em conjunto, essas técnicas fornecem aos pesquisadores insights valiosos
sobre a relação entre a atividade cerebral e os processos cognitivos, permitindo uma
compreensão mais profunda do funcionamento do cérebro humano e das bases
biológicas da mente. Esses avanços têm implicações significativas não apenas para
a pesquisa científica, mas também para o diagnóstico e tratamento de distúrbios
neurológicos e psiquiátricos, bem como para o desenvolvimento de intervenções
educacionais e terapêuticas mais eficazes.

2.4 A PLASTICIDADE CEREBRAL NOS PROCESSOS COGNITIVOS


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A plasticidade cerebral desempenha um papel fundamental nos processos


cognitivos, permitindo que o cérebro se adapte, aprenda e se desenvolva ao longo da
vida.

A recuperação cerebral pode ocorrer gradativamente, entretanto os ganhos


funcionais podem continuar por anos após a lesão. O grau de recuperação
depende de diversos fatores, entre eles incluem: idade, área comprometida
do cérebro, quantidade de tecido nervoso afetado, mecanismos de
reorganização cerebral, assim como fatores ambientais e psicossocial
(AGUILARREBOLLEDO, 1998, p. 514).

A plasticidade cerebral pode, em lugar de ser entendida com ênfase no cérebro,


ser definida como a capacidade adaptativa do SNC, “permitindo modificações na sua
própria organização estrutural e funcional” (ODA; SANT’ANA; CARVALHO, 2002, p.
173).
Aqui estão algumas maneiras pelas quais a plasticidade cerebral influencia os
processos cognitivos:
Aprendizado e Memória: A plasticidade sináptica é essencial para o
aprendizado e a formação de memórias. A plasticidade sináptica a longo prazo é o
conjunto de mudanças na eficácia sináptica que permanecem por mais de meia hora;
a plasticidade sináptica a curto prazo, as que duram menos. Os mecanismos
responsáveis pela expressão dessa plasticidade localizamse pré-sináptica e pós-
sinapticamente (COLINO; MUÑOZ; VARA, 2002).
Quando aprendemos algo novo, as sinapses entre os neurônios se fortalecem
ou se enfraquecem, o que facilita a transmissão de sinais neurais associados àquela
informação específica. Essas mudanças na força das sinapses formam a base para a
consolidação da memória e a retenção de informações ao longo do tempo.

Plasticidade sináptica pode ser definida como sendo as mudanças que


ocorrem nas conexões interneuronais como plasticidade da expressão de
moléculas neuroativas que levam a um aumento ou redução de síntese de
diferentes neurotransmissores, desse modo o termo plasticidade é usado em
tantas situações que ocorrem o risco de perda do seu significado original e o
valor que tem para descrever alguns processos típicos e característicos do
sistema nervoso (VILLAR et. al., 19987 apud ODA; SANT’ANA; CARVALHO,
2002, p. 174).

Desenvolvimento Cognitivo: Durante a infância e a adolescência, o cérebro


passa por um período de rápida maturação e desenvolvimento, durante o qual a
plasticidade cerebral é especialmente alta. As experiências vivenciadas durante esses
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períodos críticos podem moldar a estrutura e a função do cérebro, influenciando o


desenvolvimento de habilidades cognitivas, como linguagem, raciocínio e controle
motor.
Recuperação após Lesões Cerebrais: Após lesões cerebrais, como acidente
vascular cerebral (AVC) ou traumatismo craniano, a plasticidade cerebral permite que
o cérebro se reorganize e compense as áreas danificadas. Regiões intactas podem
assumir funções perdidas e novas conexões neurais podem ser formadas para facilitar
a recuperação funcional.
Adaptação a Mudanças Ambientais: A plasticidade cerebral permite que o
cérebro se adapte a mudanças ambientais, como alterações na exposição sensorial
ou demandas cognitivas. Por exemplo, músicos profissionais têm áreas do cérebro
mais desenvolvidas relacionadas à percepção e produção musical, enquanto pessoas
bilíngues podem exibir adaptações cerebrais para acomodar duas línguas.
Reabilitação Cognitiva: Em casos de lesão cerebral ou distúrbios
neurodegenerativos, a plasticidade cerebral pode ser aproveitada para promover a
recuperação funcional por meio da terapia cognitiva e da reabilitação. Estratégias de
estimulação cerebral, como exercícios cognitivos e técnicas de estimulação magnética
transcraniana (TMS), podem ajudar a reforçar as conexões neurais e restaurar as
funções cognitivas comprometidas.
A plasticidade cerebral é uma propriedade fundamental do sistema nervoso que
sustenta os processos cognitivos ao longo da vida. A capacidade do cérebro de se
adaptar a novas informações, experiências e desafios é essencial para o aprendizado,
a memória, a recuperação após lesões e a adaptação a mudanças ambientais. O
entendimento e a promoção da plasticidade cerebral têm importantes implicações
para a educação, a terapia cognitiva e a prevenção e tratamento de distúrbios
neurológicos.

2.5 A RELAÇÃO ENTRE AS DESCOBERTAS DA NEUROCIÊNCIA E A


APLICAÇÃO PRÁTICA EM CAMPOS DA EDUCAÇÃO.

A relação entre as descobertas da neurociência e sua aplicação prática na


educação tem sido uma área de crescente interesse e pesquisa. As descobertas da
neurociência estão sendo valiosos sobre como o cérebro humano aprende e retém
informações, informando práticas educacionais mais eficazes e personalizadas.
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Memória é a aquisição, a formação, a conservação e a evocação de


informação. A aquisição é também chamada de aprendizagem: só se 'grava'
aquilo que foi aprendido. A evocação é também chamada de recordação,
lembrança, recuperação. Só lembramos aquilo que gravamos, aquilo que foi
aprendido (Izquierdo, 2002, p. 9).

Lent preconiza que "percepção é a capacidade de associar as informações sensoriais


à memória e à cognição, de modo a formar conceitos sobre o mundo, sobre nós
mesmos e orientar nosso comportamento" (Lent, 2001, p. 557).
A neurociência tem fornecido informações sobre os mecanismos neurais
subjacentes ao aprendizado, incluindo a plasticidade cerebral, a consolidação da
memória e a atenção. Compreender como o cérebro processa e armazena
informações ajuda os educadores a projetar métodos de ensino que maximizem a
eficácia do aprendizado.

A aprendizagem, portanto, é o processo em virtude do qual se associam


coisas ou eventos no mundo, graças à qual adquirimos novos conhecimentos.
Denominamos memória o processo pelo qual conservamos esses
conhecimentos ao longo do tempo. Os processos de aprendizagem e
memória modificam o cérebro e a conduta do ser vivo que os experimenta
(Mora, 2004, p. 94).

Baseando-se em descobertas neurocientíficas, os educadores podem


desenvolver estratégias de ensino que se alinhem melhor com os processos
cognitivos dos alunos. Isso pode incluir métodos de ensino ativos, ensino baseado em
problemas, aprendizado cooperativo e uso de tecnologia educacional.
A compreensão das diferenças individuais no funcionamento cerebral permite
uma abordagem mais personalizada ao ensino. Os educadores podem adaptar seus
métodos de ensino de acordo com as necessidades, estilos de aprendizagem e
habilidades cognitivas de cada aluno, facilitando o engajamento e o sucesso
acadêmico.
A neurociência também destaca a importância de ambientes de aprendizagem
que promovam a motivação, o engajamento e a emoção positiva. Elementos como
relevância, desafio, feedback construtivo e conexão emocional podem influenciar
positivamente a eficácia do aprendizado.
As descobertas da neurociência podem informar a identificação precoce e a
intervenção em dificuldades de aprendizagem, permitindo que educadores e
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profissionais de saúde desenvolvam planos de suporte individualizados que abordem


as necessidades específicas do aluno.
A tecnologia educacional, incluindo jogos educacionais, simulações virtuais e
ambientes de aprendizagem online, pode ser projetada com base em princípios
neurocientíficos para otimizar o engajamento do aluno, a retenção de informações e
a transferência de habilidades para contextos do mundo real.
A relação entre a neurociência e a educação oferece um potencial significativo
para melhorar os resultados de aprendizagem e promover o desenvolvimento
acadêmico e cognitivo dos alunos. Ao integrar as descobertas da neurociência com
práticas educacionais baseadas em evidências, os educadores podem criar
ambientes de aprendizagem mais eficazes e inclusivos que atendam às necessidades
únicas de cada aluno.

2.6 A IMPORTÂNCIA CONTÍNUA DA PESQUISA INTERDISCIPLINAR ENTRE


NEUROCIÊNCIA E CIÊNCIAS COGNITIVAS

A pesquisa interdisciplinar entre neurociência e ciências cognitivas


desempenha um papel crucial na expansão do nosso entendimento dos processos
mentais e na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Aqui estão algumas razões
para a importância contínua dessa abordagem:
Integração de Perspectivas Complementares: A neurociência e as ciências
cognitivas oferecem perspectivas complementares sobre o funcionamento da mente
humana. Enquanto a neurociência investiga as bases biológicas dos processos
mentais, como o funcionamento do cérebro e as conexões neurais, as ciências
cognitivas se concentram nos processos mentais subjacentes, como percepção,
memória, linguagem e raciocínio. A integração dessas perspectivas permite uma
compreensão mais abrangente e holística da mente humana.
Aplicação de Métodos Combinados: A pesquisa interdisciplinar permite a
aplicação de uma variedade de métodos e técnicas de pesquisa, incluindo
neuroimagem, psicologia experimental, modelagem computacional e estudos clínicos.
Essa abordagem multidisciplinar permite aos pesquisadores explorar questões
complexas sob diferentes ângulos, obtendo uma compreensão mais profunda dos
processos mentais.
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Avanço da Neurotecnologia e Intervenções Cognitivas: A colaboração entre


neurociência e ciências cognitivas tem impulsionado o desenvolvimento de
neurotecnologias e intervenções cognitivas inovadoras. Isso inclui o uso de
estimulação cerebral não invasiva, realidade virtual, biofeedback e outras técnicas
para melhorar o funcionamento cognitivo, tratar distúrbios neurológicos e promover a
neuroreabilitação.
Compreensão de Distúrbios Mentais e Neurodegenerativos: A pesquisa
interdisciplinar contribui para uma compreensão mais profunda dos distúrbios mentais
e neurodegenerativos, como depressão, esquizofrenia, transtorno do espectro autista,
doença de Alzheimer e doença de Parkinson. Ao identificar os substratos neurais e os
mecanismos subjacentes a essas condições, os pesquisadores podem desenvolver
estratégias de diagnóstico precoce, tratamento e prevenção mais eficazes.
Melhoria da Qualidade de Vida: Por meio da pesquisa interdisciplinar, novos
insights sobre os processos mentais e o funcionamento do cérebro têm o potencial de
melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas. Isso inclui a otimização
do aprendizado e do desempenho cognitivo, o desenvolvimento de intervenções para
promover o envelhecimento saudável do cérebro e o tratamento de distúrbios
neurológicos e psiquiátricos que afetam milhões de pessoas em todo o mundo.
A pesquisa interdisciplinar entre neurociência e ciências cognitivas é essencial
para avançar nosso entendimento dos processos mentais, desenvolver intervenções
eficazes e melhorar a qualidade de vida das pessoas em todas as fases da vida. Ao
integrar abordagens e perspectivas complementares, os pesquisadores podem fazer
descobertas inovadoras que têm o potencial de impactar positivamente a sociedade
como um todo.

3. CONCLUSÃO

A interseção entre a neurociência e os processos cognitivos representa um


campo de pesquisa dinâmico e crucial que continua a desvendar os mistérios do
cérebro humano e sua relação com a mente e o comportamento. Ao longo deste
artigo, exploramos como a neurociência oferece insights profundos sobre a estrutura
e o funcionamento do cérebro, enquanto as ciências cognitivas nos ajudam a
compreender os processos mentais complexos que moldam nossa experiência e
interação com o mundo.
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Uma das principais descobertas é a plasticidade cerebral, que demonstra a


capacidade notável do cérebro de se adaptar, reorganizar e se recuperar em resposta
a estímulos ambientais, experiências e lesões. Esta característica fundamental do
sistema nervoso destaca a importância da aprendizagem contínua, da reabilitação
neurológica e do desenvolvimento de estratégias educacionais e terapêuticas que
aproveitem o potencial adaptativo do cérebro.
Além disso, examinamos o impacto da pesquisa interdisciplinar entre
neurociência e ciências cognitivas em áreas como educação, saúde mental e
neuroreabilitação. Essa abordagem colaborativa não apenas amplia nosso
entendimento dos processos mentais, mas também impulsiona a inovação e o
desenvolvimento de intervenções práticas que melhoram a qualidade de vida das
pessoas em todo o mundo.
Portanto, o estudo das neurociências e dos processos cognitivos continua a
desempenhar um papel crucial na ampliação de nossos horizontes científicos, na
promoção do bem-estar humano e na busca incessante por respostas para os
desafios complexos que enfrentamos como sociedade. Ao reconhecer e valorizar essa
interseção fascinante, abrimos caminho para um futuro mais promissor e
compreensivo, onde a mente humana é celebrada como uma maravilha da natureza
e uma fonte inesgotável de descoberta e inspiração.

4. REFERÊNCIAS

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perspectivas de desarrollo. Bol. Med. Hosp. Infant. Mex., v. 55, n° 9, p. 514-525, 1998.
COLINO, A., MUÑOZ, J.; VARA, H. Plasticidad sináptica a corto plazo. Revista de
Neurologia, v. 34, n° 6, p. 593-599, 2002.

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aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.
GUERRA, Leonor. O diálogo entre a neurociência e a educação: Da euforia aos
desafios e possibilidades. Interlocução, [S.I.], 2015.
IZQUIERDO, Ivan. Questões sobre memória São Leopoldo: Unisinos, 2004.
15

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Manole, 2003.
LENT, Robert. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais da neurociência.
São Paulo: Atheneu, 2001.

LIBERATO, Aline; SILVA, Ana Lúcia. Processos do aprender: As contribuições da


neurociência para a formação de professores da educação infantil. In: CONGRESSO
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MORA, Francisco. Como funciona o cérebro Porto Alegre: Artmed, 2004.

ODA, J. Y.; SANT’ANA, D. M. G.; CARVALHO, J. Plasticidade e regeneração funcional


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SANTOS, Maria. O conhecimento de Neurociência Cognitiva e a valorização por


professores de cursos de licenciatura da área de ciências da natureza. 2018. 109 f.
Dissertação (Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática) – Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.

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